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ESTRUTURA

CELULAR TECIDUAL I:
ANATOMIA
CITOLOGIA

Paula Engroff
Tegumento comum
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever a estrutura e as funções da pele.


„„ Reconhecer a organização da epiderme e da derme.
„„ Identificar a disposição das linhas de clivagem no corpo.

Introdução
O tegumento comum é formado pela nossa pele, também chamada de
cútis, e é composto por epiderme, derme e estruturas associadas como
unhas, pelos, mamas e glândulas sebáceas e sudoríparas. De todos os
órgãos do corpo humano, a pele é a mais visível e exposta a infecções,
doenças e lesões.
É por meio do tegumento comum que mostramos a nossa aparência,
pois é o sistema que mais observamos diariamente no nosso corpo e no
corpo das outras pessoas. A idade das pessoas é muitas vezes julgada
pelo aspecto de sua pele. Em um jovem, identificamos uma pele uni-
forme e com poucas rugas. Em um idoso, encontramos uma pele mais
marcada e com presença de manchas e rugas intensas. A pele também
mostra nossas reações e sentimentos, como testa franzida em situação
de desagrado. Por meio de alguns sinais, ainda é possível detectar a
presença de doenças, como no caso de erupções cutâneas que ocorrem
em indivíduos com catapora.
Neste capítulo, você terá muitas informações sobre a pele humana
e principalmente da epiderme e da derme. Veremos que a pele não
apresenta apenas função cosmética, e sim outras importantes funções
no nosso corpo.
2 Tegumento comum

Estrutura e funções da pele

Estrutura da pele
A pele cobre o nosso corpo inteiro, representando, em um adulto médio, uma
área superficial de 1,2 a 2,2 m2, pesando de 4 a 5 kg, o que pode representar até
7% do peso corporal, por isso é considerada o maior órgão do corpo humano em
área de superfície e peso. A pele também é flexível e resistente, apresentando
uma espessura que pode variar de 1,5 a 4,0 mm nas diferentes partes do corpo
(MARIEB; HOEHN, 2008; TORTORA; DERRICKSON, 2016).
A pele apresenta duas camadas teciduais, a epiderme e a derme. A epiderme
é composta por tecido epitelial e está localizada na camada mais superficial da
pele, sendo o nosso escudo protetor. A derme é formada por tecido conectivo
e está subjacente à epiderme (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).
A maior parte da nossa pele é constituída pela derme. Ela forma uma camada
resistente, semelhante ao couro, e é vascularizada (MARIEB; HOEHN, 2008).

A hipoderme, também conhecida como tela subcutânea ou fáscia superficial, não


faz parte da estrutura da pele, mas desempenha a importante função de ancorar
a pele a estruturas subjacentes como os músculos. Está localizada logo abaixo da
epiderme e é formada por tecido adiposo. Além de armazenar gordura, a sua função
é absorver choques e atuar como um isolante térmico, evitando a perda de calor
corporal (MARIEB; HOEHN, 2008).

Observe na Figura 1 as principais estruturas da pele humana.


Tegumento comum 3

Epiderme

Derme

Hipoderme

Figura 1. Principais estruturas da pele humana.


Fonte: Adaptada de solar22/Shutterstock.com.

Funções da pele
A pele é responsável por importantes funções no nosso organismo, como
proteção, sensação, regulação térmica, produção de vitamina D e excreção
e absorção.

Proteção

A derme proporciona resistência na nossa pele, evitando que ela se rasgue por
qualquer dano mecânico. Já a epiderme, em razão da presença de queratina,
auxilia na proteção contra a abrasão e entrada de microrganismos que poderiam
causar infecções. A melanina nos protege dos efeitos nocivos da luz ultravioleta,
pois consegue absorver essa radiação (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
4 Tegumento comum

O DNA biologicamente também pode ser considerado um protetor solar efetivo,


pois converte a radiação ultravioleta que seria potencialmente destrutiva em
calor inofensivo que se dissipa por moléculas de água (MARIEB; HOEHN,
2008). Entretanto, é preciso ter cuidado, pois a exposição intensa e a longo
prazo à luz ultravioleta é um grande fator de risco para o desenvolvimento
de câncer de pele, bem como indivíduos de pele clara. A epiderme reduz a
perda de água do nosso corpo, evitando, assim, a desidratação. Isso ocorre
em razão da ação das glândulas sebáceas que produzem sebo, responsável por
lubrificar o pelo e a superfície da pele, prevenindo, dessa forma, a desidratação
e protegendo a pele contra a ação de bactérias (VANPUTTE; REGAN; RUSSO,
2016; TORTORA; DERRICKSON, 2016).

