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HOMEOPATIA

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA
TEORIA MIASMÁTICA
JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO
Cond. Recanto do Vale
Gravatá PE Brasil
E-mail : thot@elogica.com.br
thot@hotlink.com.br
HOMEOPATIA
CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA
TEORIA MIASMÁTICA
4a Edição
Revisada e Ampliada

JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO


Médco Homeopata
Curso de Homeopatia na Argentina, França e São Paulo
Só uma classe de homens não erra:
a dos que nada produzem.

Fontana
À minha esposa Antonia Nunes.

Aos meus filhos:


lOÃO PAULO, LEI/A SiMONE, ÍRIA FERNANDA.
AGRADECIMENTOS

Aos Grandes Mestres que me orientaram


Aos colegas:
Professora Dra. ANA R. KOSSAK
Professor Dr. DAVID CASTRO
Dr. MATIIEUS MARIM
D1: CARLOS ARMANDO DE MOURA RIBEIRO
D. FELIX BARBOSA
Dr. ARTIIUR DE ALMEIDA REZENDE FILHO
Dr. MILTON GODOY
Dr. NICOLA TOMMASINO
pelas críticas construtivas
À bibliotecária ALDA COSTA GOMES

Ao jornalista e escritor CYL GALLINDO


pela grande contribuição
na organização e edição deste livro.
Brief discription - Sumary

Thc author sces the Miasms just as a physiological


rcation produced by the organism against thc
"Noxa ", Myasma would simply be a series r~l symp-
toms duc to natural e mechanisms of the organism
cspccially elimination, ncutralization, compcnsation,
and cicatrization. Miasm is mercly lrfÍ organic statc
resulting jimn thc mcchanisms of cure .
.ur
SUMÁRIO

Prológo ................................................................................................ 13
Prefácio Ia Edição ............................................................................. 15
Prefácio 2• Edição .............................................................................. 19
Prefácio 3• Edição .............................................................................. 21

I - Interações Entre as Unidades Biológicas .......................................... 23

2 - A Consciência das Unidades Biológicas ........................................... 33

3 - Princípios da Unidade Orgânica ........................................................ 45

4 - A Doutrina Miasm<ltica ...................................................................... 59


Primeiro Paradoxo: O Terreno ................................................. 68
Segundo Paradoxo: O Contágio ............................................... 71
Terceiro Paradoxo: A Cura ....................................................... 72

5 - A Força Vital ....................................................................................... 75

6 - A Psora ................................................................................................ 85
Área Mental ............................................................................... 89
Área Somática ............................................................................ 92
Primeira característica da Psora: Alternância de
Sintomas de um Emunctório para outro ...................... 92
Área Digestiva ........................................................................... 95
Segunda Característica da Psora:
Tendência às Verminoses .............................................. 97
Pele ............................................................................................. 99
Terceira Característica da Psora:
Pele Doentia .................................................................. 99
Quarta Característica da Psora:
Tendência às Parasitoses Dérmicas .............................. 99
Quinta Característica da psora:
Prurido Cutâneo ........................................................... 100
Mucosas .................................................................................... 1O1
Centro Termorregulador .......................................................... 101
Sexta Característica da Psora:
Labilidade do Sistema Termorregulador (febre) ....... 101
Aparelho Cardiovascular ......................................................... 102
Sistema Nervoso ....................................................................... 103
Sétima Característica da Psora:
Cansaço Mental, Fadiga e "Surmenage" ................... I 03
Causas da Psora ...................................................................... 104
Tratamento da Psora ............................................................... I I O
Nona Característica da Psora:
Maus Efeitos das Supressões ...................................... 11 O
Característica das excreções psóricas .................................... 116

7 - A Sicose ............................................................................................ 117


Área Mental ............................................................................. 120
Características da Sicose:
Desconfiança, Segredo e Mentira ............................... 121
Característica da Sicose: Idéias Obsessivas ............... 122
Característica da Sicose: Agressividade ..................... 122
Característica da Si cose: Estado Depressivo ............. 122
Característica da Sicose: Perversão de Função ......... 123
Área Somática .......................................................................... 125
Característica da Sicose: Perversão de Função ......... 125
Característica da Sicose: Estado Hidrogenóide ......... 126
Característica da Sicose: Sensibilidade à Umidade .. 126
Característica da Sicose: Derrames ............................ 126
Característica da Sicose: Formação de Concreções .. 126
Característica da Sicose:
Proliferações Tissulares Benignas .............................. 127
Mucosas .................................................................................... 128
Aparelho Respiratório ............................................................. 130
Sinóvias .................................................................................... 130
Sinus ......................................................................................... 131
Pele ........................................................................................... 131
Característica da Sicose: Afecções Cutâneas, Acne .. 131
Característica da Sicose: Presença de Verrugas ........ 131
Causas da Sicose ..................................................................... 132

8 - O Sifilinismo ..................................................................................... 139


Área Mental ............................................................................. 142
Sistema Vascular ...................................................................... 147
Sistema Linfoganglionar .......................................................... 148
Epitélios .................................................................................... 148
Sistema Ósseo .......................................................................... 149
Pele ........................................................................................... 149
Causas do Sifilinismo .............................................................. 151

9- O Cancerinismo ................................................................................ 157


Área Mental ............................................................................. 163
Área Somática .......................................................................... 165
Causas do Cancerinismo ......................................................... 168
Tratamento do Cancerinismo .................................................. 172

10 -Associações Miasmáticas ................................................................. 175


Intensidade da Noxa .................................................... 177
Especificidade da Noxa .............................................. 178
Bloqueios dos Dispositivos de Eliminação ................ 179
O Tuberculinismo ..................................................................... 181
Cabeça .......................................................................... l83
Sistema muscular ........................................................ 184
Mente ........................................................................... 184

11 - Classificação Mi asmática de Sintomas ........................................... 187


Psora ...................................................................................... 190
Área Afetivo/Emotiva .................................................. 190
Excitação Psíquica e/ou Fisiológica .......................... 190
Svcosis ...................................................................................... 190
. Área Volitiva ................................................................ 190
Syphilinismo ............................................................................. 191
Área Intelectiva ........................................................... 191

12 - Análise Miasmática de Medicamentos ........................................... 197


Sintomas de Psorinum ............................................................. 201
Gerais ........................................................................... 201
Particulares .................................................................. 20 I
Verrugas Peribucais ..................................................... 202
Sintomas de Suifur ................................................................... 203
Mentais ......................................................................... 203
Gerais ........................................................................... 205
Particulares .................................................................. 205
Sintomas de Thuya ................................................................... 205
Mentais ......................................................................... 205
Particulares .................................................................. 206

13 - Doenças Crônicas - Teoria Miasmática .......................................... 207


Interpretação Fisiopatológica ................................................. 209

14 -Conclusões ......................................................................................... 223


Intensidade da Noxa ................................................................ 225
Especialidade da Noxa ............................................................ 227
Bloqueios dos Dispositivos de Eliminação ............................ 227
Bloqueios Físico-químicos .......................................... 228
Bloqueios de Natureza Emocional ............................. 228
Bloqueios por "Amnésia de Função" ......................... 228
Bloqueios por Perturbações nas Vias de Interação ... 229
Bloqueios por Dissintonia ........................................... 229
Bloqueios Congénitos ................................................. 230
Bloqueios Gestacionais ............................................... 230
Bloqueios por Memória Hereditária .......................... 231
Contágio ................................................................................... 236
Hereditariedade ....................................................................... 236
Tratame11 to ................................................................................ 23 8

15 -Referências Bibliogáficas ................................................................. 241

Índice (Referências) .................................................................................. 243


PRóLOGO

Q "'ndo do no"o pt;moi<o ooototo com o Mcd;c;,a Halmcm,;-


ana, o que mais nos pertubou, sem dúvida, foi a idéia de miasma pois, tal
como normalmente é exposta nos trabalhos de Homeopatia, dá margem a
uma série de interpretações errôneas. Analisada, segundo um critério cien-
tífico, simplesmente conduz o estudante por uma via empírica de fundo
essencialmente místico.
Após uma análise mais cuidadosa, porém. verificamos que a Teoria
dos Miasmas coincidia exatamente com as relações entre os agentes mór-
bidos e a resposta orgânica, conforme nossas próprias observações clínicas
de quase 20 anos.
Acreditamos, assim, que toda dificuldade existente em torno dos
enunciados de HAHNEMANN, residia apenas no uso inadequado de determi-
nados termos, pois, desde que se precise exatamentc o sentido daquilo a
que o pai da Homeopatia quis referir, a teoria permanece muito clara c
capaz de levar o médico a um nível muito elevado de conhecimento dos
desequilíbrios orgânicos.
Visando eliminar o pequeno problema que dificulta o entendimento
da Teoria dos Miasmas, resolvemos redigir este trabalho, para transmitir a
estudantes e estudiosos da Homeopatia o que tivemos a alegria de perceber
no exercício da profissão.
Analisamos apenas aqui as manifestações do desequilíbrio determina-
do pelo estado miasmático, ao nível da estrutura orgânica. Abstendo-nos,
no momento. de estudar o miasma no nível do ser energético, embora
reconheçamos que grande parte dos distúrbios patológicos trancedentc a
estrutura celular simples.
16 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÁO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

Passo a passo, desenvolveremos uma série de hipóteses que, segundo


as nossas observações diárias, parecem corresponder ao modo como o
estado miasmático manifesta-se organicamente.
Se, em essência, este método de raciocínio não vem a ser absoluta-
mente exato, mesmo assim constitui-se num meio didático muito eficiente
para o estudo miasmático, pois dá um sentido lógico a uma teoria que,
malgrado seja confirmada pela prática diária. até agora, esteve votada ao
mais absoluto empirismo e, quando não, ridicularizada pelos fisiologistas
da escola oficial.
Esta, portanto, é a nossa contribuição para o estudo da Teoria dos
Miasmas: aquilo que tivemos a oportunidade de constatar e concluir. En-
tregamos aos homeopatas sinceros tudo o que nos foi dado saber. Malgra-
do a nossa experiência ainda imatura nesse ramo extraordinário da arte de
curar, recebemos, porém, uma orientação valiosa que nos levou a essas
conclusões, as quais partilhamos com todos os colegas homeopatas, espe-
rando que cada um possa dar a sua contribuição científica e fisiológica
para a complementação deste trabalho.
Não invocamos, em momento algum, hipóteses fantásticas, pois basi-
camente, como premissa, admitimos apenas a existência de uma Inteligên-
cia Vital, que evidentemente podemos considerar como aceita pelos estudi-
osos de vários ramos do conhecimento atual. Em nada a idéia de Inteligên-
cia Vital opõe-se à de "Força Vital", admitida oficialmante pela medicina
homeopática. Os não-homeopatas podem substituir essa expressão por
"Consenso Orgânico". Apenas usamos o termo "Inteligência Vital" por
acharmos a expressão bem adequada, para complementar aquilo a que
HAHNEI\tANN quis se referir. O mestre não usou a palavra "força" no sentido
da energia mensurável e sim no sentido de "poder", de "princípio", confor-
me asseverou o seu discípulo JAHR.
Até para os homeopatas mais ortodoxos, a problemática não se altera,
pois mesmo que o termo "Inteligência Vital", utilizado neste trabalho, seja
substituído pela designação clássica "Força Vital", dentro do mais restrito
conceito hanemaniano, em nada se modifica a teoria aqui desenvolvida.
Outro conceito que parece novo e que também utilizamos foi o de
"Memória Celular", pouco estudado pela fisiologia oficial, mas hoje ple-
namente aceito por vários ramos do saber. Não só a memória celular como
também as "células de memória" são hoje admitidas.
Dessa maneira, a nossa hipótese tem um mérito especial no que tange
à explicação dos estados miasmáticos, por não recorrermos a quaisquer
mecanismos fisiológicos desconhecidos ou improváveis, o que dá um cu-
nho menos místico e mais científico à grandiosa Teoria dos Miasmas
elaborada pelo genial Pai da Homeopatia, SAMUEL HAHNEMANN.
PREFÁCIO

O livro do Dr. JOSÉ LAÉRCIO oo EGJTO, sobre o Força Vital e Miasmas


Crónicos, traz, como não poderia deixar de ser, as características do autor.
Homeopata emérito, vive sua própria fé em consonância perfeita, tanto
com a sua vida profissional, como em relação a toda e qualquer explana-
ção que faça sobre a Homeopatia.
Seu livro sobre estes magnos assuntos da doutrina hahnemaniana, foi
escrito de forma feliz e incisiva, abordando o que é a própria pedra angular
do edifício da Homeopatia, isto é, a Força Vital. Só poderá entender e
praticar a Homeopatia, quem penetrou pelos arcanos da difícil Filosofia
Vitalista, base de todo o sistema hahnemaniano.
Na primeira parte do seu livro, o autor discorre de maneira plena
sobre o apaixonante tema da Força Vital, isto é, sobre o próprio mistério
da vida manifestada. Assunto tão fundamental, que HAHNEMANN diz no § 9
do Organon: "No estado de saúde, a força vital espiritual que, dinamica-
mente, anima o corpo material, reina com poder ilimitado e mantém todas
as suas partes em admirável atividade harmónica, nas suas sensações c
funções etc.". E para completar o conceito, o parágrafo seguinte explica: ..
O organismo material, destituído da força vital, não é capaz de nenhuma
sensação, nenhuma atividade, nenhuma autoconservação; é somente o ser
imaterial, animador do organismo material no estado são e no estado
mórbido (o princípio vital, a força vital), que lhe dá toda a sensação e
estima suas funções vitais". Diante do exposto podemos concluir que o
organismo sem a força vital é inerte e que a vida é comunicada por uma
força que HAHNEMANN chamava de Força Vital. Portanto, esta força, é um
ser imaterial. A doutrina frisa bem que há uma só força e não várias forças
(atuando no organismo vivo) e por ser assim, compreende-se que a multi-
18 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA M/ASMATICA

plicidade de nossas funções orgânicas se desenvolvam em uma unidade


harmoniosa tão notável. Cabe a essa força. antes de mais nada, realizar a
própria integração do organismo, fazendo com que o conjunto dos órgãos
funcione como se fosse uma só unidade. engendrando a conservação do
todo. Sua manifestação, permanente e inalterada, dentro do ser vivo, ao
lado dos múltiplos aspectos que este adquire a cada instante, através de
todos os fenômenos vitais, demonstra a sua "existência essencial", isto é,
demonstra a nítida distinção entre "o ser e o estar". O Estar, ou fenomenal,
é transitório, mutável, diferindo a cada instante. O Ser é permanente, não
cessando de agir também em instante algum, sem deixar de existir. A
Força Vital é constante e presente, até o momento da morte do organismo
vivo. como um fenômeno qualitativo. Como força que é, não se pode
senti-la a não ser através dos fenômenos que provoca.
Desse conceito de Força Vital, decon·e toda a doutrina homeopática,
quanto à patologia, etiologia dos estados mórbidos, compreensão e hierar-
quização dos sintomas, na prática clínica, assim como os mecanismos de
cura do enfermo.
Médico algum poderá exercer, de maneira cabal e segura, a Homeo-
patia, sem antes ter-se capacitado profundamente na Filosofia Vitalista.
Progresso algum será possível, na teoria e na prática, sem uma profunda
meditação sobre o assunto e, portanto, seu completo entendimento.
Já no terreno da colaboração, o autor faz a análise percuciente da
Força Vital, acentuando, por exemplo: "'O fato de existir doença não indi-
ca, de forma alguma, que a Força Vital seja desprovida de inteligência". E
conclui de forma feliz quando se refere "ao não inteligente" de HAHNE-
1\!ANN. como '"subconsciente". uma vez que, na época, este termo não era
conhecido com o seu conteúdo psicanalítico atual. O autor lembra que a
Força Vital deve ser entendida como um princípio dirctor, "algo como um
regente de orquestra", mas não corresponde à alma, por isso, propondo o
termo de "'inteligência vital" ou "consciência vital".
A natureza da energia é dinâmica e este dinamismo irradia por todos
os tecidos, células ou elementos das células. de modo que qualquer distúr-
bio desta energia vital resulta num distúrbio de toda a economia do ser
vivo. Assim, torna-se fácil entender porque um grande susto ou mágoa
profunda possa atingir qualquer setor da economia do ser vivo, uma vez
que a força que anima todo o ser é única e indivisível. Qualquer distúrbio
desta energia vital reflete-se como falta de harmonia através de manifesta-
ções na periferia do ser, isto é, no aparecimento dos sintomas.
Quando o funcionamento hannônico da energia é perturbado, o ser
adoece como conseqüência, uma vez que o fluxo da energia através do
corpo também se altera. Por isso, tratar apenas um sintoma periférico,
removendo-o artificialmente, será o mesmo que impedir a livre expressão
individual da desarmonia da Força Vital.
PREFACIO 0 19

No estado de saúde, a total expressão da Força Vital pode ser expressa


por um funcionamento perfeito de todas as partes do organismo vivo,
assim como, no homem, por uma inconfundível sensação de bem-estar
geral.
A expressão Força Vital e Princípio vital, foi discutida pelo próprio
HAHNEMANN que adotou, a partir da sexta edição do Organon, a expressão
de Princípio vital, em lugar de força Vital, chegando mesmo, em certo
momento. a falar em "a força vital do Princípio Vital".
A segunda parte do livro trata da Doutrina dos Miasmas Crônicos de
Hahnemann. Se os conceitos sobre Força Vital se constituem na pedra
angular do edifício da Homepatia, diríamos que os referentes aos Miasmas
Crônicos formam a viga mestra da clínica homeopática. Há mais de trinta
e três anos aprendemos a raciocinar cm termos de Miasma Crônico, quan-
do diante de um caso clínico. Por esse motivo exultamos de alegria ao
tomarmos conhecimento de um livro de autor brasileiro sobre tal assunto.
O autor traz valiosa e extensa colaboração a respeito, não só pelos
conceitos que já são clássicos, como por outros elaborados por curiosas
observações e indagações de seu espírito de pesquisador nato.
Além de dizer-nos que a Psora é estritamente caracterizada pela an-
gústia existencial e pelos mecanismo de defesa do Ego, ele apresenta uma
inteligente análise dos mecanismos intrínsecos determinantes dos sintomas
de cada quadro miasmático.
Afirma também. que Miasma não pode ser considerado agente mórbi-
do, mas sim um estado orgânico que caracteriza a resposta do organismo à
ação das noxas.
Da importância da doutrina dos miasmas inteiramo-nos através do §
204 do Organon (a partir da 5" edição) e dos §§ 45 e 46 do Tratado das
Moléstias Crônicas, de HAHNEMANN; nestes dois últimos parágrafos o Mes-
tre relata que lhe foram necessários "II anos de pesquisas assíduas c
árduas, observações fiéis e experiências rigorosamente científicas, para a
solução deste grave enigma para o maior bem do gênero humano".
Também tomamos a liberdade de lembrar HENRY ALLEN, um dos clás-
sicos da Homeopatia, que, em seu livro Medicina Homeopática, capítulo
I 0 , escreveu: "O dcscobrimcno dos Mi asmas Crônicos por Hahnemann foi
um golpe mortal para os conceitos crrôncos de etiologia das enfermidades
em sua época, c não o é menos cm nossos dias (1906), apesar de já se ter
passado um século ... etc."
O que se nota neste livro é que o autor sabe pensar e meditar (qualida-
des que vão se rareando em nossos dias) e traz na bagagem de seus conhe-
cimetos os mais puros e profundos conceitos sobre Filosofia Vitalista, moti-
vos que fazem dele um grande homeopata, na teoria e na prática. Não
apenas citou fatos clássicos, mas de maneira muito didática valeu-se de
conhecimentos modernos de Biologia para explicar c exemplificar muito a
20 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

respeito de tão notável doutrina. A pureza de seu ideal fê-lo voar alto e, qual
águia altaneira, ele teve aquela visão aguda capaz de abraçar o panorama
magnífico da realidade médica, no estágio atual de nossos conhecimentos. O
autor, a nosso ver, tem esse mérito muito grande que o dignifica, assim
como a Medicina Homeopática Brasileira, como seja o de reforçar com
argumentos inéditos tão sublime doutrina, falando na linguagem do século,
facilitando assim, as comunicações entre escolas diferentes.
Felicito o autor por este seu livro que aborda matéria de tão grande e
transcendente importância para compreensão da Doutrina Homeopática
augurando a feliz utilização do texto por todos os homeopatas de nosso
país, máxime os que estão iniciando o estudo da Homeopatia.

Carlos Armando de Moura Ribeiro


Médico Homeopata
PREFÁCIO
, DA 2a EDIÇÃO

A 2• edição de "Homeopatia - Contribuição ao Estudo da Teoria


Miasmática", fruto da privilegiada clareza de raciocínio do médico home-
opata .JOSÉ LAÉRCIO oo EGITO, recolocará ao alcance dos médicos um traba-
lho sinóptico sobre o discutido tema dos miasmas, de leitura imprescindí-
vel para quem se interessa pela Homeopatia. Jamais nenhum outro autor
usou de tamanha lógica ao conciliar este infinita ou aparentemente com-
plicado assunto, motivo de tanto desgaste intelectual por parte de professo-
res e estudantes, na buscq de mistérios inexistentes.
Na interpretação fisiopatológica dos diferentes mi asmas como pa-
drões reacionais do doente dentro de suas possibilidades de defesa, tão
claras na imunopatologia moderna, o autor consegue estabelecer a conjun-
ção de conceitos recentes àqueles que HAHNEMANN. com as possibilidades
do seu tempo, tentou ilustrar com exemplos clínicos no seu tratado sobre
doenças crônicas.
Ainda que o leitor não compactue com as idéias de .JOSÉ LAÉRCIO no
EGITO, o conhecimento da sua obra tornará assombrosamente compreensí-
vel qualquer outro texto já existente ou que venha a ser escrito sobre o
palpitante tema.

São Paulo, março de 1997

Anna Kossak-Romanch
CAPÍTULO

INTERAÇÕES ENTRE AS
UNIDADES BIOLÓGICAS
Evidentemente não somos ilhas no Universo, pois, juntamente com
todos os seres vivos, fazemos parte de uma estrutura mais ampla, numa
estreita interdependência com seus componentes. Ao mesmo tempo, como
um todo orgânico, somos constituídos por organismos menores que intera-
gem entre si, assegurando e mantendo a unidade que constitui o indivíduo.
Qualquer organismo interage de modo intenso c permanente com todos
os elementos constitutivos de suas partes e, concomitantemente, com o meio
onde vive. Por isso mesmo. ele não é apenas um aglomerado de células
independentes. Há, portanto, um intercâmbio permanente c intenso entre o
todo e as suas partes constitutivas, visando assegurar um funcionamento
harmônico integrado. Do contrário, estabelece-se um estado de desarmonia,
que se revela sobre a forma de doença. Nessas condições é impossível para
um fator qualquer agir unicamente cm uma parte isolada. Qualquer ação
sobre uma unidade repercute nas demais, em grau de intensidade variável.
Por sua vez, o organismo tem também que interagir constantemente
com seu meio ambiente, estabelecendo com ele um estado de equilíbrio
harmônico, sem o qual a vida é impossível.
A condição denominada saúde, nada mais é que o resultado dessa
harmonização entre as partes c o todo e deste com o seu meio exterior. O
estado de desarmonia em qualquer um desses sctores determina, inevita-
velmente, algum tipo de doença, mesmo que inexistam ainda alterações
funcionais conscientemente evidenciáveis.
Tudo aquilo que a medicina clássica considera como doença, ou seja,
todos os estados patológicos, são condições secundárias resultantes de algu-
ma causa anterior. Antes, por exemplo, de o pus acumular-se, antes de um
abscesso fom1ar-sc, um estado de desequilíbrio orgânico mais sutil já deve
26 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMÃT/CA

existir. Um processo inflamatório, que é considerado como uma doença,


realmente provém de uma condição precedente de natureza mais sutil.
Durante a sua existência, o organismo é sede de um intercâmbio
intenso e permanente, não somente com as suas partes constitutivas, como
também com o seu meio ambiente, havendo rcações constantes entre todos
esses fatores e o estado de saúde manifesta o equilíbrio existente entre os
diversos fatores em jogo.
Do meio exterior, isto é, de fora do organismo, são inúmeras as
condições que podem, sob uma forma ou outra, atingi-lo. Muitas dessas
condições lhe são desfavoráveis. Os fatores exteriores, portanto, podem
favorecer o equilíbrio orgânico ou prejudicá-lo. Qualquer organismo sofre
agressões permanentes do seu meio exterior. Por isso, ele está cm luta
constante para defender-se ou para tirar proveito, na medida do possível.
daquilo que o atinge.
O estudo desses fatores evidencia as seguintes condições básicas:

a) O fator em nada influi sobre o organismo. Mesmo que exista uma


ação, ela ocorre como se não existisse; é a chamada imunidade
natural. denominada por alguns autores, rcfratariedade orgânica.
Neste caso. os mais diversos elementos estão atingindo de modo
permanente, sob uma forma ou outra, determinado organismo
sem causar-lhe distúrbios de qualquer natureza. É o caso do nitro-
gênio do ar inalado, que não é aproveitado, mas que também não
provoca nenhum distúrbio. Igualmente, existem inúmeros fatores
dos quais um determinado organismo não sofre influência algu-
ma. Esses agentes têm as mais diversas origens: certas irradiações
do mundo sideral, certos gases atmosféricos, alimentos, excreções
e secreções de microorganismos etc. Uma toxina muito nociva
para determinada espécie pode ser totalmente inócua para outra.
b) O fator que atinge o organismo é aproveitado de modo construti-
vo. O organismo utiliza-o cm benefício próprio. Pertencem a este
grupo não apenas os alimentos, como também o oxigênio e mui-
tos outros elementos indispensáveis à vida. Em verdade, nesta
categoria estão incluídos muitos elementos além dos admitidos
pela ciência oficial.
c) Fatores nocivos. ou sejam, os que causam danos ao organismo,
são fatores contra os quais o organismo tem que lançar mão de
algum mecanismo para neutralizar a ação do agente. A estes pode
ser dado o nome grego "Noxa".

Não existe limite preciso no qual se possa dizer que termina uma ação
benéfica e começa uma ação prejudicial, pois isto depende muito das
condições da faixa individual de tolerância, geneticamente condicionada.
INTERAÇÕES ENTRE AS UNIDADES 8/0LOG/CAS • 27

Os prejuízos acarretados por esses fatores dependem da capacidade de


resposta do organismo condicionada pelos diversos mecanismos fisiológi-
cos regidos por três elementos essenciais:

a) uma estrutura funcional geneticamente estabelecida;


b) uma disponibilidade de energia;
c) um comando inteligente que se manifesta através da chamada
Força Vital.

Toda forma de defesa orgânica, deve, portanto, contar com uma estru-
tura funcional adequada, isto é, órgãos apropriados que dependam da con-
dição genética de cada um; energia disponível e uma orientação inteligen-
te para assegurar a integração funcional do organismo.
Por outro lado, ante a ação de um agente qualquer, o organismo pode
situar-se em uma das três faixas seguintes:

a) uma faixa em que nada o afeta, por ser ele capaz de livrar-se
automaticamente e sem qualquer distúrbio, do agente ou do que
este introduz na sua estrutura orgânica. (Faixa Homeostásica).
Homeostase -Walter Cannon;
b) uma faixa em que se manifestam, com grau de intensidade variá-
vel, os distúrbios mais diversos, mas contra os quais o organismo
pode defender-se. Aqui são identificados os meios que o organis-
mo lança mão para eliminar, sob uma forma ou outra, o elemento
perturbador. Todos os mecanismos de defesa estudados pela fisio-
logia desempenham seus papéis no estabelecimento dessa segun-
da faixa (Faixa Patológica Reversível).

As duas faixa citadas, constituem, cm conjunto, a chamada Faixa


Existencial.
A atuação da Inteligência Vital tem por objetivo manter constante-
mente o organismo dentro da Faixa Existencial, sempre que agentes inde-
sejáveis fizerem-se presentes e, para tal, dispõe de um acervo muito gran-
de de mecanismos defensivos que, como veremos adiante, podem ser agru-
pados segundo suas formas reativas particulares.

c) uma faixa em que a perturbação provocada no organismo pela


"Noxa" é tamanha que ele é incapaz de defender-se adequada-
mente, acabando por sucumbir logo, ou após uma série de tenta-
tivas que procuram restabelecer o equilíbrio perdido. (Faixa Paro-
lógica Irreversível).
A Faixa Existencial é própria para cada espécie c, dentro de uma
mesma espécie, varia de um elemento para outro.
28 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

Neste particular, devemos admitir que o grau de eficiência é inegavel-


mente condicionado geneticamente. Discordamos, apenas, da opinião que
o código genético seja um condicionador inteligente dos processos bioló-
gicos, pois aquele condicionador inteligente não está contido no gene.
O padrão genético de um indivíduo deveria lhe permitir atuar em
ótimas condições de eficiência, mas isso nunca acontece, por causa da
variabilidade das condições ambientais.
Nessas condições, jamais se pode dizer que uma pessoa tem um
padrão genético perfeito e apropriado para atuar de forma satisfatória em
quaisquer circunstâncias. Se um indivíduo tem, graças ao seu condiciona-
mento genético, um enzima que lhe permite decompor determinado ali-
mento, isto não quer dizer que seu organismo o possa fazer sem dificulda-
de em qualquer ocasião. Basta que se alterem as condições externas para
que alterações ocorram ao nível das reações enzimáticas e que o indivíduo
apresente problemas provocados por aqueles mesmos alimentos que, antes,
eram naturalmente aceitos.
Se nunca surgissem interferências anômalas, o organismo continuaria
funcionando perfeitamente. No entanto, as alterações que ocorrem cons-
tantemente no meio são suficientes para criar condições para as quais,
geneticamente, o ser, não estando condicionado ou em circunstâncias favo-
ráveis, tenha que se adaptar se a nova situação for uma das· opções já
previstas no seu patrimônio genético.
Isto é importante, quando se sabe que um organismo não tem um
destino biológico absoluto, e sim, relativo. Mudando as condições, muda-
se o destino biológico e mantendo-se as condições, mantém-se o destino
biológico. Mantendo-se os parâmetros próprios para determinada espécie,
por certo, aquele organismo manter-se-á dentro de sua programação ideal
mas, variando os parâmetros, mudarão por isso mesmo as suas condições
de equilíbrio vital.
Dentro da faixa existencial, o organismo sempre vence qualquer agres-
são noxal. Assim sendo, a doença surge quando ele é atingido por uma noxa
e os mecanismos de defesa ainda não foram ativados ou não atingiram
limiares eficientes ou, por algum outro motivo, mantiveram-se inativos.
Quando um agente noxal atua, o indivíduo ou defende-se sem preju-
ízos ou defende-se com prejuízos, ou então é destruído. O que decorre da
ação da noxa depende sempre do limite de tolerância individual para as
diversas condições, quer tisícas, químicas, biológicas ou mentais e, mesmo
para algumas outras de natureza diferente, ainda não-mencionadas nas
ciências clássicas. Esse limite de tolerância é função da estrutura biológica
e da intensidade da noxa.
Antes da ação de um fator qualquer, o organismo responde, não só de
acordo com a sua natureza intrínseca, mas também conforme a intensidade
do agente.
INTERAÇOES ENTRE AS UNIDADES BIOLÓGICAS • 29

Quando um agente atinge o indivíduo, se a sua ação for muito intensa


e brusca e não houver destruição da individualidade, ocorrerá, no mínimo,
uma mutação genética. Ante uma ação de pequena intensidade e lenta
ocorrerá uma adaptação e, finalmente, numa situação intermediária, a ten-
tativa de adaptação do organismo far-se-á sentir, poém sob a forma de um
desconforto, que corresponde ao estado de doença.
Aceitando a premissa de que a "'Força Vital" é regida de forma inteli-
gente, logicamente necessitaremos saber como atua no controle dos diver-
sos planos orgânicos. Tem que haver uma maneira de integração mediante
a qual o Princípio Inteligente se faz sentir em cada setor do organismo e
como ele integra o todo orgânico às suas partes constitutivas. Se as ativida-
des das células são mantidas sob um controle inteligente, se existe uma
coordenação funcional inteligente centralizada, é válido procurar determi-
nar como se exerce esse controle e se é possível ocorrerem distúrbios
orgânicos em conseqüência disso.
Concordamos plenamente com as teorias clássicas quanto aos meca-
nismos e funções celulares, porém aventamos a hipótese que existem mui-
tos fenômenos biológicos que, de modo algum, podem ser explicados
pelos mecanismos conhecidos da biologia atual.
Assim, sem negarmos os mecanismos de ação patogénica entre os
organismos vivos, afirmamos apenas que existe pelo menos outro proces-
so não-referido pelos biológos, mas cuja existência a prática evidencia
claramente.
Conhecem-se duas vias fisiológicas fundamentais, graças às quais se
realizam as interações entre as partes de um organismo: o mecanismo
humoral e o mecanismo nervoso. O mecanismo humoral exerce-se por
meio dos líquidos orgânicos, as intcrações entre as partes ocorredo graças
às diversas substâncias veiculadas pelos fluidos orgânicos em geral. O
mecanismo nervoso ocorre por impulsos nervosos de natureza elétrica,
transmitidos pelos nervos e outros elementos condutores.
Porém, existe outro mecanismo, desvendado aos poucos pela ciência,
de natureza pouco conhecida por não ter sido ainda objeto de estudos apro-
fundados. Assemelha-se, por analogia, ao eletromagnctismo, tal como as
emissões de rádio e fenômenos de igual natureza. Estudos recentes revelam
que as células integram-se entre si por meio de emissões vibratórias.
Inúmeros são os processos na esfera psíquica que exigem outra via de
interação, pois só assim podem ser explicadas as interações mentais entre
seres diferentes, conforme afirma a Parapsicologia.
Sem a existência de uma terceira via de interação entre as estruturas
vivas, certos fenômenos não podem ser explicados devidamente.
Vamos apresentar, a título de exemplo, um desses fenômenos, pois é
suficiente para demonstrar que uma via especial de interação entre os
elementos celulares deve realmente existir, além das vias já conhecidas.
30 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

Referimo-nos ao fenômeno que pode manifestar-se no indivíduo sub-


metido à indução hipnótica, o de queimadura induzida psiquicamente.
Um paciente em transe hipnótico pode facilmente ser induzido a
aceitar que um estilete frio está rubro e que ele lhe provocará uma queima-
dura. Ao ser tocado pelo estilete, o paciente apresentará uma série de
reações, sendo a primeira delas de natureza puramente reflexa: um contra-
ção muscular que afasta do estilete a parte tocada. Trata-se, evidentemente
de um mecanismo comandado por via nervosa. Em seguida ocorrerá o
rubor local, que, no caso em apreço, já não se adequa àqueles mecanismos
preconizados pela fisiologia que explicam a hiperemia, por via humoral.
Em se tratando de queimadura clássica, há alteração das proteínas in
situ e o organismo libera substâncias que, por via humoral, provocam
aquele tipo de reação. Ao nosso ver, esta etapa pode ser afastada, pois o
processo realmente deve ser tal qual explica a fisiologia, diferindo apenas
quanto ao mecanismo determinante da alteração tecidual.
A terceira fase não pode ser explicada pelos mecanismos clássicos.
Ocorrem sucessivamente a coagulação das proteínas do tecido tocado pelo
estilete frio, rompimento dos linfáticos, exsudação e formação de vesícula.
E perguntamos: qual o mecanismo que provoca a coagulação das proteínas
e destrói as células do local tocado pelo estilete frio. sem transferência de
calor? Algum tipo de impulso nervoso? Mas nenhum mecanismo, nenhum
tipo de condução nervosa de tal magnitude e de ação tão rápida é conhe-
cido da fisiologia, pois a lesão processa-se em poucos instantes. Um meca-
nismo que se exerce por via humoral, alguma substância liberada na circu-
lação? Mas nenhuma substância com tal capacidade produzida por qual-
quer glândula jamais foi identificada.
Se este é um fenômeno real, assim como demonstra a prática diária dos
hipnotizadores, deve haver necessariamente uma "ordem" que, emanada do
cérebro hipnoticamente induzido, vai até a parte que o estilete tocou, mani-
festando-se assim a lesão, com a formação instantânea de uma vesícula, em
tudo idêntica àquela que apareceria se o estilete, realmente quente, transfe-
risse o calor causador da ruptura dos linfáticos. A ciência ignora por comple-
to qual seja a via utilizada para esse tipo de transferência de energia. Na
queimadura comum, a energia é transferida do estilete quente para o tecido,
quando os átomos do estilete aquecido, vibrando com maior intensidade, ao
tocarem uma área do corpo, transferem parte daquela energia para o tecido
orgânico, que não supm1ando esse nível de energia térmica, tica conseqüen-
temente lesado. Mas com um estilete frio, esse tipo de transferência não
ocorre. Portanto, qual o mecanismo em jogo?
Isto prova que, além dos mecanismos clássicos de interação entre
unidades biológicas, existe outro que se comporta cm tudo de conformida-
de com os princípios próprios das ondas eletromagnéticas, isto é, das
radioemissõcs.
INTERAÇOES ENTRE AS UNIDADES BIOLÓGICAS • 31

Quando, sob hipnose, uma parte do corpo é tocada por um estilete


frio, mas sendo o cérebro induzido a tê-lo como aquecido, tudo indica que
este emite uma informação às células da região interessada, para iniciarem
um processo de reparação. A informação emitida dá imediatamente ori-
gem a uma atividade adequada ao nível do local atingido: as células
começam a reproduzir-se, obedecendo ao padrão genético existente em
cada uma delas, que já possibilita as reações específicas da restauração. O
cérebro induz as células a crer que ali houve um dano que deve ser
reparado conforme o padrão codificado. As ordens que o cérebro envia aos
tecidos não são transmitidas apenas por vias humoral e nervosa, mas tam-
bém por uma espécie de irradiação cletromagnética. Isto torna-se possível
porque toda célula, além das funções estudadas pela fisiologia clássica,
desempenha um papel pouco conhecido. o de funcionar como um verda-
deiro sintonizador eletromagnético. Em decorrência dessa capacidade, as
células podem ser denominadas Biossintonizadores.
Essa interação por via eletromagnética em ondas de altas freqüências,
é, ao que tudo indica, muito mais sensível, eficiente e ativa que todas as
demais vias geralmente aceitas.
No exemplo da queimadura por indução hipnótica, pode-se sentir que
todos os mecanismos clássicos, todas as reações bioquímicas, como a
inflamação e subseqüente cicatrização, manifestam-se em decorrência de
uma ação precedente que, evidentemente, não é a ação calorífica do estile-
te, por estar ele naturalmente ti·io.
Somente após a lesão haver sido provocada por algo veiculado por
uma via desconhecida é que se sucedem todos os processos histofisiológi-
cos conhecidos: o rubor, dor, calor, necrose tccidual, ação das bactérias,
mecanismos de defesa local e reparação tecidual; mas, antes, deve eviden-
temente ter havido algo mais sutil que lesou de fato o tecido. Esse "algo
mais sutil" está sempre presente em qualquer atividade biológica, porém
raramente toma-se conhecimento dele, porque cm medicina, atualmente,
tudo é reduzido sempre a análises laboratoriais, a sinais objetivos e, quan-
do algo já está ocorrendo nesses níveis, a causa primeira, o comando
cerebral por uma outra via diferente daquelas classicamente aceitas, prati-
camente já deixou de atuar, pelo que nunca ela é detectada. Para evidenci-
ar essa ação primeira, seria preciso detectar a onda que interliga as unida-
des biológicas entre si, o que ainda não se tornou possível. Contudo, sente-
se claramente a sua existência ao analisar casos como o da queimadura.
Trata-se de um fenômeno apropriado para se descobrir a existência desse
mecanismo de comando. Esse comando também ocorre em toda e qual-
quer atividade biológica, como na reparação tecidual, na simples reprodu-
ção celular, na etetivação de uma atividadc funcional orgânica. Apenas
nessas atividades usuais, tudo pode ser n01malmente explicado pelas vias
clássicas de interação entre o todo e as partes. Porém, embora não seja
32 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

necessário invocar outros mecanismos para justificar certas atividades co-


muns aos organismos vivos, isto não exclui a possibilidade que, além
deles, outros mecanismos participam de qualquer atividade histofuncional.
A harmonia entre as partes c o todo cfetiva-se, portanto, pelas vias
fisiológicas e, em nível mais sutil e profundo, por justaposição eletrônica,
através de células que funcionam como biossintonizadores vibratórios.
Algumas décadas atrás LAKOWSKY já considerava a célula como sendo
um microcircuito oscilador. Para ele, a doença celular seria resultante de
um desequilíbrio na oscilação característica das células.
Em 1973, OS Drs. J, BIDU DEL BLANCO E CESAR ROMERO SIERRA, da
Universidade de Ontário, demonstraram que os animais emitem ondas
vibratórias. Formularam a hipótese que as células funcionam também
como microssintonizadores de radiofreqüências c que as moléculas do
Ácido Desoxirribonucléico (ADN) se constituem em microcircuitos oscila-
dores: o Ácido Ribonucléico (ARN) em amplificador das radiofreqüências,
e a membrana em filtro. Por métodos diferentes. outros cientistas estão
chegando também à mesma conclusão.
Diante dos resultados obtidos por aqueles cientistas, temos de admitir
que um órgão, para funcionar a contento, deve manter as suas células cm
perfeito estado de sintonização para assegurar a adequada transmissão e
recepção das mensagens integradoras entre elas e o todo orgânico, porém,
em um nível subconsciente.
Em resumo, podemos concluir que, nos organismos complexos existe
uma interação visando o estabelecimento de um equilíbrio harmônico entre
o todo e as suas unidades constitutivas, realizada por algumas vias clássicas
estudadas e pelo menos, por uma via muito mais sutil, de natureza vibrató-
ria, que somente nos últimos anos vem sendo evidenciada por alguns cientis-
tas pioneiros. É exatamente aquela via a responsável pelo controle inteligen-
te presente em qualquer atividade biológica, por mais simples que ela seja.
Em qualquer processo de cura, entram em jogo não somente as vias
conhecidas da fisiologia como, particularmente, aquela terceira via de que
tratamos, cuja função é transmitir ordens inteligentes do todo para as
partes e vice-versa.
CAPÍTULO

A CoNSCIÊNCIA DAS
UNIDADES BIOLÓGICAS
Inegavelmente, para nós, a mais deslumbrante manifestação da na-
tureza é a vida orgânica, que integra miríades de processos altamente
complexos para culminar com a estruturação de um ser; talvez, a obra
máxima do universo material.
Quanto mais nos aprofundamos na análise dos processo vitais, tanto mais
admiramos a obra monumental que é o organismo vivo, por mais simples que
ele seja e, de forma alguma, podemos aceitar a não-existência de um princí-
pio inteligente, diretriz da vida, onde quer que esta se manifeste.
O ser vivo, assim como qualquer mecanismo integrante do Universo,
não pode perdurar se, durante certo período, não satisfizer um determinado
padrão de ordem estável, quer o sistema seja em escala microscópica, ou
em escala sideral.
Nem os seres vivos em geral, nem o homem em particular, poderiam
fugir à regra; portanto, este deve ser também um sistema em equilíbrio
estável, tanto físico quanto psíquico e, como tal, funcionar durante um
período de tempo de duração variável. Se os fatores que atuam a todo
instante sobre os organismos fossem sempre estáveis e estes, por sua vez,
estivessem, pela própria constituição orgânica, geneticamente condicio-
nados, plenamente adaptados a eles, o equilíbrio seria garantido e, por
certo, não haveria doenças nem sofrimentos de espécie alguma. Existiria,
sim, uma condição que poderia ser comparada a um estado paradisíaco.
Mas, na realidade, as condições variando sem cessar, os organismos têm
de lançar mão a todo instante de mecanismos diversos para restabelecer
o equilíbrio destruído. Nesses casos, a doença, tanto física como mental,
sempre surge quando esse equilíbrio é rompido e o organismo, então,
procura alguma forma de adaptação.
36 ' HOMEOPATIA- CONTR/BU/ÇAO AO ESTUDO DA TEORIA M/ASMATICA

Isto confirma uma verdade imutável. No Universo só há lugar para dois


estados: ordem e desordem. Em tudo o que se considera, constata-se que há
ou não há organização. Organização é sinônimo de sentido de ordem, plani-
ficação, finalidade, objetivação, programação etc., enquanto a desordem é
caótica, o oposto de tudo isto e, por não ser finalista, não leva a nada que
seja aproveitável. Sendo assim, temos de admitir que todo o organismo é
uma estrutura que funciona sempre regida por um padrão de ordem.
É oportuno indagar se esse padrão de ordem, presente em todas as
coisas e nos organismos vivos, em particular, é regido por um estado
consciente e inteligente ou, simplesmente, obra de um mecanismo auto-
mático próprio de interações físico-químicas.
Diante desta hipótese, desde muito cedo, os estudos dividiram-se em
dois grupos antagônicos: de um lado, os que admitiam a existência de uma
forma inteligente que dirige todos os processos da natureza; do outro, os
defensores da doutrina contrária, afirmando que o padrão de ordem de
todos os sistemas é oriundo tão-somente de uma cadeia automática de
reações físico-químicas. Certamente este conceito sofreu a forte influência
do pensamento filosófico de KANT, CONDORCET e SAINT·STMON. Inegavelmen-
te, a influência decisiva exercida por esses pensadores sobre nossa ciência
atual, mormente os escritos de AUGUSTO COMTE, o pai de um movimento
filosófico - o positivismo - que nega toda conotação transcedental dos
fenômenos da natureza.
O positivismo proclama a necessidade de conhecer, de modo racional e
objetivo, todos os fenômenos. Porém, pelo raciocínio, chegamos à conclusão
de que muitos fenômenos inerentes à vida não podem ser explicados exclu-
sivamente por simples reações químicas, como quer o positivismo, para o
qual a vida seria apenas resultante de uma cadeia longa e complexa de
reações físico-químicas. Assim, o organismo seria fruto de um complexo
processo reativo abrangendo substâncias energéticas, e a vida tão somente
resultante final das interações das estruturas macromoleculares existentes na
primeira célula germinal, conforme determinado padrão constante da estru-
tura dos genes. As estruturas químicas complexas contidas nos genes intera-
giriam sucessivamente até produzirem o ser vivo, conforme as informações
contidas na célula-mãe. Para um processo dessa natureza, nada mais seria
preciso que a realização de certas condições ambientais, dispensando-se, por
completo, a intervenção de qualquer diretriz inteligente. Assim, nada mais
seria preciso que a estrutura química dos genes, a presença de material
plástico-energético e condições físicas adequadas.
Não se pode negar que todos os fatores anatômicos do ser vivo, bem
como sua capacidade reativa ante os fatores somáticos e psicológicos e
mesmo, as predisposições mórbidas, são dependentes da programação gê-
nica mas, como veremos, isto só não dá conta de certos processo sutis que
envolvem o fenômeno da vida orgânica.
A CONSCIÊNCIA DAS UNIDADES BIOLÓGICAS • 37

Há várias décadas sabe-se que a estrutura do gene da célula geminai


traz impressa, ou por assim dizer, gravada uma espécie de mensagem que
contém todas as informações sobre o organismo que dela poderá se originar.
Os conhecimentos sobre a estrutura gênica dos seres vivos evoluíram
muito a partir de 1947, ano em que OS Drs. MAX PERUTZ e JOHN KENDREW,
da Universidade de Cambridge, deram os passos fundamentais na elucida-
ção da estrutura das macromoléculas responsáveis pela hereditariedade.
Então já era sabido que os cromossomas consistiam de uma substân-
cia química complexa denominada Ácido Desoxirribonucléico (ADN) e
que, ao nível desse ADN, ocorre o arquivamento dos milhões de informa-
ções sobre a estrutura do novo organismo. No óvulo fecundado, em uma
ínfima quantidade de ADN encontram-se todas as mensagens químicas
necessárias para, através de uma série de reações, dar origem a um orga-
nismo potencialmente desenvolvido. O organismo resulta sempre no que
está prefigurado na "planta arquitetônica gênica" contida no ADN. A po-
tencialidade hereditária é representada como se fosse a gravação, no ADN,
de tudo o que constituirá o ser até o fim de sua existência física.
Procurando o modo de arquivamento dessas informações, PERUTZ e
KENDREW, com O auxílio de WILKIN e JAMES WATSON, descobriram que, no
gene, a estrutura do ADN tem a forma de uma escala em espiral, daí o
qualificativo dado à estrutura gênica dos seres vivos: Espiral da Vida.
Naquela "escada em caracol", os corrimãos, em número de dois, são cons-
tituídos por açúcares-fosfatos e os degraus, por quatro bases: adenina,
guanina, citosina e timina.
Basicamente, sob o ponto de vista da biologia molecular, nada mais é
necessário à gênese da vida além daquela estrutura aparentemente simples:
dois açúcares agrupando as quatro bases. Mas, em cada espiral, o número
das bases é muito elevado e as suas posições relativas, podem variar; assim
sendo, posições alternadas originam arranjos diferentes. Combinando-se as
quatro bases entre si é possível obter 24 resultados diferentes mas, como
na "espiral da vida" essas quatro bases repetem-se milhões de vezes, as
combinações com repetições possíveis são enormemente elevadas, tenden-
do ao infinito.
Tudo seria muito simples se houvesse apenas um número reduzido de
combinações das quatro bases, mas o seu número é muito grande, a ponto
de haver num simples vírus, estrutura viva mais simples, como o tipo T-4,
por exemplo, cerca de 200 mil pares de bases. Quantas, então, não devem
existir num ser complexo como o Homem?
Geneticamente falando, a diferença entre um elefante e um rato, entre
uma bactéria e uma baleia, entre um morcego e uma borboleta, entre a cor
dos olhos de duas pessoas, entre um fígado e um estômago, entre todas as
estruturas vivas, enfim, reside, essencialmente, sob o ponto de vista da
biologia molecular, nas variações daquelas bases dentro da "espiral da vida".
38 ' HOMEOPATIA- CONTRIBU/çAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

A distribuição daquelas bases que, esquematicamente, formam os de-


graus da "escala espiral da vida", estabelece uma espécie de código cor-
respondente a uma "mensagem química" que determinará as característi-
cas de uma determinada forma viva e. se for alterada a posição de qual-
quer uma delas, resultará numa mutação. Assim como acontece com qual-
quer tipo de código, alterando-se alguns elementos do código genético,
altera-se completamente a mensagem codificada. Assim, uma vez alterada
as posições de certas bases da espiral gênica de um rato, poder-se-ia criar
uma espécie completamente diferente, como um dinossauro, por exemplo.
Em consonância com o pensamento materialista, o biólogo dirá que
tudo o que se precisa para a organização da vida é um código genético,
certa quantidade de energia veiculada por algumas substâncias nutrientes e
condições físicas adequadas, para que o organismo possa ser criado e
funcionar adequadamente, pois, para ele, a vida é apenas resultante de um
constante interagir químico. Para existir biologicamente o ser vivo nada
mais requer que um código genético contido na espiral do ADN, nutrição
e condições físicas adequadas, dispensando-se qualquer princípio inteli-
gente para dirigir aquela sucessão de reações químicas que culmina com o
organismo prefigurado na estrutura gênica da primeira célula embrionária.
Embora esteja-se ainda caminhando a passos lentos na esfera dos
conhecimentos da biologia molecular, há indícios evidentes que o código
genético serve como modelo básico orientador dos demais aminoácidos
que se formam na célula e orientam a organização do novo ser, segundo o
que está codificado.
Não se pode negar a existência de uma série de mecanismos físico-
químicos graças aos quais, a partir da célula inicial, o organismo vai se
diferenciado embriologicamente. No primeiro instante existe apenas uma
célula, com todas as potencialidades inerentes ao futuro ser que, por ocasião
do nascimento, contará com trilhões de células altamente especializadas.
Os biólogos dizem que toda diferenciação e especialização celular já
são condições programadas no ADN. A biologia explica muito bem como
ocorrem todas as etapas da diferenciação celular, desde o óvulo até o
organismo completo.
A vida orgânica, quando vista sob certos ângulos, nada mais parece
ser que uma seqüência extremamente complexa de reações que se iniciam
na célula-mãe e terminam com os órgãos e tecidos prestes a funcionar de
maneira muito especializada.
A vida seria algo mais fácil de ser entendido se os processos vitais
pudessem ser explicados unicamente como resultado de interações bioquí-
micas, mas, na realidade, a vida envolve certas atividades que transcendem
o que pode ser demonstrado racionalmente, apenas com o apoio das teori-
as clássicas.
O processo evolutivo requer estímulos iniciais para assegurar a con-
A CONSCIÊNCIA DAS UNIDADES BIOLÓGICAS ' 39

flagração das reações, isto é, para desencadear os mecanismos reativos


intracelulares. A natureza desses estímulos varia muito, pois a própria
penetração do óvulo pelo elemento masculino já provoca inúmeras agres-
sões, que originarão modificações sucessivas até a elaboração total do
novo ser, com seus órgãos altamente especializados.
O código genético assemelha-se, pois, a uma planta arquitetônica que
comporta muitas alternativas de acordo com a natureza dos estímulos que
se manifestarem. Ele não comporta uma solução única. Dependendo da
natureza da agressão, o resultado final pode não corresponder à condição
mais favorável impressa no código genético; em conseqüência, a célula
pode ter sua funcionalidade modificada ou incompleta. Diante de diferen-
tes estímulos, as unidades celulares respondem segundo as diferentes op-
ções funcionais, embora todas elas estejam codificadas no ADN. Ante
diferentes estímulos a resposta jamais será idêntica, nem sempre ocorren-
do a mais indicada para atender a determinada situação, devido a inúmeras
interferências possíveis. Mas é exatamente isto que permite aos organis-
mos vivos amoldarem-se às mais diversas condições que lhes são impos-
tas, mas sempre de uma maneira que não acarrete prejuízos.
Nessas condições, podemos aceitar que o resultado final do desenvol-
vimento do ser admite uma certa faixa de opções para o atendimento das
variações das condições ambientais. Todo ser é condicionado a ter um tipo
estrutural e funcional adequado que lhe permite atender às necessidades
impostas pelo meio, isto é, responder adequadamente a todos os estímulos
e agressões que a vida lhe oferece, visando a uma forma de equilíbrio
estável durante um espaço de tempo de duração variável, embora nada
indique que isso sempre possa ocorrer de forma inócua.
Se as condições do meio não variassem, se a natureza e a intensidade
dos estímulos mantivessem-se sempre constantes, o indivíduo, tendo nasci-
do com uma estrutura somática adequada àqueles estímulos, jamais preci-
saria utilizar mecanismos adaptativos e, portanto, não sofreria qualquer
tipo de distúrbios. Mas nem sempre é assim. O organismo nasce preparado
para enfrentar numerosos e variados fatores sem qualquer dificuldade,
mas, como estes variam constantemente em qualidade e intensidade, me-
canismos adaptatitivos são utilizados a todo instante, para assegurar a
manutenção do equilíbrio com o meio.
Como já dissemos, se as condições não sofressem alterações, o ser
viveria num paraíso adâmico, pois todas as intervenções surgidas seriam
descartadas naturalmente, sem que aparecesse nenhuma situação adicional
para perturbar sua funcionalidade. O ser teria uma estrutura anatomofisio-
lógica capaz de eliminar sempre, pelos mecanismos naturais, sem danos
ou sofrimentos, tudo o que lhe fosse incômodo.
Em resumo, podemos dizer que o código genético funciona como
uma planta arquitetônica de múltiplas opções, de acordo com a qual o
40 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

organismo é construído. Mas veremos a seguir que essa construção não


obedece a nenhum processo cego, que dispensa a ação de outro princípio,
necessariamente inteligente, representado pela Força Vital, que denomina-
mos "Inteligência Vital".
Um estímulo adequado desencadeia o processo evolutivo que se inicia
com a diferenciação celular, segundo a mensagem codificada. Sabe-se que, no
processo diferenciativo celular, intervêm inúmeros fatores bem conhecidos da
biologia, como luz. força de gravidade, temperatura, umidade, atuação de
substâncias mais diversas oriundas do meio ambiente e provenientes da elabo-
raçãodas próprias células já formadas, como hormônios, enzimas etc. Não
duvidamos da importância de todos aqueles fatores que, evidentemente, têm
papel preponderante na utilização da mensagem gênica contida no ADN.
Mas haverá apenas mecanismos físico-qímicos envolvidos no proces-
so da genese orgânica? Admitindo-se que sim, indagamos se, por si só,
esses fatores conseguem desvendar todos os enigmas inerentes à vida.
Será que apenas por meio desses mecanismos todos os fenômenos e
condições encontrados no desenvolvimento, funcionamento e comporta-
mento dos seres vivos podem ser explicados racionalmente? Acreditamos
que não. pois já certas situações são impossíveis de serem compreendidas
quando se admite que os processos vitais resultam exclusivamente de inte-
rações químicas.
Com efeito, a análise minuciosa de alguma situação evidencia a ne-
cessidade de outro elemento para que possa ser compreendido o que ocor-
re. Trata-se de situações impossíveis de serem entendidas, quando se ex-
clui dos processos vitais a presença de uma diretriz inteligente.
Para fins de análise, vejamos o caso da reprodução dos vegetais, a
partir dos meristemas (meristema é o agrupamento de células capazes de
dar origem a todos os demais tipos de tecidos do vegetal a que pertence).
São células indiferenciadas e totipotentes que contêm o código genético
do vegetal considerado e, portanto, capazes de originar uma planta viva
completa, com suas diferenciações teciduais.
Situam-se as células meristemáticas em quase todas as partes do ve-
getal. A partir delas desenvolve-se o que vulgarmente denomina-se "olho
vegetativo", que evolui para dar origem a um broto. Embora existam no
vegetal milhares desses agrupamentos de células capazes de dar origem a
uma nova planta ou a um broto, a atividade dos meristemas é contida por
algum mecanismo desconhecido. Capazes de desenvolverem-se a qualquer
momento, em realidade não o fazem. Os "olhos" esperam às vezes, longo
tempo, adormecidos; dado momento. um ou alguns iniciam o processo
diferenciativo. Ora, se existem milhares de grupos de células meristemáti-
cas em condições de desenvolverem-se, por que somente uns poucos, na
mesma época, entram em processo diferenciativo de evolução?
A ciência afirma que eles são despertados por vários fatores, como
A CONSCIÉNCIA DAS UNIDADES BIOLÓGICAS • 41

certos hormônios, a intensidade luminosa, fatores atmosféricos e outros


elementos bem-determinados.
Não cabe indagar aqui quais os fatores que participam ou quais são
capazes de estimular o início da atividade diferenciativa, mas sim por que
uns meristemas são despertados e outros não. Por que, entre elementos
aptos, uns despertam e não todos eles simultaneamente?
Na árvore podada, entende-se que, ante a nova situação, atuam vários
fatores para estimular o brotamento, como, por exemplo, os fito-hormôni-
os e outros, mas não se pode dizer por que razão todos os núcleos meris-
temáticos não eclodem simultaneamente.
Outro exemplo apropriado diz respeito à ovulação. Sabe-se que o ovário
da mulher contém milhares de folículos donde originar-se-ão óvulos e que
todos eles foram gerados na mesma época, tendo todos, portanto, a mesma
idade. Estão muito próximos uns dos outros e são influenciados pelos mesmos
níveis de substâncias veiculadas pela circulação dos diversos humores. Encon-
tram-se em idênticas condições de gravidade, temperatura, pressão etc. Por-
tanto, não se pode afirmar que haja condições físicas, químicas ou topológicas
diferentes para cada folículo que atuem em um deles e não em todos. Não se
pode dizer que todos aqueles fatores conhecidos da ciência não desempenham
seu papel nos mecanismos da germinação, mas também não se pode atribuir a
algum deles a responsabilidade pela ruptura mensal de um único folículo. Os
estímulos são idênticos para todos, a idade de todos a mesma, assim como o
grau de maturidade, e o exame histológico é incapaz de detectar quaisquer
diferenças entre eles. Mas, por qual razão somente um deles rompe-se cada
mês e não todos eles? Isto a ciência não explica.
A maturação, a diferenciação etc., podem ser explicadas somente pelas
interações químicas, mas a escolha do elemento que deverá amadurecer não
pode ser explicada como provocada por ação química não-inteligente.
Diante disso, é mister admitir que existe, ao que tudo indica, um
processo inteligente que orienta o fenômeno.
Se, em vez de permanecerem no ovário, aqueles folículos adormeci-
dos forem cultivados in vitro e submetidos à ação daqueles mesmos ele-
mentos estimulantes, por que então todos eles despertam simultaneamen-
te? Como explicar aquela escolha "dirigida" que chega ao extremo de
determinar uma alternância de ovário mensalmente? Num mês ovula o
direito e no mês seguinte, o esquerdo.
Além da escolha de um folículo entre milhares, ainda ocorre mensal-
mente a escolha alternada de ovários.
Tudo acontece como se os folículos escolhessem um deles.,Apenas o
escolhido responde, portanto, somente um "sabe" que chegou a sua vez de
amadurecer, enquanto os demais aguardam outra oportunidade.
Vejamos agora o que normalmente acontece em certos experimentos
realizados com planárias (Platelmintos).
42 1 HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMA TICA

