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ISSN 2237-6011 113

Transtorno do Déficit de Atenção e


Hiperatividade (TDAH): possibilidades
e práticas pedagógicas

Cristiane Miquelino Ponciano da SILVA1


Ana Maria TASSINARI2
Resumo: O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um
transtorno neurobiológico, caracterizado pela falta de atenção, impulsividade e
hiperatividade e que se relaciona ao mau desempenho do aluno em sala de aula.
O presente estudo tem como justificativa estudar esse transtorno e compreender
como agir na prática docente em relação ao que acontece com os alunos em
determinados momentos letivos. Assim, o objetivo geral deste estudo foi
compreender a importância da identificação, do diagnóstico e principalmente
das possibilidades de atendimento e das práticas pedagógicas para o TDAH. A
metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica. Apresentamos inicialmente
a definição desse transtorno e os conceitos bibliográficos que podem ser
compreendidos para a identificação do processo do TDAH, suas principais causas
e, consequentemente, reconhecer o aluno com esse transtorno. Posteriormente,
apresentamos as características do TDAH e os sintomas de forma que o professor
possa com especialistas auxiliar no tratamento do aluno com TDAH, em seu
processo de ensino-aprendizagem. Finalmente, abordamos como trabalhar
pedagogicamente com o aluno com TDAH, sabendo identificar e respeitar
seus momentos, e na ajuda formativa do tratamento, para que o aluno consiga
compreender as suas limitações em seu processo de aprendizagem. Isso posto,
considerando todo o processo de identificação, diagnóstico e apoio pedagógico,
este estudo teve como relevância contribuir para a formação pedagógica do
professor que atua com alunos com TDAH.

Palavras-chave: Educação Especial. TDAH. Inclusão.

1
Cristiane Miquelino Ponciano da Silva. Licencianda em Pedagogia pelo Claretiano – Centro
Universitário. E-mail: <criis_miquelino@hotmail.com>.
2
Ana Maria Tassinari. Doutora em Educação Especial pela Universidade de São Carlos (UFSCar).
Mestra em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP).
Licenciada em Pedagogia pela União das Faculdades Francanas e em Habilitação em Administração
Escolar de 1º e 2º grau pelas Faculdades Claretianas – Batatais. Docente do Curso de Pedagogia do
Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <anatass@claretiano.edu.br>.

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Attention Deficit Hyperactivity Disorder


(ADHD): possibilities and pedagogical
practices

Cristiane Miquelino Ponciano da SILVA


Ana Maria TASSINARI
Abstract: Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) is a neurobiological
disorder characterized by inattention, impulsivity, hyperactivity and it is related
to poor student performance in the classroom. The present paper intends to
justify through the search related to the disorder and to comprehend how to move
forward as an educator according to what happens to students in designated
occasions during the academic year.  The main purpose of this paper is to figure
out the relevance of identifying, diagnosing and, specifically, the possibilities of
attending and pedagogical proceeding for ADHD. The methodology used was the
bibliographic review. Foremost, we submit the definition of the disorder and the
bibliographic concepts that can be apprehended to the description of the ADHD
process, its main causes and consequently to perceive the student who has this
disorder. Afterwards, we bring forward the aspects of ADHD and its symptoms
in order to teacher can, alongside specialists, support in the treatment of students
with ADHD in their teaching-learning process. At last, we approach how to work
pedagogically with the ADHD student, recognizing how to identify and respect
the stages, and the formative support of the treatment, so that the student can
understand his/her limitations along the learning process. Considering the whole
process of identification, diagnosis and pedagogical support, this paper has as
contribution the pedagogical formation of the educator who works with students
who presents the ADHD diagnosis.

Keywords: Special Education. ADHD. Inclusion.