Sensação

Nossa pele é capaz de detectar sensações como frio, calor, pressão, dor e
tato em razão da presença de receptores sensoriais (VANPUTTE; REGAN;
RUSSO, 2016). Os receptores cutâneos são chamados de exteroceptores, pois
respondem a estímulos do lado externo do nosso corpo. Nas papilas dérmicas
temos os corpúsculos de Meissner, que nos permitem sentir o toque de um
carinho na nossa pele, bem como a sensação de uma roupa tocando a pele.
Nos folículos pilosos também existem receptores que são responsáveis pela
sensação do sopro do vento sobre nossos pelos (MARIEB; HOEHN, 2008).
Você sabe por que os pelos ficam eretos quando estamos com frio ou quando
sentimos alguma emoção? Isso ocorre em função do estímulo de frio ou de
emoção, que estimula o músculo eretor do pelo a tracionar o folículo piloso,
sendo que com isso o pelo se eleva, arrepiando a nossa pele (MARTINI;
TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

Regulação térmica

A regulação da temperatura corporal ocorre em razão da quantidade de sangue


que flui pela pele e por meio da atividade das glândulas sudoríparas. Quando
a temperatura do corpo se eleva, as glândulas sudoríparas secretam o suor
que evapora na superfície corporal, resfriando o nosso corpo. Quando as
Tegumento comum 5

glândulas sudoríparas estão trabalhando em nível máximo, como em atletas


participantes de maratonas, a perspiração pode exceder mais de quatro litros
por hora, ocorrendo perdas significativas de eletrólitos, e, por esse motivo,
os atletas precisam repor líquido com frequência (MARTINI; TIMMONS;
TALLITSCH, 2009). Quando a temperatura corporal diminui, os vasos sanguí-
neos presentes na derme contraem, diminuindo a perda de calor pela epiderme
(VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016; TORTORA; DERRICKSON, 2016).

Produção de vitamina D

É produzida pela exposição da nossa pele ao sol por meio da captação de luz
ultravioleta. Essa vitamina é importante na homeostase do cálcio. A vitamina
D age como um hormônio, com a função de manter níveis adequados de cálcio
e fósforo no metabolismo ósseo, sendo que o cálcio também é importante para
manter um bom funcionamento dos músculos e nervos. Caso a exposição à luz
ultravioleta não seja suficiente, no caso de indivíduos que moram em regiões
frias e que se expõem pouco ao sol, ocorrerá falta de vitamina D, porém,
esta pode ser ingerida pela alimentação (fígado, gema de ovo, leite e queijos)
ou por suplementação em forma de comprimidos ou gotas (VANPUTTE;
REGAN; RUSSO, 2016).

Excreção e absorção

Alguns metabólitos como ureia, ácido úrico e amônia são excretados através
da pele e das glândulas, pelo suor. As quantidades eliminadas desses resíduos
são insignificantes, já que a maior excreção destes ocorre pelo sistema urinário
(VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). A absorção ocorre pela passagem de
substâncias externas para as células do corpo. Um exemplo é o uso de medi-
camentos na forma de adesivo transdérmico, possibilitando que o fármaco
penetre na epiderme, entrando em contato com os vasos sanguíneos da derme
(MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).
Veja no Quadro 1 a descrição resumida de cada uma dessas funções
(VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016; TORTORA; DERRICKSON, 2016;
KUNZLER et al., 2018).
6 Tegumento comum

Quadro 1. Funções da pele

Proteção
Dos efeitos prejudiciais da
exposição solar, principalmente
radiação ultravioleta, em razão
da presença de melanina.
Imunológica: contra a entrada
de microrganismos, em razão
da presença de macrófagos
intraepidérmicos e na derme.
Evita desidratação, pois reduz
a perda de água pelo corpo.

Fonte: solar22/Shutterstock.com.

Sensação
Pela presença de
receptores sensoriais:
„„ Frio
„„ Calor
„„ Dor
„„ Pressão e contato

Fonte: Flystock/Shutterstock.com.

Regulação térmica
Mantém a temperatura corporal
ao nível de 36,5 °C por meio
do sangue circulante pela
pele, associado à atividade
das glândulas sudoríparas.
A produção de suor é uma
resposta a temperaturas
ambientais elevadas, já que a
sua evaporação na superfície
da pele auxilia na redução
Fonte: Adaptada de Flat.Icon/Shutterstock.com.
da temperatura do corpo.

