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1) FERNANDO PESSOA – ORTÓNIMO

Fernando Pessoa conta e chora a insatisfação da alma humana. A sua precariedade, a sua limitação, a
dor de pensar, a fome de se ultrapassar, a tristeza, a dor da alma humana que se sente incapaz de
construir e que, comparando as possibilidades miseráveis com a ambição desmedida, desiste, e
dissipa a vida no tédio. Os remédios para esse mal são o sonho, a evasão pela viagem, o refúgio na
infância, a crença num mundo ideal e oculto, situado no passado, etc...

A poesia ortónima:
-é assinada por Fernando Pessoa;
-desenvolve temas complexos em poemas formalmente muito simples;
-recorre a estruturas poéticas tradicionais;
-apresenta um ritmo musical que recupera a nossa melhor tradicão literária;
-versa vários temas demonstrativos de "uma inteligência sensível.

 Fingimento Artístico:

A poesia está, não na dor experimentada ou sentida, mas, no fingimento dela, apesar do poeta partir
da dor real “a dor que deveras sente”. Não há arte sem imaginação, sem que o real seja imaginado de
maneira a exprimir-se artisticamente e ser concretizado em arte. Esta concretização opera na
memória a dor inicial fazendo parecer a dor imaginada mais autêntica do que a dor real. Podemos
chegar à conclusão de que há 4 dores: a real (inicial), a que o poeta imagina (finge), a dor real do
leitor e a dor lida, ou seja, intelectualizada, que provém da interpretação do leitor.

A expressão dos sentimentos e sensações intelectualizadas (intelectualização dos sentimentos) são


fruto de uma construção mental, a imaginação impera nesta fase de fingimento poético. O
fingimento é obtido com a junção de vários fatores como: a intelectualização dos sentimentos, a
despersonalização (fragmentação do eu) e a grande capacidade de dramatização do poeta.

O pensamento e a sensibilidade são conceitos fundamentais na ortonímia, o poeta brinca


intelectualmente com as emoções, levando-as ao nível da arte poética. O poema resulta, então, de
algo intelectualizado e pensado.

Pessoa conclui que o poeta é um fingidor tal como um racionalizador de sentimentos.

 Fragmentação do eu:

Pessoa adquire uma grande capacidade de despersonalização, permitindo-lhe a heteronímia (criar


diferentes personalidades), possibilitando-lhe exprimir estados de alma e consciência distintos.

A fragmentação do eu e o fingimento artístico estão fortemente interligados.

o Motivos poéticos: -Nostalgia da infância, símbolo da felicidade


perdida, onde não existia o doloroso pensar e
-Tensão sinceridade /fingimento, sentir;
consciência/inconsciência, sentir/pensar;
-Desilusão perante a vida real e de sonho,
-Necessidadede intelectualizar o que sente ou recusa da realidade, refúgio no sonho;
pensa(intelectualização dos sentimentos);
-Fragmentação do eu;
-Fingimento artístico;
-Sofrimento proveniente da dor de pensar; refúgio no sonho, no ocultismo
(correspondência entre o visível e o invisível)
- Consciência do absurdo da existência; e na criação dos heterónimos;

-Afastamento da realidade para percecionar e -Tal como os heterónimos, apresenta uma


produzir uma nova realidade; identidade própria diversa do autor.

-Identidade perdida e incapacidade de o Sentimentos dominantes:


autodefinição;
-tédio
-Consciência da efemeridade, porque o tempo -angústia existencial
é fator de desagregação;
-melancolia
-Não consegue fruir a vida por ser consciente, -frustração
dor de viver; -ânsia
-ceticismo
-Tentativa de superação da dor, do presente, -desejo de evasão
etc. Através da evocação da infância, no -saudade

A poesia ortonímica, ora segue, formalmente, os modelos da poesia tradicional portuguesa, ora
procura experiências modernistas. Na vertente tradicional, com poemas de métrica curta, abundam
aliterações e rimas internas, numa linguagem sóbria e intimista, mas de grande sua vida de musical e
rítmica. Existe também uma mistura de diversas sensações numa só: sensação de realidades
observáveis e sentidas com a sensação de realidades desejáveis e idealizadas.

