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Crónica de D.

João I
Afirmação da consciência
coletiva Nome autores
A consciência da identidade nacional

Séculos XII-XIV
Dinastia Afonsina (primeira dinastia)

Período de formação da nacionalidade

Período de desenvolvimento:

Expansão e consolidação- do sentimento coletivo de povo


Organização política, social
das fronteiras de Portugal
- do sentimento de pertença a umae nação
económica do reino
- da noção de identidade nacional

Sinais identificadores:
- o escudo de armas do rei
- a bandeira nacional
- a moeda
A consciência da identidade nacional

O povo terá sido influenciado pelo uso constante de emblemas e sinais concretos, como o
escudo de armas do rei, a bandeira nacional e a moeda, que se tornaram sinais identificadores.
A sua categoria simbólica dotava-os de um poder emocional que contribuiu para fazer esquecer
o seu sentido primitivo de emblemas de dominação.

E assim, mesmo quando as mudanças de regime faziam alterar a sua forma, como aconteceu
frequentemente com a bandeira nacional, o escudo de armas do rei permaneceu sempre como
elemento permanente, mesmo quando deixou de haver rei. Ainda hoje figura na bandeira de
Portugal.

José Mattoso, A identidade nacional, Lisboa, Gradiva, 2003, p. 28 (com adaptações).


A consciência da identidade nacional

Séculos XII-XIV
Dinastia Afonsina (primeira dinastia)

D. Afonso Henriques

D. Sancho I
Expansão territorial
D. Afonso II (D. Afonso III conquista as terras do Algarve e expulsa os
Árabes em 1249)
D. Sancho II
Entre 1143 e 1383

D. Afonso III

D. Dinis

D. Afonso IV Clima de paz política, com impacto no desenvolvimento geral do


país, sobretudo económico, administrativo e cultural
D. Pedro

D. Fernando
A consciência da identidade nacional

Séculos XII-XIV
Dinastia Afonsina (primeira dinastia)

Iluminura representando D. Afonso III (Genealogia Estátua de D. Afonso III, em Faro. No seu Estátua de D. Dinis na Universidade de Coimbra. Este rei foi
dos Reis de Portugal, séc. XVI). reinado deu-se a conquista definitiva do Algarve, decisivo para o desenvolvimento cultural de Portugal ao
seguindo-se um período dominado pela paz. fundar a Universidade (1290).
A consciência da identidade nacional

Com o advento ao trono de D. João I terminara o período de formação da Nacionalidade,


com a reconquista das terras do Algarve e a expulsão dos Mauritanos, verificadas no tempo
de D. Afonso III, e a obra de estrutura política que se lhe seguiu. Com as bases
administrativas
de que Portugal carecia, deu-se o consequente surto económico do reino. No espaço de
trezentos anos, graças ao labor dos reis afonsinos, define-se um Estado forte e com uma
organização política, social e económica que era de molde a garantir a sua permanência
histórica.

Joaquim Veríssimo Serrão, A historiografia portuguesa. Doutrina e crítica vol. I –


Séculos XII-XVI, Lisboa, Editorial Verbo, 1972, p. 43.
A consciência da identidade nacional

Durante a primeira dinastia, os servos da gleba [camponeses] não têm ainda noção de
unidade política; servem apenas o seu suserano, de quem recebem benefícios e a quem
devem vassalagem.

À medida que se consolidam as fronteiras, vai-se criando, de maneira inconsciente, a


noção de identidade nacional, que será a base da estabilização histórica e política. É assim
que, ao chegar à crise de 1385, o povo português já tem uma consciência, cimentada por
uma tradição comum, da sua própria identidade em face dos outros povos da Península.
Maria Leonor Carvalhão Buescu, Apontamentos de Literatura Portuguesa,
Porto, Porto Editora, 1977, p. 37 (com adaptações e supressões).
A consciência coletiva na Crónica de D. João I

Crónica de D. João I

Apologia do rei Apologia do sentimento Apologia da força


de nacionalidade da coletividade

Crónica encomendada para A noção de comunidade O povo sente amor pela


exaltar os feitos do Mestre e o sentimento de nacionalidade sua terra, que funda o direito natural do
de Avis e legitimar a nova são reforçados pela ameaça povo ao seu território
dinastia da invasão castelhana

[vs. direito senhorial, baseado na tradição


e na herança]
O povo une-se e, numa luta
heroica, resiste à regente D.
Leonor Teles e à influência
castelhana (Crise de 1383-
1385)
A consciência coletiva na Crónica de D. João I

O direito senhorial e o direito nacional

De um lado [D. João de Castela] estava o direito reconhecido dos senhores do património; do outro [Mestre de
Avis], o direito, ainda não reconhecido, e por isso insurrecional, dos homens sujeitos ao domínio.

