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Fernando Pessoa conta e chora a insatisfaçã o da alma humana.

A sua precaridade,
a sua limitaçã o, a dor de pensar, a fome de se ultrapassar, a tristeza, a dor da alma
humana que se sente incapaz de construir e que, comparando as possibilidades
miserá veis com a ambiçã o desmedida, desiste, adormece “num mar de sargaço” e
dissipa a vida no tédio.

Os remédios para esse mal sã o o sonho, a evasã o pela viagem, o refú gio na infâ ncia,
a crença num mundo ideal e oculto, situado no passado, a aventura do
Sebastianismo messiâ nico, o estoicismo de Ricardo Reis, etc.. Todos estes remédios
sã o tentativas frustradas porque o mal é a pró pria natureza humana e o tempo a
sua condiçã o fatal. É uma poesia cheia de desesperos e de entusiasmos febris, de
ná usea, tédios e angú stias iluminados por uma inteligência lú cida – febre de
absoluto e insatisfaçã o do relativo.

A poesia está nã o na dor experimentada ou sentida mas no fingimento dela, apesar


do poeta partir da dor real “a dor que deveras sente”. Nã o há arte sem imaginaçã o,
sem que o real seja imaginado de maneira a exprimir-se artisticamente e ser
concretizado em arte. Esta concretizaçã o opera na memó ria a dor inicial fazendo
parecer a dor imaginada mais autêntica do que a dor real. Podemos chegar à
conclusã o de que há 4 dores: a real (inicial), a que o poeta imagina (finge), a dor
real do leitor e a dor lida, ou seja, intelectualizada, que provém da interpretaçã o do
leitor.

Características temáticas

·  Identidade perdida (“Quem me dirá sou?”) e incapacidade de auto-definição


(“Gato que brincas na rua (...)/ Todo o nada que és é teu./ Eu vejo-me e estou sem
mim./ Conhece-me e nã o sou eu.”)

·  Consciência do absurdo da existência

·  Recusa da realidade, enquanto aparência (“Há entre mim e o real um véu/à


pró pria concepçã o impenetrá vel”)

·  Tensã o sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência

·  Oposição sentir/pensar, pensamento/vontade, esperança/desilusão

·  Anti-sentimentalismo: intelectualização da emoção (“Eu simplesmente sinto/


Com a imaginaçã o./ Nã o uso o coraçã o.” – Isto)

·  Estados negativos: egotismo, solidão, cepticismo, tédio, angústia, cansaço,


ná usea, desespero

·  Inquietação metafísica, dor de viver


·  Neoplatonismo

·  Tentativa de superação da dor, do presente, etc., através de:

-   evocação da infância, idade de ouro, onde a felicidade ficou perdida e


onde não existia o doloroso sentir: “Com que â nsia tã o raiva/ Quero aquele
outrora!” – “Pobre velha mú sica”

-   refú gio no sonho, na mú sica e na noite

-   ocultismo (correspondência entre o visível e o invisível)

-   criaçã o dos heteró nimos (“Sê plural como o Universo!”)

·  Intuiçã o de um destino colectivo e épico para o seu País (Mensagem)

·  Renovador de mitos

·  Parte de uma percepçã o da realidade exterior para uma atitude reflexiva


(constró i uma analogia entre as duas realidades transmitidas: a visã o do mundo
exterior é fabricada em funçã o do sentimento interior)

·  Reflexã o sobre o problema do tempo como vivência e como factor de


fragmentaçã o do “eu”

·  A vida é sentida como uma cadeia de instantes que uns aos outros se vã o
sucedendo, sem qualquer relaçã o entre eles, provocando no poeta o sentimento da
fragmentaçã o e da falta de identidade

·  O presente é o ú nico tempo por ele experimentado (em cada momento se é


diferente do que se foi)

·  O passado nã o existe numa relaçã o de continuidade com o presente

·  Tem uma visão negativa e pessimista da existência; o futuro aumentará a


sua angústia porque é o resultado de sucessivos presentes carregados de
negatividade

As temáticas:

ü             O sonho, a intersecçã o entre o sonho e a realidade (exemplo: Chuva


oblíqua – “E os navios passam por dentro dos troncos das á rvores”);

