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Sistemática dos Seres

Vivos
Considera-se que o número de espécies de seres vivos que existem na
Terra pode estar compreendido entre 5 e 100 milhões.
Este valor representa uma fração da biodiversidade que existiu.

Perante tal biodiversidade os biólogos


sentiram necessidade de os
classificar, agrupando-os de acordo
com determinados critérios.
Dessa tentativa de “organizar” os
seres vivos surgiu a
Sistemática.
♦Ciência que faz o estudo
científico dos seres, das suas
relações evolutivas e desenvolve
sistemas de classificação que
refletem essas relações.

Dentro da Sistemática existe um ramo especializado da


classificação dos seres vivos e da nomenclatura (atribuição dos
nomes) que se designa de Taxonomia.
Sistemática = Taxonomia + Biologia
Evolutiva

A Sistemática encontra-se
em constante atualização
já que novos dados são
descobertos todos os dias
que levam a novas
reinterpretações dos
seres vivos e das suas
relações evolutivas.
Sistemas de Classificação

Os sistemas de classificação não são algo que a natureza tenha


originado, surgem de uma necessidade humana de “arrumar a casa”.

Como tal existe uma grande


multiplicidade de sistemas de
classificação.

Um bom sistema de classificação deve assentar em bons critérios.


Classificações Práticas
Uso imediato.
Propriedades que tinham interesse para os humanos.
Satisfação de necessidades básicas.

Desde sempre o Homem agrupou os seres


vivos.

Quando os Homens primitivos distinguiam


animais venenosos de animais não
venenosos, comestíveis ou não comestíveis e
plantas com valor económico ou sem valor.

Isto são formas de classificar.

No entanto estas classificações baseiam-se na


utilidade dos seres vivos para o Homem,
normalmente alimentação, defesa ou valor
económico.

Estas classificações denominam-se de Classificações


Práticas.
A sedentarização do Homem levou a que estes tivessem outras
preocupações além das que se os animais eram ou não perigosos.

Dedicou-se então ao estudo das características dos seres vivos, sendo


que na antiga Grécia, Aristóteles, foi um dos primeiros a desenvolver
um sistema de classificação que procurava agrupar os seres vivos de
acordo com critérios morfológicos e fisiológicos.
A Sistemática teve um grande impulso no século XVII, com Carl Von
Linné (1707-1778), um botânico.

Tanto os sistemas de classificação de


Aristóteles e de Lineu são
considerados sistemas de
classificação racionais já que têm
uma base racional, pois utilizam
características dos seres vivos em
estudo.

Alguns sistemas de classificação racionais baseiam-se num pequeno


número de características, pelo que se formam grupos muito
heterogéneos. São constituídos por indivíduos que diferem em muitas
outras características.

Nesse caso designamos este processo de sistemas de


classificação artificiais.
Eram os casos dos sistemas de Aristóteles e Lineu
Nas classificações artificiais como os caracteres são escolhidos
arbitrariamente, ignorando todos os outros, e são em pequeno
número, ficam reunidos no mesmo grupo organismos pouco
relacionados entre si.

Este tipo de classificação é característico do período pré-


lineano das classificações.

Na realidade podemos distinguir quatro períodos nas


classificações:
Pré-Lineano
Pós-Lineano
Pré-Darwiniano
Pós-Darwiniano
Com a descoberta de novas terras houve também a descoberta de
novos animais e plantas, pelo que sentiu-se a necessidade de
desenvolver novas classificações que assentassem no maior número de
características.

Estas classificações denominam-se classificações naturais, no


entanto são pós-lineanas mas pré-darwinianas, logo não têm em conta
a vertente evolucionista.
Nas classificações naturais os grupos formados reunem
organismos com maior grau de semelhança.

Este sistema de classificação é por vezes complicado de


efetuar uma vez que para tal é necessário conhecer de forma
pormenorizada as características dos indivíduos.
Até ao século XVIII, no entanto, imperavam as ideias fixistas, e
portanto as classificações refletiam esta ideologia, não levavam a
filogenia em conta.
Filogenia – estudo das relações evolutivas dos seres vivos.

Eram classificações estáticas que privilegiavam as características


estruturais, não tendo em conta o fator tempo.

Assim consideram-se estas classificações horizontais ou


fenéticas, pois apenas se baseiam em caracteres diretamente
observáveis.
Com Darwin os sistemas de classificação levam nova reestruturação,
tem que se contar com o fator tempo.

Os seres vivos evoluem, mudam são dinâmicos.

Estes novos sistemas de classificação que tentam organizar os


indivíduos segundo os seus graus de parentesco são ditas
classificações evolutivas ou filogenéticas.

