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Curso de Alinhamento Conceitual do


PNLD - Unidade III

Cooperação Jurídica Internacional

Curso de Alinhamento Conceitual do PNLD


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Unidade 03
Cooperação Jurídica Internacional
Objetivos: apresentar conceitos e aspectos da Cooperação jurídica internacional, seus
efeitos no contexto brasileiro, e sua importância no quadro das relações internacionais.

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APRESENTAÇÃO

Nesta Unidade 3 do curso de Alinhamento Conceitual do Programa Nacional de


Capacitação e Treinamento no Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (PNLD),
apresentaremos o panorama histórico da cooperação jurídica internacional, com o objetivo
de entender a importância de sua existência e de seu funcionamento na atualidade. Por
meio dessa exposição, buscaremos entender como a cooperação jurídica internacional pode
funcionar como instrumento efetivo no combate à lavagem de dinheiro e à corrupção.

Apresentaremos, também, os conceitos, as classificações e os mecanismos da cooperação


jurídica internacional, dando destaque para o conceito de “carta rogatória”, “auxílio direto” e
“extradição”. Da mesma maneira, trabalharemos a forma como a cooperação jurídica
internacional está inserida no contexto da matéria penal brasileira e suas formas de execução
no país, apontando o conceito de “autoridade central”, sua definição e suas funções.

Bom estudo!

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Lição 11
Cooperação Jurídica Internacional
Introdução à cooperação jurídica internacional

Ao final desta lição, você deverá ser capaz de:

• Perceber a importância da cooperação jurídica internacional na atualidade.

• Entender a cooperação j urídica i nternacional como instrumento efetivo


no combate à lavagem de dinheiro e à corrupção.

• Conceituar e classificar.

• Parte 1 - Identificar a carta rogatória e o auxílio direto como mecanismos


de cooperação.
• Parte 2 – Formular pedido de extradição ativa.

Historicamente, a comunidade internacional cultiva a regra de que cada Estado tem


o exercício da sua jurisdição limitado ao seu próprio território. Dentro dos parâmetros
estritamente tradicionais desse modelo, um ato jurisdicional que, porventura, provoque
efeitos, diretos ou indiretos, em territórios diferentes do seu pode ser considerado ofensivo
aos preceitos da não ingerência e autodeterminação dos povos.

Esse modelo puro revelou-se, na maioria das vezes, adequado. Porém, há algumas
décadas, o mundo passou a observar franca globalização das relações, jamais presenciada
em escaladas tão elevadas. Como consequência, o papel das fronteiras geográficas, em uma
delimitação radical das jurisdições, passa a fazer cada vez menos sentido em um contexto em
que as demarcações não representam impedimento à circulação de bens, serviços, capital,
pessoas e, tampouco, às relações comerciais e empresariais transnacionais, à difusão global
de informações e, claro, à internacionalização do crime.

O cenário descrito, ao mesmo tempo em que inspira maior liberdade de circulação,

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leva os operadores do Direito a importantes questionamentos: “Como assegurar que a nova


concepção que se tem de fronteira não se traduza em passe-livre para a injustiça?”; “Como
assegurar a existência de uma cidadania global em que o indivíduo possa ter certeza do
cumprimento do seu direito mesmo quando esse exercício envolve outras jurisdições?”.

A cooperação jurídica internacional


representa uma das medidas implementadas
pelos Estados nesse sentido. Por meio de um
pedido de cooperação jurídica, o Estado que
necessite realizar atos indispensáveis à boa
administração de sua justiça encontrará o
veículo adequado para fazê-lo, sem ferir a
soberania e as regras de jurisdição territorial do
outro Estado a que dirige solicitação. A
cooperação jurídica, portanto, é um
modo formal de “bater à porta” de outro Estado e pedir ajuda, a fim de que se possa afirmar
a justiça no caso concreto.

Se antes a cooperação jurídica era tida como prescindível, ou até mesmo potencialmente
desrespeitosa aos preceitos mais tradicionais de soberania nacional, atualmente entende-se
que é vital para a sustentabilidade das relações internacionais, conferindo maior previsibilidade
aos atos internacionais e maior segurança às nações. Com a atual e avançada globalização, a
cooperação não pode mais ser compreendida como um mero ato de cortesia internacional,
mas como um dever do Estado de contribuir com a sua contraparte nos aspectos jurisdicionais
que esta não pode alcançar de forma direta. Trata-se, portanto, de uma obrigação entre as
nações, e não de uma mera faculdade (OTAVIO, 1942, p. 115).

O cenário internacional e a cooperação

A cooperação jurídica internacional é particularmente importante no enfrentamento


à criminalidade organizada, à lavagem de dinheiro e à corrupção, que também passou, nos
últimos anos, por considerável processo de internacionalização das suas atividades. Em
outras palavras, a “relativização” do papel desempenhado pelas fronteiras geográficas operou
não só em favor da circulação de bens, pessoas, capitais e informação, mas também da
transnacionalização do crime.

A Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional


(Convenção de Palermo), definida e trabalhada nas unidades anteriores, traz em seu artigo 3º
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que “a infração será de caráter transnacional se”:

a) for cometida em mais de um Estado;

b) for cometida num só Estado, mas uma parte substancial da sua preparação,
planejamento, direção e controle tenha lugar em outro Estado;

c) for cometida num só Estado, mas envolva a participação de um grupo criminoso


organizado que pratique atividades criminosas em mais de um Estado; ou

d) for cometida num só Estado, mas produza efeitos substanciais noutro Estado”.

Uma rápida análise do que se vê como resultado das investigações e persecuções penais
no mundo, nos leva a perceber, que, de acordo com a definição da
Organização das Nações Unidas (ONU), o caráter transnacional
está presente na maioria das organizações criminosas de maior
relevância. Possivelmente, contribui para esse dado o fato de
vivermos atualmente um modelo em que as iniciativas voltadas
para o controle e a regulação das circulações transfronteiriças
são mal vistas pela sociedade internacional, o que acaba criando
uma situação altamente favorável também para a criminalidade
transnacional. Soma-se a isso o fato de os Estados ainda
enfrentarem grandes dificuldades para se coordenar de maneira
ágil e efetiva nas investigações e persecuções penais.

Paralelamente à percepção de que as organizações


criminosas têm se utilizado, cada vez mais, de jurisdições diferentes da sua como uma forma
de dificultar a atuação das autoridades investigativas, outro dado chama a atenção, qual seja
aquele relativo ao poder econômico das organizações criminosas.

Um estudo realizado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC),
denominado A globalização do crime: uma avaliação sobre a ameaça do crime
organizado transnacional, de 2010, aponta dados elucidativos no que diz respeito ao lucro
gerado por algumas atividades criminosas:

• O tráfico de 140.000 pessoas para fins de exploração sexual gera o ingresso anual de
US$ 3 bilhões para seus exploradores na Europa.

• O tráfico de 2,5 a 3 milhões de migrantes da América Latina aos Estados Unidos gera

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anualmente US$ 6,6 bilhões.

• O mercado mundial de armas de fogo ilícitas gera entre US$ 170 e 320 milhões.

• O número de produtos falsificados detectados na fronteira europeia gera um valor


anual de mais de US$ 10 bilhões.

• Estima-se que o fluxo global de ativos originados de atividades criminosas seja de US$
1 a 1,6 trilhões por ano.

Como vimos nas unidades anteriores, a Convenção de Palermo, em seu artigo 2º,
esclarece que o “grupo criminoso organizado”, para ser considerado como tal, deve contar
com três ou mais pessoas, existir há algum tempo e atuar
concertadamente com o propósito de cometer uma ou
mais infrações graves, ou enunciadas na Convenção, com
a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício
econômico ou outro benefício material.

Reconhece-se, portanto, que toda organização


criminosa tem por fim primordial a obtenção de lucros, pois
são estes ativos que dão fôlego a sua atuação, permitindo que se perpetue no tempo e se
capilarize geográfica e institucionalmente.

A privação da liberdade de criminosos é medida importante, porém insuficiente no


enfrentamento à criminalidade organizada. Não por outra razão, o corte do fluxo financeiro
dessas organizações constitui o foco das políticas públicas mais modernas na área de segurança
pública, de forma a reduzir a lucratividade e impossibilitar a expansão do crime.

A necessidade de aumentarmos a compreensão, coordenação e cooperação com


outros países nasce da conjunção dos dois movimentos acima descritos. Em outras palavras,
a transnacionalização do crime, aliada à percepção de que o verdadeiro combate ao crime
organizado passa necessariamente por uma política focada no corte dos fluxos financeiros
ilícitos, transforma a cooperação jurídica em algo imprescindível para o próprio exercício das
funções soberanas dos Estados.

Atualmente, os paradigmas mudaram e a cooperação jurídica internacional deixou de ser


exclusivamente um ato de cortesia entre os Estados e, se antes podia ser vista como uma
ameaça à soberania, hoje se apresenta como essencial à própria manutenção. A garantia dos
direitos individuais, coletivos e difusos, a manutenção da segurança pública, o combate ao
crime organizado, a estabilidade do sistema econômico-financeiro, entre outros tantos temas,

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dependem cada vez mais da cooperação jurídica internacional.

Autoridade legitimada a solicitar cooperação jurídica internacional

Salvo exceções dispostas em tratado, os pedidos de cooperação jurídica internacional


podem ser realizados pelas autoridades que, de acordo com a legislação de seu país, podem
fazer pedido de mesma natureza internamente.

