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ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL

CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Gabriela de Andrade Porto


2023
• A violência sexual é uma triste realidade que ocorre em todas
as classes socias, segmentos, raças, religiões e independe da
escolaridade. Por isso, em muitos casos é difícil de identificar,
logo, é preciso entender muito bem esse fenômeno para ter
condições de proteger as crianças e adolescentes.
ABUSO SEXUAL

• É toda a atividade sexual, incluindo brincadeiras que visem estimular a crianças


ou adolescentes para obtenção de satisfação sexual do abusador, que é alguém
mais velho, com mais consciência e capacidade mental e física e esse abusador
utiliza a manipulação afetiva ou coação física para conseguir o que quer e garantir
o silêncio da vítima. A violência pode ser com ou sem toques físicos e pode ser
através de abuso sensorial, estimulação sexual ou o ato propriamente dito.
CONSENTIMENTO DA VÍTIMA

• Mesmo que a vítima tenha consentido com o ato, se a vítima for menor de 14 anos ocorre o crime de
ESTUPRO DE VULNERÁVEL.

• Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. 

• As crianças e os adolescentes ainda não são desenvolvidos do ponto de vista moral, cognitivo e
emocional. Não estão habilitados para consentir uma relação sexual em qualquer contexto. É preciso
compreender que a criança desenvolve o físico antes do mental e do emocional, então o corpo
parece de adulto, mas ela ainda NÃO É adulta.
O ART. 227 DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 APONTA:

• É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e
à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão. 
O PODER DA MANIPULAÇÃO É REAL, LEVANDO-SE EM
CONTA O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO, TANTO SEXUAL
QUANTO AFETIVO, DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.

• O ser humano foi criado para vincular, conectar e pertencer. As necessidades emocionais básicas dela são:
amor, aceitação, atenção, reconhecimento, valorização e legitimação. Então, grande parte dos abusos sexuais
implica em uma lavagem cerebral sutil, onde o perpetrador faz a criança acreditar que ela é especial e a
recompensa com mais amor e atenção ou a suborna para mantê-la em silêncio. Os abusadores se aproveitam
dessas necessidades emocionais da vítima para obter prazer sexual.

• A crueldade está exatamente aí: a vítima passa a confundir violência com amor. A mente da criança ou
adolescente não consegue identificar o abuso sexual como totalmente ruim já que o crime vem misturado com
elementos que são extremamente importantes para elas, como afeto, atenção, carinho, presentes. Assim a
vítima pode achar que ser cuidada e amada também envolve ser abusada sexualmente, que a violência está
intimamente ligada ao amor e, pior, que isso é normal (o que contribui ainda mais para a manutenção do
abuso sexual e para que o crime não seja revelado).
A O RG A N IZ A ÇÃ O MU ND I AL D E SA Ú DE ( OMS) D EFI NE
MA U S -T RATO S S EX UA I S CO MO :

• As atividades de caráter sexual exercida por uma pessoa mais velha contra a
criança, com fins de prazer sexual. São classificados como abusos sensoriais
(pornografia, exibicionismo, linguagem sexualizada), estimulação sexual
(carícias inapropriadas em partes consideradas íntimas, masturbação) e ato sexual
propriamente dito (realização ou tentativa de violação ou penetração oral, anal ou
genital).
• Pode-se acrescentar outros comportamentos que podem ser
considerados sexualmente abusivos: tirar fotografias com fins
pornográficos, observar as vítimas quando estiverem se despindo ou
utilizando o banheiro, relação sexual manifesta na frente da criança ou
adolescente, entre outros. Outro fator importante é que o perpetrador
da violência tem que ser mais velho ou maior, em que haja diferença
de idade, de tamanho, poder, autoridade ou status; pode ser qualquer
pessoa dentro do ambiente da família ou fora dela, que abuse de sua
posição de poder e confiança, já que a vítima é totalmente incapaz de
dar um consentimento consciente, por conta do desequilíbrio de poder
ou de qualquer incapacidade mental ou física.
• Como é um fenômeno encoberto, velado e alimentado pelo silêncio, é complicado ter
uma noção clara e real da incidência do abuso e da exploração sexual na sociedade.

• Em 2018 foram registrados 32 mil casos – o maior índice de notificação pelo Ministério
da Saúde.  Já em 2020 (ano de pandemia, Covid-19 e isolamento social), somente no
primeiro semestre o número de denúncias de violações registradas pela Ouvidoria
Nacional dos Direitos Humanos – Disque 100 chegou a quase 10 mil (entre abuso e
exploração sexual), refletindo a gravidade da situação deflagrada pelo isolamento social.

• https://www.gov.br/mdh/pt-br/ondh/painel-de-dados

• https://www.gov.br/mdh/pt-br/centrais-de-conteudo/disque
-100/relatorio-2019_disque-100.pdf
• Os dados relacionados ao abuso sexual mostram que o local de ocorrência dos crimes, em primeiro lugar, é a
residência da vítima ou do suspeito (73%) e, em segundo lugar, a escola. O agressor é próximo e quase sempre
tem vínculo familiar com a criança ou adolescente. 25% é amigo/conhecido; 40% pai/padrasto. Esses são dados
assustadores, que revelam que grande parte dos abusos são cometidos dentro de casa e por alguém próximo da
família, desmistificando a ideia de que a maior preocupação deve ser com pessoas estranhas.

• Quase 90% dos registros revelam que os agressores suspeitos são do sexo masculino. Desses, 62% tem idade
entre 25 e 40 anos. Sobre as vítimas, os dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos de 2020 revelam:
entre crianças, a incidência maior está entre 5 a 11 anos (25%) e, entre adolescentes, na idade entre 12 e 17 anos
(48%). A maioria das violências são praticadas mais de uma vez.

