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ESCORPIÕES

(SCORPIONS, ALACRANES)

DENISE MARIA CANDIDO


LABORATÓRIO DE ARTRÓPODES
INSTITUTO BUTANTAN
1
Classificação:

Filo ARTHROPODA

Subfilo Chelicerata

Classe ARACHNIDA

Ordem Scorpiones

Subordem NEOSCORPIONINA

Infraordem ORTHOSTERNINA

Famílias:

Akravidae Levy, 2007* Urodacidae Pocock, 1893


Bothriuridae Simon, 1880 Vaejovidae Thorell, 1876
Buthidae C.L. Koch, 1837
Chactidae Pocock, 1893
Chaerilidae Pocock, 1893
Diplocentridae Karsch, 1880,
Euscorpiidae Laurie, 1896
Hemiscorpiidae Pocock, 1893
Heteroscorpionidae Kraepelin, 1905
Iuridae Thorell, 1876
Hormuridae, Laurie, 1896 *
Microcharmidae Lourenço, 1996
Pseudochactidae Gromov, 1998
Scorpionidae Latreille, 1802
Scorpiopidae Kraepelin, 1905
2
Superstitioniidae Stahnke, 1940
Troglotayosicidae Lourenço, 1998

Representantes no Brasil:

Bothriuridae Simon, 1880


Bothriurus Peters, 1861;
Brachistosternus Pocock, 1893;
Brazilobothriurus Lourenço and Monod, 2000;
Thestylus Simon, 1880;
Urophonius Pocock, 1893

Buthidae C.L. Koch, 1837


Ananteris Thorell, 1891
Isometrus Keyserling, 1885;
Microtityus Kjellesvig – Waering, 1966
Physoctonus Mello-Leitão, 1934
Rhopalurus Thorell, 1876;
Tityus C.L. Koch, 1836;
Troglorhopalurus Lourenço, Baptista and Giupponi, 2004;
Zabius Thorell, 1893

Chactidae Pocock, 1893


Auyantepuia González-Sponga, 1978;
Brotheas C.L. Koch, 1837;
Broteochactas Pocock, 1893;
Chactas Gervais, 1844;
Guyanochactas Lourenço, 1998
Teuthraustes Simon, 1878;
Hadrurochactas Pocock, 1893;
3
Vachoniochactas González-Sponga, 1978
Chactopsis Kraepelin, 1912;

Hormuridae, Laurie, 1896


Opisthacanthus Peters, 1861;

Introdução
Registros fósseis comprovam a existência de escorpiões há mais de 400
milhões de anos, o que os faz serem considerados os aracnídeos mais antigos
que se conhece. As espécies atuais não diferem muito dos antigos na aparência
geral. São animais antigos e provavelmente um dos primeiros seres a habitarem a
terra firme. Sua carapaça de quitina, de que é formado o seu exoesqueleto, foi um
fator determinante à esta passagem pois ajuda a evitar a evaporação excessiva do
corpo. Muitas lendas e crendices, baseadas quase sempre em fatos mal
interpretados, salientam a malignidade desses animais, contribuindo para que eles
permaneçam mal vistos até os dias de hoje. A principal justificativa do medo que
estes escorpiões inspiram é o fato de serem peçonhentos, isto é, de produzirem
uma substância tóxica que pode envenenar o homem. O que difere os animais
perigosos ou não é a composição do seu veneno e a ação dele no homem.
Embora isso seja verdade, não é sempre assim. Das cerca de 1600 espécies
conhecidas, apenas 25 podem causar acidente mortal, três das quais ocorrem no
Brasil.
O nome “escorpião” é derivado do latin scorpio/ scorpiones. Em espanhol é
chamado de alacran, e árabe de al – agrab. Em certas regiões brasileiras, os
escorpiões são chamados de “lacraus”, fazendo confusão com o nome lacraia,
que se refere às centopéias. Também são confundidos com as tesourinhas ou
lacrainhas, que são insetos inofensivos cujo corpo termina em pinça.

