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Alberto Caeiro – o poeta bucólico; o primado das sensações

Texto expositivo-informativo (130-170 palavras) 2 hipóteses

«O guardador de rebanhos», poeta do real objetivo, pensa vendo e ouvindo, recusando o pensamento
metafísico.
Caeiro é o poeta que vive em perfeita comunhão com a natureza, existindo uma plena identificação com os
elementos naturais. Através de uma poesia deambulatória, “olhando para a direita e para a esquerda”, faz o primado
das sensações, atribuindo maior importância à visão, à “ciência de ver”. Deste modo, recusa o pensamento, pois
“nada pensa nada” e “pensar é estar doente dos olhos”. Assim, defende o objetivismo na poesia, assumindo uma
atitude antimetafísica de rejeição do que ultrapassa a apreensão imediata do real. Exatamente por estes motivos
existe uma defesa da naturalidade e simplicidade, não só temática, mas também formal.
A contemplação simples faz de Caeiro um poeta da Natureza e do olhar, da simplicidade e clareza total e da
objetividade das sensações, que pensa sentindo, pois «pensar [metafisicamente] é não compreender».

«O guardador de rebanhos», poeta do real objetivo, pensa vendo e ouvindo, recusando o pensamento
metafísico.
Caeiro espelha a inocência e constante novidade das coisas, procurando captar o que as sensações lhe
oferecem da realidade imediata, «a sensação é a única realidade para nós», não intelectualiza, pois, «pensar é estar
doente dos olhos». Assim, constrói uma doutrina objetiva, já que «pensar incomoda como andar à chuva», por isso
liberta-se de todas as ideias pré-concebidas, e vê a realidade concreta, breve e transitória, pois «as coisas não têm
significado: têm existência», assumindo a percepção sensorial o papel principal.
A contemplação simples faz de Caeiro um poeta da Natureza e do olhar, da simplicidade e clareza total e da
objetividade das sensações, que pensa sentindo, pois «pensar [metafisicamente] é não compreender».
129 palavras
Alberto Caeiro apresenta-se como um poeta bucólico, afirmando «fui o único poeta da Natureza».
Ao assumir-se metaforicamente como um “guardador de rebanhos”, o poeta exprime o seu desejo
de viver de forma simples e tranquila, recolhendo da natureza toda a paz e procurando uma integração e
comunhão com ela. A sua felicidade resulta dessa perceção pelos sentidos das coisas simples da vida,
«quando […] me deito ao comprido na erva, […] sei a verdade e sou feliz.» Deste modo, ama a natureza
pelo que ela é, pelas sensações objetivas transmitidas e não por saber ou pensar o que ela é, «Se eu
pensasse nessas cousas, / Deixava de ver as árvores e as plantas».
Caeiro deambula, observando o mundo, surpreendendo-se com a sua renovação e eterna novidade,
sem preconceitos ou abstrações. Mostra-se um poeta pagão ao ver no mundo sensível e em cada elemento
da Natureza uma revelação do divino, numa atitude panteísta, recusando o pensamento e a metafísica.
Concluindo, a natureza constitui o maior ensinamento de vida para Caeiro.

Alberto Caeiro - características-chave

Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa em ver de
forma objetiva e natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento. Daí o seu desejo de integração e de
comunhão com a natureza.
Para Caeiro, «pensar é estar doente dos olhos». Ver é conhecer e compreender o mundo, por isso,
pensa vendo e ouvindo. Recusa o pensamento metafísico, afirmando que «pensar é não compreender».
Ao anular o pensamento metafísico e ao voltar-se apenas para a visão total perante o mundo, elimina a dor
de pensar que afeta Pessoa ortónimo. Canta o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem
desespero, o fazer coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser um ser uno, e não
fragmentado.
Caeiro é o poeta da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. E porque só
existe a realidade, o tempo é a ausência de tempo, sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são a
unidade do tempo. Vê o mundo sem necessidade de explicações, sem princípio nem fim, e confessa que existir é um
facto maravilhoso; por isso, crê na “eterna novidade do mundo”. Para Caeiro o mundo é sempre diferente, sempre
múltiplo, por isso, aproveita cada momento da vida e cada sensação na sua originalidade e simplicidade.
Mestre de Pessoa ortónimo e dos outros heterónimos, Caeiro dá primazia ao sentido da visão, mas é
sobretudo inteligência que discorre sobre as sensações, num discurso em verso livre, em estilo coloquial e
espontâneo. Passeando a observar o mundo (deambulação), personifica o sonho da reconciliação com o universo,
com a harmonia pagã e primitiva da Natureza.
É um sensacionista a quem só interessa o que capta pelas sensações e a quem o sentido das coisas é
reduzido à perceção da cor, da forma e da existência: a intelectualidade do seu olhar volta-se para a contemplação
dos objetos originais. Constrói os seus poemas a partir de matéria não-poética (atitude antilírica), mas é o poeta da
Natureza e do olhar, o poeta da simplicidade completa, da objetividade das sensações e da realidade imediata
(“Para além da realidade imediata não há nada”), negando mesmo a utilidade do pensamento.
«Alberto Caeiro parece mais um homem culto que pretende despir-se da farda pesada da cultura acumulada
ao longo dos séculos.»

