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Português 12ºano – Exame

Fernando Pessoa – Ortónimo


Fernando Pessoa (1888 - 1935) é personalidade mais importante do Modernismo Português e é um dos
fundadores da revista Orpheu (1915). A questão da heteronímia ou do “drama em gente”:
● O termo “heteronímia” não foi inventado por Pessoa, mas foi ele que lhe conferiu o seu sentido atual;
● O “drama em gente” é explicado por Fernando Pessoa na Carta a Adolfo Casais Monteiro;
● A heteronímia constitui um espaço ficcional.

A poesia ortónima:
- é assinada por Fernando Pessoa;
- desenvolve temas complexos em poemas formalmente muito simples;
- recorre a estruturas poéticas tradicionais;
- apresenta um ritmo musical que recupera a nossa melhor tradição literária;
- versa vários temas demonstrativos de “uma inteligência sensível”:
● O “eu” tem dificuldade de exprimir o que sente: SENTE/PENSAR;
● Nostalgia de um bem perdido;
● Consciência / Inconsciência; Fingimento / Sinceridade;
● Intelectualização permanente;
● Dor de pensar.

Temáticas
O fingimento artístico:
Segundo Fernando Pessoa, a criação poética resulta da intelectualização das sensações, o que remete para a
temática do fingimento artístico. Isto significa que, para este poeta, um poema é um produto intelectual e, por
isso, não acontece no momento da emoção. A elaboração de um poema define-se como um “fingimento”. Tal
significa que a criação poética apenas pode comunicar uma dor fingida, inventada, pois a dor real continua
apenas com o sujeito, que, através da sua racionalização, a exprime através de palavras, construindo o poema.
Nos poemas que abordam esta temática, “Autopsicografia” e “Isto”, o verbo fingir significa transformar e
recriar. Por isso, “o poeta é um fingidor” e elabora mentalmente conceitos (“dor fingida”) que exprimem
emoções (“dor sentida”). Por outras palavras, o sujeito poético racionaliza e transforma o que sente. Em suma,
a criação poética constrói-se através da conciliação e permanente interação da oposição razão/sentimento.

A dor de pensar:
Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar, isto é, considera que o pensamento provoca
a dor, teoria que assenta na temática da “dor de pensar”. Na sequência da mesma, o poeta inveja aqueles que
são inconscientes e que não se despertam para a atividade de pensar, como uma “pobre ceifeira” ou como “gato
que brincas na rua”. Assim, o poeta inveja a felicidade alheia, porque esta é inatingível para ele, uma vez que é
baseada em princípios que sente nunca poder alcançar, a inconsciência. O poeta deseja ser inconsciente, mas
não abdica da sua consciência, deste modo, manifesta a sua vontade de conciliar ideias inconciliáveis. Em
suma, a “dor de pensar” que o autor diz sentir, provém de uma intelectualização das sensações à qual o poeta
não pode escapar, como ser consciente e lúcido que é.

A nostalgia da infância
Uma das temáticas de Fernando Pessoa é a nostalgia da infância. O poeta procura recordar a sua infância e
sente nostalgia. Um profundo desencanto e angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da sua
fragilidade. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças que brincam, sente a saudade de uma
ternura que lhe passou ao lado. De facto, no poema “Pobre e velha música”, Pessoa imagina ter sido alguém
diferente na infância, “outro”, não sabendo sequer se fora feliz: “E eu era feliz? Não: Fuio outrora agora”.
Estas dicotomias, sempre presentes na sua obra, mostram a dualidade de pensamento do poeta. Para Fernando
Pessoa, o passado é um sonho inútil, pois nada se concretizou, antes se traduziu numa desilusão.
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Por isso, a constante dúvida perante a vida real e de sonho. Daí, também, uma nostalgia do bem perdido, do
mundo fantástico da infância, único momento possível de felicidade.

Sonho e realidade
Sonho e realidade é uma das temáticas que percorre a poesia ortónima e retrata a multiplicidade do “eu” que
faz introspecção. O sonho é muitas vezes, para o poeta, uma forma de escapar a uma realidade amarga,
decepcionante, onde a angústia experimentada o leva a uma fragmentação do interior. O sonho surge como
uma dimensão de evasão para um mundo de fantasia, refúgio de uma realidade que desencadeia nele uma
angústia existencial. Pessoa sente-se separado de si próprio, distante do passado e do futuro. Assim, Pessoa
exprime nos seus poemas um misto de inquietação e absurdo perante esta divisão do “ser” que o faz sentir-se
estranho de si mesmo.

