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ANATOMIA GERAL

Sistema nervoso:
sentidos especiais
Tuane Bazanella Sampaio

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Identificar os elementos e as estruturas que compõem os órgãos dos


sentidos especiais: visão, audição, equilíbrio, gustação e olfação.
> Identificar a inervação relacionada a cada órgão ou estrutura dos sentidos
especiais.
> Representar as vias de condução das informações sensitivas gustatórias
e olfatórias até os centros encefálicos.

Introdução
Perceber alterações no meio ambiente externo faz parte de uma série de ha-
bilidades necessárias para a manutenção da vida de um organismo. Por meio
destas, ele pode aproveitar uma oportunidade, bem como se esquivar de um
perigo. Ter a interpretação apropriada nessas situações requer a obtenção de
informações do meio associadas a experiências prévias e o correto processa-
mento da relação entre elas.
Neste sentido, os receptores sensoriais são estruturas especializadas
em detectar e transmitir determinadas informações acerca do meio. Essa
transmissão se dá por meio da comunicação com o sistema nervoso central,
que integrará tais informações, interpretará o meio e gerará uma resposta.
Tais impulsos podem ser recebidos de forma consciente ou não no encéfalo.
2 Sistema nervoso: sentidos especiais

Logo, o que é sentido conscientemente é conhecido como percepção.


No entanto, cabe ressaltar que a percepção sempre será uma interpretação
subjetiva de como o cérebro interpreta e entende aquele estímulo. Sendo assim,
o paladar e a cor são apenas percepções próprias providas pelo nosso cérebro.
Entretanto, neste capítulo você verá muito mais do que somente as percep-
ções humanas de mundo. A seguir, abordaremos os componentes dos sentidos
especiais, enfatizando como eles detectam os estímulos visuais, auditivos,
olfatórios, gustatórios e de equilíbrio no meio ambiente que os cerca.

Introdução aos órgãos dos sentidos


Desde a expressão “tem que ver pra crer”, percebemos o quanto o sentido
da visão fornece informações detalhadas e tende a gerar maior segurança do
que o percebido pelos demais sentidos. De fato, com o auxílio dos olhos e de
diferenças de intensidade da luz, é possível que um organismo consiga ob-
servar informações próximas e distantes a ele. Tais diferenças de intensidade
da luz são importantes, pois o sistema nervoso as utiliza para interpretar o
meio que está sendo apresentado a ele (TORTORA; NIELSON, 2012).
Neste contexto, a anatomia da visão pode ser dividida em estruturas
oculares acessórias e o bulbo do olho. As estruturas oculares acessórias
são compostas por pálpebras, túnica conjuntiva — um epitélio que reveste
a superfície interna da pálpebra e externa do bulbo do olho — e aparelho
lacrimal (TORTORA; DERRICKSON, 2019).
O bulbo do olho compreende a estrutura esférica que possui um diâmetro
médio de 24 mm. Ele compartilha a cavidade orbital com os músculos ex-
trínsecos, a glândula lacrimal, bem como nervos e vasos que dão suporte ao
olho. O corpo adiposo da órbita fornece isolamento e apoio ao olho (Figura 1).
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Túnica fibrosa Túnica vascular


(esclera) (corioide)
Ora serrata Fórnice
Câmara postrema Túnica conjuntiva da pálpebra
(preenchida com
o corpo vítreo)
Túnica conjuntiva do bulbo

Corpo ciliar
Câmara anterior (preenchi-
da com humor aquoso)
Córnea
Túnica interna
(retina) Lente

Pupila
Artéria e veia
central da retina Íris
Nervo óptico Câmara posterior (preenchi-
da com humor aquoso)
Disco do nervo óptico
Fóvea central Limbo da córnea
Fibras zonulares

Retina

Corióide

Figura 1. Túnicas, bulbo do olho e seus constituintes.


Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009).