Normalmente, os tratados de que o Brasil é parte trazem alguma previsão sobre o tema.
A tendência verificada nos mais recentes define a autoridade competente como a “autoridade
que conduz a investigação, o inquérito, a ação penal, ou outro procedimento relacionado com
a solicitação” (artigo 4º do Tratado entre a República Federativa do Brasil e a República Popular
da China sobre Assistência Judiciária Mútua em Matéria Penal – Decreto n. 6.282/2008).
Cabe destacar também o Protocolo de Assistência Jurídica Mútua em Assuntos Penais do
MERCOSUL (Decreto n. 3.468/2000) - o qual prevê, em seu Artigo 4º, que “as solicitações
transmitidas por uma Autoridade Central com amparo no presente Protocolo se basearão em
pedidos de assistência de autoridades judiciais ou do Ministério Público do Estado requerente
encarregadas do julgamento ou investigação de delitos”.

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Da mesma forma, em diversos acordos bilaterais ratificados pelo Brasil, a legitimidade


ativa para elaborar pedidos de cooperação não está limitada a uma autoridade judiciária,
referindo-se nestes textos legais que “os pedidos transmitidos por uma Autoridade Central
de acordo com o presente Acordo basear-se-ão em pedidos de assistência de autoridades
competentes da Parte Requerente encarregadas do julgamento ou da investigação dos delitos”
(Artigo 4º do Acordo de Cooperação Judiciária e Assistência Mútua em Matéria Penal entre
Brasil e Colômbia – Decreto n. 3.895/2001).

Principais tratados de cooperação jurídica internacional em matéria penal

Uma solicitação de cooperação jurídica internacional poderá ser feita com base em:

I. acordos multilaterais;

II. acordos regionais ou bilaterais;

III. promessa de reciprocidade para casos análogos.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio do Departamento de


Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), tem empreendido
esforços para estabelecer novos acordos, reforçar os laços por meio da aproximação com
os países em que já existem, e promover junto ao Poder Judiciário, Ministério Público,
Polícias Judiciárias, entre outros órgãos, a divulgação da existência desses textos, bem
como o esclarecimento quanto ao modo de utilização.

Atualmente, estão em vigor no Brasil vários acordos multilaterais que disciplinam a


cooperação jurídica internacional em matéria penal, dentre os quais merecem destaque no
que se refe re à matéria penal:

• Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias


Psicotrópicas (Convenção de Viena 1988)

• Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Convenção


de Palermo ou UNTOC)

• Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado


Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial
Mulheres e Crianças

• Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado


Transnacional, relativo ao Combate ao Tráfico de Migrantes por via terrestre, marítima e aérea

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• Protocolo contra a Fabricação e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo,


suas Peças e Componentes e Munições, complementando a Convenção das
Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional

• Convenção das Nações


Unidas contra a Corrupção
(Convenção de Mérida ou
UNCAC)

• Convenção sobre o
Combate da Corrupção de
Funcionários Públicos
Estrangeiros em Transações
Comerciais Internacionais, da
OCDE

• Convenção de Auxílio
Judiciário em Matéria Penal entre
os Estados membros da
Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa – CPLP

• No plano regional, o Brasil


promulgou outros tantos
instrumentos que preveem a
cooperação jurídica
internacional em matéria penal.
Seguem alguns destaques:

• Convenção
Interamericana sobre
Assistência Mútua em Matéria
Penal (Convenção de Nassau)

• Convenção Interamericana contra a Corrupção (com reserva ao parágrafo


1º, inciso C, do artigo XI)

• Protocolo de Assistência Jurídica Mútua em Assuntos Penais - MERCOSUL


(Protocolo de San Luis)

• É interessante registrar que, atualmente, o Brasil mantém 18 (dezoito)


acordos bilaterais de auxílio mútuo em matéria penal, a saber:
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• Acordo de Cooperação Judicial em Matéria Penal entre o Governo da


República Federativa do Brasil e o Governo da República de Cuba, internalizado no
Brasil pelo Decreto nº 6.462, de 21 de maio de 2008

• Acordo de Cooperação e Auxílio Jurídico Mútuo em Matéria Penal entre


a República Federativa do Brasil e o Reino da Espanha, internalizado no Brasil pelo
Decreto nº 6.681, de 08 de dezembro de 2008.

• Acordo de Assistência Jurídica Mútua em Matéria Penal entre o Governo


da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China,
internalizado no Brasil pelo Decreto nº 6.282, de 03 de dezembro de 2007.

• Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal entre o


Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da
América, internalizado no Brasil pelo Decreto nº 3.810, de 02 de maio de 2001.

• Acordo de Cooperação Judiciária e Assistência Mútua em Matéria


Penal entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República
da Colômbia, internalizado no Brasil pelo Decreto nº 3.895, de 23 de agosto de
2001.

• Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Penal entre o


Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Francesa,
internalizado no Brasil pelo Decreto nº 3.324, de 30 de dezembro de 1999.

• Tratado sobre Cooperação Judiciária em Matéria Penal, entre a


República Federativa do Brasil e a República Italiana, Decreto nº 862, de 09 de
julho de 1993.

• Acordo de Assistência Jurídica em Matéria Penal entre o Governo


da República Federativa do Brasil e o Governo da República do Peru, internalizado
pelo Decreto nº 3.988, de 29 de outubro de 2001.

• Tratado entre a República Federativa do Brasil e a República da


Coréia sobre Assistência Jurídica Mútua em Matéria Penal, internalizado no Brasil
pelo Decreto nº 5.721, de 13 e março de 2006.

• Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal entre a


República Federativa do Brasil e a Ucrânia, internalizado no Brasil pelo Decreto
nº 5.984, de 12 de dezembro de 2006

• Tratado de Assistência Mútua em Matéria Penal entre o


Governo da República Federativa do Brasil e o Governo do Canadá,
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internalizado no Brasil pelo Decreto nº 6.747, de 22 de janeiro de 2009.

• Tratado de Cooperação Jurídica em Matéria Penal entre a


República Federativa do Brasil e a Confederação Suíça, internalizado no Brasil
pelo Decreto nº 6.974, de 07 de outubro de 2009.

• Tratado entre o Governo da República Federativa do Brasil e o


Governo da República do Suriname sobre Assistência Jurídica Mútua em
Matéria Penal, internalizado no Brasil pelo Decreto nº 6.832, de 29 de abril de
2009.

• Tratado entre o Governo da República Federativa do Brasil e o


Governo da República de Honduras sobre Auxílio Jurídico Mútuo em Matéria
Penal, internalizado no Brasil pelo Decreto nº 8.046, de 11 de julho de 2013;

• Acordo de Assistência Jurídica Internacional em Matéria Penal


entre a República Federativa do Brasil e os Estados Unidos Mexicanos,
internalizado no Brasil pelo Decreto nº 7.575, de 1º de novembro de 2011;

• Acordo de Assistência Jurídica Mútua em Matéria Penal entre o


Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Federal da
Nigéria, internalizado no Brasil pelo Decreto nº 7.582, de 13 de outubro de
2011;

• Acordo de Assistência Jurídica em Matéria Penal entre a


República Federativa do Brasil e a República do Panamá sobre Auxílio Jurídico
Mútuo em Matéria Penal, internalizado no Brasil pelo Decreto nº 7.596, de 1º
de novembro de 2011;

• Tratado de Assistência Jurídica Mútua em Matéria Penal entre o


Governo da República Federativa do Brasil e o Governo do Reino Unido da Grã-
Bretanha e Irlanda do Norte, internalizado no Brasil pelo Decreto nº 8.047, de
11 de julho de 2013

Em regra, os acordos bilaterais e regionais excluem a exigência da dupla incriminação


para cumprimento dos pedidos de cooperação, aplicando-se, desta maneira, para uma ampla
gama de crimes.

Conceitos e classificação

A cooperação jurídica internacional é o instituto por meio do qual se busca a realização


de determinada medida, pré-processual ou processual, em jurisdição diversa.

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É preciso explicar um detalhe importante: cooperação judiciária e cooperação jurídica


não são expressões sinônimas. A cooperação jurídica é mais ampla do que a cooperação
judiciária. Esta última se limita à cooperação no momento em que já há processo judicial,
excluindo, portanto, o momento pré-processual. A acepção mais ampla da cooperação
estaria traduzida na expressão “cooperação jurídica”.

Os instrumentos por meio dos quais se operacionaliza a cooperação jurídica internacional


são diversos e variam desde as ferramentas mais tradicionais como a extradição, homologação
de sentença e carta rogatória, até dispositivos mais modernos como o pedido de auxílio direto,
a transferência de pessoas condenadas e a transferência de processos penais.

A gama de medidas que podem ser requeridas por meio da cooperação jurídica
internacional é bastante ampla, abarcando a comunicação de atos processuais, como a citação
e intimação, a tomada de depoimentos ou declarações de pessoas, por meio de audiência
ou videoconferência, a busca de provas, por meio, por exemplo, da quebra de sigilo bancário,
fiscal ou telemático, a localização, identificação e indisponibilidade de bens, a realização de
perícias, pedidos de busca e apreensão, prisão de criminosos procurados, e outras.

Em relação à classificação, pode-se dizer, resumidamente, que a cooperação jurídica


internacional pode ser classificada da seguinte maneira: Quando o Estado brasileiro requer
a cooperação de um país estrangeiro, trata-se de cooperação ativa. Ao contrário, quando um
país estrangeiro solicita a cooperação do Brasil, diz-se que é cooperação passiva. O país que
demanda a cooperação é dito Estado requerente, enquanto o país que é demandado é dito
Estado requerido.

