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DIREITO HUMANO À BOA GOVERNAÇÃO

HÁ DIREITO FUNDAMENTAL À BOA GOVERNAÇÃO?

Henriques Ngolome1

Resumo:

Os desafios globais, nacionais e dos indivíduos, impõe a Boa Governação, na acção

governativa, quer para consolidação do estado de Direito, quer para a realização dos

direitos fundamentais em toda sua transversalidade. O presente artigo reflete sobre a

efectivação da boa governação, seu valor jurídico na ordem internacional e interna,

para um desenvolvimento sustentável dos países com a sua ausência.

Palavras Chaves: Boa Governação; Valor jurídico; estado de Direito;

Desenvolvimento sustentável.

Resume:

Global, national and individual challenges impose Good Governance in governmental

action, both for the consolidation of the rule of law and for the realization of

fundamental rights in all their transversality. This article reflects on the effectiveness

of good governance, its legal value in the international and domestic order, for the

sustainable development of countries with their absence.

Key words: Good Governance; Legal value; rule of law; Sustainable development

1
Licenciado em Direito Pelas UCAN (Universidade Católica de Angola) Pós-graduado em
Agregação pedagógica na UAN (Universidade Agostinho Neto) Formado em Liderança Cívica,
no Programa do Centro Regional de Liderança da África Austral (YALI- Centro Satélite na UEM-
Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique) Advogado Estagiário, Vencedor
#Blog4Development-2019 do Banco Mundial Região África, membro do YTA, com experiências
em mecanismos regionais de proteção de Direitos Humanos, com destaque ao Sistema
Africano e Inter-Americano, onde participou com Orador e como representante da Faculdade
de Direito da Universidade Católica de Angola, isto é nas Competições de Julgamento Simulado
em Direitos Humanos, organizadas regularmente em África pela Faculdade de Direito da
Universidade de Pretória da África do Sul e nas Américas, pela Faculdade de Direito da
Universidade Americana de Washington DC.
INTRODUÇÃO

A Professora, Nancy Boswell, Directora do Programa de Certificação de Leis

Anticorrupção Internacional dos EUA, Faculdade de Direito da Universidade

Americana de Washington, considera que uma boa governação respeita o estado

de direito e reconhece que as despesas públicas são uma relação de confiança que

deve ser exercida no interesse público e não para ganho pessoal ou político. A

ausência da boa governação permite acções ilegais ou antiéticas e a prestação de

contas. Isto cria o cenário caótico e mina o desenvolvimento dos países. Neste

breve exercício, vamos reflectir sobre o valor jurídico da Boa Governação a partir

da realidade constitucional e dais leis ordinárias do sistema jurídico angolano,

concomitantemente fazer um paralelismo com a realidade Moçambicana, que em

muito se parece, com Angola. O presente texto, apesar de ter como objecto de

análise o sistema jurídico angolano, a referência a Moçambique será para efeitos

de aplicação e reflexão sem adentrar no seu sistema jurídico que escapa o meu

entendimento. Uma outra razão da referência a Moçambique, além da natureza do

assunto (Direitos Humanos), é também pelo facto de que a Organização

(Associação de Jornalistas Ambientais e de Direitos Humanos- AJADH), que

lançou-me o desafio de apresentar esta reflexão é de Moçambique, actualmente

liderada pelo Jovem, brilhante jornalista, Sérgio dos Ceus Nelson, amigo e

companheiro nas terras do índico, por quem tenho muita estima e consideração,

alguém que já partilhamos algumas ideias sobre a presente abordagem, aquand o

da sua visita cá em angola, ao serviço da academia. A última razão é pela

irmandade histórica destes dois países, bem como das desgraças conjuntas de que

foram vítimas pelos seus próprios filhos, pela ausência da Boa Governação, prova

disto são os escândalos de corrupção, às dívidas ocultadas e insustentáveis nos

dois países. Dito isto, estamos em condições de apresentarmos; alguns conceitos

da Boa Governação; depois refletir sobre a sua necessidade, observar a partir de


algumas Convenções Internacionais, Constitucionais e legais sobre a; iii-

jurisdicionalização deste conceito, sem deixar de apresentar algumas medidas

para sua efectivação, implicações da sua ausência e finalmente aferir se há ou não

o Direito Humano ou Fundamental à Boa Governação; iv-Valor Jurídico da Boa

Governação; v- Implicações da Boa?

