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Filo Nematomorpha

O nome popular para os Nematomorpha (Gr. nema, nematos, fio, + morphē, forma) é “vermes
pelo-de-cavalo”, baseado na velha superstição de que os vermes surgem de pelos de cavalos que caem
na água. Os vermes realmente se assemelham a pelos da cauda de um cavalo. Foram por muito tempo
incluídos dentro de Nematoda, pois ambos os grupos compartilham a estrutura da cutícula, a presença
de cordões epidérmicos, somente músculos longitudinais e o padrão do sistema nervoso. São
atualmente classificados como táxon-irmão dos nematódeos.
Cerca de 320 espécies de nematomorfos foram descritas. De distribuição mundial, são de vida
livre na fase adulta e parasitos de artrópodes na fase juvenil. Os adultos vivem em quase qualquer lugar
úmido ou molhado, se houver disponibilidade de oxigênio.

Forma e função
Os nematomorfos são extremamente longos e finos, de corpo cilíndrico. Têm geralmente de 0,5
a 3 mm de diâmetro, porém podem chegar a 1 m de comprimento. Sua região anterior é geralmente
arredondada, e sua região posterior é arredondada ou apresenta três lobos caudais.
A parede do corpo é bastante semelhante à dos nematódeos: cutícula secretada, hipoderme e
musculatura exclusivamente composta de músculos longitudinais.
O sistema digestivo é vestigial. A faringe é um cordão sólido de células, e o intestino não se abre
na cloaca. As formas larvais absorvem comida dos hospedeiros artrópodes através da parede do corpo.
Pensava-se que os adultos vivessem apenas de reservas nutritivas, mas na verdade eles absorvem
moléculas orgânicas através de seu intestino vestigial e parede do corpo de maneira semelhante aos
juvenis.
Os sistemas circulatório, respiratório e excretor estão ausentes e, provavelmente, só existem no
nível celular primário. No entanto, muito pouco se sabe sobre a fisiologia desses vermes. Existe um anel
nervoso ao redor da faringe e um cordão nervoso medioventral.
Os ciclos de vida de nematomorfos são pouco conhecidos. No gênero cosmopolita Gordius
(nomeado em homenagem ao antigo rei que amarrou um nó intrincado), os juvenis podem encistar na
vegetação que pode ser comida por um gafanhoto ou outro artrópode. Os estágios larvais de gordiídeos
também apresentam ganchos e estiletes que podem ser utilizados para penetrar em um hospedeiro,
talvez pelo tegumento ou pela superfície do intestino. Em outros casos, o gordiídeo pode infectar o
hospedeiro quando este bebe água. As larvas encistam no hospedeiro; em alguns casos, o
desenvolvimento aparentemente só continua quando o primeiro hospedeiro é comido por um segundo
hospedeiro. No nematomorfo marinho Nectonema (Gr. nektos, natante, + nema, fio), os juvenis ocorrem
em ermitões e outros caranguejos.
Depois de vários meses na hemocele de um hospedeiro artrópode, os juvenis completam uma
única muda e emergem na água como adultos maduros. Se o hospedeiro for um inseto terrestre, o
parasito de alguma maneira estimula o hospedeiro a procurar água. Os vermes não emergem dos
hospedeiros sem água por perto.
Os nematomorfos são dioicos. Os adultos agitam-se lentamente na água, e os machos geralmente
são mais ativos que as fêmeas. Em ambos os sexos, as gônadas esvaziam-se na cloaca por meio de
gonodutos. As fêmeas depositam seus ovos na água em forma de longas linhas.
Filo Loricifera
Loricifera (L. lorica, corselete, + Gr. phora, portador) foi identificado em 1983 e agora tem
somente 11 espécies descritas e cerca de 80 não descritas. Os pequeninos animais (que variam de 0,1 a
0,5 mm de comprimento) apresentam uma casca externa protetora (lorica) e vivem em espaços entre
os grãos de cascalho marinho, aos quais eles se prendem fortemente. Apesar de terem sido descritos
originalmente a partir de espécimes coletados na costa da França, eles estão mundialmente
distribuídos. A maioria das espécies foi encontrada em sedimentos marinhos grossos a profundidades
de 300 a 450 m, porém uma espécie foi recentemente coletada a 8.000 m.