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Os mecanismos por meio dos quais se dá cumprimento aos pedidos passivos de


cooperação jurídica são a carta rogatória, o auxílio direto e o procedimento de extradição.
Estes mecanismos, que serão aprofundados a seguir, são definidos pela lei processual de
cada país. Por esse motivo, os instrumentos de cooperação e os respectivos procedimentos
adotados pelo direito brasileiro não coincidirão necessariamente com aqueles adotados
pelas leis de outro Estado.

É importante destacar que, no cumprimento do pedido de cooperação passivo, as


autoridades nacionais não devem levar em conta o título dado ao documento pela autoridade
estrangeira. A classificação do mecanismo de cooperação jurídica deve se dar com base no
conteúdo do pedido, de acordo com os critérios adotados pela legislação e pela jurisprudência
brasileiras.

A carta rogatória e o auxílio direto como mecanismos de cooperação

Conforme prescrito no novo Código de Processo Civil e no Regimento Interno do STJ


(art.216-O), a carta rogatória é o mecanismo de cooperação jurídica internacional voltado à
execução no Brasil de atos jurisdicionais estrangeiros não decisórios e atos decisórios não
definitivos. Por meio da carta rogatória, a autoridade requerente estrangeira solicita ao Brasil
que execute ato jurisdicional já proferido, de modo que não cabe às autoridades brasileiras
exercer qualquer cognição de mérito sobre o bem da vida posto em julgamento no exterior.

Nesse sentido, a carta rogatória na cooperação em matéria penal possui como objetos
possíveis pedidos de comunicação de atos processuais (citações, intimações e notificações), de
obtenção de provas e de medidas assecuratórias. Essa é a melhor compreensão da carta
rogatória recebida no Brasil, a chamada carta rogatória passiva.

Recentemente, todavia, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) posicionou-se no sentido de


afastar daquele instrumento atos meramente ordinatórios, despachos de mero expediente
proferidos pelo judiciário estrangeiro e que, portanto, são incapazes de confrontar quaisquer
das questões que compõem o juízo delibatório. Desse modo, não deve constituir objeto de
carta rogatória ato jurisdicional qualquer que não represente uma decisão. Não só a teoria
tradicional (TENÓRIO, 1976), mas também a contemporânea, ainda hoje afirma ser este objeto
possível do mecanismo. (ARAÚJO, 2010).

Parece-nos, contudo, que o aprimoramento do Direito Processual Internacional


brasileiro, especialmente a releitura que a noção de ordem pública vem merecendo, acaba por
retirar deste mecanismo objetos que por definição não podem jamais ferir aquele conjunto

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de princípios fundamentais que se protege na delibação. É justamente o que ocorre com


pedidos de intimação ou notificação, pois qualquer grave discrepância entre o procedimento
ou o direito material em disputa no exterior e o ordenamento jurídico nacional pode objetar
a execução de sentença ou qualquer outra decisão estrangeira no Brasil, mas jamais a simples
intimação para que alguém tome conhecimento de certo ato processual praticado lá fora.

No mais, as outras questões que formam o juízo de delibação parecem não incidir na
hipótese. Não nos surge circunstância em que se pode aferir competência do juízo rogante,
possibilidade de contraditório prévio e ausência de coisa julgada em face de simples despachos
de mero expediente. Embora ainda pareça ser pensamento minoritário, a restrição da carta
rogatória ao cumprimento no Brasil de decisões proferidas no exterior já encontra respaldo
teórico nacional. (ZAVASCKI, 2010).

Cabe reafirmar que a atual regulamentação interna sobre cartas rogatórias no Brasil
reconhece a possibilidade de utilização do mecanismo também para atos não decisórios. No
caso da carta rogatória ativa, ou seja, daquela que veicula pedido de cooperação enviado do
Brasil ao exterior, o sistema de recepção de atos jurisdicionais estrangeiros adotados no país
destinatário é que deve determinar o conteúdo possível do instrumento.

O cumprimento das cartas rogatórias passivas no Brasil, por força do já citado dispositivo
constitucional, depende da concessão de exequatur (em origem latina, que ao pé da letra
significa “execute-se”, “cumpra-se”. O termo é utilizado no Direito Internacional Brasileiro para
representar um documento autorizador de um Estado para executar as funções de um cônsul.)
pelo Superior Tribunal de Justiça. Para tanto, deve o STJ exercer sobre o conteúdo daquele
instrumento o chamado juízo de delibação.

Juízo de delibação

Tradicionalmente, a decisão judicial vê sua execução limitada à jurisdição onde foi


proferida. Cada Estado diz quando e como seus juízes, detentores
de parcela da função jurisdicional, podem proferir mandamentos
como tais, mas jamais podem dizer quando e como tais
mandamentos são também decisões judiciais no exterior. Ao
Estado não é dado pretender ver seu julgado significar mais do
que um fato em outra soberania. A ordem jurídica estrangeira
pode, contudo, atribuir efeito diverso àquela decisão.

Atribui-se a tratados concluídos entre Veneza e outras


cidades, no século XIII e XIV, o pioneirismo na formulação de dispositivos relativos à execução

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de atos jurisdicionais estrangeiros. Atualmente, quase todos os países admitem a produção de


efeitos jurídicos aos mandamentos judiciais estrangeiros, seja por meio de uma nova ação de
conhecimento, seja por meio de um processo de exequatur. A eficácia de atos jurisdicionais
estrangeiros representa algo que, por manifestar respeito ao direito adquirido, contribui para
a estabilidade das relações individuais ao redor do mundo e continuidade do exercício da
jurisdição por um Estado no território de outro. (SPERL, 1931).

Com relação especificamente aos diversos modelos possíveis de recepção de atos


jurisdicionais estrangeiros nos diversos ordenamentos, são vários os critérios que podem
ser considerados para classificá-los. Por consequência, varia muito a classificação adotada
em teoria. Para este estudo separamos uma parcela considerável da teoria que indica dois
sistemas possíveis, actio judicati e exequatur, sendo este último subdividido em exequatur por
revisão de mérito e exequatur por delibação.

O sistema de actio judicati, comum nos países de common law, é aquele em que não se
reconhece a decisão estrangeira como tal, mas como prova para que o beneficiado pelo ato
jurisdicional proponha nova ação naquele país. Desse modo, advoga em favor do interessado
uma presunção de que possui aquele direito, algo reversível somente se o réu bem exerce o
ônus da prova, que passa a ser seu. O sistema de exequatur, por sua vez, seria aquele em que o
ato jurisdicional é recepcionado como tal, de maneira a produzir efeitos em sua integralidade,
sem que novo mandamento seja produzido no Estado onde se pretende executá-lo.

Ocorre que no sistema de exequatur a produção de efeitos do ato estrangeiro,


embora tenda a ser integral, jamais é automática. Determinada análise sempre condiciona o
reconhecimento e a execução. Quanto aos meios para concessão do exequatur, a teoria indica
subdivisões também de forma distinta. Aqui será considerada a profundidade de análise da
decisão estrangeira, para subdividi-lo em sistema de exequatur por revisão do mérito e sistema
de exequatur por delibação. Compreende-se o sistema de exequatur por revisão de mérito
como aquele em que a decisão estrangeira produz efeitos desde que observada a aplicação
da lei do Estado em cujo território a sentença irá produzir efeitos, o que se dá após ampla
revisão da causa. Já o sistema de exequatur por delibação seria aquele em que a observância
da ordem pública e alguns outros requisitos é suficiente para a execução. (MOREIRA, 2005).

Sistema europeu

Esse sistema se presta essencialmente para possibilitar a interposição, em processos


internos, de exceções processuais de conexão, litispendência e coisa julgada, em razão de
processos findos ou em curso no exterior. Nesses casos, silente a parte contrária à exceção, dá-
se o reconhecimento automático. Se há impugnação, inicia-se processo de reconhecimento

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incidental, no qual cognição delibatória é exercida pelo juízo competente para julgar o processo
interno principal, assim como ocorre com qualquer outra questão incidental puramente
nacional (SILVA, 2004).

O sistema restringe-se, contudo, ao reconhecimento. Para a execução de decisão


estrangeira é sempre necessário um processo de homologação principal, mais simples do que o
tradicional sistema de exequatur por delibação, mas também sujeito àquela cognição. Registre-
se que, de acordo com o regulamento europeu, o processo de homologação principal também
se aplica a um caso específico de reconhecimento sem execução: quando o favorecido pela
decisão busca sanar dúvida quanto à existência do direito declarado no exterior – delibação
declaratória, portanto, e não executória.

Deixando-se à parte o peculiar sistema comunitário europeu, os três sistemas


internacionais informam que a produção de efeitos de decisões judiciais estrangeiras jamais é
admitida sem análise de certos requisitos. Quando nova ação de conhecimento é necessária,
tais requisitos são parte de um juízo muito mais amplo, que alcança o julgamento do próprio
mérito da demanda. Quando se depende de um processo de exequatur, os requisitos formam
o que é necessário para que se profira a ordem de execução.

