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Processos Licitatórios,

Contratos e
Terceirização
Prof.ª Carla Moser
Prof.ª Sonia Adriana Weege

2015
Copyright © UNIASSELVI 2015

Elaboração:
Prof.ª Carla Moser
Prof.ª Sonia Adriana Weege

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

340

M899p Moser, Carla

Processos Licitatórios, contratos e terceirização/ Carla


Moser, Sonia Adriana Weege. Indaial : Uniasselvi, 2015.

191 p. : il

ISBN 978-85-7830-868-1

1. Direito
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Apresentação
Olá, acadêmico(a)!

O Poder Público, representado pela Administração Pública, que


por meio dos agentes públicos presta serviços identificados igualmente
como sendo públicos, interfere diariamente, em razão dos atos praticados,
na vida dos cidadãos que residem em determinada localidade, ou ainda,
quando é originado pela Administração Pública Federal, afeta todos que
se encontram no território brasileiro. Este Caderno de Estudos apresenta a
você, acadêmico(a), orientações acerca de processos desencadeados a partir
da necessidade de suprir a Administração Pública de bens ou serviços que
permitam que esta cumpra seu papel diante da coletividade. Estamos falando
dos processos licitatórios.

Os estudos da Unidade 1 estão centrados na identificação das


diretrizes constitucionais para os processos licitatórios, nos conceitos e
nas finalidades deste procedimento, no desenvolvimento da licitação, nos
princípios da licitação, nas exceções do dever de licitar. Segue ainda esta
unidade abordando o tema modalidades de licitação da Lei nº 10.520/2002,
que trata do pregão eletrônico e do pregão presencial, encerrando com o tema
PPP – Parcerias Públicas Privadas.

Iniciamos os estudos da Unidade 2 com as normas gerais contidas na


Lei nº 8.666/93, na qual temos as modalidades licitatórias desta lei, os tipos
de licitação e as características que determinam a formação da comissão
de licitação. Serão reconhecidos, igualmente, os recursos administrativos e
judiciais aplicáveis aos processos licitatórios, bem como a possibilidade de
anulação e revogação do processo licitatório.

Como ato que integra o próprio processo licitatório e ratifica todo


procedimento utilizado, viabilizando efetivamente a aquisição e contratação
de bens e serviços pela Administração Pública, temos a celebração do contrato
administrativo, este que será objeto de estudo da Unidade 3 deste Caderno.
Encontraremos nesta unidade a descrição das especificidades dos contratos
administrativos, suas características, os principais contratos administrativos
celebrados pelo Poder Público e outras regras aplicáveis aos contratos
administrativos, como as sanções aplicáveis quando da inexecução destes
contratos.

III
Seja autor de sua própria história, seu empenho, esforço e dedicação
na compreensão destes conteúdos possibilitarão que você se torne um gestor
com competências e habilidades para uma administração responsável e de
qualidade. Bons estudos, sucesso nesta caminhada!

Prof.ª Carla Moser


Prof.ª Sonia Adriana Weege

UNI

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades
em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988 . ................................. 1

TÓPICO 1 – A LEI Nº 8.666/93, CONCEITO DE LICITAÇÕES E O


DESENVOLVIMENTO ................................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 A CONSTITUIÇÃO E A LEI DE LICITAÇÕES .............................................................................. 3
3 CONCEITO E FINALIDADE ............................................................................................................. 4
4 OBJETO DA LICITAÇÃO . ................................................................................................................. 6
4.1 OBRAS E SERVIÇOS ....................................................................................................................... 7
4.2 COMPRAS ........................................................................................................................................ 9
4.3 ALIENAÇÕES .................................................................................................................................. 10
5 PROCEDIMENTO LICITATÓRIO DA LEI Nº 8.666/1993 . .......................................................... 12
5.1 FASE INTERNA DA LEI Nº 8.666/1993 . ...................................................................................... 13
5.2 FASE EXTERNA DA LEI Nº 8.666/1993 ....................................................................................... 13
6 DESENVOLVIMENTO DA LICITAÇÃO DA LEI Nº 8.666/1993 ................................................ 14
6.1 AUDIÊNCIA PÚBLICA .................................................................................................................. 14
6.2 EDITAL OU CONVITE DE CONVOCAÇÃO DOS INTERESSADOS .................................... 14
6.3 RECEBIMENTO DA DOCUMENTAÇÃO E PROPOSTAS ....................................................... 15
6.4 HABILITAÇÃO DOS LICITANTES .............................................................................................. 15
6.5 JULGAMENTO DAS PROPOSTAS .............................................................................................. 15
6.6 HOMOLOGAÇÃO E ADJUDICAÇÃO . ...................................................................................... 16
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 17
AUTIOATIVIDADE . .............................................................................................................................. 18

TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO ...................................................................................... 19


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19
2 LEGALIDADE ....................................................................................................................................... 19
3 IMPESSOALIDADE ............................................................................................................................ 20
4 IGUALDADE ENTRE LICITANTES ................................................................................................ 20
5 PROBIDADE ADMINISTRATIVA ................................................................................................... 22
6 VINCULAÇÃO AO EDITAL OU CONVITE .................................................................................. 22
7 JULGAMENTO OBJETIVO ............................................................................................................... 23
8 DEVER DE LICITAR . .......................................................................................................................... 24
9 PROCEDIMENTO FORMAL ............................................................................................................. 24
10 PUBLICIDADE DOS ATOS ............................................................................................................. 25
11 ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA AO VENCEDOR . ............................................................... 27
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 29
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 30

TÓPICO 3 – EXCEÇÕES AO DEVER DE LICITAR . ........................................................................ 31


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 31
2 DISPENSA DE LICITAÇÃO .............................................................................................................. 31
3 INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO . ............................................................................................. 34
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 36

VII
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 37

TÓPICO 4 – MODALIDADES DE LICITAÇÃO DA LEI Nº 10.520/2002 ..................................... 39


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 39
2 MODALIDADE DE LICITAÇÃO DA LEI Nº 10.520/2002 . .......................................................... 39
3 PREGÃO PRESENCIAL ...................................................................................................................... 42
4 PREGÃO ELETRÔNICO . ................................................................................................................... 43
5 FASES DA LICITAÇÃO NA LEI Nº 10.520/2002 . ........................................................................... 45
5.1 FASE INTERNA ............................................................................................................................... 45
5.2 FASE EXTERNA . ............................................................................................................................. 46
5.3 RECURSOS NO PREGÃO .............................................................................................................. 49
5.3.1 Sanções administrativas . .......................................................................................................... 50
5.3.2 Advertências ............................................................................................................................... 50
5.3.3 Sanções temporárias .................................................................................................................. 51
5.3.4 Declaração de idoneidade ........................................................................................................ 51
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 52
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 53

TÓPICO 5 – PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS - PPP .................................................................. 55


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 55
2 PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS . ............................................................................................... 55
3 HISTÓRICO E CONCEITO DAS PPPs . .......................................................................................... 57
4 FORMAS DE PPPs . .............................................................................................................................. 59
LEITURA COMPLEMENTAR . ............................................................................................................. 60
RESUMO DO TÓPICO 5 ....................................................................................................................... 67
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 68

UNIDADE 2 – NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93 ............ 69

TÓPICO 1 MODALIDADES DE LICITAÇÃO . ............................................................................... 71


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 71
2 CONCEITOS QUE INTEGRAM AS MODALIDADES LICITATÓRIAS ................................. 73
3 CONSULTA PÚBLICA – DISPOSIÇÃO ESPECIAL ..................................................................... 83
4 CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE PUBLICIDADE ................................................................ 85
5 SISTEMA DE REGISTRO DE PREÇOS .......................................................................................... 86
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 88
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 89

TÓPICO 2 – TIPOS DE LICITAÇÃO E COMISSÃO DE LICITAÇÃO ........................................ 91


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 91
2 TIPOS DE LICITAÇÃO ....................................................................................................................... 91
3 COMISSÃO DE LICITAÇÃO ............................................................................................................ 94
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 98
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 99

TÓPICO 3 – RECURSOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS APLICÁVEIS AOS


PROCESSOS LICITATÓRIOS – LEI Nº 8.666/93 ....................................................... 101
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 101
2 ESPÉCIES DE RECURSOS LICITATÓRIOS ADMINISTRATIVOS . ....................................... 103
2.1 IMPUGNAÇÃO AO EDITAL ........................................................................................................ 104
2.2 RECURSO HIERÁRQUICO ........................................................................................................... 108
2.2.1 Requisitos . .................................................................................................................................. 108
2.2.2 Processamento . .......................................................................................................................... 108

VIII
2.2.3 Efeitos e consequências dos recursos licitatórios .................................................................. 110
2.2.4 Desistência dos recursos licitatórios interpostos .................................................................. 111
3 REPRESENTAÇÃO .............................................................................................................................. 111
4 PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO .................................................................................................. 112
5 RECURSOS JUDICIAIS NO PROCESSO LICITATÓRIO . ......................................................... 113
6 ANULAÇÃO E REVOGAÇÃO DA LICITAÇÃO .......................................................................... 115
LEITURA COMPLEMENTAR . ............................................................................................................. 118
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 124
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 125

UNIDADE 3 – CONTRATOS ADMINISTRATIVOS ...................................................................... 127

TÓPICO 1 – ESPECIFICIDADES DOS CONTRATOS . .................................................................. 129


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 129
2 CONTRATO DE ADMINISTRAÇÃO X CONTRATO ADMINISTRATIVO .......................... 129
3 CARACTERÍSTICAS DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS ............................................ 130
3.1 FORMALIDADES DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS . ................................................ 131
3.2 CLÁUSULAS ESSENCIAIS . .......................................................................................................... 133
3.3 CONTRATO DE ADESÃO ............................................................................................................. 134
3.4 PESSOALIDADE (intuitu personae) . ........................................................................................... 134
3.5 DURAÇÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO ................................................................... 135
3.6 CLÁUSULAS EXORBITANTES . ................................................................................................... 136
3.6.1 Alteração unilateral do contrato .............................................................................................. 137
3.7 POSSIBILIDADE DE RESCISÃO UNILATERAL DO CONTRATO
ADMINISTRATIVO ........................................................................................................................ 138
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 142
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 143

TÓPICO 2 – PRINCIPAIS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS ................................................. 145


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 145
2 CONTRATOS DE OBRA PÚBLICA ................................................................................................. 146
3 CONTRATOS DE SERVIÇOS ........................................................................................................... 148
4 CONTRATOS DE FORNECIMENTO .............................................................................................. 150
5 CONTRATOS DE CONCESSÃO ...................................................................................................... 151
6 CONTRATO DE GESTÃO ................................................................................................................. 154
7 CONVÊNIOS . ....................................................................................................................................... 155
8 CONSÓRCIOS PÚBLICOS ................................................................................................................ 157
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 159
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 160

TÓPICO 3 – REGRAS DIVERSAS APLICÁVEIS AOS CONTRATOS ........................................ 161


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 161
2 INEXECUÇÃO DO CONTRATO ...................................................................................................... 161
2.1 INEXECUÇÃO CULPOSA ............................................................................................................. 161
2.2 INEXECUÇÃO SEM CULPA ......................................................................................................... 162
2.2.1 Teoria da imprevisão ................................................................................................................. 162
2.2.2 Fato do príncipe ......................................................................................................................... 163
2.2.3 Caso fortuito ou força maior .................................................................................................... 163
3 APLICAÇÃO DE SANÇÕES POR INEXECUÇÃO DE CONTRATOS
ADMINISTRATIVOS ......................................................................................................................... 164
4 EXIGÊNCIA DE GARANTIA CONTRATUAL .............................................................................. 166
5 EXTINÇÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO . ................................................................... 168

IX
5.1 CUMPRIMENTO DO CONTRATO .............................................................................................. 168
5.2 TÉRMINO DO PRAZO ................................................................................................................... 168
5.3 IMPOSSIBILIDADE MATERIAL OU JURÍDICA . ...................................................................... 168
6 INVALIDAÇÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO ............................................................ 169
7 RESCISÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO . .................................................................... 169
7.1 RESCISÃO AMIGÁVEL ................................................................................................................. 170
7.2 RESCISÃO JUDICIAL ..................................................................................................................... 170
7.3 RESCISÃO ADMINISTRATIVA .................................................................................................... 170
8 DISTINÇÃO ENTRE REAJUSTE E REVISÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO ....... 171
9 CRIMES E PENAS ................................................................................................................................ 172
10 PRORROGAÇÃO DOS CONTRATOS ......................................................................................... 172
LEITURA COMPLEMENTAR . ............................................................................................................. 174
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 179
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 180
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 183

X
UNIDADE 1

LICITAÇÕES PÚBLICAS E A
CONSTITUIÇÃO DE 1988

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você estará apto(a) a:

• apresentar e esclarecer a conceituação, as exceções e o dever de licitar, bem


como o procedimento licitatório;

• identificar os princípios que devem ser respeitados nas licitações;

• conhecer a modalidade licitatória do pregão para a prática de aquisição de


bens e serviços comuns;

• demonstrar a importância do processo licitatório para a contratação com


os órgãos públicos;

• identificar e distinguir o desenvolvimento das licitações nas modalidades


da Lei nº 8.666/93 e da Lei nº 10.520/2002;

• reconhecer o instituto da Parceria Público-Privada como uma nova opção


para a Administração Pública.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No final de cada um deles,
você encontrará atividades que o(a) auxiliarão a fixar os conhecimentos
desenvolvidos.

TÓPICO 1 – A LEI Nº 8.666/93, CONCEITO DE LICITAÇÕES E O


DESENVOLVIMENTO

TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO

TÓPICO 3 – EXCEÇÕES AO DEVER DE LICITAR

TÓPICO 4 – MODALIDADES DE LICITAÇÃO DA LEI Nº 10.520/2002

TÓPICO 5 – PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

A LEI Nº 8.666/93, CONCEITO DE


LICITAÇÕES E O DESENVOLVIMENTO

1 INTRODUÇÃO
A Constituição da República Federativa do Brasil, Constituição Federal ou
apenas CF, direciona os caminhos a serem percorridos pelos Entes Públicos em
todas as esferas de governo, bem como em todos os três poderes independentes. Os
princípios constitucionais que regem a Administração Pública (Direta e Indireta)
também baseiam o processo licitatório, que nada mais é do que um procedimento
administrativo.

Você sabe como o poder público deve proceder na venda de seus bens?
Como um prestador de serviços consegue contratar por meio da Administração
Pública? Como se desenvolve e quais são as fases de uma licitação? Essas são
algumas das questões que vamos abordar no transcorrer do nosso trabalho neste
tópico.

Caro(a) acadêmico(a), vamos abordar a legislação pertinente às licitações


públicas, conhecer a Lei nº 8.666/93, que regula a norma constitucional quanto
ao seu art. 37, inciso XXI, em que encontramos a exigência de prévio processo
licitatório, o desenvolvimento das etapas da licitação e suas exceções para as
contratações da Administração Pública.

Seja bem-vindo(a)! Contamos com você a partir de agora.

2 A CONSTITUIÇÃO E A LEI DE LICITAÇÕES


Todos os Poderes do Estado (Legislativo, Executivo e Judiciário), através
de seus Órgãos de Administração Direta e Indireta, deverão se utilizar do
procedimento administrativo chamado de Licitação para contratação de serviços,
bens, alienações, entre outros. Vejamos a fundamentação deste preceito na
Constituição Federal, art. 37, inciso XXI:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos


Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
[...]
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,
serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo
de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os

3
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,


mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual
somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

“Como se pode observar, a Constituição estabeleceu, como regra geral, que


todos os contratos celebrados pela Administração Pública devem ser precedidos
de processo de licitação” (ALKMIM, 2009, p. 616).

Quando houver interesse e a legislação permitir a exploração direta de


atividade econômica pelo Estado, segundo o art. 173, da CF, há obrigatoriedade de
procedimento licitatório.

A regra geral exige a licitação, mas existem casos que justificadamente


podem dispensar ou apenas se utilizar de procedimentos mais céleres, orienta
Moraes (2011, p. 380):

A Constituição Federal exige a licitação na contratação de obras,


serviços, compras e alienações da administração pública direta, indireta
ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito e dos Municípios, pois o princípio da licitação representa
exigência superior da própria moralidade administrativa e, como tal, a
sua dispensa deverá ocorrer excepcionalmente em casos expressamente
especificados em lei, respeitando sempre o interesse público.

Verificamos que o texto constitucional carecia de regulamentação para


contemplar todos os procedimentos e situações inerentes à Licitação. Esta
regulamentação foi trazida pela conhecida Lei de Licitações nº 8.666, de 21 de
junho de 1993, e posteriores alterações.

DICAS

Caro(a) acadêmico(a):
A Lei nº 8.666/93 é o nosso objeto de estudos, então, faça a leitura complementar para
compreender melhor o mecanismo das licitações. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm>.

3 CONCEITO E FINALIDADE
Diferente das sociedades privadas e pessoas naturais, como eu e você,
acadêmico(a), a Administração Pública, quando realiza contratos com particulares,
para fornecimento de bens, serviços, locação de imóveis, entre outros, deve ater-
se à necessidade de vincular-se ao interesse público. É o que explica Carvalho
Filho (2013, p. 234): “A Administração Pública [...] exerce atividade multifária e
complexa, e sempre com os olhos voltados para fim de interesse público”.

4
TÓPICO 1 | A LEI Nº 8.666/93, CONCEITO DE LICITAÇÕES E O DESENVOLVIMENTO

Pode-se dizer que a exigência de licitação para as contratações por parte


da Administração Pública está ligada ao princípio da indisponibilidade
do interesse público, segundo o qual a Administração e seus agentes
não podem dispor da coisa pública sem a estrita observância de
procedimentos formais estabelecidos em lei (ALKMIM, 2009, p. 616).

A licitação deve ser realizada antes da formalização do contrato


administrativo. Quando existe interesse público de contratar, deve-se realizar um
processo licitatório e depois a formalização do evento através de contrato.

Ensinam os autores Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2013, p. 289) que na


licitação conheceremos quem realizará o objeto do contrato, porém a licitação é
apenas a demonstração do interesse de realizar, não a obrigação de realizar:

Assim a licitação é o antecedente necessário do contrato administrativo;


o contrato é o consequente lógico da licitação. Mas esta, observa-se, é
apenas um procedimento administrativo preparatório do futuro ajuste,
de modo que não confere ao vencedor nenhum direito ao contrato,
apenas uma expectativa de direito. Realmente, concluída a licitação, não
fica a Administração obrigada a celebrar o contrato, mas, se o fizer, há
de ser com o proponente vencedor.

Observamos que quando da realização do objeto do contrato,


necessariamente a Administração deverá contratar o vencedor deste procedimento
administrativo. Medauar (2005, p. 208) salienta: “Licitação, no ordenamento
brasileiro, é o processo administrativo em que a sucessão de fases e atos leva à
indicação de quem vai celebrar contrato com a Administração”.

Vejamos o entendimento de Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2013, p. 290)


sobre a conceituação e a finalidade da licitação:

[...] Licitação é o procedimento administrativo mediante o qual a


Administração Pública seleciona a proposta mais vantajosa para o
contrato de seu interesse, inclusive o da promoção do desenvolvimento
econômico sustentável e fortalecimento de cadeias produtivas de bens
e serviços domésticos.

Devemos ressaltar que, através de edital ou convite, a Administração


convoca os interessados a participarem de uma determinada disputa para escolher
a melhor proposta que interessa ao poder público.

Licitação é o procedimento administrativo formal em que a


Administração Pública convoca, mediante condições estabelecidas em
ato próprio (edital ou convite), empresas interessadas na apresentação
de propostas para o oferecimento de bens e serviços (TCU, 2005, p. 16).

Através da Lei nº 8.666/93, art. 3º, podemos conhecer a finalidade do


procedimento administrativo chamado licitação:

5
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

Art. 3º A licitação destina-se a garantir a observância do princípio


constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a
administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável
e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios
básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade,
da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao
instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são
correlatos.

Verificamos que a finalidade é bastante ampla, e de forma resumida


podemos dizer que seguindo os princípios da licitação (isonomia, legalidade,
moralidade etc.) deve-se escolher a proposta mais vantajosa que impulsionará o
desenvolvimento sustentável do Estado.

A Lei nº 8.666/93 determina no art. 1º, parágrafo único, quais os sujeitos


que devem utilizar-se, obrigatoriamente, do procedimento de licitação para suas
contratações:

Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos


administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade,
compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei, além dos
órgãos da administração direta, os fundos especiais, as autarquias, as
fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia
mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela
União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

Acadêmico(a), diferentemente da iniciativa privada, onde as empresas e


as pessoas podem fazer suas compras e seus contratos com quem desejarem, no
Estado a Administração tem que contratar, como regra, o vencedor de uma das
modalidades de licitação.

DICAS

“O objeto de uma licitação é aquilo que, posteriormente, será objeto do contrato


administrativo. [...] A Lei tratou de quatro objetos distintos: obras, serviços, compras e alienações.
Cada um desses objetos possui regras e características próprias” (GARCIA, 2010, p. 7).

4 OBJETO DA LICITAÇÃO
Na licitação, a Administração Pública tem como finalidade contratar com
terceiros; o objeto da licitação é o que se vai contratar, se a compra de um bem, a
venda de um bem público, a construção de uma obra, entre outros. No processo
licitatório, o Órgão Público deverá adequar seu objeto a uma das modalidades
de licitação, que são: convite, tomada de preço, concorrência, leilão, concurso e
pregão.
6
TÓPICO 1 | A LEI Nº 8.666/93, CONCEITO DE LICITAÇÕES E O DESENVOLVIMENTO

A exemplificação de objeto da licitação, segundo Meirelles, Aleixo e Burle


Filho (2013, p. 300), pode ser compreendida como: “[...] Objeto da licitação é a obra,
o serviço, a compra, a alienação, a concessão, a permissão e a locação que, afinal,
será contratada com o particular”.

Para que você compreenda melhor o objeto da licitação, trouxemos algumas


definições que constam na Lei de Licitações, art. 6º:

Art. 6o Para os fins desta Lei, considera-se:


I  -  Obra  -  toda construção, reforma, fabricação, recuperação ou
ampliação, realizada por execução direta ou indireta;
II  -  Serviço  -  toda atividade destinada a obter determinada utilidade
de interesse para a Administração, tais como: demolição, conserto,
instalação, montagem, operação, conservação, reparação, adaptação,
manutenção, transporte, locação de bens, publicidade, seguro ou
trabalhos técnico-profissionais;
III - Compra - toda aquisição remunerada de bens para fornecimento de
uma só vez ou parceladamente;
IV - Alienação - toda transferência de domínio de bens a terceiros; [...]

A determinação do objeto da licitação, no ato convocatório, deve conter


todas as especificações necessárias para identificá-lo sem gerar dúvidas, para que
no momento da realização ou entrega esteja de acordo com as necessidades da
Administração Pública. Salienta Justen Filho (2010, p. 140):

Como regra, toda e qualquer licitação exige que a Administração


estabeleça, de modo preciso e satisfatório, as condições da disputa.
Mais precisamente, a Administração tem de licitar aquilo que contratará
– o que significa dominar, com tranquilidade, todas as condições
pertinentes ao objeto licitado e estabelecer de modo preciso as cláusulas
da futura contratação. Por isso, o procedimento interno inicia-se com a
identificação da necessidade a ser atendida.

Determinar qual é o objeto de forma que evite múltiplas interpretações


não é uma tarefa fácil. O Órgão Público que solicita determinada contratação, de
bens ou serviços, deve descrever adequadamente as características e condições do
objeto para não surgirem problemas no momento da entrega.

4.1 OBRAS E SERVIÇOS


Antes de licitar uma obra ou serviço, devem ser considerados aspectos
relevantes para a especificação do objeto. Esses procedimentos dão legitimidade
ao processo licitatório, evitando a impugnação ou anulação da licitação.

Justen Filho (2010, p. 136) faz críticas quanto às terminologias utilizadas


pela legislação brasileira no que tange às regras peculiares e genéricas:

Um dos principais problemas da Lei nº 8.666 consiste em adotar


um tratamento uniforme para toda espécie de serviços. A Seção III
disciplina, de modo conjunto, as obras e os serviços, tomando por

7
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

modelo as contratações na área de engenharia. Isso provoca algumas


dificuldades, eis que a esmagadora maioria dos serviços contratados
pela Administração Pública não se configuram como de engenharia.

A Lei nº 8.666/93, na Seção III, do Capítulo I, aborda os procedimentos que


devem ser seguidos quando o objeto for obras e serviços. No seu art. 7º, a Lei de
Licitações é taxativa quanto aos documentos necessários para compor o processo
licitatório, como podemos observar:

Art. 7º As licitações para a execução de obras e para a prestação de


serviços obedecerão ao disposto neste artigo e, em particular, à seguinte
sequência:

I - projeto básico;
II - projeto executivo;
III - execução das obras e serviços.

§ 1º A execução de cada etapa será obrigatoriamente precedida da


conclusão e aprovação, pela autoridade competente, dos trabalhos
relativos às etapas anteriores, à exceção do projeto executivo, o qual
poderá ser desenvolvido concomitantemente com a execução das obras
e serviços, desde que também autorizado pela Administração.

O gestor público não pode simplesmente ordenar que se façam licitações


de obras e serviços. No § 2º, incisos I ao IV, do art. 7º, encontramos exigências de
ordem técnica e orçamentárias:

Art. 7º [...]
§ 2º As obras e os serviços somente poderão ser licitados quando:
I - houver projeto básico aprovado pela autoridade competente e
disponível para exame dos interessados em participar do processo
licitatório;
II - existir orçamento detalhado em planilhas que expressem a
composição de todos os seus custos unitários;
III - houver previsão de recursos orçamentários que assegurem o
pagamento das obrigações decorrentes de obras ou serviços a serem
executadas no exercício financeiro em curso, de acordo com o respectivo
cronograma;
IV - o produto dela esperado estiver contemplado nas metas
estabelecidas no Plano Plurianual de que trata o art. 165 da Constituição
Federal, quando for o caso.

Verificamos outras proibições importantes nos § 3º, § 4º e § 5º do art. 7º da


Lei de Licitações.

Art. 7º [...]
§ 3º É vedado incluir no objeto da licitação a obtenção de recursos
financeiros para sua execução, qualquer que seja a sua origem, exceto
nos casos de empreendimentos executados e explorados sob o regime
de concessão, nos termos da legislação específica.
§ 4º É vedada, ainda, a inclusão, no objeto da licitação, de fornecimento de
materiais e serviços sem previsão de quantidades ou cujos quantitativos
não correspondam às previsões reais do projeto básico ou executivo.
§ 5º É vedada a realização de licitação cujo objeto inclua bens e
serviços sem similaridade ou de marcas, características e especificações

8
TÓPICO 1 | A LEI Nº 8.666/93, CONCEITO DE LICITAÇÕES E O DESENVOLVIMENTO

exclusivas, salvo nos casos em que for tecnicamente justificável, ou


ainda quando o fornecimento de tais materiais e serviços for feito sob
o regime de administração contratada, previsto e discriminado no ato
convocatório.

Quando se trata do objeto da licitação de obras e serviços, a legislação se


preocupa com as questões de segurança, interesse público, economia, durabilidade
e impacto ambiental. Vejamos essas exigências da Lei de Licitações no seu art. 12,
incisos I ao VII:

Art. 12. Nos projetos básicos e projetos executivos de obras e serviços


serão considerados principalmente os seguintes requisitos:
I - segurança;
II - funcionalidade e adequação ao interesse público;
III - economia na execução, conservação e operação;
IV - possibilidade de emprego de mão de obra, materiais, tecnologia
e matérias-primas existentes no local para execução, conservação e
operação;
V - facilidade na execução, conservação e operação, sem prejuízo da
durabilidade da obra ou do serviço;
VI - adoção das normas técnicas, de saúde e de segurança do trabalho
adequadas;
VII - impacto ambiental.

É permitida pela própria Constituição (1988, p. 11) a criação de lei


complementar que defina outros casos de inelegibilidade.

Destaca Justen Filho (2010, p. 136) que devemos utilizar a analogia na


contratação de outros serviços que não estejam especificados na Seção III, do
Capítulo I, da Lei de Licitações:

É imperioso destacar que as regras previstas na Seção III refletem


princípios gerais aplicáveis genericamente a outras espécies de
contratações, que não apenas às obras e serviços de engenharia. De
todo o modo, cabe adaptar as regras consagradas nessa Seção de modo
compatível com a natureza da contratação de que se tratar.

Você acabou de conhecer o entendimento legal para a contratação do objeto


de licitação para obras e serviços. Conheceu regras e a documentação exigida na
elaboração do edital das licitações.

4.2 COMPRAS
As compras dos diversos órgãos públicos devem ser realizadas seguindo as
normatizações, para o seu objeto, contidas na Lei nº 8.666/93, em seu art. 14, como
podemos apreciar: “[...] Nenhuma compra será feita sem a adequada caracterização
de seu objeto e indicação dos recursos orçamentários para seu pagamento, sob
pena de nulidade do ato e responsabilidade de quem lhe tiver dado causa”.

9
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

O objeto das compras deve observar o descrito no art. 15, incisos I ao V, da


Lei nº 8.666/93, quanto à padronização, ao sistema de compra, à economicidade e
aos preços:

Art. 15. As compras, sempre que possível, deverão:


I - atender ao princípio da padronização, que imponha compatibilidade
de especificações técnicas e de desempenho, observadas, quando for
o caso, as condições de manutenção, assistência técnica e garantia
oferecidas;
II - ser processadas através de sistema de registro de preços;
III - submeter-se às condições de aquisição e pagamento semelhantes às
do setor privado;
IV - ser subdivididas em tantas parcelas quantas necessárias para
aproveitar as peculiaridades do mercado, visando economicidade;
V - balizar-se pelos preços praticados no âmbito dos órgãos e da
Administração Pública.

Se analisarmos o requisito da padronização, identificamos claramente que


a legislação tem o intuito de economia, tanto com custos de estoques dos materiais
para reposição quanto para treinamento ou contratação de manutenção.

Quanto aos requisitos para as compras e a previsão orçamentária, Justen


Filho (2010) alerta que há necessidade de planejamento para as quantidades
necessárias de materiais e para adequar a previsão orçamentária que disponibiliza
recursos ao pagamento.

4.3 ALIENAÇÕES
As alienações de bens públicos devem ser submetidas por procedimento
licitatório e seus objetos podem ser bens móveis e bens imóveis. Você pode conferir
no quadro a seguir as normas para alienação e os casos de dispensa:

10
TÓPICO 1 | A LEI Nº 8.666/93, CONCEITO DE LICITAÇÕES E O DESENVOLVIMENTO

QUADRO 1 – NORMAS PARA ALIENAÇÕES DE BENS AVALIADOS E DISPENSA

1- Imóveis deverão ter autorização legislativa para Administração Direta e Indireta,


deverão ter avaliação prévia e a modalidade de licitação deve ser concorrência.
1-1 Casos que dispensam a modalidade de concorrência:
a) doação em pagamento;
b) doação, permitida exclusivamente para outro órgão ou entidade da administração
pública, de qualquer esfera de governo, ressalvado o disposto nas alíneas f, h e i;
c) permuta, por outro imóvel em casos específicos;
d) investidura;
e)  venda a outro órgão ou entidade da administração pública, de qualquer esfera de
governo;
f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou
permissão de uso de bens imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente
utilizados no âmbito de programas habitacionais ou de regularização fundiária de
interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração pública;
g) procedimentos de legitimação de posse deverão ser mediante iniciativa e deliberação
dos órgãos da Administração Pública, cuja competência legal inclua-se tal atribuição;
h) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou
permissão de uso de bens imóveis de uso comercial de âmbito local com área de até
250 m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) e inseridos no âmbito de programas
de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades
da administração pública;
i) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita ou onerosa, de terras públicas
rurais da União na Amazônia Legal, onde incidam ocupações até o limite de 15 (quinze)
módulos fiscais ou 1.500ha (mil e quinhentos hectares), para fins de regularização
fundiária, atendidos os requisitos legais.
2- Móveis deverão ser avaliados e dependerão de licitação.
2-1 Casos que dispensam a licitação:
a) doação, permitida exclusivamente para fins e uso de interesse social, após avaliação
de sua oportunidade e conveniência socioeconômica, relativamente à escolha de outra
forma de alienação;
b) permuta, permitida exclusivamente entre órgãos ou entidades da Administração Pública;
c) venda de ações, que poderão ser negociadas em bolsa, observada a legislação específica;
d) venda de títulos, na forma da legislação pertinente;
e) venda de bens produzidos ou comercializados por órgãos ou entidades da Administração
Pública, em virtude de suas finalidades;
f) venda de materiais e equipamentos para outros órgãos ou entidades da Administração
Pública, sem utilização previsível por quem deles dispõe.
FONTE: Adaptado da Lei nº 8.666/93

11
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

O termo utilizado pela legislação, a exemplo das hipóteses vistas no


quadro anterior, tem ampla definição, de acordo com o que explica Justen Filho
(2010, p. 225): “[...] ‘alienação’ é utilizada numa acepção ampla. Compreende tanto
a alienação no sentido próprio e técnico como também [...] o uso e a fruição parcial
ou temporária de bens e direitos de titularidade da Administração Pública”.

Quando o objeto da alienação for bem imóvel derivado de sentença judicial


ou de troca para quitar tributos, devem, ainda, ser respeitados os critérios do art.
19, incisos I ao III, da Lei nº 8.666/93:

Art. 19. Os bens imóveis da Administração Pública, cuja aquisição


haja derivado de procedimentos judiciais ou de dação em pagamento,
poderão ser alienados por ato da autoridade competente, observadas as
seguintes regras:

I - avaliação dos bens alienáveis;


II - comprovação da necessidade ou utilidade da alienação;
III - adoção do procedimento licitatório, sob a modalidade de
concorrência ou leilão.

Você acabou de conhecer os aspectos para identificar o objeto das alienações


e aproveitamos para antecipar, no Quadro 1, algumas situações que são exceções
ao dever de licitar.

E
IMPORTANT

Pesquise e descubra qual a diferença entre concessão de serviços públicos e


permissão de serviços públicos. Você descobrirá qual procedimento exige processo licitatório.

5 PROCEDIMENTO LICITATÓRIO DA LEI Nº 8.666/1993


Do momento que surge a necessidade de contratação até conhecermos o
vencedor da licitação, são realizadas várias fases, predeterminadas pela Lei de
Licitações. Esses momentos podem ser mais complexos ou menos complexos,
dependendo da modalidade de licitação adequada ao objeto e valor a ser contratado.
Para Di Pietro (2011, p. 395):

O procedimento é mais complexo na concorrência, tendo em vista


o maior vulto dos contratos a serem celebrados; é um pouco menos
complexo na tomada de preços, que o valor dos contratos é médio; e
simplifica-se ainda no convite, dado o pequeno valor dos contratos.

Estas fases do procedimento licitatório são conhecidas como Fase Interna


e Fase Externa. Na Lei de Licitações não encontramos como devem ser realizadas
as fases, está apenas elencado o que deve conter no momento inicial e no seu
desenvolvimento.
12
TÓPICO 1 | A LEI Nº 8.666/93, CONCEITO DE LICITAÇÕES E O DESENVOLVIMENTO

DICAS

“Lei orçamentária – Lei ânua que estabelece o orçamento público” (CUNHA, 2007,
p. 166).

5.1 FASE INTERNA DA LEI Nº 8.666/1993


A fase inicial de uma licitação é sempre o momento em que se determina a
necessidade de iniciar um procedimento licitatório e a verificação da viabilidade
orçamentária para a sua realização.

Os autores Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2013, p. 313) orientam como


deve ser feito o início do procedimento licitatório: “[...] O procedimento da licitação
inicia-se na repartição interessada com a abertura de processo em que a autoridade
competente determina sua realização, define seu objeto e indica os recursos hábeis
para a despesa. Essa é a fase interna da licitação [...]”.

São exemplos de atividades realizadas na fase interna da licitação:


elaboração e aprovação de projeto básico, orçamento detalhado em planilhas,
exame e aprovação da minuta do edital e do contrato, entre outros.

5.2 FASE EXTERNA DA LEI Nº 8.666/1993


Após identificar a viabilidade orçamentária, na Lei Orçamentária Anual, e
identificar corretamente o objeto, suas quantidades e valores estimados, parte-se
para o próximo momento, que se chama Fase Externa. Meirelles, Aleixo e Burle
Filho (2013, p. 313) apresentam as possíveis etapas a serem seguidas:

[...] a fase externa, que se desenvolve através dos seguintes atos, nesta
sequência: audiência pública; edital ou convite de convocação dos
interessados; recebimento da documentação e propostas; habilitação
dos licitantes; julgamento das propostas, adjudicação e homologação.

Ressaltamos que os atos desta fase são normatizados na Lei de Licitações,


os quais podem ser mais complexos ou não, dependendo da modalidade de
licitação adequada ao objeto e valor da contratação. Por exemplo, na modalidade
concorrência utiliza-se o edital e a publicação é mais ampla que na modalidade
convite, que utiliza o convite.

13
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

6 DESENVOLVIMENTO DA LICITAÇÃO DA LEI Nº 8.666/1993

6.1 AUDIÊNCIA PÚBLICA


A Audiência Pública não é obrigatória em todas as licitações, apenas nos
casos em que o valor da obra e/ou serviços de engenharia sejam vultosos. Meirelles,
Aleixo e Burle Filho (2013, p. 313) explicam detalhadamente que:

[...] toda a vez que o valor estimado para a licitação ou para um conjunto
de licitações simultâneas ou sucessivas for superior a cem vezes o
quantum previsto para a concorrência de obras e serviços de engenharia
(art. 23, I, ‘c’). O art. 11, IV, da Lei nº 11.445/2007 exige prévia audiência e
consulta públicas sobre edital de licitação, no caso de concessão, e sobre
a minuta do contrato que tenham por objeto a prestação de serviços
públicos de saneamento básico.

Esta audiência deve utilizar os mesmos meios da licitação para a publicidade


e respeitar os prazos previstos no art. 39 da Lei nº 8.666/93, que resumimos: “[...]
antecedência mínima de 15 (quinze) dias úteis da data prevista para a publicação
do edital, e divulgada, com a antecedência mínima de 10 (dez) dias úteis de sua
realização [...]”.

6.2 EDITAL OU CONVITE DE CONVOCAÇÃO DOS


INTERESSADOS
A convocação dos interessados em competir na licitação pode ser realizada
por edital ou por convite, ambos devem ser afixados em Mural Público, mas o
convite dispensa publicação em Diário Oficial. O objeto e seu valor determinarão
qual a modalidade de licitação que deve ser utilizada e esta, por sua vez, determinará
o meio convocatório.

As informações necessárias que devem constar do edital estão expressas no


art. 40 da Lei de Licitações. Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2013, p. 314) orientam
que:
[...] edital é o instrumento pelo qual a Administração leva ao
conhecimento público a abertura de licitação, fixa as condições de
sua realização e convoca os interessados para apresentação de suas
propostas.

Sobre a importância da elaboração correta do edital, explica a autora


Medauar (2005, p. 221) que: “O edital é a lei interna da licitação, já se disse, não
podendo ser descumprido pela Administração (art. 41), nem pelos licitantes”.

14
TÓPICO 1 | A LEI Nº 8.666/93, CONCEITO DE LICITAÇÕES E O DESENVOLVIMENTO

6.3 RECEBIMENTO DA DOCUMENTAÇÃO E PROPOSTAS


Os interessados em participar da licitação devem enviar a documentação
exigida pelo edital e suas propostas para o órgão competente da Administração
Pública, normalmente à comissão de licitação. Os autores Meirelles, Aleixo e Burle
Filho (2013, p. 320) definem esta etapa como:

[...] o recebimento da documentação e propostas é o segundo ato externo


da licitação, com que se inicia a fase de habilitação dos licitantes. Esse
ato, que é sempre público, caracteriza-se pela abertura dos envelopes
que contêm a documentação e pelo exame da regularidade formal dos
documentos de habilitação, lavrando-se as atas e os termos respectivos.

É importante destacar que os documentos e as propostas devem ser


entregues em envelopes diferentes, lacrados e rubricados pelo remetente. Quando
na fase externa houver necessidade de audiência pública, o recebimento da
documentação e propostas é o terceiro ato formal.

6.4 HABILITAÇÃO DOS LICITANTES


Na habilitação dos licitantes serão abertos os envelopes com os documentos
dos interessados e analisados sob os aspectos exigidos pela Lei nº 8.666/93, no art. 27,
incisos I ao V, que são: a) habilitação jurídica, b) qualificação técnica, c) qualificação
econômico-financeira, d) regularidade fiscal e trabalhista, e d) cumprimento do
disposto no inciso XXXIII do art. 7º da Constituição Federal.

O interessado pode ser habilitado ou inabilitado a participar da licitação.


Consoante aos ensinamentos de Carvalho Filho (2013, p. 283, grifo do autor),
verifique as consequências desta fase:

Habilitação é a fase do procedimento em que a Administração verifica a


aptidão do candidato para a futura contratação. A inabilitação acarreta
a exclusão do licitante da fase do julgamento das propostas, e, embora
seja uma preliminar deste, vale como um elemento de aferição para o
próprio contrato futuro, que é, de regra, aliás, o alvo final da licitação.

A legislação permite aos habilitados participar das próximas fases do


procedimento licitatório. Já aos inabilitados serão devolvidos os envelopes, intactos,
das suas propostas. A lei permite aos inabilitados que busquem a reparação de seus
direitos, na justiça, nos casos em que, justificadamente, se sintam prejudicados.

6.5 JULGAMENTO DAS PROPOSTAS


Nesta fase são abertos os envelopes dos habilitados, lidas as propostas, em
ato público. Após análise, em público ou de forma particular, é julgada qual das
propostas atende aos critérios do edital, verificando entre elas a mais vantajosa
para a Administração Pública.

15
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2013, p. 320, grifo dos autores) explicam os
procedimentos que devem ser atendidos e as consequências da fase que envolve o
julgamento das propostas:

[...] o julgamento das propostas é o ato pelo qual se confrontam as ofertas,


classificam-se as propostas e escolhe-se o vencedor a que deverá ser
adjudicado o objeto da licitação. O julgamento regular das propostas
gera para o vencedor o direito subjetivo à adjudicação e o coloca em
condições de firmar o contrato com a Administração. Julgamento regular
é o que se faz em estrita consonância com as normas legais pertinentes e
os termos do edital, pois não é o ato discricionário, mas vinculado.

A Lei nº 8.666/93, no § 2º, do art. 45, determina que, em caso de empate na


classificação das propostas, o critério de desempate que deverá ser utilizado é o
sorteio em ato público.

