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«O guardador de rebanhos», poeta do real objetivo, pensa vendo e ouvindo, recusando o pensamento
metafísico.
Caeiro é o poeta que vive em perfeita comunhão com a natureza, existindo uma plena identificação com os
elementos naturais. Através de uma poesia deambulatória, “olhando para a direita e para a esquerda”, faz o primado
das sensações, atribuindo maior importância à visão, à “ciência de ver”. Deste modo, recusa o pensamento, pois
“nada pensa nada” e “pensar é estar doente dos olhos”. Assim, defende o objetivismo na poesia, assumindo uma
atitude antimetafísica de rejeição do que ultrapassa a apreensão imediata do real. Exatamente por estes motivos
existe uma defesa da naturalidade e simplicidade, não só temática, mas também formal.
A contemplação simples faz de Caeiro um poeta da Natureza e do olhar, da simplicidade e clareza total e da
objetividade das sensações, que pensa sentindo, pois «pensar [metafisicamente] é não compreender».
«O guardador de rebanhos», poeta do real objetivo, pensa vendo e ouvindo, recusando o pensamento
metafísico.
Caeiro espelha a inocência e constante novidade das coisas, procurando captar o que as sensações lhe
oferecem da realidade imediata, «a sensação é a única realidade para nós», não intelectualiza, pois, «pensar é estar
doente dos olhos». Assim, constrói uma doutrina objetiva, já que «pensar incomoda como andar à chuva», por isso
liberta-se de todas as ideias pré-concebidas, e vê a realidade concreta, breve e transitória, pois «as coisas não têm
significado: têm existência», assumindo a percepção sensorial o papel principal.
A contemplação simples faz de Caeiro um poeta da Natureza e do olhar, da simplicidade e clareza total e da
objetividade das sensações, que pensa sentindo, pois «pensar [metafisicamente] é não compreender».
129 palavras
Alberto Caeiro apresenta-se como um poeta bucólico, afirmando «fui o único poeta da Natureza».
Ao assumir-se metaforicamente como um “guardador de rebanhos”, o poeta exprime o seu desejo
de viver de forma simples e tranquila, recolhendo da natureza toda a paz e procurando uma integração e
comunhão com ela. A sua felicidade resulta dessa perceção pelos sentidos das coisas simples da vida,
«quando […] me deito ao comprido na erva, […] sei a verdade e sou feliz.» Deste modo, ama a natureza
pelo que ela é, pelas sensações objetivas transmitidas e não por saber ou pensar o que ela é, «Se eu
pensasse nessas cousas, / Deixava de ver as árvores e as plantas».
Caeiro deambula, observando o mundo, surpreendendo-se com a sua renovação e eterna novidade,
sem preconceitos ou abstrações. Mostra-se um poeta pagão ao ver no mundo sensível e em cada elemento
da Natureza uma revelação do divino, numa atitude panteísta, recusando o pensamento e a metafísica.
Concluindo, a natureza constitui o maior ensinamento de vida para Caeiro.
Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa em ver de
forma objetiva e natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento. Daí o seu desejo de integração e de
comunhão com a natureza.
Para Caeiro, «pensar é estar doente dos olhos». Ver é conhecer e compreender o mundo, por isso,
pensa vendo e ouvindo. Recusa o pensamento metafísico, afirmando que «pensar é não compreender».
Ao anular o pensamento metafísico e ao voltar-se apenas para a visão total perante o mundo, elimina a dor
de pensar que afeta Pessoa ortónimo. Canta o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem
desespero, o fazer coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser um ser uno, e não
fragmentado.
Caeiro é o poeta da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. E porque só
existe a realidade, o tempo é a ausência de tempo, sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são a
unidade do tempo. Vê o mundo sem necessidade de explicações, sem princípio nem fim, e confessa que existir é um
facto maravilhoso; por isso, crê na “eterna novidade do mundo”. Para Caeiro o mundo é sempre diferente, sempre
múltiplo, por isso, aproveita cada momento da vida e cada sensação na sua originalidade e simplicidade.
Mestre de Pessoa ortónimo e dos outros heterónimos, Caeiro dá primazia ao sentido da visão, mas é
sobretudo inteligência que discorre sobre as sensações, num discurso em verso livre, em estilo coloquial e
espontâneo. Passeando a observar o mundo (deambulação), personifica o sonho da reconciliação com o universo,
com a harmonia pagã e primitiva da Natureza.
É um sensacionista a quem só interessa o que capta pelas sensações e a quem o sentido das coisas é
reduzido à perceção da cor, da forma e da existência: a intelectualidade do seu olhar volta-se para a contemplação
dos objetos originais. Constrói os seus poemas a partir de matéria não-poética (atitude antilírica), mas é o poeta da
Natureza e do olhar, o poeta da simplicidade completa, da objetividade das sensações e da realidade imediata
(“Para além da realidade imediata não há nada”), negando mesmo a utilidade do pensamento.
«Alberto Caeiro parece mais um homem culto que pretende despir-se da farda pesada da cultura acumulada
ao longo dos séculos.»