Três túnicas distintas formam a parede do bulbo do olho (Figura 1). A túnica
fibrosa, mais externa, contém os músculos extrínsecos e fornece sustentação
e proteção física. Ela é dividida em esclera, conhecida como “branco do olho”,
e córnea, transparente e contínua à esclera. A túnica vascular, de localização
intermediária, contém inúmeros vasos sanguíneos e linfáticos, além dos
músculos intrínsecos. Ela inclui a íris, com suas células pigmentadas e seu
orifício central — a pupila, o corpo ciliar, que consiste no músculo ciliar, e o
corioide, com uma rede capilar que nutre a retina (TORTORA; NIELSON, 2012).
Nesse sentido, a retina é parte constituinte da túnica interna. É nessa túnica
que estão os fotorreceptores (bastonetes e cones) e os neurônios associados
que farão a comunicação com o encéfalo e o processamento do estímulo do
meio para formação da percepção da visão (TORTORA; NIELSON, 2012).
Já no interior do bulbo do olho, encontra-se a lente (também conhecida
como cristalino) atrás da íris e da pupila. Essa lente divide o bulbo na cavidade
do segmento anterior, onde encontra-se a córnea e a íris e é preenchida por
humor aquoso, e na câmara postrema ou vítrea, constituída por humor vítreo
— responsável por manter a retina pressionada contra a corioide (Figura 1)
(TORTORA; DERRICKSON, 2019).
4 Sistema nervoso: sentidos especiais

A retina de mamíferos é capaz de detectar os comprimentos de onda


da faixa de luz ultravioleta. No entanto, devido ao tom amarelado do
cristalino que atua como um filtro, esses comprimentos de onda não penetram
a retina. Curiosamente, a remoção cirúrgica do cristalino, feita em pacientes
com catarata, permite que eles comecem a perceber a luz no intervalo próximo
da luz ultravioleta.

Relativo à audição, este é o sentido que nos permite detectar e compre-


ender as ondas sonoras existentes no meio. De destaque, as orelhas também
participam do equilíbrio em seres humanos. Uma vez que o sistema de audição
e o equilíbrio são conjuntos, há um número grande de mecanorrecepto-
res presentes. Opostamente aos receptores sensoriais de outros sentidos,
os mecanorreceptores auditivos não são neurônios, e sim células epiteliais
modificadas: as células ciliadas, as quais são encontradas no interior das
orelhas.
Portanto, como ilustrado na Figura 2, a porção externa (visível) da orelha
é chamada de pavilhão e, em seu interior, há o canal auditivo (meato acústico
externo). Em conjunto, o pavilhão e o canal auditivo constituem a orelha ex-
terna, que desemboca na orelha média: local com ossículos (martelo, bigorna
e estribo) que amplificam e conduzem o som para a orelha interna. Ainda,
entre as orelhas externa e média, há a membrana timpânica; uma lâmina
delgada e transparente muito delicada, protegida por material ceráceo e
pequenos pelos. Situadas no interior do crânio, na orelha interna, estão as
células ciliadas, responsáveis pelo processo de audição e equilíbrio (TORTORA;
DERRICKSON, 2019).
Desta forma, no interior da orelha interna, os mecanorreceptores en-
contram-se alojados em uma série de tubos e câmeras preenchidos com um
líquido, denominado endolinfa, e envoltos pelo labirinto ósseo. Por sua vez,
o labirinto ósseo é subdividido em vestíbulo e canais semicirculares, que
formam o sistema vestibular, e na cóclea.
Enquanto a cóclea possui a função de capturar o som transmitido pelas
orelhas externa e média, o sistema vestibular orienta o equilíbrio. Assim,
a cavidade no interior do vestíbulo possui um par de vesículas membranáceas
(utrículo e sáculo) com receptores que fornecem as sensações da gravidade e
aceleração linear, e os receptores dos ductos semicirculares são estimulados
quando há rotação da cabeça (TORTORA; DERRICKSON, 2019).
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ORELHA EXTERNA ORELHA MÉDIA ORELHA INTERNA

Ossículos da
audição Canais Parte petrosa Nervo
semicirculares do temporal facial (N VII)
Orelha
(pavilhão)

Nervo
vestibulococlear
(N VIII)

Meato
acústico Labirinto ósseo
externo da orelha
interna

Membrana
timpânica

Cavidade timpânica
Janela do vestíbulo Vestíbulo
Para a parte
Cartilagem (oval) nasal da faringe
elástica Janela da cóclea Tuba auditiva
(redonda)
Cóclea

Figura 2. Componentes da orelha externa, média e interna.


Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009).