• Falamos, há pouco, que 73% das vítimas são do sexo feminino. Mas é preciso ter bastante cuidado ao
interpretar esses dados. O homem é encorajado a sentir raiva, porém sentir tristeza e medo é considerado
fraqueza. Eles precisam ser fortes para suportarem tudo. Não podem reclamar e nem sofrer. Quanto à
sexualidade, espera-se que sejam capazes de se proteger dos abusos e de serem iniciadores sexuais. Então,
diante desse panorama, comunicar ou denunciar que foram vítimas de violência sexual pode gerar muita culpa,
vergonha e constrangimento. Isso os impede de falar e pode influenciar diretamente nos dados que temos hoje.
Estima-se, por exemplo, que a cada 4 meninas abusadas, 1 denuncia. Já os meninos, pasmem, calcula-se que a
cada 100 abusados, 1 denuncia.
• É importante ressaltar que, além do silêncio e do medo das consequências da denúncia
(ameaças, culpa e vergonha), uma grande parte das vítimas ainda não consegue se
comunicar perfeitamente através da fala para delatar o abuso ou não consegue identificar
que essa experiência é violência. Isso pode ser explicado porque lhes disseram que esse é
um comportamento “normal” e faz parte de um relacionamento “especial” (recheado de
recompensa e atenção, como já vimos). Isso tudo significa que, infelizmente, os números
não revelam a realidade, que é, espantosamente, pior.
CASO PRÁTICO:

• O pai de Luiza, de 8 anos, abandonou a criança e sua mãe há 4 anos. Essa situação foi
muito difícil para a menina, já que era apegada ao pai. Dois anos após o abandono, sua
mãe começa a se relacionar com Pedro e, pouco tempo depois, ele já estava morando em
sua casa. Brincalhão e atencioso, Pedro logo ganhou o amor de Luiza. Eles brincavam de
tudo, incluindo de “modelo” (que a menina sonhava em ser quando crescesse). No início,
ele a incentivava a fazer poses engraçadas, mas, depois, passou a querer que ela fizesse
poses sensuais e, muitas vezes, até sem roupa. Ele mostrava fotos de modelos famosas para
que Luiza se sentisse mais à vontade.

• Analisando o caso acima, mesmo sem o padrasto ter tocado em Luiza, sua atitude
pode ser considerada abuso sexual?
• Toda e qualquer atividade de natureza sexual, realizada por uma
pessoa mais velha, com poder ou autoridade, visando prazer sexual,
é considerada abuso. Isso inclui: tirar fotos de crianças/adolescentes
com fins pornográficos: apresentar pornografia; observar a criança
desnuda no banheiro ou se trocando; e masturbar-se ou fazer sexo
na frente dela. Tudo isso não envolve contato físico, mas, são
considerados, sim, abuso sexual.
• Contamos com a Lei nº 8.069/1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente para defender e proteger os
direitos das crianças e adolescentes de toda e qualquer estimulação sexual, por parte de pessoas mais
velhas, que tenham posição de autoridade ou poder e que possam manipular ou coagir essas vítimas
oferecendo atenção, afeto ou ameaça, para conseguir ter prazer sexual.

• Esse é um panorama triste e assustador: os abusadores são, em geral, pessoas próximas das vítimas, do
sexo masculino, que preferem as meninas para perpetrarem a agressão. Só que esses são dados que não
revelam toda a realidade, já que se acredita que apenas 10% deles são denunciados.

• O agressor se vale da confiança e incapacidade da criança/adolescente para se apropriar da sua


sexualidade. Eles são, em geral, pessoas fora de suspeita e não têm um padrão característico que se
possa identificar imediatamente. Geralmente são gentis, amorosos e lidam bem com crianças e
adolescentes.
TIPOS DE VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
• A exploração sexual é uma prática de abuso sexual que gera lucro ao comercializar a sexualidade de crianças e
adolescente. Já o abuso é qualquer ação de natureza sexual de um adulto sobre a criança/adolescente, estimulando
precocemente sua sexualidade para que o adulto obtenha prazer. Faremos essa distinção dos tipos de violência sexual
para, em seguida, entrar um pouco nos pormenores do abuso intrafamiliar, que é o mais recorrente dentro desse
contexto de violação de direitos e que também tem um potencial intensamente traumatológico.

• Além disso, também é necessário abordar a questão da pedofilia. O pedófilo é a pessoa que sente atração sexual por
crianças e adolescentes. Quando dá vazão ao seu desejo, e consome pornografia infantil, toca de forma inapropriada
ou tem relações sexuais com as vítimas, comete um crime que tem consequências trágicas e permanentes na vida das
vítimas.
• VIOLÊNCIA SEXUAL

• EXPLORAÇÃO SEXUAL ABUSO SEXUAL


EXPLORAÇÃO SEXUAL INFANTO-JUVENIL

• A exploração sexual infanto-juvenil, por definição, é o crime onde há o abuso sexual de


crianças e adolescentes com fins comerciais e lucrativos (por meio de pagamento ou
troca), ou seja, as vítimas não são apenas consideradas como objetos, mas também como
mercadoria. Ela pode acontecer de quatro formas: pornografia infantil, turismo sexual, redes
de prostituição e tráfico de pessoas. Os envolvidos na exploração sexual, além da própria
vítima, são: o agressor, os agentes, os aliciadores (que podem ser até familiares) e os
“clientes”. Os dados sobre a exploração sexual são alarmantes e revelam, muitas vezes, um
crime extremamente organizado, envolvendo uma rede que se articula para comercializar o
sexo, juntamente com agências de viagem, hotéis, motoristas de caminhão, boates, bares etc.
e estima-se que movimente bilhões ao ano. Nenhuma criança ou adolescente se prostitui, são
explorados sexualmente.
• A exploração sexual deixa marcas pessoais e também sociais. Se relacionam ao contexto de desigualdade social,
falta de escolaridade e violência intrafamiliar; mas também tem saído da zona de pobreza e crescido bastante nos
contextos de desestrutura familiar e invadindo as outras classes sociais através dos meios virtuais.

