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AATIVIDADE OPERACIONAL EM BENEFÍCIO D

TIVIDADE
ATIVID A
DA
SEGURANÇA PÚBLIC A: o combate ao crime or
PÚBLICA: ganizado
organizado

Cristina Célia FFonseca


onseca Rodrigues

Resumo

A globalização favoreceu a expansão geográfica dos crimes transnacionais que utilizam as faci-
lidades tecnológicas para encobrir suas atividades ilícitas. O tripé integrado por narcotraficantes,
terroristas e contrabandistas atua em conjunto ou de forma complementar constituindo uma
grave ameaça à sociedade e aos Estados nacionais. Nesse contexto, as operações de Inteligên-
cia governamental e policial, aliadas ao intercâmbio de dados e informações entre Serviços de
Inteligência são instrumentos legais à disposição do Estado, na busca do dado sigiloso e prote-
gido. No Brasil, a Abin é responsável pela interface com os órgãos internos e os Serviços
estrangeiros, e tem por missão fomentar a integração da comunidade de Inteligência. Para
cumprir esta missão, a Abin deve atuar como a instituição governamental que reúne, analisa e
processa dados oriundos de diversas fontes com o objetivo de produzir conhecimentos estraté-
gicos para o assessoramento das autoridades decisórias.

Introdução
Introdução diversifica as atividades criminosas. Ho-
micídios dolosos, roubos, furtos, seqües-
tros e latrocínios estão, freqüentemente,

N as últimas décadas, o aumento dos


índices de criminalidade e a atuação
de organizações criminosas transnacionais
associados ao consumo e venda de dro-
gas e à utilização de armas ilegais.

colocaram o tema Segurança Pública en- Mundialmente, o tripé integrado por


tre as principais preocupações da socieda- narcotraficantes, terroristas e contrabandis-
de e do Estado brasileiros. A delinqüência tas de armas e de seres humanos atua em
e a violência criminal afetam, em maior ou conjunto ou de forma complementar, cons-
menor grau, toda a população, provocan- tituindo uma grave ameaça à sociedade e
do sensação de apreensão, medo e des- aos Estados nacionais. A globalização fa-
crenças nas instituições estatais responsá- voreceu a expansão geográfica dos crimes
veis pela manutenção da Paz Social. transnacionais que utilizam as facilidades
comerciais, as comunicações e os múlti-
O Projeto Segurança Pública para o Bra- plos meios de transportes para encobrir
sil da Secretaria Nacional de Segurança suas atividades ilícitas.
Pública (Senasp) aponta como principal
causa do aumento da criminalidade o trá- Em razão da complexidade, da amplitude
fico de drogas e de armas. A articulação e do poderio das redes criminosas
entre estes dois ilícitos potencializa e transnacionais, a solução para a

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criminalidade depende de decisões polí- vidades, alto poder de intimidação, alta


tico-econômico-sociais e, concomi- capacitação para a fraude, conexão lo-
tantemente, de ações preventivas e repres- cal, regional, nacional ou internacional
sivas de órgãos estatais. A cooperação com outras organizações e capacidade
entre os países torna-se imperativa e para ameaçar interesses e instituições
determinante para o enfrentamento do nacionais.
crime organizado.
Detentoras de grande poderio financeiro,
Nesse contexto, as operações de Inteli- as organizações criminosas recrutam, com
gência governamental e policial, aliadas facilidade, elementos para compor e re-
ao intercâmbio de dados e informações novar seus quadros, e passam a contar
entre Serviços de Inteligência, são instru- com indivíduos motivados financeiramen-
mentos legais à disposição do Estado, na te, bem treinados e munidos de armamen-
busca do dado sigiloso e protegido. to, muitas vezes superior aos das forças
policiais. Tais fatores, aliados à ilegalida-
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin), de inerente as atividades das organizações
órgão central do Sistema Brasileiro de criminosas, tornam desigual o confronto
Inteligência (Sisbin), deve assumir a mis- com as forças policiais.
são de centralizar, processar e distribuir
dados e informações estratégicos para 2 Globalização do crime organizado
organizado
municiar os órgãos policiais (federais, es-
tatais e municipais) nas ações de comba- Nas últimas décadas do século XX, a
te ao crime organizado. Além disso, a globalização permitiu ao crime organiza-
Abin é responsável por manter contato do transnacional expandir-se geografica-
com os Serviços de Inteligência parcei- mente e operar em qualquer continente
ros, no sentido de favorecer a troca de ou Nação. Inovações tecnológicas facili-
informações e a cooperação multilateral. taram o fluxo das telecomunicações e do
tráfego comercial aéreo, repercutindo no
1 Organizações criminosas
Organizações crescimento do comércio internacional.
Uma nova forma de fazer negócios sur-
A ciência criminológica aponta como prin- giu, possibilitando a movimentação de
cipais características de uma organização grandes volumes de dinheiro e a circula-
criminosa: hierarquia estrutural, planeja- ção de produtos e pessoas entre países e
mento empresarial, claro objetivo de lu- blocos econômicos. As organizações cri-
cros, uso de meios tecnológicos avança- minosas valeram-se de tais facilidades para
dos, recrutamento de pessoas, divisão encobrir suas atividades ilícitas e dificul-
funcional de atividades, conexão estrutu- tar o controle por parte dos Estados.
ral ou funcional com o poder público e/
ou com o poder político, oferta de pres- Para Shelley 1 (2001, p.1), o fim da
tações sociais, divisão territorial das ati- Guerra Fria permitiu o surgimento da