O sentido do olfato é caracterizado como a detecção de substâncias quí-


micas presentes no ar, permitindo a retirada de informações do meio a uma
certa distância do corpo. O sistema olfatório de vertebrados é altamente
específico, sendo capaz de distinguir odores — ou odorantes — quimicamente
similares. Por exemplo, o ser humano diferencia o cheiro do octanol (presente
em rosas e laranjas) do ácido octanoico (ranço/suor), embora ambos tenham
apenas um grupo químico funcional que os diferencie.
Resumidamente, o sistema olfatório inicia no teto da cavidade nasal,
sendo composto pelo epitélio olfatório e pela lâmina própria. Logo, para
que o odor seja percebido, é necessário que ele seja conduzido até essa
região junto ao ar inalado. A olfação iniciará quando o odor interagir com
quimiorreceptores presentes nas células receptoras olfatórias. Estas, por
sua vez, atravessam a placa cribiforme e se conectam ao bulbo olfatório,
já no encéfalo, conduzindo o processamento central da informação percebida
(Figura 3) (TORTORA; DERRICKSON, 2019).
6 Sistema nervoso: sentidos especiais

Ao bulbo Glândula Célula basal regenerativa:


olfatório olfatória divide-se para substituir células
(de Bowman) receptoras olfatórias usadas
Bulbo
olfatório Lâmina
Fibras do nervo
Fibras olfatório cribriforme
do nervo
olfatório (N I) Lâmina
própria
Trato Célula receptora
olfatório olfatória em
Lâmina desenvolvimento
cribriforme Célula receptora
do etmóide olfatória
Epitélio Célula de
olfatório sustentação Epitélio
olfatório

Camada de muco

Cavidade nasal Vesícula olfatória


Cílios olfatórios:
superfícies
contêm
proteínas
receptoras
Substância sendo cheirada
Epitélio olfatório

Figura 3. Órgãos olfatórios.


Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009).

Opostamente à olfação, o sistema gustatório, também chamado de sentido


do paladar, é incapaz de discriminar muitas moléculas. Desta forma, o que
os seres humanos interpretam como sabor é o resultado, principalmente, da
textura do alimento aliado aos estímulos olfatórios provenientes dele. É por
isso que em caso de congestão nasal, parte do “sabor” do alimento é perdida.
Sendo assim, na realidade, os seres humanos detectam apenas cinco
sabores diferentes: ácido, amargo, doce, salgado e umami (do japonês,
saboroso). Carboidratos, proteínas e íons nutricionalmente importantes são
reconhecidos como sabores doce, salgado ou umami, enquanto substâncias
potencialmente tóxicas são percebidas como amargas ou ácidas.
De forma similar ao olfato, a percepção do paladar é mediada por qui-
miorreceptores gustatórios localizados no dorso da língua, palato mole e
regiões adjacentes da faringe e laringe, sendo os receptores da língua os mais
importantes na idade adulta. Esses quimiorreceptores estão agrupados em
estruturadas denominadas papilas (Figura 4) (TORTORA; DERRICKSON, 2019).
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Epiglote

Tonsila palatina

Tonsila lingual

Papila Papila circunvalada


folhada

Papila Botão gustatório


fungiforme

Figura 4. Tipos e localização das papilas.


Fonte: Adaptada de Marieb e Hoehn (2008).

Inervação dos sentidos especiais

Visão
As informações visuais iniciam o seu processamento por meio de sinapses
que ocorrem entre vários tipos neuronais presentes na retina. Aqui, algumas
informações visuais podem ser potencializadas, enquanto outras são des-
cartadas. Conforme ilustrado na Figura 5, a união dos axônios de todas as
células ganglionares da retina de um dos olhos forma o nervo óptico (nervo
craniano II) daquele lado, que deixa o bulbo do olho em direção ao encéfalo.
8 Sistema nervoso: sentidos especiais

LADO ESQUERDO LADO DIREITO

Somente Visão binocular Somente


o olho o olho
esquerdo direito

Face interior do
lobo frontal
Fissura
longitudinal

Trato olfatório

Face inferior do Nervo óptico (N II)


lobo temporal
Infundíbulo Quiasma óptico
da hipófise
(seccionado)
Corpo mamilar
Outros núcleos
Trato óptico hipotalâmicos,
Corpo geni-
culado lateral glândula pineal e
formação reticular
Pulvinar Núcleo
do tálamo supraquiasmático
Lâmina do teto Corpo Corpo
do mesencéfalo geniculado geniculado
Corpo caloroso lateral lateral
Cóliculo
superior Fibras de
projeção
(radiação
óptica)
Face inferior do
lobo occipital

Vista inferior do encéfalo

HEMISFÉRIO CEREBRAL HEMISFÉRIO CEREBRAL


ESQUERDO DIREITO
Córtex visual dos
hemisférios cerebrais
Vias visuais

Figura 5. Comunicação das vias visuais.


Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009).

Assim, a informação captada pelos fotorreceptores da retina (células es-


pecializadas na detecção da luz) passa através do quiasma óptico, local onde
os nervos ópticos se cruzam como na letra X. Neste ponto, alguns axônios
da metade temporal de cada retina permanecem do mesmo lado, enquanto
a metade nasal atravessa para o lado contralateral, seguindo em direção ao
tálamo (Figura 5).
Sistema nervoso: sentidos especiais 9

Entrando no encéfalo, os axônios da metade nasal — agora denominados


trato óptico — e culminarão no tálamo, local onde realizam sinapses para vias
direcionadas às áreas visuais primárias, como o córtex visual nos lobos occi-
pitais dos hemisférios cerebrais, que iniciará a percepção da visão (Figura 5).
Adicionalmente, a metade temporal dos axônios do trato óptico é dirigida ao
colículo superior e aos núcleos pré-tectais, que controlam respectivamente
os músculos extrínsecos do bulbo do olho e os reflexos de acomodação e
pupila (TORTORA; DERRICKSON, 2019).

Audição e equilíbrio
Conforme exposto anteriormente, as células ciliadas da orelha exercem a
função de percepção dos sons e do equilíbrio. De acordo com o seu nome,
essas células possuem estereocílios que se dobram com o estímulo mecânico
do som, promovendo a liberação de neurotransmissores, em especial o glu-
tamato. Assim, impulsos nervosos são transmitidos aos neurônios sensitivos
que inervam essas células.
Seguindo pelos axônios desses neurônios sensitivos, forma-se a parte
coclear do nervo vestibulococlear (nervo craniano VIII), onde ocorrem sinapses
nos núcleos cocleares do lado ipsilateral. Somado a isso, alguns axônios dos
núcleos cocleares cruzam no bulbo e ascendem pelo lado oposto, terminando
no colículo inferior do mesencéfalo; ou no núcleo olivar superior localizado
lateralmente à ponte. A diferença entre a chegada do impulso nervoso pro-
veniente de ambas as orelhas nos núcleos olivares superiores permite a
percepção da fonte de som (TORTORA; DERRICKSON, 2019).
Não obstante, há ainda ascendência dos axônios dos núcleos olivares
superiores para os colículos inferiores. Assim, os estímulos propagados para
os colículos inferiores são retransmitidos para o tálamo e, por fim, para a
área auditiva primária no lobo temporal do córtex cerebral em ambos os
hemisférios. Uma vez que muitos axônios cruzam o bulbo em direção ao
lado contralateral e outros permanecem do mesmo lado, as áreas auditivas
primárias recebem estímulos provenientes de ambas as orelhas esquerda e
direita (Figura 6).
10 Sistema nervoso: sentidos especiais

Córtex auditivo
(lobo temporal)
Sons de baixa Sons de
frequência alta Cóclea
frequência
Tálamo

Sons de baixa
frequência
Corpo geniculado
medial (metatálamo)

Sons de alta
frequência
Nervo
Colículo inferior vestibular
(mesencéfalo)
Nervo coclear

Eferência motora
aos núcleos de
nervos cranianos Nervo vestibulococlear
(N VIII)

Núcleo coclear

Figura 6. Inervação da via auditiva.


Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009).

As células ciliadas, localizadas desta vez no vestíbulo e nos ductos semi-


circulares, são moduladas por neurônios sensitivos localizados nos gânglios
vestibulares adjacentes. Assim, as fibras sensitivas de cada um dos gânglios
formam o nervo vestibular, que irá compor o nervo vestibulococlear, e farão
sinapses nos núcleos vestibulares, localizados no limite entre a ponte e o
bulbo. Logo, os núcleos vestibulares integram as informações relacionadas
tanto ao equilíbrio estático como ao dinâmico de ambos os lados da cabeça,
retransmitindo-as para o cerebelo e o córtex cerebral. Com isso, forma-se a
percepção consciente de posição e movimento, permitindo que comandos
sejam enviados para os núcleos motores do tronco encefálico e da medula
espinal. Tais comandos motores reflexos são distribuídos aos núcleos motores
dos nervos cranianos III, IV, VI e XI, envolvidos com os movimentos oculares,
da cabeça e do pescoço (TORTORA; NIELSON, 2012).
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Olfato
Conforme exposto, a cavidade nasal se distingue anatômica e fisiologicamente
em segmentos respiratório e olfatório, sendo que apenas 10% do epitélio
nasal participa do sistema olfatório. O epitélio olfatório é formado por zonas
com diferentes tipos celulares, como os neurônios sensoriais olfatórios, as
células colunares e duas populações de células basais contendo neuroblastos
(Figura 7).

