Você está na página 1de 38

CENTRO UNIVERSITÁRIO PARAÍSO - UNIFAP

CURSO DE PSICOLOGIA

DAYANA DA SILVA FREITAS

O IMPACTO PSICOLÓGICO E SUAS CONSEQUÊNCIAS CAUSADAS PELO


ABUSO SEXUAL EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

JUAZEIRO DO NORTE – CE
2022
DAYANA DA SILVA FREITAS

O IMPACTO PSICOLÓGICO E SUAS CONSEQUÊNCIAS CAUSADAS PELO


ABUSO SEXUAL EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado ao Curso de Psicologia do
Centro Universitário Paraíso (UNIFAP)
para obtenção de título de Bacharel em
Psicologia.

Orientadora: Prof. Dra. Priscila Ribeiro


Jeronimo Diniz

JUAZEIRO DO NORTE – CE
2022
DAYANA DA SILVA FREITAS

O IMPACTO PSICOLÓGICO E SUAS CONSEQUÊNCIAS CAUSADAS PELO


ABUSO SEXUAL EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial à
conclusão do curso de Psicologia do
Centro Universitário Paraíso (UNIFAP)
para a obtenção do grau de bacharel em
Psicologia.

Aprovado em ___/___/____

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dra. Priscila Ribeiro Jeronimo Diniz


Prof. Ma. Gorete Sarmento da Silva
Prof. Ma. Karla Rossana Gomes Lobo

JUAZEIRO DO NORTE – CE
2022
DEDICATÓRIA

A Deus, quem me deu o dom da vida e que me deu sabedoria e sustento até chegar
aqui, me dando fé, força e coragem para não desistir. Em memória de Melzinha, que
passou tantos anos ao meu lado me dando tanto amor e me fazendo sorrir.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida, pela saúde, por me dar
sabedoria para seguir em frente, pela oportunidade e por me tornar capaz de chegar
até aqui. Aos meus pais, Cristina Silva e Afonso Moura, pelo apoio, incentivo e pelo
investimento em toda minha vida escolar.
Ao meu noivo, Kayuby Fechine, por todo apoio, incentivo, cuidado e paciência
nos dias em que eu estava exaustivamente estressada e por sua compreensão
perante minha ausência diversas vezes.
A Mel que não está mais presente em vida, mas acompanhou comigo minhas
noites e noites em claro até março, com tanto amor e carinho.
A minha amiga de curso, que foi um presente nessa graduação, Patricia
Andrade, por seu companheirismo, amizade, lealdade e por sempre me dar força nos
momentos em que eu quis desistir da monografia. A minha madrinha de jaleco
Josilene Izidio, por todo auxílio ao decorrer do curso, apoio, incentivo e amizade.
Agradeço também aos meus professores, os quais contribuíram de forma
significativa nessa jornada, transmitindo tanto conhecimento e por serem excelentes
profissionais. Em especial duas pessoas incríveis, a professora Karla Rossana, pois
em um determinado momento lá atrás, no terceiro semestre eu iria trancar o curso e
ela me fez enxergar com outros olhos a situação em que eu havia passado na
faculdade. Inclusive, a minha graduação eu daria o nome de Karla Rossana. E
também ao meu professor José Alves, que foi meu supervisor de estágio e que me
ensinou tanto, ambos não me ensinaram apenas sobre a psicologia, mas sim sobre
ser humano também.
A minha excepcional orientadora Priscila Ribeiro, por sua paciência, auxílio,
dedicação, competência e profissionalismo, e por ser exemplo a seguir.
RESUMO

O presente trabalho se trata de uma pesquisa bibliográfica e documental acerca do


impacto psicológico e as consequências causadas pelo abuso sexual em crianças e
adolescentes, assim como as possíveis ingerências dos profissionais da área de
psicologia, na intenção de analisar quais as principais intervenções e quais os
caminhos a serem seguidos no tratamento psicológico da criança e do adolescente
vítimas de abuso ou violência sexual. Todo o trabalho é voltado para a atenção ao
menor que se vê traumatizado e desamparado, muitas vezes, optando pelo silêncio
na intenção de não ser julgado, tratando-se de um tema complexo. Tem por objetivos,
primeiramente, analisar o conceito e a historicidade do abuso e da violência sexual
contra crianças e adolescentes para, em seguida, examinar quais são os sintomas e
as características apresentadas pelos menores de idade vítimas desse crime e, por
último, averiguar a intervenção psicológica frente ao fato. Para tanto, o trabalho foi
dividido em quatro capítulos, dos quais o primeiro trata sobre os procedimentos
metodológicos, o segundo aborda o conceito e historicidade do abuso sexual contra
crianças e adolescentes, o terceiro traz os sintomas e os danos psicossociais
apresentados pelas vítimas e o quarto apresenta uma intervenção psicológica nas
vítimas de abuso sexual. Diante do estudado e pesquisado, pode-se observar que os
danos, apesar de indiscutivelmente muito graves na vida das vítimas, pode ser
amenizado com o tratamento correto e acompanhamento multidisciplinar.

Palavras-chave: Abuso Sexual; Violência; Crianças e adolescentes.


ABSTRACT

The present work is a bibliographic research and the document deals with sexual
abuse in children and adolescents, as well as possible interference by professionals in
the field of psychology, in the intention of which are the main interventions and which
studies to follow in the psychological treatment of the child. and adolescents of sexual
abuse or violence. All work that is often complex to pay attention to the slightest
paradox, and is often complex to be treated by silence in the intention of not being
judged, dealing with a topic. Finally, initially, the concept and history of abuse and
sexual violence against minors and adolescents, the symptoms and analyze the
characteristics by the last objectives for children of this crime and, by age, to
investigate the psychological face of the fact. Therefore, the work was first divided into
four chapters, of which the second deals with the methodological procedures, the
second addresses the concept and historicity of sexual abuse against children and
adolescents, the third brings the symptoms and psychosocial damage presented by
the victims. and the fourth presents a psychological intervention in victims of sexual
abuse. It can be very multidisciplinary and researched, it can be seen that the damage,
although it can be studied a lot in the victims' lives, can be studied a lot with the correct
treatment and follow-up.

Keywords: Sexual abuse; Violence; Children and teenagers.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Cartaz - Política de combate à violência sexual infantil. Criciúma/SC 16


Figura 2: Lista de sinais que ajudam a identificar o abuso 19
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................................. 10
3 CONCEITO E HISTORICIDADE DO ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES.................................................................................................... 12
4 SINTOMAS E DANOS PSICOSSOCIAIS APRESENTADOS PELAS VÍTIMAS ... 15
4.1 A PRÁTICA DA VIOLÊNCIA SEXUAL NO MEIO FAMILIAR .............................. 16
4.2 AS CONSEQUÊNCIAS PERPÉTUAS NAS VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL ...... 19
4.3 ESTUDO DE CASO: JOANNA MARANHÃO ..................................................... 22
5 A INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA NAS VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL .............. 24
5.1 ASPECTOS GERAIS E PESQUISAS RECENTES ............................................ 24
5.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ÉTICA NO ATENDIMENTO ............................... 27
5.3 IMPACTO ESPERADO DA INTERVENÇÃO ...................................................... 29
6 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 32
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 33
9

1 INTRODUÇÃO

Sabe-se que é na a infância que as experiências têm uma influência maior no


desenvolvimento sadio de uma criança. A violência e o abuso sexual nesta fase da
vida são uma problemática social que afeta todo o mundo e que vem desde tempos
primitivos, mas que infelizmente ainda é pouco debatida e muito silenciada, na maioria
das vezes, pela própria família. Esse contexto só passou a ser exposto e esgrimido a
partir do século XIX, tornando-se um problema social apenas no século XX, quando
considerado problema de saúde pública reconhecido pela World Health Organization 1
(WHO) em 1999, gerando consequências severas na vida das vítimas.
De acordo com Rezende (2011, p. 5) “o abuso sexual compreende todo ato
ou jogo sexual, de relação heterossexual ou homossexual, no qual o agressor esteja
em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado do que a vítima, tendo
como finalidade estimulá-la sexualmente” Quando crianças e adolescentes sofrem um
abuso desse tipo, podem desenvolver sequelas que repercutirão para o resto de suas
vidas, desde consequências psicossociais até mesmo problemas sexuais físicos.
A WHO (2004) conceituou o abuso sexual infantil como uma emergência de
saúde silenciosa, considerando-a como a mais cruel e trágica infração aos direitos da
criança, definindo-se por envolvê-la “em uma atividade sexual que ela não
compreende totalmente, para a qual ela não é hábil para dar consentimento, ou para
a qual ela não está preparada em termos desenvolvimentais ou ainda, que viola leis e
tabus da sociedade” (WHO, 2004, p.1).
Esse trabalho orienta-se no sentindo de descrever os principais sintomas
apresentados pelas vítimas, as consequências e os danos psicossociais da violência
sexual e o que esta pode causar na vida adulta, além de discorrer sobre como a
psicologia trata o abuso infantojuvenil e quais procedimentos devem ser realizados
durante o processo de intervenção psicoterápica.
“O abuso sexual tem consequências psíquicas que vão além daquelas
causadas pelo fato em si. Elas se referem, direta ou indiretamente, aos efeitos do
processo legal e seus desdobramentos” (GHETTI et al., 2002, p.54). As vítimas de
abuso sexual sofrem em silêncio na maioria das vezes, ou porque não entenderam de