Exequatur por delibação

A despeito de qual seja a classificação considerada, é pacífica a ideia de que o sistema


de exequatur por delibação é o mais disseminado no mundo (MOREIRA, 2005). Embora as
discussões em torno dos sistemas de recepção de atos jurisdicionais estrangeiros considerem
majoritariamente as sentenças, não difere de modo considerável o juízo de delibação realizado
na ação de homologação de sentença estrangeira daquele que precede a execução de cartas
rogatórias. Tanto um quanto outro é baseado em ato de natureza jurisdicional prolatado
no Estado requerente e que se quer fazer cumprir em outra jurisdição. Não cabe ao Estado

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requerido prolatar qualquer decisão de mérito relativa ao litígio noticiado por um desses
instrumentos. Não cabe a ele, igualmente, exercer qualquer juízo de mérito sobre a matéria de
fundo do ato jurisdicional levado ao seu conhecimento. Cabe apenas aferir os requisitos que
permitem a ele declarar aquele ato executável ou não em seu território. (MADRUGA FILHO,
2005).

Nesse sentido, o sistema de exequatur por delibação acaba por englobar as duas espécies
de confirmação necessárias para a execução de atos estrangeiros, ou seja, o exequatur
propriamente dito, fundamento da execução de decisões estrangeiras não definitivas (por carta
rogatória), e a homologação, fundamento da execução de sentenças proferidas no exterior (por
ação própria). Ambas as espécies são produtos do juízo de delibação e estão sujeitas a
diversos requisitos – as questões da delibação.

De acordo com o sistema de exequatur por delibação, o Estado requerido, embora


aprecie questões de mérito para decidir sobre a confirmação do ato, não entra na apreciação
da questão de fundo posta em juízo, do mérito do julgado. Daí porque, inclusive, assim é
chamado o modo tradicional de cognição do Direito Processual Internacional brasileiro.

Isso nos permite afirmar que há no juízo delibatório uma apreciação material do ato
estrangeiro, ainda que mínima, restrita à aferição de eventual ofensa à ordem pública do
Estado requerido. Não desconhecemos afirmação comum em doutrina de que no juízo de
delibação não se aprecia o mérito da decisão estrangeira. Parece-nos, contudo, que a afirmação
representa, em verdade, ausência de apreciação do mérito sobre o bem da vida posto em
julgamento, não sobre todo o julgado.

Questões de delibação

De acordo com o sistema de exequatur por delibação, adotado no Brasil, a recepção


do ato jurídico estrangeiro depende apenas da observância de certas garantias processuais
e da não interferência do ato em princípios gerais considerados essenciais no ordenamento
jurídico. De qualquer modo, ainda que fixado tal pressuposto, a teoria mostra-se divergente ao
tentar elencar os elementos que compõem a cognição delibatória. Parece-nos mais acertada a
classificação que despreza elementos formais, para indicar quatro elementos apenas:
competência internacional do juízo; possibilidade de contraditório prévio; ausência de coisa
julgada; e não ofensa à ordem pública.

O conteúdo do conceito jurídico indeterminado ordem pública é tão incerto que


merece tratados próprios só para disso cuidar. Quando se fala em ordem pública no Direito
Internacional Privado surge logo a ideia de algo que impõe um limite, um obstáculo à aplicação

Curso de Alinhamento Conceitual do PNLD


19

do direito estrangeiro. De fato, a regra de que todo Estado, em certas circunstâncias, permite a
aplicação do direito estrangeiro em litígio que tem lugar em seu território encontra exceção
justamente quando essa aplicação representa ofensa à sua ordem pública.

É extremamente difícil conceituar ordem pública. As linhas gerais do instituto são


conhecidas, mas precisar seu âmbito de incidência é tarefa árdua. Em tese, a ordem pública
é algo que se afere com base na formação profissional e pessoal dos aplicadores da norma
jurídica, a partir de um conjunto de princípios que compõem o alicerce sócio-político-jurídico
de uma sociedade. Não é com base em ilações que se afere o conteúdo do instituto. Sua
compreensão não pode estar focada em avaliação abstrata.

Consequência dessa compreensão é a ideia de que a ordem pública não pode mesmo ter
seu conteúdo fixado em qualquer norma escrita, ainda que de ordem constitucional. A
variabilidade do conteúdo da ordem pública impõe aos ordenamentos jurídicos a adoção de
uma cláusula aberta, a ser preenchida em cada momento histórico, por cada magistrado, caso a
caso. Não é por outro motivo que os legisladores se esquivam da tarefa de definir o conteúdo do
instituto. A prudência e a preservação de vigência das normas jurídicas assim recomendam.

Para definir concretamente o conteúdo da ordem pública, cabe ao magistrado revelar


não uma percepção individual sobre o que pensa quanto ao conceito naquele dado momento
histórico, mas uma interpretação que traduza o entendimento médio do povo sobre a relação
entre ordem pública e a específica lei ou decisão estrangeira que se pretende cumprir no
território brasileiro.

Postos tais fundamentos, será adotada aqui a noção de ordem pública como o conjunto
de concepções essenciais do foro (VALLADÃO, p. 496) fundadas nos conceitos de justiça, moral,
religião, economia e política que orientam o ordenamento para a formação de seus princípios
e garantias fundamentais.

A Extradição como medida de cooperação

Entre os mecanismos existentes de cooperação jurídica internacional em matéria


penal, o instituto da extradição mostra-se como uma ferramenta bem eficaz, haja vista ser
um ato pelo qual um Estado entrega um indivíduo acusado de fato delituoso ou já
condenado como criminoso, à justiça de outro Estado, competente para julgá-lo e puni-lo. A
extradição é, seguramente, o principal mecanismo da chamada cooperação internacional na
repressão penal, fazendo com que as fronteiras políticas do Estado não funcionem como
fator de impunidade e de não-reparação da lesão perpetrada no locus commissi delicti.
(GUEIROS, 2013)

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20

O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI),


após o Decreto n° 8.668, de 11 de fevereiro de 2016, passou a exercer a função de
autoridade central para o trâmite dos pedidos de cooperação jurídica internacional, inclusive
em assuntos de extradição, de transferências de pessoas condenadas e de execução de penas,
coordenando, opinando e instruindo os pedidos ativos e passivos.

Os procedimentos a serem adotados em relação aos pedidos de extradição, bem como à


prisão para fins de extradição estão estabelecidos na Portaria nº 522, de 03 de maio de
2016, do Ministério da Justiça.

Princípios da extradição

O Princípio da Especialidade dispõe que o extraditando não poderá ser processado


e/ou julgado por crimes que não embasaram o pedido de cooperação e que tenham sido
cometidos antes de sua extradição, podendo o Estado requerente solicitar ao Estado
requerido a extensão ou ampliação da extradição ou extradição supletiva.

Outro princípio basilar da extradição é o da Dupla Tipicidade, também conhecido como


Princípio da Identidade ou da Dupla Incriminação do Fato ou Incriminação Recíproca. Sob a
égide deste, impõe-se que somente seja concedida uma extradição para um fato típico e
antijurídico, assim considerado tanto no país requerente quanto no requerido.

Outro princípio a ser observado é o do Non Bis In Idem, por meio do qual não será
concedida a extradição quando já existir sentença transitada em julgado pelo mesmo fato
em que se baseia o pedido de extradição. Destaque-se, aqui, o termo “fato”, já que poderá ser
solicitada a extradição de um indivíduo por um determinado crime em relação ao qual já tenha
sido condenado, mas não em relação ao mesmo fato delitivo.

Classificações

A extradição pode ser classificada em:


1.Instrutória

O indivíduo será entregue ao país requerente para responder a processos-crime.


2.Executória

O indivíduo será entregue ao país requerente para cumprimento de pena.


3.Voluntária

O indivíduo reclamado concorda em ser entregue de imediato ao Estado requerente,


após informado sobre todos os seus direitos e assistido juridicamente, sem prejuízo da análise
legal da autoridade competente sobre o caso.

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21
Espécies

1.Ativa

No Brasil, a extradição é ativa quando o Governo brasileiro solicita a entrega de uma


pessoa procurada pela Justiça brasileira a outro país, para fins de julgamento ou cumprimento
de pena.

2.Passiva

É considerada passiva quando a pessoa objeto de processo penal em outro país


encontra-se no Brasil e o Estado estrangeiro requer sua entrega para instrução de processo
penal ou execução de sentença, ainda que não transitada em julgado.

Procedimentos dos pedidos de extradição ativa:

Havendo notícia da localização, no exterior, de procurado da Justiça brasileira, o Poder


Judiciário brasileiro encaminhará o pedido formal de extradição, acompanhado dos
documentos formalizadores, ao DRCI, que analisará a admissibilidade do pleito, a fim de
verificar se o pedido está de acordo com o estabelecido no Acordo e/ou legislação interna.

Estando em conformidade com o Acordo e/ou legislação interna, o pedido de extradição


será encaminhado ao outro país, através do Ministério das Relações Exteriores, ou
diretamente pela Autoridade Central do respectivo país, quando permitido em Acordo.

Antes da formalização do pedido de extradição, poderá o Poder Judiciário solicitar a


prisão preventiva para fins de extradição do procurado, visando evitar sua eventual fuga.
Para tanto, o pedido deverá ser acompanhado dos documentos previstos na legislação
respectiva. Havendo a efetivação da prisão do extraditando, o Brasil será notificado a
apresentar os documentos justificativos e formalizadores da extradição no prazo estipulado
no Acordo ou, na falta deste, conforme legislação interna do Estado requerido, sob pena de
concessão de liberdade à pessoa requerida. Uma vez em liberdade, novo pedido de prisão
preventiva só será aceito por ocasião do encaminhamento de todos os documentos
necessários à análise e decisão do pedido de extradição.