1
Louise Shelley é professora da Escola de Serviço Internacional e fundadora e diretora do
Centro Transnacional de Combate ao Crime e à Corrupção na Universidade Americana em
Washington, D.C. Uma das principais especialistas em crime e terrorismo transnacional, ela é
a autora de Policing Soviet Society e Crime and Modernization, bem como de vários artigos e
capítulos de livros que enfocam os mais variados aspectos do crime transnacional.

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globalização simultânea do crime, do ter- tar, obstruir e neutralizar a ação de ele-


ror e da corrupção, “trindade obscena” mentos adversos e que atuam contra os
que se manifesta em todo o mundo. A interesses do Estado ou da sociedade.
atuação das redes criminosas
transnacionais em conjunto com terroris- Em Estados democráticos, como o Bra-
tas tornou-se viável a partir de uma sil, as operações de Inteligência devem
corrupção endêmica, verificada em diver- ser executadas estritamente em obediên-
sas Nações. Shelley analisa como a mes- cia aos preceitos constitucionais vigentes,
ma globalização que atrai empresas salvaguardando direitos e garantias indi-
multinacionais legítimas permitiu que cri- viduais e em consonância com as normas
minosos e terroristas desenvolvessem re- estabelecidas no Direito Internacional.
des transnacionais, “dispersando suas ati-
vidades, seu planejamento e sua logística Os dados e as informações reunidos pos-
em vários continentes, confundindo, as- sibilitam identificar e compreender as ca-
sim, os sistemas jurídicos estatais usados racterísticas, a estrutura, as formas de fi-
para combater o crime transnacional em nanciamento e o modus operandi das or-
todas as suas manifestações”. ganizações criminosas e de seus compo-
nentes. Conhecer estes elementos é es-
De acordo com Shelley (2006, p.2), o sencial para (a) a formulação de políticas
crime organizado e o terrorismo sempre direcionadas para Segurança Pública; (b)
operaram fora de suas fronteiras, mas a o planejamento de ações preventivas e
novidade trazida pela globalização é a ofensivas; (c) o subsídio de análises
velocidade e a freqüência das interações, prospectivas em nível estratégico; e (d) o
e a intensidade da cooperação entre as fornecimento de provas materiais aos pro-
formas de crimes transnacionais. cessos judiciais.
Azevedo (2002, p. 473) concorda com Gonçalves (2006) defende que:
Shelley, e anota que os crimes
transnacionais são os maiores beneficiários Diante do grau de complexidade e
do processo de globalização e que os diversificação do crime organizado, a
atividade de Inteligência adquire grande
“mesmos irão proliferar a uma velocidade
importância não só para a repressão, mas,
altíssima, razão pela qual a Inteligência de sobretudo, no que concerne à prevenção
Estado e policial torna-se essencial para o contra o desenvolvimento do crime
combate de organizações”. organizado. A atividade de Inteligência é
útil para o planejamento de estratégias de
3 Operações de Inteligência no comba- ação das autoridades no contexto da
te ao crime organizado
organizado segurança pública. E as ações de
inteligência devem reunir Inteligência
governamental e policial, em escala federal
3.1 Inteligência de Estado e Inteligência e estadual.
policial
Apesar de apresentarem características
As operações de Inteligência são técnicas comuns, operações de Inteligência esta-
especializadas aplicadas na busca do co- tal e policial têm finalidades diferencia-
nhecimento privilegiado ou do dado ne- das. As operações de Inteligência de Es-
gado, com o objetivo de prevenir, detec- tado, inseridas na fase da reunião de da-