1 Tradução para o português: Organização Mundial da Saúde (OMS) como é mais conhecida.
10

fato o que está havendo ou por conviverem com o sentimento de culpa, vergonha, dor
e medo, que se caracteriza como a síndrome do medo (GOTTARDI, 2016, p.22).
As consequências mais comuns são vergonha excessiva, comportamento
agressivo, hiperatividade, fuga de contato físico, tentativa de suicídio, comportamento
antissocial, falta de confiança nos adultos, depressão e medo (FURNISS, 2002, p.
125). A partir destas considerações, visa-se analisar as consequências do abuso
sexual contra crianças e adolescentes e a importância da intervenção psicológica
através da psicoterapia.
Esta monografia contribui, diretamente, para maior entendimento sobre os
sintomas que as crianças e adolescentes podem demonstrar após violência sexual
que, muitas vezes, podem passar despercebidos pelas famílias das vítimas. Além
disso, reconhecer essencial a intervenção da psicologia através da psicoterapia
durante todo o processo, tratando sequelas das vítimas, tornando possível uma vida
adulta com mais qualidade, sem traumas físicos e psicológicos.
De acordo com Berman et al (2001), existe na área da psicologia alguns
caminhos que podem ser tomados neste sentido, por exemplo, a psicoterapia, que se
apresenta como componente extremamente necessário ao tratamento de vítimas de
abuso sexual infantil e, em alguns casos, é superior ao tratamento farmacológico
(BERMAN, et al, 2001, p.34).
O objetivo geral do trabalho é observar o impacto psicológico causado pelo
abuso sexual em crianças e adolescentes, assim como analisar as prováveis e mais
comuns consequências de tal crime. Os objetivos específicos, que norteiam o
desenvolvimento de cada um dos capítulos foi, inicialmente, analisar o conceito e
contexto histórico do abuso sexual contra crianças e adolescentes para, em seguida,
verificar os sintomas e os danos psicológicos, inclusive fazendo uma investigação de
caso concreto muito conhecido e, por fim, fazer uma avaliação das possíveis e
cabíveis intervenções psicológicas em face da situação estudada.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Sabe-se que para a produção de qualquer trabalho científico se faz necessário


um bom procedimento metodológico. Nesse sentido, demonstra-se o caminho a ser
seguido na presente pesquisa, através do qual serão encontrados e escolhidos os
melhores e mais adequados materiais. Trata-se, portanto, de uma abordagem
11

quantitativa, visto que o objeto da pesquisa se dará através da demanda de evidências


quantificáveis que, no decorrer do projeto, estarão sendo relatadas por meio de dados
que se fazem necessários para melhor compreensão.
Utilizando-se do método dedutivo, que segundo Gil (1987, p.13), parte de
princípios considerados verdadeiros e indiscutíveis para chegar a conclusões de
maneira formal, esse trabalho tem como ponto de partida o contexto geral de violência,
com foco no abuso sexual infantojuvenil, encetando da premissa que abuso gera dano
psicológico, para então analisar quais são esses danos em crianças e adolescentes,
em face do abuso sofrido, fazendo uso de técnica documental para tanto.
Utilizou-se da pesquisa bibliográfica na elucidação dos conceitos trabalhados.
A começar pelos tipos de revisão de literatura, esta pode ser conceituada como um
levantamento de informações mais atuais acerca de uma temática específica. Pode
ser feita de três maneiras distintas, as quais se faz mister explicar. A primeira delas é
a revisão sistemática que, na visão de Martins (2018) é

um tipo de revisão planejada que utiliza métodos explícitos e sistemáticos


para identificar, selecionar e avaliar criticamente estudos primários –
pesquisas (mesmo delineamento - estudos semelhantes) relacionados a um
problema específico (MARTINS, 2018, p. 04).

Vale salientar que, por ser sistemática, primordialmente ela deve ser fruto de
um planejamento; deve “indicar claramente as evidências a serem incluídas; indicar e
delimitar a área de busca; apontar previamente os escritores para a busca; evitar ao
máximo a apreensão subjetiva dos fatos observados; indicar o campo e a cronologia
da revisão” (MARTINS, 2018, p. 06).
A segunda se trata da revisão integrativa, uma revisão “que também utiliza
métodos explícitos e sistemáticos para analisar tendências, sintetizar resultados,
identificar, selecionar e avaliar não só estudos primários (pesquisas), como revisões
teóricas, relatos e outros tipos de estudos” (MARTINS, 2018, p.14).
“A questão de pesquisa é mais ampla do que aquela que gera uma revisão
sistemática, pois pode reunir vários tipos de estudos” (MARTINS, 2018, p.15). Além
disso, “busca, avaliar criticamente e sintetizar o conhecimento; combina dados da
literatura teórica e empírica” (Idem, p.15). A metodologia empregada assemelha-se à
da revisão sistemática, diferenciando-se pelo fato de permitir “a inclusão de estudos
12

de diferentes delineamentos (estudos primários e teóricos) ” (MARTINS, 2018, p.15).


Por fim, tem-se a revisão narrativa que, na visão de Cordeiro et al (2007),

tem por objetivo mapear o conhecimento sobre uma questão ampla (análise
da literatura); Não há critério explícito e sistemático para a busca e análise
crítica das evidências – não exige protocolo rígido; Fontes: não são pré-
determinadas ou específicas. Geralmente são menos abrangentes; Seleção
arbitrária dos estudos. O pesquisador decide quais artigos ou informações
são mais relevantes; Passível de viés; Grande interferência de intervenção
subjetiva (CORDEIRO, 2007, p. 52).

Nesse sentido, a pesquisa bibliográfica, indispensável a qualquer trabalho ou


pesquisa, busca através de outros trabalhos, consolidar ideias e conseguir
informações a respeito de pesquisas posteriormente realizadas. Tem como objetivo,
dentre outros, “identificar, coletar e analisar as principais contribuições e/ou
publicações sobre um determinado tema” (MARTINS, 2018, p.22).
Diante das possibilidades supramencionadas, utilizou-se prioritariamente
nesse trabalho a revisão de literatura na modalidade sistemática e a pesquisa
bibliográfica de forma mais ampla, uma vez que se demonstram mais adequadas à
conformação da pesquisa em curso.

3 CONCEITO E HISTORICIDADE DO ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E


ADOLESCENTES

O abuso sexual contra crianças e adolescentes é uma realidade triste que se


pode constatar diariamente em notícias criminais nos meios de comunicação.
Indubitavelmente, é um problema que se arrasta por séculos, sem nenhuma
intervenção resolutiva e que tem provocado consequências irreversíveis nas vítimas
e familiares. É necessário compreender o contexto histórico e conceitual que permeia
a violência sexual contra crianças e adolescentes, o que se pretende nesse capítulo.
Para depreender ao máximo este assunto, é necessário se debruçar em
vários conceitos, vários dados e informações correlatas. Nesse sentido, inicialmente,
se deve assimilar o conceito do termo violência sexual. Conforme o entendimento de
Guerra (2008) “a violência sexual contra crianças e adolescentes é um termo genérico
que se subdivide em duas modalidades: abuso sexual e exploração sexual” (Guerra,
2008, p.38).
13

“O fenômeno é multifacetado e multicausal. Ele se reveste de uma


complexidade e gravidade devastadoras, transformando as relações afetivas entre
adultos e o público infanto-juvenil em relações sexualizadas” (BRASIL, 2020). É
possível observar que “muitos autores descrevem o abuso sexual como a forma de
violência que acontece dentro do ambiente doméstico ou fora dele, mas sem a
conotação da compra de sexo, podendo o agressor ser pessoa conhecida ou
desconhecida da vítima” (Idem, 2020).
Observa-se ainda que se trata de uma “relação adultocêntrica” em que “o
adulto domina a criança e/ou adolescente, se apropriando e anulando suas vontades,
tratando-os, não como sujeitos de direitos, mas sim como objetos que dão prazer e
alívio sexual” (BRASIL, 2020). Nesse ponto da discussão, é possível mencionar
algumas figuras comuns na condição de algozes, como por exemplo, o pai, o avô, um
vizinho ou um tio que molesta uma criança.
Vale ressaltar que, em se tratando de um acontecimento no âmbito das
relações domésticas, se configura uma violência sexual doméstica contra crianças e
adolescentes, cuja abordagem já passa por outros aspectos específicos, mas não
exclusivos do conceito genérico. Já no que se refere à exploração sexual, trata-se de
um termo que surgiu e ficou conhecido a partir de 1996.
Na cidade de Estocolmo, na Suécia, aconteceu naquele ano o I Congresso
Mundial contra a Exploração Sexual de Crianças. Na ocasião, ficou pactuado pelas
nações presentes que o termo "exploração sexual" de crianças e adolescentes se
vincula à questão pecuniária e acontece nos contextos de prostituição, turismo,
pornografia e tráfico humano (GUERRA, 2008, p.40).
A exploração sexual difere do abuso sexual principalmente por que, naquela,
o corpo da criança e do adolescente são usados com a específica finalidade de
conseguir dinheiro ou favores, por intermédio de um adulto que faz o elo entre a
criança e um cliente dessa relação escusa. O abuso, por sua vez, tem finalidade
individual, entre criança e adultos, sem intermediadores e sem finalidade econômica.
De outra forma mais sucinta, é possível definir a violência sexual contra
crianças e adolescentes como sendo aquela em que alguém utiliza o corpo de uma
pessoa com idade entre zero e dezoito anos incompletos para obter satisfação sexual
ou algum proveito de ordem material. Vale observar que, quando se fala em violência
que atinge menores, deve-se utilizar a palavra contra e não de, pois se for dito
14

violência de crianças e adolescentes, dar-se-á impressão de que a violência é por eles


praticada.
Uma ressalva importante se faz pelo fato de que alguns autores, ao definirem
esse tipo de violência, colocam o mesmo sendo praticado apenas por adultos, o que
não parece corresponder à realidade, uma vez que existem registros de casos em que
adolescentes figuravam como autores de violência sexual. Segundo Minayo (2001):