6.6 HOMOLOGAÇÃO E ADJUDICAÇÃO


A autoridade competente, normalmente ordenador da despesa, segundo
orientações de Carvalho Filho (2013), quando recebe o resultado final do julgamento
da licitação e verifica que todas as etapas foram realizadas adequadamente,
conforme exige a legislação, deve homologar ou confirmar o resultado.

Já a adjudicação, conforme explica Medauar (2005, p. 229), “é o ato pelo


qual o objeto do futuro contrato é atribuído ao vencedor da licitação”.

Apresentamos, anteriormente, o princípio da adjudicação compulsória,


quando explicamos que a Administração Pública fica vinculada a contratar o
adjudicado quando da realização do objeto da licitação, sendo que a contratação
de fornecedor diverso implica anulação de contrato e pagamento de indenizações.

DICAS

O desenvolvimento do processo licitatório é bem amplo e remete a várias


particularidades. Para compreendê-lo adequadamente, é fundamental que você leia
atentamente o Capítulo II da Lei nº 8.666/93. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8666cons.htm>.

16
RESUMO DO TÓPICO 1
Acadêmico(a), até o momento, vimos em nossos estudos:

• A Lei de Licitações, Lei nº 8.666/93, foi criada para regulamentar a norma da


Constituição Federal, exigida no art. 37, inciso XXI.

• A Administração Pública tem como regra em seus contratos de fornecimento de


serviços, de bens, de locação de imóveis, de concessão ou permissão, de venda
de bens públicos, entre outros, a realização de licitação.

• A Administração Pública deve, além de verificar a viabilidade orçamentária da


contratação, definir adequadamente o objeto a ser licitado. O objeto e o valor do
contrato definem a modalidade a ser utilizada no processo de licitação.

• O procedimento licitatório, da Lei nº 8.666/93, se apresenta em duas etapas: a


interna e a externa.

• No desenvolvimento da licitação, da Lei nº 8.666/93, devemos considerar os


seguintes atos: audiência pública, edital ou convite de convocação, apresentação
dos documentos e das propostas, habilitação dos licitantes, julgamento das
propostas, homologação e adjudicação.

17
AUTOATIVIDADE

Prezado(a) acadêmico(a), para que possamos avaliar a compreensão


dos conceitos que tivemos acesso até o momento, convido-o(a) a responder aos
questionamentos dispostos a seguir:

1 O procedimento licitatório é necessário para realizar contratações com Órgãos


Públicos. A Constituição Federal, em seu art. 37, inciso XXI, determina o
dever de licitar. Quanto à lei que regulamenta o processo licitatório, assinale
a alternativa CORRETA:

( ) A Lei nº 8.666/93 é responsável pela regulamentação do dever de licitar.


( ) A Lei nº 4.320/64 é responsável pela regulamentação do dever de licitar.
( ) A Lei Complementar nº 101/2000 é responsável pela regulamentação do
dever de licitar.
( ) A Lei Orçamentária é responsável pela regulamentação do dever de licitar.

2 A determinação do objeto da licitação é uma etapa muito importante dentro


dos procedimentos licitatórios. Os serviços profissionais especializados
podem ser objeto da licitação. Quanto à identificação de serviços profissionais
especializados, assinale a alternativa CORRETA:

( ) Serviços de instalação de câmera em muro, realizados por empresa


prestadora de serviços.
( ) Serviços de pintura para muro, realizados por pintor.
( ) Serviços de construção de muro, realizados por pedreiros.
( ) Serviços de perícia, em construção de muro, realizados por engenheiros
habilitados.

3 O procedimento licitatório deve seguir momentos distintos desde a


verificação da necessidade da contratação até a realização da contratação do
objeto. Esses momentos são conhecidos como fases. Quanto à nomenclatura
utilizada por diversos doutrinadores, assinale a alternativa CORRETA:

( ) Fase interna e fase externa.


( ) Fase principal e fase secundária.
( ) Fase de relatórios e fase de cumprimento.
( ) Fase comum e fase especial.

18
UNIDADE 1
TÓPICO 2

PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
O processo licitatório é regido pela Constituição Federal, pela Lei de
Licitações e, também, por outras legislações pertinentes à Administração Pública.
Essas leis regulam os procedimentos, que devem ser seguidos pelos órgãos
públicos quando do interesse em contratar obras, serviços, compras e alienações.

Os princípios representam o início, o fundamento, as regras básicas a


serem seguidas para que o procedimento das licitações tenha legitimidade, seja
verdadeiro e que atinja os objetivos da legislação: vantagem para a administração
pública, ampla concorrência, entre outros. Então, respeitar os princípios não é
opção, é obrigação.

Quando nos remetemos à literatura, verificamos que os autores não


possuem a mesma opinião quanto ao nome e à quantidade dos princípios, por
este motivo vamos utilizar a nomenclatura mais usual e apresentar os seguintes
princípios: legalidade, impessoalidade, igualdade entre os licitantes, probidade
administrativa, vinculação ao edital ou convite, julgamento objetivo, dever de
licitar, procedimento formal, publicidade dos atos e adjudicação compulsória ao
vencedor.

Acadêmico(a), no Tópico 2 vamos apresentar um breve relato sobre os


principais princípios exigidos nas licitações, para que estas possuam legitimidade
e não sejam anuladas ou necessitem de correções para terem validade.

2 LEGALIDADE
Toda a atividade administrativa nos órgãos públicos deve seguir ao
princípio constitucional da legalidade. A licitação, que é um procedimento
administrativo e realizado por funcionários públicos, também deve ater-se a este
princípio. “Nos procedimentos de licitação, esse princípio vincula os licitantes e a
Administração Pública às regras estabelecidas nas normas e princípios em vigor”
(TCU, 2005, p. 16).

A legalidade, o respeito e a obediência às normas positivadas (leis)


são fundamentais para a segurança jurídica e a credibilidade do resultado das
licitações. Medauar (2005, p. 141) orienta sobre o princípio da legalidade:

19
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

Uma das decorrências da caracterização de um Estado como Estado de


Direito encontra-se no princípio da legalidade que informa as atividades
da Administração Pública. [...] Daí um sentido de garantia, certeza
jurídica e limitação do poder contido nessa concepção do princípio da
legalidade administrativa.

A não observância da legalidade, assim como de outros princípios, nos


processos licitatórios, é justificativa suficiente para buscar no Poder Judiciário a
anulação de todo o processo ou de parte dele. Di Pietro (2011, p. 368) sintetiza:
“Tratando-se de direito público subjetivo, o licitante que se sinta lesado pela
inobservância da norma pode impugnar judicialmente o procedimento”.

3 IMPESSOALIDADE
Todo o procedimento licitatório envolve a participação de pessoas, tanto na
fase interna como na fase externa. As decisões que são tomadas durante o processo
devem considerar os critérios exigidos na licitação e jamais associá-las ao sujeito
que compete no certame licitatório.

O princípio da impessoalidade, [...] aparece, na licitação intimamente


ligado aos princípios da isonomia e do julgamento objetivo: todos
os licitantes devem ser tratados igualmente, em termos de direitos e
obrigações, devendo a Administração, em suas decisões, pautar-se por
critérios objetivos, sem levar em consideração as condições pessoais
do licitante ou as vantagens por ele oferecidas, salvo as expressamente
previstas na lei ou no instrumento convocatório (DI PIETRO, 2011, p.
365).

O princípio da impessoalidade está ligado ao respeito que deve ser dado ao


conteúdo do instrumento convocatório. “Esse princípio obriga a Administração a
observar nas suas decisões critérios objetivos previamente estabelecidos, afastando
a discricionariedade e o subjetivismo na condução dos procedimentos da licitação”
(TCU, 2005, p. 17).

4 IGUALDADE ENTRE LICITANTES


O princípio da igualdade entre os licitantes inicia quando da elaboração do
edital ou convite. A Administração deve estabelecer critérios justos e necessários
para o futuro contrato. Este princípio contém implicitamente, segundo Di
Pietro (2011), dois outros princípios, que são: o princípio da isonomia e o da
competitividade.

Medauar (2005, p. 211) apresenta seu entendimento sobre o princípio da


igualdade entre os licitantes:

[...] isonomia de tratamento para todos os licitantes ou para aqueles que


pretendem participar da licitação, vedada qualquer discriminação.
[...] tais dispositivos vedam aos agentes públicos incluir ou tolerar, nos
Editais e cartas-convite, condições que restrinjam o caráter competitivo

20
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO

e estabeleçam distinções em razão da naturalidade, da sede ou do


domicílio dos licitantes [...].

Nos ensinamentos de Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2013, p. 296),


verificamos cuidados mínimos que devem ser seguidos e que não prejudicam a
igualdade entre as partes:

Todavia, não configura atentado ao princípio da igualdade entre os


licitantes o estabelecimento de requisitos mínimos de participação no
edital ou convite, porque a administração pode e deve fixá-los sempre
que necessários à garantia da execução do contrato, à segurança e
perfeição da obra ou serviço, à regularidade do fornecimento ou ao
atendimento de qualquer outro interesse público.

O objetivo da licitação é que se habilitem o maior número de interessados


possíveis para que as propostas sejam mais econômicas para a administração.
Quando o gestor público acrescenta ao instrumento convocatório mecanismos
que prejudicam, injustificadamente, a participação de interessados ao certame,
desrespeita o princípio da igualdade. Não atender este princípio prejudica, além
dos interessados, a própria Administração Pública. Salientam os autores Meirelles,
Aleixo e Burle Filho (2013, p. 296) que:

O desatendimento a esse princípio constitui a forma mais insidiosa de
desvio de poder, com que a Administração quebra a isonomia entre os
licitantes, razão pelo qual o Judiciário tem anulado editais e julgamentos
em que se descobre a perseguição ou o favoritismo administrativo, sem
nenhum objetivo ou vantagem de interesse público.

Existem casos, segundo Di Pietro (2011), em que o Estado necessita


fomentar a economia e para estas situações apresenta exceções ao princípio da
igualdade, principalmente em critérios de desempate. O tratamento dispensado,
nas licitações, às microempresas, empresas de pequeno porte e cooperativas são
exemplos da interferência do Estado na legislação.

E
IMPORTANT

Acadêmico(a), observe:

“A licitação é um procedimento que visa selecionar a proposta mais vantajosa para a


Administração Pública, observada a igualdade de condições entre todos os licitantes” (GARCIA,
2010, p. 4, grifo nosso).

21
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

5 PROBIDADE ADMINISTRATIVA
Quem trabalha em órgãos públicos e quem contrata com o Estado não pode
querer que seus interesses prevaleçam aos da Administração Pública. “A conduta
dos licitantes e dos agentes públicos tem de ser, além de lícita, compatível com a
moral, a ética, os bons costumes e as regras da boa administração” (TCU, 2005, p.
16).

Segundo Di Pietro (2011), o princípio constitucional da probidade ou


moralidade, por causa da subjetividade da interpretação do seu conceito, foi
referenciado pela Lei nº 8.666/93 como comportamento inverso, o da improbidade,
que está descrito em lei.

A probidade administrativa é um princípio constitucional que deve ser


seguido por todos os servidores públicos. Orientam Meirelles, Aleixo e Burle Filho
(2013, p. 299) que:
[...] probidade administrativa é dever de todo administrador público,
mas a lei a incluiu dentre os princípios específicos da licitação (art. 3º),
naturalmente como uma advertência às autoridades que a promovem ou
a julgam. A probidade na Administração é mandamento constitucional
(art. 37, § 4º), que pode conduzir a ‘suspensão dos direitos políticos, a
perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação
penal cabível’.

É importante ressaltar que, se comprovado o prejuízo para os cofres


públicos por motivo de falta de probidade, há possibilidades jurídicas de reparar
as perdas, bem como a aplicação de outras penas aos envolvidos.

6 VINCULAÇÃO AO EDITAL OU CONVITE


A vinculação ao edital ou convite é o mesmo que dizer vinculação ao
instrumento convocatório. A autora Medauar (2005, p. 212) apresenta o seguinte
conceito:

[...] o Edital e a carta-convite são os instrumentos convocatórios da


licitação e contêm as regras a serem seguidas no processo licitatório e
muitas que nortearão o futuro contrato. O instrumento convocatório é a
lei da licitação que anuncia, daí a exigência de sua observância durante
todo o processo.

Está evidenciado que o edital ou convite são instrumentos que representam


a lei interna do procedimento licitatório. Ensina Di Pietro (2011) que o disposto
no instrumento convocatório (edital ou carta convite) representa as condições, as
exigências básicas para compor as cláusulas do contrato que será realizado, após a
licitação, para a realização do objeto.

22
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO

A Lei nº 8.666/93 reforça muitas vezes a necessidade de adequada


elaboração do edital, bem como a apresentação de informações claras e precisas
para evitar diferentes interpretações deste documento, que será a lei interna da
licitação. Reforçam Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2013, p. 298) a importância
deste princípio e esclarecem:

[...] a vinculação ao edital é o princípio básico de toda a licitação. Nem


se compreenderia que a Administração fixasse no edital a forma e o
modo de participação dos licitantes e no decorrer do procedimento ou
na realização do julgamento se afastasse do estabelecido, ou admitisse
documentação e propostas em desacordo com o solicitado. O edital é a
lei interna da licitação, e, como tal, vincula seus termos tanto os licitantes
como a Administração que o expediu (art. 41).

Ao respeitar as condições expressas neste instrumento, podemos entender


que serão atendidos, também, em primeira vista, os princípios da legalidade e da
impessoalidade.

7 JULGAMENTO OBJETIVO
O julgamento objetivo é o oposto do julgamento subjetivo; o primeiro
considera critérios elencados no edital, e o segundo leva em consideração o
entendimento particular de quem julga.

Orienta a autora Medauar (2005, p. 212) sobre este princípio: “[...] o


julgamento, na licitação, é a indicação, pela Comissão de Licitação, da proposta
vencedora. Julgamento objetivo significa que deve nortear-se pelo critério
previamente fixado do instrumento convocatório, observadas todas as normas a
respeito”.

Para Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2013, p. 299), o julgamento objetivo


significa:

[...] julgamento objetivo é o que se baseia no critério indicado no


edital e nos termos específicos das propostas. É princípio de toda a
licitação que seu julgamento se apoie em fatores concretos pedidos pela
Administração, em confronto com o ofertado pelos proponentes dentro
do permitido no edital ou convite. Visa a afastar o discricionarismo na
escolha das propostas, obrigando os julgadores a aterem-se ao critério
prefixado pela Administração, com o quê se reduz e se delimita a margem
de valoração subjetiva, sempre presente em qualquer julgamento (arts.
44 e 45).

O julgamento objetivo se vincula ao determinado no instrumento


convocatório, normalmente esses critérios são adequados às diferentes modalidades
de licitação. A autora Di Pietro (2011, p. 367) orienta como funciona o julgamento
objetivo:

23
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

Para fins de julgamento objetivo, o mesmo dispositivo estabelece os


tipos de licitação: de menor preço, de melhor técnica, de técnica e preço
e o de maior lance ou oferta [...]. Esses critérios não são aplicados para o
concurso [...] e para o pregão [...].

Verificamos que o julgador, no caso da licitação, a comissão julgadora, deve


respeitar o princípio norteador da licitação, que é o julgamento objetivo. Isso quer
dizer que na escolha devem ser considerados apenas os critérios exigidos no edital
e não as valorações pessoais dos julgadores.

DICAS

“Há, também, dificuldade para que o julgamento seja estritamente objetivo nas
licitações envolvendo publicidade governamental. Não é simples julgar objetivamente fatores
como ‘criatividade, que estão em jogo em licitações desta natureza” (GARCIA, 2010, p. 7).

8 DEVER DE LICITAR
O princípio do dever de licitar nos é apresentado pela Constituição Federal,
no art. 37, inciso XXI, e concretizado com a Lei nº 8.666/93. Di Pietro (2011, p. 369)
orienta que:

Estão obrigados à licitação todos os órgãos da Administração Pública


direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as
empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades
controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito
Federal e Municípios (art. 1º, parágrafo único).

Destacamos que o dever de licitar é a regra, porém, como veremos adiante,


existem as exceções, para casos específicos, que são a dispensa e a inexigibilidade.

9 PROCEDIMENTO FORMAL
O procedimento formal é um princípio que, segundo alguns autores, está
vinculado ao princípio da legalidade. Já para outros estudiosos merece destaque
separadamente, conforme está previsto na Lei nº 8.666/93, no art. 4º, parágrafo
único:

Art. 4º Todos quantos participem de licitação promovida pelos órgãos


ou entidades a que se refere o art. 1º têm direito público subjetivo à fiel
observância do pertinente procedimento estabelecido nesta lei, podendo
qualquer cidadão acompanhar o seu desenvolvimento, desde que não
interfira de modo a perturbar ou impedir a realização dos trabalhos.

24
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO

Parágrafo único. O procedimento licitatório previsto nesta lei caracteriza


ato administrativo formal, seja ele praticado em qualquer esfera da
Administração Pública.

O princípio do procedimento formal, segundo o que ensinam Meirelles,


Aleixo e Burle Filho (2013, p. 294), “[...] é o que impõe a vinculação da licitação às
prescrições legais que a regem em todos os seus atos e fases [...]”.

Semelhante ao princípio da legalidade, o procedimento formal impõe ao


Administrador que observe e siga os procedimentos adequados para a futura
contratação. Carvalho Filho (2013, p. 244), que considera este princípio parte do
princípio da legalidade, exemplifica a aplicação do devido processo formal:

É a aplicação do devido processo legal, segundo o qual se exige que
a Administração escolha a modalidade certa; que seja bem cara
quanto aos critérios seletivos; que só deixe de realizar a licitação nos
casos permitidos na lei; que verifique, com cuidado, os requisitos de
habilitação dos candidatos, e, enfim, que se disponha a alcançar os
objetivos colimados, seguindo os passos dos mandamentos legais.

É importante destacar a diferença entre procedimento formal e o mero


formalismo. Este pode conter exigências que não tenham relevância para o
processo de contratação, já o procedimento formal contempla questões relevantes
para o resultado da licitação. Os autores Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2013, p.
295, grifo dos autores) destacam as semelhanças entre o processo judicial com o
processo formal:

Procedimento formal, entretanto, não se confunde com ‘formalismo’,


que se caracteriza por exigências inúteis e desnecessárias. Por isso
mesmo, não se anula o procedimento diante de meras omissões ou
irregularidades formais na documentação ou nas propostas desde
que, por sua irrelevância, não causem prejuízo à Administração ou aos
licitantes. A regra é a dominante nos processos judiciais: não se decreta
a nulidade onde não houver dano para qualquer das partes – pas de
nullité sans grief, como dizem os franceses.

Respeitar os procedimentos, fases ou momentos, bem como a cronologia do


processo formal das licitações, é fundamental para garantir a legalidade, o acesso
para controle e a imparcialidade do resultado da licitação.

10 PUBLICIDADE DOS ATOS


A publicidade dos atos é primordial para o acesso dos interessados à
licitação e para que haja transparência nos processos, o que facilita o acesso e o
controle dos atos. Orienta Di Pietro (2011, p. 366) sobre a amplitude da divulgação:
“[...] ela é mais ampla possível na concorrência, em que o interesse maior da
Administração é o de atrair maior número de licitantes, e se reduz ao mínimo no
convite, em que o valor do contrato despensa maior divulgação”.

25
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

O princípio da publicidade quer levar ao conhecimento do maior número


de fornecedores ou interessados a realização do processo de licitação e a exposição
das regras de participação. “E a razão é simples: quanto maior for a quantidade de
pessoas que tiverem conhecimento da licitação, mais eficiente poderá ser a forma
de seleção, e, por conseguinte, mais vantajosa poderá ser a proposta vencedora”
(CARVALHO FILHO, 2013, p. 245).

Elaboramos um quadro a partir do art. 21, da Lei nº 8.666/93, para esclarecer


a importância do princípio da publicidade e dos prazos que devem ser respeitados
no processo licitatório, como segue:

QUADRO 2 – PUBLICIDADE E PRAZOS DOS EDITAIS


1- Os avisos contendo os resumos dos editais deverão ser publicados, conterá a indicação
do local em que os interessados poderão ler e obter o texto integral do edital e todas as
informações sobre a licitação, com antecedência, no mínimo, por uma vez:
I - no Diário Oficial da União, quando se tratar de licitação feita por órgão ou entidade da
Administração Pública Federal e, ainda, quando se tratar de obras financiadas parcial ou
totalmente com recursos federais ou garantidas por instituições federais;
II - no Diário Oficial do Estado, ou do Distrito Federal quando se tratar, respectivamente,
de licitação feita por órgão ou entidade da Administração Pública Estadual ou Municipal,
ou do Distrito Federal;
III - em jornal diário de grande circulação no Estado e também, se houver, em jornal de
circulação no Município ou na região onde será realizada a obra, prestado o serviço,
fornecido, alienado ou alugado o bem, podendo ainda a Administração, conforme o vulto
da licitação, utilizar-se de outros meios de divulgação para ampliar a área de competição.
2- O prazo mínimo até o recebimento das propostas ou da realização do evento serão
contados a partir da última publicação do edital resumido ou da expedição do convite, ou
ainda da efetiva disponibilidade do edital ou do convite e respectivos anexos, prevalecendo
a data que ocorrer mais tarde. Qualquer modificação no edital exige divulgação pela
mesma forma que se deu o texto original, reabrindo-se o prazo inicialmente estabelecido,
exceto quando, inquestionavelmente, a alteração não afetar a formulação das propostas:
I  -  quarenta e cinco dias para: a)  concurso e b)  concorrência, quando o contrato a ser
celebrado contemplar o regime de empreitada integral ou quando a licitação for do tipo
"melhor técnica" ou "técnica e preço";
II - trinta dias para: a) concorrência, exceto o regime de empreitada integral ou quando a
licitação for do tipo "melhor técnica" ou "técnica e preço" e b) tomada de preços, quando
a licitação for do tipo "melhor técnica" ou "técnica e preço";
III - quinze dias para: a) tomada de preços, exceto quando a licitação for do tipo "melhor
técnica" ou "técnica e preço" e b) leilão;
IV - cinco dias úteis para convite.
FONTE: Adaptado da Lei nº 8.666/93

26
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO

Além de permitir o acesso dos interessados aos negócios públicos, a


publicidade permite a transparência e o controle dos processos de licitação, esse é
o entendimento da autora Medauar (2005, p. 212):

[...] traduz-se em transparência, em direito de acesso aos elementos do


processo licitatório, divulgação dos Editais, divulgação das decisões;
por exemplo, traduz esse princípio, o § 3º do art. 3º, segundo o qual a
licitação não será sigilosa, sendo públicos e acessíveis ao público os atos
de seu procedimento, salvo o conteúdo das propostas até a respectiva
abertura; o § 6º do art. 16 e o § 1º do art. 43 também traduzem tal
princípio.

Fica evidente o princípio da publicidade vinculado ao controle quando, ao


tratar de compras, no art. 16, caput, da Lei nº 8.666/93, estabelece prazos e locais de
publicação, confira a seguir:

Art. 16. Será dada publicidade, mensalmente, em órgão de divulgação


oficial ou em quadro de avisos de amplo acesso público, à relação
de todas as compras feitas pela Administração Direta ou Indireta,
de maneira a clarificar a identificação do bem comprado, seu preço
unitário, a quantidade adquirida, o nome do vendedor e o valor total
da operação, podendo ser aglutinadas por itens as compras feitas com
dispensa e inexigibilidade de licitação.

Enfim, o princípio da publicidade dos atos deve estar presente em todas as


fases que sejam possíveis, para ampliar a concorrência e permitir o controle, dos
atos públicos, tanto dos participantes da licitação quanto da população.

11 ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA AO VENCEDOR


A realização de um procedimento licitatório gera diversos custos para a
Administração Pública. Entendemos que, ao realizar uma licitação, há vontade
de firmar a contratação do objeto licitado. Nem sempre firma-se o contrato
imediatamente, porém, quando for concretizado, deverá necessariamente ser
com o vencedor da licitação homologada. A adjudicação compulsória, segundo
Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2013, p. 299), significa:

[...] o princípio da adjudicação compulsória ao vencedor impede que a


Administração, concluído o procedimento licitatório, atribua seu objeto
a outrem que não o legítimo vencedor (arts. 50 e 64).
A adjudicação ao vencedor é obrigatória, salvo se este desistir
expressamente do contrato ou não o firmar no prazo prefixado, a menos
que comprove justo motivo. A compulsoriedade veda também que se
abra nova licitação enquanto válida a adjudicação anterior.

Podemos observar que o princípio da adjudicação compulsória não reflete


a expressão correta, conforme esclarece a autora Di Pietro (2011, p. 368):

Em verdade, a expressão adjudicação compulsória é equívoca,


porque pode dar a ideia de que, uma vez concluído o julgamento, a
Administração está obrigada a adjudicar; isto não ocorre, porque a

27
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

revogação motivada pode ocorrer em qualquer fase da licitação. Tem-se


que entender o princípio no sentido de que, se a Administração levar o
procedimento a seu termo, a adjudicação só pode ser feita ao vencedor;
não há um direito subjetivo à adjudicação quando a Administração opta
pela revogação do procedimento [...].

A obrigatoriedade da contratação do vencedor da licitação pelas condições


apresentadas no edital parece ser o mais justo, já que a Administração Pública e
o vencedor do certame tiveram gastos com o procedimento licitatório realizado.

DICAS

Acadêmico(a), verifique o significado da palavra adjudicação:

“[...] 1. Ato ou efeito de adjudicar, que é atribuir algo a alguém. 2. Modo de aquisição de um
direito, mediante atribuição pelo juiz (CC1.501). 3. Atribuição do objeto da licitação ao seu
vencedor (LL 43-VI)” (CUNHA, 2007, p. 13).

28
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, caro(a) acadêmico(a), você estudou os seguintes conteúdos:

• O procedimento de licitação deve respeitar princípios para que não seja anulado
ou impugnado.

• Os principais princípios que devem ser utilizados nos procedimentos licitatórios


são:

o Legalidade;
o Impessoalidade;
o Igualdade entre os licitantes;
o Probidade administrativa;
o Vinculação ao edital ou convite;
o Julgamento objetivo;
o Dever de licitar;
o Procedimento formal;
o Publicidade dos atos;
o Adjudicação compulsória ao vencedor.

• No desenvolvimento das licitações, em todas as fases, devem ser seguidos os


princípios apresentados.

• O princípio da publicidade possui regras de prazos diferenciados para cada


modalidade escolhida, por exemplo, o prazo de publicidade é maior para a
concorrência do que para o convite.

29
AUTOATIVIDADE

Prezado(a) acadêmico(a), para que possamos avaliar a compreensão


dos conceitos que tivemos acesso até o momento, convido-o(a) a responder aos
questionamentos dispostos a seguir:

1 Os procedimentos para realizar uma licitação devem respeitar princípios


inseridos na Lei nº 8.666/93. Quanto à obrigatoriedade de contratar o vencedor
da licitação para a realização do contrato, assinale a alternativa CORRETA:

( ) Chama-se princípio do dever de licitar.


( ) Chama-se princípio da adjudicação compulsória ao vencedor.
( ) Chama-se princípio da publicidade dos atos.
( ) Chama-se princípio do julgamento objetivo.

2 A Administração Pública, no desenvolvimento da licitação, deve agir dentro


dos princípios licitatórios. Com referência ao desrespeito proposital aos
princípios que devem ser seguidos no procedimento licitatório, assinale a
alternativa CORRETA:

( ) Mesmo não comprovado o desrespeito aos princípios, pode ser motivo de


impugnação ou anulação da licitação.
( ) Indiferente se comprovado ou não o desrespeito aos princípios, pode ser
motivo de impugnação ou anulação da licitação.
( ) O desrespeito aos princípios da licitação, nunca serão motivo de impugnação
ou anulação da licitação.
( ) Se comprovado o desrespeito aos princípios, pode ser motivo de impugnação
ou anulação da licitação.

3 O princípio da legalidade está elencado no caput do art. 37, da Constituição


Federal, como obrigatório às atividades da Administração Pública Direta e
Indireta. A licitação é um procedimento administrativo que não necessita
atender ao princípio da legalidade. Assinale a alternativa CORRETA:

( ) Falso.
( ) Verdadeiro.

30
UNIDADE 1
TÓPICO 3

EXCEÇÕES AO DEVER DE LICITAR

1 INTRODUÇÃO
Todo o procedimento administrativo deve seguir etapas e princípios
determinados por regras contidas nas legislações. Não podemos ignorar que
muitas vezes o processo se torna mais caro para a Administração Pública, ferindo
o objetivo da economicidade ou até não correspondendo às especificações técnicas
necessárias.

Encontramos duas alternativas legais que desobrigam os órgãos públicos a


exercerem o dever de licitar. A legislação chama essas possibilidades de dispensa de
licitação e de inexigibilidade de licitação. Verifique que na primeira o administrador
pode optar em não realizar a licitação, e na segunda não há condições de fazer a
licitação. Iremos abordar os principais critérios para adotar estes dois institutos.

Vamos proporcionar a você, acadêmico(a), neste tópico, o conhecimento de


situações que estão fora da exigência e necessidade de processo licitatório; são as
chamadas exceções ao dever de licitar.
.
Vamos aos estudos!

2 DISPENSA DE LICITAÇÃO
A Lei nº 8.666/93 apresenta situações em que a Administração Pública
pode ou deve deixar de realizar licitação, nestes casos a licitação é dispensada ou
dispensável, consoante ensinamentos de Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2013).

O fato de ser dispensada a licitação não significa que serão ignorados


os critérios de competição e melhores condições de contratação. O gestor deve
considerar a pesquisa de orçamentos antes da decisão.

Orienta Di Pietro (2011, p. 371) que: “[...] na dispensa, há possibilidade de


competição que justifique a licitação; de modo que a lei faculta a dispensa, que fica
inserida na competência discricionária da Administração”.

A Lei de Licitações, em determinados casos, permite a contratação


com procedimentos internos e diretos pela Administração. Em relação a esta
autorização legal, Medauar (2005, p. 230) salienta: “[...] arrola os casos em que
não se realiza processo licitatório antes da contratação, havendo, conforme o caso,

31
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

um procedimento interno. Por isso tais hipóteses são denominadas de contratação


direta”.

A dispensa de licitação é uma das exceções da obrigatoriedade de licitar.


A legislação vigente no seu art. 24 relaciona situações que fogem da regra, ressalta
Carvalho Filho (2013, p. 250):

A dispensa de licitação caracteriza-se pela circunstância de que, em tese,


poderia o procedimento ser realizado, mas que, pela particularidade do
caso, decidiu o legislador não torná-lo obrigatório. [...] Há, porém, dois
aspectos preliminares que merecem ser considerados. O primeiro diz
respeito à excepcionalidade [...]. O outro diz respeito à taxatividade das
hipóteses.

Medauar (2005, p. 230) esclarece que nas contratações diretas a legislação


determina penalidades nos casos de conluio contra a Administração: “Em todos
os casos em que não se realiza licitação, se for comprovado superfaturamento,
respondem solidariamente pelo dano causado à Fazenda Pública o contratado e o
agente público, sem prejuízo de outras sanções [...]”.

Acadêmico(a), além das hipóteses vistas no Quadro 1, o art. 24 da Lei


nº 8.666/93 elenca trinta e três hipóteses em que o procedimento licitatório fica
dispensado. Elaboramos o próximo quadro com o objetivo de você encontrar com
maior facilidade na Lei de Licitações as situações em que o Gestor poderá, através
de procedimento interno, realizar aquisição direta.

QUADRO 3 – DISPENSA DE LICITAÇÃO SEGUNDO A LEI Nº 8.666/93

Situações Dispensadas Fundamentação Legal


1 Critério de valor, até 10% do valor de convite para Art. 24, incisos I e II
obras e serviços de engenharia (R$ 15.000,00) e para
compras e outros serviços (8.000,00).
2 Situações excepcionais, como: guerra, ameaça Art. 24, incisos III, IV, IX e XXVIII
a segurança nacional, emergência e calamidade
pública.
3 Gêneros perecíveis (alimentos) e obras de arte ou Art. 24, incisos XII e XV
objetos históricos (certificados).
4 Desinteresse na contratação, a chamada licitação Art. 24, inciso V
deserta, quando sua repetição causara prejuízo aos
cofres públicos.
5 Entidades sem fins lucrativos, para determinados Art. 24, incisos XIII, XX e XXIV
serviços como contrato de gestão e desde que os
preços sejam compatíveis.
6 Disparidade de propostas, quando as propostas Art. 24, inciso VII
estão incompatíveis com o mercado, entre outras
hipóteses.

32
TÓPICO 3 | EXCEÇÕES AO DEVER DE LICITAR

7 Intervenção no domínio econômico, quando a União Art. 24, inciso VI


tem necessidade de ajustar o mercado.
8 Complementação do objeto, quando for Art. 24, inciso XI
imprescindível complementar obra, serviço ou
fornecimento anterior.
9 Pessoas administrativas, contratação de pessoa Art. 24, incisos VIII, XVI e XXIII
jurídica de direito público interno e sociedades de
economia mista.
10 Locação e compra de imóvel, para uso de suas Art. 24, inciso X
atividades precípuas.
11 Negócios internacionais, acordos internacionais Art. 24, inciso XIV
aprovados pelo Congresso Nacional
13 Pesquisa científica e tecnológica, credenciados a Art. 24, inciso XXI
institutos governamentais oficiais.
14 Energia elétrica. Art. 24, inciso XXII
15 Transferência de tecnologia, quando firma-se Art. 24, incisos XXV, XXXI e
compromisso de repasse da tecnologia para aumentar XXXII
nossa estrutura tecnológica.
16 Consórcios públicos e convênios de cooperação. Art. 24, inciso XXVI
17 Navios, embarcações, aeronaves e tropas. Art. 24, inciso XVIII
18 Peças no período de garantia, para não perder a Art. 24, inciso XVII
garantia do produto.
19 Materiais de uso militar. Art. 24, incisos XIX e XXIX
20 Catadores de materiais recicláveis. Art. 24, inciso XXVII
FONTE: Adaptado de: Carvalho Filho (2013)

Ressaltamos que a dispensa de licitação é uma autorização da Lei de


Licitações, mas não é uma obrigatoriedade. Como já afirmamos, cabe ao gestor
analisar o custo benefício e a viabilidade de licitar ou não.

DICAS

Caro(a) acadêmico(a):
“O princípio da obrigatoriedade da licitação impõe que todos os destinatários do Estatuto façam
realizar o procedimento antes de contratarem obras e serviços. Mas a lei não poderia deixar de
ressalvar algumas hipóteses que, pela sua particularidade, não se compatibilizam com o rito e
a demora do processo licitatório” (CARVALHO FILHO, 2013, p. 250).

33
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

3 INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO
Os órgãos públicos podem, também, contratar diretamente sem a
competição da licitação quando a Lei nº 8.666/93 determina a inexigibilidade.
Salienta Medauar (2005, p. 233) que: “A inexigibilidade diz respeito às hipóteses em
que é inviável a competição”.

Diferente da dispensa, a inexigibilidade impede a possibilidade de


competição com outros interessados. A autora Di Pietro (2011, p. 373) explica:
“Nos casos de inexigibilidade, não há possibilidade de competição, porque só
existe um objeto ou uma pessoa que atenda às necessidades da Administração; a
licitação é, portanto, inviável”.

Encontramos três hipóteses de inexigibilidade na Lei de Licitações, no art.


25, incisos I ao III, conforme podemos observar:

Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de


competição, em especial:

I - para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam


ser fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial
exclusivo, vedada a preferência de marca, devendo a comprovação
de exclusividade ser feita através de atestado fornecido pelo órgão de
registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra
ou o serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou,
ainda, pelas entidades equivalentes;
II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta
Lei, de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória
especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade
e divulgação;
III - para contratação de profissional de qualquer setor artístico,
diretamente ou através de empresário exclusivo, desde que consagrado
pela crítica especializada ou pela opinião pública.

Carvalho Filho (2013) resume as três hipóteses em: a) Fornecedor exclusivo


(art. 25, inciso I); b) Atividades artísticas (art. 25, inciso III); e c) Serviços técnicos
especializados (art. 25, inciso II).

Buscamos nos conhecimentos dos autores Meirelles, Aleixo e Burle Filho


(2013, p. 310) o exemplo relacionado à inexigibilidade da licitação: “[...] pois não
se pode pretender melhor proposta quando apenas um é o proprietário do bem
desejado pelo Poder Público ou reconhecidamente capaz de atender às exigências
da Administração [...]”.

Acadêmico(a), fica evidente a diferença entre dispensa de licitação e


inexigibilidade: na primeira é possível realizar o procedimento licitatório (existem
competidores); na segunda, inexiste a possibilidade de licitar porque o contratante
é único.

34
TÓPICO 3 | EXCEÇÕES AO DEVER DE LICITAR

E
IMPORTANT

Acadêmico(a), fique atento(a):

“Podem existir outras hipóteses de inexigibilidade não previstas na Lei. Vale mencionar, como
por exemplo, duas situações que ocorrem comumente: convênios e credenciamentos”
(GARCIA, 2010, p. 51).

35
RESUMO DO TÓPICO 3
Acadêmico(a), veja o resumo do conteúdo apresentado:

• A Lei nº 8.666/93 apresenta casos que são exceções ao dever de licitar: a dispensa
e a inexigibilidade.

• Encontramos no artigo 24, incisos I a XXXIII, da Lei nº 8.666/1993, as possibilidades


de dispensa de licitação.

• A diferença entre dispensa de licitação e inexigibilidade é que a primeira


é possível realizar o procedimento licitatório (existem competidores), já na
segunda inexiste a possibilidade de licitar porque o contratante é único.

• Encontramos no artigo 25, incisos I ao III, as possibilidades de inexigibilidade de


licitação.

• O convênio e o credenciamento são duas situações de inexigibilidade de licitação


que não estão expressos na Lei.

36
AUTOATIVIDADE

Prezado(a) acadêmico(a), para que possamos avaliar a compreensão


dos conceitos que tivemos acesso até o momento, convido-o(a) a responder aos
questionamentos dispostos a seguir:

1 A regra nas contratações públicas é o dever de licitar, contudo há situações


previstas na Lei de Licitações que são exceções a este princípio. Quanto ao
nome das situações que são exceção ao dever de licitar, assinale a alternativa
CORRETA:

( ) Dispensa e inexigibilidade de licitar.


( ) Dispensa e fragilidade de licitar.
( ) Inexigibilidade e impossibilidade de licitar.
( ) Inexigibilidade e oportunidade de licitar.

2 Em determinados casos que a Administração Pública necessita firmar


contrato e comprovadamente inexiste a possibilidade de licitar porque o
fornecedor é único, a Lei nº 8.666/93, no art. 25, autoriza exceção à regra
do dever de licitar. Quanto ao nome correto deste procedimento, assinale a
alternativa CORRETA:

( ) É a inexigibilidade de licitação.
( ) É a dispensa de licitação.
( ) É a licitação dispensável.
( ) É a inexistência de licitação.

3 A dispensa e a inexigibilidade de licitação são exceções ao dever de licitar.


Pesquise e responda qual é a diferença entre as duas situações.

37
38
UNIDADE 1
TÓPICO 4

MODALIDADES DE LICITAÇÃO DA LEI Nº


10.520/2002

1 INTRODUÇÃO
Uma das tarefas do Poder Legislativo é adequar a legislação com as
mudanças que ocorrem na sociedade. Estamos na era da informática, ou melhor, da
tecnologia da informação e surge a necessidade de adaptar vários procedimentos
da Administração Pública para usufruirmos das benesses desta tecnologia. A Lei
nº 10.520/2002 é um exemplo, tanto na forma presencial como na eletrônica, de
modernidade dos processos licitatórios.

A legislação desta modalidade de licitação vem ao encontro das necessidades


de modernização do funcionamento dos órgãos públicos. As vantagens da adoção
do pregão nas compras de bens e serviços comuns é um incentivo para que em
todos os Entes da Federação seja utilizado o pregão, principalmente o eletrônico,
que é mais abrangente em termos de divulgação.

Caro(a) acadêmico(a), abordaremos o desenvolvimento básico do pregão


e apresentaremos os procedimentos internos e externos necessários para que o
processo licitatório, regido pela Lei nº 10.520/2002 e regulamentado pelo Decreto
nº 5.450/2005, tenha legitimidade.

Vamos, juntos, conhecer a modalidade de licitação chamada de pregão.

2 MODALIDADE DE LICITAÇÃO DA LEI Nº 10.520/2002


A Lei nº 10.520, de 2002, cria a modalidade de licitação chamada Pregão
que, junto às outras modalidades, regulamentam o artigo 37, inciso XXI, da
Constituição Federal. A Administração Pública pode utilizar o pregão para
implementar a igualdade e selecionar de forma mais vantajosa a aquisição de bens
e serviços. Vejamos o entendimento de Palavéri (2005, p. 1) em relação às licitações
e sua utilidade:

Por determinação de norma constitucional (art. 37, XXI), os poderes


públicos de todas as esferas governamentais, inclusive municipais,
veem-se obrigados a realizar, via de regra, procedimentos licitatórios
todas as vezes que pretenderem contratar, com terceiros, a execução de
serviços e de obras, a compra de bens ou ainda a promoção de atos
administrativos unilaterais, como a permissão.

39
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

Com intuito de modernizar a Lei nº 8.666/93 e trazer instrumentos


licitatórios mais ágeis e rápidos, a União implementou a legislação que institui
a modalidade do pregão. Inclusive, deu o exemplo generalizando o pregão para
todas as órbitas federativas, bem como editou normas para obrigar a adoção do
pregão em todos os órgãos federais. Este é o entendimento de Justen Filho (2005).

Para o autor Santana (2009, p. 35, grifo do autor), o termo pregão apresenta
o seguinte significado:

[...] dentre os diversos enfoques possíveis, preferimos ver no


pregão procedimento administrativo ou instrumental através do qual a
Administração Pública seleciona a oferta mais vantajosa, respeitados os
princípios que enunciaremos ao seu tempo (legalidade, economicidade,
isonomia, dentre outros).

Já o autor Palavéri (2005, p. 4, grifo do autor) destaca a definição de pregão


como se fosse apenas presencial. Verifique:

[...], podendo-se definir o pregão, aqui estudado, como a modalidade


licitatória destinada à seleção de propostas para futuros contratos, objetivando
a aquisição de bens e serviços comuns, independentemente do valor da futura
contratação, em cujo procedimento a disputa entre os licitantes far-se-á por meio
de propostas escritas, seguidas de lances verbais apurados em sessão pública.

Entendemos que o conceito simples apresentado pela autora Di Pietro


(2013, p. 416) é de fácil compreensão: “Pregão é a modalidade de licitação para
a aquisição de bens e serviços comuns, qualquer que seja o valor estimado da
contratação, em que a disputa pelo fornecimento é feita por meio de propostas e
lances em sessão pública”.