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1.  INTRODUÇÃO

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)


é um transtorno neurobiológico que se caracteriza pelos sintomas
de desatenção, hiperatividade e impulsividade, que podem acarre-
tar à pessoa com complicações em seu processo de aprendizagem
(MATTOS, 2005).
Embora os sintomas do TDAH possam ser manifestados des-
de muito cedo, normalmente são mais evidentes em idade esco-
lar. A partir da alfabetização, com atividades que solicitam maior
atenção para desenvolver atividades propostas, geralmente, são os
professores os primeiros a perceber que algo de errado pode estar
acontecendo com o comportamento do aluno.
O professor, tendo ciência desse transtorno, poderá reconhe-
cer que, em seu trabalho com alunos com TDAH, será necessário
desenvolver um trabalho formativo, em busca de um atendimento
sistemático, estruturado com rotina constante, o que pode auxiliar a
relação entre o aluno e o professor.
A escolha deste tema justifica-se pela vivência de uma expe-
riência profissional no estágio supervisionado com um aluno hipe-
rativo, no qual foi possível observar as alterações de comportamen-
to do referido aluno no cotidiano de sala de aula. Assim, a situação
vivida provocou o ensejo de conhecer como trabalhar com alunos
com esse transtorno, de modo a contribuir com a prática docente.
O objetivo geral deste estudo foi compreender a importância
da identificação, do diagnóstico, das possibilidades de atendimento
e das práticas pedagógicas para o TDAH.
Como objetivos específicos, intentamos verificar o que é o
Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, reconhecer
suas principais características e identificar o trabalho escolar com
alunos com TDAH.
A relevância e a contribuição do tema justifica-se pelo fato de
o tema, em sua essência, ainda ser desconhecido e haver necessida-
de de formação e informação, para que equívocos não mais acon-
teçam. Não fosse somente isso, no ambiente escolar, é mister que

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o professor saiba reconhecer e trabalhar com alunos com TDAH,


além de perceber como é fundamental o apoio pedagógico, para
que não haja prejuízos acadêmicos na vida escolar do aluno.

Metodologia

A metodologia utilizada para a elaboração deste estudo foi


a pesquisa bibliográfica (revisão de literatura), por meio de livros
impressos, revistas e artigos científicos disponíveis em sites confi-
áveis.
Artigo Científico de Revisão Bibliográfica – é o resultado
de uma investigação bibliográfica que procura explicar um
problema com base em referências teóricas publicadas em
artigos, livros, dissertações e teses. A pesquisa bibliográ-
fica é meio de formação por excelência e constitui o pro-
cedimento básico para os estudos, pelos quais se busca o
domínio sobre determinado tema (MARINHEIRO; SAN-
CHES; ARCHANJO, 2016, p. 23).
Nesse sentido, esta pesquisa bibliográfica encontra-se funda-
mentada teoricamente a partir das contribuições de autores renoma-
dos na área da Educação Especial que abordam o tema, tais como
Rohde e Mattos (2003), Guarido e Voltolini (2009) Mattos (2005;
2013), Muzette e Vinhas (2011) e Bonadio e Mori (2013).
Para fundamentação teórica, este estudo foi dividido em três
tópicos. O primeiro trata dos principais conceitos sobre o TDAH.
No segundo, apresentamos as características e sintomas do TDAH.
No terceiro, abordamos as possibilidades de atendimento e práticas
pedagógicas com o aluno com TDAH, contextualizando informa-
ções significativas e possibilidades para o trabalho pedagógico em
sala de aula.