A violência praticada contra crianças e adolescentes, conforme Assis


(1994), acompanha a trajetória humana desde os acontecimentos mais
primitivos de que se têm registro. E são também inumeráveis as modalidades
pelas quais se expressa, dentro das diferentes culturas. Por exemplo, a
eliminação de crianças e adolescentes é dos temas mais citados na história,
abrangendo o infanticídio (crianças pequenas mortas pelos pais) e os
homicídios. Conforme assinala Veyne, a prática do infanticídio era aceita
pelas sociedades antigas, sendo facultado aos pais, acolher ou renegar o filho
recém-nascido. A própria Bíblia apresenta passagens em que, nos momentos
de escassez de alimentação, o povo hebreu comia as crianças mais
novas: "Dá cá o teu filho para que hoje o comamos e amanhã comeremos o
meu filho. Cozemos, pois, o meu filho, e o comemos" (BÍBLIA. A.T. II Reis, 6:
26-29) (MINAYO, 2001, p.92).

O conceito genérico de violência já vem sendo utilizado no processo educativo


familiar, desde épocas primordiais, como uma ferramenta de socialização aos pais em
face de indocilidades e insubordinações dos filhos. “Uma lei hebraica do período 1250-
1225 a.C. dizia que, caso os filhos não dessem ouvidos aos conselhos paternos, cabia
aos anciãos puni-los, expondo-os a serem apedrejados ou mortos (MINAYO, 2001,
p.92), o que fora amenizado com o advento do novo testamento, mas nunca abolido.
É importante salientar que, apesar da crença de que houve evolução e se
tenha caminhado a condições melhores a partir daquela forma de criação paternal,
principalmente na sociedade ocidental, do ponto de vista ideológico, há estudiosos
que divergem da ideia de que hoje a humanidade, principalmente os adultos, são mais
respeitosos com as crianças do que nos séculos passados.
Guerra (2008, p.48) comenta em seus estudos e trabalhos bibliográficos que,
no curso da história, as sociedades simplesmente não respeitavam quiçá a vida das
crianças, quem dirá seus corpos e sua dignidade; praticavam infanticídios,
espancamentos, incestos e muitos Estados, no passado, sacrificaram e mutilaram
suas crianças para aliviar a culpa dos adultos. Nos dias atuais, continuam matando e
mutilando crianças e as submetendo à fome e miséria.
15

Na sociedade oriental, algumas tradições perpetuam a maldição desde os


mais escuros e fundos tempos, atuando a serviço de uma certa
"naturalização" do infanticídio. A recente reunião mundial de mulheres em
Pequim trouxe a tona, através dos meios de comunicação de massa, um
costume aberrante que se perpetua. Na Coréia do Sul, na China, na Índia, no
Paquistão e em outros países asiáticos, milhões de meninas são mortas ao
nascer. Essa lei inexorável, porque fundamentada na tradição, atinge os lares
e tem sua continuidade no preço vil pago à mão-de-obra feminina, um dos
trunfos da modernização e da concorrência das indústrias de exportação
nesses países. Concluindo, somos inclinados a concordar que o tema da
violência contra a infância e a adolescência é uma forma secular de
relacionamento das sociedades, variando em expressões e explicações. A
sua superação é uma condição que se constrói ao mesmo tempo que a
"pacificação da sociedade" e seu grau de civilização, porém necessita ser
desnaturalizada e retirada do âmbito que a legitima, o processo pedagógico.
O respeito a esses sujeitos sociais hoje é fundamental para que a sociedade
adulta, em todas as instâncias e instituições, amadureça seu código de
direitos humanos e direitos sociais. (MINAYO; SOUZA, 1999, p. 32)

Diante da violência sexual, muitos são os prismas que precisam ser


analisados, principalmente quando se tem como vítima uma criança ou adolescente.
Ambas as fases possuem características próprias a nível fisiológico e
comportamental. Passaram por sucessivas mudanças, acompanhando a evolução
histórica. As experiências, valores, contravalores e os conhecimentos são transmitidos
de geração em geração, através do fio condutor da história.
Observando a linha do tempo é que se pode tecer algumas considerações
sobre a vida de crianças e adolescentes no convívio sociofamiliar de cada época. Nas
civilizações antigas, as famílias tradicionais, caracterizadas pelo patriarcalismo,
consideravam a infância como um período frágil, de curta duração e sem importância
para a sociedade. Conforme o autor Philippe Ariès (1981, p.10) as crianças eram
tratadas com indiferença e os adolescentes, mais ainda. Não tinham o
reconhecimento que têm as crianças e adolescentes de hoje, como pessoas
portadoras e sujeitos de direitos. Esse fato constitui-se na grande diferença entre o
início da idade moderna e o período contemporâneo.

4 SINTOMAS E DANOS PSICOSSOCIAIS APRESENTADOS PELAS VÍTIMAS

Abusos sexuais são indiscutivelmente causadores de inúmeros traumas nas


vítimas. Alguns destes podem ser observados por terceiros e outros não. Os sinais ou
sintomas podem ser físicos ou psicológicos. O impacto da violência sexual é mediado
por três conjuntos de fatores: intrínsecos à criança; extrínsecos, envolvendo a sua
16

rede de apoio social e afetiva; e relacionados a violência sexual em si (VALLE E


SILOVSKY, 2000, p.25 apud HABIGZANG E KOLLER, 2011, p.27).
Em 1999 a rainha Silvia, da Suécia, criou a Childhood Brasil, uma
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que tem como principal
objetivo a proteção à infância e adolescência e como principal foco de atuação, o
enfrentamento do abuso e da exploração sexual infantojuvenil.
A Childhood Brasil, juntamente com o Disque 100, são os principais canais de
dados sobre o número de casos de abusos contra crianças e adolescentes, sendo o
segundo, a principal ferramenta estatística acerca do tema, de onde se pode extrair a
informação de que 76% das vítimas são do sexo feminino e que 84% dos agressores
são conhecidos das vítimas (CHILDHOOD, 2020).
De acordo com a citada OSCIP, os principais sintomas observados nas
vítimas são: mudança de comportamento; proximidade excessiva; comportamentos
infantis repentinos; silêncio predominante; mudanças de hábitos súbitas;
comportamentos sexuais; traumatismos físicos; enfermidades psicossomáticas;
negligência e frequência escolar comprometida (CHILDHOOD, 2020).
Fora estes comportamentos, também é possível observar o surgimento de
agressividade, fracasso escolar, perturbações do sono, transtornos alimentares e
medo. Esses são alguns dos indicadores psicológicos apresentados por crianças e
adolescentes vítimas de abuso sexual (MPPB, 2010).

4.1 A PRÁTICA DA VIOLÊNCIA SEXUAL NO MEIO FAMILIAR

A maioria dos casos de violência contra crianças e adolescentes ocorre no


âmbito familiar e, não necessariamente, por meio de um familiar sanguíneo, podendo
ser por um padrasto, vizinho, etc. Se faz necessário salientar que “violência
intrafamiliar designa a violência que ocorre na família, envolvendo parentes que vivem
ou não sob o mesmo teto, embora a probabilidade de ocorrência seja maior entre
parentes que convivem cotidianamente no mesmo domicílio” (ARAÚJO, 2002, p.4).
A mesma autora enfatiza que “a violência doméstica, por sua vez, não se
limita à família. Envolve todas as pessoas que convivem no mesmo espaço doméstico,
vinculadas ou não por laços de parentesco” (ARAÚJO, 2002, p.4). Mais que isso, “o
abuso sexual infantil é uma forma de violência que envolve poder, coação e/ou
sedução. É uma violência que envolve duas desigualdades básicas: de gênero e
17

geração” (ARAÚJO, 2002, p.5). A figura 1 ilustra um exemplo de frase sedutora


comumente utilizada em atos de assédio sexual contra menores.

Figura 1: Cartaz - Política de combate à violência sexual infantil. Criciúma/SC

Fonte: Prefeitura Criciúma

O abuso sexual infantojuvenil, frequentemente, é cometido de forma discreta,


sem uso de força física e sem deixar marcas visíveis, dificultando a comprovação em
casos de denúncia, quando ocorrem, sobretudo em se tratando de crianças pequenas.
“O abuso sexual pode variar de atos que envolvem contato sexual, com ou sem
penetração, a atos em que não há contato sexual, como o voyeurismo e o
exibicionismo” (ARAÚJO, 2002, p.4).

