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FORMAÇÃO EM
P SICOLOGIA
Desafios da diversidade na pesquisa
e na prática
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Vários colaboradores.
ISBN: 85-7585-130-6
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Formação e diversidade: desafios e questionamentos que constroem...
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
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Formação e diversidade: desafios e questionamentos que constroem...
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Referências
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PARTE I
PSICOLOGIA E PROCESSOS
DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
1. GANHOS TERAPÊUTICOS COM
PSICOTERAPIA BREVE EM SERVIÇO DE
PSICO-ONCOLOGIA HOSPITALAR
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
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OBJETIVOS
MÉTODO
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Resultados
Os resultados foram organizados em grandes categorias
de dados, conforme descrições a seguir.
DADOS DEMOGRÁFICOS
A maioria dos pacientes pertencia ao sexo feminino
(64,4%), com idades distribuídas nas faixas de 19 a 33 anos
(9,2%); 34 a 49 anos (25,4%); 50 a 65 anos (35,4%) e 66 a 82
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
DADOS CLÍNICO-MÉDICOS
A maioria dos pacientes atendidos encontrava-se em re-
gime de internação hospitalar (78,5%), encontrando-se a
seguinte distribuição quanto ao órgão afetado pela doença:
mama (20%); útero/ovários (19,2%); cabeça/pescoço/face
(17,7%); aparelho gastro-intestinal (16,2%); pulmão (9,2%);
ossos (5,4%); rins/bexiga/próstata/testículos (6,9%); leuce-
mia (3,8%) e doença de Hodking (1,5%). Verificou-se cerca
de 40% de incidência de cânceres femininos (mama, útero e
ovários), com apenas dois casos de cânceres de mama em
homens, confirmando ser esta doença ainda uma das prin-
cipais causadoras de mortes de mulheres. Quanto à gravi-
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Considerações finais
Os resultados indicaram que a maioria dos pacientes
oncológicos da amostra obteve algum tipo de ganho tera-
pêutico com o atendimento recebido, mesmo nos casos em
que estes benefícios foram considerados “gerais” ou “ines-
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
Referências
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2. AVALIAÇÃO
DE PROGRAMAS
EDUCATIVOS PARA PREVENÇÃO DAS DST/
AIDS: ALGUMAS REFLEXÕES A PARTIR DE
UM PROGRAMA DE INTERVENÇÃO COM
ADOLESCENTES EM UMA ESCOLA PÚBLICA*
* Projeto financiado pela FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Descrição do Programa
O programa foi implementado junto a uma escola públi-
ca do município de Ribeirão Preto, São Paulo, durante seis
meses. Neste, buscamos trabalhar os seguintes conteúdos:
DST/aids; sexualidade: mitos, tabus; gravidez e saúde re-
produtiva; relações entre gêneros; dificuldades de expres-
são e assertividade; drogas.
Para avaliação de impacto foram empregados instrumen-
tos para comparação de dados obtidos antes e depois do pro-
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
PROCEDIMENTO DO ESTUDO
Para análise de impacto do programa, empregamos ques-
tionários, elaborados a partir de 21 entrevistas realizadas
com jovens com características semelhantes aos da popu-
lação alvo da pesquisa. Para a elaboração do que seriam as
temáticas do programa e, portanto, itens a serem aborda-
dos no questionário, levamos em conta os principais aspectos
apontados, pela literatura (BUCHER, 1996; CASAL; RIOS;
GIMENEZ, 1997; DiCLEMENTE; ZORN; TEMOSHOK,
1986; MORGANETT, 1997; PAIVA, 1994; SAYÃO, 1997;
SCHALL; STRUCHINER, 1995; WEREBE, 1998) como pro-
blemáticos para que as camadas jovens adotassem medidas
de proteção em relação às DST/aids.
Assim, foram trabalhados: níveis de informação e de
crenças errôneas sobre os fatores de risco para a infecção
pelas DST/aids; e outros aspectos ligados à vida sexual ati-
va, eleitos a partir da experiência do grupo na implementa-
ção de programas de intervenção semelhantes ao avaliado,
ao longo dos últimos anos.
Os temas foram alvo de entrevistas preliminares para a
composição dos questionários. As entrevistas foram reali-
zadas a partir de roteiro semi-estruturado. Os questioná-
rios construídos com os cuidados recomendados por autores
como Cea D’Ancona (1996) e Kidder (1987) foram testados
junto à população semelhante à estudada e reformulados
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
PROGRAMA DE INTERVENÇÃO
O trabalho desenvolvido partiu dos pressupostos de que
programas de intervenção que tenham por objetivo desen-
volver ou fomentar a adoção de medidas preventivas em
relação à saúde devem ser desenvolvidos: 1) a partir dos
interesses e universos de significação de seus participan-
tes; 2) como processos educacionais nos quais se propor-
cione o acesso às informações adequadas ao público-alvo; e
que, 3) nesses processos sejam empregadas metodologias
participativas de trabalhos em grupo, através das quais se
facilite à emergência de discussões, “ressignificações” de
informações e dos aspectos cognitivos, afetivos e culturais
ligados aos temas abordados. Em suma, o pressuposto ge-
ral, que engloba os acima expostos, é que as informações e
os aspectos cognitivos, emocionais e culturais podem e de-
vem ser trabalhados, modificados dentro de um processo
de construção grupal socialmente compartilhado. Ainda no
que diz respeito à população alvo do programa, considera-
mos que os trabalhos grupais dentro da escola aproveita-
riam o gregarismo e a influência do grupo de pares, próprio
a todos os grupos humanos, mas que são mais acentuados
na adolescência, para estimular a formação de uma cultu-
ra de proteção em saúde.
A IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA
O Programa foi implementado por 22 estagiários do cur-
so de graduação de psicologia; preparados através de um
curso com 84 horas de duração, no qual: trabalhou-se todo
o conteúdo teórico informativo sobre os temas; realizaram-
se discussões sobre metodologias participativas de traba-
lho em grupos; e vivenciaram todas as oficinas de trabalho
previstas para o programa. Além disso, durante toda a im-
plementação do programa os coordenadores dos grupos ti-
veram continuidade do processo de formação através de
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Resultados
Embora se tenham dados para avaliação de impacto do
programa, partimos do pressuposto de que estamos frente
a um estudo de caso e não a um delineamento quase-experi-
mental. Isto, porque é praticamente impossível controlar,
em um trabalho de intervenção de seis meses de duração com
um número de 517 sujeitos, todas as variáveis intervenien-
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO
Os questionários, cujos dados formam esta caracteriza-
ção, foram respondidos pelos alunos do período noturno e
do diurno provenientes da mesma escola, antes da imple-
mentação do programa de intervenção.
Dos 409 alunos presentes no dia da aplicação no período
noturno; foram devolvidos em branco 18 questionários
(4,4%). Do total de 391 questionários respondidos foram
considerados válidos para análise 383. Ou seja, 93,6% do
total de questionários entregues foram preenchidos e con-
siderados passíveis de análise.
No período diurno foram distribuídos 141 questioná-
rios, para o total dos presentes no dia da aplicação. Destes,
somente 7 foram devolvidos em branco. Os 134 questioná-
rios devolvidos, perfazendo 95,0% do total, foram conside-
rados preenchidos adequadamente e passíveis de análise. É
importante salientar que neste grupo as manifestações de
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
ATIVIDADE SEXUAL
No que diz respeito à atividade sexual, observamos que
entre os jovens que estudam no período noturno, 65,5 por
cento (251) relataram já ter tido relações sexuais, enquan-
to somente 11,9 por cento (16) dos que estudam no diurno
relataram já ter tido a mesma experiência. Os dados anali-
sados nos mostravam que nos dois períodos mais homens
do que mulheres relataram já terem tido seu primeiro in-
tercurso sexual: 26,8 por cento (15) do diurno (entre 13 a 18
anos); 70,2 por cento (113) do noturno (entre 13 a 18 anos);
e 87,9 por cento (51) do noturno (de 19 a 25 anos). No que
diz respeito à faixa de iniciação sexual, os dados são mos-
trados na Tabela 1.
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Antes Participante
Estudantes de 13 a 18 anos do Não Part.
(n=274) (n= 169)
período noturno (n=61)
% %
21. Existem pessoas que não têm
80,5 82,8 83,6
sintomas, mas são portadoras do vírus.
28. Só de olhar para a pessoa percebe-
69,0 76,3 68,9
se que ela tem o vírus da Aids.
33. Pessoas com o vírus da Aids
podem ter aparência completamente 68,7 79,3 73,8
normal.
Média percentual dos acertos 72,7 79,5 75,4
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
Antes Participante
Estudantes de 13 a 18 anos do Não Part.
(n=274) (n= 169)
período noturno (n=61)
% %
1. A AIDS é causada por um vírus. 90,5 95,5 91,8
2. O vírus da AIDS é o Azt. 71,6 68,3 76,7
9. O vírus da AIDS é o HIV. 90,5 91,1 90,2
Média percentual dos acertos 84,2 85,8 86,2
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3. Aprendizado
As respostas nessa categoria se referiram ao programa
como tendo possibilitado a aprendizagem sobre os assun-
tos discutidos em grupo como tendo facilitado as discus-
sões com os colegas e amigos. Como exemplo dessas
respostas tem-se:“Sim, muitas coisas que não sabia e pen-
sava errado, mas que agora já sei”; Sim, aprendi muita
coisa”;“Sim uma boa instrução sobre sexo, etc”;“Sim, eu
aprendi mais sobre as doenças”;“Sim, eu não sabia muitas
coisas que acabei aprendendo a discutir com os outros”. As
respostas nesta categoria foram apresentadas por 15,6 por
cento dos participantes.
4. Prevenção
Nesta categoria as respostas se referiram ao programa
como tendo possibilitado a adoção de medidas preventivas
em relação aos temas abordados. Como exemplo dessas res-
postas tem-se: “Sim faz você si prevenir direito”; “Sim, prin-
cipalmente o uso de camisinha”; “Sim! Na maneira de
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
5. Facilidade de expressão
Nesta categoria as respostas se referiram ao programa
como tendo propiciado maior facilidade de expressão ou de-
sinibição em relação à abordagens dos temas trabalhados.
Como exemplo destas respostas tem-se: “Oh como mudou.
Eu não sou mais aquela pessoa tímida, mudou bastante”;
“Sim, fez com que eu pensasse mais extrovertidamente”. As
respostas nesta categoria foram apresentadas por 9,1 por
cento dos participantes.
Foram ainda agrupadas como avaliação positivamente
sucinta ao programa 3,7 por cento das respostas.
Observamos assim que os participantes do programa apre-
sentaram, de modo geral, avaliações positivas sobre o pro-
grama. O Programa é fundamentalmente visto como um
espaço para reflexões, discussões e aprendizagem. A refle-
xão e adoção ou mesmo intenção de mudanças em termos de
prevenção, a possibilidade de discutir e de aprendizado e até
a desinibição na expressão de seus pensamentos ou idéias
são mudanças relatadas pelos participantes.
A alta adesão ao programa e a permanência, no mesmo,
da maioria dos participantes, aliada aos relatos do que eles
consideram mudanças positivas ocorridas em decorrência
do programa, parecem constituir elementos que contribuem
para uma avaliação positiva desse processo de intervenção
educativa.
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Discussão
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
Os resultados esperados nas avaliações de impacto no
contexto de programas de prevenção de Aids, são as mu-
danças de comportamento, geralmente, restritas ao com-
portamento de adoção do preservativo nas relações sexuais.
Este comportamento se torna o centro da avaliação e o
principal indicador da eficácia da intervenção.
Porém, se nos determos apenas neste único indicador de
eficácia de um programa, a grande maioria dos programas
não atingiria seu objetivo: aumentar os índices de adoção
do preservativo nas relações sexuais.
Cada vez mais, estamos convencidos de que a mudança
de comportamento não acontece apenas através de proces-
sos cognitivos. Sabemos que a adoção do preservativo, em
todas ou na maior parte das relações sexuais mantidas, não
é algo que ocorra somente por decisão racional ou mesmo
após as discussões das dificuldades psicossociais envolvi-
das no uso do preservativo. Provavelmente, as decisões e
mudanças estejam em processo, não sendo, portanto, um
único índice de avaliação de um programa educativo. Pode-
mos supor que, de modo geral, o jovem começa, durante um
programa, como o proposto, a entrar em contato com as
suas “vulnerabilidades” ligadas à sexualidade. Esses con-
tatos os colocam em processo de ressignificação de crenças
e atitudes frente aos problemas evocados nas discussões.
Esses estágios, no entanto, podem não significar necessa-
riamente mudanças em um único sentido ou direção.