• Crianças e adolescentes em vulnerabilidade emocional e social são alvos fáceis para exploração sexual. Têm,
geralmente, histórico de fuga domiciliar, de contribuição para o sustento da família entre outros aspectos que
aumentam sua exposição. A mercantilização do corpo e a troca de favores ou objetos por sexo tem como
consequências diretas: DST’s, vícios em drogas ou álcool e gravidez sem nenhuma estrutura.  Além desse ciclo
vicioso que perpetua a pobreza, existe também o ciclo que perpetua a vulnerabilidade nas famílias, onde a
exploração sexual entra nas casas através da internet, atingindo também que tem maior poder aquisitivo. Essa é
uma situação grave dado o alcance que a tecnologia proporciona, aumentando consideravelmente o número de
vítimas.

• Essa forma de exploração sexual pode ser autônoma, ou seja, a própria vítima, sem intermédio de ninguém,
“negocia” com o cliente ou através das redes de exploração sexual, que mediam a transação entre a vítima e o
abusador. Quando não há mediador, ainda assim se configura como exploração: nesse caso o explorador é o
cliente. Quando há um agenciador ou organização intermediando a transação, são dois exploradores: quem
intermedia e o cliente. Outra faceta dessa esfera são as organizações criminosas, cada vez mais organizadas, que
favorecem o tráfico e o turismo sexual de crianças e adolescentes.
• Cada vez mais criminosos sexuais entram em contato com crianças
e adolescentes através das redes sociais, se disfarçando e
manipulando esse público afetiva e sutilmente para conseguirem
prazer sexual. Por exemplo, caso um usuário comece a conversar
com uma criança, na internet, com o objetivo de aliciar e assediá-la
para conseguir conteúdo pornográfico, isso já é um crime. Caso ele
consiga que a criança se exponha sexualmente através de foto ou
vídeo, é outro crime. Se ele salvar e armazenar esse material no seu
computador, está cometendo mais um ato criminoso. Por fim, ao
divulgar ou publicar, o indivíduo incorreu em mais um crime. Ou
seja, cometeu quatro delitos: aliciamento, produção, armazenamento
e divulgação.
VOCÊ SABE O QUE É A SÍNDROME DO SILÊNCIO?

•  O que mantém a violência sexual é o silêncio da vítima. A criança ou adolescente precisa de alguém que confia para contar.
Mas existem muitos aspectos que as impedem, dentre eles:
• > Vergonha;
• > Medo de deixarem de gostar dela;
• > Não entristecer a mãe ou horrorizar o pai;
• > Medo da família acabar ou desestruturá-la;
• > Não desiludir ninguém;
• > Sofrer ameaças;
• > Evitar uma desgraça;
• > Ser retirada da família;
• > Ser punida e considerada culpada;
• > Não acreditarem nela;
• > Proteger o abusador.
• Há o profundo medo da vítima ao revelar a violência sexual: de ser desacreditada (já que a
maioria não deixa marcas físicas e visíveis), de ser considerada culpada, de destruir a
família, de não ter o suporte que precisa, de ter que se afastar do abusador (que ela também
ama e, muitas vezes, é o responsável pelos únicos momentos emocionalmente “gratificantes”
- apesar da violência), de que as ameaças do abusador se concretizem. Atemorizada e
sozinha, ela se cala. E esse silêncio é o maior trunfo do agressor para garantir sua
impunidade e a continuidade do abuso. Esse é o pacto de silêncio.

• É só um silêncio de voz, mas as disfuncionalidades no comportamento, as fragilidades


físicas (diminuição da imunidade e aumento de doenças), a instabilidade emocional, a
dificuldade na aprendizagem, o isolamento, a depressão e a ansiedade, entre outros fatores,
comunicam o pedido de socorro das crianças/adolescentes vitimados.
• Esses fatores são extremamente perturbadores e mantém a vítima refém do segredo, embora ela sinta que de alguma
maneira deva se abrir. Ela fica confusa, dividida e sofre bastante. Por não conseguir falar com a boca, elas pedem
socorro e tentam se comunicar através de mudanças de comportamento, que passam a ser problemáticos. O cuidado e
saber identificar e reconhecer os indícios são muito importantes já que é bem difícil para a criança ou adolescente
conseguir verbalizar.

• Algo fundamental também é que quanto mais especializado for o ouvinte, melhor será a intervenção e os
encaminhamentos, além da condução da escuta ser mais terapêutica. Então só profissionais especializados devem
questioná-la sobre o crime. Caso haja despreparo nesse momento pode acontecer exatamente o que estamos tentando
evitar: a revitimização, traumatizando a vítima mais uma vez. Ao sistema de proteção cabe resguardar e proteger a
vítima e não a expor a mais um trauma, potencializando essa experiência de forte impacto emocional negativo.
ABUSO SEXUAL

• Crianças e adolescentes são vulneráveis por sua condição de dependência afetiva-


emocional, financeira, de cuidados básicos e por estarem em desenvolvimento cognitivo,
fisiológico, psíquico e social. Estão submetidos à autoridade de pessoas que são
responsáveis por eles. A família, em geral, é o sistema onde a criança ou o adolescente se
desenvolve e supre suas necessidades emocionais de amor, aceitação, acolhimento,
confiança, validação, segurança e proteção. O abuso sexual é uma forma de se
aproveitar dessa condição de vulnerabilidade, imaturidade, dependência e inabilidade
de se proteger para inserir uma dinâmica que pode ser sutil, de manipulação, sedução
e suprimento afetivo ou de forma violenta, com o uso de força, coerção e ameaças
para obter prazer sexual. É alimentado através de silenciamentos, segredos e uma
profunda falta de compreensão da natureza do que está acontecendo.
O ABUSO SEXUAL PODE SER EXTRAFAMILIAR OU
INTRAFAMILIAR

• Abuso extrafamiliar: Refere-se à atividade sexual do perpetrador que não é um membro da


família nem possui algum grau de parentesco, conhecido ou não da criança. Pode ser de
dentro ou de fora do ambiente familiar.