(Continua)
Tegumento comum 7

(Continuação)

Quadro 1. Funções da pele

Produção de vitamina D
Ocorre por meio da exposição
solar (luz ultravioleta) da pele.

D É importante na absorção de
cálcio e fósforo, que estão
envolvidos na manutenção do
tecido ósseo, além de benefícios
ao sistema imunológico.
Vitamina D

Fonte: Adaptada de Yganko/Shutterstock.com.

Excreção e absorção
A excreção é pequena,
eliminando alguns metabólitos
pela pele e glândulas.
A absorção ocorre pela
passagem de substâncias
externas para as células
do corpo, como no uso de
medicamentos transdérmicos.

Fonte: namtipStudio/Shutterstock.com.

Fonte: Adaptado de Vanputte, Regan e Russo (2016), Tortora e Derrickson (2017) e Kunzler et al. (2018).

Algumas características na pele também podem auxiliar em alguns diag-


nósticos. Em pacientes com febre, a pele pode apresentar-se corada em razão
do aumento no fluxo sanguíneo. Em doenças como sarampo e catapora,
erupções cutâneas específicas aparecem na pele, auxiliando no diagnóstico
(VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
8 Tegumento comum

A formação de bolhas causadas por algum trauma agudo de curta duração, como
numa queimadura ou no uso de algum calçado que machuca os pés, ocorre por um
desequilíbrio homeostático. A bolha origina uma bolsa preenchida com líquido que
é causada pela separação das camadas epidérmica e dérmica (MARIEB; HOEHN, 2008).

Organização da epiderme e da derme

Epiderme
A epiderme é uma camada fina subjacente à derme. É formada por um epitélio
escamoso estratificado e não tem vasos sanguíneos. As células que a compõem
são os queratinócitos, os melanócitos, as células de Langerhans e as células de
Merkel (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; VANPUTTE; REGAN;
RUSSO, 2016).

Queratinócitos

São as células epiteliais mais abundantes da epiderme, representando até 90%


(MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009). Estão organizados de quatro a
cinco camadas que produzem queratina, possibilitando proteção e resistência
à pele, bem como redução da perda de água corporal. A queratinização é o
acúmulo de queratina que ocorre em razão de movimentação dos queratinócitos
das camadas mais profundas para a superfície, ou seja, as novas células forma-
das vão empurrando as células antigas. Durante esse processo, as células que
morrem vão formando uma camada rígida que protege a epiderme da abrasão
(TORTORA; DERRICKSON, 2016; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
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Melanócitos

São células responsáveis pela produção do pigmento melanina na epiderme, que


varia do tom pardo ao amarelo. Realizam numerosos processo citoplasmáticos
que injetam melanina dentro do queratinócito. A sua produção é determinada
por fatores genéticos, exposição à luz ultravioleta e hormônios. Os fatores
genéticos são os principais responsáveis pela variação na cor da pele entre as
diferentes etnias. A exposição solar, com captação de raios ultravioleta, estimula
a produção de mais melanina, escurecendo a pele e gerando o bronzeado. A
presença de alguns hormônios, como os presentes na gravidez (estrogênio e
hormônio estimulador de melanócitos) estimulam a produção de melanina no
corpo da mãe, desenvolvendo escurecimento em algumas regiões do corpo,
como nos mamilos (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). As regiões do
corpo com maior número de melanócitos são as regiões genitais, os mamilos,
a axila, as bochechas e a fronte (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009)
– também as pintas e sardas espalhadas pelo corpo (VANPUTTE; REGAN;
RUSSO, 2016). Os melanócitos tem a importante função de proteger a pele da
radiação ultravioleta proveniente do sol (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

Células de Langerhans

São células fagocitárias que desempenham sua função no início da resposta


imunológica. Sua ação pode ser contra patógenos que penetram na epiderme
ou contra células epidérmicas neoplásicas. Representam de 3 a 8% das células
da epiderme (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009). São sensíveis à
radiação ultravioleta, sendo facilmente danificadas por essa exposição (TOR-
TORA; DERRICKSON, 2016).