Esses seres têm reações deveras interessantes, pois se seccionamos


um deles pelo meio, a metade que contiver a cabeça regenerará a extremi-
dade que lhe falta e a outra substituirá a parte da qual foi separada. Sabe-
se que o estímulo mecânico ao nível do corte desencadeia o processo de
reparação; sabe-se também que no ADN de qualquer célula do platelminto
existe um modelo completo do mesmo, mas o que se explica é como as
células "sabem" o quanto devem se reproduzir, o quanto devem crescer,
mesmo usando para a regeneração a mensagem em código gravada nas
espirais do ADN. Por que a parte anterior começa a desenvolver a posteri-
or que lhe está faltando, e não outra idêntica a ela? Evidentemente, a
regeneração está programada, mas se forem examinadas todas as células
ao nível do corte, será fácil verificar que todas são absolutamente idênti-
cas, tanto as da parte anterior quanto as da posterior. Ambos os grupos têm
uma pla_nta programada a seguir, sofrem estímulos iguais, são banhadas
por idênticos humores etc., mas, mesmo assim, começam logo a diferenci-
ar-se para a restauração exata da parte perdida. Como essas células "sa-
bem" exatamente o quanto falta da planária inteira? Há como que um
princípio inteligente que dirige essa atividade, utilizando o código genéti-
co apenas como se fosse uma planta arquitetônica. Se um fenômeno desta
natureza não for inteligente, indagamos, então: o que é inteligência?
O químico que reflete no caso, sabe que um fenômeno dessa natureza
não acontece unicamente por um desencadear de reações. A teoria dos
estímulos por si só, não pode ser invocada como explicação, pois em ambos
os segmentos da planária eles são idênticos. A existência nas células de um
modelo completo da planária tampouco explica o fenômeno, se houvesse
um desencadear inconsciente de reações químicas, as células estimuladas
regenerariam uma planária inteira e não apenas uma parte perdida.
Pelo fato de um órgão regenerar uma de suas partes com células
idênticas ainda se pode admitir a ocorrência de um simples processo reati-
vo, porque as células já diferenciadas multiplicariam-se a partir da parte
seccionada. Mas no caso da planária, é um hemi-ser que é regenerado a
partir de células embriologicamente primitivas. São tão primitivas essas
células quanto as células originais que deram origem à planária mutilada;
contudo não desenvolvem um platelminto inteiro e sim uma parte dele.
Tudo isto, evidentemente, reforça a convicção que quanto mais primi-
tiva e mais indiferenciada for a célula, mais será capaz de entrar em
atividade e reparar uma lesão, segundo um modelo preexistente. Apesar
disso, a pergunta persiste: como a célula "sabe" qual a alternativa a seguir,
mesmo existindo um modelo implícito no ADN, se esse modelo não é
único, se há alternativas possíveis e, nesse caso, as células precisando
tomar uma decisão, escolher precisamente a alternativa apropriada? Após
a secção, ocorre como que uma avaliação do dano sofrido, para, em segui-
da, processar-se a regeneração de acordo com a planta genética.
A CONSCIÉNCIA DAS UNIDADES BIOLÓGICAS • 43

A regeneração de partes amputadas assemelha-se ao caso de um edi-


fício danificado, cuja reconstrução foi confiada a um arquiteto. Ele apro-
veitará, para isso, a planta da obra original, mas, antes de iniciar a restau-
ração, ele deverá possuir não só a planta arquitetônica como também a
consciência do dano ocorrido. A planta por si só, sem a consciência do
dano, não possibilitará a reparação adequada. O arquiteto deverá, impres-
cindivelmente, tomar ciência do dano para poder utilizar a planta de uma
maneira adequada, até efetuar a restauração necessária.
Do mesmo modo, num tecido localizado e fixo, como as células
podem "saber" o dano causado no organismo para iniciarem a restauração?
O estímulo ao nível da lesão é suficente para que as células comecem a se
reproduzir; mas por que a simples reprodução não assegura apenas uma
multiplicação ininterrupta de células idênticas?
Em qualquer processo reconstrutivo é necessário saber a partir de que
ponto o processo deve ser iniciado e todas as etapas a serem realizadas. Os
mecanismos das reações químicas são irreversíveis, se uma reação química
for interrompida e depois, reiniciada ela não retrocederá. Nenhuma cadeia
de reações químicas volta à reação inicial, ao contrário do que ocorre na
reparação orgânica na qual essas reações ocorrem como se estivessem se
realizando as primeiras etapas do desenvolvimento embrionário.
A reação química prossegue, no máximo, a partir do ponto em que foi
interrompida. Nas células. o processo sempre que necessário, e as reações
iniciais se repetem. Isto sugere a existência de um comando inteligente.
Muitos pensam que a totipotencialidade das células embrionárias
pode explicar o fenômeno da reparação e, em particular, a gênese orgâni-
ca, mas, em realidade permanecem numerosos pontos obscuros sobre os
quais as teorias elaboradas pela embriologia e pela biologia molecular
nada explicam de forma convincente. As células embrionárias totipotentes
apenas são mais responsáveis, isto é, respondem melhor aos estímulos que
as demais já diferenciadas.
Todas essas indagações, bem como muitas outras, pedem explicações
lógicas aos pesquisadores que analisam c procuram encontrar soluções
adequadas para os fenômenos biológicos, para explicar os mecanismos
envolvidos nos exemplos citados. Por certo, acharão que na evolução em-
briológica, ou mesmo na funcionalidade orgânica, fazem-se necessários
outros fatores não-mencionados pela ciência oticial. O princípio que man-
tém a vida - Força Vital - é dirigido de forma inteligente. Se esta premissa
for aceita, tudo torna-se claro, sem que haja necessidade de se invocar
outros mecanismos além dos que são cientificamente determinados.
Portanto, aceitamos a necessidade de existência de uma forma de
consciência diretora e mantenedora da atividade vital ao ser vivo.
Todos os seres vivos, inclusive a célula mais simples, possuem algo
como uma forma de consciência que dirige os dispositivos bioquímicos
44 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

utilizando, para esse fim, a planta do ADN, e as substâncias necessárias às


atividades vitais.
Por sua vez, esse mecanismo consciente unitário está integrado, isto
é, está sintonizado harmonicamente, com uma inteligência maior à inteli-
gência do organismo inteiro, mesmo que isto aconteça cm nível subconsci-
ente.
Quando uma lesão ocorre num tecido, quando um corpo estranho
nele penetra, a inteligência diretora das atividades celulares entra em
ação, utilizando as substâncias plástico-energéticas como material e o
código do ADN como planta, para iniciar a reparação ou a liberação que
se fizerem necessárias.
Graças a esse princípio inteligente através da Força Vital, as células
"sabem" quando devem continuar um processo, a partir de onde iniciá-lo e
até a que ponto conduzi-lo, graças ao comando inconsciente do organismo
que dirige as reações, que ordena todas as atividades bioquímicas segundo
o que está registrado no código genético.
A Força Vital, tal como é aceita pela Homeopatia, que comanda todos
os mecanismos da vida orgânica não é uma força dirigida cegamente como
veremos adiante. Ela é inteligentemente dirigida para a integração de cada
célula do organismo mediante uma espécie de sintonia vibratória. Se esse
equilíbio harmônico do "consenso orgânico" não se fizer sentir, cada célu-
la passa a agir mecanicamente e a reconstrução se faz de maneira caótica,
sem o padrão de ordem próprio a todos os sistemas estáveis. A planta
arquitetônica continua a ser utilizada, mas sem uma diretriz inteligente,
numa autoperpetuação automática destituída de controle racional.
CAPÍTULO

PRINCÍPIOS DA
UNIDADE ORGÂNICA
Para ter uma compreensão perfeita do funcionamento orgamco é
mister considerar, de início, a aplicação aos organismos vivos de dois
conceitos filosóficos.
Um deles, o dualismo cartesiano, considera o indivíduo constituído de
corpo e alma.
O outro diz respeito ao princípio holoísta da vida que considera os
organismos como constituídos por unidades entre si, destas com o soma, e
deste com o seu dade, e afirma que a natureza desta unidade não represen-
ta apenas o somatório de todas as qualidades dos seus elementos constitu-
tivos.
No indivíduo, além da coexistência corpo/alma, deve haver uma
harmonia total e perfeita entre os elementos de sua parte somática.
Como afirma GoLDSTEIN: "O organismo está constituído por elementos
diferenciados articulados entre si, que não funcionam jamais separada-
mente, salvo em certas circunstâncias patológicas, ou em determinadas
condições experimentais".
Já vimos nos capítulos anteriores que as unidades orgânicas interagem
por meio de certas vias associativas e que, somente o equilíbrio perfeito de
todas as unidades entre si. destas com o soma e deste com o seu universo
exterior, condiciona um estado ideal de saúde.
Como estruturas holísticas, os organismos em geral e o humano em
particular devem conservar-se dentro dos parâmetros de viabilidade vital,
para o que cada um conta uma estrutura adequada. Contudo, como as
condições variam dentro e fora dele, o organismo vive em luta constante,
procurando restabelecer a todo custo o equilíbio perturbado, ou seja, ten-
tando manter a homeostase.
48 • HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMA TICA

Desde o nascimento, ele está apto a aproveitar ou rejeitar tudo o que


o atinge, quer provenha do próprio meio interno ou do ambiente, graças a
um conjunto de aparelhos que a fisiologia denomina emunctórios.
Tudo o que penetra na unidade orgânica, se não for aproveitado de
alguma forma, será por certo eliminado, quer diretamente, sem transtorno,
quer após ter sofrido algum tipo de transformação; ou, em última instân-
cia, o elemento estranho será localizado e bloqueado em algum ponto, o
que quase sempre acarreta transtorno físico ou psíquico. Caso contrário,
haverá sempre algum prejuízo importante para a estrutura orgânica, ocor-
rendo, então, situações incômodas, denominadas doenças.
Ao citarmos a dualidade proposta por RENÊ DESCARTES, não nos referi-
mos necessariamente a uma personalidade independente coexistente com o
corpo físico. Talvez isto realmente ocorra, mas deixemos este aspecto para
as análises metafísicas e as religiões. Aqui, consideraremos a parte não-
corpórea da individualidade, apenas como uma forma de consciência ou
inteligência, porém muito mais ampla que cerebral e que pode derivar ou
não da própria vida orgânica.
Na tentativa constante de assegurar a homeostase, o organismo lança
necessariamente mão de três sistemas defensivos.
Inicialmente, entram em ação inúmeros dispositivos básicos que visam
a expulsar o supérfluo, ou o que já cumpriu a sua finalidade, ou que possa
causar prejuízos ao oganismo. Essa função é desempenhada pelos emunctó-
rios, que efetuam as eliminações fisiológicas. Assim, o agente indesejável,
em condições bioquímicas possíveis, será eliminado naturalmente, graças à
atividade emunctorial, mas, muitas vezes, certas transformações bioquími-
cas fazem-se necessárias para que o agente possa ser eliminado sem envol-
ver qualquer processo adicional que acarrete transtornos.
Há casos em que entra em jogo o mesmo sistema emunctorial, mas
com sua funcionalidade ampliada ou, quando não, em regime de sobrecar-
ga. Aqui também o agente estranho tende a ser eliminado, diretamente ou
após alterações bioquímicas propícias à sua eliminação.
Em essência, os mecanismos de transformações acarretam o estado co-
nhecido como processo alérgico que, segundo o eminente mestre W.E MAFFEI \Xl,
é uma ação modificada do organismo. Normalmente a eliminação emunctori-
al é direta, mas, nos casos em que isto não é possível, o organismo passa a
funcionar de forma diferente para eliminar a causa que perturba a homeostase.
É fácil compreender por que, em tais casos, o organismo afasta-se
daquela condição ideal de funcionabilidade e torna-se doente.
Inicialmente, o processo alérgico decorre exclusivamente da tentativa
orgânica de transformar o elemento perturbado do sistema em algo suscep-
tível de ser eliminado naturalmente, mesmo que isto implique, muitas
vezes, situações incômodas, constituindo-se o mecanismo defensivo alér-
gico numa forma de doença.
PR/NC{P/05 DA UNIDADE ORGÁNICA • 49

Finalmente, o organismo lança mão de meios mais possantes que não


mais podem ser considerados como formas de eliminação natural, causan-
do sempre transtornos mais acentuados e graves que se manifestam sob a
forma de doenças que estudaremos nos próximos capítulos. Isto ocorre
quando o agente não pode ser eliminado direta ou indiretamente pelos
emuncórios, ou quando as reações de transformações são de tal natureza
que ocorrem alterações estruturais.
Vejamos o que ocorre na ingestão de certas substâncias, como o
álcool, por exemplo. Se em proporções pequenas, o organismo vai utilizá-
lo em benefício próprio, simplesmente; se em maior proporção, na impos-
sibilidade de eliminá-lo diretamente, ele o transformará em outras substân-
cias, que serão excretadas facilmente. Se a quantidade, porém, for maior
ainda, haverá sobrecarga do sistema por incapacidade de eliminação e tal
condição, por certo, acabará prejudicando seriamente algum órgão.
Até a própria água, ingerida em quantidade normal, cumprirá a sua
finalidade e será eliminada. Se em quantidade maior, o excesso logo será
eliminado pelo incremeno da diurese; mas, se introduzida em quantidade
ainda maior, outros órgãos entrarão em jogo, além dos rins, para partici-
parem da eliminação do excesso. Se a quantidade for muito elevada,
ocorrem transtornos graves em decorrência da incapacidade de elimina-
ção do excesso.
Em qualquer estrutura biológica, quer ao nível da célula, quer ao
nível do organismo complexo, a interação permanente com o meio faz-se
graças a dispositivos que são classificados, de acordo com as suas funções,
como receptores ou como efetores. Qualquer ocorrência no meio, quer
interior, quer exterior. far-se-á sentir como um certo tipo de estímulo que
poderá ter como resposta uma reação determinada.
Se, por sua constituição, ele estiver condicionado para reagir a deter-
minado estímulo, isto é, se ele for dotado de dispositivos capazes de
libertá-lo da ação do estímulo através da atividade normal dos emunctóri-
os, a reação ocorrerá naturalmente. Porém, se a natureza ou a intensidade
do estímulo ultrapassarem aquela faixa homeostásica, a reação pode acar-
retar um grau variável de desconforto. Isto pode ocorrer mesmo com o
simples incremento de uma atividade fisiológica natural.
Em tais casos, pode dizer-se que ocorre uma certa faixa de desequilí-
brio funcional, que o organismo está lançando mão de mecanismos adici-
onais, na tentativa de fazer voltar o seu estado homeostásico.
Até aqui consideramos estímulos materiais que influem sobre o com-
portamento somático do indivíduo, mas vale selientar que eles podem ser
também de natureza psicológica e com repercussões tanto na área somáti-
ca quanto mental.
Nestes casos, a reação normalmente pode se fazer sentir como pul-
sões. Em essência, uma pulsão consiste na tentativa que o indivíduo
50 ' HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIAS MA T/CA

manifesta, em sua esfera psíquica, visando estabelecer o seu equilíbrio


homeostásico e mental.
Na área somática, os estímulos não determinam reações desagradá-
veis se forem naturalmente incorporados à economia do organismo; na
área mental, da mesma maneira tendem ou não a desencadear respostas,
desde que sejam, ou não, incorporados à personalidade. Quando o indiví-
duo é psicologicamente incapaz de incorporar determinado estímulo, ele
desenvolve, por certo, uma reação de eliminação através de uma série de
mecanismos psicológicos destinados a proteger o Eu.
Do mesmo modo, na área mental, à tentativa de eliminação do que
um estímulo determina, a resposta defensiva manifesta-se em três níveis
distintos:
No primeiro nível, o indivíduo lança mão de reações psicológicas
naturais (equivalentes à eliminação somática emunctorial ideal);
No segundo nível, ocorre um incremento das reações psicológicas capa-
zes de livrar o organismo da tensão desenvolvida graças à exacerbação das
reações psicológicas naturais, ou, em muitos casos, após a elaboração psí-
quica que visa essencialmente transformar o que resultou do estímulo numa
reação susceptível de provocar a eliminação. Neste caso, entram em jogo os
mecanismos psicológicos, denominados mecanismos de defesa rimária do
Ego (nível idêntico ao da área somática em que ocorre o incremento das
funções emunctoriais e os processos alérgicos de adaptação).
No terceiro nível, os estímulos despertam condições psicológicas
acentuadas, geralmente anômalas, além dos mecanismos de defesa primá-
ria do Ego (equivalente ao terceiro nível da área somática).
Algum exemplo prático esclarecerá perfeitamente o nosso assunto.
Ante um estímulo de pequena intensidade, por exemplo, a notícia de
uma possível perturbação, o indivíduo analisa as informações, elabora
hipóteses e, concluindo pela inexistência de ameaça alguma, nada sente.
Há, neste caso, absorção do estímulo. Porém, se as indicações de perigo
forem mais nítidas, ele procurará neutralizar sua ansiedade com algum dos
mecanismos de defesa primária do Ego, como, por exemplo, a dúvida.
Ante uma ameaça mais intensa, experimentará tristeza, agitação e medo;
poderá desenvolver uma resposta de defesa mais acentuada como pânico
ou outra reação mais violenta.
Já analisamos rapidamente algumas características das estruturas bio-
lógicas mas, para que a condição denominada saúde possa ser entendida
na sua plenitude, especialmente nos estados peculiares que a Medicina
Homeopática denomina Miasma ou Diátese, como alguns preferem deno-
minar, mister se faz analisar rapidamente outra condição inerente à vida.
Outro elemento que requer atenção especial, pela importância que se
reveste no estabelecimento e na manutenção da homeostase é, sem dúvida,
a memória.
PRINCIPIOS DA UNIDADE ORGANICA • 51

Embora não pareça, seu papel é fundamental na manutenção do equi-


líbrio orgânico e por necessitarmos de conceitos novos, que somente nos
últimos anos foram enunciados, para o estudo detalhado dos miasmas, nos
próximos capítulos, vamos tecer alguns comentários sobre a memória.
Apresentaremos conhecimentos muito atualizados, porque jamais foi
possível fornecer uma explicação válida do conceito de miasma, tal como
é estudado pela Homeopatia, apenas na base dos conhecimentos clássicos
da biologia e da fisilogia.
Não nos deteremos no estudo da memória em si, nem na sua estrutura
anatômica, nem mesmo nos seus mecanismos bioquímicos de registro,
salientando apenas alguns estados especiais de recordação e amnésia que
se revestem de muita importância para explicar o que essas condições
podem determinar sobre o funcionamento de qualquer organismo.
Para alguns pesquisadores, as próprias individualidades unicelulares
têm alguma forma de memória, pois essa faculdade é inerente, não somen-
te aos seres chamados racionais e aos animais superiores, mas encontra-se
mesmo em animais considerados biologicamente inferiores.
Certos fenômenos observados em animais unicelulares que apresen-
tam manifestações vitais condicionadas por fatores físico-químicos, como
luminosidade, pressão, calor etc, indicam a existência, se não de memória,
pelo menos de uma, condição que lhe é muito semelhante.
Alguns animais inferiores, quando afastados do ambiente onde vivem
e onde os fatores condicionadores dos seus ciclos vitais atuam normalmen-
te para outro ambiente diferente, continuam a comportar-se dentro do seu
ritmo habitual, como se nada houvesse sido alterado, independentemente
da existência ou não do estímulo anterior.
Com a maré baixa, certos anelídeos arenícolas sobem à superfície da
areia, para descerem com a maré alta; quando colocados num aquário,
continuam durante certo tempo seu deslocamento vertical, acompanhando
o ritmo das marés a que estavam habituados.
As filárias só circulam no sangue periférico à noite, mas, quando os
portadores deslocam-se para um fuso horário oposto, elas circulam durante
o dia por certo período de tempo.
A memória, ao que tudo indica, não é apanágio exclusivo do reino
animal, pois no reino vegetal numerosos casos comprovam a sua existência.
Há vegetais cujas flores abrem-se sempre durante a noite, mas que, uma
vez levadas para um ambiente de obscuridade contínua, mantêm o mesmo ritmo
de floração durante certo tempo. Isto prova que, embora o estímulo condicione
o ser, há, contudo, um registro de automação que participa do fenômeno.
Nos últimos anos, vários experimentos de laboratório vêm sendo rea-
lizados por numerosos pesquisadores, especialmente por BACKSTER, nos
USA 11 'lJ, evidenciando a existência de uma memória vegetal. Vale descre-
ver uma das mais famosas experiências desse autor.
52 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÀO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

As pesquisas em apreço consistem em ligar galvanômetros sensíveis


às folhas dos vegetais em estudo, visando o registro de certas reações aos
estímulos a que são submetidos. Assim, pode ser estabelecido um padrão
gráfico indicativo de algumas reações como, por exemlo, a reação de
"medo" quando uma das folhas é tocada por algo lesivo como o fogo. Uma
vez feita esta operação, nos experimentos seguintes, ante a simples ameaça
de ser queimada, a planta reage indicando que conservou a lembrança da
experiência anterior.
Indo mais longe, BACKSTER, na tentativa de evidenciar a existência da
memória vegetal, realizou uma experiência que excluía a possibilidade de
alguma percepção especial por parte da planta, que já provara existir nos
vegetais, faltando apenas comprovar a existência da memória. Para isso
realizou uma experiência mais complexa. Introduziu um certo número de
pessoas no laboratório onde algumas dezenas de plantas estavam ligadas
aos galvanômetros acoplados a sistemas de registro gráfico.
Sorteou um dos participantes da experiência, para destruir uma das
plantas sem que este fosse conhecido dos outros membros do grupo. Um de
cada vez penetrou no laboratório e o sorteado destruiu a planta na presença
das demais. Os gráficos registraram o pânico manifestado por todas as plan-
tas. Em seguida, BACKSTER fez entrar novamente um a um os participantes e
observou os gráficos. Quando aquele que havia destruído a planta entrou no
laboratório, todas as outras manifestaram reações de pânico, atestando que
havia em cada planta, um registro de memória do que ocorrera.
Portanto, o fenômeno da memória parece caracterizar indistintamente
todos os seres vivos, desde a simples célula vegetal até os organismos mais
complexos.
Hoje, além da memória global, que sempre foi considerada como uma
das faculdades dos seres superiores, já se admite a existência de memórias
individuais próprias das células. Neste particular, merecem atenção os estudos
realizados nas últimas décadas por alguns autores e pesquisadores. O francês
WINTERBEER e o norte-americano JEANINGS chegaram à conclusão que o ARN,
entre outras funções, é o repositório da memória dos caracteres adquiridos,
enquanto ao ADN é atribuída a preservação da memória hereditária.
Paralelamente, os trabalhos de HOLDAR HYDES e de EGYHAZIE (citado
por R. LISSEN) (111 , comprovam que a memória decorre de perturbações
eletromagnéticas nas moléculas do ADN e do ARN. LUPASCO analisa na sua
obra "Les Trois Matieres" (?) a memória atômica, o que transcende a idéia
de memória celular. Em apoio às teses da Psicologia Transpessoal, PIERRE
WEIL estuda os modernos conceitos de memória celular. (li)
A função de qualquer unidade integrada do sistema orgânico, quer
no nível da célula, órgão ou aparelho, parece depender de uma quádrupla
regulação.
Qualquer órgão exerce sua função sob um quádruplo comando. O
PRINCIP!OS DA UNIDADE ORGÀNICA ' 53

primeiro deles é efetivado pelo estímulo exercido diretamente sobre as


células por substâncias ou outros fatores físico-químicos que desencadei-
am reações específicas do órgão. O segundo comando é efetivado à distân-
cia pela mente individual e veiculado até o órgão por meio dos mecanis-
mos de integração estudados no capítulo anterior. O terceiro comando é
inerente à inteligência vital. O quarto é um comando inerente a cada
célula, determinado pela memória da atividade funcional que lhe é pró-
pria, quer pelo registro hereditário, quer pelo condicionamento desenvolvi-
do pelos estímulos que se fizerem sentir durante certo tempo.
Vejamos, por exemplo, o caso de um indivíduo adaptado à ingestão de
determinado alimento. Se ele se abstiver por muito tempo da ingestão desse
alimento, quando voltar a ingeri-lo, poderá apresentar distúrbios digestivos,
muito embora todos os seus órgãos funcionem como antes. Isto acontece
freqüentemente às pessoas que mudam de uma região para outra, de hábitos
diferentes e que, vários anos depois, ao regressarem a sua região de origem,
notaram que muitos alimentos que lhes eram antes de digestão fácil, não
mais o são agora. Embora haja o estímulo direto do alimento, embora as
vias de comando permaneçam sem quaisquer anormalidades, os órgãos di-
gestivos como que perderam a capacidade que antes lhes era peculiar.
A função de qualquer órgão depende essencialmente de sua natureza
e pode ser desenvolvida ou melhorada pela presença constante dos estímu-
los adequados, mas daí em diante, entra também cm jogo a memória
celular, que torna a função automática. A função ocorre automaticamente
porque o órgão "sabe" o que deve realizar, mas, com o decorrer do tempo,
a descontinuidade de estímulos pode determinar uma amnésia funcional é
evidente em muitos casos em que, tudo estando anatomofisiologicamente
perfeito, contudo o órgão não funciona de modo adequado. Então, para sua
reatividade faz-se necessária uma sucessão de novos estímulos.
Como vimos, estudos mais adiantados têm demonstrado que a memó-
ria do indivíduo não é apenas elaborada e arquivada nos centros cerebrais,
mas em todas as células simultaneamente. Na intimidade de cada célula,
ao nível dos genes, é feito o registro de memória total do organismo.
Assim, cada célula tem um duplo registro mnemônico: um do próprio
indivíduo e outro da unidade celular.
As mais recentes pesquisas no campo da biologia molecular vêm de-
monstrando que os registras de memória são guardados ao nível dos genes
no ARN e perpetuam-se através de gerações, como demonstram experimen-
tos realizados em animais de laboratório. Se, de ratos treinados para desem-
penhar certas funções forem extraídas e inoculadas certas frações do ARN
em ratos comuns, estes desenvolvem as aptidões daqueles. A partir deste
fato, a ciência afirma a possibilidade da transmissão de memórias por meio
de injeções, ou mesmo pílulas, num futuro não muito distante.
Isto vem ao encontro de certas observações da psicologia que, graças a
54 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

este fenômeno, já podem ser explicadas. É o caso, por exemplo, dos trabalhos
do professor SZONDI, da Escola Superior de Psicologia de Budapeste, atualmen-
te residindo na Suíça, que demonstram a existência de um tipo diferente de
transmissão na área do comportamento de certas características individuais,
que não se enquadram nos mecanismos anteriormente conhecidos. szoNDI
demonstra que certos estados psíquicos, certas compulsões e distúrbios do
comportamento social não encontram vínculos de transmissão dentro dos
mecanismos clássicos estudados pela genética clássica. São estados que se
repetem através de gerações e que podem ser evidenciados quando são anali-
sadas as árvores genealógicas. Para a escola de psicologia de SZONDI, aluai-
mente uma das mais importantes, esses estados seriam, na realidade, decorren-
tes de transmissão de memória do exercício de uma função.
O mestre JUNG, que já havia se defrontado com problemas dessa natu-
reza, salientou a necessidade de um estado psicológico especial, corres-
pondendo, talvez, ao que ele denominou Inconsciente Coletivo.
A ciência, no passado, só admitia a possibilidade de transferência de
informações através de gravações mecânicas em um substrato material
qualquer como, por exemplo, papel, madeira, pedra, metais e outros. A
informação teria que ser gravada mecanicamente com o auxilio de enta-
lhes c tintas; até então não se admitia uma outra possibilidade qualquer.
Um certo avanço surgiu com o registro de informações em discos de vinil
e similares mas, mesmo assim, aquele tipo registro ainda era de natureza
mecânica, sulcos numa superfície adequada que ao ser percorrido por um
estilete reproduzia num diafragma as vibrações sonoras.
O passo seguinte ocorreu com o advento da fotografia que, embora
sendo ainda um processo material, já transcendia o nível mecânico, che-
gando ao nível químico. Em vez da utilização de sinais mecanicamente
gravados faz-se uso de reações químicas cm superfícies cobertas com sais
sensíveis à luz, naquilo que é conhecido como fotografia.
Não se poderia supor, então, que tudo isso logo tornar-se-ia obsoleto,
quando ainda pensava-se que a transferência de informações só poderia ser
feita através de processos gráficos, escritas, desenhos e fotos veiculados
em meios materiais como sólidos, líquidos e gases e mesmo assim de uma
forma muito limitada.
Grande progresso nessa área fez-se sentir após o descobrimento de meios
de conversão de sinais sonoros cm impulsos elétricos, permitindo assim, que
através de tios, informações pudessem ser transferidas a longas distâncias.
Naquela fase do desenvolvimento dos sistemas de registras e transfe-
rência de informações, jamais as pessoas comuns, e mesmo a quase totali-
dade dos homens de ciência, ao menos podiam supor que em breve tudo
aquilo seria amplamente superado; sequer suspeitavam que em pouco tem-
po evidenciar-se-ia a possibilidade prática das gravações cletromagnéticas.
Numa fotografia, um exame sensorial mostra diretamente facilmente
PR/NCIP/05 DA UNIDADE ORGANICA • 55

que ali há informações, assim como num processo gráfico qualquer. Mes-
mo num registro fotográfico, o exame do suco de gravação na superfície
mostra algo. Por, outro lado, numa gravação magnética nada disso é possí-
vel, ao exame sensorial uma superfície gravada eletromagneticamente é
em tudo idêntica a uma não-gravada. No passado, um cientista, mesmo
que os meios técnicos mais avançados de sua época, uma fita cassete, ou
um disquete de computador por certo afirmaria que ali não existia mensa-
gem alguma. Por mais que usasse os meios de detecção, nada encontraria
gravado e tudo seria intitulado de simples ilusão.
Isto serve de analogia para o quadro atual da Medicina Homeopática.
Os meios de detecção comuns, quer físicos quer químicos, ou mecânicos
nada revelam quanto à presença do elemento medicamentoso. Examinar
um medicamento homeopático pelos meios físicos comuns não leva a
coisa alguma, por isso a Homeopatia é negada*. Mas, o não ser detectável
numa mensagem, não indica que ela inexista em um outro nível, tal como
no passado a não-detecção dos registras magnéticos não significaria a sua
inexistência. O não poder, há algumas décadas, ser evidenciado em regis-
tro magnético em um "disquete", em "tapes" e outros meios de registras
eletromagnéticos, por certo não significaria uma inviabilidade.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado a muitas interações que se
processam no organismo e em especial no que se refere a certos níveis de
transmissão e registro num organismo.
A fisiologia até bem pouco tempo somente admitia três vias de coman-
dos entre a parte e o todo; a via mecânica, a nervosa (impulsos elétricos =
impulsos nervosos) e a humoral. Somente experiências levadas a efeitos há
algumas décadas vieram indicar pelo menos a existência de mais uma via,
aquela efetivada por meios de transmissões eletromagnéticas, algo que lem-
bra uma radiotransmissão. Neste tipo uma célula age como um transmissor-
receptor de sinais vibratórios integrando assim, todo o sistema celular.
O estudo da "linguagem bioquímica" na interação orgânica teve grande
desenvolvimento nos últimos anos. Atualmente já existe uma riqueza imensa
de possibilidades de intercomunicação de unidades biológicas constitutivas
de um organismo através de mediadores químicos os mais diversos.
Até bem pouco tempo pensava-se que uma informação era sempre ima-
terial mas que necessitava sempre de um veículo portador material, como
sejam: papel, fitas com sais de ferro ou de cromo, madeira, metal, fluidos
diversos, e assim por diante, até que a transmissão por ondas eletromagnéticas
se tornou conhecida mostrando que até na ausência de um meio ponderável é
possível a transferencia de mensagens, como acontece no espaço sideral.

Nota do A. - Somente ao nível de ressonância magnética é que a ciência atual


pode evidenciar a existência de algo ao nível de medicamento homeopático.
56 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMÃTICA

Caso se examine um romance a nível químico ou físico somente se


chega à conclusão que o material examinado nada mais é que uma mistura
de tintas, corantes, cola, celulose etc. Mas, dentro de um outro ângulo
pode-se chegar à conclusão que esse tipo de análise mostra somente o lado
material do livro. Exatamente ordenação de toda aquela mistura pode
tornar um todo coerente com uma determinada mensagem.
O mesmo panorama apresenta-se para um bioquímico que pretenda
ao nível de análises físico-químicas detectar a mensagem veiculada pelo
medicamento homeopático. O mesmo podemos dizer quanto às reações
orgânicas, nem todas são veiculadas por substâncias sólidas diretamente;
nem por líquidos, nem por impulsos nervosos e nem sequer por ondas
eletromagnéticas. A ciência sempre considerou que a interação entre as
partes e o todo processava-se através de mensageiros químicos, e nesta
área a imunologia chegou ao desenvolvimento de um fantástico nível de
interações bioquímicas, um nível tal que já se usam expressões assim:
"Células conversando entre si... " Na realidade, o panorama atual faz-nos
ver que a comunicação intercelular transcende o nível de simples reações
químicas, chegando a um elevado nível de interações de partículas nos
processos de transmissão microbiológica.
Assim, podemos afirmar que não se deve buscar o modus operandi dos
miasmas somente ao nível químico, mas com isso não estamos dizendo que
são condições espirituais, como pretendem afirmar alguns pensadores dentro
da Homeopatia. Afirmamos que existem condições ligadas aos miasmas
cujos mecanismos transcendem o nível químico, chegando a um nível "qu-
ântico", mas é fundamental que primeiro se conheça perfeitamente o nível
bioquímico do processo miasmático. É isso o que pretendemos mostrar neste
livro, mesmo que reconheçamos a existência de nível imaterial não somente
inerente aos miasmas, como também aos processos inerentes à vida.
Mesmo sabendo-se que nos estados miasmáticos estão envolvidos
processo imateriais, mesmo assim, queremos dizer que é muito mais
significativo o conhecimento do nível bioquímico comum que o impon-
derável. Clinicamente podemos trabalhar com os miasmas deixando à
margem o lado sutil.
Miasma é um estado orgânico em que um grande número de reações
se fazem presentes envolvendo praticamente todas as funções do organis-
mo mas, como a parte bioquímica é a mais diretamente envolvida é por
isso que na clínica devemos considerá-la preferencialmente.
Naquilo que denomina-se Miasma há uma predominância altíssima
de processos químicos, por isso primeiramente deve-se estudá-lo e utilizá-
lo a esse nível, deixando-se o lado sutil para o campo das especulações
metafísicas da vida.
Existem processos inerentes à vida que transcedem o limiar da quími-
ca. O que leva a pensar assim é a própria Física Quântica que tem trazido
PRINCÍPIOS DA UNIDADE ORGÁNICA t 57

proposições deveras impressionantes, como veremos. O biólogo francês


HENRI LABORIT, conhecido como um materialista radical, diz: "O vazio está
cheio de alguma coisa que não é matéria" ... "No vazio quântico há tudo e
nada, ao mesmo tempo".
Alguns cientistas quânticos dizem que no vazio/nada há "informa-
ção". Entre os cientistas que assim afirmam temos o brasileiro Prof..
MÁRIO SHEMBERG.
É o próprio LABORIT quem diz a respeito do conteúdo do nada: "Vari-
ações de campos elétricos provocados pelo epicentro da matéria e que
persistem quando a matéria já lá não está".
Essa afirmativa é de uma significação de grande importância e ao mesmo
tempo desconsertante, pois diz da existência de registras além de quaisquer
meios físicos conhecidos, transcende, portanto, ao nível da matéria da própria
energia. Poder-se-á dizer que é algo no nível da consciência, de registro da
consciência, cujo meio de registro ainda é totalmente ignorado.
Um outro físico de renome DAVID BOHM, diz existir uma "ordem implí-
cita", ou seja, ele diz que a matéria está implícita no nada, que no "vazio
quântico" há pré-forma da fomza; portanto há o molde invisível do molde
visível que somos nós e as coisas.
O cientista francês BENEVISTE, vem tentando demonstrar que a própria
matéria tem memória. Com suas pesquisas ele vem tentando provar que,
quando a matéria deixa de existir num ponto, ficam vestígios imateriais.
Seus trabalhos têm sido considerados por alguns e confirmados por outros
por testes efetivados em diversos laboratórios.
Dois biólogos atuais de renome BURR e SHELDRADE, dizem ter identi-
ficado "campos da vida", ou campos morfogenéticas, isto é, no campo
biológico, aquilo mesmo a que se refere DAVID BOHM quando fala em
"ordem implícita". Segundo aqueles pesquisadores, cada organismo teria
uma pré-forma da qual os gens seriam apenas mensageiros materiais.
Além da matéria biológica existiria um modelo energético organizador, o
modelo organizador biológico.
Observações recentíssimas colhidas a partir de informações forneci-
das pelo telescópio espacial Hubble vêm mostrando a inexistência da
suspeitada massa oculta do universo. Esta vem sendo substituída por
algo semelhante àquilo que EINSTEIN admitiu de início, mas posteriormen-
te recusou, denominado Constante Cosmológica. Haveria no universo
algo muito poderoso no nível do "nada quântico" e que dá origem a
tudo. O próprio cientista inglês, talvez o maior físico da atualidade, STEPHEN
HAWKING já fala na "Mente de Deus" para justificar o comportamento da
matéria que volta para o nada através dos buracos negros, atravessando
assim a barreia do tempo.
De tudo isso tiramos como conclusão que os registras de informações
nem sempre dependem de estruturas materiais, de genes. Há informações
58 ° HOMEOPATIA - CONTR/BU/ÇAO AO ESTUDO DA TEOR/A M/ASMA TICA

biológicas que transcendem muito o nível biológico, chegando ao nível de


consciência celular, uma consciência de função que os genes têm apenas a
função de veiculadores, ficando parte de tudo aquilo que ocorre no orga-
nismo no nível de veiculação de informações de consciência.
Com essa análise, a nossa intenção é mostrar que, ao falarmos de
memória, consciência celular, amnésia tecidual e coisas assim, envolvidas
nos processos reativos miasmáticos, não estamos delirando num mundo de
fantasias, e sim usando princípios coerentes com pesquisas atuais ao nível
de Física Quântica.
CAPÍTULO

A DouTRINA
MIASMÁTICA
U m dos rasgos geniais de SAMUEL HAHNEMANN foi o estabeleci-
mento do conceito de Miasma como elo fundamental e integrante da
cadeia dos processos de cura.
Idéia genial, fruto da sua extraordinária capacidade de observação, am-
pliada pelos seus discípulos e seguidores, especialmente ALLEN, que tratou do
problema detalhadamente e publicou uma obra básica sobre os miasmas.
Seguiram-se outros, desde então até hoje, porém a medicina oficial ainda
não se conscientizou da importância que esse conceito assume.
É praxe que teorias do passado sejam progressivamente superadas por
novos conceitos e descobertas e, também, por técnicas cada vez mais
aperfeiçoadas, porém, o mesmo não ocorreu com a Doutrina Miasmática
das doenças, que permaneceu incólume por mais de um século de estudos
e pesquisas médicas.
Malgrado o espetacular avanço dos meios de pesquisa orgânica, am-
parado por uma tecnologia adiantadíssima, que praticamente superou a
quase totalidade dos conceitos antigos, dando nova e impressionante di-
mensão à filosofia, jamais houve alterações fundamentais na teoria dos
miasmas proposta por HAHNEMANN. Pelo contrário, o que nessa teoria era
inexplicado em bases fisiológicas, passou, com as descobertas sucessivas
não só da fisiologia como da psicologia e da biologia geral, a receber os
subsídios necessários dos quais antes carecia.
Hoje, a análise objetiva e honesta da doutrina miasmática hahnemani-
ana, poderia modificar, no máximo, os vocábulos. O mais, o que aparenta-
va ser enigmático e abstrato, ou seja, os mecanismos fisiológicos nela
envolvidos, agora pode ser explicado à luz do espetacular desenvolvimento
das ciências biológicas. Assim, os conhecimentos atuais de fisiologia re-
62 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

forçam a doutrina miasmática, sem causar-lhe grandes alterações. Ela re-


sistiu no passado, mesmo sem o apoio da fisiologia, graças às confirma-
ções clínicas; hoje, graças ao conhecimento científico atual, já se pode
elucidar a natureza íntima dos estados miasmáticos.
No século passado, os conceitos emitidos por HAHNEMANN sobre a causa das
doenças e, especialmente, sobre certas condições que inflíuam para sua cura
representavam, sem dúvida, algo revolucionário e praticamente desprovido do
apoio de qualquer base científica. Mesmo assim, eles se impuseram na prática e,
decorrido mais de um século de descobertas sucessivas, é ainda difícil explicar,
em todos seus pormenores, os mecanismos intrínsecos dos estados miasmáticos,
muito embora eles se imponham como realidades clínicas.
Talvez o grande "pecado" de HAHNEMANN tenha sido o de haver nasci-
do e exposto suas idéias há quase dois séculos. antes que o mundo estives-
se preparado para apoiá-las e dar-lhes o devido respaldo científico. Somen-
te agora, com o advento da física nuclear, pode-se detectar algo nos medi-
camentos homeopáticos e nas mais avançadas pesquisas, no campo da
hereditariedade, da biologia molecular e da mecânica ondulatória, que
permite entender com precisão o que no organismo ocorre na condição que
a Homeopatia denomina "miasma crônico".
HAHNEMANN, após haver estabelecido a medicina homeopática e trata-
do seus pacientes durante 12 anos, encontrou, graças a suas pesquisas
metódicas e pacientes, explicações para sérias dificuldades com as quais se
defrontava a medicina. Não somente ele, que utilizava uma maneira nova
e muito mais eficiente de curar, como também todos os médicos da medi-
cina clássica defrontavam-se com o mesmo obstáculo à cura, pois o trata-
mento estabelecido para determinado paciente crônico, de início, surtia
efeito espetacular, quando a doença aparentemente era curada, para ressur-
girem depois todos os seus sintomas, tornando-se, assim, os tratamentos
subseqüentes progressivamente mais difíceis.
HAHNEMANN procurou saber porque a cura não era completa e a nature-
za do que lhe detinha o processo. Na busca das causas determinantes do
fenômeno, ele chegou à conclusão que certas doenças específicas contami-
navam o organismo, deixando-o numa condição de doença mais acentua-
da, muitas vezes latente, que motivava essa situação paradoxal. HAHNE-
MANN logo descobriu que essa condição estava ligada diretamente a três
doenças fundamentais: sarna, gonorréia e sífilis. Como a teoria microbiana
era pouco difundida na época, HAHNEMANN, suspeitando da existência de
algum agente transmissível de um indivíduo para outro, como sendo res-
ponsável pela capacidade de resistência à cura, empregou um termo então
muito em voga, "Miasma".
Contudo, a utilização deste vocábulo inadequado não invalida a teoria
que elaborou. Aliás, por tão brilhante intuito, a sua memória merece ser
preservada no Panteon dos precursores da microbiologia: suspeitou da
A DOUTRINA MIASMATICA • 63

existência de organismos transmissíveis, bem antes das descobertas de


outros luminares como PASTEUR e KOCH.
Talvez, pelo desejo de ajustarem os conceitos hahnemannianos aos
progressos da medicina atual, muitos homeopatas têm afirmado que HAH-
NEMANN sabia que os miasmas eram estados diatésicos do organismo. Não
endossamos esse modo de ver, pois, embora o mestre tenha-se referido,
algumas vezes, a estados alterados do organismo como sendo uma condi-
ção miasmática, contudo, sempre se referiu aos miasmas como possíveis
agentes. Mas a sua genialidade não se torna menor por essa afirmativa que,
talvez, não mais se adeque plenamente ao conceito atual de miasma.
Em todos os capítulos do "Organon", sua obra imortal, o grande mestre
foi bem claro ao atribuir os estados miasmáticos a agentes ativos, como se
pode ver no § 78: "As verdadeiras enfermidades crónicas naturais são as que
se originam de uma matéria infecciosa de ação crónica (miasma crónico) ..."
e no § 81: "O fato de que este agente infectante muito antigo haja passado
gradualmente através de muitos milhões de organismos humanos em cente-
nas de gerações, alcançando assim uma virulência incrível..."
Nas décadas seguintes, com o grande desenvolvimento da microbiolo-
gia, chegou-se à perfeita individualização das três doenças citadas por
HAHNEMANN (sarna, gonorréia e sífilis) e à confirmação de que o quadro
de cada miasma transcende muito os sintomas de cada uma das três doen-
ças. Surgiu então a hipótese que a sarna, a gonorréia e a sífilis nada mais
eram que as doenças mais características de cada miasma e capazes de dar
origem aos estados miasmáticos correspondentes.
A seguir, foram publicados inúmeros trabalhos definindo os estados
miasmáticos como condições diatésicas ou, mesmo, constitucionais do
organismo. Por isso, o miasma passou a ser aceito como um estado orgâ-
nico predisponente das enfermidades.
Não transcrevemos aqui as palavras de uma série de respeitáveis mes-
tres da Homeopatia, cujos valiosos trabalhos já são mundialmente difundi-
dos e cujos pensamentos a respeito da natureza do estado miasmático,
foram magistralmente comentados. Mencionamos, entre outras, a obra do
ilustre mestre PROCESO s. ORTEGA: "Apuntes sobre los miasmas".
Nessa obra são expostos os pensametos de dignos homeopatas de
renome, como OS Drs. THOMÁS PABLO PASCHERO, A. J. GROSSO, B. VIJNOWSKY, C.
A. GUTIERREZ, NICOLAS M. CICENIA e outros.
Embora todos eles concordem em que o termo miasma não deve ser
atribuído a um agente infeccioso especificamente, endossam o conceito
que deve ser entendido como tal um amplo estado constitucional patológi-
co, ao qual se liga um séquito de doenças específicas e mesmo algo
transcendente à célula viva.
Desde a época de HAHNEMANN até o presente houve um processo enor-
me no sentido de excluir qualquer agente do conceito de miasma; contudo,
64 1 HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇÂO AO ESTUDO DA TEORIA MJASMATICA

para se chegar ao esclarecimento total do que ele vem a ser, muitos pontos
obscuros precisam ainda ser esclarecidos à luz dos modernos conceitos
biológicos. Mister faz-se não apenas identificar as relações dos quadros
miasmáticos com certos agentes, como também descobrir o porquê dos
sintomas que lhes são específicos e, em particular, os seus mecanismos
fisiopatológicos, somáticos e mentais.
As observações e conclusões que exporemos baseiam-se na análise dos
sintomas que aqueles quadros apresentam, na evolução clínica de cada um,
bem como nos mecanismos de contágio, hereditariedade e cura, submetidos
ao crivo dos atuais conhecimentos da fisiologia e da genética, que evidenci-
am não serem os miasmas nem agentes ativos, nem estados constitucionais
definitivos, como o querem inúmeras escolas homeopáticas, pois, em parte,
na dualidade corpo/alma a idéia de miasma transcende a célula.
Num sentido organicista, aceitamos a definição de HORÁCIO L. Roux,
"A doença crónica constitui, mesmo normal, um estado de existência ao
qual adaptou-se o organismo para sobreviver, buscando um novo metabo-
lismo tolerável, assegurando uma via de eliminação para suas toxinas e
respeitando, até onde for possível, o papel mais ou menos eficiente dos
órgãos nobres. Qualquer alteração dessas funções readaptadas trará parale-
lamente um novo desequilíbrio ..."
Merece também atenção especial o conceito organicista de miasma
endossado pelo francês Dr. ROLAND zissu, que o considera como o resultado
de uma auto ou heterointoxicação numa constituição predisposta.
Este conceito de ZISSU é válido. Contudo, mesmo que se focalize
apenas o lado orgânico do ser, por definir os miasmas como sendo uma
condição ligada a um estado constitucional hereditário, esse conceito limi-
ta sensivelmente a teoria hahnemaniana. Para ele, um estado miasmático
corresponderia a um agente mais um terreno ato ou heterointoxicado.
Evidentemente, esse conceito não satisfaz a tudo o que é evidenciado pela
clínica, porém, os dois fatores salientados são partes importantes de uma
equação maior, elementos indiscutíveis de uma condição ainda mais am-
pla. Os mecanismos propostos por ZISSU, são puramente organicistas quan-
do, evidentemente, o Miasma transcende a estrutura física.
Assim, após os estudos realizados por HAHNEMANN, o conceito de mi-
asma continua quase inalterado para os homeopatas apesar de dar margem
ainda a polêmicas infrutíferas. Porém, mesmo que se discuta o que seja
miasma, sua existência é comprovada pelas observações clínicas diárias.
Sendo ainda um dos grandes enigmas da Homeopatia, requer mais esfor-
ços da parte dos homeopatas, visando explicar sua essência, permitindo
assim à humanidade colher os frutos advindos desses conhecimentos.
É preciso que cada um ofereça sua contribuição científica para o
estudo coletivo, pois tão grande é o enigma, que se criou mesmo uma
mística, analisada no último capítulo deste trabalho.
A DOUTRINA MIASMATICA t 65

No estudo da condição limitante da ação dos medicamentos na cura


das enfermidades, foi somente nas últimas décadas, que a escola francesa,
em particular, seguidora de L. VANNIER, tem tentado apresentar novas inter-
pretações para os estados miasmáticos, porém encarando apenas a estrutu-
ra natural do ser. Um grande número de homeopatas gauleses tenta, inclu-
sive, relacioná-los com a biotipologia apontada por NEBEL como fator pre-
disponente dos estados mórbidos.
Essa tentativa de condicionamento dos miasmas à constituição bioti-
pológica, não suporta realmente uma crítica baseada em observações prá-
ticas, pois o biótipo parece ter uma importância acessória na individualiza-
ção do medicamento homeopático e nada contribui para explicar o que
essencialmente vem a ser um estado miasmático.
Alguns franceses, entre eles zrssu, assemelham os miasmas a terrenos
orgânicos sobre os quais atuam intoxicações endógenas e exógenas. A
partir desta idéia, em nossa opinião, esse autor chegou ao núcleo real do
problema, se encarado apenas sob um ponto de vista organicista, inclusive
assinalando também os estímulos psíquicos como fatores de relevância de
tais estados, que ele prefere denominar "diátese".
Mas o conceito de zrssu é ainda bastante incompleto por não explicar
situações evidenciáveis num quadro miasmático, como, por exemplo, o
modo pelo qual se processam a hereditariedade e muitas formas de contá-
gio e mecanismos de cura.
Por outro lado, há, dentro da Homeopatia uncista, uma escola integra-
da por uma plêiade de excelentes mestres, que têm desenvolvido um traba-
lho profícuo para o tratamento do fundo miasmático dos pacientes. Entre
os principais líderes do movimento, avultam PIERRE SCHMIDT (Suíça), THO-
MÁS P. PASCHERO (Argentina), DAVID FLORES TOLEDO e PROCESO S. ORTEGA (Mé-
xico), J. BOUER (França), DIVAN H. CHAN (Índia). Para esses pensadores e
seus discípulos, não se pode fazer Homeopatia sem levar em conta a
Teoria dos Miasmas, pois, do contrário, torna-se impossível atingir um
plano de cura satisfatório, uma vez que essa condição é, em essência, a
causa básica de todas as doenças crônicas.
Aceitamos a opinião desses luminares e salientamos a importância que
eles têm dado ao assunto, promovendo congressos oficiais e difundindo
publicações que visam ampliar e elucidar a teoria miasmática das doenças.
No recente livro do grande homeopata mexicano PROCESO s. ORTEGA,
são abordados novos ângulos que facilitam o entendimento do que vêm a
ser os miasmas, mas falta muito ainda para elucidar todos os enigmas
sobre o assunto. Nessa obra não é salientado ainda o que ocorre fundamen-
talmente no nível dos mecanismos fisiológicos no estado miasmático e não
há explicações para os paradoxos de sua hereditariedade, cura e contágio.
Porém, a obra de ORTEGA é fundamental, pois enfoca com bastante precisão
os sintomas mentais do indivíduo ante cada quadro miasmático. Isto evita
66 1 HOMEOPATIA- CONTRI8UiçAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

que inúmeros erros de repertorização venham a ser cometidos e, assim,


permite que se chegue, com mais eficiência, ao remédio homeopático
apropriado, capaz de curar o indivíduo em sua totalidade psicológica.
Em nosso entender, aquela escola de pensadores tem deixado um tanto
de lado certos aspectos da transcendência miasmática, bem como os meca-
nismos fisiológicos envolvidos no processo miasmático. É imprescindível
que sejam esclarecidos ainda mais os mecanismos biológicos inerentes aos
miasmas; do contrário, o progresso desse conhecimento logo será detido por
carência de base científica e muita coisa, por certo, deixará de ser feita.
A medicina moderna exige o conhecimento dos mecanismos intrínse-
cos de qualquer processo, como a condição básica de qualquer tratamento
racional. Não bastam para uma medicina homeopática científica a análise
de sintomas e o estabelecimento de métodos de tratamento. Deve-se trans-
formar o estudo dos miasmas em algo concreto, de caráter experimental.
Do contrário, mesmo utilizando critérios seguros, haverá uma tendência
inelutável para o empirismo, fato inaceitável dentro dos postulados da
ciência atual.
Uma outra escola unicista de grande valor procura demonstrar que os
miasmas não são tão importantes como querem os doutos homeopatas já
citados, pois o conhecimento satisfatório da Matéria Médica e do uso de
Repertórios, mediante um dos pilares da homeopatia - a lei dos semelhan-
tes - pode levar o homeopata ao similimum, que determinará perfeitamente
a cura do indivíduo. Admitimos que o similimum é capaz de causar tanto a
doença manifesta quanto o fundo miasmático.
Embora reconheçamos a importância da Matéria Médica e de um
trabalho eficiente c metódico de repertorização, achamos que o conheci-
mento adequado dos miasmas permite-nos evitar de incidir em erros na
determinação do similimum que um sintoma, particularmente mental não
tem valor por si mesmo, pois pode corresponder a remédios diferentes
segundo as condições miasmáticas que o originam. Assim, na busca do
medicamento apropriado, se não for levado em consideração o quadro
miasmático, pode-se recorrer a um que não atinja o objetivo colimado.
ORTEGA, em seu livro "Apuntes sobre los miasmas", explica magistral-
mente um determinado sintoma à luz de diferentes miasmas. Entre muitos
outros, ele cita o exemplo da rubrica repertorial "medo" ante cada quadro
miasmático. Pela Matéria Médica, ou pelos repertórios, "medo" é um
estado só, com o qual estão relacionados medicamentos vários. Se não for
tomado em conta o miasma envolvido pode-se facilmente chegar a um
medicamento que por certo jamais irá curar o paciente. Pode-se chegar, no
fim de uma repertorização, a dois medicamentos diferentes, cada qual
ligado a um miasma; nesse caso, desde que se conheça o quadro miasmá-
tico, a escolha será fácil, caso contrário será difícil e o homeopata pode
fazer uma prescrição equivocada.
A DOUTRINA M/ASMATICA ' 67

No indivíduo doente, pode-se dizer que existem pelo menos dois


níveis: um nível de doença sintomática e um nível de fundo (miasmático).
Curar a doença, como veremos depois, não significa, absolutamente curar
o paciente, pois pode persistir nele o estado de fundo, que é a sua condição
miasmática. Pela repertorização pura e simples, pelo uso único dos conhe-
cimentos da Matéria Médica pode-se chegar evidentemente ao remédio de
cura do paciente em seus dois níveis mas, se for desprezado o quadro de
fundo, tal fato não ocorrerá muitas vezes. Pode haver unicamente cura da
doença manifesta e permanência do estado de doença latente. Como é
sabido, o miasma é uma condição que pode manifestar-se assintomatica-
mente, minando paulatinamente o organismo, para aparecer a qualquer
momento sob a forma de má-condição anatomofuncional grave. A cura da
doença em si não significa a cura do doente, pois ele pode permanecer tão
ou mais vulnerável que antes, se não for mais.
Essa escola conta com renomados homeopatas, sobretudo argentinos,
como F X. Eizayaga, E. Puiggrós, B. Vijnowsky e outros. Curam, de início
o primeiro nível da doença e só atacam o estado miasmático do paciente
se ele se manifestar sintomaticamente no final do tratamento.
Como o similimum perfeito é difícil de ser determinado se não for
considerada a predominância miasmática, de forma alguma pode-se ter a
certeza da dupla cura, pois, no paciente, o primeiro nível - o de doença
clínica - pode ser debelado completamente, mas permanecer ativo o esta-
do de doença profunda, embora temporariamente latente. Essa escola tem,
contudo, o mérito de ter desmistificado os miasmas e procurado manter a
doutrina miasmática hahnemaniana dentro de conceitos científicos.
Em suma, sabe-se perfeitamente que miasma é uma condição que se
manifesta num indivíduo e que propicia o aparecimento de uma série de
estados considerados doenças com várias denominações. Para explicar o
que realmente ele é, os homeopatas ainda não chegaram a um consenso
em decorrência de algumas condições peculiares que se apresentam num
estado miasmático e que contravêm em aparência, às leis da hereditarie-
dade clássica.
A experiência clínica homeopática tem estabelecido definitivamente
algumas das principais características miasmáticas, ou seja: as doenças ine-
rentes aos estados miasmáticos, as modificações anatomofuncionais que eles
determinam; suas formas de contágio; certos agentes determinantes; a here-
ditariedade de estigmas que os retratam e especialmente os métodos de
tratamento e cura. De modo geral, tais condições parecem simples, mas,
quando analisadas conjuntamente, manifestam-se incongruências. Conside-
radas isoladamente não oferecem dificuldades, mas examinadas todas juntas
evidenciam-se apreciáveis incompatibilidades científicas.
Exatamente por apresentarem características como estas, os estados
miasmáticos tornam-se difíceis de ser entendidos quando enfocados à luz
68 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

da ciência biológica clássica, apresentando verdadeiros paradoxos, como


veremos mais adiante.

PRIMEIRO PARADOXO - O TERRENO

Apresenta-se aqui a primeira dificuldade, pois existem indivíduos que


nascem com as características muito bem-definidas de determinado terre-
no miasmático e nos quais a ação de uma noxa precisa não é capaz de
desenvolver essa condição.
A recíproca é verdadeira: há indivíduos sem características embriolo-
gicamente adquiridas, mas que a desenvolvem facilmente. É uma incon-
gruência uma noxa adequada poupar um terreno com sinais marcantes de
predisposição e agir, com forte intensidade, num outro, sem quaisquer
indícios. Isto reduz a importância que é dada à morfologia dos pacientes e
aos estigmas miasmáticos hereditários na manifestação de um quadro es-
pecífico, já que uma noxa poupa um organismo morfologicamente predis-
posto pela sua própria constituição e age sobre um outro sem quaisquer
estigmas indicativos de um terreno.
Tal é o caso que se observa nos indivíduos que nascem com uma série
de excrescências cutâneas e outros sinais sintomáticos de um terreno sicó-
tico, mas que nunca desenvolvem atividade alguma ligada a esse miasma.
Enquanto isso, outro indivíduo que não apresenta sinais de terreno sicóti-
co, pode ser facilmente atingido por um processo ativo. Há inúmeros
exemplos de sicóticos que jamais se contagiam com gonorréia, mesmo que
estejam continuamente expostos a ela.
No mundo atual, quase todas as pessoas apresentam sinais trimiasmá-
ticos e, mesmo vivendo constantemente submetidos às noxas próprias de
cada miasma, nem por isso desenvolvem o miasma.
Claro que é muito comum a correspondência do terreno físico com a
manifestação miasmática correspondente, mas isso não é uma condição
indispensável.
Mais paradoxal ainda é o fato de determinadas noxas, próprias de um
estado miasmático definido, desenvolverem outro quadro miasmático dife-
rente. É o que temos constatado freqüentemente, desde que iniciamos um
trabalho visando a esclarecer se o fio catgute, utilizado em cirurgia, por
ser constituído de proteínas heterólogas, pode ser responsabilizado por
estados sicóticos, sabido que uma das principais causas de sicotização é a
inoculação de proteínas estranhas ao organismo. Essa pesquisa, realizada
em centenas de operados, evidencia o efeito sicotizante do catgute, mas o
que mais despertou a nossa atenção foi o fato de, algumas vezes, essa
substância estabelecer um quadro de um miasma diferente, mesmo em
paciente com sinais evidentes de um terreno sicótico hereditário.
A DOUTRINA MIAS MA T/CA o 69

Na 3• Jornada Paulista de Homeopatia, realizada em novembro de


1977, em São Paulo-BR, apresentamos um trabalho, publicado no no 137
da "Revista de Homeopatia da Associação Paulista de Homeopatia", em
que analisamos quatro casos de pacientes que desenvolveram quadros
mentais graves, anos após haverem sido submetidos à cirurgia com tio de
catgute. Esses pacientes desenvolveram quadro sifilítico em conseqüência
do uso desse tipo de fio, e não um estado sicótico, como era de se esperar.
Para evidenciar se realmente foi a ação do catgute a causadora do quadro,
utilizamo-lo, dinamizado (tautopatia) o que determinou uma melhora clí-
nica nítida, provando assim que a exacerbação sifilítica evidentemente
devia-se à inoculação das proteínas heterólogas veiculadas pelo fio cirúrgi-
co de origem animal, e não a outras causas possíveis que poderiam desen-
cadear o quadro miasmático evidenciado.
Perguntamos, então, naquele conclave, o porquê do estado sifilítico
surgido em vez do sicótico, como era de se esperar.
Estamos continuando nossas observações em pessoas operadas há vários
anos e temos constatado casos freqüentes de sicotização. Nos casos estudados,
temos encontrado pacientes com todos os estigmas sicóticos, portanto, dotados
altamente de terreno favorável, mas em quem a proteína heteróloga, fator
reconhecidamente sicotizante, despertou quadros psóricos ou sifiliníticos.
Foi na tentativa de resolver este paradoxo que chegamos a uma série
de conclusões que serão expostas neste trabalho.
Se aceitarmos como fundamental a necessidade de terreno, torna-se
muito difícil compreender porque um paciente, cuja doença miasmática
foi curada com um remédio de ação particularmente eficaz, dificilmente
voltará a contrai-la, mesmo que volte a expor-se às condições que provoca-
ram a doença inicial. Nesse caso, os sinais físicos do terreno podem con-
tinuar existindo sem por isso favorecerem o reaparecimento da doença. Se
o estado miasmático fosse igual à noxa mais o terreno (sendo este uma
condição hereditária), após a cura permaneceria o terreno tal como antes,
e o indivíduo continuaria responsivo à mesma noxa anterior.
Vejamos o caso de um paciente com gonorréia. Essa doença seria
provocada pela ação do gonococo (noxa) sobre um terreno sicótico. O
terreno, se aceito em caráter hereditário, seria inalterável, pois manifesta-
ção genotípica não é passível de modificação. Portanto, o remédio só
poderia curar atuando sobre o gonococo, isto é, eliminando um dos ele-
mentos da equação. Logo, tantas vezes o agente infectante se manifestas-
se, tantas vezes ocorreria a gonorréia, como acontece nos tratamentos
alopáticos. Já no tratamento homeopático bem-orientado, isto não aconte-
ce pois, em alguns casos, o paciente curado jamais volta a se contaminar.
Se tudo isso não invalida totalmente o conceito de terreno constituci-
onal hereditário como um dos dois termos de um membro da equação:
miasma=terreno+noxa, pelo menos indica, como algo plausível, a existên-
70 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

cia de outras condições fundamentais no organismo para que nele se esta-


beleça um estado miasmático.
Certamente muitos invocarão, para explicar o paradoxo, a chamada
resistência orgânica. Dirão que um quadro miasmático somente se mani-
festa num terreno hereditário quando os mecanismos de defesa do indiví-
duo são enfraquecidos
Mas, por que a resistência orgânica não é a causa desse paradoxo? O
que se denomina resistência orgânica, por incrível que pareça, não decorre
realmente de um dos principais fatores considerados pela fisiologia. Resis-
tência orgânica é uma expressão que serve apenas para determinar certas
situações que a fisiologia não consegue explicar.
Realmente há um sistema de defesa do organismo e, como veremos
mais adiante, os próprios quadros miasmáticos, em parte, são sistemas
defensivos, porém, o conceito de resistência orgânica, tal como é explica-
do classicamente, não resiste a uma análise mesmo superficial. Todos os
mecanismos conhecidos pela medicina clássica são válidos, mas acontece
que não são apenas esses mecanismos os responsáveis pela capacidade do
organismo de resistir às pressões patógenas. A resistência orgânica, segun-
do a medicina clássica, seria a capacidade do organismo de opor-se a uma
doença e isto, segundo declara a patologia, dependeria das reações de
defesa em que têm papel fundamental as gamaglobulinas. Esse conceito é
de tal modo aceito pela medicina clássica que, nas moléstias viróticas,
essas proteínas são um dos principais medicamentos utilizados, por eleva-
rem a resistência orgânica. Possivelmente participam dos mecanismos de
defesa, mas não de forma absoluta, como se admite usualmente.
Mas perguntamos: quando o organismo está com as suas defesas mais
baixas? Quando as gamaglobulinas situam-se em índices mais críticos?
Certamente, após as viroses e outros estados agudos, como, por exemplo,
o sarampo. Isto é verdade para a medicina alopática, razão pela qual ela
recomenda, nesses casos, o uso de gamaglobulina exatamente para elevar a
resistência orgânica ante a ação do agente patogénico.
Sendo assim, após uma virose, quando as gamaglobulinas situam-se
em níveis críticos, as defesas estariam, conseqüentemente, muito baixas e
o organismo mais indefeso, mais vulnerável a todas as espécies de germes
e outras causas mórbidas. Contudo, o que acontece é exatamente o inver-
so: é após uma doença infecciosa aguda o momento em que o indivíduo se
torna mais refratário às doenças agudas. Estranho paradoxo! Quando a
defesa se encontra no nível mais baixo o indivíduo apresenta maior resis-
tência. Isto a clínica mostra, porém a patologia clássica não explica.
Portanto, deixemos de lado, no estudo dos estados miasmáticos, o
clássico conceito de defesa como elemento responsável pela não manifes-
tação de uma doença no indivíduo constitucionalmente portador de estig-
mas miasmáticos.
A DOUTRINA MIASMA TICA ' 71

A capacidade de resistir às doenças será abordada no estudo dos mias-


mas, como veremos depois, mas já queremos salientar que ela difere muito
do que a medicina alopática tem apresentado. Ela abrange muitos problemas
além de simples reações bioquímicas. Aliás, não é de estranhar que a medi-
cina alopática só considere os aspectos bioquímicos de qualquer processo
orgânico, pois ela difere das demais doutrinas médicas exatamente por ser
essencialmente bioquímica, tudo se resumindo para ela ou a problemas
mecânicos funcionais, ou a distúrbios químicos, enquanto as demais consi-
deram, além desses fatores, as energias elevadas que participam dos proces-
sos vitais, as quais por sua vez, participam dos mecanismos de defesa.
Como já dissemos, o indivíduo com características sicóticas, por
exemplo, primeiro deveria desenvolver um quadro desse miasma e não um
psórico ou mesmo sifilínico.
Se o problema da refratariedade tivesse como causa a resistência, tal
como ela é apresentada pela medicina alopática, um organismo que estivesse
resistente ao miasma mais ligado a ele, com mais razão ainda estaria resistente
também aos demais, a não ser que se tratasse de uma imunidade específica.

