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1.

Sistemática dos seres vivos

1.1 Sistemas de classificação


O mundo vivo caracteriza-se por uma enorme diversidade, que os biólogos têm necessidade
de classificar, isto é, de organizar, agrupando os seres vivos de acordo com determinadas
características, e atribuindo um nome a cada um dos grupos formados.

Existem vários sistemas de classificação dos seres vivos, de acordo com os critérios que
presidem ao seu estabelecimento. Pode-se mesmo dizer, como veremos a seguir, que a
necessidade de classificar os seres vivos não é apanágio dos biólogos.

Desde os tempos mais remotos que o Homem faz classificações dos seres vivos, ao distinguir
animais venenosos de animais não venenosos e plantas comestíveis de plantas não
comestíveis.

O primeiro sistema de classificação criado propositadamente para uma melhor compreensão


do mundo vivo surgiu na antiga Grécia, por Aristóteles:

Com os Descobrimentos, o número de espécies conhecidas aumentou extraordinariamente.


No século XVIII, Lineu criou um sistema de classificação para animais e para plantas, que, tal
como o de Aristóteles, se baseava em caracteres apresentados pelos organismos.

O sistema de Lineu data de 1735, tendo sido editado num livro denominado Systema Naturae:
Sistemas de classificação artificiais:
As classificações de Aristóteles baseiam-se num número relativamente pequeno de
características (cor do sangue, tipo de ovos, etc.), o que faz com que exista um pequeno
número de grupos. Esses grupos englobam, necessariamente, organismos muito diferentes
uns dos outros, pois diferem em muitas outras características, que não as consideradas.

As classificações artificiais têm por base um número restrito de caracteres (por vezes, só um),
escolhidos, geralmente, devido à sua evidência.

Desta forma, ignoram-se todas as outras características dos organismos, acabando por reunir
no mesmo grupo organismos pouco relacionados entre si.

Se tomarmos um dos exemplos apresentados:

(animais que voam/animais que não voam):

• Voam: Mamífero (E), ave (F) e inseto (C)


• Não voam: mamífero (A), ave (D) e peixe (B)

Este tipo de discrepâncias também acontece, por exemplo, quando se classificam plantas de
acordo com o seu porte (herbáceo, arbustivo e arbóreo).
Sistemas de classificação naturais:
O sistema de Lineu é considerado um sistema natural, uma vez que não é baseado numa única
característica evidenciada pelas plantas, mas em várias, o que leva a uma maior afinidade
entre as plantas incluídas em cada classe.

As classificações naturais têm por base uma organização dos grupos segundo o maior número
de caracteres possível. Os grupos assim formados conseguem reunir organismos com maior
grau de semelhança.

No entanto, este tipo de classificação também apresenta desvantagens. A ausência de um


conhecimento pormenorizado das características de um indivíduo pode dificultar (ou mesmo
impedir) a identificação do grupo a que o organismo pertence.

Quer as classificações artificiais, quer as naturais são designadas classificações horizontais,


pois…

• Surgiram numa época na qual dominavam as ideias fixistas;


• Partem do princípio da imutabilidade das espécies;
• Privilegiando as características estruturais dos organismos e não entram em linha de
conta com o fator tempo.

Sistemas de classificação verticais:


O diagrama representado na figura denomina-se árvore filogenética e pretende representar o
parentesco evolutivo entre as espécies, de acordo com o número de características comuns:

As características presentes num maior número de organismos serão as mais antigas.

A base da árvore representa um antepassado comum para os organismos situados no final de


cada ramo. Todos os seres de uma dada ramificação partilham um ancestral comum e estão
mais próximos entre si do que com os de outra ramificação.
O posterior desenvolvimento das ideias evolucionistas veio a refletir-se sobre os sistemas de
classificação.

Como as espécies se foram diversificando ao longo do tempo, as classificações deviam refletir


as relações filogenéticas entre os organismos. Desta forma, surgem os sistemas de
classificação filogenéticos, que tentam agrupar os seres vivos de acordo com o grau de
parentesco entre eles, permitindo construir árvores filogenéticas.

A importância do tempo nas classificações filogenéticas leva a designá-las como classificações


verticais. As semelhanças entre os organismos surgem como consequência da existência de um
ancestral comum, a partir do qual os vários grupos foram divergindo ao longo do tempo.

O grau de semelhança entre eles está relacionado com o tempo em que ocorreu a divergência.

Pode-se considerar, atualmente, a existência de dois tipos principais de classificação biológica:

• a fenética;
• a filogenética (por vezes, designada filética, evolutiva ou cladística).

Classificação fenética
Os sistemas de classificação fenéticos têm como principal objetivo permitir a identificação
rápida de um ser vivo, sem se preocupar com as relações evolutivas desse organismo com
outros.