O abuso sexual supõe uma disfunção em três níveis: o poder exercido pelo
grande (forte) sobre o pequeno (fraco); a confiança que o pequeno
(dependente) tem no grande (protetor); e o uso delinquente da sexualidade,
18

ou seja, o atentado ao direito que todo indivíduo tem de propriedade sobre


seu corpo (GABEL, 1997, p.10)

Não há dúvidas de que o abuso e a violência sexual se tratam de um evento


extremamente complexo, de árduo enfrentamento por parte dos envolvidos na
situação. É penoso para a criança, oneroso para sua família, cujos valores tradicionais
se veem ameaçados com o julgamento conservador ante uma denúncia criminal. É
também tarefa difícil para os profissionais que atuarão no caso, não tendo, muitas
vezes, o preparo de saber como agir diante de cada questão em particular.
O abuso sexual infantojuvenil envolve também questões legais de proteção à
criança e punição do agressor, além de questões terapêuticas de atenção à saúde
física e mental da criança, levando em conta as consequências psicológicas
decorrentes (ARAÚJO, 2002, p.6). Tais consequências se relacionam diretamente a
“idade da criança e duração do abuso; condições em que ocorre, envolvendo violência
ou ameaças; grau de relacionamento com o abusador; e ausência de figuras parentais
protetoras, entre outras” (ARAÚJO, 2002, p.6). Via de regra,

a revelação do abuso sexual produz uma crise imediata nas famílias e na


rede de profissionais. A complexidade dos processos envolvidos exige uma
abordagem multidisciplinar que integre os três tipos de intervenção: punitiva,
protetora e terapêutica, como propõe Furniss (1993). Integrar essas ações de
forma a não causar maiores danos à criança, diante da situação de exposição
e rupturas desencadeadas pela situação da revelação, é o grande desafio
dos profissionais. O trabalho de atendimento à família, vítimas e agressores,
é fundamental. Devido à enorme carga de ansiedade mobilizada nessas
situações, frequentemente a família tenta fugir do atendimento, sendo, muitas
vezes, necessário um apoio legal para mantê-la em acompanhamento
(ARAÚJO, 2002, p.6).

A violência praticada dentro do âmbito familiar, não só a sexual como também


a psicológica e física, acabam por causar danos ainda maiores em suas vítimas, visto
que é no seio familiar que a criança ou adolescente deveria estar seguro, acolhido,
protegido. E nesse caso, ocorre uma dificuldade ainda maior de denúncia por parte
da vítima, pelo fato de que, existe nesse ambiente, uma hierarquia natural onde a
criança deve respeito aos mais velhos, por exemplo.
Segundo o artigo 227 da Constituição Federal, está firmado que a família deve
“assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” e, mais que
19

isso, a família deve assegurar que estejam “a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (BRASIL, 1988).
Dentro desse contexto legal, é importante destacar o que afirmam Bitencourt
e Roberto (2012) considerando com veemência

o abuso sexual infantojuvenil intrafamiliar como uma das mais graves formas
de violência, pois lesa os direitos fundamentais das crianças e adolescentes,
apresentando contornos de durabilidade e habitualidade; trata-se, portanto, de
um crime que deixa mais do que marcas físicas, atingindo a própria alma das
pequenas vítimas. Consiste na utilização de uma criança ou adolescente para
satisfação dos desejos sexuais de um adulto que sobre ela tem uma relação
de autoridade ou responsabilidade socioafetiva. A origem do abuso sexual
intrafamiliar transcende as fronteiras das culturas, e tem seus precedentes nos
primórdios da civilização humana (BITENCOURT, 2012, p.1175).

A partir disso, é mais comum que essas violências ocorram dentro do contexto
familiar e que suas denúncias, na maioria das vezes, não ocorram. A própria família,
por vezes, oprime e esconde o fato quando se trata de um agressor membro familiar.
Aded et al. (2006, p. 207) postulam que, na maioria dos casos, o abusador é um
familiar, amigo ou vizinho, mas sempre alguém que faz parte do universo da criança.

4.2 AS CONSEQUÊNCIAS PERPÉTUAS NAS VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL

A experiência de abuso sexual produz inúmeras consequências que podem


ser devastadoras. Segundo Amazarray e Koller (1998, p.55), as consequências do
abuso sexual são múltiplas, sendo que seus efeitos físicos e psicológicos podem ser
devastadores e perpétuos, em outras palavras, incuráveis, insanáveis, irremediáveis.
Williams (2002, p.38) aponta o abuso sexual como um estressor generalizado,
isto é, uma experiência traumática que produz como consequências: insegurança,
ansiedade, medo, conflito, raiva, culpa, vergonha, dependência e desconforto nas
relações íntimas. Seus efeitos repercutem sobre vítima do ataque, que ainda não
possui independência emocional ou maturidade para consentir qualquer tipo de
contato dessa natureza (FERRARI, 2002, p.67). É possível observar na vítima, alguns
sinais (figura 2) que ajudam na identificação da situação.
20

Figura 2: Lista de sinais que ajudam a identificar o abuso

Fonte: Prefeitura de Criciúma

O abuso sexual pode desencadear na criança um maior perceptual negativo


sobre o corpo, com ênfase nos órgãos genitais. Também é comum o desenvolvimento
de distúrbios do sono, além de maior frequência de pesadelos e terror noturno. Outros
aspectos frequentemente observados são agressividade, choro repentino e
desmotivado, episódios de raiva incontrolável, desobediência à autoridade escolar e
familiar além de medo de pessoas ou lugares específicos.

Nos casos de abuso sexual intrafamiliar, a família, que deveria representar


um local seguro para os seus membros, torna-se um espaço de insegurança,
medo, desconfiança, conflitos e de incertezas entre o que é certo e errado.
Percebe-se que há uma inversão de papéis, nos quais a criança ou
adolescente é colocada no lugar de parceiro pseudo-igual no relacionamento
sexual e os papéis familiares passam a ser vivenciados de forma confusa,
descaracterizando a família como o lugar de crescimento, confiança e apoio
– o que acarretará enormes prejuízos ao desenvolvimento da criança ou
21

adolescente (FLORENTINO, 2015, p.143 apud FURNISS, 1993; GABEL,


1997; ROMARO; CAPITÃO, 2007).

Para além do exposto, “sabe-se que o abuso sexual compromete as crianças


e adolescentes de maneira estrondosa, destruindo o modo de se relacionar e confiar
em outras pessoas” (FLORENTINO, 2015, p.143). O autor também relata sobre o
estudo de Flores e Caminha (1994), cujos resultados denunciam que “as crianças e
adolescentes abusadas possuem menor comportamento pró-social: compartilham
menos, ajudam menos e se associam menos a outras crianças, quando comparadas
com crianças não abusadas” e ainda, “acabam por constituir relacionamentos
superficiais” (FLORENTINO, 2015, p.143 apud FLORES, CARMINA, 1994)
Outro estudo que precisa ser considerado é o de Romaro e Capitão (2007)
que constata como as diferentes maneiras de abuso e violência afetam diretamente

a saúde mental da criança ou do adolescente, visto este se encontrar em um


processo de desenvolvimento psíquico e físico, produzindo efeitos danosos
em seu desempenho escolar, em sua adaptação social, em seu
desenvolvimento orgânico. Vários estudos relacionam a violência doméstica
com o desenvolvimento de transtornos de personalidade, transtorno de
ansiedade, transtornos de humor, comportamentos agressivos, dificuldades
na esfera sexual, doenças psicossomáticas, transtorno de pânico, entre
outros prejuízos, além de abalar a autoestima, por meio da identificação com
o agressor, um comportamento agressivo (FLORENTINO, 2015, p.143 apud
ROMARO; CAPITÃO, 2007, p. 121)

Os mesmos autores demonstram ainda como os abusos contra crianças leva


a quadros de disfunções sexuais na vida adulta, como “frigidez, aversão sexual e falta
de prazer sexual, falha de resposta genital incluindo a impotência sexual, a disfunção
orgástica, a ejaculação precoce, o vaginismo não orgânico, dispareunia não orgânica
e a ninfomania (FLORENTINO, 2015, p.143 apud ROMARO; CAPITÃO, 2007)
Em seus estudos, levam em consideração também os resultados de uma
pesquisa internacional, revelando que “as consequências do abuso sexual podem se
manifestar em curto prazo (infância) e a longo prazo (adolescência e idade adulta) ”.
As manifestações mais visíveis são o aumento da atividade sexual, ansiedade e
inquietação sobre a identidade sexual, principalmente naqueles que sofreram abuso
homossexual, além de distúrbios na fase adulta como impotência, ansiedade sexual,
menor satisfação sexual, evitação de sexo ou desejo compulsivo por sexo
(FLORENTINO, 2015, p.143 apud ROMARO; CAPITÃO, 2007). Pelo exposto, infere-
se que as consequências são extensas, diversas e muitas vezes perpétuas.
22

4.3 ESTUDO DE CASO: JOANNA MARANHÃO

Joanna Maranhão, uma criança nadadora profissional, foi vítima de abuso


sexual pelo seu treinador e amigo da família, aos nove anos de idade. Joanna, naquele
momento, não havia percebido - nem sentido - a gravidade do que aconteceu, mas as
consequências reverberaram até sua vida adulta, com traumas silenciosos e danosos
que ela carregou até os 21 anos de idade.
A história de abuso veio à tona em 2008, quando a mesma estava fazendo
terapia e reviveu memórias ocultas, fazendo com que as consequências desse abuso
viessem à tona. Joanna passou a ingerir bebidas alcóolicas e a fumar maconha; não
conseguia ir aos treinos. Diante de todo esse trauma, Joanna foi diagnosticada com
depressão e chegou a tentar suicídio duas vezes, uma em 2006 e outra em 2013.