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2.  DESENVOLVIMENTO

TDAH: Definição

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH


é definido como:
[...] um distúrbio neurobiológico caracterizado por sinto-
mas de desatenção, inquietude e impulsividade que podem
inferir no processo de aprendizagem, bem como nas rela-
ções sociais e cotidianas do indivíduo. (LEITE, 2008, p.
41)
O TDAH pode estabelecer relação com diversos fatores, mas
nem sempre as pessoas portadoras desse transtorno têm os mesmos
sintomas. Conforme Matos (2005, p.19), “pessoas que são portado-
ras de TDAH têm muitas coisas em comum, mas não são necessa-
riamente iguais no seu comportamento”.
As crianças com TDAH parecem sonhar acordadas (os
professores podem perceber isso antes dos pais) e muitas
vezes são mais lentas na cópia e na execução dos deveres
(porque ‘voam’ o tempo todo). Elas comentem muitos er-
ros por desatenção: erram por ‘bobagens’ nas contas de
matemáticas (sinais, vírgulas) erram acentuação ou pontu-
ação, entre outras coisas. E vivem apagando ou rasurando
o que escrevem (MATTOS, 2005, p. 26).
O TDAH apresenta três características principais: a hiperati-
vidade, a desatenção e a impulsividade. A fim de identificar os sin-
tomas, para possíveis encaminhamentos e diagnósticos, a Associa-
ção Brasileira do Déficit de Atenção faz uma pequena explicação
sobre esses aspectos:
Hiperatividade é o aumento da atividade motora. A pes-
soa hiperativa é inquieta, está quase constantemente em
movimento. Quando se trata de criança, os professores
descrevem que ela se levanta da carteira a todo instante,
mexe com um ou com outro, fala muito. Parece que é elé-
trica ou que está com um motorzinho ligado o tempo todo.
Raramente consegue ficar sentada, mas se é obrigada a
permanecer sentada, se revira o tempo todo, bate com os

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pés, mexe com as mãos ou então acaba adormecendo. Di-


ficilmente, consegue se interessar por uma brincadeira em
que tenha que ficar quieta, mas pelo contrário está sempre
correndo, subindo em móveis, árvores e frequentemente
em locais perigosos (ABDA, [s. d.], p. 4).
Assim, compreende-se que a hiperatividade não se trata de
apenas uma agitação ou de caracterizar a criança como aquela que
não se concentra, não consegue ficar em um único lugar, mas sim
em verificar que há um aumento da atividade motora.
Nesse sentido, impulsividade:
[...] é a deficiência no controle dos impulsos, é “agir antes
de pensar”. Podemos entender impulso como a resposta
automática e imediata a um estímulo. Por exemplo, se
vemos alguma coisa apetitosa, queremos comê-la; se
estamos de dieta temos que controlar o impulso. Se alguém
nos incomoda ou agride, nosso impulso é afastá-lo ou
revidar, agredindo-o de volta; mas isso pode ser algo ruim
para todos e deve ser controlado.
Se observarmos uma criança pequena, fica fácil ter-se uma
ideia do que é impulsividade, porque nessa fase a criança
naturalmente ainda não desenvolveu nenhum controle dos
seus impulsos. Em outras palavras, ela não tem freio. So-
mente à medida que a criança cresce é que a educação vai
criando esse freio interno, através de um processo de ini-
bição da resposta imediata. No TDAH as reações tendem a
ser imediatas, sem reflexão (ABDA, [s.d.], p. 6).
É importante perceber que em muitos momentos somos
impulsivos, porém o TDAH, na criança, é mais evidente, mais fácil
de ser notado mas mais difícil de controlar. Desse modo, é algo
realmente que faz com que a criança tenha dificuldade de se com-
portar quando em convívio com a sociedade.
A desatenção se apresenta como:
A falha da atenção pode aparecer de diversas formas. A pes-
soa não consegue manter a concentração por muito tempo.
Daí que, se começar a ler um livro, na metade da página não
consegue lembrar o que acabou de ler. Até mesmo numa
conversa é capaz de perder o fio da meada. A desatenção é
responsável por erros tolos que o estudante comete em ma-

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térias que ele seguramente domina, mas que no momento da