• Abuso intrafamiliar: Já o abuso sexual intrafamiliar, também denominado incesto, é


permeado por uma trama ainda mais cruel e sutil e representa mais de 80% de casos de
abuso sexual em crianças e adolescentes, nos quais quem comete o crime são pessoas que
têm relações familiares, afetivas e de confiança com a criança ou o adolescente: pai, mãe,
irmão, avós, tio, primo, madrasta, padrasto. Isso significa que a grande maioria dos crimes
são cometidos por familiares dentro do contexto familiar.
ABUSO INTRAFAMILIAR OU INCESTO  PODE SER QUALQUER CONTATO
SEXUAL ENTRE PESSOAS QUE TENHAM ALGUM GRAU DE PARENTESCO
OU QUE MANTENHAM LAÇOS AFETIVOS COM A VÍTIMA.  OU SEJA, NÃO
É DEFINIDO SÓ ATRAVÉS DA CONSANGUINIDADE (PESSOAS QUE
NASCERAM NA MESMA FAMÍLIA), MAS TAMBÉM PELA FUNÇÃO SOCIAL DE
PARENTESCO EXERCIDA PELAS PESSOAS DENTRO DO GRUPO FAMILIAR.

• A agressão em geral começa de forma dissimulada, através de chantagem emocional, disfarçada de cuidado ou
brincadeiras, passando para carícias, toques e beijos, até que aconteça o ato sexual em si. Isso não acontece do
dia para a noite, leva tempo, o que revela toda uma trama organizada pelo abusador para conseguir seu
intento. 

• É extremamente difícil para uma criança/adolescente, ainda em desenvolvimento e transformação psíquica,


entender que o que está acontecendo é um tipo de violência e administrar o fato de que aquele que o violenta é
também aquele que é responsável por cuidar e oferecer afeto, proteção e confiança. Aquele que ama é o
mesmo que agride. O que protege é o mesmo que expõe. Quanto mais vínculo afetivo e emocional com o
agressor, mais doloroso e difícil é, para a criança ou o adolescente, revelar o abuso sexual e mais graves
são os impactos psicológicos e emocionais que as atingem.
• Políticas públicas voltadas para tornar cada vez mais
claro esse fenômeno, estimular diálogos sobre o assunto,
incentivar as denúncias em todos os canais de
comunicação são ações que podem reduzir os danos e
remodelar de forma saudável a sociedade. É preciso
conhecer para poder denunciar. Falar sobre isso é o
melhor caminho.
CASO PRÁTICO:

Imagine a situação abaixo:


• Ricardo é um homem de 38 anos, solteiro, que nunca teve nenhum
relacionamento sério e mora com a mãe. É um homem discreto, generoso, não se
envolve em confusões e os seus vizinhos gostam muito dele; porém, ele é um
pouco solitário, sem muitos amigos. Recentemente, sua mãe encontrou uma
pasta no computador dele contendo muitas fotos e vídeos de crianças nuas e em
posições sensuais. Ela o questionou e ele confessou que só sente atração sexual
por crianças, que tirou as fotos, mas nunca tocou em nenhuma daquelas crianças.
QUAL A ALTERNATIVA CORRETA?

• Ricardo está inserido na categoria de pedófilo, mas não de agressor sexual.

• Ricardo é um pedófilo e criminoso sexual, mesmo sem ter tocado em nenhuma das
vítimas.

• Ricardo é um criminoso sexual, já que está favorecendo a exploração sexual de crianças.

• Se Ricardo tem conteúdo pornográfico infantil no seu computador, significa que ele
também já abusou de crianças.
RESOLUÇÃO DO CASO:

• Pode-se dizer que Ricardo é um pedófilo, já que afirma se sentir


atraído sexualmente por crianças e é um agressor sexual, já que fez
fotos e vídeos de crianças nuas e em poses sensuais. Isso, em si,
mesmo sem ter contato físico com as vítimas, já configura abuso
sexual. Porém, não se pode afirmar que ele está tendo ganhos
financeiros com a produção de conteúdo de pornografia infantil, ou
seja, até então não há exploração sexual.
IMPACTOS DO ABUSO E EXPLORAÇÃO
SEXUAL – CONSEQUÊNCIAS E
REPERCUSSÕES DO TRAUMA SEXUAL EM
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
AS VÍTIMAS NÃO SÃO AS MESMAS DEPOIS DE EXPERIÊNCIAS
COM O ABUSO SEXUAL, MAS A PROFUNDIDADE DO TRAUMA
VAI DEPENDER DE ALGUNS FATORES QUE SERÃO BREVEMENTE
CITADOS AQUI.