BOA GOVERNAÇÃO O QUE É? CONSOLIDAÇÃO DO ESTADO DE DIREITO E A

REALIZAÇÃO PLENA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

Partindo da nota introdutória podemos inicialmente entender que a Boa

Governação não tem uma única definição, mas cada conceito espelha o que de

essencial se pretende, deste modo a boa governação pode ser entendida, como o

respeito ao Estado de Direito e o reconhecimento de que as despesas públicas são

uma relação de confiança que deve ser exercida no interesse público e não para

ganho pessoal ou político. Já, Fernando Nobre, presidente e fundador da

Assistência Médica Internacional (AMI), considera em sua nota publicada, no

site da VER2, que: A Boa governação exige ética, rigor, verdade, responsabilidade,

coerência e compromisso… implica preocupação com os mais fragilizados e

desprotegidos da sociedade, estar à escuta e em diálogo com as mais íntimas

aspirações dos cidadãos e colocar o estado do país e do mundo acima dos

momentâneos interesses partidários e pessoais. Para o Instituto camões3 A boa

governação assenta em princípios universais: uma democracia inclusiva,

participativa, transparente e responsável; respeito pelos direitos humanos e pelas

liberdades fundamentais; Estado de direito e garantia de igualdade de acesso a

serviços sociais de base. Disto posto, podemos entender que a Boa Governação é

o resultado principalmente de uma agir ético daqueles que Governam, para a

2
https://www.ver.pt/boa-governacao-alicerce-para-uma-sociedade-mais-justa
3
https://www.instituto-camoes.pt/activity/o-que-fazemos/cooperacao/cooperacao-
portuguesa/o-que-fazemos/direitos-humanos-e-boa-governacao
realização dos direitos, liberdades e garantias fundamentais impostas pela

Constituição e demais leis, vigentes num Estado de Direito, precedido em tudo

pela realização da Dignidade da Pessoa Humana, em todas as suas expressõe s e

manifestações.

A NECESSIDADE DA BOA GOVERNAÇÃO: PARA A REALIÇÃO DOS DIREITOS

HUMANOS OU FINDAMETAIS, SALVAÇÃO DO AMBIENTE E GARANTIA DE

UM FUTURO SUSTENTÁVEL.

Globalmente considera-se o uso indevido ou roubo de activos estatais, subtraídos

localmente ou de ajuda externa, negação aos serviços básicos, como assistência

médica adequada, educação e acesso à água potável. O aumento da mortalidade

infantil, o analfabetismo, a desnutrição e debilidade da saúde; a redução do

investimento e as oportunidades económicas e a perpetuação da pobreza, os

danos ambientais, as alterações climáticas, como consequência da ausência da

Boa Governação. O problema geralmente é mais grave em países ricos em

recursos naturais, como por exemplo é o caso de Angola e Moçambique. Os

subornos distorcem a tomada de decisões a favor dos mais corruptos, e são

usados para contornar os danos ambientais. O resultado é a má qualidade - e até

perigoso - resultados para o público, como infra-estruturas inferiores, alimentos e

medicamentos contaminados. Ademais, a ausência da Boa Governação, está

também, associada a outras formas de crime: tráfico de armas, animais selvagens

e drogas. O tráfico de seres humanos - transportar pessoas ilegalmente para

trabalho ou exploração sexual. Os pagamentos à polícia, políticos e juízes também

são uma parte intrínseca da corrupção que impera na ausência da boa

governança. Este cenário, ameaça a segurança nacional. Cria um silêncio

destruidor e a cultura instalada em vários países do mundo, que olham para a

corrupção como um fato inevitável da vida cotidiana e que deve ser tolerado. Isto

