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Diversidade Animal

Material Teórico
Padrões corporais, classificação e filogenia e protistas

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Priscila Granado

Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
Padrões corporais, classificação
e filogenia e protistas

• Padrões corporais

• Classificação e filogenia dos organismos

• Os protistas

Nesta unidade, abordaremos os diferentes padrões arquitetônicos


ou corporais encontrados na natureza. Com isso, veremos:
• como se dá a classificação e o entendimento da filogenia dos
organismos;
• alguns filos e a importância dos protistas.

O principal objetivo é compreender os motivos pelos quais há


a diversidade de formas na natureza e como elas se mantêm,
sabendo como os organismos são nomeados e classificados, além
de conhecer o reino protista, seus constituintes e sua importância.

Nesta unidade, é fundamental o entendimento do porquê da variedade de padrões corporais e suas


limitações pelos processos evolutivos. Também se faz importante o entendimento da importância
da multicelularidade e as diferenças com os organismos unicelulares, além de entender as diferentes
simetrias observadas nos distintos animais.
Além disso, também será possível a compreensão do sistema de classificação e filogenia e qual
a importância desses elementos para o estudo dos organismos. Para o estudo dos seres vivos,
começaremos com os protistas.

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Unidade: Padrões corporais, classificação e filogenia e protistas

Contextualização

Vamos iniciar essa unidade com conceitos básicos sobre os organismos, quais as vantagens,
desvantagens e limitações dos diferentes planos corporais encontrados na natureza, padrões de
simetria. Depois, veremos um pouco sobre a classificação e filogenia dos seres vivos. Como é feita
e quais critérios são utilizados para nomear e classificar os seres vivos. E, por fim, começaremos
a estudar os organismos em si, começando pelos protistas, organismos de importância ecológica
e econômica para a humanidade.

“Os zoólogos reconhecem atualmente 32 filos de animais multicelulares, cada filo


caracterizado por um plano corpóreo distinto e propriedades biológicas que o colocam
à parte de todos os outros filos. Todos esses filos são os sobreviventes de cerca de 100
filos que foram gerados durante a explosão cambriana, há 600 milhões de anos, no
evento evolutivo mais importante da história da vida animal. Todos os planos corpóreos
principais que observamos hoje foram virtualmente estabelecidos em um tempo de uns
poucos milhões de anos, junto com muitos planos novos que conhecemos apenas do
registro fóssil. Vivendo em um mundo com espécies esparsas e livres de competição, essas
novas formas de vida começaram a se difundir, produzindo novos temas na arquitetura
animal. Desde então, nada foi equivalente à explosão cambriana. Explosões de especiação
posteriores, que se seguiram a grandes eventos de extinção, produziram apenas variações
sobre temas estabelecidos.
Uma vez moldado, um plano corpóreo principal torna-se uma determinante limitadora
da forma corpórea de descendentes daquela linhagem ancestral. Os moluscos geram
apenas moluscos e aves geram aves, nada mais. A despeito do surgimento de adaptações
estruturais e funcionais de maneiras distintas de vida, a evolução de novas formas sempre
se desenvolve dentro de limites arquitetônicos do padrão ancestral do filo. É por isso que
nunca veremos moluscos voando ou aves confinadas a uma concha protetora.” (Hickman
et al., 2004, 170)

Trecho retirado do livro: JR, C.P.H.; ROBERTS, L.S.; LARSON, A. Princípios integrados de Zoologia.
11ªedição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.