Entretanto, a avaliação de impacto não significa, neste
contexto da prevenção, obrigatoriamente analisar a eficá-
cia das estratégias de intervenção com objetivo único de
aumentar o número de indivíduos que adotam o uso do pre-
servativo em suas relações sexuais. Mesmo porque, adotar
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
sar que valor é esse que está sendo atribuído. Isso nos faz
refletir sobre a importância da circulação de idéias na lite-
ratura técnico científica, numa dada época sobre uma de-
terminada área. Na literatura da área, ainda são bastante
freqüentes, as proposições de avaliações de resultados com
comparações de índices obtidos antes e depois de progra-
mas educativos para considerar a sua possível eficácia.
Ao iniciarmos o planejamento da pesquisa, já tínhamos
muitas experiências com intervenções junto a jovens na
comunidade. Reconhecíamos o valor dos processos cotidia-
nos de discussão dos temas que emergiam nos grupos. Per-
cebíamos que eram nesses encontros cotidianos e contínuos,
em grupo, que emergiam sempre muitos interesses pelos
temas tratados. As verbalizações e expressões, dos partici-
pantes, nos mostram os pontos de interesse, os entraves e
saídas encontrados, em discussão, em direção às constru-
ções de cultura de proteção em relação à saúde. Ou seja,
percebíamos que nesses encontros, nas falas cotidianas é
que são encontradas as dicas de que algo está mudando, no
entanto, ao nos propormos avaliar um programa educativo
optamos pelo que era priorizado na literatura internacio-
nal. Como nos alerta Ayres (1996, p.10) “[...] a racionali-
dade de qualquer avaliação guarda uma relação diretamente
proporcional ao grau de sua adequação, à experiência real
que se quer avaliar [...]”.
Ayres (1996, p. 10-11) comparando formas de avaliação
diz que, as que se parecem a uma prova final, são muitas
vezes pouco fecundas e afirma
[...] E por que ele é tão “infecundo”, para não dizer estéril?
Porque é deformador: em geral elucida mais a informação
obtida que a formação construída: desta informação, por
sua vez. freqüentemente não se pode discriminar o que é
uma apropriação circunstancial daquilo que ficou consolida-
do como bagagem intelectual; as estruturas lógico-argumen-
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
Referências
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3. OBESIDADE GRAU III:
LEVANTAMENTO DA PRODUÇÃO
CIENTÍFICA
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
Objetivo
Revisar a produção científica referente à obesidade grau
III, de 1998 a 2002, a fim de levantar as pesquisas publica-
das sobre o tema através de algumas dimensões de análise.
Método
A pesquisa de levantamento compreendeu uma amostra
de 60 abstracts de periódicos indexados nas bases de dados
LILACS (46 resumos) e PsycINFO (14 resumos), entre 1998
e 2002, utilizando o descritor obesidade mórbida. Ou seja, o
procedimento de coleta de dados foi feito a partir do levan-
tamento dos resumos contidos nessas duas bases de dados
utilizando como palavra de busca obesidade mórbida, ele-
gendo o período de 1998 a 2002. A análise dos dados foi fei-
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Resultados e Discussão
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
País f %
Brasil 18 30,0
USA 4 6,6
Chile 9 15,0
Alemanha 1 1,6
Espanha 5 8,3
Canadá 1 1,6
Austrália 1 1,6
Israel 1 1,6
Netherlands 1 1,6
Guatemala 2 3,3
Cuba 1 1,6
Argentina 3 5,0
Colômbia 1 1,6
Índia 1 1,6
México 2 3,3
Peru 1 1,6
Não especificado 8 13,3
Total 60 100
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
Área f %
Medicina 27 45
Endocrinologia 4 6,6
Pediatria 1 1,6
Nutrição 4 6,6
Anestesiologia 3 5
Ginecologia e Obstetrícia 1 1,6
Gastroenterologia 1 1,6
Psiquiatria 5 8,3
Psicologia 5 8,3
Não especificado 9 15
Total 60 100
85
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
População f %
Adultos (mulheres) 10 16,6
Adultos (mulheres e homens) 22 36,6
Crianças, adolescentes 3 5,0
Animal (cão) 1 1,6
Outros (não especificados e
24 40
ausentes)
Total 60 100
87
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
TP f %
Empírico 36 60
Trabalho teórico 20 33,3
Não especificado 4 6,6
Total 60 100
Instrumentos f %
Short-form Health Questionnaire 1 1,6
Dutch Eating Behavior Questionnaire 1 1,6
Desenho da Figura Humana 1 1,6
Millon Clinical Multiaxial Inventory II 1 1,6
Dutch Personality Questionnaire 1 1,6
Ausentes 54 90
Total 60 100
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
Métodos f %
Correlação 6 10,0
Teste de Mann-Whitney 1 1,6
Confiança 1 1,6
Regressão 1 1,6
Nenhum método 51 85,0
Total 60 100
Considerações finais
De acordo com o levantamento da produção científica
sobre este tema específico, percebe-se a crescente preocu-
pação com o tratamento da obesidade e os problemas que
podem advir para a piora na saúde.
De acordo com os resultados obtidos, o número de pro-
duções que em 1998 era de apenas 8,3% aumentou para
36,6% em 2002. Destaque para publicações com três auto-
res (33,3%) e predominância de publicações brasileiras
(30%), mostrando o avanço em termos de discussão e em-
prego das cirurgias bariátricas. Também foi observado uma
maior concentração de periódicos da área médica (70%), de
estudos empíricos (60%) e de faixa etária adulta (36,6%).
A proporção de publicações na área médica é prova-
velmente verificada pelo crescente emprego da cirurgia
bariátrica como tratamento eficaz para redução de peso
e para melhorar a qualidade de vida de indivíduos obesos
mórbidos. Tal fato ocorre porque o que tem se verificado é
a ineficácia de outras formas de tratamento como dietas
hipocalóricas associadas a exercícios físicos, ou mesmo o
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Referências
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
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4. SOBRE A ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO
DE ESTUDOS DE CASO NA PESQUISA
CIENTÍFICA E NA PRÁTICA PROFISSIONAL
EM PSICOLOGIA
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Referências
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5. DESOSPITALIZAÇÃO EM
PSIQUIATRIA: o DESEJO DE PERMANECER
INTERNADO – UM ESTUDO DE CASO
108
Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Método
Considerando que vários são os fatores envolvidos na
recusa à desospitalização, o estudo de caso de abordagem
qualitativa pareceu ser o meio de trabalho que melhor abor-
dava a complexidade e a multifatoriedade da problemática
(LÜDKE; ANDRÉ, 1986; BRUYNE, 1991; COSTA, 2000).
Dado o caráter exploratório do estudo, considerou-se im-
portante a obtenção de dados predominantemente descriti-
vos e provenientes de várias fontes, abordando a situação
de todos ângulos possíveis. Além disso, considerou-se o
ponto de vista dos participantes e atribuições de significa-
dos feitas por eles como de extrema importância, por per-
mitirem uma busca de maior clareza do dinamismo interno
da situação. De acordo com Grinder (1987) e Biasoli-Alves e
Dias da Silva (1992), nas abordagens qualitativas o pesqui-
sador tenta interpretar as circunstâncias do ponto de vista
do sujeito estudado, dentro do contexto social e integral.
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
PROCEDIMENTOS
A partir de contato profissional já estabelecido pelas pes-
quisadoras, foi definido como local para a localização do
participante deste estudo uma instituição psiquiátrica do
interior do estado de São Paulo. Mediante o aval da Insti-
tuição para o desenvolvimento do projeto e sua aprovação
pelo Comitê de Ética da FFCLRP/USP, o paciente foi esco-
lhido, sendo apresentados a ele os objetivos e processos pre-
vistos na pesquisa, que somente teve seu início após a
assinatura do consentimento livre e esclarecido (Anexo 1)1.
Dentro da proposta de conhecer a problemática em fun-
ção de suas diferentes vertentes, foram incluídas, como fon-
tes de coleta de dados, entrevistas realizadas com o próprio
paciente, com funcionários da instituição, e com um fami-
liar, e análise das informações contidas dos prontuários
arquivados no hospital, que registram observações sobre o
paciente e o tratamento recebido durante a internação2. O
paciente foi entrevistado segundo uma modalidade especial
de entrevista, a história de vida temática, que consiste em
1
Considerou-se pertinente, dadas as características da situação, que o termo de consentimento fosse
assinado também pelo próprio paciente, além de pelo seu representante legal.
2
Lüdke e André (1986) apontam que os documentos são fontes de informação contextualizadas,
surgidas no contexto e dando informações deste contexto. Além disso, a análise documental permi-
te complementar e ratificar informações obtidas por outras técnicas e ainda desvelar aspectos
novos sobre a questão estudada, possibilitando maior validade da pesquisa.
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
A PESSOA EM QUESTÃO
João, o nome pelo qual trataremos o paciente4 que é o
foco deste trabalho, tem 78 anos. Foi internado em 1944,
com a idade de 21 anos. Em 1982 houve uma alta médica
hospitalar, porém João se recusou a ir embora. Hoje vive
em um setor que abriga pacientes com melhores condições
de cuidados pessoais e preservação psíquica, em pequeno
número, e que tem como objetivo o trabalho de reabilitação
preparatório para as próximas etapas em que ocorreriam
transferências que o levariam a pensões protegidas. João
se recusa a seguir neste percurso, preferindo permanecer
na ala onde se encontra; mesmo tendo sido encaminhado à
Psicologia para se trabalhar a possibilidade de desospitali-
zação, mostrou-se irredutível.
OS OUTROS DEPOENTES
Foram entrevistados dois funcionários; um trabalha há
25 anos no hospital como auxiliar de enfermagem, e está
3
Os roteiros de todas as entrevistas estão apresentados no Anexo 2.
4
Nome este, como todos os outros que aparecerem, fictício.
112
Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
OS DOCUMENTOS
A análise documental voltou-se para as informações con-
tidas nos prontuários arquivados no hospital. O prontuá-
rio é extenso, parte dele se encontra no setor onde vive João
e parte na área administrativa do hospital. Não segue uma
ordem cronológica, as páginas são desorganizadas e faltam
algumas delas. Vários são os profissionais que fazem ano-
tações: psiquiatras, psicólogos, assistente social, terapeu-
ta ocupacional, profissionais do corpo da enfermagem e
clínico. As anotações em geral são breves e vagas, sendo
que até 1970 contém poucas informações, e desta data até o
momento de realização da pesquisa contém principalmente
a evolução psiquiátrica.
Resultados
O QUADRO TRAÇADO
Para entendermos a condição atual de João, partiremos
de sua história, montada a partir das fontes utilizadas na
coleta dos dados.
Até os 13 anos João morou na fazenda com seus pais e
oito irmãos, e segundo sua irmã “era muito calado”. Desde
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pra mim... foi como a igreja quis”; “aqui [no hospital] sou
obrigado a ficar”, “não tem outro recurso, tem que viver
aqui”: “as pessoas me percebem muito, meu pensamento...
não tenho segredos, qualquer querendo descobre meu se-
gredo... por isso que eu fico aqui”, “meu pensamento, a
transmissão de pensamento, porque o que eu penso o outro
tá sabendo, até hoje sofro influência dos mais conscientes...
ainda, sempre... não dá, não dá pra conviver”, “aqui não
sou observado, lá eu sou... minha vida é pública... por isso
que eu fico aqui, não quero ir pra fora”. A dificuldade de
convivência fora do hospital é apontada por João ainda da
perspectiva da diferença: “é mais fácil conviver aqui, todos
sofrem também, cada um tem sua sentença, um não pode
falar do outro... todo mundo é louco, tudo igual”, com a
ressalva de que “é o louco consciente, nunca perdi o juízo
puxa vida!”.
Como que confirmando essa última ressalva, João colo-
ca pontos concretos que dificultam sua desospitalização: o
perigo e os riscos da vida que acabam deixando as pessoas
“prisioneiras mesmo que livres”, e a falta de recursos fi-
nanceiros e médicos, oferecidos no hospital.
Além destes aspectos, a volta de João à casa da família
parece problemática do ponto de vista da irmã e dele mes-
mo. A irmã coloca impedimentos: são só mulheres na sua
casa, que é pequena, além de seus problemas de saúde, de
sua idade, e dos cuidados que tem que oferecer à irmã aca-
mada: “de jeito nenhum ele pode ficar aqui... é possível ele
ficar no hospital”. Considera difícil mesmo as visitas a João
no hospital, pois por conta da idade e da saúde diz que tem
que ir de taxi, com cujo custo não pode arcar. Fala que pre-
fere que João vá visitá-las, porém não telefona para fazer
esse convite. E as visitas acabam por acontecer duas ou
três vezes no ano, por iniciativa de João; na última delas,
por exemplo, foi sozinho, sem funcionário que o acompa-
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Discussão
O objetivo desse trabalho, como apontado anteriormen-
te, é compreender os fatores externos e os fatores internos
que levam um paciente a que, mesmo com condições de ser
desospitalizado, se negue a tal. O material reunido tornou
possível apontar aspectos da relação existente entre os fa-
tores externos e internos, e o significado dado a eles pelo
próprio paciente. Em outras palavras, permitiu que se com-
preendesse a relação particular estabelecida com a insti-
tuição, e seu significado interno, cuja referência é a própria
doença e a forma como lida com ela.