ü             A angustia existencial e a nostalgia da infâ ncia (exemplo: Pobre velha


música – “Recordo outro ouvir-te./Nã o sei se te ouvi/Nessa minha
infâ ncia/Que me lembra em ti.” ;

ü             Distâ ncia entre o idealizado e o realizado – e a consequente frustraçã o


(“Tudo o que faço ou medito”);
ü             A má scara e o fingimento como elaboraçã o mental dos conceitos que
exprimem as emoçõ es ou o que quer comunicar (“Autopsicografia”, verso “O
poeta é um fingidor”);

ü             A intelectualizaçã o das emoçõ es e dos sentimentos para a elaboraçã o da


arte (exemplo: Não sei quantas almas tenho – “O que julguei que senti”) ;

ü             O ocultismo e o hermetismo (exemplo: Eros e Psique)

ü             O sebastianismo (a que chamou o seu nacionalismo místico e a que deu


forma na obra Mensagem;

ü             Traduçã o dos sentimentos nas linguagem do leitor, pois o que se sente é
incomunicá vel.

topo

Características estilísticas

·  A simplicidade formal; rimas externas e internas; redondilha maior (gosto pelo


popular) que dá uma ideia de simplicidade e espontaneidade

·  Grande sensibilidade musical:

-   eufonia – harmonia de sons

-   aliteraçõ es, encavalgamentos, transportes, rimas, ritmo

-   verso geralmente curto (2 a 7 sílabas)

-   predomínio da quadra e da quintilha

·  Adjectivaçã o expressiva

·  Economia de meios:

-   Linguagem só bria e nobre – equilíbrio clá ssico

·  Pontuaçã o emotiva

·  Uso frequente de frases nominais

·  Associaçõ es inesperadas [por vezes desvios sintá cticos – ená lage (“Pobre velha
mú sica”)]

·  Comparaçõ es, metáforas originais, oxímoros


·  Uso de símbolos

·  Reaproveitamento de símbolos tradicionais (á gua, rio, mar...)

- Coexistem 2 correntes:

- Tradicional: continuidade do lirismo português (saudosismo)

- lírica simples e tradicional – desencanto e melancolia

- Modernista: processo de ruptura - heteró nimos

- Pessoa ortó niomo (simbolismo, paulismo, interseccionismo) 

Na poesia de Fernando Pessoa como ortó nimo coexistem duas vertentes: a


tradicional e a modernista.

Alguns dos seus poemas seguem na continuidade do lirismo português outras


iniciam o processo de ruptura, que se concretiza nos heteró nimos ou nas
experiências modernistas.

A poesia, a cujo conjunto Pessoa queria dar o título Cancioneiro, é marcada


pelo conflito entre o pensar e o sentir, ou entre a ambiçã o da felicidade pura e a
frustraçã o que a consciência de si implica (como por exemplo no poema Ela canta,
pobre ceifeira nos versos “O que em mim sente ‘stá pensando./Derrama no meu
coraçã o”).

Fernando Pessoa procura através da fragmentaçã o do “eu” a totalidade que


lhe permita conciliar o pensar e o sentir. A fragmentaçã o está evidente por
exemplo, em Meu coração é um pórtico partido, ou nos poemas interseccionistas
Hora absurda , Chuva oblíqua e Não sei quantas almas tenho (verso “Continuamente
me estranho”). O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a
idealidade, surge como tentativa para encontrar a unidade entre a experiência
sensível e a inteligência.