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Padrões corporais

Introdução
Para que um organismo realize suas atividades vitais, seus componentes corporais precisam
ser estrutural e funcionalmente compatíveis. Assim, a enorme diversidade de formas, que
encontramos na natureza, é limitada pelos processos evolutivos, os quais são responsáveis por
direcionar o que é compatível ou não com determinado padrão corporal.
Se considerarmos os protozoários, são organismos unicelulares e completos com todas
funções básicas necessárias à sobrevivência sendo realizadas por uma única célula. A diversidade
encontrada nesses seres ocorre através da variação dos padrões arquitetônicos e das estruturas
que compõem a célula na sua integridade. Já os metazoários, os animais multicelulares, possuem
uma complexidade maior pelo fato de combinarem um conjunto de células em estruturas
maiores, chamadas tecidos, esses por sua vez formam os órgãos e que, conjuntamente, formarão
os distintos sistemas encontrados nos seres do reino animal.
Ainda considerando os metazoários, ou seja, os animais multicelulares, quando estes
apresentam um grau de organização corporal mais complexo, isso possibilita ou até mesmo
promove a evolução de tamanhos corporais maiores. Essa maior complexidade e tamanho não
passariam despercebidos pelos processos evolutivos; então, tamanhos maiores trazem consigo
consequências físicas e ecológicas ao organismo.
Essas consequências consistem no fato de que, conforme os animais se tornam maiores, o
volume do corpo aumenta mais rapidamente que a superfície. Uma área de superfície menor
pode ter como consequências uma respiração ou nutrição inadequadas para o animal. Assim,
alguns seres vivos encontraram como solução o dobramento ou invaginação da superfície do
corpo. Dessa forma, aumentando a área de superfície corporal, ou ainda, achatando o corpo,
fazendo com que o espaço interno do corpo não fique distante da superfície do mesmo, como
por exemplo, alguns platyhelminthes turbelários que veremos mais adiante no curso.
Vale destacar que a maioria dos animais com tamanhos mais avantajados também desenvolveu
como solução para o problema da relação superfície/volume sistemas de transporte internos de
nutrientes, trocas gasosas e dejetos.

Informação

O maior tamanho corporal proporciona ao organismo maior proteção contra variações ambien-
tais, maior proteção contra predadores, além de permitir um uso mais eficiente da energia gerada
pelo metabolismo.

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Unidade: Padrões corporais, classificação e filogenia e protistas

Planos corpóreos – Simetria


A variedade de formas corporais, observada para os organismos, é restringida pela história
evolutiva dos mesmos, seus habitats e formas de vida. Dessa forma, há planos corpóreos básicos,
mas que dão suporte para a diversidade de formas. Se considerarmos os animais, as principais
novidades evolutivas vistas são a multicelularidade, simetria bilateral, corpo caracterizado como
“tubo dentro de tubo” e o desenvolvimento de um celoma verdadeiro. Veja figura abaixo:

Figura 1 - Padrões arquitetônicos de um animal.

Fonte: Jr., C. P. H.; Roberts, L. S.; Larson, A. Princípios integrados de zoologia, pág. 180.

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Simetria
Considerando-se um plano mediano, a simetria é o tamanho e forma de um dos lados desse
plano, o qual pode ser correspondente ao tamanho e forma do lado oposto desse mesmo plano.
Há quatro tipos de simetria:
1 - Simetria esférica: Qualquer plano que passar no centro do ser vivo o dividirá em metades
iguais. Encontrada principalmente entre seres vivos unicelulares. A conformação esférica
proporciona melhores condições para flutuação e rolamento.

2 - Simetria radial: Quando consideramos o eixo longitudinal do organismo e, através


dele, é possível traçar mais de um plano e as partes são metades semelhantes. São
encontradas em águas-vivas, ouriços-do-mar, algumas esponjas e hidras.

3 - Simetria birradial: variante da simetria radial, porém apenas dois dos planos que passam
ao longo do eixo longitudinal produzem metades iguais. Um exemplo de organismo que
apresenta essa simetria são o ctnephoros (filo Ctenophora), organismos semelhantes a
Cnidários (águas-vivas), mas que possuem apenas um par de tentáculos.

Os animais com simetria radial e birradial não possuem extremidade anterior e posterior. Dessa
forma, podem interagir com o ambiente em todas as direções.

4 - Simetria bilateral: São animais que podem ser divididos em duas metades iguais ao
longo de um eixo longitudinal, passando desde a região anterior até a posterior do
organismo. O aparecimento da simetria bilateral, ao longo do processo evolutivo,
proporcionou grande avanço para os animais que a apresentam. Esses seres vivos
bilaterais apresentam movimento direcionado (movimento para frente), além do que,
essa simetria está relacionada ao processo de cefalização, ou seja, a concentração do
sistema nervoso e órgãos do sentido na região anterior do animal.

Termos importantes:
• Extremidade anterior - Utilizado para região da cabeça.
• Extremidade posterior – Utilizado para designar a região
oposta a anterior ou também a cauda do animal.
• Região dorsal – a região das costas do animal, região superior
do corpo.
• Região ventral – a região oposta a dorsal, região do ventre.

Planos/cortes corporais:
• Plano/corte frontal – divide o corpo em metade dorsal e
ventral.
• Plano/corte sagital – divide o corpo em lado direito e esquerdo.
• Plano/corte transversal – divide o corpo em região anterior e
posterior.

Fonte: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAx3oAD/apostila-anatomia-humana.