Quando você toma consciência do que você passou na maturidade,


que foi quando eu relembrei, você se sente muito suja. Eu passava
muito a mão em mim querendo me limpar, mas era uma sujeira que
não saia. Eu me sentia culpada, eu não queria mais viver”
(MARANHÃO, 2018, Youtube).

Em uma entrevista em 2018, Joanna fala que chegou a tentar falar com sua
mãe, quando criança, que o seu ex-treinador tentou lhe dar um beijo, ao que sua mãe
respondeu ser impossível e que a mesma poderia estar confundindo o carinho que ele
tinha por ela, como se uma filha fosse. Em alguns trechos da entrevista fica nítido que,
apesar dos anos passarem, ainda há vestígios dessas consequências.
Em uma de suas falas, ela diz que seu ex-treinador era de tamanha
proximidade familiar que a levava para tomar caldo de cana, de tal modo que hoje ela
não consegue sentir nem mesmo o cheiro da bebida sem ter algum tipo de aversão.
Também relata que teve uma crise, em uma farmácia, ao sentir o cheiro de um protetor
solar que era da mesma marca utilizada pelo então treinador.
Aos 12 anos, quando entrou na fase da puberdade, cortou o cabelo e passou
a usar roupas largas e soltas, pois não queria que ninguém tivesse interesse nela, de
modo que isso a fazia se sentir segura.
Quando entrei na minha primeira experiência sexual, as memórias do abuso
começaram a voltar de uma maneira muito forte e minha relação com a
piscina deixou de ser prazerosa. Nesse momento eu entendi que não tinha
mais como fugir. Essas memórias vinham na minha cabeça, mas eu me
embriagava de natação e dos resultados que estavam vindo. Isso seria
suficiente para eu ir tocando a minha vida (MARANHÃO, 2016, Youtube).
23

Anos depois, um senador da república propôs à Joanna que seu caso servisse
de base para uma lei, o que veio a se realizar em 18 de maio de 2012, quando
promulgada a lei n° 12.650, ou “Lei Joanna Maranhão”, marcando a data como o dia
nacional da luta contra o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes.
Na redação da lei, foi alterado o prazo de prescrição desse tipo de crime que
fere a honra sexual infantojuvenil. A partir de então, foi também considerado que, com
auxílio da psicologia, é possível que as vítimas tenham uma maior compreensão sobre
o que aconteceu, tendo atingido a maturidade emocional e psicológica, tal como
aconteceu com a atleta.

Nesse sentido, a Lei n° 12.650, em seu Art. 111, determina que “nos crimes

contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em


legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a
esse tempo já houver sido proposta a ação penal” (BRASIL, 2012). Em síntese,
enquanto a vítima não fizer dezoito anos, não terá iniciado a contagem do prazo
prescricional, exceto quando uma ação penal já tenha sido iniciada, caso em que tal
prazo passa a contar da data da denúncia formal.
Em 2018, Joanna deixou a natação. Apesar de sua história ter se convertido
em uma referência e incentivo de coragem para tantas outras vítimas, além de ter sido
de fundamental importância para sansão da lei em prol das vítimas de abuso, tais
fatos não eram suficientes para deletar as marcas psicológicas do abuso que sofreu.
Os efeitos negativos continuam na vida da vítima.
Houve um silenciamento do fato e a única prova que Joanna tinha eram seus
relatos e seus traumas, que só eram vividos por ela mesma. Quando o caso enfim
veio à tona e Joanna esteve preparada emocional e psicologicamente para esse
enfrentamento, o crime já havia prescrito e o acusado saiu impune, inclusive
processando a mesma por calúnia e difamação.
Os resquícios psicológicos eram evidentes em cada entrevista concedida
durante todos esses anos de modo que, através de seus relatos, é possível
compreender que a maior prova do dano causado é algo deixado no subconsciente
da vítima e não em materiais detectáveis como provas.

Quando entrei na minha primeira experiência sexual, as memórias do abuso


começaram a voltar de uma maneira muito forte e minha relação com a
piscina deixou de ser prazerosa. Nesse momento eu entendi que não tinha
mais como fugir. Essas memórias vinham na minha cabeça, mas eu me
24

embriagava de natação e dos resultados que estavam vindo. Isso seria


suficiente para eu ir tocando a minha vida (MARANHÃO, 2016, Youtube).

Em 2014, Joanna criou uma ONG chamada Infância Livre, que ajuda crianças
e adolescentes que sofreram violência sexual. Uma organização que não tem sede
fixa, por se tratar de um trabalho cuja itinerância marca a missão do grupo, que é ir
até aquelas pessoas que desejam ouvir sobre esse assunto, entender como isso
acontece e construir formas de ajudar as vítimas.

5 A INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA NAS VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL

Esse capítulo aborda uma revisão crítica da bibliografia sobre o tema do abuso
sexual contra crianças e adolescentes, enfatizando o manejo psicanalítico nesses
casos e, como a psicanálise pode contribuir para a superação dos traumas. A
intervenção psicológica é uma fonte de superação e não deve ser deixada de lado
quando o assunto for a busca pela compreensão e convivência com um trauma, de
maneira que a vida da vítima não seja tão drasticamente afetada ou estagnada.

5.1 ASPECTOS GERAIS E PESQUISAS RECENTES

Sabe-se que, a intervenção psicológica em casos de abuso sexual é


extremamente complexa e esta complexidade aumenta quando as vítimas são
menores de idade; crianças e adolescente ainda em fase de desenvolvimento mental
e corpóreo. Nesse sentido, os psicólogos são, muitas vezes, chamados a intervir junto
às crianças e adolescentes em situações de perigo.
Regra geral, esses profissionais tomam conhecimento da vida e do contexto
daquela criança, não apenas da situação de fato. Diante da complexidade da
intervenção, é necessário um planejamento que considere o impacto da experiência
para o desenvolvimento da vítima, assim como da sua família, além de analisar a
necessidade de uma mudança de ambiente imediato e de incluir a vítima em uma rede
de apoio social afetiva.
As crianças e adolescentes são impactados de forma diferenciada diante de
situações de abuso sexual. Uma intervenção plural é necessária, envolvendo o
contexto individual, o contexto familiar, o grupo social em que está inserido e até meios
farmacológicos, quando necessário.
25

O abuso sexual contra crianças e adolescentes se configura como persistente


e relevante problema de saúde pública dada a elevada incidência e consequências
negativas, inclusive onerosas, que essa forma de violência pode ocasionar ao
desenvolvimento psicológico e social das vítimas (HABIGZANG et al, 2008, p.67 apud
HABIGZANG & CAMINHA, 2004; JONZON & LINDBLAD, 2004; OSOFSKY, 1995).
Habigzang et al (2008) acrescenta que uma meta-análise sobre pesquisas
que avaliaram formas de tratamento psicológico para vítimas de abuso sexual no
período entre 1975 e 2004 identificou apenas 28 estudos controlados na área
(HABIGZANG et al, 2008, p.67 apud HETZE-RIGGIN, BRAUSCH & MONTGOMERY,
2007) o que aponta para o fato de que é escassa a realização de estudos controlados
que visem analisar os resultados de tratamentos nessa seara.
Os autores apontam que isso se dá por obstáculos, quais sejam:

dificuldade em identificar sintomas devido à falta de capacidade das crianças


em descrever alterações comportamentais, afetivas e cognitivas; dificuldade
em obter amostras homogêneas, em função de diferenças, tais como idade,
gênero, nível socioeconômico, tempo de exposição ao abuso e gravidade do
abuso, que impossibilitam uma padronização de procedimentos; e dificuldade
em controlar a interferência de outras experiências de vida da criança, uma
vez que o abuso sexual é apenas uma parte de sua história, que, na maioria
dos casos, vem acompanhada de outras formas de violência extra e
intrafamiliar (HABIGZANG et al, 2008, p.67 apud SAYWITZ & COLS, 2000,
p. 58).

Pelo exposto, a melhoria que se espera observar nas crianças não depende
apenas da eficácia/efetividade do tratamento, mas sim, está relacionada de forma
direta à forma como os adultos cuidadores da criança atuam. Nesse sentido, fatores
como a saúde mental dos pais, conflitos conjugais, presença de eventos estressores,
o nível socioeconômico familiar, fatores culturais e comunitários influenciam de forma
acentuada no grau e na manutenção da melhoria (HABIGZANG et al, 2008, p.67)
No tratamento da criança ou do adolescente que tenha sido vítima de um
abuso do tipo em estudo, independentemente de qual seja o referencial teórico e qual
abordagem de intervenção, existe a necessidade de se criar um clima de segurança
e aceitação para que a criança adquira confiança e possa se comunicar com menor
tensão, maior conforto e disposição em expressar o que sente. Deve-se, inclusive,
buscar transformar o trauma em uma influência para a vida e não deixar que seja um
obstáculo perpétuo na existência daquela vítima.
“No Brasil, estudos sobre avaliação de métodos terapêuticos são escassos,
sendo que, além das dificuldades anteriormente citadas, verifica-se a ausência de
26

instrumentos psicológicos validados e eficazes para avaliação clínica das vítimas”


(HABIGZANG et al, 2008, p.67) dentre os quais se pode citar a Terapia Cognitivo-
Comportamental (TCC) como forma de tratamento.
Pesquisas que utilizam esta abordagem têm apresentado melhores resultados
quando comparada com outras formas de tratamento não-focais para crianças e
adolescentes com sintomas de ansiedade, depressão e problemas comportamentais
decorrentes de violência sexual (HABIGZANG et al, 2008, p.68 apud HABIGZANG E
CAMINHA, 2004; JONZON E LINDBLAD, 2004; OSOFSKY, 1995).
A título corroborativo, observe-se uma intervenção feita por Cohen e
Mannarino (2000) com 49 crianças, de idade entre 7 e 14 anos, cujos cuidadores
primários (mãe e pai) não eram os sujeitos abusivos.

