Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sistema nervoso:
sentidos especiais
Tuane Bazanella Sampaio
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Perceber alterações no meio ambiente externo faz parte de uma série de ha-
bilidades necessárias para a manutenção da vida de um organismo. Por meio
destas, ele pode aproveitar uma oportunidade, bem como se esquivar de um
perigo. Ter a interpretação apropriada nessas situações requer a obtenção de
informações do meio associadas a experiências prévias e o correto processa-
mento da relação entre elas.
Neste sentido, os receptores sensoriais são estruturas especializadas
em detectar e transmitir determinadas informações acerca do meio. Essa
transmissão se dá por meio da comunicação com o sistema nervoso central,
que integrará tais informações, interpretará o meio e gerará uma resposta.
Tais impulsos podem ser recebidos de forma consciente ou não no encéfalo.
2 Sistema nervoso: sentidos especiais
Corpo ciliar
Câmara anterior (preenchi-
da com humor aquoso)
Córnea
Túnica interna
(retina) Lente
Pupila
Artéria e veia
central da retina Íris
Nervo óptico Câmara posterior (preenchi-
da com humor aquoso)
Disco do nervo óptico
Fóvea central Limbo da córnea
Fibras zonulares
Retina
Corióide
Três túnicas distintas formam a parede do bulbo do olho (Figura 1). A túnica
fibrosa, mais externa, contém os músculos extrínsecos e fornece sustentação
e proteção física. Ela é dividida em esclera, conhecida como “branco do olho”,
e córnea, transparente e contínua à esclera. A túnica vascular, de localização
intermediária, contém inúmeros vasos sanguíneos e linfáticos, além dos
músculos intrínsecos. Ela inclui a íris, com suas células pigmentadas e seu
orifício central — a pupila, o corpo ciliar, que consiste no músculo ciliar, e o
corioide, com uma rede capilar que nutre a retina (TORTORA; NIELSON, 2012).
Nesse sentido, a retina é parte constituinte da túnica interna. É nessa túnica
que estão os fotorreceptores (bastonetes e cones) e os neurônios associados
que farão a comunicação com o encéfalo e o processamento do estímulo do
meio para formação da percepção da visão (TORTORA; NIELSON, 2012).
Já no interior do bulbo do olho, encontra-se a lente (também conhecida
como cristalino) atrás da íris e da pupila. Essa lente divide o bulbo na cavidade
do segmento anterior, onde encontra-se a córnea e a íris e é preenchida por
humor aquoso, e na câmara postrema ou vítrea, constituída por humor vítreo
— responsável por manter a retina pressionada contra a corioide (Figura 1)
(TORTORA; DERRICKSON, 2019).
4 Sistema nervoso: sentidos especiais
Ossículos da
audição Canais Parte petrosa Nervo
semicirculares do temporal facial (N VII)
Orelha
(pavilhão)
Nervo
vestibulococlear
(N VIII)
Meato
acústico Labirinto ósseo
externo da orelha
interna
Membrana
timpânica
Cavidade timpânica
Janela do vestíbulo Vestíbulo
Para a parte
Cartilagem (oval) nasal da faringe
elástica Janela da cóclea Tuba auditiva
(redonda)
Cóclea
Camada de muco
Epiglote
Tonsila palatina
Tonsila lingual
Visão
As informações visuais iniciam o seu processamento por meio de sinapses
que ocorrem entre vários tipos neuronais presentes na retina. Aqui, algumas
informações visuais podem ser potencializadas, enquanto outras são des-
cartadas. Conforme ilustrado na Figura 5, a união dos axônios de todas as
células ganglionares da retina de um dos olhos forma o nervo óptico (nervo
craniano II) daquele lado, que deixa o bulbo do olho em direção ao encéfalo.
8 Sistema nervoso: sentidos especiais
Face interior do
lobo frontal
Fissura
longitudinal
Trato olfatório
Audição e equilíbrio
Conforme exposto anteriormente, as células ciliadas da orelha exercem a
função de percepção dos sons e do equilíbrio. De acordo com o seu nome,
essas células possuem estereocílios que se dobram com o estímulo mecânico
do som, promovendo a liberação de neurotransmissores, em especial o glu-
tamato. Assim, impulsos nervosos são transmitidos aos neurônios sensitivos
que inervam essas células.
Seguindo pelos axônios desses neurônios sensitivos, forma-se a parte
coclear do nervo vestibulococlear (nervo craniano VIII), onde ocorrem sinapses
nos núcleos cocleares do lado ipsilateral. Somado a isso, alguns axônios dos
núcleos cocleares cruzam no bulbo e ascendem pelo lado oposto, terminando
no colículo inferior do mesencéfalo; ou no núcleo olivar superior localizado
lateralmente à ponte. A diferença entre a chegada do impulso nervoso pro-
veniente de ambas as orelhas nos núcleos olivares superiores permite a
percepção da fonte de som (TORTORA; DERRICKSON, 2019).
