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Português 1 / Ano Letivo 2021/22  

Fernando Pessoa
Ficha 3

FERNANDO PESSOA: ORTÓNIMO


 
 
 

1. Contextualização (O Modernismo e os –ismos da Vanguarda)

     Modernismo – movimento estilístico em que a literatura


surge associada às artes plásticas e por elas influenciada,
desencadeado pela geração de Fernando Pessoa, Mário de
Sá Carneiro e Almada Negreiros (Orpheu). Caracteriza-se
por uma nova visão da vida, que se traduz, na literatura,
por uma diferente concepção da linguagem e por uma
diferente abordagem dos problemas que a humanidade se
vê obrigada a enfrentar, num mundo em crise.

     Decadentismo – corrente literária que exprime o cansaço,


o tédio, a busca de sensações novas. Apresenta estreitas
relações com o Simbolismo.

       Paulismo – “palis” é a primeira palavra de “Impressões do Crepúsculo” e a que


sugere a atitude estética chamada paulismo. O significado de “paul” liga-se à água
estagnada, aos pântanos, onde se misturam e confundem imensas matérias e
sugestões. A estagnação remete para a agonia da água, paralisada e impedida de
seguir o seu curso.

       Interseccionismo – caracteriza-se pelo entrecruzamento de planos que se cortam:


intersecção de percepções ou sensações.

       Futurismo – corrente literária que se propõe cortar com o passado, exprimindo em
arte o dinamismo da vida moderna. Aqui, o vocabulário onomatopaico pretende
exaltar a modernidade.

       Sensacionismo – corrente literária que considera a sensação como base de toda a
arte. Segundo Fernando Pessoa, são três os princípios do Sensacionismo:

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       Todo o objecto é uma sensação nossa.

       Toda a arte é uma conversão duma sensação em objecto.

       Toda a arte é a conversão duma sensação numa outra sensação.

2. O estilo de Fernando Pessoa

       Síntese das temáticas:

Teoria do fingimento poético; sentir/pensar; consciência/inconsciência;

Intelectualização dos sentimentos  teoria do fingimento

Nostalgia da infância – único momento possível de felicidade plena;


evocação da infância como símbolo de uma felicidade mítica, imaginaria e
perdida (tempo onírico).

Fragmentação do “eu”; despersonalização; sensação de estranheza,


alheamento e desconhecimento em relação a si próprio; indefinição da sua
identidade.

Interseção da realidade objetiva com a realidade mentalmente construída;


dicotomia sonho/realidade  incapacidade de conciliar o que deseja ou
idealiza com o que realiza;

Dor de pensar  adesão à teoria de que a lucidez, racionalidade e


consciência são um entrave à felicidade plena.

O tédio, a angustia existencial, a solidão interior, a melancolia.

Teoria do fingimento artístico  dialética sinceridade/fingimento; o


fingimento artístico não impede a sinceridade, apenas implica exprimir
intelectualmente as emoções ou o que se quer representar; o poema é um
produto intelectual resultante das emoções vividas;

criar poesia  conversão das emoções vividas para as emoções


fingidas/pensadas.

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Problemática da efemeridade do tempo  o tempo é um fator de
desagregação na medida em que tudo é breve, tudo é efémero. O tempo
apaga tudo.

Supremacia da razão sobre as emoções no ato de criação poética 


processo de intelectualização das emoções.

Submissão relativamente ao ato de pensar  sente-se condenada a ser


consciente, lúcido, a ter de pensar.

Necessidade de evasão da realidade  refúgio no sonho, na música, na


noite (que o permitem ascender a uma realidade onírica, a única capaz de
lhe proporcionar felicidade.

3. As temáticas e as composições poéticas de Fernando Pessoa

3.1. O fingimento artístico

. A poesia é um produto intelectual;

. Não acontece no momento da emoção, resulta da sua recordação;

. É necessário intelectualizar os sentimentos e sensações para criar arte;

. A distanciação do real permite elaborar mentalmente algo novo -> conceção de novas
relações significativas;

. Fingir não é mentir, mas sim transfigurar a realidade utilizando a imaginação e a razão;

. O que importa é a sinceridade artística;

. Síntese da imaginação e da sensação.

Citações: “Eu simplesmente sinto/ Com a imaginação/ Não uso o coração.”; “O poeta é um
fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente.”

3.2. A dor de pensar - O poeta não quer intelectualizar as emoções, quer


permanecer ao nível do sensível para poder desfrutar dos momentos – porque a constante
intelectualização não o permite. Sente-se como enclausurado numa cela pois sabe que não

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consegue deixar de raciocinar. Sente-se mal porque, assim que sente, automaticamente
intelectualiza essa emoção e, através disso, tudo fica distante, confuso e negro. Ele nunca
teve prazer na realidade porque para ele tudo é perda, quando ele observa a realidade
parece que tudo se evaporou.

. Pessoa sente-se condenado à consciência;

. Quanto mais se conhece mais se percebe que não é uno;

. A consciência de si condiciona a sua felicidade;

. Questiona-se sobre a utilidade do pensamento;

. Não consegue fruir instintivamente da vida;

. Efemeridade;

. Desejo de uma inconsciência consciente.

Citações: “Escuto, e passou…”; “Ah, poder ser tu, sendo eu!/ Ter a tua alegre inconsciência/ E a
consciência disso! (…)”

3.3. A fragmentação do eu/Resignação dorida - O poeta é múltiplo: dentro


dele encerram-se vários “eus” e ele não se consegue encontrar nem definir em nenhum
deles, é incapaz de se reconhecer a si próprio – é um observador de si próprio. Sofre a vida
sendo incapaz de a viver.

3.4. Sonho/realidade

       Entre o sono e o sonho

       símbolo do rio: divisão, separação, fluir da vida – percurso da vida; é a imagem
permanente da divisão e evidencia a incapacidade de alterar essa situação (o rio corre sem
fim – efemeridade da vida); no presente, tal como no passado e no futuro (fatalidade), o eu
está condenado à divisão porque condenado ao pensamento (se fosse inconsciente não
pensava e por isso não havia possibilidade de haver divisão); tristeza, angústia por não
poder fazer nada em relação à divisão que há dentro de si; metáfora da casa como a vida: o
seu eu é uma casa com várias divisões – fragmentação.

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3.5. Nostalgia de um bem perdido – a nostalgia de um estado inocente em que
o eu ainda não se tinha desdobrado em eu reflexivo está representada no símbolo da
infância. A infância é a inconsciência, o sonho, a felicidade longínqua, uma idade perdida e
remota que possivelmente nunca existiu a não ser como reminiscência. À nostalgia alia-se
um desejo sem esperança: “O que me dói não é/O que há no coração/Mas essas coisas
lindas/Que nunca existirão…”. De tudo isto resulta o timbre melancólico e o sabor
irremediável desta poesia: “Outros terão/Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo,/A
inteira, negra e fria solidão/Está comigo.”.

. Recorda o tempo em que era feliz pois era inconsciente;

. Infância = sentir;

. Inutilidade do sonho pois não pode voltar atrás no tempo;

. Símbolo da inconsciência, do sonho e de uma felicidade longínqua;

. Recordar ≠ Reviver;

. Tempo como fator de desagregação porque tudo é efémero;

. Os sons da natureza, da música e das crianças a brincar na rua, entre outros, fazem lembrar a
infância perdida.

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