Temos traçado um quadro fruto de 57 anos de interna-
ção, marcado por grande parte da história da psiquiatria.
Assim, após o que parece ter sido inicialmente um tentati-
va de resistência, numa fuga e a volta na “pior viagem”, ao
final de um árduo processo de cronificação, vemos que João
passou a se tornar definitivamente um morador do hospi-
tal, situação que parece definir sua identidade atual.
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Referências
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ANEXO 1
Representante Legal
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ANEXO 2
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6. AS DESORDENS
TEMPOROMANDIBULARES E O PSICÓLOGO:
DA ETIOLOGIA À TERAPÊUTICA
Psicologia e desordens
temporomandibulares (DTMs)
O quadro que hoje conhecemos como desordens temporo-
mandibulares compreende um conjunto de sinais e sintomas
de grande diversidade, e caracteriza-se pela complexidade de
sua etiologia; assim sendo, o campo de investigação vem se
tornando cada vez mais amplo, e nele a inclusão de dimen-
sões relacionadas à Psicologia tem papel significativo
(ALENCAR JR., 1997; ASH; RAMJFORD; SCHNIDSEDER,
1998; OKESON, 1992).
No entanto, a assimilação da Psicologia na compreensão
das DTMs não tem uma aceitação irrestrita, nem se dá de
forma unívoca na dimensão teórica ou na prática. Em ter-
mos teóricos há muita variedade nos pontos de vista acerca
das possibilidades de sua contribuição; em termos práticos,
embora o esforço de um trabalho interdisciplinar seja sobre-
maneiramente valorizado, constata-se uma dificuldade em
conseguir efetivá-lo de tal forma que os diferentes profissio-
nais trabalhem num esforço conjunto de compreensão de cada
caso, e não somente através de atuações paralelas.
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O estresse
A primeira destas possibilidades, refere-se ao estresse,
um dos fatores mais comumente apontados como tomando
parte na etiologia das desordens temporomandibulares, à
medida em que as respostas fisiológicas desencadeadas por
ele provocam alterações na atividade muscular e vascular
da região facial.
O estado de estresse pode ser compreendido, ainda que
de forma esquemática, como aquele provocado pela reação
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A dor
Também a dor - matéria prima para o profissional que
lida com as desordens temporomandibulares - é um fenô-
meno que envolve, além dos aspectos neurofisiológicos, com-
ponentes psicológicos que influem na sua percepção e na
reação a ela (CARBONELL, 1983; SEGER, 1988).
A chamada dor psicogênica é, sem dúvida, aquela que
maior dificuldade causa ao profissional que lida com as
desordens temporomandibulares. É relatada pelos pacien-
tes sem que haja lesão física evidente ou causa periférica
que a justifique, e seu padrão não guarda relações com a
anatomia. Descrita como crônica e apagada, persiste assim
por muitos anos; a forma de o paciente referir-se a ela via
de regra acompanha-se de um sentimento não apropriado
ou da atribuição de um significado não racional (MOUL-
TON, 1973). Aparece como parte dos sintomas de quadros
psiquiátricos definidos, envolvendo ou uma reação de con-
versão nas neuroses histéricas, ou uma ilusão nas psicoses
(BELL, 1991; ASH; RAMJFORD; SCHNIDSEDER, 1998).
No caso da neurose histérica, por um mecanismo ainda
pouco conhecido, considera-se que a ansiedade proveniente
de um conflito psíquico (via de regra inconsciente) é “trans-
formada” em um sintoma somático. O sintoma é claramente
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
O psicólogo
A participação do psicólogo no atendimento ao paciente
com desordens temporomandibulares pode, e deve, dar-se
tanto no trabalho realizado diretamente com o paciente,
como na participação na equipe multidisciplinar1.
No momento diagnóstico, é fundamental o conhecimen-
to em profundidade da pessoa atendida, com sua história, e
1
No caso das DTMs, é mais comum que a equipe conte com a participação, ao lado do dentista, de
fisioterapeuta e fonaudiólogo. A discussão que se segue tem como referência o profissional com
formação em Odontologia, que em geral é a referência central no tratamento.
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Referências
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7. QUALIDADE DE VIDA DE MÃES DE
CRIANÇAS COM AUTISMO*
* Este estudo foi subvencionado pela FAPESP, mediante a concessão de Bolsa de Mestrado à primeira
autora.
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Características familiares e
sobrecarga emocional
No que concerne às condições gerais da família com um
filho autista, Prado (1999) levanta a hipótese de que há uma
organização autista do aparelho psíquico familiar, que essa
autora denomina de “família autista”, explicitando que pro-
blematizar o autismo infantil implica necessariamente tra-
tar também da questão familiar, uma vez que é “uma
síndrome grave que se manifesta bastante precocemente,
quando é total a dependência da criança de sua família, par-
ticularmente de sua mãe ou substituta, para seu desenvol-
vimento” (p. 4).
A compreensão de como os pais percebem a criança au-
tista tem sido enfocada por diversos estudos psicológicos.
Inicialmente, os estudos tenderam a caracterizar os pais
da criança autista como emocionalmente frios, apresentando
dificuldades no estabelecimento de contato afetivo (ORNITZ;
RITVO; GAUDERER, 1987). A partir de estudos mais re-
centes, progressivamente os pais deixaram de ser vistos
como pessoas desligadas, afetivamente frias e que poderiam
ter alguma característica de personalidade predisponente
ao autismo de seus filhos, para serem concebidos como cui-
dadores que criam e se relacionam de maneira normal com
suas crianças. Ornitz, Ritvo e Gauderer (1987) afirmam que,
atualmente, em linhas gerais, “os trabalhos existentes não
mostram nenhuma diferença significativa entre pais de
autistas e outros” (p. 125), acrescentando que o transtorno
autista pode ocorrer em famílias com qualquer nível sócio-
econômico, intelectual, ocupacional, educacional, racial,
étnico ou religioso.
Cuidadores de crianças que demandam cuidados espe-
ciais de um modo contínuo e constante vivenciam freqüente-
mente sobrecarga emocional. Assim, parece ser justificável a
preocupação com analisar a qualidade de vida desses fa-
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
Material e método
1. DELINEAMENTO DO ESTUDO
O delineamento escolhido foi um estudo descritivo de corte
transversal realizado com participantes cuidadores de crian-
ças que demandam cuidados especiais. Cervo e Bervian (1983)
afirmam que nessa modalidade de estudo o pesquisador preo-
cupa-se em fornecer uma descrição das características, pro-
priedades ou relações existentes na comunidade, grupo ou
realidade pesquisada. Richardson (1999) afirma que, em um
estudo de corte transversal, “os dados são selecionados em
um ponto no tempo, com base em uma amostra selecionada
para descrever uma população nesse determinado momen-
to” (p. 148). Neste caso, o grupo selecionada é composto de
mães de crianças conhecidas como autistas.
Segundo as classificações diagnósticas existentes, tra-
tam-se de crianças portadoras de transtornos invasivos do
desenvolvimento (TID, incluindo transtorno autista) (AS-
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2. PARTICIPANTES
O estudo incluiu 20 participantes, mães de crianças por-
tadoras de autismo, vinculadas a duas instituições de aten-
dimento especializado localizadas em dois municípios do
interior do estado de São Paulo.
Os critérios de inclusão das participantes foram:
• Mães com um filho (sexo masculino) em idade infantil
(até 12 anos) diagnosticado como portador de autismo;
• A participante deveria aceitar voluntariamente partici-
par do estudo, formalizando seu acordo com os objetivos
da pesquisa mediante assinatura de um Termo de Con-
sentimento Livre e Esclarecido.
Pretendia-se que a participação voluntária ocorresse com
um mínimo de vinte sujeitos, sendo dez de cada instituição.
Fixou-se em dez o número de mães em cada instituição em
virtude de ter sido este o número inicialmente levantado de
mães que preencheram os critérios de inclusão na institui-
ção A e que se comprometeram a participar do estudo.
3. INSTRUMENTO
World Health Organization Quality of Life
(WHOQOL-bref)
A Organização Mundial de Saúde (OMS) desenvolveu um
amplo estudo, envolvendo 20 países, com o objetivo de criar
um instrumento de medidas padronizadas para avaliar os
conceitos de bem-estar e qualidade de vida, considerando
assim a importância crescente dessas dimensões. Esse es-
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
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Questões Alternativas
4. PROCEDIMENTO
Coleta de dados
Iniciou-se a coleta de dados mediante o contato com as
instituições de atendimento em que seria realizada a pes-
quisa. Uma vez obtida a anuência das duas instituições es-
pecializadas, foi efetuado um levantamento preliminar das
mães de crianças que as freqüentavam (crianças portado-
ras de autismo infantil ou transtorno autista, transtorno
invasivo do desenvolvimento ou transtorno global do de-
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
car mães que ficavam mais afastadas do lar e dos filhos devi-
do ao trabalho” (p. 101). Como esse propósito se adequou bem
ao presente estudo, foi assumido esse pressuposto.
Assim, essa variável foi definida de modo a diferenciar
as mães que trabalhavam em casa e aquelas que exerciam
atividades remuneradas inseridas no mercado formal ou
informal de trabalho. Consideraram-se os casos de traba-
lho em meio período do dia como trabalho fora de casa. O
propósito foi identificar mães que se dedicavam integral-
mente à criança e aquelas que dividiam seu tempo com o
trabalho extra-doméstico.
5.2.7 Número de filhos
A variável número de filhos foi definida como o número
de filhos (biológicos e/ou adotivos) da participante que mo-
ravam na casa. Perguntava-se à mãe quantos filhos tinha e
quantos moravam em sua casa.
5.2.8 Religiosidade
A variável religiosidade foi definida como a prática re-
gular ou não de cultos religiosos pela entrevistada.
Resultados
1. PARTICIPANTES
1.1 Procedência das participantes
Para compor o grupo de participantes recorreu-se a duas
instituições especializadas. Foram incluídas 20 mães no es-
tudo, sendo treze oriundas da instituição A e sete da insti-
tuição B. A instituição A é uma entidade sem fins lucrativos,
uma organização não governamental. Já a instituição B é
vinculada à administração municipal.
A Tabela 1 indica a quantidade e a procedência das crian-
ças portadoras de autismo, cujas mães fazem parte desse
estudo. A maior parte das participantes (65%) tem filhos
atendidos pela instituição A.
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n % n % n %
A 10 50 13 65 – –
B 10 50 7 35 3 15
Total 20 100 20 100 3 15
1. 2. CARACTERÍSTICAS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS
Os dados da Tabela 2 revelam que a média de idade das
participantes cujos filhos freqüentavam a instituição A foi
de aproximadamente 39 anos, enquanto que da instituição
B foi de aproximadamente 41 anos, tendo a amostra toda
apresentado a idade mínima de 29 anos e máxima de 56 anos
para as mães de crianças portadoras de autismo.
A idade média das crianças foi de aproximadamente dez
anos nas duas instituições. Em média, as famílias envolvi-
das no estudo eram constituídas de três filhos, em ambas
as instituições.
Um dado que chama a atenção é concernente ao nível de
escolaridade, medido em anos de estudos completos (Tabe-
la 3). A escolaridade média da amostra da instituição A foi
de 10 anos aproximadamente, ao passo que na outra se apro-
ximou dos quinze anos, indicando, portanto, uma quanti-
dade maior de participantes que tiveram acesso ao ensino
médio e superior. Considerando-se a totalidade da amostra,
25% das participantes cursaram o Ensino Fundamental
completo, enquanto outros 25% não chegaram a completar
o Ensino Médio; 25% não concluíram o ensino fundamen-
tal. A Tabela 3 mostra ainda que 85% das mães não esta-
vam inseridas no mercado formal de trabalho, ocupando-se
de atividades domésticas e do cuidado direto ao filho.
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
Renda per capital (reais) 262,56 75,00 666,66 460,11 87,50 1100,00
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Discussão
A maioria das participantes entrevistadas, mães de crian-
ças que demandam cuidados especiais, era cuidadora direta
dos filhos e despendia a maior parte de seu tempo atenden-
do às demandas de cuidados da criança. Assim, toda sua
atenção era dedicada a esse objetivo, dividida apenas com
os afazeres domésticos.
As participantes avaliaram positivamente sua qualida-
de de vida, sendo que em apenas um caso essa apreciação
apareceu prejudicada, se comparada com as demais.
É interessante observar que o domínio físico foi o aspecto
da qualidade de vida melhor apreciado. Esse domínio ava-
lia a presença de dor e desconforto físico, a disposição de-
monstrada no dia-a-dia (energia versus suscetibilidade à
fadiga), funções integrativas (sono e repouso), mobilidade,
desempenho de atividades de vida cotidiana, dependência
de medicação ou de tratamento e capacidade de trabalho. O
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Referências
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8. TERAPIA GRUPAL E INDIVIDUAL:
UM ESTUDO COMPARATIVO1
1
Pesquisa financiada pela FAPESP, realizada no ano de 1998, da qual constam duas partes: um estudo
exploratório na versão dos usuários e outro na versão dos terapeutas.