Células de Merkel

São responsáveis por detectar as sensações. Estão localizadas no estrato basal


e sensíveis ao toque, liberando substâncias químicas que estimulam as termi-
nações nervosas sensoriais, possibilitando a identificação sobre o toque feito na
pele (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009). Identificam o toque suave
e a pressão superficial feita na pele (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
No Quadro 2, você encontrará as principais funções dos tipos celulares
presentes na epiderme.
10 Tegumento comum

Quadro 2. Principais células da epiderme e suas funções

„„ Produz queratina, deixando a célula mais durável


„„ Fornece resistência à abrasão
Queratinócito „„ Reduz a perda de água
„„ Representa aproximadamente 90% das células da
epiderme

„„ Produz a melanina, que é um pigmento castanho-


escuro ou amarelo-avermelhado
„„ Responsável pela coloração da pele
Melanócito „„ Responsável por absorver a radiação solar prejudicial
(UV)
„„ Representam aproximadamente 8% das células da
epiderme

„„ Também conhecidas como macrófagos intraepidérmicos


Célula de „„ Fazem parte do sistema imunológico, auxiliando
Langerhans no reconhecimento do organismo invasor e na sua
destruição

„„ Células especializadas e associadas a terminações


Células de
nervosas
Merkel
„„ Detectam toque suave e pressão superficial

Fonte: Adaptado de Vanputte, Regan e Russo (2016), Tortora e Derrickson (2017) e Martini, Timmons
e Tallitsch (2009).

A caspa capilar nada mais é do que uma quantidade excessiva de células queratinizadas
que se desprendem do couro cabeludo (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

A pele espessa é encontrada nas áreas sujeitas à maior pressão e fricção do


nosso corpo, como nas palmas das mãos, na planta dos pés e nas pontas dos
dedos (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016; TORTORA; DERRICKSON,
2016). A pele delgada ou fina é a que recobre o restante no nosso corpo, sendo
mais flexível. A epiderme está dividida por camadas a partir de sua superfície:
estrato córneo, estrato lúcido, estrato granuloso, estrato espinhoso e estrato
germinativo ou basal. Essas camadas estão presentes na pele espessa, já na
pele delgada não iremos encontrar a camada do estrato lúcido (MARTINI;
Tegumento comum 11

TIMMONS; TALLITSCH, 2009). Na Figura 2, é possível identificar essas


camadas, bem como a localização das células.

Queratinócito
Estrato morto
córneo

Estrato
granuloso

Célula de
Langerhans

Estrato
espinhoso Queratinócito

Estrato Célula
germinativo de Merkel
Melanócito Melanina

Figura 2. Estrutura da epiderme na pele delgada.


Fonte: Adaptada de Designua/Shutterstock.com.

Com relação às camadas da epiderme, o estrato germinativo é a camada


mais interna, que está aderida na camada basal. Nela iremos encontrar as
células-tronco epidérmicas, os melanócitos e as células de Merkel. As diferentes
tonalidades de pele ocorrem em razão de diferentes níveis de atividades dos
melanócitos e não por números diferentes deles (MARTINI; TIMMONS;
TALLITSCH, 2009). O estrato espinhoso é relativamente espesso e é onde os
queratinócitos estão ligados entre si. As células de Langerhans e os melanócitos
também se fazem presentes nessa camada. No estrato granuloso encontramos
os queratinócitos produzindo querato-hialina e queratina. As membranas
celulares vão gradualmente se tornando mais espessas, se desintegrando e as
células morrendo. O estrato lúcido está presente apenas na pele espessa e as
células presentes são densamente comprimidas e preenchidas com queratina.
O estrato córneo é geralmente seco, pois é formado por várias camadas de
queratinócitos planificados, mortos e conectados. É resistente à água, mas não
12 Tegumento comum

impermeável, sendo responsável pela perspiração insensível (água do líquido


intersticial penetra a superfície do estrato lúcido para ser evaporada ao ter
contato com o ar do ambiente) (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).
As células saem do estrato germinativo e levam de 15 a 30 dias para chegar
no estrato córneo. As células mortas geralmente permanecem na camada mais
exposta do estrato córneo, garantindo uma barreira protetora, expansível e
durável (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

Existem dois tipos de queratina. A queratina mole, que está presente na pele, e a
queratina dura, que é mais durável e não descama, estando presente nas unhas e na
parte externa dos pelos (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).

O albinismo é uma doença hereditária que ocorre aproximadamente em 1:10.000 casos.