SEGUNDO PARADOXO: O CONTÁGIO

Sabe-se perfeitamente que o estado miasmático pode ser contagioso,


razão pela qual HAHNEMANN e seus seguidores imediatos acreditaram que o
miasma existisse concretamente, que se tratasse de um elemento ativo
transmitido ou já existindo no organismo sob forma latente.
Em muitos ele se transmite naturalmente por contágio direto, mas nem
sempre, pois há situações em que não se pode falar de contágio, como quando
provém de causas imateriais, como as noxas psicológicas, por exemplo.
Evidentemente, o mestre HAHNEMANN tomou ciência da existência de
inúmeros fatores do problema, como a sua transmissibilidade por um
agente contagioso, a condição passiva receptiva do organismo, a heredita-
riedade dos estigmas etc.
A análise dos próprios pensamentos dos grandes homeopatas mostra-
nos quanto é difícil caracterizar um estado miasmático no tocante a sua
natureza intrínseca, porque ora ele parece ser adquirido e transmitido por
contágio direto, ligado a elementos biológicos identificáveis, ora parece ser
apenas o resultado da exacerbação de uma condição latente, despertada por
um agente biológico determinado, ou mesmo por um "stress"; ora originan-
do-se de um contágio direto, mas sem qualquer agente responsável conheci-
do; ora, como uma contaminação congénita, com ou sem agente identificá-
vel ora como um estado hereditário ligado ao genótipo do indivíduo etc.
Tal pleiomorfismo gera as especulações mais diversas, como revela a
análise do pensamento escrito de eminentes homeopatas, como E. PUIGGRós
72 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

(Argentina), que chega a classificar os estados miasmáticos em constituci-


onais e adquiridos. Esse autor diz textualmente: "Miasma adquirido não é
o constitucional mas o que adquire uma pessoa no curso de sua vida" ...
Essa interpretação de PUIGGRós é possivelmente uma tentativa de concilia-
ção das duas situações conflitantes: hereditariedade e contágio.
O enigma da natureza íntima dos miasmas tem originado verdadeiros
movimentos dentro da Homeopatia, principalmente entre os seguidores de
KENT e GATHACK, que chegam a associar, por exemplo, a "psora" com o
pecado original, como contágio pecaminoso por uma maneira deformada
de pensar e agir 0 >.Tal condição teria, segundo eles, levado a humanidade
a um estado crónico de doença.
Realmente, pode-se constatar clinicamente a existência de uma forma
de contágio miasmático, pois, como afirma HAHNEMANN, um mero contato,
muitas vezes, é suficiente para levar um indivíduo a contrair um estado
miasmático.
Porém, o que torna o problema complexo é exatamente a coexistência
de condições que, biologicamente, se excluem, como o contágio, o terreno
e a cura.
Um estado patológico ou é contagioso ou é hereditário. Hereditarie-
dade contagiosa é algo impensável, a não ser na forma congénita.
Assim, vemos que situações paradoxais manifestam-se sempre que se
pretende entender a natureza dos miasmas, pois, como tudo indica, conta-
giosos em certos momentos não o são em outros; parecem determinar
mutações, mas são curáveis os seus efeitos; dependem de um terreno, mas
muitas vezes poupam os portadores dos estigmas desse terreno em detri-
mento de outros, que não trazem quaisquer sinais característicos.
Nos capítulos seguintes, focalizaremos progressivamente o proble-
ma de tal modo que todas as incongruências possam ser explicadas de
forma racional.

TERCEIRO PARADOXO: A CURA

Outro ponto questionável diz respeito à cura miasmática.


Seria factível a cura de uma doença ligada a um estado miasmático, mas
não seria possível a cura de um terreno constitucional hereditário. Por terreno
constitucional entende-se uma manifestação genotípica e, de acordo com as
observações de numerosos homeopatas, miasma seria um terreno anatomofun-
cional dessa natureza. Sendo assim, poder-se-ia curar uma doença ligada a um
miasma mas não o terreno, pois uma condição anatomofisiológica genotipica-
mente condicionada, não é passível de cura. Ante um estado constitucional,
quando muito, pode ocorrer um controle funcional, mas jamais uma cura
definitiva, como acontece com os quadros miasmáticos.
A DOUTRINA M/ASMATICA o 73

Se o miasma fosse um terreno transmitido geneticamente, na melhor


das hipóteses, seriam curáveis as doenças inerentes, mas jamais ele pró-
prio, como a prática o demonstra.
Um autêntico estado constitucional genotipicamente como, por exem-
plo a hemofilia, o mongolismo e várias outras doenças, jamais é passível
de cura, quando muito controlável.
Na verdade, quando se cura uma doença crónica importante, o que se
cura realmente é o estado miasmático do indivíduo, razão pela qual ele se
recupera da doença de que é portador, de forma tão completa que muitas
vezes, jamais volta a contrai-la. Muitas vezes cura-se, por exemplo, uma
gonorréia com um remédio agudo, permanecendo, assim, o estado mias-
mático, o que explica facilmente porque o indivíduo volta a contrai-la. Mas,
quando a cura é efetivada por um remédio eficaz em nível de cura miasmá-
tica, algumas vezes, mesmo diante de um novo contágio, o paciente perma-
nece imune. Isto acontece porque não apenas a doença como também o
próprio estado miasmático, são curados, embora permaneçam todos os estig-
mas constitucionais anteriores (a série de sinais representativos de quadros
miasmáticos que, indiscutivelmente, são genotipicamente transmitidos).
Ora, curar estados genótipos é inviável. Mas sabemos que o estado
miasmático é totalmente curável e, como tal, não deveria, de forma algu-
ma, ser um estado hereditário, porém a existência de estigmas morfológi-
cos que lhe são próprios confirmam a hereditariedade. pois repetem-se de
geração a geração.
Trata-se, pois, de uma situação conflitante, porque os estados mias-
máticos apresentam características hereditárias e, ao mesmo tempo, são
passíveis de cura. Isto é tão paradoxal como se curar o mongolismo, a
hemofilia e as demais doenças hereditárias. Se há cura, não deveria haver
hereditariedade mas, não se pode negar que as duas condições não ocor-
rem nos estados miasmáticos.
Eis, pois, o grande paradoxo: características transmissíveis genotipi-
camente e estados plenamente curáveis.
Somente admitido o estado miasmático como uma condição fenotípi-
ca funcional, determinada por diversos fatores, é que desaparece a situação
paradoxal pois, cessando a causa modificadora do mau funcionamento
orgânico, cessam os seus efeitos.
Assim sendo, as características próprias dos estados miasmáticos são
conflitantes e não podem ser explicadas pelos conceitos clássicos da here-
ditariedade.
Veremos, nos capítulos seguintes, que existem realmente algumas si-
tuações hereditárias ligadas aos miasmas, que se conformam com as leis
clássicas da genética e outras que dependem de mecanismos bem diferen-
tes. Por isso, mesmo sendo uma condição ligada a fatores genotípicos, os
estados miasmáticos podem ser curados.
74 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

Não queremos dizer que não existam certas modificações anatomofi-


siológicas, certas alterações constitucionais ligadas aos miasmas, mas es-
sas alterações não representam o estado miasmático, pois muitas vezes,
nem sequer tornam o seu portador suscetível às doenças crônicas a ele
ligadas.
O terreno miasmático existe, mas não como condição absoluta e here-
ditária, e sim como algo que pode se instalar no indivíduo, independente-
mente da existência de sinais constitucionais evidentes.
A FORÇA VITAL
Para o estudo e compreensão dos mecanismos fisiopatológicos dos
estados miasmáticos é mister que se tenha uma idéia exata do que os
homeopatas de língua latina denominam Força Vital.
A idéia de Força Vital tem sido um dos sustentáculos da filosofia
homeopática por mais de um século, apesar de ter resistido a toda tentativa
de identificação, razão por que se constitui num dos enigmas da medicina
hahnemaniana. Mesmo que essa idéia haja se constituído numa realidade
prática, a sua natureza continua ofuscada pelo empirismo.
Quando HAHNEMANN procurou entender e, em seguida, explicar o siste-
ma homeopático de cura, teve de recorrer a alguns conceitos abstratos e
mesmo empíricos para apoiar as hipóteses que expunha, pois incipiente, a
ciência de sua época era ainda incapaz de justificar as bases da nova arte
de curar.
Uma das premissas aceitas é a existência da Força Vital como ele-
mento responsável pela manutenção do estado de saúde do organismo.
Estudando a causa das doenças, HAHNEMANN chegou à conclusão que
existia um princípio responsável pela vida, um poder mantenedor do esta-
do de saúde. Expôs essa conclusão ao mundo médico, especialmente nas
obras "Traité des mal adies chroniques ..." <5J e "Organon dei arte de curar"
4
< l, nas quais atribui o equilíbrio da vida a um fator imaterial que, nas
traduções de línguas latinas é chamado "Força Vital" e que hoje poderia
ser denominado "Princípio Vital" ou "Consenso Orgânico".
Os homeopatas atribuem a HAHNEMANN a criação dessa expressão como
também a idéia de um elemento mantenedor da vida. Mas esse conceito é
muito anterior a HAHNEMANN, pois é um dos fundamentos do Vitalismo e antes
dele já era parte integrante do pensamento de diversas escolas filosóficas.
78 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

Passemos inicialmente em revista alguns tópicos dos escritos de HAH-


NEMANN sobre a Força Vital.
Encontramos no "Organon", no § 9: "Em estado de saúde, a força
vital autocrática que, dinamicamente, anima o material do corpo, exerce
um poder ilimitado e mantém todas as partes do organismo em admirável
harmonia, tanto a respeito dos sentimentos como das funções, de modo
que o espírito dotado de raciocínio que existe em nós, pode empregar esses
instrumentos vivos e são para os mais altos fins da nossa existência ..." 04 >
Nesta parte do § 9 está bem claro que o mestre considerou a Força
Vital como sendo um poder ilimitado que governa o organismo e o conser-
va em funcionamento harmônico.
Em continuação àquele mesmo parágrafo: "Sem dúvida, a Força Vital
que reside em nosso organismo não é inteligente e instintiva e rege em
harmonioso movimento a vida, somente quando está com saúde, porém, é
incapaz de curar-se a si mesma em caso de doença. Pois se estivesse
dotada de semelhante habilidade, nunca permitiria que o organismo se
tornasse doente ...".
Assim, ele atribui à Força Vital um poder de cura, mas de natureza
não-inteligente, porque, segundo diz, se ela fosse inteligente, não permiti-
ria que o indivíduo adoecesse.
Na verdade, se fosse um poder ativo e independente, que, para atuar,
não necessitasse de uma estrutura material, realmente a Força Vital, como
ele supunha, não deveria permitir que a doença existisse, sabendo que o
corpo é indispensável à existência terrena. Mas HAHNEMANN não eviden-
ciou, possivelmente porque em sua época a psicologia era menos desen-
volvida que hoje, a existência no indivíduo, de estados inteligentes não-
inerentes à consciência objetiva cerebral. Não sabia que o subconsciente
individual é inteligente, pois desconhecia o que, em estudos posteriores,
tornou-se evidente: o indivíduo hipnotizado, em estado de inconsciência
cerebral, é capaz de desenvolver atividades inteligentes mais precisas que
aquelas que sob controle consciente da mente objetiva, são naturais ao
estado de vigília. Nesta condição não só a inteligência como também a
memória são muito mais precisas, pois esta deixa de ser parcial e precária,
para tornar-se gobal e muito mais minuciosa.
Somente hoje a ciência pode demonstrar que a inteligência e a memó-
ria são inerentes a todos os seres vivos e mesmo a qualquer célula, embora
isto se verifique ao nível de inconsciência individual objetiva.
Claro que aquele poder que faz com que o indivíduo se organize,
cresça e se torne perfeito, e que, de forma sutil e precisa, dirige todas as
atividades biológicas do organismo, não pode ser uma força cega, como já
vimos antes. No desenvolvimento e na manutenção do ser vivo os meca-
nismos em jogo não podem depender apenas de princípios mecânicos ou,
até mesmo, bioquímicos, como já comentamos em capítulo anterior.
A FORÇA VITAL t 79

Uma atividade pode deixar de se exercer não porque procede de fonte


ininteligente, mas porque algum fator faz obstáculo a sua manifestação
plena, isto porque algo altera as vias pelas quais os elementos inteligentes
exercem sua função. No caso de um organismo complexo, o controle vital
pode ser inteligente mas, em muitas ocasiões, deixar de agir coerentemen-
te, porque as mensagens integradoras entre ele e as partes não são condu-
zidas de forma adequada, ou porque o padrão genético, isto é, a planta na
qual a inteligência deve basear-se está alterada, ou porque o material
plástico energético necessário ao sistema é inadequado ou insuficiente.
Portanto, o fato de a doença existir não indica, de forma alguma, que
a Força Vital seja desprovida de inteligência. Se a Força Vital for por si
ininteligente, ela necessariamente será um elo de ligação entre a estrutura
celular e um princípio inteligente qualquer.
O poder que é capaz de construir um organismo, mediante uma planta
genética (código genético) constante da célula básica, é também capaz de
conservá-lo e repará-lo adequadamente. Mas para isso é necessário que a
mensagem integradora possa chegar de uma forma precisa até o local onde
sua presença se fizer necessária.
No § I 0: "O organismo material sem a Força Vital é incapaz de sentir,
agir e conservar-se a si mesmo; está morto e quando está sujeito unica-
mente ao poder do mundo físico externo, decompõe-se e desintegra-se em
seus elementos químicos. Só o princípio vital - a Força Vital - que o
anima, tanto em estado de saúde, como na doença, permite-lhe sentir todas
as sensações e realizar todas as funções vitais".
Neste parágrafo é focalizado o papel capital da Força Vital como
elemento mantenedor da vida, como elemento diferenciador entre a vida e
a morte, entre a composição e a decomposição orgânica.
No § II: - "Quando uma pessoa cai enferma, é originalmente só a
Força Vital, imaterial, ativa por si mesma e presente em todas as partes do
organismo, que sofre o desvio determinado por uma influência dinâmica
do agente mórbido hostil à vida. Somente a Força Vital em estado anormal
pode dar ao organismo as sensações desagradáveis e inclinar-lhe às mani-
festações irregulares que chamamos doença ..."
"Se alguém olha uma coisa nauseabunda que lhe provoca vômito, por
acaso penetrou no estômago algum material emético que o conduz àquele
movimento antiperistáltico? Não foi somente o efeito dinâmico do aspecto
nauseabundo sobre sua imaginação?"
Evidencia-se que o mestre compreendia perfeitamente ser a Força
Vital um elemento capaz de atuar sobre qualquer estrutura orgânica sem
que haja necessidade da ação direta, de alguma substância, sobre o local
da manifestação mórbida.
A Força Vital, no exemplo acima, age à distância, deslocando o pro-
cesso que diretamente atinge somente os olhos, para um órgão reativo a
distância, no caso, o estômago.
80 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUiçAO AO ESTUDO DA TEORIA M/ASMATICA

Assim já se pode verificar que a HAHNEMANN não era estranha a idéia


dos princípios da futura medicina psicossomática. Também se constata que
ele admitia o comando de uma função por ação local ou por um mecanis-
mo subconsciente a distância. Sente-se, assim, que por "não-inteligente"
ele quisesse dizer "subconsciente".
Não apenas nos parágrafos citados, mas também nos seguintes, cons-
tata-se que ele não condicionava esse comando ao cérebro, mas a um
poder que, nas línguas latinas, foi traduzido por "força".
DENIS DEMARQUE, na página 99 da edição brasileira do livro "Homeo-
patia Medicina de Base Experimental" cita HAHNEMANN textualmente:
"Essa Força Vital não-inteligente reconhece, sem hesitação, a existência,
no corpo, dos maiores flagelos da nossa existência terrestre, as fontes de
incontáveis doenças que, há séculos, afligem a espécie humana, isto é, os
miasmas crônicos" (o grifo é nosso).
Ora, é difícil compreender como um princípio não-inteligente possa
reconhecer e hesitar. Reconhecer e hesitar são estados de consciência e
operações próprias da inteligência. Aliás, esses estados constam da própria
definição psicológica da inteligência, que é citada de forma mais ou menos
idêntica em numerosos tratados: "Inteligência é a capacidade de reconhecer
e saber que conhece. É a faculdade de entender, compreender, escolher,
decidir e pensar".
HAHNEMANN atribuiu à Força Vital a qualidade de não-inteligência porque
os princípios de psicologia médica da época ainda não estavam bem-definidos
e, em particular, por desconhecer ele, como se conhece hoje, as qualidades
inerentes aos seres considerados inferiores na escala biológica em geral e às
células dos organismos em particular, uma vez que a fisiologia de então
carecia de infra-estrutura para explicar certos mecanismos e, mesmo, para
detectar a existência de memória e inteligência em todos os elementos vivos.
Assim, o que foi chamado Força Vital pode não ser inteligente mas,
neste caso, veicula mensagens inteligentes oriundas de um princípio que
deve ser reconhecido como Inteligência Vital.
No livro de DEMARQUE, na página I 00, encontra-se outra citação do
mestre: "O que une as partes vivas do corpo humano de maneira que cons-
tituam um organismo tão admirável, o que determina que se comportem de
modo tão diretamente contrário a sua primitiva natureza física ou química, o
que as anima e incita a tão surpreendentes ações automáticas, essa força
fundamental, enfim, não pode absolutamente ser representada como um ser
à parte, só pode ser entrevista de longe; ela, porém, escapa a todas as nossas
investigações, a todas as nossas percepções. Nenhum mortal conhece o subs-
tratum da vitalidade, ou a disposição íntima a priori do organismo vivo ..." (2)
Já vimos que, para existir, o organismo requer uma estrutura que é
condicionada genotipicamente e, ainda mais, disponibilidade de matéria e
de energia, quer para exercer as atividades motoras, quer para veicular
A FORÇA VITAL t 81

mensagens de comando de integração entre os seus elementos constituti-


vos e, finalmente, um comando inteligente.
Seria impossível a vida sem a existência de uma inteligência ímpar e
previdente no comando de todos os processos orgânicos de todos os níveis.
Nada assegura que essa condição inteligente seja imperceptível para o
indivíduo, mas é indispensável que seja uma força inteligente pois, do
contrário seria o caos e a vida sem ela seria simplesmente uma sucessão de
reações físico-químicas.
A inteligência, que comanda todas as funções, trabalha para o indiví-
duo em nível subconsciente e opera por meio dos diferentes mecanismos
de interação já estudados.
Para que a condição ideal chamada saúde possa existir, ou seja, para
que o organismo mantenha em perfeitas condições seu estado de home-
ostase, esse comando inteligente é indispensável. Nesse caso, indagou
HAHNEMANN, como um princípio inteligente deixa que o organismo entre
em desequilíbrio?
Primeiramente, quando as agressões transcendem aquilo a que genoti-
picamente o ser foi condicionado, quando as noxas ultrapassam a capaci-
dade de funcionamento ideal do organismo, quer isto seja resultante de
uma alteração genotípica ou de uma alteração fenotípica.
Outra condição é carência de material ou de energia, pois mesmo a
célula ou o órgão estando normais, pode haver carência de material para o
exercício da função.
Finalmente, pode haver material, haver energia, mas haver perturba-
ção nas vias de condução, distúrbios que impeçam parcial ou totalmente a
veiculação das mensagens de comando do princípio inteligente para as
partes, quer se trate da inteligência comum da consciência cerebral, ou da
inteligência subconsciente.
É precisamente a inteligência subconsciente quem dirige todos os
processos e é responsável pelos mínimos detalhes de todas as funções
orgânicas. É, no dizer de HAHNEMANN: "capaz de reconhecer qualquer coisa
de errado dentro do sistema, de agir e mesmo de hesitar."
Se a "Força Vital" fosse apenas o que JAHR define, isto é, se fosse o
conjunto de funções vitais, não teria capacidade de decisão.
Função vital corresponde exatamente ao que se admite oficialmente
como tal, porém "Força Vital" é algo mais, algo que opera todas as fun-
ções inerentes à vida.
Embora, na prática, evidencie-se a existência de algo inerente às
funções vitais e que corresponde ao que é tido como "força vital", os
homeopatas têm encontrado dificuldades em defini-lo. Muitos têm procu-
rado até mesmo identificar a força vital como um tipo de energia mensu-
rável prejudicando assim, à doutrina homeopática, porque, enquanto as
demais medicinas têm identificado e conseguido provar a existência das
82 • HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMA TICA

energias de que falam, a Homeopatia encontra-se, ainda hoje, no marco


inicial, como na época de HAHNEMANN, pois a "força vital", como forma de
energia, jamais foi detectada, quer direta, quer indiretamente.
A medicina alopática identificou a quase totalidade dos processos
energéticos bioquímicos inerentes ao organismo humano. Até mesmo as
medicinas energéticas como a Acupuntura e outras que falam na energia
Ki em níveis de Yin e Yang, se bem que não tenham detectado diretamente
tal energia, com o auxílio de aparelhos eletrônicos especiais, pelo menos
registram de forma inequívoca os pontos e trajetos por onde ela flui.
Enquanto a alopatia e as medicinas orientais conseguiram detectar instru-
mentalmente as energias de que falam, a Homeopatia jamais conseguiu
identificar - e muito menos explicar - a energia da qual depende todo o
seu sistema de cura.
Para o atual nível de desenvolvimento científico é inútil tentar deter-
minar a Força Vital, por uma razão muito simples: ela não existe como
força no sentido de energia mensurável. Nada existe, nos organismos, que
possa ser identificado como força vital energética. Força Vital, considerada
como forma de energia independente das energias citadas pelas demais
medicinas, isto é, como algo ainda por descobrir, é pura ficção e, portanto,
admitir sua existência é incidir em erro.
Em verdade, HAHNEMANN, em momento algum, referiu-se a uma força
no sentido de energia física, e sim no de um "princípio" ou "poder", e o
seu discípulo JAHR foi muito claro a esse respeito.
Tudo indica a existência de um erro de tradução para a expressão
"força vital". DENIS DEMARQUE, (ll na obra citada, página 105, diz: "O discí-
pulo de HAHNEMANN, JAHR, escreveu: 'Apesar do que possam dizer a respeito
seus críticos c comentadores, garantimos aos nossos leitores que as expres-
sões de que se serve HAHNEMANN para designar dinamismo vital e que tão
mal traduziram por força ou energia vital. não envolvem necessariamente
a idéia de um princípio vital mais ou menos parecido com a alma de STAHL,
cuja alteração HAHNEMANN teria considerado como a causa das doenças ... ' "
Não há dúvida que existe erro de tradução, pois um termo mais
adequado, mesmo que ainda não precise exatamente aquilo a que HAHNE-
MANN queria se referir seria, para DEMARQUE, "Dinamismo Vital", o que,
para JAHR, representaria o conjunto das funções vitais do organismo.
Evidentemente, em parte alguma dos escritos hahnemanianos se pode
interpretar o termo "força vital" como sendo uma força no sentido de
energia física, e sim como um poder ou um princípio diretor, algo como
um "regente de orquestra", mas que não corresponde à alma.
Em parte alguma dos escritos de HAHNEMANN é determinada a localiza-
ção no corpo desse princípio nem sequer a sua natureza; sabe-se que
apenas ele é imaterial e diferencia o estado de vida do estado de morte.
Neste particular, JAHR é bem claro, muito embora mencione o fato que o
A FORÇA VITAL • 83

mestre não identificou a "força vital" como sendo a alma. A observação


desse discípulo de HAHNEMANN serve também para indicar que o que foi
traduzido por "força vital" não é uma forma de energia especial, talvez um
modo de integração das funções vitais a um princípio inteligente, não
necessariamente cerebral. Como veremos adiante, JAHR sequer chegou a
identificar a verdadeira natureza desse princípio.
Em realidade, assemelha-se a "força vital" a um princípio responsável
pela existência biológica, um elemento mantenedor do equilíbrio homeos-
tásico do organismo.
Neste ponto é necessário precisar a noção de doença. São inúmeras as
definições baseadas em interpretações individuais mas, em sentido lato, a
doença pode ser definida como a repercussão da luta do organismo pelo
restabelecimento da homeostase.
Uma luta visando ao estabelecimento da harmonia entre o genótipo e
o mundo, segundo a feliz expressão do eminente mestre PASCHERO.
O ser vivo constitui um estado ativo manifestado pelo funcionamento
de uma estrutura genotipicamente condicionada e suscetível de admitir
certas variações ambientais inerentes àquela constituição, mediante uma
série de mecanismos adaptativos, que, normalmente, ao entrarem em ação,
provocam um desvio daquela condição ideal. Como toda perturbação do
ritmo ideal sempre acarreta algum tipo de desconforto, esse estado, por-
tanto, pode ser considerado doença.
Como já dissemos, a condição ideal seria uma estrutura biológica
elaborada segundo uma planta e capaz de funcionar de modo adequado
para as condições ambientais, mas isto não é factível porque essas condi-
ções não são estáveis.
Na tríplice representação da vida orgânica: estrutura funcional + material
plástico energético + comando, situaríamos a força vital como ligada ao
"comando". Portanto, a "força vital" deve ser aceita como parte da Inteligên-
cia Vital, a inteligência que dirige todos os processos biológicos. Porém,
quando ela não se manifesta, isto não significa que haja experimentado algu-
ma dificuldade em si. Aquele estado de consciência sutil, normalmente des-
percebido pela mente cerebral, não é passível de doenças ou distúrbios de
qualquer natureza. Quando algo acontece, ao se manifestar um estado qual-
quer de doença, isso decorre apenas de problemas no ambiente dos outros
níveis: aporte de material plástico-energético, estrutura anatomofisiológica e
vias através das quais a Inteligência Vital exerce o comando. As ordens desse
comando fazem-se através dos sistemas de integração nas quais podem ocorrer
alterações e assim, a Inteligência Vital pode deixar de atuar. Também a condu-
ção de material plástico-energético, através do organismo pode estar prejudi-
cada. Mas essas condições nada mais são que decorrências de alguma altera-
ção das condições citadas, pois só elas são passíveis de perturbações. Também
pode ocorrer uma dissintonia entre a "força vital" e as unidades orgânicas.
84 1 HOMEOPATIA - CONTRIBU/çAO AO ESTUDO DA TEORIA M/ASMATICA

Considere-se a "força vital" não como forma de energia física, mas


como parte de um princípio inteligente e todos os enigmas a ela inerentes
desaparecerão.
Definir a natureza da inteligência, querer associá-la a uma estrutura
ou mecanismo orgânico, é impossível no estágio atual dos nossos conheci-
mentos. É mesmo impossível conhecer na sua essência, a inteligência
comum - a cerebral - por ser ela abstrata, inalterável e imponderável. No
estágio atual do nosso saber, ainda é impossível demonstrar praticamente o
que vem a ser um "princípio inteligente". Apesar de sabermos que a
inteligência existe e se manifesta nos indivíduos a todo instante, não co-
nhecemos, todavia, a sua essência. Da mesma maneira a "Inteligência
Vital", ou, como poderia também ser chamada a "Consciência Vital" cor-
responde exatamente àquilo a que HAHNEMANN alude com o nome de "For-
ça Vital".
Assim, neste trabalho "Força Vital" e "Inteligência Vital" são sinôni-
mos de "Consciência Vital".
CAPÍTULO

A PsoRA
Tentar apresentar o conceito dos homeopatas sobre a psora é o
mesmo que voltar aos comentários sobre miasmas, do capítulo anterior.
Por ora vamos nos ater simplesmente à análise dos estados psóricos,
procurando interpretá-los à luz da fisiologia e da patologia atual.
No estudo dos quadros miasmáticos, pelas razões expostas no capítulo
anterior, nós nos referimos à "Força Vital" como sendo uma inteligência
vital, para evitar que a Homeopatia continue a ser criticada ao persistir na
afirmativa da existência de uma energia que jamais foi detectada c, ao
mesmo tempo, para sermos fiel ao pensamento hahnemaniano, alterado,
como assinala o discípulo JAHR, por uma tradução incorreta do termo para
as línguas neolatinas. Contudo, isto não invalida em momento algum, o
que foi escrito até hoje sobre os miasmas pelos seguidores de HAHNEMANN.
O uso de um termo inapropriado pode ser tolerado, embora indiscutivel-
mente seja preferível recorrer a outro mais adequado para o entendimento
dos mecanismos fisiológicos participantes dos processos vitais.
KENT, no capítulo 18 de seu livro "Filosofia homeopática" <ól diz: "A
psora é a causa fundamental, é a desordem primitiva ou primária da raça
humana".
Aceitamos o conceito, pois como veremos a seguir. a psora, evidente-
mente, é a base para qualquer distúrbio que ocorra no organismo. É o
primeiro distúrbio sistêmico cm função do qual estabelecem-se todos os
quadros patológicos. Podemos adiantar que sem o estado psórico por certo
não existiriam doenças, uma vez que, de modo geral, os demais miasmas
são apenas níveis diferentes da Psora.
Como instrumentos de trabalho, utilizamos alguns conceitos expostos
nos capítulos anteriores e aceitaremos a existência de uma Inteligência
88 t HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

Diretora que tudo sabe a respeito das funções orgamcas; que coordena e
comanda, tendo como finalidade precípua a manutenção da homeostase,
para a conservação da integridade do indivíduo. Na tentativa de manter o
organismo nessa condição, o princípio vital inteligente ou, como também
poderia ser chamado, a Inteligência Vital, lança constantemente mão de
todos os mecanismos fisiológicos conhecidos da ciência oficial. Assim
sendo, todas as funções e reações orgânicas conhecidas ou não são apenas
formas reacionais dirigidas pela consciência vital para assegurar a manu-
tenção do equilíbrio orgânico.
Esse equilíbrio, como é sabido, depende de um estado ideal de funci-
onamento do sistema, condicionado, de um lado por uma estrutura precisa,
quer em nível de célula, órgão e aparelho e. do outro, por todos os
estímulos que incidem sobre ela.
Perturbado esse equilíbrio, haverá alguma repercussão no organismo,
isto acontecendo quando ocorre algum defeito limitativo da atividade nor-
mal da estrutura. ou quando, encontrando-se essa estrutura em condições
normais, o estímulo excede a sua capacidade anatomofuncional.
Como já frisamos, em condição hipotética, a estrutura genotipicamen-
te condicionada seria de natureza tal que se descartaria idealmente de
qualquer estímulo de forma ideal. Ante um agente qualquer, ela ou o
utilizaria em benefício próprio, ou o eliminaria de forma natural, isto é,
sem ter que lançar mão de qualquer mecanismo adicional além dos mante-
nedores das funções fisiológicas, sem mesmo ter que incrementar qualquer
atividade fisiológica ou utilizar mecanismos adaptativos.
Analisemos agora as principais condições envolvidas num estado psó-
rico, separando o seu quadro mental do quadro somático. (Não porque a
dualidade mente/corpo funcione separadamente, mas apenas para facilitar
nossa exposição).
Aproveitaremos, para o estudo dos miasmas, o excelente esquema
didático do ilusre homeopata argentino Dr. E. PUIGGRós, apresentado de
forma brilhante num artigo da "Revista de Homeopatia da Associação
Paulista de Homeopatia", "Estudo Psicodinâmico dos Principais Medica-
mentos da Matéria Médica Homeopática", da autoria da Dra. VIKTORIA
TKOTZ BEARZI( 1J , aplicável ao quadro mental dos indivíduos e focalizando
particularmente suas interações reativas com o meio.
Sempre que um agente, seja de que natureza for, atinge o organismo
em sua área psíquica, este absorve e elabora naturalmente o estímulo sem
qualquer prejuízo, isto é, incorpora-o à sua personalidade normal, ou eli-
mina-o sob a forma de uma reação psicológica qualquer, destinada a fazer
o indivíduo voltar à sua condição de equilíbrio dinâmico ideal.
A Inteligência Vital, consciente de sua finalidade e sabendo que deter-
minado estímulo é inadequado para o equilíbrio do sistema, procura agir
no sentido de eliminá-lo. É verdade que muitas respostas são decorrentes,
A PSORA t 89

na área somática, de reações das próprias células, graças aos mecanismos


bioquímicos que nelas funcionam de acordo com a programação gênica
que é portadora mas, mesmo assim, a função é sempre coordenada por um
comando inteligente.
Se não houvesse esse comando, o estímulo desencadearia a rcação de
uma forma mecânica, que se exerceria indefinidamente até que um novo
estímulo se fizesse sentir. Há estímulos que não perduram, mas a reação
funcional que desencadeiam persiste enquanto necessária, como acontece
nas lesões teciduais acompanhadas da devida reparação, o que evidencia
tratar-se de um processo inteligente.
É praticamente impossível existir um estímulo, mesmo localizado e
de pequena intensidade, que não determine repercussões gerais sem que a
inteligência vital deixe de tomar ciência dele, ou esteja totalmente incapaz
de agir. Em certas situações este fenômeno acontece, como veremos de-
pois, quando se estabelece um estado de caos no organismo.
Às vezes, certos estímulos localizados parecem prescindir de meca-
nismos outros, além dos que as próprias células localizadas são capazes de
oferecer mas, mesmo assim, o sistema coordenador exerce a sua ação
harmonizadora.
Quando um agente incide sobre o indivíduo, quer em sua parte psíqui-
ca, quer em sua parte somática, a Inteligência Vital normalmente tem
ciência disto e comanda algum tipo adequado de reação.
Vejamos o que ocorre então em cada uma das duas áreas.

ÁREA MENTAL

Se o estímulo for pequeno, nada acontecerá, pois ele será incorporado


à personalidade e eliminado como uma reação psicológica natural. Vale o
exemplo dado em capítulo anterior. Ante o anúncio de um perigo iminente,
o indivíduo aprecia racionalmente essa passividade e conclui pela impro-
cedência da situação de perigo e, neste caso, nada acontece.
Porém, se o estímulo for maior, por certo ocorrerão distúrbios, por ser
ultrapassado o limiar de tolerância pessoal, a faixa existencial ideal.
Para os fins do nosso estudo, analisaremos os estímulos e as reações
em ordem crescente de importância apenas para facilitar a exposição, pois,
em verdade, os estímulos não obedecem a sistema seqüencial algum.
Inicialmente, quando um estímulo ultrapassa o limiar além do qual o
indivíduo é incapaz de descartá-lo de modo ideal (faixa existencial ideal),
mesmo que esse estímulo seja insuficiente para uma concretização cere-
bral, contudo, ele ainda é suficiente para que a Inteligência Vital tome
ciência que o estado de equilíbrio está ameaçado. Mesmo nesse caso, essa
consciência sutil e alerta percebe um certo nível de ameaça à integridade
90 t HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

do ser c, visando ao restabelecimento da situação ideal, lança mão inicial-


mente dos mecanismos mais elementares de defesa do Ego.
Nessa situação, a Inteligência Vital torna-se consciente do problema, mes-
mo que a inteligência cerebral não tenha ciência que algo errado está ocorren-
do, ameaçando a harmonia do organismo e tentando romper o equilíbrio ideal.
Como primeira reação, manifesta-se o estado de Ansiedade, que é carac-
terizado por uma sensação de medo sutil c vago. Como o meio ambiente está
injetando sem cessar estímulos em tudo o que existe, a ansiedade gerada
transforma-se numa certa angústia pelo existir. Assim sendo, tem sido utiliza-
da a expressão "angústia existencial", como tentativa de explicar a Psora.
Se o estímulo ou a sua ação sobre o organismo não forem contidos ou
se aquele for mais intenso ainda, ou este menos resistente, a ansiedade, por
certo, somatizar-se-á e o organismo estará ante um quadro de Angústia.
Mais uma vez. se o processo não for detido nesse nível, se a noxa for ainda
mais intensa, a situação aflorará ao nível do consciente individual e a
razão atribuirá a um objeto a causa da emoção ansiosa e, então, manifes-
tar-se-á o estado de Medo.
O indivíduo em que se manifestam tais fenômenos não experimenta
satisfação alguma pelas coisas que o cercam pois, a ciência de que algo
errado ocorre em seu mundo psíquico, a percepção de que algo não anda
certo, logicamente tornam-no vítima da tristeza, da depressão e, por fim,
de uma agitação psíquica inicialmente não-agressiva.
Ante esse quadro a Inteligência Vital lança mão de certos mecanis-
mos, visando a trazer de volta o indivíduo, em sua áre<t psíquica, para o
estado de equilíbrio emocional. Como, nesse nível, os estímulos não são
de natureza muito acentuada, a Inteligência Vital lança mão dos mecanis-
mos ativos simples, próprios da defesa do Ego, como por exemplo: dúvida,
orgulho, inveja, ciúme, mesquinhez, choro etc., para compensar as condi-
ções possíveis de ansiedade, angústia e medo.
Tal é, em linhas gerais, o quadro mental psórico, composto funda-
mentalmente por estados ansiosos os mais diversos.
Há nesse quadro mental uma hipersensibilidade, mas de natureza não-
agressiva. É um estado mais passivo que ativo, por isto os discípulos de
PASCHERO e ORTEGA, entre outros, afirmam que o indivíduo psórico "só sofre".
Quando o psórico reage, sempre o faz sob forma defensiva e nunca ofensiva.
Há divergências expressivas de linguagem no tocante à caracterização
do estado psórico: para alguns autores uma condição "hiper", para outros
uma condição "hipo".
Evidentemente, a psora é uma condição hiperativa* em todas as áre-
as, porém essa hiperatividade é restrita às atividades funcionais normais. É
um estado "hiper" limitado às funções naturais, ou seja, um estado funcio-

*Não confundir com hiperérgica.


A PSORA • 91

na! normal, porém incrementado dinamicamente em estado alterado do


organismo em ritmo funcional. Contudo, o aumento de função pode refle-
tir-se tanto sob forma ativa, como passiva, daí a depressão e a tristeza.
A mente psórica é, portanto, hiperativa. Por isto, nela manifestam-se
a toda hora, pensamentos muitas vezes tristonhos. A mente psórica experi-
menta inquietação e agitação permanentes e, quando não é o caso, é
porque ocorre algum bloqueio tóxico.
Não analisaremos com minudência os sintomas psóricos descritos
detalhadamente em muitas obras. Aqui deter-nos-emos apenas à análise
dos mecanismos intrínsecos dos sintomas de cada miasma.
Como a psora não é lesionai, por se tratar de um estado em que não
há alterações estruturais definitivas c cm que, quando muito, podem existir
lesões superficiais de natureza adaptativa, a mente psórica é perfeitamente
lúcida e a abundância de pensamentos supera o normal. Se o psórico
desenvolver um comportamento aberrante, por certo o mecanismo será
indireto e não em decorrência de um fator inerente à própria atividade
mental, como veremos adiante.
A mente psórica pode ser brilhante, diferindo da normal por sua exces-
siva atividade. Mas devemos entender que essa hipcratividade tanto pode se
exercer no sentido positivo, construtivo, como no negativo, depressivo, mas
nunca destrutivo. Em algumas ocasiões a mente se obnubila em decorrência
de algum envolvimento tóxico que determina um bloqueio sobre ela, mas
jamais por hipofunção essencial. Pode estar bloqueada, mas não hipofuncio-
nante. A mente psórica pode estar condicionando o indivíduo à melancolia,
à tristeza ou a outros estados depressivos, pouco importando que seja no
sentido positivo ou negativo pois, em realidade, ela transcende em atividade
funcional a que teria em condição ideal de normalidade.
Muitos livros definem os estados psóricos de modo conflitante; para
uns há uma condição "plus" e, para outros, uma condição "minus". Mas,
ante uma análise precisa, veremos que, em situação alguma, o estado
psórico é hipofuncionante.
Aceitamos o conceito que o indivíduo psórico somente sofre, que é
passivo e não reage agressivamente além da faixa própria característica de
todo ser humano pois, por mais pacata que seja, a pessoa traz em s1
tendências agressivas.
É preciso, porém, que se precise o sentido exato dos termos agir e
reagir. Etimologicamente, talvez, se assemelhem, mas, em linguagem bioló-
gica, reagir pode ser entendido como defender, responder funcionalmente.
O núcleo psicológico do psórico é a ansiedade, que se constitui no
pano de fundo de todas as suas manifestações mentais. Assim, qualquer
reação psórica, quer de medo, angústia, tristeza, depressão, agitação etc.,
está sempre impregnada de ansiedade. O medo é ansioso, a tristeza é
ansiosa e assim por diante.
92 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMÃTICA

A ansiedade é um estado naturalmente passivo mas, como acontece


em qualquer estado que transcende a normalidade, a Inteligência Vital
tenta compensá-la com uma reação ativa. Por isso mesmo, a ansiedade
envolve hiperatividade mental e não deixa de ser um estado "hiper", pois
a Inteligência Vital, para trazer a mente de volta à sua condição de equilí-
brio, exacerba algum tipo de reação psicológica normal.
Portanto, convém frisar que todas as reações psóricas sempre são
manifestadas por exacerbações das atividades psicológicas simples. É uma
condição normal apresentar, por exemplo, ansiedade, angústia, medo, me-
lancolia, tristeza, depressão etc., bem como os respectivos mecanismos de
defesa, como inveja, orgulho, choro etc. Na psora ocorre a exacerbação de
todas as reações naturais e nunca aparecem atividades diferentes delas.
É sabido que quando uma noxa atinge o indivíduo na sua esfera
psíquica, causando-lhe transtornos, a Inteligência Vital tenta expulsar, ten-
ta expelir, sob uma forma ou outra, o elemento invasor. Para isso, inicial-
mente ela amplia apenas as funções usuais, incrementa os mecanismos
naturais já existentes, destinados à manutenção do equilíbrio psíquico. A
Inteligência Vital tenta manter o equilíbrio mental do indivíduo elevando
apenas o índice das funções psicológicas naturais.

ÁREA SOMÁTICA

PRIMEIRA CARACTERÍSTICA DA PSORA:


ALTERNÂNCIA DE SINTOMAS DE UM EMUNCTÓRIO PARA OUTRO

Na esfera somática, o processo íntimo da psora é idêntico ao que


acabamos de descrever.
Ante a presença de um estímulo, a Inteligência Vital entra em ação,
visando a manter o organismo em condições de equilíbrio perfeito. Para
isso, o organismo conta com uma série de órgãos capazes de eliminar tudo
o que de uma forma ou outra seja prejudicial. Para isso, conta precisamen-
te com os órgãos emunctoriais. Os emunctórios têm como função liberar o
organismo de tudo o que lhe é prejudicial.
Assim sendo, quando a ação de um agente qualquer se exerce, o
organismo simplesmente pode libertar-se facilmente dele mediante uma
função emunctorial natural, o que acontece no estado de normalidade.
Mas há casos em que, por incapacidade funcional do emunctório
adequado, determinada por inúmeras causas, ou pela presença de estímu-
los mais intensos que a sua capacidade funcional perfeita ou por se tratar
de algo não-suscetível de ser eliminado por um dos mecanismos fisioló-
gicos convenientes, faz-se necessário ampliar uma função já existente ou
introduzir mecanismos auxiliares adaptativos. É o que ocorre quando a
A PSORA 0 93

consc1encia vital, a par da situação indesejável, entra em campo, deter-


minando inicialmente uma hiperatividade funcional. O incremento de
função é a tentativa pela Inteligência Vital para liberar o organismo do
agente nocivo e trazê-lo à condição almejada, ou seja, proporcionar o
restabelecimento da homeostase.
Nada mais natural pois, que antes de entrar em jogo quaisquer outros
mecanismos e desde que não existam empecilhos, se verifique a ampliação
de uma função já existente, ou seja, a exacerbação de um processo de
eliminação natural.
Não seria de esperar que a Inteligência Vital ativasse, em primeiro
lugar, uma função adaptativa em detrimento de uma já existente cuja
finalidade fosse exatamente a de liberar o organismo de fatores indesejá-
veis, como acontece com os emunctórios.
Logicamente, antes de se recorrer a qualquer sistema defensivo, entra
em atividade o sistema de eliminação pelos emunctórios.
Assim, inicialmente, quando o agente atinge o indivíduo além do seu
limiar de funcionabilidade ideal, a Inteligência Vital procura, na área so-
mática, ativar os emunctórios em regime de hiperatividade funcional. Ha-
verá acréscimo de trabalho e, em conseqüência, aumento funcional dos
sistemas de eliminações naturais.
Presenciaremos sempre uma condição característica de psora quando
o organismo deixa seu ritmo de funcionalidade emunctorial ampliado.
Sendo assim, para entender perfeitamente qualquer quadro psórico,
ao nível somático, basta que se estudem as repercussões orgânicas oriun-
das do funcionamento ampliado do emunctórios, ou do seu funcionamen-
to reduzido cuja insuficiência obriga outro sistema a trabalhar de forma
compensatória.
Ao estudarmos, pois, a psora ante os principais sistemas emunctoriais
veremos desaparecer mistérios e paradoxos.
Poderíamos, para isso, colocar os emunctórios em dois grupos: no de
primeira linha, os de atividade contínua e no de segunda linha, os de
atividade intermitente.
Rins e intestinos, por exemplo, podem ser considerados emunctórios
de primeira linha, pois funcionam continuamente; por sua vez, a pele e
algumas mucosas, são de segunda linha, pois só desempenham certas ati-
vidades de forma intermitente, quando solicitadas por algum estímulo.
Assim sendo, quando uma condição indesejável manifesta-se no orga-
nismo, a Inteligência Vital, na tentativa de eliminá-la, estimula inicialmen-
te as funções emunctoriais. (A seqüência por nós estabelecida visa apenas
facilitar a exposição uma vez que, na prática, há fatores que não permitem
colocar os mecanismos em nenhuma seqüência determinada).
Em escala de complexidade crescente, os mecanismos mais naturais
de eliminação orgânica são, sem dúvida, micção, defecação e transpiração.
94 1 HOMEOPATIA - CONTRIBU!çAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMA TICA

O incremento da atividade renal permite ao organismo libertar-se de


um agente pertubador e, assim, restabelecer o equilíbrio perdido. Como é
fácil entender, um dos meios mais simples é o aumento do volume urinário
em decorrência de uma exacerbação funcional e não de alguma lesão do
sistema urinário. Esse tipo de aumento de atividade decorre de uma possível
sobrecarga do organismo; isto caracteriza, temporária ou definitivamente,
um estado psórico pois, em outros quadros miasmáticos, pode também haver
incremento miccional determinado por mecanismos diferentes.
No quadro psórico, o incremento é sempre funcional ao passo que nos
outros estados ele é direta ou indiretamente lesionai.
Assim, pode-se dizer que ao nível somático, a psora é uma condição
funcional em que, no organismo, existe algo, material ou psíquico, que
necessita ser eliminado. Se for material, trata-se de uma intoxicação, por
alterar funções ou saturar um órgão, aparelho ou sistema. Nessas condições,
a Psora realmente é um estado de intoxicação, como a considera zissu, mas
muitas vezes não há intoxicação alguma, pois a pressão exonerativa é deter-
minada por uma condição imaterial, um fator puramente psíquico.
Na área miccional, a psora manifesta-se quando o sistema renal excreta
em resposta à compulsão. Isto pode acontecer quando o agente é específico
para essa função, ou por ser o sistema urinário mais responsivo, ou porque
outro sistema mais apropriado está, por algum motivo, bloqueado.
Outro sistema de eliminação do organismo é, sem dúvida, o aparelho
digestivo. Evidentemente, como possui uma quantidade muito elevada de
glândulas secretivas, a psora facilmente liga-se a esse sistema.
Sabe-se que o quadro psórico pode apresentar diarréia ou obstipação,
mas é preciso entender o porquê dessas situações opostas.
Como vimos afirmando, existe na psora hiperatividade funcional. As-
sim sendo, o sistema glandular, por ser naturalmente secretor, é um dos
primeiros a obedecer à compulsão com vistas a ampliar o seu limiar de
atividade.
Se um agente indesejável, por questão de especificidade ou por inope-
rância de determinado aparelho emunctorial, ou por ultrapassar o limiar de
funcionalidade, não for eliminado convenientemente pelo aparelho mais
adequado, a Inteligência Vital tentará fazê-lo por meio de outro aparelho
qualquer. Melhor seria dizer: quando um emunctório responde ineficiente-
mente a um estímulo específico, a pressão compulsiva secretante ampliar-
se-á até um nível suficientemente alto para que outro emunctório, mais ou
menos aproximado, entre em hiperatividade.
A Inteligência Vital sabe que é necessário ampliar a compulsão secre-
tória para eliminar o elemento nocivo. Quando, por várias razões, o sistema
indicado deixa de funcionar suficientemente, o aumento da pressão secretora
levará outro a substituí-lo, embora este, geralmente, o faça de modo um
tanto ou quanto inadequado. Por exemplo: se a água em excesso não puder
A PSORA 0 95

ser eliminada pelos rins ou pela pele, por certo o será pelo tubo digestivo,
mas nesse caso tal a função será exercida de forma inconveniente.
Na presença de um agente indesejável, o organismo tenta, mediante
alguma atividade, eliminá-lo, o que ocorre se o gente for de natureza
química, por estímulo direto sobre o órgão específico. Mas se isso não
ocorrer, então entra em jogo um mecanismo muito mais complexo, que
envolve todo o organismo e é comandado pela integridade do indivíduo.
Nesse caso, entrarão de preferência em atividade os órgãos cuja função
própria é a de secreção. Entre estes, os mais responsivos são, sem dúvida,
o sistema glandular em geral e os emunctórios em particular.
A Inteligência Vital, quando não consegue que determinado órgão ou
aparelho equilibre o organismo, continuará a ampliar a tensão exonerativa,
até outro mecanismo entrar em ação para substituir o que deveria ter
respondido inicialmente. Por isso é altamente prejudicial a contenção me-
dicamentosa de uma função eliminatória porque, inevitavelmente, haverá
agravação do quadro orgânico. Por esse motivo, todos os homeopatas te-
mem as supressões.
Obedecendo à ordem de secretar, veiculada pelos mecanismos de
interação entre o todo e as partes, todas as células apropriadas para essa
função respondem com grau variável de intensidade. Contudo, pode acon-
tecer que haja bloqueios que impeçam um sistema mais adequado de
funcionar em hiperatividade e, nesse caso, ele será substituído por outro.
É o que acontece freqüentemente no tubo digestivo num quadro psó-
rico. As glândulas entram em regime de hiperatividade, comandadas dire-
tamente pelo estímulo local, ou em atendimento à compulsão secretora
emanada da Inteligência Vital, em decorrência da falha de outro mecanis-
mo mais adequado.

ÁREA DIGESTIVA

É natural que na psora, em decorrência das perturbações funcionais


estomacais ocorram dores e cólicas nesse órgão, acompanhadas de náuse-
as, vômitos e sensações anômalas.
Um quadro gástrico dessa natureza, por certo, determinará repercus-
sões em outros sistemas: o apetite torna-se caprichoso, podendo haver
aumento da bulimia, aumento do apetite rapidamente saciado pelo aumen-
to da secreção estomacal, digestão perturbada pelos gases que ocupam a
parte disponível do trato digestivo etc.
Se a compulsão secretora provocasse o aumento equilibrado dos diferen-
tes fluxos digestivos, tudo seria, por certo, mais compreensível, mas, por
várias razões, isto não ocorre: umas glândulas secretam mais que outras,
perturbando o processo digestivo, não só na quantidade como nas proporções
96 ' HOMEOPATIA - CONTRIBUiçAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMA TICA

entre as diferentes enzimas. Assim, dependendo do tipo de fermentação em


jogo, o psórico poderá ter desejos ou aversões por ácidos (frutas ácidas, limo-
nada etc.), por doces etc. Todos esses desejos e aversões alimentares parado-
xais, podem ser facilmente entendidos se for identificado o tipo de fermento
produzido em quantidade variável. Se houvesse apenas um tipo de fermento,
seria mais fácil esquematizar os desejos alimentares do psórico, mas como são
vários, cada qual com especificidade própria, logo os seus desejos e aversões
variam de forma aparentemente conflitante de um indivíduo para outro.
As agravações dos estados gástricos nos psóricos são comuns após a
ingestão de alimentos porque, além da fermentação e flatulência excessi-
vas, exigências alimentares não-ideais, exacerbam ainda mais a função
secretora, ampliando o quadro existente. Um verdadeiro ciclo vicioso,
portanto, se estabelece.
A flatulência gástrica, por sua vez, está relacionada com os estados
psíquicos de ansiedade, angústia e medo que perturbam o processo diges-
tivo, não só no estômago mas em todo o aparelho digestivo.
A flatulência gástrica é responsável, em parte, pelos distúrbios da
função cardíaca, tais como palpitações, sensação de opressão e angústia,
que caracterizam o estado psórico.
Reflete-se também na área respiratória, pois a bolha gasosa, localiza-
da abaixo do diafragma, opõe-se à expansão abdominal na respiração. A
expansão pulmonar reduzida, dá origem a uma respiração curta, incomple-
ta e difícil.
Em suma, a digestão estomacal anormal provoca no indivíduo muitos
sintomas, pois as quantidades dos fermentos com suas proporções altera-
das são responsáveis, como já dissemos, pela digestão difícil, acúmulo de
gases com borborismos, eructações que, muitas vezes, não aliviam o qua-
dro, sensação de plenitude e peso etc.
Na boca, aparecem então gostos especiais, como amargo, doce ou
azedo e mesmo o dos próprios alimentos ingeridos, em via de digestão em
conseqüência da hiperacidez gástrica, diretamente decorrente do aumento
da secreção de ácido clorídrico; aftas aparecem na mucosa bucal.
As fermentações alteradas provocam as eructações fétidas dos alimen-
tos ingeridos e mau hálito.
A digestão estomacal imperfeita é responsável pela digestão intestinal
deficiente e irregular.
No estado psórico, não somente as glândulas são hiperativadas, como
o próprio peristaltismo se acelera pela compulsão hiperativadora, incre-
mentado não apenas pela ação local de certas substâncias ad hoc, como
também pela própria necessidade de ativação de todos os processos diges-
tivos ditada pela Inteligência Vital.
Do mesmo modo, também na área intestinal, a psora caracteriza-se
fundamentalmente por um regime hipersecretante.
A PSORA ' 97

Ora, a digestão é um processo do qual participa uma grande quantida-


de de substâncias cm proporções estáveis, especialmente fermentos diges-
tivos, sem o que não ocorre de maneira adequada. A compulsão secretora
aumentando o fluxo dessas substâncias, estabelece um desequilíbrio nas
proporções enzimáticas adequadas, ocorrendo, assim. inúmeras perturba-
ções características da digestão psórica.
Como vimos, no indivíduo psórico a digestão intestinal já começa
perturbada, pois o bolo alimentar deixa o estômago mal-preparado, para o
duodeno, onde sofre a ação dos sais biliares e dos fermentos pancreáticos
em proporções inadequadas, o que dificulta ainda mais a digestão.
A hipersecreção biliar aumenta a expansão da vesícula que, ao ser esti-
mulada inarmonicamente, dá origem às cólicas disfuncionais hepatobiliares.
Num quadro digestivo intestinal de início já tão perturbado, claro que haverá
excessiva flatulência c, por certo, os flatos são comumente muito fétidos.
Tudo isto tanto pode provocar a diarréia quanto a obstipação, depen-
dendo das proporções enzimáticas existentes c de outras substâncias elimi-
nadas pela função emunctorial do tubo digestivo.
Em verdade, o sistema digestivo funciona em condições imperfeitas.
Por isso, pode ocorrer facilmente edema e alteração da mucosa, resultando
daí cólicas intestinais típicas do estado psórico.
No aparelho que funciona dessa maneira, qualquer excesso alimentar
acentua ainda mais os sintomas locais, razão porque o comer e o beber
excessivo costumam provocar diarréias que não só podem ocorrer, como
agravar-se por estados emocionais (más notícias, sustos, indignação, ansie-
dade etc.). Essas diarréias puramente reflexas, são comuns a todos os indiví-
duos, mas o psórico, por apresentar um comportamento funcional de todo o
tubo digestivo, é muito mais susceptível a esses estímulos emocionais.
Outra conseqüência da digestão imperfeita é a presença de alimentos
não-digeridos nas fezes, pois embora os fermentos estejam em quantidade
aumentada. eles estão em desequilíbrio proporcional; por sua vez, a inten-
sificação do peristaltismo acelera de tal modo o trânsito dos alimentos que
não há tempo para sua total decomposição.
A intensificação do peristaltismo decorre quer da compulsão elimina-
tória, quer dos estímulos diretos oriundos do bolo anormalmente constitu-
ído. Esse hiperperistaltismo, atuando sobre a mucosa intestinal alterada,
provoca cólicas dos mais diversos tipos.
A sonolência pós-prandial, própria dos indivíduos psóricos, é provo-
cada pelos distúrbios digestivos.