Aspectos formais:
 Discurso poético de características oralizantes (de acordo com a simplicidade das ideias que apresenta): vocabulário
corrente, simples, frases curtas, repetições, frases interrogativas, recurso a perguntas e respostas, reticências;
 Discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo (proximidade da linguagem do falar quotidiano, fluente,
simples e natural);
 Ausência de rima;
 Pouca subordinação e pronominalização;
 Frases predominantemente coordenadas, uso de paralelismos de construção, de comparações simples e expressivas
(para demonstrar a tendência ou a busca da objetividade);
 Ausência de preocupações estilísticas;
 Versilibrismo, indisciplina formal e ritmo lento, mas espontâneo;
 Número reduzido de vocábulos e de classes de palavras (dando uma impressão de pobreza lexical): pouca
adjetivação, predomínio de substantivos concretos, uso de verbos no presente do indicativo (ações ocasionais) ou
no gerúndio (sugerindo simultaneidade e o fluir das sensações).

Álvaro de Campos - características

 Poeta sensacionista e escandaloso;


 Homem da indústria e da técnica;
 Histerismo, euforia, carga dinâmica, torrente nervosa;
 Megalómano e intervencionista;
 “Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas/Quanto mais personalidade eu tiver.../Mais análogo
serei a Deus, seja ele quem for...”;
 «Filho indisciplinado da sensação» (segundo Ricardo Reis);
 3 fases: fase decadentista; fase do futurismo whitmaniano; fase independente/niilista/pessimista;

 Fase do futurismo whitmaniano:


