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Poesia do Ortonimo

 Fragmentação do Eu.
 Moderna cosmovisão motivada pelo poder da máquina.
 Consciência e esperança no devir/futuro.
 Poder criador e autêntico da palavra e literatura.
 Recusa pela regularidade estrófica e métrica, evidenciando uma nova arte poética.
 Atração pelo mistério, oculto, secreto, exótico e pelos excessos loucos de qualquer natureza.

O Fingimento Artístico
O fingimento artístico é um dos temas que parecem sintetizar bem Pessoa. Pessoa é, de facto,
o camaleão das emoções, pois prefere transformar com o pensamento tudo o que sente. Aliás, quer
seja nas suas composições poéticas da ortonímia, como da heteronímia, esta capacidade está
presente.
O ortónimo escreve de acordo com o seguinte processo: sente (sentimento, coração), pensa
sobre o que sentiu (pensamento, razão, «fingimento» - que não é mentira, mas intelectualização e
transformação mental do que sentiu) e, só no final, escreve.
Assim, Pessoa não transmite na sua poesia a emoção pura e simples, mas submete-a sempre
ao exame da inteligência e da razão poética, deixando que racionalize, afastando-se do tradicional
sentimentalismo, típico do passado.
As dores sentidas e pensada caracterizam a produção artística; e a perceção do leitor em
relação à dor transmitida no poema constitui a receção. Conclui-se, então, que a poesia para Pessoa
Ortónimo, é a intelectualização dos sentimentos e emoções.
Tópicos:
 A poesia é um produto intelectual;
 Não acontece no momento da emoção, resulta da sua recordação;
 É necessário intelectualizar os sentimentos e sensações para criar arte;
 Fingir não é mentir, mas sim transfigurar a realidade utilizando a imaginação e a razão.

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1º Teste – Poesia de Fernando Pessoa e de Alberto Caeiro

Dor de Pensar
Vamos passar agora para outro tema: a dor de pensar, em que tudo o que o poeta sente.
Pensamento – permite ao Homem ter consciência da sua existência (logo, na perspetiva de
Fernando Pessoa ortónimo, aqueles que pensam são superiores aos inconscientes).
Contudo, a razão omnipresente provoca no eu a dor de pensar, decorrente de uma tendência
permanente para refletir sobre a realidade e para intelectualizar as suas emoções.
A angústia decorrente da impossibilidade de se libertar de um movimento reflexivo incessante
e da consequente incapacidade de ser uno leva o sujeito poético a aspirar à inconsciência.
No entanto, o eu acredita que aqueles que não pensam não podem ser verdadeiramente felizes,
uma vez que não têm consciência da sua suposta felicidade.
Assim, manifesta o desejo de ser inconsciente, mas tendo consciência disso. O caráter
paradoxal desta aspiração mostra, desde logo, a impossibilidade de libertação da dor de pensar – e o
consequente fracasso da tentativa de alcançar a felicidade.
Tópicos:
 Tensões:
o Pensar/sentir;
o Consciência/inconsciência;
o Pensamento/emoção pura, vontade;
o Fingimento/sinceridade.
 Intelectualização permanente e angustiante;
 Inveja e desejo de inconsciência/vida instintiva, natural, espontânea.

Sonho e Realidade
Alguns poemas de Pessoa ortónimo tratam o tema do sonho, abordando-o em contraste com
a noção de realidade.
Este é também um dos temas que percorre a poesia ortonímica e retrata a multiplicidade do
“eu” que faz introspeção, inquieta-se e desdobra-se noutros seres, despersonalizando-se. Assim,
Pessoa exprime nos seus poemas um misto de inquietação e absurdo perante esta divisão do Ser que
o faz sentir-se estranho de si mesmo, fragmentado. Todo este sofrimento fá-lo fugir para o mundo do
sonho.
Estes dois mundos são sempre apresentados ao leitor (porque sentidos assim pelo poeta) em
contraste/oposição. O «sonho» é, regra geral, conotado como Ideal, Liberdade, Perfeição, Plenitude.
A realidade é o factual, o inevitável, o quotidiano físico em que vive o poeta e que lhe causa frustração,
sofrimento e desequilíbrio. Como Pessoa vive entre o Real e o Ideal e acabando, efetivamente, por ser
um ser perdido no labirinto de si mesmo, não encontrando o fio que o conduziria à saída e lhe
permitiria alcançar o equilíbrio interior. (“Não sei se é sonho, se realidade”).
Tópico:
 Realidade:
o Tédio existencial (desalento e angústia) – disforia;
o Introspeção, autorreflexão, autoanálise (estranheza e desconhecimento do “eu”);
o Fragmentação interior (drama da identidade perdida);
 Sonho:
o Refúgio e evasão (espaço/tempo idílico – dimensão onírica);

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1º Teste – Poesia de Fernando Pessoa e de Alberto Caeiro
 Transmutação entre a realidade e o mundo onírico;
 Evasão e refúgio, através do sonho;
 Indistinção entre estados ilusórios e reais.

