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AUTOMUTILAÇÃO EM ADOLESCENTES
Santa Rosa,
2019
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AUTOMUTILAÇÃO EM ADOLESCENTES
Santa Rosa,
2019
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AGRADECIMENTOS
Inicialmente quero agradecer ao meu pai que nunca mediu esforços para dar o
melhor estudo e futuro para mim e sempre me ajudou em todos os momentos de
minha graduação.
A minha família pelo apoio, confiança e incentivo, e que nesses cinco anos de
graduação sempre estiveram do meu lado nos momentos que mais precisei.
Ao meu namorado Gabriel, que ficou ao meu lado em todos meus momentos
de desamparo e nos momentos em que me sentia sobrecarregada e que sempre me
motivou a enxergar o meu melhor e por me mostrar que conseguiria chegar onde
estou.
Sou grata a todos pela paciência, apoio e escuta, principalmente por me
apoiarem no sonho de seguir nesta profissão e por nunca duvidarem da minha
escolha.
Desejo agradecer também a todos os professores do curso de Psicologia da
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - Unijuí, pelo
comprometimento e apoio no processo de ensino-aprendizagem durante estes cinco
anos.
Agradeço especialmente a minha orientadora professora Taís, pelo
comprometimento na orientação deste trabalho; não apenas neste, mas também no
meu primeiro estágio, não medindo esforços para me ensinar o melhor e me fezer
acreditar na minha capacidade. Agradeço pela paciência, apoio e dedicação e por
suas preciosas contribuições que valeram muito para o meu crescimento pessoal e
profissional.
Por fim, mas não menos importante, agradeço ao meu supervisor de estágio
da ênfase clínica, professor Nilson Heidemann, que nesse último ano de graduação
me enriqueceu com seus ensinamentos, me mostrando meu grande potencial e
também o grande leque que a psicologia é capaz de abordar me fazendo desenvolver
ainda mais meus conhecimentos alcançados até aqui.
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RESUMO
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
sua durabilidade não dependerá tanto da idade, mas do peculiar tempo de cada sujeito
para a realização dessa operação subjetiva.
Giles (2010) aponta que essa questão da faixa etária pode ser vista como um
tempo lógico, mais do que um tempo cronológico, de modificações corporais do
sujeito, onde o real sexual irá fazer um corte no corpo imaginário tecido que diz
respeito ao corpo materno. Com isso, ocorrem mudanças discursivas do sujeito e do
outro, sendo que este outro na infância seriam os pais. Nesse sentido:
Ferreira, Teixeira e Ravasio (2017) apontam que para partir em direção a uma
definição de adolescência na Psicanálise, devemos considerar primeiramente o seu
objeto de estudo: o sujeito do inconsciente, aquele que deve ser compreendido pelos
tempos de constituição psíquica, mais do que pela idade cronológica. Assim, o que
vai orientar as interpretações na perspectiva psicanalítica não é o visível da
puberdade, mas sim o que se passa em nível de trabalho psíquico, a partir da forma
que o sujeito adolescente irá trabalhar com a crise subjetiva que marca esse momento
da vida. Compreendemos então, a adolescência enquanto um momento psíquico
complexo, uma passagem que coloca em questão a constituição psíquica e a
possibilidade de o sujeito posicionar-se em relação ao seu desejo e ao seu lugar no
social. (RASSIAL, 1999).
Andrioli (2014) aborda a adolescência como um momento psíquico, no qual o
sujeito busca construir uma nova posição subjetiva. Nesse período, o adolescente
busca respostas no seu meio familiar e ele não as encontra. Além disso, se espera do
jovem que ele dê conta das alterações do próprio corpo de maneira instantânea, dê
conta da sua sexualidade, e mais adiante ainda, que dê conta de sua escolha
profissional. Assim, o adolescente se depara com um amplo social, precisando neste
momento, de outras instâncias de referências, ou seja, ocupando outro lugar, de forma
a realizar uma passagem da família ao laço social.
A fase da adolescência é marcada pela rebeldia e pelo fato do sujeito sempre
estar testando os limites que lhes são impostos. Knobel (1981) citando Ana Freud,
aborda que é muito complicado marcar o limite de normal e o patológico na fase da
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adolescência e com isso aborda que todo esse período da adolescência se considera
normal, e se visto como anormal, estaria se desestruturando esse equilíbrio que vem
a ter nesse processo.
Aberastury (1981) aborda a adolescência caracterizando-a como um
momento crucial para o desenvolvimento do sujeito, não apenas para o momento em
que ele está se estruturando, como um final da personalidade, mas também como um
momento para aquisição da imagem corporal definitiva.