Os albinos apresentam números normais de melanócitos, porém eles são incapazes de
produzir melanina (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009). Acesse o site da Sociedade
Brasileira de Dermatologia para saber mais sobre essa desordem genética.

https://qrgo.page.link/9iqWj

Derme
A derme é a porção mais profunda da pele, composta por tecido conectivo
que contém macrófagos, fibroblastos e poucos adipócitos, sendo o colágeno a
sua principal fibra. Na derme estão algumas terminações nervosas (para dor,
coceira, cócegas e sensações térmicas), musculatura lisa, folículos pilosos,
glândulas e vasos linfáticos (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
A derme é formada por duas camadas, a papilar e a reticular. A camada
papilar é superficial e é formada por tecido conectivo frouxo. Tem esse nome
porque apresenta projeções que se estendem até à epiderme, chamadas de
Tegumento comum 13

papilas dérmicas (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Na camada papilar


estão os vasos sanguíneos que fornecem nutrientes e oxigênio para epiderme.
A camada reticular é profunda, composta por fibras que estão em uma
estrutura emaranhada de tecido denso irregular, envolta de nervos, vasos
sanguíneos, folículos pilosos e glândulas sudoríparas e sebáceas (MAR-
TINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009). Essa camada é a principal da derme,
pois é fibrosa, resistente em muitas direções e forma as linhas de clivagem.
As linhas de clivagem, ou linhas de tensão, são formadas por fibras elásticas
e colágenas (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). O limite entre a camada
papilar e reticular é indiferenciado, pois uma camada prende-se a outra por
meio das fibras colágenas (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).
Na parte mais profunda da pele existe uma combinação de fibras colágenas
elásticas que fornecem elasticidade (habilidade de retornar à sua forma ori-
ginal após o estiramento) e extensibilidade (capacidade de distensão). Temos
dois exemplos em que observamos essa extensibilidade: na gravidez e na
obesidade. Porém, quando essa distensão da pele ocorre de forma extrema,
podem surgir pequenas lacerações na derme, produzindo estrias ou marcas
de estiramento. Estas são linhas avermelhadas ou branco-prateadas que são
visíveis na superfície da pele (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Observe
na Figura 3 como ocorre a formação das estrias na nossa pele e identifique
na Figura 4 exemplos e tipos de estrias.

Pele normal Marca de estiramento

Colágeno

Figura 3. Identificação da pele normal e da pele com marca de estiramento. Observe que
as fibras de colágeno se rompem e formam a estria na pele.
Fonte: Adaptada de Cessna152/Shutterstock.com.
14 Tegumento comum

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4. Exemplos de estiramento na pele. (a) Estrias avermelhadas na gestação. (b) Estrias
avermelhadas no braço. (c) Estrias branco-prateadas nas coxas. (d) Estrias branco-prateadas
nas pernas.
Fonte: baipooh/Shutterstock.com; Denis Val/Shutterstock.com; Vera Tretyakova/Shutterstock.com;
Pikul Noorod/Shutterstock.com.

As papilas dérmicas sob a pele grossa nas mãos e na planta dos pés repousam em
paralelo, formando sulcos na epiderme que são as impressões digitais. As impressões
digitais são únicas em cada indivíduo (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Tegumento comum 15

A estria atrófica cutânea é uma afecção muito comum, embora mais associada à
queixa estética, pode trazer consequências psicossociais no indivíduo. Leia essa revisão
sistemática sobre o assunto, que traz os aspectos fisiopatológicos da estria divididos
em fatores genéticos, mecânicos e hormonais (CORDEIRO; MORAES, 2009).

https://qrgo.page.link/D5d5u

Disposição das linhas de clivagem no corpo


No nosso corpo, as fibras colágenas e elásticas estão arranjadas em feixes ou
linhas paralelas. Esses feixes dão resistência às forças aplicadas e estabelecem
as linhas de clivagem na pele, ou linhas de tensão na pele ou linhas de Langer.
Essas linhas são externamente invisíveis e estendem-se longitudinalmente na
pele da cabeça e dos membros em padrões circulares ao redor do pescoço e do
tronco (MARIEB; HOEHN, 2008). As linhas nos cotovelos, joelhos, tornozelos
e punhos são paralelas às pregas transversais que surgem quando os membros
são fletidos (dobrados ou flexionados) (MOORE; DALLEY; AGUR, 2014).
As linhas de clivagem são clinicamente importantes para os cirurgiões
se orientarem durante as incisões feitas na pele. Cortes que são paralelos às
linhas de clivagem tendem a cicatrizar melhor do que cortes transversais.
Estes acabam sofrendo influência pela retração das fibras elásticas que foram
cortadas e podem ficar com as bordas mais afastadas (MARTINI; TIMMONS;
TALLITSCH, 2009). O principal problema de uma incisão transversal às linhas
de clivagem é o desenvolvimento de infecção, já que a incisão pode se abrir
mais facilmente (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Observe na Figura
5 a disposição das linhas de clivagem no nosso corpo. Veja os exemplos de
incisões no sentido paralelo e no sentido transversal às linhas.
16 Tegumento comum

Figura 5. Identificação das linhas de clivagem ou linhas de tensão na pele.


