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O fingimento artístico
A dor de pensar
Fernando pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar, isto é, considera que o
pensamento provoca a dor, teoria que alicerça a temática da “dor de pensar”. Na sequência da
mesma, o poeta inveja aqueles que são inconscientes e que não se despertam para a atividade de
pensar, como uma “pobre ceifeira”, que “canta como se tivesse mais razões para cantar que a vida”,
ou como “gato que brinca na rua” que apenas segue o seu instinto.
Assim, o poeta inveja a felicidade alheia, porque esta é inatingível para ele, uma vez que é
baseada em princípios que sente nunca poder alcançar – a inconsciência, a irracionalidade –, uma
vez que o pensamento é uma atividade que se apodera de maneira persistente e implacável de
Pessoa, provocando o sofrimento e condicionando a sua felicidade. Impedido de ser feliz, devido à
lucidez, procura a realização do paradoxo de ter uma consciência inconsciente. O poeta deseja ser
inconsciente, mas não abdica da sua consciência, pois, ao apelar à ceifeira: “poder ser tu, sendo eu!/
Ter a tua alegre inconsciência/ E a consciência disso!”, manifesta a sua vontade de conciliar ideias
inconciliáveis.
Em suma, a “dor de pensar” que o autor diz sentir provém de uma intelectualização das
sensações à qual o poeta não pode escapar, como ser consciente e lúcido que é.
A nostalgia da infância
Alberto Caeiro
Principal objetivo – perceção real e objetiva da realidade imediata – através das sensações;
Repúdio do pensamento metafísico como forma de apreensão objetiva da realidade concreta
desnuda as coisas de quaisquer significados, conceitos e sentimentos humanos, vendo-as tal
como são e apreendendo-as por terem existência, forma e cor.
Não-problematização da existência; relação pacífica e serena consigo próprio e com a vida.
Procura estar sempre em conformidade/comunhão com a natureza e estabelecer uma relação
simbiótica com ela; assume-se como membro integrante da natureza;
Primazia dos sentidos as sensações são elementos primordiais para a apreensão objetiva e
fidedigna do mundo; valorização da atividade sensorial em detrimento da atividade reflexiva e
conceptual;
Poeta sensacionista; poeta da natureza (bucólico) e do olhar; antimetafísico.
Condenação da arte como construção refletida e devidamente estruturada advoga a
predominância de instinto e espontaneidade no processo de elaboração poética recusa a
lucubração; a poesia é intuitiva, espontânea, e natural.
Sublimação do real, através de uma atitude panteísta sensualista de divinização da natureza.
Desvalorização da categoria concetual do tempo vivência plena do presente, recusando o
passado e o futuro como elaborações mentais que são; todos os instantes são a unidade do
tempo; o tempo é feito de instantes do presente.
Características formais:
Álvaro de Campos
Características Formais:
Versos Livres;
Estrofes longas;
Liberdade rimática;
Desigualdade de versos por estrofe;
Estilo torrencial e excessivo;
Discurso caótico;
Linguagem marcada pelo tom excessivo e intenso: exclamações, apóstrofes, enumerações,
adjetivação abundante, anáforas, interjeições, onomatopeias, aliterações.
Epicurismo e Estoicismo
O Classicismo
Características formais:
Bernardo Soares
Bernardo Soares foi um semi-heterónimo criado por Fernando Pessoa. Segundo este último, Soares
é um semi-heterónimo porque “não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas
uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afetividade.” Por outras palavras,
Bernardo Soares surge como um fragmento da personalidade do próprio Pessoa e, neste sentido,
denotam-se pontos de encontro entre as biografias de ambos, na medida em que, por exemplo, os
dois foram ajudantes de guarda-livros em Lisboa, trabalharam em vários escritórios na baixa
pombalina e apreciavam andar de elétrico pela cidade. Ao cruzar, assim, ficção e realidade, Pessoa
dá voz a Bernardo Soares, o qual regista as suas impressões, devaneios e coordenadas da realidade
frequentemente recompostas através do sonho num diário intitulado «O Livro do Desassossego».
Também o facto de este diário se apresentar repleto de retalhos, com uma natureza fragmentária e
sem linearidade, deixa transparecer alguns dos momentos mais angustiantes de Pessoa. Como o
próprio afirma, “o meu estado de espírito obriga-me agora a trabalhar bastante, sem querer, no Livro
do Desassossego. Mas tudo fragmentos, fragmentos, fragmentos.” No entanto, apesar da narrativa
entrecortada, ou de uma estrutura aparentemente desorganizada, o livro surge, paradoxalmente, aos
olhos do leitor como um todo completo e consistente.
Para uma maior compreensão da obra e do próprio caráter de Bernardo Soares (que, na verdade,
auxilia Pessoa a refletir sobre si próprio e sobre a identidade do sujeito moderno), é fulcral um breve
olhar sobre o prefácio, no qual Pessoa apresenta o seu semi-heterónimo e descreve o encontro entre
os dois.
Consta que uma das rotinas de Pessoa consistia em ir almoçar, ou jantar, a uma casa de pasto em
Lisboa. Uma noite, enquanto jantava, reparou na presença de um indivíduo com cerca de 30 anos
que, pouco a pouco, começou a despertar-lhe interesse. Estava vestido com um “certo desleixo não
totalmente desleixado” e “na face pálida e sem interesse de feições um ar de sofrimento não
acrescentava interesse, e era difícil definir que espécie de sofrimento esse ar indicava – parecia
indicar vários, privações, angústias, e aquele sofrimento que nasce da indiferença que provém de ter
sofrido muito.” Depois de ambos começarem uma conversa casual, Fernando Pessoa deixa-se
cativar ainda mais pelo facto de Bernardo Soares nutrir um especial interesse na observação das
pessoas e comenta, ainda, a aura de mistério que o envolve, o seu ar de indiferença perante a
sociedade moderna, ou o prazer que experiencia em deambular solitário pelas ruas, captando e
desdobrando as mais variadas impressões.
De facto, lembrando Cesário Verde, Bernardo Soares oferece ao leitor novas paisagens a partir de
uma extraordinária transfiguração de imagens, sons e ritmos, assim como um leque de reflexões
filosóficas e uma verdadeira apologia à supremacia do ato de sonhar, a única verdade na vida de
Bernardo Soares.