o Estilo e linguagem:

- Vocabulário simples
-Uso frequente de frases nominais;
-Pontuação expressiva - exclamação, interrogação, reticências, etc.;
-Recurso a adjetivação expressiva, comparações, metáfora, paralelismo e repetições, oxímoros,
etc.;
-Grande sentido de musicalidade – eufonia (sons agradáveis), transporte, aliteração;
-Versificação regular e tradicional, reminiscência da lírica popular - repetições, métrica curta
(redondilha menor e maior), estrofes curtas (recurso frequente à quadra).

Heteronímia:
-O termo "heteronímia" não foi inventado por Pessoa, mas ele e a sua obra conferiram-lhe o
significado atual. -Os heterónimos
são formas de fingimento artistico; são criações fictícias que existem na sequência do
fingimento poético. -Fernando Pessoa sempre se
confrontou com a sensação de "ser vários". -
Pessoa criou um grande corpus textual que engloba os poemas escritos com outros nomes e
com o seu.
-Os heterónimos são personagens através das quais Pessoa se busca e se aperfeiçoa.
-Pessoa não se oculta atrás desses nomes.
-Essas fugas, esses "fingimentos", propiciam um encontro consigo.
-As personagens pessoanas estão interligadas por uma ficção, a que Pessoa chamou"drama em
gente."
-O "drama em gente" é explicado por Pessoa na Carta a Adolfo Casais Monteiro.
-Essas personagens existem umas em relação às outras: se "cada uma constitui um drama, como
referiu Pessoa, "todas juntas formam outro drama"
-O recurso aos heterónimos consiste na passagem de uma personalidade que seria a do autor,
para uma personificação artística que é já a do texto ou da escrita.

2) ALBERTO CAEIRO
Poeta que deambula pelo campo; poeta sensacionista objetivo; poeta da natureza; poeta
antimetafísico.

Nasceu em 1889, em Lisboa, e morreu em 1915, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não
teve profissão, nem educação quase nenhuma: apenas a instrução primária. Era de estatura média,
frágil, mas não o aparentava. Era louro, de olhos azuis. Ficou órfão de pai e mãe muito cedo e
deixou-se ficar em casa a viver dos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Escrevia mal o
Português. É anti metafísico, é menos culto, mais alegre e franco. É sensacionista.

Características:  Atração pela infância, como sinónimo de


pureza, inocência e simplicidade, porque
 Negação da metafísica e valorização da a criança não pensa, conhece pelos
aquisição do conhecimento através das sentidos
sensações não intelectualizadas;
como ele, pela manipulação dos objetos
 É contra a interpretação do real pela pelas mãos;
inteligência; não devemos acrescentar-lhe
as impressões subjetivas;  Poeta da Natureza, simplicidade da vida
rural;
 Negação de si mesmo;
 A vivência da passagem do tempo não
existe, são só vivências atemporais: o
tempo é ausência de tempo.

Alberto Caeiro só se importa em ver de forma objetiva e natural a realidade, com a qual contacta a
todo o momento. Daí o seu desejo de integração e de comunhão com a natureza.

Para Caeiro, “pensar” é estar doente dos olhos. Ver é conhecer e compreender o mundo, por isso,
pensa vendo e ouvindo. Recusa o pensamento metafísico, afirmando que “pensar é não
compreender”. Ao anular o pensamento metafísico, elimina a dor de pensar que afeta Pessoa.

Caeiro é o poeta da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. Caeiro
dá especial importância ao ato de ver.

É um sensacionista a quem só interessa o que capta pelas sensações e a quem o sentido das coisas é
reduzido à perceção da cor, da forma e da existência. Constrói os seus poemas apartir de matéria
não-poética, mas é o poeta da Natureza e do olhar, o poeta da simplicidade completa, da objetividade
das sensações e da realidade imediata (“Para além da realidade imediata não há nada”), negando
mesmo a utilidade do pensamento. No entanto, muitas vezes não consegue escapar à racionalização,
e é esse facto que lhe provoca alguma tristeza.