Nota-se portanto, que ao abordar o tema da adolescência se faz necessário
mencionar as mudanças corporais que ocorrem nesse período e a percepção que o
sujeito tem desse “novo” corpo, bem como os lutos necessários para a elaboração
dessa nova “fase”. Aberastury e Nobel (1981) descrevem a rebeldia, que geralmente
aparece no adolescente, como sendo uma elaboração de luto diante das perdas dos
pais da infância e do corpo infantil. Souza3 [S.d.] aborda que é a partir dessa
modificação de esquema corporal e do conhecimento que o sujeito tem do próprio
corpo, que as mudanças desse luto pelo corpo da infância são elaboradas.
A elaboração do luto é conduzida segundo Aberastury, Dornbusch, Goldstein,
Knobel, Rosenthal e Salas (1981) como uma forma de aceitação da função da
puberdade que lhe é destinada. Durante esse trabalho de luto, surgem defesas na
qual a finalidade é a negação da perda da infância. Nesse, o esquema corporal é
definido como a representação mental que o sujeito tem do próprio corpo, como
consequência das suas experiências em contínua evolução.
De acordo com Rassial (1997) esse período da puberdade, ou seja, o período
das transformações corporais, em que o sujeito se depara com o corpo semelhante
da mesma espécie do adulto e não mais com o corpo infantil, pode ser considerado
como o primeiro momento de uma revelação fraudulenta da promessa edípica. O autor
ainda aponta que o fato de “tornar-se” grande tanto quanto os pais, ou seja, largar o
estatuto de criança, demanda uma reconstrução da imagem de corpo no qual a
puberdade trocou de valor e de estatuto. Portanto, seguindo essa lógica, a
adolescência acontece em um momento posterior ao estádio do espelho, momento
em que a criança se depara com o “Eu”. De acordo com Dor (1989) o estádio do
espelho ordena-se essencialmente a partir de uma experiência de identificação
fundamental, durante a qual a criança faz a conquista da imagem de seu próprio corpo.
Anterior ao estádio do espelho, a criança não experimenta seu corpo como uma
totalidade unificada, mas como alguma coisa dispersa.
Rassial (1999) aborda então, que adolescência acontece após o estádio do
espelho, pois é nesse período que o sujeito se vê como uma imagem transformada e
com isso vai ver também o olhar do outro sob ele, e a partir disso vai se estruturar um
sintoma ou a modificação desse sintoma. São exemplos desses sintomas, questões
de ordem sexual, como o jovem que passa por uma enurese infantil para a
dismenorreia, ou quando o jovem passa da gagueira para a ejaculação precoce. Esse
corpo do jovem não apenas não é o mesmo, como também não pertence ao mesmo
estatuto.
Voltando a questão do luto, Knobel (1981 apud ABERASTURY, 1981) aponta
que o adolescente passa por três lutos fundamentais: o luto do corpo infantil, o luto
pelo papel e a identidade infantil, onde após passar pela infância ele se depara com
responsabilidades não antes enfrentadas, e por fim, o luto pelos pais da infância, onde
o adolescente procura refúgio e amparo e acaba por não receber, pois seus pais
também estão elaborando e aceitando a nova fase do filho.
Seguindo as ideias relacionadas à questão do corpo proposta por Aberastury
(1981), a autora aponta que o mundo externo exige do adolescente novas pautas de
vivências e convivências que são vistas como invasivas, diante das modificações
corporais incontroláveis. Essas modificações das quais a autora se refere, diz do
momento em que o sujeito se depara com a sua perda de identidade de criança, e
com isso surge a busca por uma nova identidade, com um plano consciente e
inconsciente. É importante lembrar que esse processo de construção do corpo próprio
se dá a partir de uma construção psíquica que acaba conduzindo contra o arranjo das
identificações que surgirem desde a constituição dos fantasmas primordiais do sujeito,
que vão gradualmente permitindo que este resida ao seu próprio corpo. (FORTES;
MEDEIROS, 2017).
Então, a fase da adolescência, é segundo Eros, Moreira e Stengel (2011), o
momento onde se iniciam novas experiências. Decorrente disso, o sujeito acaba por
desencadear certas confusões mentais onde ele não se reconhece, onde ele se vê
em uma incompreensão diante do seu eu. Ele se depara com o desconhecido e isso
pode levar o sujeito a desencadear uma série de comportamentos e atitudes
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inesperadas na tentativa de voltar a ter controle sobre si e sobre o que acontece com
seu corpo.