Morfologia
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O corpo do escorpião é dividido em duas partes: cefalotórax (prossoma) e
abdômen (opistossoma). O revestimento dorsal é chamado de tergito, as
membranas laterais de pleuritos e o revestimento ventral de esternito.
A face dorsal do cefalotórax é constituída por uma carapaça quitinosa não
segmentada apresentando, em geral, um par de olhos medianos e de três a cinco
pares de olhos laterais. Existem seis pares de apêndices ligados à esta região
(ventralmente): um par de quelíceras que são pequenas e providas de pinças
denteadas, que também são utilizadas na classificação das famílias; um par de
pedipalpos com cinco segmentos (coxa, trocanter, fêmur, tíbia e mão) cujo seus
artículos terminais formam as mãos com um dedo fixo e um dedo móvel, que são
usados como pinças para apreender as presas e durante o acasalamento, ainda
nos pedipalpos estão presentes as tricobótrias que são cerdas especiais
sensíveis ao tato e ao deslocamento de ar; e finalmente os quatro pares de pernas
com sete segmentos (coxa, trocanter, fêmur, tíbia, pretarso, basitarso e telotarso).
O abdômen (opistossoma) é dividido em duas partes características: o pré-
abdomem (mesossoma) e o pós-abdômen (metassoma). O mesossoma é formado
por sete segmentos em quatro dos quais aparecem as aberturas dos órgãos
respiratórios, também chamados de estigmas. Também encontramos o esterno
cuja forma é importante na classificação das famílias (figura 6); a abertura genital
e um par de pentes que desempenham várias funções como, por exemplo,
detectar as vibrações do solo. Os pentes também são utilizados durante o
acasalamento para varrer o solo antes da cópula e, em algumas espécies, como
do gênero Rhopalurus, podem ser usados para emissão de sons. O metassoma,
também chamado de cauda, é formado por cinco segmentos. Na extremidade há
um artículo chamado de telson ou vesícula que termina em um ferrão. O telson
contém um par de glândulas de veneno que desembocam em dois orifícios
situados de cada lado da ponta do ferrão. O orifício anal fica localizado entre o
quinto segmento da cauda e o telson.
Respiram por meio de órgãos denominados filotraquéias, também
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chamadas de pulmões, que são formados por uma série de lâminas dispostas
como as páginas de um livro (book-lungs). Entre as folhas encontramos “pilares”
de sustentação que não permitem que uma lâmina grude na outra. O ar é então
expelido e renovado. O consumo de oxigênio é muito baixo e varia conforme a
necessidade. Possuem a capacidade de fechar os estigmas quando as condições
ambientais forem desfavoráveis. Alguns podem permanecer com apenas um
estigma aberto durante muito tempo. É o sangue que transporta o oxigênio pelo
corpo. Existe um grande sistema de vasos e lacunas que partem do coração, que
é um órgão tubiforme e bem desenvolvido localizado no mesossoma.
Durante o período de acasalamento, o macho procura a fêmea
caminhando, e quando a localiza segura com os palpos. Se ela não for receptiva,
reagirá contra, caso seja receptiva, ele a segura e caminham bastante procurando
um local adequado para a deposição e fixação do espermatóforo (em um
substrato com uma área aproximada de 10 a 12 cm de raio, que é colocado com o
macho levantando o metassoma. Em seguida ele puxa a fêmea fecundando-a.
Depois eles se separam .
Os escorpiões são divididos em dois grupos quanto ao desenvolvimento
embrionário: os Apoicogênicos, onde os ovos são grandes e ricos em vitelo e, o
desenvolvimento dos embriões se completa dentro do ovariútero; os
Catoicogênicos, onde os ovos são pequenos, com pouco vitelo, a fertilização e o
desenvolvimento ocorrem dentro de divertículos do ovariútero, para onde os
embriões passam quando estiverem perto do nascimento. O período de gestação
é muito variado. Em geral, para os Tityus é de 3 meses e Pandinus, 9 meses .
Durante o parto, a fêmea eleva o corpo sobre as pernas e faz um cesto com as
dianteiras, apoiando-se nas pernas posteriores. Os filhotes recém-nascidos sobem
no dorso da mãe através do “cesto”. Alí permanecem por alguns dias quando
então, sofrem a primeira troca de pele. Passados mais alguns dias, eles
abandonam o dorso da mãe e passam a ter vida independente. O período entre o
nascimento até a dispersão dos filhotes varia bastante. Para Tityus bahiensis e
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Tityus serrulatus é de aproximadamente 14 dias. Os escorpiões trocam de pele
periódicamente, assim como a maioria dos artrópodes. O processo de muda é
denominado ecdise e a pele abandonada é a exúvia. Passam por um número
limitado de mudas até a maturidade sexual, quando então param de crescer.
Fazem parte do sistema sensorial os olhos medianos e laterais, as fendas
sensoriais, tricobótrias e outras cerdas sensoriais e os pentes.
A visão é pouco desenvolvida, distinguindo apenas luz e sombra e, existem
espécies que vivem em cavernas que podem ser cegas. As fendas sensoriais
estão presentes nas pernas e percebem a movimentação do solo; as tricobótrias
são cerdas especiais localizadas principalmente nos pedipalpos, muito sensíveis à
movimentação do ar, ao tato e são usadas na localização de presas e inimigos; os
pentes desempenham várias funções, entre as quais percebem as vibrações do
solo evitando os inimigos e detectando presas, no acasalamento são utilizados
para procurar um substrato adequado para a fixação do espermatóforo e também
possuem função quimiorreceptora e mecanorreceptora.
O aparelho digestivo é dividido em três partes: a anterior, onde está a
cavidade pré-oral formada pela parte ventral das quelíceras, parte lateral das
bases dos palpos e parte ventral da base das pernas I e II; a média, que é
bastante desenvolvida e do lado saem canalículos que são providos de dilatações
que servem para o acúmulo de alimento causando um aumento no volume do
corpo do animal, o que permite que ele fique bastante tempo sem se alimentar e,
por último, a parte posterior, por onde passam as fezes que vão até o ânus e daí
para o exterior. Uma vez capturada a presa, ele pode ou não utilizar o ferrão para
imobilizá-la, dependendo da resistência oferecida. A presa é então levada às
quelíceras que a trituram e, ao mesmo tempo, é umidecida com suco digestivo
iniciando assim a digestão que vai terminar no intestino médio.