foi determinante na criação do consenso global sobre a necessidade e os padrões


de transparência e boa governança. Esses padrões são codificados em vários

acordos multilaterais vinculativos. Os dois mais importantes são a Convenção

sobre o Suborno de Funcionários Públicos Estrangeiros Concluídos por Membros da

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a Convenção da

OCDE, e a Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, ou UNCAC, bem

como a integração ainda que de forma tímida de princípios e normas nos textos

fundamentais de vários países do mundo sobre a Boa Governação. E mais,

partilhando o ponto de vista doutrinal sobre a necessidade da Boa Governação, do

Constitucionalista angolano, Leandro E.G. Ferreira (2017), tais como: … A boa

governação é uma aquisição civilizacional, ligada hoje fortemente ao cumprimento

do Direito (v.g.pp.40, ss)…Mais do que nuca, os tempos de hoje e do futuro

impõem que os titulares de cargos se legitimem pelo modo de desempenho da sua

governação ( v.g. pp. 36-38)… Os movimentos e lutas pelas independências foram

manifestações da busca de melhores governos (v.g.pp. 179-182)… Dois principais

perigos têm-se manifestado caracteristicamente nos ordenamentos constitucionais

lusófonos: o reforço dos órgãos executivos e recorrência de “lacunas” na sua

regulação, facilitando arranjos e ajustamentos conforme o sabor dos ventos

políticos (v.g.pp.98-99.. estas conclusões do autor aludido, vistas de perto,

refletem quadro governativo de vários países principalmente em Africa, e em

particular de Angola e Moçambique, impondo assim, não só do ponto de vista

material, mas também formal a efectivação da Boa Governação em todos níveis,

para a realização dos direitos humanos ou fundamentais, salvação do ambiente e

garantia de um futuro sustentável, em termos de possibilidade de vida para as

gerações futuras.

JURISDICIONALIZAÇÃO DA BOA GOVERNAÇÃO; POSITIVAÇÃO DA BOA

GOVERNAÇÃO.
A necessidade da Boa Governação, revela em si a jurisdicionalização deste

conceito, porquanto o Estado de Direito é o Estado da Juridicidade, a supremacia

da Dignidade da pessoa Humana, impõe que o arbítrio seja limitado quer pelo

sistema constitucional, quer pelas leis ordinárias vigentes em qualquer estado no

mundo. Exemplo disto; i- São os Direitos, Liberdades e Garantias Fundamentais

aqui estão vinculados os Estados;

ii- As Convenções Vinculativas acima aludidas, que carregam em si normas

imperativas gerais, sobre a qual nenhuma disposição interna ou internacional

prevalece. ius conges4, as cláusulas abertas das constituições, como é o caso do

A Organização das Nações Unidas, desde 1945, tem desempenhado um papel de grande
4

responsabilidade e de fundamental importância para promoção e proteção dos direitos

humanos, tanto por meio de seus documentos principais como também por meio de

Convenções, Estatutos e Resoluções da Assembleia Geral, que dão suporte ao trabalho dos

órgãos internacionais responsáveis pela promoção da justiça e do direito internacional. Desta

forma, está cada vez mais evidente nos Tribunais internacionais o reconhecimento de normas

de direitos humanos com caráter jus cogens. É o caso da Convenção Internacional sobre a

Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial da ONU, de 21 de dezembro de 1965.

A proibição da discriminação racial também é considerada norma de caráter jus cogens, sendo

reconhecida tanto em julgados da CIJ como de outras Cortes Internacionais, a exemplo do

caso Actividades Armadas na República Democrática do Congo em 2006 (República

Democrática do Congo vs. Ruanda). Contudo, num trecho da decisão, a Corte faz menção de

que a reserva de Ruanda ao artigo 22 da Convenção sobre a Discriminação Racial é inaceitável

em razão da sua incompatibilidade com o objeto e o fim do tratado, sendo que a RDC

sustentou nas audiências que a proibição da discriminação racial era uma norma imperativa, e

que, em conformidade com o espírito do artigo 53 da Convenção de Viena sobre o Direito dos

Tratados, a reserva de Ruanda ao artigo 22 da Convenção sobre Discriminação Racial deve

ser considerada como contrária ao jus cogens e sem efeito-(ICJ. Case Concerning Armed
artigo 21 da CONSTITUIÇÃO de Angola que recepcionam as Convecções e Tratados

Internacionais por si ratificados e em sua maioria elevados a categoria de normas

de Ius Congens como é caso das Convenções dos Direitos Civis e Políticos, bem

como de Diretos Económicos e Sociais. E demais disposições legais que impõe uma

Conduta Ética e legal, na realização ou prossecução do interesse publico.

As leis que dizem respeito a organização Administrativa e o seu funcionamento, as

leis e códigos de Contractos Públicos, são disto exemplo da jurisdicionalização da

Boa Governação.