No artigo 2º, em seu § 1º, da Lei nº 10.520/2002, encontramos a autorização


para que seja utilizada a tecnologia da informação no desenvolvimento do pregão:
“Art. 2º [...] § 1º Poderá ser realizado o pregão por meio da utilização de recursos
de tecnologia da informação, nos termos de regulamentação específica”. A
regulamentação para a utilização desta tecnologia está determinada pelo Decreto
nº 5.450/2005.

A utilização do pregão como modalidade de licitação não está vinculada


ao valor da contratação mas com o objeto a ser contratado. Veja a explicação dos
autores Alexandrino e Paulo (2011, p. 625, grifo dos autores): “O fator que define
a possibilidade de utilização da modalidade pregão é a natureza do objeto da
contratação – aquisição de bens e serviços comuns -, não o valor do contrato”.

A definição da natureza do objeto de contratação do pregão encontra-se no


artigo 1º, parágrafo único, da lei que instituiu esta modalidade de licitação, como
podemos conferir a seguir:

Art. 1º Para aquisição de bens e serviços comuns, poderá ser adotada a


licitação na modalidade de pregão, que será regida por esta Lei.

40
TÓPICO 4 | MODALIDADES DE LICITAÇÃO DA LEI Nº 10.520/2002

Parágrafo único. Consideram-se bens e serviços comuns, para os


fins e efeitos deste artigo, aqueles cujos padrões de desempenho e
qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de
especificações usuais no mercado.

Notamos que a definição da legislação é um tanto incompreensível ou


confunde o objeto com todas as possibilidades de aquisições para a administração
pública, então buscamos o entendimento dos autores Meirelles, Aleixo e Burle
Filho (2013, p. 365, grifo dos autores) para esclarecer o assunto:

[...]. O que caracteriza os bens e serviços comuns é sua padronização, ou


seja, a possibilidade de substituição de uns por outros com o mesmo
padrão de qualidade e eficiência. Isto afasta desde logo os serviços de
Engenharia que não sejam comuns, os quais permitem o pregão, bem
como todos aqueles que devam ser objeto de licitação nas modalidades
de melhor técnica ou de técnica e preço. No pregão o fator técnico não é
levado em consideração, mas apenas o fator preço.

Seguindo as orientações dos autores, percebemos que compras como as de


material de escritório, materiais de limpeza, combustíveis, serviços de informática,
telefonia, serviços de limpeza, produtos de alimentação escolar, entre outras,
podem ser objeto de licitação pela modalidade de pregão.

O pregão veio para desburocratizar processos, fazer com que as compras


sejam mais simplificadas, baratear o custo de aquisição dos bens e serviços. Veja as
peculiaridades do pregão, segundo Justen Filho (2005, p.19):

Em primeiro lugar, o pregão é uma modalidade procedimental


simplificada e rápida, mas isso se deve à natureza dos objetos das
contratações a que se presta. Somente podem ser subordinados ao
pregão os contratos que versem sobre bens ou serviços comuns.
Em segundo lugar, a estrutura procedimental do pregão é peculiar, com
duas características fundamentais. Uma consiste na inversão das fases
de habilitação e julgamento. Outra é a possibilidade de renovação de
lances por todos ou alguns dos licitantes, até chegar-se à proposta mais
vantajosa.
Em terceiro lugar, o pregão comporta propostas por escrito, mas
o desenvolvimento do certame envolve a formulação de novas
proposições (‘lances’), sob forma verbal (ou, mesmo, por via eletrônica).

Destacam os autores Alexandrino e Paulo (2011, p. 626, grifo dos autores)


que esta modalidade de licitação sempre será do tipo menor preço:

[...] no pregão, não se leva em consideração o vulto do contrato (valor da


contratação), mas sim as características dos bens ou serviços, que devem
ser comuns, ou seja, simples, ordinários, rotineiros. Por esse motivo,
também, o tipo de licitação, no pregão, é sempre o de menor preço (não
se exige capacitação técnica especializada para o fornecimento dos bens
ou a prestação dos serviços objeto do pregão).

Notamos que todo o processo administrativo pode trazer vantagens e


desvantagens na sua aplicação, principalmente na fase de implantação. Tanto
o pregão presencial como o pregão eletrônico, disponíveis há mais de dez

41
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

anos, possuem pontos positivos e negativos, porém as vantagens superam as


desvantagens. Vejamos, então, as vantagens elencadas pelo autor Santana (2009,
p. 41):

a) desburocratização nos processos de contratação;


b) agilidade, celeridade, eficiência e economia nas contratações;
c) melhor gerenciamento da despesa pública;
d) publicidade e transparência do procedimento;
e) controle da atividade administrativa realizada em tal setor;
f) ampliação da disputa entre os fornecedores e os prestadores de
serviços.

É evidente que o pregão, principalmente o eletrônico, que é incentivado


pelo governo federal, é a modalidade de licitação que atende aos princípios
exigidos pela legislação das licitações e traz maiores expectativas de economia
para a administração pública.

NOTA

Caro(a) acadêmico(a), entenda um pouco da instituição do pregão:

“As modalidades licitatórias previstas na Lei nº 8.666/1993, em muitos casos, não conseguiram
dar a celeridade desejável à atividade administrativa destinada ao processo de escolha de
futuros contratantes. As grandes reclamações oriundas de órgãos administrativos não tinham
como alvo os contratos de grande vulto e de maior complexidade. Ao contrário, centravam-se
nos contratos menores ou de mais rápida conclusão, prejudicados pela excessiva burocracia
do processo regular de licitação” (CARVALHO FILHO, 2013, p. 304).

3 PREGÃO PRESENCIAL
A modalidade de licitação pregão, instituída pela Lei nº 10.520/2002, pode
ser de duas formas: pregão presencial ou pregão eletrônico. Sobre a diferença do
pregão presencial e do pregão eletrônico, explica Garcia (2010, p. 25): “[...] o pregão
comum ocorre em um ambiente real, com a presença física da pessoa que conduz
o feito e dos representantes dos licitantes, o pregão eletrônico tem todos os seus
atos praticados em um ambiente virtual viabilizado por meio do uso da Internet e
de tecnologia da informação”.

O pregão presencial, como o nome diz, é quando as propostas são entregues


por escrito e, na presença dos prepostos da empresa, há possibilidade de lances
para a escolha do vencedor ou da melhor proposta. O autor Garcia (2010, p. 23)
explica detalhadamente que:

42
TÓPICO 4 | MODALIDADES DE LICITAÇÃO DA LEI Nº 10.520/2002

Pregão presencial é a modalidade de licitação em que a disputa pelo


fornecimento de bens ou serviços comuns é feita em sessão pública, por
meio de propostas escritas e lances verbais.
Diz-se presencial porque a disputa se dá em sessão pública que conta
com a participação dos representantes das empresas.

Quanto ao amplo acesso do pregão comum, entende Palavéri (2005, p.


4) que: “Trata-se de modalidade licitatória que, como a concorrência, tem ampla
liberdade quanto aos participantes, não se restringindo, tal como no convite e na
tomada de preços, aos chamados pela Administração ou aos cadastrados”.

O autor Carvalho Filho (2013, p. 305) fala sobre a facultatividade do uso do


pregão:
O pregão não é modalidade de uso obrigatório pelos órgãos públicos.
Trata-se, pois, de atuação discricionária, na qual a Administração terá
a faculdade de adotar o pregão (nas hipóteses cabíveis), ou alguma das
modalidades previstas no Estatuto geral.

Destaca, também, o autor Carvalho Filho (2013), que a característica


principal do pregão presencial é a adoção do princípio da oralidade, isto quer dizer
que as propostas podem ser alteradas por lances em sessão pública. Enquanto
nas modalidades tradicionais de licitação as propostas são apresentadas em
documentos escritos que não são sofrem alterações.

NOTA

Caro(a) acadêmico(a), quais são os atores do pregão?

Segundo o autor Santana (2009), o instrumental humano que atua no pregão podem ser
apelidados de “atores” porque cada qual possui um papel a desempenhar no interior do
procedimento licitatório. Estes atores são: o pregoeiro (autoridade superior do certame), a
equipe de apoio e os licitantes.

4 PREGÃO ELETRÔNICO
O pregão eletrônico é uma inovação quando nos referimos à legislação,
para aquisição de bens e serviços ou modalidades de licitações efetuadas pela
administração pública brasileira. Historicamente, essas negociações eram
realizadas de forma presencial com a exceção das publicações ou publicidade.
Orienta Palavéri (2005, p. 127, grifo do autor):

[...] Com efeito, até a edição da primeira medida provisória do pregão,


em 2000, não havia, em âmbito nacional, nenhuma norma disciplinando
as licitações por intermédio de meio eletrônico, sendo que, na melhor

43
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

das hipóteses, os órgãos públicos apenas disponibilizavam seus editais


pela internet, em seus sites, não os utilizando para nenhum outro fim.

No pregão eletrônico é dispensada a sessão pública presencial, todo o


processo da apresentação dos lances é realizado eletronicamente. Sobre este
diferencial, explica Garcia (2010, p. 25): “Pregão eletrônico é a modalidade de
licitação na forma de pregão, que é feita em sessão pública a distância, usando
para tanto a rede mundial de computadores (Internet) e destinando-se à aquisição
de bens e serviços comuns [...]”.

Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2013, p. 369, grifo dos autores) definem o
pregão eletrônico e indicam a sua normatização:

[...] é aquele efetuado por meio da utilização de recursos de tecnologia


da informação, ou seja, por meio de comunicação pela Internet. Está
previsto no § 1º do art. 2º da Lei no 10.520/2002. No âmbito da União,
seu regulamento foi aprovado pelo Dec. no 5.450, de 31.5.2005 [...].

Destaca Justen Filho (2005, p. 10) como evoluirá a modalidade de pregão


eletrônico nas contratações públicas:

Não é exagero estimar que a difusão do pregão eletrônico produzirá a


redução da relevância do pregão comum. À medida que as diferentes
unidades administrativas instituam o pregão eletrônico, essa passará a
ser a alternativa dominante. Portanto, a utilização do pregão comum é
uma etapa passageira. Não será surpresa se, dentro de alguns anos, a
figura do pregão comum se configurar como uma raridade.

Acadêmico(a), percebemos que a modalidade de licitação pregão está


restrita para situações que envolvam o menor preço e para a contratação de bens e
serviços comuns, sem especificações técnicas diferenciadas. O objeto de contratação
é um dos fatores que traz agilidade no momento da escolha e da verificação dos
preços.

A evolução da tecnologia da informação e a sua maior acessibilidade nos


levam a acreditar que o pregão eletrônico venha a substituir, quando se tratar do
objeto permitido, as outras modalidades de licitações que exijam a presença dos
licitantes.

NOTA

Caro(a) acadêmico(a), conheça as vedações contidas no artigo 5º da Lei do


Pregão: 1) Garantia de proposta; 2) Aquisição do edital pelos licitantes, como obrigatoriedade
para participar da licitação; e 3) Pagamento de taxas e emolumentos, exceto o fornecimento
do edital e se houverem custos de utilização de recursos de tecnologia.

44
TÓPICO 4 | MODALIDADES DE LICITAÇÃO DA LEI Nº 10.520/2002

5 FASES DA LICITAÇÃO NA LEI Nº 10.520/2002


Como acontece nas modalidades de licitação regidas pelo Estatuto das
licitações (Lei nº 8.666/1993) na modalidade pregão, também são realizadas duas
fases no procedimento licitatório que são: a fase interna e a fase externa.

Em relação aos princípios que devem ser respeitados no processo


licitatório, Alexandrino e Paulo (2011, p. 627, grifo dos autores) ressaltam que,
além dos aplicáveis às outras modalidades, que foram apresentados no Tópico 2,
deve-se a Administração subordinar-se a outros: “[...] outros correlatos como o da
celeridade, finalidade, razoabilidade, proporcionalidade, competitividade, justo
preço, seletividade e comparação objetiva das propostas”.

O primeiro diferencial que deve ser observado desde a fase preparatória ou


interna, que começa na deflagração da necessidade da compra, até o final da fase
externa, com a escolha da proposta vencedora, é a respeito de novos princípios que
surgiram com a Lei nº 10.520/2002 e seus decretos regulamentadores.

5.1 FASE INTERNA


Os órgãos públicos realizam a fase preparatória ou fase interna do pregão
quando a necessidade da compra surge e são realizados procedimentos para
organizarem os documentos, verificarem a situação financeira e orçamentária,
entre outras, ensina Carvalho Filho (2013, p. 309, grifo do autor):

Fase interna do pregão é a que se constitui do conjunto de atos e


atividades de caráter preparatório a cargo do órgão administrativo. São
providências administrativas que antecedem a realização das atividades
que contam com a participação de terceiros.

As atividades que devem ser desempenhadas pelos servidores da


Administração Pública são as elencadas na Lei nº 10.520/2002, artigo 3º, incisos I
ao IV:

Art. 3º A fase preparatória do pregão observará o seguinte:


I - a autoridade competente justificará a necessidade de contratação e
definirá o objeto do certame, as exigências de habilitação, os critérios de
aceitação das propostas, as sanções por inadimplemento e as cláusulas
do contrato, inclusive com fixação dos prazos para fornecimento;
II - a definição do objeto deverá ser precisa, suficiente e clara, vedadas
especificações que, por excessivas, irrelevantes ou desnecessárias,
limitem a competição;
III - dos autos do procedimento constarão a justificativa das definições
referidas no inciso I deste artigo e os indispensáveis elementos técnicos
sobre os quais estiverem apoiados, bem como o orçamento, elaborado
pelo órgão ou entidade promotora da licitação, dos bens ou serviços a
serem licitados; e

45
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

IV - a autoridade competente designará, dentre os servidores do órgão


ou entidade promotora da licitação, o pregoeiro e respectiva equipe de
apoio, cuja atribuição inclui, dentre outras, o recebimento das propostas
e lances, a análise de sua aceitabilidade e sua classificação, bem como a
habilitação e a adjudicação do objeto do certame ao licitante vencedor.

Destaca-se, resumidamente, o autor Carvalho Filho (2013, p. 309), que


os procedimentos desta fase são quase idênticos aos determinados pela Lei de
Licitações e os apresenta:

Quase nenhuma grande novidade se contém nesta fase preparatória.


Como ocorre em todas as espécies de licitação, algumas providências
tornam-se realmente necessárias à consecução do certame. Assim, deve
a autoridade competente, primeiramente, justificar a necessidade da
contratação e, ao fazê-lo, cumpre-lhe definir o objeto da competição e o
que será exigido na habilitação. Outras providências a serem adotadas
são: (1) os critérios de aceitação das propostas; (2) a antecipação das
cláusulas contratuais, com a necessária fixação do prazo de fornecimento;
(3) as sanções para a hipótese de inadimplemento; (4) avaliação prévia
dos bens ou serviços a serem contratados.

Quanto aos integrantes da equipe de apoio nesta fase, orientam Alexandrino


e Paulo (2011, p. 629), com base na Lei do pregão, que: “A equipe de apoio deverá ser
integrada em sua maioria por servidores ocupantes de cargo efetivo ou emprego
da Administração, preferencialmente pertencentes ao quadro permanente do
órgão ou entidade promotora do evento”.

5.2 FASE EXTERNA


A fase externa do pregão é a que se inicia com a convocação dos interessados
até a homologação da licitação e deve seguir as normas expressas na Lei do pregão,
artigo 4º, incisos I ao XXIII:

Art. 4º A fase externa do pregão será iniciada com a convocação dos


interessados e observará as seguintes regras:
I - a convocação dos interessados será efetuada por meio de publicação
de aviso em diário oficial do respectivo ente federado ou, não existindo,
em jornal de circulação local, e facultativamente, por meios eletrônicos
e conforme o vulto da licitação, em jornal de grande circulação, nos
termos do regulamento de que trata o art. 2º;
II - do aviso constarão a definição do objeto da licitação, a indicação
do local, dias e horários em que poderá ser lida ou obtida a íntegra do
edital;
III - do edital constarão todos os elementos definidos na forma do inciso
I do art. 3º, as normas que disciplinarem o procedimento e a minuta do
contrato, quando for o caso;
IV - cópias do edital e do respectivo aviso serão colocadas à disposição
de qualquer pessoa para consulta e divulgadas na forma da Lei no 9.755,
de 16 de dezembro de 1998;
V - o prazo fixado para a apresentação das propostas, contado a partir
da publicação do aviso, não será inferior a 8 (oito) dias úteis;
VI - no dia, hora e local designados, será realizada sessão pública
para recebimento das propostas, devendo o interessado, ou seu

46
TÓPICO 4 | MODALIDADES DE LICITAÇÃO DA LEI Nº 10.520/2002

representante, identificar-se e, se for o caso, comprovar a existência dos


necessários poderes para formulação de propostas e para a prática de
todos os demais atos inerentes ao certame;
VII - aberta a sessão, os interessados ou seus representantes, apresentarão
declaração dando ciência de que cumprem plenamente os requisitos de
habilitação e entregarão os envelopes contendo a indicação do objeto e do
preço oferecidos, procedendo-se à sua imediata abertura e à verificação
da conformidade das propostas com os requisitos estabelecidos no
instrumento convocatório;
VIII - no curso da sessão, o autor da oferta de valor mais baixo e os das
ofertas com preços até 10% (dez por cento) superiores àquela poderão
fazer novos lances verbais e sucessivos, até a proclamação do vencedor;
IX - não havendo pelo menos 3 (três) ofertas nas condições definidas
no inciso anterior, poderão os autores das melhores propostas, até o
máximo de 3 (três), oferecer novos lances verbais e sucessivos, quaisquer
que sejam os preços oferecidos;
X - para julgamento e classificação das propostas, será adotado o critério
de menor preço, observados os prazos máximos para fornecimento,
as especificações técnicas e parâmetros mínimos de desempenho e
qualidade definidos no edital;
XI - examinada a proposta classificada em primeiro lugar, quanto ao
objeto e valor, caberá ao pregoeiro decidir motivadamente a respeito da
sua aceitabilidade;
XII - encerrada a etapa competitiva e ordenadas as ofertas, o pregoeiro
procederá à abertura do invólucro contendo os documentos de
habilitação do licitante que apresentou a melhor proposta, para
verificação do atendimento das condições fixadas no edital;XIII - a
habilitação far-se-á com a verificação de que o licitante está em situação
regular perante a Fazenda Nacional, a Seguridade Social e o Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, e as Fazendas Estaduais e
Municipais, quando for o caso, com a comprovação de que atende às
exigências do edital quanto à habilitação jurídica e qualificações técnica
e econômico-financeira;
XIV - os licitantes poderão deixar de apresentar os documentos de
habilitação que já constem do Sistema de Cadastramento Unificado
de Fornecedores – Sicaf e sistemas semelhantes mantidos por Estados,
Distrito Federal ou Municípios, assegurado aos demais licitantes o
direito de acesso aos dados nele constantes;
XV - verificado o atendimento das exigências fixadas no edital, o
licitante será declarado vencedor;
XVI - se a oferta não for aceitável ou se o licitante desatender às
exigências habilitatórias, o pregoeiro examinará as ofertas subseqüentes
e a qualificação dos licitantes, na ordem de classificação, e assim
sucessivamente, até a apuração de uma que atenda ao edital, sendo o
respectivo licitante declarado vencedor;
XVII - nas situações previstas nos incisos XI e XVI, o pregoeiro poderá
negociar diretamente com o proponente para que seja obtido preço
melhor;
XVIII - declarado o vencedor, qualquer licitante poderá manifestar
imediata e motivadamente a intenção de recorrer, quando lhe será
concedido o prazo de 3 (três) dias para apresentação das razões
do recurso, ficando os demais licitantes desde logo intimados para
apresentar contrarrazões em igual número de dias, que começarão a
correr do término do prazo do recorrente, sendo-lhes assegurada vista
imediata dos autos;
XIX - o acolhimento de recurso importará a invalidação apenas dos atos
insuscetíveis de aproveitamento;

47
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

XX - a falta de manifestação imediata e motivada do licitante importará


a decadência do direito de recurso e a adjudicação do objeto da licitação
pelo pregoeiro ao vencedor;
XXI - decididos os recursos, a autoridade competente fará a adjudicação
do objeto da licitação ao licitante vencedor;
XXII - homologada a licitação pela autoridade competente, o
adjudicatário será convocado para assinar o contrato no prazo definido
em edital; e
XXIII - se o licitante vencedor, convocado dentro do prazo de validade
da sua proposta, não celebrar o contrato, aplicar-se-á o disposto no
inciso XVI.

Comparando os ordenamentos da fase externa entre a modalidade pregão


e as outras modalidades regidas pela Lei nº 8.666/1993, encontramos a inversão de
algumas fases.

Os autores Alexandrino e Paulo (2011, p. 631, grifo dos autores) apresentam


a diferença das etapas de adjudicação e homologação:

É oportuno observar, [...], que, [...] no pregão a homologação ocorre


depois da adjudicação. A adjudicação será feita diretamente pelo
pregoeiro, se não houver recursos, ou será feita pela autoridade
competente para efetuar a homologação, se foram interpostos recursos.
Em ambas as hipóteses, a homologação é posterior à adjudicação. Outro
aspecto interessante [...] segundo o qual ‘o adjudicatário será convocado
para assinar o contrato no prazo definido em edital’. Acreditamos ser
acertado afirmar que, no caso do pregão, existe direito subjetivo do
adjudicatário à celebração do respectivo contato, diferentemente do que
se dá nas modalidades reguladas pela Lei no 8.666/1993 [...].

Já o autor Palavéri (2005, p. 71) destaca outra inversão de etapas, confira


a seguir: “Aqui, no pregão, primeiro analisar-se-á a proposta comercial dos
licitantes e apenas depois se passará a à apreciação da habilitação, analisando-se a
documentação do licitante que apresente a melhor proposta de preços”.

No pregão eletrônico, as fases do procedimento são iguais, apenas


com algumas exigências para adequar à tecnologia de informação utilizada.
Encontramos no Decreto nº 5.450/2005 exigências sobre recursos de criptografia
nas fases do certame, prévio credenciamento perante o provedor que promoverá a
licitação, enfim são vários pontos que validarão esta modalidade de licitação.

DICAS

Acadêmico(a), é importante você fazer uma leitura do Decreto nº 5.450/2005.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5450.
htm>.

48
TÓPICO 4 | MODALIDADES DE LICITAÇÃO DA LEI Nº 10.520/2002

E
IMPORTANT

Acadêmico(a), entenda quem é o pregoeiro, ator principal do pregão:

O pregoeiro é o servidor responsável pela sessão de julgamento, até o momento da adjudicação


ao vencedor, do objeto licitado. É ele quem coordena a sessão, conduzindo-a com o auxílio da
equipe de apoio. É designado pela autoridade competente, que também exerce controle sobre
os seus atos (SANTANA, 2009).

5.3 RECURSOS NO PREGÃO


As situações que geram a interposição de recurso no pregão não diferem
das existentes no Estatuto das Licitações, porém com periodicidade diferenciada
para atender as características deste procedimento administrativo mais moderno,
segundo Justen Filho (2005).

Diferente de outras modalidades, o pregão admite apenas uma hipótese de


recurso (recurso é diferente de impugnação). É o que esclarece Santana (2009, p.
339, grifo do autor):

O recurso no pregão (seja eletrônico e presencial) tem mesmo essa


característica primordial já destacada inicialmente: só há um recurso,
entendido como tal aquele pedido de reexame de alguma decisão havida
no curso do procedimento respectivo. E ele é posto ao final, antes da
adjudicação.

Nos ensinamentos de Palavéri (2005, p. 114) encontramos a confirmação do


recurso administrativo único e exemplos concretos sobre essa diferença em relação
às outras modalidades:

A grande diferença verificada nessa modalidade, em relação às demais,


no que concerne ao recurso administrativo, é a possibilidade de ser
interposto uma única vez ao longo de todo o procedimento. Se na
concorrência e na tomada de preços, dentre outras, admite-se em regra
ao menos dois recursos, um em face da habilitação e outro em função
do resultado do julgamento das propostas comerciais, aqui no pregão as
discussões sobre ambas as etapas decisórias serão processadas em uma
única oportunidade de recurso.

Sobre a invalidação dos atos após o recurso, alerta Carvalho Filho (2013,
p. 315) que: “O provimento do recurso implica a invalidação somente dos atos
insuscetíveis de aproveitamento. Os demais não precisarão ser afetados [...]”.

A intenção de apresentar recurso administrativo deve ser expressa em


sessão, conforme estabelece o artigo 4º, inciso XX, da Lei nº 10.520/2002.

49
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

5.3.1 Sanções administrativas


A legislação que instituiu o pregão preocupou-se em antecipar problemas
ou condutas ilícitas, que os licitantes podem causar no percurso das contratações
submetidas a esta modalidade de licitação, no artigo 7º da Lei do Pregão:

Art. 7º Quem, convocado dentro do prazo de validade da sua proposta,


não celebrar o contrato, deixar de entregar ou apresentar documentação
falsa exigida para o certame, ensejar o retardamento da execução de
seu objeto, não mantiver a proposta, falhar ou fraudar na execução do
contrato, comportar-se de modo inidôneo ou cometer fraude fiscal [...].

Assim que verificada a infração, é permitida a apresentação do contraditório


por parte do participante. Orienta Carvalho Filho (2013) que, se comprovada culpa,
o licitante poderá sofrer sanções (penalidades) administrativas. Ainda no artigo 7º
da Lei nº 10.520/2002 encontramos expressas as penalidades aplicáveis:

[...] ficará impedido de licitar e contratar com a União, Estados, Distrito


Federal ou Municípios e, será descredenciado no Sicaf, ou nos sistemas
de cadastramento de fornecedores a que se refere o inciso XIV do art.
4o desta Lei, pelo prazo de até 5 (cinco) anos, sem prejuízo das multas
previstas em edital e no contrato e das demais cominações legais.

Se fizermos um comparativo com as sanções expressas na Lei nº 8.666/1993,


no artigo 87, podemos observar que as sanções determinadas na Lei do pregão são
mais ásperas. Contudo, quando não divergir com a legislação específica do pregão,
nos editais há a possibilidade de, segundo Palavéri (2005), valer-se do instituto de
multas, advertências e sanções de advertência, que estão estabelecidas no artigo 87
da Lei nº 8.666/1993.

5.3.2 Advertências
A aplicação de sanções deve ser realizada com muito cuidado, para evitar
que infrações menos prejudiciais possam retirar do certame os participantes com
potencial de interesse público, vejam a explicação de Palavéri (2005, p. 125):

Assim, por exemplo, temos que nem todas as hipóteses de retardamento


da execução do objeto contratual ou do cometimento de falhas nessa
execução deverão levar à aplicação do impedimento de licitar ou
contratar com a Administração. Na aplicação das sanções deverá o
administrador dosar a pena, e aplicá-la com vistas à razoabilidade,
sendo que em muitas situações mais adequado será a imposição de
advertência ou de multa, nos termos previstas pela Lei nº 8.666/1993
(art. 87 e seguintes).

Destaca Justen Filho (2010, p. 891) que a advertência não deixa de ser uma
sanção, porém deve ser aplicada em infrações menos importantes: “A advertência
corresponde a uma sanção de menor gravidade. Supõe-se sua aplicação para
condutas de inexecução parcial de deveres de diminuta monta [...]”.

50
TÓPICO 4 | MODALIDADES DE LICITAÇÃO DA LEI Nº 10.520/2002

5.3.3 Sanções temporárias


As sanções temporárias também são institutos que estão expressos na Lei
nº 8.666/1993, no artigo 87, inciso III, observe como está descrito:

Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Administração


poderá, garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as seguintes
sanções:
[...]
III - suspensão temporária de participação em licitação e impedimento
de contratar com a Administração, por prazo não superior a 2 (dois)
anos [...].

Não necessariamente a suspensão será de dois anos, segundo as explicações


da autora Medauar (2005, p. 252) é opcional, conforme segue: “A Administração
fixará o prazo proporcionalmente à gravidade do fato”.

5.3.4 Declaração de idoneidade


O administrador pode, nas aplicações das penalidades, optar, quando
cabível, pelo disposto no artigo 87, inciso IV, da Lei das Licitações, que prescreve a
emissão de declaração de idoneidade. Vamos conhecer o dispositivo legal:

Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Administração


poderá, garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as seguintes
sanções:
[...]
IV - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a
Administração Pública enquanto perdurarem os motivos determinantes
da punição ou até que seja promovida a reabilitação perante a própria
autoridade que aplicou a penalidade, que será concedida sempre que o
contratado ressarcir a Administração pelos prejuízos resultantes e após
decorrido o prazo da sanção aplicada com base no inciso anterior.

Medauar (2005, p. 252) destaca qual autoridade aplica a sanção e qual o


prazo para defesa: “[...]. É a sanção administrativa mais grave. É da competência
exclusiva de Ministro de Estado, de Secretário Estadual ou Municipal, conforme o
caso; o interessado pode defender-se nos autos do respectivo processo, no prazo
de 10 dias da abertura de vista [...]”.

DICAS

Caro(a) acadêmico(a):
Aplicam-se subsidiariamente ao pregão as disposições constantes da Lei nº 8.666/1993
(ALEXADRINO; PAULO, 2011).

51
RESUMO DO TÓPICO 4
Acadêmico(a), você acabou de estudar os seguintes conteúdos:

• A Lei nº 10.520/2002 institui a modalidade de pregão, que pode ser presencial ou


eletrônico.

• A modalidade licitatória do pregão é uma modernidade para a aquisição de


bens ou serviços comuns e terá como critério de escolha, sempre, o menor preço.

• Como princípios e vantagens do pregão podemos destacar a celeridade, a


finalidade, a razoabilidade, a proporcionalidade, a competitividade, o justo
preço, a seletividade e a comparação objetiva das propostas.

• Também, nesta modalidade, utilizamos duas fases na execução do pregão, que


são: a fase interna ou preparatória e a fase externa.

• As situações que geram a interposição de recurso, no pregão, não diferem das


existentes no Estatuto das Licitações, mas deve ser peticionado apenas no final
antes da adjudicação.

• As penalidades ou sanções descritas na Lei do pregão são severas, porém no que


couber e estiver expresso no edital o Administrador poderá aplicar sanções do
artigo 87, da Lei nº 8.666/1993.

• Aplicam-se subsidiariamente ao pregão as disposições constantes da Lei nº


8.666/1993.

52
AUTOATIVIDADE

Prezado(a) acadêmico(a), para que possamos avaliar a compreensão


dos conceitos que tivemos acesso até o momento, convido-o(a) a responder aos
questionamentos dispostos a seguir:

1 A Lei nº 10.520/2002, para atender às evoluções da sociedade, instituiu


a modalidade de licitação chamada de pregão. Quanto à nomenclatura
utilizada para indicar o tipo e procedimento de pregão, assinale a alternativa
CORRETA:

( ) Pregão alternativo e pregão eletrônico.


( ) Pregão presencial e pregão eletrônico.
( ) Pregão presencial e pregão digitalizado.
( ) Pregão alternativo e pregão digitalizado.

2 O pregão, tanto presencial como o eletrônico, é um exemplo de modernidade


que deve ser implementado nos processos administrativos do Órgãos
Públicos. Com referência às principais vantagens trazidas pelo pregão,
assinale as alternativas CORRETAS:

( ) Ampliação da disputa entre os fornecedores e os prestadores de serviços.


( ) Desburocratização nos processos de contratação.
( ) Não necessita respeitar horário para as sessões.
( ) Melhor gerenciamento da despesa pública.

3 Quando o licitante cometer infrações descritas na legislação do pregão, é


cabível a aplicação de sanções após ser comprovada a culpa do participante.
Com referência às sanções administrativas que podem ser utilizadas na
modalidade do pregão e estão descritas na Lei nº 8.666/1993, artigo 87,
assinale as alternativas CORRETAS:

( ) Recursos.
( ) Advertência.
( ) Sanções temporárias.
( ) Declaração de inidoneidade.

53
54
UNIDADE 1
TÓPICO 5

PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS - PPP

1 INTRODUÇÃO
Evoluções legislativas, a exemplo da criação do pregão, são necessárias
para solucionar dilemas que surgem com a modernidade. Alguns problemas que
a Administração Pública vem enfrentando são a falta de recursos e a crescente
demanda por infraestrutura e serviços públicos.

A criação de uma lei específica para normatizar a parceria entre a iniciativa


privada e os órgãos públicos vem proporcionar uma alternativa para resolver esses
problemas públicos. Com a Parceria Público-Privada, as vantagens do negócio
refletem para a Administração Pública, para a iniciativa privada e, principalmente,
para a sociedade (que terá suas necessidades atendidas).

Caro(a) acadêmico(a), neste tópico conheceremos algumas das regras para


a realização de Parcerias Público-Privadas, como: a conceituação, os motivos que a
criaram, suas vantagens, suas modalidades e as exigências trazidas pela lei.

Aos estudos!

2 PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS
Uma nova modalidade de concessão de serviços públicos é a Parceria
Público-Privada (PPP). Os autores Branco, Lo Fiego e Alves (2008, p. 9) orientam
que as associações de órgãos públicos com instituições das áreas privadas são
formas de concessão especiais e uma opção eficiente para a Administração Pública:

As PPPs são associações entre os setores público e privado, em que


as partes trabalham em conjunto para benefício mútuo, segundo
regras previamente estabelecidas. As PPPs são, em realidade, uma
nova modalidade de concessão de serviços públicos, em que há
obrigatoriedade de aporte de recursos do parceiro público ao parceiro
privado, já que o retorno financeiro dos investimentos e gastos
operacionais por este último não seria suficiente apenas com receitas
próprias.

Continuando com os ensinamentos de Branco, Lo Fiego e Alves (2008, p. 14,


grifo dos autores), destacamos as principais vantagens para a sociedade, a iniciativa
privada e o setor público:

55
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

Para o setor público, a PPP permite a obtenção de um melhor uso do


recurso público (value for money), quando da oferta de serviços públicos,
ao lhes conferir eficiência, eficácia e efetividade, particularmente através
das seguintes fontes:
· Inovação. A PPP permite a transferência da capacidade inovadora do
setor privado para a área pública. Uma das maiores fontes de ganho
a esse respeito advém do fato do Governo não necessitar de fornecer
pormenores de como um ativo deva ser projetado e construído, mas
sim de estabelecer os condicionantes básicos de como o serviço público
deverá ser ofertado pelo parceiro privado (modelo DBFOT);
· Otimização do custo e da vida útil. Num modelo DBFOT, o
empreendedor estará numa ótima posição para aprimorar técnicas
de projeto e construção, que minimizem os custos de implantação e
operação e aumentem a vida útil dos ativos, algo que dificilmente seria
possível no esquema tradicional de gestão pública, em que as diversas
fases do modelo antes citado são de responsabilidade de diferentes
atores;
· Compartilhamento de infraestruturas. Existem vários casos em
que facilidades governamentais implementadas através de PPPs são
compartilhadas com terceiros, minimizando gastos operacionais do
parceiro público, num movimento impulsionado pela experiência do
parceiro privado em gestão de ativos;
· Divisão ótima de responsabilidades. No caso mais frequente, o parceiro
público define as condições de oferta de determinado serviço público,
e o parceiro privado projeta, constrói e opera os ativos para tal. Nessas
circunstâncias, costuma ocorrer uma divisão de responsabilidades mais
clara e coerente, já que cada um dos parceiros estará exercendo suas
atividades finalísticas.
Para o setor privado, a PPP representa um novo e amplo leque de
oportunidades de negócios, muitas delas restritas anteriormente à
governança pública.
Para a sociedade, as PPPs representam uma oportunidade de se desfrutar
de serviços públicos mais bem estruturados e coordenados, sobretudo
pelo fato que indicadores de desempenho estarão monitorando todo o
processo concessional.

Acadêmico(a), é muito importante quando o legislador consegue adaptar a


legislação para oferecer benefícios a todos os interessados. Isso acontece nas PPPs,
visto que tanto a administração pública como a iniciativa privada e a sociedade
usufruem de vantagens com esta modalidade de concessão especial.

DICAS

Caro(a) acadêmico(a), conheça um pouco da evolução normativa das PPPs:

As parcerias público-privadas foram instituídas como modalidades de contratos administrativos,


pela Lei nº 11.079, de 30/12/2004, alterada pela Lei nº 11.409, de 25/05/2011, e pela Medida
Provisória nº 575, de 07/08/2012, que se converteu na Lei nº 12.766, de 27/12/2012 (DI PIETRO,
2013).

56
TÓPICO 5 | PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS

3 HISTÓRICO E CONCEITO DAS PPPs


A necessidade crescente de investimentos em infraestrutura, a escassez dos
recursos públicos e a insatisfação da sociedade com o atendimento nos serviços
públicos foram alguns exemplos que incentivaram o legislador a buscar modelos,
até mesmo internacionais, que atendam a soluções pontuais.

As Parcerias Público-Privadas (PPPs), nos termos de sua contratação de


concessão especial, são regidas pela Lei nº 11.079/2004 e fiscalizadas no âmbito
Federal pelo Tribunal de Contas da União - TCU:

As Parcerias Público-Privadas (PPPs) são contratos de concessão em que


o parceiro privado faz investimentos em infraestrutura para prestação de
um serviço, cuja amortização e remuneração é viabilizada pela cobrança
de tarifas dos usuários e de subsídio público (PPP patrocinada) ou é
integralmente paga pela Administração Pública (na modalidade de PPP
administrativa).
No Tribunal de Contas da União (TCU), a fiscalização de procedimentos
de licitação, contratação e execução contratual de PPP é regida pela
Instrução Normativa nº 52/2007, segundo a qual o controle dessa
categoria de contratação é feito de forma concomitante, em que
são analisados documentos específicos exigidos pelo Tribunal, e
encaminhados pelo órgão ou entidade federal concedente. (TCU, sd).

Já a autora Di Pietro (2013, p. 315) elaborou um conceito de PPP unindo as


duas modalidades possíveis desta concessão, veja o resultado:

Para englobar as duas modalidades em um conceito único, pode-se dizer


que a parceria público-privada é o contrato administrativo de concessão
que tem por objeto (a) a execução de serviço público, precedida ou
não de obra pública, remunerada mediante tarifa paga pelo usuário e
contraprestação pecuniária do parceiro público, ou (b) a prestação de
serviço de que a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta,
com ou sem execução de obra e fornecimento e instalação de bens,
mediante contraprestação do parceiro público.

A principal diferença das concessões PPPs com as demais concessões é o


investimento financeiro aportado pela administração pública, segundo Carvalho
Filho (2013, p. 189):

As concessões especiais, reguladas na Lei nº 11.079, de 30.12.2004,


também encerram delegação de serviço e obras públicas, mas se
sujeitam a regime jurídico específico – o denominado regime das
parcerias público-privadas. Diferentemente das concessões simples, nas
concessões especiais o concessionário recebe contrapartida pecuniária
por parte do poder concedente.

A Lei nº 10.079/2004 contém normas obrigatórias para a União, estados,


Distrito Federal e municípios, porém, no mesmo instituto, nos artigos 14 a 22, estão
dispostas diretrizes aplicáveis apenas para a União sobre o órgão gestor das PPPs e
o Fundo Garantidor de PPPs (FGP), conforme aludido por Di Pietro (2013).

57
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

O Ente da Federação que quiser realizar contrato de concessão especial


deve realizar estudos de viabilidade apropriados ao objeto que será concedido
para compará-los às diretrizes que devem ser respeitadas, dispostas no artigo 4º,
da Lei nº 10.079/2004:

Art. 4o Na contratação de parceria público-privada serão observadas as


seguintes diretrizes:
I – eficiência no cumprimento das missões de Estado e no emprego dos
recursos da sociedade;
 II – respeito aos interesses e direitos dos destinatários dos serviços e dos
entes privados incumbidos da sua execução;
III – indelegabilidade das funções de regulação, jurisdicional, do
exercício do poder de polícia e de outras atividades exclusivas do
Estado;
IV – responsabilidade fiscal na celebração e execução das parcerias;
V – transparência dos procedimentos e das decisões;
VI – repartição objetiva de riscos entre as partes;
VII – sustentabilidade financeira e vantagens socioeconômicas dos
projetos de parceria.

Quanto às características necessárias para os projetos poderem ser


implementados através de PPPs, orientam os autores Branco, Lo Fiego e Alves
(2008, p. 8):

Projetos com as seguintes características contratuais são elegíveis para


PPP:
· valor superior a R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais);
· prazo de vigência não inferior a 5 (cinco), nem superior a 35 (trinta e
cinco) anos, incluindo eventual prorrogação;
· remuneração pelo parceiro público ao parceiro privado somente após
a disponibilização do serviço;
· remuneração variável pelo parceiro público ao parceiro privado
vinculada ao seu desempenho;
· compartilhamento de risco entre o parceiro público e o parceiro
privado;
· adimplência das obrigações financeiras do parceiro público
relativamente ao parceiro privado asseguradas através de fundo
garantido.

O administrador público deve observar que a PPP é um contrato


dispendioso com longo período de execução. Estes são motivos que demandam
análise de viabilidade responsável para não prejudicar o interesse público.

E
IMPORTANT

Caro(a) acadêmico(a):

As Parcerias Público-Privadas (PPPs) são modalidades específicas de contratos de concessão,


instituídas e reguladas pela Lei nº 11.079/2004. Trata-se de uma lei de normas gerais, uma lei
de caráter nacional, editada com fundamento na competência estabelecida no inciso XXVII do
art. 22 da Constituição da República (ALEXADRINO; PAULO, 2011).

58
TÓPICO 5 | PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS

4 FORMAS DE PPPs
O artigo 2º da Lei que criou a contratação de PPP, Lei nº 11.079/2004,
traduz quais as modalidades que o contrato de concessão pode apresentar: “Art. 2o
Parceria público-privada é o contrato administrativo de concessão, na modalidade
patrocinada ou administrativa”.

Utilizamos os ensinamentos do autor Carvalho Filho (2013, p. 190, grifo do


autor) para demonstrar a diferença das duas modalidades ou categorias:

Subdividem-se em duas categorias: (1ª) concessões patrocinadas, aquelas


em que a contraprestação pecuniária do concedente representa um
adicional à tarifa cobrada dos usuários; (2ª) concessões administrativas,
aquelas em que a Administração Pública é a usuária direta ou indireta
da prestação do serviço, da obra ou do fornecimento.

Ressaltam os autores Alexandrino e Paulo (2011) que, para a modalidade


de concessão administrativa, a legislação não especifica adequadamente a natureza
do serviço administrativo que o parceiro público será usuário (direto ou indireto).