Aspectos formais:
Discurso poético de características oralizantes (de acordo com a simplicidade das ideias que apresenta): vocabulário
corrente, simples, frases curtas, repetições, frases interrogativas, recurso a perguntas e respostas, reticências;
Discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo (proximidade da linguagem do falar quotidiano, fluente,
simples e natural);
Ausência de rima;
Pouca subordinação e pronominalização;
Frases predominantemente coordenadas, uso de paralelismos de construção, de comparações simples e expressivas
(para demonstrar a tendência ou a busca da objetividade);
Ausência de preocupações estilísticas;
Versilibrismo, indisciplina formal e ritmo lento, mas espontâneo;
Número reduzido de vocábulos e de classes de palavras (dando uma impressão de pobreza lexical): pouca
adjetivação, predomínio de substantivos concretos, uso de verbos no presente do indicativo (ações ocasionais) ou
no gerúndio (sugerindo simultaneidade e o fluir das sensações).
Clássico no estilo, no rigor, no estoicismo, na adoção do paganismo, na crença nos deuses da Grécia e no exercício
da razão;
Defensor do saber contemplar, ou seja, ver intelectualmente a realidade;
Serenidade livre de afetos e de tudo o que possa perturbar o seu espírito, busca a felicidade relativa alcançada pela
indiferença à perturbação;
Defesa do Carpe Diem, o prazer do momento (só é real o presente, o futuro é uma incógnita, por isso a procura de
desfrutar o presente), sem contudo ceder aos impulsos dos instintos, revelando um epicurismo triste;
Luta contra tudo o que lhe tire o sossego, aceita o destino com naturalidade, sem lhe resistir - «Segue o teu Destino»
«sem desassossegos grandes»;
Paganismo - apologia da crença nos deuses e nas presenças quase-divinas que habitam todas as coisas,
considerando-a disciplinadora das emoções e sentimentos;
Poeta intelectual;
Relativização de tudo à sua volta - «Aprendamos/Que a vida passa»; «A vida/Passa e não fica, nada deixa e nunca
regressa»;
Ataraxia;
«Não vale a pena cansarmo-nos./Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio./Mais vale saber passar
silenciosamente/E sem desassossegos grandes»; «Assim saibamos,/Sábios incautos,/Não a viver»;
Estoicismo – conformação com a natureza; indiferença face aos bens materiais e defesa do discernimento, coragem,
justiça e autodomínio; o autodomínio e a autodisciplina permitem a aceitação das ações do cosmos, do Fado e da
morte inexorável; recusa ao pensamento, uma vez que acredita no destino, por isso de nada vale sofrer, pois o
caminho está traçado;
Epicurismo – tranquilidade; ausência de dor e de sofrimento; aceitação da morte sem receio; carpe diem – procura do
prazer moderado, da calma, da ataraxia; clarividência, tendo como exemplo a verdadeira natureza dos deuses,
serenos na sua indiferença face ao mundo;
Crença de que o Fado rege o mundo - «Segue o teu destino»;
Indiferença em relação às paixões que perturbam a razão - «Da vida iremos/Tranquilos, tendo/Nem o remorso/De ter
vivido»;
A vida consiste numa série de mortes sucessivas e o tempo é irreversível;
«Se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois/Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova»;
«Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti»;
Abdicação - «Senta-te ao sol. Abdica/E sê rei de ti próprio».
Através da influência da Antiguidade Clássica, Ricardo Reis defende o estoicismo, o epicurismo e o carpe
diem horaciano.
A sua consciência da efemeridade da vida leva-o à indiferença face à morte (“da vida iremos/Tranquilos”) e à
reflexão sobre o fluir inelutável do tempo, comparando a vida ao curso de um rio que “passa e não fica, nada deixa e
nunca regressa”. A aceitação estoica do poder do destino é reveladora da atitude de abdicação, conduzindo-o à
recusa das emoções. A filosofia estoica une-se à epicurista na medida em que esta última defende a procura da
felicidade relativa e da ataraxia e, por isso, da moderação dos prazeres, da fuga aos sentimentos extremos e ao
sofrimento e a indiferença face à morte. Deste modo, Reis pretende aproveitar o dia e os prazeres do momento
presente, já que tem consciência da efemeridade da vida, d’”o pouco que duramos”.
Concluindo, a aceitação passiva da realidade e a tranquilidade sem perturbação fazem da vida uma natural
condenação à morte.
Ricardo Reis é clássico no estilo e no rigor. Estoico, pagão, crê nos deuses da Grécia e no exercício da
razão, por isso defende o saber contemplar, ou seja, vê intelectualmente a realidade.
Na procura da serenidade livre de afetos e de tudo o que possa perturbar o seu espírito, faz uma defesa do
Carpe Diem, o prazer do momento presente, sem ceder aos impulsos, revelando um epicurismo triste, disciplinando
as emoções e sentimentos, por isso busca a felicidade relativa, alcançando-a pela indiferença à perturbação. Assim,
«Segue o [seu] Destino» com naturalidade, sem lhe resistir, «sem desassossegos grandes».
Através do paganismo faz a apologia dos deuses e das presenças quase-divinas que tudo habitam.
Concluindo, Reis relativiza tudo através da ataraxia e do estoicismo, tentando permanecer indiferente às
paixões perturbadoras da razão.