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dos2, são realizadas para responder à de- A necessidade de cooperação entre os


manda da Atividade de Inteligência, que órgãos estatais e a comunidade internaci-
consiste na obtenção de dados e/ou in- onal é considerada elemento imprescin-
formações relevantes e pertinentes para dível no combate ao crime transnacional.
compor conhecimentos estratégicos e Godoy (2005, p.9) afirma que os proble-
subsidiar as autoridades com poder mas estratégicos, “por seu caráter sorra-
decisório. teiro, [...] só podem ser contidos por meio
de uma eficaz atuação dos serviços de
... operação de Inteligência Inteligência dos diversos países, que [...]
de Estado [...] visa a devem trocar informações entre si”.
transformar informações No Brasil, cabe à Agência Brasileira de
táticas em conhecimentos Inteligência (Abin) – criada pela Lei nº
estratégicos que antecipam 9.883 (BRASIL, 1999) – manter con-
fatos, alertam para situações tato com os Serviços de Inteligência
estrangeiros e promover o intercâmbio
e subsidiam documentos de conhecimentos e a realização de
para o assessoramento das trabalhos conjuntos. Paiva (2005, p.
autoridades governamentais. 39), reforça a idéia da necessidade de
cooperação multilateral:
Gonçalves (2006, p. 6 e 7) anota que as Vários textos, convenções e resoluções da
ações de Inteligência de Estado assumem Organização das Nações Unidas têm
várias funções, e cita o planejamento es- conclamado a cooperação entre os
tratégico e a análise prospectiva como as ser viços de Inteligência dos países-
principais: membros daquele organismo internacional
para que se juntem nesse sentido e
Com base na coleta e no processamento cooperem trocando experiências e
de informações de caráter nacional e informações.
internacional – como rotas de tráfico, No âmbito interno, compete à Abin –
dados sobre o consumo em várias regiões
do país, as novas tipologias –, pode-se órgão central do Sistema Brasileiro de
fazer um mapeamento das atividades das Inteligência (Sisbin) – planejar, executar,
organizações criminosas e das coordenar, supervisionar e controlar as
características dos diversos grupos que atividades de Inteligência do País. A insti-
atuam em variados setores, estabelecendo-
se as conexões. tuição, amparada por prerrogativas legais,
deve receber, analisar e processar os da-
Acrescente-se também [ao emprego das dos e informações coletados e buscados
ações de inteligência] a análise prospectiva
pelos diversos órgãos que compõem a
com o objetivo de identificar as tendências
de ação do crime organizado e suas comunidade de Inteligência interna e ex-
tipologias. Por meio dessas variáveis, é terna. O destino do material informacional
possível traçar linhas mestras de ação na reunido é a produção de conhecimentos
prevenção e no combate às organizações
oportunos e estratégicos para o
criminosas, em escala nacional, além de
criar instrumentos para cooperação com assessoramento das autoridades
outros entes da comunidade internacional. decisórias.

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A atividade operacional em benefício da Segurança Pública