SEGUNDA CARACTERÍSTICA DA PSORA:


TENDÊNCIAS ÀS VERM/NOSES

Outro aspecto a considerar é o do meio intestinal propriamente dito. Ele


será completamente diferente do encontrado em condição de normalidade, pois
98 t HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÀO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMÀTICA

o pH e outras condições tornam-se muito perturbadas. favorecendo o apareci-


mento de um "habitat" ideal para uma flora intestinal anormal, que contribui
para alterar, cada vez mais, as condições ambientais, além de disseminar subs-
tâncias tóxicas sistêmicas, que acmTetarão danos maiores ao organismo. Instala-
se um ciclo vicioso: "habitat" anormal - flora modificada = alteração da flora -
maior distúrbio digestivo - maior modificação de "habitat".
Estabelece-se no tubo digestivo um ambiente com condições particu-
Jm·mente adequadas para a proliferação dos mais diversos parasitas, razão
pela qual o psórico é um verminótico em potencial. A verminose perverte
o apetite (pica) do indivíduo, levando-o a alimentos não-digeríveis.
Vale assinalar aqui que a parasitose, pela eliminação direta dos ver-
mes, pode resolver o quadro apenas temporariamente pois, permanecendo
o ambiente favorável e as possibilidades de contaminação existindo a todo
instante e em todo lugar, a reinfestação ocorrerá inevitavelmente.
Analisando-se todo o quadro gastrointestinal psórico, constata-se que ele é
resultante sobretudo de uma hiperfunção glandular; em outras palavras, é
oriundo de uma exacerbação da função emunctorial ao nível do tubo digestivo.
O que dificulta, muitas vezes, o estudo dos miasmas é o fato de um
mesmo sintoma encontrar-se em diferentes quadros miasmáticos. Entretan-
to, ao analisar a causa de um distúrbio, descobre-se facilmente que, na
psora, ele é sempre resultante, direta ou indiretamente, do hiperfunciona-
mento de algum órgão de exoneração natural, mas insuficiente para desin-
toxicar o organismo. existindo nele um certo grau de saturação tóxica.
Os distúrbios fennentativos, que ocorrem no intestino psórico, ocasio-
nam, um regime de defecação precário e difícil c a mucosa anal lesionada
facilita a dilatação do plexo hemonoidário e a formação de hemon·óidas.
Ao estudar os miasmas é difícil, muitas vezes, entender porque nos
três níveis miasmáticos encontram-se hemorróidas. Evidentemente, todos
eles são responsáveis por essas dilatações, cujo mecanismo de formação
varia de um para outro. Na psora, ou em regime funcional aumentado, ou,
então, devido à presença de fezes muito duras. a mucosa termina pelo
lesionamcnto e as veias do plexo hcmorroidário se dilatando.
Na psora, as hemorróidas provêm, pois, da dilatação das veias anais
pelo excessivo esforço desprendido quando da defecação, quer pelo núme-
ro de eliminações, muitas vezes com tenesmo, quer pelo esforço de expul-
são do bolo fecal endurecido. As veias dilatam-se, portanto, por mecanis-
mo indireto, originando as hemorróidas psóricas, mas não por alterações
das fibras das próprias paredes venosas. Por isso, as hemorróidas psóricas
mais comuns são as externas, pois, neste nível, a pressão do esforço de
evacuação é exercida mais intensamente.
Há casos em que todo o quadro gastrointestinal descrito pode ser resul-
tante de lesões das mucosas, úlceras e de neoformaçõcs, isto é, lesões teci-
duais primárias sem, contudo, serem esses distúrbios condições psóricas.
A PSORA • 99

PELE

TERCEIRA CARACTERÍSTICA DA PSORA: PELE DOENTIA

A pele é considerada um dos mais importantes emunctórios do orga-


nismo, pois contém numerosas unidades secretoras, cuja função consiste
em proteger o sistema orgânico, graças ao papel emunctorial desempenha-
do pela sudorese.
Através da perspiração e, em particular, da transpiração, é eliminada,
direta ou indiretamente, uma quantidade muito grande de elementos noci-
vos. Assim, quando um agente indesejável atém-se ao organismo, um dos
mecanismos que pode ser estimulado pela Consciência ou Inteligência
Vital, visando ao restabelecimento do seu equilíbio, é a sudorese. Aumenta
pois, o volume de suor no estado psórico.
Nessas condições, não apenas as glândulas do tubo digestivo, como
também todas as glândulas cutâneas são estimuladas e trabalham em regi-
me de sobrecarga em todo quadro psórico.
Em decorrência direta do aumento da transpiração e, em particular, da
presença de muitas substâncias anômalas resultantes do estado tóxico psó-
rico, o suor tem odor acre e tende a manchar as vestes.
Devido à transpiração excessiva, a pele, no estado psórico, tem seu
grau de umidade alterado e é impregnada pelas eliminações de muitas
substâncias incomuns. Assim, ela sofre alterações de pH, elasticidade,
maciez e de outras naturezas que, por certo, não deixam de modificar a
qualidade e outras características dos fâneros.

QUARTA CARACTERÍSTICA DA PSORA:


TENDÊNCIA ÀS PARASITOSES DÉRMICAS

As alterações que ocorrem na superfície cutânea favorecem as diver-


sas lesões que caracterizam o estado psórico. A pele, portanto, é malsã,
doentia e presa fácil para uma infinidade de lesões superficiais das mais
diversas etiologias. Torna-se um "habitat" ideal para as mais variadas
parasitoses, particularmente a sarna. Portanto. a sarna não é causa da
psora, mas sua conseqüência. Da ação parasitária, em parte, provém o
prurido, queimor, ardor e outras tantas sensações localizadas.
A compulsão excretora atinge não só as glândulas sudoríparas, mas
outras glândulas que também aumentam seu grau de funcionabilidade e
lançam suas excreções na superfície cutânea originando as crostas, contri-
buindo para que ocorram fissuras e outras lesões. Assim sendo, a pele
torna-se muito receptiva às parasitoses e a algumas infecções bacterianas.
Todo esse quadro pode traduzir-se por uma pele doentia, maculada,
áspera, apresentando vesículas, parasitada, com secreções serosas ou san-
100 • HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIAS MA TICA

guinolentas, papulosa, escamosa, eczematosa e mesmo com bromidrose,


erisipela etc.

QUINTA CARACTERÍSTICA DA PSORA: PRURIDO CUTÂNEO

A pele é, pois, a sede principal das manifestações psóricas. Note-se


contudo, que essas lesões decorrem sempre, direta ou indiretamente, de
algum tipo de hiperatividade glandular cutânea de natureza emunctorial.
Mas a atividade emunctorial da pele não se resume à eliminação de suor,
pois ela é palco de várias outras atividades que visam a liberar o sistema
de agentes indesejáveis.
Quando uma substância não é susceptível de ser eliminada direta-
mente por algum sistema eletivo, o organismo lança mão de algum pro-
cesso de transformação bioquímica para alcançar esse objetivo. Dessa
forma, a tentativa de eliminação por via cutânea pode implicar em rea-
ções bioquímicas que se traduzem por manifestações alérgicas. Dispen-
saremos a descrição dos mecanismos alérgicos clássicos, tratados deta-
lhadamente em obras magistrais como no livro "Os Fundamentos da
Medicina" v. 2 - do Prof. w. E. MAFFEI (R>, que expõe, com grande precisão
e clareza, os mecanismos envolvidos nos processos alérgicos em geral.
Salientemos apenas que, na pele. a alergia tem também por finalidade
libertar o organismo dos fatores espúrios por meio de transformações da
substância indesejável, ao nível das células.
Em qualquer ponto em que se manifeste a alergia, é sempre um aciden-
te psórico pois, em essência, visa neutralizar ou expulsar do organismo
algum elemento hostil, mediante uma transformação bioquímica, quando o
elemento não é susceptível de ser eliminado tal qual se apresenta.
A alergia é uma condição psórica que pode se manifestar em qualquer
ponto do organismo, particularmente ao nível da pele e das mucosas, como
é o caso do tubo digestivo e do aparelho respiratório, por exemplo. A
alergia é um meio indireto de eliminação, portanto, essencialmente de
fundo psórico, aliás, como todos os estados paroxísticos.
À alergia e todas as condições citadas, que se manifestam ao nível da
pele, respondem por muitos sintomas psóricos secundários, como urticária,
prurido, exantemas, erupções, estados congestivos e dermatoses várias,
tanto alérgicas como metabólicas. Portanto, qualquer processo alérgico,
cutâneo ou mucoso, além de alguns outros, de evolução lenta ou paroxís-
tica, são sempre condições essencialmente psóricas.
Como já mencionamos, dependendo do tipo de reação ou de excreção
que ocorra ou não ao seu nível, a pele pode estar úmida ou seca; lisa,
fissurada ou gretada; colorida intensamente ou descolorida; pruriginosa ou
não; sensível ou não à água e a outros líquidos etc.
A PSORA 1 101

MUCOSAS

Não só a pele, mas também todas as mucosas, onde quer que se


encontrem, sofrem muito no estado psórico por idênticas razões.
Na árvore pulmonar, essas condições podem originar edemas e espas-
mos, responsáveis pelos quadros asmáticos.
O prurido provoca a tosse, geralmente seca. Na psora, a tosse é geral-
mente seca, pois é resultante mais de prurido que da secreção da mucosa.
De modo geral, a mucosa do aparelho respiratório não secreta com finali-
dade emunctorial, por isto a secreção é muito reduzida no quadro psórico.
Mais freqüentes são as reações de natureza alérgica que dão lugar a sinto-
mas respiratórios de fundo psórico.
Valendo-se do mesmo raciocínio e aceitando a manifestação somática
do primeiro miasma de HAHNEMANN como uma condição oriunda de uma
hiperfunção emunctorial, entendem-se facilmente todos os estados psóri-
cos, onde quer que se apresentem.

CENTRO TERMORREGULADOR

SEXTA CARACTERÍSTICA DA PSORA:


LABILIDADE DO SISTEMA TERMORREGULADOR (FEBRE)

Para o homeopata, a febre é uma condição que o organismo lança


mão com a finalidade, entre muitas outras, de criar um estado excretor ao
nível da pele, através da perspiração e da transpiração.
Os indivíduos com labilidade muito grande do aparelho termorregulador,
são usualmente psóricos, pois essa labilidade é o modo individual de respon-
derem às pressões noxais mediante uma variação de temperatura. Apresentam
essa labilidade do aparelho termorregulador não por ser a psora por si mesma
causa determinante mas sim conseqüência, pois, se fossem desprovidos de
labilidade, talvez não reagissem ao nível do primeiro miasma hahnemaniano.
A Inteligência Vital vale-se da hipertermia visando essencialmente à elimi-
nação. O aumento de temperatura corporal não resulta diretamente da ação local
de alguma substância sobre o centro termorregulador nem, como muitos pensam,
de reações exotérmicas e neutralização de alguma substância. Mais que isto, visa
diminuir a tensão interna produzida por algo prejudicial à manutenção do equilí-
brio do indivíduo. A hipertermia, mais que uma condição passiva, é uma resposta
ativa, uma forma de reação contra algo. O centro termorregulador reage não para
se defender, mas para defender o sistema orgânico.
À primeira vista, a hipertermia parece resultar de uma reação bioquími-
ca, mas, em realidade, trata-se de um mecanismo de excreção indireta, um
mecanismo regulador da tensão interna, seja a febre provocada por agente
102 • HOMEOPATIA - CONTRIBUJçAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMA TICA

físico-químico ou por tensão psíquica. Se a febre fosse apenas uma reação


físico-química, por certo não haveria hipertemias de causas emocionais.
Quando falamos em agente nocivo, queremos dizer condição inaceitá-
vel para o equilíbrio da dualidade mente/corpo. Assim, como ocorre com
uma substância, uma emoção pode, na impossibilidade de ser incorporada
à personalidade ou de ser eliminada por um dos mecanismos psicológicos
de compensação, ativar o aparelho termorregulador através da Inteligência
Vital, visando à liberação do organismo. Assim, febre visa sobretudo
eliminar algo do organismo.
De que forma a Inteligência Vital age, não discutimos. Certamente,
através de todos os mecanismos fisiológicos estudados pela medicina ofi-
cial. A Inteligência Vital comporta-se como um sistema consciente de
interações, mas os meios pelos quais esse comando é exercido, indiscuti-
velmente, são os próprios mecanismos fisiológicos conhecidos.
Sendo a psora um estado de eliminação insuficiente, podem, de fato,
existir no organismo substâncias que aparentem ser a causa direta da hiper-
termia. Mas, em realidade não o são, pois a hipertermia não resulta da ação
local de substância alguma sobre o diminuto centro termorregulador. As
reações bioquímicas ocorrem em outras áreas, e delas resulta algo inútil, que
deve, pm1anto, ser eliminado do organismo. Por isso, a Inteligência Vital
comanda o centro da termorregulação, originando a hipertermia.
Analisamos as bases da manifestação psórica ao nível da mucosa do
tubo digestivo, da árvore pulmonar, do aparelho urinário e da pele. Não
estudaremos outros setores do organismo porque, sendo sempre o mesmo o
mecanismo em jogo, é fácil entender perfeitamente toda sintomatologia
psórica em qualquer ponto que se manifestar. Deter-nos-emos ao estudo
sucinto dos setores cardíaco e neurológico.

APARELHO CARDIOVASCULAR

Os distúrbios psóricos são sempre funcionais ao nível do sistema


cardiovascular. No coração, manifestam-se, sob forma de sensações de
opressão, angústia, taquicardia e mesmo, outros distúrbios rítmicos não-
lesionais. Muitos fatores psóricos de outros sistemas são geralmente a
causa desses sintomas. Citemos a flatulência, os estados emocionais ansi-
osos e angustiantes de que já falamos.
Na psora, a pressão de eliminação comandada pela Inteligência Vital
para promover o incremento da funcionalidade orgânica, ainda é baixa e
por isso somente as células mais ativas respondem. Mesmo assim, ela se
faz sentir em todas as células do organismo e a fibra cardíaca sendo muito
responsiva, atende, não secreta, pois esta não é a sua função primordial,
mas acelera o ritmo de suas contrações, causando assim a taquicardia.
A PSORA 1 103

O coração é solicitado a funcionar mais rapidamente para veicular por


via sangüínea, de modo mais eficiente, as substâncias indesejáveis, trans-
portando-as até os emunctórios apropriados.
Por sua vez, o sistema vascular funciona no sentido de eliminar o
agente do organismo. aumentando o volume circulante por vasodilatação
ou, então, reagindo por vasoconstrição, bloqueando setores específicos do
organismo. Deve igualmente ser levado em conta o efeito indireto sobre os
vasos, determinado pelos estados psíquicos reativos e pelos estados emoci-
onais típicos da psora.

SISTEMA NERVOSO

SÉTIMA CARACTERÍSTICA DA PSORA:


CANSAÇO MENTAL, FADIGA E "SURMENAGE"

Na área neurológica aumenta também a atividade, porém muitos dis-


túrbios do estado psórico são oriundos não somente dos estímulos psíqui-
cos como particularmente do envolvimento tóxico em decorrência da eli-
minação insuficiente.
Menção especial merecem os estados convulsivos psóricos. Alguns esta-
dos convulsivos podem, às vezes, ser de natureza psórica, mas, quando psóii-
cos, não há lesões, evidentemente, pois resultam de tensões elétricas inadequa-
das ao nível das células nervosas, provocadas por muitos mecanismos tais
como desequilíbrios eletrolíticos que motivam a sobrecarga das células do
sistema nervoso central. A Inteligência Vital tenta liberar o sistema nervoso da
sobrecarga da tensão elétrica intracelular; em dado momento, ocorre a descar-
ga eletrostática, cujo escoamento rápido provoca os sintomas convulsivos.
Mais uma vez vemos um quadro patológico constituir-se numa forma
de eliminação, no caso em apreço, de uma sobrecarga elétrica existente no
sistema nervoso central.
No quadro mental, estudamos as respostas aos estímulos através de rea-
ções naturais. Porém, na psora, outros sintomas mais acentuados podem surgir
indiretamente ao nível do psiquismo em conseqüência da ação tóxica existente
em todo sistema orgânico. Tais sintomas não serão provocados por distúrbios
lesionais e sim em resposta à presença de substâncias indesejáveis.
Algumas substâncias existentes no organismo, podem, muitas vezes,
provocar reações psíquicas diversas; a resposta é quase que específica para
cada substância em causa.
Essas substâncias não embotam a mente psórica. Em tais casos sem-
pre existe uma perturbação do metabolismo celular de natureza tóxica e,
assim, a mente psórica, de muito ativa e lúcida, pode tornar-se lenta,
pesada, ofuscada e apresentar numerosos distúrbios secundários.
104 ° HOMEOPATIA- CONTR/BU/ÇÁO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMÁTICA

Trata-se de quadros puramente tóxicos, resultantes do estado de eli-


minação orgânica insuficiente, característico da psora.
O estado de intoxicação orgânica e psíquica provoca no indivíduo
cansaço físico e mental, astenia e "surmenage".

CAUSAS DA PSORA

Se na área somática o estado psórico manifesta-se por um estado de


eliminação insuficiente, na área psíquica, qualquer estímulo pode originá-
lo, desde que ultrápasse o limiar em que o indivíduo é capaz de se manter
em equilíbrio, graças a uma reação emocional simples de defesa do Ego. A
psora pode ser causada não só pelas tensões, como também pelas conten-
ções, pois àquelas corresponde um aumento de afluxo e a estas uma dimi-
nuição de eliminação.
Na área somática, que também pode repercutir na psíquica e vice-
versa, a psora pode decorrer da introdução de tudo o que for inadequado
para o equilíbrio orgânico, assim como, da diminuição da capacidade de
eliminação natural e ideal do organismo. A presença de algo, mesmo de
natureza ou em quantidade não-tóxica, pode ser inadequada para determi-
nado indivíduo e, assim, ser-lhe causa de psora.
O estado psórico sempre se manifesta quando o agente é muito ativo
e quando ultrapassa cm quantidade ou em qualidade a capacidade de
eliminação pelas vias normais. Assim, qualquer substância, até mesmo a
própria água, é capaz de provocá-la, desde que seja ingerida em quanti-
dade que exceda o limiar normal de excreção pelas vias adequadas.
Manifesta-se também quando o organismo procura eliminar, total ou
parcialmente, um agente para o qual não está geneticamente preparado
(aqui estão compreendidas todas as intoxicações exógenas e endógenas);
quando diminui a capacidade normal de eliminação fisiológica, em con-
seqüência de algum processo que bloqueie a função do órgão, esse blo-
queio tanto pode ser psíquico como bioquímico. lesionai ou mecânico.
Quando há carência de material plástico-energético indispensável ao
exercício conveniente da função excretora.
Claro que se um bloqueio emunctorial for causado por algum tipo de
lesão, esta não será psórica, mas como ela ocasiona a inatividadc total ou
parcial de um aparelho excretor, determina conseqüentemente um estado
de eliminação insuficiente, isto é, um estado psórico. Evidentemente, tal
caso nunca será unimiasmático.
O bloqueio pode ser decorrente de um processo lesionai local, mas
muitas vezes pode também ser resultante de uma alteração ao nível de um
dos sistemas de comando. Localmente, nesse caso, o cmunctório pode não
estar impedido, o comando ativador pode não estar lesado, todavia, ele não
A PSORA ' 105

se faz sentir por dissintonia entre o todo e as partes em decorrência de


obstrução em alguma das vias de interação do organismo.
Em qualquer situação psórica pode haver aumento de catabólitos, ou
seja. de sobrecargas tóxicas, tanto materiais como psicológicas. contra as
quais a Inteligência Vital tenta lutar visando a retirá-las do organismo de
uma forma ou outra. Utiliza para isso os mecanismos clássicos de elimina-
ção e defesa. Enquanto a tentativa se fizer sentir ao nível dos mecanismos
de eliminação emunctorial vigorará a condição psórica, mas se ultrapassar
esse limite, ocorrerá outro estado miasmático qualquer.
Não havendo ausência de dissintonia nem bloqueio, um quadro também
pode estabelecer-se por carência de substâncias adequadas normalmente
utilizadas nas transformações bioquímicas necessárias ao processo de excre-
ção. Essa carência pode resultar de insuficiência de aporte, em qualidade ou
em quantidade, por distúrbios de condução em qualquer parte do organismo
até o nível em que essas substâncias se fazem necessárias.
Aqui intervém uma multiplicidade de causas que provocam a quase
totalidade das doenças. Neste particular, toda dietética merece ser devi-
damente avaliada, pois é através dos alimentos e da condução dos ele-
mentos químicos como proteínas, glicídios, lipídcos etc. que o organis-
mo retira matéria e energia para manter seu equilíbio vital. Assim, mes-
mo que o sistema emunctorial funcione a contento, se não houver o
aporte satisfatório de determinada substância em quantidade e em quali-
dade adequadas, um aparelho pode deixar de cumprir a sua finalidade,
total ou parcialmente, sobrecarregando outro. Mais uma vez, em tal situ-
ação, instala-se um quadro psórico.
Por isso, a qualidade e a quantidade dos alimentos são de suma impor-
tância. Sabe-se perfeitamente que muitos fatores de natureza alimentar são
causas de psora, como bebidas alcoólicas em excesso ou de má-qualidade;
alimentação excessiva ou alimentos deteriorados, mesmo com as suas pro-
priedades naturais modificadas; ingestão de drogas tóxicas; introdução de
toxinas exógenas de qualquer procedência e outros fatores. Esses agentes
são causas de psora, por serem indesejáveis à economia orgânica cm razão
de sua não-naturalidade: para corrigir essa anormalidade, a Inteligência Vital
promove, sempre que necessário, uma atividade excretora qualquer.
Sempre que a eliminação é insuficiente, o organismo apresenta um
grau variável de intoxicação; é cxatamente isto a natureza íntima da psora.
Mas eliminação insuficiente não significa necessariamente condição de
hipofuncionamento. Algum dos sistemas de eliminação poderá estar funci-
onando com intensidade maior para manter o organismo em equilíbrio
estável quando algum outro se tornar insuficiente; se isto não ocorrer, a
morte sobrevém.
A saúde vai até o nível em que não se faz necessário incremento
algum de função para assegurar a manutenção do equilíbrio vital. Ultra-
106 • HOMEOPATIA- CONTRIBU!çAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

passado esse nível estabelece-se o estado de psora, que se estende até o


limite em que esse equilíbrio ainda pode ser mantido; na área mental,
pelos mecanismos simples de proteção do Ego e, na área somática, pelo
aumento funcional dos emunctórios, sem que outro sistema qualquer tenha
que auxiliá-los para essa finalidade. Segundo essa conceituação, todas as
criaturas são doentes e realmente para a Homeopatia é assim, pois a psora,
comum a todos os seres, é um estado de doença. Somente em uma condi-
ção ideal, paradisíaca, por assim dizer, existiria o estado real de saúde.
Ante essas constatações, sentimos o quanto é inadequado dizer que
miasma equivale a terreno. Claro que um organismo provido de um siste-
ma emunctorial inadequado, hereditariamente adquirido, pode facilmente
cair num estado psórico. Visto sob este ângulo, ele pode ser considerado
como sendo um terreno predisposto. Mas a psora não se assemelha a um
terreno porque, se esse indivíduo hipoteticamente predisposto conseguir
manter-se dentro de uma faixa noxal diminuta, mesmo sendo ele um "ter-
reno psórico" ideal, jamais desenvolverá o estado clínico correspondente.
Por outro lado, por mais perfeito que seja o organismo, por mais distante
que ele esteja de um "terreno" psórico, basta que se submeta a sobrecar-
gas, a noxas muito intensas e não consiga delas se libertar, para que,
imediatamente, apareça numa condição psórica acompanhada de todas as
manifestações inerentes a esse quadro.
A psora é um estado mais dinâmico que estático.
Sempre que se dificulte ou impeça, seja por que meios for, mecam-
cos, emocionais ou medicamentosos, uma função excretora aparece um
estado psórico.
Não vamos enumerar todas as causas da psora, porque os livros de
Homeopatia tratam precisamente disso e que, além disso, sabendo-se fisi-
ologicamente em que consiste, não teremos dificuldade alguma em identi-
ficá-la. Enfim, seria perder seu tempo tentar identificar tudo o que é capaz
de originar o estado psórico, uma vez que, em essência, não existe algo
que não seja capaz de determiná-lo.
Mencionaremos apenas a sedentariedade que é um dos fatores cau-
sais mais importantes. Exatamente pelo fato de ser um estado prejudicial
aos principais meios de excreção do organismo. O indivíduo de vida
sedentária, além de não utilizar energia, acumula substâncias desneces-
sárias, que a Inteligência Vital pode procurar eliminar ou mesmo isolar
em alguma parte do sistema orgânico, o que por certo, acaba prejudican-
do alguma função necessária.
Os mestres da Homeopatia, como HAHNEMANN e, particularmente, KENT,
ALLEN e GHATAK, ao analisarem as causas determinantes dos estados psóricos,
chegaram à conclusão que o primeiro miasma se manifesta sempre que são
infringidos alguns princípios tidos como "pecados" pelas religiões. Daí ori-
ginou-se uma corrente de pensamento filosófico entre inúmeros homeopatas,
A PSORA 0 107

que consideram a psora como sendo uma espécie de pecado original. Segun-
do eles, a psora teria sido o primeiro pecado da espécie humana.
Evidentemente, existem razões para pensarem assim, porém, isto não
quer dizer que a psora resulte de um castigo divino pelo mal-pensar ou
mal-viver. É sim, como que a conseqüência natural de uma forma de
existência indevida.
GHATAK chega a afirmar <J> que, a partir do dia em que o ser começou
a pensar de forma errada, contrariando as ordens divinas, mesmo ante o
mais leve desvio de pensamento que ele chama "prurido mental", o ser já
estava ameaçado da psora avassaladora.
Após havermos exposto nosso conceito da psora, baseado em observa-
ções diárias na clínica médica homepática e nos estudos sobre a teoria dos
miasmas que tivemos em mãos e aproveitado as observações precisas e
meticulosas de estudiosos idôneos consultados, é fácil compreender e ad-
mitir a relação existente entre os valores éticos e morais e os níveis mias-
máticos em geral e a psora em particular.
Tudo leva a pensar que a ética e a moral constituem um padrão de vida
que, geralmente, constitui a melhor maneira de o indivíduo manter-se dentro
de um equilíbrio desejável. Muito embora certas normas pareçam desprovidas
de importância, o estudo percuciente e a análise histórica minuciosa revelam
que praticamente todas desempenham papel relevante na evolução natural.
As religiões, por entenderem que a evolução natural é um dos planos
divinos, consideram qualquer tentativa de desvirtuar essa evolução como
um pecado, isto é, uma transgressão às leis divinas e uma desobediência às
ordens do Criador.
Em que medida a psora pode ser aceita como uma forma de pecado?
Analisando pormenorizadamente o problema chegaremos à conclusão.
No princípio, o indivíduo foi dotado de uma estrutura geneticamente
condicionada para existir com eficiência ímpar, num mundo onde está
sujeito às mais numerosas e variadas circunstâncias. Mas viver em equilí-
brio harmônico, ante uma sucessão quase ilimitada de estímulos, requer
uma estrutura mui especial que permita ao ser cumprir a sua finalidade
essenciaL para tanto foi dotado dos meios apropriados. Como os estímulos
variam em quantidade e em qualidade, o organismo foi dotado de um
sistema flexível, porém essa flexibilidade é relativamente limitada. Há
uma faixa de reatividade ideal em que o equilíbrio harmônico é perfeito,
seguindo-se uma faixa adaptativa na qual é possível o estabelecimento do
equilíbrio, que envolve condições que se podem considerar naturais, po-
rém não ideais. É nessa faixa que se situam todos os miasmas e, é claro,
todas as doenças. Ultrapassado esse limite, o organismo sucumbe.
Imaginemos, para fins didáticos, uma situação em que o mundo não
oferecesse estímulos além dos que o ser fosse capaz de dissipar naturalmen-
te, por meio de mecanismos psicológicos e somáticos precisos, destinados
108 t HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

a mantê-lo, reagindo harmonicamente com tudo, sem quaisquer inconveni-


entes e eliminando o indesejável, sem precisar ampliar a funcionalidade de
nenhum órgão. Vivendo em uníssomo com o meio interior e exterior, de
acordo com as normas destinadas a mantê-lo dentro dos limites da faixa
existencial ideal. Nessa situação, o indivíduo viveria num estado paradisí-
aco, pois não existindo doenças, nem sofrimentos de qualquer natureza, a
sua longevidade tenderia a aumentar. Não afirmamos que uma condição
desta pudesse existir; servimo-nos dela com o intuito de facilitar a com-
preensão do verdadeiro sentido moral da psora.
À luz dos conhecimentos científicos atuais, esse paraíso não passa de
uma mera utopia. Contudo, é certo que poderia ter havido uma condição
incomparavelmente melhor desde o início, amenizando assim, todos os
males e atenuando todas as desgraças a ponto de, somente em condições
esporádicas excepcionais, certos estímulos atingirem o indivíduo, houves-
se nossa espécie enveredado por outros caminhos.
Portanto, não pensemos mais em paraíso, mas falemos em um mundo
tanto ou quanto harmônico.
No dia em que a mente do ser começou a manifestar inquietação e a
pensar em coisas capazes de criar estímulos intensos e antinaturais, gera-
dores de tensões e sobrecargas, desse dia data a gênese do estado psórico.
Ao esboçar certas representações que, quando menos tornavam-no ansioso,
mesmo de forma muito sutil, já o ser era vítima de um estado mental
psórico e, quando consubstanciou em atos essas idéias e anseios intensifi-
cou ainda mais o problema pela sua conseqüente somatização.
Para a progressão da nossa exposição didática, vamos admitir que o
ser tenha começado a infringir as leis naturais c a desobedecer àquilo que
estava impresso em sua mente sob a forma de consciência moral, fazendo,
assim, recair sobre si mesmo os primeiros sintomas de doenças.
Ao começar a agredir a natureza, e, simultaneamente a alterar tam-
bém a sua própria estrutura biológica, despertou a dor e o sofrimento, e,
como conseqüência, o mundo deixou de ser o seu primeiro aliado. Foi-se-
lhe tornando inarmônico, aparecendo inúmeros problemas que não deveri-
am existir se não houvessem sido infringidas certas normas. Em realidade.
o homem não foi expulso do paraíso, ele é que renunciou àquela dádiva
que lhe fora concedida.
À medida que os princípios naturais foram sendo infringidos, maior
necessidade o seu organismo experimentou de libertar-se das tensões, con-
tenções e matérias tóxicas as mais diversas, situação que foi se agravando
à medida que ia se alterando o próprio organismo, tornando-se, assim,
cada vez mais concreta a condição de eliminação insuficiente e, portanto,
consubstanciando-se a psora sobre a dualidade mente/corpo.
O mundo de hoje já está totalmente desnaturalizado, existindo de forma
praticamente artificial e corrompido. Assim, a Inteligência Vital tem que
A PSORA ' 109

ampliar cada vez mais os meios propícios ao estabelecimento do equilíbrio


imprescindível entre o indivíduo e o meio. Com efeito se, por um lado. a
Inteligência cerebral do homem criou um universo desnaturalizado, capaz de
oferecer um enorme volume de estímulos daninhos às formas vivas em
geral, por outro lado, o homem não foi capaz de dotar o seu próprio organis-
mo de uma estrutura conveniente para manter-se em harmonia com o meio
ambiente atual mediante mecanismos de eliminação ideais. Em suma, o
homem progrediu, assustadoramente, mas estabeleceu condições de total
desequilíbrio entre os seres em geral e o meio; à guisa de medicina, desen-
volveu apenas meios de contenção para as eliminações orgânicas, o que,
evidentemente, não impede que a pressão interna aumente cada vez mais.
Uma vez que os sistemas de medicina mais comuns e aceitos apenas
fecham as portas à vazão emunctorial, a maioria dos resultados obtidos
nessas condições são apenas supressões de sintomas, o que, conseqüente-
mente, agrava o real estado patológico do indivíduo.
Evidentemente, os seres vivos em geral e o homem em particular, não
estavam preparados, de forma alguma, para responder adequadamente aos
estímulos que foram surgindo. Assim, a Inteligência Vital teve que lançar
mão de certos recursos, como o aumento funcional de todos os sistemas de
excreção e, muito mais que isto, mobilizar outros sistemas auxiliares,
visando restabelecer o equilíbrio perdido.
Dessa maneira, é fácil entender a razão pela qual a psora pode evi-
dentemente ser considerada o "pecado original"; o primeiro pensamento
inarmónico deu origem, na mente do ser, a uma tensão para a qual ele não
estava preparado, uma tensão interna tão forte que não mais podia dela se
libertar por meio de uma função fisiológica ideal.
Da idéia ao ato, o estado psórico estava somatizado.
Inicialmente, as infrações, de pequeno porte, eram de grau tal que o
mais leve incremento funcional era suficiente para restabelecer o equilí-
brio harmónico do indivíduo. Mas o desvirtuamento da vida, a agressão ao
meio exterior e interior, foi levando o organismo até o nível em que não
mais era possível estabelecer o equilíbrio só com o incremento cmuncto-
rial ou com as reações primárias do ego. Assim, deu-se o estabelecimento
de um novo nível miasmático que, embora seja considerado um novo
miasma, em essência é apenas uma psora mais acentuada.
Desse modo, a raça humana viveu o estado de psora, que evoluiu de
seu nível mais elementar para outros mais complexos (sicose e sífilis).
A criação dotou o ser humano dos meios necessários para viver harmo-
niosamente com o meio, de uma consciência apta a distinguir o bem do mal
e de um livre-arbítrio para reagir de forma consciente ao longo de sua
existência; se ele tinha condições de conhecer tudo o que era susceptível de
causar-lhe mal e a capacidade de se autoproteger, então, se ele optou pela
segunda condição, mesmo sentindo não estar biologicamente preparado para
110 • HOMEOPATIA - CONTRIBU!çAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMA TICA

livrar-se das reações subseqüentes, claro que, em sentido lato, ele foi casti-
gado pela sua desobediência. Castigo, sim, mas não no sentido de punição
Divina direta, e sim como o resultado natural da escolha de um sistema de
vida inadequado. Não como uma resposta relativa por sua desobediência,
emanada do seu Criador, mas como a conseqüência natural inerente aos
próprios mecanismos envolvidos no estabelecimento da vida orgânica.
A espécie quis "comer do fruto proibido", comer o fruto da árvore do
conhecimento. quis tudo conhecer, modificar, e, em particular, utilizar,
sem antes saber perfeitamente todas as implicações que poderiam advir
dessa conduta. Não esperou o momento oportuno para atuar de forma
harmônica e evoluir em ambiente natural. "A Natureza sempre se vinga
dos que a agridem". Foi o que realmente aconteceu: um planeta desnatura-
lizado voltando-se contra o homem que, por esta razão, vive hoje com o
seu destino ameaçado, quer pelo meio exterior, onde inúmeras condições
são inapropriadas para o bom funcionamento orgânico e mental, quer pela
desnaturalização do próprio organismo, que se torna cada vez menos capa-
citado para se defender.
Prejudica a si próprio e a todas as outras espécies, destruindo assim
"o paraíso" que era de todos.
Neste sentido, a psora foi a primeira conseqüência do grande "peca-
do" da espécie e as condições chegaram a um ponto de onde não mais é
possível haver retrocesso para o estado ideal de equilíbrio. Foi o pecado
pelo qual as espécies em geral e a humana em particular vêm sendo
punidas e, por certo, essa situação perdurará por séculos e séculos se antes
algo pior não exterminar a todos.
Finalmente, queremos salientar que a psora não tem uma causa única.
Por isso, a sarna ou qualquer outro elemento isolado não pode ser respon-
sável por ela. As causas são várias: são todas as coisas capazes de lesar ou
sobrecarregar, total ou parcialmente, os emunctórios e de criar um estado
de eliminação insuficiente desviando a ação da "Força Vital".
Uma sobrecarga excessiva, mesmo por um fator natural ou por um
alimento normal, por exemplo, pode determiná-la; por essa razão, até
certos excessos de alimentos podem ser fatores determinantes da psora.

TRATAMENTO DA PSORA

NONA CARACTERÍSTICA DA PSORA:


MAUS EFEITOS DAS SUPRESSÕES

Em se tratando de um quadro orgânico sistêmico muito amplo, resul-


tante de todos os problemas inerentes à eliminação insuficiente, tudo o que
estimular a atividade emunctorial por certo beneficiará o organismo, redu-
A PSORA • 111

zirá o nível de psora, como, por exemplo, sudorese, diurese, menstruação,


pranto, evacuação etc. Por isso, no passado, foram empregados muitos
meios de estimulação de certas funções excretoras, como a evacuação
mediante purgativos etc., como sistema de tratamento de certas moléstias.
Em essência, o princípio é válido, mas, na prática deve ser evitado, porque
a ação local de certas substâncias é prejudicial. Forçar um emunctório
qualquer por meio de estímulos físicos ou químicos intensos contribui para
agravar a situação fundamental, é como "bater em cavalo cansado", segun-
do a expressão popular. A reação imediata pode ser aparentemente boa,
mas a médio e longo prazo os prejuízos serão maiores; quando muito,
pode ser tentado um estímulo suave. Muito importante é a liberação das
vias de interação entre a parte e o todo, que podem enquadrar-se dentro de
outras medicinas. A homenagem destina-se à fração mais importante do
tratamento das doenças, como veremos no capítulo final. O que pode ser
corrigido através da terapêutica homeopática no setor miasmático vai mui-
to além de tudo o que as outras medicinas podem fazer.
Agora é mais fácil entender porque razão a psora melhora com todas
as eliminações fisiológicas e agrava com a retenção. Agrava-se particular-
mente com qualquer tipo de tratamento que determine a diminuição de
qualquer eliminação fisiológica.
Apresentaremos agora algumas observações sobre o importante erro em
que incidem numerosos homeopatas. Todo homeoterapeuta, digno do nome,
sabe que todo estado de doença, por mais localizado que seja, envolve o
sistema orgânico inteiro. A rigor, não existindo doenças locais, não é possí-
vel admitir-se tratamento homeopático local com cremes, pomadas ou solu-
ções de uso tópico, não importando que esses medicamentos pertençam ou
não à farmacopéia hahnemaniana. Justifiquemos pois, essa afirmativa.
Ninguém discordará do seguinte princípio: medicamento homeopático
age em todo o organismo, não importando a porta de introdução, pois a
Homeopatia é, antes de tudo, uma medicina vitalista, como assevera HAHNE-
MANN: "mesmo o mais leve contato com um remédio homeopático é bastante
para que a sua ação se faça sentir sobre o indivíduo (... )". Se é assim, que
razão invocar para utilizar pomadas e soluções de uso tópico sobre a lesão,
se o princípio curativo vai agir sistematicamente? Mesmo em se tratando de
medicamentos reconhecidos pela Homeopatia, como, por exemplo, a calên-
dula e outros. Se a ação se exercer sobre todo o organismo, mediante absor-
ção local, por que então não recon-er à via oral? Se não for capaz de agir por
uma via qualquer é porque sua ação não se adequa aos conceitos filosóficos
da Homeopatia. Isto podemos afirmar dentro do mais lídimo espírito home-
opático, baseado nas relações do próprio HAHNEMANN. Só se justifica a medi-
cação tópica se ela visar uma limpeza local. Se um medicamento agir
apenas localmente, sua ação será, sem dúvida, algo supressivo, pois exercer-
se-á aumentando a resistência local aos processos emunctoriais, isto é, deter-
112 • HOMEOPATIA- CONTR/BU/ÇÁO AO ESTUDO DA TEORIA M/ASMATICA

minando a contenção de função. que como é sabido, é causa de agravação


miasmática. Se algum medicamento de uso tópico em Homeopatia exercer
efeitos reais, estes devem ser sistêmicos, pouco importando, nesse caso, a
via de introdução. Mas, se só exercer seus efeitos quando em contato com a
lesão, por certo essa ação ou se exerce visando a determinar uma energia, o
que seria desastroso; ou visando a provocar bloqueio, como o fazem os
medicamentos alopáticos, como sulfato de zinco, corticóides etc.
Seriam mesmo dispensáveis esses comentários, pois é bastante que se
leia o que HAHNEMANN escreveu, com notável precisão e clareza no "Orga-
non" HJ sobre o uso de medicamentos locais, dos § 189 ao § 198.
Absurdo ainda maior é o medicamento tópico para um homeopata
unicista adepto das doses únicas, pois se, no uso tópico de um medicamen-
to homeopático. a sua ação for sistêrnica, essa prática equivale a utilizar
doses repetidas da mesma potência.
Ternos conhecimento de casos tratados com medicamentos homeopá-
ticos de uso tópico e que posteriormente se complicaram de modo acentu-
ado. Já vimos, por exemplo, lesões cutâneas tratadas localmente com ca-
lêndula, com ótimo resultado local, evoluir para urna amidaglite seguida
de atividade reumática.
O tratamento homeopático de qualquer doença deve visar a atingir o
organismo como um todo, pois ele é integrante de uma medicina não-
organicista; assim sendo, qualquer tratamento tópico deve apenas restrin-
gir-se a uma higiene adequada, de modo a facilitar ao máximo as elimina-
ções. enquanto o medicamento sistêmico exerce a ação curadora.
Se, por um lado, a sedentariedade agrava a psora, por outro, não há
dúvida que a atividade moderada beneficia o indivíduo, pois, além de
evitar acúmulo de certas substâncias resultantes do metabolismo normal,
estimula as funções excretoras, particularmente através da pele.
Desta feita, no tratamento da psora devem ser levados em considera-
ção não somente o uso de medicamentos individualizados, mas também a
prática de hábitos higiênicos-dietéticos adequados, um sistema de vida
não-sedentário e tudo, enfim, que mantenha as eliminações fisiológicas em
nível ideal. Mas é bom que se tenha em mente que não menos prejudiciais
são os exercícios violentos: em vez de diminuírem a pressão dos catabóli-
tos do organismo, aumentam-na.
O tratamento fundamental deve ser feito à base de um medicamento
de ação acentuada. Se isso for possível ou recomendado em determinado
caso, deve ser escolhido um medicamento de conformidade com os sinto-
mas individuais que nada mais são que as formas próprias da reação do
indivíduo aos estímulos.
A individualização do quadro miasmático de um paciente faz-se a
partir do sistema mais comprometido; a do remédio, pelos sintomas resul-
tantes do tipo de alteração específica do sistema considerado. Por exem-
A PSORA 0 113

pio: um indivíduo está em estado psórico porque a sua alteração funcional


é essencialmente emunctorial. Se a manifestação desse estado fizer-se ao
nível da pele, por ser esta o seu emunctório mais sensível, por condiciona-
mento hereditário ou por outros fatores, é evidente que o seu medicamento
será um dos que tiverem patogenesia cutânea. Assim, de acordo com as
características do distúrbio, isto é, de tudo o que está envolvido na mani-
festação sintomática, como as glândulas mais ativas de um emunctório, o
tipo de dejetos e fermentações, enfim, a totalidade do quadro psórico, o
paciente pode ser caracterizado como um Sulfur, ou um Chamomila etc. A
diferença, portanto, entre o indivíduo psórico Sulfure o Graphites, decorre
do fato que, ante uma pressão psórica, cada um responde a seu modo,
segundo a responsabilidade específica de suas células excretoras que, por
sua vez, dependem do condicionamento genético próprio, dentro dos limi-
tes controláveis pelo incremento de eliminações emunctoriais.
Neste caso, a idéia de terreno hereditário diz muito mais respeito à
individualização do remédio que ao próprio miasma.
Em todo paciente psórico, após o tratamento e desaparecimento dos
sintomas específicos da doença identificada, muitas vezes sob a influência
de "remédio pequeno", deve-se observar o paciente à luz de numerosos
outros sintomas mais sutis que caracterizam a sua condição miasmática
para, então, por meio de um medicamento antimiasmático, instituir um
tratamento apropriado àquela condição mais acentuada. Do contrário cu-
rar-se-á o estado de sintomas mas não o estado de doença, o que por certo,
mais cedo ou mais tarde, levará o paciente a uma recidiva ou a outra dença
pertencente ao mesmo quadro miasmático.
No penúltimo capítulo, veremos como agem os medicamentos antip-
sóricos e como esse miasma pode ou não ser contagioso, hereditário e, ao
mesmo tempo, curável.
Para concluir este capítulo, gostaríamos de apresentar um quadro que,
embora não sendo orgânico, é particularmente apropriado para a compre-
ensão analógica dos diferentes estados miasmáticos.
Admitamos a existência de uma caldeira de natureza mais ou menos
elástica, que produzia vapor utilizado por uma série de mecanismos. Em
condições normais, ela trabalharia com uma pressão ideal, fornecendo
vapor para os diversos sistemas integrantes e mantendo-se em equilíbrio
com eles. Em dado momento, com o calor permanecendo constante, mas
com o consumo diminuído, ou vice-versa, por certo a pressão começaria a
aumentar dentro da caldeira. Nessas condições, o sistema já não mais
estaria em equilíbrio e algo precisaria ser feito. de forma automática ou
sob a orientação de um maquinista, para corrigir o desequilíbrio.
Uma caldeira normalmente possui válvulas destinadas à vazão do
excesso de pressão quando esta atinge um certo limite, fazendo-a voltar ao
seu nível ideal. Como conseqüência imediata do incremento da pressão,
114 ° HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMA T/CA

maior volume de vapor seria encaminhado para os diversos mecanismos e,


se não houvesse dispositivos de controle, por certo ocorreriam incrementos
de funcionalidade do sistema.
Atuando como meios de controle imediato, quer automáticos, quer
comandados pelo maquinista, entrariam em função dispositivos cuja fina-
lidade precípua seria deixar vazar o excesso de pressão, a fim de manter o
sistema em equilíbrio.
Este exemplo adequa-se à imagem perfeita do estado psórico, se
transportado para o nível somático dos organismos vivos.
Em nossas aulas usamos como analogia, para expor nossa hipótese,
uma caldeia a vapor (graficamente representada na Figura 1). O comporta-
mento dinâmico de uma caldeira representa exatamente aquilo que ocorre
também num organismo sob ação de uma noxa (sobrecarga qualquer), que
na caldeira é o vapor. O calor (A) fornecido à caldeira equivale no organis-
mo à noxa, portanto:

p
c
c
A = Oferta ao sistema
B = Dispêndio funcional

FIGURA 1

É fácil entender que, num sistema de tal natureza o ideal é o equilí-


brio entre A e B.

A=B

O ideal seria se a oferta de calor (A) fosse apenas a necessana


para gerar um nível de P bastante apenas para responder pelo dispêndio
funcional. Mas, em decorrência de muitos fatores, a oferta de calor
varia, determinando variações de P e conseqüentemente de B, em que
A PSORA ' 115

são produzidas alterações funcionais. (Excitação). Para corng1r isso,


para equilibrar o funcionamento de B dentro de parametros ideais, o
sistema possui válvulas de segurança C. Assim, o desequilíbrio do
sistema passa a ser representado por:
A=B+C

No organismo a coisa é semelhante. A oferta nunca é a ideal, quer


qualitativa, quer quantitativamente. Assim sendo, a relação A + B inexiste.
Na prática, sempre tende a haver desvios determinados pela oscilação de A
e conseqüentemente como P sempre está oscilando, em função de desequi-
líbrios entre A e B, há, portanto, a necessidade no organismo da presença de
C.
As oscilações ocorrem porque os organismos, a cada momento, estão
sujeitos a um número imenso de fatores que na sua quase totalidade atuam
como noxas, quer pela quantidade, quer pela intensidade, quer pela especi-
ficidade (= variações de A). As oscilações de A alteram os valores de P,
determinando alterações de B (sintomas). São alterações de funcionalidade
para mais ou menos que se manifestam no organismo como sintomas.
Aquilo que na caldeira chamamos pressão (P), no organismo a
Homeopatia chama de psora e cujo mecanismo básico é a excitação
fisiológica (mecanismo característico da Psora). A Psora, portanto, nada
mais é que um estado de eliminação insuticente.
Numa condição ideal A = B, sem a pressão interna do organismo não
existiria manifestação patológica, mas mesmo assim, P não deixaria de
existir. P dentro de um sistema em equilíbrio dinâmico equivale àquilo
que é citado como Psora Latente. Num sistema. P é a pressão latente
necessária ao funcionamento do sistema e que não deve ultrapassar deter-
minados limites para que não advenham problemas.

A
A -----1 Noxas
B -----1 Dispêndio Funcional
C ------1 Sistema Emunctorial
P -----1 Psora

Ideal -----1 A= B
Real -----1 A > B = Desequilíbrio
Sistema tenta compensar
Meta -----1 A =B + C
116 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

CARACTERÍSTICA DAS EXCREÇÕES PSÓRICAS

Em razão da excreção de inúmeras substâncias e pertubações metabó-


licas e digestivas de toda ordem, o mau odor de todas as eliminações do
indivíduo psórico é uma constante.
CAPÍTULO
Também chamada Diátese Proliferativa, a sicose é um dos três
miasmas caracterizados por HAHNEMANN.
Para o estudo deste estado miasmático, valer-nos-emos do mesmo
raciocínio utilizado para o estudo da psora.
Iniciaremos analisando separadamente as áreas mental e somática,
muito embora, a rigor, não exista distinção alguma, pois o ser é uma
individualidade, mente/corpo.
Vimos, no capítulo anterior. que os estímulos geram pressões que,
embora possam ser inadequadas, ativam automaticamente ou por comando
da Inteligência Vital, determinados sistemas, visando a manter o equilíbrio
existencial do organismo.
Assim sendo, há uma compulsão com vistas a eliminar, a "pôr para
fora" tudo o que for supérfluo e, sobretudo, daninho para o organismo.
Além do estímulo direto que o agente pode exercer, há uma compulsão
sistêmica oriunda da Inteligência Vital que pressente quando algo não
funciona satisfatoriamente e que, por isso, o organismo necessita se libe-
rar disso.
Se essa eliminação não for efetivada por estímulo direto exercido
sobre um órgão específico, a etapa seguinte será inevitavelmente uma
aplicação da função excretora comandada pela Inteligência Vital e, se isso
não for bastante, entrarão em ação outros mecanismos.
Mas pode acontecer que o sistema emunctorial não seja capaz de
cumprir a finalidade de eliminar o que é indesejável. Isto pode ocorrer se
o agente for não-eliminável, quer direta quer indiretamente, como é o caso
de certos venenos; se o agente exceder, em quantidade ou em intensidade,
à capacidade cmunctorial normal do indivíduo; ou, finalmente, se os ór-
120 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

gãos excretores não responderem total ou parcialmente ao estímulo direto


ou à compulsão de eliminação.
Nesse caso, existem apenas duas possibilidades: ou a morte sobrevém
ou outro sistema que consiga manter o equilíbrio entra em atividade.
Se o indivíduo não for capaz de superar a condição psórica, ou ele
morre ou desenvolve outro quadro miasmático, a não ser que haja diminui-
ção ou, pelo menos, equilíbrio da relação noxa/eliminação.
Em seqüência direta, esse segundo estado miasmático correspondente
precisamente à Sicose.
Indagamos qual seria o sistema seguinte a entrar em ação no organismo
quando os emunctórios tornam-se insuficientes. Se a finalidade básica é
eliminar, pôr para fora, qual será então o primeiro sistema orgânico a aten-
der o chamado da Inteligência Vital, através dos mecanismos fisiológicos,
quando o sistema emunctorial não for suficiente para atender à demanda?
Por certo, mais aptas para responder, de imediato, à ordem de excretar
seriam as células cuja função natural consiste em eliminar substâncias, isto
é, as células secretoras cujas secreções têm finalidades não especificamen-
te excretoras. Quando as células excretoras são capazes de promover o
equilíbrio, entram em ação as células secretoras. Estas células são normal-
mente secretantes, mas com finalidades diversas, pois secretam com fun-
ções determinadas, quais sejam: manutenção da lubrificação de determina-
do conduto, estabelecimento de pH e meio local com determinadas carac-
terísticas, condução de partículas para fora de um conduto qualquer, filtra-
ção de partículas nocivas, estabelecimento de umidade em certas áreas,
lubrificação de superfícies que se atritam etc.
É precisamente todo esse sistema secretor não-emunctorial que, nor-
malmente, deve obedecer primeiro à compulsão, quando a função não
pode ser exercida pelos emunctórios.
Iniciaremos no item seguinte o estudo do quadro mental da sicose
adotando o mesmo esquema utilizado na psora, proposto pelo Dr. PUIGGRÓS.

ÁREA MENTAL

Quando uma noxa atinge o organismo, origina-se um estado de inse-


gurança que ele tenta compensar através dos mecanismos primários de
proteção do Ego (quadro psórico). Se esses mecanismos primários de pro-
teção não forem suficientes, haverá uma participação mais ativa que, inici-
almente, atinge a área Afetivo/Emotiva para, a seguir, levar o indivíduo a
um estado de depressão melancólica (quadro sicótico ).
Ante uma noxa capaz de exaurir as reações do Ego, o organismo em
sua área psíquica não volta ao estado de equilíbrio indispensável e, sem
dúvida, ocorrerão reações bem mais sérias. Se na primeira etapa que carac-
A SICOSE t 121

Noxa . Organismo . Insegurança

Psora .. ~ Tentativa de compensação

Reações Primárias do Ego

~
Sicose . Reações Afetivas/Emotivas

Reações Depressivas (Melancolia)

teriza a psora a mente está totalmente lúcida e o raciocm10 normal, na


segunda já começa a ocorrer a falência do crivo da razão. O indivíduo
pressente que algo de errado lhe ocorre e o seu estado interior já ultrapassa
os limites da ansiedade e da angústia, chegando ao nível dos impulsos
fóbicos. Assim, ele passa a experimentar medos dos mais diversos tipos. O
psórico pode ter medo, porém este será do tipo ansioso, enquanto no sicótico
ele será tanto ou quanto projetivo e, por isso, irracional, cxatamente porque
naquele, a razão permanece incólume, ao passo que neste já ocorre a ruptura
dos mecanismos contensivos. Esses impulsos fóbicos, que ao nível da psora
podem ser controlados racionalmente, aqui não têm nenhum meio de contro-
le simples, pelo que o indivíduo passa a apresentar distúrbios de conduta.

CARACTERÍSTICAS DA SICOSE:
DESCONFIANÇA, SEGREDO E MENTIRA

Quais, então, os principais distúrbios de conduta que caracterizam o


quadro sicótico? Todas as obras de Homeopatia tratam bem do assunto,
sem, contudo, estabelecerem relações entre os diferentes sintomas que,
inegavelmente, obedecem a uma seqüência bcm-definida.
Ante um estado de ameaça reconhecido consciente ou inconsciente-
mente, o indivíduo começa a apresentar algumas reações, visando a sua
autoproteção. Não podendo identificar precisamente o que o ameaça, co-
meça por manifestar desconfiança. Desconfia de si mesmo, por sentir
inconscientemente que algo não anda bem e, aos poucos, desconfia de
tudo e de todos. Esta é uma forma de defesa contra algo que o atinge de
forma imprecisa e que o envolve numa atmosfera de vago perigo.
Desconfiado sem saber exatamente de que ou de quem, mantém sua
vida, seus sentimentos c atividades sob um véu de segredo e sigilo; e
122 1 HOMEOPATIA- CONTR/BU/çAO AO ESTUDO DA TEORIA M/ASMAT!CA

quando vê ameaçados tais segredos, recorre sempre a mentiras com o


intuito de protegê-los.

CARACTERÍSTICA DA SICOSE:
IDÉIAS OBSESSIVAS

O sentimento de ameaça, constantemente presente, leva a mente a


manter-se absoluta em qualquer preocupação, estado que corresponde a
uma das características da mente sicótica: Idéias Obsessivas.
Por essa razão, o sicótico é altamente obsessivo, repetitivo no que faz
e no que diz; revisionista, revista tudo o que faz, pois desconfia não só dos
outros como de si próprio.

CARACTERÍSTICA DA SICOSE:
AGRESSIVIDADE

É natural que o indivíduo em quem se manifesta um quadro mental de


desconfiança e dúvida e que é dominado por uma sensação de vaga ame-
aça, torne-se um hipersensível.
Por isso, sua hipersensibilidade nervosa evolui progressivamente e de
modo acentuado, até alcançar o nível da irritabilidade, da cólera, para
chegar, mais tarde, à maldade e, por fim, à crueldade. Essas são as condi-
ções que levam à delinqüência em geral, pois o indivíduo, já carente do
controle perfeito assegurado pelo crivo da razão, entreg ..-se facilmente à
criminalidade, trapaça e latrocínio.
Como a sicose é um estado mental que atinge sobretudo a área afeti-
vo/emotiva, essas condições mentais de hipersensibilidade descontrolada
levam inevitavelmente o indivíduo a desvios sexuais os mais diversos.
A agressividade manifesta-se, pois, cm todas as áreas do comporta-
mento, mas sobretudo na esfera sexual, por ser esta diretamente ligada à
afetividade.
Os desvios de conduta muito acentuados, apresentados pelo indivíduo
sicótico, caracterizam um núcleo de agressividade muito pronunciado, ra-
zão pela qual a Agressividade pode ser considerada a sexta grande caracte-
rística sicótica.

CARACTERÍSTICA DA SICOSE:
ESTADO DEPRESSIVO

Nesta etapa, o indivíduo já tem seu equilíbrio mental bastante com-


prometido, mas, em certas ocasiões a consciência moral ainda intervém,
desaprovando os sentimentos pervertidos, gerando-se assim, uma reação
mental de tristeza, que evolui, aos poucos, para o estado melancólico,
A SICOSE • 123

chegando, por fim, a pensamentos suicidas. O sicótico é capaz de distin-


guir o certo do errado, porém, muitas vezes não pode se conter. Consciente
ou inconscientemente constata que tem graves distúrbios de conduta e
sentimentos pervertidos contra o que a consciência moral protesta.
Tal é a causa dos estados depressivos melancólicos do sicótico. (No
capítulo seguinte veremos porque a consciência moral está mais compro-
metida na sicose do que no sifilinismo, como era de se esperar).
A razão pela qual o estado mental do sicótico vai adquirindo essas
características decorre do comprometimento funcional das células cere-
brais, pressionadas pela compulsão secretora que se exerce sobre elas. A
compulsão secretora sobre determinado tipo de células obriga-as a secretar
dentro de suas possibilidades e quando isso não é possível, ocorre uma
perturbação funcional qualquer.

CARACTERÍSTICA DA SICOSE:
PERVERSÃO DE FUNÇÃO

Forçar um sistema celular destinado ao cumprimento de uma função


determinada a exercer outra, caracteriza a Perversão de Função.
Claro que a maior parte das células cerebrais normalmente não se
destina, a exercer funções secretoras, mas, mesmo assim, não escapam à
compulsão generalizada.
Quando o estímulo é pouco intenso, apenas os tipos de células mais
responsivas do organismo começam a intensificar a sua função. Respon-
dem, portanto, mais rapidamente as que têm precisamente uma função
secretora. Um estímulo de pequena intensidade inicial e que se faz sentir
em todas as células não é, contudo, suficiente para perturbar o funciona-
mento de todas elas mas, à medida que vai aumentando, todas elas come-
çam a sofrer a pressão do estímulo para secretar e como muitas delas não
podem fazê-lo devido à sua própria natureza, sofrem, conseqüentemente,
perturbações na sua funcionalidade essencial.
Na psora, as células nervosas encontram-se em estado de intoxicação,
resultante da presença de numerosas substâncias das quais o organismo é
incapaz de libertar-se e que acabam provocando desvios funcionais. Por
isso, as funções mentais na psora estão apenas bloqueadas, ao passo que,
na sicose, estão alteradas em decorrência de um comprometimento dos
mecanismos intrínsecos das próprias células, desviando as funções mentais
do seu padrão de normalidade.
Assim, na sicose, as complexas reações ao nível das células cerebrais
altamente especializadas vão sendo alteradas. havendo progressivamente a
substituição das funções nobres por outras deterioradas, cm razão dos
estímulos diretos exercidos por certas substâncias, ou do atendimento ao
chamado da Inteligência Vital com vistas à eliminação.
124 • HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMA TICA

Sabe-se hoje que existem muitas secreções produzidas por determina-


dos grupos de células cerebrais, que exercem atividades muito precisas em
diversas funções psíquicas. Muitas doenças mentais são resultantes da au-
sência, ou da presença, ou do desequilíbrio proporcional de tais substânci-
as. Nesse caso, toda compulsão que leve esses grupos celulares a alterarem
a sua capacidade funcional, sem dúvida alguma, provocará perturbações
mentais específicas.
Não há dúvida que devem existir células nervosas que jamais secre-
tam, mas mesmo estas, ante a compulsão, terão suas funções específicas
perturbadas, ou poderão ser levadas a se reproduzir, originando assim as
neoplasias benignas do tecido nervoso.

SYCOSYS

ÁREA PSÍQUICA

Noxa - - - Exaustão das Reações do EGO

t
Impulsos Fóbicos
Desconfiança Reserva

Segredo - Mentira

l
Distúrbios de Conduta
Idéias Obsessivas
Hipersensibilidade

Cólera Roubo
Maldade Trapaça
Crueldade Criminalidade
Delinqüência Perversões
Sexuais

Tristeza
Perversão de Sentimentos Melancolia

Pensamentos Suicidas
A SICOSE ' 125

Conforme expusemos esquematicamente, o estado mental do indiví-


duo sicótico pode chegar a um nível de distúrbio muito acentuado dos
pensamentos suicidas.
O estado sicótico já atinge o nível da inteligência, podendo surgir
estados alucinatórios.