Linguagem, estilo e estrutura:


● Uso da lírica tradicional portuguesa: quadras e quintilhas e versos em redondilha menor e maior;
● Regularidade estrófica, métrica e rimática;
● Musicalidade: presença de rima e aliterações;
● Vocabulário simples, mas pleno de símbolos;
● Simplicidade na construção sintática;
● Uso de pontuação expressiva;
● Recursos expressivos abundantes – metáfora, antítese, comparação, repetição, interrogação retórica,...

Fernando Pessoa – Poesia do heterónimos


Os heterónimos são formas de fingimento artístico: são criações fictícias que existem na sequência do
fingimento poético. Fernando confronta-se com a sensação de ser “vários”. São personagens através das quais
Pessoa se busca e se aperfeiçoa, apesar disso, não se oculta atrás desses nomes. Essas fugas, “fingimento”,
propiciam um encontro consigo. As personagens estão interligadas por uma ficção, a que Pessoa chamou
“drama em gente”. Estas personagens existem umas em relação às outras: "se cada uma constitui um drama”,
“todas juntas formam outro drama”.

Alberto Caeiro
Um poeta bucólico, um poeta do real objetivo, pensa vendo e ouvindo, recusa o pensamento metafísico.
Assume-se-metaforicamente como “guardador de rebanhos”, assim exprime o seu desejo de viver de forma
simples e tranquila, procurando estar em comunhão e harmonia com a natureza. É o poeta do olhar, faz o
primado das sensações e atribui maior importância à visão. Recusa o pensamento, pois “pensar é estar doente
dos olhos”. O poeta deambula e surpreende-se com a renovação e novidade do mundo que observa. Ele escreve
sobre a ordem natural do mundo, a simplicidade da vida rural e a objetividade, valorizando as sensações e
recusando o pensamento. Concluindo, a natureza constitui o maior exemplo de vida para Alberto Caeiro

Fingimento artístico (o poeta bucólico):


Os elementos naturais têm uma importância fundamental, sendo o tema de muitos poemas. A Natureza é
configurada, por um lado, como objeto de amor, com o qual o sujeito está em plena comunhão, e por outro, é
apresentada como um espaço de deambulação. Ao deambular, aprecia o cenário campestre, captando, através
dos sentidos, a sua diversidade. Defende que o homem tem de viver em harmonia com a Natureza, integrado
nela e vivendo de acordo com os seus ritmos. A Natureza é referida como o objeto de observação, o espaço
onde se colhe as sensações, que constituem matéria da sua poesia captada através dos sentidos.

Reflexão existencial (o primado das sensações):


Caeiro é o “Mestre” que Pessoa criou, o poeta que ele gostaria de ser: alguém que não procura um sentido para
a vida ou para o universo, porque lhe basta aquilo que vê e sente em cada momento. Vive segundo o primado
das sensações, sente sem pensar. É o criador do sensacionismo e também o Mestre dos outros heterónimos.
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Não procura conhecer nem adivinhar o sentido oculto nas coisas. Expressa um conceito de vida baseado na
aceitação serena do mundo e da realidade, saboreia tranquilamente cada impressão captada pelo olhar. É o
poeta do real objetivo, que vive no presente, sem pensar no passado e, por isso, não sofre de nostalgia, e sem
pensar no futuro e, por isso, não tem medo da desilusão, nem mesmo da morte.

Linguagem, estilo e estrutura:


Linguagem simples, familiar e objetiva; Vocabulário concreto; Irregularidade estrófica, rítmica e métrica;
Ausência de rima (versos soltos); Recursos expressivos: comparação, metáfora, anáfora, repetição.

Ricardo Reis
Poeta clássico que aceita com calma e lucidez a relatividade e a rapidez de todas as coisas. Através da influência
da Antiguidade Clássica defende o epicurismo, o estoicismo, o neopaganismo e o horacianismo. Tem
indiferença à morte e à reflexão sobre a inexorabilidade do tempo, comparando a vida ao curso de um rio. A
aceitação estóica do poder do destino é reveladora da atitude de abdicação, conduzindo-o à recusa das
emoções. Defende a procura de felicidade relativa e ataraxia, e, por isso, da fuga aos sentimentos extremos e
ao sofrimento e a indiferença face à morte. Assim sendo, pretende aproveitar a vida e os prazeres do momento
presente, já que tem consciência da efemeridade da vida. Concluindo, a aceitação passiva da realidade e da
tranquilidade fazem da vida uma natural condenação à morte.