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
Método
Foram sujeitos desta pesquisa três pessoas que estão em
atendimento individual e três em atendimento grupal, to-
talizando seis sujeitos.
Com a finalidade de se atingir os objetivos propostos,
utilizamos como instrumento de trabalho a entrevista
semidirigida e de seqüência flexível. Optamos pela entre-
2
Referidos na Bibliografia.
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3
As siglas TI e TG referem-se respectivamente a Terapia Individual e Terapia Grupal assim como as
siglas E seguidas de numeração, referem-se aos Entrevistados.
4
Os segmentos de frase grifados nas falas dos Entrevistados salientam os indicadores das análises
e serão sempre meus.
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4. O ato terapêutico
(...) A partir de certo tempo como falei, a terapia foi se
aprofundando mais, depois que me senti mais à vontade.
No começo havia muito silêncio, muitos períodos de silên-
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Considerações finais
Esta pesquisa teve por objetivo identificar e comparar
os significados que as pessoas que procuram um determi-
nado tipo de atendimento psicológico (Individual ou Gru-
pal), atribuem a essa escolha e a terapia enquanto tal.
Segundo o que se apresentou nas análises dos dados, não
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Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
6
Representações do grupo como lugar de exposição e prática superficial, hipoteticamente falando,
poderiam não ter aparecido, visto que se essas psicoterapias se constituem a partir de uma trans-
posição do modo intimista da prática individual para a grupal, assim seria de menor intensidade
ou inexistente a idéia de exposição ou superficialidade, uma vez que a exploração de um eu estaria
sendo contemplada. O outro, ressaltamos em hipótese, seria percebido com receio menor, já que esse
outro não seria visto como alteridade, mas enquanto desdobramento da representação do eu, o que
é denominada de processos identificatórios pelo plano teórico psicanalítico. Dessa forma, não
haveria no grupo, ressaltamos novamente em hipótese, o sentimento exposição, por esse tornar-se
“um grande eu”, constituído por uma soma de individualidades totalizantes em si mesmas.
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Conclusão
Pelo fato da pesquisa abordar as escolhas pela modalida-
de de Atendimento Grupal e Individual na perspectiva dos
profissionais e pacientes, procuramos estabelecer os pon-
tos comuns que relacionam as duas pesquisas, para uma
efetiva compreensão à respeito das conclusões obtidas.
202
Parte I: Psicologia e processos de investigação científica
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Referências
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PARTE II
PSICOLOGIA E
PROCESSOS EDUCATIVOS,
PSICOEDUCATIVOS E SOCIAIS
9. INTERVENÇÃO DE AJUDA A CRIANÇAS
E ADOLESCENTES CONSIDERADOS EM
SITUAÇÃO DE RISCO PSICOSSOCIAL: O
MODELO DA PSICOEDUCAÇÃO
211
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
1
Faz-se necessário destacar a distinção existente entre os conceitos “Educação especial” e “Educação
Especializada” - e seus respectivos interesses e práticas subjacentes. A primeira oficializada em
1975, refere-se à proposição de uma pedagogia de ensino especificamente destinada aos indivíduos
com deficiências (handcaps), ao passo que o termo “educação especializada”, de seus primórdios, foi
utilizada para referir-se a crianças e adolescentes em conflito com as normas sociais, vivendo,
portanto, dificuldades temporárias e relativas ao corpo social mais amplo.
2
LEFEBVRE, H. Introduction. In: ______. Critique de la vie quotidienne. Paris: Grasset, 1947.
3
LE GUILLANT, G. La vie cotidienne. Paris: Ed. Du Scarabée, 1954.
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Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
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Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
As intervenções individualizadas
O trabalho em grupo, de forma tão engajada e próxima,
permite a detecção de crianças e adolescentes vivendo si-
tuações particularmente adversas, desconhecidos ou sem
acompanhamento da parte de outros órgãos. Estes geral-
mente demandam uma intervenção individualizada (do
caso), especializada (em termos de respostas a necessida-
des específicas) e maciça (intensa no sentido de horas de
investimento). Ademais, dentro da perspectiva Psicoedu-
cativa, para os casos em que se detecta uma problemática
instalada, a intervenção necessariamente implica numa
atuação que se estende para outros contextos de vida dos
sujeitos, sobretudo em se tratando de crianças e adolescen-
tes, como por exemplo, a escola, a família, os abrigos, etc.
Embora nos Núcleos tenha-se estabelecido determina-
dos limites à intervenção, com alguma restrição às ações
para além de seus “muros”, o imperativo ético de realizar
determinados acompanhamentos, sempre foi entendido e
acatado pelas unidades em que se trabalhou, após uma re-
flexão conjunta com os seus coordenadores.
Além disso, considera-se que os agentes deste programa,
se comparados aos dos outros serviços existentes na comu-
nidade, encontram-se bastante bem posicionados para a rea-
lização da verificação e da mediação de situações complexas,
com vistas às necessidades/dificuldades das crianças/ado-
lescentes. Independentemente do grau e da qualidade de re-
lacionamento estabelecido entre os Núcleos e a comunidade
circunvizinha, a localização em seu seio é muito propícia ao
contato e ao relacionamento com esta realidade.
Como exemplo das possibilidades de atuação nesta dire-
ção, inúmeras situações podem ser focadas. Contudo, con-
226
Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
4
Os casos de “falsa negligência” ou “falso abandono” são exemplos clássicos (BRINGIOTTI, 2000).
Frente a estes casos, cabe ao Psico-educador permanecer sensível, “chocando-se” todas as vezes que
vir alguém ou um grupo vivendo situações materiais que aviltam sua condição humana. Esta espécie
de indignação impulsiona o profissional a realizar ações de encaminhamento a programas/serviços
com competência (portanto, dever) de intervenção nestes casos, e velar para que ações efetivas sejam
realizadas, e que não haja confusão indevida entre miséria e maus-tratos, por exemplo.
227
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Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
229
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5
Algumas investigações científicas têm descrito esta dinâmica, confirmando que o isolamento social
– decorrente de uma percepção negativa que adulto tem da qualidade das relações que mantém com
outros adultos, de seu entorno e/ou de agências de intervenção – é um fator extremamente relevante
correlacionado à situações de violência intra-familiar e quadros de doença mental (ETHIER;
COUTURE; LACHARITÉ, 2004; LAVIGUER, 1989).
230
Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
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Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Considerações finais
Acredita-se que o trabalho Psicológico na área social-
comunitária demande do profissional uma atuação diferente
daquela para a qual tem sido tradicionalmente preparado,
pautando-se na concepção de que a ação implicará em “viver”
com os sujeitos da intervenção suas experiências cotidianas,
tendo que intervir no aqui e agora dos acontecimentos, sem
perder de vista os significados humanos atribuídos às vivên-
cias que desenrolam-se em condições de existência, por ve-
zes, muito adversas. Neste sentido, não há dúvidas que isto
exigirá o desenvolvimento de habilidades bastante específi-
cas, além da aquisição de conhecimentos fundamentais.
Assim, uma formação específica, dentro desta perspecti-
va, parece imprescindível à legitimação de um espaço de
atuação profissional que tem sido, gradativamente, ocupa-
do pelos Psicólogos.
A busca e a experimentação de modelos, tanto para a
formação, quanto para a atuação profissional, são tarefas
inalienáveis das instituições formadoras, de nível univer-
sitário, considerando a missão de produzir conhecimento
científico relevante, de aplicação social.
Dentro deste quadro, pode-se afirmar que o modelo Psicoe-
ducativo se apresenta como uma alternativa interessante.
Embora requerendo ainda investigações científicas que pos-
sam avaliar de forma rigorosa e sistemática o processo de sua
implementação, bem como de seus resultados, a exemplo do
que foi feito no contexto de Casa-Abrigo (BAZON, 1999), a
experiência destes anos aponta para uma avaliação positiva
de sua pertinência também para o contexto dos Núcleos.
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Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
Referências
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10. O TRABALHO COM GRUPOS
MINORITÁRIOS NA PERSPECTIVA DA
PSICOLOGIA SOCIAL
O Poder e as Minorias
A opção de nomear a população em situação de rua de
grupo minoritário está fundamentada em nossa leitura
onde o ‘minoritário’ acaba sendo aquele que tem pouco, ou
1
Gostaríamos de agradecer algumas das discussões suscitadas nesse artigo aos demais estagiários
envolvidos no projeto: Beatriz Orosco, Carlos Ywama, Patrícia Algarve, Maria Lídia Olim e Márcio
Ciriaco.
2
De acordo com o disposto no decreto 40.232 de 02 de janeiro de 2001, que regulamenta a lei 12.316/
97 sobre a população em situação de rua, Casas de Convivências (conforme descrito no artigo 5º,
item V) são espaços que podem ser operadas diretamente pelo município ou em parceria com orga-
nizações e empresas “com ofertas de espaços dotados de recursos humanos e materiais para promo-
ção do trabalho sócio-educativo em regime de atendimento diário desenvolvendo atividades de
convivência, socialização e organização grupal, atividades ocupacionais, educacionais, culturais e
de lazer, assim como oferecendo condições de higiene pessoal, lavagem e secagem de roupas, alimen-
tação, guarda volumes, serviços de documentação e referência na cidade.”
3
A mesma lei supracitada, estabelece no seu item VI o que é o projeto de Moradias provisórias:
“serviço realizado em conjunto por SEHAB e SAS (...) com capacidade de uso por até 15 pessoas
moradoras de rua e em processo de reinserção social, funcionando em regime de co-gestão. A
operacionalização desses serviços envolverá responsabilidades compartilhadas (...) às organiza-
ções sociais caberá garantir padrões adequados de qualidade no atendimento.”
4
De acordo com o último recenseamento da população em situação de rua de São Paulo, o centro
possui, não só a maior quantidade de pessoas em situação de rua, como também congrega o maior
número de serviços voltados para o atendimento desse segmento da população (SÃO PAULO, 2003).
240
Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
5
Todas as traduções de textos de língua estrangeira citados foram realizadas pelos autores.
241
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
6
O último censo da FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) em parceria com a Secre-
tária da Assistência Social de São Paulo - SAS foi realizado em Outubro de 2003. Essa parceria é
responsável pelo levantamento quantitativo da população em situação de rua em São Paulo, pois
diferentemente da maioria dos países do mundo, como Inglaterra e Canadá, onde a população de
rua faz parte do número oficial dos censos estatísticos, a população de rua, no Brasil, não é recenseada
no levantamento oficial, realizado pelo IBGE. (SÃO PAULO, 2000)
242
Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
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Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
OBJETIVOS
O estágio possuiu três objetivos:
• Formar psicólogos comprometidos socialmente;
• Discutir com os estagiários recursos práticos e teóri-
cos acerca dos modos de organização grupal que os auxi-
liem a pensar os grupos como espaços de horizontalidade e
troca.
• Espera-se beneficiar a população ao criar estratégias
para facilitar as interações os processo grupais e possibili-
tar aos participantes dos grupos - pessoas em situação de
rua - o espaço e o ambiente, para que possam reforçar os
laços de solidariedade e reconhecer o potencial auto-orga-
nizativo dos grupos a que pertencem.
248
Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
MÉTODO
A partir de um posicionamento construcionista parece-
nos impossível definir metodologias rígidas. Para nós, as
ações são construídas nas relações e dependem das pessoas
envolvidas. Então podemos dizer que a metodologia de tra-
balho utilizada nos grupos visava facilitar o fluir da con-
versação e consistia em abrir a discussão com o objetivo de
que todos falassem, ao final buscava-se realizar uma sínte-
se dos principais aspectos discutidos para tentar organizar
minimamente os próximos encontros. Algumas vezes pro-
pusemos atividades que nos ajudavam a concretizar as idéias
discutidas. Não havia nenhuma regra metodológica muito
rígida a não ser que todos tinham direito a falar e a ouvir.
Acreditamos que os grupos são capazes de se auto-gerir e
que muitas vezes os métodos e os planejamentos excessivos
engessam a criatividade das pessoas e impedem a horizon-
talidade.