Fonte: Vanputte, Regan e Russo (2016, p. 145).

Um exemplo de marcas que ocorrem na pele e seguem a orientação das


linhas de tensão são a formação de estrias. Estrias de distensão (striae disten-
sae) são lesões cutâneas lineares, atróficas e bem definidas decorrentes de uma
condição de estiramento ou distensão da pele, com perda ou ruptura das fibras
elásticas na região acometida e consequentes alteração do tecido conjuntivo.
Essas estrias podem surgir em gestantes, indivíduos que tiveram ganho de
Tegumento comum 17

peso, que fazem exercícios com aumento rápido de volume muscular e também
pelo uso de corticosteroides (SOUZA; PAULA; ROCHA SOBRINHO, 2016).
Cicatrizes posicionadas em áreas de tensão na pele (conforme as linhas
de Langer) ou qualquer local onde tenha grande movimentação cutânea pelo
paciente tendem a desenvolver hipertrofia. Bons resultados de cicatrização nas
incisões das cirurgias estéticas corporais dependem de inúmeros fatores que
influenciam no seu resultado final. Fatores pré-operatórios, como avaliação
das características individuais do paciente (idade, sexo e raça), espessura
da pele, áreas de tensão, fatores externos (como hábitos de vida), bem como
técnica operatória e cuidados pós-operatórios são importantes na qualidade
da cicatrização (OLIVEIRA JÚNIOR; FLORÊNCIO; FERNANDES, 2009).
Ao longo dos tempos, as linhas faciais da pele foram examinadas por vários
anatomistas e cirurgiões experientes na área, com o objetivo de alcançar a
melhor cicatriz estética. Várias técnicas foram utilizadas para determinar
essas linhas a partir de simples análise de tecido cadavérico até modelos
computadorizados em 3D. As principais linhas descritas na face são: linhas
de Langer, linhas de Cox, linhas de Rubin, linhas de Kreissl, linhas de Straith,
linhas de Bulacio e linhas de tensão da pele relaxada de Borges. Apesar de as
linhas compartilharem um padrão comum na maioria das áreas da face, existem
algumas controvérsias entre os autores, que não definem nenhuma delas como
um “padrão ouro” de utilização. Embora as linhas de Langer sejam as mais
citadas na literatura, as linhas de Kreissl e as linhas de tensão da pele relaxada
de Borges são as mais preferidas nas cirurgias faciais (ALHAMDI, 2015).

Cicatrização de uma ferida na fase de maturação


O processo cicatricial depende de uma série de eventos celulares, moleculares e bio-
químicos que interagem para que ocorra a reconstituição tecidual. São várias as etapas
envolvidas nesse processo, no entanto, a fase de maturação ou de remodelamento
é a mais importante clinicamente, pois ocorre a deposição de colágeno de maneira
organizada. O colágeno produzido inicialmente é mais fino do que o colágeno presente
na pele normal, e tem orientação paralela à pele. Com o tempo, o colágeno inicial
é reabsorvido e um colágeno mais espesso é produzido e organizado ao longo das
linhas de tensão, ou linhas de clivagem. Essas mudanças se refletem em aumento da
força de tensão da ferida. A força de tensão dessa cicatrização dificilmente retomará a
100% por causa da nova organização do colágeno, mas após três meses do processo
de cicatrização a força de tensão já é de aproximadamente 80% (CAMPOS; BORGES-
-BRANCO; GROTH, 2007).
18 Tegumento comum

ALHAMDI, A. Facial skin lines. Iraqi JMS, v.13, n. 2, p. 103−107, 2015.


CAMPOS, A. C. L.; BORGES-BRANCO, A.; GROTH, A. K. Cicatrização de feridas. ABCD:
Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva, v. 20, n. 1, p. 51−58, 2007. Disponível em:
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CORDEIRO, R. C. T.; MORAES, A. M. Striae distensae: fisiopatologia. Surgical & Cosmetic
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Tegumento comum 19

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