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Unidade: Padrões corporais, classificação e filogenia e protistas

Animais bilaterais – Cavidades do corpo


Uma das inovações evolutivas encontradas nos animais foi o arranjo que denomina-se “tubo
dentro de tubo”. Essa conformação é conferida pelo celoma, sendo este um espaço preenchido
por fluido que, dentre outras funções, auxilia na locomoção, funcionando como esqueleto
hidrostático e permitindo a movimentação de muitos vermes; trocas gasosas e fornece espaço
para alojamento dos órgãos. A presença do celoma é de grande importância para a evolução
dos organismos bilaterais, permitindo um maior tamanho e complexidade.

Há três tipos de conformação para os animais, sendo elas:


1 - Bilateria acelomados – São os animais que não possuem celoma verdadeiro. A região
entre a ectoderme e endoderme é completamente preenchida por mesoderme que forma
uma massa praticamente sólida, algumas vezes apresentando pequenas lacunas entre o
trato digestivo e a parede do corpo. Exemplo: Platyhelminthes.

2 - Bilateria blastocelomados (pseudocelomados) – A cavidade do corpo é a blastocele


que persiste até a fase adulta. Não é considerada um celoma verdadeiro, pois não
é revestida totalmente por mesoderme (tecido embrionário). Exemplos: Rotifera,
Gastrotricha, Nemata.

3 - Bilateria celomados – São os animais que possuem celoma verdadeiro, totalmente


recoberto por mesoderme. É responsável pelo alojamento dos órgãos viscerais. Exemplo:
Annelida, Mollusca.

Figura 2 - “Tubo dentro do tubo”.

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Figura 3 - Corte transversal de organismos triploblásticos (possuem os três folhetos germinativos
– endoderme, ectoderme e mesoderme - no desenvolvimento embrionário) e suas diferentes
condições de acelomados, pseudocelomados (blastocelomados) e celomados.

Classificação e filogenia dos organismos

Para classificação dos organismos, há o agrupamento deles de acordo com suas características
evolutivas compartilhadas. Aristóteles foi um dos primeiros a classificar os organismos de acordo
com suas características similares, mas foi Linnaeus o responsável pela criação do sistema de
classificação dos organismos.
Linnaeus dividiu o reino animal em espécies, agrupou-as em gêneros, depois em ordens e
classes. O sistema de Linnaeus de organização dos organismos é um sistema hierárquico que
contém 7 categorias, sendo elas: reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie.
Ainda dentro do sistema de Linnaeus, para nomear as espécies, é utilizada a nomenclatura
binomial, ou seja, cada espécie tem um nome em latim constituído de duas palavras, escritas em
itálico ou sublinhadas quando manuscritas. A primeira palavra é o gênero, escrito com letra inicial
maiúscula, a segunda palavra é denominada epíteto de espécie, escrita com letra minúscula.
Exemplo:

Homo sapiens
↓ ↓
Gênero Epíteto de espécie

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Unidade: Padrões corporais, classificação e filogenia e protistas

Tabela 1 - Sistema de Linnaeus de classificação para os reinos Animalia, Plantae e Bacteria.

Seres vivos
Reino Animalia Plantae Bacteria
Filo ou Domínio Chordata Magnoliophyta Proteobaceria
Classe Mammalia Asterides Gammaproteobacteria
Ordem Primates Asterales Enterobacteria
Família Hominidae Asteraceae Enterobacteriaceae
Gênero Homo Lactuca Escherichia
Espécie Homo sapiens Lactuca sativa Escherichia coli
(Nome popular) (Homem) (Alface) (Coliforme fecal)

Características taxonômicas e reconstrução filogenética


O objetivo da sistemática é, através da reunião de informações e estudo de características
(caracteres) das espécies, construir suas árvores filogenéticas.
Se considerarmos dois organismos e estes apresentarem características similares, isso significa
que podem tê-las herdado de um ancestral em comum, sendo denominada homologia. Porém,
a presença de similaridade, pode não ser devido a um ancestral comum, com a possibilidade
de ser advinda do fato dos dois organismos ocuparem o mesmo ambiente, por exemplo; dessa
forma, essa característica é denominada homoplasia.
Para construção filogenética, podem-se utilizar os caracteres que variam entre organismos
de um grupo. Para isso, primeiro é necessário identificar qual característica estava presente no
ancestral comum do grupo, chamado caráter ancestral. As demais características que surgiram
depois são chamadas de caracteres derivados. As espécies que compartilham esses caracteres
derivados, formam subgrupos chamados clados. Uma característica comum entre organismos
de um mesmo clado é denominada sinapomorfia. Ainda considerando uma característica de
um grupo, se estiver em seu estado primitivo é chamada plesiomorfia e seu compartilhamento
entre os organismos é chamado simplesiomorfia.
A representação gráfica da inclusão dos diferentes clados é feita através da construção
de cladogramas.