Forma e função
O corpo de um loricífero apresenta cinco regiões: o cone bucal, a cabeça ou introverte, o pescoço,
o tórax e o abdome. Existem nove círculos de escálides na introverte. As escálides são espinhos curvos
e têm funções locomotora e sensorial. A cobertura do abdome, a lorica, pode apresentar placas
cuticulares grossas ou ser finas e dobráveis. Toda a região anterior do corpo pode ser retraída para
dentro da lorica. Sua dieta é desconhecida, porém a especulação é que se alimentem de bactérias. O
cérebro ocupa quase toda a região da cabeça, e espinhos orais são inervados por neurônios do cérebro
e outros gânglios. A cavidade corpórea foi descrita como pseudocelômica em algumas espécies, porém
outras espécies são consideradas acelomadas.
Os loricíferos são dioicos, com dimorfismo sexual. A copulação ocorre, porém os ciclos de vida
não são bem conhecidos. Existe uma fase larval distinta denominada larva de Higgins. Três espécies do
gênero Rugiloricus têm ciclos de vida que diferem no número de estágios larvais. Em uma espécie, a
larva de Higgins muda para um adulto; em outra, a larva de Higgins muda para um segundo estágio, que
então muda para um adulto; e, em uma terceira espécie, o ciclo de vida é mais complexo, já que, após a
larva de Higgins, vêm estágios partenogenéticos. As próprias larvas de Higgins também diferem em
forma, sendo as larvas bentônicas providas de dedos e as larvas pelágicas desprovidas de dedos.
Filo Kinorhyncha
Os quinorrincos (Gr. kinein, mover, + rhynchos, bico) são vermes marinhos pouco maiores que
rotíferos e gastrótricos, porém em geral não ultrapassam 1 mm de comprimento. Esse filo também foi
chamado de Echinodera, que significa pescoço espinhoso. Cerca de 179 espécies foram descritas até
hoje.
Os quinorrincos são cosmopolitas que vivem de um polo a outro, desde as áreas entremarés até
8.000 m de profundidade. A maioria vive em lodo ou lodo arenoso, porém alguns já foram encontrados
no suporte de fixação de algas, esponjas e outros invertebrados.

Forma e função
O corpo dos quinorrincos é dividido em regiões: cabeça, pescoço e tronco. O tronco tem 11
segmentos, marcados externamente por espinhos e placas cuticulares. A cabeça retrátil, muitas vezes
chamada de introverte, tem de cinco a sete círculos de espinhos com uma pequena probóscide retrátil.
Os espinhos, denominados escálides, funcionam para locomoção, quimiorrecepção e mecanorrecepção.
Cada um contém 10 ou menos células sensoriais monociliadas. O corpo é achatado ventralmente e
arqueado dorsalmente. A parede do corpo é composta de uma cutícula quitinosa, uma epiderme celular
e cordões epidérmicos longitudinais, semelhantes aos dos nematódeos. A organização dos músculos
está correlacionada com os segmentos, e, diferentemente dos nematódeos, os quinorrincos apresentam
bandas musculares longitudinais, circulares e diagonais.
O quinorrinco não nada. No silte e lodo, onde geralmente vive, ele se enterra ao estender a cabeça
para dentro da argila, ao mesmo tempo ancorando com seus espinhos. A extensão da cabeça ocorre
quando os músculos do tronco aumentam a pressão hidrostática no pequeno volume de fluido
pseudocelômico. Após se estender, ele puxa o corpo para frente até a cabeça estar retraída dentro do
corpo. Quando perturbado, o quinorrinco puxa a cabeça para dentro e a protege com um aparato de
fechamento formado por placas cuticulares do pescoço, ou do pescoço e do tronco.
Seu sistema digestivo é completo, com boca no final de uma probóscide, seguida de faringe,
esôfago, um intestino médio não ciliado e um intestino posterior revestido por cutícula, assim como o
ânus. Os quinorrincos alimentam-se de diatomáceas ou digerem material orgânico da superfície de
partículas de lodo através das quais eles se enterram.
O pseudoceloma é repleto de amebócitos e órgãos, restando pouco espaço para o fluido. Seu
sistema excretor é composto de um protonefrídio multinucleado, do tipo solenócito, localizado em cada
lado do intestino, entre o oitavo segmento e o nono.
O sistema nervoso está em contato com a epiderme, com um cérebro multilobado que envolve a
faringe, e com um cordão nervoso ganglionar ventral que se estende através de todo o corpo. Os órgãos
sensoriais são representados por cerdas sensoriais e ocelos em algumas espécies.
Têm sexos separados, com gônadas e gonodutos pareados. Existe uma série de cerca de seis
estágios juvenis e um adulto definitivo que não faz muda. Não foi descrito nenhum tipo de reprodução
assexuada.
Filo Priapulida
Os Priapulida (Gr. priapos, falo, + ida, sufixo plural) são um pequeno grupo (apenas 16 espécies)
de vermes marinhos encontrados majoritariamente em águas frias de ambos os hemisférios. Foram
registrados, ao longo da costa atlântica, desde Massachusetts até a Groenlândia e, ao longo da costa
pacífica, desde a Califórnia até o Alasca. Habitam a argila e a areia no fundo oceânico e estendem-se
desde a zona entremarés até profundezas de milhares de metros. Tubiluchus (L. tubulus, diminutivo de
tubus, cano d’água) é um pequeno verme detritívoro adaptado à vida intersticial em sedimentos
coralinos de água morna. Maccabeus (nome dado em homenagem ao patriota judeu que morreu em 160
a.C.) é um pequeno verme tubícola descoberto em substratos argilosos do Mediterrâneo.

