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doi:10.3900/fpj.2.1.30.p EISSN 1676-5133
Alterações fisiológicas
no ciclismo indoor
Artigo Original
MELLO, D.B., DANTAS, E.H.M., NOVAES, J.S., ALBERGARIA, M.B. Alterações fisiológicas no ciclismo indoor. Fitness & Performance
Journal, v.2, n.1, p. 30-40, 2003.
RESUMO: Pouco se conhece sobre o comportamento dos parâmetros fisiológicos em função da cadência (rpm) e/ou sobrecarga (kg) em uma aula de Ciclismo
Indoor, que são essenciais para segurança de seus praticantes. O presente estudo tem como objetivo verificar o esforço físico, que será mensurado em função da ca-
dência de pedalada (rpm) e/ou sobrecarga (kg), em cada fase da aula de ciclismo indoor, correlacionando às alterações fisiológicas da pressão arterial (PA), consumo
de oxigênio(VO2), dióxido de carbono expirado (VCO2), ventilação pulmonar (VE), quociente respiratório (QR), MET e temperatura corporal, e à Escala de Esforço
PERCEBIDO de Borg. Caracteriza-se como uma pesquisa do tipo descritiva, com modelo pré-experimental utilizando o método correlacional das variáveis. A amostra
limitou-se a 15 praticantes de ciclismo indoor do sexo masculino na faixa etária de 21-38 anos (X = 31,8 ± 5,14) selecionados a partir dos critérios de inclusão e
exclusão. Visando especificar as diversas fases da aula protocolo de ciclismo indoor, a cadência (rpm), a sobrecarga (kg), a Escala de Esforço Percebido de Borg e
os parâmetros fisiológicos PA, VO2, VCO2 , VE, QR, MET e temperatura corporal foram monitoradas durante 30 minutos de aula. Após a obtenção destes dados, foi
realizado o tratamento estatístico descritivo no sentido de caracterizar a amostra estudada em função das variáveis selecionadas de natureza contínua e discreta. Para
verificação das hipóteses citadas, foram utilizadas técnicas da estatística inferencial: curtose, para verificação da homogeneidade da amostra; para correlação entre
as variáveis analisadas, utilizaram-se os testes de Pearson, Anova one way, Tukey; e distribuição “r”, para identificação das correlações e diferenças significativas. O
presente estudo confirma que existe correlação significativa para p<0,05 para a Escala de Esforço Percebido de Borg e os parâmetros fisiológicos PA sistólica, VO2,
VE, MET, quando mensurados em função da sobrecarga (kg) e/ou cadência (rpm) em cada fase de aula, não existindo alterações significativas no VCO2, PA diastólica,
temperatura corporal e QR, quando correlacionados somente à cadência (rpm). Recomenda-se que sejam realizadas pesquisas comparando as alterações fisiológicas
provocadas pelas estratégias de aula 2a posição em pé e a 3a posição em pé, já que existem diferenças biomecânicas significativas no posicionamento do corpo na
bicicleta. Propõem-se também pesquisas sobre os efeitos do treinamento da aula protocolo em questão sobre os parâmetros fisiológicos abordados, com o objetivo de
analisar o aumento do condicionamento físico através do teste de VO2máx nos indivíduos praticantes de ciclismo indoor.
INTRODUÇÃO
Uma opção muito frequente feita pelos indivíduos que praticam as vantagens do ciclismo estacionário com a motivação criada
atividades físicas regularmente é o ciclismo estacionário, graça nas atividades outdoor e os desafios dos esportes de aventura,
a sua facilidade de execução e por possibilitar um controle ade- como o tracking, foi proposta por Johnny Goldberg (1999) com
quado à carga aplicada. No entanto, pode-se observar uma o Spinning.
continuada queda do nível de motivação com o prosseguimento
Devido ao inverno rigoroso, Johnny G., um ciclista sul-africano de
temporal do programa de treinamento.
maratona, para poder dar prosseguimento ao seu treinamento,
A indústria de Fitness vem procurando criar alternativas mais criou um programa em ambiente fechado. Para tal, ele se viu
motivadoras como bicicletas ergométricas com vídeo-game, ro- forçado a inventar uma bicicleta especial, já que as bicicletas esta-
tex, transports, escalers, steppers, remoergômetros, entre outros, cionárias não suportavam o estresse dos movimentos de ciclismo
buscando diminuir a rotatividade nas academias de ginásticas, “real”. Esta bicicleta passou a ser fabricada por Schwinn (EUA),
aumentando assim a aderência dos alunos aos programas de sendo comercializada com o nome Spinner e talvez, por este mo-
condicionamento físico. tivo, o programa que utilizava o citado equipamento tenha ficado
conhecido, a partir de 1987, por Spinning. (GOLDBERG, 2000)
Desde a década de 80, o ciclismo indoor vem sendo utilizado
apenas para o treinamento de atletas. (NOGUEIRA & SANTOS, O Spinning ou ciclismo indoor foi adaptado às academias de
2000). Uma das iniciativas mais exitosas de se criar uma ativi- ginástica, devido à necessidade de atividades físicas em ambientes
dade Indoor para as academias de ginásticas, que associasse restritos. A violência urbana nos grandes centros vem assustando
No relatório oficial do Us Department of Health and Human Em um estudo realizado por Mello (2000) a quantidade de lactato
Services – Surgeon General Report (1996), Physical Activity and sanguíneo medida ao longo da aula variou de 3.6 mmol/l (9
Health, os benefícios adicionais à saúde podem ser obtidos por min de atividade) a 9.34 mmol/l (35 min de atividade), sendo
quantidades maiores de atividade física através de atividades que o limiar foi atingido (6.60 mmol/l) em 21 minutos de aula.