Habitat e Hábitos
Todos os escorpiões atuais são terrestres. Podem ser encontrados nos
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mais variados ambientes e em situações muito adversas. Habitam todos os
continentes, exceto a Antártida e encontram-se em todas as latitudes, de
temperadas a tropicais vivendo em terra firme e em quase todos os ecossistemas
terrestres como desertos, savanas, cerrados, florestas temperadas e tropicais.
Encontram-se sob pedras, madeiras, troncos podres, alguns enterram-se no solo
úmido das matas, outros na areia dos desertos, vivem tanto em bromélias que
crescem do chão ou ainda em grandes alturas nas árvores. Várias espécies são
habitantes de cavernas, outras vivem ao longo das praias e na zona entre marés.
Estão englobados aí os três tipos de escorpiões existentes no que se refere ao
habitat (psamófilos = vivem nas areias; litófilos = fendas, rochas, penhascos,
fragmentos rochosos; fossoriais = galerias e buracos), porém ainda existe um
quarto tipo, os errantes, que se movem ativamente durante o forrageamento.
Encontram, ainda, esconderijos junto às habitações humanas, ocorrendo em
velhas construções e sob os dormentes dos trens. Em muitos casos os escorpiões
podem esconder-se da claridade do dia dentro de calçados ou sob peças de
roupas deixadas no chão, provocando acidentes.
As espécies dos desertos são noturnas, refugiando-se durante o dia sob
pedras, troncos, buracos e fendas. O hábito noturno é registrado para a maioria
das espécies e, o diurno tem sido registrado em algumas espécies que vivem em
grutas, florestas tropicais e zona litorânea. Acredita-se que o hábito noturno
desses animais pode ter evoluído em resposta à predação e às condições
climáticas. Os indivíduos são mais ativos durante os meses mais quentes do ano,
porém, nos trópicos os escorpiões permanecem ativos durante todo o ano.

Alimentação
Os escorpiões são carnívoros, alimentando -se principalmente de insetos e
aranhas. Pequenos vertebrados também são bem aceitos. O canibalismo pode
ocorrer em consequência da competição pelo espaço e é frequentemente
observado em cativeiro quando o alimento é pouco e o espaço também, porém, se
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forem bem alimentados e o substrato oferecido for abundante, o canibalismo
dificilmente ocorrerá. Não são capazes de ver imagens definidas. Localizam a
presa orientando – se por vibrações do ar e do solo que eles captam através das
tricobótrias. Nem sempre utilizam o veneno para capturar o seu alimento.
Espécies com pinças grandes e fortes esmagam a presa e a devoram em seguida.
Quando o telson é mutilado, o escorpião pode sobreviver alimentando – se de
pequenos animais que aprisionam com as pinças.
Do ponto de vista biológico, a ordem dos escorpiões representa um
importante grupo de animais predadores eficientes de grande número de insetos e
outros pequenos animais, às vezes nocivos ao homem.