ÁREA SOMÁTICA

CARACTERÍSTICA DA SICOSE:
PERVERSÃO DE FUNÇÃO

Quando uma Noxa se faz sentir sobre o organismo, além de um limite


em que ele ainda é capaz de se libertar de forma ideal, haverá incremento
funcional dos emunctórios, determinados por estímulo direto ou pela com-
pulsão comandada pela Inteligência Vital. Mas, se isso não for suficiente,
entrarão em atividade outros sistemas, principiando pelos que já são natu-
ralmente secretores.
A compulsão excretora, quando não é contida ao nível da psora, ou
seja, quando o organismo não pode se libertar da sobrecarga através dos
mecanismos estudados no capítulo anterior, exercer-se-á sobre inúmeros
outros aparelhos e, então, a sicose se manifestará.
Por não haver atendimento suficiente ao chamado à secreção e o estímulo
aumentando cada vez mais, além dos emunctórios, entrarão em regime de
hiperatividade as células de todos os tecidos que normalmente já secrctam.
Essa hiperatividade é um atendimento à solicitação de eliminar, ou melhor, de
excretar e, como esta não é a sua natureza própria, é fácil compreender que
tais células estarão sendo vítimas de um processo de perversão funcional, pois
elas que, normalmente, não funcionam com a finalidade de liberar o organis-
mo passam a fazê-lo, caracterizando-se assim uma perversão de função. De
todas as características da sicose, talvez esta seja a mais importante.
Ante o incremento do estímulo, em ordem crescente de importância,
vão entrando sucessivamente em atividade todos os tecidos que, citados
antes, naturalmente, secretam com inúmeras finalidades.
Essa situação de eliminação vicariante, que se manifesta especial-
mente ao nível das mucosas, corresponde ao quadro conhecido como Sico-
se Primária. A excreção vicariante caracteriza, pois, a primeira etapa de
um estado sicótico.
Se, graças ao auxílio desse sistema auxiliar, o processo mórbido pu-
der ser contido, tudo manter-se-á nesse nível de equilíbrio, mesmo que
anômalo, mas suficiente para manter a vida. Caso contrário, continuará
aumentando a pressão noxal e intensificar-se-á a compulsão corresponden-
te, que se exercerá sobre todas as células do organismo.
126 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

CARACTERÍSTICA DA SICOSE:
ESTADO HIDROGENÓIDE

Nessa altura, as células menos especializadas em secretar começam a


responder à compulsão vital; não sendo por natureza secretoras, acabam por
eliminar o que podem, como água e sais. Daí os edemas, derrames e infiltra-
ções tissulares que caracterizam o estado hidrogenóide do indivíduo sicótico.

CARACTERÍSTICA DA SICOSE:
SENSIBILIDADE À UMIDADE

Diretamente ligada ao estado hidrogenóide, outra grande característi-


ca sicótica é: a acentuada Sensibilidade à Umidade, pelo que o indivíduo
sicótico é chamado de "barómetro vivente".

CARACTERÍSTICA DA SICOSE:
DERRAMES

A compulsão de eliminação, agindo sobre células não-destinadas à excre-


ção, acaba por incitá-las a eliminar inúmeras substâncias que, não encontran-
do portas de saída diretas, ou mecanismos outros, capazes de levá-las ao
exterior, originam diversas variedades de derrames que podem ficar retidos em
várias partes do organismo, o que explica as infiltrações articulares.
A sicose primária envolve mucosas de escoamento tanto ou quanto
livre, daí os fluxos vaginais, uretrais, sinusais, intestinais, da árvore respira-
tória etc. Quando isso não é suficiente, a excreção começa a fazer-se sentir
ao nível de mucosas de cavidades tanto ou quanto fechadas, como sinóvias,
peritôneo, pleura, pericárdio etc., o que caracteriza a Sicose Secundária.

CARACTERÍSTICA DA SICOSE:
FORMAÇÃO DE CONCREÇÕES

As secreções cujas qualidades vão dar origem à formação de concre-


ções em diferentes partes do organismo, originando cálculos biliares, de-
pósitos gotosos, litíases biliares e renais, cilindrúrias etc.
Todas essas concreções e depósitos causam dores intensas, pela com-
pressão que exercem, ou pela irritação local. Na psora, as dores são do tipo
cólicas; ou dores por congestão vascular, como acontece nas cefaléias; ou
dores superficiais, geralmente de tipo queimante ou ardente, por serem
causadas pela irritação provocada pelas substâncias oriundas das transfor-
mações bioquímicas em diversos setores do organismo. Essas dores, por-
tanto, resultantes dos processos alérgicos, ou da hipermotilidade de algu-
ma estrutura, são típicas da psora.
A SICOSE ' 127

Já na sicose, elas são bem mais intensas, porque resultam da presença


de concreções e derrames que irritam, pressionam, ou mesmo lesam estru-
turas muito sensíveis e delicadas. como as sinóvias, por exemplo, além de
existirem processos inflamatórios locais, normalmente muito dolorosos,
que se instalam em decorrência da ação bacteriana em determinadas par-
tes, provenientes da alteração do "habitat".
Um tecido que secreta com finalidade precisa (lubrificação, manuten-
ção de pH, estabelecimento de umidade local e outras), tendo de atender
ao chamado à excreção, transforma sua função básica em outra. Em essên-
cia, esse fenômeno nada mais é que uma "perversão funcional", pois a
função própria secretora tenta transformar-se em excretora. A tentativa de
perversão funcional prejudica muito os tecidos, pois as células acabam
excretando substâncias que causam modificações locais apreciáveis, como,
por exemplo, variação de pH, alteração do índice de umidade, sem falar na
presença das próprias substâncias. muitas delas formando combinações
irritantes. Essa situação inevitavelmente é a porta de entrada de infecções
bacterianas de toda natureza, além de causar os processos inflamatórios
inerentes aos quadros sicóticos.
Por isto na sicose vamos encontrar inflamações com predileção por
determinadas mucosas, exatamente as que mais facilmente atendem à
compulsão, por serem naturalmente secretoras. Essas inflamações são típi-
cas das lesões das sicoses primária e secundária.
Temos caracterizado, a exemplo do que fizeram todos os autores, o
estado sicótico como uma "perversão", pois nele a função secretora, fina-
lidade essencial de muitos tecidos, é substituída pela função excretora. As
células tentam deixar de secretar para excretar e, por não serem constituci-
onalmente aptas para desempenhar essa função, naturalmente não o fazem
de modo satisfatório, acabando, assim, essa tentativa por causar os mais
diversos prejuízos.

CARACTERÍSTICA DA SICOSE:
PROLIFERAÇÕES TISSULARES BENIGNAS

Se o equilíbrio orgânico não for conseguido nesse nível, a pressão


continuará a aumentar, as células que não puderem responder secretando,
passarão a responder a seu modo próprio, isto é, multiplicando-se. Sofrem
então, uma pressão de aumento funcional e, como não têm função excreto-
ra e, praticamente nenhuma secretora, tentam "excretar a si mesmas", por
assim dizer, sob a forma de auto-reprodução.
A esta altura, a Inteligência Vital, que impulsiona a excreção de
forma generalizada, sabe que a reprodução celular irregular é também
prejudicial, tenta tornar o mal menor, lançando mão de uma série de
mecanismos de contenção, muitos deles bem-estudados pelas ciências bio-
128 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

lógicas; por isto, a reprodução mantém-se sob controle, caracterizando a


natureza das proliferações resultantes.
A Inteligência Vital sabe do perigo de todos os mecanismos sicóticos;
mas eles são a única solução possível para salvar o organismo. A Sicose,
ou qualquer outro estado miasmático, nunca representa uma situação favo-
rável, mas é um recurso que, embora envolva sérios inconvenientes, prote-
ge. contudo, o organismo contra situações mais graves. cujo último termo
seria a morte.
Um miasma não é uma causa; é, antes. um estado de defesa orgânica,
uma forma de adaptação que evita que o organismo seja destruído. O
elemento perigoso não é, portanto, o miasma, mas sim as noxas que são os
verdadeiros elementos ativos. Se o organismo não for capaz de se defender
delas por meio dos mecanismos que caracterizam os estados miasmáticos,
por certo sucumbirá.
Nesta etapa de proliferação controlada, surgem os tumores, benignos
em geral, que nada mais são que reações tissulares, localizadas e limita-
das, resultantes da compulsão exonerativa.
De acordo com o tecido que responde, surgem, então, verrugas, condilo-
mas, papilomas, pólipos, miomas, lipomas, fibromas, adenomas. cistos etc.
Essas proliferações teciduais controladas atendem à grande caracterís-
tica sicótica: Proliferações Tissulares Benignas.
Esta etapa miasmática proliferativa, a mais profunda fase da sicose na
área somática, é conhecida como Sicose Terciária.
Analisaremos sucintamente, a sicose ao nível dos diferentes tecidos
e órgãos, pois este trabalho visa a situar os mecanismos da gênese dos
miasmas e não a estudá-los de modo particular, pois isso já foi feito de
forma muito precisa no passado, por vários autores clássicos e, na atua-
lidade, peJas escolas de S. ORTEGA, F. TOLEDO, T. P. PASCHERO, entre outras
não menos ilustres.
A obra "Retículo Endoteliose Crônica", de HENRY BERNARD é muito
esclarecedora quanto às lesões orgânicas ao nível da sicose.

MUCOSAS

Como já dissemos, mucosas que não são por natureza excretoras e


sim secretoras, também acabam por responder à compulsão exonerativa
quando a pressão atinge o nível em que os cmunctórios não são mais
capazes de satisfazer às necessidades do organismo.
Dentre as mucosas que secretam, vamos inicialmente analisar a das
vias urinárias.
A mucosa uretra! apresenta diferentes tipos de células secretoras que,
compulsionadas à excreção, determinam o surgimento de fluxo de abundân-
A SICOSE ' 129

cia variável. Contudo. a célula uretra! compulsionada, além de excretar o


que lhe é peculiar, nunca deixa, também, de excretar substâncias que antes
era incapaz de produzir; por isso, as secreções, cujo volume aumentou, têm
suas qualidades modificadas, causando completa alteração do meio. Assim,
a mucosa torna-se hipersensível e presa fácil para numerosos germes especí-
ficos, que antes não tinham capacidade de proliferar, quando o meio não
havia ainda sofrido alterações. Modificado o "habitat", ali instalam-se com
facilidade cepas de gonococos, estafilococos, colibacilos etc., responsáveis
pelas uretrites genericamente catalogadas como gonorréia.
Durante muito tempo pensou-se que a gonorréia fosse a causa da sicose,
porém, isso não é verdade, pois ela é mais uma conseqüência que uma causa.
O indivíduo não se torna sicótico porque tem ou teve gonon·éia, c sim, torna-
se gonmTéico porque está sicótico. Não pomos cm dúvida que a toxina gono-
cócica, como muitas outras, seja sicotizante e agrave seriamente o quadro
sicótico que, muitas vezes, de latente torna-se manifesto. Afi1mamos que o
indivíduo, se não se encontrar numa fase sicótica, jamais contrai gonorréia,
mesmo que tenha contato diário com os germes responsáveis pela doença.
A mucosa vesical é sensível à compulsão e, por isto. mediante um
mecanismo idêntico ao descrito com relação à uretra, pode-se tornar sede
de cistites. Essa mucosa pode responder à sicose terciária com a formação
de pólipos e outras neoformações benignas. além de servir de local de
depósito para cálculos formados a partir de substâncias excretadas por
meio da diurese. Isto corresponde à fase secundária da sicose.
Os ureteres, além de lesões infecciosas produzidas por mecanismos
idênticos ao da uretra, apresentam também lesões provocadas por cálculos
resultantes da eliminação anormal de vários sais.
Ao nível dos rins, o processo repete-se. Nesses órgãos, porém, podem
manifestar-se distúrbios outros, particularmente os de natureza psórica por
mecanismos alérgicos, que são as causas determinantes de quadros nefríti-
cos, com aquele clássico séquito de sintomas locais e gerais característicos.
O quadro sicótico descrito ao nível da uretra pode estabelecer-se com
intensidade no aparelho seminal, originando orquites c cpididimites que,
possivelmente, culminarão em esterilidade.
Na mulher, a mucosa vaginal, muito responsiva, presta-se muito bem
para o estabelecimento do mecanismo sicótico. Entre outras funções essa
mucosa secreta, com a finalidade de umedecer o canal, manter o pH e
conservar o "habitat" ideal para uma tlora adequada. Porém as células po-
dem, ao atenderem à compulsão, originar abundantes fluxos patológicos,
corrimentos vaginais de natureza vária. A mucosa torna-se sensível e facil-
mente infectável, ampliando ainda mais os corrimentos. Assim. a leucorréia
sicótica resulta inicialmente da hipersecreção e, depois, do processo infecci-
oso que se estabelece em decoiTência da modificação do "habitat", que se
tornou adequado para a proliferação de determinados germes indesejáveis.
130 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

Na fase terciária, as células que são incapazes de secretar podem


vegetar, formando-se, assim, excrescências de natureza vária.
A mesma situação de sensibilidade faz-se sentir nas trompas de Falá-
pio e nos paramétrios, nos quais se manifestam as metrites, que podem
evoluir para a perviperitonite.
No útero, é a sicose terciária que mais facilmente marca presença
com as proliferações miomatosas.
Ao nível dos ovários, a compulsão aumenta a produção hormonal,
com suas conseqüências bem conhecidas. além de formar cistos. Na base
terciária, formam-se as neoplasias benignas.
Qualquer um desses processos pode ser causa de esterilidade femini-
na, tida como uma condição essencialmente sicótica por diversos autores.

APARELHO RESPIRATÓRIO

A compulsão determina a secreção de mumeras substâncias que vão


contribuir para a formação do catarro. Assim, o catarro pode resultar tanto
da ação do estímulo excretor, como da infecção que se estabelece em
decorrência da modificação do "habitat" da árvore respiratória, que passa
a dar guarida aos germes que têm predileção por esse meio.
Há, pois, na sicose, maior volume de mucosidades na árvore brônqui-
ca e, por isso, a expectoração é mais abundante que na Psora. A tosse seca,
conforme já dissemos, é peculiar psora. Na sicose, contudo, pode ocorrer
tosse seca, mas neste caso ela é de natureza reflexa, pela compressão ou
estímulo decorrente de alguma neoformação benigna, por exemplo. Contu-
do, é no Tuberculinismo, de que trataremos mais adiante, que os quadros
respiratórios produtivos são mais acentuados.

SINÓVIAS

Normalmente, as sinóvias secretam, sendo uma das finalidades princi-


pais lubrificar as articulações. Mas ante a pressão, o volume maior secre-
tado, não tendo porta de saída suficiente. fica retido na cápsula sinovial,
caracterizando os derrames articulares. Daí as inflamações articulares lo-
calizadas, geralmente muito dolorosas pela sensibilidade própria desse
tipo de mucosa (Sicose Secundária).
Juntamente com o líquido sinovial são eliminados certos sais, que se
condensam em concreções características da gota, pois os distúrbios sicó-
ticos manifestados em outras partes do organismo determinam o aumento
concomitante da taxa de ácido úrico circulante.
A SICOSE ' 131

Essas alterações, ao nível das articulações, podem chegar ao plano


das deformações das superfícies ósseas, que já fogem do campo do mias-
ma em evidência. Podem ainda aparecer ali certas proliferações caracterís-
ticas da sicose terciária.
Todos os mecanismos estudados pela reumatologia são válidos; po-
rém, em essência, tudo ocorre principalmente na perversão funcional das
células teciduais ao nível das superfícies articulares.
É sabido que certas toxinas microbianas lesam as sinóvias por um meca-
nismo alérgico, portanto, psórico, mas o foco infeccioso à distância normal-
mente é de fundo sicótico, mecanismo idêntico ao que origina a nefrite.

SJNUS

A mucosa dos sinus responde à compulsão, originando as sinusites,


cujo mecanismo primário é idêntico ao de todos os que estudamos. Perver-
são funcional das células, modificação das condições superficiais, ataque
das bactérias, inflamação, pus e dor.
O mecanismo é sempre o mesmo, para qualquer mucosa que se leve
em consideração.

PELE

CARACTERÍSTICA DA SICOSE:
AFECÇÕES CUTÂNEAS, ACNE

A pele é palco de menor número de lesões sicóticas que psóricas, por


ser ela essencialmente um emunctório muito ativo.
O quadro sicótico, ao nível da pele, faz-se sentir nas células que
secretam com finalidade não-emunctorial, como as das glândulas sebáceas
que, ao terem exacerbada a sua funcionalidade, originam a oleosidade,
característica da sicosc.
Tal como na psora, as secreções de origem sicótica podem alterar as
características próprias da pele, modificando o "habitat", c dando lugar não
tanto a parasitoses como na psora, mas a lesões inflamatórias de origem
bacteriana. Surgem cravos, espinhas, lesões cxfoliativas, herpes etc.

CARACTERÍSTICA DA 5/COSE:
PRESENÇA DE VERRUGAS

Por outro lado, as células não-secretoras da pele podem responder


mediante uma proliferação, dando origem a diversas lesões benignas,
132 t HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASM; 1

como cistos, condilomas e muito especialrr :, verrugas, que vêm a ser a


décima primeira grande característica sicó, 1.
A pele também é sede de um grupo rr.uito grande de "sinais", quer
de natureza proliferativa, quer de natureza vária, como as manchas e
todos os estigmas citados nos tratados de Homeopatia como de fundo
sicótico e que são evidentemente manifestações genotípicas, portanto,
incuráveis e hereditárias.

CAUSAS DA S/COSE

Uma vez compreendidos os mecanismos descritos, não é difícil acei-


tar que, em essência, a causa determinante da sicose é a incapacidade do
organismo de manter o equilíbrio vital ao nível da psora.
Assim, quando os mecanismos utilizados à altura da psora não são
capazes de estabelecer a drenagem das pressões indesejáveis, a Inteligên-
cia Vital mobiliza outros meios, que correspondem exatamente ao quadro
sicótico. Portanto, todas as noxas que, por alguma razão, não forem elimi-
nadas pelos emunctórios para assegurar a manutenção do equilíbrio vital
devem ser consideradas como causadoras da sicose.
Há noxas que, embora não excedam um nível aparentemente compa-
tível com a capacidade de excreção orgânica, não são eliminadas, por
existir praticamente bloqueio dos emunctórios.
Outras vezes, uma noxa, mesmo de pequena intensidade, não tem
especificidade para algum emunctório e, por isso, foge do quadro psórico.
Em ambos os casos, as noxas podem ser consideradas como causas diretas
da sicose.
Mesmo as noxas ideais para a eliminação emunctorial, desde que
excedam em quantidade a capacidade funcional do sistema excretor, po-
dem ser causas determinantes de sicotização. Mesmo que uma noxa não
seja excessiva, se o sistema excretor estiver lesado, bloqueado, ou mesmo
inibido funcionalmente, ela é perfeitamente capaz de sicotizar o indivíduo.
De modo geral, podemos dividir as noxas, quanto à ação miasmati-
zante, em dois grupos: específicas e inespecíficas.
As específicas são as que, ao atingirem o organismo, agem diretamen-
te ao nível de determinado miasma, sem apresentarem qualquer predileção
por outro sistema de eliminação disponível.
As inespecíticas são as que normalmente seriam próprias para deter-
minado sistema de eliminação ligado a certo miasma, mas que, por vários
motivos, passam a ser eliminadas por outro mecanismo miasmático menos
adequado.
Assim sendo, existem noxas específicas para a sicotização. Quando
estas atingem o organismo, todos os emunctórios, mesmo estando em perfei-
A SICOSE ' 133

tas condições, simplesmente não entram em atividade, porque a noxa em


questão não tem especificidade para eles e sim para os tecidos secretores.
Passaremos em revista alguns tipos de noxas específicas da sicose,
destacando, fundamentalmente, as introduções de proteínas heterólogas no
organismo por meio de inoculações diretas.
A seguir analisaremos, sumariamente, quatro maneiras de sicotização
por inoculação de proteínas heterólogas por via parenteral, prática utiliza-
da, à guisa de tratamento, pela medicina oficial.
Sabe-se, desde os primórdios da Homeopatia, que a vacinação antiva-
riólica é evidentemente um agente sicotizante. Não podemos afirmar se,
realmente, a causa dessa sicotização é a proteína estranha veiculada pela
vacina ou se alguma toxina desenvolvida no processo da vacinação antiva-
riólica causa a liberação de algo que o organismo é incapaz de excretar
(mecanismo psórico), e que tenta eliminar, por meio de uma excreção
vicariante ao nível de um aparelho secretor (mecanismo sicótico). O indi-
víduo, estando em estado sicótico, sofre, conseqüentemente, uma exacer-
bação deste miasma; em estado psórico, o agente, que não é passível de
eliminação emunctorial, passa a ser eliminado através de algum tecido
secretor, caracterizando a sicotização.
O caso abrange não somente a vacina antivariólica, mas, em particu-
lar, todas as que tiverem como base a inoculação de proteínas estranhas.
Durante muito tempo as vacinas produziam reações, entre as quais a
doença do soro. Eram manifestações de natureza alérgica, portanto, essen-
cialmente psóricas. Aperfeiçoaram-se essas vacinas; hoje, não mais desen-
volvem reações alérgicas, mas é possível que sejam mais sicotizantes, do
que antes.
Um tipo de tratamento alopático, especialmente indicado no trata-
mento das viroses e outros estados graves de intoxicação orgânica, consis-
te na aplicação parenteral de gamaglobulinas. A Homeopatia não pode
aceitar esse tipo de terapêutica, cxatamente porque o medicamento em
questão nada mais é que uma proteína estranha inoculada e, portanto,
inegavelmente, um elemento sicotizantc.
Anos atrás, foi tentado um tipo de tratamento visando aos estados
alérgicos em geral e a bronquite asmática cm particular, injetando células
estranhas ao organismo. Durante certo tempo foram utilizados dois méto-
dos; um que consistia na inoculação de células placentárias em solução e
o outro no implante direto de um fragmento de placenta. Tivemos a opor-
tunidade de atender alguns indivíduos que, há vários anos, haviam-se sub-
metido a esse tipo de tratamento. Os casos apresentavam franca sicotiza-
ção e isto é digno de atenção pois, atualmentc, a medicina oficial está
desenvolvendo muito rapidamente as técnicas de transplantes de órgãos.
O segundo elemento de sicotização é, sem dúvida alguma, o enxerto
de tecidos vivos e órgãos.
134 1 HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIAS MA TICA

A medicina deposita grandes esperanças na cirurgia de substituição de


tecidos e órgãos mediante transplantes; contudo, até agora, tem encontrado
muitas dificuldades nesse campo ante o fenômeno da rejeição. A rejeição
nada mais é que a tentativa do organismo. mediante os sistemas imunológi-
cos, de "pôr para fora" tudo o que lhe é estranho. Todos os mecanismos
ligados à rejeição e à imunologia devem ser considerados como os meios
empregados pela Inteligência Vital para exercer o seu controle sobre o orga-
nismo. O Princípio Vital não analisa intenções, rege tudo mediante leis e
princípios e, por isso, ignora a finalidade de um enxerto qualquer.
É bem possível que, em breve, através de processos imunológicos, a
medicina consiga evitar a rejeição; é bem possível também que determine,
na realidade. uma forte supressão. O organismo não rejeitará o enxerto,
mas poderá manifestar distúrbios miasmáticos ainda imprevisíveis. Acredi-
tamos que. quando menos, esse procedimento determinará ou exacerbará a
sicose ou outros miasmas ainda mais pronunciados.
Qualquer que seja o método que a imunologia possa vir a empregar,
poderá resolver o fenômeno da rejeição, mas não o da miasmatização, pois
somente através de princípios homeopáticos poderão ser contornados os
possíveis quadros miasmáticos subseqüentes. Acautelem-se desde já os
futuros homeopatas contra as conseqüências miasmáticas oriundas das ci-
rurgias de substituição de tecidos e órgãos!
Portanto, baseado no conhecimento homeopático, que sempre eviden-
ciou ser a introdução de proteínas heterólogas no organismo uma causa
sicotizante, e segundo nossas observações em pacientes que foram subme-
tidos a enxertos de tecido placentar e que. mesmo nos casos de não haver
ocorrido rejeições, contudo, apresentavam francos sinais de sicotização,
alertamos, desde já, para os efeitos tardios, cm nível miasmático, que
advirão dos implantes orgânicos.
Há um método de inoculação de proteínas heterólogas, praticado em
grande escala, que merece atenção especial por parte dos homeopatas.
Trata-se da utilização de fios tipo catgute, usados praticamente em todas
as operações cirúrgicas. Esse tipo de fio, de origem animal, é fabricado a
partir do intestino, não mais de gato, como no passado, mas de carneiro.
No ato cirúrgico são normalmente inoculadas muitos gramas dessas proteí-
nas heterólogas.
Nos últimos 3 anos viemos realizando uma pesquisa em centenas de
pacientes operados, visando a determinar o percentual de sicotização pro-
vocado por esse tipo de inoculação.
O método utilizado para isso, conforme comunicação nossa apresen-
tada na 3• Jornada Paulista de Homeopatia, em novembro de 1977, em São
Paulo, Brasil, consiste na caracterização miasmática dos sintomas surgidos
no pós-operatório tardio, em pacientes que receberam proteínas estranhas
através dos fios utilizados em cirurgia.
A SICOSE 1 135

Para identificar a verdadeira causa dos distúrbios sicóticos - que pode-


riam ser decorrentes de várias outras causas relacionadas com a cirurgia e
não da inoculação propriamente dita - utilizamos o fio dinamizado a 30°C
hahnemaniana para. através do efeito tautopático, estabelecer a possível
relação de causa e efeito, partindo do seguinte princípio: se a sicotização for
devida ao catgute, necessariamente deverá haver resposta do organismo se o
mesmo tipo de tio for utilizado homeopaticamente dinamizado.
Outro grupo de fatores sicotizantes é constituído por toxinas de natu-
reza vária. São essas toxinas, substâncias das quais o organismo não con-
segue se libertar, direta ou indiretamente, através dos emunctórios.
São numerosas as toxinas sicotizantes; entre todas, talvez a mais nociva
seja a da Neisseria gonorrhoea. Evidentemente, essa toxina, se inoculada
num psórico, pode torná-lo sicótico, mas é impossível que num indivíduo
apenas psórico, que não for inoculado, a Neisseria gonorreae se instale, pois
é somente em estado sicótico que existe um "habitat" ideal para o desenvol-
vimento dessa espécie bacteriana. No indivíduo psórico, a mucosa uretra!
está higida e, por isso. nela não pode se estabelecer a gonorréia. Inegavel-
mente, porém, a toxina gonocócica agrava o estado miasmático sicótico.
Pior que a própria toxina gonorréica é a supressão do fluxo uretra!,
pois isto equivale ao fechamento de um ponto de drenagem capaz de
manter a sicose cm sua fase primária. O equilíbrio mantido pela elimina-
ção graças a uma mucosa de escoamento livre passa a ser realizado por
uma mucosa de cavidade fechada, como as articulações, por exemplo.
Por isso é clássica a idéia que a supressão dos fluxos genitais é causa
de gota e outras manifestações artríticas.
Outra causa agravante da sicose: a exéresc de qualquer tipo de glân-
dula ou tecido secretante. Tal intervenção equivale também ao fechamento
de uma via de drenagem ao nível da sicose primária, o que, por certo,
determinará a abertura de outro nível mais profundo.
Agravante, também, pode ser considerada a exérese de qualquer tipo
de proliferações benignas da sicose terciária. Tal extirpação pode não só
agravar a sicose estabelecida, como lançar o organismo num outro quadro
miasmático mais acentuado.
É lógico, portanto, aceitarmos que toda contenção de tluxos ou proli-
ferações é causa de agravação sicótica. A recíproca é verdadeira: tudo o
que vier a facilitar o escoamento dos fluxos beneficiará, por certo, o
indivíduo sicótico.
Sabe-se que a umidade é causa de agravamento para o paciente sicóti-
co. Naturalmente esse indivíduo, com retenção hídrica em todos os tecidos,
sente-se melhor em ambiente seco, mais propício à eliminação hídrica. Por
isso, quando a umidade ambiente aumenta, o organismo sente que essa
mudança vai de encontro à que facilita a evaporação cutânea. Neste caso,
sentimos que um mecanismo psórico pode beneficiar o organismo sicótico,
136 t HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

pois a drenagem pelos emunctórios diminui a necessidade de eliminação


vicariante. Este ponto, muito importante, merece atenção especial, pois,
como veremos no último capítulo, um estado miasmático pode ser tratado
ao nível dos estados precedentes. Em essênca aceitamos o que afirma o
ilustre homeopata argentino MASI ELIZALDE: só há um miasma - a Psora.
A agravação do sicótico ocorre mais pela madrugada, pois é exala-
mente nesse momento que a umidade relativa do ar é mais elevada e,
portanto, menor a capacidade de perspiração do organismo e, também,
devido ao repouso físico que amplia a estase sangüínea.
Outros detalhes sobre a sicose estudaremos no último capítulo, em
conjunto com os demais miasmas.
Por ora. retomemos o exemplo analógico apresentado no final do
estudo da psora.
Mais uma vez vemos o esquema representativo de uma caldeira a
vapor. Figura 2

CALDEIRA A VAPOR

Instrumentos Indicadores F

Boceladuras E

A > B + C = Desequilíbrio
Vazamento de pressão D e E
Incremento de volume (Sist. plástico)
Equilíbrio
A=B+C+D ou A=B+B+C+D ou A=B+C+D+E

FIGURA 2
A 5/COSE ' 137

Se a pressão P continuar a aumentar, quer pela incapacidade relativa


ou absoluta de C (válvula de segurança = função emunctorial), estabelece-
se uma nova condição em que A>B + C . A fica maior que B + C e isto
inexoravelmente tende a levar o sistema a uma desestruturação. Quando
não acontece isso é porque entra em ação algum outro tipo de contenção
capaz de atenuar P.
Agora vejamos o seguinte: numa caldeira em que normalmente há
muitos indicadores e dispositivos relativamente frágeis, um incremento
progressivo da pressão pode romper aqueles dispositivos e ocasionar vazão
de pressão e, assim, os instrumetos indicadores de dados funcionais pas-
sam à condição de válvulas equilibradoras de pressão. Isto coiTesponde a
uma perversão de função. pois que uma função deixa de ser cumprida
para o atendimento de uma outra diferente e anormal. Isto não é o ideal,
mas graças à possibilidade disso acontecer é que o sistema deixa de ser
destruído. Em tal situação, a relação volta a apresentar-se assim:
A=B+C+D+E
No organismo acontece o mesmo (Fig. 3), ante a pressão crescente da
Psora (P), levada a cabo por um estado de eliminação fisiológica insufici-
ente para equilibrar o sistema, as células secretoras entram em ação com a
finalidade de atender à função excretora, auxiliando assim o sistema
emunctorial, embora havendo uma perversão de função. É verdade que
tal perversão de função acarreta problemas bem mais sérios que uma
simples excitação fisiológica. O tecido secretor quando passa a exercer
atividade excretora, acarreta problemas como: derrames em cavidades
abertas (= sycosis primária). ou em cavidades fechadas (sycosis secundá-
ria) ou hipertrofias (= sycosis terciária).
Numa caldeira em que a pressão foi aumentada, entra inicialmente
em funcionamento o sistema de válvulas de segurança. Se esse sistema
não for capaz de manter o nível de pressão dentro dos limites de seguran-
ça, nem tudo estará ainda perdido, pois, antes da explosão final, outros
mecanismos entrarão em jogo.
Nossa caldeira é equipada com certos dispositivos por onde flui o vapor
destinado a vários fins. Todos esses dispositivos não visam a aliviar o sistema,
mas a exercer inúmeras funções ao nível da maquinaria e mesmo registrar
certos dados, como o nível de água, a intensidade de pressão etc. É natural
que, antes de ocorrer a explosão da caldeira, nesses pontos todos, haja vaza-
mentos de vapor. De forma vicariante eles funcionarão com vistas a diminuir
a pressão da caldeira. Isso equivale a uma perversão de função, pois, em vez
de marcar pressão, por exemplo, o manômetro deixá-Ia-ia escapar; em vez de
detenninar o nível de água, também vazaria vapor e assim por diante. O que
existe para desempenhar uma função específica, passa a funcionar com outra
finalidade. No organismo, situação semelhante equivale à sicose primária.
138 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

ORGANISMO SYCÓTICO

SYC
F

PSO Organismo psórico


SYC Organismo sycótico
A NOXA
B Dispêndio funcional
A+ B +C Organismo descompensado
(O organismo tenta
compensar)
A + B+ C + D SYC. primária
A + B+ D + E SYC. secundária
A + B + C + D + E + F = SYC. terciária

FIGURA 3

Numa etapa posterior, quando o aumento de pressão torna-se muito


acentuado, certas partes da caldeira, precisamente as menos resistentes,
começam a "estufar", apresentar dilatações e protuberâncias. indícios de
rompimentos iminentes. Isto corresponde, no organismo, à sicose terciária.
Essa analogia mostra claramente que a terapêutica alopática não visa
a diminuir a pressão interna, mas apenas a tamponar as válvulas e todos os
pontos por onde a pressão está vazando.
A terapêutica homeopática, ao contrário, visa a diminuir a pressão,
reduzindo a oferta de calor ou aproveitando melhor o vapor disponível, ou
liberando ou ampliando os pontos de vazão natural.
CAPÍTULO

0 SIFILINISMO
Indicaremos o estudo do último dos três miasmas hahnemanianos
que, normalmente, tem sido considerado uma diátese, a ulcerativa por
renomados homeopatas.
Como muitos autores, preferimos denominar este nível miasmático
"sifilinismo" para não estabelecer confusão com a sífilis, doença em que,
embora esteja de certa forma a ele ligada, não se manifesta todo o quadro
representativo do miasma.
Também, no sifilinismo, não podemos estabelecer limites entre as
manifestações somáticas e psíquicas; por isto, a divisão que estabelece-
mos, mais uma vez, é apenas para fins didáticos.
Se, sob a ação de uma noxa, o indivíduo não puder manter o equilí-
brio vital ao nível da psora ou da sicose, inevitavelmente mergulhará num
terceiro nível miasmático, ou sucumbirá.
Quando a intensidade noxal é muito elevada, ou quando os mecanis-
mos psóricos e sicóticos são insuficientes, por alguma razão, para aliviar a
compulsão excretora ou quando a própria noxa tem um tropismo específi-
co para certos tipos de distúrbios, o organismo pode desenvolver meios de
defesa que, mesmo estando longe de serem inócuos, são a única maneira
de evitar a morte.
Não havendo possibilidade de uma superação por meio de elimina-
ções excretoras ou secretoras, que meios a Inteligência Vital pode lançar
mão para tentar restabelecer o equilíbrio orgânico?
Uma vez paralisadas as células secretoras, esgotada a sua ação, que
células podem entrar em atividade? Já vimos que, ao nível da sicose,
mesmo as células não-secretoras começam a responder à compulsão de
"pôr para fora", isto é, rejeitar, eliminando água, eletrólitos, ou entrando
142 ' HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIAS MÁ TICA

em processo auto-reprodutivo, além de apresentarem perturbações funcio-


nais por alterações do mecanismo intrínseco de cada uma.
Além do nível da sicose, a pressão de rejeição é tão intensa que se
inicia um processo de desagregação da própria estrutura íntima das unidades
biológicas. Podem estar presentes, não só essa pressão de rejeição, como
também substâncias tão daninhas para o organismo que sequer podem ser
eliminadas pelos mecanismos inerentes aos dois primeiros miasmas, o que
pode levar o indivíduo a uma situação de profundos distúrbios histológicos.
O organismo, a esse nível, já apresenta uma alteração funcional muito
acentuada e variadas perturbações histofisiológicas incompatíveis com a
recuperação ad integ rum.
De início, analisaremos o indivíduo em sua área mental, que é palco
de graves perturbações no sifilinismo.

ÁREA MENTAL

Quando as noxas ultrapassam o nível psórico e sicótico, o comprome-


timento mental da pessoa transpõe a esfera afetivalemotiva chegando à do
intelecto. Podem, então, ocorrer distúrbios em qualquer um dos setores
ligados à inteligência, havendo assim, praticamente, um progressivo ani-
quilamento das faculdades superiores da mente.
Vimos que a mente sicótica já é atingida ao ponto de aparecerem
pensamentos de autodestruição, como resultado da falência do crivo da
razão, ante o estabelecimento de uma ansiedade de consciência condenató-
ria da perversão de sentimentos que o indivíduo é portador.
No sitilinismo, como o nível do intelecto é profundamente atingido,
uma sucessão de distúrbios pode começar a ocorrer na área dos diferentes
elementos componentes da inteligência.
A inteligência, caracterizada pela capacidade de conhecer e saber que
conhece, de entender, escolher e pensar, começa a funcionar de forma
alterada ao nível de cada um dos elementos que a compõem.
Assim, na área sensorial podem surgir sensações anormais. A gama des-
sas sensações é tão ampla que já foram escritos livros especiais enumerando
os sintomas indicativos, entre os quais citamos "Sensations as If' <9l. Muitas
das sensações ali descritas têm causas somáticas, mas a grande maioria delas
são sensações ligadas ao sifilinismo, oriundas da desagregação do intelecto.
As percepções alteram-se, originando estados alucinatórios e deliran-
tes. Podem ocorrer distúrbios de associação mental, contribuindo para as
alucinações e os delírios.
A compreensão torna-se progressivamente impossível, por não ter o
indivíduo condições de estabelecer padrões associativos válidos entre
idéias e coisas.
O 5/FIL/NISMO t 14 3

Outro componente da inteligência, a atenção, diminui paulatinamen-


te; por isso o indivíduo vai se tornando descuidado a ponto de comprome-
ter a sua própria integridade física.
Os conceitos tornam-se também anormais, determinando as mais di-
versas perturbações de avaliação. Surgem erros de apreciação em geral e
de tempo e espaço em particular.
A imaginação, de início, é excitada, depois torna-se progressivamente
embotada, chegando até o nível da idiotia.
Uma área que, logo de início, começa a apresentar sérios transtornos
é a memória. Inicialmente ocorrem perdas Jacunarcs para depois, à medida
que os distúrbios se acentuam, atingir o estágio da amnésia global.
Por sua vez, o raciocínio vai perdendo sua intensidade até chegar, por
fim, à incapacidade total de pensar.
Finalmente, a própria razão está sendo afetada. Manifesta-se uma
série expressiva de estados psicóticos graves, caracterizados normalmente
por idéias de destruição e suicídio.
Contudo, é muito importante sentir que, mesmo apresentando o orga-
nismo distúrbios de grande magnitude, a Inteligência Vital ainda consegue
manter o controle sobre a mente, mesmo que seja de forma parcial.
As atividades psíquicas degeneram pois, sem o crivo perfeito da ra-
zão, o indivíduo pode chegar até mesmo ao ponto máximo de falência,
desenvolvendo reações destrutivas, dirigidas não só contra tudo e contra
todos, mas também contra si próprio.
A agressividade, que já é característica da sicosc, acentua-se no sitili-
nisrno até alcançar um nível perigosíssimo pois, associada à tendência
destrutiva, própria deste miasma, pode lançar o indivíduo ao abismo horrí-
vel da criminalidade.
Se o processo miasmático não puder ser contido, o ser caminhará para
a autodestruição, quando a sua consciência moral ainda for passível de
atuação; caso contrário, mergulhará, por certo, no cancerinismo (quarto
estado miasmático, não-referido por HAHNEMANN).
A mente, no sifilinismo, sofre, portanto, severíssimos danos e por isto,
o comportamento do ser torna-se muito complexo, pela seguinte razão: em
essência, no quadro miasmático sifilínico, pode haver destruição ou, pelo
menos, desagregação dos mecanismos intrínsecos, dos quais depende o ela-
borado funcionamento mental. Mas, essa destruição é sempre parcial, atin-
gindo mais uma área que outra, pois nem todas as células do córtex respon-
dem igualmente à compulsão que se exerce sobre todas elas. Assim, as áreas
afetadas variam de uma pessoa para outra. Como o cérebro tem localizações
próprias pará cada função, somática ou psíquica, é evidente que, de acordo
com o local atingido, surgirão diferentes gêneros de perturbações.
Adotemos, mais uma vez, o esquema básico proposto por PUIGGRóS c
por nós aplicado ao Sifilinismo.
144 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

Sifilinismo - Sintomas Mentais

Nível Afetivo/Emotivo
Psora
Reações Primárias do Ego

Ações Volitivas
Sycosis
Reações Depressivas (Melancolia) Sensação
Percepção

Syphilinismo _______..
t
Distúrbios do Intelecto _______..
Associação
Atenção
Imaginação
Conceitos
Memória
Raciocínio
Reações Agressivo-Destrutivas Razão

Autodestruição
/ Cancerinismo

Quando o equilíbrio não pode ser atingido ao nível da sicose, o orga-


nismo mergulha no quadro do sifilinismo, em que o dano psíquico ultra-
passa a esfera afetiva!emotiva e da melancolia, apresenta distúrbios mais
acentuados que podem ter como ponto culminante, o suicídio. No sifilinis-
mo, as áreas mais nobres da mente são atingidas, surgindo assim, os
distúrbios que descrevemos nos diferentes níveis da inteligência.
A agressividade tem conotação de grande intensidade, justamente por
contar com um componente destrutivo. A destrutividade sicótica é mais de
tipo impetuoso que premeditado. O comportamento sicótico, embora cru-
el, é, contudo, racional, isto é, constitui um comportamento elaborado,
embora destituído do crivo da consciência moral; enquanto o comporta-
mento agressivo sifilínico é irracional, pois o indivíduo é incapaz de con-
trolar-se ou distinguir o certo do errado. O mundo do sifilínico assemelha-
se à imagem refletida num espelho de superfície irregular, ocorrendo as
mais variadas deformações. Todos os valores podem apresentar índices
diferentes do normal no indivíduo sifilínico.
Fundamentalmente, a causa é sempre a mesma: destruição da função
celular por causas extrínseca ou intrínseca, variando apenas a natureza das
reações decorrentes, de acordo com a área atingida. Por isso, o sifilínico é
O SIFIL/NISMO t 145

freqüentemente mais irritável que o sicótico, quando a destruição afeta os


centros controladores da agressividade. Por essa razão, o estudo dos sinto-
mas miasmáticos torna-se, muitas vezes, difícil de entender, pois um qua-
dro sifilínico manifesto pode apresentar reações aparentemente sicóticas
ou mesmo psóricas, mas sempre em decorrência da localização lesionai.
As reações apresentadas pelo indivíduo podem, não raro, ser idênticas,
mas o mecanismo causador será próprio a cada nível miasmático.
Uma lesão sifilínica ao nível do centro respiratório determinará per-
turbações da respiração; no centro termorregulador, distúrbios de tempera-
tura e assim por diante, aparentemente indicando um estado psórico.
Vimos que, na psora, o indivíduo pode apresentar reações mentais
lentas, torpeza, incapacidade de pensar e compreender (embotamento)
etc., mas, naquele miasma, isto acontece, quando muito, por uma intoxica-
ção não-lesionai da célula nervosa, ocorrendo, deste modo, um bloqueio
da funcionalidade mental susceptível de plena recuperação. O mesmo qua-
dro mental psórico pode ocorrer no sifilinismo. porém o distúrbio, neste
caso, é muito mais profundo, pois resulta da destruição de células cere-
brais. No sifilinismo o mecanismo é lesionai. destrutivo e, por isso, de
difícil recuperação em qualquer sistema médico.
Entende-se, assim, porque as manifestações psóricas são de fácil reso-
lução quando comparadas com as sifilínicas. Nestas, devem ser levadas em
conta as destruições celulares, enquanto nas psóricas as manifestações
praticamente são oriundas de bloqueios de natureza tóxica. Por isso, os
estados psóricos não são lesionais. Mesmo que em muitos casos os meca-
nismos sejam diferentes, a sintomalogia clínica apresenta-se semelhante,
como acontece num processo convulsivo, que tanto pode ser de fundo
psórico (cuja causa é de natureza tóxica), como sicótica (por lesão com-
pressiva), ou sifilínica (por destruição celular). Há crises convulsivas pro-
vocadas por seqüelas cicatriciais, presença de coágulos etc., por certo de
fundo sifilínico; mas, muitas vezes, resultam de sobrecargas elétricas ao
nível das células. Esse tipo pode ser considerado essencialmente psórico.
A recuperação psórica é integral e sem seqüelas, enquanto a sifilínica
é parcial, resultando sempre as mais diversas seqüelas.
Como no sifilismo, a mente não é atingida por igual, o indivíduo pode
apresentar quadros sintomáticos paradoxais como, por exemplo, agitação
ou depressão.
A falência da razão leva progressivamente a vítima do terceiro mias-
ma para o campo da criminalidade e, quando ainda existem áreas cerebrais
hígidas, a consciência moral, porventura existente, é capaz de conduzi-la
ao suicídio e, no mínimo, desenvolver um intenso desejo de fuga, real, ou
provocado pelo alcoolismo e outras drogas. O sifilínico bebe para fugir de
si mesmo, muitas vezes procurando escapar à angústia que lhe é imposta
pela consciência moral.
146 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

Podemos compreender porque a consciência moral é mais pronuncia-


da no sifilínico que no sicótico. Este apresenta distúrbios de conduta como
forma de defesa psicológia. Agride para defender-se de algo que, inconsci-
entemente, ele considera ser-lhe uma ameaça. Podemos considerar a agres-
sividade sicótica como sendo comandada pela vontade e passível de ser
contida conscientemente. O sicótico sente que, se o desejar, pode abando-
nar todos os defeitos psíquicos dos quais é portador. A idéia de poder
controlar os seus ímpetos abafa o grito da sua consciência moral.
No sifilínico, a situação é incontrolável, pois surge um conflito interi-
or entre a condenação ditada pela consciência moral c os impulsos agres-
sivos-destrutivas c. sobre esta situação, a vontade não tem meios de con-
trole. A agressividade ele sente, mas não tem controle sobre ela; o desejo
de destruição ele percebe, mas não tem condições de contê-lo. Como as
lesões atingem o cérebro por áreas, ele sente que não pode controlar a
agressividade destrutiva resultante de um sintoma localizado em uma área
que está praticamente funcionando independentemente do conjunto. En-
quanto isto, as áreas responsáveis pela auto-análise estando conservadas,
manifestam uma intensa repulsa pelos atos praticados, originando-se daí
intensa disposição melancólica e suicida.
Para concluir, diremos que é muito difícil compreender o padrão de
comportamento sifilínico, haja em vista as possibilidades de variação das
áreas cerebrais atingidas pelos processos lesionais intra ou extracelulares.
Uma lesão, em determinada área, pode excitar, hiperativar; em outra,
pode deprimir, inibir etc.
Acreditamos que todos os sintomas mentais sifilínicos podem ser
compreendidos dessa maneira. Contudo, muitas doenças mentais atribuí-
das ao sifilinismo, na realidade são inerentes ao cancerinismo. A esqui-
zofrenia, por exemplo, tanto pode ter origem tóxica (psórica), como
compreensiva e por produção anômala de determinadas substâncias se-
cretadas por grupos celulares (sicose) ou lesionai (sifilínica); contudo, há
quadros desse estado patológico que, por certo, não pertencem a nenhum
dos três miasmas.
Por razões que discutiremos no próximo capítulo, consideremos essas
condições esquizofrênicas como ligadas ao cancerinismo. Já os quadros da
Psicose Maníaco-Depressiva estão normalmente relacionados ao miasma
sifilínico.
É fácil entender porque um distúrbio mental sério pode resultar ou de
uma compressão, ou de secreções endógenas (sicose) ou de uma destruição
tissular (sifilinismo ); por isto, o diagnóstico clínico nada indica quanto ao
miasma ativo responsável. Só mediante uma avaliação global do quadro
sintomatológico é que se pode detectar a condição miasmática determi-
nante. Essa avaliação é muito importante para a condução correta do
tratamento homeopático preciso.
O 5/F/L/N/SMO • 147

Em resumo, na psora, o estado de intoxinação* presente, ocasionado


pela eliminação insuficiente, atua em todas as células cerebrais e por isso,
a mente é envolvida como um todo, enquanto as determinações que carac-
terizam o sifilinismo não atingem todas as células. A pressão miasmática
sim, mas a destruição funcional ou tecidual apenas atinge áreas distintas,
variáveis de um indivíduo para outro; por isto, os sintomas são também
distintos e aparentemente contraditórios.
A pressão noxal, tornando-se suficientemente elevada, pode atingir um
nível em que as células mais especializadas do organismo tendem a abando-
nar a sua real função, na tentativa de restabelecer uma resposta à compulsão.
Do mesmo modo, as mais resistentes e menos secretantes entram em hipera-
tividade funcional, alterando a sua finalidade com vistas à excreção.
Desta forma, as células altamente especializadas do sistema nervoso,
especialmente as do córtex cerebral, começam a sofrer perturbações diver-
sas, já que são destituídas da capacidade excretora. Na área somática, a
situação não é diferente; certas células são capazes de resistir à compulsão
de rejeição de pequena e média intensidade, mas há um limite além do
qual elas não mais podem resistir e começam a ter sua estrutura histoquí-
mica danificada podendo o processo culminar com a autodestruição.
Portanto, no sifilinismo, certas células, não sendo capazes de atender à
compulsão de secretar, ante o intenso índice de estimulação, acabam por sofrer
distúrbios nos seus mecanismos intrínsecos, do que resultam perturbações
do funcionamento ideal, chegando mesmo a um estado de autodestruição.
Assim, ocorre a histólise com a formação de úlceras em geral, quer
pela compulsão propriamente dita, quer pelas perturbações circulatórias. A
úlcera, parece. de certo modo. atender à necessidade de excreção do orga-
nismo pois, as células superficiais que não podem excretar, por se destrui-
rem, formam ulcerações que funcionam como zonas secretivas.
No sifilinismo, o dano celular atinge o tecido conjuntivo fibroso, o
colágeno e mesmo o tecido ósseo. Porém, um dos tecidos mais atingidos
pela pressão exonerativa sifilínica é, por certo, o endotelial. Assim sendo,
é na área somática e, em particular, no sistema vascular, que vamos encon-
trar as lesões mais representativas deste miasma.

SISTEMA VASCULAR

As células endoteliais sofrem alterações, a exemplo do que ocorre com


as mucosas em geral na sicose. Assim surgem as inflamações dos endotéli-
cos, originando arterites e flebites, que podem se tomar sépticas, das quais
surgem as tromboses e as embolias de conseqüências imprevisíveis.

* Ver conceito de intoxinação


148 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

A própria parede dos vasos sofre alterações pelo dano infligido ao colá-
geno e ao tecido fibroso em geral. As paredes vasculares sofrem, portanto,
alterações em sua constituição íntima e assim surgem aneurismas e varizes.
Essas alterações podem facilmente provocar obliterações do sistema vas-
cular, determinando cianoses ou mesmo necroses teciduais (gangrena). No
sistema nervoso aparecem varizes e estases venosas, causadoras de lesões que
vão desde simples alterações da pigmentação cutânea até ulcerações.
Em qualquer setor do organismo, o comprometimento vascular, com
as conseqüentes perturbações da dinâmica sangüínea, provoca lesões de-
correntes da má-irrigação tecidual,constituindo isto mais um mecanismo
próprio do quadro destrutivo do terceiro miasma.

SISTEMA LINFOGANGLIONAR

Tal como o sistema vascular, o sistema linfático é atingido no sifilinis-


mo. Aparecem lesões, inflamações e mesmo proliferações. Surgem adenopa-
tias, particularmente tumorações ganglionares e vegetações de adenóides e
amígdalas que, ao se infectarem, geram inflamações características.
No tecido linfático, o sifilinismo determina geralmente hipertrofias e,
como este tipo de reação tecidual é próprio da sicose, muitos autores têm
dificuldades em situá-las no quadro miasmático geral. Muitos colocam as
proliferações dos gânglios, adenóides e amígdalas na sicose e outros, no
sifilinismo. Evidentemente, as duas situações podem ocorrer, mas, em
regra geral, essas hipertrofias resultam do quadro sifilínico em virtude do
tipo de mecanismo causal, pois não decorrem diretamente de uma prolife-
ração celular (sicose). A expansão do tecido linfóide decorre da perturba-
ção da drenagem linfática, inerente ao mecanismo sifilínico já descrito.
O quadro anômalo de circulação linfática e sangüínea gera o distúrbio
tecidual, que culmina com a hipertrofia. Além disso, a dinâmica hemolin-
fática, perturbada, ocasiona alterações fisiológicas que acabam por ocasio-
nar alterações histológicas, estabelecendo-se, assim, os quadros inflamató-
rios. Logo, as vegetações e inflamações do sistema linfoganglionar são
lesões basicamente sifilínicas, pois a causa primária são as lesões destruti-
vas dos vasos linfáticos e sangüíneos.

EPITÉL/OS

No sifilinismo, as mucosas são acometidas de lesões de tipo ulcerati-


vo e, de acordo com a região atingida, a sintomatologia é específica. No
tubo digestivo surgem lesões destrutivas de natureza vária, que, além do
estímulo reflexo que podem determinar sobre todo o mecanismo gastroen-
O SJFILINJSMO ' 149

térico, ainda funcionam como áreas secretantes de fluidos que, por sua
vez, prejudicam a função digestiva. A mucosa da boca, esôfago e estôma-
go torna-se doentia por úlcera ou, simplesmente, por destruições intrínse-
cas das próprias células. A secreção de substâncias anormais e o próprio
estado das mucosas são responsáveis pelo odor pútrico do hálito. (Não só
o hálito, mas todas as secreções do sifilínico têm odor pútrido, extrema-
mente desagradável). Há propensão a sialorréia.
Ao nível do ânus, surgem as hemorróidas sifilínicas, que têm como
causa a fragilidade das paredes venosas do plexo hemorroidário, diferindo,
portanto, das de origem psóricas. que são de natureza irritativa.
A mucosa do estômago torna-se muito sensível. em decorrência das
lesões que se estabelecem dentro ou fora das células. Dessa sensibilidade
resulta a aversão às comidas e bebidas quentes e o desejo de coisas frias,
manifestações próprias do miasma sifilínico.

SISTEMA ÓSSEO

O sistema ósseo é um dos alvos prediletos do mecanismo sifilínico, pois


a maioria das suas lesões pertencem a este estado miasmático. As lesões que
podem apresentar-se são provenientes da má-irrigação, uma vez que os vasos
lesionados perturbam a mecânica dos fluidos vasculares; assim, o tecido muito
vascularizado pode vir a sofrer necroses c outras alterações tróficas. Portanto, no
sifilinismo, vamos ter as cáries ósseas e diversos tipos de perturbações tróficas
que condicionam desvios e outras alterações. Além disso, o tecido ósseo,
modificado em sua natureza, apresenta condições propícias para o estabeleci-
mento de processos inflamatórios como, por exemplo, a osteomielite.
As alterações ósseas, ao nível das articulações, causam problemas arti-
culares tróficos e inflamatórios, que podem ser agravados pelas alterações
estruturais dos próprios ligamentos fibrosos. Como se pode constatar, não
somente na sicose, mas também no sifilinismo, as articulações podem sofrer.
Assim, as lesões reumatiformes podem advir de diferentes estados miasmá-
ticos; contudo, os mecanismos determinantes são próprios de cada um deles.
Os tecidos fibroso e elástico sujeitos à ação sifilínica apresentam relaxa-
mento das fibras que condiciona as luxações, entorses e desvios ósteoarticulares.
O periósteo também pode ser atingido no sifilinismo, ocasionando as
periostites.

PELE

A pele é palco de uma riquíssima gama de lesões de fundo sifilíni-


co. Não entraremos em pormenores sobre essas lesões, pois encontram-
150 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

se escritas com perfeição nos tratados de dermatologia e de Homeopa-


tia. Abordaremos apenas o mecanismo intrínseco das lesões dérmicas
sifilínicas e esclareceremos dúvidas porventura existentes quanto à si-
tuação miasmática.
No sifilinismo, as células não-secretoras, são danificadas, sofrendo
alterações destrutivas, razão pela qual as lesões são do tipo seco. As lesões
úmidas, contudo, localizam-se de preferência, no couro cabeludo. Contu-
do, as substâncias que umidificam as lesões sifilínicas são provenientes,
não de excreção ou secreção funcional, mas de transudações em pontos
lesionados. A umidade, em outras palavras, não é resultante de elimina-
ções funcionais fisiológicas e sim de lesões histológicas.
Na pele manifestam-se estados patológicos de tratamento muito difí-
cil, como a psoríase, esclerodermia e outras lesões, envolvendo o próprio
tecido conjuntivo fibroso e o colágeno. São, portanto, de tratamento difícil
para qualquer ramo da medicina, por serem lesões que comprometem
muito profundamente os mecanismos citofisiológicos, isto é, a própria
estrutura íntima das células é danificada.
A pele, no sifilinismo, sofre muito em decorrência do comprometi-
mento vascular, o qual origina desde simples pigmentações até distúrbios
lesionais sérios, com o aparecimento de úlceras e gangrenas.
A úlcera, em última análise, é uma área secretante. É como se a pele
ou a mucosa, não conseguindo secretar diretamente, ulcerassem-se para
permitir o escoamento dos fluidos, em atendimento à compulsão de "pôr
para fora". Porém, quando falamos em excreção ou secreção como meca-
nismos de eliminação, não afirmamos, por isso, que, realmente, os agentes
nocivos sejam veiculados pelos fluidos e sim que as secreções surgem em
conseqüência da hiperatividade excretora imposta às células em geral.
Em qualquer parte do organismo, o mecanismo sifilínico é sempre o
mesmo; por isto, é muito simples explicar as possíveis lesões e a sua
sintomatologia.
Por exemplo, a lesão do tecido elástico, ao nível das articulações,
determina relaxamento ligamentar e ptoses ao nível das diferentes vísceras.
No coração podem ocorrer lesões por agentes sifilínicos, como na
doença de Chagas, que alteram a natureza da fibra cardíaca. Também pelo
mecanismo vascular o sitilinismo pode lesionar o músculo cardíaco, ocasi-
onando o enfarte. De igual modo, a grande maioria das lesões valvulares
são essencialmente ligadas ao terceiro miasma.
Não somente o Sistema Nervoso Central é atingido como já vimos,
como também o Periférico e as bainhas dos nervos, originando-se as neu-
rites periféricas.
Todos os órgãos podem sofrer lesões características do miasma sifilí-
nico, onde quer que o tecido conjuntivo seja lesionado, originando infla-
mações e degenerações fibrosas.
O SIFIUNISMO t 151

Todos os tecidos, mesmo os excretores e secretores, podem ser atingi-


dos pelo mesmo mecanismo e, quando a pressão de rejeição não consegue
fazer com que eles excretem ou secretem, acabam sendo danificados.
A pressão de rejeição ao nível da psora faz excretar; da sicose, faz
secretar e do sifilinismo, determina destruição.
SANCHEZ ORTEGA considera a sífilis como o miasma da perversão. Este
termo tem sentidos diferentes, o que explica porque aquele renomado
mestre da Homeopatia classifica o sifilinismo como perversão, enquanto a
quase totalidade dos demais autores consideram como perversão da sicose.
Para nós, a perversão de função é típica do miasma sicótico. Talvez,
ORTEGA queira caracterizar como perversão a destruição, que, também, não
deixa de ser uma forma pervertida de existir. Perversão, no sentido de
destruição, pode muito bem ser usado para indicar o sifilinismo, mas, no
sentido de alteração de finalidade funcional, a rigor, não o pode.
Agora, vamos abordar um assunto que merece atenção especial. Na área
somática, a consciência vital limita os processos ulcerativos através de inúme-
ros mecanismos estudados pelas diferentes especialidades da medicina clássi-
ca, em particular, pela imunologia. A Inteligência Vital sabe que a ulceração,
a destruição, é um recurso extremo e daninho, mas, mesmo assim, em último
recurso, válido para restabelecer o equilíbrio vital altamente comprometido.
Ao nível do sifilinismo. os mecanismos através dos quais a Inteligência Vital
atua sobre as unidades do sistema já se encontram cm franca deterioração,
mas são ainda suficientes para manter a unidade vital do ser. Dessa forma a
destruição será sempre a mais limitada possível, pois a Inteligência Vital
mantém o mecanismo destrutivo tanto ou quanto controlado.
Chegamos agora a um ponto em que podemos entender o tipo de dor
sifilínica. Ela é de caráter muito intenso, do tipo terebrante, com pontadas
lancinantes, pois decorre exatamente de um grau lesionai muito acentuado,
com distúrbios tão intensos que culminam por destruir as próprias células.
É, em toda a acepção da expressão, uma dor mortal em nível tecidual.
A dor sifilínica agrava-se à noite, pois o repouso condiciona a estase
circulatória, comprometendo ainda mais a nutrição das áreas afetadas.

CAUSAS DO S/F/LINISMO

Em essência, a causa básica do sifilinismo é a incapacidade do organismo


de manter-se em equilíbrio mediante os mecanismos psóricos e/ou sicóticos.
Tal como acontece com a sicose, há noxas com predileção para certos
tecidos nos quais situam-se os distúrbios sifilínicos; entre estas, encontram-
se certas toxinas, destacando-se em especial, a do Treponema pallidum.
Não repetiremos tudo o que foi dito em relação à gonorréia no estudo
da sicose, lembrando, apenas, que o mesmo tipo de raciocínio pode ser
152 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO I ~A TEORIA MIAS MA TICA

NOXA - - . Organismo

~
Destruições Teciduais
Falhando os organismos da Psora e da Sycosis

Aortite
Aarterite


Ação sobre o endotélio
Obliterações
Cianose
Gangrena

Aneurismas
Varizes
Má-irrigação tecidual

Ulcerações

1
Tecidos
Gangrenas
Distrofias
Flacidez Ptose
Inflamações
Endurecimentos (esclerose)

l
Sist. Linfa-ganglionar
Inflamações
Adenóide
Amígdalas
Vegetações
Adenopatias
Tumores ganglionares

1 Relaxamento
Luxações
Articulações
(Ligamentos)
Desvios

l
Tecido ósseo
Exosteosis
Periostites
Cáries

l
Pele
Ressecamentos
Úlceras
Esclerodermia
Psoríase etc.
O SIFILINISMO 0 153

aplicado à sífilis. O indivíduo não desenvolve o sifilinismo porque contraiu


sífilis, mas sim, contrai esta porque está em fase sifilínica.
Como veremos no último capítulo, qualquer agente pode chegar a de-
terminar um quadro sitilínico; por isto podemos identificar os agentes que
têm maior predileção por esse nível racional, mas jamais afim1ar que um
agente é ou não é capaz de desencadear um estado miasrnático sitilínico.
A toxina do Treponema pallidum é indiscutivelmente um agente de-
terminante de quadro sifilínico nos pacientes psóricos e sicóticos e agra-
vante nos sifilínicos.
Também como causa agravante pode-se considerar o fechameno, por
meio de agentes tópicos ou cirúrgicos, de lesões ulcerativas em geral, pois
isto se constitui numa maneira de fechar um dreno que a natureza vital do
indivíduo procurou abrir, para restabelecer a homeostase perdida. Fechar
por esses meios uma lesão sifilínica é predispor ao agravamento o paciente
sifilínico ou, quando não, fazê-lo mergulhar no cancerinismo.