Buscamos no entendimento dos autores Meirelles, Aleixo e Burle Filho


(2013, p. 456, grifo dos autores) maiores explicações sobre o assunto:

[...] é preciso não confundi-la com a concessão de uso de bem público,


também chamada de concessão administrativa de uso, para diferenciá-la
da concessão do direito real de uso, [...]. Esta concessão administrativa é
um contrato de prestação de serviços de que a Administração é a usuária
direta ou indireta, conforme define a lei. Daí por que a remuneração
é paga integralmente pela própria Administração. Destina-se, ao que
parece, a permitir a inserção do setor privado em serviços até agora
pouco atrativos, como a construção e administração de presídios,
hospitais, escolas e outros setores.

As PPPs devem ver precedidas de licitação na modalidade de concorrência


e, se previsto em edital, por instituto jurídico diferenciado, trazidos pela Lei
nº 11.079/2004, com lances de viva voz e a possibilidade de inversão da ordem
das fases de habilitação e julgamento (muito parecido com o pregão), segundo
entendimento de Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2013).

E
IMPORTANT

Caro(a) acadêmico(a):

Procure ler a Lei nº 11.079/2004, na íntegra, e compreender adequadamente o processo de


licitação indicado nas Parcerias Público-Privadas. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/2002/l10520.htm>.

59
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

LEITURA COMPLEMENTAR

E
IMPORTANT

Caro(a) acadêmico(a):
Para aprimorar seus estudos, selecionamos um texto que resume a visão internacional e
nacional do instituto da Parceria Público-Privada – PPP.
Complemente seus estudos fazendo esta leitura atentamente, e perceba novidades sobre o
tema apresentado no Tópico 5.

O que são Parcerias Público-Privadas (PPP)?

A literatura internacional define uma PPP como sendo um contrato


de longo prazo entre um governo (federal, estadual ou municipal) e uma
entidade privada, no qual essa entidade se compromete a oferecer serviços
de infraestrutura. Há diferentes tipos de contrato, em que o setor público
e o parceiro privado dividem entre si as responsabilidades referentes ao
financiamento, projeto, construção, operação e manutenção da infraestrutura.
A empresa privada pode ser remunerada tanto pela cobrança de tarifas
diretamente aos usuários (pedágio, por exemplo) quanto por pagamentos
feitos a ela diretamente pelo governo (BANCO MUNDIAL, 2012).

A definição acima difere do conceito de PPP estipulado pela legislação


brasileira, que é bem mais restrito. Neste artigo apresenta-se primeiro a
definição internacional e, em seguida, mostra-se como a definição brasileira é
um subconjunto daquela definição mais ampla.

No conceito internacional, mais amplo, podemos citar como exemplo


de PPP um contrato para que uma empresa passe a cuidar da manutenção de
uma estrada, cobrando pedágio dos usuários. Também temos uma PPP quando
uma empresa constrói uma prisão e opera os serviços de limpeza, alimentação,
manutenção predial, entre outros, enquanto o governo se encarrega da
atividade-fim do presídio, que é o serviço de controle e escolta de presidiários.
Outro exemplo de PPP seria a construção e operação de uma linha de metrô
por uma empresa privada, em que a remuneração do parceiro privado vem de
duas fontes: a tarifa cobrada dos usuários e um pagamento mensal feito pelo
governo.

Na definição apresentada no primeiro parágrafo, dois termos estão


grifados: “longo-prazo” e “serviços de infraestrutura”. Esses são aspectos
importantes da caracterização de uma PPP. O termo “serviços de infraestrutura”

60
TÓPICO 5 | PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS

indica que o parceiro privado não vai simplesmente construir uma estrada,
uma ferrovia, um hospital ou um aeroporto e entregá-lo para ser administrado
pelo governo ou empresa estatal. Ele vai construir e operar uma parte ou todos
os serviços oferecidos por aquela infraestrutura. Ou então ele vai simplesmente
operar (sem construir ou apenas reformar) os serviços de uma infraestrutura
já existente, de propriedade do governo. Ou seja, para caracterizar uma PPP
é importante que o parceiro privado atue na provisão do serviço público
associado à infraestrutura que lhe foi confiada.

Os contratos são de longo-prazo porque, em primeiro lugar, estão


relacionados a serviços públicos que exigem investimentos de grande
vulto, seja na construção, seja na manutenção: estradas, portos, aeroportos,
ferrovias, prédios públicos com características especiais (hospitais, prisões) ou
construídos em grande quantidade (escolas) etc. Portanto, nos casos em que o
parceiro privado investe seu capital, ele precisa que o contrato tenha um prazo
dilatado para dar tempo de pagar o investimento.

Mesmo quando não há uma elevada imobilização de capital pelo parceiro


privado (por exemplo, contratos para operar infraestrutura já existente), pode
ser interessante estabelecer um contrato de longo-prazo, pois seria ineficiente
trocar o administrador da infraestrutura diversas vezes em prazos curtos, tendo
em vista o custo de licitação e o custo de aprendizagem, associado ao período
em que o novo concessionário está ajustando a oferta do novo serviço, quando
usualmente há quebras na qualidade dos serviços.

Note que não se encaixam na definição de PPP os contratos mais simples,


como os que preveem a prestação de serviços de limpeza e vigilância de prédios
públicos, fornecimento de alimentação, conservação de jardins, assistência
técnica em informática etc. Esses são contratos de curto-prazo, normalmente
conhecidos como “terceirização”. Enquanto os contratos de PPP normalmente
têm prazos que superam vinte anos, os contratos de terceirização de serviços
duram por volta de cinco anos (sobre contratos de terceirização no Brasil e seus
problemas ver, neste site, por que o governo gasta tanto com terceirização).

Um ponto central para o sucesso de uma PPP está na divisão de riscos


entre o setor público e o parceiro privado. A construção e operação de uma
rodovia, por exemplo, implica diversos riscos financeiros: a obra pode custar
mais que o projetado (risco de construção), o volume de tráfego (e, portanto,
a receita de pedágio) pode ser menor que o esperado (risco de demanda),
a eleição de um novo governante pode colocar em risco o cumprimento do
contrato (risco político) etc.

Não é trivial, portanto, a redação de um contrato de PPP, que deve ser


o mais detalhado possível no que diz respeito a qual das partes deve assumir
quais tipos de riscos. Essa é uma condição necessária, mas não suficiente. É
preciso, também, que haja um Poder Judiciário com capacidade para impor o
cumprimento dos contratos. Em países em que o Judiciário é influenciado pelo
Poder Executivo, o risco político incorrido pelos parceiros privados é alto.
61
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

Os contratos de PPP em geral associam a revisão dos pagamentos feitos


aos parceiros privados, ao longo da vida do contrato, com base no cumprimento
de metas de qualidade e quantidade do serviço oferecido. Por exemplo, em
um contrato de PPP de um aeroporto, o parceiro privado terá direito a um
maior reajuste da tarifa se conseguir fazer todos os investimentos de expansão
do aeroporto que estavam previstos no contrato inicial. Ou, alternativamente,
será punido com um reajuste menor se os índices de qualidade dos serviços
prestados estiverem abaixo das metas contratuais (tempo de espera no check-in,
atraso nos voos de responsabilidade do aeroporto etc.).

Essa característica dos contratos pressupõe a existência de uma agência


reguladora com suficiente capacidade e independência técnica para dar pleno
cumprimento à verificação das metas contratuais e efetivamente punir ou
premiar o parceiro privado. Agências reguladoras sem autonomia em relação
ao governo, ou cujos cargos de comando sejam distribuídos ao sabor de
negociações partidárias, acabam aproximando perigosamente a necessidade
de recursos dos partidos políticos (para financiamento de campanha) do poder
institucional de conferir ganhos financeiros não merecidos a parceiros privados
que não cumprem contratos.

E qual seria a grande vantagem de um contrato de PPP em relação


ao modelo tradicional, em que o governo contrata a construção de uma
infraestrutura junto a empresas privadas e depois opera, ele próprio, o serviço
oferecido por essa infraestrutura? A vantagem é que, ao se contratar uma
mesma empresa para construir (ou reformar/ampliar) uma infraestrutura
e, em seguida, passar a operá-la, essa empresa terá incentivos para fazer
uma construção (reforma/ampliação) de boa qualidade. Isso porque uma
infraestrutura bem construída vai reduzir os custos de manutenção e reparo
ao longo do contrato de operação, bem como vai permitir a prestação de um
serviço de maior qualidade (viabilizando ganhos financeiros quando a tarifa
estiver atrelada à qualidade do serviço prestado).

Em um contrato comum de simples construção e entrega da infraestrutura


ao governo, as empresas têm incentivos para construir rapidamente e economizar
nos custos, colocando em segundo plano a qualidade final do trabalho. O
governo, por sua vez, não tem informação suficiente sobre o andamento das
obras e seus detalhes para exigir maior qualidade.

Outra vantagem das PPP é que elas trazem capital privado para
investimentos em que antes só havia dinheiro público. Como os orçamentos
públicos estão cada vez mais restritos frente à necessidade de manter o equilíbrio
fiscal, a entrada de capital privado é um reforço bem-vindo ao financiamento
das obras de infraestrutura.

Há dois conceitos relevantes acerca de rentabilidade de projetos que


devem ser analisados quando se fala em PPP: a viabilidade financeira e
a viabilidade econômica. Um projeto tem viabilidade financeira quando,
62
TÓPICO 5 | PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS

estimados todos os seus custos e receitas, o resultado é um lucro que seja


suficiente para atrair uma empresa privada para operar o negócio. Trata-se,
pois, de um conceito de rentabilidade privada.

A viabilidade econômica leva em conta, além das receitas e custos


financeiros, os benefícios e custos sociais decorrentes do projeto. Por exemplo,
uma nova rodovia pode gerar como benefícios sociais a economia de tempo
de deslocamento dos usuários, o aumento da produtividade das empresas,
que podem entregar seus produtos com mais rapidez etc.; por outro lado,
essa mesma rodovia pode gerar custos sociais, como o aumento da poluição
em cidades que fiquem à beira da rodovia ou um custo de pedágio que seja
incompatível com o nível de renda da população local.

Quando um projeto tem viabilidade financeira e econômica (benefícios


maiores que os custos nos dois conceitos), então é interessante para o país
que ele seja desenvolvido. E sendo sustentável do ponto de vista financeiro, o
governo pode fazer uma licitação para que um parceiro privado cuide sozinho
do negócio, sendo remunerado mediante tarifas pagas pelo usuário.

Quando um projeto tem viabilidade econômica, mas não financeira,


temos uma situação em que vale a pena para a sociedade implementar o
projeto, mas não haverá nenhum parceiro privado disposto a se responsabilizar
sozinho por ele, pois se trata de um negócio que não dá lucro. Nesses casos, o
governo pode fazer uma PPP na qual se comprometa a pagar um subsídio ao
parceiro privado, elevando a sua rentabilidade até um ponto em que valha a
pena investir no negócio.

Por exemplo, pode ser importante para o desenvolvimento econômico de


uma região do país a construção de uma nova estrada. Porém, o fluxo previsto de
veículos nos primeiros anos pode ser baixo, e há um risco considerável de esse
fluxo não aumentar nos anos seguintes em decorrência de eventual insucesso
do plano de desenvolvimento. Eventuais tarifas cobradas, portanto, seriam
insuficientes para remunerar o setor privado, tanto pelo capital investido como
pelo risco incorrido. Nesse caso, o governo pode arcar com parte dos custos do
negócio. Seriam várias as opções: pagar parte do custo de construção, pagar
um valor mensal ao parceiro privado durante a operação da estrada, conceder
ao parceiro privado um financiamento subsidiado para custear a construção
etc. Com esse subsídio, a construção de uma infraestrutura que gere mais
benefícios que custos para a sociedade passa a ser viável.

A legislação brasileira considera como sendo PPP apenas os casos em


que os projetos têm viabilidade econômica, mas não têm viabilidade financeira.
Ou seja, os projetos que, como no exemplo acima, requerem algum tipo de
subsídio governamental. Os projetos financeiramente viáveis são conceituados
como “concessões comuns”, enquanto os projetos que requerem algum tipo
de complementação financeira estatal são conceituados como PPP e divididos
em dois grupos distintos: as PPP patrocinadas (em que o parceiro privado
obtém sua remuneração mediante cobrança de tarifas e subsídios estatais) e
63
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

as PPP administrativas (nas quais a remuneração do parceiro privado é paga


integralmente pelo governo). As concessões comuns estão reguladas pelas Leis
nº 8.987 e nº 9.074, ambas de 1995, enquanto às PPP se aplicam os dispositivos
daquelas leis e, adicionalmente, a Lei nº 11.079, de 2004.

Note-se que esta é uma distinção apenas no campo legal e semântico.


Do ponto de vista da análise econômica, as considerações feitas acima valem
tanto para as concessões comuns quanto para as PPP no conceito brasileiro.
Ambas requerem agências reguladoras e instituições judiciais capazes de impor
o cumprimento do contrato, geram potenciais benefícios quanto à eficiência
dos projetos desenvolvidos, atraem capital privado para o investimento em
infraestrutura, requerem contratos que dividam claramente os riscos entre as
partes etc.

Uma constatação que se faz ao observar o caso brasileiro é que as PPP


no conceito local (concessões patrocinadas e administrativas) têm enfrentado
grandes dificuldades para serem postas em prática, ao passo que as concessões
comuns têm sido feitas com mais frequência.

Até hoje o governo federal não concretizou uma única PPP. A que está
mais avançada refere-se à construção de um datacenter pelo Banco do Brasil e
Caixa Econômica, no qual um parceiro privado irá construir, equipar e gerir o
banco de dados. Há, ainda, um projeto de irrigação e Petrolina-PE, a instalação
de um sistema nacional de TV digital pública e a construção, lançamento e
operação de um satélite geoestacionário. Todas as iniciativas, com exceção do
datacenter, ainda estão nos passos iniciais.

Os governos estaduais andaram um pouco mais rápido e já colocaram


em prática alguns projetos, tais como: construção e gestão de estádio de
futebol, conjuntos habitacionais de baixa renda, centros de atendimento ao
cidadão, emissão submarina de esgotos, hospitais. O estado de São Paulo é
o que tem mais se destacado na implantação das concessões patrocinadas e
administrativas, com projetos de maior vulto nas áreas de transportes (linhas
de metrô, trem e sistema metropolitano de ônibus), esgotamento sanitário e
abastecimento de água.

São vários os fatores que têm emperrado as “PPP brasileiras” (concessões


patrocinadas e administrativas). Em primeiro lugar, elas necessitam de contratos
mais complexos que os das concessões comuns; pois além de toda a partilha
de risco entre as partes, é preciso que se estime qual será o subsídio público
pago ao parceiro privado. Isso implica não só dificuldade no desenho dessa
relação financeira de longo prazo, como também embute risco de corrupção, de
acusações políticas de beneficiamento de empresas etc.

Em segundo lugar, o Tesouro Nacional e os tesouros estaduais têm sido


bastante cautelosos em relação ao risco fiscal que existem no fato de o governo
assumir o compromisso de fazer pagamentos ao longo de muitos anos a uma
empresa privada. Existe a possibilidade de que agentes governamentais passem
64
TÓPICO 5 | PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS

a usar esse mecanismo para driblar as regras da Lei de Responsabilidade Fiscal


relativas a limite máximo de endividamento dos entes públicos, e a fazer
gastos públicos sem registrá-los no orçamento. O resultado é o estabelecimento
de inúmeras instâncias burocráticas para autorização das concessões
administrativas ou patrocinadas, que emperram o processo.

As concessões comuns, por sua vez, em vez de criar obrigações


financeiras para o governo, muitas vezes geram receitas imediatas, nos casos em
que os seus editais preveem o pagamento de um valor de outorga pela empresa
vencedora. No leilão de concessão de três aeroportos federais (Guarulhos,
Brasília e Campinas), realizado em fevereiro de 2012, por exemplo, as empresas
vencedoras comprometeram-se a pagar outorgas que somaram R$ 24,5 bilhões.
Politicamente, é mais interessante mostrar ao eleitorado que se está fazendo
grandes obras e, ao mesmo tempo, obtendo receita para o governo.

Surge, com isso, o incentivo ao governo de modelar as parcerias com


o setor privado sob a forma de concessão simples, com vistas a obter ganhos
fiscais. Isso é um problema, pois projetos com benefício social positivo, que
poderiam ser objeto de concessão patrocinada ou administrativa, são colocados
em segundo plano.

O terceiro problema está na baixa capacidade do setor público brasileiro


para prospectar e formular projetos de infraestrutura. Ao lidar com esses
projetos, as agências públicas acabam, muitas vezes, não sendo capazes
de avaliar e distinguir corretamente a viabilidade financeira e a viabilidade
econômica. Em consequência, acaba-se dando preferência para os projetos mais
rentáveis, que são implementados por meio de concessões comuns.

O quarto problema está no fato de que a Lei nº 11.079, de 2004, em seu


art. 7º, ao contrário do que ocorre em outros países, não admite que sejam
pagos subsídios aos parceiros privados durante a fase de construção (reforma/
ampliação) da infraestrutura. Tal pagamento só pode ser feito quando tiver sido
iniciada a operação dos serviços. Isso inviabiliza as concessões patrocinadas
e administrativas que requerem um grande investimento inicial e um longo
tempo de atividades pré-operacionais.

O quinto problema é o baixo grau de autonomia política e financeira das


nossas agências reguladoras, que reduzem o grau de segurança do investidor
privado (que teme ser pressionado por questões políticas) e da população
(que vê a possibilidade de corrupção nas relações com os parceiros privados).
Igualmente problemática é a dificuldade do sistema judiciário brasileiro para
impor o cumprimento de contratos com rapidez e com procedimentos claros e
previsíveis.

65
UNIDADE 1 | LICITAÇÕES PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

Tendo em vista a baixa disponibilidade orçamentária do setor público


brasileiro e a grande carência de infraestrutura que vivemos, parece ser
prioritário o aperfeiçoamento da legislação e das instituições (em especial
das agências reguladoras) que viabilizem a expansão das PPP em sentido
amplo, sejam elas concessões simples, sejam concessões administrativas ou
patrocinadas.

FONTE: MENDES, Marcos. O que são Parcerias Público-Privadas (PPP). Disponível em:
<http://www.brasil-economia-governo.org.br/2012/04/09/o-que-sao-parcerias-
publico-privadas-ppp/> Acesso em: 26 jan. 2015.

66
RESUMO DO TÓPICO 5
Acadêmico(a), você acabou de estudar os seguintes conteúdos:

• A Parceria Público-Privada é uma concessão especial regida pela Lei nº 11.079/2004.

• A Administração Pública e a iniciativa privada se associam em benefício da


sociedade.

• Na PPP o valor deve ser superior a R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais) e


prazo de vigência da concessão não inferior a 5 (cinco), nem superior a 35 (trinta
e cinco) anos, incluindo eventual prorrogação.

• Algumas vantagens desta parceria são:


o Inovação;
o Otimização do custo e da vida útil;
o Compartilhamento de infraestruturas;
o Divisão ótima de responsabilidades.

• As exigências para a formalização desta parceria, estão no artigo 4º da Lei das


PPPs:
o Eficiência no cumprimento das missões de Estado e no emprego dos recursos
da sociedade;
o Respeito aos interesses e direitos dos destinatários dos serviços e dos entes
privados incumbidos da sua execução;
o Indelegabilidade das funções de regulação, jurisdicional, do exercício do
poder de polícia e de outras atividades exclusivas do Estado;
o Responsabilidade fiscal na celebração e execução das parcerias;
o Transparência dos procedimentos e das decisões;
o Repartição objetiva de riscos entre as partes;
o Sustentabilidade financeira e vantagens socioeconômicas dos projetos de
parceria.

• As PPPs podem ser contratadas conforme as modalidades de concessão


participativa e ou concessão administrativa, segundo a natureza de sua
contratação.

67
AUTOATIVIDADE

Acadêmico(a), vamos avaliar seus conhecimentos, responda aos


questionamentos dispostos a seguir:

1 A Parceria Público-Privada tem características especiais para que os órgãos


públicos possam realizar determinados contratos. Quanto ao valor que o
projeto ou o objeto deve apresentar, assinale a alternativa CORRETA:

( ) Valor superior a R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais).


( ) Valor inferior a R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais).
( ) Valor superior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais).
( ) Valor inferior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais).

2 A Lei nº 11.079/2004, que instituiu a contratação de concessão especial para


PPPs, estabelece regras, no artigo 4º, que devem ser respeitadas nestas
contratações. Com referência às diretrizes que os gestores devem observar
nestes contratos, assinale as alternativas CORRETAS:

( ) Respeito aos interesses e direitos dos destinatários dos serviços e dos entes
privados incumbidos da sua execução.
( ) Responsabilidade fiscal na celebração e execução das parcerias.
( ) Transparência dos procedimentos e das decisões.
( ) Repartição objetiva de riscos entre as partes.

3 A Parceira Público-Privada pode ser realizada sob duas modalidades,


há necessidade de elaboração de estudo de viabilidade, antes de decidir
realizar esta concessão especial. Com referência ao nome das modalidades
de PPPs, assinale as alternativas CORRETAS:

( ) Concessões simples.
( ) Concessões especiais.
( ) Concessões patrocinadas.
( ) Concessões administrativas.

68
UNIDADE 2

NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO


COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Esta unidade tem por objetivos apresentar ao(à) acadêmico(a):

• as modalidades licitatórias dispostas para que o Poder Público possa con-


tratar ou comprar bens ou serviços, estes necessários para o atendimento
dos interesses públicos, com fundamento na Lei nº 8.666/93;

• as descrições dos tipos de licitação contidos na Lei das Licitações (Lei nº


8.666/93), além das considerações acerca da importância e composição da
Comissão de Licitações;

• os recursos administrativos e judiciais que podem ser interpostos nos pro-


cessos licitatórios que integram o rol da Lei nº 8.666/93.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles, você
encontrará atividades que o(a) auxiliarão a fixar os conhecimentos desenvol-
vidos.

TÓPICO 1 – MODALIDADES DE LICITAÇÃO

TÓPICO 2 – TIPOS DE LICITAÇÃO E COMISSÃO DE LICITAÇÃO

TÓPICO 3 – RECURSOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS APLICÁVEIS


AOS PROCESSOS LICITATÓRIOS – LEI Nº 8.666/93

69
70
UNIDADE 2
TÓPICO 1

MODALIDADES DE LICITAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
O Estado, para consecução de suas atividades, necessita contratar obras e
serviços, assim como necessita adquirir materiais e/ou equipamentos. A base desta
regulamentação está descrita na Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), na qual a
licitação pública está descrita em linhas gerais.

Em razão deste contexto, as licitações públicas foram regulamentadas


por lei infraconstitucional, que entrou em vigor em 21 de junho de 1993, com a
promulgação da Lei nº 8.666/93 (BRASIL, 1993), usualmente conhecida como Lei
das Licitações, sendo posteriormente editada a Lei nº 10.520, de 10 de maio de
2002, que regulamentou a modalidade licitatória do pregão.

A Lei das Licitações é norma geral, utilizada em todo território nacional,


e tem por objetivo regulamentar as licitações públicas em todas as esferas de
governo: União, estados, Distrito Federal e municípios.

A Unidade 2 tratará do tema licitações públicas em três tópicos, sendo


que no Tópico 1 fará referência às modalidades de licitação encontradas na Lei
nº 8.666/93; no Tópico 2, tratará dos tipos de licitação e da comissão de licitação;
e ao final, no Tópico 3, trará considerações acerca da possibilidade de anulação
e revogação da licitação, além das possibilidades de recursos administrativos e
judiciais aplicáveis aos processos licitatórios.

Vamos aos estudos!

Relembramos, acadêmico(a), que toda vez que a Administração Pública


tiver a necessidade de contratar serviços, ou ainda adquirir produtos, deverá antes
fazer uma licitação pública.

Essa obrigatoriedade atinge tanto a Administração Pública Direta quanto


a Indireta, dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário dos três níveis da
Federação (União, estados, Distrito Federal e municípios).

71
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

FIGURA 1 - LICITAÇÃO: CONTEXTO GERAL

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=imagens+de+licita%C3%A


7%C3%A3o&biw=1440&bih=799&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=ueK-
mapeandodireito.com.br%252F2013%252F07%252Flicitacao.html%3B1039%3B851>
Acesso em: 20 jan. 2015.

A figura acima nos permite uma visão dos principais elementos,


características, tipos, modalidades e outras situações que circundam as tratativas
do processo licitatório, algumas já estudadas por você, acadêmico(a), outras ainda
a serem desvendadas.

Importante reafirmar que a licitação pública é um procedimento


administrativo, constituído de uma série de atos administrativos, com o objetivo
de buscar sempre o melhor negócio para a Administração Pública.

Segundo Medauar (2005), a licitação é o gênero que se subdivide em


modalidades. Estas modalidades se diferem de acordo com as peculiaridades do
procedimento, ou do objeto do futuro contrato administrativo a ser celebrado.
Cada uma das modalidades tem aplicação específica.

O estudo das modalidades de licitação previstas na Lei nº 8.666/93 é tema


deste tópico, vamos a elas!

72
TÓPICO 1 | MODALIDADES DE LICITAÇÃO

2 CONCEITOS QUE INTEGRAM AS MODALIDADES


LICITATÓRIAS
A Lei nº 8.666/93 (BRASIL, 1993), em seu artigo 22, prevê cinco modalidades
de licitação, sendo elas: concorrência, tomada de preços, convite, concurso e leilão.

Para permitir a escolha da modalidade aplicável a determinado caso


concreto, é possível a utilização de dois critérios: o que leva em consideração o
valor do contrato e o que considera as especificações de seu objeto, não importando
o seu valor.

Marinela (2010) afirma que, se tratando da análise quanto ao valor, as


modalidades cabíveis são: concorrência, tomada de preços e convite, sendo que,
nessas hipóteses, a escolha não ocorre em razão da qualidade do objeto, exceto no
caso da concorrência, que, além da utilização para os contratos de valores altos, é
também obrigatória, em algumas hipóteses, em razão do objeto.

Ensina Justen Filho (2009, p. 262) que as modalidades de licitação


diferenciam-se entre si por variações de complexidade nas três primeiras fases
(divulgação, proposição e habilitação), mas também pode haver diferenças
na fase de julgamento. Tais variações decorrem de peculiaridades relativas à
complexidade do objeto da contratação. Como regra, o critério de seleção das
diversas modalidades de licitação é econômico.

A Lei nº 8.666/93 condicionou a adoção de determinada modalidade ao


valor da contratação, mas ressalvou a possibilidade de adotar modalidades diversas
independentemente do critério econômico. Ou seja, é possível que contratação de
valor relativamente diminuto seja antecedida de licitação em modalidade superior
ao valor econômico cabível – em virtude da maior adequação dessa modalidade
licitatória em face da complexidade do objeto.

NOTA

A Lei nº 8.666/93 proíbe expressamente a criação de outras modalidades de


licitação, ou a combinação das modalidades nela referidas (art. 22, § 8º). Entretanto, a criação
de uma nova modalidade é possível desde que ocorra por meio de lei da União.

A concorrência é considerada a mais complexa modalidade de licitação,


sendo sua utilização possível para a celebração de contratos de qualquer valor. É
também a modalidade em que se verificam a maior competitividade e publicidade
possíveis.

73
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

A menos complexa e utilizada para celebração de contratos de valor


intermediário é a tomada de preços.

O convite é a mais simples modalidade de licitação, utilizada em contratos


de menor valor.

A) CONCORRÊNCIA:

A Lei nº 8.666/93 traz em seu artigo 22, § 1º, que: “concorrência é a


modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na fase inicial de
habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação
exigidos no edital para execução de seu objeto” (BRASIL, 1993).

Reafirma Marinela (2010) que esta modalidade licitatória pode ser exigida
em razão de dois critérios: valor e natureza do objeto. Vejamos:

1) Quando falamos do valor, a concorrência serve para contratos com valores altos,
previstos no art. 23, da Lei nº 8.666/93 (BRASIL, 1993), que prevê a concorrência
para contratos de obras e serviços de engenharia com valores superiores a R$
1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais); para outros bens e serviços que
não os de engenharia, a concorrência deve ser utilizada nos valores superiores a
R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil reais).

2) Quando falamos em natureza do objeto, a concorrência é obrigatória,


independentemente do valor do negócio, nos seguintes casos:

a) Nas compras e alienações de bens imóveis;


b) Nas concessões de uso real;
c) Nas licitações internacionais;
d) Nos contratos de empreitada integral;
e) Nas concessões de serviços públicos;
f) Para os contratos de parcerias público-privadas (que são espécie do gênero
concessões).

NOTA

A concorrência é a mais complexa das modalidades de licitação. Seja qual for


o valor do contrato que a administração pretenda firmar, a concorrência, em tese, pode ser
utilizada, relembrando que uma das características da concorrência é possuir uma fase de
habilitação preliminar após a publicação do edital.

74
TÓPICO 1 | MODALIDADES DE LICITAÇÃO

Há dois tipos básicos: a concorrência nacional e a concorrência internacional.

A primeira envolve somente empresas nacionais, enquanto que, na


segunda, pode haver a participação de empresas estrangeiras.

Esse último tipo é muito usado quando os produtos a serem adquiridos


não têm fabricantes internos em número suficiente, ou ainda em compras que
envolvam valores mais elevados, como a aquisição de aviões e de plataformas
marítimas para a exploração de petróleo.

Carvalho Filho (2010, p. 297) leciona que duas são as características mais
marcantes da concorrência. A primeira delas é o formalismo mais acentuado,
razão pela qual é sempre exigível uma fase inicial de habilitação preliminar, na
qual são aferidas as condições de cada participante.

A segunda é a publicidade mais ampla, o que se traduz na necessidade


de participação de todos que estiverem interessados na contratação. Tanto é
verdadeiro o fato que os avisos resumidos dos editais de concorrência têm prazos
mais longos que os das demais espécies.

Segundo Alexandrino e Paulo (2011), estão identificados como princípios


da concorrência a universalidade, a ampla divulgação, os prazos para apresentação
das propostas, a habilitação preliminar e o julgamento por comissão.

Acadêmico(a), vamos conhecer estes princípios sob a concepção de


Meirelles (2013, p. 354), que os identifica como requisitos da concorrência:

Universalidade: é a possibilidade que se oferece à participação de


quaisquer interessados na concorrência, independentemente de registro
cadastral na Administração ou em qualquer órgão público.

Ampla publicidade: a ampla publicidade da convocação para a


concorrência é requisito essencial, por relacionar-se com o princípio
da universalidade. O que a lei exige é a divulgação da abertura da
concorrência com a maior amplitude possível e desejável, tendo em vista
o vulto e a complexidade do seu objeto. Para tanto, a Administração
Pública poderá usar de todos os meios de informação ao seu alcance
para essa divulgação, por tantas vezes quantas julgar necessárias.

Prazos para apresentação das propostas: Tratando-se de licitação do


tipo melhor técnica ou de técnica e preço, e do contrato a ser firmado
sob o regime de empreitada integral o prazo mínimo entre a publicação
do edital e a entrega dos envelopes será de 45 dias; nos demais casos o
prazo é de 30 dias, lembrando que estes prazos são mínimos cabendo ao
poder público por conveniência estabelecer prazos maiores.

Habilitação preliminar: a habilitação preliminar na concorrência


constitui fase inicial do procedimento licitatório, realizada após sua
abertura, enquanto na tomada de preços e no convite é anterior.

Julgamento por Comissão: o julgamento dos requisitos pessoais dos


interessados, sob o aspecto da capacidade jurídica, da regularidade

75
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

fiscal, da qualificação técnica e da idoneidade econômico-financeira,


compete sempre a uma comissão de pelo menos três membros, que pode
ser a mesma que irá julgar as propostas, como ocorre normalmente.

B) TOMADA DE PREÇOS:

O artigo 22, § 2º, da Lei nº 8.666/93, define a tomada de preços como a


“modalidade de licitação entre interessados devidamente cadastrados ou que
atenderem a todas as condições exigidas para o cadastramento até o terceiro dia
anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária qualificação”
(BRASIL, 1993).

NOTA

A modalidade licitatória tomada de preços é exigida para os contratos de


valores médios, que são aqueles que ficam acima do limite do convite e abaixo do limite de
concorrência. Portanto, para obras e serviços de engenharia, os valores devem ser superiores
a R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), chegando até R4 1.500.000,00 (um milhão e
quinhentos mil reais) e, para os bens e serviços que não os de engenharia, valores superiores a
R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) até R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil reais).

A participação nesta modalidade licitatória se restringe a alguns aspectos,


podendo participar, nas palavras de Marinela (2010):

a) as pessoas previamente cadastradas, organizadas em função dos ramos de


atividade e potencialidade dos eventuais proponentes;

b) os que atenderem a todas as condições exigidas para o cadastramento até o


terceiro dia anterior à data fixada para a abertura das propostas.

A possibilidade da inscrição dos não cadastrados até o terceiro dia anterior


à data do recebimento das propostas, contanto que satisfaçam as condições de
qualificação exigidas, atende ao princípio da competitividade.

O julgamento da licitação na modalidade de tomada de preços acontece


como na concorrência, com a atuação de uma comissão integrada por três membros.
Acadêmico(a), falaremos sobre a comissão de licitação em outro tópico desta
unidade, aguarde um pouco mais para esclarecermos suas dúvidas.

O prazo de intervalo mínimo que o Administrador Público deverá respeitar,


entre a última publicação e a entrega dos envelopes, é de 30 dias corridos, quando
o critério de seleção adotado for o de “melhor técnica” ou de “melhor técnica e
preço”, e de 15 dias corridos para o critério “menor preço” (Lei nº 8.666/93, art. 21,
§ 2º, inciso II, alínea “b” e inciso III) (BRASIL, 1993).

76
TÓPICO 1 | MODALIDADES DE LICITAÇÃO

O que distingue a tomada de preços da concorrência é a existência de


habilitação prévia dos licitantes através dos registros cadastrais, de modo que
a habilitação preliminar se resume na verificação dos dados constantes dos
certificados de registro dos interessados e, se for o caso, se estes possuem a real
capacidade operativa e financeira exigida no edital.

A tomada de preço é admitida nas licitações internacionais, desde que:

• O órgão ou entidade disponha de cadastro internacional de fornecedores;


• O contrato a ser celebrado esteja dentro dos limites de valor para a tomada de
preços (ALEXANDRINO; PAULO, 2007, p. 473).

NOTA

Registros cadastrais são assentamentos que se fazem nas repartições


administrativas, que realizam licitações para fins de qualificação dos interessados em contratar
com a Administração Pública, no ramo de suas atividades (arts. 34 a 37 e 41 da Lei nº 8.666/93).

C) CONVITE:

O artigo 22, § 3º, da Lei nº 8.666/93 (BRASIL, 1993), define convite como
a modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu objeto,
cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de 3 (três) pela
unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia do instrumento
convocatório e o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade
que manifestarem seu interesse com antecedência de 24 horas da apresentação das
propostas.

A modalidade convite é adequada para contratos de valores pequenos, que


correspondem às obras e aos serviços de engenharia com valores de zero até R$
150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) e, para outros bens e serviços, de zero até
R$ 80.000,00 (oitenta mil reais).

Marinela (2010) esclarece que, na modalidade convite, a Administração


convoca para disputa pelo menos três pessoas que operem o ramo pertinente ao
objeto, cadastradas ou não, estendendo o mesmo convite aos demais cadastrados
no ramo ao objeto, desde que manifestem interesse em até 24 horas de antecedência
à data designada para a entrega dos envelopes.

O instrumento de convocação utilizado na modalidade convite é a


carta-convite, enviada diretamente aos interessados. No caso do convite não há
publicação em diário oficial, mas é necessário, além do envio da carta-convite aos
interessados, afixação de cópia do instrumento em local apropriado para que os
demais cadastrados não originalmente convidados possam participar.

77
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

NOTA

No caso de convite, a comissão de licitação, excepcionalmente nas pequenas


unidades administrativas e em face da exiguidade de pessoal disponível, poderá ser substituída
por servidor formalmente designado pela autoridade competente.

Na interpretação do artigo 22, § 7º, da Lei nº 8.666/93, podemos nos atentar


que, excepcionalmente, é possível que a carta-convite seja enviada a menos de três
interessados, desde que por limitações do mercado ou manifesto desinteresse dos
convidados, sendo impossível a obtenção do número mínimo de licitantes. Estas
circunstâncias deverão ser devidamente justificadas no processo, sob pena de
repetição do convite (BRASIL, 1993).

De forma contrária, se existirem mais de três possíveis interessados


numa praça, a cada novo convite realizado para objeto idêntico ou assemelhado,
é obrigatório o convite a, no mínimo, mais um interessado, enquanto existirem
cadastrados não convidados nas últimas licitações (Lei nº 8.666/93, art. 22, § 6º). A
ideia é de rodízio na lista de cadastrados.

Não havendo fornecedor do bem ou serviço no Brasil, é possível a modalidade


convite em licitações internacionais, respeitados os limites estabelecidos na lei (art.
23, § 3º) (BRASIL, 1993).

O prazo para a apresentação das propostas na modalidade convite, contado


a partir da data de recebimento da carta-convite, é de cinco dias úteis.

E
IMPORTANT

Considera-se dia útil o dia em que a Administração Pública está em funcionamento


normal.
Na contagem de prazos, assim como qualquer prazo processual, exclui-se o dia da entrega do
convite e inclui-se o dia de vencimento para recebimento das propostas (art. 21, § 2º, IV, Lei nº
8.666/93).

78
TÓPICO 1 | MODALIDADES DE LICITAÇÃO

Resumindo, temos como principais diferenças a serem observadas entre as


modalidades concorrência, tomada de preços e convite:

a) valor;
b) quem pode participar;
c) prazo de publicação do instrumento convocatório;
d) forma de publicar.

QUADRO 4 – MODALIDADES DE LICITAÇÃO E ESPECIFICIDADES


OBRAS COMPRAS
MODALIDADES SERVIÇOS E E OUTROS QUEM PARTICIPA
ENGENHARIA SERVIÇOS

Acima de Acima de
CONCORRÊNCIA Quaisquer interessados
R$ 1.500.000,00 R$ 650.000,00

• Cadastrados
TOMADA DE Até Até • Interessados (cadastro 3
PREÇOS R$ 1.500.000,00 R$ 650.000,00 dias antes da abertura das
propostas)

• Convidados (cadastrados ou
não - mínimo de três)
Até Até • Interessados cadastrados (24
CONVITE
R$ 150.000,00 R$ 80.000,00 horas antes da abertura das
propostas devem manifestar
interesse).
FONTE: O autor (2014)

D) CONCURSO:

A Lei nº 8.666/93, em seu artigo 22, § 3º, define o concurso como a


modalidade de licitação entre quaisquer interessados para a escolha de trabalho
técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração
aos vencedores, conforme critérios constantes de edital publicado na imprensa
oficial com antecedência mínima de 45 dias (BRASIL, 1993).

Portanto, o que determina a necessidade de realizar a licitação na


modalidade concurso é a natureza do seu objeto e não o valor do contrato.

O julgamento da modalidade concurso será feito por uma comissão


especial integrada por pessoas de reputação ilibada e reconhecido conhecimento
da matéria em exame, sejam elas servidoras públicas ou não (art. 51, § 5º).
79
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

Não se aplicam aos concursos os tipos de licitação, menor preço, melhor


técnica etc., pois os vencedores recebem um prêmio ou remuneração.

De acordo com o artigo 52, da Lei nº 8.666/93, o concurso deve ter


regulamento próprio:

Art. 52 O concurso a que se refere o § 4o do art. 22 desta Lei deve ser


precedido de regulamento próprio, a ser obtido pelos interessados no
local indicado no edital.

§ 1o O regulamento deverá indicar:

I - a qualificação exigida dos participantes;


II - as diretrizes e a forma de apresentação do trabalho;
III - as condições de realização do concurso e os prêmios a serem
concedidos.

§ 2o Em se tratando de projeto, o vencedor deverá autorizar a


Administração a executá-lo quando julgar conveniente (BRASIL, 1993).

Importante ressaltar que, segundo prevê o § 1º, do artigo 13, da Lei nº


8.666/93, deve ser utilizado o concurso sempre que possível, ressalvados os casos
de inexigibilidade para a contratação de serviços técnicos especializados:

Art. 13 Para os fins desta Lei, consideram-se serviços técnicos


profissionais especializados os trabalhos relativos a:

[...]

§ 1º Ressalvados os casos de inexigibilidade de licitação, os contratos


para a prestação de serviços técnicos profissionais especializados
deverão, preferencialmente, ser celebrados mediante a realização de
concurso, com estipulação prévia de prêmio ou remuneração (BRASIL,
1993).

Conforme previsto no art. 45, § 1º, da Lei nº 8.666/93, não há aplicação dos
tipos de licitação, pois os vencedores recebem um prêmio (BRASIL, 1993).

NOTA

O concurso da lei de licitações não pode ser confundido com o concurso público.
No concurso público, o objetivo do administrador é a seleção de profissionais capacitados,
tendo como contrapartida o provimento de cargos públicos.

O concurso, enquanto modalidade licitatória, objetiva a escolha de trabalho técnico, a


contrapartida é somente um prêmio ou remuneração, não levando ao preenchimento de
cargo público.

São institutos distintos que recebem tratamentos diferentes.

80
TÓPICO 1 | MODALIDADES DE LICITAÇÃO

O regulamento dessa modalidade, o qual já mencionamos, deverá indicar:


a qualificação exigida dos participantes, as diretrizes e a forma de apresentação do
trabalho, as condições de realização do concurso e os prêmios concedidos.

E) LEILÃO:

O leilão é modalidade licitatória, em regra, utilizada com o objetivo de


atingir-se o melhor preço para alienação de bens, instituída nos parâmetros da Lei
nº 8.666/93:

a) móveis inservíveis para a administração, apreendidos ou penhorados


(art.22, parágrafo 5º);

b) bens móveis de valor módico, isto é, bens móveis avaliados, isolada


ou globalmente, em quantia não superior a R$ 650.000,00 (seiscentos e
cinquenta mil reais), arts. 23, II, “b” e art.17, parágrafo 6º;

c) imóveis oriundos de procedimentos judiciais ou dação em pagamento.


Nessa hipótese o administrador poderá optar por concorrência ou leilão
(art.19, III) (BRASIL, 1993).

Em observância ao art. 53, da Lei nº 8.666/93, que trata do leilão, temos,


além de outras características:

a) o leilão pode ser conduzido por leiloeiro oficial ou servidor designado


pela administração, em obediência à legislação vigente;

b) todo bem leiloado deve ser previamente avaliado pela administração


para a fixação do preço mínimo de arrematação;

c) o edital de leilão deve ser amplamente divulgado principalmente no


município em que se realizará (BRASIL, 1993).

O único critério de seleção desta modalidade é o melhor lance, sendo que


o prazo mínimo entre a divulgação do edital e a realização do evento é de 15 dias
corridos.