prova sua atenção caiu. (ABDA, [s.d.], p. 8).
Assim, a desatenção se caracteriza de outras maneiras como
o rápido esquecimento, a distração com outras coisas do ambiente
muito rapidamente, falhas na memória, dentre outros (MINAS GE-
RAIS, 2012).
É importante que o professor compreenda que não é preciso
que o aluno portador de TDAH apresente todos os sintomas para
sugerir à família um encaminhamento para uma avaliação diagnós-
tica. Segundo Rohde e Benczik (1999, p. 41),
Na maioria das vezes, estão presentes vários, mas não
todos. As pesquisas mais recentes têm mostrado que são
necessários pelo menos seis dos sintomas de desatenção e/
ou hiperatividade/impulsividade para que possa pensar na
possibilidade do diagnóstico de TDAH.
Por acompanhar os alunos em atividades pedagógicas, o pro-
fessor, geralmente antes dos pais, percebe a presença de alguns
comportamentos do TDAH. De acordo com Mattos (2005, p. 28),
“[...] embora os sintomas possam estar presentes desde muito cedo,
quando essas crianças entram na escola, os sintomas costumam se
tornar mais evidentes (por volta dos sete anos)”.
Nessa direção, a Associação Brasileira do Déficit de Atenção
(ABDA, [s.d.], [n.p.]) declara que:
Ele é o transtorno mais comum encontrado em crianças e
adolescentes encaminhados para o serviço especializados.
Ele ocorre em 3 a 5% das crianças, em várias regiões di-
ferentes do mundo em que já foi pesquisado. Em mais da
metade dos casos, o transtorno acompanha o indivíduo na
vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais
brandos.
Assim, conforme Mattos (2005) comenta, observa-se que há
outros sintomas que pré-estabeleçam a suspeita do TDAH no aluno
em sala de aula: a baixa autoestima, o pavio curto, a sonolência
diurna, o adiamento crônico, a mudança de interesse e de compor-
tamento, a leitura automática, a dificuldade de acordar cedo, a bus-
ca por coisas estimulantes e as variações de humor.

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Com relação às causas do TDAH, Mattos (2005, p. 41) assim


expõe:
Não existe uma causa única perfeitamente estabelecida.
Mas existem várias evidencias que foram sendo acumu-
ladas com as descobertas científicas das últimas décadas.
Em primeiro lugar, sabemos que existe uma participação
genética no transtorno. Quando se diz que uma determi-
nada enfermidade sofre influência genética, não significa
que todos os indivíduos daquela família, do lado mater-
no ou paterno, também sofram do mesmo mal. Significa
apenas que a incidência do problema é bem maior naquela
família do que seria esperado matematicamente pelo acaso
(ou seja, tem muita gente com problema naquela família).
Assim, entende-se que o TDAH, parte de um princípio gené-
tico e que pode ser manifestado na infância, podendo persistir na
idade adulta.
Com o propósito de melhor conhecer o TDAH, no próximo
tópico apresentamos as características desse transtorno.

Caracterização do TDAH

Muito confundido com seres ansiosos, inquietos e agitados,


alunos com TDAH fazem parte do ambiente escolar. Sendo assim,
para que esses alunos não se sintam diferente dos demais, é impres-
cindível que o professor conheça o transtorno, a fim de que possa
fazer as intervenções necessárias no processo ensino-aprendizagem
desse aluno.
O TDAH pode ser caracterizado por diversos sintomas, que
normalmente são notados primeiramente na escola. É de extrema
importância o professor entender que:
Para lidar com uma criança com TDAH, antes de mais
nada, o professor precisa conhecer o transtorno e saber di-
ferenciá-lo de “má-educação”, “indolência” ou “preguiça”.
Ele terá que conseguir equilibrar as necessidades dos de-
mais alunos com a dedicação que uma criança com TDAH
necessita, o que pode ser difícil com uma turma numerosa
(MATTOS, 2005, p. 95).

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Conforme a afirmação acima, além de toda a atenção do pro-