• Já sabemos que a violência sexual é devastadora e traumática. Ela modifica a estrutura


psicológica da criança/adolescente, gerando mudanças significativas do ponto de vista
emocional, cognitivo e comportamental. Por causa dessas experiências negativas a vítima
passa a ver o mundo através de uma lente de dor e isso modifica suas atitudes, tornando-as
mais problemáticas e adoecidas. O impacto e o trauma da violência sexual vão depender de
alguns fatores. São eles: idade na ocasião do abuso, a duração e frequência do abuso, o grau
de violência ou ameaça, o grau de segredo, a diferença de idade entre abusador e vítima,
grau de relacionamento entre a criança ou adolescente e o abusador, tipo de atividade
sexual (presença de penetração genital), dentre outros. Mas, independentemente de quais
fatores estejam envolvidos, eles são sempre devastadores.
• Para entender melhor esses impactos que a violência sexual tem sobre a
criança/adolescente é importante se debruçar nas 4 dinâmicas traumatológicas que são
responsáveis pelos sintomas provocados por esse fenômeno. Elas avaliam o estresse pós-
traumático e suas consequências psicológicas e emocionais:

• 1 – Confiança traída;

• 2 – Sexualização precoce e traumática;

• 3 – Impotência;

• 4 – Senso de não merecimento e inferioridade.


CONFIANÇA TRAÍDA

• A confiança traída é um sintoma do abuso sexual intrafamiliar, quando o abusador é próximo


da criança, que depende dele para proteção e suprimento de suas necessidades básicas. E o
abusador manipula essa confiança e abertura para obter prazer sexual. Então, quem deveria
estar cuidando e protegendo, está violando ou permitindo a violação de direitos. Isso gera
um sentimento de abandono em relação aos seus cuidadores, que não a protegem do abuso.
Assim, a criança ou adolescente passa a se sentir insegura, o que normalmente gera
depressão e uma tristeza profunda e constante. Ela pode reagir de diversas maneiras: com
apego inseguro (se torna uma criança grudenta, manhosa, carente e que não faz nada sozinha
); desconfiança, por não saber mais em quem confiar (a criança se sente perdida, o que a
deixa ainda mais frágil e facilita a ocorrência de novos abusos ); agressividade e raiva, para
manter as pessoas longe e se proteger de novas traições; e isolamento, que aumenta a
sensação de abandono e alienação.
SEXUALIZAÇÃO PRECOCE E TRAUMÁTICA

• A criança/adolescente ainda não está preparada para lidar com certos aspectos
relacionados ao mundo da sexualidade. Então, o abuso antecipa e dá o tom
inapropriado e disfuncional às experiências sexuais.

• As possíveis consequências são: aversão à intimidade ou comportamento sexual


compulsivo, promiscuidade, atividade sexual precoce e agressiva e prostituição (em
adolescentes).
IMPOTÊNCIA

• O processo repetido da invasão do corpo da criança ou adolescente sem a sua autorização, a deixa vulnerável a
outras invasões, já que as estratégias que ela utilizou não deram certo. Não lhe foi dado crédito e ela não se sente
capaz de se proteger e parar o abuso. Essa trama gera medo, ansiedade e impotência, que pode gerar duas
principais consequências:
• 1- Necessidade de exercer controle/poder sobre outras pessoas (para diminuir a sua sensação de impotência):
Intimidação, ataques explosivos, comportamento abusivo/agressivo ou até abuso sexual de crianças mais novas.
É tentar triunfar sobre o trauma. Essa vítima tem mais propensão à delinquência.  Isso se refere
a comportamentos externalizantes (atitudes voltadas para fora, onde a agressividade, por exemplo, é destinada
às pessoas que estão próximas).
• II – Desamparo aprendida: A criança ou adolescente se vê uma vítima. Nada do que faça é capaz de interromper
o abuso, então ela se conforma e obedece. Se vê como ruim, culpada e indigna. Para lidar com emoções tão
esmagadoras, a criança ou adolescente congela suas emoções (dissociação/embotamento) para não as sentir,
tende a ter dependência emocional, refletindo um eu ausente, com confusão de identidade. Tudo isso refere-se
a comportamentos internalizantes (atitudes voltadas para dentro, onde a agressividade, por exemplo, é voltada
para si mesma).
• COMPORTAMENTOS INTERNALIZANTES COMPORTAMENTOS EXTERNALIZANTES

• > Dificuldade para controlar suas emoções; > Autopercepção muito negativa;

• > Ligações afetivas inseguras; > Senso de eu seriamente fragmentado;

• > Exageradamente obedientes; > Necessidade de dominação/controle;

• > Dificuldade para se concentrar e aprender; > Delinquência;

• > Apatia e passividade; > Agitação ou inquietação;

• > Ansiedade; > Irritabilidade e intolerância;

• > Depressão. > Distração e falta de concentração.


DIFICULDADE PARA CONTROLAR EMOÇÕES

• A criança ou adolescente ainda não aprendeu a lidar com


suas próprias emoções (isso é algo aprendido através de
orientação e experiências na vida que se aperfeiçoam ao
longo do tempo) e devido ao abuso sexual sentem as
emoções desagradáveis e incômodas (como a culpa, medo,
vergonha, raiva, tristeza) com muita intensidade.
LIGAÇÕES AFETIVAS INSEGURAS

• A vítima não sabe em quem pode ou não confiar.