 Influência de Whitman;
 Idealização poética industrial;
 Novo homem - homem sem moral e sem sensibilidade, homem a dominar o mundo com as mãos agarradas ao
automóvel, ao paquete, ao avião, à máquina – o super-homem industrializado.
 Dominado pelo dinâmico e pelo forte;
 Poema “Ode Triunfal”:
 Celebração das rodas, engrenagens, correias de transmissão, êmbolos, ou seja, a máquina no seu todo, a sua força e
a sua capacidade de transformar e impulsionar a indústria, o comércio, os transportes, a agricultura.
 Desfile simultaneamente glorificante e perplexo da técnica e do consumismo civilizacional que o poeta ama e em que
se despersonaliza;
 “Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!/Ser completo como uma máquina!.../Ó fábricas, ó
laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,/Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes –/Possuo-vos como uma
mulher bela,/Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama/Que se encontra casualmente e
que se acha interessantíssima”;
 Presença da máquina - contacto quase sensual, idêntico ao que os românticos experimentavam frente à Natureza.
 Máquina como um prolongamento do braço humano, força mágica com que o indivíduo consegue ultrapassar as
limitações da sua condição humana.
 Domínio estético da energia e do movimento que caracterizam a paisagem urbana de uma grande cidade.
 Glorificação da técnica e esta integração sujeito-coisas, com o endeusamento da cidade, da mecânica e da
engenharia - principal conteúdo da “Ode Triunfal”;
 «Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,/Como eu vos amo de todas as maneiras, Com os olhos e com os
ouvidos e com o olfacto/E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)/E com a inteligência como uma
antena que fazeis vibrar!/Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!»;
 «Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!»
 Exposição não só dos elogios à industrialização, mas também dos seus aspectos negativos;
 Adjetivação antitética e paradoxal que lhe reveste a linguagem - “A maravilhosa beleza das corrupções políticas/[...]e
outro sol novo no Horizonte!”;
 Outros temas: o amor a uma personalidade hipertrofiada; a solidariedade entre os homens, desde o santo à prostituta
e desde o salteador ao burguês; a força hercúlea; a pirataria; a energia mecânica; o progresso técnico; tudo o que
contribui para dar ao homem uma nova dimensão e libertá-lo;
 Fase independente/niilista/pessimista:
 Homem destroçado, desfeito, abatido, desconsolado e descontente com tudo;
 Poeta do cepticismo, da abulia perante o absurdo, da auto-análise, do cansaço e da frustração, muito próximo de
Pessoa ortónimo;
 Nítida evolução;
 Fase em que se revela um poeta bem mais humano do que nas fases anteriores;
 «Nada me prende a nada»;
 «Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido»;
 «O que há em mim é sobretudo cansaço».
 «Não me venham com conclusões!/A única conclusão é morrer.»
 Gerais:
 Álvaro de Campos como uma espécie de alter ego de Fernando Pessoa
 Sensacionismo irreverente;
 Intensa atividade, sobretudo no período em que Fernando Pessoa se entregou mais devotamente ao esoterismo;
 Ora se desmancha em descargas impetuosas, torrenciais, em velocidade olímpica, ora é arrastado pelo tédio da vida,
fica a boiar de cansaço: “Eu, eu mesmo.../Eu, cheio de todos os cansaços/Quantos o mundo pode dar.”;
 Alberto Caeiro é o seu Mestre e Álvaro de Campos pergunta-lhe: “...porque é que ensinaste a clareza da vista,/se não
me podias ensinar a ter a alma com que a ver clara?/Porque é que me chamaste para o alto dos montes/Se eu,
criança das cidades do vale, não sabia respirar?/.../Porque é que me acordaste para a sensação e a nova alma,/Se
eu não saberei sentir, se a minha alma é de sempre a minha?”;
 Ânsia de sensações - constante evasão no tempo e no espaço;
 Necessidade de se evadir no tempo e no espaço para corresponder à ânsia de superar as limitações de uma vida
pacífica, sentada, estática, regrada e revista – é significativamente expressa nas quiméricas viagens e nos desejos
desbordantes e imaginados que pululam na “Ode Marítima”;
 Insatisfação e extravasão de sensações - tedium vitae – o tédio da vida – “O tédio que chega a constituir nossos
ossos encharcou-me o ser”, a sensação angustiosa do vazio: “Estou só, só como ninguém ainda esteve,/oco dentro
de mim, sem depois nem antes”, e a frustração “O que eu queria ser, e nunca serei, estraga-me as ruas”;
 Binómio sentir/pensar - “O tumulto concentrado da minha imaginação intelectual...” que lhe dá “A capacidade de
pensar o que sinto, que me distingue do homem vulgar/Mais do que ele se distingue do macaco”, embora diga “viver
as coisas pelo lado das sensações”;
 Binómio tudo/nada reflete uma faceta do “eu” pessoano, o poeta dos extremos, insatisfeito, fracassado nos seus
anseios em que tudo irrealizado o marca com o vazio do nada - “ Não sou nada./Nunca serei nada./.../À parte isso,
tenho em mim todos os sonhos do mundo” e ainda “Ter pensado o Tudo/É o ter chegado deliberadamente a nada”;
 Passado como um refúgio, uma vez que o presente é caracterizado pelo tédio e pelo cansaço, evadindo-se no tempo
a recordar vagamente “A pobre velha casa da minha infância perdida!”. Também patente ao nível do espaço “Ah, seja
como for, seja por onde for, partir!/Largar por aí fora, pelas ondas, pelo perigo, pelo mar, ir para Longe, ir para Fora,
para a Distância Abstracta...”