fessor em casos suspeitos de TDAH, é preciso também compre-
ender que os sintomas não aparecem apenas em um ambiente, é
preciso notá-los em distintos lugares.
Para se pensar no diagnóstico de TDAH é necessária a pre-
sença de sintomas em pelo menos em dois ambientes dife-
rentes. Por exemplo, em crianças e adolescentes na escola
e em casa. Assim, diminuímos a chance de considerar que
uma criança apresente desatenção e hiperatividade apenas
na escola devido à inadequação dos métodos de ensino,
ou que apresente tais sintomas apenas em casa devido a
dificuldades no relacionamento familiar, seja erradamente
diagnosticada como portadora de TDAH. (ROHDE; BEN-
CZIK, 1999, p. 42).
Compreendendo a importância da percepção do professor,
é valido enfatizar que as características presentes em alunos com
TDAH variam de criança para criança, sendo que uma pode apre-
sentar mais de um sintoma do que a outra.
[...] o déficit de atenção pode ocorrer com ou sem hiperati-
vidade. Algumas crianças apresentam mais hiperatividade
e impulsividade do que a dificuldade de atenção. Outras,
por sua vez, possuem mais desatenção do que hiperativida-
de e impulsividade. Ou seja, algumas apresentam TDAH
e são predominantemente desatentas, outras são predomi-
nantemente hiperativas/impulsivas. (LEITE, 2008, p. 43).
Nessa primeira caracterização, nota-se que o TDAH pode ter
variações de sintomas. Assim, é preciso que o professor observe e
entenda seu aluno da melhor forma, para que possa buscar ajuda de
um profissional responsável.
Com relação à escola,
Muitas crianças com TDAH e com Transtornos de Apren-
dizado simplesmente não gostam de escola, não gostam de
estudar porque já sabem que têm muita dificuldade e pre-
cisam se esforçar muito para terem um desempenho que
não vai ser lá grande coisa. Espantar-me-ia uma criança
assim gostar de estudar [...] (MATTOS, 2005, p. 103).
Nesse sentido, Mattos (2005) relata a importância de o pro-
fessor estabelecer um vínculo com o aluno e compreender que ele

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precisa de apoio moral, que o estimule a se esforçar mais e dê um


apoio construtivista para o seu crescimento educacional.
É de suma importância que os profissionais da escola saibam
que “[...] o diagnóstico é feito através de uma entrevista clínica com
um especialista, utilizando critérios definidos” (MATTOS, 2005, p.
44).
Desse modo, é importante que o professor não só observe e
entenda as características do TDAH, como também conheça os sin-
tomas, para que, com a gestão escolar, converse e oriente os pais a
procurarem um profissional qualificado para diagnóstico e possível
tratamento da criança.
O professor no processo de reconhecer sintomas do TDAH
em seu aluno, se torna aliado no processo de atendimento, pois,
aliado a um profissional adequado, pode oferecer atividades con-
forme suas necessidades e que proporcionem uma melhora signifi-
cativa. É dessa forma que pode auxiliar seu tratamento.
Ressalta-se a importância de o professor conhecer as limita-
ções de seus alunos com o TDAH, pois, de acordo com Leite (2008,
p. 42),
Embora muitos sintomas do TDAH sejam constantes,
assumem uma evidência maior em situações que exigem
maior atividade mental e de concentração prolongada.
Essa é uma das razões pelas quais a tolerância à manifes-
tação dos sintomas é menor em contexto não escolar.
Os professores normalmente queixam-se de que as crian-
ças com TDAH não prestam atenção, não conseguem ficar
quietas, interrompem a aula e dificilmente terminam seus
trabalhos.
Compreender a diferença entre o prazer e a necessidade do
aluno com TDAH também é de extrema importância, pois:
Outro questionamento muito importante para o entendi-
mento desse transtorno é aquele geralmente feito pelos
pais: “... se ele/a é distraído/a para fazer o para casa, como
ele/a consegue jogar videogame durante horas e ainda pas-
sar de fase?”. Para responder a essa questão é necessário
lembrar os dois “combustíveis” de qualquer ação: neces-
sidade e prazer. Assim, jogar videogame gera prazer e

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fazer o “para casa”, não! Portanto, pode-se concluir que


as atividades em que o prazer esteja envolvido tendem a
ser realizadas com mais qualidade e mais rapidamente; ao
passo que, as atividades executadas sem prazer tornam-se
mais difíceis e demoradas. (MINAS GERAIS, 2012, p. 6,
destaques da obra).
Diante o exposto, é importante destacar que alunos sem o
transtorno do TDAH também podem apresentar as características
acima por serem muito agitados. Contudo, nesses casos, é preciso
que o professor consiga estabelecer trabalhos pedagógicos que o
auxiliem a distinguir e identificar alunos com e sem o transtorno, a
fim de realizar um trabalho mais produtivo com toda a sua turma.
No tópico a seguir, apresentamos as possibilidades de atendi-
mento e práticas pedagógicos para o aluno com o TDAH.