Tudo hoje, deve ter um fundamento quer legal ou jurídico, portanto a

administração pública hoje é chamada a actuar em obediência ao principio da Boa

Administração, corolário do princípio da Boa Governação para responder os

supremos interesses dos particulares com garantias constitucionais. Assim, o

Estado de Direito é em si o Estado da Jurisdicionalização da Boa Governação, sem

a qual não haveria parâmetro de orientação e de avaliação a acção daqueles que

democraticamente foram eleitos para a satisfação dos anseios da Nação e dos

cidadãos.

MEDIDAS PARA EFECTIVAÇÃO DA BOA GOVERNAÇÃO: DESAFIO

INSTITUCIONAL.

Jessica Tillipman, directora assistente de “Field Placement” e professora de Direito

na Faculdade de Direito da Universidade George Washington, Washington DC, no

curso Liderança Responsável: Em Transparência e boa governação, considera

cinco enquadramentos necessárias para alcançar este objectivo, que são: i-um

compromisso com a transparência; ii-estruturas governamentais eficazes e

supervisão; iii-leis anticorrupção; iv-proteções de denunciantes; e, v- a liberdade

de imprensa.

Activities on the Territory of the Congo. (Democratic Republic of the Congo V. Rwanda).

Judgment of 3 February 2006, p. 32)


Para esta académica os governos devem disponibilizar informações oficiais,

principalmente sobre o OGE (Orçamento Geral do Estado, incluindo a forma de

execução) aos cidadãos através de todos os canais úteis, incluindo as redes

sociais. Porquanto só assim os contribuintes (cidadãos) saberão como são usados

os seus Kwanzas, para Angola, ou meticais para Moçambique. Esta é uma das

formas mais directas para os cidadãos poderem determinar as prioridades do

governo.

Da mesma forma, o processo de aquisição pública ou de realização de despesas

públicas de um governo também deve ser transparente para garantir que as

aquisições do governo sejam feitas de uma forma aberta e imparcial. Aqui o que

deve assumir a centralidade da actividade da Administração Central, Local,

Autônoma e Autárquica é o procedimento despesista, que segundo Joaquim F.

da Rocha (2019) é um conjunto legalmente ordenado de actuações tendentes à

emanação de um acto administrativo-despesista. O mesmo autor explica a

importância da centralidade do procedimento despesista, como a melhor forma de

realização das despesas públicas, que no fundo é a prossecução do interesse

público de forma racional e não arbitrária, potenciando controlo entre as entidades

intervenientes, equilíbrios recíprocos (checks and balances) para a melhor

execução do OGE e a realização da Boa despesa, que por hoje é corolário das

exigências da Boa Governação.

Além da transparência, são necessárias estruturas governamentais de supervisão

para prevenir e mitigar a corrupção. O contacto entre funcionários e cidadãos deve

ser limitado a locais abertos e adequados para eliminar oportunidades para

corrupção. Isso significa que se alguém quiser fazer negócios com um

determinado ministério ou direcção, existe um processo objectivo, que chamamos

cá entre nós de Procedimento despesista, regulado pela Lei dos Contratos

Públicos, Lei Nº 9/16 e demais legislação do sistema administrativo vigente em


angola. Ademais, para se dissuadir ou mitigar a corrupção real ou percebida no

executivo, outras instituições governamentais devem prestar uma supervisão

rigorosa. Por exemplo, o poder executivo não deve poder alterar de forma

independente as leis e regulamentos. Em muitos países, a supervisão parlamentar

ou os comitês parlamentares investigam regularmente as actividades do executivo

para garantir o cumprimento da Constituição e da lei e para proteger o dinheiro e

os melhores interesses dos contribuintes. Um poder judiciário forte também actua

como um controlo crítico sobre os outros ramos do governo e garante a aplicação

adequada da lei. Os juízes devem ser qualificados, bem treinados e imparciais,

geralmente com compromissos vitalícios projectados para os proteger da

influência política ou intimidação. A verificação adequada dos juízes pelo poder

legislativo, antes das suas nomeações e durante os seus mandatos, também serve

para erradicar potenciais conflitos que podem levar a perguntas sobre o

compromisso de um juiz com a boa governação.