Este tipo de classificação baseia-se no grau máximo de semelhança entre organismos, tendo
em conta a presença ou ausência de uma série de caracteres fenotípicos. Independentemente
da relevância dos caracteres considerados, estes devem ser facilmente descritos, mensuráveis
e objetivos.
Uma desvantagem deste tipo de classificações reside no facto de nem todas as características
fenotípicas semelhantes corresponderem a uma proximidade evolutiva. A semelhança pode
dever-se, por exemplo, a uma evolução convergente, que originou estruturas análogas.

Classificação filogenética
Os sistemas de classificação filogenéticos pretendem traduzir com rigor as relações entre os
organismos, tendo em conta a história evolutiva dos seres.

Existem dois tipos de características para classificar os organismos numa perspetiva


filogenética:

• Características primitivas, ancestrais ou plesiomórficas:


⎯ Presentes em todos os organismos de um grupo, como resultado de terem
descendido de um ancestral comum, em que essa característica estava presente (por
exemplo, a poiquilotermia, que se verifica nos peixes, anfíbios e répteis atuais).
• Características evoluídas, derivadas ou apomórficas:
⎯ Presentes nos indivíduos de um grupo e que não estão presentes no ancestral desse
grupo, revelando, assim, que houve separação de um novo ramo (por exemplo, as
penas das aves ou as glândulas mamárias dos mamíferos).
Cladística
A cladística é método de análise das relações evolutivas (filogenéticas) entre os grupos de
seres que possibilita a criação de cladogramas.

Cladograma –> Gráfico que representa a relação ancestral-descendente.

Como aprecem as novas espécies?

A anagénese (ana = para cima; genesis = origem) compreende processos pelos quais um
caráter surge ou se modifica numa população ao longo do tempo, sendo responsável pelas
"novidades evolutivas". A anagénese resulta da interação entre mutação, permutação e
seleção natural.

A cladogénese (clado = ramo) compreende processos responsáveis pela rutura da coesão


original em uma população, gerando duas ou mais populações que não podem mais trocar
genes entre seus indivíduos. Essa rutura pode ocorrer em função do fenômeno da deriva
genética, do surgimento de barreiras geográficas e mesmo da ocorrência de mutações. Se
permanecerem separadas, sem trocar genes, cada uma dessas populações passa a ter sua
própria história evolutiva e, em função dos eventos anagenéticos, essas populações
modificam-se ao longo do tempo, podendo originar uma espécie distinta.
1.2 Hierarquia das categorias taxonómicas
O que gera a biodiversidade?

A evolução é o processo pelo qual ocorrem as mudanças ou transformações nos seres vivos ao
longo do tempo, dando origem a espécies novas.

• Mutações
• Recombinação génica
• Seleção natural

Taxonomia
• A área da Biologia que estuda a classificação dos seres vivos é denominada taxonomia.
• A taxonomia consiste em classificar cada uma das espécies de seres vivos com um
nome único e exclusivo.

Universalidade da nomenclatura

A classificação científica moderna tem as suas raízes no sistema de Carl von Linée (ou Carolus
Linnaeus) (1707-1778), que agrupou as espécies de acordo com as características morfológicas
por elas partilhadas.

Ele apresentou a obra Systema Naturae em 1735, propondo um sistema de classificação mais
elaborado e coerente, com base científica para uma classificação atual.

Espécie
A unidade mínima de classificação é a espécie.

Espécie é o conjunto de indivíduos capazes de cruzarem entre si originando indivíduos férteis,


em condições naturais, estando isolados reprodutivamente de outras espécies.

➔ Híbridos:

Algumas espécies podem cruzar entre si, mas os descendentes são estéreis (híbridos).

Ex.: o cruzamento do jumento (Equus asinus) X égua (Equus caballus) = mula ou o burro
(híbridos).

Porque é o sistema criado por Lineu é chamado binomial?

Ele reunia seres num grupo chamado género. Cães e lobos, por exemplo, são muito parecidos,
assim foram reunidos no género denominado Canis. Cães e lobos eram agrupados no mesmo
género, mas eram considerados de espécies diferentes.

No exemplo do cão e do lobo: o cão doméstico foi denominado Canis familiaris e o lobo foi
denominado Canis lupus.
Ao final, o nome dado por Lineu a uma espécie era composto por duas palavras, por isto,
chamado binomial. O sistema binomial inventado por Lineu e empregado até hoje, tem a
vantagem de mostrar, já no próprio nome do ser vivo, sua semelhança com outros que
pertençam ao mesmo género.

Regras da nomenclatura:
1. Todo nome científico deve ser em latim.