AS LIMITAÇÕES
Antes de entrar no relato dos grupos é preciso ressaltar
que este trabalho foi desenvolvido dentro de um estágio
curricular que necessita ser desenvolvido durante um se-
mestre letivo, o que significa dizer quatro meses. Assim, é
muito claro para nós que os calendários acadêmicos limi-
tam as possibilidades de ação e de formação dos alunos e
que nos obrigam a utilizar estratégias artificiais de inter-
venção para que possamos viabilizar o trabalho. Estamos
chamando de artificial o fato de propormos um grupo de
discussão e que este a primeira vista remete a idéia de que
somos especialistas em um determinado tema e iremos en-
siná-lo para os participantes do grupo. Não pensamos as-
sim e durante todo o tempo agimos no sentido de demonstrar
que tínhamos mais a aprender do que a ensinar. Para nós
as pessoas em relação, sejam em grupos ou comunidades,
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
GRUPO I:
Iniciamos o trabalho conversando com a coordenadora
da Associação Minha Casa Minha Rua, acerca do modo de
funcionamento da associação, das demandas das pessoas
que a freqüentam e de nossas habilidades, potencialidades
e posicionamentos ético/políticos. Durante esta conversa
250
Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
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Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
GRUPO 2:
Neste grupo, as reuniões foram realizadas com morado-
res de uma das moradias provisórias da cidade de São Pau-
lo. O grupo era aberto para a participação de todos e,
consistiu em 10 reuniões semanais, mas a configuração das
relações foi muito diferente do grupo anterior.
A participação foi pontual e apenas duas pessoas compa-
receram a todas as reuniões. Nas reuniões não consegui-
mos observar nenhum movimento no sentido do coletivo,
pelo contrário os participantes solicitavam ajuda em ques-
tões pessoais e individuais como, por exemplo, o auxílio para
elaboração do currículo, ou “aulas de Psicologia”, havia
por parte de alguns participantes a noção de que psicólogos
podem ensinar como obter sucesso.
Neste período de dez semanas, não nos foi possível iden-
tificar os mecanismos que eles dispõe de organização cole-
tiva e nem os laços de solidariedade entre eles. Desde então,
253
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
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Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
As lições aprendidas
A atuação do profissional da Psicologia com grupos mi-
noritários, como as pessoas em situação de rua, têm se apre-
sentado como um desafio para os professores e acadêmicos
envolvidos na formação de psicólogos. Desafio no sentido
de que o trabalho com estes grupos exige uma reflexão para
além da simples aplicação das teorias e implica necessaria-
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
7
Vale lembrar que historicamente a formação profissional em Psicologia, de um modo geral tem
priorizado as práticas individualizantes e focalizado as subjetividades.Para uma discussão mais
aprofundada veja a tese de doutoramento de Bernardes (2004) “O debate atual sobre a formação em
psicologia no Brasil – permanências, rupturas e cooptações nas políticas educacionais”.
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Referências
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11. A INFLUÊNCIA FAMILIAR NA
ESCOLHA PROFISSIONAL DOS FILHOS, NA
PERSPECTIVA DE MÃES DE CLIENTES EM
PROCESSO DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
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Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Método
PARTICIPANTES
A amostra foi composta por 10 mães que responderam a
um questionário, aplicado durante um encontro realizado com
os pais dos adolescentes atendidos pelo Serviço de Orientação
Profissional oferecido pela FFCLRP/USP. Este encontro foi
realizado nas dependências desse serviço, em abril de 2004. A
escolha das participantes foi aleatória, obedecendo a um cri-
tério qualitativo de conveniência para a composição da amos-
tra, de acordo com os objetivos propostos pelo estudo. Nesses
termos, a preocupação com o número de participantes apre-
senta como cuidado primordial a garantia de uma certa ho-
mogeneidade entre os participantes e o grau de saturação
(repetição) do fenômeno observado entre os sujeitos.
Até o ano de 2001, o contato do familiar com o serviço
restringia-se ao conhecimento e aprovação da participação
do filho(a) (menor de 18 anos) no atendimento, por meio da
assinatura de um impresso-padrão de autorização. Neste,
tanto o familiar quanto seu filho formalizam sua anuência
em participar de um atendimento prestado por psicólogos-
estagiários, sob supervisão, e tomavam ciência de que os
dados da intervenção pertenciam ao Departamento de Psi-
cologia e Educação da FFCLRP-USP, sendo assim possível
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Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
INSTRUMENTOS
Optou-se pelo uso de um questionário auto-aplicado para
a coleta dos dados. Essa escolha mostrou-se a mais ade-
quada aos objetivos do estudo, pois possibilitou a obtenção
de informações de um número maior de pessoas simultane-
amente, reduzindo o tempo de coleta de dados, além de e
por seu baixo custo (D’ANCONA, 1996).
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Resultados e discussão
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1.2. AUTOCONHECIMENTO
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Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
Considerações finais
Desde o nascimento e mesmo ainda antes desse evento,
cada pessoa já carrega uma gama de expectativas, projetos
e desejos familiares quanto ao seu futuro. A necessidade de
aceitar ou rechaçar essas expectativas é uma variante de
cada indivíduo e do grupo social ao qual pertence faz parte.
Se o filho não consegue discernir claramente como se dá a
influência dos pais sobre suas escolhas, o mesmo parece
ocorrer com a família. Mas é certo que pais e filhos se in-
fluenciam das mais variadas maneiras, em comportamen-
tos, atitudes, na forma de se expressar, e não poderia ser
diferente quando o assunto envolve um momento tão an-
gustiante para os filhos como a escolha da carreira.
É no contexto da família, inicialmente, que se fazem ouvir
os ecos sobre o que é possível ou não ser e fazer profissio-
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Referências
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Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
ANEXO 1
Data ____/____/____.
Nome do familiar: ______________________________________
Grau de parentesco: ______________________________________
Idade: __________ Escolaridade: __________________________
Profissão: ___________________Ocupação: _________________
Nome do(a) filho(a) inscrito(a) no SOP:___________________
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ANEXO 2
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12. CARTAS QUE DIZEM MUITO:
PAIS E FILHOS NA ORIENTAÇÃO
PROFISSIONAL
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Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
Considerações finais
As atividades “Carta aos Pais” e “Carta aos filhos” tive-
ram uma grande importância para o desenvolvimento de
cada integrante, e do grupo, durante o processo de Orienta-
ção Profissional, no sentido de ter facilitado a abertura do
canal de diálogo entre pais e filhos acerca do tema tratado
e com aqueles pais que participaram da reunião. Ficou cla-
ro para a equipe, de acordo com as reações percebidas tanto
na conduta dos pais quanto na dos filhos, que existiam al-
gumas lacunas na comunicação entre eles, uma vez que para
ambos os grupos - de familiares e de filhos - foi difícil e, ao
mesmo tempo, surpreendente entrar em contato com o con-
teúdo das cartas.
Visto que a relação com os pais no processo de escolha
profissional dos adolescentes é uma variável de extrema im-
portância e influencia na escolha, faz-se necessário um des-
taque para a qualidade da relação entre pais e filhos, pois
uma boa convivência entre eles pode proporcionar uma maior
tranqüilidade e segurança para os adolescentes enfrentarem
esta crise, bem como as outras que surgem não somente nes-
ta fase, como ao longo de toda a vida. A questão da influen-
cia dos pais na decisão profissional tem sido amplamente
estudada (PINTO; SOARES, 2001). O envolvimento dos pais
no processo de desenvolvimento da carreira de seus filhos
tem sido um previsor de atitudes construtivas e percepções
positivas do futuro para os adolescentes (NILES, 1997;
MELO-SILVA; JACQUEMIN, 2001).
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Referências
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Parte II: Psicologia e processos educativos, psicoeducativos e sociais
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296
PARTE III
SERVIÇOS PSICOLÓGICOS:
INTERFACES E INTERAÇÕES
COM A COMUNIDADE
13. REFLEXÕES E DECORRÊNCIAS DA
PARTICIPAÇÃO DAS CLÍNICAS-ESCOLA NO
PROJETO DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO DA
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO
usuário que não tem a quem mais recorrer. Por vezes, devi-
do a esse contexto, acabamos improvisando e experimen-
tando formas que aliviam, mas não resolvem o problema,
gerando insatisfação e sentimento de impotência nos pro-
fissionais e estagiários. Algumas situações ainda requerem
um atendimento interdisciplinar, o que nem sempre cor-
responde à condição das clínicas-escola, sendo que algumas
contam apenas com o atendimento psicológico realizado por
estagiários, em supervisão, sem profissionais contratados.
O convite do Conselho Regional de Psicologia de São Pau-
lo (CRP/SP) para conhecermos e participarmos do Plano de
Prevenção ao Comportamento Suicida, com a rede de saúde
pública, foi aceito com expectativa, pois parecia propiciar
tanto a articulação com outras clínicas-escola, como com a
rede, preenchendo lacunas importantes, principalmente ao
tratar de uma situação limite como o suicídio, pois, além
das perdas por suicídio, as co-morbidades relacionadas às
tentativas de suicídio, para os indivíduos e seus familiares,
representam um sério agravo à saúde da população.
Em 1999 a Organização Mundial de Saúde (OMS) lan-
çou o “Suicide Prevent” (SUPRE), um programa que obje-
tiva a mobilização mundial para a prevenção do suicídio.
Atendendo a esta iniciativa, no início de 2003, a Área Te-
mática de Saúde Mental, Álcool e Drogas – Coordenadoria
de Desenvolvimento da Gestão Descentralizada (COGest),
Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo lançou
o Plano de Prevenção ao Comportamento Suicida e procu-
rou o CRP/SP, que por sua vez convidou todos os represen-
tantes das clínicas-escola das Faculdades de Psicologia do
Município de São Paulo. Desde então representantes des-
tas entidades vêm se reunindo, mensalmente, para desen-
volver, em parceria, uma estratégia de ação que envolva uma
ampla rede de recursos e serviços integrados.
300
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
O suicídio
Das várias formas de agressão contra o eu que caracte-
rizam os atos autodestrutivos, o suicídio ao mesmo tempo
que é um pedido de auxílio para encontrar uma outra for-
ma de explorar e utilizar os recursos internos, também pode
ser uma solução definitiva em um momento de desespero e
desesperança.
Os altos índices de suicídio verificados, mundialmente,
têm se constituído num sério problema de saúde pública e
preocupação da OMS, nos dias atuais. Estimativas feitas
pela OMS ditam que o suicídio é uma das três maiores cau-
sas de morte na população entre 15 e 34 anos de idade, que
um milhão de pessoas morreram cometendo suicídio no ano
de 2000 e que, ocorrem de 10 a 20 tentativas para cada mor-
te por suicídio. Acompanhando esta tendência mundial,
estatísticas brasileiras apontam aumento no número de sui-
cídios, principalmente entre a população jovem. (BOTEGA,
2002).
De acordo com o Plano de Prevenção ao Comportamento
Suicida, elaborado pela Área Temática de Saúde Mental,
Álcool e Drogas – COGest - SMS:
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Plano de Prevenção ao
Comportamento Suicida
Partindo-se dessas constatações, a SMS vem articulan-
do uma Política de Prevenção do Comportamento Suicida,
com os objetivos de:
• Reduzir o número de suicídios e comportamentos suici-
das no município de São Paulo.
302
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
303
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Clínicas-Escola
A clínica-escola ao receber pacientes identificados como
apresentando comportamentos de risco de suicídio, tanto
por demandas espontâneas, como encaminhados pelas uni-
dades de saúde do Sistema Unificado de Saúde (SUS), deve-
rá ter condições efetivas de:
• encaminhar o paciente a uma unidade de saúde em seu
distrito, quando necessário;
• articular-se com seu(s) distrito(s) de saúde de referência
para garantir a proposta mínima de atendimento sugeri-
da pela OMS (2000);
• elaborar um projeto clínico singular para cada paciente,
articulado a uma unidade de saúde da região, podendo
incluir: atendimento psicoterápico individual, grupal ou
familiar; visita domiciliar; acompanhamentos terapêuti-
cos; trabalho clínico-institucional junto aos equipamen-
tos de referência do paciente (escola, espaços de lazer e
cultura, convivência comunitária etc).
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
306
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
307
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Nº de
Atividade Participantes L o ca l
Reuniões
Apresentação e
discussões do Plano de Representantes das Clínicas-
CRP-06 14
Intervenção ao Escola, Prefeitura e CRPSP
Comportamento Suicida
Representantes das Clínicas- Centro de
Capacitação oferecida
Escola e Servidores Formação da 2
pela Prefeitura
Municipais Prefeitura (CEFOR)
Hospital do
Capacitação: Prevenção Representantes das Clínicas-
Servidor Público
do Comportamento Escola e Servidores 6
Municipal de São
Suicida Prefeitura Municipais
Paulo
Reunião regionalizada Representantes das Clínicas-
para integração com a Escola e Servidores diversos 1
rede de saúde Municipais
Servidores da Saúde das
Supervisão mensal para Regionais da Sé e do
Regionais
acompanhamento do Jabaquara; Prefeitura; Equipe 6
Jabaquara e Sé
desenvolvimento do Plano da Psiquiatria da UNICAMP e
Clínicas-Escola
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Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
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Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
311
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Reflexões
A partir do convite do CRP/SP ocorreu uma série de reu-
niões na sede do próprio CRP/SP e paralelamente, várias
atividades ligadas a essa proposta, qual seja a da participa-
ção das clínicas-escola no Projeto de Prevenção ao Com-
portamento Suicida da Prefeitura Municipal de São Paulo.