Há diferenças entre cladogramas e árvores filogenéticas. Para essas, é preciso se acrescentar ao


cladograma informações da ancestralidade, duração das linhagens evolutivas e quantificar as
mudanças que ocorreram nessas linhagens

Os caracteres que são utilizados para construção dos cladogramas podem ser verificados a
partir de:
··Morfologia comparada: Quando analisam-se as diferentes formas, tamanhos e origens
das estruturas dos organismos.

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··Bioquímica comparada: Utiliza proteínas (sequência de aminoácidos) para estabelecer
as diferenças entre os organismos.

··Citologia comparada: As diferenças são obtidas através dos cromossomos, de suas


variações em números, formas e tamanhos.

Contextualizando
É necessário que se tenha em mente esses conceitos principais expostos até aqui. Eles darão
embasamento para a compreensão de como e por que as espécies são classificadas e agrupadas.

Os protistas

Os protistas são caracterizados como reino e incluem os protozoários e grupos autotróficos.


Não possuem um ancestral em comum, nem são definidos por características precisas. Vale
salientar que protistas apresentam uma diversidade de planos corpóreos, formas, funções e
estratégias de sobrevivência.

Diálogo com o Autor

“Os protistas são definidos apenas como uma confederação de eucariontes que não apresentam o
nível de organização tecidual observado nas plantas, animais e fungos.” (Brusca e Brusca, 2007, 124).

Primeiramente, vamos falar das características gerais encontradas no reino. Depois,


conheceremos alguns grupos importantes de protistas.

Plano corpóreo
Protistas são, na sua maioria, unicelulares. Dessa forma, precisam ser capazes de realizar
todas as funções de um organismo multicelular. Então, como fazem para serem eficientes
com apenas uma célula?

Estrutura do corpo, excreção e troca gasosa


Para esses organismos unicelulares, a maioria dos processos vitais são realizados
através de membranas celulares. Dessa forma, a relação superfície/volume precisa
ser adequada para que as trocas gasosas e circulação de nutrientes sejam eficientes.

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Unidade: Padrões corporais, classificação e filogenia e protistas

Como não possuem sistemas especializados nessas funções vitais, protistas precisam manter-
se com tamanhos reduzidos para que as distâncias de difusão entre a superfície do corpo e
o ambiente não sejam grandes (o que diminuiria a eficiência dos processos). Esse fato pode
ser notável, por exemplo, em protistas que assumem formas alongadas, finas ou achatadas
justamente para manter reduzidas as distâncias de difusão.
Outra característica comum em organismos protistas é a formação de vesículas (bolsas)
delimitadas por membranas. A formação dessas estruturas proporciona mais área superficial
para os processos metabólicos que ocorrem por difusão. As formas de água doce apresentam
uma dessas vesículas que é chamada vacúolo contrátil, em que esses eliminam seus conteúdos
para o exterior como uma forma de equilibrar as concentrações de soluto dentro e fora da célula.

Sustentação e locomoção
Novamente, um protista desenvolve todas suas funções vitais por meio de uma única célula.
Assim, sua superfície celular precisa prover condições que lhes conferem proteção e manterão a
integridade celular. A membrana celular exerce essa função de barreira física e química e permite
flexibilidade na forma. Mas muitos organismos protistas podem apresentar um espessamento
dessa membrana, formando uma película, ou ainda, secretam escamas ou uma cobertura
que lembra uma concha chamada teca, permitindo, assim, que os formatos corpóreos sejam
mantidos constantes (formas esféricas, radiais).
A locomoção se dá através de estruturas como pseudópodes, cílio, flagelos presentes na
superfície da célula e auxiliam esses organismos nos movimentos de puxar ou empurrar.

Nutrição
Protistas podem ser autótrofos, heterótrofos e alguns podem ser ambos. Os que são
fotossintéticos possuem cloroplastos, organelas celulares responsáveis pela fotossíntese.
Os organismos heterótrofos adquirem alimento através da interação entre a superfície celular
e o ambiente circundante. Nesse caso, os heterótrofos podem ser classificados em saprotróficos,
ou seja, absorvem matéria orgânica através de processos como difusão, transporte ativo e
pinocitose, ou ainda, podem ser holozóicos, quando se alimentam de substâncias sólidas pelo
processo de fagocitose. Protistas heterótrofos são também simbiontes de outros organismos, ou
seja, vivem associados dentro ou fora desses outros seres vivos.