Fingimento artístico (o poeta clássico):


Monárquico, educado num colégio de jesuítas latinistas. É a representação de toda a sabedoria do passado, do
património moral da tradição humanista, mas também é um esforço lúcido e disciplinado para obter a calma.
Escreve essencialmente em odes de tipo horaciano e cultiva temas como o neopaganismo, o horacianismo, o
estoicismo e o epicurismo. Uma Ode era um texto lírico que se destinava a ser cantado, retratando temas
importantes, com o objetivo de elogiar ou homenagear.
- O neopaganismo defende a hierarquização ascendente - animais, homens, deuses e Fado;
- O epicurismo demanda da felicidade e do prazer relativos; indiferença perante as emoções excessivas e
preferência pelo estado de ataraxia (tranquilidade sem perturbação; moderação nos prazeres;
indiferença face à morte);
- O estoicismo é a aceitação das leis do Tempo e do Destino; resignação perante a frágil condição humana
e o sofrimento; culto da autodisciplina e da abdicação voluntária de sentimentos e compromissos.

Reflexão existencial: a consciência e a encenação da mortalidade:


Consciente do fluir inexorável do tempo, aceita a efemeridade da vida bem como a inevitabilidade da morte.
Tem consciência da mortalidade, sendo parte da condição humana, pois na vida tudo passa. Para enfrentar o
medo da morte, faz uma autêntica encenação da mortalidade: defende que é preciso viver cada instante, sem
pensar no futuro, numa perspetiva epicurista de saudação carpe diem, através da autodisciplina, da abdicação,
da renúncia a compromissos afetivos e sociais, da aceitação da calma e serena da vida, da submissão ao
Destino e da aceitação da inevitabilidade da morte. É um conformista que pensa que não vale a pena nenhum
desejo, pois o homem não pode escolher e tudo está determinado por uma ordem superior.

Linguagem, estilo e estrutura:


Linguagem culta e erudita; Estilo e forma complexos; Ausência de rima (versos soltos); Regularidade estrófica,
rítmica e métrica; Recursos expressivos: anástrofe, metáfora, aliteração, apóstrofe.

Álvaro de Campos
O fingimento artístico: o poeta da modernidade
Álvaro de Campos personifica o Modernismo português pela cultura, pelo conhecimento da Europa e do
progresso técnico e ainda pelo facto de ter experimentado as sensações e emoções decorrentes do seu
cosmopolitismo. É o heterónimo que experienciou todas as sensações que Pessoa não foi capaz de sentir.
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Campos revela um vanguardismo modernista através de versos livres, longos, eufóricos ou depressivos, que
espelham um sentir urbano, extrovertido, mas também mergulhado no quotidiano monótono da cidade.

O imaginário épico:
- Matéria épica: a exaltação do Moderno e o arrebatamento do canto
O gênio modernista e vanguardista de Álvaro de Campos revela-se totalmente na longa "Ode Triunfal", poema
de exaltação da vida moderna, considerada verdadeira matéria épica. No entanto, esta "epopeia futurista"
elogia a força e a velocidade das máquinas, o ritmo frenético dos grandes centros urbanos. A "Ode Triunfal",
expoente máximo da fase futurista, congrega aspectos modernistas, futuristas e sensacionistas.
O Modernismo está presente, por exemplo, nas referências às lâmpadas elétricas e aos meios de transporte. O
desejo de total identificação com as máquinas, símbolos da modernidade ou, de "ao menos", poder estabelecer
com elas uma relação eufórica, e a procura da totalização de todas as possibilidades dadas pelas sensações ou
percepções de toda a humanidade são características sensacionistas.
O Futurismo, deparamo-nos com a defesa de uma estética não aristotélica (beleza: grandeza, ordem, harmonia,
proporção), mas baseada na ideia de força. Campos canta a velocidade, faz a apologia da beleza desconhecida
da máquina e da civilização moderna e adota um estilo excessivo (exclamações, interjeições, aliterações,
onomatopeias). As "odes futuristas" de Campos são constituídas por versos longos alternados com versos
curtos, sem rima, num estilo esfuziante, exuberante, nervoso. A exaltação da força e da energia assenta em
recursos expressivos diversos e repetidos.

Reflexão existencial: sujeito, consciência e tempo; nostalgia da infância


Campos toma consciência profunda de si próprio, da falta de coincidência entre o que idealiza e o que consegue
concretizar e, ainda, da inevitabilidade da passagem do tempo. Diferentes sentimentos disfóricos invadem a
sua consciência: a abulia, o tédio, o cansaço e a solidão. Na sua face intimista, verifica-se ainda o isolamento e o
desejo de recuperação da infância, encarada como um paraíso perdido. E é aqui que, tal como Pessoa,
experimenta a “nostalgia da infância”, vivenciada como um tempo simbólico da inconsciência e da felicidade.
Além disso, é dominado por uma angústia existencial e pela “dor de pensar”.

Linguagem, estilo e estrutura:


Verso livre e longo; Irregularidade estrófica, rítmica e métrica; • Ausência de rima; • Linguagem simples,
objetiva; • Inclusão de vários registos de língua; • Privilégio do presente do indicativo.