Ela pode ficar desconfiada e fechada, embora
extremamente carentes.
EXAGERADAMENTE OBEDIÊNTES

• Como ficam muito apegadas e inseguras, as


crianças/adolescentes vítimas de abuso sexual
precisam agradar o tempo todo os adultos, para
serem alvo do amor deles (o que facilita a
ocorrência de novos abusos).
DIFICULDADE PARA SE CONCENTRAR E
APRENDER

• A mente da vítima é invadida por


pensamentos negativos e repetitivos com
visualização do abuso sexual, podendo gerar
automutilação (ferir a si mesma) e
pensamentos suicidas como alternativas
para anestesiar a dor.
APATIA E PASSIVIDADE

• A criança ou adolescente não confia e si mesma, tem medo


de se expor, tem muita insegurança.
AUTOPERCEPÇÃO MUITO NEGATIVA

• A criança ou adolescente se vê de forma distorcida,


ressaltando seus aspectos negativos, diminuindo
seu senso de autovalorização.
SENSO DE EU SERIAMENTE
FRAGMENTADO

• A criança ou adolescente ativa mecanismos de proteção


emocional para evitar ou deixar de sentir a dor provocada
pelo trauma sexual.
NECESSIDADE DE
CONTROLE/DOMINAÇÃO

• Como no abuso sexual a criança ou adolescente


não vê, em geral, possibilidade de fugir daquela
situação, ela exerce dominação sobre alguém para
tentar resgatar a sensação de controle que foi tirada
pelo abusador. Por isso é comum que pessoas
abusadas se tornem abusadores.
DELINQUÊNCIA

• A criança/adolescente tenta comunicar seu


sofrimento ferindo ou punindo alguém.
SENSO DE NÃO MERECIMENTO E INFERIORIDADE

• Nessa dinâmica, o abusador inverte os papéis e faz a criança ou adolescente acreditar que
ela é culpada, distorcendo sua percepção de si mesma, fazendo-a se sentir envergonhada,
ruim, malvada e sem valor. São frases do tipo: “você me fez fazer isso”, “você me
provocou”, “garoto(a) malvado(a)”. Isso cria um senso de falta de valorização, não
merecimento e inferioridade, que é reforçado por ter que manter isso em segredo ou
quando a revelação do abuso não é acreditada.

• A consequência psicológica é culpa e vergonha profunda, autoestima seriamente


prejudicada, isolamento, raiva de si mesmo, que pode provocar automutilação, dependência
de drogas, delinquência e suicídio.
• Sua repercussão atinge todas as esferas da vida da criança ou do adolescente,
destruindo suas relações familiares e interpessoais, suas escolhas em geral, a
aprendizagem escolar, entre outras consequências. Percebam como a experiência do
abuso sexual tem o potencial de comprometer todo o futuro de uma criança ou
adolescente, reduzindo oportunidades e possibilidades importantes para o seu
desenvolvimento saudável, retirando seu poder de ação e mudança, formando adultos
prejudicados, feridos, desajustados, desestruturados, fragilizados e traumatizados. E, sem
a nossa intervenção efetiva, afeta negativamente as famílias, impactando a sociedade. Por
isso a importância de exercermos o nosso papel como agentes de proteção: interromper
esse ciclo de adoecimento tão grave.
CASO PRÁTICO:

• Imagine a situação abaixo:

• Elisabete fora abusada sexualmente pelo melhor amigo de seu pai por alguns anos, até revelar, sem
querer, o que acontecia para sua mãe. Isso teve um impacto imenso na família: a mãe da menina ficou
desesperada, porém o pai não conseguia acreditar que seu irmão de alma pudesse ter feito algo assim.
Com o pai recusando a acreditar, o amigo continuou frequentando a casa regularmente. A mãe vigiava
constantemente Elisabete, quando da visita do homem, então os abusos sexuais pararam de acontecer.
Mas a relação entre pai e filha ficou muito distante.
• Ele, o pai, afastou-se bastante da filha. Ela, por sua vez, achava que o pai estava zangado e que a culpava
pelo que tinha acontecido. Então, começou a achar que era realmente culpada, tanto pelo abuso sexual
sofrido, quanto por ter causado toda essa perturbação na família.
• Agora, tente responder:
•  
• Ao ler esse caso, quais dinâmicas traumatológicas podem ser identificadas? 
RESOLUÇÃO DO CASO:

• Claramente, podemos identificar o senso de inferioridade, onde Elisabete começa a


achar, diante da atitude dos seus pais e do abusador, que ela é a culpada da história.
Ela faz uma imagem sobre si mesma, de alguém que provocou o abuso. Pode
desvalorizar-se, inferiorizar-se e sentir culpa. Isso gera vergonha e uma distorção de
si mesma. Essa sensação se intensifica, já que não foi defendida e acreditada. Ao
contrário, o pai se afasta dela e, apesar do desespero da mãe, o abusador ainda
continua frequentando sua casa. A dinâmica do trauma, nesse aspecto, é a traição da
confiança que a menina tinha nos pais. Em vez de protegê-la e acolhê-la, suas
figuras de referência se afastaram dela.
• Em suma, Elisabete teve sua autoestima afetada negativamente, atribuindo pouco
valor a si mesma, sente culpa, vergonha, abandono e insegurança. 
IDENTIFICAÇÃO DO ABUSO SEXUAL E ABORDAGEM
ADEQUADA

• A vivência do abuso sexual leva à síndrome do segredo. Não revelar a um adulto o que
aconteceu ou está acontecendo é muito comum e, geralmente, vem de um panorama onde a
criança/adolescente continua convivendo com o abusador e, pior, sendo reincidentemente
violentada. Esse silenciamento impede que o ato seja descoberto e identificado, mas como
ele gera marcas, são essas que acabam comunicando o que a vítima não consegue verbalizar.
Essas marcas afetam todas as áreas da sua vida e podem ser observadas no físico, nas
emoções, nos comportamentos, na cognição, nas relações interpessoais e, também, na
sexualidade. 

• Finalmente, diante da possibilidade da revelação da violação, ou de situação em que seja


identificada a hipótese de abuso ou denúncia, é de fundamental importância que a rede de
proteção seja acionada e que a conduta dos atores sociais seja apropriada, de forma sensível
e humanizada.
• Já sabemos que um dos principais fatores que reforçam a obscuridade da violência sexual está
no fato de as vítimas permanecerem em silêncio. O que contribui para a manutenção do
segredo é a culpa, o medo, a vergonha.