Atividade e sensibilidade
O comportamento de resposta nesses organismos está ligado à condutividade do protoplasma
ou pode envolver organelas especializadas.

Protoplasma é uma “parte” da célula. Seus principais constituintes são as proteínas, carboidra-
tos, lipídeos, substâncias minerais e água.

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Muitos possuem sensibilidade ao tato, o que é demonstrado através de reações de locomoção
nos organismos móveis e evitação em formas sésseis. Estruturas tipicamente ligadas a esses
comportamentos são cílios e flagelos que são sensíveis ao tato e, quando estimuladas param de
bater ou começam a bater em um padrão de movimento que permita ao protista se distanciar
do ponto de estímulo.

Alguns protistas apresentam uma estrutura denominada extrussomo. São organelas com funções
como proteção, captura de alimento e secreção e que liberam suas substâncias quando subme-
tidas a um estímulo.

Os protistas que realizam fotossíntese possuem o que é chamado de taxia positiva, quando
as intensidades de luz são baixas ou amenas e a intensidade luminosa é alta, possuem taxia
negativa. Estruturas sensíveis à luz, os chamados ocelos ou estigmas, são encontrados na região
anterior desses organismos, mas em alguns casos, ocorrem associados aos cloroplastos.

Reprodução
A grande diversidade e sucesso dos protistas se dá pela variedade de formas, tamanhos, e
também de maneiras de se reproduzir dentro desse grupo.

Protistas se reproduzem de maneira sexuada ou assexuada, muitos apresentam alternância entre


essas duas formas (espécies parasitas), com muitas divisões assexuadas e a curta fase sexuada.

Dentre a variedade de estratégias reprodutivas encontradas nesses organismos, algumas


das formas de reprodução assexuada são fissão binária, fissão múltipla e brotamento. Fissão
binária é quando uma única divisão mitótica origina duas células –filhas. Na fissão múltipla, o
núcleo sofre várias divisões antes da divisão do citoplasma (citocinese) o que resulta em muitas
células-filhas. O brotamento é denominado plasmotomia e consiste na divisão de um organismo
multinucleado em duas células-filhas multinucleadas.

Considerando-se a reprodução sexuada, sabe-se que ela garante uma maior variabilidade
para os organismos. Assim, protistas não ficaram para trás nessa questão. Como os animais em
geral, eles também fazem meiose para gerar gametas haploides que irão se encontrar para gerar
um organismo diploide. Em protistas, a produção e a fusão de gametas é chamada singamia e
as células responsáveis pela produção dos gametas chamadas gamontes. Além dessa forma, a
reprodução sexuada pode se dar através de conjugação, em que a mistura do material genético
se dá pela troca do material nuclear dos parceiros e, também, pelo processo de autogamia, onde
se forma um novo núcleo no interior de um indivíduo.

Daqui em diante, veremos os principais filos de protistas, seus planos corpóreos e quais suas
importâncias econômicas e ecológicas.

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Unidade: Padrões corporais, classificação e filogenia e protistas

Filo Euglenida
Os organismos pertencentes a esse filo ocorrem em água doce e algumas espécies marinhas e
de água salobra também são conhecidas. Possuem forma alongada, esférica, elíptica ou foliácea
e um dos organismos mais conhecidos do filo é a Euglena sp. (figura abaixo).

Figura 4 - Euglena sp.

Fonte: http://protist.i.hosei.ac.jp/pdb/images/mastigophora/euglena/viridis/viridis_6.html

De maneira geral, o filo Euglenida apresenta o formato celular mantido por uma película
constituída de proteína, a maior parte deles apresenta dois flagelos para locomoção, sendo esses
flagelos de tamanhos desiguais.
Alguns componentes desse filo são utilizados como organismos indicadores da qualidade da
água, pois são encontrados em corpos de água com grande quantidade de matéria orgânica em
decomposição. Também há registros de que algumas espécies de Euglenas são utilizadas para
tratamento de água e de que retiram metais pesados (Magnésio, ferro e zinco) dos efluentes.
Mas alguns são considerados pragas ambientais por produzirem substâncias tóxicas causando
grande mortalidade de peixes em alguns lugares.