Durante o período de 12 semanas, a amostra foi dividida em duas formas de


tratamento: TCC focada no abuso e terapia de apoio não-focal. As condições
de tratamento foram fixadas aleatoriamente e monitoradas por terapeutas
intensivamente treinados e supervisionados. As crianças foram avaliadas
antes e depois do tratamento por meio de uma variedade de instrumentos.
Entre os resultados de Cohen e Mannarino, foi constatado que o
desenvolvimento de sintomas e a resposta ao tratamento são influenciados
pelo sofrimento emocional dos pais com relação ao abuso, o apoio dos pais
à criança e as crenças que a criança apresenta com relação ao abuso. Com
relação às formas de tratamento, a TCC obteve resultados superiores quando
comparada à outra forma de intervenção quanto à redução de sintomas de
depressão e ansiedade, uma vez que a TCC teve como foco da intervenção
a reestruturação de atribuições e percepções distorcidas sobre abuso sexual
(HABIGZANG et al, 2008, p.68 apud COHEN E MANARINNO, 2000, p. 26).

Posteriormente, no ano de 2005, os mesmos autores, fizeram um estudo


adicional, que seguiu a mesma metodologia, onde a TCC foi reavaliada após um ano
do término do tratamento. Desta vez, participaram do estudo 82 crianças vítimas de
abuso sexual com idades entre 8 e 15 anos
alocadas aleatoriamente em duas formas de tratamento: TCC focada no
trauma e terapia de apoio não-focal, ambas com duração de 12 semanas. A
sintomatologia das crianças foi reavaliada após seis e 12 meses do término
do tratamento e os resultados apontaram que o grupo em tratamento com
TCC apresentou significativa redução de sintomas de depressão, ansiedade
e problemas sexuais após as 12 sessões, quando comparado ao grupo em
terapia de apoio não-focal. Após os seis meses do término do tratamento, foi
constatada uma melhora significativamente maior nos sintomas de
ansiedade, depressão, problemas sexuais e dissociação e após 12 meses
houve melhoras significativas nos sintomas de TEPT e dissociação. Esses
resultados apontam a durabilidade da efetividade da TCC (HABIGZANG et
al, 2008, p.68 apud COHEN E MANARINNO, 2005, p.34).

Vale ainda observar que alguns estudos também apontam para os benefícios
da TCC no formato grupal, em que as crianças e adolescentes vítimas do mesmo tipo
27

de trauma podem conversar e comentar entre si e, com o profissional, a respeito do


tema, facilitando o diálogo e criando um ambiente de acolhimento e identificação
(HABIGZANG et al, 2008, p.68).
O silêncio face ao abuso é um dos grandes obstáculos à intervenção
(MANITA, 2003, p.240). É importante, partindo desse pressuposto, que o primeiro
passo da atuação psicológica seja exatamente romper a síndrome do segredo que
envolve o abuso e mantém silenciados os sentimentos e emoções. Além disso, os
psicólogos também devem fornecer apoio aos pais não abusadores para que, em uma
intervenção pluralizada, componham uma rede de apoio que forneça segurança para
superação deste terrível trauma.

5.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ÉTICA NO ATENDIMENTO

Sabe-se que, não há muito tempo, os relatos e revelações advindos de uma


criança eram sempre fonte de suspeita, pois achavam os adultos que a criança
poderia estar fantasiando ou inventando. No cenário atual, os profissionais que
conhecem os aspectos de situações de abuso e que costumam trabalhar com crianças
e adolescentes vítimas de violência sexual, sabem que são raros os casos em que
estas crianças faltam com a verdade (THOUVEIN, 1997, p.79).
O ato da revelação dos acontecimentos se trata de um momento muito
importante e crucial que pode, por isso mesmo, representar um risco e gerar um
trauma suplementar para a criança que já está em situação de imensa fragilidade.
Dessa forma, a denúncia do abuso aos órgãos de proteção e o acompanhamento do
caso por profissionais da saúde são fundamentais, além de que eles precisam estar
conscientes das implicações legais e éticas de suas intervenções ou de sua omissão
(HABIGZANG, 2008, p.339 apud SAYWITZ et al, 2000).
Se faz importante mencionar que na história da psicologia é possível
encontrar concepções, diretrizes e orientações diversas. Segundo Pereira Neto e
Pereira (2003, p.20), é possível dividir a história dos psicólogos no Brasil em três
momentos distintos. Um primeiro período se localiza na segunda metade do século
XIX, em que não havia a profissão de psicólogo reconhecida, mas alguns temas e
questões de ordem psicológica eram de muito interesse para a sociedade na época.
Este período mencionado acima, chamado pelos autores de pré-profissional,
caracterizou-se pela inexistência da sistematização e institucionalização dos
28

conhecimentos psicológicos. O período de profissionalização, segundo os referidos


autores, instalou-se do começo do século XX até 1975. Contemplou a gênese da
institucionalização da prática psicológica até sua regulamentação como profissão e a
criação de seus dispositivos formais (PEREIRA NETO E PEREIRA, 2003, p.20).
“O terceiro momento inicia-se em 1975, quando a profissão de psicólogo
passou a estar organizada e estabelecida” (PEREIRA NETO E PEREIRA, 2003, p.21).
No que diz respeito mais diretamente ao público menor de idade, foi somente em 2002
que o Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou uma cartilha com vistas à
atualização dos psicólogos que trabalham com a população adolescente.
A partir desta cartilha, Bastos (2002, p.39), faz relevante contribuição com a
normatização da prática do psicólogo, que ao seu ver, é um profissional da saúde,
nomeadamente, profissional da saúde mental, esta compreendida não como um
estágio, mas um processo de melhoramento da qualidade de vida, levando em conta
os fatores afetivos (emoções) que vão atuar contrários ou favoráveis ao bem-estar
psíquico, fisiológico e mesmo social do indivíduo.
Diante de todo o trauma que, para uma pessoa adulta já seria muito difícil
tratar e superar, Bleger (1984, p.87), aponta que, no que tange o trabalho com
crianças e adolescentes, requer-se uma compreensão sobre a dimensão da infância
e da juventude. Segundo Cruz, Hillesheim e Guareschi (2005, p.68), precisa-se
contextualizá-la em uma noção datada geográfica e historicamente e não apenas
como uma etapa natural da vida. Implica em refletir as questões relativas aos vínculos
familiares, à escola, à maternidade/paternidade e às formas de criação dos filhos.
Como apontam Brambilla e Avoglia (2010), em se tratando de infância e
adolescência, “não se pode remeter a uma abstração, mas a uma construção
discursiva que institui determinadas posições (...) também da família, dos pais, das
mães, das instituições escolares, entre outros” (BRAMBILLA; AVOGLIA, 2010, p.108).
As autoras ainda defendem que “A criança e o adolescente demonstram
modos específicos de se comportar, agir, sentir e só podem ser compreendidos a partir
da relação que constroem. Essa relação se concretiza de acordo com as condições
objetivas da cultura na qual se inserem” (BRAMBILLA; AVOGLIA, 2010, p.109).
Corroborando com tal afirmação, Bock (2004) enfatiza que

vivemos hoje numa cultura caracterizada pela existência de uma indústria da


informação, de bens culturais, de lazer e de consumo onde a ênfase está no
presente, na velocidade, no cotidiano, no aqui e no agora, e na busca do
29

prazer imediato (BRAMBILLA; AVOGLIA, 2010, p.109 apud BOCK, 2004, p.


55)

Ainda com relação ao atendimento à criança e adolescente, vale salientar


alguns pontos legais. O/a psicólogo/a deverá obter autorização de ao menos um dos
responsáveis do paciente menor, observadas as determinações da legislação vigente
e, no caso de não se apresentar um responsável legal, o atendimento deverá ser
efetuado e comunicado às autoridades competentes - §1 do Art. 8º do Código de Ética
(CFP, 2015) responsabilizando-se o profissional pelos encaminhamentos para
garantir a proteção integral do atendido - §2 Art. 8º do Código de Ética (CFP, 2015).
Ainda se faz imprescindível mencionar que, de acordo com o mesmo instituto,
os responsáveis pelo menor devem sempre ser comunicados sobre a terapia e como
ela está ocorrendo. “No atendimento à criança, ao adolescente ou ao interdito, deve
ser comunicado aos responsáveis o estritamente essencial para se promoverem
medidas em seu benefício” - Art. 13 do Código de Ética (CFP, 2015).
O sigilo também está presente na relação do atendimento psicológico.
Ressalvadas as referidas peculiaridades de cada caso, algumas informações devem
ser compartilhadas com as autoridades para buscar prender e punir o algoz, mas via
de regra, os relatos permanecem em seu inteiro teor, sob sigilo.