Sobre esta modalidade de licitação, também são previstas as seguintes


regras: nos casos de privatizações de pessoas jurídicas prestadoras de serviços
públicos sob o controle direto ou indireto da União, simultâneas com a outorga
de novas concessões de serviços públicos ou com a prorrogação de concessões
existentes, a União, regra geral, pode utilizar, no procedimento licitatório, a
modalidade de leilão, observada a necessidade da venda de quantidades mínimas
de quotas ou ações que garantam a transferência do controle societário (art. 27, I,
da Lei nº 9.074/95) (PAULO; ALEXANDRINO, 2007, p. 475).

81
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

QUADRO 5 – MODALIDADES DE LICITAÇÃO PRAZOS ENTRE A DIVULGAÇÃO DO EDITAL E


ENTREGA DE PROPOSTAS
MODALIDADES PRAZOS

45 dias corridos (critérios “técnica” e “técnica e preço”)


Concorrência
30 dias corridos (critério “menor preço”)
30 dias corridos (critérios “técnica” e “técnica e preço”)
Tomada de Preços
15 dias corridos (critério “menor preço”)
Convite 5 dias úteis
Concurso 45 dias corridos
Leilão 15 dias corridos
FONTE: Marinela (2010, p. 344)

E
IMPORTANT

VOCÊ JÁ TEVE ACESSO, EM SEU MUNICÍPIO, À PUBLICIDADE DOS PROCESSOS


LICITATÓRIOS? A DIVULGAÇÃO DOS EDITAIS REALMENTE ACONTECE?

Na figura abaixo de forma resumida temos as modalidades de licitação,


lembrando que o pregão foi objeto de estudo na Unidade 1.

FIGURA 2 – MODALIDADES DE LICITAÇÃO

FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/Xnu1iZ>. Acesso em: 20 jan. 2015.

82
TÓPICO 1 | MODALIDADES DE LICITAÇÃO

3 CONSULTA PÚBLICA – DISPOSIÇÃO ESPECIAL


Esta modalidade licitatória não se encontra descrita na Lei de Licitações nº
8.666/93, entretanto, diante de sua relevância, é importante que façamos menção
a ela.

A menção genérica desta modalidade de licitação, denominada de


“consulta”, surgiu em nossa legislação disposta na Lei Geral de Telecomunicações
– Lei nº 9.472/1997 –, sendo prevista apenas para as agências reguladoras.

Tais conceitos são encontrados na referida lei nos artigos 54, 55, 56, 57 e 58,
que seguem abaixo dispostos:

Art. 54. A contratação de obras e serviços de engenharia civil está


sujeita ao procedimento das licitações previsto em lei geral para a
Administração Pública.
Parágrafo único. Para os casos não previstos no caput, a Agência poderá
utilizar procedimentos próprios de contratação, nas modalidades de
consulta e pregão.

Art. 55. A consulta e o pregão serão disciplinados pela Agência,


observadas as disposições desta Lei e, especialmente:
I - a finalidade do procedimento licitatório é, por meio de disputa justa
entre interessados, obter um contrato econômico, satisfatório e seguro
para a Agência;
II - o instrumento convocatório identificará o objeto do certame,
circunscreverá o universo de proponentes, estabelecerá critérios para
aceitação e julgamento de propostas, regulará o procedimento, indicará
as sanções aplicáveis e fixará as cláusulas do contrato;
III - o objeto será determinado de forma precisa, suficiente e clara,
sem especificações que, por excessivas, irrelevantes ou desnecessárias,
limitem a competição;
IV - a qualificação, exigida indistintamente dos proponentes, deverá ser
compatível e proporcional ao objeto, visando à garantia do cumprimento
das futuras obrigações;
V - como condição de aceitação da proposta, o interessado declarará
estar em situação regular perante as Fazendas Públicas e a Seguridade
Social, fornecendo seus códigos de inscrição, exigida a comprovação
como condição indispensável à assinatura do contrato;
VI - o julgamento observará os princípios de vinculação ao instrumento
convocatório, comparação objetiva e justo preço, sendo o empate
resolvido por sorteio;
VII - as regras procedimentais assegurarão adequada divulgação
do instrumento convocatório, prazos razoáveis para o preparo de
propostas, os direitos ao contraditório e ao recurso, bem como a
transparência e fiscalização;
VIII - a habilitação e o julgamento das propostas poderão ser decididos
em uma única fase, podendo a habilitação, no caso de pregão, ser
verificada apenas em relação ao licitante vencedor;
IX - quando o vencedor não celebrar o contrato, serão chamados os
demais participantes na ordem de classificação;
X - somente serão aceitos certificados de registro cadastral expedidos

83
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

pela Agência, que terão validade por dois anos, devendo o cadastro
estar sempre aberto à inscrição dos interessados.

Art. 56. A disputa pelo fornecimento de bens e serviços comuns poderá


ser feita em licitação na modalidade de pregão, restrita aos previamente
cadastrados, que serão chamados a formular lances em sessão pública
Parágrafo único. Encerrada a etapa competitiva, a Comissão examinará
a melhor oferta quanto ao objeto, forma e valor.
Art. 57. Nas seguintes hipóteses, o pregão será aberto a quaisquer
interessados, independentemente de cadastramento, verificando-se
a um só tempo, após a etapa competitiva, a qualificação subjetiva e a
aceitabilidade da proposta
I - para a contratação de bens e serviços comuns de alto valor, na forma
do regulamento;
II - quando o número de cadastrados na classe for inferior a cinco;
III - para o registro de preços, que terá validade por até dois anos;
IV - quando o Conselho Diretor assim o decidir.

Art. 58. A licitação na modalidade de consulta tem por objeto o


fornecimento de bens e serviços não compreendidos nos arts. 56 e 57
Parágrafo único. A decisão ponderará o custo e o benefício de cada
proposta, considerando a qualificação do proponente.

Com base neste texto legal, buscando disciplinar a modalidade de licitação


de consulta, foi editada a Resolução nº 5, de 15 de janeiro de 1998. Segue descrição
de alguns artigos relevantes:

Art. 14. Para aquisição de bens ou serviços não comuns, a Agência


adotará, preferencialmente, a licitação na modalidade de consulta, que
será regida por este Regulamento e, de modo subsidiário, pelas normas
procedimentais contidas no Regimento Interno, não se lhe aplicando a
legislação geral para a Administração Pública.

Parágrafo único. Em casos especiais e a seu critério, a Agência poderá


adotar, motivadamente, para as contratações a que se refere o caput, as
modalidades da legislação geral para a Administração Pública.

Art. 15. Consulta é a modalidade de licitação em que ao menos cinco


pessoas, físicas ou jurídicas, de elevada qualificação, serão chamadas
a apresentar propostas para fornecimento de bens ou serviços não
comuns.
Parágrafo único. Consideram-se bens e serviços não comuns aqueles com
diferenças de desempenho e qualidade, insuscetíveis de comparação direta,
ou que tenham características individualizadoras relevantes ao objeto da
contratação, em casos como o dos trabalhos predominantemente intelectuais, da
elaboração de projetos, da consultoria, da auditoria e da elaboração de pareceres
técnicos, bem assim da aquisição de equipamentos sob encomenda e de acordo
com especificações particulares da Agência ou de outros bens infungíveis.

Art. 16. Aplicam-se à consulta as seguintes regras:


I - na fase preparatória a autoridade competente (art. 6º) aprovará a
lista de pessoas a serem chamadas a apresentar propostas, bem como
a composição do júri que as avaliará e os critérios de aceitação e
julgamento das propostas;
II - o júri será constituído de pelo menos três pessoas de elevado

84
TÓPICO 1 | MODALIDADES DE LICITAÇÃO

padrão profissional e moral, servidores ou não da Agência, devendo


sua indicação ser justificada nos autos, apontando-se sua qualificação;
III - os licitantes, em número mínimo de cinco, cuja escolha deverá
ser amplamente justificada nos autos, inclusive com os elementos
indicativos de sua habilitação jurídica, qualificações técnica e
econômico-financeira e regularidade fiscal, serão convocados por
qualquer meio seguro, tais como correio e telecomunicação, sempre
com comprovante de recebimento;
(...)
X - as propostas serão classificadas de acordo com os critérios fixados
na convocação, os quais devem viabilizar a ponderação entre o
custo e o benefício de cada proposta, considerando a qualificação do
proponente;
XI - a aceitabilidade das propostas, em relação ao seu conteúdo e
preço, será decidida por maioria de votos e a classificação será feita
em função das notas que lhes forem atribuídas pelos jurados;
XII - o júri decidirá com independência e imparcialidade, devendo os
jurados proferir votos individuais fundamentados, por escrito;
XIII - o empate será resolvido por sorteio;
XIV - classificadas as propostas, o júri adjudicará o objeto da consulta
ao vencedor (...) (grifo nosso).

Ratificando descrição contida no texto legal e na resolução da ANATEL,


a modalidade de licitação consulta é aplicável de forma exclusiva às agências
reguladoras para aquisição de bens e serviços que não sejam classificados
como comuns, excetuados obras e serviços de engenharia civil, nos quais as
propostas são julgadas por um júri, segundo critério que leve em consideração,
ponderadamente, custo e benefício.

4 CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE PUBLICIDADE


Ressaltamos que as contratações de serviços de publicidade passaram,
a partir do ano de 2010, a serem regidas pela Lei nº 12.232/2010, sendo que a
Lei de Licitações nº 8.666/93 passou a ser tão somente fonte subsidiária para as
contratações de serviços de publicidade pela Administração Pública.

É importante registrar que esta lei não criou nenhuma modalidade nova de
licitação, pois as formas de contratação estabelecidas respeitarão as modalidades
de licitação contidas no artigo 22, da Lei nº 8.666/93, devendo obrigatoriamente ser
adotados os tipos “melhor técnica” ou “técnica e preço”.

Portanto, a conjunção destes pressupostos de modalidades do art. 22,


da Lei nº 8.666/93 e tipos “melhor técnica” ou “técnica e preço”, só permitirá o
uso da modalidade de concorrência, tomada de preços e convite, excluindo as
possibilidades de leilão, concurso ou consulta.

85
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

5 SISTEMA DE REGISTRO DE PREÇOS


O artigo 15, inciso II, da Lei nº 8.666/93, determina que as compras efetuadas
pela Administração Pública devem, sempre que possível, “ser processadas através
de sistema de registro de preços”.

Na descrição de Alexandrino e Paulo (2011, p. 641):

O denominado sistema de registro de preços é um meio apto a viabilizar


diversas contratações de compras, concomitantes ou sucessivas, sem a
realização de um específico procedimento licitatório previamente a cada
uma, por um ou mais órgãos ou entidade da administração pública.

Em geral, é um sistema utilizado por órgãos ou entidades que realizam


compras frequentes de um determinado bem ou serviço, ou quando não é
conhecida a quantidade que será necessária comprar.

Tem-se como reconhecidas vantagens tornar ágeis as contratações e evitar a


necessidade de formação de estoques, além de proporcionar transparência quanto
aos preços pagos pela Administração Pública pelos bens e serviços que contrata
frequentemente.

Temos como visão simplificada do que é um registro de preços, respeitando


a Lei de Licitações, as situações a seguir descritas, segundo Alexandrino e Paulo
(2011):

1. O órgão ou entidade que pretende comprar determinado bem ou serviço,


realiza uma licitação que tem por objetivo elaborar um cadastro de possíveis
fornecedores, onde estará descrito o bem, o preço e as quantidades que cada
fornecedor tem a possibilidade de entregar à administração pública, quando for
executada a solicitação de acordo com as condições estabelecidas pelo edital;

2. Após a licitação com a formação do cadastro dos fornecedores em potencial, que


estarão indicados na ata de registros de preços, a administração pública, dentro
de um prazo determinado, tem a faculdade de pedir aos fornecedores registrados,
de acordo com a ordem de classificação, os bens que se comprometeram a vender
nas condições estabelecidas;

3. A lei determina que a modalidade de licitação a ser utilizada para efetuar o


registro de preços deve ser a concorrência, exceção feita à Lei do Pregão (Lei
nº 10.520/2002), que possibilita o uso desta modalidade quando o registro de
preços se destina a compras e contratações de bens e serviços comuns.

86
TÓPICO 1 | MODALIDADES DE LICITAÇÃO

DICAS

Na esfera federal, o sistema de registro de preços está regulamentado pelo Decreto


nº 7.892/2013. Acesse o link <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/
Decreto/D7892.htm#art29>. Este decreto regulamenta o sistema de registro de preços contido
na Lei nº 8.666/93.

Encerramos a descrição das disposições gerais sobre as modalidades


licitatórias da Lei nº 8.666/93. No próximo tópico, estaremos estudando os tipos de
licitação que complementam os estudos do processo licitatório.

87
RESUMO DO TÓPICO 1
Após os estudos desta unidade, você poderá:

• Diferenciar as modalidades de licitações encontradas na Lei nº 8.666/93;

• Reconhecer que a concorrência é a modalidade licitatória utilizada para obras de


grande vulto;

• Identificar que a tomada de preços é a modalidade menos formal que a


concorrência, utilizada em contratações que envolvem valores médios;

• Distinguir que a modalidade licitatória do concurso deve ser utilizada para


trabalho técnico, científico ou artístico;

• Reconhecer que o convite é a modalidade licitatória com o menor formalismo, já


que se destina às compras de menor valor;

• Conceber que o leilão é utilizado para venda de produtos legalmente apreendidos


ou penhorados ou ainda os inservíveis, recebidos em dação em pagamento,
entre outros.

88
AUTOATIVIDADE

1 O edital é o meio pelo qual a administração torna pública a realização de


uma licitação. A modalidade de licitação que não utiliza o edital é o(a):

( ) Concorrência.
( ) Leilão.
( ) Tomada de preços.
( ) Convite.
( ) Concurso.

2 São modalidades de licitação:

( ) Concorrência, tomada de preços, convite, concurso e leilão.


( ) Apenas a concorrência e a tomada de preços. Os demais métodos não se
inserem no conceito de licitação.
( ) Concorrência, nos limites em que é obrigatória.
( ) Concorrência, tomada de preços, convite, concurso, leilão e outros métodos
criados em decreto regulamentar.
( ) Concorrência, tomada de preços, convite, concurso, leilão e outras
modalidades resultantes destes métodos.

3 Considerando o descrito na Lei nº 8.666/93, a modalidade licitatória aplicável


para:

I. Venda de produtos legalmente apreendidos ou penhorados.


II. Aquisição de bens e serviços até R$ 80.000,00.
III. Obras com valor da contratação estimado em até R$ 150.000,00.

Correspondem, respectivamente, a(ao):

a) Pregão, leilão e tomada de preços.


b) Leilão, pregão e convite.
c) Leilão, convite e convite.
d) Concorrência, pregão e convite.
e) Convite, tomada de preços e concorrência.

4 O objetivo do concurso é a contratação de:

a) Obras internacionais.
b) Compras de suprimentos com o valor máximo de R$ 150.000,00 (Cento e
cinquenta mil reais).
c) Interessados em desenvolver trabalho técnico, científico ou artístico,
mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores.
d) Compras e serviços de engenharia com valor inferior a R$ 650.000,00
(Seiscentos e cinquenta mil reais).
89
90
UNIDADE 2 TÓPICO 2
TIPOS DE LICITAÇÃO E COMISSÃO DE
LICITAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico(a), estaremos estudando neste tópico os tipos de licitação
reconhecidos pela Lei nº 8.666/93, da mesma forma que traremos a concepção da
Comissão de Licitação, indicando seu objetivo, composição e responsabilidade de
seus membros.

Segundo Marinela (2010, p. 315), “a licitação é um procedimento


administrativo destinado à seleção da melhor proposta dentre as apresentadas por
aqueles que desejam contratar com a Administração Pública”. Relembramos que
a licitação tem por objetivo viabilizar a melhor contratação possível para o Poder
Público.

Este instrumento tem como base uma competição a ser travada de forma
igualitária, entre aqueles que preencham os requisitos necessários ao bom
cumprimento das obrigações a que se propõe assumir.

Nesta perspectiva, temos delimitados os tipos de licitação, que estarão


descritos no edital, que é o instrumento vinculatório das partes.

Vamos a eles!

2 TIPOS DE LICITAÇÃO
O tipo de licitação não deve ser confundido com modalidade de licitação.
Justen Filho (2009, p. 342) ensina que o “tipo de licitação se vincula ao critério de
julgamento, enquanto a modalidade se relaciona com a estrutura procedimental
da licitação”.

Os tipos de licitação estão identificados como os possíveis critérios a


serem observados pela Administração Pública no julgamento das propostas no
procedimento licitatório.

A expressa previsão no edital do tipo de licitação que será utilizado é


obrigatória. A inexistência deste item acarretará a nulidade da licitação.

91
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

Os tipos de licitação aplicáveis a todas as modalidades de licitação, com


exceção da modalidade concurso, na qual há estipulação prévia de prêmio ou
remuneração e a participação no certame implica aceitação tácita pelo concorrente,
do prêmio oferecido, estão previstos no parágrafo 1º, do art. 45, da Lei de Licitações
(Lei nº 8.666/93) (BRASIL, 1993).

De forma objetiva, são tipos de licitação, com exceção para o concurso:

a) a de menor preço  -  quando o critério de seleção da proposta mais vantajosa


para a Administração determinar que será vencedor o licitante que apresentar a
proposta de acordo com as especificações do edital ou convite e ofertar o menor
preço;

b) a de melhor técnica;

c) a de técnica e preço;

d) a de maior lance ou oferta  -  nos casos de  alienação  de bens ou concessão de


direito real de uso.

Consideram Alexandrino e Paulo (2011) que o tipo menor preço deve ser
regra geral nas licitações para contratação de obras, serviços, compras, locações e
fornecimento.

NOTA

Na licitação do tipo “menor preço”, não tem importância o fato de que um produto
ou serviço ter qualidade superior aos demais, o preenchimento dos requisitos mínimos de
qualidade técnica é o suficiente para que a proposta atenda ao interesse público, objetivo
maior da Administração Pública, sendo a licitação um dos meios de concretizá-las.

Encontramos esta situação quando o Poder Público adquire produtos comuns, como papel,
caneta, clips, entre outros, que não exigem especificidades em sua composição, ou ainda
serviços que não necessitam de características diferenciadas. Quando a Administração Pública
se utiliza do tipo de licitação “menor preço”, não está preocupada com a máxima da qualidade
do produto, mas em atender as exigências mínimas para atender à necessidade estatal.

A lei estabelece que os tipos de licitação “melhor técnica” ou


“técnica e preço” serão utilizados exclusivamente para serviços de natureza
predominantemente intelectual, em especial na elaboração de projetos, cálculos,
fiscalização, supervisão e gerenciamento e de engenharia consultiva em geral, e em
particular, para a elaboração de estudos técnicos preliminares e projetos básicos e
executivos (art. 46, Lei nº 8.666/93) (BRASIL, 1993).

92
TÓPICO 2 | TIPOS DE LICITAÇÃO E COMISSÃO DE LICITAÇÃO

O critério de seleção da melhor proposta nas licitações onde o tipo é


melhor técnica e preço é o que resulta da média ponderada das notas atribuídas
aos fatores técnica e preço, que serão valoradas de acordo com os pesos e critérios
estabelecidos no ato convocatório (edital).

Segundo Meirelles (2013), na licitação de melhor técnica, o que a


Administração pretende é a obra, o serviço, o equipamento ou o material mais
eficiente, mais durável, mais aperfeiçoado, mais rápido, mais rentável, mais
adequado, enfim, aos objetivos de determinado empreendimento ou programa
administrativo.

O parágrafo 5º, do artigo 45, da Lei de Licitações nº 8.666/93 (BRASIL, 1993),


proíbe a utilização de outros tipos de licitação, diversos dos previstos neste artigo.

DICAS

Melhor preço não é tipo de licitação. É terminologia usada para definir menor
preço conjugado com qualidade, durabilidade, funcionalidade, desempenho etc.
FONTE: Disponível em: <http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/comunidades/
licitacoes_contratos/13%20Tipos%20de%20Licita%C3%A7%C3%A3o.pdf>.

QUADRO 6 – TIPOS E MODALIDADES DE LICITAÇÃO


TIPOS DE LICITAÇÃO
(Critérios de julgamento – art. 45)

1. Menor preço
2. Melhor técnica
3. Técnica e preço
4. Maior lance ou oferta

MODALIDADES DE LICITAÇÃO TIPOS DE LICITAÇÃO APLICÁVEIS À


(art. 22) MODALIDADE

Concorrência 1, 2, 3, 4
Tomada de preços 1, 2, 3
Convite 1, 2, 3
Concurso Não se aplica
Leilão 4
FONTE: O autor (2014)

93
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

No quadro 6, podemos observar quais tipos de licitação podem ser


utilizados em cada modalidade licitatória, sendo possível verificar igualmente que
não se aplicam os tipos licitatórios descritos para a modalidade concurso.

FIGURA 3 – DIFERENÇA: TIPOS X MODALIDADES DE LICITAÇÃO

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=imagens+modalidade+s%C3%A3


o+de+licita%C3%A7%C3%A3o&biw=1440&bih=799&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa
=X&ei=HI--VMuINK>. Acesso em: 20 jan. 2015.

Na figura acima, é possível verificar o contexto dos tipos e das modalidades


de licitação esclarecendo a diferença entre ambas.

3 COMISSÃO DE LICITAÇÃO
A Comissão de Licitação é composta por agentes públicos, designados para
este fim, por autoridade que detém competência para tal ato, seja este decreto, portaria,
resolução, e estes obviamente estão caracterizados como responsáveis pelo regular
andamento do processo licitatório.

O objetivo da Comissão de Licitação, que é criada pela Administração


Pública está vinculado ao recebimento, exame e julgamento de todos os documentos
relativos aos processos de licitação.

O artigo 51 da Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93) (BRASIL, 1993) dispõe que


as Comissões de Licitação são compostas em regra por, pelo menos, três membros,
sendo dois deles servidores públicos qualificados dos quadros permanentes do
órgão da Administração responsável pela licitação.

94
TÓPICO 2 | TIPOS DE LICITAÇÃO E COMISSÃO DE LICITAÇÃO

A comissão de licitação pode ser permanente ou especial. A comissão


permanente traz a responsabilidade para seus membros, de todas as licitações que
ocorrerem no período de sua investidura.

Os membros da comissão especial são designados para um determinado


processo licitatório. O caráter permanente ou especial, está disposto no artigo 6º,
inciso XVI, da Lei nº 8.666/93:

Art. 6º Para os fins desta Lei, considera-se:

[...]

XVI - Comissão - comissão, permanente ou especial, criada pela


Administração com a função de receber, examinar e julgar todos os
documentos e procedimentos relativos às licitações e ao cadastramento
de licitantes (BRASIL, 1993).

O período de atuação da comissão permanente de licitações não poderá


exceder a um ano. É proibida a recondução de todos os membros para a mesma
comissão para o período seguinte. Exemplificando, o Sr. João, o Sr. José e o Sr.
Paulo integravam a comissão permanente, após um ano, cumprindo a legislação,
uma nova comissão deve ser designada. Para esta nova comissão não podem
novamente ser designados os mesmos três membros, o Sr. João, Sr. José e o Sr.
Paulo. Entretanto, pode integrar a nova comissão, um deles, ou dois deles, apenas
não podem integrar a nova comissão todos eles (os três).

NOTA

A partir da nomeação da Comissão de Licitações, nenhuma outra autoridade pode


substituí-la na sua função julgadora, quando muito esta pode vir a ser destituída e nomeada
outra Comissão com nova composição, para complementação dos trabalhos da licitação. A
partir da nomeação da Comissão de Licitações, nenhuma outra autoridade pode substituí-
la na sua função julgadora, quando muito esta pode vir a ser destituída e nomeada outra
Comissão com nova composição, para complementação dos trabalhos da licitação.

A fiscalização dos atos da comissão pode ser realizada por qualquer


cidadão, além, obviamente, pela autoridade que a designou ou ainda pelos órgãos
de fiscalização internos ou externos.

Relembrando situação já descrita, nas pequenas unidades administrativas,


havendo escassez de pessoal, admite-se apenas para a modalidade convite que
um servidor seja designado para acompanhar o processo licitatório podendo desta
forma substituir a comissão de licitação.

95
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

E
IMPORTANT

Os membros da comissão de licitação respondem solidariamente pelos atos


praticados, salvo se posição individual divergente estiver devidamente fundamentada e
registrada em ata lavrada na reunião em que tiver sido tomada a decisão (art. 51, § 3º, Lei nº
8.666/93).

A Lei nº 8.666/93, nos artigos 43, 44 e 51, delimita a competência da Comissão


de Licitação, e estas também se aplicam aos pregoeiros na condução do certame,
como se pode observar (BRASIL, 1993):

a) Deve presidir a sessão de recebimento dos envelopes.


b) Deve decidir sobre a habilitação preliminar dos participantes.
c) É responsável para promover a abertura das propostas.
d) Deve decidir sobre a aceitabilidade e classificação das propostas.
e) Precisa conduzir os lances e apurar o vencedor.
f) Posteriormente, deve promover a abertura dos envelopes de
habilitação e julgar os documentos.
g) Deve promover a classificação definitiva.
h) Tem que processar os recursos.
i) Ao final, deve adjudicar o objeto ao vencedor, quando não houver
recurso.

Na modalidade licitatória do concurso, a comissão é especial, e não necessita


ser composta por servidores. Esta comissão pode ser composta por pessoas de
reputação ilibada e que tenham reconhecido conhecimento na matéria, objeto do
processo licitatório.

Na modalidade leilão, o procedimento licitatório pode ser realizado por


leiloeiro oficial ou por servidor especificamente designado pela Administração
Pública.

Sempre que a Comissão de Licitação entender necessário, serão realizadas


diligências para esclarecimentos ou complementação da instrução do processo
licitatório, que é o que prevê o § 3º, do artigo 43, da Lei nº 8.666/93:

Art. 43. [...]

§ 3o É facultada à Comissão ou autoridade superior, em qualquer


fase da licitação, a promoção de diligência destinada a esclarecer ou
a complementar a instrução do processo, vedada a inclusão posterior
de documento ou informação que deveria constar originariamente da
proposta (BRASIL, 1993).

Especialmente no § 3º, do artigo 51, está disposto como respondem os


servidores das comissões de licitação:

96
TÓPICO 2 | TIPOS DE LICITAÇÃO E COMISSÃO DE LICITAÇÃO

§ 3º Os membros das comissões de licitação responderão solidariamente


por todos os atos praticados pela Comissão, salvo se posição individual
divergente estiver devidamente fundamentada e registrada em ata
lavrada na reunião em que tiver sido tomada a decisão (BRASIL, 1993,
grifo nosso).

Essa responsabilidade dos mesários da comissão de licitação é


administrativa, ou seja, disciplinar pelos atos realizados pelos servidores; civil,
como ressarcimento de prejuízos, proibição de contratar com o Poder Público, de
exercer cargo público e político etc.; além de penal, podendo chegar até a prisão.

E
IMPORTANT

Seu município possui Comissão de Licitações nomeada? Busque sabem que são
seus membros, fiscalize seus atos, acompanhe sua atuação.

97
RESUMO DO TÓPICO 2
Após o estudo deste tópico, será possível ao(à) acadêmico(a):

• Reconhecer as diferenças entre tipos e modalidades de licitação;

• Conhecer a função da Comissão de Licitação;

• Identificar o caráter permanente ou especial da Comissão de Licitação;

• Distinguir a formação e as atribuições da Comissão de Licitação;

• Inferir as suas responsabilidades e as penalidades por uma eventual conduta


imprópria.

98
AUTOATIVIDADE

1 Melhor técnica ou técnica e preço são tipos de licitação  que não podem ser
utilizados para serviços de natureza intelectual; na elaboração de projetos,
cálculos, estudos técnicos preliminares e projetos básicos e executivos; e na
fiscalização, supervisão e gerenciamento de engenharia consultiva, em geral.
Esta afirmação está correta ou errada?

2 Descreva de que forma é constituída a Comissão de Licitações.

99
100
UNIDADE 2
TÓPICO 3

RECURSOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS


APLICÁVEIS AOS PROCESSOS LICITATÓRIOS –
LEI Nº 8.666/93

1 INTRODUÇÃO
A licitação, como já estudamos, é um processo administrativo, e este tem
uma série de atos sucessivos, obviamente obedecendo à legislação aplicável. Este
processo administrativo tem como objetivo respaldar a decisão administrativa
que ordena a licitação, qual seja garantir que a Administração Pública supra a
necessidade da coletividade, adquirindo produtos ou serviços com a melhor
proposta.

Com a edição da Lei nº 8.666/936, inseriu-se na legislação brasileira um


processo administrativo específico para que o Poder Público selecione a melhor
proposta e a contrate, além de estabelecer penalidades administrativas ou penais
para situações de sua desobediência.

Para que conheçam, alguns doutrinadores estabelecem que a Lei nº


9.784/99 – Lei do Processo Administrativo da União, tem em seus dispositivos
alguns aspectos que são plenamente aplicáveis à licitação, entre estes relacionamos
(BRASIL, 1999):

 Atuação conforme a lei e o direito;


 atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;
 Atendimento a fins de interesse geral;
 divulgação oficial dos atos administrativos;
 observância das formalidades essenciais visando a garantia dos
administrados;
 interpretação da norma administrativa para melhor atendimento ao
interesse público;
 tratamento das partes com respeito e urbanidade pelas autoridades e
servidores públicos;
 publicidade dos atos processuais, com ciência aos interessados;
 está assegurado o direito de peticionar e a apresentação de documentos
antes de toda e qualquer decisão no curso do processo licitatório.

Entretanto, a aplicação da Lei das Licitações nº 8.666/93 (BRASIL, 1993)


tem abrangência nacional, em relação às licitações promovidas pela União, pelos
estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios, enquanto a Lei nº 9.784/99 regula
o processo administrativo no âmbito da União, não se aplicando aos demais entes
federados, sendo portanto a Lei nº 9.784/99 de aplicação subsidiária à Lei das
Licitações (BRASIL, 1999).

101
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

NOTA

A aplicação de lei subsidiária à lei principal é possível quando aquela possui lacunas
que podem ser supridas por esta.
No caso em concreto, se a Lei de Licitações (principal) for omissa em alguma situação, a
Lei nº 9.784/99 (subsidiária) pode ser utilizada para suprir esta lacuna, mas somente nestas
circunstâncias.

A Constituição assegura a todos, em processo judicial ou administrativo,


o contraditório e a ampla defesa, como os meios e recursos a ela inerentes, como
descrito no artigo 5º, inciso LV (BRASIL, 1988):
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos


acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes;

Então, aqueles que participam de procedimento licitatório têm a


possibilidade de impetrar recurso na via administrativa, e, não se satisfazendo
com o resultado, ingressar com ação judicial. Em todo o curso do procedimento
licitatório é possível contestar o andamento do processo.

Quando falamos dos recursos no processo de licitação, esta parte do


princípio que após proferidas as decisões pela Administração Pública surgem
situações de inconformismo dos licitantes, e pretendendo estes a revisão destas
decisões, fazem uso de um instrumento denominado RECURSO para demonstrar
sua insatisfação, pleiteando com um pedido para nova apreciação da situação-
objeto do processo.

Temos, portanto, a descrição de alguns conceitos para recurso, entre eles:


meio através do qual, por imposição da lei ou provocação do interessado, se
promove novo pronunciamento dos órgãos competentes sobre os incidentes do
processo ou sobre o objeto do litígio, ou ainda, uma ação que tem por objetivo
a reforma de decisões e ainda um meio para que seja reparada uma injustiça
(BRUNO, 2005).

Diante desta perspectiva conceitual precisamos reconhecer que diante do


processo administrativo da licitação encontramos recursos administrativos ou
judiciais que nos possibilitam requerer que uma decisão da Administração Pública
seja revista por um erro que evidencie uma ilegalidade ou ainda se perpetue uma
injustiça.

102
TÓPICO 3 | RECURSOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS APLICÁVEIS AOS PROCESSOS LICITATÓRIOS – LEI Nº 8.666/93

2 ESPÉCIES DE RECURSOS LICITATÓRIOS ADMINISTRATIVOS


A possibilidade do questionamento dos atos praticados ao longo do
processo da melhor proposta para o contrato da Administração Pública, também
está determinada pela Lei nº 8.666/93 (BRASIL, 1993).

A Lei de Licitações estabelece três espécies de recursos administrativos,


assegurando o direito de petição, disponibilizando instrumentos aos licitantes
e à coletividade para o controle da legalidade e legitimidade do procedimento
licitatório.

O artigo 109 da Lei de Licitações elenca quais os recursos administrativos


admissíveis no processo licitatório, sendo estes (BRASIL, 1993):

a) recurso administrativo hierárquico;


b) representação quando não couber recurso hierárquico;
c) pedido de reconsideração.

Bruno (2005) alerta que mesmo não integrando o rol de recursos estabelecidos
para o procedimento licitatório, é importante que se anote a impugnação ao edital,
pois apresenta características semelhantes aos recursos administrativos.

NOTA

Mesmo que o edital não traga clara a possibilidade de recursos, nula será a
proibição destes. A previsão dos recursos está descrita em uma norma pública, que é a Lei de
Licitações, além de sua proibição ferir o princípio constitucional da ampla defesa, descrito no
artigo 5º, LV, da Constituição de 1988. Portanto, não pode ser recusado o direito de recorrer.

Os recursos administrativos têm respaldo no princípio da pluralidade de


instâncias, em que à Administração Pública é permitida a revisão de seus atos
quando ilegais, inconvenientes ou inoportunos.

Nesse sentido, há o entendimento da Suprema Corte, conforme descrito:

Súmula 346. [...] a administração pode declarar nulidade de seus


próprios atos.

Súmula 473. [...] a administração pode anular seus próprios atos, quando
eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam
direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a
apreciação judicial.

103
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

O administrado que se sentir lesado em decorrência de decisão


administrativa, pode propor recursos hierárquicos até chegar à máxima autoridade
da organização administrativa.

Os recursos hierárquicos, segundo Meirelles (1999, p. 609), são “aqueles


pedidos que as partes dirigem à instância superior da própria administração,
propiciando o reexame do ato inferior sob todos os seus aspectos”.

A ideia de submeter a Administração Pública a controles, sejam eles


internos ou externos, é que eles se tornam verdadeiros meios para proporcionar
um resultado justo e lícito.

2.1 IMPUGNAÇÃO AO EDITAL


Como já estudado, no Edital de Licitação estão presentes regras para
participação dos licitantes naquele procedimento licitatório, mas pode ocorrer que,
muitas vezes, essas regras contrariam o disposto na lei e, outras vezes, parecem
direcionar o certame a um licitante específico.

Sempre que a pessoa interessada verificar a ocorrência deste dito


“direcionamento”, pode recorrer a este recurso, ou seja, à impugnação, a fim de
garantir a lisura do processo licitatório. Mas, como podemos observar, também a
Lei nº 8.666/93 dá condições de quem se achar ofendido vir a discutir as cláusulas
do edital.

Mesmo não estando elencado como recurso administrativo possível na


Lei de Licitações, a impugnação é instrumento para assegurar a legitimidade do
procedimento administrativo da licitação deflagrado pela Administração Pública.

Deve-se ter a ideia de que a análise de um edital não pode ser efetuada
às pressas. Pelo contrário, a leitura dever ser feita com calma e temos que prestar
atenção a tudo que ali for solicitado ao licitante.

Faz-se necessária atenção desde o corpo do edital até seus anexos, na


tentativa de verificar inconsistências entre eles. Uma vez identificadas as falhas
ou possíveis incoerências, terá, o futuro participante, ou qualquer pessoa, como
determina a Lei, um determinado prazo, também estabelecido por lei, para este
mesmo participante exercer seus direitos.

O edital é considerado lei entre as partes, vinculando-se a eles os


interessados, sejam estes a Administração Pública ou os licitantes.

Quando publicado, o edital permite que os interessados e a coletividade


conheçam seus termos, e efetuem uma série de controles, sendo possível a
verificação de irregularidades ou falhas, bem como a descrição de eventuais
discriminações ou favorecimentos, podendo ocasionar a interposição de recursos,
provocando a reavaliação pela Administração.

104
TÓPICO 3 | RECURSOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS APLICÁVEIS AOS PROCESSOS LICITATÓRIOS – LEI Nº 8.666/93

Podemos citar algumas situações, contidas muitas vezes na Lei nº


8.666/93, como também na Constituição Federal, que podem ser indicativas de
direcionamento (BRASIL, 1988). Observe:

a) Verificar a regra do artigo 3º, § 1º, inciso I, da Lei nº 8.666/93 – que veda
preferências ou distinções em razão de naturalidade, da sede de domicílio etc.

b) Verificar o artigo 7º, inciso I, § 5º, da Lei nº 8.666/93 – que veda a realização de
licitação com objetos sem similares.

c) Verificar a regra do artigo 15, § 7º, inciso I, da Lei nº 8.666/93 – que veda a
indicação de marca do objeto.

d) Realizar uma comparação criteriosa, ponto a ponto do edital, com as


características ou especificações de seus próprios produtos e serviços e aqueles
das outras empresas do mercado no qual atua.

Quanto ao item “a“, que é verificar a regra do artigo 3º, § 1º, inciso I,
podemos fazer a seguinte análise: tendo a Administração discricionariedade para
estabelecer exigências em razão da sua necessidade concreta, pode ela inserir
regras dispensáveis no edital?

Em resposta a esse questionamento, a própria Constituição Federal de 1988,


em seu artigo 37, inciso XXI, dispõe que as exigências devem se limitar àquelas
“indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações” (BRASIL, 1988).

Então, a primeira coisa a ser feita é verificar se as exigências são


pertinentes, em razão do objeto contratado, ou se, em outras licitações similares,
foram realizadas sem essas exigências. Temos que demonstrar aqui que pode ser
cumprido o contrato sem essa característica e sem prejuízo à administração.

Quanto ao item “b“, que é a vedação à realização de licitação com objetos


sem similares (artigo 7º, inciso I, § 5º), devemos ater-nos à exceção, ou seja, se é
tecnicamente justificável o fornecimento de tais materiais e serviços.

Quanto ao item “c”, que veda a indicação da marca do objeto (artigo 15,
parágrafo 7º, inciso I), o bem a ser adquirido deve ser o mais minuciosamente
especificado possível, contudo, sem fornecer a marca do produto. Aqui, quem
deve sempre estar atento é quem tem interesse no certame, pois ainda são comuns
os excessos nos editais. E ninguém melhor que o interessado em fornecer para
saber como funciona seu ramo de atividade, mesmo que a marca esteja sendo
referenciada implicitamente.

Quanto ao item “d”, que é a comparação criteriosa, ponto a ponto, do


edital, devemos atentar às características ou especificações dos produtos e serviços,
e os demais disponíveis no mercado de atuação. Essa análise prévia aumenta
substancialmente as chances de sucesso na impugnação do edital.

105
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

Da mesma forma, quando o objeto pretendido pela Administração estiver


mal definido no edital, este pode provocar ofensa ao princípio da competitividade,
podendo motivar as impugnações ao edital.

Estão legitimados para promover a impugnação ao edital qualquer


cidadão, assim como os licitantes, a partir da publicidade do extrato do edital
ou do convite. Esta possibilidade tem como prerrogativa garantir o tratamento
isonômico da Administração em sua atuação.

A diferença que encontramos para a impugnação ao edital pelo cidadão e


pelos licitantes está no prazo para fazê-lo a partir da publicação, como se observa;

a) Cidadão comum – até cinco dias úteis antes da abertura das propostas (art. 41,
parágrafo 1º, Lei nº 8.666/93) (BRASIL, 1993);

b) Licitante – até dois dias úteis antes da abertura das propostas (art. 41, parágrafo
2º, Lei nº 8.666/93) (BRASIL, 1993).

A partir do recebimento da impugnação do edital, este recurso tem um


efeito sobre o processo licitatório:

 Quando o recurso é do cidadão, este tem efeito suspensivo;


 Quando o recurso é formulado pelo licitante, não traz consigo o efeito suspensivo.

O prazo da Administração Pública para julgar e dar a resposta à impugnação


do edital pelo cidadão comum é de 3 dias úteis, a contar do seu recebimento.

O efeito suspensivo traz para a Administração Pública a possibilidade


de reavaliar as situações contidas no edital, evitando assim prejuízos às partes
envolvidas no processo licitatório.

Havendo o efeito suspensivo, não se dá andamento ao processo até que se


resolva a questão controvertida. Relembre-se que durante a suspensão não há a
contagem de quaisquer prazos.

A suspensão do processo licitatório deve ser comunicada a todos os


interessados. Não sendo acatada a impugnação ao edital, deverá ser publicada
a designação de nova data para a apresentação das propostas. Sendo acatada a
impugnação, diante da alteração do edital, deverá ser reaberto novo prazo.

106
TÓPICO 3 | RECURSOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS APLICÁVEIS AOS PROCESSOS LICITATÓRIOS – LEI Nº 8.666/93

NOTA

LEGITIMADOS: são aqueles que têm direito, por lei ou justiça.

EFEITO SUSPENSIVO DO RECURSO ADMINISTRATIVO LICITATÓRIO: suspende o andamento


do processo licitatório até o julgamento do recurso.

A impugnação ao edital na modalidade pregão possui prazos diferenciados,


sendo estes de dois dias úteis antes da data fixada para o recebimento das
propostas, para todas as manifestações acerca do ato convocatório, seja pedido
de esclarecimentos, seja impugnação ao edital, sendo este prazo comum para o
cidadão comum e para o licitante. Oferecida a impugnação, o pregoeiro tem o
prazo de 24 horas para decidir sobre a petição impugnatória.

E
IMPORTANT

O licitante que apresentar o pedido de impugnação não está proibido de participar


do processo licitatório, de forma contrária, este licitante participa de todas as fases do processo
de licitação.

Acadêmico(a), merece atenção especial a informação de que, ocorrendo a


impugnação ao edital “fora do prazo” legal, esta não será considerada. Aquele que
desejar fazê-la, deve executá-la no prazo estabelecido em lei; não a executando,
decai o direito de requerê-la em outro momento.

Os doutrinadores têm entendido que esta perda do direito de impugnar o


edital após o prazo legal está restrita ao plano administrativo.

Resta aos interessados ou ao licitante, se evidenciada ilegalidade no


instrumento convocatório (edital), a discussão de sua impugnação, podendo
encontrar amparo no Poder Judiciário através da interposição de mandado de
segurança, não havendo a caducidade do direito em razão do prazo.

Temos amparo nesta discussão pelo pressuposto já estabelecido na


Constituição de 1988, em seu artigo 5º, inciso XXXV, que dispõe: “a lei não excluirá
da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988).