Filo Kinetoplastida
A conformação celular é também mantida por uma película e apresenta dois flagelos para
locomoção. Dentro do filo, há dois subgrupos denominados bodonídeos e tripanossomos.
Bodonídeos possuem vida livre em ambientes marinhos e de água doce ricos em material
orgânico. Tripanossomos são essencialmente parasitas, encontrando-se no trato digestivo de
invertebrados, sangue de vertebrados e vasos do floema de algumas plantas.

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Figura 5 - Organismos do filo Kinetoplastida. Foto (A) Leishmania e foto (B) Trypanossoma.

Fontes: http://www.uwlax.edu/biology/Zoo-Lab/Lab-03/Leishmania.htm
https://microbewiki.kenyon.edu/index.php/Membrane_proteins_as_mechanisms_of_immune_system_evasion_in_Trypanosoma_brucei.

Os integrantes desse filo são conhecidos por ocasionar doenças em humanos e animais
domésticos. A Leishmania é responsável por causar a leishmaniose, doença causada pela picada
dos mosquitos biriguis, calazar (infecção que afeta o baço) e botão-do-oriente (furúnculos na pele).
Membros do gênero Trypanossoma também são parasitas. T. brucei, por exemplo, atacam
animais domésticos como cachorro, cavalos e gado. T. gambiense e T. rhodesiense. São os
causadores da chamada doença do sono em humanos, na qual os parasitas caem na corrente
sanguínea a partir da saliva da mosca Tsé-tsé. Quando no sangue, deslocam-se até o sistema
linfático até chegar no líquido cerebrospinal. T. cruzi é o causador da doença de chagas, sendo
transmitido para os humanos através dos chamados barbeiros, insetos hemípteros. Esses se
alimentam de sangue, picando geralmente próximo a boca e, depois de se alimentarem,
defecam deixando para trás o estágio infestante, que invade o corpo através das mucosas ou
da ferida aberta pelo inseto.

Filo Ciliophora (os ciliados)


São encontrados em ambientes de água doce, marinhos, água salobra e solos úmidos. Podem
ser errantes, sésseis, ecto ou endossimbiontes e várias espécies são parasitas. A importância
desse filo é a de que são endossimbiontes de animais ruminantes como gado, ovelhas e cabras.
Eles encontram-se no trato digestivo desses animais, onde se alimentam dos vegetais ingeridos
por eles e transforma-os em uma forma que pode ser absorvida pelo animal.

Figura 6 - Balantidium coli, parasita de humanos, com grande visibilidade dos cílios
ao redor da célula, utilizados para locomoção.

Fonte: Oregon State Public Health Laboratories.

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Unidade: Padrões corporais, classificação e filogenia e protistas

Alguns são parasitas de peixes e, pelo menos uma espécie (Balantidium coli), é parasita de
humanos. Tetrahymena e Colpidium são gêneros utilizados para experimentos de avaliação dos
efeitos de produtos químicos em protistas, além do que, outras espécies também são utilizadas
como indicadoras da qualidade da água.

Figura 7 - Tetrahymena (A) e Colpidium (B).

Fonte: Richard Allen’s Image Collection.

Figura 8 - Paramecium, protista ciliado bastante conhecido e utilizado em experimentos


laboratoriais.

Fonte: http://protist.i.hosei.ac.jp/pdb/images/ciliophora/paramecium/caudatum/intactcells/sp_04.html

Filo Apicomplexa
Os componentes desse filo são todos parasitas e possuem um conjunto de organelas localizadas
na extremidade anterior da célula chamado complexo apical. A função desse complexo apical
é a de prender o parasita na célula hospedeira, liberando uma substância que promoverá a
invaginação da membrana do hospedeiro, englobando o parasita, levando-o para dentro do
citoplasma em um vacúolo.
Protistas apicomplexa são conhecidos por ocupar tratos digestivos e cavidades do corpo de
invertebrados como anelídeos, sipuncúlidos, tunicados e artrópodes e, também, de vertebrados.
Nesse caso, encontram-se no trato digestivo desses animais, mais especificamente no interior das
células epiteliais, sendo muitos deles causadores de doenças, tais como coccidiose em coelhos,
gatos e aves, toxoplasmose e malária em humanos.

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Uma das doenças mais conhecidas ocasionada por organismos desse filo é a malária, causada
pelo Plasmodium. Sua ocorrência foi bastante reduzida durante a década de 60, porém tem
aumentado nas últimas décadas em função do crescimento de linhagens resistentes a inseticidas
do mosquito Anopheles (vetor do Plasmodium). Cryptosporidia e Toxoplasma também têm sido
motivo para estudos, pois afetam pessoas com AIDS e imunodeprimidas.