Inimigos
Também possuem inimigos, ou seja, não estão livres de parasitas como
vírus, riquétsias, fungos, nematóides, ácaros e etc. Dentre seus predadores estão
camundongos, quatis, macacos, sapos, lagartos, corujas, seriemas, galinhas,
algumas aranhas, formigas, escolopendras e os próprios escorpiões. O grande
inimigo, porém, tem sido o homem através da utilização de agrotóxicos, fogo,
desmatamento, crescimento urbano inadequado e etc. Certos índios comem
escorpiões assados e alguns são sacrificados para o preparo de produtos
afrodisíacos e terapêuticos. A utilização destes animais em álcool para ser
aplicado em compressas no local da picada, ainda é muito praticada, apesar de
estar comprovado que esse remédio não produz nenhum efeito.

Suicídio
Muitas pessoas acreditam que, quando colocados em um círculo de fogo,
os escorpiões matam-se com seu próprio veneno, cometendo assim um suicídio.
Na verdade, irritado com o calor, ele assume a posição característica de defesa e
alerta erguendo a cauda sobre o corpo e desfere ferroadas em várias direções
para atingir um inimigo que não consegue identificar. Morre por desidratação e
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não por auto envenenamento.

Escorpionismo
Todas as espécies de escorpiões podem inocular veneno pelo ferrão.
Poucas entretanto, oferecem perigo de vida ao homem. Os principais fatores que
determinam a periculosidade de uma espécie são:
 a toxicidade do veneno em relação ao homem;

 a gravidade dos acidentes provocados por espécies perigosas varia


conforme a quantidade de veneno injetada, o local da picada e a
sensibilidade da pessoa ao veneno;

 a área de distribuição geográfica; espécies que ocorrem em regiões


densamente povoadas têm mais probabilidade de ocasionar acidentes;

 hábitos da espécie: as que domiciliam-se com facilidade, ao


encontrarem condições favoráveis, podem proliferar muito, aumentando
significamente o índice de acidentes.

Quando existe uma combinação desses fatores o perigo é maior.


O problema com envenenamento em humanos por escorpiões já é
conhecido desde a antiguidade. As espécies perigosas são encontradas nos
desertos ou regiões semi-áridas. No continente americano aparecem no Sudeste
dos Estados Unidos, México, América do Sul e Ilhas do Caribe. Também são
encontradas no Norte e Sul da África, Oriente Médio, Norte do Mediterrâneo, Irã,
Ásia e Índia .
A família Buthidae é a maior e mais amplamente distribuída não só no
Brasil, mas em todo o mundo e, também a mais importante família do ponto de
vista epidemiológico, pois à ela pertencem as 25 espécies consideradas perigosas
para o homem. É quem representa 60% da fauna escorpiônica neotropical,
incluídas aí as espécies perigosas do Brasil. As espécies de importância médica
pertencem à família Buthidae. Os gêneros são os seguintes: Androctonus,
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Buthacus, Buthus e Leiurus (África e Oriente Médio); Centruroides (América do
Norte e México); Hottentotta (África,Oriente Médio até a Índia); Mesobuthus
(Índia); Parabuthus (África) e Tityus (América do Sul e Caribe).
Assim, como em outros locais do mundo, o acidente por escorpiões no
Brasil é considerado de grande importância em saúde. A presença e proliferação
do animal em áreas ocupadas pelo homem devem ser rigorosamente controladas
pelo fato de ser peçonhento e sua picada poder provocar a morte de seres
humanos e de animais domésticos.

No Brasil, as principais espécies que causam acidentes graves são:

Tityus serrulatus Lutz & Mello, 1922: conhecido como escorpião amarelo
(Fig. 4A), é o escorpião que provoca os acidentes em maior número e de maior
gravidade. Possui as pernas e cauda amarelo-claras, e o tronco escuro. O nome
da espécie é devido à presença de uma serrilha encontrada nos 3 o e 4º anéis da
cauda. Medem até 7 centímetros de comprimento. Esta espécie se reproduz por
partenogênese.