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UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

2.2 RECURSO HIERÁRQUICO


Esta espécie de recurso administrativo em licitações está prevista no artigo
109, I, da Lei de Licitações (Lei no 8.666/93) (BRASIL, 1993), sendo ele admitido em
diversas etapas do processo licitatório, dentre estas:

a) Habilitação ou inabilitação;
b) Anulação ou revogação da licitação;
c) Julgamento das propostas;
d) Alteração ou cancelamento de inscrição em registro cadastral;
e) Rescisão contratual;
f) Aplicação de penalidades de advertência, suspensão temporária ou
multa.

2.2.1 Requisitos
Ainda que a Lei nº 8.666/93 não apresente uma forma de apresentação dos
recursos, se faz necessário observar alguns requisitos básicos para que se assegure
o regular processamento do recurso, já que se trata de um procedimento formal.
Seriam os requisitos básicos os sequencialmente enunciados:

a) Formalização por escrito;


b) Fundamentação legal;
c) Pedido de nova decisão;
d) Comprovação do alegado mediante juntada de documentos
necessários, que comprovem a necessidade do acatamento do recurso.

Segundo Bruno (2005), a formalidade destes recursos tem sentido quando


buscam assegurar a igualdade, a moralidade, a impessoalidade, entre outros
aspectos, que devem ser observados e preservados pela Administração pública.

2.2.2 Processamento
Para que o recurso licitatório seja recebido, além dos requisitos básicos
já descritos, o recurso deverá ser endereçado à autoridade superior, a qual fará
o denominado “juízo de admissibilidade”. O juízo de admissibilidade parte do
princípio da análise da “validade do recurso”, da observação de que este contenha
as condições para que seja processado o recurso.

Inicialmente, as condições iniciais de admissibilidade dos recursos


administrativos são equivalentes às condições da ação no processo civil (art. 267,
inciso VI, do Código de Processo Civil), sendo elas: legitimidade, interesse de agir
e possibilidade do objeto.

Além destes termos genéricos, enfatizamos que os recursos administrativos


licitatórios devem ser apreciados na sua admissibilidade pelos pressupostos
descritos a seguir:

108
TÓPICO 3 | RECURSOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS APLICÁVEIS AOS PROCESSOS LICITATÓRIOS – LEI Nº 8.666/93

a) haver ato decisório entre os elencados no inciso I, do artigo 109, da Lei de


Licitações;

b) a demonstração de interesse processual, ou seja, a demonstração da lesividade a


interesse do recorrente;

c) legitimidade para interposição, na interpretação do artigo 109, § 3º, da Lei nº


8.666/93, estão legitimados para o recurso administrativo licitatório apenas os
licitantes, estando excluídos os terceiros interessados;

d) tempestividade – o recurso tenha sido interposto no prazo de cinco dias úteis


para as modalidades de concorrência, tomada de preços, concurso e leilão, e
dois dias úteis para convites, de acordo com o artigo 109, § 6º, da Lei nº 8.666/93.

A contagem do prazo para interpor o recurso licitatório inicia a partir da


intimação da decisão ou de lavratura da ata pela Comissão. Por óbvio, é necessária
a ciência dos interessados, que deve ser confirmada mediante assinatura destes na
ata. Têm-se ainda que na contagem do prazo exclui-se o dia de início e inclui-se o
dia de vencimento (artigo 110, da Lei nº 8.666/93).

De acordo com Bruno (2005), diferente do que no processo judicial no


recurso administrativo, é possível:

a) Alegar em instância superior o que não foi arguido de início;


b) Reexaminar a matéria do fato;
c) Produzir novas provas, isto porque o que se busca com a possibilidade
do reexame é a preservação da legalidade.

Importante relembrar que o período legal de interposição do recurso


licitatório seja de efetivo funcionamento do órgão que está promovendo a licitação,
sendo assegurado ao interessado acesso aos autos.

Se não forem atendidos os requisitos de admissibilidade, dos quais falamos


anteriormente, cabe à autoridade indeferir imediatamente o recurso. Com esta
decisão, o processo de licitação prossegue normalmente.

Se a autoridade competente admitir o recurso e recebê-lo, ele será processado


e deverá ser aberto prazo para a manifestação dos demais interessados.

Ou seja, os demais licitantes têm um prazo estabelecido para que se


manifestem em relação ao recurso (impugnações às razões do recurso), sendo este
prazo de cinco dias úteis, exceção feita à modalidade convite quando o prazo é de
dois dias. A não observação da abertura deste prazo para a impugnação das razões
de recursos para os demais licitantes acarretará na nulidade do procedimento.

Após este procedimento, o recurso será remetido à Comissão de Licitação,


que terá cinco dias para manifestar-se, revendo ou mantendo a decisão atacada
no recurso.

109
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

Mantendo-se a decisão da Comissão de Licitações, o recurso será remetido


para a apreciação da autoridade superior. Todas as decisões devem ser motivadas
(justificadas), já que este é requisito básico de todo ato administrativo, se não estiver
presente a decisão poderá ser invalidada. A autoridade superior terá o prazo de
cinco dias úteis para proferir a decisão.

Após a decisão da Comissão de Licitação ou da autoridade superior, existe


a necessidade da publicidade destas decisões. A intimação da decisão do recurso
é estabelecida em lei, havendo a necessidade da publicação na imprensa oficial.

NOTA

Na prática, admite-se a comunicação da decisão dos licitantes através de: ata


quando a decisão é pública; correio, mediante aviso de recebimento; intimação através
de servidor da Administração. Estas modalidades de comunicação acabam por atender ao
objetivo de dar ciência aos interessados da decisão, e asseguram a observância dos princípios
fundamentais da Administração Pública, como economicidade, razoabilidade e a eficiência, são
meios idôneos de publicidade das decisões, mas não afastam a necessidade da publicação
na imprensa oficial (artigo 109, § 1º, Lei nº 8.666/93).

2.2.3 Efeitos e consequências dos recursos licitatórios


Como regra, os efeitos dos recursos administrativos licitatórios são
devolutivos ou suspensivos.

Segundo Bruno (2005), o efeito devolutivo tem o efeito de devolver a


matéria para apreciação sem interromper a continuidade do processo licitatório;
o efeito suspensivo tem a pressuposto de promover a interrupção do processo até
que haja a decisão final.

Segundo os doutrinadores em regra, o efeito dos recursos no processo


licitatório é devolutivo, pois presume-se a legalidade dos atos executados pela
Administração Pública.

A Lei de Licitações nº 8.666/93 prevê expressamente efeito suspensivo aos


recursos interpostos a duas espécies de decisões que ocorrem durante o processo
licitatório, a saber:

a) Quando da habilitação ou inabilitação do licitante;


b) Relativo ao julgamento das propostas.

O Administrador Público pode, por discricionariedade, atribuir efeito


suspensivo ao recurso, desde que o faça em ato devidamente motivado e buscando
atender ao interesse público.

110
TÓPICO 3 | RECURSOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS APLICÁVEIS AOS PROCESSOS LICITATÓRIOS – LEI Nº 8.666/93

Ressaltamos que nos recursos que forem atribuídos efeitos suspensivos


não correm os prazos de prescrição e não haverá a possibilidade de utilização da
via judicial para discutir quaisquer atos, eis que não existe decisão que possa ter
ferido direito postulado. Não existe a constatação de lesão ou ameaça ao direito,
enquanto não for proferida decisão do recurso.

2.2.4 Desistência dos recursos licitatórios interpostos


A desistência dos recursos licitatórios é plenamente possível, desde que o
litígio envolva somente interesses individuais disponíveis e não afete o interesse
público (por exemplo, ofensa à lei).

Não existindo ilegalidade, cabe à autoridade acolher a desistência quanto


ao recurso e determinar a continuidade do processo licitatório.

IMPORTANTE: Esta desistência deve ser expressa.

Em se falando de recursos extemporâneos, temos, como regra, que,


transcorrido o prazo legal, seu processamento está inviabilizado e nega-se a sua
apreciação.

As exceções são observadas no caso em concreto e não são uma unanimidade


para doutrinadores ou na apreciação do judiciário.

Entretanto, apenas para enunciar uma das exceções aceitas para o


recebimento do recurso “fora do prazo” está na constatação de uma ilegalidade,
devendo diante desta realidade a Administração pública verificar a ocorrência de
vício e, se constatado, tem a obrigação de anular o processo licitatório.

3 REPRESENTAÇÃO
Esta espécie de recurso licitatório está prevista no artigo 109, II, da Lei nº
8.666/93.

A representação pode ser utilizada apenas nas situações em que não couber
recurso administrativo e referir-se à decisão relacionada com o objeto ou o contrato
da licitação.

Este recurso tem por objetivo instrumentalizar o cidadão comum e o licitante


na defesa de seus interesses, a partir de posicionamentos da Administração pública,
ao infringir os princípios da impessoalidade e da moralidade ao caracterizar o
objeto da licitação (BRUNO, 2005).

É imprescindível que o edital de licitação e o contrato que segue como


seu anexo obrigatório descrevam condições exequíveis e adequadas ao objeto da
licitação.

111
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

De acordo com Bruno (2005, p.163), “na hipótese de condições obscuras


de atendimento difícil, praticamente impossível, ou ainda de qualquer indício de
direcionamento, resta evidenciada a condição para o cabimento da representação”.

O processamento da representação ocorre da mesma forma que o recurso


administrativo em processo licitatório, que já foi objeto de estudo nesta seção.

A representação é direito assegurada a qualquer administrado, seja ele


cidadão comum, licitante, associação de classe, etc.

A interposição da representação deve ocorrer no prazo de cinco dias úteis


a partir da decisão relativa ao objeto que não caiba recurso hierárquico. Devem ser
abertas vistas aos demais licitantes. Em regra, a representação é recurso que deve
ser recebido em efeito devolutivo.

4 PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO
O cabimento do pedido de reconsideração é restrito, é cabível apenas contra
ato de Ministro e Secretários Estaduais e municipais, quando aplicada a penalidade
de declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração
(artigo 109, III, Lei nº 8.666/93).

NOTA

A declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração


Pública, decorre de inexecução total ou parcial de contrato, (artigo 87, da Lei nº 8.666/93),
expedida após processo administrativo, onde foi assegurada ampla defesa e contraditório à
empresa.

O pedido de reconsideração deve ser direcionado à própria autoridade que


proferiu a decisão. O prazo estabelecido para interposição deste recurso é de 10
(dez) dias úteis a contar da intimação do ato, que aplica a punição de inidoneidade
para licitar ou contratar com o Poder Público.

O efeito deste recurso é apenas devolutivo, tratando-se de uma penalidade


que é aplicada por Ministro de Estado, Secretário Estadual ou Municipal, que atinge
a uma personalidade jurídica específica, a quem foi oportunizada em momento
anterior manifestação de defesa e contraditório. A declaração de inidoneidade
para licitar ou contratar com a Administração Pública é uma penalidade.

112
TÓPICO 3 | RECURSOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS APLICÁVEIS AOS PROCESSOS LICITATÓRIOS – LEI Nº 8.666/93

5 RECURSOS JUDICIAIS NO PROCESSO LICITATÓRIO


Quando falamos em assegurar eventuais direitos violados em processo
licitatório, utilizando a esfera judicial, ou seja, o Poder Judiciário, temos como
instrumentos:

a) O mandado de segurança utilizado para correção do procedimento durante sua


realização;
b) A ação popular (Lei nº 4.717/65) e a ação civil pública (Lei nº 7.347/85), sendo que
estas são utilizadas após o procedimento licitatório para o deslinde da licitação.

O mandado de segurança está previsto na Constituição da República


Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 5º, inciso LXIX, onde encontramos:
“conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por ‘habeas-corpus’ ou ‘habeas-data’, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
no exercício de atribuições do Poder Público”.

Acadêmico(a), ainda sobre o mandado de segurança, a lei que o disciplina


é a de nº 12.016/2009. Esse “remédio” constitucional tem como principais
características:

• É uma ação judicial de natureza civil de rito sumário especial.


• Poderá ser repressivo ou preventivo.
• Sujeito ativo (impetrante): indivíduo titular do direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data.
• Sujeito passivo (impetrado): é a autoridade pública ou no exercício da função
pública coatora que pratica ato comissivo ou omissivo. Considera-se autoridade
coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual emane a
ordem para a sua prática. Ressalte-se que equiparam-se às autoridades os
representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades
autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais
no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a
essas atribuições.
• Prazo para impetração do mandado de segurança: 120 dias, a contar da data
em que o interessado tiver conhecimento oficial do ato a ser impugnado (prazo
decadencial).
• Poderá ser impetrado, também, o mandado de segurança coletivo que visa
assegurar a defesa de direitos coletivos e individuais homogêneos.
• Não poderá ser concedido mandado de segurança quando: o ato do qual caiba
recurso administrativo com efeito suspensivo, de decisão judicial da qual caiba
recurso com efeito suspensivo, da decisão judicial transitada em julgado.

A Ação Popular proporciona ao cidadão o direito de acessar o Poder


Judiciário, buscando invalidar atos administrativos praticados por pessoas jurídicas
de Direito Público, sejam pertencentes à Administração Direta ou Indireta.

113
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

A Ação Popular tem como requisito que o autor seja cidadão brasileiro,
devidamente inscrito na justiça eleitoral. Deve-se apurar se o ato praticado é
realmente ilegal, lesivo ou se ele está fundamentado em relevante ameaça ao
direito, devendo igualmente estar caracterizado que o ato praticado vem trazendo
lesão material ou imaterial.

DICAS

Acadêmico(a), acesse o site: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4717.htm>


e conheça a íntegra da ação popular.

A Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, que dispõe sobre a Ação Civil


Pública, disciplina que esta tem por objetivo reprimir ou mesmo prevenir danos
ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio público, aos bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico e turístico, por infração da ordem econômica e da
economia popular, ou à ordem urbanística.

DICAS

A Ação Civil Pública tem como legitimado mais atuante o Ministério Público.
Acesse o site: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7347orig.htm>, e busque saber outros
pressupostos deste instrumento de acesso ao judiciário.

QUADRO 7 – RECURSOS JUDICIAIS NO PROCESSO DE LICITAÇÃO


AÇÃO CONCEITO OBSERVAÇÕES
MANDADO DE Proteger direito líquido e certo não • Líquido e certo: o direito não
SEGURANÇA amparado por HC (habeas corpus) ou desperta dúvidas, está isento
(Lei nº 12.016/2009) HD (habeas data). Deve ser impetrado de obscuridades.
quando o responsável pela ilegalidade
ou abuso de poder for Autoridade • Qualquer pessoa física ou
Pública ou equiparados. jurídica pode impetrar, mas
somente através de advogado.
AÇÃO POPULAR Visa à anulação ou à declaração • A propositura cabe a
(Lei nº 4.717/65) de nulidade de atos lesivos ao: qualquer cidadão (brasileiro)
Patrimônio Público, à moralidade no exercício de seus direitos
Administrativa, ao Meio Ambiente, ao políticos.
Patrimônio
Histórico e Cultural.

114
TÓPICO 3 | RECURSOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS APLICÁVEIS AOS PROCESSOS LICITATÓRIOS – LEI Nº 8.666/93

AÇÃO CIVIL Busca proteger direitos subjetivos, • A propositura cabe


PÚBLICA individuais, difusos ou coletivos, ao Ministério Público, à
(Lei nº 7.347/85) abrangidos pela expressão o dano ao Defensoria Pública, à União,
patrimônio público e social, seja este aos Estados, aos Municípios,
dano material ou moral. às autarquias, às empresas
públicas, fundações e
sociedades de economia mista,
bem como associações que
estejam constituídas há, pelo
menos, um ano.
FONTE: O autor (2014)

Temos previsão legal nos artigos 89 a 99 da Lei nº 8.666/93 das ações penais
que buscam proteger o patrimônio público dos crimes praticados nas licitações.

Os crimes previstos nesta lei são tipificados como de ação penal pública
incondicionada, ou seja, quem deve propor estas ações junto ao poder judiciário é
o Ministério Público. Entretanto, qualquer pessoa pode levar ao conhecimento do
Ministério Público circunstâncias que possam ser enquadradas em eventual ação
criminal nos processos licitatórios.

Podemos igualmente fazer menção à lei de improbidade administrativa


ou leis penais que igualmente possuem dispositivos aplicáveis às situações que
envolvem os processos licitatórios, tornando-se recursos judiciais disponíveis.

6 ANULAÇÃO E REVOGAÇÃO DA LICITAÇÃO

A licitação, como já estudamos, é um procedimento administrativo,


construído em uma sequência de atos administrativos que buscam um objetivo
comum.

Ocorrendo alguma ilegalidade quando da prática de algum ato que compõe


este procedimento, este ato deve ser anulado.

Não se pode confundir anulação de licitação com revogação, existindo


para cada caso regramento próprio, segundo o que preconiza o art. 49 da Lei nº
8.666/93 (LL).

A anulação se dá em razão de ilegalidades graves praticadas, ou seja, de


atos que contrariem os princípios cardeais da licitação, a exemplo de: publicidade
ampla dos atos (resumo do edital não publicado), já que nunca poderá haver
licitação secreta; igualdade, evitando-se qualquer discriminação entre licitantes,
de dirigismo do edital, de favoritismo ou de perseguição; sigilo total quanto às
propostas a serem ofertadas; vinculação ao edital, o que significa que todos, a

115
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

administração e as partes licitantes, ficam adstritos ao edital, sendo defeso fazer


qualquer modificação nele após publicado; adjudicação obrigatória do vencedor
do certame, art. 50, da Lei nº 8.666/93. Além disso, ainda temos os princípios da
moralidade, da impessoalidade e da legalidade que não podem ser postergados.

A anulação deste ato implica a nulidade de todas as outras etapas anteriores


deste procedimento administrativo, dependentes entre si ou que geraram
consequências.

Nas considerações de Alexandrino e Paulo (2011), encontramos:

1. O despacho da anulação deve ser fundamentado, sendo que o art.49 da Lei nº


8.666/93 designa que a autoridade competente para a aprovação do procedimento
deve anulá-lo por ilegalidade de ofício ou por provocação de terceiros.

2. A nulidade do procedimento licitatório conduz à nulidade do contrato.

3. A anulação da licitação por ilegalidade não gera obrigação de indenizar.

4. A nulidade do contrato não exonera a Administração pública do dever de


indenizar o contratado pelo que houver sido executado até a declaração de
nulidade, desde que a causa não seja imputável ao contratado.

A revogação da licitação só é possível em duas hipóteses. A primeira de


acordo com a Lei nº 8.666/93, art.49:

Art. 49.  A autoridade competente para a aprovação do procedimento


somente poderá revogar a licitação por razões de interesse público
decorrente de fato superveniente devidamente comprovado, pertinente
e suficiente para justificar tal conduta, devendo anulá-la por ilegalidade,
de ofício ou por provocação de terceiros, mediante parecer escrito e
devidamente fundamentado.

A segunda, de acordo com Alexandrino e Paulo (2011, p. 647): “a critério


da administração quando o adjudicatário, tendo sido por ela convocado, no prazo
e condições estabelecidas no edital, para assinar o termo de contrato ou aceitar
ou retirar instrumento equivalente, recusar-se a fazê-lo, ou simplesmente não
comparecer”.

Em qualquer das situações o despacho para revogação deve ser


fundamentado como determina o art. 38, da Lei nº 8.666/93.

Meirelles (2013) afirma que, diferente do que ocorre com a anulação, que
pode ter o critério de parcial ou total, a revogação de um ato do procedimento
licitatório não é possível. Havendo um motivo de interesse público que desaconselhe
a contratação do objeto de licitação, todo procedimento deve ser revogado.

116
TÓPICO 3 | RECURSOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS APLICÁVEIS AOS PROCESSOS LICITATÓRIOS – LEI Nº 8.666/93

Ressalte-se que a Lei de Licitações não enumera nem esclarece quais são
os interesses públicos que autorizam a unilateral declaração de revogação de uma
licitação.

Nas situações de anulação ou revogação da licitação cabe a ampla


defesa e o contraditório. O art. 109, I, alínea c, da Lei nº 8.666/93, prevê o recurso
administrativo no prazo de 5 dias a contar da intimação do ato de anulação ou
revogação da licitação.

DICAS

Não será mais possível revogar a licitação após a assinatura do contrato.

A anulação da licitação pode ser realizada mesmo após a assinatura do contrato, a nulidade da
licitação implica a nulidade do contrato dela decorrente.

Nas situações de anulação ou revogação da licitação cabe a ampla


defesa e o contraditório. O art. 109, I, alínea c, da Lei nº 8.666/93, prevê o recurso
administrativo no prazo de 5 dias a contar da intimação do ato de anulação ou
revogação da licitação.

DICAS

A Lei Complementar nº 123/2006 prevê tratamento diferenciado para


microempresas e empresas de pequeno porte nas licitações. Busque por novas informações e
acrescente aos seus estudos.

Caro(a) acadêmico(a), encerramos a Unidade 2 deste Caderno de Estudos,


na qual foi possível perceber a complexidade do processo licitatório, que deve
ser obrigatoriamente utilizado pela Administração Pública, para buscar recursos
materiais e serviços, que posteriormente serão ofertados à coletividade.

Ficou clara a determinação de que a Lei nº 8.666/93 é de observância


obrigatória em todo território nacional, e deve assim ser utilizada por todos os
entes federativos, União, estados, Distrito Federal e municípios (BRASIL, 1993).

Procure conhecer com maior profundidade todos os aspectos que envolvem


o processo licitatório, dirija-se à unidade responsável por este procedimento em
seu município ou estado, acompanhe um processo licitatório, analise um edital,

117
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

observe os recursos públicos que estão destinados a atender as reais necessidades


e interesses de comunidade, faça também a sua parte. Como contribuição, sugiro a
complementação de seus estudos com a obra de Marçal Justem Filho, “Comentários
à Lei de Licitações e Contratos Administrativos”, pela Editora Dialética, que traz
interpretações atuais dos processos licitatórios.

Bons estudos!

LEITURA COMPLEMENTAR

O PAPEL DO COMPRADOR NO PROCESSO DE COMPRAS EM


INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM SAÚDE
(C&T/S)

Marco Antonio Cavalcanti Batista


José Manuel Santos de Varge Maldonado

(...)
O papel do comprador público no processo de aquisição de materiais

Os compradores públicos devem estar cientes de que, para realização das


compras, se torna necessário e imprescindível o fornecimento da especificação
completa do bem, além da definição das unidades e das quantidades a serem
adquiridas, para garantir a perfeita aquisição dos bens ou serviços necessários,
além de permitir clareza e exatidão por parte de quem está cotando os preços, no
caso, o fornecedor.

Dias e Costa (2000, p. 5) concluem que “não se pode, portanto, hoje, imaginar
um comprador preocupado unicamente com a conclusão de uma compra, sem
avaliar o impacto dessa operação em relação aos demais processos integrados à
cadeia produtiva ou operativa das organizações”.

Com isso, evidencia-se o papel estratégico das compras, que passa pela
sua função estratégica na organização, podendo transformar-se em vantagem
competitiva, desde que adequadamente desenvolvida e desempenhada na
instituição.

Os compradores, independentemente se público ou privado, precisam ter


um perfil vinculado às necessidades estratégicas da organização (...). Para que o
comprador tenha um desempenho satisfatório, faz-se necessário um aprimoramento
de suas competências e qualificações, que se consegue por meio do acúmulo de

118
TÓPICO 3 | RECURSOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS APLICÁVEIS AOS PROCESSOS LICITATÓRIOS – LEI Nº 8.666/93

conhecimento e capacitação, que irá determinar a diferenciação primordial entre


um comprador burocrático (reativo) ou um comprador moderno (proativo) (...).

  O papel do comprador reativo reflete uma posição mais tradicional e


burocrática da atividade de compras; em contrapartida, o papel do comprador
proativo mostra uma situação mais atual. Entretanto, como ressalta Lima (2004, p.
22), estas posições não são excludentes.

Na prática, esses papéis de compras não são excludentes, pois, mesmo em


organizações com a atividade de compras bem desenvolvida, a área de compras
adota, pelo menos em parte, uma postura reativa. Isto ocorre, por exemplo,
nas montadoras, quando da aquisição de produtos ou serviços de fornecedores
preestabelecidos pela matriz mundial (...). Entretanto, a dinâmica do relacionamento
com o compartilhamento de informações entre a montadora e o fornecedor no
processo faz com que as características do papel proativo de compras sejam mantidas.

Na realidade, o comprador reativo representa uma visão extremamente


simplista do ato de comprar, consiste apenas em encontrar um fornecedor que
esteja disposto a trocar os bens ou serviços exigidos por determinada quantia. Já
o comprador proativo tenta estabelecer parcerias com o fornecedor que permitam
compartilhar ideias e conhecimento necessários para o fechamento de uma boa
compra.

Esta abordagem estratégica, que concentra mais ênfase nas atividades


de negociação e de relacionamento do que em reagir, pura e simplesmente,
às necessidades dos usuários, necessitará de profissionais mais capacitados e
comprometidos institucionalmente no processo de modificar paradigmas e que
tenham uma visão institucional que perpasse todos os níveis da organização.

Os compradores públicos, de um modo geral, ainda estão longe de se


tornarem efetivamente proativos, resumidamente, por dois motivos: em primeiro
lugar, a legislação de licitação brasileira não permite ao comprador utilizar técnicas
de compras mais apuradas, pois estabelece normas e procedimentos rígidos que
inibem a capacidade de negociação do comprador público. Em segundo lugar,
apresenta-se a própria falta de capacitação profissional dos compradores públicos,
tanto do ponto de vista do entendimento total da legislação de licitação quanto da
falta de reciclagem e treinamento constante. Esta posição aos poucos está sendo
modificada, mas ainda se ouve de alguns compradores públicos a seguinte expressão:
“Não posso fazer diferente, pois a legislação não permite”. Este tipo de postura
precisa ser modificado, pois não cabe mais nos dias de hoje.

Neste sentido, Luiza, Castro e Nunes (1999, p. 774) alertam para a


falta de treinamento e motivação dos servidores envolvidos com as compras
institucionais, especialmente nas organizações de saúde, traçando um paralelo entre
o profissionalismo dos funcionários das empresas fornecedoras e a consequente

119
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

falta de treinamento dos compradores públicos, alertando que as organizações


compradoras, nesse caso, organizações públicas de saúde, são empresas nas quais,
via de regra, a missão institucional não está bem definida, as atividades-meio são
pouco profissionalizadas e os funcionários, consequentemente, mal treinados. (...)
O quadro é deveras desfavorável ao serviço público: de um lado fornecedores bem
equipados; de outro, uma organização constituída de servidores mal treinados
e frequentemente desmotivados, atendendo não aos interesses de seus clientes/
usuários, mas sim, exclusivamente, a interpretações da legislação.

As mudanças no perfil do comprador público acontecem devido a fatores


determinantes associados ao perfil das compras realizadas. Segundo Lima (2004, p.
47), esses fatores determinantes estão “associados aos novos fundamentos e objetivos
assumidos pelas organizações diante dos desafios do mundo contemporâneo
(globalização, novas tecnologias, novas exigências por parte do consumidor, maior
concorrência)”. Para o autor, “novas qualificações e perfis fazem parte dessa mudança
e se refletem no trabalho do comprador”.

Dentro deste contexto, pode-se acrescentar que o nível de desenvolvimento


de uma organização define o perfil do comprador. Segundo Baily e colaboradores
(2000, p. 440), esses níveis estão definidos entre os seguintes estágios:

Nível primitivo — a organização exige um escriturário que seja eficiente no


desempenho das rotinas de compras e das tarefas repetitivas;

Nível avançado — a organização empregará um profissional, possivelmente pós-


graduado, plenamente capaz de lidar com os assuntos estratégicos da empresa.

A função de compras dentro de uma instituição precisa projetar uma


imagem de profissionalismo e eficiência, além de estar propensa a colaborar
com os departamentos no alcance dos objetivos pretendidos. Os compradores
públicos precisam vislumbrar essa mudança, não só do ponto de vista do trabalho
desenvolvido, das atitudes, e do posicionamento ético, como do ponto de vista das
relações interpessoais existentes com os outros profissionais da instituição.

O comportamento ético do comprador público

O comportamento ético por parte dos compradores públicos é esperado


e exigido pela sociedade, com forte ligação com o conceito de moral. A ética é
considerada uma teoria ou ciência do comportamento moral dos homens na
sociedade, sendo um rol de conceitos aplicáveis às ações dos seres humanos, onde o
código de ética é estabelecido pelo padrão de conduta para pessoas com diferentes
entendimentos e experiências sociais sobre os acontecimentos da vida de cada um.
Lima (2004, p. 44) estabelece uma ligação do código de ética e a empresa, definindo
que a empresa moderna atua em cenários cada vez mais complexos, participando
de operações inovadoras, mesmo quando essas operações repetem atividades

120
TÓPICO 3 | RECURSOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS APLICÁVEIS AOS PROCESSOS LICITATÓRIOS – LEI Nº 8.666/93

antigas. O código de ética pode servir como prova legal da intenção da empresa, ou
seja, ele tem a missão de padronizar e formalizar o entendimento da organização
empresarial em seus diversos relacionamentos e operações. A existência do código
de ética evita que julgamentos subjetivos deturpem, impeçam ou restrinjam a
aplicação dos princípios.

Como a gestão de suprimentos lida normalmente com grandes somas


de dinheiro, e em função da necessidade habitual de constante contato com os
fornecedores, os compradores tendem a ter uma relação mais estreita, devido aos
longos anos de convivência. Dias e Costa (2000, p. 219) lembram dessa relação e
alertam para a necessidade do comprador se manter distante dos interesses dos
fornecedores, onde não obstante tudo isso, o comprador, durante a avaliação de um
processo de compra de determinado material ou de contratação de serviço, deve
manter-se equidistante de todos os fornecedores, evitando que aspectos pessoais
e subjetivos interfiram nas suas decisões, beneficiando um único fornecedor em
detrimento de outros e, consequentemente, da sua própria empresa. Nesse ponto,
nunca pode ser esquecido que o comprador profissional não está adquirindo materiais
ou serviços para si, mas para a organização que lhe paga salários, e é sempre desse
modo que ele tem de raciocinar ao avaliar as propostas dos fornecedores. Embora
possa parecer óbvia, a colocação anterior se constitui em alicerce do código de ética
de todo comprador profissional.

Antes que outros o façam, cabe ao próprio comprador observar seus hábitos
de conduta ao realizar uma compra, procurando nunca se deixar envolver com
situações alheias ao próprio negócio, não ficando, assim, em situação de submissão
durante uma negociação comercial.

A responsabilidade ética dos compradores públicos é para a empresa em


que trabalha, não permitindo que fornecedores coloquem à sua disposição qualquer
tipo de favor, do tipo monetário ou em forma de presentes, sendo altamente
recomendável que tais relações sejam mantidas em bases realmente equidistantes.
Cabe ao comprador público manter tal distância, pois por meio da sua postura e
de suas atitudes sinalizam aos vendedores que ali eles não conseguirão auferir
vantagens imorais.

Colaborando com essa premissa, Heinritz e Farrell (1994, p. 383) acreditam


que a responsabilidade ética do comprador, para com a empresa em que trabalha,
deva ser sempre seguida, e acrescentam que o encarregado de compras (comprador)
tem a responsabilidade ética, para com a sua empresa, de garantir que esta não
apenas mereça, mas na realidade obtenha, em sua esfera de atividades, a reputação
de fazer negócios estritamente corretos. Como ponto de contato nas negociações com
os vendedores, ele mantém, em grande parte, em suas próprias mãos a reputação
da empresa quanto àquele conceito. Pode ter a mais absoluta certeza de que suas

121
UNIDADE 2 | NORMAS GERAIS DA LICITAÇÃO COM BASE NA LEI Nº 8.666/93

ações e conduta são criticamente julgadas e que esse julgamento, favorável ou não,
é rapidamente disseminado entre a ampla classe de vendas (fornecedores).

Dias e Costa (2000, p. 220) ainda lembram que a ética, no âmbito da gestão
de suprimentos, é ainda mais abrangente do que simplesmente pautar a relação
comercial entre compradores e vencedores, pois se deve:

▼ Respeitar os horários agendados para as reuniões com os representantes das


empresas vencedoras. Encontramos muitos compradores que deixam pessoas
esperá-los por longo tempo, imaginando que tal postura aumentará o seu poder
de barganha durante o processo de compras. Nada mais ultrapassado e sem
cabimento;
▼ Prestar o melhor atendimento possível aos clientes internos, utilizando-se das
formas básicas de cortesia e esclarecendo sobre o andamento dos processos sob
a sua responsabilidade;
▼ Manter postura profissional durante almoços e confraternizações de negócios,
não se embriagando ou falando de assuntos reservados da sua empresa. Afinal,
nessas ocasiões, eles a estão representando.

Para Heinritz e Farrell (1994, p. 379), “o comprador público não apenas


deve agir com ética, mas deve, também, estar acima de qualquer suspeita de
comportamento contrário a ela”. Esse comportamento deve estar visível e aparente
nos atos do comprador, não apenas nos discursos. Diversos são os “códigos de ética”
publicados no mundo, que exprimem a necessidade de se estabelecer como prática
profissional aspectos e conduta que as tornem padrão para a prática das compras
efetuadas nas empresas. Baily e colaboradores (2000, p. 437) apresentam o código
desenvolvido pela National Association of Purchasing Practice (Napp), que trata como
princípios e padrões da prática de compras, os seguintes itens:

▼ Considerar em primeiro lugar os interesses da empresa em todas as transações


e praticar e acreditar nas políticas estabelecidas;
▼ ser receptivo ao aconselhamento competente dos colegas e orientar-se por tal
aconselhamento sem diminuir a dignidade e a responsabilidade de seu trabalho;
▼ comprar sem preconceito, procurando obter o valor final máximo para cada
unidade monetária gasta;
▼ conhecer com consciência os materiais e processos de produção e estabelecer
métodos práticos para conduzir o trabalho;
▼ apoiar e trabalhar pela honestidade e pela verdade nas compras e nas vendas e
denunciar todas as formas de pagamento de propina;
▼ na medida do possível, atender com rapidez e cortesia todas as pessoas que
exercem uma missão comercial legítima;
▼ cumprir as obrigações e exigir que as demais pessoas cumpram as suas, e que as
obrigações sejam consistentes com a boa prática empresarial;
▼ evitar as práticas desonestas, mesmo quando consideradas legais;
▼ sempre que possível, aconselhar e orientar outros compradores no desempenho

122
TÓPICO 3 | RECURSOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS APLICÁVEIS AOS PROCESSOS LICITATÓRIOS – LEI Nº 8.666/93

de seus deveres;
▼ cooperar com todas as organizações e indivíduos engajados nas atividades
destinadas a melhorar o desenvolvimento e a reputação da área de compras.

Os compradores públicos necessitam participar mais ativamente e


profissionalmente, não só do ponto de vista do trabalho efetivamente desenvolvido,
ou das atitudes apresentadas, mas, sobretudo, do comportamento ético e moral
durante todo o processo de aquisição das compras institucionais. Essa orientação
de mudança passa, também, pela incorporação de técnicas e rotinas que tornem
a administração pública mais eficaz e comprometida com a melhoria da sua
capacidade gerencial e administrativa.

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-


76122008000400003&script=sci_arttext>. Acesso em: 20 jan. 2015.

123
RESUMO DO TÓPICO 3
Acadêmico(a), ao final dos estudos do Tópico 3, você teve a oportunidade
de estudar os seguintes conteúdos:

• Reconhecer as espécies de recursos administrativos aplicáveis à licitação, sendo


estes: impugnação ao edital, recurso hierárquico, representação e pedido de
reconsideração;

• Identificar os recursos judiciais cabíveis nos processos licitatórios: mandado de


segurança, ação civil pública e ação popular.

124
AUTOATIVIDADE

1 Qual é a autoridade competente para a aplicação da sanção de declaração


de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública?

( ) Prefeito ou governador, conforme o caso.


( ) Ministro de Estado, Secretário Estadual e Municipal, conforme o caso.
( ) Presidente da República.
( ) Prefeito, Governador ou Presidente da República, conforme o caso.

2 A Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93) prevê como possibilidades de defesa


contra os atos da Administração:

( ) Recurso, representação e pedido de reconsideração.


( ) Representação e apelação.
( ) Somente pedido de reconsideração.
( ) Somente recurso.

125
126
UNIDADE 3

CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Esta unidade tem por objetivo apresentar ao(à) acadêmico(a):

• conhecer as etapas de formalização do contrato administrativo;

• identificar os principais contratos administrativos utilizados pela Admi-


nistração Pública;

• reconhecer as especificidades dos contratos administrativos entabulados


pela Administração Pública/Poder Público;

• distinguir as espécies de contratos administrativos e suas diretrizes espe-


cíficas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles, você
encontrará atividades que o(a) auxiliarão a fixar os conhecimentos desenvol-
vidos.

TÓPICO 1 – ESPECIFICIDADES DOS CONTRATOS

TÓPICO 2 – PRINCIPAIS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

TÓPICO 3 – REGRAS DIVERSAS APLICÁVEIS AOS CONTRATOS ADMI-


NISTRATIVOS

127
128
UNIDADE 3
TÓPICO 1

ESPECIFICIDADES DOS CONTRATOS

1 INTRODUÇÃO

Os contratos, sejam eles públicos ou privados, estão centrados em acordos


de vontades, possuindo determinado objetivo, nos quais os envolvidos se
comprometem a cumprir obrigações entabuladas/ajustadas.

Pela lógica, estes contratos são bilaterais, portanto, as manifestações das


vontades expressas nos contratos são bilaterais.

Sempre que o poder público, por meio de sua administração, firmar acordo
de vontades, compromissos ou obrigações com terceiros, estará formalizando um
contrato. A Administração Pública é regida pelo direito público, entretanto, alguns
contratos celebrados pela Administração Pública são regidos pelo direito privado.

Acadêmico(a), as regras gerais dos contratos administrativos também são


encontradas na Lei de Licitações, a Lei nº 8.666/93.

Estas e outras peculiaridades serão objeto de estudo neste tópico. Então,


vamos aos estudos!

2 CONTRATO DE ADMINISTRAÇÃO X CONTRATO


ADMINISTRATIVO
As diferenças essenciais deste contrato estão no seu regime jurídico,
podemos observar esta situação nos conceitos de Alexandrino e Paulo (2011, p.
501): “Contrato de administração é o ajuste firmado entre a administração pública
e particulares, no qual a administração não figura na qualidade de poder público,
sendo tal ajuste, por isso regido predominantemente pelo direito privado”.

Temos como exemplos de contrato de administração o contrato de locação,


em que a administração figura como locatária; os contratos de compra e venda de
ações; um contrato de compra e venda no qual uma sociedade de economia mista
esteja vendendo bens de sua produção etc.

Da mesma forma, Alexandrino e Paulo (2011, p. 500) descrevem contrato


administrativo como: “o ajuste firmado pela administração pública, agindo nesta
qualidade, com particulares, ou com outras entidades administrativas, nos termos

129
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

estipulados pela própria administração pública contratante, em conformidade


com o interesse público, sob regência predominante do direito público”.

Ou ainda em um conceito mais simplificado de Carvalho Filho (2011, p.161),


como “o ajuste firmado entre a Administração Pública e um particular, regulado
basicamente pelo direito público, e tendo por objeto uma atividade que, de alguma
forma, traduza interesse público”.

Estes contratos ditos administrativos são aqueles em que a Administração


Pública atua realmente na condição de poder público, com as características do
próprio direito público.

3 CARACTERÍSTICAS DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS


Temos características denominadas de genéricas para os contratos
administrativos, as quais estão relacionadas abaixo, e são assim identificadas
porque as encontramos também nos contratos particulares. Essas características
foram elencadas por Nohara (2013):

• Consensualidade: que deriva de acordo de vontades.


• Formalidade: deve ser, via de regra, escrito e obedecer a diversos requisitos
formais.
• Onerosidade: é geralmente remunerado.
• Comutatividade: assegura vantagens recíprocas.
• Firmado intuitu personae: obriga o contratado a realizar o contrato, não se
permitindo, salvo nos limites fixados à subcontratação.
• Natureza de contrato de adesão: as cláusulas são preestabelecidas pela
Administração e normalmente constam em forma de minuta do próprio
instrumento convocatório da licitação, sendo fiéis às determinações contidas em
leis e regulamentos.

Da mesma forma, Nohara (2013) informa as caraterísticas específicas dos


contratos administrativos:

1. Participação do Poder Público ou da Administração Pública, com parte


contratante.
2. Finalidade de atendimento ao interesse público, que gera a mutabilidade do
contrato.
3. Obediência ao procedimento prévio de licitação, à exceção dos casos de
contratação direta permitida nas hipóteses legais.
4. Presença de cláusula exorbitante, baseada na supremacia do interesse público,
veiculado pela Administração.

130
TÓPICO 1 | ESPECIFICIDADES DOS CONTRATOS

FIGURA 4 - CARACTERÍSTICAS DOS CONTRATOS PARTICULARES E ADMINISTRATIVOS

GENÉRICAS
ESPECÍFICAS DO CONTRATO
PARTICULARES
ADMINISTRATIVO
E ADMINISTRATIVOS
• Administração Público
• Consensualidade
• Finalidade: interesse público
• Formalidade
• Licitação como regra
• Onerosidade
• Presença de cláusulas exorbitantes
• Comutatividade
• Intuitu personae
• De adesão

FONTE: A autora

3.1 FORMALIDADES DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS


Quando a Administração Pública, ou seja, o Poder Público, celebra um
contrato administrativo, este é formal, ou seja, temos o predomínio do formalismo.
É realizado desta forma para garantir a transparência e o controle dos atos da
Administração Pública.

Existe a exigência legal de que todos os contratos firmados pela


Administração Pública sejam feitos de forma escrita. Vejamos o artigo 60, da Lei de
Licitações (Lei nº 8.666/93), em seu parágrafo único:

Parágrafo único.  É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a


Administração, salvo o de pequenas compras de pronto pagamento,
assim entendidas aquelas de valor não superior a 5% (cinco por
cento)  do limite estabelecido no art. 23, inciso II, alínea "a" desta Lei,
feitas em regime de adiantamento (grifo nosso).

Você pode observar, acadêmico(a), que temos uma exceção à regra, ou seja,
as “pequenas compras” podem ser realizadas por contrato verbal.

Na continuidade da análise do artigo 60, temos que o valor pequeno


representa 5% do limite estabelecido em outro artigo desta lei, o artigo 23, II, alínea
a, ou seja, hoje, representam 5% de R$ 80.000,00, que é o valor máximo da carta-
convite, o que representa R$ 4.000,00 (quatro mil reais).