Forma e função
Os priapulídeos têm corpos cilíndricos, a maioria com menos de 12 a 15 cm de comprimento,
porém Halicryptus higginsi pode atingir 39 cm de comprimento. A maioria é de animais predadores e
escavadores que se alimentam de invertebrados de corpo mole, como vermes poliquetas. Eles
geralmente se orientam verticalmente no lodo com sua boca na superfície. No entanto, Tubiluchus se
alimenta de detritos orgânicos nos sedimentos dos arredores de recifes de corais. São adaptados para
se enterrar por meio de contrações do corpo.
O corpo apresenta uma introverte, um tronco e, geralmente, um ou dois apêndices caudais. Sua
introverte retrátil é ornamentada com papilas e termina em fileiras de escálides que circundam a boca.
A extensão da introverte ocorre à medida que os músculos circulares aumentam a pressão hidrostática
na cavidade interna, repleta de fluido. A derivação da cavidade ainda não está clara. A faringe protrátil
é utilizada para capturar presas pequenas e de corpo mole. Maccabeus tem uma coroa de tentáculos
branquiais ao redor da boca.
O tronco não é metamérico, porém é superficialmente dividido em 30 a 100 anéis, e recoberto
de tubérculos e espinhos. Os tubérculos têm, provavelmente, uma função sensorial. O ânus e o poro
urogenital estão localizados na extremidade posterior do tronco. Os apêndices caudais são caules ocos
e acredita-se que tenham função respiratória e, provavelmente, quimiorreceptora. Uma cutícula
quitinosa, que muda periodicamente ao longo da vida, recobre o corpo.
Seu sistema digestivo consiste em uma faringe musculosa, um intestino linear e um reto. Um
cordão nervoso localiza-se ao redor da faringe e dá origem a um cordão medioventral. Os amebócitos
habitam os fluidos da cavidade corporal, e, ao menos em algumas espécies, existem corpúsculos que
contêm um pigmento respiratório denominado hemeritrina.
Os sexos são separados, porém machos de Maccabeus nunca foram encontrados. Os órgãos
urogenitais pareados contêm, cada um, uma gônada e grupos de solenócitos, ambos conectados a um
túbulo protonefridial, que carrega para fora do corpo gametas e produtos excretados. A fertilização é
externa. A embriologia é pouco conhecida. Em Meiopriapulus, o desenvolvimento é direto, e as fêmeas
incubam seus embriões em desenvolvimento. Na maior parte das espécies, o zigoto parece sofrer
clivagem radial e desenvolve uma larva loricada. As larvas de Priapulus enterram-se no lodo e tornam-
se detritívoras.

P., HICKMAN Jr., C., ROBERTS, S., KEEN, L., EISENHOUR, J., LARSON, Allan, I’. Princípios Integrados de Zoologia, 16ª edição. Guanabara Koogan, 05/2016.
VitalBook file.
C., BRUSCA, R., MOORE, Wendy, SHUSTER, M. Invertebrados, 3ª edição. Guanabara Koogan, 03/2018. VitalBook file.

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