A poesia do ortó nimo revela a despersonalizaçã o do poeta fingidor que fala e


que se identifica com a pró pria criaçã o poética, como impõ e a modernidade. O
poeta recorre à ironia para pô r tudo em causa, inclusive a pró pria sinceridade que
com o fingimento, possibilita a construçã o da arte.

topo

 
- Características: - dor de pensar

- angú stia existêncial

- nostalgia

- desilusã o

- visã o negativa do mundo e da vida

- solidã o interior

- inquietaçã o perante o enigma inecifrá vel do mundo

- tédio

- falta de impulsos afectivos de quem já nada espera da vida

- obsessã o de aná lise

- vagos acenos do inexplicá vel

- recordaçõ es da infâ ncia

- ceptismo

- Estilo e Linguagem: - preferência pela métrica curta

- linguagem simples, espontâ nea, mas só bria

- pontuaçã o (diversidade)

- gosto pelo popular (quadra)

- métrica tradicional: redondilha (7)

-         musicalidade

topo

Temas

Sinceridade/fingimento
Intelectualizaçã o do sentir = fingimento poético, a ú nica forma de criaçã o artística
(autopsicografia, isto)

Despersonalizaçã o do poeta fingidor que fala e que se identifica com a pró pria
criaçã o poética

Uso da ironia para pô r tudo em causa, inclusive a pró pria sinceridade

Crítica de sinceridade ou teoria do fingimento está bem patente na uniã o de


contrá rios

Mentira: linguagem ideal da alma, pois usamos as palavras para traduzir emoçõ es e
pensamentos (incomunicá vel)

Consciência/inconsciência

Aumento da autoconsciência humana

Tédio, ná usea, desencontro com os outros (tudo o que faço ou medito)

Tentativa de resposta a vá rias inquietaçõ es que perturbam o poeta

Sentir/pensar

Concilia o pensar e o sentir

Obsessã o da aná lise, extrema lucidez, a dor de pensar (ceifeira)

Solidã o interior, angú stia existencial, melancolia

Inquietaçã o perante o enigma indecifrá vel do mundo

Nega o que as suas percepçõ es lhe transmitem - recusa o mundo sensível,


privilegiando o mundo inteligível

Fragmentaçã o do eu, perda de identidade – sou muitos e nã o sou ninguém 


interseccionismo entre o material e o sonho; a realidade e a idealidade; realidades
psíquicas e físicas; interiores e exteriores; sonhos e paisagens reais; espiritual e
material; tempos e espaços; horizontalidade e verticalidade.

O tempo e a degradação: o regresso à infância


Desencanto e angú stia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem
dos dias

Busca mú ltiplas emoçõ es e abraça sonhos impossíveis, mas acaba “sem alegria
nem aspiraçõ es”, inquieto, só e ansioso.

O passado pesa “como a realidade de nada” e o futuro “como a possibilidade de


tudo”. O tempo é para ele um factor de desagregaçã o na medida em que tudo é
breve e efémero.

Procura superar a angú stia existencial através da evocaçã o da infâ ncia e de


saudade desse tempo feliz - nostalgia do bem perdido, do mundo fantá stico da
infâ ncia.

Poemas:

- “Meu coraçã o é um pó rtico partido” - fragmentaçã o do “eu”

- “Hora Absurda” - fragmentaçã o do “eu”

- interseccionismo

- “Chuva Oblíqua” - fragmentaçã o do “eu”: o sujeito poético revela-se duplo, na


busca de sensaçõ es que lhe permitem antever a felicidade
ansiada, mas inacessível.

- interseccionismo impressionista: recria vivências que se


interseccionam com outras que, por sua vez, dã o origem a
novas combinaçõ es de realidade/idealidade.

- “Autopsicografia” - dialéctica entre o eu do escritor e o eu poético,


personalidade fictícia e criadora.

- criaçã o de 1 personalidade livre nos seus sentidos e emoçõ es


<> sinceridade de sentimentos

- o poeta codifica o poema q o receptor descodifica à sua


maneira, sem necessidade de encontrar a pessoa real do
escritor

- o acto poético apenas comunica 1 dor fingida, pois a dor real


continua no sujeito que tenta 1 representaçã o.
- os leitores tendem a considerar uma dor que nã o é sua, mas
que apreendem de acordo com a sua experiência de dor.

- A dor surge em 3 níveis: a dor real, a dor fingida e a “dor


lida”

 topo

O fingimento poético

A poesia de Fernando Pessoa Ortó nimo aborda temas como o cepticismo e o


idealismo, a dor de pensar, a obsessã o da aná lise da lucidez, o eu fragmentá rio, a
melancolia, o tédio, a angú stia existencial , a inquietaçã o perante o enigma
indecifrá vel do mundo, a nostalgia do mundo maravilhoso da infâ ncia.