Outro mecanismo de supervisão é a auditoria pública das funções governamentais.

Nos Estados Unidos, o controlador geral chefia o Government Accountability

Office, ou GAO, (Gabinete de Prestação de Contas do Governo), um ramo do Poder

Legislativo dos EUA. O GAO audita frequentemente as agências do governo federal

como uma salvaguarda contra a corrupção, a ineficiência e o desperdício. Os

inspectores-gerais estão colocados em cada agência do ramo executivo e têm a

tarefa de identificar casos de fraude, desperdício e abuso de agências através da

realização de revisões regulares dos programas das agências e contratos, e

comunicando os resultados e faz recomendações ao Congresso dos EUA.

Além disso, a contratação de um serviço público profissional, independente e bem

compensado também ajuda a reduzir os riscos de corrupção. Os governos podem

reduzir significativamente as tentações de corrupção através da promulgação de

leis e procedimentos destinados a garantir que os funcionários públicos são


qualificados, profissionais, livres de influência política e recebem salários

competitivos. Além disso, instalando uma autoridade de supervisão eficaz, os

governos estão posicionados para recompensar os funcionários públicos por um

desempenho ético e forte, ao mesmo tempo que punem o mau comportamento.

Embora esses mecanismos ajudem a reduzir os riscos de corrupção, a base e

aplicação das leis anticorrupção fortes são uma forte doutrina de boa governação.

Primeiro, um governo deve implementar fortes leis anticorrupção que punam a

improbidade e as más práticas identificadas. Por exemplo, Hong Kong estabeleceu

a Comissão Independente Contra a Corrupção, ou ICAC, em 1974. A

independência da comissão é garantida por lei, e a ICAC responde directamente ao

executivo principal. A comissão adotou uma estratégia tripla, que incluiu a

aplicação eficaz da lei, a prevenção, e a educação sobre os impactos negativos da

corrupção.

Embora as leis anticorrupção fortes e bem redigidas sejam primordiais, elas são

inúteis sem aplicação efectiva. As leis anticorrupção devem ser activamente

aplicadas por pessoas bem treinadas, experientes, com bons recursos e

investigadores e promotores profissionais. As leis também devem incluir fortes

penas, incluindo prisão e pesadas multas, para punir o comportamento corrupto e

impedir que outras pessoas se envolvam na mesma má conduta. Foi criada a

Direcção de Corrupção e Crime Económico do Botswana como uma agência de

aplicação da lei para combater a corrupção. A directoria possui poderes de

investigação, prisão e busca e apreensão. Em angola, temos uma Direcção

dependente da PGR, que a nosso ver não satisfaz ainda os anseios dos angolanos

no combate a corrupção, pese embora esteja em curso investigações e a instrução

de alguns processos mediáticos, a conjuntura apresenta-se ainda desarticulada,

uns combatem e outros vão instalando situações e mecanismos de

vulnerabilidades, designações a cargos superiores sem legitimidade do ponto de


vista material, em termos de valoração das condutas manifestada durante os

processos de ocupação de cargos superiores.

Uma outra atenção que a professora Jéssica, ressalta consiste no facto de que

todos os regimes de boa governação fortes também devem incluir formas de

incentivar e proteger os denunciantes. A Transparency International identifica a

proteção da identidade, proteção contra retribuição, e imunidade a procedimentos

disciplinares e responsabilidade sob a lei como princípios-chave que devem ser

consagrados na lei para proteger os denunciantes. Isso ajuda a garantir que os

denunciantes não sejam punidos pela sua actividade.

Finalmente, uma imprensa livre e aberta é fundamental para a boa governação. É

necessário que os jornalistas profissionais treinados exponham a corrupção e se

protejam contra o abuso de poder. Para isso, é imperativo que a imprensa tenha

acesso aos funcionários do governo e ao trabalho que realizam. O funcionamento

do governo deve ser compartilhado com o público por meio de actores objectivos

que podem denunciar as notícias e fornecer análises honestas. Uma imprensa livre

e aberta também significa que os jornalistas não devem ser censurados,

perseguidos ou submetidos a leis injustificadamente restritivas de difamação, e o

contraditório deve ser garantido como reza a constituição, para cada acção do

Governo, passada, principalmete na TPA, deve-se ouvir a oposição, é assim que

impõe a Boa Governação.