É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional (Art. 9º) e “Nas situações


em que se configure conflito entre as exigências decorrentes do disposto no
Art. 9º e as afirmações dos princípios fundamentais deste Código,
excetuando-se os casos previstos em lei, o psicólogo poderá decidir pela
quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo”. (Art.
10º) Parágrafo Único – Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste
artigo, o/a psicólogo/a deverá restringir-se a prestar as informações
estritamente necessárias (CFP, 2015, p. 22).

A ética, sem dúvida, deve estar presente em todo e qualquer atendimento e


acompanhamento que seja feito. Nas situações que envolvem o atendimento de
crianças vítimas de violência sexual, em se tratando de pacientes extremamente
fragilizados, o intuito é de que o processo seja o mais correto possível, mantendo
sempre a privacidade total daquela vítima.

5.3 IMPACTO ESPERADO DA INTERVENÇÃO

O abuso pode gerar uma série de traumas, mediatos e imediatos. A reclusão,


a depressão, ansiedade, pânico, entre outros transtornos podem vir a surgir em
30

decorrência da agressão. É no intento de fazer com que a criança e o adolescente


consigam seguir sua vida, apesar desse trauma, que a psicologia segue atuando. Aqui
constam mencionados alguns dos impactos esperados após a intervenção psicológica
em casos de abuso sexual de menores de idade.
É comum o profissional se deparar com uma forte barreira, como já
mencionado, que é o silêncio da vítima que, por vários motivos, mantém segredo
acreditando ser esta a opção mais viável. Romper esse obstáculo é o primeiro passo
para conseguir materializar impactos positivos com a terapia. No período inicial da
abordagem, os sintomas de estresse pós-traumático ainda estão muito latentes e
podem tornar difícil traspassar tal obstáculo e construir uma relação de confiabilidade.
Vencida esta etapa, o profissional segue para a busca mais profunda da
compreensão e tratamento do trauma. Ressalta-se que o simples encaminhamento
da criança para atendimento psicológico pode reduzir o estresse e a tensão, por
representar, mesmo que só simbolicamente, uma oportunidade de reduzir o peso
silenciosamente carregado, sentir-se melhor e despertar a esperança de superação.
Espera-se, com o decorrer do tempo e algumas sessões, que se possa
observar a redução significativa de sintomas de depressão, ansiedade-estado e
estresse pós-traumático, com base nos estudos de Cohen e Mannarino (2000),
evidenciando que os sintomas de transtorno do estresse pós-traumático apresentaram
redução significativa nas três categorias que o constituem: revivência do trauma,
evitação e excitação aumentada (HABIGZANG et al, 2008, p.72 apud COHEN e
MANNARINO, 2000, p.56).

Os sintomas da categoria "revivência do evento traumático" apresentaram


uma redução tendencialmente significativa entre o pós-teste 2 e 3 (Z=
1,85, p<0,10) e significativa entre o pós-teste 1 e 3 (Z=2,46, p<0,05). Esse
dado sugere que o treino de inoculação do estresse é relevante para a
redução dos sintomas de reexperienciação do trauma. Os sintomas da
categoria "evitação" apresentaram redução significativa entre o pré-teste e
pós-teste 3 (Z=2,41, p<0,05) (HABIGZANG et al, 2008, p.72).

Os autores evidenciam que “essa redução a partir do pré-teste aponta a


importância de entrar em contato com as lembranças traumáticas em um contexto
seguro, por meio do relato verbal ou escrito, para o controle das reações emocionais”
(HABIGZANG, 2008, p.72). No estudo de Cohen e Mannarino (2000), “as participantes
relataram o abuso sexual na entrevista inicial e detalharam tal relato ao longo do
31

processo, reduzindo a percepção sobre a evitação de pessoas, locais e lembranças


da experiência traumática” (HABIGZANG, 2008, p.72).
Além disso, “os sintomas da categoria excitação aumentada apresentaram
redução significativa entre o pós-teste 2 e 3 (Z= 1,98, p<0,05) e entre o pós-teste 1 e
3 (Z= 2,16, p<0,05)” (Idem, p.72). Dessa forma, compreende-se que a intervenção se
propõe a reduzir, por conseguinte, o pensamento de culpa e a tendência de
diferenciação entre pare, aumentando a confiança em si.
Para se obter um resultado de reorganização cognitiva da vítima de abuso
sexual, é necessária habilidade do profissional e um ambiente propício que permita à
criança seguir convivendo com traumas e memórias negativas, superando-as com
força e determinação, aliadas ao afeto familiar e o acompanhamento do psicólogo em
um processo de conquista de qualidade de vida.
Não há dúvidas de que a psicologia já contribuiu larga e efetivamente na
compreensão e tratamento de traumas relativos ao abuso sexual infantil, a partir de
robustos estudos que consideram, para além do fato puro, a dinâmica da família, a
incidência epidemiológica e claro, o aprofundamento da análise dos traumas
desenvolvidos, elencando as intervenções clínicas necessárias e cabíveis.
Variáveis como o suporte teórico, as metodologias, os princípios éticos
envolvidos e as técnicas já disponíveis e validadas precisam estar correlacionadas e
coordenadas em estudos da psicoterapia no intuito de construir novas formas de
tratamento e acompanhamento de problemas psicológicos que possam, de fato,
conduzir as crianças vítimas de violência sexual a condições saudáveis de vida.
Estudos como os mencionados no decorrer do capítulo, assim como outros
produtos de pesquisadores como Colin (1993) e Celano (2002) por exemplo,
comprovam que o processo e o impacto da intervenção são eficazes e muito
importantes na superação dos traumas vividos, mas principalmente, na promoção de
resiliência e na melhoria da qualidade de vida das vítimas e suas famílias.
Por fim, é necessário que haja ainda o fomento e incentivos governamentais
e da própria comunidade acadêmica da psicologia, no desenvolvimento de novos
estudos com um maior número de participantes para robustecer e ampliar os
resultados encontrados, uma vez que amostras maiores permitem maior espectro de
ferramentas e observações estatísticas.
32

6 CONCLUSÃO

Diante da discussão apresentada, é possível afirmar sem dúvidas que o


trabalho do psicólogo frente aos casos de abuso e violência sexual, praticados contra
crianças e adolescentes, se trata de um trabalho extremamente importante e
necessário, tanto quanto é bastante complexo.
As atrocidades cometidas contra menores por vezes irão exigir do profissional
uma série de habilidades para manejar corretamente as informações, as emoções, as
condições, os interesses, os traumas, os sigilos, os direitos envolvidos e ainda, as
relações familiares, escolares, sociais e afetivas.
O trabalho realizado pelo psicólogo, nesse processo em específico, é muito
importante para que a criança consiga se restabelecer em sociedade, em si mesma,
em sua família e em seu círculo social, de forma a não se culpar pelo ocorrido e poder
prosseguir sua vida, não sendo o ato violento uma barreira intransponível.
As diretrizes apresentadas no presente trabalho demonstram que a
prioridade, quando o assunto é tratar das crianças e adolescentes vítimas de violência
sexual, é de um tratamento multidisciplinar, principalmente focado na rede de apoio
ao menor, geralmente composta pela família, quando está claro não figurar como
violentadora, além de profissionais que participam do cuidado do menor.
Os psicólogos devem sempre realizar, ou buscar realizar, intervenções que
sejam capazes de minimizar os impactos negativos e as consequências deixadas pelo
abuso ou violência. Nesse sentido, foi possível observar no decorrer da presente
pesquisa que os meios de intervenção são variados, e tudo irá depender do
diagnóstico e das condicionantes de cada caso em particular.
É preciso observar se a criança está mais ou menos aberta a contar os fatos
ocorridos; se já está pronta para vivenciar mais uma vez na sua mente os
acontecimentos passados; se existe o apoio da família; se a fase de silenciar já foi
ultrapassada ou se ainda existe essa barreira, entre outros aspectos, que serão
analisados conjuntamente, para se oferecer o melhor e mais completo tratamento.
O trabalho interdisciplinar e intersetorial se torna essencial, visto que as
situações de abuso sexual desorganizam não só os processos psíquicos, mas toda a
dinâmica familiar. Mesmo nas situações em que ocorre o abuso sexual intrafamiliar, o
contexto deve ser analisado com certa cautela afinal, em muitos casos, observa-se
que o agressor e toda a família também possuem diversos direitos violados e são
33

privados de determinadas possibilidades para desenvolver-se, não claro, justificando


nenhum ato, mas compreendendo que existe a necessidade de compreender o
histórico do agressor, para entender a amplamente a agressão.
A partir da perspectiva apresentada anteriormente, o psicólogo deve estar
habilitado para realizar sua intervenção sempre livre de preconceitos, tabus ou
qualquer outro obstáculo que venha reforçar questões já incutidas na sociedade,
como, por exemplo, a onipotência dos pais para com os filhos ou mesmo, negar a
sexualidade das crianças e dos adolescentes, entre outros fatores.
Considerando a diversidade de fatores que antecedem as situações de abuso
sexual, é interessante que as estratégias desenvolvidas pelos psicólogos sejam
sempre pautadas na busca da alteração da dinâmica familiar em sua totalidade,
possibilitando, a partir do atendimento e acompanhamento realizado, a emergência
de novas formas de relacionamentos.
No mais, diante do exposto, não há que se falar em afastamento da intervenção
do psicólogo em casos de violência sexual infantojuvenil, considerando a gravidade
da violência, sendo extremamente necessária uma intervenção psicológica, para que
a vida da vítima possa prosseguir, mesmo com essa fatídica memória.