Fernando Pessoa – Mensagem


Sebastianismo:
● D. Sebastião é simbolicamente Portugal – Portugal foi grande no passado, mas perdeu a sua grandeza
com D. Sebastião e voltará a ser grande com o regresso simbólico do rei.
● D. Sebastião regressará:
– numa manhã de nevoeiro, renascimento anunciado por restos de Noite (onde viveu a nacionalidade);
– no seu cavalo branco, virá de uma ilha longínqua (onde esperou a hora do regresso).
-
Estrutura da obra:
44 poemas e três partes que conduzem à ideia de renascimento futuro do país:
1. Brasão (nascimento) – Fundação da nacionalidade e presença de heróis lendários e históricos, de Ulisses
a D. Sebastião, passando por D. Afonso Henriques e D. Dinis;
2. Mar Português (realização) – ânsia do desconhecido e luta contra o mar. Apogeu dos portugueses nos
Descobrimentos;
3. O Encoberto (morte) – Morte de Portugal simbolizada no nevoeiro; afirmação do mito sebástico na
figura do “Encoberto”; apelo e ânsia da construção do Quinto Império.
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O imaginário épico: Texto épico-lírico, pois apresenta características dos gêneros épico e lírico.
Dimensão épica – relato das ações históricas que retomam heróis e acontecimentos da História de Portugal, na
glorificação e mitificação do herói, na exaltação de ações heróicas sob a proteção divina, na narratividade e
utilização da terceira pessoa em alguns textos. No entanto, não encontramos na obra um relato sucessivo de
acontecimentos que nos permita conhecer os eventos da História de Portugal de uma forma contínua.
Dimensão lírica – tom reflexivo e introspectivo que perpassa a obra. O sujeito poético adota um tom emotivo e
linguagem expressiva, dá conta dos seus sentimentos e das suas reflexões sobre Portugal. No fundo, o "eu"
tende a confundir-se com a própria pátria, assumindo a voz do povo. Nesta perspetiva, os símbolos e os mitos
adquirem especial relevância e a obra assume deliberadamente um caráter subjetivo e fragmentário.

Exaltação patriótica:
Poema épico de exaltação de um passado glorioso da pátria e de glorificação de um destino que está reservado
a Portugal, enquanto construtor de um Império Universal. Na primeira parte, a obra exalta o ciclo da terra, a
criação de uma pátria à custa do sacrifício e ação corajosa de determinados heróis. A segunda enaltece o ciclo
do mar e a grande aventura das descobertas, mas com a partida de A Última Nau e a derrota em Alcácer
Quibir, a pátria entra em decadência. Todavia, na terceira parte, exorta-se a que Portugal se assuma como o
construtor do Quinto Império. Assim, a obra enaltece o passado glorioso, constata a crise de identidade que se
vive no presente e exalta o futuro glorioso destinado a Portugal.

Dimensão simbólica do herói:


As figuras criadoras da pátria portuguesa, identificadas na primeira parte da obra, são apresentadas,
sobretudo, na vertente mítica e simbólica mais do que na sua dimensão histórica. Assim, os heróis assumem
uma dimensão mais de natureza espiritual do que material, são figuras eleitas por Deus. Pretende-se
transmitir, com esses heróis erguidos à categoria de símbolos míticos, a imagem de um Portugal construído à
custa e coragem de diversas personalidades. Todas estas figuras se caracterizam mais pela sua insatisfação e
pelo seu espírito de sacrifício do que pelos seus gloriosos triunfos. Por exemplo, Ulisses é uma figura mítica
que, com as suas navegações, antecipa a imagem de um Portugal voltado para a aventura marítima. Todos os
heróis individuais assumem um valor simbólico coletivo.