VALOR JURÍDICO DA BOA GOVERNAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DE 2010: O

ASSENTO DA BOA GOVERNAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DE ANGOA.

Neste tópico, vamos citar disposições constitucionais que de forma directa ou

indirecta apontam para as exigências da Boa Governação:

Artigo 1º O primado da Dignidade da pessoa Humana, sobre tudo e todos, neste

artigo o legislador constituinte colocou a Dignidade da Pessoa Humana, acima ou


antes de tudo, tal precedência só se efectiva com Boa Givernação no seu sentido

transversal, abarcando todos os sectores da sociedade.

Artigo 21º as tarefas fundamentais do Estado, constituem um imperativo

transversal da Boa Governação, a alínea P) é deste exemplo: constituem tarefas

fundamentais do Estado Angolano:

p) promover a excelência, a qualidade, a inovação, o empreendedorismo, a

eficiência e a modernidade no desempenho dos cidadãos, das instituições, das

empresas e serviços, nos diversos aspectos da vida e sectores de actividade .

Vejam a precedência da das condutas de excelência, qualidade e inovação

prescritas pela Constituição, significa que em primeiro lugar é o cidadão que deve

promover a boa governação, agindo de forma ética, para quando se enquadrar em

qualquer contexto agir de forma ética e procurar constatar em qualquer grupo ou

organização a existência de algo condigo ético, não havendo sugerir a criação de

um e buscar a todo custo cumpri-lo assim poderemos promover a boa governação.

Já no artigo 104º. Sobre o orçamento geral do ESTADO. No nº 4, a const ituição

determina que: A execução do Orçamento Geral do Estado obedece o princípio da

Transparência e da Boa Governação e é fiscalizada pela Assembleia Nacional, pelo

Tribunal de Contas, em condições definidas por lei. Aqui a disposição é clara, para

concluir o artigo 198º. Sobre objectivos e princípios da Administração Púbica,

dispõe:

1. A administração pública prossegue, nos termos da Constituição e da lei, o

interesse público, devendo, no exercício da sua actividade, reger-se pelos

princípios da igualdade, legalidade, justiça, proporcionalidade,

imparcialidade, responsabilização, probidade administrativa e respeito pelo

património público.

2. A prossecução do interesse público deve respeitar os direitos e interesses

legalmente protegidos dos particulares.


Pelo que, foi exposto não temos duvidas de quem estas disposições, bem como os

princípios constitucionais revelam a fundamentalidade da Boa Governação,

permitindo que a sua ausência responsabilize os governantes, porque se não for

pela Boa Governação, a Constituição, será sempre um simbolismo, onde o poder

real que a domina e hostil a realização dos seus destinatários, permitindo assim o

retrocesso e obstáculo ao progresso e o alcance em todas as suas dimensões.

Moreira Lopes (2018), Professor de Direito da Faculdade de Direito da

Universidade Católica de Angola, considera que as alterações operada na

sociedade estão na base de mudança de paradigma que se efectuou ao nível do

direito administrativo, que este paradigma colocou, no seu verdadeiro lugar, as

formas por vias das quais a Administração deveria exercer a sua actividade, que

os direitos fundamentais dos cidadãos constituem o principal “obstáculo” para a

administração na busca desfreada pelo interesse público. Ora, se o acesso aos

serviços básicos, como assistência médica adequada, educação e acesso à água

potável. A redução mortalidade infantil, o analfabetismo, a desnutrição e debilita

a saúde; o aumento a redução do investimento, as oportunidades econômicas, o

aumento da pobreza, a proteção do ambiente, segundo o princípio da equidade

intergeracional 5 não constituir o obstáculo para os governos não deixarem de

5
Este principio é retratado por, ROCHA, Joaquim Fretas da, Direito da Despesa Pública,

ALMEDINA, 2019, cit.,pp.105, 106, 107, 108 e 109. A despesa pública, neste caso o

procedimento que produz o acto ou a decisão despesita deve observar a equidade entre

gerações, maioritariamente apelando para a uma ética do futuro, numa dupla perspectiva, :

I. De um ponto de positivo, devem privilegiar-se os gastos públicos que projetem

utilidades para destinatários integrados em futuras gerações, acentuando as despesas

de natureza reprodutiva (Hospitais, centros de saúde, escolas, universidades,

bibliotecas, tribunais, vias estruturantes, sistemas integrados de transporte, etc.)