duração mais prolongada ou de intensidade mais vigorosa. Baseado nisto, adaptou-se o protocolo utilizado por Mello (2000)
ao modelo atual.
Wilmore & Costill (2002) determinam que a duração ideal do
exercício seja de 20 a 30 minutos, trabalhando na intensidade Foi utilizado um modelo de treinamento intervalado com curtos e
adequada, sendo que o fundamental é atingir o limiar tanto da rígidos intervalos de recuperação que permitissem uma recupe-
duração quanto da intensidade. ração ativa do exercício realizado, sabendo que estes intervalos,
estabelecidos no protocolo, levam à fadiga com a progressão
De acordo com o ACMS (1998), a duração do treinamento pode
do trabalho.
variar de 20 a 60 minutos, contínuos ou intervalados, estando
estritamente ligada à intensidade de sua realização, pois os No ciclismo, a cadência normal varia de 72 a 102 rpm, sendo
exercícios de diferentes durações são assegurados por sistemas que a cadência baixa enfatiza o trabalho de força e a cadência
energéticos diferentes. alta o trabalho de velocidade. Subidas normalmente requerem
força e a cadência varia de 60 a 80 rpm. Em situações de ve-
Gráfico 1 - Níveis de Índice de Massa Corporal (IMC) locidade, como em um sprint, a cadência pode extrapolar 120
De acordo com as informações acima, estabeleceu-se no pro- te como a sobrecarga ideal para cadência baixa, e uma
tocolo que a cadência baixa variaria de 60 a 80 rpm para a 1a sobrecarga de 4 kg (» 200 W) para a 2a posição em pé,
posição sentada e a 2a posição em pé, e a cadência alta de 80 considerada na Escala de Esforço Percebido de Borg pe-
a 100 rpm somente para a 1ª posição sentada. sado-muito pesado, mas determinante para a sustentação
corporal sobre a bicicleta.
Para determinação da sobrecarga utilizou-se uma pesquisa de
Marsh, Martin & Foley (2000), onde foi pesquisada a preferência Instrumentos
de cadência com aumento de carga(W) em ciclistas treinados,
- Bicicleta modelo Maxx Pró, projetada por Dr. Leszek A. Szmu-
corredores treinados e indivíduos destreinados. Concluiu-se que
chrowski, UFMG. (Figura 1)
ciclistas e corredores treinados preferiam uma cadência entre
92-96 rpm com a sobrecarga aumentando de 100 a 200 W e - Peso corporal total: uma balança digital com precisão de 100g
indivíduos destreinados preferiam uma cadência de 69-80 rpm FILIZOLA modelo PL150 Personal Line, Brasil, 1999.
com sobrecarga aumentando de 75 a 150 W.
- Estatura: estadiômetro da marca SANNY, modelo profissional.
Com base nestas informações, utilizou-se a seguinte equação
- Porcentagem de gordura: compasso de dobras cutâneas da
segundo Vade-mécum (1999):
marca CESCORF científico.
A partir disto, determinou-se a sobrecarga 1 Kg (» 50 W)
- Material complementar laboratorial: luvas, gases, algodão,
para os primeiros 5 minutos de atividade com objetivo de
esparadrapos...
aquecimento específico, considerando-se uma carga (W)
leve. Uma resistência de 2Kg (» 100 W) para a 1a posição - Rpm: ciclocomputer da marca CATEYE modelo Astrale,
sentada, já estabelecida na literatura citada anteriormen- Japão(Figura 2); com desvio padrão de ± 1 rpm de acordo com
Tabela 2 - Teste de Correlação de Pearson
Tempo Carga MET QR VE VO2 VOC2
Tempo -
Carga 0,600 -
MET 0,867 0,641 -
QR 0,736 0,714 0,781 -
VE 0,947 0,667 0,962 0,824 -
VO2 0,869 0,643 1,000 0,780 0,963 -
VOC2 0,887 0,672 0,988 0,862 0,978 0,988 -
- PA: Esfigmomanômetro com coluna de mercúrio móvel com venha a denotar. Os erros das estimativas observavam os limites
braçadeira adulto, marca TYCOS, modelo CE 0050 e estetos- bicaudais da distribuição de uma média, correspondentes ao
cópio profissional MARSCHALL duplo, fabricado pela OMROW erro padrão calculado para uma amplitude de percentil de 99%
HEALTH CARE, EUA. segundo o escore z (distribuição normal padronizada).