CALDEIRA A VAPOR

H
G

,------/
p
0~ c
c
B

Se a caldeira da analogia não fosse destruída no segundo nível, ela


poderia se apresentar em uma terceira condição caracterizada por vaza-
mentos nos pontos frágeis de sua própria estrutura, evitando com isso urna
destruição maciça.
Nesta terceira condição, as destituições podem funcionar como meca-
nismo de equilíbrio do sistema.
154 ' HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMA TICA

E = pontos de vazamento por destruição da parede do próprio sistema.

No organismo, em princípio. não é muito diferente. No terceiro nível


há destruições teciduais, portanto, o mecanismo é cicatricial e deixa se-
qüelas na maioria das vezes. É verdade que qualquer destruição do orga-
nismo é ruim, tal como qualquer mecanismo de perversão de função, mas
temos também que admitir que é graças a tais anomalias que o sistema não
é destruído em muitas ocasiões. Figura 5

ORGANISMO SIPHYlÍNICO

SYPH
G
F

PSO
0~
c
B

Este é o terceiro nível racional, o Syphilinismo, cujo mecanismo reacio-


nal caracteriza-se pela destruição. Naquele nível passam a ocorrer destruições
parciais em decorrência do que o organismo tem que lançar mão da cicatriza-
ção, como processo de cura. A cicatrização geralmente deixa seqüelas, por
isso o prognóstico nesse nível passa a ser mais sombrio que nos demais.
Para concluir, voltemos à caldeira mencionada nos capítulos 6 e 7.
Aqui o aumento de pressão chega a um nível tal que há rompimentos em
inúmeros pontos. A textura das paredes e das tubulações já está submetida
a pressões a ponto de romper-se em certas áreas. Esses rompimentos, por
mais inconvenientes que sejam, ainda são uma maneira precária de evitar
a explosão da caldeira.
O SIFIL/NISMO • 155

Os vazamentos de vapor, ao nível das tubulações, fazem com que a


pressão, ao nível das máquinas, não se exerça na forma devida, compro-
metendo, assim, a funcionalidade de todo o sistema.
Mas, mesmo assim, o sistema ainda pode funcionar, exercendo certo
controle sobre a caldeira. A vedação dos pontos de vazamento aumentará
apenas a pressão da caldeira, mesmo que melhore a funcionalidade do
sistema, por não mais escapar vapor nas tubulações.
A medicina alopática opera dessa maneira, vedando, de modo vário,
os pontos de vazamento, mas sem se preocupar com o subseqüente aumen-
to de pressão em todo o sistema.
A Homeopatia, pelo contrário, procura fazer com que a pressão esca-
pe em níveis inferiores, por válvulas especiais, ao mesmo tempo que tenta
controlar as causas do incremento de vapor.
Concluiremos nossa exposição dizendo que, nesse nível, a Inteligên-
cia Vital sabe dos perigos, que os meios utilizados são daninhos demais
para o ser, sendo, contudo, a única solução que ela dispõe para assegurar a
manutenção de uma forma de equilíbrio e evitar assim, a destruição do
indivíduo.
A essa altura, todos os mecanismos biológicos que a Inteligência Vital
pode comandar já estão seriamente comprometidos e, por isto, suas men-
sagens já chegam aos pontos apropriados um tanto alteradas ou incomple-
tas. Porém, de modo geral, a Inteligência Vital ainda consegue manter o
equilíbrio orgânico, mesmo que seja de forma instável.
CAPÍTULO

0 ÚNCERINISMO
O estudo dos mecanismo envolvidos nos estados miasmáticos
clássicos, permite-nos entender o Cancerinismo e formular a presente hi-
pótese, capaz de explicar essa condição orgânica.
Talvez por haver uma incidência bem menor de processos malignos
na época de HAHNEMANN, o mestre não situou precisamente essas manifes-
tações cm nenhum dos três miasmas por ele descritos.
L. VANIER iniciou o estudo dos processos malignos à luz da teoria dos
miasmas e identificou a existência de mais um estado miasmático, que
denominou Cancerinismo.
A maioria dos escritores e mestres da Homeopatia tem dado um
enfoque algo errado às manifestações miasmáticas cancerínicas, afirmando
que são resultantes da atuação simultânea dos três miasmas hahnemania-
nos. Erroneamente, consideram as neoplasias malignas como uma doença
trimiasmática. De modo algum, a idéia de doença trimiasmática atribuída
às neoplasias malignas, reflete a verdade. Podemos mesmo afirmar, com
toda certeza, que é mais provável que o estado canccrínico resulte da
inatividade dos três miasmas hahnemaníacos que da atividade simultânea
deles. Isto ficará devidamente esclarecido após termos tecido algumas
considerações preliminares a respeito. Talvez o aspecto das lesões canccrí-
nicas tumorais e ulccrosas haja contribuído para se acreditar que nesses
estados patológicos houvesse uma atividade trimiasmática.
Quando o organismo não é capaz de manter o equilíbrio vital aos
níveis miasmáticos já descritos, ele chega a uma situação caótica de desor-
ganização interna que pode romper os mecanismos de sintonização vibra-
tória entre as unidades biológicas e o todo. A compulsão exonerativa é
fortíssima quando transcende o limite superior do sifilinismo.
160 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

À medida que a ação noxal vai se acentuando, vão-se sucedendo os


estados miasmáticos: Psora, Sicose, Sifinlinismo e, por fim, o Cancerinismo.
Indagamos por que o organismo, chega ao nível de um quadro patoló-
gico tão pernicioso?

cancerinismo

Uma das causas apontadas é que certas noxas determinam estímulos tão
violentos que, mesmo que entrem em atividade, os mecanismos inerentes
aos três primeiros níveis miasmáticos, não bastam para aliviar a compulsão
de eliminação. Isto é, os três miasmas não são capazes, nem mesmo operan-
do conjuntamente, de manter o sistema orgânico cm equilíbrio. Hoje a
humanidade vive sob o impacto incessante de noxas muito intensas, como
jamais o foi no passado. As tensões atingem uma violência incrível; os
estímulos são extraordinariamente elevados e o organismo, na impossibilida-
de de incorporá-los, tenha descarregá-los através dos mecanismos miasmáti-
cos. Porém, como eles excedem a capacidade desses sistemas, surge, então,
um quarto tipo de mecanismo que não se pode, a rigor, chamar de "mecanis-
mo de defesa", pois Inteligência Vital já perdeu o controle sobre parte das
unidades orgânicas. Mas, mesmo ante esse desmoronamento tissular, a Inte-
ligência Vital ainda consegue conter o processo, evitando que ele se estenda
a todas as células. Tenta restringi-lo a um tipo ou grupo de células, embora
O CANCERINISMO ' 161

isto não passe de uma mera tentativa de equilíbrio, porque, como sabemos,
essa iniciativa não é capaz de manter o indivíduo vivo por muito tempo.
Mas, se não houvesse essa tentativa, o desenlace seria, a bem dizer, fulmi-
nante. Assim, pode-se admitir ser isto ainda um mecanismo de defesa.
Outra causa diz respeito à qualidade das noxas. Há noxas que não
são susceptíveis de eliminação por nenhum dos miasmas hahnemania-
nos. Como dissemos antes, há noxas que são específicas para determi-
nado miasma e inespecíficas para os demais. Assim, há noxas que não
podem ser eliminadas pelos mecanismos miasmáticos clássicos. Com
essas, a Inteligência Vital perde o controle sobre certos grupos celula-
res mais responsíveis.
Por fim, pode ocorrer que as noxas não sejam tão intensas, e nem
inespecíficas para outros estados miasmáticos. Porém, por motivos que
apresentaremos no último capítulo, existem bloqueios dos sistemas ineren-
tes aos outros miasmas, impedindo seu funcionamento, mesmo quando a
pressão noxal de rejeição torna-se muito elevada.
A compulsão exonerativa continua aumentando e, ao ultrapassar o
nível do sifilinismo, atinge um ponto de ruptura total dos dispositivos
intrínsecos responsáveis pela sintonização das unidades biológicas, provo-
cando a perda de controle da Inteligência Vital sobre dctctminadas células.
O que acontece no processo cancerínico? As células reproduzem-se
desordenadamente, daí a sua malignidade já que essa atividade não pode
ser contida.
Vimos que, na sicose terciária, a Inteligência Vital mantém o controle
sobre os processos de ncoformação. Na proliferação celular sicótica, a
contenção existente torna a atividadc limitada, circunscrita, assim como o
faz no sifilinismo com relação às lesões ulccrativas.
Se, por um lado, essas lesões teciduais decorrem da pressão exonera-
tiva determinada pela Inteligência Vital, por outro lado esta, sabendo que a
destruição além de certo limite é perigosa para a própria vida, procura
limitar o processo destrutivo sicótico e sifilínico.
A atividade limitativa nos tumores e nas úlceras envolve todos os
mecanismos estudados pela ciência médica e além disso, o controle direto
da Inteligência Vital sobre as próprias células. Vários, pois, são os meios
que a Inteligência Vital pode lançar mão para exercer o controle sobre
todas as unidades do organismo.
Ao nível do cancerinismo, porém, rompe-se esse controle c, por isso, não
mais é possível o exercício de atividade limitativa alguma ao nível da lesão,
deixando esta atividade de ser um meio de drenagem para tornar-se simples-
mente, uma desagregação. No cancerinismo, não mais existe perversão ou des-
truição, e sim desagregação, uma forma desordenada de estruturação celular.
A excitação caracteriza a Psora; a perversão, a Sicose; a destruição, o
Sifilinismo; e a desagregação, o Cancerinismo.
162 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUJçAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

Pode-se admitir ser a limitação que a Inteligência Vital tenta impor


uma tentativa de equilíbrio, para não deixar que todas as unidades sejam
afetadas simultaneamente.
Dissemos que o equilíbrio vital do organismo depende de três fatores:

a) de uma planta arquitetônica (código genético);


b) da existência de material plástico-energético (nutrição);
c) de uma inteligência diretora.

Sem o funcionamento harmonioso desses 3 (três) elementos, a vida


dos organismos complexos seria impossível.
Nas áreas afetadas no canccrinismo existe a planta, existe o materi-
al, mas não se faz sentir o controle integrador inteligente entre as partes
afetadas e o todo. Neste caso, como há a planta e o material, ocorre a
reprodução, mas esta processa-se de forma desordenada, efetivando-se
unicamente cm decorrência dos estímulos locais desencadeadores de re-
ações bioquímicas.
Falta o agente, citado no capítulo 2, que faz com que do ovário só
ecloda um óvulo por mês e que determina quais os grupos meristemáticos
a serem ativados num vegetal ante a compulsão reprodutiva. O poder
controlador, que age para que nem todos os meristemas e óvulos eclodam
ao mesmo tempo, deixa de atuar sobre as células que, assim, tornam-se
cancerosas. Sem o controle mantido pela Inteligência Vital, as células
tornam-se praticamente independentes, passando a reproduzir-se unica-
mente de acordo com as leis químicas e não conforme a planificação vital.
Indubitavelmente, é a pressão de rejeição que se faz sentir sobre todas
as células do organismo a causadora do distúrbio cancerígeno.
Claro que nem todas as células do organismo sofrem desagregação
interna, mas as mais susceptíveis são danificadas em seus delicados meca-
nismos de interação com o todo, surgindo nelas, como conseqüência, um
processo cancerínico.
Ante a compulsão de "pôr para fora", as células tentam inicialmente o
mecanismo psórico, ou o sicótico, ou o sifilínico mas, se isso não for bastan-
te, quando a pressão atinge um nível muito elevado, ocorre a destruição dos
seus mecanismos intrínsecos, através dos quais elas se mantinham sob o
controle da Inteligência Vital, surgindo, então, ali um câncer cujo tipo terá
como base um dos três campos miasmáticos hahnemanianos. Sobre um
campo psórico, desenvolver-se-á um câncer de tipo basocelular, por exem-
plo; sobre uma proliferação de um campo sicótico, um câncer proliferativo,
exuberante, tumoral; e sobre um campo sifilínico, um câncer destrutivo. Daí
o grau ascendente de malignidade dessas três variações neoplásicas.
No primeiro caso o prognóstico é bem melhor que no último, no qual
o processo é quase fulminante.
O CANCERJNISMO 0 163

Quando a pressão noxal chega ao nível do limite mais profundo do


sifilinismo e se o organismo não houver sucumbido, inevitavelmente cairá
num quarto estado miasmático, o Cancerínico.

ÁREA MENTAL

No estudo dos miasmas anteriores. aproveitamos para fins didáticos o


esquema do Dr.PUIGGRós, ao qual se pode acrescentar o Cancerinismo que
não foi inicialmente incluído.

NOXA ORGANISMO

Psora
~
Reações Primárias do Ego

~
Reações afetivo/emotivas
Si cose
Reações depressivas

~
Sifilinismo ... Distúrbios de intelecto

Reações agressivo-destrutivas-----.. suicídio

Cancerinismo ... ~
Desagregação da personalidade

Na área mental, o cancerinismo também desenvolve distúrbios pró-


prios, caracterizados pelas manifestações de desagregação das faculdades
psíquicas superiores.
A pressão noxal chega a um ponto de tão elevada intensidade que
ocorre uma dissociação entre as diferentes faculdades psíquicas do indiví-
duo, deixando, conseqüentemente, de haver coordenação entre as diferen-
tes funções da mente.
Na esquizofrenia, doença em que o indivíduo está totalmente afastado
da realidade, existe uma dissociação mental muito acentuada, podendo, por
isto, ser considerada como uma manifestação psíquica do Cancerinismo.
164 • HOMEOPATIA- CONTRIBU!çAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

As atividades psíquicas são integradas através da Inteligência Vital,


mas, em alguns quadros patológicos, há como se uma Inteligência total
dessas atividades, tal qual acontece com as células cancerosas em relação
à estrutura somática. Porém nem todos os casos de esquizofrenia e outras
doenças psíquicas são cancerínicos, pois, como já vimos, algumas vezes
eles são conseqüência de lesões inerentes aos outros estados miasmáticos.
Há, porém, doenças mentais cujos mecanismos são inexplicados e em que
se caracteriza muito bem uma dissociação da personalidade. Esses estados
resultam da independência dos diferentes setores da mente, em que cada
função ocorre como que independentemente das outras, sem qualquer co-
ordenação simultânea.
Tais estados não são catalogados como malignos por não determina-
rem sistematicamente a destruição do indivíduo. Isto, porém, só não corre
porque, muitas vezes, a desagregação não atinge áreas capazes de ocasio-
nar reações autodestrutivas como acontece nos processos cancerínicos so-
máticos que, geralmente, levam à morte, porque a perda do controle teci-
dual, ocasionando reprodução desordenada, é muito acelerada, acabando
por esgotar o indivíduo, intoxicando-o com eliminações catabólicas e es-
pecialmente pela compressão ou ulceração de estruturas vitais.
Na área psíquica, esses estados não comprimem, nem ulceram, nem
promovem eliminações tóxicas ou consumo avultado de índices de energia
capazes de exterminar a vida; por isso ninguém, até hoje, procurou a esqui-
zofrenia na área do cancerinismo. Eles somente são fatais quando a desagre-
gação psíquica afeta uma função capaz de conduzir à autodestruição.
Mesmo que as conseqüências não sejam, às vezes. letais, considera-
mos os estados mentais de desagregação da personalidade (quando não
oriundos de lesões de outros estados miasmáticos) estados cancerínicos,
pois basicamente o mecanismo é o mesmo, quer ele se apresente na estru-
tura somática ou na esfera psíquica: desagregação da harmonia entre as
partes c o todo. No soma, a unidade orgânica é rompida e, na mente, a
unidade psíquica é igualmente desarticulada, tudo provindo da mesma
causa: a perda do controle da Inteligência Vital sobre as células.
Não estamos nos referindo aos processos tumorais do tecido nervoso,
cuja natureza é idêntica à dos cânceres somáticos em geral. Neste caso, o
comprometimento e os subseqüentes distúrbios dependem da área atingida.
Na área mental, estudamos o que o miasma cancerínico é capaz de
determinar, não pelas lesões estruturais macroscópicas, mas pelas destrui-
ções dos mecanismos mais íntimos das células responsáveis pelas ativida-
des superiores da mente.
Como dissemos no capítulo anterior, os distúrbios sifilínicos na área
metal nem sempre se caracterizam por destruição celular, pois basta haver
destruição intrínseca nos delicados dispositivos vitais das unidades celulares.
O mesmo ocorre com o quarto miasma, em que podem surgir manifestações
O CANCERINISMO 0 165

cancerínicas, com lesões das unidades celulares morfologicamente evidenci-


adas (processos neoplásicas do tecido nervoso) cobrindo urna faixa muito
ampla de sintomas ou, simplesmente, desagregação das estruturas íntimas,
fazendo com que as células funcionem de forma aberrante. Esses distúrbios
sutis, iniciais, do cancerinisrno, também ocorrem nas células somáticas. São
distúrbios graves sobre estruturas muito sutis que, nas células dos demais
tecidos, podem não ser facilmente notadas, mas na célula nervosa, complexa
e altamente especializada, qualquer alteração, por mais tênue que seja, é
evidenciada por uma sintomatologia muito rica com distúrbios de função ou
de conduta, caracterizando desagregação da personalidade.
Em certos casos, a pressão exonerativa apenas lesa os mecanismos
responsáveis pelas funções psíquicas, gerando certas psicoses; noutros ca-
sos lesa a própria estrutura tissular, originando os tumores.
É muito difícil descrever o comportamento mental do indivíduo ao
nível cancerínico não-tumoral, porque as reações podem ser as mais para-
doxais possíveis, de acordo com a zona afetada.
Nunca o processo cancerínico abrange todas as células, corno também
não as abrange o sifilínico. Nesses estados rniasmáticos, a função é com-
prometida em blocos. Assim, no cancerinismo, a perda de controle psíqui-
co ocorre por áreas.
No cérebro, as áreas são muitas, com sintomatologia própria para
cada urna, por isto o quadro de certas doenças mentais graves varia tanto.
Daí serem tão pleiomórficos e exuberantes os desvios que surgem. Torna-
se quase impossível descrever tudo o que pode ocorrer num processo dessa
natureza. Podemos apenas dizer que o cancerinismo, na área psíquica,
determina sempre dissociações dos procesos mentais. As atividades psíqui-
cas tornam-se como independentes do todo e a harmonia de funções é
quebrada pela independência de alguns setores.

ÁREA SOMÁTICA

Não descreveremos tudo o que ocorre na área somática do cancerinis-


rno - seria descrever todas as neoplasias - o que foge totalmente do nosso
conhecimento e objetivo.
No cancerinismo, o mecanismo essencial é a perda de coordenação da
Inteligência Vital e das células de determinado tipo de tecido. Em algum
ponto do corpo, células deixam de obedecer ao comando integrativo e a
desarmonia resultante tem como principal conseqüência, a reprodução ci-
tológica incontrolada.
Talvez a Inteligência Vital , nesse nível, ainda mantenha algum con-
trole sobre algumas funções dessas células, mas o que mais se torna evi-
dente é o rompimento dos sistemas controladores da auto-reprodução.
166 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUiçAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

NOXA ORGANISMO

Psora .... +
Hiperatividade emunctorial

+
Excreção vicariante (corrimentos)
Si cose Deposições e concreções
Proligerações teciduais

Sifilinismo Destruição tissular controlada

~
Proliferações tissulares descontroladas
Cancerinismo ..,.
Destruições tissulares descontroladas

Assim, as células passam a reproduzir-se unicamente segundo o padrão


químico-reacional. Poderíamos dizer, sob forma alegórica, que o câncer é
como uma construção em que, em dado momento em determinado setor, o
arquiteto se visse impossibilitado de transmitir as suas ordens e, em conse-
qüência disto, os operários continuassem colocando tijolos, sem jamais mo-
dificarem essa função para levarem a cabo os detalhes e o acabamento.
Indagamos aos partidários do organicismo, particularmente àqueles que
afirmam que o processo vital é unicamente resultante de um interagir bio-
químico segundo o padrão genético: se, numa célula qualquer, existe o
código completo, por que razão as células sem controle não reproduzem
seres completos e sim estruturas celulares idênticas, verdadeiras cópias em
papel carbono? Afirmam que isto se deve à diferenciação já estabelecida,
que só permite a reprodução de células iguais. Essa hipótese não tem consis-
tência alguma, pois no fígado, por exemplo, quando da gênese do indivíduo,
há um certo ponto em que os hepatócitos - células altamente diferenciadas
- param de reproduzir-se, limitando assim o órgão conforme o padrão gené-
tico estabelecido. Por que o mesmo não acontece na reprodução tumoral dos
hepatócitos? Por que não há obediência à planta genética de que constam as
características do órgão plenamente desenvolvido? No tumor, pelo contrário,
O CANCERINJSMO • 167

as características do órgão jamais são atingidas pelo processo reprodutivo,


havendo, portanto. desobediência ao próprio registro gênico. Por que as
células não param de se reproduzir para limitar a víscera, se esse limite já
consta de programação gênica? Continuam a reproduzir-se indefinidamente,
porque isto inegavelmente decorre da falta da consciência diretora - o co-
mando inteligente que rege a atividade auto-reprodutiva celular.
Por outro lado, muitos pesquisadores afirmam que a atividade cance-
rínica é resultante de distúrbios dos sistemas imunológicos. Não duvida-
mos que haja perturbações em tais sistemas, porém não aceitamos que isso
seja a causa básica. Não aceitamos esta hipótese integralmente, porque os
mecanismos imunológicos ainda se fazem sentir eficientemente sobre cé-
lulas cancerosas. Tanto isto é verdade que, se estas forem transplantadas
de um indivíduo para outro apresentando o mesmo tipo de tumor, elas
serão rejeitadas. Se são rejeitadas é porque os mecanismos imunológicos
são capazes de atuar sobre elas. Nos cânceres susceptíveis de ser trans-
plantados, o que realmente ocorre é que certas substâncias existentes no
transplante são noxas específicas para o cancerinismo. O que permite a
transferência da neoplasia é a inoculação concomitante de certos agentes
que vão atuar como noxas específicas, bloqueadores dos sistemas de elimi-
nação orgânica, desenvolvendo o mesmo tipo lesionai no receptor e não a
aceitação, pura e simples, das células transplantadas.
No câncer, em essência, o mecanismo não é imunológico e sim de
sintonização. Os processos imunológicos são efctivados pela via humoral;
no câncer, o distúrbio é mais inerente àquela terceira via mencionada no
capítulo 2. É, pois, o terceiro mecanismo de interação entre a parte e o
todo, o mais afetado pela "pressão de pôr para fora", que altera de tal
maneira os mecanismos intrínsecos das células que estas não mais são
susceptíveis de estabelecer a sintonia vibratória indispensável para o funci-
onamento harmonioso do organismo como um todo.
Se, no câncer, os mecanismos integrativos prejudicados fossem tão-so-
mente os de fundo imunológico, essa condição seria plenamente controlável
porque, como já vimos a atividade imunológica ainda faz-se sentir ao nível
das células tumorais; do contrário, elas não seriam muitas vezes destruídas ou
rejeitadas quando transferidas de um organismo para outro, mesmo se trans-
plantadas para um paciente acometido do mesmo tipo de neoplasia.
Queremos, finalmente, salientar que o Cancerinismo talvez ainda não
haja atingido o clímax de sua patogenicidade. O câncer, tal como é conheci-
do atualmente, ainda é uma fase primária do miasma cancerínico pois,
mesmo havendo perda do controle sobre um grupo de células em um ponto
qualquer do organismo, a Inteligência Vital ainda mantém a harmonia entre
as demais células do corpo. A perda de controle, por mais dramático que
seja esse distúrbio, apenas manifesta-se em número reduzido de pontos nos
168 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMÃTICA

quais aumenta a reprodução desordenada, daí toda a sua problemática; mas,


inicialmente, a perda de controle é muito restrita, permanecendo a quase
totalidade das demais unidades biológicas completamente integradas.
Para explicar o desenvolvimento de uma lesão maligna, seria bastante
que a Inteligência vital perdesse o controle sobre uma única célula, a partir
da qual ocorreria a proliferação independente.

CAUSAS DO CANCERINISMO

Essencialmente a causa do Cancerinismo e dos demais estados mias-


máticos, é a incapacidade do organismo de estabelecer o equilíbrio vital ao
nível dos processos inerentes aos estados miasmáticos mais simples.
Assim, o Cancerinismo estabelece-se porque o organismo não é capaz
de se manter em equilíbrio através da psora, sicose ou sifilinismo.
A medicina oficial está procurando determinar o agente causador do
câncer, mas em vão, porque não existe um agente específico para ele. Não
se trata de uma doença e sim de um estado miasmático, daí a impossibili-
dade de haver uma causa única. Procurar o agente do câncer é o mesmo
que procurar o da psora, da sicose, ou do sifilinismo.
Como vimos, tudo é passível de tornar o indivíduo psórico, sicótico
ou sifilínico, dependendo da intensidade noxal do agente, ou da incapaci-
dade do organismo de pôr cm atividade os meios capazes de liberá-lo das
noxas em níveis inferiores. Claro que tudo pode levar o indivíduo ao
Cancerinismo, desde que se desenvolva nele uma pressão noxal sufucien-
temente alta. Agentes de natureza psíquica, ou mineral, animal, virai,
vegetal etc. são passíveis de dar origem a esse quadro miasmático.
O câncer (doença) está para o cancerinismo assim como a sífilis
(doença) está para o sifilinismo.
Sempre que um agente for suficientemente intenso, ou o organismo
estiver com certas funções bloqueadas, inevitavelmente ou o indivíduo
sucumbirá, ou atingirá o nível do cancerinismo.
Não afastamos a idéia que certos agentes são específicos do Canceri-
nismo, assim como muitos o são da Psora, da Sicose e do Sifilinismo;
contudo, não somente as noxas específicas, mas todo estímulo, qualquer
que seja, pode levar o indivíduo a uma fase cancerínica.
A grande dificuldade que a ciência tem encontrado na determinação do
agente etiológico das neoplasias malignas deve-se ao fato de ela pretenda
determinar um ou alguns agentes específicos, quando, no máximo, seria
apenas possível determinar noxas específicas. Mas, mesmo assim, muitos
casos ficariam inexplicados, exatamente porque qualquer agente é capaz de
cancerinizar, desde que o organismo por algum motivo não consiga dele se
libertar.
O CANCERINISMO t 169

Indaga-se o porquê do tremendo incremento do cancerinismo na épo-


ca atual.
Poderíamos dizer que, basicamente, esse aumento resulta de vários
fatores, destacando-se, entre estes, os seguintes:

a) Melhores meios de diagnóstico. Realmente, aperfeiçoando-se os


meios de diagnóstico, a casuística aumenta substancialmente; po-
rém, de todos os fatores este é o menos importante, porque, inde-
pendentemente de diagnóstico, o número de neoplasias malignas
vem crescendo assustadoramente.
b) O tratamento e a "cura" dos estados patológicos que dizimavam
os seres humanos no passado e que hoje estão contidos. Assim, as
pessoas, que outrora teriam morrido, por exemplo, de pneumonia,
febre tifóide, varíola e outras tantas doenças, hoje conseguem
facilmente sobreviver. Dessa forma, o indivíduo que, atualmente,
aos 60 anos chega a uma condição orgânica susceptível de ter
câncer, se houvesse vivido decênios atrás, não apresentaria essa
condição, haja em vista a eventualidade de haver morrido, muito
antes dessa idade, de outra moléstia então incurável.
c) A pressão violenta com que se defronta homem moderno. Hoje, as
pressões psicológicas, os estresses, muito bem estudados por HANS
SELLYE, vêm se avolumando tremendamente. O mundo acelerou o rit-
mo de vida dos seres humanos para um nível que talvez não estejam
preparados a sup011ar. Na área psíquica, as pressões e contenções têm
atingido um nível tão alto que os mecanismos mentais, inerentes aos
miasmas inferiores, não podem exonerar a pressão resultante.
d) A desnaturalização do meio ambiente. Hoje os seres vivem mer-
gulhados num oceano de agentes estranhos e indesejáveis à vida,
introduzidos no organismo por todos os meios possíveis. Contra
isso insurge-se a Inteligência Vital, operando através dos sistemas
defensivos na tentativa de atingir uma forma de liberação orgâni-
ca. Além disso, muitos agentes podem sofrer alterações e combi-
nações no interior do corpo, originando produtos inelimináveis na
área dos três miasmas hahnemanianos e, como conseqüência. o
organismo sucumbe ou enreda-se nas malhas do cancerinismo.
e) O tratamento supressor dos estados mórbidos. Praticado por alguns
tipos de medicina, particularmente pela alopática, sem dúvida al-
guma, é a principal causa do Cancerinismo. Normalmente a alapa-
tia não cura, apenas intervém bloqueando a manifestação mórbida,
fazendo desaparecer sintomas que, erroneamente, admite-se serem
doenças. Através de drogas alopáticas e operações cirúrgicas, so-
mente fecham-se pontos ativos resultantes da compulsão de rejei-
ção, sem interferir, de forma alguma, na causa essencial da doença.
170 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMÁTICA

Os métodos alopáticos tornam os locus minus resistentiae em


locus maus resistentiae. Evidentemente, este processo não dimi-
nui em nada a causa real das doenças, pois o agente nocivo
continua a atuar e contra ele se insurgem os mecanismos de
defesa comandados pela Inteligência Vital. A pressão de rejeição
continua existindo e. fechando-se os pontos de vazão, apenas
amplia-se o nível da pressão de rejeição.

Hoje fecham-se os drenos psóricos, fecham-se os sicóticos e, por tim, os


sifilínicos. Então, irrelutavelmente, o organismo atinge o nível cancerínico.
Pode-se demonstrar facilmente que a terapêutica constitui a maior
causa do cancerinismo, superando, em muito, todas as outras causas. Po-
demos provar isto mediante a análise comparativa entre os seres humanos
c os animais, pois, excetuando-se as noxas psicológicas e as medicamento-
sas, tanto o ser humano como os animais vivem submetidos às mesmas
noxas ambientais. As que incidem sobre aquele, incidem sobre estes tam-
bém; contudo, o canccrinismo é incomparavelmente mais freqüente no ser
humano do que nos animais, porque, entre outros valores, estes não recor-
rem a medicamentos alopáticos e não estão submetidos a tantos estresscs.
As pressões medicamentosas praticamente só se fazem sentir sobre o
ser humano. Os animais, quando acometidos de doenças, não contam com
o inconveniente dos remédios alopáticos que, em essência, apenas supri-
mem a manifestação mórbida. Neles, as vias de drenagem continuam aber-
tas, enquanto no ser humano elas são fechadas ante a mínima manifesta-
ção exonerativa. São supridas a Psora e seus níveis subseqüentes, a Sicose
e o Sifilinismo, restando apenas o Cancerinismo, pois a alopatia ainda não
conta com agente eficiente algum, para inibir as manifestações desse esta-
do à guisa de cura.
Nos animais, a Psora, bem como os demais miasmas hahnemanianos,
não são contidos e. não sendo feitas sobre eles supressões, raramente
chegam a cair no nível do Cancerinismo.
É bem possível que, no futuro, a medicina alopática consiga suprimir
também todas as ncoplasias malignas. Nesse caso, como a pressão interna
não será, por cet1o, contida, continuará aumentando c inevitavelmente uma
outra condição miasmática surgirá. Qual será ela? Acreditamos que a hu-
manidade vive atualmente a fase primária do Cancerinismo e que surgirá,
como nos dois miasmas anteriores, uma fase secundária. É fácil prever
isso, analisando-se o que ocorre no organismo na fase conhecida (primá-
ria) do Cancerinismo.
A Inteligência Vital perde o controle sobre grupos definidos de célu-
las, mas continua a mantê-lo sobre a quase totalidade das demais. Para
caracterizar um novo miasma, deveria existir um tipo de mecanismo pró-
prio e diferente dos demais. De que mecanismo o organismo poderia
O CANCERINISMO 0 171

lançar mão, nesse caso, para tentar a não-destruição? Acreditamos não


mais existir algo além do limite do cancerinismo, pois, o que de mais
grave pode haver além da desagregação das unidades vitais? Se o organis-
mo é um todo, uma vez desagregada essa unidade, tudo o que vier a
ocorrer depois não será mais sobre o ser individual.
Apenas podemos prever, segundo o mesmo mecanismo do quarto
miasma, a ocorrência de uma fase ainda mais grave de Cancerinismo. Uma
fase mais acentuada do mesmo processo, caracterizada por desagregações
não-limitadas a determinado tipo de células e sim atingindo simultanea-
mente a sua totalidade. A compulsão será tão intensa que haverá rompi-
mento dos dispositivos integradores não apenas das células mais responsi-
vas, mas de todas as que, desse modo, fugirão cm sua totalidade ao contro-
le da Inteligência Vital.
A primeira fase do Cancerinismo é ainda limitada, localizada; a segun-
da será sistêmica, disseminada, abrangendo todas as unidades biológicas.
O resultado disso a humanidade ainda não presenciou em grande escala,
mas com toda certeza será a etapa seguinte da ascensão miasmática que sucede-
rá à fase primária atual. Controlando-se a fase primária do cancerinismo por
meio de métodos supressivos, não haverá diminuição da compulsão exonerativa
que inelutavelmente se tomará tão elevada que será capaz, não apenas de dani-
ficar as células mais responsivas, como acontece no cancerinismo primário, mas
todas as unidades ao mesmo tempo cancerosas. É provável que nem seria
susceptível de tratamento em decorrência de uma evolução muito rápida, surgin-
do um estado de cancerinismo fulminante c, ao mesmo tempo, horrível. Basta
que se pense numa situação em que todas as células do organismo se tornem
ao mesmo tempo cancerosas. É provável que nem sequer haja tempo para
manifestações de lesões somáticas, pois antes disso a falta de coordenação
funcional é capaz de ocasionar a morte do indivíduo em pouco tempo.
Dissemos que a humanidade ainda não presenciou a fase secundária
do cancerinismo em escala acentuada, muito embora tenhamos razão para
admitir que parte dos habitantes de Hiroshima e Nagasaki a viveram.
Milhares de indivíduos expostos a radiações nucleares foram acometidos
de lesões primárias de cancerinismo, outros sucumbiram por queimaduras
e traumatismos diversos, mas houve uma parte que teve o secundarismo
cancerínico, cujos sintomas apresentados podem ser compreendidos como
um cancerinismo sistêmico. Naqueles doentes, houve uma desarmonização
simultânea de todas as funções, sobrevindo a morte em pouco tempo.
Podemos sentir que o câncer não é um estado trimiasmático. A doen-
ça não é provocada pela ação dos três miasmas. Aliás, como referimos
antes, o miasma não pode ser considerado um agente e sim um estado de
resposta orgânica.
O cancerinismo não é trimiasmático, porque ele pode decorrer de uma
pressão noxal resultante de um bloqueio dos mecanismos psóricos, sicóticos
172 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

e sifilínicos, que obrigue, por falta de eliminação e dissipação, a amplia-


ção da compulsão interna capaz de romper o equilíbrio entre a parte e o
todo. Nessa situação, se o indivíduo não sucumbir, o organismo se tornará
inevitavelmente canceroso.
Nesse caso, o cancerinismo só ocorre ante o silêncio dos três miasmas,
pois, se estes estiverem ativos será possível a eliminação dos efeitos noxais,
não surgindo, portanto, o processo maligno, a não ser quando a noxa for
inespecífica para os 3 níveis miasmáticos ou excessivamente intensa.
O panorama geral dos miasmas apresenta-se como uma seqüência de
estados de agravação da doença essencial, cuja etapa final é o Cancerinismo.
É verdade que, na maioria das vezes, os três miasmas estão ativos,
pois hoje quase todos os indivíduos são trimiasmáticos.
Mesmo que uma noxa seja específica, isto é capaz de levar o organis-
mo a um estado de desagregação, portanto cancerínico, não se pode dizer
que a doença provocada. o câncer, seja resultante de atividade trimiasmá-
tica. Somente quando a causa é uma noxa inespecífica e que os três
miasmas estão ativos mas insuficientes para ocasionar a liberação do orga-
nismo. pode-se dizer que a causa é trimiasmática mas, mesmo assim, não
seriam eles uma causa ativa e sim passiva. Não por provocarem diretamen-
te o estado cancerínico, mas por não serem capazes de evitá-lo.

TRATAMENTO DO CANCER/NISMO

Se o cancerinismo é o quarto nível de desequilíbrio mórbido dos seres


vivos, se ele é a conseqüência da impossibilidade de o organismo equilibrar o
sistema ao nível dos miasmas inferiores, é óbvio que tudo o que tornar mais
eficiente a drenagem miasmática hahnemaniana será benéfico para o indiví-
duo em fase cancerínica. Por essa razão, os casos que foram curados pela
Homeopatia o foram com medicamentos específicos para outros estados mias-
máticos. Talvez muitos medicamentos do arsenal homeopático sejam também
específicos para o miasma cancerínico. mas isso ainda não foi comprovado.
Digamos apenas que, por exemplo, já houve casos de cura do cancerinismo
com remédios monomiasmáticos, como o Calcium carbonicus, Sulfur etc.
Se uma parte da terapêutica alopática é uma das principais causas de
supressões, ampliando a pressão exonerativa, a não utilização desse tipo de
tratamento não deixa de ser uma forma de beneficiar o paciente.
Se fechar os "drenos" ao nível de cada miasma é uma das causas de o
indivíduo mergulhar no cancerinismo, lógico que todo método que manti-
ver a drenagem do organismo ao nível dos miasmas inferiores será uma
forma de mantê-lo fora do quarto estado miasmático.
Todos os mecanismos miasmáticos a medicina alopática tenta supri-
mir. Por ignorar a teoria dos miasmas, contribui para aumentar o número
O CANCERINISMO ' 173

de cancerosos de uma fonna muito acentuada, enquanto a Homeopatia,


mãe da doutrina dos miasmas, não tenta jamais tamponar vias de drena-
gem e sim procura ativar a função orgânica por outros métodos que estu-
daremos no último capítulo. Procura aliviar a pressão exonerativa, diminu-
indo a oferta ou contornando as causas do seu incremento.
Para o tratamento do Cancerinismo, temos que evitar as noxas especí-
ficas, as excessivas e os bloqueios de eliminações orgânicas ao nível dos
outros estados miasmáticos mais simples.
A Homeopatia pode, em certos casos, chegar à cura do cancerinismo,
porém isso é muito difícil, pela gravidade das lesões, que já danificam, de
modo definitivo. certos dispositivos intrínsecos das células, tornando-as
independentes c não mais passíveis de ressintonização.
Fazendo com que o organismo caia num nível mismático inferior, é
possível, em certos casos, curá-lo. Portanto, é aliviando o quadro miasmá-
tico geral que se melhora o cancerinismo.
É, pois, difícil curar, mesmo com a Homeopatia, o estado canceríni-
co, por serem essas lesões intrínsecas irrevesívcis. Se ela é quase incapaz
de curar o câncer, por outro lado é muito difícil que o indivíduo tratado
pela Homeopatia torne-se canceroso, porque o tratamento homeopático
age em tempo, evitando que a pressão exonerativa se torne excessiva,
fazendo com que o sistema emunctorial ou mesmo os sistemas vicariantes
se encarreguem de aliviar o excesso de pressão, até que a cura sistêmica se
faça sentir c jamais suprimindo as manifestações sintomáticas, que nor-
malmente são exterimizações do processo mórbido e não propriamente o
estado de doença. A Homeopatia cura a causa e não o efeito. Tratar este
equivale a suprimir, mesmo que esse tipo de terapêutica seja feito com
drogas do arsenal homeopático.
Mas, às vezes, mesmo com a Homeopatia, é impossível evitar a pro-
gressão para o miasma cancerínico, pois a causa pode residir numa noxa
específica para esse miasma, ou numa oferta noxal tão intensa que, mesmo
pondo todo o sistema orgânico em condição ideal de eliminação, isso
ainda não seja suficiente para manter o organismo dentro dos limites dos
três miasmas hahnemanianos. Também, nesse último quadro miasmático,
vamos mais uma vez recorrer ao exemplo analógico da caldeira.
Quando a pressão ultrapassa o nível referido no sifilinismo, o sistema
chega ao ponto em que os dispositivos de controle não mais conseguem
conter os vazamentos. Ocorrem, então, rompimentos e como não mais
existem dispositivos controladores, por certo o sistema entra em colapso,
pois vazará tanto vapor nesses pontos que nada mais poderá funcionar.
CAPÍTULO

AssociAÇõEs
MIASMÁTICAS
N a prática, os quadros mi asmáticos nunca são encontrados no
estado puro, isolados, por isto as descrições feitas até agora servem para
identificar precisamente cada miasma e, particularmente, o miasma predo-
minante em cada quadro patológico, o que é muito importante para o
estabelecimento de um tratamento adequado.
No estudo que fizemos até aqui, expusemos os quadros miasmáticos
numa seqüência que, na prática, nunca é obedecida, pois a responsividade do
organismo nunca é uniforme ante uma noxa qualquer. Existem causas, que
estudaremos em O Tuberculinismo, neste capítulo, que podem determinar o
silêncio de um ou vários aparelhos que integram um sistema miasmático.
Já vimos que a progressão miasmática no organismo deve-se a uma,
ou mais, das três condições seguintes:

- Intensidade da noxa.
- Especificidade da noxa.
- Bloqueios dos dispositivos de eliminação.

INTENSIDADE DA NOXA

Hoje vivemos numa época cm que. na área psíquica, as pressões e


contenções são de uma intcnsividade nunca vista no passado. A vida mo-
derna oferece a sua gama muito grande e intensa de noxas estressantes, das
quais necessariamente o indivíduo tem que se libertar.
Na área somática, além da influência das noxas psíquicas que ali
atuam, também temos ainda que considerar o ambiente desnaturalizado,
178 1 HOMEOPATIA- CONTRIBU/ÇÁO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

com poluentes de toda natureza. Dia e noite penetra na economia orgânica


do indivíduo, pela respiração ou pelo contato direto, um volume enorme
de agentes indesejáveis de bebidas, alimentos e medicamentos. Quantas
vezes a introdução de poluentes é maior hoje que hü um século? Não
sabemos, mas podemos afirmar que já atinge um nível insuportável para os
organismos vivos. Na espécie humana, a situação torna-se ainda mais
séria, porque os poluentes determinam quadros sintomáticos contra os
quais o homem, à guisa de tratamento, insere medicamentos que nada
mais são que inoculações de novos agentes nocivos, que apenas disfarçam
os sintomas apresentados e ampliam o volume de agentes indesejüveis.
Mesmo que o organismo tenha especificidade para se libertar de uma
infinidade de noxas, elas hoje se apresentam tão intensas que os dispositi-
vos de liberação não são mais susceptíveis de cumprir a sua tinalidade.
A intensidade das noxas é tamanha que o sistema cmunctorial sobre-
carregado, torna-se insuficiente. Nesse caso, a pressão exonerativa, embora
drenada no seu primeiro nível, ainda transborda para o segundo estágio e
mesmo para o terceiro, podendo, tragicamente, chegar ao quarto. Mesmo
noxas específicas, agentes susceptíveis de eliminação pelos sistemas de
defesa de um estado miasmático, podem ultrapassar, em quantidade e em
intensidade, o limiar de eliminação do miasma c, como conseqüência,
surge uma saturação que vai condicionar atividades de mecanismos ineren-
tes a outro quadro miasmütico.

ESPECIFICIDADE DA NOXA

Todos os seres foram c1iados providos de uma série de mecanismos


destinados a mantê-los cm equilíbrio com o meio ambiente. Cada um já traz
programado em seu patrimônio gênico os meios de responder à quase tota-
lidade dos agentes nocivos que possam atingir em seu meio ambiente natu-
ral. Assim, a Criação dotou o ser humano de todas as armas defensivas
naturais para defender-se praticamente de tudo o que possa atingi-lo, mas
ele próprio ampliou consideravelmente a gama de estímulos, contra os quais
não dispõe de meios de defesa, por não haver sido isto programdo genotipi-
camente. Assim sendo, o organismo não é atualmente capaz de responder a
uma série enorme de estímulos que o atingem a todo momento.
Ele foi inicialmente programado para que, de modo geral, tudo o que a
natureza autêntica lhe oferecesse em condições genuínas fosse assimilado,
ou eliminado sem dificuldades, graças aos meios naturais de eliminação.
Mas, hoje, ante a infinidade de agentes moditicadorcs da natureza, o orga-
nismo está desprotegido, por não contar com emunctórios ou outros meios
de exoneração. Assim, muitos fatores ambientais são noxas inespecíficas
para certos miasmas, para os quais o organismo não dispõe de meios de se
ASSOCIAÇÕES MIASMAnCAS 1 179

libertar, surgindo uma situação de sobrecarga que vai forçando cada um dos
mecanismos miasmáticos, visando ao estabelecimento do equilíbrio perdido,
envolvendo, assim, simultaneamente, mais de um miasma.

BLOQUEIOS DOS DISPOS/TIVOS DE ELIMINAÇÃO

Finalmente, temos o caso em que, mesmo ante um estímulo específi-


co e com dispositivos de eliminação aptos a funcionar algo entrava a
atividade, havendo, por assim dizer, um bloqueio funcional cujas razões
exporemos no capítulo I I.
Uma noxa pode ser inespecífica para um sistema miasmático comple-
to, ou simplesmente para alguns dos seus dispositivos. Inespecífica para
parte de um e específica para parte de outro. Suponhamos um agente
químico qualquer. Parte pode ser excretada pelo suor (específico para um
dos dispositivos psóricos) c parte por um corrimento vaginal (dispositivo
sicótico). Pode, por exemplo, haver inibição da via urinária e não da
cutânea e assim por diante.
Não somente a especificidade da noxa pode interessar a mais de um
miasma, como também os bloqueios podem atingir os mecanismos mias-
máticos de forma parcial. Em decorrência disso, a eliminação das noxas
pode cfetivar-se, parte em um nível miasmático e parte em outro. Por
exemplo, parte no nível da psora e parte no nível de outro miasma qual-
quer. Por todas essas razões, mais de um sistema miasmático está sempre
ativo, mas normalmente, um deles predomina.
Por isso é que se afirma que, hoje, todas as pessoas são trimiasmáti-
cas. Não mais se encontra um indivíduo com emunctórios funcionando de
modo suficiente para mantê-lo em equilíbrio, pois é praxe estarem em
atividade parte do sistema psórico, parte do sicótico e parte do sifilínico.
Sem dúvida alguma, o sistema mais responsivo, mais amplo e mais
natural é o psórico. Seria muito raro e mesmo impossível que o indivíduo
não tivesse emunctório algum, trabalhando em regime de sobrecarga. Isto
só aconteceria num mundo ideal. onde não houvesse noxas, como vimos
no capítulo 6 e, nesse caso, não haveria doenças.
A psora é a primeira resposta do indivíduo à sobrecarga orgânica
mediante a hiperatividade de meios praticamente funcionais; por isto
pode-se dizer que não há uma só pessoa no mundo atual em quem não
esteja estabelecido um quadro psórico. HAHNEMANN já dizia ser a Psora o
miasma mais difundido, pois na verdade ele é o único miasma que pode
ser considerado genérico.
Os sistemas de defesa constantes dos diversos níveis miasmáticos, não
somente podem estar bloqueados, como também danificados por lesões
determinadas pelas próprias noxas ou por seqüelas hereditárias.
180 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMÁTICA

Pode haver, por exemplo, lesões do sistema excretor cutâneo, tanto de


natureza lesionai adquirida, como tóxica ou hereditária. Pode, assim, haver
um condicionamento genético para um defeito funcional de algum emunc-
tório ou tecido envolvido em qualquer um dos quadros miasmáticos. Isto
não deixa de ser um reforço à idéia de que miasma é uma questão de
terreno, mas como já é possível se sentir, o fator lesionai hereditário é
apenas um dos aspectos do problema.
É do silêncio ou da hiperatividade dos tecidos, glândulas e órgãos, em
razão de lesões adquiridas, por hereditariedade, saturação ou bloqueio, que
resulta o quadro miasmático do indivíduo.
As possibilidades de combinações de atividades e de inatividades são
inúmeras. Praticamente são possíveis todas as combinações de hipo e
hiperatividade dos mecanismos de eliminação; por isso os quadros mias-
máticos variam tanto de uma pessoa para outra, conforme o que é ou o que
não é capaz de funcionar para a liberação da pressão noxal.
As associações podem ocorrer entre mecanismos de um mesmo qua-
dro miasmático ou de quadros diferentes e, de acordo com as combinações
em jogo, resultam os sistemas que personalizam o remédio.
Um indivíduo psórico pode responder com alguns mecanismos
emunctorias que vão caracterizar Suifur; um segundo, com outros para
Calcium carb. um terceiro, com outros para Graphites; e assim sucessiva-
mente, Petroleum, Zincum, Antimonium crud., Conium mac. etc.
Um quadro bimiasmático define-se porque algumas alterações ocor-
rem em um sistema miasmático e outras em sistema diferente; o panorama
sintomatológico resultante condiciona o remédio individual.
Podem também ocorrer associações que apresentam sintomas comuns,
formando um quadro bastante amplo, comum a um grupo importante de
indivíduos, sendo que, por sua vez, cada um desses elementos apresenta
sintomas próprios indicativos do seu medicamento pessoal. Com efeito, um
grande número de pessoas pode nascer com uma constituição algo seme-
lhante, fazendo com que ante as noxas elas reajam, até certo ponto, de forma
idêntica. Se isso ocorresse num mesmo quadro miasmático, poder-se-ia de-
finir esses grupos assim formados como submiasmas, mas isto não é viável,
porque neles há sempre diferentes miasmas em atividade.
Mas essas associações nunca podem ser consideradas miasmas inde-
pendentes por carecerem de mecanismos reacionais próprios e indepen-
dentes dos demais.
À primeira vista, poder-se-ia considerar essas associações como consti-
tuindo-se em quadros miasmáticos independentes. Porém, como já vimos,
cada quadro miasmático define-se por um modo particular de reação do
organismo que visa a se libertar da pressão de rejeição contra os agentes
noxais; nessas associações não existem mecanismos próprios, pois todas as
reações que ocorrem são de tipo ligado a um dos miasmas hahnemanianos.
ASSOCIAÇÕES MIASMATICAS 1 181

Temos que a psora apresenta reações caracterizadas na área dos


emunctórios; a sicose, uma perversão funcional dos tecidos; o sifilinismo,
uma destruição tecidual; o cancerinismo, uma desagregação funcional.
Em qualquer outro quadro pode-se constatar que não há ocorrência de
nenhum outro tipo de reação e sim combinação entre essa~ mesmas formas
reativas.

O TUBERCUL/N/SMO

Entre todas as associações miasmáticas a mais importante, sem dúvi-


da alguma, é o Tuberculinismo.
Foi a escola francesa que deu ênfase à hipótese do homeopata suíço
NEBEL, que o tuberculinismo seria um estado miasmático definido. Esse
homeopata, após trabalhar com os nosódios obtidos de processos tubercu-
losos, ventilou a idéia da existência de mais um miasma. Por sua vez,
L.VANNIER, que tão bem interpretara o cancerinismo como um quadro mias-
mático independente, foi infeliz, desta vez, quando endossou a hipótese de
NEBEL. O mestre s.HAHNEMANN já havia evidenciado o quadro tuberculínico,
considerando-o, porém, como manifestação especial da própria Psora.
Embora seja atribuída a NEBEL a identificação do tuberculinismo como
um miasma independente, antes dele ALLEN aventou a mesma hipótese,
dando ao quadro miasmático o nome diferente de Pseudopsora.
Não é possível considerar o tuberculinismo como nível miasmáico
independente. Se assim fosse, seria preciso que existisse uma forma reaci-
onal característica, uma forma reacional específica do organismo, em aten-
dimento à compulsão de eliminação. No quadro tuberculínico isso não
acontece de forma alguma, pois todos os mecanismos envolvidos não
diferem dos inerentes aos três miasmas hahnemanianos, particularmente os
da Psora e do Sifilinismo.
Como se pode ver, qualquer sintoma do tuberculinismo é sempre
resultante da manifestação de um dos três mecanismos: distúrbios
emunctoriais ou manifestaçoes alérgicas (= Psora); perversão funcional
de tecidos secretantes x proliferação controlada (= Sicose); destruição
tecidual ulcerativa (= Sifilinismo). Portanto, em tudo o que é dado
observar num quadro tuberculínico, onde quer que ele se instale, estarão
envolvidos exclusivamente um ou mais dos mecanismos atinentes aos
miasmas hahnemanianos.
Não nos aprofundaremos no estudo do quadro tuberculínico, porque
isso foge à finalidade deste trabalho. Relacionaremos apenas as suas prin-
cipais características ao nível de algumas partes do organismo, para de-
monstrar que, em qualquer um desses pontos, sempre está presente um dos
mecanismos próprios dos miasmas básicos.
182 t HOMEOPATIA- CONTRIBU/ÇÁO AO ESTUDO DA TEORIA M/ASMATICA

É no Aparelho Respiratório que mais se evidenciam as manifestações


tuberculínicas. precisamente porque em certos indivíduos existe um qua-
dro constitucional que afeta os órgãos da respiração, por vias bioquímicas
ou mecânicas.
Por condicionamento hereditário, muitos indivíduos apresentam uma
conformação anatômica especial do tórax: ombros encurvados, configura-
ção Jongilínea, espaço subclavicular afundado, tórax comprimido e outras
características.
Nesses indivíduos, a conformação torácica limita a expansão pulmo-
nar; além disso. não há, praticamente. respiração diafragmática. Assim, os
pulmões dilatam-se de forma irregular e incompleta, dificultando a respi-
ração, tornando a oxigenação sangüínea imperfeita, o que aos poucos
compromete a totalidade das funções orgânicas.
A expansão torácica limitada, dificulta o processo de eliminação do
muco secretado na árvore brônquica e das partículas poluentes veiculadas
pelo ar inspirado. Daí a estase bronquial, causa da tosse intensa. Esse acú-
mulo de secreção favorece decisivamente os processos infecciosos em geral.
O muco abundante constitui uma característica do tuberculinismo.
A tosse, no tuberculinismo, comparada com a dos quadros miasmáti-
cos puros, é muito mais produtiva e mais intensa na parte da manhã,
quando são expectoradas as secreções acumuladas durante a noite.
Tosse produtiva acentuada e prolongada com eliminação de catarro
purulento ou mucopurulento, cuja coloração pode chegar a ser amarelo-
esverdeada, são características dessa associação miasmática.
Às vezes, a tosse pode ser oca, ressonante c profunda, sem expectora-
ção, em decorrência da conformação especial da árvore brônquica.
Relacionada com essa constituição anatômica especial, o tuberculínico
traz consigo outra condição hereditária: a fácil desmineralização. Isto contri-
bui ainda mais para a instalação de processos inflamatórios em certas muco-
sas, como as do aparelho respiratório, aparelho genital c nas serosas em geral.
Assim, a mucosa respiratória muito sofrida ante as pressões dos três
miasmas, torna-se propensa às irritações (psora) e às destruições celulares
(sifilinismo).
O tecido pulmonar pode facilmente ser lesado por todos esses fatores
coadjuvantes, particularmente pela desmineralização orgânica.
Na árvore respiratória estabelece-se um "habitat" ideal para o bacilo
da tuberculose; contudo, a existência dessa doença depende muito da exis-
tência ou não da constituição desmineralizada. A pressão miasmática, fa-
zendo-se sentir sobre mucosa e serosas modificadas pela desmineralização
e, talvez, por outros fatores congênitos, desenvolve o quadro da tuberculo-
se, em que a existência de bacilo é mais um efeito que uma causa.
Aqui também não se pode negar ser a toxina tuberculose um agente
específico para o agravamento do quadro tuberculínico.
ASSOCIAÇóES MIASMATICAS 1 183

Como se pode ver, o Tuberculinismo é um estado muito mais consti-


tucional que os quadros miasmáticos hahnemanianos. Por isso, é mais
apropriado falar-se cm terreno tuberculínico que em terreno psórico, sicó-
tico, sifilínico e cancerínico.
Outra grande característica do tuberculinismo é a labilidadc térmica,
pois o indivíduo é muito susceptível às hipertermias (Psora).
O sistema linfoganglionar é muito comprometido (sifilinismo); por
isso os pacientes muitas vezes apresentam características escrofulosas.
Já vimos que o indivíduo tuberculínico apresenta uma tendência constitu-
cional à desmineralização, caracterizada por alterações anatómicas e, em par-
ticular, a configuração torácica típica, além de outros comprometimentos.
A desmineralização que interessa particularmente ao íons Ca, P, Mg, Cl e
Na manifesta-se no paciente por ter uma forte tendência ao emagrecimento,
desidratação e descalcificação, disto advindo numerosos quadros patológicos
bem-conhecidos, caracterizados pela tendência à fraqueza c à astenia (Psora).
Outra característica é a extrema variabilidade de sintomas que, como
já vimos, constitui um mecanismo puramente psórico. A diferença é que,
na psora, essa alternância faz-se de um aparelho para outro, pois ela se
manifesta cm todo o organismo onde quer que existam emunctórios; no
Tubcrculinismo, manifesta-se sobre o mesmo tipo de tecido, por ser esse
campo bem mais restrito.
De modo geral, todas as mucosas podem sofrer, talvez pelo mecanis-
mo de desmineralização, mas o processo é sempre idêntico: exacerbação
ou inibição emunctorial (Psora); hipersecrcção mucosa (Sicosc) e ulcera-
ções e cavernas pulmonares (Sifilinismo ).
É da ação combinada dos miasmas que se estabelece o quadro intes-
tinal tuberculínico, com diarréias e vómitos (psora) e, às vezes, lesões
(sifilinismo). Manifestam-se igualmente, os corrimentos tuberculínicos do
aparelho genital, catarros e derrames serosos.
Além do sistema linfático, há também o sistema vascular, que leva às
estases e cianoses. A parede vascular frágil, associada a uma tendência
vasodilatadora, facilita as hemorragias de difícil estancamento (Psora + Sifi-
linismo). As menstruçõcs são copiosas, chegando mesmo a hemorragias. O
mecanismo hemorrágico está entretanto, ligado a essa associação miasmáti-
ca em virtude da intcração da Psora que determina a vasodilatação e do
Sifilinismo, responsável pela má-qualidade das paredes vasculares.
Há uma propensão à proliferação tccidual, determinando a formação
de quelóides (aqui há participação sicótica).

CABEÇA

Surgem cefaléias congestivas, face vermelha com afluxo de calor


(Psora). Couro cabeludo com erupções úmidas (Psora) com odor azedo e
184 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUI(ÃO AO ESTUC DA TEORIA MIASMATICA

formação de crostas (Psora). Pelos secos, torcidos (Psora). Transpiração no


couro cabeludo e tendência a adquirir piolhos (Psora). Olhos com midríase
crônica (Psora).

SISTEMA MUSCULAR

Os músculos perdem sua firmeza em decorrência da desmineraliza-


ção, ocasionando prolapsos viscerais (sifilinismo), particularmente a ptose
do útero, com sensação de "bearing down".

MENTE

Há muita irritabilidade, especialmente nas crianças. Propensão à tris-


teza e medo (psora e sifilinismo ). Compreensão difícil e lenta, embota-
mento. mau humor e insociabilidade (Psora).

O tuberculínico, tal como o psórico, tem desejo de coisas não-digerí-


veis e melhora com a sudorese (Psora).
Como dissemos antes, as grandes variações e combinações resultantes
da atuação dos mecanismos miasmáticos, praticamente caracterizam os
medicamentos individuais. O Tuberculinismo, porém, é um quadro com-
plexo, ao qual ligam-se inúmeros medicamentos, cada qual correspondente
a um tipo de variação sintomatológica; há sintomas que caracterizam os
remédios individuais.
Como vimos, cada sintoma tuberculínico pertence a um dos quadros
miasmáticos hahnemanianos. Por essa razão, não deve a classificação des-
sa associação ser considerada como um quadro independente. Para que
assim fosse, seria necessário que houvesse um mecanismo exonerativo
próprio; mas não há, e como os sintomas pertencem aos miasmas clássi-
cos. ele deve ser considerado como um quadro de associação miasmática,
resultante da atuação dos miasmas sobre um terreno constitucional especi-
al. Segundo o nosso conceito dos miasmas, seria preferível expressar-se de
outro modo: o tuberculinismo decorre da forma como certos indivíduos,
motivados por uma constituição especial, respondem à pressão noxal den-
tro dos miasmas clássicos, quando a pressão de eliminação atinge o nível
da psora e do sililinismo num indivíduo cuja constituição é propensa à
desmineralização, estabelece-se um quadro tuberculínico.
O Tuberculinismo, por certo, é a associação miasmática mais bem
definida e a que envolve o maior número de sintomas próprios. Dizemos
"sintomas próprios" c não "forma reativa própria"; com efeito, para que
pudesse ser considerado um miasma independente, teria que ter um meca-
nismo reativo próprio. Como isto não acontece, temos que admitir que o
Tubcrculinismo é uma associação miasmática; do contrário, teríamos que
ASSOCIAÇÓES MIAS MA TICAS • 185

aceitar também muitos outros quadros patológicos, onde existem associa-


ções miasmáticas com sintomatologia rica e própria como, por exemplo,
na lepra e muitos outros estados mórbidos.
Até o presente, não se havia definido claramente o que caracteriza um
miasma e por isso, não se sabia exatamente o que ele significava fisiológi-
camente. Apenas conheciam-se as suas manifestações sintomáticas, mas
não os mecanismos intrínsecos. Não se conhecendo o mecanismo indivi-
dualizador. era difícil dizer se Tuberculinismo era um miasma ou não, mas
segundo o que foi exposto nesse trabalho, pode-se testificar ser ele pura-
mente uma associação miasmática, isto é. uma associação de formas de
resposta do organismo ante a compulsão de eliminação dos fatores deter-
minados pelas noxas.
Em verdade, apenas os seguidores da escola de VANNIER militavam
para que o tuberculinismo fosse aceito como um miasma à parte, desde
que as demais escolas sempre afirmaram ser ele uma manifestação bimias-
mática, constituído pela psora e pelo sifilinismo.
CAPÍTULO

CLASSIFICAÇÃO
MIASMÁTICA
DE SINTOMAS
Visando o estudo dos sintomas mentais podemos admitir três
áreas distintas:

ÁREA AFETIVO/EMOTIVA

ÁREA VOLITIVA

ÁREA INTELECTIVA

Na esfera mental podemos distinguir três áreas básicas:

I. Área Afetivo/Emotiva
2. Área Volitiva
3. Área Intelcctiva

Psora Área Afetivo/Emotiva


Sycosis Área Volitiva
Syphilinismo Área lntelectiva
190 • HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

PS ORA

ÁREA AFETIVO/EMOTIVA

A noxa determina no indivíduo a angústia existencial.