O Fingimento poético é inerente a toda a composiçã o poética do Ortó nimo e surge


como uma nova concepçã o de arte.

A poesia de Pessoa é fruto de uma despersonalizaçã o, os poemas


“Autopsicobiografia” e “ Isto” pretendem transmitir uma fragilidade estrutural
,todavia, escondem uma densidade de conceitos.

O Ortó nimo conclui que o poeta é um fingidor : “ finge tã o completamente / que


chega a pensar se é dor/ a dor que deveras sente/”, bem como um racionalizador
de sentimentos.

A expressã o dos sentimentos e sensaçõ es intelectualizadas sã o fruto de uma


construçã o mental, a imaginaçã o impera nesta fase de fingimento poético. A
composiçã o poética resulta de um jogo lú dico entre palavras que tentam fugir ao
sentimentalismo e racionalizaçã o. “ e assim nas calhas de roda/ gira a entreter a
razã o / esse comboio de corda/ que é o coraçã o”.

O pensamento e a sensibilidade sã o conceitos fundamentais na ortonímia, o poeta


brinca intelectualmente com as emoçõ es, levando-as ao nível da arte poética.

O poema resulta ,entã o ,de algo intelectualizado e pensado .

O fingimento está ,pois, em toda arte de Pessoa. O Saudosismo que se encontra na


obra de Pessoa nã o é mais do que “vivências de estados imaginá rios” : “ Eu
simplesmente sinto/ com a imaginaçã o/ nã o uso o coraçã o”.

 topo

Fernando Pessoa Ortónimo e a Heteronímia

 
Alberto Caeiro
Ricardo Reis
- paganista existencial
- epicurismo: carpe diem
e disciplina estó ica - poeta da Natureza e da
simplicidade
- indiferença céptica;
ataraxia - interpreta o mundo a partir dos
sentidos
- semipaganismo;
classicismo - interessa-lhe a realidade imediata
e o real objectivo que as sensaçõ es
- vive o drama da lhe oferecem
fugacidade da vida e da
fatalidade da morte - nega a utilidade do pensamento; é
antimetafísico

Dissimulaçã o Fragmentaçã o

FERNANDO

PESSOA

Despersonalizaçã o Fingimento

Álvaro de Campos Pessoa Ortónimo

- decadentismo: o tédio, - tensã o


o cansaço e a
necessidade de novas sinceridade/fingimento
sensaçõ es
consciência/inconsciência
- futurismo e
sensacionismo: sentir/pensar
exaltaçã o da força, da
violência, do excesso;
apologia da civilizaçã o
indú strial; intensidade e - intelectualizaçã o dos sentimentos
velocidade ( a euforia
desmedida) - interseccionismo entre o material
e o sonho, a realidade e a
- intimismo: a idealidade
depressã o, o cansaço e a
melancolia perante a - uma explicaçã o através do
incapacidade das ocultismo
realizaçõ es; as saudades
da infâ ncia

Alberto Caeiro (“O Mestre”)

ü       Características temáticas

Ø   Objectivismo;
Ø   Sensacionismo;
Ø   Antimetafísico (recusa do conhecimento das coisas);
Ø   Panteísmo naturalista (adoraçã o pela natureza).

ü    Características estilísticas

Ø   Verso livre, métrica irregular;


Ø   Despreocupaçã o a nível fó nico;
Ø   Pobreza lexical ( linguagem simples, familiar);
Ø   Adjectivaçã o objectiva;
Ø   Pontuaçã o ló gica;
Ø   Predomínio do presente do indicativo;
Ø   Frases simples;
Ø   Predomínio da coordenaçã o;
Ø   Comparaçõ es simples e raras metá foras.
 