Ricardo Reis - características

 Clássico no estilo, no rigor, no estoicismo, na adoção do paganismo, na crença nos deuses da Grécia e no exercício
da razão;
 Defensor do saber contemplar, ou seja, ver intelectualmente a realidade;
 Serenidade livre de afetos e de tudo o que possa perturbar o seu espírito, busca a felicidade relativa alcançada pela
indiferença à perturbação;
 Defesa do Carpe Diem, o prazer do momento (só é real o presente, o futuro é uma incógnita, por isso a procura de
desfrutar o presente), sem contudo ceder aos impulsos dos instintos, revelando um epicurismo triste;
 Luta contra tudo o que lhe tire o sossego, aceita o destino com naturalidade, sem lhe resistir - «Segue o teu Destino»
«sem desassossegos grandes»;
 Paganismo - apologia da crença nos deuses e nas presenças quase-divinas que habitam todas as coisas,
considerando-a disciplinadora das emoções e sentimentos;
 Poeta intelectual;
 Relativização de tudo à sua volta - «Aprendamos/Que a vida passa»; «A vida/Passa e não fica, nada deixa e nunca
regressa»;
 Ataraxia;
 «Não vale a pena cansarmo-nos./Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio./Mais vale saber passar
silenciosamente/E sem desassossegos grandes»; «Assim saibamos,/Sábios incautos,/Não a viver»;
 Estoicismo – conformação com a natureza; indiferença face aos bens materiais e defesa do discernimento, coragem,
justiça e autodomínio; o autodomínio e a autodisciplina permitem a aceitação das ações do cosmos, do Fado e da
morte inexorável; recusa ao pensamento, uma vez que acredita no destino, por isso de nada vale sofrer, pois o
caminho está traçado;
 Epicurismo – tranquilidade; ausência de dor e de sofrimento; aceitação da morte sem receio; carpe diem – procura do
prazer moderado, da calma, da ataraxia; clarividência, tendo como exemplo a verdadeira natureza dos deuses,
serenos na sua indiferença face ao mundo;
 Crença de que o Fado rege o mundo - «Segue o teu destino»;
 Indiferença em relação às paixões que perturbam a razão - «Da vida iremos/Tranquilos, tendo/Nem o remorso/De ter
vivido»;
 A vida consiste numa série de mortes sucessivas e o tempo é irreversível;
 «Se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois/Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova»;
 «Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti»;
 Abdicação - «Senta-te ao sol. Abdica/E sê rei de ti próprio».

Ricardo Reis – o poeta clássico; a consciência e a encenação da mortalidade


Texto expositivo-informativo (130-170 palavras) 2 hipóteses

Através da influência da Antiguidade Clássica, Ricardo Reis defende o estoicismo, o epicurismo e o carpe
diem horaciano.
A sua consciência da efemeridade da vida leva-o à indiferença face à morte (“da vida iremos/Tranquilos”) e à
reflexão sobre o fluir inelutável do tempo, comparando a vida ao curso de um rio que “passa e não fica, nada deixa e
nunca regressa”. A aceitação estoica do poder do destino é reveladora da atitude de abdicação, conduzindo-o à
recusa das emoções. A filosofia estoica une-se à epicurista na medida em que esta última defende a procura da
felicidade relativa e da ataraxia e, por isso, da moderação dos prazeres, da fuga aos sentimentos extremos e ao
sofrimento e a indiferença face à morte. Deste modo, Reis pretende aproveitar o dia e os prazeres do momento
presente, já que tem consciência da efemeridade da vida, d’”o pouco que duramos”.
Concluindo, a aceitação passiva da realidade e a tranquilidade sem perturbação fazem da vida uma natural
condenação à morte.

Ricardo Reis é clássico no estilo e no rigor. Estoico, pagão, crê nos deuses da Grécia e no exercício da
razão, por isso defende o saber contemplar, ou seja, vê intelectualmente a realidade.
Na procura da serenidade livre de afetos e de tudo o que possa perturbar o seu espírito, faz uma defesa do
Carpe Diem, o prazer do momento presente, sem ceder aos impulsos, revelando um epicurismo triste, disciplinando
as emoções e sentimentos, por isso busca a felicidade relativa, alcançando-a pela indiferença à perturbação. Assim,
«Segue o [seu] Destino» com naturalidade, sem lhe resistir, «sem desassossegos grandes».
Através do paganismo faz a apologia dos deuses e das presenças quase-divinas que tudo habitam.
Concluindo, Reis relativiza tudo através da ataraxia e do estoicismo, tentando permanecer indiferente às
paixões perturbadoras da razão.

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