A problemática existencial atua.
O quadro anômalo apresenta-se ao indivíduo.
O indivíduo sente consciente ou inconscientemente um nível de anor-
malidade.
-> -> -> Ansiedade, Angústia, Medo, Tristeza
-> -> -> Ação dos mecanismos equilibradores
-> -> -> MECANISMOS FISIOLÓGICOS

EXCITAÇÃO PS/QUICA E/OU FISIOLÓGICA

Somáticos - Incremento das funções emunctoriais.


Psíquicos - Defesas Primárias do Ego. (Mecanismos que não agri-
dem, que não causam danos diretos.)
Os sintomas psóricos não refletem auto ou hetrogressividade alguma,
apenas são reflexos de um sofrimento ansioso. Assim vão sugir sintomas
como: choro, orgulho, mesquinhez, vaidade, afabilidade, ambição, usura,
brincalhão, cautela, desejo de companhia, generosidade, inveja, ciúme,
servilismo, solene, sinceridade. suspiros etc.
Na Psora os sintomas psíquicos ocorrem ao nível apenas de sentimen-
tos e de emoções de caráter passivo. "O psórico sofre sozinho."
Os sintomas psóricos, quando refletem intenções de agressividade, de-
vem ser considerados como sicóticos, assim como se estiverem ligados a
distúrbios do intelecto ou de causa lesionai devem ser tidos como sifilínicos.

SYCOSIS
ÁREA VOLITIVA

Diminuição da Vontade - Minusvalia Intencional


Aumento da Vontade - Plurisvalia Intencional
Valores Pessoais - Atos Intencionais
Distúrbios de Conduta

Direcionamento mental para o que lhe interessa.


O que faz é porque quer fazer. Se não evita é porque não quer.
É dono de sua vontade. Estrutura cerebral íntegra.
Psiquicamente sofre pouco mas faz as pessoas sofrerem muito.
Sofre porque é dono de sua vontade. Não age compulsivamente.
CLASSIFICAÇÃO MIASMÃ TICA DE SINTOMAS • 191

SYPHILINISMO

ÁREA INTELEU/VA

1. Sensação - Refere-se às sensações anômalas não-fisiológicas clássicas.


2. Percepção - Alterações das percepções: deforações, aumento ou
diminuição.
3. Memória - Perda ou diminuição da capacidade de memorização.
4. Associação - Alteração das associações mentais entre coisas ou
ocorrências.
5. Atenção - Perda ou diminuição da capacidade de concentração.
Distração.
6. Imaginação - Fantasias. Terrores.
7. Conceitos -Avaliações erradas.
8. Razão - Alteração na avaliação do sentido lógico das coisas.
9. Raciocínio.

Mente Compulsiva - "Lesões" -> Distúrbios ao Nível do Intelecto.


Demência ou capacidade de raciocinar alterada ou diminuída.
Age por compulsão.
Não comanda plenamente a intenção - A intenção pode ser diferente
da ação.
Direcionamento mental aleatório. Faz o que é impulsionado a fazer.
Pode fazer o que essencialmente não quer fazer.
Não é dono da sua vontade.
Estrutura mental danificada.
Faz os outros sofrerem - pode ou não sofrer pelo que faz.

Nossa conceituação de Sintoma Miasmático leva a uma forma de


classificação um tanto diversa daquelas baseadas nas demais teorias e que
agrupam os sintomas como psóricos, sicóticos, sifilínicos. Como a nossa
conceituação de miasma difere basicamente das demais, por não conside-
rar miasma apenas como uma forma reacional, faz com que não classifi-
quemos os sintomas segundo um determinado miasma.
O que caracteriza um sintoma mental como inerente a um determinado
miasma é a dinâmica que comanda a sua manifestação. Significativo não é o
sintoma em si, e sim aquilo que o motiva, aquilo que está por detrás dele.
Basicamente o que deve ser considerado é a intencionalidade determinante.
Para uns, miasma é algo de natureza desconhecida. capaz de enfermar
o organismo e, conseqüentemente, de ter manifestações sintomáticas ine-
rentes. Miasma seria uma espécie de agente. Para alguns pesquisadores
seria algo como um agente, enquanto para outros seria um "terreno" bioló-
gico condicionado por inúmeros fatores noxais, havendo até mesmo os que
192 ° HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATJCA

considerem-no apenas uma fantasia, algo que na realidade inexiste. Para


nós são manifestações sintomatológicas das reações fisiopatológicas clás-
sicas da defesa orgânica diante de uma sobrecarga qualquer.
Tudo aquilo que se diz a respeito da teoria miasmática é apresentado
como algo impossível ou, no mínimo, difícil de ser entendido dentro de um
raciocínio cartesiano. Mesmo os autores menos metafísicas não chegam a
expor uma teoria racional que encontre respaldo na fisiopatologia, porque
consideram o miasma como sendo um "terreno constitucional", mas ao
mesmo tempo afinnando ser uma condição homeopaticamente curável. Ora,
como isso é possível se "terreno" é um caráter de natureza genotípica e,
conseqüentemente, um estado não-passível de cura terapêutica! Como uma
condição genotípica pode ser terapeuticamente curável? (Com o advento da
engenharia genética possivelmente venha a ocorrer em breve apenas no que
diz respeito à descendência). Não apenas existe esta incongruência, mas
muitas hipóteses que tentam explicar aquilo que vem a ser miasma, são
proposições totalmente indefensáveis. Foram tais incongruências absurdas
que nos levaram a procurar explicações que fossem compatíveis como pen-
samento da ciência experimental e que nos levaram a um afastamento da-
quela idéia de que Miasma é uma "coisa", um algo como um agente, um
elemento contagiante diferente de uma bactéria ou vírus, de um posiciona-
mento mental c muito menos ainda de um "pecado", o pecado original, um
castigo divino ou tantas outras crendices sem quaisquer cmbasamentos cien-
tíficos, como é propugnado por muitos homeopatas.
Chegamos à conclusão que todos os sintomas miasmáticos, tanto os
somáticos quanto os psíquicos, nada mais são que respostas típicas dos
processos fisiológicos de cura, dos mecanismos de restruturação da
integridade física e psíquica do organismo.
Apresentamos de forma sucinta o que pensamos dos Miasmas. São
três níveis de uma mesma coisa. Miasma é uma condição orgânica de-
corrente de um estado de eliminação insuficiente e que se manifesta
como sintomas de eliminação, compensação, localização e cicatrização.
Nossa hipótese difere essencialmente das demais, especialmente por
admitir a existência de apenas um miasma, sendo os demais apenas níveis
elevados de P com mecanismos reativos específicos. É uma hipótese bem
demonstrável na prática, corrente com os processos fisiopatológicos. Ad-
mite o entendimento intrínseco do que vem a ser miasma, para entendê-lo
de uma forma diferente quando não se vê nele uma "desgraça", um castigo
ou algo indesejável.
O indesejável é o fator causal, a noxa, mas o nziasma, que significa para
nós resposta defensiva, um séquito de sintomas da própria reação de cura, é
algo basicamente benéfico. É benéfico porque o indivíduo só não morre no
primeiro nível, o da psora, porque o organismo pode reagir num segundo, o
sicótico e num terceiro, o siphilínico. Graças a poder tornar-se sicótico é
CLASSIFICAÇAO MIASMATICA DE SINTOMAS • 193

que o indivíduo não sucumbe como psórico, e graças a poder lançar mão
dos mecanismos syphilínicos é que ele não sucumbe como sicótico. O mias-
ma não é, portanto, um "castigo de Deus" pelas falhas humanas, a "perda do
paraíso", uma ''desgraça" ou algo indesejável. Antes, miasmas podem até
mesmo ser considerados uma bênção da natureza, manifestações positivas
dos mecanismos reativos defensivo da integridade orgânica.
Se miasma é tão somente a exteriorização sintomática de um nível de
reação orgânica, é óbvio que os sintomas reflitam apenas o nível miasmático.
Quando se observa uma classificação de sintomas por níveis miasmá-
ticos pode-se perceber com facilidade a dinâmica que propomos. Vemos a
não-possibilidade de um sintoma isolado pertencer somente a um determi-
nado miasma. Tomemos, por exemplo o sintoma Ansiedade. Basicamente
este é um sintoma mais marcante da psora mas, mesmo assim, nem sempre
ele é psórico, pois um estado de ansiedade pode ser ocasionado por uma
lesão nervosa e neste caso, esse sintoma sem dúvida alguma será sifilínico.
Vejamos o sintoma Afetuoso. Basicamente é um sintoma psórico
quando reflete um estado de atendimento à angústia existencial, mas,
desde que através da expressão do afeto, a pessoa esteja buscando um
atendimento egoístico ele será sicótico e se a intenção for conquistar para
dominar ou destruir, então o sintoma será sifilínico.
Antes de classificar miasmaticamente um sintoma é preciso evidenci-
ar primeiro a motivação a ele inerente. Deve-se ver sempre a intenção que
está por detrás do sintoma pois é isto o que reflete o miasma e não o
sintoma cm si. Desta forma, afirmamos que qualquer sintoma pode ser de
qualquer miasma; o que não pode ser trimiasmático é a intenção. Em
outras palavras, o que é miasmático é a intenção e nunca o sintoma.
Podemos dizer que praticamente todos os sintomas do siphilinismo
constantes na listagem tanto podem ser psóricos ou sicóticos. Vejamos, por
exemplo, o sintoma Embotamento Mental. Um indivíduo poder apresentar-
se com embotamento mental resultante de uma refeição excessiva. Neste
caso há um estado de eliminação insuficiente dos catabólitos, caracterizan-
do um estado psórico. Mas, por outro lado, aquele embotamento pode ser
o resultado de um dano cerebral e então ele será a manifestação de uma
condição sitilínica.

Psora

Ambição Orgulho
Assobia Prudente
Avareza Regateador
Avidez Sonhos: grande importância
nos 3 Miasmas
194 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMÃTICA

Ciúme
Diversão Sorridente
Fofoca Teorizador
Fuxico Tranqüilo
Generoso Usurário
Indolência Vergonhoso
Inveja

Sycosis
Afetuoso Impulsivo
Agressivo Indiscreto
Altivo Industrioso
Ameaçador Insolente
Amoroso Insulta
Assobia Insultante
Atarefado Intrigante
Atira coisas Laborioso
Aversões Lascívia
Beija a todos Lentidão
Birrento Libertinismo
Blasfema Litigioso
Briguento Loquacidade
Caprichos Lutar
Cleptomania Ninfomania
Compassivo Obsceno
Consciência moral Obstinado
Contrário Ocupação melhora
Depreciativo Ofende-se facilmente
Desafiante Orgulho
Desejo de matar Otimista
Desobediência Pressa
Desvios Sexuais Raiva
Ditatorial Rancor
Diversão Regozijo
Engenhoso Ressentimento
Erotismo Satiriasis
Euforia Satisfeito
Excentricidade Selvageria
Fofoqueiro Sensível
Fuxiqueiro Simula doenças
Gastador Sobressaltos
Gestos Travessuras
Golpeia Violento
Impetuoso Vivacidade
CLASSIFICAçAO MIASMATICA DE SINTOMAS • 195

Syphilis
Aborrecimento Idiotice
Absorto em seus pensametos Imbecilidade
Amoral Impudico
Ansiedade pela salvação Inconsciência
Arisco Inconsolável
Às apalpadelas (a Tientas) Inconstância
Aversão à companhia Indiferença em exibir seu corpo
Aversão a ler Indiferença indolência
Beija a todos Insônia
Calado Insensível (moralmente)
Cansaço mental Ir resolução
Caótico Lamentativo
Caretas Lentidão
Clarividência Linguagem (vários tipos)
Comportamento infantil Meditativo
Confusão mental Mentiroso
Consciência moral (distúrbios) Misantropia
Crueldade Pena - mágoa
Desatento Pensando em coisas tristes
Descontente Perseverança
Desespero pela salvação Pícaro
Desgosto Pranto
Desnudo, quer estar Profetiza
Destrutividade Prostração da mente
Distraído Queixas
Distúrbio de percepção de espaço Remoendo passado desagradável
Distúrbio de percepção de tempo Remorso
Ditatorial Responde lentamente
Diversão, aversão Ridículo
Dúvida Silencioso
Egoísmo Sonambulismo
Egolatria Sorri, nunca
Egotismo Suicídio
Embotamento mental Torpor
Estupefação Trabalho mental, aversão
Estupor Tranqüilo
Excentricidade Transe
Fala consigo mesmo Tristezas
Fanatismo Vagabundear
Gemedor Vagar
Hilaridade Valente
Hipócrita Viajar
CAPÍTULO

ANÁLISE MIASMÁTICA
DE MEDICAMENTOS
Pela patogenesia dos medicamentos miasmáticos básicos podemos
ver nitidamente que os sintomas apresentados não correspondem às carac-
terísticas daquele miasma. Por exemplo. os medicamentos considerados
psóricos apresentam patogenesia rica em sintomas sicóticos e siphilínicos.
Vejamos dois medicamentos essencialmente psóricos e que mostram
nitidamente o que estamos afirmando. Sendo medicamentos essencialmen-
te psóricos, eles deveriam apresentar apenas sintomas da psora mas na
realidade apresenta também inúmeros sintomas sicóticos e siphilínicos.
Os medicamentos "psóricos" apresentam grande número de sintomas
dos demais miasmas. Os medicametos sicóticos, por sua vez, apresentam,
além dos sintomas próprios deste miasma. sintomas siphilínicos. Por sua
vez os medicamentos siphilínicos apresentam praticamente sintomas ape-
nas desde miasma. Por que isso? Dizem alguns que é por serem os medi-
camentos todos trimiasmáticos. Na verdade não é isto o que acontece.
Pela Fig. I vemos a razão disso. Quando um paciente toma um medi-
camento psórico o nível da coluna baixa e, conseqüentemente, a sintoma-
tologia do níveis mais elevados (syc. e syp.) desaparecem. Isto acontece,
por exemplo, em psorino. Este medicamento, além dos sintomas próprios
da psora, é deveras rico também em sintomas siphilínicos e sicóticos.
Porém, isso não quer dizer que este seja um medicamento siphilínico,
sicótico ou trimiasmático. Na realidade. ele atua ao nível da psora, libe-
rando os mecanismos defensivos ao nível psórico. Com uma maior eficiên-
cia dos mecanismos psóricos logicamente sintomas inerentes aos níveis
mais elevados podem desaparecer, fazendo crer que a ação foi ao nível da
sye. ou do syph. quando na realidade foi ao nível da própria psora.
200 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

CANCERINISMO

FIGURA 1

Quando o organismo não consegue estabelecer um equilíbrio ao


nível da psora é que surgem os demais estados miasmáticos, logo, se
com algum medicamento há uma melhora funcional ao nível da psora, a
pressão sicótica e syphilínica tende a desaparecer e os sintomas psóricos
e siphilínicos desaparecem concomitantemente, mesmo que o medica-
mento seja psórico.
Admitamos que a Fig. I represente um sistema de vasos comunican-
tes em diferentes níveis. Se o sistema estiver drenando nos níveis superio-
res é evidente que se for ampliada a eficiência de drenagem do vaso
inferior a pressão nos superiores progressivamente diminuirá.
O que afirmamos aplica-se aos níveis miasmáticos. Se um medica-
mento melhora a ação defensiva ao nível da psora, o nível de pressão
miasmática desce, fazendo crer que a ação daquele medicamento foi siphi-
línica ou sicótica.
Vejamos em algumas patogenesias típicas da psora a riqueza de sinto-
mas sicóticos e siphilínicos, assim como em medicamento essecialmente
sicótico muitos sintomas do siphilinismo e a quase ausência de sintomas
psóricos.
ANALISE MIASMATICA DE MEDICAMENTOS 0 201

SINTOMAS DE PSORINUM

GERAIS

11 - Todas as suas excreções (diarréia, fluxo, menstruações, suores, des-


cargas de ouvido, nariz etc.) têm muito mau odor. que lembram podridão,
carniça. Seu corpo tem mau odor, mesmo depois de banhar-se ...
Geralmente são pessoas sujas, sem asseio, ofensivas à vista e ao olfato.
Observação: Estes sintomas indicam destruições tissulares (syph.). Isto
faz crer que psorinum age syphilinicamente quando na realidade ele atua
psoricamente. Ele amplia a eficiência psórica e isso faz com que os sintomas
siphilínicos desapareçam.

12 - Falta total de reação a toda terapêutica, medicamentosa ou


psicológica; falta de excitabilidade. Nos casos crônicos, quando os remé-
dios bem-selecionados falham em curar ou aliviar de forma permanente
(em agudos Sulphur), ou quando Sulphur parece indicado e não atua.
Especialmente depois de uma enfermidade aguda, um grande esgotamento
ou desaparecimento de erupções ou de suores.

PARTICULARES

18 - ... Erupções na cabeça, sobretudo na regwo occipital; costas


úmidas e ulceradas, eczemas; erupções secas ou úmidas, com secreção
amarelada, pegajosa c muito fétida; pruriginosas. O cabelo é seco, sem
brilho e gruda; ou cai em placas ...
20 - Otites com secreção ou otorréia, mais à esquerda, sanguinolen-
ta, amarelenta ou amarronzada, purulenta e horrivelmente fétida, com
odor de carne podre. Otorréia crônica antiga, que dura muitos anos, desde
uma escarlatina ou sarampo ...
Ruídos nos ouvidos, de campainhas, rugidos, rangidos e zumbidos.
Erupções nas orelhas, e sobretudo detrás; costrosas, purulentas, prurigino-
sas, escoriantcs e freqüentementc úmidas, com secreção muito fétida;
eczema retroauricular.
Observação: Sintomas siphilínicos. Psorinum agindo ao nível da pso-
ra diminui os sintomas siphilínicos.
21 - Febre do feno ou coriza espasmódica. CLARK diz: "Psorinum há
curado más casos de febre de feno em mi prática que qualquer outro remédio".
Observação: Sintomas típicos da psora. Aqui a ação do medicamento
faz-se dentro do nível psórico.
Pólipos nasais. Anosmia. Coriza crônica com obstrução nasal por
costras que voltam a se formar depois de serem retiradas e com secre-
ção retronasal que o desperta de noite. Secreção ou descarga nasal san-
guinolenta, purulenta, com olor de podre.
202 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMAT!CA

Observação: Pólipos, manifestação típica do sycose, porém tratável com


Psorinum. um medicamento psórico. A ação é ao nível psórico, mas com
diminuição de nível miasmático. Drenando ao nível da psora, o nível sycótico
desaparece conseqüentemente.
O tipo de secreção é siphilínico, portanto, não deveria ser tratável por
Psorinum, por ser este um medicamento psórico. Na verdade, ele não tem
ação siphilínica diretamente, age na psora fazendo o nível siphilínico descer e
conseqüentemente, haver o desaparecimento das secreções.
22 - Face de aspecto súcio; gordurosa, sobretudo na fronte frente; bri-
lhante; pálida; amarelada; enfermiça. Lábio superior inchado. Lábios secos;
marrons ou negros; ardentes ....
Costras de olor fétido; eczema. Escoriações e ulceração ou vesículas
secretantes nas comissuras labiais. Vesículas amarelas dolorosas ao tato, nas
bordas do lábio inferior; herpes.
Observação: Sintomas típicos da Sycosis e do Siphilinismo.

VERRUGAS PER/BUCAIS

Observação: Talvez sejam as verrugas o sintoma somático mais ca-


racterístico da sycose terciária, mesmo assim. respondem bem a um medi-
camento psórico. Por que, isso? Exatamcnte porque é melhorando a efici-
ência psórica que a pressão sicótica é eliminada.
24 - Língua seca; branca; amarelada; como queimada na ponta. Ulce-
rações ou aftas na língua e gengivas. Mucosidades aderentes no véu do
paladar, que leva a escarrar e expulsar constantemente. Expulsão de pe-
quenas massas caseosas. com mau gosto e odor ofensivo ou mucosidades
retronasais muito espessas de gosto nauseoso de queijo rançoso. Gosto
adocicado e açucarado, com hálito fétido ou de podridão ou amargo ...
Observação: Sintomas evidentemente não-psóricos mas tratáveis com
um medicamento essencialmente psórico. Poder-se-ia pensar ser isto uma
decorrência da natureza trimiasmática dos medicamentos, mas vemos de-
pois, no estudo de THUYA e de MERC., por exemplo, que o aspecto trimias-
mático inexiste.
25 - Grande tendência a anginas a repetição; com hipertrofia de
amígdalas; deglutir difícil e doloroso ...
Intensas dores de garganta, cortantes ou desgar rantcs. estendidas aos
ouvidos ao tragar, com sialorréia fétida.
Garganta seca de manhã; sensação de inchação ou de tampão.
30 - Condilomas no pênis c no prepúcio; úmidos, pruriginosos e
ardentes ...
Úlcera na glande; testículos pesados e inchados ...
Pústula dolorosa no escroto. Hidrocele.
ANALISE M/ASMATICA DE MEDICAMENTOS ' 203

31 - Menstruações irregulares ... com odor de podridão e dolorosas.


Fluxo abundante com coágulos e de odor intolerável repugnante, c pútrido.
Úlcera dos lábios vulvares.
Senhos inchados, dolorosos, com mamilos roxos que ardem e picam.
Câncer de seno.
32 - Rouquidão ... com expectoração espessa, esverdeada ou amarela-
da ou purulenta, ou de muco salgado ...
Abscesso de pulmão. Hidrotórax.
Ulceração retroesternal.
33 - Pontadas ou dores precordiais ... Pericarditis ...
35 - Tremores nas mãos e pés ...
Debilidade das articulações. como se estivessem deslocadas. Sensação
de dmmência no braço esquerdo e formigamento nos dedos, de manhã na
cama: ... Ciática ao caminhar. Paralisias nas pernas.
Observação: Grupo de sintomas não-psóricos mas tratável com medica-
mento psórico.

SINTOMAS DE SULPHUR

MENTAIS

A indiferença por seu aspecto pessoal estende-se a suas roupas, a seu


estado de prolixidade e conservação, que o converte em uma pessoa des-
cuidada, desordenada em todas as suas coisas c até com sua higiene
pessoal, desde que muito poucas vezes toma banhos ou se lava, estando
freqüentcmente sujo. Só cm raras ocasiões está penteado adequadamente
ou com as unhas limpas, chegando a ter mau odor: como tampouco lhe
importa se suas roupas estão rotas ou não ...
Observação: Grupo de sintomas basicamente auto-destrutivos, con-
seqüentemente siphilínicos, mas que respondem a um medicamento típi-
co da psora.
Por último. sua indiferença pelos demais, demonstra uma conduta c
atitude egoísta: "não pensa nos desejos ou anseios de ninguém. além dos
seus próprios; tudo aquilo que faz é para seu próprio benefício (KENT); c
intimamente relacionado com essa atitude, tem uma alta opinião de si
mesmo, e tende a ser altaneiro e arrogante, manifestando-se isto, entre
outras circunstâncias, ante perguntas que recusa contestar ou o faz de
forma impertinente ou cortante.
Observação: Atitude típica da sycosis.
2 - Na esfera intelectual, Sulphur pode estar atordoado, com dificul-
dade para pensar e compreender, especialmente ao anoitecer; por e~forços
204 ' HOMEOPATIA- CONTRIBU!çAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

mentais ou quando lê; só entende as perguntas quando são repetidas e por


isso contesta lentamente ou não contesta. Pode haver um estado de confu-
são mental, sobretudo pela manhã e à noite, por esforços mentais, depois
de comer, em uma habitação quente ou ao despertar.
Observação: Sintomas que podem resultar de um estado de auto-intoxi-
cação. Neste caso, sintomas são essencialmente psóricos ou podem resultar de
destruição de mecanismo mentais, sendo então siphilínicos.
Custa-lhe concentrar-se. Meninos com dificuldade para compreender;
imbecilidade. Sua memória é deficiente, especialmente para o que está para
fazet; para dizer, para nomes próprios, para as pessoas; ou esquece o que
acaba de dizer. ou das palavras que deve utilizar ao falar, falar de aconteci-
mentos recentes. Muito esquecido. Equivoca-se a respeito do tempo, crê que
é mais cedo que na realidade é. Perde o conhecimento cm uma habitação
cheia de gente. Estupcfação, piora ao anoitecer.
4 - Sua fantasia é muito fértil, chegando às vezes ao delírio, crê que
trapos ou roupas velhas, ou esfarrapadas são de seda e muito finos, ou que
são vestes fotmosas; tudo parece-lhe lindo e desperta-lhe uma extraordinária
admiração, até mesmo os objetos mais ordinários ou estragados. Tem alucina-
ções; pensa que é perseguido, vê caras, vê fantasmas tem visões, sobretudo ao
fechar os olhos. Ilusão que teme grandes riquezas.
Loucura: erótica; por erupções suprimidas; em anciões; destrói, suas
roupas. Tem um comportamento desequilibrado, de felicidade e orgulho ton-
to, excessivo. Torce as mãos. Fala incoerentemente ou de forma errática.
Observação: Neste grupo de sintomas percebe-se o caráter essecialmente
siphilínico e não-psórico.
5 - Homossexualidade, tanto masculina como feminina; é um dos mais
importantes medicamentos.
6 - Seu humor pode ser alternante; pode estar alegre, contente, doce,
suave ou tímido ou sentimental. ou pelo contrário, é briguento, caprichoso,
descontente consigo mesmo e com todos, censurando e encontrando faltas no
mundo, com mau humor.
Menino irritável pela manhã ao despertar ou ao anoitecer.
Violento e susceptível, ofende-se facilmente; obstinado. Gritão. Exigente,
meticuloso c pode ser desonesto.
7 - Fala, grita, suspira, pateia e queixa-se, grunhe dormindo ...
I I - Sempre apurado, nos movimentos, caminhando; corre de um lado a
outro. Impetuoso. Impaciente; por insignificâncias ... ou pode ser lento, indeci-
so; com tendência a estar sentado.
Observação: Grupo de sintomas sicóticos e siphilínicos.
I O - Dipsomania, alcoolismo crônico, mesmo quando se corrige volta a
recair; esconde-se para beber. Delirium tremens.
Observação: Sintomas de caráter puramente siphilínico.
ANALISE MIASMATICA DE MEDICAMENTOS • 205

GERAIS

"É o maior dos policrestos" (TYLER). "Sulphur é um remédio tão completo,


que é difícil dizer como começar descrevê-lo. Parece ter semelhanças com todas
as enfermidades e o médico que começa, lendo as patogenesias de Sulphur,
deve pensar, naturalmente, que não faz falta outro remédio, já que a imagem de
todas as enfermidades parece estar contida nele ..."
Observação: Este tópico ilustra bem a nossa proposta. Como um remédio
psórico Sulphur promove e aumenta a eficiência dos mecanismos psóricos de
defesa drena (por baixo) e sendo assim o nível miasmático desce fazendo com
que não mais ocorram os sintomas dos demais níveis mais altos.

PARTICULARES

Observação: Na patogenesia de Sulphur existe uma gama imensa de sin-


tomas particulares dos três níveis miasmáticos. Estão tão mesclados os sinto-
mas de Sulphur que sem o entendimento da dinâmica miasmática é impossível
precisar a qual miasma ele está mais diretamente ligado. Desde que se tenha em
mente o mecanismo miasmático que propomos toda dificuldade desaparece.

SINTOMAS DE THUYA
Abordaremos agora um medicamento basicamente sicótico, Thuya, para
evidenciar que em sua patogenesia não existem muitos sintomas psóricos e sim
siphilínicos. Isto pode ser explicado facilmente tendo-se em vista que a sycosis
está em um nível miasmático mais alto que a psora (Fig. I), assim sendo, um
medicamento que atue nesse nível, além da sicosc, melhora também o siphili-
nismo, enquanto quase cm nada atende o nível psórico porque a "drenagem"
sintomática é feita em um nível mais alto. Os medicamentos psóricos drenam
no nível mais baixo, por isso atendem à sycosis e ao Siphilinismo, enquanto o
sycótico, além desse nível atende apenas ao siphilínico. Por sua vez, um medi-
camento siphilínico atende tão somente seu próprio nível.

MENTAIS

I -A mente de Thuya está muito freqüentemente ocupada com pensamen-


tos idéias fixas, obsessivas, muitas vezes francamente alucinatórias. Crê que
seu corpo é feito de vidro ou de cristal, que é frágil e quebradiço. Crê ter
animais ou algo vivo que se movem em seu ventre (sobretudo na fossa ilíaca
direita) e, às vezes, até pensa que ouve vozes ou choro em seu ventre, ou crê
que está grávida (falsa gravidez). Crê que está sob um poder super- humano.
Crê que sua alma e seu corpo estão separados, que seu corpo é delicado e
mais leve que o ar, que é delgado ou, ao contrário, pesado; que é duplo que,
está dividido em duas partes, e não sabe qual é ele ao despertar. Vê fantasmas,
à noite, ao fechar os olhos. Vê pessoas. Crê que é um criminoso ou que está para
morrer; que alguém lhe segue, que alguém caminha atrás dele.
206 t HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

2 - Tem medo de estranhos; está pior na presença deles e tem aversão a


eles; evita ver gente, tem aversão à companhia e a tudo; tem medo que se
aproximem dele (sobretudo no delírio) e que o toquem, porque crê que é
ti·ágil. Acredita ver estranhos ou que hajam estranhos na casa; ou vê gente de
seu lado e conversa com ela; as coisas familiares parecem-lhe estranhas. Medo
da loucura e das enfermidades. O medo parece sair do estômago.
3 - Comete equívocos ao escrever (omite letras, sílabas ou palavras) e ao
falar coloca mal as palavras, usa palavras equivocadas.
Esquecido, sobretudo pela manhã, ao despertar. Custa-lhe concentrar-se;
está confuso, pior pela manhã, ao falar; erros quanto à sua própria identidade
e perde-se em ruas bem conhecidas. A memória é escassa, para expressar-se,
para o trabalho mental, para palavras; não recorda o que acaba de fazer, o que
vai dizer, as pessoas. Aversão ao trabalho mental. Estupor de manhã depois de
levantar-se; não sabe onde está. Imbecilidade. Cretinismo.
Observação: Grupos de sintomas que refletem distúrbio ao nível de inte-
lecto, distúrbio ao nível de mente, conseqüentemente não-sicóticos e sim
siphylínicos, mas que respondem ao mais típico dos medicamentos sicóticos.

PARTICULARES
22 - Dores desgarrantes nas sobrancelhas ... úlceras de córnea.
Irites sifilítica (Obs. Veja-se, um sintoma essencialmente sifilítico tratá-
vel com um medicamento sicótico.)
Esclerocoroidite.
34 - Ulcerações vulvares. Fístula retovaginal.
Câncer de útero.
38 - Rangidos, estalidos, nas articulações ao estirá-las. Artrite deforman-
te, com sensação de adormecimento.
Sensação dos membros estarem frágeis e de quebrarem-se... Sente as
pernas (e os membros inferiores) rígidos e pesados quando caminha, como se
fossem de madeira. Ciática à esquerda, com a perna atrofiada. Hemiplegia.
Paralisia c atrofia da perna direita, com frio. Grande debilidade das pernas,
especialmente ao subir escadas.
Úlceras nas coxas; Reumatismo nas rótulas, pés e tornozelos; não pode
andar. Dores na face anterior da tíbia. Pé esquerdo adormecido.
Varizes nos membros inferiores e nos pés.
41 - ... úlceras de bordas dentadas e dolorosas.
Úlceras cancerosas ou sifilíticas.
Observação: São sintomas tipicamente siphilínicos mas que constam na
patogenesia de um medicamento sicótico.

Sintomas Referidos: Tratado de Matéria Médica Homeopática, Bernardo Vijnovsky,


Buenos Aires - Argentina
CAPÍTULO

DoENÇAs CRôNICAS -
TEORIA MIASMÁTICA
INTERPRETAÇÃO FISIOPATOLÓGICA

Certamente Miasma é o mais controvertido de todos os temas da Ho-


meopatia, pois são muitas as idéias existentes a esse respeito. Em muitos
momentos chega-se a admitir que cada homeopata tem uma maneira própria
de explicar e de entender aquilo que realmente essa teoria significa. Somen-
te em um ponto quase todos os homeopatas estão de acordo, é no aceitar que
na realidade aquela condição existe manifestando-se nos indivíduos e que
tem grande importância no tratamento e cura das doenças crônicas.
A razão pela qual existem tantas discrepâncias de opiniões quanto ao que
realmente significa nziasma resulta de HAHNEMANN não haver precisado aquilo
que ele chamou de Psora. Em alguns momentos ele faz crer tratar-se de um
agente infeccioso externo, em outros faz transparecer tratar-se de uma condi-
ção infecciosa preexistente no organismo. HAHNEMANN não chega a precisar a
natureza daquilo que refere como psora. Em momento algum o pensamento
do Mestre torna-se suficientemente claro a ponto de não deixar dúvidas.
No parágrafo 80 diz HAHNEMANN: "É somente da invasão do organis-
mo inteiro pela infecção interna, que pelo elemento psórico, esse agente
infeccioso iminentemente crônico, interno, monstruoso, se revela."
Este parágrafo deixa dúvida se HAHNEMANN refere-se a uma causa exter-
na que infecciona o organismo ou a uma causa interna. Ao citar invasão do
organismo e agente infeccioso torna difícil não admitir tratar-se de um
agente interno do contágio, de uma auto-infecção, de um processo autogêni-
co - coisa desconhecida cm termos de infecção.
O parágrafo 204 indica mais claramente que HAHNEMANN se refere a
algo interno, quando diz: "Não se deve esquecer que antes mesmo do
21 0 1 HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIAS MA TICA

aparecimento das primeiras manifestações vicariantes, tais como a erup-


ção escabiosa para a psora, o cancro ou bubão para a sífilis, o condiloma
para a sicose, manifestações externas reveladoras da enfermidade interna
que elas inibem por um tempo, cada um desses miasmas já havia invadido
o organismo c havia infectado todas as suas partes".
A combinação desses dois parágrafos mostra que HAHNEMANN refere-se
a dois níveis infecciosos; um essencial c outro circunstancial. Haveria,
portanto, dois agentes causais infectantes o causador c o desencadeador,
portanto, um que geraria a psora c um outro que desencadearia o séquito
de manifestações das moléstias. A infecção bacteriana, por exemplo, ape-
nas desencadearia o processo miasmático já estabelecido no organismo por
uma infecção precedente.
No parágrafo 204 parece que HAHNEMANN quer dizer que a Psora é um
desequilíbrio orgânico, um estado interno em que as manifestações mórbi-
das são tão somente afloramentos de um estado interno, neste caso, portanto,
precedendo qualquer infecção. Isso dá a entender que ele se refere àquilo
que em linguagem mais atual, é denominado "terreno predisponente". Have-
ria um processo exógeno capaz de alterar o organismo, somente após o quê
o agente patógeno propriamente dito seria capaz de provocar distúrbios.
Esse pensamento alentou muitos homeopatas, especialmente os de
linha francesa, a admitirem o miasma como sendo apenas um "terreno"
orgânico mórbido, uma predisposição, portanto. Sendo miasma um "terre-
no" a infecção seria apenas um favorecedor, um despertador de uma con-
dição preexistente; o agente patógeno seria um elemento desencadeante de
uma condição crônica mais profunda.
A prática homeopática demonstra o envolvimento de quatro condições
no processo mismático: Contágio, hereditariedade, ''terreno", e cura clíni-
ca. Disto resultam um tanto de dificuldades de conciliação entre as diferen-
tes linhas de pensameto que tentam explicar o que na realidade é miasnza.
Para os que admitem se tratar de terreno mórbido não é fácil explicar
como terreno, sendo uma condição genotípica, possa ser contagioso ou
curável. "Terreno" é uma condição genotipicamente estabelecida, portan-
to, ainda não-curável. Mesmo no estágio atual da engenharia genética,
uma manifestação de uma condição de "terreno" ainda não é passível de
ser curada. A engenharia genética, cm sua fase atual, apenas é capaz de
corrigir alguns gens do código genético para que determinadas caracterís-
ticas constitucionais, características de "terreno" não venham a ser estabe-
lecidas, mas não pode ainda modificar o próprio "terreno" manifesto.
Desde a época de HAHNEMANN. a experiência clínica vem mostrando
através do tempo, que aquilo que ele chamou de miasma não está ligado
apenas a agentes microbianos, pois muitas outras causas foram citadas
pelo mestre como fatores desencadeantes causais de uma plêiade de sinto-
mas orgânicos, mas sim que é um agente primariamente externo. Até
DOENÇAS CRÓNICAS - TEORIA MIASMA TICA • 211

porque, na época de HAHNEMANN, a microbiologia era ainda uma coisa


muito incipiente, embora o Mestre haja citado a existência de organismos
infinitamente pequenos responsáveis por doenças.
Basta que pensemos no termo miasma para termos a certeza que
HAHNEMANN referia-se a um agente causal externo capaz de provocar rea-
ções no organismo, porque a palavra miasma dizia respeito à um elemento
externo. Miasma, na época de HAHNEMANN, indicava um agente morbígeno,
algo especialmente exalado dos pântanos infectos a que era atribuída causa
de doenças. Miasma queria dizer fatores morbígenos ligados aos ambien-
tes infecos, às emanações pestilentas dos pântanos.
O que está relativamente bem-definido é que antes da ação do agente
infeccioso clássico já existia uma condição precedente e que esta, na realida-
de, é o miasma propriamente dito e que, por sua vez, tem como causa algo
precedente capaz de desestruturar a unidade orgânica levando-a apresentar um
séquito imenso de sintomas. Mas o que vem a ser essa precedência?
Em torno da temática miasma todas as dificuldades existentes dizem
respeito ao modus operandi do processo. Tudo aquilo que lemos c escutamos
a respeito é destituído de qualquer lógica capaz de exlicar o que na essência é
aquela condição. É indubitavelmente uma condição que na prática existe e
que chega a ser até mesmo fundamental no processo de tratamento das doen-
ças crônicas de um paciente, mas que nenhuma teoria apresentada até então
mostrou-se clara para explicá-la com base fisiopatológica. Desconhecendo-se
qualquer explicação fisiopatológica para situar a condição miasmática, por
certo todas as teorias clássicas nada mais são que um mergulho no empírico,
no campo das hipóteses não-cientificamente provadas c nem ao menos ex-
plicáveis. A dificuldade em explicar o que na realidade é miasma na
concepção hahnemaniana começa a partir de quando se tenta entender a
sua natureza intrínseca, se procurar entender o que, em princípio, repre-
senta aquela condição interna antecessora do processo mórbido.
Assim, uma linha de pensadores começou a defender arraigadamcnte que
miasma seria apenas uma questão de ''terreno" biológico, uma alteração anato-
mofisiológica constitucional. Segundo tal maneira de pensar, o elemento infec-
tante, o agente morbígeno de qualquer natureza, apenas manifesta sintomas em
decon-ência de um "terreno" biológicamente preestabelecido. O elemento exter-
no, ao qual via de regra se atribui ser o fator causal de um distúrbio patológico,
não seria a causa primeira do processo patológico e sim o elemento-gatilho,
algo que despertaria a rcação do elemento interno, o miasma latente. (Já
comentamos anteriormente sobre a insustentabilidade dessa tese).
Para HAHNEMANN, todas as doenças crônicas seriam apenas conse-
qüências da ação de "miasmas" anteriormente estabelecidos e não causa-
das diretamente pelos agentes infectantes tidos como responsáveis pela
manifestação patógena. Em alguns momentos ele deixa transparecer que
miasma é o próprio agente infectante e em outros que é uma condição
212 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMAriCA

interna que, por sua vez, em alguma ocasião precedente foi determinado
também por um outro agente.
Resumindo, temos as seguintes hipóteses: para uns, miasma é algo
de natureza desconhecida, empírico, capaz de enfermar o organismo,
algo objetivo, uma espécie de agente; para outros, um "terreno" biológi-
co condicionado por inúmeros fatores noxais; para outros uma fantasia,
algo que na realidade inexiste; e para nós, manifestações sintomatológi-
cas das reações fisiopatológicas clássicas da defesa orgânica diante de
uma sobrecarga qualquer.
As discrepâncias de opiniões começam quando se tenta identificar
como um agente danifica o organismo, como "marca-o" biologicamente,
levando a pessoa a ter que admitir que a noxa determina uma desestrutura-
ção biológica ao nível de "terreno" predispondo desde então o organismo
a ser atingido por diferentes naturezas de agentes vulnerantes, provocando
uma susceptibilidade orgânica, a partir do quê o organismo torna-se presa
da ação dos elementos noxais.
Para os que ainda não perceberam o que intrinsecamente é o miasma
é mais fácil defini-lo como sendo um "agente", algo empírico. Por isso
muitos autores chegam a associá-lo à angústia existencial, à perda da
qualidade divina do ser, ao haver o homem se tornado mortal. Em outras
palavras, ter miasma como sendo o próprio pecado original, como disse
GHATAK e endossados por eminentes homeopatas como o Prof. ALFONSO
MASI ELIZALDE' que diz: "Sua surpreendente analogia com a história do
Pecado original permite, sem muito sofrimento intelectual, aceitar que o
conteúdo do famoso inconscente coletivo não é outra coisa que a recor-
dação nebulosa desse drama ancestral da humanidade, vivido por cada
um de seus integrantes, de forma personalizada, isto é, cada um manifes-
tando algum determinado aspecto da alteração da Ordem". Esta é pelo
menos minha interpretação pessoal.'
Segundo tal hipótese, não haveria o contágio miasmático e sim a
angústia existencial, a angústia de viver na terra, do homem haver perdido
o paraíso.
Mas, se assim fosse o que HAHNEMANN quis então dizer no parágrafo
80: "... o elemento psórico, esse agente infeccioso ..." - Seria, então o
pecado original um elemento infeccioso?!
KENT e ALLEN, assim como GHATAK, excluem a erupção escabiosa, o
cancro, o bubão sifilítico, os condilomas como sendo causa miasmática e
atribuem como tal a atitude mental do indivíduo, reforçando assim a idéia
de que miasma seria na realidade uma condição inerente à natureza huma-
na, um desequilíbrio essencial, algo muito mais profundo e distante do que

' Revista de Homeopatia, Associação Paulista de Homeopatia - v. 54, no 4, p.


11 I, dezembro, 1989.
DOENÇAS CRÓNICAS - TEORIA MIAS MA TICA • 213

uma condição de "terreno", de susceptibilidade condicionada biologica-


mente. Deixam o campo biológico para chegar ao espiritual. Para eles e
seus seguidores a psora, condição interna, seria a manifestação das desar-
monias do homem com a natureza divina, exterior ao "terreno" biológico
e chegando mesmo ao nível espiritual ligado à origem da raça.
No início dos nossos estudos de Homeopatia. tivemos sérias dificul-
dades quanto ao entendimento daquilo que havia sido até então escrito a
respeito desse tema. Na tentativa de entender em profundidade o que é
miasma propusemo-nos a analisar a Teoria Miasmática de um modo dife-
rente daquele que nos fora ensinado e usado até então. Deixamos à mar-
gem o lado subjetivo, empírico, e procuramos entendê-lo pelo lado objeti-
vo da natureza humana, pois não podíamos conciliar a idéia de contágio/
terreno/cura e bem menos ainda o lado místico, a afirmativa de que seria
uma condição resultante da perda do paraíso, conseqüentemente ligado a
uma angústia existencial.
A prática mostrava-nos que a condição miasmática evidentemente
existia, assim como na realidade existia o "contágio miasmático", que
havia hereditariedade miasmática, e especialmente que tudo aquilo pode-
ria ser homeopaticamente curado.
Em determinados momentos víamos que crianças já nasciam com
estigmas miasmáticos fazendo crer na hereditariedade do processo, indi-
cando uma questão de "terreno". Em outros momentos sinais de contágio,
quando pessoas sadias após contatos íntimos se contagiavam miasmatica-
mente. Isto é muito comum acontecer com pessoas que quando solteiras
não apresentam quadro exacerbado de sycosis mas que após casarem-se
(terem contatos íntimos) com pessoas que foram acometidas de processos
blenorrágicos, condilomatosos, sifilíticos, etc, logo tornarem-se doentias,
com sinais evidentes e claros de sycose estabelecida, levando à admissão
do estabelecimento de contágio miasmático.
Segundo nossa lógica c os preceitos genéticos miasma não poderia ser
somente uma questão de "terreno", por tratar-se de algo evidentemente
contagioso. Por outro lado, a experiência clínica mostrava-nos que aquela
condição era plenamente curável. Em se tratando de um "terreno", por
certo não poderia ser contagioso e nem também ser clinicamente curável.
Temos por norma não buscar algo ao nível transcendental sem que
antes tenhamos procurado no plano estrutural, afinal, vivemos em um
mundo material onde temos um corpo físico que depende diretamente de
estrutura ponderável, regido por reações bioquímicas. A quase totalidade
daquilo que afeta e manifesta-se ao nível do organismo físico, mesmo que
não neguemos o lado metafísico da vida, ainda assim temos que reconhe-
cer que os fenômenos inerentes às atividades dos seres orgânicos estão no
nível anatomofisiológico. Por isso, para explicar qualquer manifestação
orgânica, primeiramente devemos buscar, inquirir, investigar o lado somá-
214 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

tico, o lado objetivo dos fenômenos, até esgotar as probabilidades de


justificação no nível material.'
Por este ângulo de visão procuramos cm primeiro lugar evidenciar se
a condição miasmática na realidade existia e, devidamente, constatamos
que sim e mais que isso, que tinha uma ligação muito direta com as
manifestações mórbidas. Procuramos, assim, dar aos miasmas um sentido
fisiopatológico, buscamos uma interpretação fisiopatológica para o enten-
dimento a respeito dos diferentes miasmas, procurando padrões reacionais
do doente dentro de suas possibilidades de defesa.
Tudo aquilo que se diz a respeito da teoria miasmática é apresentado
como algo impossível ou, no mínimo, difícil de ser entendido dentro de um
raciocínio cartesiano. Mesmo os autores menos metafísicas ainda assim não
chegaram a expor uma teoria racional que encontre respaldo na fisiopatolo-
gia. Estes autores consideram miasma como sendo um "terreno constituci-
onal", "mas ao mesmo tempo afirmam ser uma condição homeopaticamente
curável". Ora, como isso é possível se "terreno" é um caráter de natureza
gcnotípica e conseqüentemente um estado não-passível de cura terapêutica!
Como uma condição genotípica pode ser terapcuticamcnte curável? (Com o
advento da engenharia genética, possivelmente isto venha a ocorrer em
breve apenas no que diz respeito à descendência.) Não apenas existe esta
incongruência, mas muitas hipóteses que tentam explicar aquilo que vem a
ser miasma, são proposições totalmente indefensáveis. Foram tais incongru-
ências absurdas que nos levaram a procurar explicações que fossem compa-
tíveis com o pensamento da ciência experimental e que nos levaram a um
afastamento daquela idéia que Miasma é uma "coisa", um algo como um
agente, um elemento contagiante diferente de uma bactéria ou vírus, de um
posicionamento mental c muito menos ainda de um "pecado", o pecado
original, um castigo divino, ou tantas outras crendices sem quaisquer emba-
samentos científicos. como é propugnado por muitos homeopatas.
Iniciamos o nosso trabalho agrupando os sintomas próprios de cada
miasma, segundo os mecanismos fisiológicos (excitação fisiológica, per-
versão de função/hipertrofia, desestruturação e desagregação). Procuramos
evidenciar as relações existentes entre os sintomas miasmáticos c as rea-
çõcs fisiológicas de cura, em vez de, à guisa de explicação ou justificati-
vas, buscá-la na mística, no empírico ou na metafísica religiosa. Achamos
que o correto era buscar as necessárias explicações primeiro na própria
fisiologia. Não nos surpreenderam as evidências indiscutíveis que surgi-
ram, demonstrados que todos os sintomas miasmáticos estavam enquadra-
dos nos mecanismos atuais de cura, ou seja: Eliminação, Neutralização,
Compensação c Cicatrização, portanto, os miasmas seriam apenas sinto-
mas oriundos da respostas de cura. agrupadas em quatro níveis reacionais.

· Queremos salientar que não somos materialistas, até mesmo porque 80% das nossas
atividades extraprofissionais são totalmente dedicadas à busca mística religiosa.
DOENÇAS CRÓNICAS • TEORIA MIAS MA TICA • 215

Chegamos à conclusão que todos os sintomas miasmáticos, tanto os


somáticos quanto os psíquicos, nada mais eram do que respostas típicas
dos processos fisiológicos de cura, dos mecanismos de reestruturação da
integridade física e psíquica do organismo.
Assim, chegamos à conclusão que todos os sintomas miasmáticos
unicamente retratam os clássicos mecanismo de curas eliminação (Psora),
localização e compensação (Sycosis) c cicatrização (Siphilinismo).
Um organismo pode reagir para libertar-se de um agente que lhe seja
inadequado (quantitativa ou qualitativamente), tentando eliminar, neutrali-
zar ou isolar o agente causal. Nesse processo ocorrem os sintomas tidos
como manifestações miasmáticas mas que são os mesmos dos mecanismos
de cura da biológica clássica. Ante uma noxa exteriorizam-se sintomas
resultantes da resposta orgânica c isso faz-se como sintoma de algum
daqueles mecanismos de cura.
Num primeiro nível, o organismo lança mão do mecanismo de
eliminação, através de uma excitação fisiológica que se faz sentir inten-
samente sobre os emunctórios (sistema excretor de eliminação), numa
tentativa de "pôr para fora" o agente inadequado e isto pode ser feito
tanto direta quanto indirctamcntc após adequá-lo à função de algum
órgão excretor. Para tanto ocorre uma excitação fisiológica que repre-
senta uma reação psórica.
Nas rcaçõcs de cura, cm um primeiro plano, no nível somático entra
em ação o sistema emunctorial e em nível psíquico os mecanismos primá-
rios da defesa do ego.
É a excitação fisiológica que caracteriza o miasma psórico, e todos os
sintomas a ele ligados são direta ou indiretamente ligados às eliminações
excretivas, portanto, emunctoriais. Não existe uma sequer que esteja fora
deste contexto, portanto. a psora é essencialmente um estado fisiológico
comum cm que se manifestam as atividadcs emunctoriais.
Assim é cumprida a função de "pôr para fora", de eliminar um agente
físico, químico ou emocional indesejável ao organismo (como substâncias
químicas, elementos anómalos ao organismo c na área psíquica as tensões.
contenções, repressões etc.). O organismo busca um meio de. através dos
emunctórios na área somática ou das rcações primárias do ego na área
mental, recompor o indispensável reequilíbrio do organismo. Portanto, no
primeiro nível há uma excitação, tanto física quanto psíquica, visando a
eliminação do elemento noxal.
Para um entendimento fácil da nossa hipótese, utilizemos um esque-
ma apresentado cm detalhes neste livro. Em nossas aulas usamos como
analogia, para expor nossa hipótese, uma caldeira a vapor (graficamente
representada na Figura I). O comportamento dinâmico de uma caldeira
representa cxatamentc aquilo que oco1rc também num organismo sob ação
216 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA M/ASMATICA

de uma noxa (sobrecarga qualquer), que na caldeira é o vapor. O calor (A)


fornecido à caldeira equivale no organismo à noxa, portanto:

A = Oferta ao sistema
B = Dispêndio funcional

É fácil entender que em um sistema de tal natureza o ideal é o


equilíbrio entre A e B (A = B).
Em outras palavras. o ideal seria se a oferta de calor (A) fosse apenas
o quanto necessário para gerar uma pressão P bastante apenas para respon-
der pelo dispêndio funcional. Mas. em decorrência de muitos fatores, a
oferta de calor varia, determinando variações de P e conseqüentemente de
B, em que são produzidas alterações funcionais (excitação). Para corrigir
isso, para equilibrar o funcionamento de B dentro de parâmetros ideais, o
sistema possui válvulas de segurança C. Assim, o desequilíbrio do sistema
passa a ser representado por:

A=B+C

No organismo a coisa é semelhante. A oferta nunca é a ideal, quer


qualitativa quer quantitativamente. Assim sendo, a relação A + B inexiste.
Na prática sempre existe a tendência de haver desvios determinados pela
oscilação de A e conseqüentemente como P sempre está oscilando, em
função de desequilíbrios entre A e B, há, portanto, a necessidade no orga-
nismo da presença de C.
As oscilações ocorrem porque o organismo, a cada momento, está
sujeito a um número imenso de fatores que na sua quase totalidade atuam
como noxas, quer pela quantidade, quer pela intensidade, quer pela especi-
ficidade (= variações de A). As oscilação de A alteram os valores de P,
determinando alterações de B (sintomas). São alterações da funcionalidade
para mais ou para menos que se manifestam no organismo como sintomas.
Aquilo que na caldeira chamamos pressão (P), no organismo a Ho-
meopatia chama de Psora, cujo mecanismo básico é a excitação fisioló-
gica (mecanismo característico da Psora). A Psora, portanto, nada mais é
que um estado de eliminação insuficiente.
Numa condição ideal A = B, sem a pressão interna do organismo não
existiria manifestação patológica mas mesmo assim P não deixaria de
existir. P, dentro de um sistema em equilíbrio dinâmico, equivale àquilo
que é citado como Psora latente. Num sistema P é a pressão latente
necessária ao funcionamento do sistema e que não deve ultrapassar deter-
minados limites para que não advenham problemas.
Se a pressão P continuar a aumentar, quer pela incapacidade relativa
ou absoluta de C (válvula de segurança = função emunctorial), estabelece-
DOENÇAS CRONICAS - TEORIA MIASMA T/CA • 217

se que A>B+C, A fica maior que B + C e isto inexoravelmente tende a


levar o sistema a uma desestruturação. Quando não acontece isso é porque
entra em ação algum outro tipo de contenção capaz de atenuar P.
Agora vejamos o seguinte: numa caldeira em que normalmente há
muitos indicadores c dispositivos relativamente frágeis, um incremento
progressivo da pressão pode romper aqueles dispositivos c ocasionar vazão
de pressão e, assim, os instrumentos indicadores de dados funcionais pas-
sam à condição de válvulas equilibradoras de pressão. Isto corresponde a
uma perversão de função, pois que uma função deixa de ser cumprida
para o atendimento de uma outra diferente c anormal. Isto não é o ideal,
mas graças a poder assim acontecer é que o sistema deixa de ser destruído.
Em tal situação, a relação volta a apresentar-se assim:

No organismo acontece o mesmo, ante a pressão crescente da Psora (P)


levada a cabo por um estado de eliminação fisiológica insuficiente para equi-
librar o sistema, as células secrctoras entram em ação com a finalidade de
atender à função excretora, auxiliando assim o sistema emunctorial, embora
havendo uma perversão de função. É verdade que tal perversão de função
acan·eta problemas bem mais sérios do que uma simples excitação fisiológica.
O tecido secretor quando passa a exercer atividadc excretora acarreta proble-
mas como: derrames cm cavidades abertas (= sycosc primária) ou cm cavi-
dades fechadas (sycosis secundária) ou hipertrofias (= sycosis terciária).
As células secrctoras, exercendo papel cxcrctivo, acabam alterando o
"habitat" em determinadas localizações, gerando sintomas patológicos em
decorrência das chances de desenvolvimento de bactérias nefastas naque-
les pontos. Também condicionam a formação de depósitos e concreções
em pontos indesejáveis como acontece, por exemplo, num processo goto-
so. Além dos derrames, surgem o estado hidrogenóide e os edemas.
Se aquela caldeira fosse um tanto elástica, por certo ela apresentaria
hipertrofias generalizadas ou localizadas (boceladuras), o que no organis-
mo equivale aos edemas e tumoraçõcs benignas.
Na área psíquica, quando os mecanismos primários de defesa do ego
já não são suficientes para atender ao equilíbrio surgem sintomas reativos
mais profundos como a desconfiança, mentira, medos fóbicos, ocultação,
agressividade defensiva, egoísmo, perversidade, perversões dos sentimen-
tos etc. Há uma hipertrofia do ego, uma exacerbação de suas qualidades
próprias que pode chegar às raias da perversão dos sintomas.
Em tais situações o organismo está diante da Sicose, apresentando
todo o séquito de sintomas próprios deste nível miasmático.
Para nós, até o momento, foi impossível descobrir um sintoma, sequer
citado como sycótico, que não possa ser enquadrado como mecanismo de
218 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MJASMÀT/CA

localização ou de compensação. Agora consideremos o seguinte: se a cal-


deira da analogia não fosse destruída no segundo nível, ela poderia se
apresentar numa terceira condição caracterizada por vazamentos nos pon-
tos frágeis de sua própria estrutura, evitando com isso uma destruição
maciça. Nesta terceira condição as destituições podem funcionar como
mecanismo de equilíbrio do sistema.

A=B+C+D+E

E = pontos de vazamento por destruição da parede do próprio sistema.


