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FERNANDO PESSOA – POESIA DO ORTÓNIMO

Temática: Infância
 A nostalgia de uma infância idealizada e estilizada:
 O sujeito poético vai relembrar uma infância idealizada, pintando-a
apenas como feliz e superior ao presente.

 Este tem noção de que a sua infância é idealizada, pelo que as suas
memórias destas não são confiáveis.

 Pretérito perfeito: passado longínquo.

 Pretérito imperfeito: passado recente.

 A infância como paraíso perdido:


 O sujeito poético quer trazer o passado para o presente – algo que
não consegue fazer porque antes era criança e agora é adulto e
consciente – pelo que o faz através da sua memória/ através do
relembrar.

 A infância como símbolo da inocência, inconsciência e felicidade:


 As crianças são inconscientes, ou seja, não pensam, pelo que,
segundo o sujeito poético, são felizes – visto que o ato de pensar
lhe traz um sofrimento profundo.

 As crianças são muito curiosas e acreditam em tudo/querem saber


tudo.

 Desejo frustrado de reviver a infância no presente:


 O sujeito poético quer trazer o passado para o presente pois era no
passado que se sentia amado e feliz.

 Saudade de um passado (“fingido artisticamente”) feliz:


 O sujeito poético tem saudades de um passado exclusivamente
feliz, pois sente que era aí que era feliz, inconsciente, curioso e
amado – ao passo que agora, no presente, este é infeliz, consciente
(pensa), melancólico/nostálgico, introspetivo e contenta-se com
pouco, sentindo-se desconfortável e preso às memórias do
passado.

 Fernando Pessoa recorre ao sonho e, através da memória, revisita


a infância. Não se trata da infância do próprio poeta, mas sim do
símbolo de despreocupação e, consequentemente, da felicidade.

Temática: O fingimento artístico


 Fingimento artístico /=/ sinceridade humana
 O poeta não finge nem mente. Ele retrata, reproduz, revive a dor
experienciada no passado.
 Não há propriamente uma rejeição da “sinceridade de
sentimentos” do “eu” individualizado e real do poeta, mas para o
poeta, interessa-lhe mais a capacidade de o “eu” poético dizer o
que efetiva e intelectualmente sente.
 Pessoa afirma que a sinceridade intelectual ou metafísica é a única
que interessa à poesia, pelo que o fingimento é a mais autêntica
sinceridade intelectual.

 Intelectualização das emoções e das sensações experienciadas


 Existe uma primeira dor, a dor experienciada pelo autor. Depois, o
autor irá pegar nessa memória e mais tarde retratá-la através da
razão num dos seus poemas – essa é a segunda dor, a dor pensada
e imaginada.

 Os leitores, ao lerem a sua obra, irão sentir empatia com a dor


imaginada do autor – terceira dor – e, de seguida, irão experienciar
essa dita dor, desta vez relacionada com algo da sua vida pessoal –
quarta dor.

 Este acredita que a idealização é melhor do que a realidade.

 A imaginação sobrepõe-se ao coração


 Mais à frente, Fernando Pessoa afirma que apenas existem três
dores. Agora, este tem a capacidade de apenas pensar e imaginar
as experiências sobre as quais escreve, sem precisar de as sentir
realmente previamente. Assim, este necessita somente da sua
imaginação para escrever, e não da realidade ou de experiências
antigas.

 Ele consegue imaginar outras realidades sem ter que ter


necessariamente passado por elas – ao contrário dos leitores.

 Recusa da espontaneidade e emotividade literárias: a poesia é um


produto intelectual
 A produção poética parte da realidade da dor sentida, mas
distancia-se criando uma dor fingida, graças à interação entre a
razão e a sensibilidade, que permite a elaboração mental da obra
de arte. A elaboração estética acaba por se concretizar pela
conciliação da oposição razão/sentimento.

Temática: A dor de pensar


 A intelectualização excessiva causa sofrimento, angústia e frustração
 O sujeito poético está sempre a pensar – intelectualização
permanente –, tanto sobre o mundo que o rodeia como sobre si
próprio (emoções), algo que o impede ser der feliz.

 Tendência constante para o pensamento, que é causador de


sofrimento, angústia e inquietação.

 Forte consciência do mundo, da vida e da morte.

 O mistério de ser, a consciência da brevidade da vida


(consequência da irreversibilidade do tempo), a certeza da
impossibilidade de reviver a infância e a verdade da morte
originam-lhe uma angústia existencial, traduzida em sentimentos
de tédio, náusea e cansaço.

 Ao não conseguir aproveitar a vida por ser consciente e ao não


conseguir conciliar o que deseja/idealiza com o que realiza, sente-
se frutado.
 Dicotomia (contraste) entre consciência/inconsciência - pensar/sentir
 O sujeito poético é consciente, pelo que não consegue
simplesmente sentir algo no momento.

 O “eu” lírico tanto aceita a consciência como sente uma verdadeira


dor de pensar, que gera insatisfação e dúvida sobre a utilidade do
pensamento.

 Ao pensar sobre o pensamento, percebe que existe um vazio que


não permite conciliar a consciência e a inconsciência – o
pensamento racional não se concilia com o verdadeiro sentir.

 Desejo de evasão: ser outro inconsciente e feliz


 Este quer ser inconsciente e feliz para poder viver no momento e
sentir. No entanto, quer continuar a ser consciente para aprender
sobre o mundo e para poder refletir.

 Impossibilidade da realização do paradoxo procurado – ter uma


consciência inconsciente.

 Ele quer ser feliz sendo ele mesmo, mas não consegue, pois é
consciente.

 Sente-se condenado a ser consciente, e gostava de ter a


inconsciência de seres como a “pobre ceifeira” ou do “gato que
brinca na rua” (animal irracional).

Temática: Sonho e realidade


 O sonho tem como base a realidade, e a idealização só tem a ver com
aquilo que nós conhecemos.

 Evasão e refúgio, através do sonho


 Ele diz só ser feliz na idealização/sonho, pois este afasta-o do
pensamento.
 A ânsia de felicidade está sempre no mundo onírico, refúgio para a
realidade. Nos sonhos, a felicidade é possível, mas a consciência
dessa felicidade provoca o desânimo, a angústia e a estranheza.
 Pessoa sente que o sonho pode ser um (falso) calmante e a solução
para uma existência sofrida – daí o sonho surgir como a breve
ilusão de que a felicidade é possível.

 Indistinção entre estados de ilusão e estados reais

 Estranheza e desconhecimento do “eu”: o sujeito poético deseja ser


outra pessoa inconsciente.

Linguagem, estilo e estrutura:


 Presença de formas da lírica tradicional portuguesa: quadras e
quintilhas e versos frequentemente em redondilha menor e maior.
 Tendência para a regularidade estrófica, métrica e rítmica.
 Musicalidade: presença de rima e aliterações.
 Vocabulário simples mas simbólico.
 Frases simples.
 Uso da pontuação excessiva (relacionado com o ritmo).
 Recursos expressivos abundantes (metáfora, oxímono, comparação,
repetição, interrogação retórica, …).
 Incerteza é um sentimento constante – (“Não / Não sei”).

Nota:
Géneros literários:
- Lírico: sujeito lírico (transmite emoção) e fala sobre emoções.
- Narrativo: ação; narrador; espaço; tempo; personagens.

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