- A Escala de Esforço Percebido de Borg foi coletada por meio O Tratamento Estatístico foi constituído de duas partes. A primeira
de uma tabela fixada próxima à bicicleta através de números que relativa à estatística descritiva, na qual foram utilizadas as técni-
representassem o grau de esforço. cas da estatística descritiva no sentido de caracterizar a amostra
estudada em função das variáveis selecionadas. Para aquelas de
- VO2, VCO2, VE, QR e MET: o aparelho utilizado para medir
natureza contínua, isto é, que obedecem a um sistema métrico
o consumo de oxigênio, dióxido de carbono expelido, MET,
bem definido, utilizaram-se a média, desvio padrão, variância,
ventilação pulmonar e quociente respiratório é da marca de
amplitude total e curtose para entendimento da homogeneida-
Medgraphics, modelo Cardiopulmonary Exercise System CTX/D,
de da amostra e índice de dispersão para análise de simetria
fabricado em Minessota, USA, 1998.
da distribuição de frequência sob uma curva normal. Para as
- Temperatura corporal: termômetro auricular digital por raios variáveis de natureza discreta, foram utilizadas as distribuições
infravermelhos PRO CHECK, modelo TH1DB, fabricado por de frequência, considerando-se os valores absolutos e seus res-
MICROLIFE COORPORATION, Suíça. pectivos valores relativos.
O VCO2 apresenta um aumento progressivo linear de acordo BORG, G. Escalas de Borg para a Dor e o Esforço Percebido. São Paulo: Manole, 2000.
com o aumento da intensidade da aula, porém não significativo. BURKE, E.R. Serius Cycling. Illinois: Human Kinetics, 1995.
O comportamento temporal da variável em questão inicia no CIULLO, J.V.; ZARINS, B. Biomechanics of the musculotendinous unit: relation to Athletic
performance and injury. Clinical Sports Medicine, v. 2, n. 1, p. 71-86, 1983.
nível mais baixo, cresce significativamente entre o intervalo 0
CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA E ARQUITETURA. Vadem-mécum. 5. Ed. São
min até 15 min. Após isto, encontrou-se valores dispersos até Paulo: Soriak, 1999.
o final da aula, que dificultam a troca gasosa e provocam uma FERNANDES, J.F. A Prática da Avaliação Física. Rio de Janeiro: Shape, 1999.
hiperventilação. Estudos anteriores (MELLO, 2000) indicam GOLDBERG, J. Apresenta o programa spinning. Disponível em < http://www.johnnyg.
que essa hiperventilação pode ser iniciada por um aumento na com >. Acesso em 09 set. 2000.
concentração do íon hidrogênio devido à produção de ácido GOMES, A.C. Treinamento Desportivo – estruturação e planejamento. Porto alegre:
Artmed, 2002.
láctico aumentada durante o teste, que é bastante significativa.
MACEDO, A.M.; OSIEEKI, R. Intensidades das aulas de ciclismo indoor para ambos os
Baseado nestas informações sugere-se o controle deste parâmetro sexos. XXIII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte. São Paulo, 2000.
fisiológico nas aulas de ciclismo indoor associado ao controle MARSH, A.P.; MARTIN, P.E. & FOLEY, K.O. Effect of cadence, cycling experience, and aerobic
dos níveis de lactato sanguíneo devido aos diferentes estímulos power on delta efficiency during cycling. Medicine and Science in Sports And Exercise, v.
32, n. 6, p. 1160-1164, 2000.
de intensidades variadas.
MCARDLLE, W.D.; KATCH, F.I.; KATCH, V.L. Fisiologia do Exercício – Energia, Nutrição e
Desempenho Humano. 3 ed.. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.
Nos primeiros minutos de aula ocorre um aumento do VE,
MELLO, D.M.; CARVALHO, G.E.F.; DANTAS, E.H.M. Alterações Fisiológicas na Aula de
que está relacionado à mecânica do movimento, ao aumento Spinning. 8 Congresso de Educação Física e Ciências do Desporto dos Países de Língua
da temperatura corporal e à condição bioquímica do sangue Portuguesa, Portugal, 2000.
POLLOCK, M.L. & WILMORE, J.H. Exercício na Saúde e na Doença. 2a. Ed. São Paulo: VAN SOEST, A.J.K. & CASIUS, L.J.R. Which factors determine the optimal pedaling rate
Medsi, 1993. in sprint cycling? Medicine and Science in Sports And Exercise, p. 11927-1934, 2000.
REEBOK UNIVERSITY. Professional Training Manual – Cycle Reebok. EUA: Reebok Inter- WILMORE, J.H. & COSTILL, D.L. Fisiologia do Esporte e do Exercício. 2a. Ed. São Paulo:
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