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Fernando Pessoa

A. Vida de Fernando Pessoa:

Fernando Pessoa nasceu em 1888, e morreu em 1935. É o mais importante


poeta do Modernismo português, e um dos fundadores da revista Orpheu (1915),
considerada o órgão do primeiro Modernismo em Portugal.
A obra pessoana é constituída por um grande número de textos, englobando
os poemas que escreveu com o seu nome e com outros nomes, Embora Pessoa
não se oculte atrás desses nomes, é importante distinguir o que se designa por
poesia ortónima e heteronímia.
Deste modo, os heterónimos ou semi-heterónimos pessoanos são formas
de fingimento artístico que propiciam um encontro do “eu” consigo próprio.
Fernando Pessoa sempre se confrontou com a sensação de “ser vários” e as
personagens pessoanas estão interligadas por uma ficção, a que Pessoa
chamou “drama em gente”. O recurso aos heterónimos consiste numa passagem
de uma personalidade que seria a do autor, para uma personificação estética
que é já a do texto ou da escrita.

B. A poesia ortónima:

A poesia ortónima pessoana é constituída por um corpus textual que o poeta


assinou com o seu próprio nome. Apresenta características específicas
diferentes da poesia heterónima, quer na forma quer nos temas que desenvolve.
O texto lírico assinado por Fernando pessoa desenvolve temas complexos
de “uma inteligência sensível” em poemas formalmente muito simples,
recorrendo a estruturas poéticas tradicionais e apresentando um ritmo
musical que recupera a nossa melhor tradição literária (Lusíadas).
Os principais temas versados na poesia ortónima são o fingimento poético,
a dor de pensar, a oposição entre o sonho e a realidade e a nostalgia da
infância. No que concerne à forma, são geralmente retomadas as formas da
poesia tradicional.

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B.1. O Fingimento Artístico:

Segundo a teoria apresentada por Pessoa em poemas como


“Autopsicografia”, o poeta não expõe diretamente as suas emoções – a sua
“dor”, que “deveras sente” – na obra.
Deste modo, o poeta expõe o seu conceito de poesia enquanto
intelectualização da emoção, isto é, o poema é uma construção de sentidos
que o trabalho poético elabora, a partir de sentimentos criados ou recriados.
Assim, a sinceridade artística constrói-se com base no fingimento, na
transfiguração da emoção pela razão, de modo a atingir-se a veracidade
intelectual e a emoção artística.
O poeta finge (imagina artisticamente) as emoções apresentadas no
poema.
 Distancia-se daquilo que sentiu efetivamente.
 Poesia ≠ Sinceridade

Dor Real Transfiguração Dor fingida

Se o poeta é criador, fingindo as emoções que o poema apresenta, o leitor


é responsável pela interpretação.
 Ele experiencia emoções que o poema desencadeou.
A dialética sinceridade/fingimento, que se liga à oposição
consciência/inconsciência e à dicotomia sentir/pensar, transforma o fingimento
artístico num trabalho de representar, de exprimir intelectualmente as emoções.

Poema
“Autopsicografia” Os leitores não
No processo de têm acesso nem à
criação artística, “dor sentida” nem
o sujeito à “dor fingida”,
intelectualiza a apenas à “dor
Poema “dor sentida”. lida”.
“Isto”

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B.2. Dor de pensar:

Nos poemas de Pessoa ortónimo, surge o tema da consciência da


existência. Os que têm esta consciência são superiores aos demais.
A consciência torna-se um problema quando se converte na
omnipresença da razão: o “eu” passa a refletir constantemente sobre toda a
realidade e acerca das suas próprias emoções. Intectualizando as emoções, o
poeta deixa de conseguir sentir verdadeiramente.
Uma vez que a consciência traz infelicidade, o eu vai aspirar à consciência
de seres como o “gato” ou a “Ceifeira. Acredita poder libertar-se assim da dor
de pensar.
Contradição profunda: o eu deseja ser inconsciente, mas só é
verdadeiramente feliz tendo consciência dessa felicidade (e a consciência
anula a felicidade). Desta forma, não existe solução para a dor de pensar.

B.3. Sonho e realidade:

Oposições que surgem na poesia do ortónimo segundo esta temática:


 Sonho vs sono;
 Ideal vs real;
 Desejo vs realidade.
O tema do sonho foi abordado muitas vezes por Pessoa. O sujeito
frustrado por não encontrar a felicidade, afunda-se no tédio. O sonho
representa, então, a possibilidade de encontrar a felicidade (dimensão
idealizada):
 Negar o vazio e o tédio;
 Encontrar a plenitude;
 Recuperar um bem perdido;
 Ser aquilo que não se é no presente.
Uma vez que o ortónimo, subjugado pelo poder do pensamento, vive uma
inquietação constante na procura da felicidade, a sua angústia existencial
leva-o a procurar viver uma outra realidade menos amarga através de um
espaço imaginário.
No entanto, acaba por sentir uma consciência dolorosa da realidade. O poeta,
dominado pela reflexão incessante, admite que a existência sonhada traz
um estado de perfeição ilusório: o sonho não resolve as insatisfações e não é
sinónimo de felicidade, já que não evita o tédio, a náusea, o vazio, nem a
nostalgia da infância perdida.

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B.3. A nostalgia da infância:

Face à incapacidade de viver a vida, o “eu” refugia-se numa infância


mítica, uma idade de inocência, uma idade que ainda não se pensa e, por isso,
tudo é possível.
Nos poemas do ortónimo, existe uma perspetiva profundamente
negativa acerca do presente – associado à infelicidade, à fragmentação, à
deceção e à ausência de sentido para a existência. Deste modo, a infância
surge como um período evocado e idealizado.
A infância torna-se um símbolo que representa:
 A identidade não fragmentada;
 A inconsciência;
 A existência não contaminada pela omnipresença da razão;
 A possibilidade de alcáçar a felicidade.
Evocar a infância não é solução para os problemas do presente, uma vez
que, a infância idealizada não existiu, tendo resultado de uma tentativa
ilusória de reconstruir o passado.

Angústia
existencial

Tentativa de evasão Idealização da


infrutífera Infância

Símbolo da
Evocação da inconsciência e do
infância sonho

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