• No entanto, as vítimas podem tentar comunicar o que está acontecendo, seus medos e
ansiedades de forma indireta, sutil e não verbal, através do seu comportamento, expressão,
desenhos, corpo etc. Mas captar essa mensagem requer sensibilidade e atenção do adulto para
interpretá-la.

• Revelar o segredo pode acarretar inúmeras experiências negativas para a criança e o


adolescente, como por exemplo, medo de que as ameaças sofridas se concretizem, de destruir
a família, de que ninguém acredite e de perder amor e afeto. Isso, inclusive, pode ter o efeito
de traumatizar a vítima mais uma vez e intensificar os impactos. Mas também sabemos que o
silêncio pode ocasionar essas mesmas consequências. Ou seja, falar sobre a experiência do
abuso sexual a alguém de confiança que a acolha tem um efeito positivo para que a vítima
lide melhor com a situação e processe o que aconteceu de forma mais saudável.
•  É difícil falar sobre algo tão complicado. Menores de 5 anos não têm o
repertório verbal desenvolvido e ainda não sabem que é uma experiência de
abuso sexual (já que são levados a crer que aqueles são aspectos normais de
uma relação de afeto). Crianças com até 12 anos comunicam indiretamente e
adolescentes, que tem habilidades verbais mais desenvolvidas, não revelam
pela carga de constrangimento, culpa e vergonha que esse tema carrega
consigo. É por isso que precisamos treinar o nosso olhar para identificar a
possibilidade de abuso sexual, ou seja, os sinais e sintomas, e adotar formas
adequadas de abordagem e condução para que a criança/adolescente seja
protegida e tenha seus direitos resguardados em uma situação de violência
sexual.
• Para melhor estruturação, os sintomas serão divididos e
organizados nas seguintes categorias: sinais físicos, sinais
emocionais, sinais comportamentais, sinais cognitivos, sinais
sociais e sinais sexuais. Um dos principais focos de observação é a
mudança significativa e/ou brusca no padrão de comportamento
natural das vítimas e também é necessário levar em consideração
que os sintomas podem variar muito entre as vítimas (ou seja, cada
uma vai responder de uma forma).
SINAIS FÍSICOS

• > Doenças sexualmente transmissíveis;


• > Sangramentos e hematomas.
• > Gravidez na adolescência;
• > Machucados ou inflamação na região genital, anal, oral, uretral, seios, nádegas, coxas;
• > Distúrbios (perda ou excesso) no apetite e problemas relacionados à alimentação, como
náuseas e vômitos;
• > Distúrbios no sono (pesadelos, medo de dormir, insônia ou excesso de sono);
• > Problemas intestinais (diarreias ou constipação);
• > Dificuldade em conter o esfíncter (fazer xixi na cama ou cocô nas calças);
• > Mal-estar: dores abdominais, falta de ar, desmaios.
SINAIS EMOCIONAIS

• > Ansiedade;
• > Tristeza ou abatimento profundo;
• > Medo (de ficar sozinho, no escuro, de ficar próximo ao potencial agressor);
• > Raiva ou agressividade;
• > Sensação explícita de culpa, vergonha, humilhação e falta de valor (baixa autoestima);
• > Confusão;
• > Insegurança;
• > Desrespeito, falta de confiança por si mesmo;
• > Repulsa e rejeição ao próprio corpo (se sentir sujo);
• > Inferioridade, inadequação;
• > Ideias e tentativas de suicídio;
• > Automutilação machucar a si mesma;
• > Mudanças súbitas/oscilação de humor.
SINAIS COMPORTAMENTAIS

• > Mudanças no padrão natural de comportamento de criança/adolescente;


• > Comportamento extremamente tenso, em “estado de alerta”;
• > Comportamentos regressivos e muito infantis para a idade: xixi na cama,
chupar dedo, fala infantilizada, dependência;
• > Comportamento muito agressivo ou muito isolado;
• > Comportamentos perigosos: fugas de casa, suscetibilidade a acidentes, por
fogo em objetos;
• > Hiperatividade;
• > Consumo de drogas.
SINAIS COGNITIVOS

• Mudanças no padrão natural de aprendizagem: antes,


aprendia com facilidade e, agora, apresenta dificuldade de
aprender (notas baixas);
• Baixa atenção, concentração e memória;
• Falta de comprometimento com as atividades escolares;
• Evasão escolar.
SINAIS SOCIAIS

• Mudança no padrão natural interpessoal: antes, era extrovertida e aberta e passa a ser tímida e fechada;
• Não confiar em adultos, especialmente os que lhe são próximos;
• Evitar contato físico com adultos;
• Dificuldade de comunicação;
• Solidão, isolamento;
• Super agressivo (hostil) ou super dócil (sensível);
• Necessidade de esconder seu corpo (vestir roupas largas);
• Passividade e inibição;
• Dependência ou autossuficiência;
• Poucos amigos ou retração social;
• Comportamentos antissociais.
SINAIS SEXUAIS

• Brincadeira sexualizada (agressiva ou não).