Possibilidades de atendimento e práticas pedagógicas do TDAH

Em relação à aprendizagem de crianças com TDAH, os pro-


fessores necessitam criar estratégias de atendimento e apoio para o
desenvolvimento de alunos sob sua responsabilidade.
Para que a ação pedagógica do professor seja produtiva, é
necessário compreender as necessidades dos alunos com TDAH.
Esse deve ser o foco de estudo do professor para propor práticas
pedagógicas adequadas a esses alunos.
No processo de aprendizagem, a parceria entre escola e famí-
lia é importante, uma vez que:
No caso de crianças e adolescentes, envolva-os nas deci-
sões sobre o dever, discuta com eles de que forma as coisas
são mais fáceis para eles. É comum que os pais queiram ba-
sear o método de estudo nas regras comuns que a maioria
das pessoas utiliza ou então no método que eles próprios
estudaram. Como você já deve ter percebido, as negocia-
ções prévias (nunca durante brigas ou imediatamente após
um comportamento inadequado) são parte fundamental do
tratamento do TDAH. (MATTOS, 2013, p. 80).
No contexto escolar, uma ação essencial é a organização
da rotina para que o aluno com TDAH possa entender e consiga

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se controlar (já no processo de tratamento) quanto à necessidade


de realização de atividades extracurriculares. Sobre isso, Mattos
(2013, p. 88) alerta que:
Uma boa sugestão é: faça um “horário” também para os
pais. Esse horário, preferencialmente, deve ser de leitura
(o jornal, uma revista, um livro) ou então de tarefas que
exijam concentração (por exemplo, contas do orçamento
familiar, lista de compras do supermercado, lista de tarefas
a fazer no caso de obras ou reformas na casa, atualiza-
ção de agendas telefônicas, trabalhos no computador etc.).
Desligue a TV ou vá para outro cômodo, providencie um
ambiente mais tranquilo e organize o “material” que vai
usar ou aquilo que vai ler. Não esqueça que você é modelo
para o seu filho.
É muito importante que a criança tenha exemplos em casa
para seguir firme o tratamento e entender que é possível se concen-
trar e alcançar seus objetivos.
É importante que o professor se questione com relação aos
erros que aluno pode cometer e compreenda que, às vezes, o alu-
no comete erros absurdos porque “[...] ele não consegue selecionar
o assunto importante, fixar e/ou alternar a atenção nesse assunto
(olhar o quadro e copiar no caderno ou prestar atenção no que a
professora diz e fazer anotações no caderno etc.)” (MINAS GE-
RAIS, 2012, p. 11).
Nesse sentido, é importante que o professor compreenda que:
Em algumas circunstâncias, por exemplo, quando o nível
de frustração do estudante está muito alto (ou quando co-
meça a ficar alto), o professor deve saber rever sua posi-
ção, mas de forma calma e positiva. Embora o objetivo seja
permanecer sentado a maior parte do tempo, o professor
pode eventualmente ignorar algumas vezes em que ele se
levanta inadequadamente ou até mesmo permitir um pas-
seio fora da sala de aula em um dia particularmente difícil
para o aluno (MATTOS, 2013, p. 107).
Além disso, é preciso que o professor compreenda as necessi-
dades do aluno com TDAH, para que o emocional desse aluno não
seja prejudicado. Segundo Leite (2008, p. 45),