Estrutura Valores simbólicos

PRIMEIRA PARTE: Brasão Brasão


(passado medieval português, ou à sua heráldica - história da - Brasão: simboliza o passado que não
sua nobreza e coroa). se pode mudar e que deu a Portugal
I. Campos qualidades guerreiras, políticas e
Primeiro - O dos Castelos morais;
Segundo - O das Quinas - Campo: simboliza a vida terrena, na
II. Os Castelos qual há espaço para a criação
Primeiro - Ulisses humana;
Segundo - Viriato - Castelo: simbolo de proteção e
Terceiro - O Conde D. Henrique segurança:
Quarto - D. Tareja - Quinas: símbolo da espiritualidade
Quinto - D. Afonso Henriques dos portugueses:
Sexto - D. Dinies - Coroa: remete para o poder do
Sétimo (I) - D. João, o Primeiro herói:
Sétimo (II) - D. Filipa de Lencastre - Timbre: significa eleição ou escolha
III. As Quinas de um povo, neste caso, o português;
Primeira - D. Duarte, Rei de Portugal - Grifo: simboliza a conjugação de
Segunda - D. Fernando, Infante de Portugal dois espaços: a Terra e o Céu, ou
Terceira - D. Pedro. Regente de Portugal seja, o ser humano cria e tem
Quarta - D. João, Infante de Portugal também uma missão sobrenatural
Quinta - D. Sebastião, Rei de Portugal para além da vida terrena.
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SEGUNDA PARTE: Mar Português Mar Português
(período dos Descobrimentos e tem relação com o presente de - Padrão: é a marca da evangelização,
Pessoa, pois ele deseja que o agora de Portugal seja como o sinal de que as terras descobertas
seu passado) pelos portugueses eram por eles
I. O Infante tornadas tam-bem cristãs;
II. Horizonte - Mostrengo: simboliza todos os
III. Padrão perigos. medos, angústias e
IV. O Mostrengo sofrimentos dos portugueses no
V. Epitáfio de Bartolomeu Dias mar;
VI. Os Colombos - Nau: símbolo de aventura por mar e
VII. Ocidente do pioneirismo português (o facto de
VIIL. Fernão de Magalhães os portugueses terem sido os
IX. Ascensão de Vasco da Gama primeiros a tentar descobrir novos
X. Mar Português mundos, não por terra, mas por
XI. A Última Nau mar):
XII. Prece - Ilha: é o lugar de recompensa, onde
tudo é perfeito e espiritual.

TERCEIRA PARTE: O Encoberto O Encoberto


(futuro de Portugal, sendo que nesta parte se referem - Noite: simboliza tudo o que é
profecias sobre a nossa pátria) desconhecido, tudo o que é apático
1. Os Simbolos (está parado. imóvel) ou ainda tudo
Primeiro - D. Sebastião aquilo que está em germinação (ou
Segundo - O Quinto Império seja, a preparar se para
Terceiro - O Desejado florescer/crescer quando o dia
Quarto - As Ilhas Afortunadas chegar);
Quinto - O Encoberto - Manhã: simboliza o início de uma
II. Os Avisos nova vida, bem como a glória, a luz e
Primeiro - O Bandarra a própria vida;
Segundo - Antônio Vieira - Nevoeiro: é sempre fonte de
Terceiro - «Screvo meu livro à beira-mágoa» ambiguidade, pois é símbolo da
III. Os Tempos incerteza e da tristeza, e no entanto
Primeiro - Noite significa ainda esperança no
Segundo - Tormenta futuro/no regresso de D. Sebastião.
Terceiro - Calma
Quarto - Antemanhã
Quinto - Nevoeiro

Linguagem, estilo e estrutura


Estrutura estrófica, métrica e rima
Mensagem é constituída por 44 poemas com estrutura formal muito variável, pois cada poema apresenta uma
estrutura estrófica, métrica e rimática diferente.
Assim, verifica-se a presença de algumas formas tradicionais em que predomina a regularidade (verso
decassilábico, verso de redondilha, quadra e quintilha rimada) e outras em que prevalece a liberdade poética,
numa fusão entre tradição e modernidade.
Recursos expressivos: a apóstrofe, a enumeração, a gradação, a interrogação retórica e a metáfora
Os poemas de Mensagem apresentam uma linguagem cuidada e expressiva, recorrem a expressões latinas e a
frases aforísticas, ao mesmo tempo que exibem vários recursos expressivos.
- apóstrofe: "Ó mar anterior a nós"
- enumeração: "A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte"
- gradação: "E a orla branca foi de ilha em continente"
- interrogação retórica: "Valeu a pena?"
- metáfora: "Quem quer passar, além do Bojador / Tem que passar além da dor"
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Contos
Narrativa curta e condensada. Ação única e linear em que as peripécias são concentradas. Número limitado de
personagens, que intervêm balizadas pelo tempo e pelo espaço. Escrita fragmentária, capta o instante e fixa
fotograficamente um dado momento, atribuindo-lhe um significado intencional. As descrições dos espaços e
das personagens são curtas. Assim, a caracterização indireta ganha importância e surge ora através do discurso
direto ora do indireta.