Tityus bahiensis (Perty, 1933): conhecido por escorpião marrom ou preto


(Fig. 4B), é o escorpião que mais causa acidentes no Estado de São Paulo. Seu
tronco é escuro, e suas pernas e cauda são marrons avermelhados, com manchas
escuras. Não possuem serrilha na cauda, e os adultos medem cerca de 7 cm. O
macho é diferenciado da fêmea por possuir pedipalpos volumosos com um vão
arredondado entre os dedos. Com um único acasalamento a fêmea é capaz de ter
até 3 partos, com até 20 filhotes cada. Sobrevivem bem em áreas urbanizadas,
porém são menos numerosos que T. serrulatus nestas áreas.
Tityus stigmurus Thorell, 1877: conhecido como o escorpião amarelo do
nordeste (Fig. 4C). Assemelha-se a T. serrulatus nos hábitos e na coloração,
porém apresenta uma faixa escura longitudinal em seu mesossoma, seguido de
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uma mancha triangular na região frontal da carapaça. Assim como em T.
serrulatus, também possui serrilha, menos acentuada, nos 3 o e 4º anéis da cauda.
Muitos autores os consideram variações polimórficas da mesma espécie, sendo
uma sexuada e outra assexuada. É o principal causador de acidentes na Região
Nordeste, muito encontrado em áreas residenciais.

Tityus obscurus (Gervais, 1843): conhecido por escorpião preto da


Amazônia (Fig. 4D), causa acidentes considerados graves na região Norte do
Brasil, principalmente no Estado do Pará. Quando adultos, possuem coloração
negra, podendo chegar a 9 cm de comprimento, porém quando jovens, sua
coloração é bem diferente, com o corpo e apêndices castanhos e totalmente
manchados de escuro, podendo ser confundido com outras espécies da região
amazônica. Macho e fêmea são bem distintos, sendo que o primeiro apresenta os
pedipalpos bastante finos e alongados, assim como o tronco e a cauda em relação
à fêmea.
Também são registrados acidentes causados por outras espécies do
gênero Tityus, porém, sua incidência e gravidade são menores. Os mais comuns
são: T. metuendus Pocock, 1897, T. silvestris Pocock, 1897, T. costatus Karsch,
1879 e T. confluens Borelli, 1899. Além deste gênero, outros geram acidentes que
tem como sintoma apenas dor local, por vezes intensa, como Rhopalurus, que são
animais de grande porte, podendo chegar a 9 cm de comprimento, encontrados no
Nordeste e no Brasil Central, e Bothriurus, de tamanho menor (no Brasil, não mais
que 4 cm), encontradas nos jardins e quintais em áreas urbanas.

Curiosidades
 Alguns índios comem escorpiões assados, enquanto outros são sacrificados
para serem utilizados em produtos afrodisíacos e terapêuticos.
 Os escorpiões são fluorescentes na presença de luz ultravioleta, o que pode
ser observado somente após a primeira troca de pele.
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Lendas
 Os egípcios atribuíam o gênio perverso do escorpião a Typhon, o deus do mal
e das trevas e tinham por hábito colocá-lo sobre seus monumentos ao lado de um
crocodilo mostrando a expressão de suas potencias iguais.
 Em outros tempos, era crendice geral de que os escorpiões só tinham veneno
ao meio-dia, isto é, a hora que estavam expostos à luz do sol.
 Plínio refere que a picada desses animais era sempre fatal para as donzelas e
que só era para os homens, na hora em que saiam de suas cavernas, antes que
tivessem desperdiçado seu veneno.
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Referências bibliográficas:

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acidentes no Estado de São Paulo, obtenção de veneno e manutenção em
cativeiro. Dissertação (mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Ciências da
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CHAVE (TRADUZIDA) PARA AS FAMÍLIAS E GÊNEROS DE ESCORPIÕES QUE OCORREM NO
BRASIL
( Wilson R. Lourenço, 2002 e 2003)
A. FAMÍLIAS
1. Escorpiões com esterno de forma triangular; face ventral da tíbia dos
pedipalpos com ausência de tricobótrias...................................................Buthidae
- Escorpiões com esterno linear, pentagonal ou subpentagonal; face ventral da
tíbia dos pedipalpos com uma ou mais tricobótrias................................................2
2. Esterno com forma linear, transversal ............................................Bothriuridae
- Esterno com forma pentagonal ou sub-onal......................................................3
3. Borda anterior da placa prossomial côncava e com uma profunda escavação;
presença de uma protuberância longa na face dorsal dos tarsos, que se insere
entre as garras................................................................................Hormuridae
- Região anterior da placa prossomial sem escavação ou convexa; protuberância
na face dorsal dos tarsos curta ou ausente............ ...........................Chactidae