Ricardo Reis
ü    Características temáticas

Ø   Epicurismo - procura do viver do prazer;


Ø   Estoicismo - crença de que o Homem é insensível a todos os males
físicos e morais;
Ø   Horacionismo - seguidor literá rio de Horá cio;
Ø   Paganismo - crença em vá rios deuses;
Ø   Neoclacissismo - devido à educaçã o clá ssica e estudos sobre Roma e
grécia antigas;

ü    Características estilísticas

Ø   Submissã o da expressã o ao conteú do: a uma ideia perfeita


corresponde uma expressã o perfeita;
Ø   Forma métrica: ode;
Ø   Estrofes regulares em verso decassílabo alternadas ou nã o com
hexassílabo;
Ø   Verso branco;
Ø   Recurso frequente à assonâ ncia, à rima interior e à aliteraçã o;
Ø   Predomínio da subordinaçã o;
Ø   Uso frequente do hipérbato;
Ø   Uso frequente do gerú ndio e do imperativo;
Ø   Uso de latinismos ( atro, ínfero, insciente,...);
Ø   Metá foras, ufemismos, comparaçõ es;
Ø   Estilo construído com muito rigor e muito denso;

Álvaro de Campos

ü    Características temáticas

Ø   Decadentismo – cansaço, tédio, busca de novas sensaçõ es ;


Ø   Futurismo - corte com o passado, exprimindo em arte o dinamismo da
vida moderna. O vocabulá rio onomatopaico pretende exaltar a
modernidade;
Ø   Sensacionismo - corrente literá ria que considera a sensaçã o como base
de toda a arte;
Ø   Pessimismo – ú ltima fase, vencidismo;

ü    Características estilísticas

Ø   Verso livre, em geral, muito longo;


Ø   Assonâ ncias, onomatopeias (por vezes ousadas), aliteraçõ es (por vezes
ousadas);
Ø   Grafismos expressivos;
Ø   Mistura de níveis de língua;
Ø   Enumeraçõ es excessivas, exclamaçõ es, interjeiçõ es, pontuaçã o
emotiva;
Ø   Desvios sintá cticos;
Ø   Estrangeirismos, neologismos;
Ø   Subordinaçã o de fonemas;
Ø   Construçõ es nominais, infinitivas e gerundivas;
Ø    Metá foras ousadas, oxímeros, personificaçõ es, hipérboles;
Ø   Está tica nã o aristotélica na fase futurista.
 

Modernismo

Chama-se Modernismo (ou Movimento Moderno) ao conjunto de movimentos


culturais, escolas e estilos que premearam as artes, a literatura, a mú sica e até
o cinema, na primeira metade do século XX.

Com um final de século conturbado em Portugal e na Europa (“Mapa-cor-de-


rosa”, Ultimato Inglês, queda da monarquia e implantaçã o da Repú blica, 1ª
Guerra mundial, instituiçã o da Ditadura Militar, ascensã o do Fascismo e do
Estado Novo)o Modernismo nã o exerceu grande influência na sociedade
Portuguesa da época.
Esta corrente artística foi introduzida em Portugal a partir da publicaçã o de
uma série de artigos em jornais e revistas da época, das quais se destaca a
revista “Orpheu”, considerada marco do Modernismo Português. Embora nã o
tendo exercido grande influência na sociedade, estes novos ideais nã o foram
mal recebidos, nã o foram ignorados nem vítimas de sarcasmo ou indignaçã o
por parte da populaçã o.

Este movimento nã o era fá cil de caracterizar devido ao aparecimento de


mú ltiplos submovimentos, os chamados – ismos (cubismo, futurismo,
Sensacionismo), em simultâ neo a esta corrente, no entanto, pode-se dizer que
o Modernismo se baseava na ideia de que as formas “tradicionais” das artes,
literatura, mú sica e até da organizaçã o social e da vida quotidiana se tinham
tornado ultrapassadas. Assim, re-examinou-se cada aspecto da vida para
substituir o “antiquado” por novas e possivelmente melhores formas, com
vista a chegar ao progresso. Caracteriza-se por uma nova visã o da vida, que se
traduz, na literatura, por uma diferente concepçã o da linguagem e por uma
diferente abordagem dos problemas que a humanidade se vê obrigada a
enfrentar, num mundo em crise.

Como exemplos de artistas desta corrente, temos Almada Negreiros e Picasso


(pintura), Charles Chaplin (cinema) e Viana da Mota (mú sica).