possibilitando que as crianças e jovens de hoje-bem assim como os ainda não nascidos-

possam ainda usufruir das mesmas após vários anos e décadas de existência;
realizar os direitos, liberdades e garantias fundamentais e evitar que o cãos não

aconteça pela ausência da efectivação dos direitos fundamentais dos cidadãos,

então é mister afirmar que o procedimento administrativo na perspectiva

garantística será o parâmetro ou o critério de aferição, avaliação da existência ou

não da Boa Governação. Hoje a boa governação não é só exigência deu um regime

é condição necessária para Segurança interna, saúde, criação de riqueza e

desenvolvimento sustentável.

II. De um ponto de vista negativo, os gastos públicos não devem onerar as gerações

futuras, o que acontecerá se eles forem levados a prática com base em crédito

irresponsável, atirando “para quem vem a seguir “ o encargo da dívida inerente ao seu

pagamento.
CONCLUSÕES:

Como conclusões é evidente que:

I. A boa governação é o respeito ao estado de direito e o reconhecimento de

que as despesas públicas são uma relação de confiança que deve ser

exercida no interesse público e não para ganho pessoal ou político;

II. A necessidade da Boa Governação, resulta de um consenso global e já está

positivado em duas impotentes convenções vinculativas de quase todos os

países membros da ONU, Angola e Moçambique, fazem parte da lista;

III. Com estas cinco medidas, podemos efectivar os objectivos da Boa

Governação: i-um compromisso com a transparência; ii-estruturas

governamentais eficazes e supervisão; iii-leis anticorrupção; iv-proteções de

denunciantes; e, v- a liberdade de imprensa.

IV. A jurisdicionalização da Boa Governação, está praticamente positivada, quer

em forma de princípio ou regras, na grande maioria dos Textos

Constitucionais dos Países do Mundo. Angola é um dos exemplos.

V. A Boa Governação, além do assento constitucional reveste-se de um direito

fundamental na ordem intena, a vinculactividade dos tratados em que está

positivada e em consequência da natureza destes tratados internacionais

reveste-a de Direito Humano na Ordem Internacional nisto reside o seu

valor jurídico de um Direito Fundamental na Ordem Interna e Humano na

Ordem Internacional, a sua efectivação é condição sem a qual os países não

podem realizar os objectivos do desenvolvimento sustentável ( ODS) e

salvar a humanidade de todos os desafios e prevenir os efeitos,

principalmente de alterações climáticas e questionar qualquer acção

governativa em termos de possibilidade de vidas futuras.


ALGUMAS NOTAS BIBLIOGRÁFICAS:

Referências:

https://www.instituto-camoes.pt/activity/o-que-fazemos/cooperacao/cooperacao-

portuguesa/o-que-fazemos/direitos-humanos-e-boa-governacao acessado ás 14:32,

do dia 20 de 02 de 2020;

https://www.ver.pt/boa-governacao-alicerce-para-uma-sociedade-mais-justa/ as

14:36 do dia 20 de 02 de 2020;

Textos do Curso Oline do YALI Network, sobre Liderança Responsável: Em

Transparência e Boa Governação, Curso concluído no dia 15 de fevereiro de 2020;

(ICJ. Case Concerning Armed Activities on the Territory of the Congo. (Democratic

Republic of the Congo V. Rwanda). Judgment of 3 February 2006, p. 32);

Resolução 2.106-A (XX) da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 21 de dezembro

de 1965;

Bibliografia:

DA ROCHA, Joaquim Freitas, Direito da Despesa Pública, Almedina, 2019

LOPES, Moreira, O procedimento Administrativo na Perpectiva Garantistica, uma

abordagem sobre a legalidade procedimental e a discricionariedade instrutora,

Literacia, 2018;

E.G, FERREIRA, Leandro, A Boa Governação e Poder Executivo na Constituição de

Angola, Questões Constitucionais sobre o presidencialismo em Angola e contributos

para um melhor controlo político da governação, Almedina,2017;

Constituição 2010;

Textos do Curso Online do YALI Network, sobre Liderança Responsável: Em

Transparência e Boa Governação, Curso concluído no dia 15 de fevereiro de 2020.

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