Azevedo (2002,p.469) cita o Manual de Estado”. Compartilhar dados e informa-


Inteligência Policial do Departamento de ções, integrando bancos de dados, capa-
Polícia Federal para definir operações de citando pessoal para as ações ofensivas
Inteligência como: são iniciativas que devem ser buscadas,
sobretudo pelos órgãos que integram o
[...] conjunto de ações de Inteligência Sisbin, em parceria com as agências es-
Policial que empregam técnicas especiais trangeiras.
de investigação, visando a confirmar
evidências, indícios e obter conhecimentos 3.2 Técnicas Operacionais
sobre a atuação criminosa dissimulada e
complexa, bem como à identificação de
Para o enfrentamento de redes crimino-
redes e organizações que atuam no crime,
de forma a proporcionar um perfeito sas (compostas por elementos treinados,
entendimento sobre seu “ modus motivados financeira ou ideologicamente
operandi”, ramificações, tendências e e munidos de armamento moderno e de
alcance de suas condutas criminosas. tecnologia avançada), o elemento
No âmbito policial, as operações de Inte- operacional necessita planejar cuidadosa-
ligência Policial têm o compromisso de mente as ações a serem executadas. Para
reunir e produzir provas materialmente tanto, necessita primeiramente de um
lícitas e processualmente legítimas para Estudo de Situação (ES), com levantamen-
validar ações na Justiça e “produzir co- to completo dos dados e informações
nhecimentos a serem utilizados em ações existentes sobre o alvo da operação. Os
e estratégias de polícia judiciária”, aspectos levantados no ES servem de sub-
Menezes e Gomes (2006, p.41). sídios para a elaboração do Plano de
Operações (OP) que deverá abordar os
A distinção entre operação de Inteligên-
itens situação, missão, execução, medi-
cia de Estado e operação policial é que
das administrativas, coordenação e con-
a primeira visa a transformar informações
trole. No detalhamento da forma de exe-
táticas em conhecimentos estratégicos
cução, o elemento operacional analisa as
que antecipam fatos, alertam para situa-
técnicas operacionais necessárias para a
ções e subsidiam documentos para o
assessoramento das autoridades gover- consecução da missão.
namentais, enquanto a segunda, como A coleta de dados em ambiente adverso
cita Azevedo (2002, p. 470), busca a
exige o emprego de diferentes tipos de
produção de provas da materialidade e
técnicas operacionais, das mais simples
autoria de crimes.
às mais complexas (recrutamento e infil-
No entanto, é imprescindível a interação tração de agentes), executadas isolada-
entre as Inteligências governamentais e as mente ou em conjunto (emprego de uma
policiais, Menezes e Gomes (2006, p. 42) estória-cobertura para realizar um reco-
analisam que “é incontestável e premen- nhecimento); no entanto, observa-se que
te a maior interação entre os órgãos [...] requisitos como planejamento detalhado,
policiais e de segurança do Estado, com treinamento dos agentes, meios
a mitigação da exacerbada tecnológicos e equipamentos seguros e
compartimentação, com a comunicação adequados para a missão são comuns às
em tempo real de possíveis ameaças ao ações especializadas.

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Entre as técnicas especializadas legiti- No tocante ao controle das telecomuni-


mamente empregadas, Azevedo (2002, cações e na produção de imagens, a Inte-
p. 470) destaca a “vigilância; o recruta- ligência de Sinais (Intlg Sin) representa
mento; a interceptação e o monitoramento importante ferramenta de busca de da-
de comunicações telefônicas, telemáticas dos ao produzir conhecimentos técnicos
e em sistemas de informática; a captação e operacionais a partir dos sinais inter-
e a interceptação ambiental de sinais ele- ceptados de comunicações (incluindo si-
tromagnéticos, óticos ou acústicos; e a nais de voz e de dados, como telegrafia,
infiltração de agente” em organizações fac-símile e comunicações por satélite) e
criminosas. Além das técnicas elencadas de não-comunicações (oriundos de rada-
por Azevedo, outras ações, como a ob- res e de guiamento de armamento).
servação, memorização e descrição
(OMD), a estória-cobertura, o reconhe- As ações especializadas
cimento, a fotografia, a entrevista, são lar- são fer ramentas da
ferramentas
gamente empregadas na busca do dado
protegido.
Atividade de Inteligência
capazes de obter dados
Para Azevedo (2002, p. 470), monitorar
as comunicações “torna-se imprescindível
sigilosos sobre estrutura,
face aos óbices encontrados na produção financiamentos, modus
de inteligência”, pois as organizações cri- operandi, rrotas
otas e redes das
minosas são “impermeáveis à presença de or
organizações
ganizações criminosas.
estranhos”; assim, técnicas convencionais de
investigação tornam-se inócuas quando se Para o enfrentamento do crime organiza-
trata de crime organizado especializado. do, a Intlg Sin realiza o mapeamento ele-
trônico sobre regiões de interesse; cria e
A Abin não possui amparo legal para rea-
alimenta bases de dados com informações
lizar a interceptação e o monitoramento
técnicas das emissões eletromagnéticas
das comunicações telefônicas. Tal fato tem
provenientes das regiões de interesse; e
sido apontado por especialistas na área
fornece indícios para a utilização de ou-
de Inteligência de Estado como uma falha
tros sistemas e fontes (Humanas e Imagens).
legislativa, pois cerceia o órgão central do
Sisbin de empregar esta importante téc- Efetivamente, a Inteligência de Sinais for-
nica operacional na busca de dados refe- nece dados sobre pistas de pouso clan-
rentes, sobretudo à atuação do crime or- destinas utilizadas por narcotraficantes;
ganizado e às atividades de espionagem deslocamentos de comboios em faixa de
em território nacional. fronteiras ou em rios; fotos de plantações
de entorpecentes; e acompanhamento de
Discute-se, no âmbito do Poder
freqüências de rádio e comunicações clan-
Legislativo, a aprovação de legislação que destinas das redes de criminosos.
garanta o direito de a Abin realizar
interceptações telefônicas, especificamen- Para atingir o objetivo de buscar dados
te nos casos que envolvam sabotagem, em ambientes adversos, há a exigência
crime organizado e espionagem. de aperfeiçoamento constante para os