Epitélio Lobo frontal


olfatório do cérebro
Trato olfatório
Célula mitral
Bulbo Trato
olfatório olfatório
Glomérulos

Concha
Lâmina cribriforme
nasal
do osso etmóide

Filamentos do
nervo olfatório

Rota do ar Lâmina própria de


Glândula
inalado tecido conjuntivo
olfatória
Axônio
Célula basal
Célula receptora
Epitélio olfatória
olfatório Célula de sustentação

Dendrito
Muco Cílio olfatório

Rota do ar inalado
contendo moléculas
odoríferas

Figura 7. Via olfatória.


Fonte: Adaptada de Marieb e Hoehn (2008).

As células colunares são células de suporte, estendem-se desde o epitélio


olfatório até a lâmina basal e atuam de forma semelhante às células da glia
na proteção dos neurônios sensoriais olfatórios. Por outro lado, as células
basais horizontais correspondem a uma das populações de células basais
contendo neuroblastos, que são progenitores multipotentes de células co-
lunares, células da glândula de Bowman e células basais ductais e globosas.
Já as células basais globosas atuam como progenitoras para os neurônios
olfatórios sensoriais, que se regeneram constantemente ao longo da vida
(DOTY, 2019).
12 Sistema nervoso: sentidos especiais

Por sua vez, os neurônios sensoriais olfatórios apresentam formato bi-


polar e atuam diretamente na detecção de uma molécula de odor, por meio
dos quimiorreceptores olfatórios presentes em sua membrana plasmática e
axônios não mielinizados que coalescem para formar o nervo olfatório (nervo
craniano I). Este atravessa a placa cribiforme, conduzindo a informação para
o bulbo olfatório (Figura 7) (DOTY, 2019).
Portanto, resumidamente, um odor é reconhecido quando sua molécula é
detectada por uma combinação específica de quimiorreceptores presentes
nos neurônios sensoriais olfatórios. Este estímulo químico é convertido em
um impulso nervoso, que é transmitido através do nervo craniano I para
bulbo olfatório e processado no córtex olfatório para a percepção do odor.

Gustação
Os quimiorreceptores do paladar estão agrupados em botões gustatórios
da língua e cavidade bucal. Em humanos, essas estruturas estão agrupadas
em pequenas saliências linguais denominadas papilas. Cada botão possui,
aproximadamente, 5 a 15% de células que atuam como receptores gustatórios
e possuem uma meia-vida de 5 a 10 dias. Neste sentido, há a célula basal,
precursora das células receptoras gustatórias.
Com o intuito de conduzir a informação ao sistema nervoso central, essas
células receptoras gustatórias realizam sinapses com os neurônios sensoriais
cranianos, que irão então transmitir os sinais para os centros gustatórios no
encéfalo. De destaque, os mecanismos de transdução envolvidos nesta sina-
lização variam de acordo com o estímulo recebido. Logo, os sabores ácido e
salgado desencadeiam mecanismos ionotrópicos, enquanto os demais sabores
(doce, amargo e saboroso) são mediados por mecanismos metabotrópicos.

Vias centrais da percepção do olfato


e gustação

Via olfatória
Provenientes do epitélio olfatório, os axônios delgados e não mielinizados dos
neurônios sensoriais olfatórios se unem em cada lado da cavidade nasal para
formar os nervos olfatórios direito e esquerdo, que conectam esse epitélio
aos bulbos olfatórios. De destaque, o bulbo olfatório, par e localizado abaixo
dos lobos frontais dos hemisférios cerebrais, corresponde à estrutura ence-
Sistema nervoso: sentidos especiais 13

fálica responsável por convergir informações relativas à percepção do olfato.