• Tema sexual aparecendo frequentemente em jogos, histórias e desenhos.
• Conhecimento sobre sexo inadequado para idade.
• Comportamentos sexuais: exibicionismo, promiscuidade, prostituição.
• Masturbação compulsiva.
• Nos casos em que a revelação acontece, ou o abuso sexual
é descoberto, é crucial que os adultos envolvidos reajam
adequadamente. A vítima precisa ter uma rede de suporte
social, que ela entende que vai apoiá-la, desde o
acolhimento da denúncia. É um momento
superimportante, pois a forma como a situação for
conduzida pode ajudar a minimizar os impactos do abuso
sexual ou revitimizá-la, traumatizando-a outra vez.
REVITIMIZAÇÃO

• É a recorrência do trauma, quando a criança/adolescente precisa


relatar a situação de abuso sexual várias vezes, fazendo-a reviver
a experiência traumática. Ao ser repetidamente questionada sobre
o ato, para lembrar e descrever os detalhes difíceis para as
pessoas ligadas à sua proteção, a vítima vivencia em sua mente
novamente a violência sexual, causando um impacto adicional
que pode exacerbar o trauma e com isso, vitimizar a
criança/adolescente mais uma vez.
• Essa rede de apoio é composta pelos Conselhos Tutelares,
Juizado da Infância e da Juventude, escolas, hospitais,
postos de saúde, abrigos. Os atores sociais da rede de
proteção (como os Conselheiros Tutelares e profissionais
dos serviços de atendimento) e cada um, dentro do âmbito
de sua atuação deve estar preparado para perceber sinais
que justifiquem o encaminhamento para identificação da
ocorrência de abuso e/ou exploração sexual aos atores do
Sistema de Garantia de Direitos habilitados para promover
a Escuta Protegida, normatizada pela Lei nº 13.431/2017.
DE ACORDO COM A LEI Nº 8.069/1990, SÃO
ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO TUTELAR:

• II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII;
• III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:
• a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança;
• V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;
• X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art. 220, §3º, inciso
II, da Constituição Federal;
• XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após
esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural.
• XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profissionais, ações de divulgação e treinamento para o
reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e adolescentes.
• Parágrafo único.  Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do
convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os
motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da família
• O diálogo com essas vítimas é bem delicado e requer alguns cuidados específicos, tanto em relação ao
comportamento do profissional responsável pela entrevista quanto à condução do mesmo, razão pela qual
deve ser conduzido apenas pelos órgãos competentes e profissionais devidamente habilitados. Tais
profissionais devem estar emocionalmente preparados para tratar sobre abuso sexual.

• É importante que todos tenham noção sobre o tema  e sejam capazes de captar os indícios
comportamentais que sugerem a existência da violação. E, quando perceberem tais sinais, devem
estabelecer um clima tranquilo, afetivo, seguro, de cumplicidade e confiança, tanto com a vítima quanto
com sua família, procurando observar a maturidade, a linguagem e o nível de compreensão da
criança/adolescente. Partindo dessa observação, cada ator do Sistema de Garantia, dentro de seu escopo de
atuação, tomará as medidas cabíveis.
IMPORTANTE

• A não ser que você seja o profissional habilitado para tal, não faça
perguntas – diretas ou indiretas – sobre o assunto.

• Caso a criança relate um abuso, não pergunte detalhes. Acolha a


criança e faça o devido encaminhamento.

• Não provoque a revitimização.


A L G U M A S P O S T U R A S D U R A N T E O D I Á L O G O S Ã O C R U C I A I S PA R A FAV O R E C E R A R E V E L A Ç Ã O D A
MELHOR FORMA POSSÍVEL. SÃO ELAS:

• A vítima tem liberdade para relatar a história e usar a linguagem que ela preferir, inclusive usando termos sexuais. O
entrevistador deve aproveitar essas deixas e utilizar linguagem semelhante para se aproximar e não ter medo de dizer
expressões do contexto da vítima (esse receio pode, como consequência, fazer com que a vítima também tenha receio em
empregar essas expressões). Mas, deve-se ter cuidado para não fazer colocações desnecessárias e abusivas.

• Ouvir a criança/adolescente atentamente e sem interrupções. Interromper constantemente pode sinalizar que o profissional
não quer ouvi-la e isso pode ser encarado como rejeição. Também evitar uso do celular ou atender ligações durante a
escuta. É importante oferecer atenção exclusiva à vítima.

• Utilizar palavras e frases simples e perguntas de fácil entendimento e somente o necessário, sem entrar diretamente nos
detalhes da violência sofrida. O profissional deve se certificar, com a vítima, se está compreendendo o que ela está
relatando.

• A criança/adolescente, para se sentir mais segura e confiante, deve ser informada do que pode acontecer posteriormente
àquela conversa: que, no caso de ela ter sido abusada, outras pessoas terão que saber do ocorrido e as possíveis ações dos
órgãos competentes. Ela deve saber que tudo isso está acontecendo para protegê-la.
CASO PRÁTICO

• Imagine a situação abaixo:


• Robson sempre foi um menino obediente, relativamente estudioso e tranquilo. De uns
tempos para cá, as notas dele começaram a cair, passou a não querer ir à escola, alegando
que estava com dor de cabeça e na barriga, voltou a fazer xixi na cama, passou a ficar
muito retraído e também intolerante e irritadiço. As pessoas de casa não podiam
contrariá-lo que ele respondia com explosões de raiva e choro. Ninguém entendia o que
estava acontecendo com Robson e nem o porquê dessa mudança de comportamento. 

• É possível afirmar, com essa descrição, que Robson está sendo abusado
sexualmente?
• No caso de Robson percebemos que houve uma mudança significativa no
comportamento habitual dele. É possível identificar sinais físicos (dores
de cabeça e abdominais), sinais emocionais (irritação, agressividade e
choro), sinais comportamentais (voltou a fazer xixi na cama), sinais
cognitivos (diminuição das notas e não querer ir à escola) e sinais sociais
(retraimento). Mas, esses dados não são suficientes para afirmar que
houve violência sexual. Nesse caso, é indicado continuar observando e
entender a dinâmica familiar, já que essa mudança é um indicativo de que
algo está acontecendo com Robson.

• É crucial ter cuidado ao fazer suposições acerca da hipótese de violência


sexual, já que uma acusação falsa pode ser tão destrutiva quanto o próprio
abuso.

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