Sendo deferido o pedido de extradição, o Estado requerido comunicará a decisão ao


Brasil, com urgência, para que as autoridades brasileiras retirem o extraditando do território
estrangeiro no prazo previsto no Acordo, ou na data estipulada pela legislação interna do
país requerido.

A entrega do extraditando poderá ser diferida se este estiver sujeito a processo criminal,
ou estiver cumprindo pena por crime cometido no território do Estado requerido. Quando o
extraditando estiver apto a ser entregue, o Estado requerido comunicará ao Brasil para sua
retirado no prazo estipulado.
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22
Se denegado o pedido de extradição, total ou parcialmente, os fundamentos do
indeferimento deverão ser comunicados imediatamente ao Brasil e novo pedido não poderá
ser apresentado ao Estado requerido embasado nos mesmos fatos imputados ao extraditando.

Procedimentos dos pedidos de extradição passiva:

Sobre o pedido de prisão preventiva para fins de extradição e deferimento do pedido


formal de extradição, segue-se a mesma regra em relação à extradição ativa e conforme
estabelecido na Lei 6.815/80 e Portaria nº 522/2016.

O pedido de extradição passiva será apresentado pelo Estado requerente,


diretamente, ou pela via diplomática, ao DRCI, que, após análise de admissibilidade do
pleito, o transmitirá ao Supremo Tribunal Federal. Essa Corte realiza o controle da legalidade
do pedido, verificando, por exemplo, se o fato imputado ao extraditando é punível na
legislação de ambos Estados, se já era tipificado anteriormente a seu cometimento, se já foi
extinta a punibilidade do delito praticado em qualquer dos Estados – requerente e requerido
–, e se o crime é ou não de natureza política ou militar.

No controle da legalidade, é verificado se a pessoa estará sujeita a uma pena inexistente


ou não admitida no Brasil, sendo que, ainda assim, a extradição poderá ser deferida, ficando
apenas condicionada a entrega à apresentação pelo Estado requerente, a depender do caso,
de compromissos formais contidos no artigo 91, da Lei 6.815/801 e o compromisso de não
impor, quanto ao delito ou a todos os delitos, pena privativa de liberdade que, em seu
cômputo global, ultrapasse o limite de 30 (trinta) anos de prisão, admitido pela legislação
brasileira.

Da decisão do Supremo Tribunal Federal não cabe recurso, apenas embargos de


declaração quando se verificar omissão, obscuridade ou contradição.

Sobre o pedido de prisão preventiva para fins de extradição e deferimento do pedido


formal de extradição, segue-se a mesma regra em relação à extradição ativa e conforme
estabelecido na Lei 6.815/80 e Portaria nº 522/2016.

Sendo deferida a extradição pelo STF e autorizada pelo Ministério da Justiça, o país
requerente terá um prazo, fixado em Acordo, se houver, ou na Lei 6.815/80 (Estatuto do
Estrangeiro), para retirar o indivíduo do território nacional, caso contrário, o indivíduo

1
Art. 91. Não será efetivada a entrega sem que o Estado requerente assuma o compromisso: (Renumerado pela Lei nº 6.964,
de 09/12/81)
I - de não ser o extraditando preso nem processado por fatos anteriores ao pedido;
II - de computar o tempo de prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição;
III - de comutar em pena privativa de liberdade a pena corporal ou de morte, ressalvados, quanto à última, os casos em que
a lei brasileira permitir a sua aplicação;
IV - de não ser o extraditando entregue, sem consentimento do Brasil, a outro Estado que o reclame; e
V - de não considerar qualquer motivo político, para agravar a pena.

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23
deverá ser colocado em liberdade pelo Governo brasileiro.

Caso o extraditando também possua pendências criminais no Brasil, a sua entrega ao


Estado requerente ficará diferida até a conclusão do processo ou do cumprimento da pena.
Entretanto, deve-se observar o disposto no artigo 67, da Lei 6.815/80 (Estatuto do
estrangeiro), que dispõe que: “desde que conveniente ao interesse nacional, a expulsão do
estrangeiro poderá efetivar-se, ainda que haja processo ou tenha ocorrido condenação”.
Sendo assim, o Ministério da Justiça poderá, excepcionalmente, entregar o estrangeiro ao
país requerente independentemente do processo em curso ou do cumprimento da pena já
imposta, podendo ser submetido simultaneamente à extradição e à expulsão.

Documentos Justificativos e formalizadores dos pedidos de extradição:

Os documentos necessários à instrução do pedido de extradição podem variar conforme


o Acordo ou, ainda, segundo a legislação interna do país requerido, sendo geralmente os
seguintes:

1.Pedido formal de extradição;


2.Cópia do mandado de prisão;
3.Cópia dos textos legais aplicáveis ao crime, à pena, e à prescrição;
4.Informações necessárias à identificação do indivíduo.
5.Sentença condenatória, se houver;
6.Cálculo da pena, se houver;
7.Indícios de que a pessoa procurada esteja no país requerido.

Salvo disposição diversa em Acordo, os documentos devem estar sempre acompanhados


da respectiva tradução para o idioma do país requerido.

Para pedido de prisão preventiva para fins de extradição, os documentos geralmente


exigidos são:

1.Pedido de prisão preventiva indicando que a pessoa procurada responde a processo


ou é condenada por sentença judicial;
2.Data e os atos que motivem o pedido, bem como o tempo e o local de sua
ocorrência;
3.Dados que permitam a identificação da pessoa cuja prisão se requer;
4.Constar do pedido a intenção de se proceder a um pedido formal de extradição.

Base legal:

Atualmente, a base legal que rege o procedimento extradicional no Brasil é composta


pela Lei 6.815 de 19 de agosto de 1980, mais conhecida como o Estatuto do Estrangeiro, o
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal em seus artigos 207 a 214, a Portaria 522
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24
de 23 de maio de 2016 do Ministério da Justiça 2, além de 28 acordos internacionais
bilaterais e 6 multilaterais, já internalizados no ordenamento jurídico brasileiro por meio de
seus respectivos Decretos3.. Na ausência de acordo internacional, o princípio da
reciprocidade é utilizado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS

SOUZA, Artur de Brito Gueiros. As novas tendências do direito extradicional – 2.ed. rev.
– Rio de Janeiro: Renovar, 2013.
BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça (SNJ) Manual de extradição. Brasília:Secretaria
Nacional de Justiça.

2
http://justica.gov.br/sua-protecao/lavagem-de-dinheiro/institucional-2/legislacao/portaria-no-522-de-3-de-
maio-de-2016
3
http://justica.gov.br/sua-protecao/cooperacao-internacional/extradicao/acordos-de-extradicao-1/acordos-de-
extradicao
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25

Lição 12
Procedimento da carta rogatória
passiva
Ao final desta lição, você deverá ser capaz de:

• Identificar a carta rogatória e o auxílio direto como mecanismos de


cooperação.

• Conhecer e apontar a autoridade central brasileira.

• Identificar as funções da autoridade central.

A carta rogatória se concretiza em documento oficial que serve de veículo a um pedido


de cooperação. Esse veículo é aproveitado em todas as instâncias responsáveis por sua
execução, sejam elas estrangeiras ou nacionais. Na prática, o mesmo documento assinado
pelo juiz rogante de Estocolmo, por exemplo, é aquele que chegará, após análise e seguimento
pelas diversas autoridades competentes, ao juiz federal em Maceió, competente para sua
execução nesse hipotético caso. Cuida-se, portanto, de pedido de cooperação que se origina no
exterior, no bojo do processo principal em curso no Estado requerente, para chegar ao Brasil,
ser executado e retornar ao país de origem, tudo em um só procedimento. A carta rogatória
representa, assim, pedido de cooperação do juiz estrangeiro ou internacional competente,
mas também do Estado ou organismo ao qual ele está subordinado.

A tramitação das cartas rogatórias em matéria penal que chegam ao Brasil é descrita no
artigo 783 do Código de Processo Penal, segundo o qual as “as cartas rogatórias serão, pelo
respectivo juiz, remetidas ao Ministro da Justiça, a fim de ser pedido seu cumprimento, por via
diplomática, às autoridades estrangeiras competentes”.

Requisitos da carta rogatória ativa

Os requisitos da carta rogatória ativa estão presentes no artigo 260 e 261 do Código de Processo

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21

Civil, que se aplica às cartas rogatórias em matéria penal por ausência de norma processual
específica em sentido contrário, e na Portaria Interministerial MJ-MRE n. 501/2012.

Basicamente, a carta rogatória lavrada por juiz nacional deve conter os seguintes
elementos: a) indicação do juízo rogante e do país em que se encontra o juízo rogado; b) o
inteiro teor da petição sobre o qual se fundamenta a diligência
rogada, se houver; c) despacho judicial que determina a
lavratura da carta; d) instrumento de procuração conferido
ao advogado da parte interessada no cumprimento da carta;
e) descrição do ato processual que lhe constitui o objeto,
inclusive com os elementos necessários ao seu cumprimento
(como o endereço da pessoa a ser intimada, por exemplo);
f) indicação de que o interessado é beneficiário de justiça
gratuita ou, se não for o caso, de responsável pelo pagamento
das custas de execução da carta no Estado requerido, salvo se tratado vigente entre o Brasil e o
Estado requerido isentar a cooperação de custas; g) designação de audiência com antecedência
mínima de 240 (duzentos e quarenta dias), a contar da expedição da carta pelo juízo rogante,
se for o caso; e h) encerramento com assinatura do juiz. O juiz poderá também juntar à carta
qualquer outro documento que entenda relevante para sua execução.