Figura 9 - Plasmodium (A) e um mosquito Anopheles (B), sendo o primeiro causador da


malária e o mosquito, seu vetor.

Filo Dinoflagellata
Organismos desse filo são comuns em ambientes aquáticos, sendo que mais de 90% das
espécies estão presentes no mar. Muitas das espécies realizam fotossíntese, sendo muito
importantes para a produção primária. A maior parte é unicelular, mas alguns podem formar
colônias multicelulares.
O formato celular desses organismos é caracterizado pela presença de dois flagelos que giram
ou rodam quando a célula se move.

Figura 10 - Dinoflagellata Gonyaulax.

Fonte: http://www.sonoma.edu/newscenter/2011/10/toxic-bloom-mystery-may-be-answered-by-ssu-grad-students-seawater-samples.html

Importantes organismos pertencentes a esse filo e que são bastante conhecidos são as
zooxantelas. Elas se alojam em um hospedeiro invertebrado ou protista, sendo imóveis quando
nessa condição ou podem ser móveis em alguns períodos. Dentre as zooxantelas estão as
Zoochlorella (vivem em simbiose com alguns organismos de água doce), Symbiodinium (vivem
em simbiose com cnidários) e Zooxanthella (vivem em simbiose com protistas radiolários).

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Unidade: Padrões corporais, classificação e filogenia e protistas

As conhecidas zooxantelas simbiontes de corais pertencem às espécies Symbiodinium. Quando


em simbiose com os corais, esses organismos fotossintéticos fornecem nutrientes e auxiliam na
criação de um ambiente químico ideal para secreção do esqueleto de carbonato de cálcio.
Outra característica muito importante dos Dinoflagellata é que espécies planctônicas,
quando aumentam muito sua população, são causadoras do fenômeno da maré vermelha.
Esse fenômeno é caracterizado pela presença de uma faixa de água do mar com coloração entre
laranja e rosa devido à presença de dinoflagelados, sendo a causa principal desse aumento
populacional desses protistas a presença de poluentes orgânicos.
Outras espécies ainda são muito tóxicas como Alexandrium spp., Gymnodinium catenatum
e Pyrodinium bahamense e produzem a saxitoxina. Essa toxina bloqueia a bomba de sódio-
potássio nas células nervosas, impedindo a transmissão normal dos impulsos nervosos.
Comedores de suspensão como alguns moluscos, comendo esses organismos, acumulam essas
substâncias e ficam intoxicados podendo, assim, intoxicar os animais que se alimentarão deles,
inclusive humanos.

Filo Stramenopila
Os importantes constituintes desse filo são as diatomáceas, algas pardas e douradas. São
encontrados em água doce e marinha, solos úmidos, gelo e neve.
Esses organismos produzem escamas de calcita ou de sílica, carapaças, cistos ou testas que
ficam preservadas no registro fóssil. Diatomáceas têm grande importância por promoverem a
ciclagem da sílica contribuírem para a fixação do carbono.
Das algas pardas pode ser extraída a algina, utilizada pela indústria para produção de tintas,
alimentos e produtos cosméticos. Também bastante útil são as carapaças de sílica de diatomáceas
mortas. Elas acumulam-se no solo marinho e são utilizadas em tintas, material de filtro para
produção de alimentos e para purificação da água.

Figura 11 - Diatomáceas.

Fonte: http://photography.nationalgeographic.com/staticfiles/NGS/shared/Staticfiles/photography/Images/Content/
Star-shaped-diatom-527175-xl.jpg

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Filo Rhizopoda (Amebas)
A maioria é de vida livre, mas também há espécies endossimbiontes até mesmo patogênicas
podendo ser encontradas em qualquer ambiente úmido. Alguns são comensais de animais
aquáticos e outros são parasitas de diatomáceas, peixes, moluscos, artrópodes e mamíferos.
Esse filo tem como característica comum a de formar extensões do citoplasma que são
chamadas pseudópodes, utilizados na alimentação e locomoção. As espécies de vida livre não
apresentam riscos para outros animais, porém das espécies endossimbiontes, algumas são
consideradas parasitas.
As espécies Endolimax nana, Entamoeba coli e Iodamoeba buetschlii encontram-se associadas
ao intestino grosso de humanos.
Entamoeba histolytica é a responsável pela disenteria amebiana, doença que leva à destruição
das células que revestem o intestino. Naegleria fowleri é causadora da meningite amebiana,
ocasionando morte porque debilita o cérebro.