Não obstante, há ainda ascendência dos axônios dos núcleos olivares
superiores para os colículos inferiores. Assim, os estímulos propagados para
os colículos inferiores são retransmitidos para o tálamo e, por fim, para a
área auditiva primária no lobo temporal do córtex cerebral em ambos os
hemisférios. Uma vez que muitos axônios cruzam o bulbo em direção ao
lado contralateral e outros permanecem do mesmo lado, as áreas auditivas
primárias recebem estímulos provenientes de ambas as orelhas esquerda e
direita (Figura 6).
10 Sistema nervoso: sentidos especiais
Córtex auditivo
(lobo temporal)
Sons de baixa Sons de
frequência alta Cóclea
frequência
Tálamo
Sons de baixa
frequência
Corpo geniculado
medial (metatálamo)
Sons de alta
frequência
Nervo
Colículo inferior vestibular
(mesencéfalo)
Nervo coclear
Eferência motora
aos núcleos de
nervos cranianos Nervo vestibulococlear
(N VIII)
Núcleo coclear
Olfato
Conforme exposto, a cavidade nasal se distingue anatômica e fisiologicamente
em segmentos respiratório e olfatório, sendo que apenas 10% do epitélio
nasal participa do sistema olfatório. O epitélio olfatório é formado por zonas
com diferentes tipos celulares, como os neurônios sensoriais olfatórios, as
células colunares e duas populações de células basais contendo neuroblastos
(Figura 7).
Concha
Lâmina cribriforme
nasal
do osso etmóide
Filamentos do
nervo olfatório
Dendrito
Muco Cílio olfatório
Rota do ar inalado
contendo moléculas
odoríferas
Gustação
Os quimiorreceptores do paladar estão agrupados em botões gustatórios
da língua e cavidade bucal. Em humanos, essas estruturas estão agrupadas
em pequenas saliências linguais denominadas papilas. Cada botão possui,
aproximadamente, 5 a 15% de células que atuam como receptores gustatórios
e possuem uma meia-vida de 5 a 10 dias. Neste sentido, há a célula basal,
precursora das células receptoras gustatórias.
Com o intuito de conduzir a informação ao sistema nervoso central, essas
células receptoras gustatórias realizam sinapses com os neurônios sensoriais
cranianos, que irão então transmitir os sinais para os centros gustatórios no
encéfalo. De destaque, os mecanismos de transdução envolvidos nesta sina-
lização variam de acordo com o estímulo recebido. Logo, os sabores ácido e
salgado desencadeiam mecanismos ionotrópicos, enquanto os demais sabores
(doce, amargo e saboroso) são mediados por mecanismos metabotrópicos.
Via olfatória
Provenientes do epitélio olfatório, os axônios delgados e não mielinizados dos
neurônios sensoriais olfatórios se unem em cada lado da cavidade nasal para
formar os nervos olfatórios direito e esquerdo, que conectam esse epitélio
aos bulbos olfatórios. De destaque, o bulbo olfatório, par e localizado abaixo
dos lobos frontais dos hemisférios cerebrais, corresponde à estrutura ence-
Sistema nervoso: sentidos especiais 13
Via gustatória
As informações gustatórias detectadas pelos quimiorreceptores da língua
aferem basicamente para três pares de nervos cranianos: o nervo facial (VII),
o nervo glossofaríngeo (IX) e o nervo vago (X). O nervo facial transmite os
impulsos nervosos dos canalículos gustatórios nos dois terços anteriores da
14 Sistema nervoso: sentidos especiais
língua. Por sua vez, o nervo glossofaríngeo inerva o terço posterior da língua
e a porção superior da faringe; enquanto o nervo vago fica responsável pelos
estímulos percebidos na epiglote e na porção inferior da faringe.
Observe na Figura 8 que, uma vez que os quimiorreceptores gustatórios
são estimulados, esse sinal afere — através dos nervos cranianos descritos
— para o núcleo gustatório no bulbo, localizado no núcleo do trato solitário.
Do núcleo gustatório, o estímulo será direcionado para o tálamo e após para
o córtex gustatório, no lobo parietal de ambos os hemisférios cerebrais. Essa
condução bulbo-tálamo-córtex gustatório confere a percepção consciente do
paladar, sendo responsável pela identificação e interpretação dos sabores.
Além disso, há projeções do bulbo para o hipotálamo e o sistema límbico,
regiões que determinarão a percepção emocional e a apreciação do que está
sendo degustado (MARIEB; HOEHN, 2008).
Córtex
gustatório
Núcleo
do tálamo
Lemnisco
medial
Núcleo
solitário
Nervo
facial (N VII)
Nervo
glossofaríngeo Nervo vago (N X)
(N IX)
Referências
DOTY, R. L. Smell and taste. 3rd ed. Amsterdam: Elsevier, 2019.
MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. (E-book).
MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.
10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. (E-book).
TORTORA, G. J.; NIELSEN, M. T. Princípios de anatomia humana. 12. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2013.