O próprio Lineu, em função disso, passou a usar seu nome na forma latina: Carolous linnaeus.

Exemplos: Canis familiaris ……. (cão doméstico)


Canis lupus ......(lobo)
Bufo marinus ……. (sapo)
Pongo pygmaeus …… (orangotango)
Bos taurus ……. (boi)
Bubalus bubalis ……. (búfalo)
Felis tigris ……. (tigre)
Felis leo ……. (leão)

2. Todo nome deve possuir no mínimo 2 nomes (nomenclatura binominal).

Exemplos: Canis familiaris -- Canis familiaris ....... (cão doméstico)

Canis lupus -- Canis lupus ……. (lobo)

Canis latrans -- Canis latrans ……. (coiote)

Canis → gênero || familiaris → epíteto específico

A abreviatura de espécie é sp. e a de espécies (plural) é spp.

Plasmodium sp. (referente a uma espécie)

Plasmodium spp (referente ás várias espécies existentes

3. O género é geralmente designado por um substantivo, o qual deve ser escrito

com inicial maiúscula.


4. A espécie é geralmente designada por um adjetivo e deve ser escrita com inicial

minúscula.

Musca domestica (mosca doméstica)

Classificação e Evolução

A sistemática que estuda as relações de parentesco entre os organismos.

A tarefa da Sistemática é determinar as relações evolutivas entre os táxons e descrever os


padrões de mudança evolutiva.
1.3 Os Reinos da Vida
Aristóteles

• Classificou os seres vivos em dois reinos:

– Reino Animalia e Reino Plantae

• Esta classificação manteve-se inalterada por vários séculos

Lineu

Lineu reforçou as ideias de Aristóteles:

• Classificou os seres vivos em Reino Animalia e Reino Plantae


• Os fungos e seres unicelulares possuidores de cloroplastos eram considerados plantas
• As bactérias também foram colocadas no reino das plantas por possuírem parede
celular.

Limitações do sistema de Lineu

Em que reino se inclui a Euglena?

• É um ser que tem locomoção e é fotossintético.


• Lineu considera uma separação artificial dos seres vivos.
• Não esclarece devidamente a posição das bactérias e dos fungos.

Após este dilema, Ernest Haeckel (1834-1919), propôs a existência de um terceiro Reino –
Protista. Este reino incluía organismos com características pouco definidas (fungos
unicelulares, protozoários e bactérias).

Mais tarde, Herbert Copeland (1902-1968), propôs que, tendo em conta as diferenças
estruturais entre os seres eucariontes e os procariontes, se incluíssem os últimos num reino à
parte, denominado Monera.
Por fim, Wittaker, propõe um sistema de classificação (1968) em cinco reinos, no qual os
fungos passam a constituir um reino independente – Reino Fungi. Este sistema de classificação
baseia-se nos seguintes critérios básicos:

• Nível de organização estrutural


• Tipo de nutrição
• Inteirações nos ecossistemas

Porém, em 1979, Wittaker introduziu algumas alterações ao seu sistema de classificação. As


modificações relacionaram-se com o reino protista, que passou a incluir seres eucariontes
unicelulares e alguns multicelulares de reduzida diferenciação como as algas (anteriormente
colocadas no Reino Plantae).

Novos sistemas de classificação


Em 1977, Carl Woese, um microbiólogo norte americano, baseado no facto de existirem duas
linhagens diferentes de organismos procariontes, propôs a extinção do Reino Monera e a
divisão deste Reino em dois novos reinos, intitulados Archaeobacteria (ou Arqueobactérias) e
Eubacteria (ou Eubactérias). O sistema de Woese foi baseado na análise filogenética do RNA
ribossomal 16S, uma técnica pioneira no seu tempo, não tendo sido imediatamente aceite pela
comunidade científica.

Mais tarde (1990), o mesmo autor propôs um sistema baseado numa categoria taxonómica
denominada divisão. Os seres vivos estariam, assim, divididos em 26 divisões, incluídos num de
três Domínios: Archaea, Bacteria ou Eukarya.
A classificação anterior não inclui os vírus dada a dificuldade em integrá-los entre os seres
vivos dada a ausência de algumas das características definidoras de vida. Outro sistema agrupa
os seres vivos em Domínios. A categoria domínio é o segundo nível hierárquico de classificação
científica dos seres vivos, depois da categoria suprema que enquadra o universo constituído
por todos os seres vivos, o superdomínio Biota.

Não obstante essas dificuldades, a que acresce que a nomenclatura utilizada é não binomial,
surgiu uma classificação alternativa, criando um quarto domínio Aphanobionta, composto
exclusivamente pelos vírus.

Sistema de classificação de Woese:

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