REFERÊNCIAS

ADED, N.L.O et al. Abuso sexual em crianças e adolescentes: revisão de 100 anos
de literatura. Rev. Psiq. Clín. v.33, n.4, p.204-213, 2006.

AMAZARRAY, M. R.; KOLLER, S. H. Alguns aspectos observados no


desenvolvimento de crianças vítimas de abuso sexual. Revista de Psicologia
Reflexão e Crítica, v.11, n.3, p.546-555, 1988.

ARAÚJO, Maria de Fátima. Violência e abuso sexual na família. Psicologia em


Estudo, Maringá, v. 7, n. 2, p. 3-11, jul./dez. 2002.

ARIÈS, P. História social da criança e da família, 2ed. Rio de Janeiro: Guanabara,


1981.

BASTOS, M. N. dos S. O psicólogo e a ação com o adolescente. In: CONTINI, M.


de L. J. Adolescência & Psicologia: concepções, práticas e reflexões críticas. Rio de
Janeiro: Conselho Federal de Psicologia, 2002. p. 33-46.

BERMAN, L. A. et al. Pharmacotherapy or psychotherapy?: effective treatment for


FSD related to unresolved childhood sexual abuse. J Sex Marital Ther, v.27, n.5,
p.421-425, out./dez. 2001.
34

BITTENCOURT, Cezar Roberto. O conceito de vulnerabilidade e a violência


implícita. Revista Consultor Jurídico. 2012. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2012-jun-19/cezar-bitencourt-conceito-vulnerabilidade-
violenciaimplicita>. Acesso em: 17 mai. 2022.

BLEGER, J. Psico-higiene e Psicologia institucional. São Paulo: Artmed, 1984.

BRAMBILLA, B. B.; AVOGLIA, H. R. C. O Estatuto da criança e do adolescente e a


atuação do psicólogo. Psicol inf, São Paulo, v.14, n.14, out. 2010.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Lei Nº 12.650, de 17 de maio de 2012. Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7


de dezembro de 1940 - Código Penal, com a finalidade de modificar as regras
relativas à prescrição dos crimes praticados contra crianças e adolescentes. Brasília,
2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12650.htm>. Acesso em: 20 abr. 2022.

BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Violência


sexual. 2020. Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-
temas/crianca-e-adolescente/dados-e-indicadores/violencia-sexual>. Acesso em: 12
mar. 2022.

CELANO, M. H., A. CAMPBELL, S. K.; LANG, C. B. Attribution retraining with


sexually abused children: Review of techniques. Child Maltreatment, v.7, n.1, p.64-
75, 2002.

CFP. (Conselho Federal de Psicologia). Código de ética profissional do


psicólogo. Conselho Federal de Psicologia: Brasília, 2015. Disponível em:
<https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf>.
Acesso em: 12 mar. 2022.

COHEN, J. A.; MANNARINO, A. P. Predictors of treatment outcome in sexually


abused children. Child Abuse & Neglect, v.24, n.7, p.983-994, 2000.

COLIN, R. Real World Research: A resource for social sciences and practioner-
reseacher. Oxford: Blackwell, 1993.

CORDEIRO, A. M. et al. Revisão sistemática: uma revisão narrativa. Rev. Col. Bras.
Cir., Rio de Janeiro, v. 34, n. 6, p. 428-431, dez. 2007.

CRUZ, L.; HILLESHEIM, B.; GUARESCHI, N. Infância e Políticas Públicas: Um Olhar


sobre as Práticas Psi. Psicologia & Sociedade, v.17, n.3, p.42-49, 2005.
Ferrari, D. C. A. Visão histórica da infância e a questão da violência. São Paulo:
Ágora, 2002.

FLORENTINO, B. R. B. As possíveis consequências do abuso sexual praticado


contra crianças e adolescentes. Fractal: Revista de Psicologia, v. 27, n. 2, p. 139-
144, mai./ago. 2015.
35

FURNISS, Tilman. Abuso sexual: uma abordagem multidisciplinar. Artmed, Porto


Alegre. 2002.

GABEL, M. Crianças vítimas de abuso sexual. Trad. GOLDFEDER, S. e GOMES,


M.C.C. São Paulo: Summus Editorial, 1997.

GHETTI, S. et al. Legal involvement in child sexual abuse cases. Consequences and
interventions. International Journal of Law and Psychiatry. v.25, p.235-251, 2002.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas,
1987.

GOTTARDI, Thaíse. Violência sexual infanto-juvenil: causas e consequências.


Monografia. Curso de Direito, do Centro Universitário UNIVATES. Lajeado, nov.
2016. Disponível em:
<https://www.univates.br/bdu/bitstream/10737/1548/1/2016ThaiseGottardi.pdf>.
Acesso em: 16 mai. 2022.

HABIGZANG, L. F. et al. Avaliação Psicológica em Casos de Abuso Sexual na


Infância e Adolescência. Psicologia: Reflexão e Crítica, v.21, n.2, p.338-344, 2008.

______. Avaliação de um Modelo de Intervenção Psicológica para Meninas Vítimas


de Abuso Sexual. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v.24, n.1, p. 67-76, 2008.

MANITA, C. Quando as portas do medo se abrem... do impacto psicológico


ao(s) testemunho(s) de crianças vítimas de abuso sexual. Encontro “Cuidar da
justiça de crianças e jovens. A função dos juízes sociais”. Porto, 2002.

MARANHÃO, Joanna. Joanna Maranhão relembra abuso sexual sofrido na infância.


Programa do Porchat. 2018. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=K604rqYOpXU>. Acesso em: 14 abr. 2022.

______. Nadadora Joanna Maranhão fala sobre carreira, abuso sexual e suicídio.
Trip TV. 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=A2prD1g3TV4>.
Acesso em: 14 abr. 2022.

MARTINS, Maria de Fátima M. Estudos de Revisão de Literatura. Coordenação de


Informação e Comunicação. VPEIC/Fiocruz. 2018. Disponível em:
<https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29213/2/Estudos_revisao.pdf>. Acesso
em: 15 mar. 2022.

MINAYO, M.C.S.; SOUZA, E.R. É possível prevenir a violência? Reflexões a partir


do campo da saúde pública. Cienc. Saude Colet., v.4, n.1, p.7-23, 1999.

MINAYO, M.C.S. Violência contra crianças e adolescentes: questão social, questão


de saúde. Rev. bras. saúde matern. infant., Recife, v.1, n.2, p.91-102, mai./ago.
2001.
36

MPPB. Ministério Público da Paraíba. Psicóloga fala sobre sinais apresentados


pelas vítimas do abuso sexual. 17 set. 2010. Disponível em:
<https://www.mppb.mp.br/index.php/84-noticias/portal2009/15638-portal2009-
psicologa-fala-sobre-sinais-apresentados-pelas-vitimas-de-abuso-sexual>. Acesso
em: 12 mar. 2022.

PEREIRA, F. M.; PEREIRA NETO, A. O psicólogo no Brasil: notas sobre seu


processo de profissionalização. Psicologia em Estudo, Maringá, v.8, n.2, p.19-27,
2003

REZENDE, Sabrina. Terapia Cognitivo-Comportamental e políticas públicas


direcionadas a crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual: Limites e
possibilidades. Porto Alegre: UFRGS, 2011.

ROMARO, R. A; CAPITÃO, C. G. As faces da violência: aproximações, pesquisas,


reflexões. São Paulo: Vetor, 2007.

STURMEY, P. Behavioral case formulation and intervention: A functional analytic


approach. New York: John Wiley & Sons, 2008.

THOUVENIN, C. (1997). A palavra da criança: do íntimo ao social. In M. Gabel


(Org.), Crianças vítimas de abuso sexual (Cap.3, p 91-102). São Paulo: Summus,
1997.

VALLE, L. A.; SILOVSKY, J. F. Attributions and Adjustment Following Child Sexual


and Physical Abuse. Child Maltreatment, v.7, n.1, p.9-25, mar. 2002.

WHO (World Health Organization). Child sexual abuse: a silent health emergency.
AFR/RC54/15 Rev. v.1, 23 jul. 2010. Disponível em:
<http://afrolib.afro.who.int/RC/RC%2054%20Doc-
En/AFR.RC54.15%20Rev.1%20Child.Sexual.Abuse.18.06.04-5a.pdf.>. Acesso em:
15 mar. 2022.

WILLIAMS, L. C. A. Abuso sexual infantil. In: H. J. Guilhardi; M. B. B. P. Madi; P. P.


Queiróz & M. C. Scoz (Orgs.) Sobre Comportamento e Cognição: Contribuições para
a construção da teoria do comportamento. ESETec Editores Associados, Santo
André, v.10, p.144-155, 2002.

Você também pode gostar