Mas também como levam em linha de conta o fator tempo


dizem-se classificações verticais, filogenéticas ou filéticas.
Sendo características do período pós-darwiniano.
Dentro destas existem as classificações cladísticas.
As relações eram representadas por cladogramas.

As características utilizadas para a criação dos cladogramas eram


divididas em dois grupos distintos.
Um em que as características primitivas ou ancestrais eram partilhadas
por um grupo de organismos que descendiam de um ancestral comum em
que essas características estavam presentes.

Outro era baseado nas características derivadas que estavam presentes nos
indivíduos de uma linhagem mas não estavam presentes no ancestral dessa
linhagem, o que mostra ter havido separação de um novo ramo ou grupo de
indivíduos.
Outro tipo de classificação filética é a classificação evolutiva.

Conciliam critérios filéticos e fenéticos.

Os organismos são agrupados por grau de parentesco.

São utilizados todos os tipos de dados…

Citológicos, Embriológicos, Genéticos, Bioquímicos, Fenéticos…

Estas classificações são representadas por árvores filogenéticas


ou árvores evolutivas.
O grau de semelhança entre os grupos reflete o tempo em que a
divergência ocorreu, sendo essa divergência tanto maior quanto maior
for o tempo que decorreu.
Para a construção destas árvores recorre-se ao maior
número de características:
Fósseis;
Semelhanças estruturais;
Dados Bioquímicos;
Embriologia…
Os sistemas de classificação atuais
ainda refletem a influência dos
trabalhos de Lineu.

Os estudos de Lineu foram publicados


sobre o nome de Systema Naturae.

Neste sistema os seres vivos são


agrupados em dois grandes grupos, os
Reinos, que se subdividem em diversas
subcategorias cada vez mais específicas.
De outra perspetiva o modelo lineano de ordenação dos seres vivos é
feito de um modo ascendente a partir da espécie.
Constitui um sistema hierárquico de classificação.
Apresenta 7 níveis.
taxonómicas Taxa
Na hierarquia das classificações biológicas, cada uma das categorias
taxonómicas é também conhecida como taxon (taxa no plural).

Além das sete taxa principais, os investigadores utilizam categorias


intermédias, que se diferenciam pelos sufixos super, sub e infra.

Por exemplo no filo Chordata, distingue-se o subfilo Vertebrata.

Género
A espécie constitui a unidade básica de classificação, sendo
constituída por um grupo natural de indivíduos
morfologicamente semelhantes e que partilham o mesmo
fundo genético, cruzando-se entre si e originando
descendência fértil.

taxonómicas Taxa
Os indivíduos de espécies diferentes não se
cruzam normalmente entre si, isto é,
encontram-se isolados reprodutivamente.

A formação de grupos taxonómicos depende


do julgamento humano, pois não existe
nenhuma característica biológica que os
delimite objetivamente.

Assim espécies semelhantes agrupam-se


num Género, por sua vez Géneros
semelhantes agrupam-se numa Família…
Cada taxon está inserido no que lhe fica imediatamente acima e
contem todos os que lhe ficam abaixo.

Assim dois indivíduos são tanto mais semelhantes quantos mais taxa
partilharem.

Por outras palavras, dois indivíduos são tanto mais semelhantes


quanto mais restrito for o taxon que se encontram.
O uso dos nomes vulgares nos seres vivos acarreta um problema no
mundo das ciências.

A diversidade de línguas no planeta e mesmo a diversidade cultural


dentro de cada país faz com que cada ser vivo possa ter diversos
nomes, dependendo do local.

Portugal: Pirilampos
Brasil: Vaga-lume
Inglês: Fireflies (Moscas do fogo) Libelinha/Tira-
olhos/Lavadeira/Libélula Helicóptero/Papa-
fumo/Cavalinho-do-judeu Dragonflie (Mosca
dragão)
género
Taxa
género
Reinos da Vida
Desde Aristóteles até meados do século XIX que os seres vivos
dividiam-se em dois Reinos: Plantae e Animalia.

Plantae – abrange uma grande diversidade de organismos:


seres vivos fotossintéticos, sem locomoção e sem ingestão;
bactérias e fungos.
Animalia – abrange seres não fotossintéticos que têm
locomoção e obtêm os alimentos por ingestão. Incluem:
seres unicelulares (protozoários) e seres multicelulares
(metazoários).
Em 1866, Ernest Haeckel, após o desenvolvimento do
microscópio e da descoberta de seres microscópicos, propõe
um terceiro reino, o Reino Protista.

Este reino incluía formas mais primitivas e ambíguas como


bactérias, protozoários e fungos, cujas características não
são claramente de animais nem de vegetais.
Já no século XX, Herbert Copeland, propõe um sistema dividido em
quatro reinos, onde se acrescentaria o Monera.