Figura 12 - Ameba e suas expansões do citoplasma, os denominados pseudópodes.

Fonte: https://microbewiki.kenyon.edu/index.php/Ameba

Filo Actinopoda
Os componentes desse filo são os Radiolaria, Phaeodaria, Heliozoa e Acantharia. Uma
característica do filo é a de que muitos apresentam esqueletos de sílica que permanecem bem
preservados no registro fóssil. São encontrados no ambiente de água doce e no marinho. Esse
filo também apresenta pseudópodes denominados axópodes e que funcionam para alimentação
e locomoção.
Um dos aspectos importantes desses organismos é que através da natureza de seus esqueletos
(sulfato de estrôncio) podem ser utilizados na medição da radioatividade presente nos locais.

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Unidade: Padrões corporais, classificação e filogenia e protistas

Figura 13 - Actinopoda.

Fonte: Linden Gledhill.

Filo Granuloreticulosa (Foraminifera e outros)


São encontrados em ambientes aquáticos em geral. Dois grupos compõem o filo: Athalamida
e Foraminiferida. Esses últimos, também chamados foraminíferos, têm como característica a
presença de uma testa, que constitui um importante registro fóssil desses organismos.

Figura 14 - Foraminíferos.

Fonte: http://www.taxateca.com/filogranuloreticulosa.html

Filo Diplomonadida
Os integrantes desse filo são flagelados e essencialmente simbiontes, mas alguns são de vida
livre, estes sendo encontrados em águas poluídas. A grande maioria vive no trato digestivo de
animais sem causar danos.
Alguns dos componentes desse filo como o Hexamida salmonis é conhecido como parasita
de peixe e H. meleagridis é encontrado em criações de peru.
A Giardia intestinalis é um parasita humano bastante conhecido e causador de diarreia,
desidratação e dores no intestino.

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Figura 15 - Giardia lamblia.

Fonte: http://www.trinitybiotech.com/PointOfCare/Pages/giardia.aspx?ProductNumber=1206610&Filter=*1206610*

Filo Chlorophyta
Há ainda discussões acerca da classificação das clorófitas. Alguns especialistas a classificam
como plantas outros como protistas, mas como muitas apresentam plano corpóreo semelhante
ao de organismos desse filo que estamos estudando (protistas) e pelo fato de algumas serem
multicelulares são estudadas dentro de protistas.
A maior parte dos organismos pertencentes a esse filo são caracterizadas por conter cloroplastos
de coloração verde e, por esse motivo, também são denominadas algas verdes. Os gêneros mais
conhecidos são Chlamydomonas, Eudorina e Volvox. Volvox é uma clorófita unicelular que
forma colônia. Nessa conformação, cada célula contém seu núcleo, um par de flagelos e um
cloroplasto e um estigma. A ligação entre as células é feita através de pontes do citoplasma, e
uma peculiaridade dessa formação é que apenas algumas das células são responsáveis pela
reprodução. Dessa forma, já podemos observar um direcionamento à multicelularidade nesses
organismos, onde já há uma divisão de tarefas.
Algumas linhagens perderam a capacidade de fazer fotossíntese; então, desenvolveram a
heterotrofia dependente de matéria orgânica em decomposição.

Figura 16 - Volvox.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/algreer/17087738/

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Unidade: Padrões corporais, classificação e filogenia e protistas

Material Complementar

Para complementar os conhecimentos adquiridos nessa unidade, leia também:

Capítulos 9, 10 e 11 do livro: JR, C.P.H.; ROBERTS, L.S.; LARSON, A.


Princípios integrados de Zoologia. 11ªedição. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004.

Capítulo 5 do livro: BRUSCA, R.C.; BRUSCA, G.J. Invertebrados. 2ªedição.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

Capítulo 3 do livro: RUPERT, E.E.; FOX, R.S.; BARNES, R.D. Zoologia dos
invertebrados. 4ª edição. São Paulo: Roca, 2005.

Capítulo 1do livro: GILBERT, S.F. Biologia do desenvolvimento. Ribeirão


Preto: FUNPEC, 2002.

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Referências

BRUSCA, R.C.; BRUSCA, G.J. Invertebrados. 2ªedição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2007.

JR, C.P.H.; ROBERTS, L.S.; LARSON, A. Princípios integrados de Zoologia. 11ªedição.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.

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Unidade: Padrões corporais, classificação e filogenia e protistas

Anotações

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