Nostalgia da Infância
A infância é um período de vida recheado de momentos felizes, plenos e maravilhosos. Porém,
sendo trazida por um som, uma visão ou sensação, a referida infância vem intensificar o contraste
entre um passado longínquo e um presente (idade adulta), tão próximo do poeta quanto fonte de
problemas. Por conseguinte, ao recordar esse passado infantil, o poeta evoca espaços, pessoas e
vivências que hoje, para sua tristeza e imensa saudade, são apenas memórias, não factos.
A infância surge sempre como a época em que não havia ainda o drama da dor de pensar, é
sinónimo de segurança, pureza e felicidade e o poeta evoca esse tempo através da memória que acaba
por trazer-lhe mais angústia e solidão, quando se apercebe que essa época não é mais do que um
paraíso longínquo, perdido na memória do tempo.
(É bom relembrar que a infância de Pessoa não foi completamente boa, logo, quando fala da
infância refere-se ao que esta significa, inconsciência, etc.)
Tópicos:
 A nostalgia de uma infância idealizada estilizada;
 A infância como paraíso perdido;
 A infância como símbolo da inocência, inconsciência e felicidade;
 Desejo frustrado de reviver a infância no presente;
 Saudade de um passado feliz (“fingido artisticamente”).

 Uso das formas da lírica tradicional portuguesa: quadras e quintilhas e versos frequentemente
em redondilha menor e maior.
 Regularidade estrófica, métrica e rimática.
 Musicalidade: presença de rima, aliterações e transporte.
 Vocabulário simples, mas pleno de símbolos.
 Simplicidade na construção sintática.
 Uso de pontuação expressiva.
 Recursos expressivos abundantes:
o Anáfora- repetição de uma palavra ou expressão no início de dois ou mais versos ou frases;
o Antítese- aproximação de duas palavras, expressões ou ideias que estabelecem uma relação de
contraste (oposição forte);
o Apóstrofe- invocação de um interlocutor presente ou ausente, humano, objeto ou ideia;
o Enumeração- sequência de palavras ou elementos que ocorrem em jeito de lista;
o Gradação- sequência de elementos que se organizam por ordem ascendente ou descendente;
o Metáfora- equivale a uma semelhança em que é omitida a conjunção comparativa «como» (ou
outro termo comparativo);
o Personificação- figura em que se atribuem a animais, plantas, objetos, entidades abstratas, etc.,
traços ou comportamentos próprios do ser humano.

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*Heteronímia
“hoje já não tenho personalidade: quanto em mim haja de humano eu o dividi entre os autores
vários de cuja obra tenho sido o executor. Sou hoje o ponto de reunião de uma pequena humanidade
só minha”.
Em Fernando Pessoa Ortónimo estudamos a fragmentação do eu, de modo a conseguir se
entender, Pessoa criou vários “eus”.

Poesia de Alberto Caeiro


 O campo é o espaço por onde o poeta deambula, comtemplando e deslumbrando-se,
inocentemente, com «a eterna novidade do mundo».
 O poeta vive sensações, em perfeita comunhão com a natureza, submetendo-se serenamente
aos seus ritmos, conhecendo-a como um pastor e mantendo com ela uma relação de amor a
ponto de se sentir integrado nela, de partilhar com ela toda a felicidade e plenitude, o que o
converte no poeta “bucólico” representante da reconciliação original e primitiva do homem
com o mundo natural.
 O modo de vida exclusivamente voltado para a natureza e distanciado dos homens desperta no
poeta a necessidade de se exprimir, escrevendo versos feitos de pensamentos que são
sensações e assumindo-se como o revelador da Realidade, o recriador do «Universo».
 Para o poeta, a natureza é o modelo de perfeição a imitar e a fonte de aprendizagem da
espontaneidade, da simplicidade e também da inevitabilidade da mudança e da morte.