A nobreza manteve-se fiel ao direito tradicional, que equivalia aderir ao rei de Castela. Não era, do seu ponto de
vista, qualquer traição ou felonia: a Espanha era toda uma.

Mas as populações locais não o sentiam assim. O seu horizonte era a terra onde nasceram, a comunidade local e
outras comunidades semelhantes pela língua e costumes, os locais de trabalho e negócio, os lugares da infância, do
sofrimento, das alegrias e da morte. É a este complexo que Fernão Lopes vai chamar «o amor da terra», sentimento
sobre o qual se funda o direito novo de recusar um senhor que não seja da terra.

António José Saraiva, O crepúsculo da Idade Média em Portugal, Lisboa, Gradiva,


1990, p. 168 (com adaptações e supressões).
A consciência coletiva na Crónica de D. João I

O direito senhorial e o direito nacional

A guerra nacional aparece, no nosso cronista, como uma guerra civil entre camadas
opostas da população: uma popular e uma outra nobre.

A arraia-miúda constitui a força armada em que inicialmente se apoiou o Mestre de Avis, permitindo-lhe resistir à
gente de armas favorável ao partido castelhano e até apoderar-se
de alguns castelos. A população de Lisboa resistiu ao cerco do rei de Castela.

A existência do povo como sujeito da História, do povo que se sente senhor da terra onde nasce, vive, trabalha e
morre e que ganha consciência coletiva contra os que querem senhoreá-lo, do povo que é a fonte última do direito,
é a grande realidade que ressalta das crónicas de Fernão Lopes.
António José Saraiva, O crepúsculo da Idade Média em Portugal, Lisboa, Gradiva,
1990, pp. 180-182 (com adaptações e supressões).
A consciência coletiva na Crónica de D. João I

Crónica de D. João I
Crise de 1383-1385

Período de ameaça à independência

Período de afirmação / tomada de O povo reage e luta contra a


consciência da independência, da vontade invasão estrangeira; é ativo na vida
e da responsabilidade do povo – construção política do país
de um projeto comum de autonomia política

Início de uma dinastia enraizada na vontade absoluta do povo


A consciência coletiva na Crónica de D. João I

Protagonista: o povo
(a arraia-miúda, sobretudo de Lisboa)

Relato dos seus movimentos Descrição dos trajes Reconstituição de diálogos

Fernão Lopes é o intérprete fiel do momento em que Portugal atinge a idade adulta e se constitui
como nação consciente da sua independência política; compreendeu perfeitamente o significado
dos acontecimentos que envolveram essa tomada de consciência e, por essa razão, institui, na sua
Crónica de D. João I, como agente principal da ação o próprio povo.

Maria Leonor Carvalhão Buescu, Apontamentos de literatura portuguesa, Porto,


Porto Editora, 1977, p. 39 (com adaptações e supressões).
A consciência coletiva na Crónica de D. João I

Protagonista: o povo
(a arraia-miúda, sobretudo de Lisboa)

Personagem coletiva

Multidão/grupos

São as forças gregárias, animadas de uma vontade definida, como a cidade de Lisboa ou os
povos do Reino. Capítulos inteiros são destinados a relatar o estado de espírito de um
agregado humano […].