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agentes operacionais (que devem estar técnica operacional relevante na busca do


atualizados com as inovações dado protegido, em um ambiente herme-
tecnológicas e treinados para empregá- ticamente fechado e segmentado. Neste
las), aprimoramento e modernização de contexto, a Inteligência de Sinais repre-
equipamentos e acompanhamento psico- senta uma ferramenta importante para a
lógico para os profissionais de Inteligên- aquisição de sinais e de imagens que
cia que atuam no setor. orientam ações de combate e subsidiam
conhecimentos estratégicos.
3.3 Considerações finais
A Abin, enquanto órgão oficial de Inteli-
A globalização do crime e as perspecti-
vas de crescimento das organizações cri- gência do Estado Brasileiro, necessita de
minosas transnacionais – com ampliação prerrogativas legais que lhe assegurem a
de redes de atuação e constantes inova- possibilidade de realizar, obedecendo aos
ções no modo de ação – exigem dos Es- preceitos constitucionais vigentes, o
tados nacionais atividades coordenadas no monitoramento das comunicações,
âmbito da Segurança Pública, aliadas ao notadamente em casos que envolvam or-
intercâmbio de dados e informações com ganizações criminosas e espionagem.
as agências de Inteligências parceiras, de
forma a reduzir o avanço e a expansão O sucesso do embate entre as Nações e o
das redes criminosas internacionais. crime organizado depende de cooperação,
coordenação e controle, e da presença
As ações especializadas são ferramentas decisiva das Inteligências de Estado e poli-
da Atividade de Inteligência capazes de cial. No Brasil, a Abin é responsável pela
obter dados sigilosos sobre estrutura, fi- interface com os órgãos internos e os Ser-
nanciamentos, modus operandi, rotas e viços estrangeiros, e tem por missão fo-
redes das organizações criminosas. Para mentar a integração da comunidade de In-
combater eficientemente as diversas teligência. Para cumprir esta missão, a Abin
modalidades de crimes transnacionais, é deve funcionar como a instituição gover-
preciso penetrar na hierarquia com- namental que reúne, analisa e processa
partimentalizada das organizações crimi- dados oriundos das diversas fontes, pro-
nosas para conhecer seus objetivos e li- duz conhecimentos estratégicos para o
gações, e antecipar suas ações.
assessoramento das autoridades decisórias
Os dados coletados por elementos e compartilha o conhecimento processa-
operacionais são imprescindíveis para a do com os órgãos parceiros.
elaboração de planejamento estratégico
Reconhecidamente, o combate às orga-
de ações de órgãos da segurança públi-
ca, de análise prospectiva da evolução nizações criminosas transnacionais repre-
do crime e, também, para a produção senta uma tarefa árdua e perene, que deve
de provas para a ação judicial. ser executada, permanentemente, dentro
de preceitos legais, mas com ações pró-
A interceptação das comunicações e dos ativas de Inteligência governamental e
sinais eletromagnéticos é considerada uma policial, e cooperação multilateral.

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Cristina Célia Fonseca Rodrigues

Referências

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