B. GÊNEROS
BOTHRIURIDAE
1. Gume do dedo móvel dos pedipalpos com presença de séries simples de
grânulos, em geral, em número de 6-....................................................................2
- Gume do dedo móvel dos pedipalpos com presença de granulação acessória,
além das séries de grânulos................................................................Urophonius
2. Tarsos sem espinhos ou cerdas laterais inferiores, apenas com uma fila de
dentículos medianos, e com longas cerdas dorsais curvas seriadas
......................................................................................................Brachistosternus
- Presença de espinhos ou cerdas espiniformes ventrais nos tarsos....................3
3. Presença de um arco formado por grânulos espessos na região ventral posterior
do 5o segmento do metassoma................. .......................................................4
- Ausência de um arco na região ventral-posterior do 5o segmento do
metassoma; tarsos III e IV com duas fileiras ventrais de espinhos.....Thestylus
17
4. Tíbia dos palpos com 5 tricobótrias ventrais; tarsos III e IV com dois ou três
pares ventrais de espinhos, com fila mediana ventral .......................Bothriurus
- Tíbia dos palpos com 8 tricobótrias ventrais...........................Brazilobothriurus

BUTHIDAE
1. Placa prossomial fortemente estreitada na região anterior; presença de uma
placa quase quadrada na base dos pentes...................................Microtityus
- Placa prossomial pouco estreitada na região anterior; ausência de uma placa
quadrada na base dos pentes...........................................................................2
2. Gume do dedo móvel dos pedipalpos com 6-7 séries seguidas de grânulos
simples, sem granulação acessória...................................................................3
- Gume do dedo móvel dos pedipalpos com 8-17 séries de grânulos dispostas
obliquamente, com ou sem grânulos acessórios..............................................4
3. Presença de fulcra nos pentes............................................................Isometrus
- Ausência de fulcra nos pentes.............................................................Ananteris
4. Gume do dedo móvel dos pedipalpos com 8-9 séries de grânulos; presença de
fortes grânulos acessórios nos adultos, ausentes nos imaturos, primeiro
esternito com áreas estridulantes sob os pentes.............................Rhopalurus
- Gume do dedo móvel dos pedipalpos com 12 a 17 fileiras oblíquas de
grânulos; grânulos acessórios sempre ausentes, em adultos e imaturos; sem
áreas estridulantes no primeiro esternito.................................................Tityus

CHACTIDAE
1. Estigmas respiratórios lineares ou ovalados .....................................................2
- Estigmas respiratórios arredondados..............................................................5
2. Presença de uma apófise em forma de canino no meio da face externa do
dedo fixo dos pedipalpos...............................................................Teuthraustes
- Ausência de apófise em forma de canino na face externa do dedo fixo dos
pedipalpos............................................................................................................3
18
3. Gume do dedo móvel dos pedipalpos com 6 ou 7 séries de grânulos
formando uma fila...............................................................................................4
- Gume do dedo móvel dos pedipalpos com granulação intensa e esparsa, não
formando séries..............................................................................Chactopsis
4. Estigmas respiratórios com forma linear.................................................Broteas
- Estigmas respiratórios ovalados............................................... Guyanochactas
5. Pinça dos pedipalpos espessas; telson sem espinho sob o aguilhão.
......................................................................................................Broteochactas
- Pinça dos pedipalpos delgadas; telson com pequeno espinho sob o aguilhão
em algumas espécies....................... ......................................Vachoniochactas

HORMURIDAE
Representada no Brasil por um único gênero: ........................Opisthacanthus
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Chave para Famílias e Gêneros de escorpiões que ocorrem no Brasil.
Extraída de “Scorpions of Brazil”, Lourenço, 2002

Hormuridae
20

Hormuridae
21

Ânus
22
23
24
25

Tíbia
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37

Granulação do dedo móvel


Tityus Rhopalurus

Linderberg
Linderberg

Ananteris Isometrus

Linderberg
38

Pentes

Ananteris Isometrus
39

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