Contos – Manuel da Fonseca, Sempre é uma companhia


Caracterização das personagens:
António Barrasquinho, o Batola – Preguiçoso, sonolento, improdutivo e sem energia para agir; Bêbado;
Existência entediante; Agride a mulher, situação já conhecida por todos na aldeia; Assume atitude assertiva
quando decide ficar com a telefonia, alterando o seu comportamento para energético; • Consegue no fim a
admiração da mulher.
Mulher do Batola – Responsável pela logística da loja; Contrasta física e psicologicamente com o marido;
Trabalhadora e domina a relação; Ameaça o marido a escolher entre ela e a telefonia. Ao aceitar a proposta do
vendedor, está a permitir que o marido ganhe mais controlo, levando-a a pedir ao Batola que decida no fim, se
ficam ou não com a telefonia.
Velho Rata – Companhia habitual de Batola; O reumatismo provoca o seu suicídio atirando-se à ribeira; Velho
mendigo e viajante.
Vendedor e Calcinhas – Persuasivo, instala o conflito no casal, mas consegue agradar o casal; Calcinhas é
passivo na ação.
Ceifeiros e habitantes da aldeia – Habituados a uma vida estéril e secante, estes homens e mulheres decidem
juntar-se na venda do casal para ouvir música e as novidades do mundo, afastando a solidão das suas vidas.

Solidão e convivialidade:
● A planície alentejana como símbolo não só de silêncio e pacatez, mas como um «deserto» em que as
pessoas fazem a sua vida de camponeses - «ceifeiros» - maquinalmente, trabalhando desde manhã até à
noite, não tendo vida social. O convívio dá-se, porventura, dentro de casa. A solidão está espelhada no
protagonista António Barrasquinho. O Batola, e no mendigo «velho Rata», que acaba por se suicidar.
● Com a chegada de uma telefonia, tudo muda: as pessoas passam ajuntar-se na venda de Batola para
ouvir as notícias do mundo e as belas melodias que motivam festas e bailes. O convívio passa a ser
evidente, aproximando as pessoas e ligando-as ao resto do mundo.

Caracterização do espaço:
Físico:
- Aldeia de Alcaria – pequena aldeia no Alentejo; Planície alentejana – campos solitários;
- A venda do Batola – espaço de desleixo e de sujidade.
Psicológico:
- Num primeiro momento, o espaço é opressivo e negativo;
- A mulher passa de uma figura autoritária para uma não restritiva; Batola torna-se ativo;
- Os ceifeiros e os outros habitantes da aldeia afastam a solidão; No fim, o espaço torna-se libertador.
Sociopolítico:
- Alentejo rural dos anos 40; Estado Novo – ditadura militar em Portugal;
- Rural pobre; Duras condições de vida; Falta de informação.
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Contos – Maria Judite de Carvalho, George
A complexidade da natureza humana
- Tudo começa com uma crescente insatisfação com a vida pacata, vivida numa família com poucos
recursos e ausência de cultura/de conhecimento do mundo. Daí surge a sensação de incompreensão e a
luta pela autonomia e pela liberdade.
- O escape/a evasão pelo desenho, durante a juventude com os pais, como único meio de libertação.
- Durante a idade adulta, George tenta livrar-se de tudo o que a prenda a algum lugar, o que se nota no
facto de gostar de vender os seus livros, estando sempre pronta a sair para qualquer outro mundo, sem
amarras.
- Nesta fase, a complexidade manifesta-se também pelo constante mudar de sítio, de aspeto físico, de
namorados, pelo casamento, divórcio e recomeço de outras (e novas) formas de viver.
- Na velhice, esta complexidade fica demonstrada pelo inevitável reconhecimento da decrepitude física (o
espelho não engana), da vida agora sem grandes objetivos e do regresso a uma «casa mobilada»
(símbolo de estabilidade), esperando, resignadamente, a morte.

Metamorfoses da figura feminina – As transformações físicas de George, que refletem diferentes estados
psicológicos e existenciais, acompanham as várias fases e facetas da sua vida adulta: alteração de visual;
mudanças frequentes de residência e inconstância amorosa.

As três idades da vida:


● Infância - adolescência - juventude — Gi:
a obediência aos país: o conflito de gerações - pais incultos e ligados à terra natal versus filha ambiciosa
que quer uma vida melhor e liberdade, por isso emigra, deixando tudo para trás;
● Idade adulta — George:
o tempo atual, de realização pessoal, profissional e amorosa (George conseguiu ter sucesso como pintora,
o que lhe deu bons rendimentos / dinheiro e liberdade para ir vivendo os seus amores);
● Velhice— Georgina:
o que considera «um crime» - «o único sem perdão», pois o espelho será implacável e dir-lhe-á a
verdade: está fisicamente enrugada, decrépita e vive até à morte na sua «casa mobilada».