António José Saraiva, O crepúsculo da Idade Média em Portugal, Lisboa, Gradiva, 1990, p. 60.
A consciência coletiva na Crónica de D. João I

Protagonista: o povo
(a arraia-miúda, sobretudo de Lisboa)

Personagem coletiva anónima

Multidão/grupos Vozes não identificadas


que emergem da multidão

São frequentes no nosso autor fórmulas como «todos postos sob um mesmo cuidado», «todos
animados de uma só vontade», «quando a cidade soube», «voz de grande espanto foi ouvida
por todo o Reino», etc. E outro processo muito seu é resumir um sentimento coletivo através
de um dito, de uma voz que sai de uma multidão, como a daquele tanoeiro que resume a
posição da gente miúda de Lisboa em face dos burgueses da cidade […].

António José Saraiva, O crepúsculo da Idade Média em Portugal, Lisboa, Gradiva, 1990, p. 195.
Afirmação da consciência coletiva na narrativa – momentos fulcrais

1.ª parte da Crónica de D. João I (1383-1385)

Da morte do conde Andeiro à aclamação do Mestre como


rei nas Cortes de Coimbra

Capítulo 11

O povo toma consciência da importância da sua ação no


desenrolar dos acontecimentos, dirigindo-se em massa ao Paço
para ajudar o Mestre de Avis e apoiando como seu chefe
político.
Afirmação da consciência coletiva na narrativa – momentos fulcrais

1.ª parte da Crónica de D. João I (1383-1385)

Da morte do conde Andeiro à aclamação do Mestre como


rei nas Cortes de Coimbra

Capítulo 115

A população de Lisboa organiza-se para defender a cidade do cerco


castelhano, que ameaça a sua independência.

Todos (até fidalgos e clérigos) estão empenhados nesta tarefa,


revelando união e patriotismo.

Todos cumprem as ordens do Mestre, que admiram e respeitam.


Afirmação da consciência coletiva na narrativa – momentos fulcrais

2.ª parte da Crónica de D. João I (1385-1411)

O conflito bélico entre Portugal e Castela; das Cortes de Coimbra


ao tratado de paz (reinado de D. João I)

Destaca-se…

a forma como a população da cidade do Porto acolhe o rei D.


João I, glorificando-o.

o combate, para defender Portugal, nas batalhas dos Atoleiros e


de Aljubarrota, nas quais participam portugueses de várias
regiões do país.

Pormenor de iluminura representando


a batalha de Aljubarrota (Jean de Wavrin, Crónica
de Inglaterra, c. 1445).
Consolida
1- Indica se é verdadeira (V) ou falsa (F) cada uma das seguintes afirmações. Corrige as falsas.

Os Portugueses desenvolveram o sentimento coletivo de povo e de pertença a uma nação no início da Dinastia de
A Avis (segunda dinastia).
Falsa. Os Portugueses desenvolveram o sentimento coletivo de povo e de pertença
a uma nação ao longo da Dinastia Afonsina (primeira dinastia).

O reinado de D. Dinis marcou o início de um clima de paz política e de desenvolvimento geral do reino e, desta
B forma, a formação progressiva da noção de identidade nacional.

Verdadeira.

C No dealbar da crise dinástica de 1383-1385, o povo português já tem consciência de que possui uma identidade
própria, diferente das dos outros povos da Península Ibérica.

Verdadeira.

Solução
2- Seleciona a opção que completa cada uma das afirmações.

A Além do elogio de D. João I, a Crónica de D. João I faz a apologia…

das revoltas populares.

do sentimento de nacionalidade.

da força da coletividade.

B O perigo de perda de independência do reino reforça…

a ilegitimidade da nova dinastia.

a noção de comunidade

o sentimento de nacionalidade.

C Na Crónica de D. João I, a consciência coletiva emerge quando o povo…

resiste à regente D. Leonor Teles.

combate os castelhanos.
Solução
participa ativamente na vida política do país.
2- Seleciona a(s) opção(ões) que completa(m) cada afirmação.

D Fernão Lopes chama «amor da terra» ao direito que se afirma então, que é…

o direito natural do povo ao seu património.

o direito natural do povo ao seu território.

o direito assente na tradição e na herança.

E Na Crónica de D. João I, surgem, por vezes, vozes não identificadas (figuras sem nome), pois…

nem sempre é possível ao cronista apurar a identidade desses intervenientes.

integram passagens pouco importantes para o desenrolar dos acontecimentos.

essas personagens servem apenas para representar o sentimento coletivo do povo.

Solução

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