Poesia

 
 Não sei quantas almas tenho
 
 

O poeta confessa a sua desfragmentaçã o em mú ltiplos “eus”, revelando a sua


dor de pensar, porque esta divisã o provém do facto de ele intelectualizar as
emoçõ es; a sucessiva mudança leva-o a ser estranho de si mesmo (nã o
reconhece aquilo que escreveu); metá fora da vida como um livro: lê a sua
pró pria histó ria (despersonalizaçã o, distancia-se para se ver).

Conclusã o

Com a realizaçã o deste trabalho, conclui-se que Fernando Pessoa foi um


grande poeta dos inícios do século XX.

Partiu para Á frica do Sul muito cedo permitindo-lhe aprender e cultivar muito
bem a língua inglesa. Trabalhou e colaborou em vá rias revistas. Delas sã o
exemplo as revistas “Athena”, “Orpheu” e “Presença”.
Através de amigos que viviam no estrangeiro mantinha contacto com o que se
passava na Europa, tornando-se adepto de uma nova corrente artística que se
tentava infiltrar em Portugal – o Modernismo. Pessoa foi um dos grandes
impulsionadores do Modernismo em Portugal, tendo colaborado com vá rios
artigos difusores das ideias modernas para vá rias revistas.

Homem de grande pluralidade e densidade psicoló gica  Pessoa era capaz de se


“subdividir” em vá rias personalidades completamente diferentes da sua, os
heteró nimos. Deles destacam-se Á lvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto
Caeiro (“O Mestre”). Cada  um tinha uma maneira completamente distinta de
escrever, tendo despertado grande curiosidade  e levando muitos especialistas
a estudar Pessoa. Isto também porque como a sua obra permaneceu em
grande parte inédita nã o permitiu o seu estudo pormenorizado. A sua obra
está traduzida em vá rias línguas e pode ser dividida em duas grandes
categorias – ortó nima e heteró nima.