O Reino Protista abrangia muitos seres vivos, misturando por vezes seres vivos
que nada tinham uns com os outros.

Houve então necessidade de separar alguns dos seres vivos do Reino Protista.

A criação do Reino
Monera, fez com que se
separassem as
bactérias dos restantes
seres vivos do Reino
Protista.

Assim o Reino Monera


incluía todos os seres
procariontes (bactérias).

No Reino Protista estavam


todos os seres eucariontes
unicelulares.
Na década de 60 do século XX, devido, principalmente, aos
conhecimentos obtidos por técnicas bioquímicas e pela
microscopia eletrónica, desenvolveu-se um novo sistema de
classificação.

Em 1969 Whittaker desenvolveu um sistema de cinco reinos.

Tendo sido adicionado o Reino Fungi, onde figuram os fungos


que antes faziam parte do Reino Plantae.
A classificação de Whittaker assentava nos seguintes critérios:

Nível de organização celular

Considera o tipo de organização celular, procarionte ou


eucarionte, e se há unicelularidade ou multicelularidade.

Tipos de nutrição

Tem como base o processo de obtenção do alimento.

Interações nos ecossistemas

Os tipos de nutrição relacionam-se com as interações


alimentares que os organismos estabelecem nos
ecossistemas.
Níveis de organização celular

Estrutura celular procariótica – Reino Monera


Estrutura celular eucariótica – os restantes reinos.

Tipos de nutrição

Reino Monera – fotoautotróficos, quimioautotróficos e heterotróficos


(não existe ingestão neste reino).

Reino Protista – heterotróficos por absorção ou ingestão,


fotossintéticos.

Reino Plantae – fotossintéticos.

Reino Fungi – heterotróficos por absorção.

Reino Animalia – heterotróficos por ingestão.


Classificação de Whittaker 1969
A classificação de Whittaker de 1969 representa um importante
desenvolvimento face às anteriores, já que entre outras razões se
encontra de acordo com a interpretação da estrutura e funcionamento
dos ecossistemas.

No entanto esta classificação apresentava limitações, algumas das


quais indicadas mesmo pelo próprio autor.

Um deles era relativo à separação entre eucariontes unicelulares e


os eucariontes multicelulares.

As algas verdes por exemplo incluem seres unicelulares, coloniais e


multicelulares, logo podiam ser incluídas em dois Reinos (Protista e
Plantae).
Classificação de Whittaker 1979
Assim em 1979, Whittaker refaz o seu sistema.
As principais alterações ocorreram no Reino Protista.
Tendo passado este Reino a englobar grupo de seres flagelados e todas as algas,
quer as unicelulares como as multicelulares.
Assim o Reino Protista passou a conter, também, seres eucariontes
multicelulares, embora com baixo grau de diferenciação.
Dessa forma alguns autores defendem que o reino se deveria denominar de
Reino Protoctista.
A interação de todos os seres vivos dos cinco reinos, e as suas relação bióticas
permitem o normal funcionamento do Ecossistema.
Os Domínios da Vida

Nenhum sistema de classificação é definitivo, e


com o progressivo desenvolvimento das
técnicas biológicas, grupos que aparentavam
ser naturais afinal não são.

Um dos reinos menos alterado era o Reino


Monera… Porque!?
Em 1970, Carl Woese, baseando-se em estudos de
sequenciação de RNA ribossómico propôs que existem
basicamente dois grupos distintos de procariontes:

Arquebactérias e Eubactérias.
Presentemente, a maioria dos sistematas usam um nível
superior ao reino, chamado Domínio, baseado em diferenças
moleculares entre arquebactérias, eubactérias e eucariontes.

Segundo esta classificação existem duas linhagens nos


procariontes.

Essas linhagens terão divergido muito cedo na história


evolutiva dando origem ao Domínio Bacteria, onde se
encontram as Eubacteria, e ao Domínio Archaea, onde se
encontram as Archaebacteria.

É da linhagem das Archaea que evolui o Domínio Eukarya,


com os reinos Protista, Plantae, Fungi e Animalia.
Eucarya

Bacteria

Archaea

Sistema de classificação em 3 domínios de Woese (1990)


Baseado, essencialmente, em comparações de sequências de RNA
ribossómico, Woese e seus colegas concluíram que os procariontes não
eram um grupo coeso do ponto de vista evolutivo, mas antes composto
por dois subgrupos principais, cada um dos quais difere entre si e dos
eucariontes.
Sistemática em aberto…
Como se pode ver a Sistemática é uma ciência que não parou, muito
pelo contrário continua em constante progresso.

Uma vez que todas as árvores filogenéticas são hipóteses, e que os


sistemas de classificação se baseiam atualmente nesta perspetiva
então, também todas as classificações são hipotéticas.

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