Toda a documentação deve ser enviada em duas vias em português, uma original e uma
cópia, além de duas vias no idioma do Estado requerido, produzidas por tradutor juramentado,
salvo se tratado vigente entre o Brasil e o Estado requerido dispensar tal requisito.

O conjunto de documentos que forma a carta rogatória deve ser enviada pelo juízo
rogante para o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional
do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que por sua vez se comunicará diretamente
com sua contraparte estrangeira ou enviará o pedido ao nosso Ministério de Relações
Exteriores, nas hipóteses de, respectivamente, haver e não haver tratado que permita tal
comunicação direta.

Auxílio direto

O auxílio direto diferencia-se da carta rogatória porque nele as autoridades brasileiras


não proferem exequatur ou homologam ato jurisdicional estrangeiro. Não há exercício do
juízo de delibação neste instrumento. Não existe delibação simplesmente porque não há ato
jurisdicional a ser delibado. Quando solicita o auxílio direto, o Estado abre mão do poder de
dizer o direito sobre determinado objeto de cognição para transferir às autoridades brasileiras
essa tarefa. Não se pede, portanto, que se execute uma decisão sua, mas que se profira ato
jurisdicional referente a uma determinada questão de mérito que advém de litígio em curso

Curso de Alinhamento Conceitual do PNLD


22

no seu território (DIPP, 2007) ou mesmo que se obtenha ato administrativo a colaborar com
o exercício de sua jurisdição. Não há, por consequência, o exercício de jurisdição pelos dois
Estados envolvidos, mas apenas pelo Estado ao qual se solicita a cooperação.

Desse modo, no caso do pedido de auxílio direto, cabe às autoridades brasileiras


competentes adotar todas as medidas necessárias para que seja proferido o ato nos moldes
solicitados pelo Estado requerente. Nesse sentido, pode-se realizar cooperação por auxílio
direto com base em tratado que tenha como parte o Estado requerente ou mesmo com base
em reciprocidade.

A posição reside no fato de que já se verifica no ordenamento bases para sua utilização
nas relações de cooperação com qualquer país, mesmo que com ele não haja tratado que o
preveja. Parece-nos impossível executar pedidos de cooperação que não tenham conteúdo a
ser delibado por carta rogatória ou qualquer outro mecanismo de cooperação diverso do
auxílio direto.

Desse modo, ao estabelecer compromisso de cooperação com outra soberania, ainda


que por reciprocidade, não resta outra saída ao Estado brasileiro que não seja lançar mão desse
mecanismo. Tal constatação, ademais, não encontra qualquer óbice no sistema processual
brasileiro, pois o auxílio direto não se consubstancia em novo instrumento processual, para o
qual seria mesmo necessário um desenho normativo. Trata-se simplesmente da utilização de
incidentes processuais e ações judiciais já existentes no ordenamento
para atender a interesses de outra jurisdição. Assim, se os pedidos de
cooperação sem conteúdo a ser delibado devem ser executados por
auxílio direto, não se distingue as situações em que tal pedido é ou
não baseado em tratado. Essa é a essência do instituto e, tendo em
conta sua compatibilidade com a Constituição, pouco importa qual o
fundamento das relações de cooperação com o Estado requerente.

Podem ser objeto de auxílio direto a comunicação de atos


processuais (citações, intimações e notificações), a obtenção de
provas, de medidas assecuratórias e a recuperação de ativos. Este
último, a propósito, apresenta-se como objetivo primordial da cooperação jurídica internacional
em matéria penal nos últimos anos.

Neste ponto, cabe resgatar advertência já feita ao início. A distinção entre os mecanismos
de cooperação jurídica internacional encontrada no Brasil não necessariamente se reproduz
em outros países. É preciso observar o Direito Processual Internacional de cada Estado para
compreender como os pedidos de cooperação enviados a eles são executados. Não se trata de

Curso de Alinhamento Conceitual do PNLD


22

algo tão distinto do que ocorre usualmente com os institutos processuais de direito interno.
Nesse sentido, no caso da cooperação ativa, a distinção entre carta rogatória e auxílio direto
pode guardar variáveis a depender do Estado ao qual enviamos nossos pedidos de cooperação.
O termo auxílio direto, a propósito, não deriva de expressões estrangeiras semelhantes,
tampouco origina traduções diretas em direito comparado. Por isso é que o uso da expressão
auxílio direto ativo, presente neste trabalho, deve ser sempre relativizada, já que na maioria
das vezes não se sabe precismente como tal pedido de cooperação é intitulado no Estado
requerido.

Feita a advertência, deve-se reconhecer que tal instituto descende claramente da forma
como se executa os pedidos de cooperação penal baseados nos Mutual Legal Assistance Treaties
(MLATs). Os MLATs são tratados bilaterais de cooperação em matéria penal desenvolvidos a
partir da expansão da política de cooperação nessa matéria promovida pelos Estados Unidos,
o que justifica o fato de se encontrar em tais instrumentos reprodução majoritária da forma
como aquele país executa os pedidos de cooperação que recebe do exterior.

O instituto possui, ademais, reprodução em tratados multilaterais que regem a


cooperação em matéria penal para certos temas do combate ao crime transnacional, conforme
será mais bem analisado adiante.

Constitucionalidade

Toda a construção normativa em torno do auxílio direto tem como pano de fundo a
permissão constitucional para que se adote no Brasil mecanismo de cooperação diverso da
carta rogatória e da ação de homologação de sentença estrangeira. De fato, ao estipular a
competência do STJ para conceder exequatur às cartas rogatórias e homologar sentenças
estrangeiras, o texto constitucional não determina que todo e qualquer pedido de cooperação
endereçado ao Brasil seja entendido como um daqueles mecanismos clássicos. Significa apenas
que, quando se tratar de carta rogatória ou ação de homologação de sentença estrangeira,
concentra-se o juízo de delibação no STJ. Assim é que se mostra plenamente constitucional
a adoção de mecanismo de cooperação com objeto completamente distinto do que viabiliza
aqueles outros dois instrumentos.

É certo, porém, que nem sempre foi essa a compreensão jurisprudencial. O STF
em algumas oportunidades já se manifestou pela inconstitucionalidade do auxílio direto,
por representar ele suposta usurpação de competência do STJ. A mesma Suprema Corte,
no entanto, por diversas vezes reconheceu a constitucionalidade do mecanismo, o que
revela absoluta falta de padronização na forma de compreendê-lo. O STJ, por sua vez,
especialmente após adquirir a competência para o exercício do juízo de delibação, reconhece

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23

majoritariamente plena compatibilidade do auxílio direto com a Constituição. Não obstante,


talvez influenciado por algumas decisões contrárias da Suprema Corte, o STJ já se pronunciou
pela inconstitucionalidade do novo mecanismo. Essa rápida análise da compreensão do auxílio
direto na jurisprudência revela, portanto, que sua constitucionalidade, embora tenha sido
objeto de considerável divergência, tem cada vez mais se tornado assente nos tribunais.

É possível encontrar referências ao auxílio direto, explícitas ou não, em diversos


instrumentos que compõem o ordenamento. O Direito brasileiro incorpora o mecanismo por
meio de previsões de ordem convencional, legal e infralegal.

Previsão convencional

Não há presença clara do mecanismo nos diversos tratados de cooperação de que o


Brasil é parte. Isso se dá principalmente porque a expressão auxílio direto, não obstante
encontre inspiração em mecanismos similares estrangeiros, intitula apenas o mecanismo
de cooperação brasileiro. Assim, ao contrário da carta rogatória, que possui tradução direta em
diversos outros ordenamentos e presença literal nos acordos de cooperação, o auxílio direto
resulta reflexamente das hipóteses de aplicação dos acordos que não se subordinam à carta
rogatória. Isso não significa que no próprio corpo do tratado não seja possível encontrar
referência ao instrumento.

De modo indireto os tratados de cooperação, especialmente


os bilaterais, costumam anunciar a possibilidade de manuseio do
mecanismo. É o que se tem, por exemplo, quando os acordos bilaterais
de cooperação penal anunciam os legitimados ativos a dele lançar mão.
Nesse sentido, dispõe o acordo bilateral de cooperação penal entre
Brasil e Colômbia que podem solicitar cooperação por meio dele “as
autoridades competentes da parte requerente encarregadas do
julgamento ou da investigação de delitos” (artigo IV).

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24

Outros tratados, por sua vez, anunciam o auxílio direto não a partir dos legitimados
ativos, mas a partir dos objetos possíveis da cooperação. É a hipótese em que se insere a
Convenção de Palermo contra o crime organizado transnacional, ao estipular, quanto à
cooperação para confisco de ativos, que esta se presta tanto a executar decisões proferidas
pelo Estado requerente (artigo 13, 1, b), quanto para “submeter o pedido às suas autoridades
competentes, a fim de obter uma ordem de confisco e, se essa ordem for emitida, executá-la”
(artigo 13, 1, a). Assim ocorre também no texto da Convenção de Viena contra o tráfico ilícito
de entorpecentes, que prescreve a obrigação dos países de cooperar para que suas autoridades
decretem a apreensão preventiva ou confisco do produto, dos bens ou dos instrumentos do
crime (artigo 5º, 2).