O diálogo entre realidade, memória e imaginação:


➔ Realidade: George com 45 anos a fazer a viagem de comboio até à sua terra natal em Portugal: George no
regresso a Amesterdão.
➔ Memória: lembranças do passado, da sua antiga vida, da família (através do reencontro e diálogo
imaginados com Gi); outras lembranças que vão desaparecendo, à medida que o comboio se afasta da
estação onde entrou. Lembranças no futuro, prevendo-se velha (Georgina) e refletindo sobre o que terá
acontecido dos 45 até aos cerca de 70 anos.
➔ Imaginação: apesar de fisicamente não conversar com Gi nem com Georgina, da sua imaginação resulta a
verdade de uma realidade - a vida nas suas três grandes idades: Juventude, idade adulta e velhice. É a
partir desta relação Imaginação e Realidade que Maria Judite de Carvalho consegue caracterizar cada
uma dessas fases da vida, totalmente reais e irreversíveis.
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José Saramago – Memorial do Convento

Estrutura
Estrutura Externa
Interna

● Chegada a Lisboa, em 29 de dezembro de 1935, após 16 anos de ausência


1 no Brasil. Instalação no Hotel Bragança.
● Conhecimento dos hóspedes do hotel: pai, Dr. Sampaio e filha, Marcenda.

● Deambulação por uma Lisboa desconhecida e labiríntica.


● Recordação da morte de Fernando Pessoa (30 de novembro de 1935) e
2 visita ao cemitério (30 de dezembro).
● Conhecimento de Lídia, a criada do hotel.
● Escrita e leitura do jornal.

● Deambulação pela cidade, no último dia do ano (31 de dezembro).


● Deambulação pela Lisboa noturna.
3
● Partida para Coimbra do Dr. Sampaio e da filha.
● Regresso ao hotel e encontro com " fantasma" de Fernando Pessoa.

● Leitura matinal dos jornais.


4 ● Atração por Lídia e início da relação amorosa.
● Passeio por Lisboa.

Ricardo ● Regresso do Dr. Sampaio e de Marcenda ao hotel.


Reis: 5 ● Encontro no Teatro D. Maria l e apresentações.
Hóspede no ● Novo encontro com Fernando Pessoa.
hotel
Bragança
● Conversa com o gerente do hotel, Salvador, sobre Marcenda
6 ● Leitura dos jornais
● Conversa com Marcenda e jantar.

● Reflexão sobre a situação política nacional e internacional.


7 ● Ciúmes de Lídia.
● O Carnaval (fevereiro de 1936) em Portugal.

● Noite de febre e dias de doença com Lídia como enfermeira.


● Chegada de uma contrafé da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado.
8
● Desencontro com Marcenda.
● Encontro com Fernando Pessoa.

● Declaração na polícia política (2 de março de 1936).


9 ● Escrita da carta para Marcenda.
● Arrendamento da casa no Alto de Santa Catarina.

● Deslocação do hotel para a casa arrendada.


10
● Visita de Fernando Pessoa.
Português 12ºano – Exame
● Passeio por Lisboa e visita ao hotel.
● Visita de Lídia à casa do Alto de Santa Catarina.
11
● Leitura dos jornais.
● Visita de Marcenda - o beijo.

● Visita de Lídia - limpeza da casa.


● Escrita de carta a Marcenda.
Ricardo Reis ● Deambulação e procura de emprego como médico.
Instalado na 12 ● Nova carta a Marcenda,
Casa do Alto ● Reflexões sobre as notícias internacionais.
De Santa O tempo da Páscoa (abril de 1936).
Catarina ● Chegada da carta de Marcenda - fim da relação e peregrinação a Fátima.
(atividade
médica) ● Visita de Fernando Pessoa - Lídia e Marcenda. Reflexões sobre a morte.
13 ● Visita de Lídia e leitura de jornais.
● Marcenda visita o consultório e recusa pedido de casamento.

● Carta de Marcenda - peregrinação a Fátima em maio.


● As comemorações do Primeiro de Maio (maio de 1936) e a sítuação política
14
internacional.
● Ricardo Reis comunica a Lídia que vai a Fátima a 13 de maio.

● Carta de colega anuncia fim da substituição temporária no consultório


(maio de 1936). O colega retoma o trabalho a 1 de junho.
● Visita de Lídia e reflexões sobre política.
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● Celebrações do décimo ano da Revolução Nacional (10 de junho).
● Visita de Fernando Pessoa - Ofélia / Lídia e Marcenda; política nacional.
● Notícias políticas inquietantes.

● Festa do 10 de junho.
Ricardo Reis ● Conversa com Fernando Pessoa - Ricardo Reis vai ser pai, Lídia está
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Instalado no grávida.
Alto De ● Reflexão sobre a situação política internacional. Leitura de jornais.
Santa
Catarina 17 ● Situação política internacional agrava-se no verão.
(sem
atividade ● As notícias na telefonia (agosto de 1936)
profissional) ● O Portugal de Salazar.
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● O massacre de Badajoz.
● Envio de um poema a Marcenda.