Para que o contrato seja eficaz, o artigo 61 da Lei de Licitações, em seu


parágrafo único, traz a informação de que este contrato e seus aditamentos devem
ser publicados na imprensa oficial, e esta publicação deve ocorrer até o quinto dia
útil do mês seguinte ao de sua assinatura. Vemos abaixo esta informação legal:

131
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Parágrafo único. A publicação resumida do instrumento de contrato ou


de seus aditamentos na imprensa oficial, que é condição indispensável
para sua eficácia, será providenciada pela Administração até o quinto
dia útil do mês seguinte ao de sua assinatura, para ocorrer no prazo de
vinte dias daquela data, qualquer que seja o seu valor, ainda que sem
ônus, ressalvado o disposto no art. 26 desta Lei.

Ratificando a formalidade exigida, temos no artigo 61 outras regras que


devem ser observadas no momento da contratualização pelo Poder Público:

Art.  61. Todo contrato deve mencionar os nomes das partes e os de


seus representantes, a finalidade, o ato que autorizou a sua lavratura, o
número do processo da licitação, da dispensa ou da inexigibilidade, a
sujeição dos contratantes às normas desta Lei e às cláusulas contratuais
(grifo nosso).

Na análise de Nohara (2013), o contrato pode ser materializado por:

a) Instrumento de contrato, sendo obrigatório para a concorrência, tomada de


preços e nas contratações diretas com preços elevados ou médios.
b) Carta-contrato.
c) Nota de empenho de despesa.
d) Autorização de compra.
e) Ordem de execução de serviço.

Para assegurar a publicidade dos contratos administrativos, a lei permite


que qualquer licitante ou interessado tenha conhecimento dos termos dos contratos:

Art. 63. É permitido a qualquer licitante o conhecimento dos termos do


contrato e do respectivo processo licitatório e, a qualquer interessado, a
obtenção de cópia autenticada, mediante o pagamento dos emolumentos
devidos.

A lei igualmente exige que a Administração Pública mantenha um arquivo


cronológico dos contratos celebrados. Quando o Poder Público lança o edital de
licitação, que é a “lei entre as partes”, o futuro contrato já integra este instrumento
convocatório de licitação.

Então, acadêmico(a), quando você acessar um edital de licitação, observe a


existência de um contrato que será celebrado posteriormente.

132
TÓPICO 1 | ESPECIFICIDADES DOS CONTRATOS

FIGURA 5 – ASPECTOS DAS FORMALIDADES

FONTE: A autora

3.2 CLÁUSULAS ESSENCIAIS


As cláusulas essenciais dos contratos administrativos estão descritas
no artigo 55 da Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93). Segundo Nohara (2013), elas
estabelecem:

• o objeto e seus elementos característicos;


• o regime de execução ou a forma de fornecimento;

133
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

• o preço e as condições de pagamento, os critérios, data-base e periodicidade do


reajustamento dos preços, os critérios de atualização monetária em relação à
data do efetivo pagamento;
• os prazos de início de execução, conclusão e entrega;
• o crédito pelo qual correrá a despesa, com a indicação de classificação funcional
programática e da categoria econômica;
• as garantias, quando exigidas;
• os direitos e as responsabilidades das partes, as penalidades cabíveis e os valores
das multas;
• os casos de rescisão;
• os direitos da Administração, em caso de rescisão administrativa;
• condições de importação, data e taxa de câmbio, se for o caso;
• vinculação ao instrumento convocatório ou ao termo que autorizou a contratação
direta e também a proposta do licitante vencedor;
• legislação aplicável à execução e aos casos de omissão;
• obrigação de o contratado manter, durante toda a execução do contrato, em
compatibilidade com as obrigações por ele assumidas, todas as condições de
habilitação e qualificação exigidas na licitação.

Todas estas cláusulas devem estar descritas no edital e, quando o contrato


for celebrado, em momento algum poderá haver afastamento destas regras legais.

3.3 CONTRATO DE ADESÃO


Quando falamos de contrato de adesão, estamos nos referindo àqueles
contratos nos quais uma das partes propõe as cláusulas e a outra parte que integra
o contrato não poderá propor alterações, supressões ou acréscimos.

Os contratos administrativos, nos quais a Administração Pública figura


como uma das partes, são reconhecidamente contratos de adesão.

A autonomia da parte envolvida em um contrato de adesão se resume a


não celebrar o contrato.

O artigo 55 que vimos acima descreve inúmeras cláusulas que devem


obrigatoriamente integrar os contratos administrativos. Como o contrato já integra
o edital, os interessados em contratar com a Administração Pública podem decidir
antecipadamente se desejam participar do processo licitatório aceitando a “regra
do jogo”.

3.4 PESSOALIDADE (intuitu personae)


Na interpretação do intuitu personae entende-se que, em regra, a execução
dos contratos celebrados pela Administração Pública deve ser efetuada ou levada
a termo pela pessoa física ou jurídica que assumiu a obrigação perante o Poder
Público.

134
TÓPICO 1 | ESPECIFICIDADES DOS CONTRATOS

Segundo Alexandrino e Paulo (2011, p. 505), a relação de natureza pessoal


dos contratos administrativos “decorre do fato de serem celebrados após a
realização de um procedimento licitatório, que visa não só selecionar a proposta
mais vantajosa, mas também a selecionar uma pessoa física ou jurídica, que ofereça
condições de assegurar a adequada execução do que foi contratado”.

Em razão desta natureza pessoal dos contratos administrativos, em


princípio não será possível a subcontratação, ou seja, o contratado não pode
“transferir” a terceiros a execução do objeto do contrato.

A subcontratação será possível, como exceção, em uma situação de


subcontratação parcial, desde que prevista no edital e no contrato e, claro, seja
caso a caso autorizada pela Administração Pública. Existe em lei igualmente uma
proibição de subcontratação expressa (escrita) no caso da prestação de serviços
especializados (art. 13, § 3º).

3.5 DURAÇÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO


A possibilidade do prazo de vigência do contrato administrativo ser
indeterminado é proibida. Os contratos administrativos têm sua vigência
condicionada aos exercícios orçamentários e aos respectivos créditos.

As exceções, em razão do prazo do contrato administrativo, são encontradas


no artigo 57 da Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93), sendo elas analisadas por Nohara
(2013):

1. projetos contemplados no Plano Plurianual (PPA), que poderão ser prorrogados


se houver interesse por parte da Administração e desde que haja previsão da
prorrogação no ato convocatório;
2. prestação de serviços a serem executados de forma contínua, como exemplo
temos a segurança, a limpeza, que poderão ter sua duração prorrogada por
iguais e sucessivos períodos, com o limite de 60 meses, buscando obter preços e
condições mais vantajosas para a Administração, havendo ainda a possibilidade
de prorrogação excepcional de 12 meses (após os 60 meses) (descrição contida
no art. 57, § 4º, da Lei nº 8.666/93);
3. aluguel de equipamentos e utilização de programas de informática, até 48 meses
do início da vigência do contrato.

Total e qualquer prorrogação de prazo contratual deve ser justificada


por escrito, devendo obviamente constar a autorização prévia da autoridade
competente para que esta prorrogação possa ser celebrada entre as partes

Prorrogação de contrato não deve ser confundida com prorrogação de prazo


para a execução do objeto. A prorrogação da execução do objeto está relacionada
aos prazos de início, execução, conclusão e entrega do objeto contratado.

135
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

FIGURA 6 – DURAÇÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO

FONTE: A autora

3.6 CLÁUSULAS EXORBITANTES


As cláusulas exorbitantes diferenciam os contratos particulares dos
contratos públicos. São assim chamadas porque extrapolam as cláusulas comuns
de direito privado e, claro, estas não seriam admitidas pelo direito privado.

Nas palavras de Alexandrino e Paulo (2011, p. 506), “a expressão cláusula


exorbitante deve ser utilizada como sinônimo de prerrogativas especiais da
administração pública nos contratos administrativos, decorrentes do regime
jurídico de direito público (...) derivadas do princípio da supremacia do interesse
público (...)”.

As principais cláusulas exorbitantes estão elencadas no artigo 58 da Lei nº


8.666/93 e seguem enumeradas, sendo elas que possibilitam que a Administração
Pública possa:

136
TÓPICO 1 | ESPECIFICIDADES DOS CONTRATOS

• modificar o contrato, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de


interesse público, respeitando os direitos do contratado;
• rescindir o contrato, unilateralmente, nos casos especificados em lei;
• fiscalizar a execução do contrato;
• aplicar sansões motivadas pela inexecução total ou parcial do ajuste;
• no caso de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis,
pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da necessidade
de acautelar a apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado,
bem como na hipótese de rescisão do contrato administrativo.

3.6.1 Alteração unilateral do contrato


Os interesses públicos são variáveis e indisponíveis. A ideia da alteração
unilateral do contrato administrativo deve estar pautada na melhor adequação
deste contrato ao interesse e finalidade pública. O agente público precisa ficar
atento às necessidades da Administração Pública, buscando adequar o objeto do
contrato aos interesses do coletivo.

Entretanto, para alteração das cláusulas econômico-financeiras, é


necessária e indispensável a concordância do contratado (art. 58, § 1º e 2º).

O artigo 65 da Lei nº 8.666/93, em seu inciso I, prevê as possibilidades de


alteração do contrato unilateralmente pela Administração Pública, sendo:

1. qualitativa (alínea a): envolve a modificação do projeto ou das especificações


para melhor adequação técnica aos seus objetivos;
2. quantitativa (alínea b): envolve a modificação do valor contratual em decorrência
de acréscimos ou diminuição da quantidade de seu objeto nos limites previstos
na lei.

Os limites estabelecidos para as modificações são:

a) 25% de acréscimo ou supressão do valor do contrato de obras, serviços e


compras;
b) 50% de acréscimo no valor do contrato em reforma de edifício ou equipamento.

Desde que sejam obedecidos aos limites legais, o contratado é obrigado a


aceitar os acréscimos e as supressões realizados pelo Poder Público, é importante
obviamente que este contratado conheça antecipadamente as normas/regras que
determinam os contratos firmados com a Administração Pública.

137
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

FIGURA 7 – ESPECIFICIDADES ALTERAÇÃO UNILATERAL DO CONTRATO ADMINISTRATIVO

ALTERAÇÃO UNILATERAL

FONTE: A autora

3.7 POSSIBILIDADE DE RESCISÃO UNILATERAL DO


CONTRATO ADMINISTRATIVO
Nohara (2013, p. 412) informa que “a rescisão unilateral da Administração
ocorre por escrito pelos seguintes motivos: por motivos associados ao particular,
no caso fortuito ou força maior e pela Administração”.

Em qualquer uma das hipóteses descritas, a rescisão unilateral deve ser


devidamente fundamentada, sendo garantido ao contratado a ampla defesa e o
contraditório.

É importante que se esclareça que esta possibilidade de rescindir


unilateralmente o contrato não existe no direito privado, a Administração Pública
é regida em regra pelo direito público e, portanto, tem uma supremacia jurídica
diante do particular por representar e agir em razão do interesse público.

Os motivos vinculados ao particular, que podem desencadear em rescisão


unilateral, estão previstos no artigo 78, da Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93),
conforme descrição a seguir:

• Não cumprimento ou cumprimento irregular de cláusulas contratuais,


especificações, projetos ou prazos.
• Lentidão do cumprimento, levando a Administração Pública a comprovar a
impossibilidade de conclusão do pactuado nos prazos estabelecidos.

138
TÓPICO 1 | ESPECIFICIDADES DOS CONTRATOS

• Atraso injustificado no início da obra, serviço ou fornecimento.


• Paralisação sem justa causa e prévia comunicação à Administração.
• Subcontratação, associação de outrem, cessão, transferência, fusão, cisão ou
incorporação não admitidas no edital ou contrato.
• Desatendimento de determinações regulares de autoridades em atividades de
fiscalização do contrato.
• Cometimento reiterado de faltas na execução do contrato.
• Decretação de falência ou a instauração de insolvência civil.
• Dissolução da sociedade ou o falecimento do contratado.
• Alteração social ou a modificação da finalidade ou da estrutura da empresa,
que prejudique a execução do contrato.
• Descumprimento das normas constitucionais que protegem o trabalho do
menor (art. 7º, da Constituição de 1988), sem prejuízo das sanções possíveis.

Diante desta perspectiva e o particular dando motivos para que a


Administração Pública proceda à rescisão unilateral, de acordo com o artigo 80 da
Lei de Licitações, o Poder Público poderá:

• Assumir imediatamente o objeto contratado.


• Ocupar e utilizar o local, instalações, equipamentos, material e pessoal
empregados na execução do contrato, necessários à sua continuidade, caso em
que o ato deve ser precedido de autorização expressa do Ministro de Estado
competente ou do Secretário Estadual ou Municipal.
• Executar a garantia contratual.
• Reter créditos até o limite dos prejuízos causados.

A inexecução contratual por parte do particular, segundo Nohara (2013),


pode ser ocasionada:

a) Com culpa: que dá ensejo à rescisão pela Administração e às responsabilidades


civil, administrativa e, eventualmente, até criminal do particular.
b) Sem culpa, em que pode haver alegação da teoria da imprevisão.

Os fatos atribuídos à Administração Pública que podem ensejar a rescisão


unilateral do contrato, e que deixam evidente a diferença do regime público que
possibilita as exorbitâncias nos contratos administrativos para o Poder Público,
constam no artigo 78, da Lei nº 8.666/93, e são os seguintes:

1) Por razões de interesse público, de alta relevância e amplo conhecimento,


justificadas e determinadas pela máxima autoridade da esfera administrativa a
que está subordinado o contratante e exaradas no processo administrativo a que
se refere o contrato (art.78, XII).
2) Supressão de obras, serviços, ou compras, com modificação do valor do contrato
além dos limites permitidos (art.78, XIII).
3) Suspensão da execução, por ordem escrita da Administração por prazo maior
do que 120 dias, salvo em caso de calamidade pública, grave perturbação da
ordem interna, ou por repetidas suspensões que totalizem o mesmo prazo,

139
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

sendo possível ao particular optar (em vez da rescisão) pela suspensão do


cumprimento das obrigações assumidas até que seja normalizada a situação
(art. 78, XIV).
4) Atraso superior a 90 dias dos pagamentos devidos pela Administração,
decorrentes de obras, serviços ou fornecimentos, ou parcela destes, salvo em caso
de calamidade pública, grave perturbação da ordem interna ou guerra, sendo
possível ao particular o direito de optar (em vez da rescisão) pela suspensão do
cumprimento de suas obrigações, até a normalização da situação (art. 78, XV).
5) A não liberação da área, local ou objeto para execução da obra, serviço ou
fornecimento, nos prazos contratuais, bem como das fontes de materiais naturais
especificadas no projeto (art.78, XVI).

Destas decisões da Administração Pública de rescisões reconhecidas


como atos unilaterais, cabe recurso com prazo de 5 (cinco) dias a contar do ato da
intimação. Esta situação está prevista no artigo 109, alínea e, da Lei nº 8.666/93.

Nas situações descritas acima, nas quais a Administração Pública dá


rescisão do contrato por fato atribuído à Administração (itens 1 a 5), ou ainda por
situações de casos fortuito ou força maior, não havendo culpa do contratado, este
terá direito (artigo 79, § 2º):

• Ao ressarcimento pelos prejuízos comprovados.


• À devolução da garantia do contrato.
• Aos pagamentos devidos pela execução do contrato até a data da rescisão.
• Ao pagamento pelo custo de desmobilização.

Não existe previsão legal para que o contratado possa efetuar a rescisão
unilateral. A possibilidade para o contratado se achar necessário ou desejável é
solicitá-la amigavelmente ou judicialmente.

140
TÓPICO 1 | ESPECIFICIDADES DOS CONTRATOS

FIGURA 8 – CARACTERÍSTICAS DA RESCISÃO UNILATERAL DO CONTRATO ADMINISTRATIVO

FONTE: A autora

Encerramos este tópico, acadêmico(a). No próximo estaremos conhecendo


as espécies de contratos administrativos. Até lá!

141
RESUMO DO TÓPICO 1

Acadêmico(a), ao final dos estudos deste tópico você saberá:

• Distinguir contratos de administração de contratos administrativos.

• Descrever as principais características dos contratos administrativos.

• Identificar as formas e regras legais para a rescisão e alteração do contrato


administrativo.

142
AUTOATIVIDADE

1 Considere as afirmações abaixo que se prestam a descrever as prerrogativas


da Administração Pública quando atua na condição de contratante
para aquisição de bens ou serviços e execução de obras, observada nas
denominadas cláusulas exorbitantes do contrato administrativo:

I. Possibilidade de rescisão unilateral, pela Administração, por razões de


interesse público, de alta relevância e amplo conhecimento, justificadas e
exaradas, no processo correspondente, pela autoridade competente. 

II. Possibilidade de modificação unilateral pela Administração, para alteração


da equação econômico-financeira original sem autorização do contratado.

III. Proibição do direito de ressarcimento para o contratado quando da rescisão


unilateral do contrato administrativo decorrente de fato da administração
pública, sem culpa do contratado.

Está correto o que se afirma APENAS em:

a) ( ) I.
b) ( ) II e III.
c) ( ) I e II.
d) ( ) I e III.

2 Em virtude do princípio do formalismo, os contratos administrativos devem


ser formalizados por meio de instrumento escrito, salvo os de pequenas
compras para pronto pagamento, em que se admite contrato verbal com a
administração pública.

( ) Certo.
( ) Errado.

3 A Administração celebrou contrato tendo por objeto a utilização de


programas de informática e, identificando condições financeiras vantajosas
para a manutenção do referido contrato por mais de um exercício, poderá
prever, com base nas disposições da Lei nº 8.666/1993:

a) ( ) A extensão da duração do contrato por até 48 meses após o início de sua


vigência.
b) ( ) Sucessivas prorrogações, até o limite de 60 (sessenta) meses, por iguais
períodos.
c) ( ) A duração do contrato adstrita à vigência dos correspondentes créditos
orçamentários, desde que previstos no Plano Plurianual.

143
d) ( ) A possibilidade de prorrogação do contrato até 60 (sessenta) meses e,
excepcionalmente, por mais 12 (doze) meses, mediante justificativa da
autoridade competente.
e) ( ) A extensão da duração do contrato por até 48 meses, desde que previsto
no Plano Plurianual, e por mais 12 (doze) meses em caráter excepcional.

4 É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a Administração:

a) ( ) Salvo o de serviços comuns, de pronto pagamento, assim entendidos os


que atendam a especificações usuais de mercado, de valor não superior a 4
mil reais.
b) ( ) Salvo o decorrente de dispensa de licitação.
c) ( ) Salvo o decorrente e inexigibilidade de licitação.
d) ( ) Salvo o de pequenas compras de pronto pagamento, assim entendidas
aquelas de valor não superior a 4 mil reais, feitas em regime de adiantamento.

5 No decorrer da execução de contrato de obra pública, quando a contratada,


sem nenhuma causa justificadora, dá ensejo a diversos atrasos na execução
do cronograma definido, deverá a Administração:

a) ( ) Rescindir unilateralmente o contrato.


b) ( ) Rescindir amigavelmente o contrato.
c) ( ) Revogar o contrato.
d) ( ) Anular o contrato.
e) ( ) Rever o contrato.

144
UNIDADE 3
TÓPICO 2

PRINCIPAIS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

1 INTRODUÇÃO

Assim como em outras situações da Administração Pública, os contratos


administrativos, de acordo com seu objeto ou outras peculiaridades, são
identificados em algumas espécies.

Abaixo, relembramos algumas características e situações peculiares dos


contratos administrativos e contratos particulares.

QUADRO 8 - DISTINÇÃO ENTRE OS CONTRATOS


CONTRATOS CIVIS
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
(PARTICULARES)

• Regidos pelo Direito Civil. • As regras são de direito público, possuindo como uma
das bases a Lei nº 8.666/93.
• As partes (contratante/
contratado) farão a negociação e • Não existe uma negociação prévia entre as partes.
irão buscar um consenso para os Aqueles que participarem, por exemplo, de uma licitação
direitos e obrigações. devem se adequar às disposições de lei imposta ao e pelo
Poder Público/Administração Pública, não havendo a
• As partes (contratante/ possibilidade do consenso entre as partes.
contratado) estarão em um
mesmo patamar de igualdade. • Neste contrato as partes (contratante/contratado) não
se encontram na condição de iguais (igualdade). A
• O contrato é lei entre as partes Administração Pública atua respaldada pelo princípio
(contratante/contratado) e, da supremacia do interesse público, encontrando-se em
portanto, a alteração em regra posição privilegiada.
não poderá acontecer.
• O contrato administrativo não será lei entre as partes
(contratante/contratado). A Administração Pública a
qualquer tempo pode alterar o contrato administrativo,
até mesmo unilateralmente (obviamente observados os
dispositivos legais), caso haja modificação no interesse
público.
FONTE: A autora

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UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Também já sabemos, acadêmico(a), que os contratos administrativos são


originados dos processos licitatórios que igualmente são regidos pela Lei de
Licitações (Lei nº 8.666/93).

Este tópico terá como objeto de estudo algumas das espécies de contratos
administrativos. Convido você a saber um pouco mais sobre eles.

Vamos aos estudos!

2 CONTRATOS DE OBRA PÚBLICA


Encontramos o conceito de obra pública no art. 6º, da Lei nº 8.666/93, que
define como obra “toda construção, reforma, fabricação, recuperação ou ampliação
de determinado bem público”.

Este conceito compreende os bens utilizados para atividades administrativas


ou de uso da coletividade. Temos como exemplos escolas, viadutos, represas,
prédios públicos, obras sanitárias etc.

Carvalho Filho (2011) traz algumas especificações para o conceito de obra


pública:

• Construção: resulta de atividades e materiais destinados à criação do bem.


• Reforma: é o conjunto de alterações que esse bem pode sofrer, sem que seja
ampliado.
• Ampliação: pressupõe também que o bem já exista, mas que pelo contrato
receberá acréscimo em suas dimensões.
• Fabricação: indica o sentido de criação do bem.
• Recuperação: o contrato é estabelecido especialmente para a recuperação do
bem.

Para os contratos de obra pública, temos uma distinção na condição de sua


execução, que pode ser realizada diretamente pelos órgãos e entidades da própria
administração, com seus próprios meios (art. 6º, VII), ou de execução indireta
quando executada mediante contratação de terceiros (art. 6º, VIII, e art. 10, I e II).

Os regimes de execução indireta de obra pública estão previstos na Lei nº


8.666/93, em seu artigo 10, inciso II, sendo estes:

a) Empreitada por preço global.


b) Empreitada por preço unitário.
c) Empreitada integral.
d) Tarefa.

Vamos conhecer algumas características destes regimes de execução!

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TÓPICO 2 | PRINCIPAIS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

a) Empreitada por preço global:

O regime de execução indireta por empreitada por preço global considera


que o preço ajustado leva em consideração a obra como um todo. Nesta forma
de execução de contrato é fixado um preço certo (que eventualmente pode ser
reajustado).

Tratando-se de empreitada, o empreiteiro contratado pode fazê-lo apenas


com a disposição de seu trabalho, ou pode também fornecer os materiais.

b) Empreitada por preço unitário:

Esta forma de execução de contratos é o mais adequado para obras que


tenham partes distintas ou que sejam determinadas por medidas (metro quadrado
construído, metros cúbicos de concretos etc.).

O pagamento é efetuado após o recebimento pela administração de cada


unidade. A previsão legal está na Lei nº 8.666/93, art. 6º, VIII, b.

c) Empreitada Integral:

Vamos trazer a descrição contida na Lei nº 8.666/93, artigo 6º, VIII, alínea e:

e)  empreitada integral  -  quando se contrata um empreendimento em


sua integralidade, compreendendo todas as etapas das obras, serviços
e instalações necessárias, sob inteira responsabilidade da contratada
até a sua entrega ao contratante em condições de entrada em operação,
atendidos os requisitos técnicos e legais para sua utilização em
condições de segurança estrutural e operacional e com as características
adequadas às finalidades para que foi contratada.

De forma resumida, a execução por empreitada integral tem por finalidade


a execução de obras de maior vulto e complexidade, podendo abranger não só
obras, mas também serviços.

d) Tarefa:

A característica deste regime de contratação é a contratualização de mão


de obra para pequenos trabalhos por preço certo, com ou sem fornecimento de
materiais (art. 6º, VIII, d).

Em razão de algumas situações de contratação aleatória por parte de órgão


ou instituições públicas, a lei também regulamentou algumas condições específicas
de contratação.

Veremos na descrição de Carvalho Filho (2011) estas condições específicas


que devem ser atendidas para que a contratação da obra pública possa efetivamente
ser realizada:

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1) Projeto básico: definição prévia da obra a ser contratada. Antes das ações para
contratação a Administração Pública deve delinear o projeto da obra, indicando
os motivos de sua realização, a extensão, o tempo de sua duração, previsão de
gastos além de outros elementos que possam defini-la. Este projeto básico deve
estar devidamente aprovado pela autoridade competente (Art. 7º, § 2º, Lei nº
8.666/93).

2) Projeto Executivo: é o instrumento que indica os elementos necessários à


execução completa da obra. Este projeto deve evidenciar aspectos relacionados
à segurança, funcionalidade, economicidade, durabilidade, adequação de
técnicas e utilização de mão de obra na obra a ser executada (Art. 6º, X, Lei nº
8.666/93).

3) Padronização: as obras devem seguir determinado padrão sempre que tiverem o


mesmo objetivo. As exceções são aplicadas quando houver alguma especificidade/
particularidade com relação ao local ou à natureza do empreendimento.

4) Integralidade: havendo previsão orçamentária para a execução da obra, esta


deve ser programada em sua totalidade, devendo ser considerados os custos e
os prazos de execução (Art. 8º, Lei nº 8.666/93). As obras podem ser parceladas
se houver razões técnicas e econômicas plenamente justificáveis.

Para as situações de regime de contratação por empreitada, temos ainda a


acrescentar que na contratação só para a realização da obra sem o fornecimento de
matérias temos a “empreitada de lavor”; se o empreiteiro fornece, além da obra, os
materiais, temos a “empreitada mista”.

Alerta Nohara (2013, p. 440): “no contrato de empreitada não há


subordinação do empreiteiro (que não é empregado) à Administração Pública. No
entanto, o Estado responde objetivamente se a execução da obra ou serviço causar
dano a terceiro, sendo-lhe assegurado o direito de regresso em face do empreiteiro,
se ele tiver agido com culpa”.

O empreiteiro não é servidor público, nem empregado do órgão ou entidade


do Poder Público. O empreiteiro assume perante o Poder Público a responsabilidade
pela execução da obra.

3 CONTRATOS DE SERVIÇOS
Buscando novamente os conceitos contidos na Lei nº 8.666/93, temos em
seu artigo 6º, II, a definição de serviço como:

II -  Serviço  -  toda atividade destinada a obter determinada utilidade


de interesse para a Administração, tais como: demolição, conserto,
instalação, montagem, operação, conservação, reparação, adaptação,
manutenção, transporte, locação de bens, publicidade, seguro ou
trabalhos técnico-profissionais.

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TÓPICO 2 | PRINCIPAIS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Estes contratos administrativos são conhecidos habitualmente pela


denominação de Contratos de Prestação de Serviços. Da mesma forma que o
contrato de obra pública, o contrato de serviços necessita de prévia programação
por meio do projeto básico e do projeto executivo aprovados pela autoridade
competente.

O regime de execução dos contratos administrativos de serviços também


admite os regimes de empreitada por preço global, empreitado por preço unitário,
empreitada integral e tarefa.

Estes contratos administrativos fazem referência aos serviços prestados


para a Administração Pública e não a contratação de atividades para prestação de
serviços públicos.

A delegação de serviços públicos a particulares deve ser feita por meio da


celebração de contrato de concessão ou de permissão de serviço público, para os
quais antecedem um processo licitatório. Estes contratos acadêmicos estudaremos
daqui a pouco!

Reconhecemos para a contratualização de serviços aqueles classificados


como comuns e técnico-profissionais.

Os serviços comuns podem ser interpretados por sua própria essência,


ou seja, são comuns, não necessitam de nenhuma habilitação ou competência
específica. Para exemplificar, podemos citar os serviços de limpeza, pintura etc.

Os serviços técnico-profissionais, de forma contrária, necessitam de


habilitação legal, competências específicas, eventualmente necessitam de alguma
formação em níveis de graduação diferenciados ou ainda vinculação/registro em
órgãos legalmente determinados.

A Lei nº 8.666/93, em seu artigo 13, enumerou os serviços-técnicos


especializados como aqueles com relação a:

Art.  13.   Para os fins desta Lei, consideram-se serviços técnicos


profissionais especializados os trabalhos relativos a:

I - estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou executivos;


II - pareceres, perícias e avaliações em geral;
III  -  assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou
tributárias; 
IV - fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;
V - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;
VI - treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
VII - restauração de obras de arte e bens de valor histórico.

A contratação de serviços técnico-profissionais deve ser precedida de


licitação, preferencialmente na modalidade concurso, havendo uma definição
prévia de prêmio ou remuneração.
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Um serviço que também pode ser enquadrado nesta categoria de contrato


administrativo de serviços é o serviço artístico, para o qual temos a inexigibilidade
de licitação.

4 CONTRATOS DE FORNECIMENTO
Carvalho Filho (2011, p.172) conceitua contratos de fornecimento “aqueles
que se destinam à aquisição de bens móveis necessários à consecução dos serviços
administrativos”. Para que a Administração Pública possa atingir os fins a que
se destina, precisa rotineiramente adquirir bens de muitas espécies, pois suas
atividades ou seus serviços prestados são de diversas espécies. Exemplificando,
prestando serviços de saúde precisará adquirir material cirúrgico, medicamentos,
equipamentos médicos hospitalares, dentre outros; prestando serviços de educação
precisará adquirir carteiras, material escolar, livros, quadros etc.

Antes da celebração dos contratos de fornecimento, o Poder Público


deve caracterizar o objeto das compras e delimitar os recursos financeiros para o
pagamento dos fornecedores.

Quando a Administração Pública efetua suas compras, deve observar e


atender as diretrizes específicas em razão desta contratação, sendo que elas estão
descritas em lei, de forma mais clara na Lei nº 8.666/93, no artigo 15, seus incisos,
como veremos a seguir.

O princípio da padronização (art. 15, I), que descreve que em algumas


ocasiões os bens devem possuir as mesmas características técnicas. Tal diretriz
específica busca trazer o contexto da economicidade na atuação do Poder Público.

O registro de preços é outra diretriz específica (art. 15, II), e é compreendido


como necessidade para que se obtenha certa uniformidade e regularidade na
aquisição dos bens. Neste método utiliza-se a ata do registro de preços.

Encontramos na obra de Alexandrino e Paulo (2011) os tipos de contrato de


fornecimento, sendo eles:

Fornecimento integral: semelhante à compra e venda, onde a coisa é


entrega de uma só vez em sua totalidade.

Fornecimento parcelado: situação em que a parte total a ser entregue é


fracionada em prestações certas e determinadas.

Fornecimento contínuo: situação em que existe a entrega de bens de


consumo de forma habitual ou permanente, de forma sucessiva prolongando-se
no tempo pelo período estipulado como de duração do contrato.

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TÓPICO 2 | PRINCIPAIS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

5 CONTRATOS DE CONCESSÃO
Nesta espécie de contrato administrativo a Administração Pública concede,
ou seja, confere ao particular os seguintes objetos:

• O exercício de serviço público.


• A execução da obra pública.
• O uso do bem público.

De acordo com a Lei nº 8.987/95, em seu artigo 2º, inciso II, considera-se
concessão de serviço público:

 A delegação de sua prestação.


 Feita pelo poder concedente.
 Mediante licitação, na modalidade concorrência.
 À pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu
desempenho, por sua conta e risco.
 Por prazo determinado.

A concessão obrigatoriamente é precedida de licitação, na modalidade


concorrência, entende-se portanto que os valores são de grande vulto econômico.
A participação nas licitações de concessões de serviços públicos é possível para
pessoas jurídicas de forma individual ou ainda na forma de consórcio.

O prazo deverá ser estabelecido no edital de licitação e no contrato, devendo


neste constar explicitamente, entretanto, a lei não fala sobre um prazo máximo.

Quando destacamos o prazo, Nohara (2013, p. 480) descreve: “a fixação


do prazo dependerá de um cálculo que leve em consideração a necessidade de
um serviço adequado e acessível ao cidadão, mas que também permita que a
concessionária lucre com a atividade, amortizando os investimentos realizados”.

Determina a Lei nº 8.987/95, em seu artigo 6º, que toda concessão ou


permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento ao
usuário. Estão previstas nesta mesma lei as condições de satisfação de um serviço
adequado (art. 6º, § 1º), vejamos:

 Regularidade.
 Continuidade.
 Eficiência.
 Segurança.
 Atualidade.
 Generalidade.
 Cortesia na prestação.
 Modicidade das tarifas.

Vamos conhecer algumas características destas condições de satisfação de


um serviço adequado, segundo Nohara (2013):
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UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Regularidade: os serviços devem ser prestados de acordo com os padrões


de qualidade e quantidade exigidos pela Administração Pública, buscando atender
o número e as exigências dos usuários, observando as condições técnicas exigidas
pela natureza do serviço público e as condições de sua prestação. São irregulares os
serviços que colocam em risco a integridade física dos usuários, como o transporte
coletivo ser realizado por veículos em péssimo estado de conservação.

Continuidade: o significado desta expressão é de que a prestação do


serviço público deve ser ininterrupta. As exceções acontecem apenas em situação
de emergência ou após aviso prévio, quando motivado por razões de ordem técnica
ou de segurança nas instalações; ou por inadimplemento do usuário, considerando
o interesse da comunidade (art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987/95).

Eficiência: define-se pela utilização de métodos e procedimentos que


otimizem os recursos disponíveis. Os serviços públicos devem ser prestados sem
desperdício de qualquer natureza, evitando onerar os usuários por falta de método
ou racionalização no seu desempenho. Para buscar a eficiência, é necessário
procurar obter o máximo de resultado, barateando a prestação e o custo para os
usuários.

Segurança: está é a condição em que se exige que nos serviços públicos não
ofereça risco ao usuário ou a terceiros. Isto implica automaticamente a necessidade
de vistoria e manutenção de equipamentos e instalações que ofereçam alguma
forma de riscos.

Atualidade: O artigo 6º, § 2º, da Lei nº 8.987/95, define atualidade como: “A


modernidade das técnicas, do equipamento e das instalações e a sua conservação,
bem como, a melhoria e expansão do serviço”.

Generalidade: é um princípio que determina que o prestador do serviço


público busque a universalização do serviço, oferendo este ao maior número de
pessoas, e que o tratamento dispensado ao usuário seja com igualdade.

Cortesia: traz como significado que na prestação do serviço público o


usuário deve ser tratado com respeito, de forma afável e com polidez.

Modicidade das tarifas: temos a exigência legal de que as tarifas cobradas


pela empresa prestadora do serviço público como contraprestação do serviço
ofertado sejam acessíveis, que os valores cobrados sejam módicos, para que não
haja exclusão dos usuários em razão desta situação.

Ainda temos no texto legal, que trata das concessões de serviço público,
um artigo que trata dos direitos e deveres dos usuários do serviço público (art. 7º,
Lei nº 8.987/95), que de forma simplificada trazemos para vocês:

 Receber serviço adequado, qual seja, conforme exposto: aquele que satisfaz
as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade,
generalidade, cortesia na prestação e modicidade das tarifas.
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TÓPICO 2 | PRINCIPAIS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

 Receber do poder concedente (poder público/administração pública) e da


concessionária informações para a defesa de interesses individuais ou coletivos.
 Obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha entre vários prestadores de
serviços, quando for o caso, observadas as normas do poder concedente.
 Levar ao conhecimento do Poder Público e da concessionária as irregularidades
referentes ao serviço prestado.
 Comunicar às autoridades competentes os atos ilícitos praticados pela
concessionária na prestação de serviço.
 Contribuir para a permanência das boas condições dos bens públicos através
dos quais lhes são prestados os serviços.

DICAS

Acadêmico(a), o artigo 23, da Lei nº 8.987/95, traz a descrição das cláusulas


essenciais no contrato de concessão. Acesse a lei no link a seguir e procure saber mais:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8987cons.htm>.

Nesta mesma lei temos, no artigo 31, os encargos da concessionária, que é


a empresa que venceu a licitação e, portanto, recebeu da Administração Pública
a responsabilidade pela prestação de um serviço público. Veja o texto de lei e
conheça estes encargos.

Como gestores públicos precisamos conhecer os encargos que competem


ao poder concedente, que é o Poder Público, a Administração Pública, e enquanto
agentes públicos competentes e com habilidades técnicas para fazermos a melhor
administração dos recursos públicos disponíveis. Vamos identificar a partir de
agora estes encargos, que estão previstos no artigo 29 da Lei nº 8.987/95:

Art. 29. Incumbe ao poder concedente:


I - regulamentar o serviço concedido e fiscalizar permanentemente a sua
prestação;
II - aplicar as penalidades regulamentares e contratuais;
      
III - intervir na prestação do serviço, nos casos e condições previstos em
lei;      
IV - extinguir a concessão, nos casos previstos nesta Lei e na forma
prevista no contrato;        
V - homologar reajustes e proceder à revisão das tarifas na forma desta
Lei, das normas pertinentes e do contrato;       
VI - cumprir e fazer cumprir as disposições regulamentares do serviço e
as cláusulas contratuais da concessão;        
VII - zelar pela boa qualidade do serviço, receber, apurar e solucionar
queixas e reclamações dos usuários, que serão cientificados, em até
trinta dias, das providências tomadas;        
VIII - declarar de utilidade pública os bens necessários à execução do
serviço ou obra pública, promovendo as desapropriações, diretamente

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UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

ou mediante outorga de poderes à concessionária, caso em que será


desta a responsabilidade pelas indenizações cabíveis;       
IX - declarar de necessidade ou utilidade pública, para fins de instituição
de servidão administrativa, os bens necessários à execução de serviço
ou obra pública, promovendo-a diretamente ou mediante outorga de
poderes à concessionária, caso em que será desta a responsabilidade
pelas indenizações cabíveis;        
X - estimular o aumento da qualidade, produtividade, preservação do
meio-ambiente e conservação;
XI - incentivar a competitividade; e     
XII - estimular a formação de associações de usuários para defesa de
interesses relativos ao serviço.

Como a titularidade do serviço, é transferida à concessionária, é do Estado,


poder concedente, o dever de fiscalizar o desempenho da empresa que está
prestando o serviço público, garantindo que esta esteja prestando um serviço de
qualidade e adequado para a coletividade.

Em resumo, Carvalho Filho (2011, p. 173) define que: “as concessões de


serviço público têm como objeto a delegação da execução do serviço público à pessoa
privada. Trata-se de processo de descentralização formalizado contratualmente,
onde o concessionário terá a seu cargo o exercício de atividade pública”.

As concessões de uso de bem público têm como objetivo apenas consentir


que uma pessoa privada se utilize de algum bem que pertence à pessoa de direito
público (município, estado e União nas suas administrações diretas e indiretas).
Como exemplo, podemos citar a concessão de uso de lojas em um mercado público
municipal. Para a formalização das concessões de uso de bem público, uma licitação
deve precedê-la, conforme previsão legal.

A concessão de obra pública no conceito atribuído por Nohara (2013, p.


439) “é o contrato pelo qual a Administração transfere ao particular por prazo
determinado a execução de obra pública, a fim de que seja realizada por sua conta
e risco”.

6 CONTRATO DE GESTÃO
Esta modalidade de contrato administrativo é assim denominada porque é
utilizada como forma de ajuste da Administração Pública Direta com as entidades
da Administração Indireta ou entidades privadas que se enquadram na condição
de parestatais.

Segundo Nohara (2013, p. 441),

No caso das entidades privadas o contrato de gestão objetiva estabelecer


determinadas metas a serem alcançadas pela entidade em troca de
algum benefício outorgado pelo poder público; quando celebrado com
entidades da Administração Indireta, tem como objetivo sujeitá-las ao
cumprimento de metas definidas no contrato e em troca afrouxar alguns
pontos do regime jurídico, conferindo-lhes maior autonomia.

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TÓPICO 2 | PRINCIPAIS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

O contrato de gestão tem previsão legal na Constituição de 1988, em seu


artigo 37, § 8º, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 19/08:

§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e


entidades da administração direta e indireta poderá ser ampliada
mediante contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder
público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para
o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
I - o prazo de duração do contrato;
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos,
obrigações e responsabilidade dos dirigentes;
III - a remuneração do pessoal.

Este instrumento contratual (contrato de gestão) também é utilizado para


que as organizações sociais se vinculem juridicamente à Administração Pública
(Lei nº 9.637/98).

7 CONVÊNIOS
Quando falamos de convênios, entendemos que se tratam de acordos
firmados entre entidades públicas de qualquer espécie, ou entre entidades públicas
de qualquer espécie e entidades, buscando facilitar e possibilitar a lógica de
colaboração mútua entre as partes, tendo como objetivo atender interesse comum
a elas.

Na leitura do artigo 116 da Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93), temos


que se aplicam as disposições desta lei, no que couber, aos convênios, acordos,
ajustes e outros instrumentos congêneres celebrados por órgãos e entidades da
Administração Pública.

O § 1º, do art. 116, determina que a celebração de convênio, acordo ou ajuste


pelos órgãos ou entidades da Administração Pública, depende de prévia aprovação
de competente Plano de Trabalho proposto pela organização interessada, o qual
deverá conter no mínimo as seguintes informações:

 Identificação do objeto a ser executado.


 Metas a serem atingidas.
 Etapas e fases de execução.
 Plano de aplicação de recursos financeiros.
 Cronograma de desembolso.
 Previsão de início e fim da execução do objeto, bem como da conclusão das
etapas e fases programadas.
 Se o ajuste compreender obra ou serviço de engenharia, comprovação de que os
recursos próprios para complementar a execução do objeto estão devidamente
assegurados, salvo se o custo total do empreendimento recair sobre a entidade
ou órgão descentralizador.

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UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Os convênios são instrumentos utilizados corriqueiramente para concretizar


incentivos, como auxílios financeiros ou subvenções, financiamentos, favores
fiscais.

Alexandrino e Paulo (2011, p. 551) alertam que os “convênios não são


instrumentos de delegação de serviço público a entidades privadas. Quando
um convênio é celebrado entre uma entidade da administração pública e uma
pessoa jurídica provada, está-se diante de fomento, de incentivo à realização pela
entidade privada, em colaboração com o poder público de uma atividade privada
de interesse social“ (grifos dos autores).

DICAS

O Decreto nº 6.170/07, alterado pelo Decreto nº 6.428/08, estabelece regras


relativas às transferências de recursos da União mediante convênios. Acesse:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/decreto/d6428.htm>.

A celebração de convênio em regra independe de licitação prévia.