As reuniões e atividades foram discriminadas na Tabela 1.
Gostaríamos neste momento de refletir sobre as decor-
rências da participação das clínicas-escola neste projeto. Além
de procurar dar uma contribuição em termos de um proble-
ma de saúde pública (suicídio e tentativas de suicídio) que
tem assumido proporções cada vez maiores, segundo esta-
tísticas da OMS pudemos constatar até o momento que a
312
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
313
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
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Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
Referências
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
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14. SERVIÇOS PSICOLÓGICOS
E COMUNIDADE: NECESSIDADE DE
DIÁLOGO CONSTANTE
1
Trata-se dos Centros de Psicologia Aplicada da Universidade Paulista-UNIP
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
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Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
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Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
2
Universidade Paulista – UNIP
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Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
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Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Referências
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15. EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DE
UM SERVIÇO DE ATENDIMENTO
PSICOLÓGICO INTERDISCIPLINAR
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Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
Organização e funcionamento
A organização funcional do Serviço de Psicologia com-
põem-se de coordenação e equipe técnica, esta constituída,
atualmente, por quatro psicólogas e uma psiquiatra. A clien-
tela central do Serviço de Psicologia é composta por pesso-
as da comunidade dos Vale dos Sinos que se encontram em
situação econômica desfavorável, excluindo-se casos clíni-
cos severos que podem acarretar necessidade de interna-
ção. Também não são atendidos os alunos da instituição,
visto que, por razões éticas, até o momento, as profissio-
nais que atendem no Serviço são também docentes desse
centro universitário e, muitas vezes, lecionam disciplinas
em diferentes cursos de graduação.
Quanto ao funcionamento interno do serviço, esse pre-
vê, além do trabalho específico dos núcleos, uma reunião
semanal dividida em reunião administrativa e clínica. Será
implantada no próximo semestre (2005/1), a modalidade de
grupo de estudo, destinada à produção científica, em con-
junto com alunos da Psicologia.
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Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
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Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
A questão da interdisciplinaridade
Na construção deste Serviço nos vimos confrontados em
determinado momento com uma questão: como trabalhar em
parceria, dentro dos diversos Núcleos, e das especificidades
de cada um, sem fragmentar o olhar e, por conseqüência, o
sujeito que nos procura? Tentando dar conta dessas inquie-
tações, iniciamos, nas nossas reuniões, uma série de dis-
cussões sobre como poderíamos, na nossa prática,
contemplar uma abordagem interdisciplinar.
340
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
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Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
Referências
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16. IMPLEMENTAÇÃO DE UM ESTÁGIO
EM PSICOLOGIA HOSPITALAR: EM BUSCA
DE UM TRABALHO INTERDISCIPLINAR
NA ASSISTÊNCIA AO CÂNCER
HEMATOLÓGICO
Objetivo
O presente trabalho tem como objetivos descrever a es-
truturação do estágio curricular nos dois primeiros anos
(2002-2004) de sua implementação, bem como o de apresen-
tar resultados oriundos de estudos que objetivaram avaliar
a efetividade de algumas modalidades de intervenção im-
plementadas.
346
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
ESTRUTURAÇÃO DO ESTÁGIO
A estratégia psicoterapêutica adotada é de duração bre-
ve, uma vez que a proposta é tratar aspectos emocionais
associados ao enfrentamento da enfermidade crônica, bus-
cando-se delimitar e circunscrever o foco da intervenção a
problemas relacionados a essa questão, visando auxiliar no
desenvolvimento de estratégias de atendimento psicológi-
co mais eficazes (FIORINI, 1976).
O estágio propõe-se a familiarizar o aluno de Psicologia
com técnicas psicoterápicas numa abordagem psicodinâmi-
ca, fundamentada na compreensão do que está ocorrendo
no “aqui e agora”. Trabalha-se no sentido de expandir o
nível de consciência do paciente acerca de sua problemáti-
ca, conduzindo-o em direção a uma maior compreensão de
sua própria situação emocional (insight).
Vale a pena ressaltar que a psicoterapia não é a única
forma de atenção recebida pelos participantes. Busca-se
promover a integração de abordagens numa perspectiva
multidisciplinar e de integralidade das ações de saúde, em
uma perspectiva de prevenção e promoção de saúde.
ATIVIDADES DESEMPENHADAS
O estágio foi estruturado segundo alguns eixos nortea-
dores: o primeiro semestre é dedicado ao atendimento na
enfermaria e o segundo na Casa de Apoio aos pacientes que
receberam alta hospitalar.
ENFERMARIA
O paciente é internado em quarto exclusivo para ele e
um acompanhante, onde permanecerá em média 40 dias.
Trata-se de um ambiente isolado, sendo que o ar é filtrado
e todos objetos e alimentos devem ser esterilizados, além
do que se faz necessário o uso de paramentação (avental,
máscara e lavagem das mãos) de todos que entrarem no
347
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
1) Atendimentos individuais
Na enfermaria o estagiário torna-se responsável pelo
acompanhamento de um caso, intervindo junto ao leito. Os
atendimentos ocorreram no mínimo três vezes por semana
durante todo o período da internação do paciente (de 30 a
40 dias). A importância deste apoio é reconhecida não so-
mente pelo paciente, mas também pelos demais integran-
tes da equipe multiprofissional, para os quais a condição
psíquica do paciente interfere na evolução clínica do mes-
mo (TORRANO-MASSETTI; OLIVEIRA; SANTOS, 2000).
348
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
349
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
350
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
2) Oficinas terapêuticas
Tendo em vista a queixa de inatividade dos pacientes após
o TMO, são realizadas oficinas terapêuticas com a finali-
dade primordial de estimular a capacidade produtiva, socia-
lização, expressão e troca de experiências, oferecendo um
espaço de acolhimento e aprendizado. Optou-se pela ofici-
na de mosaico, devido à facilidade do aprendizado da técni-
ca e da possibilidade de venda das peças, além de seu aspecto
lúdico. As oficinas ocorrem duas vezes por semana, com a
duração de duas horas, sendo integrada pelos pacientes,
acompanhantes, estagiários de Terapia Ocupacional e Psi-
cologia, sob a orientação e supervisão da terapeuta ocupa-
cional e da psicóloga da Unidade de TMO. Os produtos ali
produzidos são comercializados e a verba é utilizada para a
manutenção da própria oficina. Estudos de avaliação dos
resultados obtidos até o momento evidenciam que o espaço
terapêutico das oficinas é um recurso importante no resga-
te do potencial produtivo dos pacientes transplantados
(MASTROPIETRO et al., 2004).
Discussão
A psico-oncologia surge da necessidade de se oferecer
apoio emocional ao paciente com câncer, assim como aos
seus familiares e aos profissionais envolvidos no tratamen-
to (ROMANO, 1999).
351
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
352
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
Referências
353
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
354
17. ATUAÇÃO EM PSICO-ONCOLOGIA:
ATENÇÃO INTERDISCIPLINAR A MULHERES
MASTECTOMIZADAS
356
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
358
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
359
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Objetivo
O presente estudo tem como objetivo descrever a estru-
tura e o funcionamento da referida equipe de Psicologia,
contextualizando o serviço basicamente em termos do am-
biente institucional no qual a mesma encontra-se inserida,
da população-alvo assistida e das modalidades de atendi-
mento oferecidas.
360
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
361
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
362
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
363
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
365
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Considerações finais
A experiência até o momento indica que o trabalho da equi-
pe de Psicologia, a despeito de ser recente e encontra-se ain-
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Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
Referências
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
368
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
369
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
370
18. GRUPO EDUCATIVO COMO
MODALIDADE ASSISTENCIAL INSERIDA NO
CONTEXTO DE UM PROGRAMA
INTERDISCIPLINAR DE ATENÇÃO AO
PACIENTE DIABÉTICO
372
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
373
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Abordagem grupal
A abordagem grupal com pacientes somáticos tem sido
muito valorizada e o enfoque teórico-metodológico utiliza-
do para fundamentar as intervenções são extremamente
variáveis, de acordo com a abordagem eleita pelo coordena-
dor, o tipo de problemática em questão, os objetivos a se-
rem alcançados e a instituição em que se reúne o grupo. De
374
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
375
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
376
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
377
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Objetivo
O propósito do presente capítulo é descrever uma expe-
riência de grupo operativo, na modalidade de apoio psicoló-
gico, com pacientes diabéticos adultos.
Método
DELINEAMENTO METODOLÓGICO
Estudo descritivo e exploratório, do tipo relato de expe-
riência, acerca da sistematização de uma intervenção psi-
cológica inserida em um programa assistencial mais amplo,
desenvolvido ao longo de 12 meses.
378
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
PARTICIPANTES
O grupo foi constituído por pacientes adultos e idosos de
ambos os sexos, que freqüentaram o Centro Educativo no
período de um ano.
PROCEDIMENTO
O objetivo geral do Atendimento Sistematizado em Dia-
betes era oferecer um contexto de convivência entre iguais,
com aporte maciço de informações relativas à enfermidade e
ao seu tratamento, ênfase na necessidade de mudanças no
estilo de vida e adoção de hábitos saudáveis. O Grupo de Apoio
Psicológico, em especial, era oferecido semanalmente, no
contexto do atendimento interdisciplinar mais amplo.
O Grupo de Apoio Psicológico acontecia semanalmente e
tinha uma hora de duração. O grupo era fechado e o número
de participantes em cada encontro foi pré-estabelecido em
14. Para abranger os 56 participantes, foram realizados qua-
tro grupos mensais, sendo que cada grupo se reúnia uma vez
ao mês. Os grupos eram heterogêneos quanto à idade e sexo
e homogêneos quanto à patologia (ou seja, todos eram porta-
dores de diabetes do tipo 1 ou 2).
A coordenação dos grupos esteve a cargo da equipe de
Psicologia, que era composta por três profissionais com
especialização em coordenação de grupos e uma estagiária
de Psicologia.
As intervenções seguiram uma estratégia de atendimen-
to suportivo e focal, no qual se buscava favorecer a troca de
experiências e a construção de significados compartilha-
dos no enfrentamento da doença e das vicissitudes do tra-
tamento. O foco do trabalho estava voltado para os aspectos
emocionais associados ao diabetes e nesse sentido, tenta-
va-se evitar abordar conteúdos psíquicos mais profundos
que não tivessem estritamente ligados à enfermidade. Por
isso evitava-se o uso de interpretações.
379
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
380
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
1º ENCONTRO:
Objetivos
Promover a integração grupal e trabalhar as expectati-
vas relacionadas ao grupo.
Desenvolvimento
Iniciou-se o encontro confeccionando-se os crachás com
os nomes de cada participante. Depois estabeleceu-se o en-
quadre, ou seja, foram oferecidas algumas informações e
regras referentes a número de sessões, horário de início e
término do grupo, atividades a serem desenvolvidas, papéis
dos coordenadores e participantes, a importância de todos
estarem presentes do início ao final e serem pontuais.
Em seguida, realizou-se um exercício de apresentação
em duplas. Foi pedido para formarem espontaneamente
duplas para conversarem entre si e, após aproximadamen-
te cinco minutos, cada participante apresentou seu parcei-
ro para o grupo.
Finalizando o encontro, aplicou-se um questionário de
identificação de expectativas com relação ao tratamento,
elaborado especialmente para essa finalidade. Após o pre-
381
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
2º ENCONTRO:
Objetivos
Favorecer a união e a integração grupal e trabalhar os
sentimentos envolvidos no processo de adoecimento.
Desenvolvimento
Foi realizada uma atividade de aquecimento denomina-
da “dinâmica dos crachás”. Os crachás foram embaralhados
e sorteados aleatoriamente, de modo que cada participan-
te manteve um crachá que não era o seu. Foi pedido para
cada integrante afixar o crachá no(a) “companheiro(a)”
e verbalizar uma característica daquela pessoa que apren-
deu no primeiro encontro e que ficou marcada em sua
memória.
Em seguida foi realizado um exercício denominado “via-
gem ao passado”. Os integrantes foram instruídos a fazer
uma volta ao passado, fixando-se no momento imediata-
mente após a descoberta do diabetes. Quais os sentimentos
que emergiram naquele momento? Como estava a vida no
momento?
Após o trabalho de reflexão individual, os coordenado-
res espalharam uma série de cartões no centro do grupo,
nos quais estavam escritos sentimentos diversos (alegria,
raiva, medo, satisfação, pânico, culpa, etc.). Foi solicitado
a cada integrante que escolhesse cartões com sentimentos
que vivenciaram após o diagnóstico. Os sentimentos se re-
petiam em vários cartões, de modo que todos os participan-
tes poderiam escolher os mesmo sentimentos, se assim
desejassem. Em seguida, solicitou-se que os participantes
separassem o seu bloco de cartões em sentimentos positi-
vos e negativos, colocando sobre uma cartolina verde os
positivos e sobre uma cartolina vermelha os negativos.