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O trabalho em sala implica no gerenciamento das dife-


rentes necessidades e características dos alunos, especial-
mente se há a presença de uma criança com TDAH, o que
torna o desafio ainda maior para o professor. Além dis-
so, convém considerarmos que a escola não possibilitará
a aprendizagem do aluno com TDAH se desconsiderar a
participação de sua família e de seu contexto sociocultural.
Nesse sentido, Mattos (2013, p. 110) alerta que:
Crianças com déficit atentivo têm dificuldade de lidar
com tarefas monótonas e repetitivas. Portanto, pedir que
a criança preencha questionários e fornecer listas para se-
rem memorizadas parece trazer pouco resultado.
Nessa linha de pensamento, compreendemos que o professor,
ao propor atividades ao aluno com TDAH, reconheça que:
[...] o material seja apresentado de forma a “capturar” sua
atenção. Quanto mais cativante/interessante for o material,
mais provável que o estudante preste atenção e permaneça
na tarefa, (pode-se usar tipos variados de materiais visu-
ais, com cores, desenhos, gravuras). É mais interessante
aprender cálculos ou como soletrar palavras no formato de
jogos do que completando uma série de trabalhinhos es-
critos. Os jogos podem tomar diferentes formatos (usando
vídeo, computador e campeonatos) e o ideal é fazer com
que as lições requeiram tanto mais participação/ativida-
de da criança quanto for possível (lembre-se de que elas
detestam ficar muito tempo fazendo trabalhos sentadas).
(MATTOS, 2013, p. 111).
É de extrema importância que, em sala de aula, o professor
consiga envolver o aluno com TDAH com participação ativa, que o
faça sentir capaz de desenvolvê-las. Nesse processo, alguns fatores
são relevantes para o tratamento do aluno.
Monitorar constantemente a criança:
Adotando pausas durante a apresentação dos conteúdos e,
quando possível, criar um clima de expectativa e liberdade
para que as crianças possam mostrar o pensamento envol-
vido nas discussões.
Utilizar perguntas simples e frequentes para resgatar o real
potencial atencional da criança:

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Permitir sua participação ativa na elaboração mental da


aula (Perguntas do tipo “por quê?, onde?, como? e quan-
do?”). Questões como “O que você faria? Como você re-
solveria esse problema?” também ajudam a resgatar o po-
tencial atencional do grupo (PANTANO; BOARATI, [s.
d.], p. 6, destaques dos autores).
É relevante que o professor adquira esses hábitos em seu co-
tidiano, para a efetiva integração do aluno. Sobre isso, Pantano e
Boarati ([s. d.], p. 6) propõem o seguinte:
Individualização da estrutura de pensamento:
Cada criança estrutura o pensamento dos conteúdos abor-
dados pelo professor de forma individual e singular. Vale a
pena pedir para que alguma criança, aleatoriamente, repita
e resuma as informações fornecidas pelo professor, permi-
tindo assim o monitoramento dos conteúdos aprendidos e a
reorganização das informações por parte dos alunos.
Previsibilidade através de regras e constância:
Deixar sempre anotado em um canto da lousa a rotina da
aula e os momentos em que as atividades serão realizadas,
permitindo assim a reorganização dos alunos que perdem
o foco atencional e/ou organizacional.
[...]
Realizar um levantamento prévio do que as crianças já
conhecem sobre o assunto a ser abordado. Isso pode ser
realizado através de palavras simples ou imagens rapi-
damente rabiscadas (não mais de 2 minutos para ativar o
conhecimento prévio). Assim, será possível estruturar o
conteúdo de aula a partir de exemplos e situações vividas
pelas crianças. Desenvolvendo novas formas para incor-
porar conteúdos pedagógicos na rotina diária. Esse mesmo
levantamento pode ser feito ao final da aula para a verifi-
cação dos conceitos adquiridos.
Na estrutura cotidiana do aluno com TDAH, o trabalho deve
ser realizado constantemente pelo professor e pela família. A ro-
tina permite a esse aluno se organizar perante suas tarefas e suas
atividades com um pouco mais de concentração, sabendo o que é
realizado antes e depois de suas tarefas.