No convênio, os pactuantes já estão ajustados entre si previamente para


o fim a que se propõe, inexiste perseguição de lucro, os recursos financeiros
empregados têm por finalidade apenas a cobertura dos investimentos necessários
à operacionalização do pactuado no convênio.

A Constituição de 1988, em seu artigo 241, com redação dada pela EC nº


19/98, prevê que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios deverão
instituir através de lei, disciplina de consórcios públicos e convênios de cooperação
a serem celebrados entre si, com vistas à gestão associada de serviços públicos
e à transferência de serviços, pessoal, encargos e bens necessários à regular
continuidade dos serviços transferidos.

Os convênios normalmente são formalizados sob a forma de termos de


cooperação, ou utilizando exatamente o termo Convênio, ambos têm em sua
essência o intuito de recíproca cooperação.

156
TÓPICO 2 | PRINCIPAIS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

FIGURA 9 – DIFERENÇAS ENTRE CONTRATO E CONVÊNIO

:
:

FONTE: A Autora

8 CONSÓRCIOS PÚBLICOS
A Lei nº 11.107/2005 norteou o art. 241 da Constituição Federal, possibilitando
as definições das normas gerais de contratação de consórcios públicos.

O artigo 1º, da Lei nº 11.107/2005, determina que o consórcio público se


constituirá como associação pública, caso em que se adquire personalidade jurídica
de direito público, ou como pessoa jurídica de direito privado, sendo obrigatória
a observância das normas de direito público no tocante à realização da licitação,
celebração de contratos, prestação de contas e admissão de pessoal, regidos neste
último caso pela CLT (art. 6º).

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UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Temos dois requisitos prévios à formação do consórcio, são eles:

 O ajuste somente poderá efetivar-se se houver prévia subscrição do protocolo de


intenções (art. 3º). Esse acordo já representa a manifestação formal de vontade
do ente estatal para participar no negócio público.

Firmado o protocolo, este deverá ser objeto de ratificação por lei (art. 5º). Esta

situação será dispensada se no momento do protocolo a entidade pública já tiver
disciplinado em lei sua participação no consórcio.

Em razão de sua especificidade, gerando associação de vários entes


públicos, o consórcio público, quando assumir a forma de associação pública, caso
em que terá personalidade jurídica de direito público, integrará a Administração
indireta das pessoas federativas consorciadas (art. 6º, § 1º).

De forma contrária, caso se constitua como pessoa jurídica de direito


privado, estará fora da administração descentralizada, não sendo considerada
pessoa administrativa.

Lembre-se de que um contrato administrativo é celebrado com o intuito


de melhorar o desempenho da Administração Pública, por meio da realização de
obras, compras, fornecimentos, locações, alienações, serviços e concessões.

Estamos findando as informações e os estudos do Tópico 2 desta unidade.


Você pode perceber, acadêmico(a), que temos diversas espécies de contratos
administrativos e de ajustes de vontades entre as partes, sendo uma destas partes
o Poder Público/Administração Pública.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Com o estudo deste tópico você, acadêmico(a), poderá:

• Reconhecer as espécies de contratos administrativos.

• Identificar o conceito, as condições específicas de contratação e os regimes de


execução do contrato de obras.

• Distinguir o conceito, as condições específicas de contratação e os regimes de


execução do contrato de serviços.

• Assinalar o conceito, as diretrizes específicas e os tipos de fornecimento


vinculados aos contratos administrativos de fornecimento.

• Reconhecer os contratos de permissão e concessão, sua distinção e características.

• Identificar os contratos de gestão, os conceitos atribuídos aos convênios e as


normativas dos consórcios públicos.

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AUTOATIVIDADE

1 A contratação da prestação de serviços técnicos profissionais especializados,


exceto nos casos de inexigibilidade, deverá ser celebrada mediante a
realização, preferencialmente, da modalidade de licitação por:

a) ( ) Leilão.
b) ( ) Concurso.
c) ( ) Concorrência.
d) ( ) Convite.
e) ( ) Tomada de preços.

2 Um dos aspectos fundamentais que caracteriza o contrato administrativo, no


seu essencial, distinguindo-o de outros comuns, regidos pelas disposições
do direito privado, é o fato de ter por contratante uma pessoa jurídica de
direito público.

( ) Certo.
( ) Errado.

3 O contrato administrativo, regido pelo regime jurídico da Lei nº 8.666/93,


pode ter alteradas suas cláusulas econômicas, sem prévia concordância do
contratado.

( ) Certo.
( ) Errado.

4 O contrato administrativo, pelo qual o Poder Público confere ao particular


a execução remunerada de serviço público ou de obra pública, concedendo-
lhe o uso de um bem público, para que o explore, no prazo e nas condições
acordadas, é conhecido como:

a) ( ) Contrato de fornecimento.
b) ( ) Contrato de serviços.
c) ( ) Contrato de obras públicas.
d) ( ) Contrato de compra e venda.
e) ( ) Contrato de concessão.

160
UNIDADE 3
TÓPICO 3

REGRAS DIVERSAS APLICÁVEIS AOS


CONTRATOS

1 INTRODUÇÃO
A Administração Pública, buscando atender às necessidades da
coletividade e fornecer serviços públicos, tem nos contratos, convênios e consórcios
instrumentos legais que viabilizam a consecução de sua finalidade enquanto ente
público.

Os contratos administrativos possuem regras gerais e especificidades.


Neste tópico abordaremos mais algumas destas tratativas legais.

Vamos a elas!

2 INEXECUÇÃO DO CONTRATO
Depois que as partes descreveram nos contratos administrativos as vontades,
elas podem deixar de cumprir as cláusulas contidas neste pacto contratado.

Em algumas situações, uma das partes não executa fielmente o disposto no


contrato, desrespeitando as normas pactuadas entre o contratado e o contratante.
Existindo esta conduta contrária ou diversa do que está descrito no contrato,
dá-se sua inexecução. Temos reconhecidos dois tipos básicos de inexecução dos
contratos: a inexecução culposa e a inexecução sem culpa, Vamos conhecê-las!

2.1 INEXECUÇÃO CULPOSA


Este tipo de inexecução tem como motivo a culpa de uma ou de ambas as
partes, contratante e contratado, é a mais comum das formas de inexecução que
encontramos. As partes estabelecem as regras e, depois de pactuadas, deixam de
cumpri-las ou observá-las.

O efeito imediato da inexecução culposa do contrato é a rescisão do contrato


pela parte a quem atingiu a conduta culposa.

O artigo 78, da Lei de Licitações, prevê várias hipóteses de condutas que


podem desencadear a rescisão do contrato, as quais já estudamos no momento da
discussão do tema rescisão do contrato.

161
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Quando a inexecução do contrato se deu por culpa do contratado, a Lei de


Licitações, em seu artigo 80, posiciona-se apontando algumas consequências:

a) O direito do poder público assumir de imediato o objeto contratado;


b) A possibilidade de ocupação e utilização do local, instalações, equipamentos,
material e pessoal com os quais era executado o contrato;
c) A execução dos valores das multas e indenizações, bem como da garantia
contratual, visando ao ressarcimento do Poder Público;
d) A retenção dos créditos do contratado até que sejam reparados os prejuízos
causados à administração.

Estas situações e consequências não são taxativas, muitas observações,


causas e consequências precisam ser analisadas e aplicadas aos casos em concreto.

2.2 INEXECUÇÃO SEM CULPA


Neste caso, uma das partes (contratante/contratado) não consegue cumprir
o contrato nas condições em que foi firmado, porém não o faz por culpa sua,
mas sim em decorrência de fatos supervenientes à assinatura do contrato, que as
impede do cumprimento e da conclusão do contrato.

Os fatos supervenientes, entretanto, são situações excepcionais. Vamos


reconhecê-las a partir de agora!

2.2.1 Teoria da imprevisão


Segundo Carvalho Filho (2011, p. 195), ocorre a teoria da imprevisão
“quando no curso do contrato sobrevêm eventos excepcionais e imprevisíveis que
subvertem a equação econômico-financeira do pacto”.

O que fundamenta a teoria da imprevisão é que o contrato deve ser


cumprido desde que estejam presentes as mesmas condições existentes no cenário
dentro do qual o pacto foi ajustado. Mudanças profundas destas condições
rompem o equilíbrio contratual, e não se pode imputar desta maneira qualquer
culpa à parte inadimplente. O elemento característico da teoria da imprevisão
é a álea econômica, assim caracterizada por Carvalho Filho (2011, p. 195): “a álea
econômica é por natureza, extraordinária, excedente aos riscos normais admitidos
pela natureza do negócio. Os fenômenos de instabilidade econômica ou social
(guerras, crises econômicas, desvalorização da moeda) são as causas principais
do estado de imprevisão, tanto pela importância do impacto de seus efeitos, como
pela imprevisibilidade de suas consequências”.

A álea econômica é acompanhada das seguintes características:

 Imprevisível quanto à ocorrência ou quanto às consequências.


 Anormal, pois se trata de álea extraordinária (algo que não seja comum).

162
TÓPICO 3 | REGRAS DIVERSAS APLICÁVEIS AOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

 Alheio à vontade das partes.


 Que onera excessivamente o contrato.

Temos, então, que se a parte prejudicada não puder cumprir de nenhum


modo com suas obrigações contratuais, dar-se-á a rescisão sem atribuição de culpa.
Se de algum modo o cumprimento for possível, mas acarretar ônus para a parte,
terá esta o direito à revisão do preço para restaurar o equilíbrio rompido.

2.2.2 Fato do príncipe


Poderá haver uma quebra do equilíbrio do contrato administrativo,
causada por força de ato instituído pelo próprio Poder Público/Administração
Pública, sendo esta situação denominada de fato do príncipe.

Carvalho Filho (2011, p. 196) conceitua como teoria do fato do príncipe


aplicável “quando o Estado contratante, mediante ato lícito, modifica as condições
do contrato, provocando prejuízo ao contratado, o pressuposto do fato do príncipe
é a álea administrativa” (grifo nosso).

As características do fato do príncipe são definidas como:

 Imprevisível.
 Extracontratual.
 Extraordinário, provocando grande alteração na equação econômico-financeira
do contrato.

O efeito ocasionado pela aplicação da teoria do fato do príncipe, assim


como na teoria da imprevisão, comporta duas hipóteses:

a) A primeira, aquele em que o ato estatal dificulta e onera o particular para o


cumprimento de suas obrigações; nesse caso terá o particular o direito à revisão
do preço.
b) A segunda é aquela em que o fato impede o particular definitivamente de
adimplir as obrigações. Impedido por situação que não deu causa, não pode o
particular ser prejudicado, fazendo jus portanto à indenização integral.

2.2.3 Caso fortuito ou força maior


O caso fortuito e a força maior são situações de fato que têm por consequência
a impossibilidade do cumprimento das obrigações contraídas no contrato.

O caso fortuito decorre de eventos da natureza, como catástrofes, ciclones,


tempestades, enchentes, tempestades anormais. A força maior é originada de um
fato que de alguma forma foi originado pelo homem, ou vontade humana, como
a greve.

163
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Ocorrendo uma destas situações, igualmente o equilíbrio contratual


é rompido, porque uma das partes que integram o contrato passa a sofrer um
encargo muito oneroso, sem ter dado causa para esta situação. Torna-se inviável
nestes casos exigir-se o cumprimento do avençado no contrato.

Quanto ao efeito de acordo com o disposto no artigo 399 do Código Civil


brasileiro, o devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito
ou força maior; entretanto, se estiver expresso que este se responsabilizaria pelos
prejuízos, este o responderá (art. 393, CCB).

A lei de licitações prevê a hipótese de rescisão contratual pela ocorrência


de caso fortuito ou força maior, estes evidentemente regularmente comprovados,
admitindo indenização ao prejudicado pelos prejuízos causados, desde que não
tenha havido culpa da parte inadimplente (art. 78, XVII, e 79, § 2º, Lei nº 8.666/93).

São características reconhecidas para caso fortuito e força maior:

 Imprevisibilidade.
 Inevitabilidade.
 Impossibilidade total do cumprimento das obrigações contraídas no contrato.

A inexecução contratual culposa prevê sanções administrativas, estas serão


objeto de análise no item a seguir. Vamos conhecê-las, acadêmico(a)!

3 APLICAÇÃO DE SANÇÕES POR INEXECUÇÃO DE


CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
A Administração Pública tem também a prerrogativa de aplicar sanções aos
contratantes por inexecução total ou parcial do contrato entabulado. Estas sanções,
entretanto, somente serão aplicáveis após regular processo administrativo que
permita ao contratado a defesa prévia, no qual serão resguardados o contraditório
e a ampla defesa.

A inexecução do contrato pode igualmente dar azo à rescisão do contrato,


com as consequências legais, contratuais ou regulamentares previstas.

A Lei nº 8.666/93, em seu artigo 87, prevê as modalidades de sanções, sendo


elas:

 Advertência.
 Multa, na forma prevista no edital ou no contrato.
 Suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratar
com a Administração, por prazo não superior a dois anos.

164
TÓPICO 3 | REGRAS DIVERSAS APLICÁVEIS AOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

 Declaração de inidoneidade para licitar com a Administração Pública, feita


pelo Ministro do Estado ou pelo Secretário Estadual ou Municipal, enquanto
durarem os motivos determinantes da punição ou até que seja promovida a
reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, após dois
anos de sua aplicação.

As sanções de advertência, suspensão de contratação e declaração de


inidoneidade poderão ser aplicadas juntamente, apenas com a multa, mas não
entre si. Existe uma gradação nas sanções que devem ser aplicadas em razão
da gravidade da infração praticada. Lembramos da regra do regular processo
administrativo do contraditório e ampla defesa, além da possibilidade de recurso
administrativo.

FIGURA 10 – GRADAÇÃO DAS SANÇÕES PELA INEXECUÇÃO DOS


CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

FONTE: A autora

165
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Vemos na figura acima a gradação das sanções e a possibilidade de


cumulação de cada sanção apenas com a multa, não sendo tal situação possível
entre as demais relacionadas.

4 EXIGÊNCIA DE GARANTIA CONTRATUAL


Desde que prevista no edital e a critério da autoridade competente em cada
caso, pode ser exigida prestação de garantia nas contratações de obras, serviços e
compras, estando esta determinação legal disposta no artigo 56 da Lei nº 8.666/93.

A lei provisiona três modalidades de garantia, sendo elas:

Caução em dinheiro ou título de dívida pública.



Seguro garantia.

Fiança bancária.

A opção por uma das modalidades de garantia é do contratado. A exigência


de garantia é facultativa para a Administração Pública/Poder Público. Entretanto,
ao particular é assegurada a opção entre as três modalidades previstas na legislação.

A regra geral para o valor da garantia é de que esta não deve exceder
a 5% do valor do contrato. O limite da garantia pode chegar até 10% do valor
do contrato em obras, serviços e fornecimento de grande vulto envolvendo alta
complexidade técnica e consideráveis riscos financeiros, demonstrados por meio
de parecer aprovado pela autoridade competente.

Temos também, no parágrafo 4º, do artigo 56, da Lei nº 8.666/93, que a


garantia prestada será liberada ou restituída após a execução do contrato e, quando
em dinheiro, deverá ser atualizada monetariamente.

Entretanto, se houver rescisão por ato unilateral e escrito da Administração


Pública, pode haver execução da garantia contratual para ressarcimento da
administração e dos valores de multas e indenizações a ela devidas (art. 80, III, Lei
nº 8.666/93).

Assim como ocorre com os créditos, pode ser que a Administração utilize
as garantias para desconto de prejuízos e multas.

Na figura a seguir será possível identificar de maneira simples as


modalidades, as regras e as exceções para garantia nos contratos da Administração.
Procure observar, acadêmico(a), o resumo visual que esta figura proporciona,
buscamos facilitar sua compreensão acerca do tema e seu aprendizado.

166
TÓPICO 3 | REGRAS DIVERSAS APLICÁVEIS AOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

FIGURA 11 – EXIGÊNCIA DE GARANTIA NOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

FONTE: A autora

167
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

5 EXTINÇÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO


Veremos, a seguir, acadêmico(a), as formas reconhecidas no âmbito do
direito administrativo e, portanto, dos contratos administrativos para a extinção
destes. Vamos a elas!

5.1 CUMPRIMENTO DO CONTRATO


Esta é uma forma natural de extinção do contrato administrativo. Se
a Administração Pública e o particular, por exemplo, ajustaram a realização
de um serviço ou o fornecimento de um bem, após a realização do serviço ou
do fornecimento do bem e recebido o preço as partes ficam satisfeitas. Foram
regularmente cumpridas as obrigações, havendo, portanto, a extinção normal do
contrato.

5.2 TÉRMINO DO PRAZO


Alguns contratos são firmados pela Administração e pelo particular,
contando em seu contexto um determinado prazo, um determinado lapso temporal
e, por consequência, tem-se um prazo final. Neste caso, as partes já fixaram um
limite em que vigorarão as obrigações pactuadas. Findo o prazo, extingue-se o
contrato.

5.3 IMPOSSIBILIDADE MATERIAL OU JURÍDICA


Depois de firmados os contratos administrativos podem surgir fatos que o
extingam por impossibilidade material ou jurídica.

Ocorre a impossibilidade material quando o fato constitui situação


intransponível para a execução da obrigação ajustada (CARVALHO FILHO, 2011).

Temos como exemplo o desaparecimento do objeto. Vamos supor que a


administração pública contrate uma empresa para a pintura de uma escola. Se a
escola sofrer um incêndio e só restarem escombros, não há mais como cumprir a
obrigação da pintura contratada.

A impossibilidade jurídica até admite o cumprimento da obrigação, mas


não nas condições jurídicas contratadas (CARVALHO FILHO, 2011).

Hipoteticamente, podemos imaginar que a Administração Pública contratou


um auditor para realizar análise contábil em um município e no curso do contrato
ele veio a falecer. Embora o objeto contratado possa continuar a ser executado
por outrem, este contrato fica extinto, já que os contratos administrativos como
estudamos são de caráter intuitu personae. A Lei nº 8.666/93, em seu artigo 78, X,
prevê a hipótese de falecimento como geradora de rescisão contratual.

168
TÓPICO 3 | REGRAS DIVERSAS APLICÁVEIS AOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Também são exemplos de extinção do contrato por impossibilidade jurídica


as situações de falência do contratado e a dissolução de sociedade.

6 INVALIDAÇÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO


Contendo o contrato vício de ilegalidade, este deve ser invalidado ou
anulado. São considerados vícios de legalidade, por exemplo, aqueles que dizem
respeito aos requisitos de validade dos atos administrativos em geral, como a
competência, a forma, o motivo.

Outras hipóteses de ilegalidade estão previstas na Lei de Licitações,


quando, por exemplo, existe exigência da formalização do contrato admitindo
que ele seja verbal apenas para pequenas compras, com limite de valores, entre
outros requisitos para que se torne válido, sendo a regra a necessidade de que estes
contratos sejam feitos na forma escrita.

Para a invalidação do contrato administrativo, é necessário que se instale


um regular processo administrativo que permita o contraditório e a ampla defesa.

Deve-se permitir ao contratado particular o direito de confrontar as razões


alegadas administrativamente pela Administração Pública, para um eventual
exame de sua legalidade perante o Poder Judiciário.

O efeito da nulidade opera efeitos ex tunc, além de termos no artigo 59


da Lei de Licitações situação que pretende impedir que a Administração Pública
enriqueça sem causa, por ela ter recebido um bem sem pagar por ele, vejamos:

Art.  59.   A declaração de nulidade do contrato administrativo opera


retroativamente impedindo os efeitos jurídicos que ele, ordinariamente,
deveria produzir, além de desconstituir os já produzidos.
Parágrafo único.  A nulidade não exonera a Administração do dever de
indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data em
que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados,
contanto que não lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade
de quem lhe deu causa.

Como descrito neste artigo, não contribuindo o contratado para o vício


gerador da invalidação do contrato a Administração Pública, tendo recebido parte
do contratado, deve promover a indenização do particular, para evitar que o Poder
Público enriqueça sem causa.

7 RESCISÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO


Segundo Carvalho Filho (2011, p. 200), “a rescisão do contrato se origina de
um fato jurídico superveniente nascido de manifestação volitiva (de vontade). Esta
manifestação admite diversidade quanto à pessoa do emitente e quanto ao modo
em que é formalizada”. A rescisão do contrato administrativo é encontrada em 3
(três) modalidades, vamos conhecê-las.

169
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

7.1 RESCISÃO AMIGÁVEL


É o que acontece diante da manifestação bilateral dos contratantes
(contratante e contratado). Não há litígio (discussão) entre as partes, mas sim
interesses comuns, principalmente da Administração Pública que, de acordo com
a Lei de Licitações, terá discricionariedade em sua resolução:

Art. 79.  A rescisão do contrato poderá ser:


(...)
II - amigável, por acordo entre as partes, reduzida a termo no processo
da licitação, desde que haja conveniência para a Administração;

Precisamos, entretanto, observar requisitos formais para a rescisão


amigável, são eles:

 O instrumento rescisório deve ser formalizado por termo no processo licitatório.


 É exigível que a autoridade competente autorize a rescisão e justifique sua
posição.

7.2 RESCISÃO JUDICIAL


Esta modalidade de rescisão ocorre quando o contrato administrativo é
desconstituído por autoridade do Poder Judiciário, ou seja, por decisão judicial.

Esta modalidade normalmente é utilizada pelos particulares contratados


pela Administração quando esta não cumpre as obrigações pactuadas.

Nas palavras de Carvalho Filho (2011, p. 200), “verificado o fato em


ação judicial, a decisão decreta a rescisão do contrato e, quando requerido pelo
interessado, condena o causador ao pagamento da devida indenização”.

7.3 RESCISÃO ADMINISTRATIVA


Encontramos a referência da rescisão administrativa, no artigo 79, I, da
Lei de Licitações, onde lê-se que é “determinada por ato unilateral e escrito da
Administração”.

Podemos considerar duas espécies de rescisão administrativa. A primeira é


a rescisão motivada pelo inadimplemento do contrato, com ou sem culpa. No caso
de não cumprimento do contrato, a rescisão confere à Administração Pública o
direito de assumir o contrato, ocupar o local, instalações etc., bem como executar a
garantia contratual e reter eventuais créditos do inadimplente (art. 80, Lei nº 8.666,
I a IV).

Outro motivo gerador da rescisão unilateral são as razões de interesse


público contidas no artigo 78, XII, da Lei nº 8.666/93, avaliado segundo critério
firmado pela própria Administração Pública em razão de sua discricionariedade.

170
TÓPICO 3 | REGRAS DIVERSAS APLICÁVEIS AOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Para evitar abusos da Administração Pública, o legislador exigiu a presença


de quatro pressupostos para este tipo de rescisão:

1. Que as razões administrativas sejam altamente relevantes.


2. Que a administração promova amplo conhecimento desses motivos.
3. Que tais razões sejam justificadas e determinadas pela mais alta autoridade
da esfera administrativa. Por falta de motivação, já se anulou ato de rescisão
contratual.
4. Que tudo fique formalizado no processo administrativo, devendo o
administrador público dar ciência ao contratado dos motivos da rescisão, bem
como oferecer-lhe proposta para eventual recomposição dos prejuízos.

Não se pode obrigar a Administração Pública a dar continuidade ao


contrato, mas também não é razoável atribuir ao contratado todo o ônus da
rescisão, sobretudo quando não deu causa a ela.

Temos ainda que considerar que algumas leis já preveem a possibilidade


do poder público utilizar a arbitragem para solução de conflitos, entre eles os
contratuais e as rescisões contratuais por arbitragem. A Lei nº 11.709/2004, que
regula as parcerias público-privadas, traz esta previsão legal, e também a Lei
das Concessões e Permissões, Lei nº 8.987/95. Procure saber um pouco mais,
acadêmico(a), faça seus estudos acerca deste tema que ainda é novo para o Direito
Administrativo.

8 DISTINÇÃO ENTRE REAJUSTE E REVISÃO DO CONTRATO


ADMINISTRATIVO
Conforme consta na Lei de Licitações, Lei nº 8.666/93, o edital de licitação
(instrumento convocatório) deve trazer o critério de reajuste contratual, que deve
retratar a variação efetiva do custo de produção, admitindo-se a adoção de índices
específicos ou setoriais.

O reajuste provoca, portanto, o aumento no valor do pagamento, tendo em


vista a alteração do custo da prestação ajustada, como no caso do valor do cimento
em obras.

Segundo Nohara (2013, p. 436), “reajuste diferencia-se, portanto de revisão


de contrato, pois esta tem lugar diante de situações novas, ou seja, de eventos
supervenientes e extraordinários, não previstos, imprevisíveis, nas quais a
mantença do equilíbrio econômico-financeiro não pode ser eficazmente efetuado
a partir de mera observância do reajuste”.

Diferente da revisão, o reajuste não implica a alteração do contrato,


podendo, nos termos do art. 65, § 8º, da Lei nº 8.666/93, ser registrado por simples
apostila, dispensando a celebração de aditamento de contrato.

171
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

REAJUSTE REVISÃO

 ÍNDICE DE CUSTO DOS INSUMOS ALTERAÇÃO DO CONTRATO PARA


 NÃO NECESSITA DE ADITAMENTO MANUTENÇÃO DO EQUILÍBRIO
CONTRATUAL ECONÔMICO-FINANCEIRO

9 CRIMES E PENAS
Temos descrito na Lei de Licitações crimes normalmente vinculados ao
processo licitatório, entretanto encontramos alguns vinculados aos contratos
administrativos, sendo eles:

 Celebrar contrato com empresa ou profissional inidôneo (art. 97).


 Obter vantagem indevida em contratos (art. 92, parágrafo único).
 Patrocinar interesse privado mediante celebração de contrato que venha a ser
invalidado no Poder Judiciário (art. 91).

Mesmo que a matéria seja de direito penal, resta interessante fazermos


algumas anotações:

 O sujeito passivo é sempre a Administração Pública.


 O sujeito ativo pode ser agente público ou terceiro, mas há alguns tipos que só
podem ser praticados pelo primeiro (crimes próprios).

10 PRORROGAÇÃO DOS CONTRATOS


Prorrogar significa permitir a continuidade do que foi pactuado além do
prazo estabelecido, isto pressupõe, obviamente, a permanência do contratado
inicialmente.

A Lei das Licitações prevê, em seu artigo 57, § 1º, as hipóteses em que o
contrato administrativo pode ser prorrogado:

Art. 57 (..)
§ 1o  Os prazos de início de etapas de execução, de conclusão e de entrega
admitem prorrogação, mantidas as demais cláusulas do contrato e
assegurada a manutenção de seu equilíbrio econômico-financeiro,
desde que ocorra algum dos seguintes motivos, devidamente autuados
em processo:
I - alteração do projeto ou especificações, pela Administração;
II  -  superveniência de fato excepcional ou imprevisível, estranho à
vontade das partes, que altere fundamentalmente as condições de
execução do contrato;
III  -  interrupção da execução do contrato ou diminuição do ritmo de
trabalho por ordem e no interesse da Administração;
IV - aumento das quantidades inicialmente previstas no contrato, nos
limites permitidos por esta Lei;

172
TÓPICO 3 | REGRAS DIVERSAS APLICÁVEIS AOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

V  -  impedimento de execução do contrato por fato ou ato de terceiro


reconhecido pela Administração em documento contemporâneo à sua
ocorrência;
VI  -  omissão ou atraso de providências a cargo da Administração,
inclusive quanto aos pagamentos previstos de que resulte, diretamente,
impedimento ou retardamento na execução do contrato, sem prejuízo
das sanções legais aplicáveis aos responsáveis.

A exigência vinculada a estas possibilidades de prorrogação do contrato


administrativo é a justificativa e prévia autorização pela autoridade competente.
Lembre-se, porém, de que mesmo havendo previsão legal para prorrogação
contratual esta não pode ser a regra, mas sim a exceção. A lei não exige que o
contrato tenha previsão legal de prorrogação e mesmo que tiver não pode haver
prorrogação fora dos casos previstos em lei.

Somente ocorrendo um dos fatos geradores elencados no artigo 57 (Lei


8.666/93) é que será legítimo prorrogar os casos de início, etapas de execução, de
conclusão e de entrega do objeto ajustado no contrato administrativo.

Com este tema, acadêmico(a), encerramos esta unidade, desejando que


você tenha assimilado o conteúdo descrito até este momento. Convidamos você
a acessar o Ambiente Virtual de Aprendizagem, os objetos de aprendizagem, as
trilhas e o material de apoio que enriquecerão sua vida acadêmica. Sucesso em sua
caminhada, até breve!

173
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

LEITURA COMPLEMENTAR

O PREGÃO ELETRÔNICO E AS CONTRATAÇÕES DE SERVIÇOS


CONTÍNUOS

Marcelo de Freitas
José Manuel Santos de Varge Maldonado

O Estado contemporâneo e a expansão da terceirização

A crise econômica mundial, deflagrada a partir da década de 1970, pôs fim a


um longo período de crescimento que se iniciou no pós-Segunda Guerra Mundial,
tendo sido fator determinante para o início da derrocada da visão dominante do
Estado como garantidor da prosperidade econômica e do bem-estar social. O Estado
intervencionista no campo econômico, o modelo dos Welfare States na1 área social e o
modelo burocrático weberiano na Administração Pública passaram a ser fortemente
questionados (ABRUCIO, 1997).

No Brasil, a reforma administrativa proposta ainda no primeiro governo


do presidente Fernando Henrique Cardoso, de acordo com Bresser-Pereira (1998),
também teve como pano de fundo a necessidade de redesenho do tamanho e
das funções do Estado em face da grande crise dos anos 1980 e da globalização
da economia. Nesta perspectiva, o objetivo fundamental do Estado deveria ser
o de proporcionar condições para que a economia nacional aumentasse sua
competitividade no cenário internacional.

Neste sentido, o Estado deveria ter seu tamanho reduzido, repassando à


iniciativa privada a execução das atividades consideradas não estratégicas e/ou
não exclusivas de Estado. Esta redução se deu através da privatização de empresas
estatais e serviços públicos, da exoneração de funcionários não estáveis e do incentivo
à demissão voluntária.

Diante deste quadro, considerando, ainda, as restrições à realização de


concursos públicos para a contratação de servidores, a Administração Pública elegeu
a terceirização de serviços como a alternativa possível para responder à crescente
demanda da sociedade por serviços públicos.

A contratação de terceiros pela Administração para a execução de


determinadas atividades, prevista no art. 2º da Lei nº 8.666/1993, se expandiu
intensamente a partir de meados dos anos 1990, em consonância com os princípios
da referida reforma administrativa, quais sejam, o aumento da eficiência e a
modernização da Administração Pública (BRESSER-PEREIRA, 1998).

174
TÓPICO 3 | REGRAS DIVERSAS APLICÁVEIS AOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

De acordo com Delgado (2003), a terceirização caracteriza-se pela dissociação


do trabalhador do vínculo trabalhista que lhe seria correspondente, visto que ele
é inserido no processo de trabalho de uma determinada organização por meio de
um intermediário, ou seja, uma empresa que contrata o trabalhador e vende seus
serviços a outras.

A terceirização obedece à lógica da especialização, pela qual o ente público


transfere ao terceiro, por meio de um contrato administrativo, a responsabilidade
pela execução de atividades consideradas acessórias ou auxiliares ao alcance de sua
missão institucional, podendo, assim, concentrar seus esforços naquelas atividades
que são a razão de sua existência, isto é, suas atividades finalísticas.

Ainda que seja uma prática organizacional amplamente difundida entre as


empresas brasileiras, tanto públicas como privadas, como estratégia para o alcance
de maior eficiência, a terceirização não está isenta de críticas, devidas, sobretudo, ao
tratamento dispensado aos trabalhadores contratados pela prestadora de serviços.
Como destaca Schnell (2005), na relação triangular decorrente de uma terceirização, o
trabalhador é o ente mais fragilizado, transformado em simples mercadoria. O autor
enfatiza, ainda, a precarização das relações trabalhistas promovida pela terceirização,
à medida que os trabalhadores são submetidos a condições degradantes de trabalho,
a duplo poder de comando e a vínculos trabalhistas débeis e instáveis.

Como já destacado, não existe vínculo contratual entre a Administração


e os empregados da empresa contratada para a execução de serviços. Este é um
aspecto muito importante para a compreensão dos conflitos que decorrem destas
contratações, pois, embora não haja vínculo empregatício entre os trabalhadores e
a Administração, muitas vezes a Justiça do Trabalho estende ao órgão contratante
a responsabilidade sobre o descumprimento, por parte das empresas contratadas,
de suas obrigações como empregadoras.

Esta responsabilização, fundamentada no Inciso IV do Enunciado nº 331 do


Tribunal Superior do Trabalho (TST), tem sido ao longo dos últimos anos objeto de
grande discussão nos meios jurídicos. Este inciso, introduzido no citado Enunciado
por meio da Resolução TST nº 96/2000, prevê a responsabilização subsidiária
do tomador de serviços, inclusive órgãos da Administração Pública, em face do
descumprimento de encargos trabalhistas pelo empregador.

Este dispositivo tem sido alvo de enorme controvérsia nos meios jurídicos,
tendo em vista uma alegada incompatibilidade com o disposto no art. 71 da Lei nº
8.666/1993, particularmente com seu § 1º, que diz taxativamente que à Administração
Pública não pode ser transferida a responsabilidade pelo inadimplemento
de obrigações trabalhistas por parte de seus contratados, havendo, apenas, a
responsabilidade solidária da Administração pelos encargos previdenciários.

175
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Em decisão proferida em 24 de novembro de 2010, o Supremo Tribunal


Federal (STF) considerou constitucional o art. 71 da Lei nº 8.666/1993 (BRASIL, 1993),
ao julgar procedente Ação Declaratória de Constitucionalidade interposta em 2007
pelo governo do Distrito Federal. No entanto, deve-se ressaltar que o entendimento
do STF não afasta por completo a possibilidade de responsabilização dos órgãos
públicos pelo inadimplemento de suas contratadas quanto aos encargos trabalhistas.
O egrégio tribunal reconheceu que a inadimplência das contratadas não transfere
automaticamente a responsabilidade pelos pagamentos aos órgãos contratantes;
porém, os mesmos podem e devem ser responsabilizados caso tenham sido omissos
ou tenham falhado na fiscalização de seus respectivos contratos.

Na prática, esta decisão significa que os representantes da Administração


encarregados da fiscalização de contratos de prestação de serviços com residência
de mão de obra devem ter ainda mais atenção e zelo no exercício desta atividade,
visto que, considerando que via de regra as empresas inadimplentes não dispõem
de recursos para saldar suas dívidas, os demandantes das ações judiciais buscarão
sempre responsabilizar os representantes da Administração, pois só dessa forma
conseguiriam, em tese, receber os créditos a que teriam direito.

Não obstante as opiniões divergentes sobre a responsabilização da tomadora


de serviços, é correto afirmar que as relações trabalhistas sempre foram e continuam
sendo marcadas por tensão e conflitos de interesses, como bem lembra Lora
(2008), ao contrapor a luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e
remuneração à busca incessante dos empresários por maior lucratividade.

Da mesma forma, as relações entre os órgãos públicos, como a Fiocruz, as


empresas contratadas e seus trabalhadores são marcadas por problemas, que, muitas
vezes, findam por configurar a terceirização como uma forma de precarização
das relações trabalhistas. Baptista, Machado e Lima (2009) atribuem à Reforma
do Estado e às suas diretrizes avessas à expansão do funcionalismo público e dos
gastos com pessoal a adoção das formas alternativas — e, via de regra, precárias —
de contratação e de remuneração de trabalhadores no campo da saúde, para fazer
face às crescentes demandas da sociedade no âmbito do SUS.

Estes problemas, além de penalizarem o trabalhador (visto que se referem


à remuneração do seu trabalho), afetam diretamente a qualidade da prestação
dos serviços, já que ocasionam a insatisfação, a desmotivação e o aumento do
absenteísmo dos profissionais.

As compras públicas e o pregão eletrônico

Na Administração Pública a atividade administrativa de compras deve ser


desempenhada em estrita observância aos preceitos legais. A discricionariedade
é quase inexistente, em função, principalmente, dos impactos que cada decisão
de compra pode ter sobre o conjunto da economia, tendo em vista o montante de

176
TÓPICO 3 | REGRAS DIVERSAS APLICÁVEIS AOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

recursos financeiros envolvidos. Como bem destacado por Barros (2002), a legislação
brasileira é bastante rígida quando se trata do uso de dinheiro público.

Como forma de disciplinar os processos de compras e contratações dos


órgãos públicos, objetivando, sobretudo, garantir o tratamento isonômico a todo
aquele interessado em negociar com a Administração Pública e, por outro lado,
selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração, foi sancionada pela
Presidência da República, em 21 de junho de 1993, a Lei nº 8.666 (BRASIL, 1993),
também conhecida como Estatuto de Licitações e Contratos Administrativos.

Esta Lei veio a regulamentar o disposto no Inciso XXI do art. 37 da


Constituição Federal (BRASIL, 1988), que prevê que todas as compras e contratações
efetuadas pela Administração Pública, salvo os casos especificados em lei, devem
ser precedidas de procedimento licitatório, que assegure igualdade de condições a
todos os que com ela queiram negociar.

Atualmente, as aquisições de bens e as contratações de empresas para


a prestação de serviços são feitas, no âmbito da Administração Pública federal,
preferencialmente, por pregão, na sua forma eletrônica. O pregão eletrônico caracteriza-
se pela utilização de recursos de tecnologia de informação nos procedimentos
licitatórios, proporcionando a comunicação e a interação a distância, pela internet,
entre os agentes públicos responsáveis pela licitação (pregoeiro e equipe de apoio) e
os licitantes (empresas interessadas em fornecer ou contratar com a Administração).
Destacam-se entre as vantagens proporcionadas por este instrumento a maior
celeridade dos procedimentos, a ampliação do leque de interessados e a maior
transparência e publicidade dos atos administrativos.

A maior celeridade é reflexo da redução de prazos e de exigências


documentais. A ampliação do universo de interessados é consequência da
possibilidade de participação do certame a distância, ou seja, empresas de qualquer
localidade do país podem participar da sessão pública, por meio do acesso ao
sistema pela internet.

O aumento da transparência e da publicidade dos atos deve-se à possibilidade


de qualquer cidadão acompanhar em tempo real, também através da internet, o
desenvolvimento das sessões públicas e os atos praticados por todos os envolvidos
no procedimento licitatório.

Estas características do pregão eletrônico proporcionam, ainda, em tese, outro


benefício à Administração e à sociedade em geral, na medida em que dificultam a
formação de cartéis e outros artifícios de que as empresas se utilizam para burlar
a competitividade dos procedimentos licitatórios. É considerado, portanto, uma
importante ferramenta no combate à corrupção nas compras públicas.

177
UNIDADE 3 | CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Embora o pregão eletrônico seja um instrumento relativamente novo, visto


que foi instituído e regulamentado no âmbito da União no ano de 2005 (Decreto
nº 5.450/2005), sua utilização encontra-se bastante difundida pelos órgãos da
Administração Pública federal. A rápida difusão do pregão eletrônico decorre,
sobretudo, da percepção pelos gestores da significativa redução de custos que esta
ferramenta proporciona no momento da licitação, já que ela funciona como um
leilão no sentido inverso: ganha a licitação a empresa que ofertar o menor preço,
após sucessivas rodadas de lances pelos licitantes. Esta economia gerada pelo pregão
eletrônico tem sido amplamente divulgada pelos órgãos governamentais.

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-


76122013000500009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 27 jan. 2015.

178
RESUMO DO TÓPICO 3

Ao final dos estudos deste tópico, você, acadêmico(a), poderá:

• Reconhecer as formas de inexecução do contrato administrativo, culposa e não


culposa e suas características.

• Identificar as sanções administrativas aplicáveis nas situações de inexecução de


contratos administrativos.

• Conhecer as garantias contratuais na pactuação de contratos administrativos,


sendo faculdade da Administração Pública a sua utilização.

• Distinguir as formas de extinção dos contratos administrativos.

• Aferir as situações de invalidação e rescisão dos contratos administrativos e


crimes que podem ser vinculados aos contratos administrativos.

179
AUTOATIVIDADE

1 Referente aos contratos administrativos, é CORRETO afirmar:

( ) A critério da autoridade competente, em cada caso, e desde que prevista


no instrumento convocatório, poderá ser exigida prestação de garantia nas
contratações de obras, serviços e compras.
( ) A imutabilidade não é uma das características do contrato administrativo,
pois o contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais,
os acréscimos ou supressões que se fizerem nas obras, serviços ou compras
até 30% (trinta por cento) do valor inicial do contrato.
( ) O poder de alteração unilateral do contrato administrativo é inerente à
Administração, mas só pode ser feita se prevista em lei ou consignada em
cláusula contratual.
( ) A prerrogativa de aplicar sanções administrativas aos particulares é
considerada uma cláusula exorbitante, pois a Administração precisa de
autorização do Poder Judiciário para essa finalidade.

2 A pessoa jurídica ZAPZAP Ltda. foi vencedora de uma licitação para fornecer
alimentos para escolas municipais. Durante a execução do contrato, vários
produtos fornecidos tiveram altos reajustes de preços em razão da suspensão
de isenção de tributos federais, tornando o contrato excessivamente oneroso
para o fornecedor. Nessa situação, portanto, a empresa ZAPZAP:

( ) Poderá pedir a rescisão do contrato com fundamento na teoria do fato da


administração.
( ) Poderá pedir a revisão do contrato com base na teoria do fato do príncipe.
( ) Terá a excludente do caso fortuito como motivo justo para pedir a rescisão
judicial do contrato.
( ) Ficará automaticamente livre para deixar de cumprir com sua obrigação
contratual.

3 Quando o poder público delega a prestação de determinado serviço público,


mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou ao
consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por
sua conta e risco e por prazo determinado, o instrumento jurídico utilizado
é o contrato administrativo de:

( ) Licitação de serviço público.


( ) Autorização de serviço público.
( ) Desconcentração de serviço público.
( ) Concessão de serviço público.

180
4 Considere uma empresa fornecedora que tenha participado de uma
determinada licitação e tenha sido convocada dentro do prazo de validade
da sua proposta. Comportou-se de modo inidôneo, tendo sido comprovada
uma fraude fiscal produzida por ela. Essa empresa ficará impedida de licitar
e contratar com a União, estados, Distrito Federal ou municípios e será
descredenciada no Sicaf, ou nos sistemas de cadastramento de fornecedores,
pelo prazo de:

( ) 2 anos, no máximo.
( ) 3 anos, no máximo.
( ) 4 anos, no máximo.
( ) Até 10 anos.
( ) Até 5 anos.

181
182
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183
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ANOTAÇÕES

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