É importante salientar ainda, as questões de humor, típicas do adolescente e
que fazem parte do processo de luto enfrentado. “A quantidade e a qualidade da
elaboração dos lutos da adolescência determinarão a maior ou a menor intensidade
dessa expressão e desses sentimentos” e esses sentimentos podem vir a decorrer de
microcrises maníaco-depressivas, sendo que o adolescente passa por frustações e
aborrecimentos e acabam por vir a ter sentimentos de solidão. (ABERASTURY;
KNOBEL, 1989, p. 58).
Assim, após abordarmos alguns dos principais aspectos sobre a adolescência
para a Psicanálise, seguiremos com o objetivo de aprofundar nossa compreensão
acerca da questão da automutilação na adolescência.
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também são utilizados para definir o ato de automutilação como: cutting, autolesão,
autoagressão e violência autodirigida. (SANTOS; SANTOS; FREITAS; TENÓRIO;
SILVA, 2017).
Quando abordamos a automutilação, estamos nos referindo às pessoas que
machucam o próprio corpo de formas diversas, por meio de cortes, queimaduras, entre
outras formas. Elas se encontram em um momento de profunda dor de forma que não
sabem como lidar com essa dor. Em relação ao adolescente, notamos que o ato de
se automutilar está cada vez mais presente no âmbito social e familiar destes. Esses
atos são mantidos geralmente em segredo e são cometidos em um momento de muita
angústia do adolescente. A automutilação também pode aparecer diante de algum
acontecimento que produziu uma dor psíquica insuportável, com a qual o adolescente
não conseguiu encarar, associada ao forte sentimento de solidão por não ter com
quem partilhar esta dor. (FORTES; MEDEIROS, 2017).
A dor corporal é vista como um substituto da dor moral, isto é, como uma
forma presentificada via cortes no corpo que atesta a impossibilidade de sentir
a dor da alma. Busca-se assim, paradoxalmente, apaziguar a dor psíquica
insuportável por meio do ato de infligir-se uma dor física. (FORTES;
MEDEIROS, 2017, p. 3-4).
4 Informação retirada de uma fala em vídeo de Christian Dunker. Disponível no seguinte link:
https://www.youtube.com/watch?v=ngi_oZVXBWo
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A referência à mãe fica colocada ao dizer que alguns cortes não são visíveis,
ou que o corte alivia uma angústia. A partir da minha escuta, alguns casos
me fizeram pensar sobre o lugar do olhar do Outro. Estes adolescentes
pontuam que o corte alivia a angústia que sentem em momentos que se veem
ameaçados ou em risco, neste sentido o corte vem a confirmar a borda
corporal. Também é uma forma que eles direcionam algo para a mãe. (p. 11).
A autora ainda traz a partir das suas experiências, que os adolescentes nessa
fase acabam indo em busca do corte como uma forma de buscar o olhar do Outro. Um
olhar de fora, que de alguma forma dê sustentabilidade para o próprio eu, para se
constituir como sujeito. Com isso, ele irá iniciar uma luta para construir sua identidade,
de forma que com as marcas ele se vê de alguma forma diferenciado, ele se vê como
um sujeito singular, ocorrendo uma intervenção no corpo que busca uma reformação
da sua imagem. É nesta relação do eu com o outro, com o meio ambiente em que ele
está inserido tanto no social quanto no seu meio familiar e com a realidade na qual
que ele se encontra que ele irá constitui as bordas.
espelhar e é onde vai projetar tanto as seus objetivos e metas futuras quanto seus
conflitos e angústias.
Cabe então uma reflexão sobre os motivos pelos quais os atos se tornaram
tão recorrentes na clínica com adolescentes hoje. Se temos uma repetição
que não é apenas de um, mas que se apresenta como sendo pertencente a
vários de uma mesma geração, é preciso atentar para o que está sendo
denunciado acerca do campo social no qual os adolescentes estão inseridos.
(JUCA; VORCARO, 2018, p.4).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALBERTI, Sonia. (2009). Esse sujeito adolescente. Rio de Janeiro: Rios Ambicios,
1999. 261 p.
PONTALIS, Jean Bertrand. Entre o sonho e a dor. São Paulo: Ideias e Letras,
2005. 280 p.
SANTOS, Larissa Forni dos; SANTOS; Manoel Antônio dos; OLIVEIRA, Érika
Arantes de. A escuta na psicoterapia de adolescentes: as diferentes vozes do
silêncio. SMAD, Revista Eletrônica de Saúde Mental, Álcool e Drogas. (Ed.
port.). Ribeirão Preto, v. 4, n. 2, ago. 2008. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-
69762008000200008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 20 nov. 2019.