 As sensações captadas pelos sentidos do poeta são o meio exclusivo de conhecimento do real,
requerendo condições ideais de luz natural.
 O método do poeta consiste em colocar-se perante as coisas sem subjetivismos que se
interponham entre elas e o seu olhar azul: as coisas não têm lado de dentro, são pura
exterioridade, sem sentido oculto, esgotando-se nas suas propriedades físicas; assim, recusa o
pensamento metafísico, o seu lado de dentro, pois ver e a ouvir é conhecer e compreender o
mundo.
 O pensamento deturpa o seu olhar sobre as coisas, projetando sobre elas todas as
aprendizagens, interpretações e ideias feitas do «eu», impeditivas da visão pura, de grau zero,
(a única que garante o acesso à verdade e à felicidade e devolve o homem à natureza).

 O poeta-pastor que se intitula guardador de rebanhos que são sensações, é um intérprete da


natureza, um tradutor de sensações em linguagem - «Eu nem sequer sou poeta: vejo» (“A
espantosa realidade das coisas”», um intermediário entre a natureza e os leitores, que constrói
os seus poemas a partir de matéria não poética.
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 A sua poesia antilírica, nomeando diretamente as coisas sem «o corredor do pensamento»,


imitando o esplendor, a simplicidade e a diversidade natural, visíveis na liberdade formal, nos
recursos expressivos concretos, nas repetições e no despojamento discursivo.
 Caeiro critica os outros poetas e procura, com a sua poesia original, ensinar os leitores a ver a
natureza apenas com os olhos e não com a mente. Os discípulos Reis e Campos exaltam-no
como um dos maiores poetas dos tempos modernos e Pessoa diz que ele «respira novidade
absoluta».

Ao admitir que pensa e escreve com menos perfeição do que a natureza no seu modo de
exprimir-se, Caeiro refere-se às imperfeições com as quais se confronta: a intromissão frequente e
perturbadora do pensamento; os conceitos abstratos; o artificialismo da linguagem humana - «as
mentiras dos homens»; e a poesia pura inatingível.

 Predomínio de nomes concretos e adjetivos objetivos.


 Sintaxe simples, com predomínio da coordenação.
 Transformação do abstrato no concreto, visível nos recursos expressivos usados.
 Registo de língua corrente e oralizante – polissíndeto e repetição.
 Liberdade ou irregularidade estrófica e métrica, ausência de rima – versos soltos ou brancos.
 Recursos expressivos:
o Anáfora- repetição de uma palavra ou expressão no início de dois ou mais versos ou frases;
o Comparação- associação entre dois elementos que normalmente não estão associados, usando-
se uma palavra de ligação;
o Enumeração- sequência de palavras ou elementos que ocorrem em jeito de lista;
o Metáfora- equivale a uma semelhança em que é omitida a conjunção comparativa «como» (ou
outro termo comparativo);
o Personificação- figura em que se atribuem a animais, plantas, objetos, entidades abstratas, etc.,
traços ou comportamentos próprios do ser humano.

Formas Poeticas e Estroficas, Metrica e Rima

Classificação dos versos quanto à sua medida


 Monossílabo- uma sílaba métrica;
 Dissílabo- duas sílabas métricas;
 Trissílabo- três sílabas métricas;
 Tetrassílabo- quatro sílabas métricas;
 Pentassílabo ou Redondilha Menor- cinco sílabas métricas;
 Hexassílabo- seis sílabas métricas;

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 Heptassílabo ou Redondilha Maior- sete sílabas métricas;


 Octossílabo- oito sílabas métricas;
 Eneassílabo- nove sílabas métricas;
 Decassílabo- dez sílabas métricas;
 Hendecassílabo- onze sílabas métricas;
 Dodecassílabo ou Alexandrino- doze sílabas métricas.

Classificação das estrofes quanto ao número de versos


 Monóstico- estrofe de um verso;
 Dístico ou Parelha- estrofe de dois versos;
 Terceto- estrofe de três versos;
 Quadra ou Quarteto- estrofe de quatro versos;
 Quintilha- estrofe de cinco versos;
 Sextilha- estrofe de seis versos;
 Setilha ou Sétima- estrofe de sete versos;
 Oitava- estrofe de oito versos;
 Nona ou Novena- estrofe de nove versos;
 Décima- estrofe de dez versos.

 Cruzada- quando as palavras em fim de sílaba rimam em versos alternados: abab;


 Emparelhada- quando as palavras que rimam estão no fim de dois versos seguidos, ou seja,
rimam em par: aabbcc;
 Interpolada- quando as palavras rimam no fim de dois versos que estão separados por outros
dois (ou mais) de rima diferente: abba;
 Misturada*- quando há rima, mas esta não segue um esquema rimático regular.

*Nota: quando a rima está ausente, os versos chamam-se brancos ou soltos.

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