Sendo assim, o bulbo olfatório é a primeira estrutura do sentido do olfato no
sistema nervoso central, possui receptores olfatórios e atua como um centro
de integração de informações de odor, recebendo tanto fibras aferentes de
epitélio olfatório quanto fibras eferentes de córtex olfatório (DOTY, 2019).
Uma vez que a informação olfatória alcança os bulbos olfatórios, ocorrem
sinapses entre os axônios do nervo olfatório e as células mitrais, neurônios
de segunda ordem presentes no bulbo. As células mitrais organizam-se em
glomérulos e cada glomérulo corresponde a uma região que recebe apenas
o estímulo de um determinado tipo de odor. Logo, o conjunto de ativação
glomerular representa o odorífero detectado na periferia. Além disso, as
células mitrais selecionam, amplificam e retransmitem o sinal recebido para
os tratos olfatórios. Cabe enfatizar que o olfato é o único sentido que alcança
o córtex cerebral sem realizar sinapse com o tálamo (MARIEB; HOEHN, 2008).
Há dois tratos olfatórios principais: uma via cortical e uma subcortical.
A via cortical é responsável pela interpretação e identificação consciente dos
odores (MARIEB; HOEHN, 2008). Nesse sentido, o córtex olfatório é composto
por núcleo olfatório anterior, tubérculo olfatório, córtex piriforme e córtex
entorrinal. Entre as estruturas do córtex olfatório, o córtex piriforme recebe
a maior parte das aferências do bulbo olfatório, estando implicado na dis-
criminação, habituação do odor a curto prazo e na determinação espacial
do estímulo. Por fim, o tubérculo olfatório parece mediar a percepção e o
comportamento motivacional relacionado ao olfato. No entanto, exceto para
o córtex piriforme, as funções das estruturas do córtex olfatório ainda são
pouco compreendidas (DOTY, 2019).
Somado a isto, a via subcortical possui aferências para o hipotálamo,
amígdala e outras regiões do sistema límbico, estando implicada nas respostas
emocionais ao odor. Logo, cheiros, como o da fumaça, podem corresponder
à sensação de perigo, assim como um perfume pode desencadear uma lem-
brança saudosa (MARIEB; HOEHN, 2008). Sendo assim, o córtex entorrinal
atua em conjunto com o hipocampo na formação das memórias olfatórias
e modula as funções do bulbo olfatório e do córtex olfatório (DOTY, 2019).

Via gustatória
As informações gustatórias detectadas pelos quimiorreceptores da língua
aferem basicamente para três pares de nervos cranianos: o nervo facial (VII),
o nervo glossofaríngeo (IX) e o nervo vago (X). O nervo facial transmite os
impulsos nervosos dos canalículos gustatórios nos dois terços anteriores da
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língua. Por sua vez, o nervo glossofaríngeo inerva o terço posterior da língua
e a porção superior da faringe; enquanto o nervo vago fica responsável pelos
estímulos percebidos na epiglote e na porção inferior da faringe.
Observe na Figura 8 que, uma vez que os quimiorreceptores gustatórios
são estimulados, esse sinal afere — através dos nervos cranianos descritos
— para o núcleo gustatório no bulbo, localizado no núcleo do trato solitário.
Do núcleo gustatório, o estímulo será direcionado para o tálamo e após para
o córtex gustatório, no lobo parietal de ambos os hemisférios cerebrais. Essa
condução bulbo-tálamo-córtex gustatório confere a percepção consciente do
paladar, sendo responsável pela identificação e interpretação dos sabores.
Além disso, há projeções do bulbo para o hipotálamo e o sistema límbico,
regiões que determinarão a percepção emocional e a apreciação do que está
sendo degustado (MARIEB; HOEHN, 2008).

Córtex
gustatório

Núcleo
do tálamo
Lemnisco
medial

Núcleo
solitário
Nervo
facial (N VII)

Nervo
glossofaríngeo Nervo vago (N X)
(N IX)

Figura 8. Via gustatória.


Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009).
Sistema nervoso: sentidos especiais 15

Portanto, conforme exposto, os cinco sentidos especiais aqui descritos


— visão, audição, equilíbrio, olfato e gustação — conferem percepções do
ambiente que nos cerca. Para que tais estímulos ocorram, esses sentidos
possuem receptores especiais que detectam com precisão a informação do
meio e a direcionam para o processamento do sistema nervoso central, que
ocorre tanto a nível cortical como subcortical.

Referências
DOTY, R. L. Smell and taste. 3rd ed. Amsterdam: Elsevier, 2019.
MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. (E-book).
MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.
10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. (E-book).
TORTORA, G. J.; NIELSEN, M. T. Princípios de anatomia humana. 12. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2013.

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