Para Caeiro fazer poesia é uma atitude involuntária, espontânea, pois vive no presente, não querendo
saber de outros tempos, e de impressões, sobretudo visuais, e porque recusa a introspeção, a
subjetividade, sendo o poeta do real objetivo.

Possuía uma linguagem estética direta, concreta e simples mas, ainda assim, bastante complexa do
ponto de vista reflexivo.

-Características:

 Objetivismo - apagamento do sujeito; atitude antilírica, integração e comunhão com a


natureza; poeta deambulatório;
 Sensacionismo – poeta das sensações tal como elas são; poeta do olhar; predomínio das
sensações visuais e das auditivas; sensações verdadeiras";
 Anti metafísico - recusa do pensamento ("Pensar é estar doente dos olhos"); recusa do
mistério; recusa do misticismo;
 Panteísmo Naturalista - tudo é Deus, as coisas são divinas ("Deus é as árvores e as flores/ E
os montes e o luar e o sol..."); desvalorização do tempo ("Não quero incluir o tempo no meu
esquema"); contradição entre "teoria" e "prática".

Características de estilo e linguagem:

-Estilo coloquial e espontâneo (linguagem quotidiana, fluente, simples e natural);


-Ausência (aparente) de preocupações estilísticas;
-Indisciplina formal e ritmo lento mas espontâneo;
-Vocabulário simples e linguagem familiar (por vezes tautológica – próxima da infantil);
-Uso da adjetivação objetiva (descritiva);
-Predomínio do presente do indicativo (modo do real);
-Recurso a frases simples ou coordenadas;
-Predomínio da comparação, da metáfora e da repetição anafórica;
-Liberdade estrófica, verso livre, métrica irregular.

RESUMO:

-Poeta da Natureza;
-Panteísmo sensualista: relação íntima e direta com a Natureza; -
Vivência de acordo com as suas leis; -
Poeta sensacionista (sensações): predomínio dos sentidos (privilegia o conhecimento sensorial da
realidade);
-Especial importância do ato dever;
-Privilégio da sensação em detrimento do pensamento;
-Pensamento como fonte de sofrimento, de enganos, não permitindo conhecer o real
-Vê a realidade de forma objetiva e natural;
-Aceitação da realidade tal como é, de forma tranquila; vê um mundo sem necessidade de
explicações, sem princípio nem fim; existir é um facto maravilhoso;
-Visão pagã da existência: a única verdade das coisas é a sensação;
-Recusa da filosofia, do pensamento metafísico;
-Inexistência de tempo (unificação do tempo); -
Inocência, ingenuidade e constante novidade das coisas;
-O real como único meio de atingir a verdade e a felicidade;
-Mestre de Pessoa e dos outros heterónimos;
-Relação com Pessoa Ortónimo – elimina a dor de pensar.

3) RICARDO REIS

Disciplina mental; efemeridade da vida; iminência da morte; domínio dos deuses; fuga à dor; atitude
estóico- epicurista, baseada na ataraxia (ausência de perturbação).

Ricardo Reis, nasceu no Porto em 1887, foi educado num colégio de jesuítas e é médico. É latinista
por educação alheia e semi-helenista por educação própria. Viveu no Brasil e expatriou-se
voluntariamente por ser monárquico. Demonstra interesse pela cultura Clássica, Romana (latina) e
Grega (helénica). Fisicamente é um pouco mais baixo, mas forte, mais seco do que Caeiro; moreno
de cara rapada.

A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o “carpe
diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer
que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma
e tranquilidade – ataraxia.
Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma
filosofia estóica:
-“Carpe diem”(aproveita o dia), ou seja, aproveita a vida em cada dia, como caminho da felicidade;
-Busca da felicidade com tranquilidade (ataraxia);
-Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo);
-Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;
-Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa
o “Fado” - destino).