Ainda quanto aos tratados de cooperação penal, cabe ressaltar que alguns deles acabam
por adotar o auxílio direto como mecanismo exclusivo da cooperação realizada segundo os
seus termos. A exclusão da carta rogatória se dá com a limitação da legitimidade ativa para
pedir cooperação, hipótese em que o tratado não prevê sua utilização por juízes ou autoridades
administrativas com função jurisdicional, únicos legitimados a formular a carta rogatória. Assim
preceitua o acordo de cooperação em matéria penal entre Brasil e Estados Unidos, segundo
o qual somente os governos dos dois países, ou seja, as autoridades de investigação criminal,
podem solicitar cooperação nos seus termos. Logo, o auxílio direto torna-se o único mecanismo
cabível no Brasil para atender a um pedido de cooperação manejado nos termos daquele
acordo.

O presente Acordo destina-se tão somente à assistência jurídica mútua entre as Partes.
Seus dispositivos não darão direito a qualquer indivíduo de obter, suprimir ou excluir qualquer
prova ou impedir que uma solicitação seja atendida.

Previsão legal

Além do parcial alicerce convencional, o auxílio direto possui também previsão legal
não muito recente, na qual se descreve as linhas gerais do mecanismo, embora também não
se lhe atribua aquele nome em nenhum momento. A Lei n. 9.605/1998, por exemplo, que
estipula as sanções penais e administrativas por ofensas ao meio ambiente, preceitua já nos
dispositivos finais de seu texto os requisitos necessários para atendimento de auxílio direto
no Brasil. Embora não mencione expressamente o instituto, a formulação do dispositivo gira
em torno de solicitação do Estado estrangeiro que deve ser entregue ao “órgão judiciário

Curso de Alinhamento Conceitual do PNLD


25

competente para decidir a seu respeito”. Desse modo, se cabe decidir sobre aquelas medidas
é porque compete ao Judiciário brasileiro decidir sobre o mérito de sua decretação – por meio
de auxílio direto -, algo que deve ser entregue ao juiz de primeira instância e não ao Superior
Tribunal de Justiça, portanto.

A Lei n. 9.613/1998, que dispõe sobre medidas gerais de prevenção e repressão ao crime
de lavagem de dinheiro no Brasil, também contém dispositivo que, se não explicita a instituição
do auxílio direto, porque não adota esse nome, traça de modo claro os contornos básicos do
mecanismo em cooperação passiva. Isso porque, assim como a Lei n. 9.605/1998, o dispositivo
deixa evidente que compete ao juiz brasileiro determinar medidas assecuratórias sobre
bens, direitos ou valores, o que anuncia a decisão de mérito nacional que deve advir para
atendimento do pedido estrangeiro.

A Lei n. 11.343/2006, que dispõe sobre medidas de prevenção e repressão ao uso de


drogas, por sua vez, também insere no ordenamento as linhas gerais para o manejo do auxílio
direto em casos de tráfico internacional de drogas. Sob o título V - “Da cooperação internacional”
- a lei estabelece que o governo brasileiro prestará cooperação e, quando necessário, pedirá
colaboração para troca de informações sobre legislação estrangeira e informações judiciais
sobre produtores e traficantes de drogas (artigo 65).

Previsão infralegal

Percebe-se que a previsão normativa desse novo mecanismo era um tanto quanto
escassa no ordenamento jurídico pátrio até a promulgação do novo Código de Processo Civil
que entrou em vigor em 2016 (Lei 13.105/2015). Até então, a norma que previa
expressamente o instituto do auxílio direto e lhe designava como tal era o Art. 216-O do
Regimento Interno no STJ, incluída pela Emenda Regimental nº 18 de 2014, que assim
dispôs no parágrafo 2º:

Os pedidos de cooperação jurídica internacional que tiverem por objeto atos que não
ensejem juízo deliberatório do Superior Tribunal de Justiça, ainda que denominados como carta
rogatória, serão encaminhados ou devolvidos ao Ministério da Justiça para as providências
necessárias ao cumprimento do auxílio direto.

Curso de Alinhamento Conceitual do PNLD


26

Vale destacar que a norma disposta no §2º do art. 216-O do Regimento Interno do STJ
reproduz o entendimento desta Corte que já estava consolidado desde a edição da Resolução
09/2005, do próprio STJ.

De maneira inovadora, a Lei 13.105/2015, que instituiu o novo Código de Processo Civil (CPC),
dedicou um capítulo específico à cooperação internacional. Verifica-se uma preocupação do
legislador em estabelecer, nas disposições gerais, diretrizes e orientações à cooperação
jurídica internacional, como, por exemplo, o respeito ao devido processo legal no Estado
requerente, a publicidade, a inadmissibilidade de atos que contrariem ou produzam resultados
incompatíveis com as normas fundamentais que regem o Estado brasileiro, a espontaneidade na
transmissão de informações a autoridades estrangeiras, o princípio da reciprocidade por via
diplomática, consagrando, ademais, a existência de uma autoridade central para recepção e
transmissão dos pedidos de cooperação jurídica internacional, a qual, em regra, será exercida
pelo Ministério da Justiça.

O novo CPC cuidou, ainda, de especificar o objeto da cooperação, destacando-se os atos de


comunicação judicial e extrajudicial, a coleta de provas e obtenção de dados, homologação e
cumprimento de decisões, medidas judiciais de urgência, entre outras providências judiciais ou
extrajudiciais não proibidas pela lei brasileira.

E, por fim, a nova lei processual civil regulamentou os dois procedimentos abordados nesta
unidade, quais sejam: a carta rogatória e o auxílio direto, dedicando uma seção específica para cada
instituto.

Procedimento do auxílio direto passivo

Ao contrário da carta rogatória, em que o pedido de cooperação enseja apenas um


procedimento, o auxílio direto origina obrigatoriamente dois procedimentos. O primeiro deles
nasce com o pedido de cooperação lavrado pela autoridade requerente e, após análise e
seguimento pelas autoridades competentes, chega às autoridades brasileiras para formar o
procedimento internacional do auxílio direto. Em busca do atendimento do pedido, devem tais
autoridades buscar o início do procedimento pertinente, que pode ser judicial ou administrativo.

Este segundo é um procedimento nacional, portanto. Assim é que o auxílio direto, na


verdade, forma-se a partir da junção de dois procedimentos específicos e separados: o
procedimento internacional, também chamado genericamente de pedido de cooperação ou pedido
de auxílio jurídico (este último especialmente no auxílio direto em matéria penal) e o procedimento
nacional. O procedimento nacional, por sua vez, em termos gerais, pode ser um processo
administrativo, um incidente processual judicial específico, como os pedidos do Ministério Público
Federal o u d a P o l í c i a F e d e r a l para a obtenção de quebras de sigilo bancário no Brasil ou
uma ação judicial, a exemplo do que ocorre com as ações de busca, apreensão e retorno movidas
pela União nos termos da Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de
Crianças. No caso específico da cooperação penal esta última hipótese é mais remota.

Curso de Alinhamento Conceitual do PNLD


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O julgamento do auxílio direto judicial no Brasil é entregue aos juízes federais de 1ª


instância, nos termos do artigo 109 da CF, seja porque figura como parte o Ministério Público
Federal, seja porque a medida busca cumprir tratado do qual o Brasil é parte.

Tal como ocorre com a carta rogatória, na ausência de tratado em sentido contrário o auxílio
direto é enviado por meio de canais diplomáticos.

Uma vez recebido o pedido de nosso Ministério de Relações Exteriores, cabe ao


Ministério da Justiça e Segurança Pública analisar alguns dos requisitos de admissibilidade
do pedido e, se todos estiverem presentes, realizar a seguinte disjunção: se for
necessário obter decisão judicial para seu atendimento – auxílio direto judicial -,
encaminha-se o pedido ao Ministério Público Federal para que este postule a medida em
juízo; se medida administrativa for bastante para seu cumprimento – auxílio direto
administrativo -, encaminha-se o pedido ao órgão administrativo competente para tal.

A atuação dos canais diplomáticos também aqui pode ser dispensada quando os Estados
envolvidos acordam nesse sentido. Aliás, como já dito, tratados de cooperação jurídica
internacional em matéria penal usualmente estabelecem a comunicação direta entre
Autoridades Centrais, o que afasta os órgãos diplomáticos dessa atividade.

Requisitos do auxílio direto ativo

A fragmentariedade que caracteriza a normatização do auxílio direto anuncia por si só


a ausência de uma consolidação dos elementos que devem formar tal espécie de pedido de
cooperação. Não raro alguns requisitos são explicitamente indicados em certos tratados, mas
em outros não são mencionados.

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Na tentativa de estabelecer um padrão mínimo para os pedidos de cooperação penal
lavrados por autoridades responsáveis pela investigação de delitos e pela persecução criminal
no Brasil, o Ministério da Justiça e Segurança Pública disponibiliza em seu sítio eletrônico
formulários-modelo de pedidos de auxílio direto.

Segundo aquele órgão, o auxílio direto ativo, em termos gerais, deve conter os seguintes
elementos: a) destinatário, ou seja, a autoridade para a qual é endereçado o pedido; b)
autoridade central remetente; c) assunto; d) referência (expressão ou número que identifique
o caso); e) sumário (breve resumo do caso); f) fatos que ensejam a investigação ou persecução
penal; g) transcrição dos dispositivos legais nos quais se baseia a investigação ou persecução;
h) descrição do objeto específico do pedido; i) objetivo a ser alcançado com a solicitação; e j)
eventuais procedimentos especiais a serem observados na execução do pedido.