Fernando Pessoa e Heterónimos

Biografia
Fernando Pessoa Álvaro de Campos Ricardo Reis Alberto Caeiro
Nasceu em Lisboa, Nasceu em Tavira, Nasceu no Porto, em
Nasceu em Lisboa,
em 13 de Junho de em 15 de Outubro 19 de Setembro de
em 16 de Abril de
1888 de 1890 1887
1889
Foi, em 1896, com a Fez o Liceu em Educado num
Viveu quase toda a
mã e para Durban, Portugal e o curso colégio jesuíta
vida no campo;
Á frica do Sul e fez lá de engenharia na (latinista por
ó rfã o de pai e mã e
os seus estudos Escó cia educaçã o alheia e
desde muito cedo,
primá rios e semi-helenista por
viveu de pequenos
secundá rios Engenheiro naval educaçã o pró pria),
rendimentos, com
(por Glasgow), vive formou-se em
uma tia-avó ; nã o
Regressou a em Lisboa Medicina
teve profissã o nem
Portugal em 1905 e
educaçã o literá ria
ingressa no Curso Viajou pelo Oriente Por ser moná rquico,
para além da 4ª
Superior de Letras, (de onde resultou o partiu para o Brasil
classe
do qual desiste mais Opiário) em 1919
tarde
De estatura média,
Alto, magro e com Era moreno, mais
era louro e tinha os
Morre em 30 de tendência a curvar- baixo e mais forte
olhos azuis
Novembro de 1935 se que Caeiro
Motivos poéticos e caracterização do poeta
Fernando Pessoa Álvaro de Campos Ricardo Reis Alberto Caeiro
expressão musical amor à vida paganismo variedade da
do frio, do tédio e Natureza
dos anseios de alma masoquismo busca de um prazer
relativo panteísmo sensual
resignação dorida triunfalismo
de quem sofre a vida modernista aceitaçã o calma da aceitaçã o calma do
sendo incapaz de ordem das coisas Mundo tal como é
viver abulia, tédio,
cansaço e ná usea discípulo de Caeiro, "atençã o
egotismo como o Mestre, maravilhosa ao
exacerbado civilização aconselha a mundo exterior
aceitaçã o calma da sempre mú ltiplo"
cepticismo é o Mestre que ordem das coisas e
Pessoa opõ e a si faz o elogio da vida deambulismo
náusea mesmo, com o qual campestre,
tem que aprender: a indiferente ao social misticismo
gosto pelo que é viver sem dor; a naturalista
popular envelhecer sem opõ e a moral pagã
angú stia; a morrer à moral cristã , poeta futurista,
intelectualizaçã o do sem desespero; a considerando a sensacionista e por
sentir fazer coincidir o ser primeira uma moral vezes escandaloso
com o estar; a de orientaçã o e (segundo Pessoa)
obsessã o da aná lise combater o vício de disciplina e a
pensar; a ser uno segunda uma moral predomínio da
solidã o interior, (nã o fragmentado) de renú ncia e emoção
angú stia existencial, desapego espontânea e
melancolia, vive de impressões, torrencial
resignaçã o sobretudo visuais. faz o elogio do
Ver, exclusivamente epicurismo elogio da
inquietaçã o perante ver (tendência para a civilização
o enigma felicidade pela industrial,
indecifrá vel do identifica-se com a harmonizaçã o de moderna, da
mundo Natureza, vive todas as faculdades velocidade e das
segundo o seu através da má quinas, da
fragmentaçã o do Eu, ritmo, deseja nela se disciplina) energia e da força,
perda de identidade diluir, integrando-se do progresso
nas leis do Universo, a sabedoria consiste
procura, absurdo, como se fosse um em gizar a vida virado para o
ansiedade rio ou um planta (mais como exterior, tenta
tentativa) através banir o vício de
nostalgia do bem lírico, instintivo, de um exercício da pensar e acolhe
perdido, do mundo espontâ neo, razão todas as sensaçõ es
fantá stico da ingénuo, inculto
infâ ncia (em relaçã o à tem consciência da ansiedade e
sabedoria escolar) dor provocada pela confusã o emocional.
nã o inculca normas natureza precá ria Angú stia existencial
recusa a
introspecçã o e a tédio, ná usea,
subjectividade, desencontro com os
abre-se ao mundo outros
exterior com
passividade e presença terrível e
alegria. É o poeta do labiríntica do Eu de
real objectivo que o poeta se tenta
do homem. Medo da
libertar
recusa a expressã o velhice e da morte.
em termos de Crença no Fado
fragmentação do
sentimentos Eu, perda de
é austero (no
identidade
nã o quer saber do sentido clá ssico do
termo), contudo,
de comportamento passado nem do SENTIDO do
futuro. Vive no disciplinado,
absurdo
Presente inteligente É o poeta
vive pela
da razã o
inteligência excitaçã o da
defende a existência
intuitiva e pela procura, da busca
antes do é um homem
imaginação incessante
pensamento; o civilizado, de boas e
corpo antes do elegantes maneiras,
vive de impressõ es,
espírito culto, pagã o (de um
sobretudo visuais
paganismo
(sensacionismo)
poeta decadente)
sensacionalista, goza em cada
por vezes moralista
impressã o o seu
escandaloso conteú do original
(epicurismo)
poeta intelectual
embora mais homem ingénuo
evolutivo dos
heterónimos (3 poeta do real
fases) objectivo

Estilo
Fernando Pessoa Álvaro de Campos Ricardo Reis Alberto Caeiro
eufonia dos versos verso livre constrói expressões
laboriosamente o familiares
linguagem fina longos versos de 2 seu estilo
ou 3 linhas imagens e
expressão límpida revela formação comparações bem
apó strofes repetidas clássica conseguidas
associaçõ es
inesperadas oxímoros poesia de 2ª pessoa pobreza lexical
(interseccionismo)
onomatopeias dramatizaçã o do verso livre
preferência pela pensamento que
métrica curta

linguagem simples,
espontâ nea mas
só bria
estilo esfuziante, fazer poesia é uma
reticências torrencial, atitude involuntá ria
condensa na Ode
dinâmico
gosto pelo popular transformaçã o do
monó logos está ticos
(uso frequente da exclamaçõ es, abstracto no
quadra) interjeiçõ es concreto

versos leves em que


recorre
frequentemente à
interrogaçã o

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