 Epicurismo: fuga à dor (através da moderação dos prazeres e aceitação do fado); não temer
a morte; modera o prazer (busca dos prazeres simples da vida, sem excessos); atinge a
ataraxia (ausência de perturbações/ tranquilidade da alma).
 Estoicismo: aceitação calma e serena da ordem das coisas e do destino (aceitar a ordem
universal das coisas, incluindo a morte); dominar as paixões (permanecendo indiferente
tantos a estas como à dor, ambas perturbações da razão); autodisciplina.
 Paganismo: crença nos deuses; crença na civilização da Grécia; sente-se um estrangeiro fora
da sua pátria.
 Neopaganismo: reconstrução da essência do verdadeiro paganismo.

Neste sentido, este heterónimo afirma-se crente nos deuses, que estão acima dos homens, mas acima
dos dois está ainda o destino (fado). Tenta assumir a postura dos deuses, adquirido através de um
exercício de autodisciplina, calma e indiferença, face a um destino já traçado.

Acredita num destino inelutável de uma maneira tranquila. Considera que a verdadeira sabedoria de
vida é viver de forma equilibrada e serena, “sem desassossegos grandes”.

A filosofia de Reis rege-se pelo ideal de que há que viver com moderação, sem nos apegarmos às
coisas, e por isso as paixões devem ser comedidas, para que a hora da morte não seja demasiado
dolorosa.

As linhas ideológicas presentes na poesia de Reis refletem um homem que sofre e vive o drama da
transitoriedade da vida, facto que lhe provoca sofrimento (por imaginar antecipadamente a morte).
Somos seres frágeis, seres-para- a-morte, tal como tudo o que nos rodeia.

o Características poéticas:  Presença constante do Fado, do destino,


da fatalidade;
 Epicurismo;
 Intelectualização das emoções;
 Estoicismo;
 Tom sentencioso – caráter moralista da
 Autodisciplina, abdicação, recusa de sua poesia.
compromissos afetivos e sociais;

 Neopaganismo e neoclassicismo – o Sentimentos dominantes:


crença nos deuses, louvor da civilização
grega, tema horaciano do carpe diem; -Submissão
-Dor
 Efemeridade da vida e do tempo/obsessão -Indiferença
pela morte; -Conformação

Características de estilo e linguagem:


-Construído com extremo rigor; -
Forma métrica mais usada – ode;
-Uso do hipérbato e da anástrofe (inversão da ordem natural das palavras na frase);
-Recurso ao gerúndio e ao imperativo (exortativo);
-Predomínio das frases subordinadas;

Resumo:

-Disciplina mental
-Intelectualização das emoções;
-Domínio dos deuses;
-Iminência e irreversibilidade da morte (morte como única certeza do percurso existencial; aceitação
pacífica desta);
-Busca do prazer moderado (procura da ataraxia), como meio de fuga à dor;
-Aparente tranquilidade, na qual se reconhece a angústia existencial do ortónimo;
-Espírito grave, ansioso de perfeição;
-Atitude de quase indiferença perante a vida; inutilidade de qualquer compromisso;
-Necessidade do predomínio da razão sobre a emoção, como uma defesa contra o sofrimento;
-Presença do fatalismo - o destino é força superior ao homem; aceitação calma do destino;
-Estoicismo – aceitação calma e serena da ordem das coisas;
-Moralista – pretende levar os outros a adotar a sua filosofia de vida, não se cansa de dar conselhos;
-Poeta inteletual, sabe contemplar: ver intelectualmente a realidade;
-Aceitação do Fado, da ordem natural das coisas;
- Privilegia a ode; -
Usa a inversão da ordem lógica, favorecendo o ritmo das suas ideias disciplinadas;
-Estilo densamente trabalhado, de sintaxe alatinada, hipérbatos, apóstrofes, metáforas, comparações,
gerúndio e imperativo; -Verso irregular e
decassilábico.

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