382
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
3º ENCONTRO:
Objetivos
Favorecer a troca de experiências e a construção de novos
significados a partir dos sentidos elaborados no processo de
adoecimento.
Desenvolvimento
Foi pedido aos integrantes que se subdividissem em grupos
de três ou quatro participantes, para construírem um cartaz,
a partir de recorte e colagem de revistas, sobre o tema: “o que
o diabetes representa na sua vida?” Os materiais utilizados
foram: revistas, tesoura, canetinhas, cola e cartolina.
Pediu-se para cada grupo apresentar o cartaz realizado
ao restante do grupo e, em seguida, abriu-se para a discus-
são da temática e os sentimentos e pensamentos que emer-
giram durante a realização da tarefa.
4º ENCONTRO:
Objetivos
Ajudar os integrantes a identificar suas principais difi-
culdades relacionadas ao comportamento alimentar e en-
contrar recursos para superá-las. Estimular a construção
de novos sentidos para a conduta alimentar.
383
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Desenvolvimento
O grupo foi subdividido em dois. Foi distribuída uma fra-
se para cada sub grupo conversar e completar. As frases
foram as seguintes:
Grupo 1: Eu não consigo seguir a dieta recomendada
quando...
Grupo 2: Eu consigo realizar a dieta recomendada quan-
do...
Após aproximadamente dez minutos o coordenador deu
a seguinte instrução: Os integrantes do grupo 1 vão colo-
car suas cadeiras de modo a formar um círculo pequeno
que será circunscrito pelo círculo formado pelas cadeiras
dos colegas do grupo 2, que os ouvirão relatar o que con-
versaram entre si a respeito da consigna negativa (Eu não
consigo seguir a dieta recomendada quando...)
Em seguida, fez-se uma inversão e os integrantes do gru-
po 2 foram para dentro do círculo (no lugar dos integrantes
do grupo 1) para conversarem sobre o que haviam escutado
a respeito das conversas do grupo 1.
Posteriormente, o Grupo 2 pôs-se a conversar sobre o
que haviam discutido sobre a frase a completar. Posterior-
mente, trocaram-se novamente as posições e o grupo 1 vol-
tou a ocupar o centro das cadeiras para conversar sobre o
que pensaram ao ouvir a discussão dos colegas do grupo 2
com a consigna positiva (Eu consigo realizar a dieta reco-
mendada quando...).
Propôs-se, então, fazer um único círculo para discuti-
rem a temática. Foi pedido para trocarem as experiências
no sentido de dar dicas e ajudar quem estava com dificulda-
des em seguir a dieta. Os emergentes foram trabalhados no
sentido de auxiliar os participantes a identificarem (em si
e no outro) o que facilitava e o que dificultava o seguir a
dieta, bem como as diferenças observadas quando assumi-
ram uma posição de fala e uma posição de escuta.
384
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
5º ENCONTRO
Objetivos
Estimular a troca de experiências e trabalhar as dificul-
dades e facilidades na realização da dieta recomendada pe-
los profissionais, retomando as questões levantadas no
encontro anterior para consolidar a aprendizagem.
Desenvolvimento
Foi pedido que os integrantes tentassem lembrar o que
haviam conversado no grupo anterior, o que puderam pen-
sar e refletir desde o último encontro e se notaram alguma
mudança no comportamento alimentar desde então.
Em seguida, a tarefa recomendada foi discutir o seguin-
te tema: “o que dificulta e o que facilita na realização da
dieta?”. Para facilitar a discussão, um membro da equipe
de coordenação anotou as falas dos integrantes em dois
cartazes. Um cartaz abrigava as dificuldades e o outro as
facilidades.
Ao final da atividade, os participantes foram estimula-
dos a comparar os conteúdos dos dois cartazes.
6º ENCONTRO
Objetivos
Trabalhar as dificuldades, as crenças, os mitos, os sen-
timentos e as fantasias relacionadas ao uso da insulina e
dos antidiabéticos orais.
Desenvolvimento
O grupo foi instruído sobre o tema do encontro: o uso
dos medicamentos para o controle do diabetes. Inicialmen-
te foi pedido para cada integrante relatar se faz uso de al-
gum medicamento para o diabetes, qual medicação, com que
freqüência e há quanto tempo.
Em seguida, a tarefa proposta foi discutir sobre as difi-
culdades e facilidades encontradas no uso dos medicamen-
tos. Os coordenadores estimularam os participantes a
expressarem livremente pensamentos, crenças e sentimen-
tos que permeavam o uso da insulina e do antidiabético oral.
385
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
7º ENCONTRO
Objetivos
Promover e estimular a mudança de significados e re-
presentações atribuídas ao uso dos medicamentos para o
controle do diabetes.
Desenvolvimento
O grupo foi subdividido em três: o primeiro grupo foi re-
presentado por quem não faz uso de medicamentos, o segun-
do por quem utiliza apenas antidiabéticos orais e o terceiro
por quem toma insulina. Foi pedido para esses três grupos
construírem cartazes, utilizando-se de recortes de revistas e
canetinhas para representar o significado e os sentimentos
envolvidos no uso contínuo dos medicamentos.
Em seguida, abriu-se o grupo para que os participantes
pudessem discutir entre si o conteúdo dos cartazes produ-
zidos e os sentimentos mobilizados no decorrer da tarefa.
8º ENCONTRO
Objetivos
Promover e estimular a troca de experiências, significados
e representações atribuídos à realização de exercícios físicos.
Desenvolvimento
Nesse encontro não foi proposta uma atividade estrutu-
rada. Os coordenadores abriram o grupo dizendo aos inte-
grantes que a tarefa era discutirem o que significava
realizar exercícios, qual era a finalidade e quais os senti-
mentos envolvidos no fazer ou não fazer atividade física.
9º ENCONTRO
Objetivos
Avaliar o processo vivenciado no Grupo de Apoio Psico-
lógico nos oito primeiros meses do Programa.
Desenvolvimento
Nesse encontro também não houve atividade prévia e os
coordenadores abriram o grupo dizendo aos integrantes que
386
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
10º ENCONTRO
Objetivos
Estimular a troca de experiências e propiciar uma refle-
xão sobre a qualidade de vida.
Desenvolvimento
Primeiramente o coordenador propôs uma atividade de
relaxamento com os integrantes. Ao som de uma música
suave, os integrantes foram encorajados a caminharem pela
sala em silêncio e a prestarem atenção ao próprio corpo,
tentando identificar suas sensações, pontos de tensão, se
alguma parte do corpo estava dolorida. Assim, foram esti-
mulados a procurar posições corporais em que se sentis-
sem confortáveis e relaxados. Só não podiam falar. Em
seguida pediu-se para prestarem atenção em cada detalhe
da sala, do ambiente, incluindo os demais participantes,
deixando a música penetrar em seus ouvidos. Depois foi
pedido para olharem os companheiros do grupo, trocarem
olhares, se quisessem um sorriso, e escolherem um(a)
parceiro(a) para continuarem caminhando pela sala. Pos-
teriormente foi pedido para cada dupla sentar e conversar
sobre o seguinte tema: “O que é ter qualidade de vida para
mim?” “É possível ter qualidade de vida convivendo com o
diabetes?”
Após aproximadamente 10 minutos abriu-se o grupo para
relatarem o que conversaram com o(a) colega e discutirem
entre si a temática da qualidade de vida.
387
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
11º ENCONTRO
Objetivos
Estimular uma reflexão sobre as perdas e ganhos decor-
rentes do diabetes.
Desenvolvimento
Ao som de uma música alegre (por exemplo, marchas de
carnaval), cada participante teria de passar para o colega à
sua direita (sentido horário) dois cartões (um verde e outro
vermelho). A música seria interrompida abruptamente. Quan-
do a música parasse, quem estivesse com o cartão verde iria
contar para todos um ganho que teve com o diabetes e quem
estivesse com o cartão vermelho iria relatar uma perda.
Após aproximadamente 30 minutos de jogo, abriu-se o
grupo para discutirem o que essa atividade e esse tema ha-
viam suscitado. Os coordenadores exploravam os emergen-
tes grupais, por exemplo: aquilo que alguns conotavam como
perda parecia ter um significado diferente para um outro
integrante do grupo.
12º ENCONTRO
Objetivos
Realizar uma avaliação final dos encontros grupais ocor-
ridos no período de um ano de implantação do Programa.
Desenvolvimento
O coordenador ofereceu uma pequena bola de borracha e
instruiu o grupo no sentido de que, quem recebesse a bola
do colega, iria dizer o que esperava inicialmente do grupo
da Psicologia, como foi seu primeiro dia no grupo e se o
grupo ajudou a mudar o modo de olhar o diabetes.
Em seguida, abriu-se o grupo para discutirem o tema em
questão.
388
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
Resultados e discussão
O presente estudo teve por objetivo oferecer uma visão
panorâmica das intervenções psicológicas realizadas, me-
diante um relato dessa experiência de construção de uma
praxis junto ao grupo. Por essa razão – e considerando-se
também que as avaliações de processo e resultados ainda
não foram concluídas, serão apresentadas apenas algumas
considerações preliminares.
No período avaliado estavam cadastrados no Centro
Educativo 58 pacientes diabéticos tipo 1 e tipo 2, que acei-
taram participar do estudo mediante assinatura de um ter-
mo de consentimento livre e esclarecido.
Em relação aos dados demográficos e ao perfil diagnós-
tico, os resultados apontam que 34 (58,7%) pacientes en-
contravam-se na faixa etária de 59-78 anos, 41 (70,6%) eram
do sexo feminino, 38 (65,5%) eram casados, 36 (62,1%) ti-
nham o ensino fundamental incompleto, 24 (41,4%) tinham
como ocupação atividades do lar (donas de casa). Dos 58
pacientes, três (5,1%) eram diabéticos tipo 1, 53 (94,9%)
diabéticos tipo 2. Em dois pacientes (3,4%) não foi confir-
mado diagnóstico de diabetes mellitus. Em relação ao tem-
po de diagnóstico, 36 (62,1%) tinham seis anos ou mais de
conhecimento do diagnóstico de diabetes.
Quanto ao índice de massa corpórea, 35 (60,3%) eram
obesos. No que se refere ao tratamento, 36 (62,1%) dos pa-
cientes faziam uso de algum tipo de antidiabético oral, 19
(32,7%) usavam insulina, sendo que desses pacientes, 17
(29,3%) utilizavam insulina de ação intermediária e dois
(3,4%) de ação rápida.
A avaliação da experiência foi conduzida por meio de
métodos qualitativos e quantitativos de investigação. A
389
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
390
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
Considerações finais
Os resultados obtidos com a aplicação dos grupos de
apoio psicológico demonstraram que a intervenção em gru-
391
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Referências
392
Parte III: Serviços psicológicos: interfaces e interações com a comunidade
393
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
394
PARTE IV
PRÁTICAS PSICOLÓGICAS
NA ATENÇÃO À SAÚDE
19. CONSTRUINDO BIOGRAFIAS: UMA
ATIVIDADE PSICOEDUCATIVA COM PACIENTES
PSIQUIÁTRICOS E O DESENVOLVIMENTO DA
IDENTIDADE PROFISSIONAL DO ESTAGIÁRIO
EM PSICOLOGIA
398
Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
399
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
400
Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
401
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
402
Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
403
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Metodologia
O CONTEXTO DO ESTÁGIO
O Hospital Dia da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto/Universidade de São Paulo (HD-FMRP-USP) compõe
com outros serviços assistenciais uma rede de atendimen-
to a uma população portadora de patologias psiquiátricas
graves. O serviço oferece hospitalização parcial, com um
programa de cuidados intensivos realizados por equipe
multiprofissional. Em consonância com as abordagens e
referenciais teórico-metodológicos disponíveis na Psiquia-
tria, priorizam-se intervenções visando à melhora sinto-
mática e a reabilitação psicossocial.
Em termos de abordagem psicossocial, o serviço oferece
um conjunto diversificado de atividades que incluem, entre
outras, abordagens psicoterapêuticas, sobretudo grupais, te-
rapia ocupacional e familiar. O programa psicoeducativo in-
tegra o programa de assistência desta instituição desde 1998,
com atividades de treinamento de habilidades e projetos edu-
cativos, voltados aos usuários, visando fornecer informações
para a ampliação e aprofundamento dos conhecimentos acer-
ca das patologias e respectivos tratamentos.
Este referencial, de origem americana (ANDERSON;
REISS; HOGARTY, 1986), denominado Psicoeducação, orien-
tava as atividades clínicas do Programa de Psicoeducação
no Hospital Dia, caracterizando o atendimento, no tocante
à dimensão psicossocial, como fundamentalmente voltado
para a educação sobre a doença e a modificação do compor-
tamento. Acreditava-se na validade, para a área, de mode-
los de abordagem cognitivo-comportamental, porém, no
cotidiano, algumas experiências de trabalho levantavam
questionamentos sobre a necessidade de maior aprofunda-
mento e abrangência para as intervenções psicossociais de
modo a superar uma espécie de compartimentalização do
sujeito e sua redução ao cognitivo e/ou ao comportamental.