● Lídia visita Ricardo Reis pela última vez no Alto de Santa Catarina.
● Preocupação de Lídia - irmão Daniel.
19 ● Revolta dos marinheiros (8 de setembro de 1936)
● Revolta para derrubar o regime salazarista abortada
● Vieira do Fernando Pessoa - partida conjunta para o cemitério.

As relações amorosas em Memorial do Convento/ linha de ação Baltasar e Blimunda:


Temos dois tipos de amor totalmente opostos. Por um lado, o amor sincero e mútuo de Blimunda e Baltasar e,
por outro, os interesses e razões de Estado que unem reis e princesas. Entre os primeiros, a cerimónia de união
não pode ser mais simbólica e mais significativa do que a presidida pelo padre Bartolomeu Lourenço frente a
uma colher de sopa. O seu amor é físico, espiritual, verdadeiro, simples e genuíno. Em oposição, a relação do
rei e da rainha era contratual, politicamente conveniente: o único objetivo é procriar, no sentido de assegurar
um sucessor ao trono. Assim, a relação era pautada pela distância física e pela ausência de afetividade. Em
suma, a obra apresenta-nos o contraste entre duas relações da mesma época.
Português 12ºano – Exame
A importância do sonho/A construção da passarola:
Em Memorial do Convento, há um belo exemplo de realização plena do trabalhador em relação ao objeto do
trabalho. Isso acontece na construção da passarola, conseguida com o conhecimento do Padre Bartolomeu,
com o poder artesanal de Baltasar e magia de Blimunda. Na obra, o que faz subir a passarola são as vontades
dos homens e das mulheres. Todas estas vontades unidas por uma mesma causa ou num mesmo sonho, foram
capazes de vencer a ignorância, o fanatismo, a intolerância, libertando o homem, projetando-o para uma nova
idade, abrindo-lhe perspectivas de um mundo diferente. O próprio voo da passarola poderá representar o
poder que o homem tem quando é capaz de sonhar e não desiste dos seus sonhos. Como a passarola, o homem
libertar-se-á das limitações do seu quotidiano e da mesquinhez do dia a dia, tornando-se mais livre e cada vez
mais senhor de si. Assim, a história da construção da passarola representa no seu conjunto a força criadora que
revoluciona o mundo, a esperança num mundo livre e diferente, e o sofrimento que a sua conquista acarreta
para quem se atreve a lutar por ele.

A visão crítica:
A sátira e a crítica social estão presentes ao longo de toda a narrativa, muitas vezes, aliadas à ironia e ao
sarcasmo. Saramago traça uma crítica da sociedade portuguesa de setecentos. O narrador pronuncia-se sempre
a favor dos mais fracos e humilhados da História e critica as instituições que simbolizam o poder político,
económico, social e religioso. A nível político, ele critica o facto do rei, sem razão aparente, decidir aumentar a
lotação do palácio (de 13 frades para 300 frades). Em termos económicos, satiriza a forma como o dinheiro era
distribuído pelas várias instituições (em primeiro lugar a igreja por esta o proteger). Socialmente, são julgados
os trabalhadores por se deixarem vencer pelo ceticismo. Por último, a nível religioso, ridiculariza-se os
milagres atribuídos aos santos e dramatiza-se a tirania dos autos de fé. Assim, são sobretudo as personagens de
estatuto social privilegiado o alvo da crítica do narrador que denuncia as injustiças sociais, a omnipotência dos
poderosos e a exploração do povo.

A dimensão simbólica:
Ao logo da leitura de Memorial do Convento podemos encontrar vários elementos que assumem uma
dimensão simbólica. O número sete adquire significado especial nesta obra, na medida em que simboliza a
perfeição entre Blimunda e Baltasar. Sete-Sóis (alcunha de Baltasar) é o símbolo da vida e da força física.
Sete-Luas (alcunha de Blimunda) é o símbolo do transcendente e da magia. O Sol e a Lua combinados
representam a passagem dos sete dias da semana e a renovação do período lunar. Então, o número sete
evidencia uma ideia de mudança, de renovação constante após o final de um ciclo. Blimunda reencontra
Baltasar na sua sétima passagem por Lisboa, repetindo um itinerário de há vinte e oito anos (7x4), fechando o
ciclo da narrativa e da vida do herói cuja vontade recolhe, assim lhe perpetuando a vida. Por fim, a vida é
efémera, mas a vontade humana perdura.

O número nove – simboliza o coroamento dos esforços, o concluir de uma criação, e anuncia um fim e um
recomeço. (9 anos que Blimunda procurou Baltasar);

Trindade terrestre – simboliza a união do Homem e o seu poder infinito de construir, a conjugação dos saberes
(científico, artesanal e sobrenatural): o sonho tornado realidade.
Português 12ºano – Exame

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