O rebanho é os meus pensamentos E os meus pensamentos são todos sensações. Penso com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto, E me deito ao comprido na erva, E fecho os olhos quentes, Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, Sei a verdade e sou feliz. “Poema nono”
Primeira estrofe: sensacionismo primazia dos sentidos
“Sou um guardador de rebanhos. / O rebanho é os meus pensamentos / E os meus pensamentos são todos sensações.” (vv.1-3) estes versos remetem para os versos de abertura do “Poema primeiro”, retomando a definição inicial: poeta = pastor (guardador de ideias/pensamentos, que são naturais e simples em comunhão com a Natureza)
metáfora inicial: o sujeito poético é um ser natural, assumindo o seu sensacionismo:
anula a oposição entre o sentir e o pensar, pois há uma identificação entre pensamento e sensações, ou seja, o conhecimento da realidade adquire-se pela sua apropriação direta através dos cinco sentidos.
pensamentos = sensações: reprodução objetiva do que o “eu” sente ao contactar com a
Natureza (pensar= sentir)
gradação (“olhos” “boca”): hierarquização das sensações de acordo com o grau de
conhecimento que permitem apreender: as impressões visuais são a primeira fonte de saber, seguindo-se as auditivas, táteis, olfativas e, por fim, as gustativas.
polissíndeto + anáfora + paralelismo de construção/construção simétrica: evidenciam a
simplicidade da linguagem, dado que configuram mecanismos de repetição
Segunda estrofe: intervalo reflexivo
identificação entre o pensar e o sentir: pensar/conhecer = sentir o mundo existe: basta senti-lo, experimentá-lo pelos sentidos afirmação do sensacionismo do sujeito lírico
Terceira estrofe: conclusão (“Por isso”, v.9)
vontade de fusão com os elementos naturais a realidade (o que é concreto) existe sem ser preciso pensar gradação (“Sinto” “Sei” “sou”): é sentindo a realidade que sabe a “verdade” e esse conhecimento passa apenas pelos sentidos, sem qualquer interferência do pensamento, sendo isso suficiente para ser feliz. unidade do tempo: vive no presente, sem querer saber do passado nem do futuro