404
Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
405
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
A ATIVIDADE BIOGRAFIA
O objetivo geral dessa atividade consiste em identificar
e resgatar na história de vida do usuário os recursos e po-
tencialidades geralmente sobrepujados pela doença mental,
ou pelas representações em torno desta, criando condições
para uma reconfiguração e ressignificação da própria iden-
tidade do sujeito, para além da “doença”. A atividade tam-
bém seria propícia à coleta de dados de natureza diferente
da tradicionalmente seguida pelas instituições de saúde
(mental), que priorizam informações sobre a doença e sua
história evolutiva. Em relação aos usuários que ingressam
no programa do HD, a atividade biografia é particularmen-
te importante na medida em que diversifica as informações
sobre o usuário.
Para isso, estabeleceu-se que os estagiários teriam en-
contros semanais com os usuários, que permitissem a com-
preensão do sujeito de maneira integral, sobretudo nos seus
padrões de interação com as pessoas e objetos, através da
realização de atividades do cotidiano do serviço, como por
exemplo, tomar um chá, jogar ping-pong, almoçar, tomar
uma coca-cola na padaria da esquina e, até mesmo, indo à
sua residência para conhecer o seu ambiente de vida.
É importante frisar que todas estas ações são norteadas
pelo objetivo, definido através de um levantamento de ne-
cessidades dos usuários e este é explicitado aos mesmos de
406
Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
MÉTODO DE ANÁLISE
Neste trabalho apresentaremos fragmentos da implemen-
tação da atividade BIOGRAFIA desenvolvida por um gru-
407
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
408
Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
Resultados
A HISTÓRIA DO ESTAGIÁRIO
Quando comecei a pensar em meu futuro profissional
avaliava as possíveis carreiras a partir de meu interesse
pessoal, da influência de meus relacionamentos e das ques-
tões financeiras. A idéia de cursar Psicologia surgiu atre-
lada ao meu desejo de atuar em algo que me oferecesse mais
que uma razoável remuneração, como, por exemplo, poder
estabelecer relações e ajudar aos outros.
Para mim, o psicólogo era alguém equilibrado, conhece-
dor e detentor da solução de todo o sofrimento humano,
numa relação assimétrica, em que ele sabia o que era o
melhor para o paciente. Seu trabalho era sentar de pernas
cruzadas e mão no queixo, atrás do divã, com uma postura
de quem resolveria todos os problemas. Eu queria muito
ter as respostas, e achava que depois dos cinco anos de fa-
culdade eu as teria. A partir dessas idéias, resolvi prestar o
vestibular para Psicologia.
409
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
410
Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
411
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
412
Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
A INTERVENÇÃO PROPOSTA
Em um primeiro momento, pensava que meu trabalho
seria o de ficar, como ela, conversando e pensando sobre
fatores que causaram seu transtorno. Talvez pudesse ex-
plorar como ela se sentia atualmente e como se relaciona-
va com a sua doença. Percebi, no entanto, que esta
perspectiva fundamentava-se em um modelo biomédico de
intervenção, no qual a doença ganhava destaque e encobria
os demais aspectos da vida da paciente. A partir disso, consi-
derei que dona Tereza havia aprendido conosco (profissio-
nais do sistema de saúde) um modelo de relacionamento ou
que, pelo menos, vinha usando em proveito da doença a ên-
fase por nós dada a estes aspectos seus.
Em um segundo momento, com o auxílio dos superviso-
res e com a experiência que o estágio me oferecia, comecei a
amadurecer profissionalmente e, à luz do modelo Psicoe-
ducativo, pensei na possibilidade de trabalhar com dona
Tereza fatos do cotidiano, considerados banais ou obscu-
recidos em seus relatos grandiosos, mas que na verdade
diziam respeito a outros aspectos de sua identidade pessoal
negligenciados por ela e por nós.
Passei, assim, a vasculhar nas suas narrativas tais as-
pectos. Mas o que seria isso? A mãe que cuida dos filhos,
não porque os leva aos balcões do Hospital das Clínicas da
FMRP - USP, mas porque faz o almoço deles, leva-os à esco-
413
Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
414
Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
Resultados e repercussões
No decorrer da apresentação, dona Tereza percebeu que
eu tinha esquecido o fermento e disse: “Mas está faltando o
mais importante: o fermento”. Esta afirmação me indicou
um certo apelo dela, querendo me dizer: “Está faltando
minha característica mais importante, que é a que cuida
dos outros, a que entende de doença, a enfermeira do bair-
ro”. Mas inesperadamente, alguém do grupo se antecipou e
disse: “o fermento somos nós”, tomando-lhe o espaço para
reiterar o que lhe parecia ser o seu único recurso ou quali-
dade apreciável.
Depois da apresentação, conversando com ela sobre suas
impressões acerca da atividade, ela destacou o caráter sur-
preendente da vivência, ressaltando que até então não se
dava conta das características que eu havia enfatizado.
Mais tarde me procurou e disse que aquelas caracterís-
ticas a atrapalhavam, pois ela sempre cuida de todos e nin-
guém cuida dela. Nesse momento surgiu a pessoa que
também necessita de ajuda e pontuei que ela estava sendo
cuidada ali no hospital, embora ela dificultasse o processo
na medida em que “sabia tudo sobre a sua doença”.
Portanto, acredito que o principal efeito desse trabalho
foi permitir a dona Tereza perceber que esquema de intera-
ção por ela estabelecido, aparentemente interessante, pois
cheio de brilho e reconhecimento (“a conhecedora dos ma-
les, a enfermeira do bairro”), além de sobrepujar-se sobre
quem ela era, reduzia-lhe as possibilidades de interações
em que ela fosse efetivamente reconhecida na suas neces-
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Considerações finais
Nossa experiência enquanto supervisores e estagiários
na implantação e condução do estágio em Psicoeducação,
no HD tem sido marcada por inúmeros desafios estimulan-
tes, mas também, merecedores de muita reflexão.
Em primeiro lugar, embora se conte com um apoio da
comunidade científica e profissional, para a busca de novos
modelos de intervenção clínica, o recurso ao Modelo da
Psicoeducação é pioneiro no Brasil e, portanto, encontra-
se em fase de experimentação. Vale dizer que a Psicoeduca-
ção tem sua origem no campo sócio-comunitário e teve,
mesmo no Canadá, seu desenvolvimento e consolidação
bastante atrelados à área da proteção infanto-juvenil (BAZON,
2002). Trazer este modelo para o contexto de trabalho em
saúde mental constitui um esforço criativo e científico, na
medida em que existem poucos trabalhos disponíveis, mes-
mo na literatura internacional. Assim, a implantação des-
se estágio tem se dado no quadro de um contínuo movimento
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Referências
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
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20. A CONSTRUÇÃO DE GRUPOS DE
PROMOÇÃO DE SAÚDE: REPENSANDO A
PRÁTICA PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
Objetivos
Objetiva-se relatar a experiência da construção de um
grupo de dança de salão como uma atividade no contexto
do Programa de Saúde da Família, e, ainda, refletir, a par-
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Estratégias de Intervenção
O estágio – O psicólogo em uma equipe do Progra-
ma de Saúde da Família: desenvolvendo programa
de promoção de saúde na comunidade
“Assim como falham as palavras
quando querem exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos
quando querem exprimir qualquer realidade.”
(Fernando Pessoa/Alberto Caeiro)
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
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Referências
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
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21. A POSSIBILIDADE DE FAZER
DIFERENTE: A EXPERIÊNCIA COMPARTILHADA
FAVORECENDO A RESSIGNIFICAÇÃO DE
CRENÇAS E DESEJOS A PARTIR DO ENCONTRO
COM CANDIDATOS À ADOÇÃO
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Do compartilhar: A co-construção de
significados
Este estudo tem por objetivo demonstrar como uma in-
tervenção grupal sistematizada pode contribuir para a pos-
sibilidade de mudança da atitude tradicional em relação à
adoção e, mais precisamente, em relação à adoção tardia.
Será focalizado um grupo de orientação psicológica para
candidatos à adoção, inscritos no cadastro do Forum de uma
cidade do interior de São Paulo, que aguardavam a chegada
da criança.
Sob a coordenação geral do primeiro autor, o grupo foi
planejado e executado pelas demais autoras do presente
capítulo, pesquisadoras do Grupo de Assistência Integral à
Adoção (GAIA) da FFCLRP-USP, todas bolsistas de Inicia-
ção Científica da FAPESP em função de diferentes projetos
relacionados à temática da adoção.
Segundo Bechelli e Santos (2002), o trabalho grupal pos-
sibilita, por meio do encontro com o outro, o contato com o
desconhecido que nos habita, o que pode fomentar mudan-
ças de atitudes com relação aos aspectos da realidade. Foi
pensando na possibilidade transformadora que o enquadre
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
Da construção do contexto
conversacional
O Grupo de Orientação Psicológica a Adotantes, desen-
volvido no segundo semestre de 2002, teve como finalidade
fornecer orientação psicológica a candidatos à adoção, pro-
movendo reflexões a respeito de temas relacionados ao pro-
cesso, além de fornecer ativamente informações sobre os
trâmites legais dele decorrentes (SANTOS et al., 2004b).
Foi delimitada, a priori, a realização de nove encontros, com
freqüência semanal. Trata-se, portanto, de um grupo de
duração limitada, que contou com a participação de 11 in-
tegrantes, dentre os quais cinco constituíam casais.
É válido destacar também que esse grupo caracterizou-se
por ser um grupo fechado, ou seja, não era permitida a en-
trada de novos participantes no decorrer do processo. Cada
encontro tinha uma temática específica que norteava as ati-
vidades desenvolvidas pelos participantes e orientava o tra-
balho da coordenação, a quem competia manter a centralidade
do foco do trabalho grupal sobre o preparo psicológico dos
adotantes para acolherem o filho que estavam aguardando.
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Do encontro: O potencial
transformador do grupo
Diante do casal que generosamente se dispôs a oferecer
seu testemunho, os participantes do grupo inicialmente ma-
nifestaram muita curiosidade a respeito de como havia sido
o processo de adaptação das crianças à nova família. Indaga-
ram a respeito das “manias” que os adotivos apresentam e
de seus comportamentos e reações afetivas em relação aos
pais adotivos – se, por exemplo, elas os chamavam de “pai”
ou de “mãe”.
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
A única coisa que eles tinham de mania era que eles co-
miam rapidinho, sabe? Acho que lá [instituição] era assim,
aquele que fosse mais rápido pegava mais, né? (Rosália)
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
Acho que, assim, para nós que já temos um filho, que já,
apesar de que nós pegamos com oito meses, mas... Passa-
mos um pouquinho aí por isso. Nessa questão aí, talvez é
até mais fácil cuidar de um mais velho... Agora, pode ter
casal que não tem nenhum, acho que esse negócio de sentir
a emoção de nenezinho, isso faz parte da vida da gente. Mas
a gratificação maior talvez esteja em adotar uma criança
maior. (Eva)
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
Sei lá, eu acho assim, o amor parece que vai ser maior
do que se ele fosse um nenê todo cheirosinho. Então, acho
que a gratificação é maior. Porque com nenê a gente não
tem muito o que fazer. (Eva)
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Referências
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
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22. OFICINAS TERAPÊUTICAS:
UMA POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO
EM SAÚDE MENTAL
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
O adoecimento e o tratamento
modificando o cotidiano do paciente
Diante de situações extremas de enfermidade e por mais
real e notório que sejam os avanços da Medicina e dos re-
cursos medicamentosos, o simples diagnóstico de doenças
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Conseqüentemente:
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
Objetivo
O objetivo do presente estudo é descrever a implantação
de um projeto de oficinas terapêuticas, utilizando a técnica
de mosaico, na casa do grupo de apoio ao paciente trans-
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
Oficinas de mosaicos
Uma vez definida a adoção da técnica de mosaico, as ofi-
cinas iniciaram suas atividades em janeiro de 2003, ocor-
rendo sistematicamente duas vezes por semana, com a
duração de duas horas, sendo integradas pelos pacientes,
seus acompanhantes e os estagiários da Terapia Ocupacio-
nal e Psicologia, sob a orientação e supervisão da terapeu-
ta ocupacional e da psicóloga da Unidade de TMO.
Até o presente momento foram produzidas e comerciali-
zadas 105 peças, cuja renda foi destinada à autogestão das
oficinas e o restante para a casa do GATMO.
Os benefícios da implementação deste tipo de modalida-
de podem ser observados nos discursos dos pacientes, ilus-
trados em alguns trechos abaixo:
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Discussão
Os pacientes que passaram pela experiência radical do
transplante de medula óssea, como pôde ser visto e farta-
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
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Formação em Psicologia: desafios da diversidade na pesquisa e na prática
Refrências
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Parte IV: Práticas psicológicas na atenção à saúde
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ASSESSORES
E CONSULTORES AD HOC