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O modo de trabalho do professor exerce muita influência no


desenvolvimento cognitivo do aluno com TDAH e, nesse sentido,
o professor é peça essencial para nesse processo.
Nesse processo, a avaliação pode ser uma ferramenta muito
útil, pois :
Crianças com TDAH têm muita dificuldade em conside-
rar quais são as ideias centrais de um texto e quais são as
informações complementares. Além de simples, claros e
concisos, os enunciados podem ser destacados por grifos
ou negritos em palavras ou sentenças importantes para o
entendimento da questão. Providenciar uma checagem dos
conteúdos com as palavras principais e as imagens associa-
das a elas, formando “pontes” que permitem que a criança
organize visualmente os conteúdos. E, no campo de res-
posta, sempre destinar espaço suficiente para que a criança
possa se organizar e estruturar o seu raciocínio. Orientar a
criança a utilizar vistos ou riscar os enunciados à medida
que eles forem sendo cumpridos também pode ser muito
útil. Auxiliar o aluno com tempo extra para a realização
das provas, ou através de pequenos alertas como “Reveja a
questão 5”, são formas úteis de controlar a impulsividade
de entregar a prova sem a devida revisão. (PANTANO;
BOARATI, [s.d.], p. 6, destaques dos autores).
É essencial que as crianças compreendam a necessidade de reali-
zar relações em atividades. Assim, ela consegue focar para conse-
guir responder o que é pedido. Além disso, grifar, destacar e colocar
imagens que retratam o que é pedido são dicas importantes e que
ajudam a criança a não se distrair ou perder a concentração naquilo
que é preciso.
Destacamos que, dentre as estratégias citadas, é relevante que
o professor possa reconhecer a essencialidade de sua atuação com
estratégias específicas diante o aluno com TDAH. O foco é manter
a atenção do aluno e a organização de sua rotina. Contudo, caso
haja mudanças na rotina, é necessário preparar o aluno antecipada-
mente.
Diante o exposto, reconhece-se que o TDAH, embora muito
discutido e comentado, ainda requer estudos e conscientização, ten-
do em vista que isso é fundamental para o tratamento.

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3.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste estudo foi compreender a importância de


identificar, diagnosticar e, principalmente, verificar as possibilida-
des de atendimento e das práticas pedagógicas para o aluno com
TDAH. É relevante destacar o papel do professor, no sentido de
compreender, identificar e propor com a gestão escolar o encami-
nhamento para um profissional qualificado atender o aluno com o
referido transtorno.
Vimos que, por determinados fatores, os sintomas de TDAH
muitas vezes podem ser confundidos, com crianças que são muitas
agitadas, algo que provem do senso comum. Somente um profissio-
nal especialista pode confirmar o diagnóstico do aluno, pois, con-
forme Mattos (2005), “[...] não é necessário ter todos os sintomas,
mas os sintomas de uma maneira ‘exagerada’ e incontrolável”.
Destacamos, portanto, a importância das características que
se manifestam através dos sintomas, sendo mister considerar que
se também se manifestem em mais de um lugar, isto é, se a criança
é desatenta, hiperativa e impulsiva em todos os lugares e em todas
as circunstâncias.
Levantadas as características do TDAH e reconhecidas suas
constâncias, é possível que o professor sugira aos pais do aluno
buscar um diagnóstico com especialista. Após isso, cabe ao pro-
fessor entender e respeitar as limitações impostas pelo transtorno
para planejar estratégias pedagógicas que busquem auxiliar o alu-
no em seu processo ensino-aprendizagem. Conforme Leite (2008),
auxiliam o tratamento as seguintes atitudes: ter um vínculo com
o aluno, entender suas limitações, estimular e fazer relações entre
o prazer do aluno e suas necessidades. Assim, o professor, ao (re)
conhecer as necessidades específicas do aluno com diagnóstico do
TDAH, poderá contribuir eficazmente com o tratamento e o aluno
poderá participar ativamente em sala de aula.
Enfim, ressaltamos a relevância de se conhecer melhor tal
transtorno ainda pouco conhecido por professores e familiares.
Desse modo, pode-se reconhecer a visibilidade que merece, a fim

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de contribuir com a melhoria da qualidade de vida dos alunos diag-


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