No organismo, em princípio, não é muito diferente. No terceiro nível
há destruição tecidual, portanto, o mecanismo é cicatricial e deixa seqüe-
Jas na maioria das vezes. É verdade que qualquer destruição do organismo
é ruim, tal como qualquer mecanismo de perversão de função, mas temos
também que admitir que é graças a tais anomalias que o sistema não é
destruído cm muitas ocasiões.
Na área psíquica afirmamos que. o terceiro nível faz-se sentir um tão
elevado incremento de P que os mecanismos intrínsecos do próprio cére-
bro. responsáveis pelas diferentes atividadcs psíquicas, são afetados. Em
decorrência disso, entre outros, podem ocorrer distúrbios do intelecto. A
mente cerebral fica lesionada com funções intelectivas alteradas ou mesmo
destruídas e, conseqüentemente, distúrbios de comportamento podem
ocorrer, conforme a localização das destruições.
Este é o terceiro nível reacional, o Syphilinismo, cujo mecanismo
reacional caracteriza-se pela destruição. Naquele nível passam a ocorrer
destruições parciais em decorrência do que o organismo tem que lançar
mão da cicatrização, como processo de cura. A cicatrização geralmente
deixa seqüelas, por isso, o prognóstico nesse nível passa a ser mais som-
brio que nos demais.
Apresentamos de forma sucinta o que pensamos dos Miasmas. São
três níveis de uma mesma coisas. Miasma é uma condição orgânica
decorrente de um estado de eliminação insuficiente e que se manifesta
como sintomas de eliminação, compensação, localização e cicatrização.
Na analogia. o que existe nos três níveis é função do aumento de P, de
um incremento da pressão interna do sistema e no organismo, o aumento de P
corresponde àquilo que em Homeopatia se chama miasma. Os três miasmas
são apenas níveis reacionais de tentativas de equílibrio do sistema equilíbrio.
Nossa hipótese difere essencialmente das demais especialmente por
admitir a existência de apenas um miasma, sendo os demais apenas níveis
elevados de P com mecanismos reativos específicos. É uma hipótese bem
demonstrável na prática, corrente com os processos fisiopatológicos. Ad-
mite o entendimento intrínseco àquilo que vem a ser miasma, entendendo-
o de uma forma diferente quando não se vê nele uma "desgraça", um
DOENÇAS CRONICAS- TEORIA MIASMATICA t 219

castigo ou algo indesejável. Indesejável sim, é o fator causal, a noxa, mas


o miasma, que significa para nós resposta defensiva, um séquito de sinto-
mas da própria reação de cura, é algo basicamente benéfico. É benéfico
porque o indivíduo só não morre no primeiro nível, o da Psora, porque o
organismo pode reagir em um segundo, o sicótico e em um terceiro, o
siphilínico. Graças a poder tornar-se sicótico é que o indivíduo não su-
cumbe como psórico, e graças a poder lançar mão dos mecanismos syphi-
línicos é que ele não sucumbe como sicótico. O miasma não é, portanto,
um "castigo de Deus" pelas falhas humanas, a "perda do paraíso", uma
"desgraça" ou algo indesejável. Antes, miasmas podem até mesmo ser
considerados uma bênção da natureza, manifestações positivas dos meca-
nismos reativos defensivos da integridade orgânica.
Não temos necessidade alguma de procurar explicações para miasma
fora do campo fisiopatológico. Não precisamos evocar mecanismos além
dos princípios fisiológicos clássicos, enveredando por divagações de cará-
ter religioso, místico ou metafísico para que tenhamos uma visão clara do
que na realidade ele significa.
O grande mérito de HAHNEMANN foi ser o primeiro a evidenciar que
existem bloqueios orgânicos que dificultam a cura e que enfermam as
pessoas. O Mestre viu isso muito antes da fisiologia haver chegado a essa
mesma conclusão, antes da biologia afirmar que o organismo se cura por:
eliminação, compensação, neutralização c cicatrização.
Ainda queremos salientar que aceitamos um quarto miasma que, na
área somática está representado pelo Cancerinismo, sendo a doença mais
característica o câncer e tendo como representativo na área psíquica a
esquizofrenia. Tanto no câncer quanto na esquizofrenia existe um mecanis-
mo diretor que define um nível miasmático. Em ambas as situações há
algo como mecanismo diretor e característico da desagregação. O câncer
é fruto de uma desagregação, entre o todo e as partes do organismo, assim
como na área psíquica uma desagregação das unidades constitutivas da
personalidade é exatamente o que caracteriza a esquizofrenia.
Por último queremos dizer que o Tuberculinismo não pode ser consi-
derado um miasma propriamente dito, exatamente porque falta-lhe um me-
canismo diretor característico como acontece com os três outros níveis (mi-
asmas). Aceitamos o que disse ALLEN: "Tuberculinismo é uma pseudopsora"
ou como considerou o próprio HAHNEMANN "um estado modificado da própria
psora". Admitimos isso porque, não tendo um mecanismo diretor específico,
todos os sintomas do Tuberculinismo têm como mecanismos os da própria
Psora e/ou, os do Syphilinismo com algumas "pinceladas" de Sycosis.
O Tuberculinismo não é um nível miasmático propriamente dito, pois
inexiste nele um mecanismo próprio de caracterização. A Psora tem a
excitação, a Sycose a perversão, o Syphilinismo a destruição, o Cancerinis-
mo a desagregação. Todos os sintomas do Tuberculinismo são aqueles
220 ° HOMEOPATIA- CONTRIBU/çAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

mesmos característicos dos outros miasmas. No Tuberculinismo apenas


ocorre uma "imbricação miasmática" entre a Psora e o Syphilinismo, mas
isso não quer dizer que sempre que estes dois miasnzas estão presentes o
organismo está tuberculínico. Isto só vem a acontecer quando há distúrbios
constitucionais ligados aos íons Na, Ca, P, Si e Mg.
As ligações iônicas desses elementos condicionam uma constituição
anatômica especial que favorece o desenvolvimento das doenças tuberculí-
nicas. No tuberculinismo é que existe verdadeiramente um "terreno" cons-
titucional.
A nossa maneira de entender os miasmas como sendo mecanismos
defensivos do organismo faz com que muitas coisas sejam vistas de forma
diferente daquelas citadas por muitos autores. Por exemplo: basicamente
não consideramos medicamentos de tal ou de qual miasma. Todos os medi-
camentos atuam trimiasmaticamente, assim como todas as pessoas. Um
indivíduo, no máximo, pode ter condições de responder mais intensamente
num dos níveis, mas basicamente ele pode responder em outro qualquer.
Muitos homeopatas dizem, por exemplo: tal medicamento é psórico.
É surpreendente ver que grande parte dos sintomas patogenésicos daquele
medicamento não pertence à Psora e sim a um outro miasma. Vejamos,
por exemplo, Psorinum. Na patogenesia deste medicamento constam com
três e dois pontos os seguintes sintomas: "Coriza crônica com costras que
tornam a se formar após retiradas. Descarga nasal sanguinolenta. Pólipos
nasais.Secreção nasal sanguinolenta. Escoriações e ulcerações ou vesículas
secretantes nas comissuras labiais. Vesículas amarelas dolorosas ao tato.
Verrugas peribucais. Ulcerações na língua. Expulsão de pequenas massas
caseosas das amígdalas. Grande tendência a anginas repetição. Hipertrofia
de amígdalas c outros. Seguem-se inúmeros outros sintomas que não são
da Psora e sim da Sycosis e do Syphilinismo. Por que aparecem como
sintoma de Psorinum e, portanto, da psora'? Pelas outras teorias não vemos
como explicar isso, mas pela hipótese que expusemos tudo fica perfeita-
mente compreensível. Pela Fig. 1 é fácil compreender isso. Psorinum atua
no primeiro nível, portanto, melhora de alguma forma a eficiência de C,
determinando uma diminuição de P c, como conseqüência o nível de P é
direcionado para baixo fazendo com que os sintomas, que são expressões
não só de C mas de D e de E, diminuam ou desapareçam.
Outra consideração que merece atenção diz respeito à afirmativa
que o Câncer é uma doença trimiasmática, portanto, que há exterioriza-
ções dos três miasmas fundamentais para que ele se manifeste. Na
verdade, pode ocorrer desta maneira mas, segundo a nossa hipótese,
também pode ocorrer com o silêncio dos sintomas dos demais miasmas.
Cancerinismo é um aumento da P até um quarto nível e isto pode ocorrer
tanto como exacerbação dos sintomas dos diferentes níveis quanto pelo
silêncio, por bloqueio de C, D e E.
DOENÇAS CRÓNICAS - TEORIA MIASMATICA ' 221

Em realidade, cada nível surge pelo aumento de P e isso pode ser


decorrente tanto de um incremento absoluto de A - aumento da noxa -
quanto da natureza da noxa (especificidade do órgão para eliminar aquele
tipo de noxa), quanto do não-funcionamento das válvulas por bloqueios
temporários ou definitivos.
Hipoteticamente um organismo pode estar ao nível cancerínico e não
apresentar nem sintomas Psóricos, nem Sycóticos e nem Syphilínicos, isso
porque o não-funcionamento eficaz de B, C e D faz com que tais sintomas
não ocorram, mas na realidade internamente a coisa é ainda mais grave
porque sem a drenagem miasmática a pressão interna P aumenta a um
ponto tal que lança o organismo no quarto nível, o cancerínico. Os sinto-
mas são manifestações que, quando ausentes, nem sempre representam
ausência de P. Por outro lado, tudo pode estar funcionando perfeitamente,
em seu máximo de eficiência e mesmo assim o nível P pode estar altíssi-
mo. Isto ocorre quando A é superior à capacidade equilibrada de C, D e E.
Basicamente HAHNEMANN não poderia ter chegado a uma visão clara
do real sentido de miasma em decorrência da própria fisiologia da sua
época praticamente desconhecer os mecanismos defensivos e os sistemas
de cura do organismo.

Cancerinismo
4° nível

Syphilm1smo 17 /
3" "'"' 1/
Sycosys
2° Nível
17 I'

1/
/-------'

0~
Psora
1° Nível

~ ~ ~ ~ ~ A (Calor = Noxa)

FIGURA 1
222 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTU - 'A TEORIA MIASMATICA

A =B (condição ideal = Prosa latente)


A > B (Estado Psórico)
A = B + C (Psora descompensada)
A > B + C (Psora descompensada)

2o Nível = Sycosis
A = B + C + D (Sycosis compensada)
A > B + C + D (Sycosis descompensada)

3o Nível = Syphilinismo
A> B + C + D + E (Syphilinismo descompensado)
CAPÍTULO

CoNcLusões
Depois do estudo particularizado dos quadros miasmáticos, é
possível entender porque eles não podem ser considerados como terrenos
constitucionais, pois constituição equivale a manifestação genotípica, e
isto nem sempre ocorre nos miasmas.
É verdade que, em essência, um quadro miasmático é resultante,
muitas vezes, da incapacidade do organismo de libertar-se, de forma ideal,
dos agentes nocivos à vida. É verdade que algumas vezes essa incapacida-
de evidentemente reflete um estado constitucional.
Suponhamos que, por alguma condição genética, um organismo apre-
sente emunctórios imperfeitos e que isso o leve à condição psórica ou
mesmo o relegue a outros níveis miasmáticos mais acentuados. Só nesse
caso pode-se falar realmente em terreno.
Se a causa do estabelecimento de um quadro miasmático fossem apenas
lesões de natureza congênita num sistema de eliminação, seria aceita a idéia de
terreno, mas existem, como já vimos, inúmeras outras causas determinantes.
Fundamentalmente, relacionam-se essas causas a um dos ítens seguintes:

• Intensidade da noxa.
• Especificidade da noxa.
• Bloqueios dos dispositivos de eliminação.

INTENSIDADE DA NOXA

Como um estado miasmático pode decorrer da intensidade das no-


xas, nesse caso, a idéia de terreno miasmático deve ser totalmente afas-
226 ' HOMEOPATIA- CONTR!BUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

tada porque, por mais perfeito e equilibrado que seja o organismo, por
mais compatível que ele seja com a faixa da normalidade existencial
genotipicamente condicionada, inelutavelmente pode desenvolver um
quadro miasmático, se for exposto a uma noxa muito intensa. Dispensa-
remos a demonstração experimental porque diariamente chegam às mãos
dos clínicos casos que servem de comprovação para a hipótese que ela-
boramos em torno dos miasmas.
O agente mais inócuo que se possa imaginar é capaz de desencadear
um quadro miasmático, como a própria água, por exemplo, que não se
constitui, de forma alguma, num agente estranho ao organismo; pelo con-
trário, este é fundamentalmente água. Todo clínico já tratou de casos
provocados pela introdução de água em excesso no organismo através de
perfusões venosas errôneas, visando corrigir estados de desidratação.
Nesses casos, inicialmente aparecem diarréia, vômito, cefalgia (sinto-
mas psóricos) e depois, infiltração tissular, edema (estado hidrogenóide =
sicose) e um séquito de outros sintomas miasmáticos. Dispensaremos,
outra vez, comprovação da nossa hipótese em animais, por ser um fato
comum em clínica e já existirem experimentos clássicos, realizados com
outros objetivos, que se prestam admiravelmente para a comprovação do
que temos afirmado sobre os quadros miasmáticos. Referimo-nos, pois,
aos experimentos clássicos levados a cabo em laboratórios de fisiologia,
visando à demonstração do efeito do álcool sobre o organismo.
Em pequenas doses, o álcool é incorporado sem dificuldade à econo-
mia orgânica, não se manifestando sintomas em decorrência do seu apro-
veitamento orgânico. Aumentando-se, porém, a dose, começarão a surgir
sintomas de intoxicação alcoólica que, tanto na área psíquica como na
somática, assemelham-se aos observados em quadros miasmáticos. São
patentes os distúrbios provocados pelo álcool em vários setores do organis-
mo. Esses distúrbios, sem dúvida alguma, são idênticos aos determinados
pelos quadros miasmáticos.
Desse modo, também poderemos invocar, para comprovar tudo o que
afirmamos, as experiências realizadas em todos os departamentos de fisio-
logia, visando à identificação dos efeitos da intoxicação orgânica pelo
álcool e outras substâncias.
Na esfera psíquica, num quadro agudo de intoxicação alcoólica, vamos
ter: excitação e embotamento (psora), incremento da agressividade (sicose),
tendências agressivas destrutivas, delírios, alucinações, torpor e coma (sifili-
nismo) e distúrbios de conduta tipo desagregação psíquica (cancerinismo).
Na esfera somática, além de muitos outros sintomas, ocorrem náuse-
as, vômitos e manifestações toxêmicas, cefalalgias (psora), infiltrações
tissulares, edemas, hepatomegalia (sicose); lesões inflamatórias, necro-
ses e fibroses - especialmente hepáticas - cirroses e destruição do tecido
nervoso (sifilinismo ).
CONCLUSÕES • 227

Hoje, vêm sendo pesquisados em grande escala os fatores inerentes às


bebidas, responsáveis pelo câncer; mas mesmo se chegarem a ser determi-
nados, não se invalida o fato de que o próprio álcool, em certos casos,
pode levar o organismo a essa condição.
Qualquer clínico tem observado, na prática diária, muitos casos que
podem ser apresentados para apoiar nossa hipótese. Numerosos e freqüen-
tes são os casos de desidratação hipertônica, por erros ou imperícia em
esquemas de hidratação infantil. Esses esquemas de aplicação de eletróli-
tos, quando erroneamente executados, originam quadros idênticos, em
tudo, às manifestações psóricas agudas.
Afirmamos, pois, que qualquer substância, mesmo que ela seja comu-
mente encontrada no organismo, pode determinar quadros miasmáticos,
deixando a critério de cada um a escolha, bem como a análise dos resulta-
dos observados e a sua comprovação com os sintomas miasmáticos. Qual-
quer substância desperta sintomas de quadros miasmáticos se for introdu-
zida no organismo, além de certos limites, independentemente da existên-
cia de terreno constitucional hereditário.

ESPECIFICIDADE DA NOXA

Como vimos, as noxas podem ser específicas para determinados me-


canismos de eliminação e assim bloquear ou lesar uma via qualquer de
eliminação, independentemente de terreno, pois qualquer um pode ser
indistintamente lesado.
O agente etiológico é sempre um convidado e, desde que o "habitat"
lhe seja desfavorável, ele não se desenvolve, pois os mecanismos imunitá-
rios podem atuar eficientemente e eliminá-lo. A noxa primitiva não é o
microorganismo, mas a toxina contra a qual o indivíduo não dispõe de
tempo suficiente para esboçar defesas.

BLOQUEIOS DOS DISPOSITIVOS DE ELIMINAÇÃO

Aqui a noxa não transcende os limites em intensidade nem é de


natureza tão susceptível que não possa ser eliminada com certa facilidade.
Mas o organismo não possui condições de se libertar, porque os seus
sistemas bioquímicos não respondem ao estímulo. Nesses casos, pode-se,
algumas vezes, falar em terreno constitucional.
O bloqueio de um mecanismo de eliminação pode ser parcial ou total
e ter muitas causas: psíquicas, químicas ou físicas. Pode lesar, temporária
ou definitivamente, e mesmo modificar a estrutura gênica e, assim, perpe-
tuar o distúrbio hereditariamente.
228 ' HOMEOPATIA - CONTRIBUiçAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMA TICA

Para que a problemática paradoxal da hereditariedade e a cura dos


estados miasmáticos possam ser entendidas com clareza, vamos analisar
detalhadamente todas as causas e mecanismos dos bloqueios.

BLOQUEIOS FÍSICO-QUÍMICOS

Um mecanismo qualquer de eliminação. isto é. um componente de


um sistema miasmático, pode deixar de funcionar, total ou parcialmente,
em decorrência da ação bloqueadora de natureza mecânica, química ou
física, podendo esse bloqueio ser parcial ou total, conforme a intensidade
ou especificidade do agente determinante.
Nesse caso, a recuperação do paciente vai depender da natureza da
função prejudicada; se ela é vital ou não, e se pode ou não ser substituída
por outra. Muitos venenos e toxinas, por exemplo, atuam assim lesando os
sistemas de eliminação e de defesa, impossibilitando o organismo de se
libertar do agente agressor e de muitos outros fatores afins. Dessa forma
pode ocorrer intoxicação com destruição de funções, determinando um
bloqueio vital definitivo.
Um bloqueio sobre um sistema pode ser temporário e total sem preju-
dicar, contudo, funções vitais. Nesse caso, o paciente pode ser plenamente
curado.

BLOQUEIOS DE NATUREZA EMOCIONAL

Um estado psíquico condiciona a exacerbação ou a inibição funcio-


nal de um dispositivo qualquer, ocasionando um estado de eliminação
insuficiente, caracterizando assim um quadro miasmático. Nesse caso, a
cura é possível, pois normalmente a higidez do mecanismo comprometi-
do é absoluta, a não ser em raros casos, quando a noxa emocional é
capaz de determinar lesões definitivas, cujas conseqüências dependem
do setor danificado.

BLOQUEIOS POR "AMNÉSIA DE FUNÇÃO"

Vimos no capítulo 3 que toda célula tem memória própria. Qualquer


função biológica é comandada pela Inteligência Vital, que rege todas as
atividades através de diversas vias de interação e mediante um complexo
sistema de defesa do qual os processos imunológicos fazem parte.
Um órgão, após ter permanecido certo tempo inativo, mesmo estando
íntegro, pode não responder a determinado estímulo. Essa recusa está
ligada à memória das próprias células. Experiências biológicas muito re-
centes, realizadas com plantas, provam que parte da função de qualquer
estrutura viva depende muito dessa memória celular.
CONClUSÕES • 229

Nesse sentido, citamos antes o que acontece com indivíduos que mu-
dam de uma região para outra, de hábitos alimentares diferentes. Depois
de vários anos, se eles voltam a ingerir certos alimentos que antes eram
bem-aceitos, não mais são capazes, durante certo período, de digeri-los
perfeitamente. Mesmo ante o estímulo químico e a higidez do sistema
digestivo, o organismo não responde adequadamente.
Somente após estímulos sucessivos pode ocorrer a reativação de certos
mecanismos celulares, com a recuperação da função perdida. Uma função
depende dos estímulos diretos; da integridade do sistema intracelular; do
comando central, através de inúmeros mecanismos e de um quociente pró-·
prio da célula, a memória de função. Essa memória de função pode ser
ativada ou desativada mediante certos mecanismos bem-definidos.
Dessa forma, as funções inerentes à eliminação, nos diferentes níveis
miasmáticos, podem não entrar em operação ante estímulos adequados,
por motivo de "esquecimento" de função.
A maioria desses casos são susceptíveis de cura.

BLOQUEIOS POR PERTURBAÇÕES NAS VIAS DE INTERAÇÃO

Qualquer uma das vias de interação citadas anteriormente pode ser


bloqueda e assim, o comando central não se faz sentir ao nível das células,
impossibilitando a efetivação de função. Nesse caso, muitas vezes, recor-
re-se a outras medicinas para desimpedir os pontos de perturbações. Pode
ser um bloqueio dos alimentos, da energia fisiológica, da energia sutil etc.
Esse bloqueio pode ser de tipo susceptível de correção homeopática, mas
pode, muitas vezes, não o ser, ficando assim o caso para outras doutrinas,
como a Alopatia, a Acupuntura etc. Assim, certos quadros miasmáticos
podem ser decorrentes de bloqueios não-passíveis de tratamento homeopá-
tico pela sua própria natureza química ou obstrutiva. Nesse caso, pode-se
aliviar a pressão miasmática melhorando-se o rendimento dos outros me-
canismos de eliminação, mas a cura real não será assim obtida.

BLOQUEIO POR DISSINTONIA

Também merecem destaque muito especial os bloqueios por dissinto-


nia da terceira via de interação, determinados por um estado de desarmo-
nia entre a consciência do todo e as consciências das partes. Estímulos
muito sutis são capazes de danificar os ultradelicados mecanismos biológi-
cos de harmonização vibratória intracelulares, bloqueando a recepção das
mensagens integrativas. Assim, a função deixa de se cumprir por falta de
comando da Inteligência Vital.
Estes casos são passíveis de tratamento homeopático, a não ser que já
existam comprometimentos irreversíveis.
230 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

BLOQUEIOS CONGÊNITOS

Por hereditariedade, o indivíduo pode apresentar defeitos estruturais


em um ou mais dos sistemas de eliminação. Nesses casos, no passado
genealógico, algum fator ocasionou uma alteração genotípica e, daí em
diante, o indivíduo passou a transmitir o caráter deletério a seus descen-
dentes, segundo um padrão de dominância ou recessividade.
Nesse caso, a condição miasmática constitui verdadeiramente um ter-
reno e, como tal, ela é incurável. O máximo que se pode fazer em benefí-
cio de um indivíduo com esse tipo de bloqueio é melhorar o funcionamen-
to dos outros mecanismos não-comprometidos genotipicamente, favore-
cendo assim as eliminações noxais. Compensar a função através de outros
mecanismos (já que com relação aos constitucionalmente lesados nada
pode ser feito), é o máximo que se pode dispensar ao paciente.
Por isso, encontram-se muitos indivíduos com características miasmáti-
cas dinâmicas condicionadas genotipicamente e de caráter incurável. Contu-
do, muitos sinais e estigmas são apenas características indicativas de que, no
passado, um dos seus ancestrais foi atingido por uma condição miasmática
que lhe determinou certos sinais sem atingir, contudo, mecanismos funcio-
nais. Portanto, esses estigmas são apenas lembranças de um passado mias-
mático ancestral e não necessariamente indicadores de um terreno predis-
posto pois, a despeito desses sinais-vestígios, pode existir uma estrutura
dinâmica sem lesões e, portanto, muito eficiente. Um organismo assim,
mesmo com sinais remanescentes de uma ancestralidade miasmática, pode
ser capaz de resistir às pressões noxais comuns sem desenvolver quadros
ativos. O aspecto da estrutura física pode indicar apenas o passado miasmá-
tico mas, de maneira alguma, a presença de um campo de predisposição.
Por isso é que podemos encontrar indivíduos com um séquito enorme
de sinais cutâneos e excrescências características de um estado sicótico,
mas que se expõem diariamente a, por exemplo, uma infecção gonorréica,
sem que jamais venham a apresentar um quadro sicótico ativo.

BLOQUEIOS GESTAC/ONAIS

Durante o período gestacional, o feto vive sob a influência de inúmeras


condições maternas, particularmente as que dependem de fatores humorais.
Na gestante sicótica, por exemplo, o feto vive submetido à pressão
desse miasma, que pode lesá-lo. No estado sicótico, ela pode liberar certas
toxinas que são noxas miasmatizantes específicas, isto é, substâncias que
bloqueiam, ou mesmo danificam, determinados sistemas de eliminação. As-
sim sendo, o feto, ao nascer, pode apresentar-se com lesões miasmáticas
definitivas. Nesse caso, é válido falar-se em terreno congénito, e a lesão
tanto pode ser de natureza fenotípica quanto genotípica. Se ela atingir ape-
CONCLUSÓES t 231

nas a estrutura, leva o organismo a um quadro miasmático existencial, mas


não hereditário. Assim, pode-se afirmar ser esse quadro uma condição cons-
titucional mas não propriamente um terreno hereditário. Em certos casos a
pressão noxal pode chegar a ser muito elevada, a ponto de desenvolver no
feto características somáticas próprias de um quadro miasmático hereditário.
Uma situação menos grave ocorre quando a noxa transferida do orga-
nismo materno para o fetal não lesa nenhum órgão, determinando apenas
bloqueio químico reversível. Nesse caso, o feto, durante todo o período
gestacional, permanece em condição miasmática, com a qual pode nascer
mas, como esse estado não foi determinado por atuação de uma noxa
originária de seu próprio organismo, tão logo ele tenha vida independente
entrarão em função seus mecanismos de eliminação e assim, o estado
miasmático dissipar-se-á naturalmente.
No período de gestação, grande parte das funções do feto é preenchida
pelo organismo matemo. Enquanto o feto depender desse organismo, sofrerá
praticamente os mesmos níveis de pressão miasmática; se não vier a sofrer
lesões dos seus próprios sistemas de eliminação, ao nascer, estes naturalmente
entrarão em atividade, aliviando a pressão exonerativa imediatamente, liber-
tando a criança da condição estabelecida durante a vida intra-uterina. Assim, o
possível estado miasmático inicial não persistirá por muito tempo. Isto é, pode
ocorrer que um organismo recém-nascido apresente sinais miasmáticos
ativos, logo silenciados e, daí em diante, ele passe a resistir muito bem às
pressões normais, sem qualquer predisposição miasmática evidente.
Essas considerações permitem afirmar que a idéia de terreno não é tão
importante quanto se pode julgar à primeira vista. Os sinais físicos estáti-
cos não têm tanta importância na avaliação de um quadro miasmático
quanto os sintomas dinâmicos. No indivíduo sicótico, por exemplo, todos
os sinais físicos podem ser apenas um "carimbo" materno. Avaliar o indi-
víduo por esses sinais não é bastante pois eles podem representar mais a
condição miasmática ancestral que a individual.

BLOQUEIOS POR MEMÓRIA HEREDITÁRIA

Existe um tipo de bloqueio muito mais sutil que todos os demais, mas
nem por isso pouco importante.
A memória funcional pode perpetuar-se de um indivíduo para outro.
Uma característica psicológica, como têm demonstrado estudos recentes
de psicologia, especialmente os levados a efeito pela Escola de Szondi,
que provam que certas características se perpetuam sem obedecer às leis
comuns da genética.
Hoje é tido como certo que a memória funcional de qualquer órgão se
perpetua através de gerações. Experiências desenvolvidas atualmente nos
institutos de psicologia vêm provar que certas funções, reflexos condicio-
232 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATilA

nados, percepções e memória, são susceptíveis de serem transmitidas aos


descendentes, por um mecanismo diferente dos conhecidos da genética
clássica. Embora isso já houvesse sido notado há bastante tempo, o meca-
nismo em jogo permaneceu desconhecido, até descobrir-se que, mesmo a
célula mais simples, era portadora de uma memória própria, capaz de ser
transmitida hereditariamente.
Dessa forma, a função de um órgão depende estreitamente dos fatores
estudados pela fisiologia clássica c também, da própria memória celular.
Se esta pode hereditariamente ser transmitida, logo a funcionalidade de
um órgão também o pode.
Assim sendo, após um indivíduo ter passado muitos anos sob uma
condição miasmática, resultante do bloqueio de uma função, a memória da
inatividade que determina o quadro miasmático pode ser transmitida de
uma pessoa para outra na seqüência genealógica.
Nesse caso o quadro é perfeitamente curável, porque o órgão está
íntregro; apenas a suas células são portadoras de uma amnésia funcional
que pode ser corrigida.
Também neste caso há transmissão hereditária, mas de modo muito
especial, que não altera a natureza própria dos genes, pois ocorre apenas a
transmissão de um registro de informação que não caracteriza uma muta-
ção. Dessa maneira, há realmente uma hereditariedade, mas plenamente
susceptível de cura.
Após todas essas considerações, é fácil sentir que fatores hereditários
ligados aos miasmas são capazes de condicionar perturbações do terreno
constitucional, com o possível estabelecimento de uma condição miasmáti-
ca; por outro lado, também existem muitas outras situações em que o quadro
se estabelece independentemente de qualquer predisposição hereditária.
Pelo que dissemos neste capítulo, uma condição miasmática pode ser
transmitida facilmente de mãe para filho mediante lesões impostas ao orga-
nismo fetal por agentes transmitidos pela gestante, causando bloqueios cuja
importância dependerá da qualidade e da intensidade desses agentes.
Um indivíduo, por todas as causas apontadas, pode ter inúmeros siste-
mas bloqueados mas, vivendo ele em regime muito moderado, ou mesmo
carente de certas noxas, jamais desenvolverá um quadro miasmático. Por
exemplo, mesmo que os emunctórios de uma pessoa sejam bastante inefi-
cientes, ela jamais desenvolverá um quadro psórico por viver num regime
de pouca pressão noxal. Porém, se tiver contacto com certos agentes no-
xais, facilmente desenvolverá um quadro miasmático. Suponhamos uma
pessoa em nível sicótico c que ofereça, portanto, um "habitat" uretra! ideal
para o desenvolvimento da gonorréia. Se ela não tiver contato com os
agentes causais, por certo, pode não contrair a doença; caso contrário, será
facilmente infectada, originando-se toxinas que irão agravar ainda mais o
quadro miasmático, bloqueando outros mecanismos específicos de elimi-
CONCLUSOES • 233

nação. O quadro sicótico, em conseqüência, vai exacerbar-se consideravel-


mente e a pessoa, que já vivia em estado de sicose latente - pois do
contrário não se contaminaria - passa a apresentar um quadro ativo.
Assim pode-se compreender porque certos agentes desenvolvem qua-
dros miasmáticos aparentes, quando, na realidade, eles apenas ativam con-
dições já existentes.
É isso o que acontece com a sarna, em relação à psora; à sífilis, em
relação ao sifilinismo etc. É desse modo que se efetiva o que se julga ser um
contágio miasmático. É evidente que não existe, a rigor, esse tipo de contá-
gio, porque não existe um elemento ativo único que contamine o organismo e
que possa ser identificado como sendo o responsável direto por um estado
miasmático. Os agentes biológicos não são causa direta de qualquer quadro
miasmático. A sarna não é causa da psora, embora suas secreções possam ser
agravantes de um quadro já estabelecido. Ela só se estabelece quando já existe
a psora, portanto, o agente responsável não pode ser o Sarcoptus scabiei.
A toxina do gonococo é, evidentemente, um agente agravante da
sicose, mas, na prática, não é a sua causa primitiva, porque ela não pode
existir num organismo se não houver o seu agente produtor (a menos que
seja inoculada propositadamente) e este, por sua vez, não pode existir se
não houver um "habitat" ideal criado pela condição sicótica. Nessas condi-
ções só se pode admitir ser a toxina gonocócica um elemento de agravação
da sicose. Evidentemente, a toxina gonorréica, tendo a capacidade de agir
como noxa específica, bloqueando certos mecanismos de eliminação sicó-
ticos, além de agravar o quadro existente, pode mesmo desencadear um
estado miasmático mais acentuado mas, neste caso, o agente patógeno,
embora ligado à Sicose, seria responsável pelo quadro subseqüente.
Há doenças que são tidas como próprias de certos quadros miasmáticos,
porque as toxinas dos seus agentes etiológicos agem como noxas agravantes
desses quadros. Mas isso acontece porque quando o quadro ativo, porém
sintomatologicamente silencioso, passa a ser campo desses agentes etiológi-
cos, o estado miasmático manifesta-se de forma exuberante. Isso levou a que
se admitisse a idéia de terreno predisposto. Na realidade, o terreno não é
predisposto a contrair o estado miasmático e sim a doença, porque ele já é o
próprio estado miasmático favorecedor da infecção, o próprio quadro mias-
mático plenamente estabelecido, porém com carência de sintomas marcan-
tes. Então, quando certas infecções se fazem presentes em um quadro laten-
te, passa a ser muito ativo, caracterizando, assim, muitos sintomas próprios
e definidos do quadro miasmático de fundo.
Poderíamos esquematicamente comparar o organismo a um sistema
hidráulico de quatro depósitos interligados em níveis diferentes, represen-
tando o depósito inferior, o miasma psórico e o superior, o cancerínico e
cada depósito possuindo muitos pontos de vazão, destinados ao estabeleci-
mento do equilíbrio da pressão interna do sistema.
234 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÁO AO ESTUDO DA TEORIA M/ASMATICA

Se for introduzido certo volume no depósito inferior, além do volu-


me correspondente à sua capacidade normal de armazenamento e da sua
capacidade de drenagem pelos pontos de vazão ou mesmo, sendo o
volume adicional introduzido aquém do volume de sua capacidade nor-
mal de vazão, mas estando os drenas obstruídos, o volume penetrará no
depósito seguinte e assim sucessivamente. Para que este seja alcançado
não é preciso que todos os pontos de vazão de um depósito inferior
estejam ou não em plena atividade.
Esse exemplo facilita o entendimento do panorama global dos qua-
dros miasmáticos. Tudo o que determina um aumento de pressão noxal em
certo nível, pode ativar os níveis seguintes. Fechar um ponto qualquer de
vazão equivale a incrementar a pressão em todo o sistema.
Para corrigir o equilíbrio perdido, é indispensável fazer com que o
fluxo diminua ou que a vazão se processe o mais eficientemente possível
nos níveis inferiores. Assim sendo, liberar a exoneração ao nível da Psora
equivale a aliviar os demais estados miasmáticos.
Por isso, o tratamento miasmático deve visar ao alívio de um estado
miasmático pela diminuição da pressão em níveis inferiores, o que vai
ocasionar, por certo, a remissão dos sintomas mais acentuados.
Acontece freqüentemente, na prática, que pacientes com quadro con-
vulsivo lesionai, portanto sifilínico, cessem de manifestar convulsões após
tratamento homeopático com remédio antipsórico, como o Calcium carbo-
nium, por exemplo. Como pode um remédio antipsórico curar um estado
sifilínico? A resposta foi dada antes. Aqui cabe uma observação de certa
importância: existem medicamentos que atuam em todos os níveis mias-
máticos, porém é erróneo pensar que todos os medicametos são trimiasmá-
ticos, assim como todos os indivíduos. Esta idéia existe pela mesma razão
de haver muitos erros em torno da teoria dos miasmas: desconhecimento,
até o presente, do que era conhecido como miasma.
Evidentemente, como o indivíduo, dependendo da especificidade da
noxa bem como da sua intensidade pode responder em qualquer nível
miasmático, aceita-se a idéia de que qualquer pessoa é trimiasmática
(melhor seria dizer: tetramiasmática). Por outro lado, como pelo melho-
ramento dos emunctórios, por exemplo, (o que equivale a melhorar o
estado psórico do organismo) se consegue diminuir a pressão de elimina-
ção ao nível de estados miasmáticos mais acentuados, melhorando, por-
tanto, os quadros desses miasmas, isto faz crer que o remédio agiu como
um polimiasmático. Mas isto é ilusório. Já, dissemos, há medicamentos
que atuam sobre mais de um nível miasmático, mas muitos são unimias-
máticos. Quando atuam sobre quadros miasmáticos diferentes, isso de-
corre precisamente da ação específica sobre o nível próprio, mas que se
reflete sobre os demais pois, baixando a pressão da eliminação, todo o
quadro mais acentuado se superficializa.
CONCLUSÕES 0 235

O Calcium carbonium, no caso citado acima, não age como anti-


sifilínico e sim como antipsórico mas, melhorando as atividades emuncto-
riais do organismo, a pressão de "pôr para fora" cai do nível 3 para o nível
1 ou 2. Em decorrência disso a cura sifilínica ocorre com um remédio
antipsórico, embora isso não signifique que o remédio haja atuado nos
mecanismos sifilínicos propriamente.
Mesmo o quarto nível, o Cancerínico, pode ser tratado dessa maneira;
mas isso já é muito difícil, porque, além da própria pressão noxal, têm que
ser levados em conta os focos de desagregação tissular caracterizada pela
proliferação anárquica e independente do controle vital. Mesmo que se
diminua a pressão, embora não apareçam novos núcleos, os núcleos inde-
pendentes continuam proliferando.
Mas alguma coisa pode ser feita mediante um tratamento miasmático
bem orientado, desde que consiga reativar os sistemas de eliminação que
estiverem sob bloqueio, reduzindo, assim, a pressão de rejeição para um
nível inferior, ou mesmo reduzindo a oferta noxal. Assim só restarão os
núcleos já formados, mas, como já explanamos, os processos imunológi-
cos ainda podem atuar sobre células cancerosas, destruindo o tumor.
Dessa forma, enquanto o tratamento miasmático libera o organismo
do nível de pressão cancerínica, os núcleos já existentes são destruídos
pelos mecanismos imunológicos clássicos.
Após a volta do organismo para níveis miasmáticos inferiores, é
lícita a eliminação dos tumores mediante cirurgia e em última instân-
cia, recorrendo a doses moderadas de irradiações adequadas. A forma
atual de utilização desses métodos é um absurdo, pois uma vez elimi-
nados os núcleos, outros aparecerão, porque a pressão miasmática cau-
sal continua existindo sem qualquer orientação. Nessas condições o
tratamento do câncer, no futuro, talvez possa ser efetivo graças ao
tratamento do quadro miasmático geral, associado a métodos imunoló-
gicos ou cirúrgicos, nos casos em que somente a queda de pressão
miasmática não basta para eliminar o tumor.
Até mesmo a cura de certas condições sifilínicas muitas vezes, é
problemática porque, mesmo reduzindo a pressão noxal para um nível
inferior, devem ser levadas em conta as seqüelas e os bloqueios definitivos
que persistirão. Os níveis miasmáticos superiores são lesionais e, portanto,
como as seqüelas, permanecem; a recuperação funcional vai depender da
importância vital do órgão ou mecanismo atingido. Nesses casos, no máxi-
mo. pode-se curar fazendo com que mecanismos de níveis inferiores ainda
íntegros sejam reativados ou melhorados quanto ao índice de rendimento,
diminuindo, assim, a pressão de rejeição o bastante para reequilibrar o
sistema e dispensando das atividades os que foram danificados.
Tecidas essas considerações, acreditamos haver explicado o paradoxo
inerente ao contágio, hereditariedade e cura dos estados miasmáticos.
236 1 HOMEOPATIA - CONTRIBU/çAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

CONTÁGIO

Não há agente vivo algum transmissível, que possa ser responsabiliza-


do diretamente pela instalação de um estado miasmático primário.
As toxinas microbianas são noxas e, como tais, podem participar do
estabelecimento de um quadro miasmático, mas é praticamente impossível elas
existirem num organismo sem a presença do germe produtor, que só se estabe-
lece quando o "habitat" é favorável, isto é, somente quando um estado miasmá-
tico se faz presente. Em outras palavras, a toxina microbiana deve ser aceita
indiscutivelmente como um fator noxal, mas o que se transmite por contágio é
o germe, e este não pode contaminar um organismo sem que exista nele o
quadro miasmático determinante do "habitat" ideal para o mencionado agente.
Como referimos antes, uma forma de contágio intra-uterino é capaz
de lesar o organismo fetal, em caráter permanente ou temporário. Mas,
mesmo nesse caso, ocorre primeiro a transferência de outros agentes no-
xais (mesmo que seja a toxina) que vão bloquear os mecanismos fetais
estabelecendo o estado miasmático primário.
Qualquer contágio congênito, a sífilis, por exemplo, só atinge o feto
porque o organismo materno, antes, determina nele a condição sifilínica,
facilitando, assim o desenvolvimento do Treponema pallidum. Em qualquer
contágio congênito, a pressão noxal existente no organismo materno atua
primeiro sobre o feto, criando nele o estado miasmático, para só na etapa
seguinte, determinar o contágio microbiano. É, pois, a pressão global de
rejeição, já existente no organismo materno, quem vai lesar o feto, desenvol-
vendo um quadro miasmático que poderá ou não ser de natureza reversível.
Mas primeiramente, contudo, a ação que se faz presente não é a do
microorganismo ou de outro agente miasmático individualizado, e sim a
pressão de rejeição provocada por fatores de natureza vária, transferida
diretamente para o feto.
A Inteligência Vital comanda a pressão de rejeição de forma não-
dirigida, por meio dos mecanismos de interação (incluindo os imunológi-
cos) e ela tanto se faz sentir no organismo materno, quanto no fetal, por
existirem relações diretas entre ambos.
Fora essas considerações, a contaminação miasmática não existe de
forma alguma. O que se pode transferir são as noxas, que tornarão o
sistema de eliminação insuficiente, determinando um estado miasmático
favorável à instalação do agente patógeno.

HEREDITARIEDADE

No tocante aos miasmas, ela pode ser constatada em alguns casos,


quando uma noxa ocasiona um distúrbio ao nível do código genético,
CONCLUSÕES • 237

caracterizando uma mutação. Nesses casos, se o gene for dominante, a


característica manifestar-se-á em cada geração e, se recessivo, aparecerá
quando houver combinação adequada.
Seja qual for o caso, não pode, de forma alguma, haver cura, pois
terreno hereditário é uma condição imutável (ressalve-se a hereditariedade
de memória).
Ante um caso dessa natureza, pode-se, no máximo, drenar a pressão
miasmática, de modo que as funções inerentes aos órgãos hereditariamente
atingidos sejam substituídas por outras, estabelecendo-se assim a condição
de equilíbrio. Jamais o órgão ou uma função alterada será recuperado.
Também evidenciamos que os sinais físicos característicos de um
estado miasmático podem refletir a existência de um quadro ativo mas,
muitas vezes, traduzem uma ancestralidade miasmática.
Há pessoas portadoras de sinais, de estigmas sicóticos, que se expõem
permanentemente a agentes de rigorosa predileção pelo estado sicótico
(agentes que só se desenvolvem quando o indivíduo se apresenta em fase
sicótica) mas que nunca contraem a infecção. Podem, inclusive, apresentar
maior resistência do que outras sem qualquer sinal cutâneo de sicose.
O termo "terreno" predisposto de Sicose não corresponde à verdade.
A estruturação de um organismo pode ser hereditária e este nascer com
dificuldade constitucional para se libertar da pressão noxal. Isso corres-
ponde evidentemente a um terreno constitucional, mas, nesses casos, a
cura miasmática é praticamente impossível; no máximo pode-se instalar
um equilíbrio por compensação funcional, como veremos mais adiante. A
hereditariedade miasmática é algo muito especial, razão pela qual os estu-
diosos têm encontrado tanta dificuldade em conciliar o caráter hereditário
com as possibilidades de cura.
O que está ligado à hereditariedade mendeliana é o estado de higidez
de um sistema eliminador; é o maior ou menor grau de capacidade funci-
onal de órgãos responsáveis. primária ou secundariamente, pelos processos
de defesa contra a pressão noxal. Isso não deixa de ser realmente um
terreno, porém é apenas parte do quadro miasmático global.
A hereditariedade pode condicionar o organismo a responder às deter-
minadas noxas de uma maneira peculiar, que, como veremos adiante,
caracteriza o miasma e o próprio remédio. Mas, normalmente, isso só se
evidencia quando a noxa atinge certo limite. Assim, é bastante a diminui-
ção da oferta noxal para que haja mudança de miasma, bem como do
próprio remédio de fundo.
Como assinalamos antes, num caso em que existe lesão definitiva,
quando o homeopata julga haver conseguido uma presumível cura, na
realidade conseguiu apenas melhorar outros sistemas que estavam silenci-
osos e, através destes, aliviou a pressão noxal, dispensando assim, o funci-
onamento dos mecanismos comprometidos.
238 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

Isso acontece porque o tratamento homeopático, evidentemente, leva


o organismo ao máximo de sintonia, reativando desta forma todas as fun-
ções silenciosas, removendo os bloqueios temporários e diminuindo a so-
brecarga que hiperativava alguns órgãos, fazendo o sistema recobrar a
harmonia funcional perdida. Essa substituição funcional torna-se possível
porque muitas funções orgânicas podem ser desempenhadas por vários
órgãos. Assim sendo, uma atividade excluída, que determina um estado de
eliminação insuficiente, pode ser dispensada, quando outro mecanismo
que estava silencioso ou hipofuncionante volta à normalidade, ocorrendo,
desse modo, uma substituição de função suficiente para manter o organis-
mo dentro da faixa de normalidade.

TRATAMENTO

Evidentemente, o quadro sintomático é o que caracteriza o estado


miasmático do indivíduo e não somente isto, caracteriza também o próprio
remédio homeopático.
Uma pessoa pode apresentar uma série de características resultantes
do que entra ou não entra em funcionamento, perfazendo, assim, o quadro
sintomático que vai caracterizar o remédio. Se um indivíduo "está Sulfur"
é porque apresenta um quadro sintomático característico do que está funci-
onando a mais ou menos, e das conseqüências desse funcionamento, tanto
na área somática, como na psíquica.
Vejamos o caso da Psora. Sempre que o distúrbio existir ao nível das
funções cmunctoriais, estará caracterizado esse estado miasmático. Mas os
quadros de distúrbios emunctoriais possíveis não são sempre os mesmos;
eles variam de um indivíduo para outro. Pode haver grandes variações do
que funciona a mais ou a menos no campo dos emunctórios.
Assim, pode haver indivíduos que apresentam distúrbios semelhantes
em seus mecanismos emunctoriais; outros, com comprometimentos
emunctoriais, porém diferentes daqueles, e assim por diante. Como todos
os grupos têm distúrbios emunctoriais, estão, conseqüentemente, ligados a
um mesmo quadro miasmático (psórico) mas as características próprias de
cada grupo caracterizam o medicamento. Na Sicose, por exemplo, caracte-
rizada pelos distúrbios dos sistemas secretores (excreções vicariantes ),
sendo várias as mucosas secretoras, nem todas respondem ao mesmo tem-
po e de maneira idêntica. Há grupos com formas de respostas semelhantes
que caracterizam os remédios sicóticos.
A mesma situação existe dentro do campo de cada quadro miasmático.
Nas associações miasmáticas, a situação é semelhante: grupos que, ao
nível da Psora, apresentam tais e tais perturbações emunctoriais; ao nível
da Sicose, tais c tais alterações secretivas, estabelecendo-se um quadro de
CONCLUSÕES 0 239

sintomas que definem tanto os miasmas em associação, quanto os medica-


mentos; concomitantemente, grupos que podem apresentar outros compro-
metimentos dos emunctórios e de outras mucosas secretivas. Ambos são
bimiasmáticos, tipo psórico/sicótico (1 :2) ou (2: 1), mas com sintomas
diferentes, que vão definir remédios também diferentes.
No tratamento homeopático, muitos dispositivos que funcionavam ou
deixavam de funcionar, passam a apresentar um ritmo diferente de ativida-
de; assim, passando a ser outro o quadro que caracterizava o paciente
submetido a determinado remédio, este último também mudará durante o
tratamento.
Agora suponhamos um paciente que nasce com certas características
em seu sistema emunctorial. que fazem com que, ante as noxas, ele secrete
ou deixe de secretar certas substâncias. mantendo o organismo em regime de
eliminação insuficiente, ou seja. em quadro miasmático psórico. Dentro do
quadro miasmático, alguns dispositivos excretores (que, aliás, vão muito
além dos citados pela fisiologia clássica) eliminam a mais e outros a menos;
outros podem mesmo permanecer silenciosos. De acordo com a combinação
em jogo, as eliminações apresentarão características físico-químicas própri-
as. O suor, por exemplo, terá certo grau de acidez, odor e densidade diferen-
te e conterá muitos catabólitos em proporções diferentes do normal. Tudo
isso definido de acordo com as células que secretam a mais ou a menos que
o normal e das substâncias que foram eliminadas pelo organismo diretamen-
te ou após transformações. Isso é um quadro psórico e caracteriza, dentro
desse quadro miasmático, um certo medicamento.
O indivíduo é "Sulfur" porque há distúrbios nos seus emunctórios que
fazem com que eles secretem ou deixem de secretar determinadas substân-
cias. Essas, devido às suas características, lesam a pele de modo peculiar,
originando sensações próprias e determinando a presença ou ausência de
certas substâncias, condicionando um tipo de função, quer na área somáti-
ca, quer na psíquica, que define o indivíduo como tal medicamento.
Quando esse medicamento é administrado, o quadro funcional pode
se modificar, pois, sob a ação do próprio medicamento, outras glândulas
podem entrar em operação, outros grupos celulares podem aumentar ou
diminuir as suas funções em torno de um índice normal, dando outras
características ao quadro e definindo outro medicamento.
Por isso é comum, durante o tratamento homeopático, haver mudança
de remédio. (Quando o distúrbio for hereditário, constitucional e, portanto,
imutável, podemos dizer: o indivíduo é tal remédio. Porém quando o
quadro for mutável, devemos dizer: o indivíduo está tal remédio).
Não somente o quadro do medicamento, mas o próprio quadro mias-
mático podem, portanto, mudar. É válido observar que, em alguns casos, o
organismo proceda a eliminações mucosas, caracterizando um estado sicó-
tico, porém isso pode existir apenas em decorrência de uma perturbação
240 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

emunctorial, não possibilitando vazão da pressão noxal. Mas, com o trata-


mento, o funcionamento dos emunctórios aumenta; os que estavam silenci-
osos voltam a funcionar e o quadro geral volta ao equilíbrio. Assim, inevi-
tavelmente, os sintomas sicóticos desaparecerão mediante um equilíbrio
ao nível psórico.
Assim explica-se como, durante o tratamento, ocorre a mudança do
quadro miasmático, bem como a do próprio quadro caracterizador do
remédio.
A própria sintomatologia psíquica muda, exatamente porque o quadro
mental do paciente depende, em grande parte, do grau de intoxicação
endógena, da presença ou ausência de certas substâncias e do índice de
estímulos somáticos. Dessa forma, todas as condições que se estabelecem
na área somática criam um estado que podemos, se bem que impropria-
mente, chamar de "intoxicação", ao qual corresponde um quadro psíquico
definido.
Os estados miasmáticos, portanto, são manifestações sintomáticas de
quadros reativos de defesa contra a carga de estímulos que é imposta aos
seres vivos em geral e ao homem em particular. São sistemas de liberta-
ção, mediante os quais o organismo tenta assegurar o reequilíbrio vital. Os
miasmas são, portanto, formas de defesa orgânica que envolvem inúmeros
processos, mas nenhum deles diferentes dos já cohecidos e estudados pela
fisiologia clássica.
Assim, o elemento nefasto à vida não é propriamente o miasma e sim
as noxas. Sem o desenvolvimento dos estados miasmáticos, o organismo
sucumbiria ante as ações dos agentes nocivos.
Todas as reações orgânicas inerentes aos estados miasmáticos são
bem conhecidas da fisiologia e, por isso, destituídas de quaisquer conota-
ções místicas. São elas as atividades imunológicas, os sistemas de elimina-
ção, os princípios de rejeição, os diferentes tipos de níveis de respostas aos
estímulos; enfim, todo o complexo de atividades exonerativas.

Acreditamos que este trabalho tenha contribuído para simplificar a


problemática relativa aos miasmas, tornando-a mais racional, mais cientí-
fica e menos mística, enigmática e empírica.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

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242 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

CITAÇÕES

ALLEN. J. Henry. Los Miasmas Cronicas. Psora y Pseudosora. 1• ed.,


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INDICE
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Acne, 131 psora, 89
ADN, 32, 37, 52 sicose, 121
Afecções cutâneas, 127, 131 sifilinismo, 142
Agentes, 26, 29, 62, 72, 94 respiratória, 96
Agressão do meio sensorial
exterior, I 09 sitilinismo, 142
interior, I 09 somática, 49, 177
Agressividade, 122, 143 cancerinismo, 165
Água, 94 psora, 92
Álcool, 49, 226 sicose, 125
Alergia, 43, I 00 sífilis, 151
Allen, T. F.59, 106, 181 ARN, 52, 53
Amnésia de função, 143 Associações miasmáticas, 175
Angústia existencial (psora), 90 Autodestruição, 143
Ansiedade, 90
Antimonium crud. 180
Aparelho B
cardiovascular, I 02
digestivo, 95 Backster, C 51
distúrbios do, 96 Bearzi, V. T. 88
respiratório, 130 Bernard, Henry 128
sicose, 130 Bidu dei Blanco, J. 32
tuberculinismo, 181 Biologia molecular, 37, 53
Apuntes sobre os miasmas, 66 Bloqueios
Área amnésia de função, 228
digestiva congênitos, 230
psora, 95 dissintonia, 229
244 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

emocional, 228 Comportamento


físico-químicos, 228 distúrbios 90, 122, 164
gestacionais, 230 mental 165
mecanismos de eliminação, 227 Comte, Augusto 36
memória hereditária, 231 Concreções, formação de 126
vias de interação, 229 Condorcet (Antine caritat, marquis de) 36
Bouer. J. 65 Conduta ver Comportamento
Conium mac. 180
Consciência
c diretora 43, 167
moral 108, 123, 144
Calcium carb. 234 vital 88, 89, 92, 151
Câncer Consenso orgânico 43, 77
psórico 162 Contágio 71, 236
sicótico 162 Congênito 236
sifilínico 162 miasmático 233
Cancerinismo 157 microbiano 236
área mental 163 Contaminação miasmática 236
área somática 165 Controle inteligente 28, 32
causas 166 Criminalidade 143, 146
cura 172 Cromossomas 37
desagregação celular 161 Cura 32, 65, 169, 229, 232, ver também
sistemas imunológicos tratamento
distúrbios dos 167 cancerinismo 172
tratamento 172 miasmática 72
Cannon, Walter 27 impossibilidade da 237
Cansaço mental I 03 resistência à 62
Catgut (frio cirúrgico) 68, 132 sifilínica 235
Células 28, 44. 53, 79, 89
cancerosas 235
cerebrais 123 D
endoteliais 147
excretoras 120 Demarque, Denis 80, 82
memória 231 Depressão
nervosas 123, 164 psora 90
perda do controle 168 sicose 122
secretoras 120 Derrames 126
somáticas 164 Desarmonia, estado de 23
vegetal 51 Descartes, René 48
Cérebro 31, 143 Desconfiança 121
Chan, diwan H. 65 Desequilíbrio
Cicenia, Nicolas M. 63 meio ambiente 108
Circulação orgânico 17
linfática 148 do ser 108, I 09
sangüínea 148 Destino biológico 28
Código genético 28, 38, 79, 162, 166, 236 Desvios sexuais 122
Comando inteligente 43, 80, 89, 167 Diarréia 97
INOICE • 245

Diátese 65 Esta se
pro li fera ti va I I 9 circulatória 15 I
Digestão ver Aparelho digestivo sangüínea 136
Dinamismo vital 82 Ética 107
Diretriz inteligente 40 Excrescencias cutâneas 68
Diurese 49 Exérese
Doença 67, 82, 233 glândulas 135
agravação 94 proliferações benignas 135
profunda 67 Eyzayaga, F. X. 67
trimiasmática I 59
Dor 151
Doutrina miasmática 59 F
Dreno I 53, I 73, 234
Fadiga 103
Faixa Existecial 27
E Faixa Existencial Ideal 89, 108
Faixa Homeostática 27
Faixa Patológica Irreversível 27
Ego 50, 90, I 20
Faixa patológica Reversível 27
Egyhazie, A. 52
Febre 101
Eliminação Feto 230, 236
natural Folículos 41
exacerbação 93 Força Vital 27, 40, 43, 78, 85
noxas 179 Fundo (mi asmático) 67
mecanismos de I 80
bloqueios 17, 225, 227
sistemas de 239 G
Eliminações
catabólicas 164 Galvanômetros 52
orgânicas Gamaglobuli nas
contenção I 08 inoculação de 70, 133
mau odor 116 Gangrena 150
Elizalde, Masi 136 Gene 27, 36, 53, 232, 236
Emunctórios 48, 92, 125, 173 Genótipo 71
Enxerto ver Transplantes, Implante Ghatak, N. 71, 107
Epitélios 148 Glândulas
Equilíbrio exérese 135
emocional 90 Goldstein, S. 47
orgânico 26 Gonorréia 62, 68, 129, 135, 153, 232
vital 162, 168, 179 Graphites 180
Escada espiral da vida 37 Grosso, A. J. 63
Esquizofrenia 163 Guticrrez, C. A: 63
Estado
hidrogenóide 126
mi asmático H
mudança do 239
reações orgânicas do 239 Hahnemnn, Samuel 61, 112, 159, 181
mórbido 65 Hemofilia 73
246 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMÃTICA

Hemorróidas 98, 149 K


Hepatócitos 166
Hereditariedade 37, 72, 73, 232, 236 Kant, F. 36
miasmática 236 Kendrew, John 37
Hiperatividade kent, James Tyler 72, 87, I 06
aparelho digestivo 95 Koch. Robert 62
células 125
funções normais 90, 92, 94, 180
mental 92 L
Hipnose, indução à 30
Homeopata unicista Lakowsky, 32
medicamento 112 Lissen, R. 52
Homeostase 27, 47, 81, 83 Lupasco, S. 52
Hydes, Holdar 52

Maffei, W. E. 48
Idéias obsessivas 122 Matéria médica 66
Imaginação, A 143 Material plástico energético 79, 83, 162
Implante Mecanismo
fragmentos de placenta 133 humoral 29
Impulsos fóbicos 120 nervoso 29
Imunidade natural 26 Mecanismos
distúrbios 167 citofisiológicos 150
Imunologia 134, 151 de contenção 127
Inconsciente coletivo 54 de defesas 71, 160, 170, 240
Inoculação de interação 162
células placentárias 134 físico-químicos 38, 40
proteínas heterólogas 68, 133 imunológicos 235, 240
catgut 68, 134 miasmáticos 172
gamaglobulina 70, 133 psicológicos I 07
Inteligência 79, 84, 143 somáticos I 07
diretora 43, 87, 162 Medicamento 66, 180, 234, 237
Vital 27, 39, 53, 80, 119, 123, contenção
132, 151, 155, 228, 229, 236 função eliminatória 95
Interferências anômalas 27 homeopático
Intestinos 93 ver também Área intestinal tópico 112
substituição do 239
Medicina
alopática 70, 82
J
psicossomática 80
Jahr, G. H. G. 81, 87 Medo 66, 92, 121
vegetal, reação de 52
Jeanings, 52
Meio ambiente 90
Jung, K 54
desnaturalizado 160, 177
natural 178
INDICE • 247

Memória 50. 78, 143 Ortega, Processo S. 63, 65, 90, 128, 151
celular 52. 231 Osteomielite 149
vegetal 51 Ovulação 41
Mente ver Área mental
Mentira 121
Meristema 40 p
Miasmas 87, 240
Associações miasmáticas 175 Paciente
tuberculinismo 181 refratário 70
cancerinismo 159 sifilínico
psora 87 agravamento 153
sicose 119 Pacientes operados
sifilinismo 141 catgut 135
Miasmatização 134 Padrão genético 28, 79
Moléculas 32 Parapsicologia 29
Mongolismo 73 Parasitas ver Yerminoses
Moral 107 Pachero, Thomas Pablo 63, 65, 83, 90,
Mucosas 101, 128 128
Mundo Pasteur, Louis 62
desnaturalizado 108, 109 Pele 95
Mutação 38, 72, 232, 236 acne 131
afecções cutâneas 131
doentia 99
N parasitoses dérmicas 99
prurido cutâneo I 00
Nebel, A 65, 181 sicose 131
Neisseria gonorhoea 135 sifilinismo 152
Neoplasias malignas 159 Pensamento inarmônico I08, I 09
Noxas 27, 68, 81, 90, 92, I 06, 120, Periostites 149
125, 132, !51' 160, 179, 232, 236, 237, Personalidade 50
239, 240 desagregação da 165
eliminação das, 178 Perutz, Max 37
específicas 227, 234, 132, 167. Perversão de função
172, 225 si cose
inespecíticas 132, 172 área mental 123
intensidade das 178, 225. 227, 234 área somática 125
medicamentosas 170 sifilinismo 151
psicológicas 170, 177 Petroleum 180
Planáris 42
Planta genética ver Código genético
o Pleiomorfismo 71
Positivismo, O 36
Ondas eletromagnéticas 31 Pressão miasmática 182
Organicismo 166 Princípio
Organismo (Ser) 25 diretor 82
materno 231, 236 inteligente 29, 35, 38, 42, 43, 79,
Organon dei arte de curar 63, 77 81, 84
248 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA

vital 77 s
Princípios naturais
infração 108 Saint-Simon (Claude-Henri, comte de) 36
Proliferações Sarcoptus scabiei 233
ganglionares Sarna, 62, 233
sicose 148 Schmidt, Pierre 65
sifilinismo 148 segredo 121
tissulares benignas 127 Sellye, Hans 169
Proteínas heterólogas 68, 133 Sequelas, sifilinismo 235
Pseudopsora 181 Ser (indivíduo animado) 35
Psicologia transpessoal 52 Sicose 119 ver também Sicotização
Psicose maníaco-depressiva 146 aparelho respiratório 130
Psora 87, 179, 181, 238 área mental 120
aparelho cardiovascular 102 área somática 125
área digestiva 95 causas 132
área intestinal 96 estados alucinatórios 125
área somática 92 mucosas 128
causas 104 pele 131
estado de intoxicação 94 perversão de função 123
febre I 01 primária 126, 127, 131
mucosas 101 secundária 126, 129, 130
pele 99 sinóvias 130
sistema nervoso I 03 sinus 131
tratamento li O terciária 128, 130, 135, 138
Puiggrós, E. 67, 72, 88, 163 Sicotização 68
Pulsão 49 enxerto
órgãos 134
tecidos vivos 134
Q exércsc
glândulas 135
Queimadura, fenômeno 30 proliferações tissulares 135
implante de fragmento de placenta 133
inoculação
R células placentárias 135
proteínas heterólogas 68, 133
Raciocínio 121, 142
catgut 134
Refratariedade orgânica 26, 70
toxina
Rejeição 134, 141, 151, 161, 169, 235
Neisseria gonorreae 135
Religião I 07
Sierra, Cesar Romero 32
Remédio ver medicamento
Sifilinismo
Repertórios 66
área mental 142
Resistência orgânica 70
causas 151
Retículo endoteliose crônica 128
Rins 49, 93, 95, 129 epitélios 148
Roux, Horácio L. 64 pele 149
perversão de função 151
sequelas 235
sistemas linfoganglionar 148
!NO/CE • 249

sistema ósseo 149 alopático 169, 172


sistema vascular 147 cirúrgico 172
Sífilis 63, 151, 233, 236 inoculação de células placen-
área somática 147, 151 tárias 135
Similimum 66 implante de fragmentos de
Sinóvias placenta 133
articulações 130 supressor de sintomas, I 09, 169
Sintomatologia 165 cancerinismo, 172
psíquica 240 homeopático 173, 238
Sinus 131 mias!pático 234
Sistema Psora 110
linfoganglionar 148 Treponema pallidum 153, 236
nervoso 103, 147, 150 Tristeza 90
ósseo 149 Tuberculinismo 181
articulações 149 aparelho respiratório 182
vascular 147 cabeça 183
Stahl, 82 desmineralização 182
"Stress" 71, 169, 170 febre 183
Suicídio, idéias de 123, 143 mente 184
Sudorese 99, 184 muco 182
Sulfur 180, 238, 239 sudorese 184
Suor 239 tosse 182
Supressão 134 Tumores 161
tluxo uretra! 135
fluxos genitais 135
de sintomas I 09, 169 u
maus efeitos li O
"Surmenage" I 04 Úlceras 147, 150, 161
Szondi, 54, 231 Umidade
sensibilidade à 126, 135
Unidades biológicas
T consciência 35
desagregação 142, 161, 170
Tautopatia 69 interações 25
Tensão exonerativa 95 Utopia 108
Terreno 68, I 06, 180, 225, 230, 233
constitucional 227, 237
hereditário 69 v
hereditário 237
sicótico 69 Vacina
hereditário 68 antivariólica 133
tuberculínico 183 reação da 133
Toledo, David Flores 65 Vannier, L. 65, 159, 181, 185
Transplantes de órgãos 133 Vegetal 51
Tratamento 169 ver também Medica- memória do 52
mento rcação de medo 52
250 ° HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMA TICA

Verminoses 97 Wilkin, S. 37
Verrugas 131 Winterbeer, 52
Vida sedentária I 06
Vijnowsky, B. 63, 67
Viroses 70 z
Zincum 180
w Zissu, Roland 64

Watson, James 37
Weil, Pierre 52
GJrol <Kiitora gráfica
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Fone: (011) 7640-6199 Fax: Rama1215
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