O pedido deve ser preparado e encaminhado ao Departamento de Recuperação de Ativos e


Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que por sua
vez se comunicará diretamente com sua contraparte estrangeira ou enviará o pedido ao
nosso Ministério de Relações Exteriores, nas hipóteses de, respectivamente, haver e não haver
tratado que permita tal comunicação direta.

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Autoridade Central

A Autoridade Central é um órgão técnico-especializado responsável pela boa condução da


cooperação jurídica que cada Estado exerce com as demais soberanias, cabendo-lhe, ademais
do recebimento e da transmissão dos pedidos de cooperação jurídica, a análise e adequação
destas solicitações quanto à legislação nacional, estrangeira e ao tratado que a
fundamenta. Tem como função promover a efetividade da cooperação jurídica, e,
principalmente, desenvolver e difundir conhecimento agregado acerca da matéria.

Em sua primeira fase, a cooperação jurídica internacional se realizava apenas por meio
do clássico canal de relações entre Estados: a via diplomática. Em 1896, quando concluída a
primeira das convenções processuais multilaterais – a Convenção da Haia sobre processo civil –
restou acordado pela primeira vez que incumbiria aos Ministérios de Relações Exteriores esse
papel, tarefa já realizada antes por eles. Nesse sentido, sempre que precisasse cada Estado
lançaria mão de seu órgão de relações exteriores para pedir ajuda a outra soberania. Nada
mais natural, já que a atividade diplomática é inerente à própria existência do Estado, pelo que
não haveria instituição mais apta a exercer tal função do que o órgão de relações exteriores.

A cooperação jurídica internacional, portanto, em sua primeira fase, possui um percurso


que envolve essas duas instituições estatais internas. Desse modo, uma autoridade requerente
qualquer deveria enviar seu pedido de cooperação ao seu Ministério da Justiça, que o enviava à
Chancelaria, que por sua vez transmitia a solicitação à Embaixada daquele país no Estado
requerido. A Embaixada enviava-o à Chancelaria do Estado de destino, que o encaminhava
ao Ministério da Justiça, para que o pedido tivesse internamente o curso adequado à sua
execução. A resposta do Estado requerido a respeito do cumprimento da medida deveria
seguir o mesmo caminho em sentido contrário.

Mediante especialização do seu corpo de servidores e das suas rotinas, a Autoridade


Central confere maior celeridade à relação de cooperação, conformando a solicitação aos
requisitos que podem variar de acordo com diferentes aspectos, como, por exemplo, a medida
solicitada, o país destinatário e a base jurídica. O espectro de variantes pode ser enorme e o
rol de requisitos a ser preenchido por cada solicitação é sempre peculiar.

No Brasil, o papel de Autoridade Central para cooperação jurídica internacional cabe

Curso de Alinhamento Conceitual do PNLD


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ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, nos termos do parágrafo 4º do art. 26 do


novo Código de Processo Civil, que o exerce por meio do Departamento de Recuperação
de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) (WEBER, 2011), nos termos do Decreto
n. 8.668, de 11 de fevereiro de 2016.

Cabe ao DRCI exercer a função de autoridade central para o trâmite dos pedidos de cooperação
jurídica internacional, inclusive para assuntos de extradição, de transferência de pessoas condenadas
e de execução de penas, coordenando e instruindo pedido ativos e passivos.

No que diz respeito à cooperação jurídica internacional em matéria penal, existe, no


entanto, a p e n a s u m a exceção à regra, em que a Procuradoria-Geral da República (PGR)
funciona como Autoridade Central, mais precisamente no caso do Tratado de Assistência
Mútua em Matéria Penal entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo do
Canadá (Decreto n. 6.747, de 22 de janeiro de 2009).

Também importante destacar, como exceção à regra, o teor do Decreto nº 8.861, de


28 de setembro de 2016, que dispôs sobre a designação das autoridades centrais brasileiras
no âmbito da Convenção de Auxílio Judiciário em Matéria Penal entre os Estados Membros
da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP, firmada em Cidade da Praia, em 23
de novembro de 2005, pois referida norma, apesar de designar o Ministério da Justiça como
autoridade central da República Federativa do Brasil, abriu a possibilidade da Procuradoria-
Geral da República registrar e enviar ao exterior todos os pedidos de cooperação de atribuição
dos Ministérios Públicos Estaduais e Federais, bem como receber, para execução, os pedidos
oriundos de autoridades congêneres estrangeiras.

Em matéria civil também existem exceções à regra geral da autoridade central


brasileira para fins de cooperação jurídica internacional ser o Ministério da Justiça, como,
por exemplo, a previsão disposta na Convenção sobre Prestação de Alimentos no
Estrangeiro da ONU, denominada Convenção de Nova Iorque, na qual a Procuradoria Geral
da República foi designada “autoridade remetente” e “instituição intermediária”, exercendo
funções análogas às de uma autoridade central.

Funções

Não há dúvidas de que a comunicação entre Autoridades Centrais traz inúmeras


vantagens para a cooperação jurídica internacional, especialmente com vistas a lhe atribuir
maior efetividade e celeridade.

A maior celeridade decorre da simples exclusão das vias diplomáticas. A maior


efetividade se constata a partir da percepção de que as Autoridades Centrais se
especializaram para o exercício da cognição de admissibilidade dos pedidos de cooperação.
Curso de Alinhamento Conceitual do PNLD
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Desde sempre coube aos órgãos dos canais de cooperação apreciar formalmente as
solicitações advindas do exterior. Ocorre que, se há cerca de cem anos tal apreciação se resumia à
verificação da existência de versão traduzida para o idioma do Estado requerido e do número de
cópias do pedido, nos últimos anos essa apreciação se tornou bastante complexa, dotada de
uma série de elementos que devem ser verificados em cada caso e cuja apreciação cabe
também à Autoridade Central. (MENKE, 2005). Esse melhor preparo, portanto, é visto tanto em
face dos órgãos de relações exteriores, que não possuem vocação para o exame microscópico
de complexas questões formais em cada pedido, quanto em face das autoridades nacionais,
que usualmente não conhecem a infraestrutura judicial de Estados estrangeiros e não sabem
com exatidão quando um pedido pode ser executado.

Resta evidente que não se deve encarar a Autoridade Central simplesmente como um
órgão cartorário, que apenas cuida da mera tramitação dos pedidos de cooperação jurídica
internacional. Trata-se de órgão que deve propiciar efetividade e celeridade à cooperação,
ao evitar, por exemplo, falhas na comunicação internacional e o seguimento de pedidos em
desacordo com os pressupostos processuais gerais e específicos aplicáveis ao caso ou cujo
mecanismo de cooperação escolhido mostra-se inadequado. (SOUSA, 2008).

Ao assumir atribuições cada vez mais complexas, a Autoridade Central acaba por se
tornar órgão de grande responsabilidade pelo bom funcionamento da cooperação jurídica
internacional. É como se, no que concerne a tudo que diz respeito à cooperação naquele caso,
a Autoridade Central fosse a face externa do próprio Estado. Cabe a ela prestar contas, em
nome do Estado, sobre a cooperação nos casos em que atua.

Não por acaso o sistema de comunicação entre Autoridades Centrais predomina em


âmbito global na cooperação jurídica. Antes que pareça mais um ponto desnecessário de
intermediação, a cooperação entre Autoridades Centrais traz um benefício impossível de se
obter na cooperação direta entre autoridades requerente e requerida: a coordenação do Estado
para a realização concreta da cooperação. Essa é a principal razão que torna a cooperação
indireta o modelo preferido no cenário internacional.

Por todos estes fundamentos faz-se necessário reconhecer na Autoridade Central mais
uma mudança estrutural na cooperação jurídica internacional com vistas a lhe permitir maior
celeridade e efetividade. Quanto melhor for o trabalho realizado pela Autoridade Central, mais
célere e efetiva será a cooperação. Várias circunstâncias concretas evidenciam a celeridade,
como a não utilização de tempo e da máquina estatal para processar pedidos de cooperação

Curso de Alinhamento Conceitual do PNLD


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fadados ao indeferimento, assim como a correção de curso das solicitações que apenas
procedimentalmente merecem adequação. Outras hipóteses fáticas, ademais, demonstram
o ganho de efetividade, como a rápida e correta solução de questões preliminares apontadas
pelas partes, pressuposto da adequada cognição de mérito. Desse modo, o fortalecimento de
tais órgãos e o consequente aprimoramento de suas atividades é condição fundamental para
que a cooperação jurídica internacional alcance maior celeridade e efetividade.

CONSIDERAÇÕES

Nesta Unidade 3 do Curso de Alinhamento Conceitual do PNLD, observamos como o


conceito de cooperação jurídica internacional é importante para o entendimento do dever
entre as nações de respeitar o direito internacional e garantir a reciprocidade de tratamento
ante os requerimentos de determinado Estado em relação a outro.

Durante este estudo, podemos perceber que mais do que a perda do prestígio
internacional, o Estado que não observa os princípios da cooperação jurídica pode sofrer com
dificuldades impostas pela comunidade internacional, inclusive de ordem econômica. Além
disso, vimos quais mecanismos de cooperação internacional o ordenamento jurídico brasileiro
adota.

Agora que finalizamos este curso de Alinhamento Conceitual do Programa Nacional de


Capacitação e Treinamento no combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, esperamos que
você tenha a oportunidade de colocar em prática os conceitos estudados.

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