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Classificação biológica

 1.1. Sistemas de classificação


Os seres vivos podem ser classificados de acordo com critérios de diversa ordem. As
classificações podem ter um carácter utilitário ou prático.
Uma classificação científica procura organizar de modo lógico e coerente os seres vivos
atendendo às semelhanças que apresentam em relação a características objetivas, sejam
elas de natureza morfológica, fisiológica, bioquímica, comportamental ou outra.

Perspetiva histórica
Aristóteles descreveu centenas de animais, tendo-os dividido em dois grupos: animais
de sangue vermelho (vertebrados) e animais sem sangue vermelho (invertebrados).
Estas descrições serviram de alicerce a classificações mais tardias que penduraram até ao
séc.XVIII, altura em que Lineu, um naturalista sueco, lançou as bases da taxonomia, ou
seja, o agrupamento e a classificação dos seres vivos, como um ramo essencial da
biologia.
Lineu desenvolveu um sistema de classificação hierarquizado, cujos princípios
fundamentais ainda hoje são utlizados. Este como fixista, considerava que classificar os
seres vivos era a tarefa mais importante dos naturalistas, porque permitia descobrir o
plano da criação divina.
No seu sistema, Lineu agrupou os seres vivos em categorias muito abrangentes,
correspondentes aos reinos.

Este sistema é hierárquico, uma vez que os grupos


de um determinado nível integram grupos
inferiores, menos inclusivos. Assim, as categorias
taxonómicas subsequentes incluem um número
mais restrito de grupos e apresentam uma
especificidade crescente até à espécie.
Este sistema parte da ideia de que em cada espécie
há um exemplar, ou espécime-tipo, que possui as
características morfológicas representativas, com o
qual qualquer outro organismo pode ser
comparado. Para Lineu, as diferentes espécies
distinguem-se com base nos caracteres
morfológicos.
Atualmente, uma espécie corresponde a um
conjunto de populações naturais cujos indivíduos
se podem cruzar entre si originando descendência
fértil, encontrando-se isolados de outros grupos
sob o ponto de vista reprodutivo. Esta constitui um
agrupamento natural que corresponde à unidade
básica da classificação.
A taxonomia também engloba a nomenclatura, ou seja, um conjunto de regras que
unificam as designações dos taxa. Também nesta vertente, a obra de Lineu foi
inovadora, sendo ainda seguidas na atualidade muitas das regras de nomenclatura por
ele criadas.
Antes de Lineu, as espécies eram nomeadas por uma serie de termos em latim que
expressavam as principais características do grupo. Lineu adotou uma nomenclatura
mais simples, passando a designar as espécies apenas por dois termos- nomenclatura
binominal.
Atualmente, várias associações de taxonomistas gerem a atribuição de nomes
científicos, de forma a não existirem repetições de nomes para organismos diferentes ou
designações diferentes para o mesmo organismo. Deste modo, os nomes científicos são
universais, facilitando a comunicação.

De entre as regras de nomenclatura estabelecidas salientam-se:


 A designação dos taxa correspondentes às diferentes categorias taxonómicas é
feita em latim ou em termos latinizados, uma vez que era a língua utilizada nos
trabalhos científicos na altura em que a nomenclatura foi estruturada no
séc.XVIII;
 Na designação binominal da espécie, o primeiro termo refere-se ao género,
sendo escrito com inicial maiúscula. O segundo termo, escrito com inicial
minúscula, constitui o epíteto ou restritivo específico, que identifica a espécie
dentro do género;
 O nome da espécie pode ser complementado com o nome do autor, ou a sua
abreviatura, e pode ser acompanhado pela data da sua primeira identificação;
 Os taxa superiores à espécie são designados apenas por uma palavra, escrita com
inicial maiúscula, o que corresponde a uma designação uninominal (Filo
Chordata);
 Sempre que se considera que uma espécie está subdividida em subespécies,
utiliza-se uma nomenclatura trinomial para as designar, acrescentando, ao nome
da espécie, um terceiro termo denominado restritivo subespecífico;
 O nome cientifico deve ser escrito com letra diferente da utilizada no texto
envolvente, frequentemente em itálico, ou, no caso do texto ser manuscrito as
designações devem ser sublinhadas.

A classificação reflete a afinidade que os organismos apresentam relativamente às


características tomadas como critério de classificação. Essa afinidade é tanto maior
quanto mais alargado é o número de categorias taxonómicas comuns entre eles.
Para além do Reino Mineral, Lineu considerava a existência de dois reinos de seres
vivos: Animal e Vegetal. Lineu usava como critério um reduzido número de
características para organizar os seres vivos dentro de cada um dos reinos, o que dava
origem a classificações artificiais. Destas classificações resultou a inclusão, em grupos
diferentes, de espécies bastante relacionadas ou a inclusão, num mesmo grupo, de
espécies afastadas.
Depois de Lineu, os taxonomistas passaram a considerar, como critérios de
classificação, um número cada vez mais elevado de características para agrupar os seres
vivos. Esta tendência conduziu a classificações naturais, permitindo uma maior
uniformidade e coerência no agrupamento dos seres vivos.

A afirmação do evolucionismo levou ao aparecimento de sistemas de classificação que


procuravam esclarecer as relações de parentesco entre os organismos. Ao longo do
séc.XX, emergiram 2 perspetivas de classificação:
o Sistemas de classificação filogenéticos→ atribui valor às relações evolutivas
o Sistema de classificação fenéticos→ privilegia a comparação de um grande
número de características dos organismos

Sistemas de classificação fenéticos


o Baseiam-se nas semelhanças entre os organismos, sem ter em conta as relações
evolutivas entre eles.
o Agrupam os organismos de acordo com características fenotípicas, objetivas e
frequentemente quantitativas, utilizando o máximo de características possíveis, e
atribuindo a todas as características a mesma importância.
o A taxonomia numérica, usada nas classificações fenéticas, recorre a métodos
matemáticos ou computadorizados na avaliação das semelhanças entre
organismos ou grupos, os quais são organizados em taxa com base na sua
similaridade global.
o A similaridade global entre os organismos permite construir fenogramas, que
são representações gráficas ilustrativas das afinidades entre grupos e das suas
relações hierárquicas.
o São sistemas horizontais, uma vez que não refletem a evolução que os
diferentes grupos taxonómicos sofreram ao longo do tempo.

Sistemas de classificação filogenéticos


A teoria evolutiva de Darwin desencadeou uma revolução nos sistemas de classificação,
o que levou a tarefa de classificar a refletir também a evolução dos diferentes taxa ao
longo do tempo. Desta forma, verificou-se o desenvolvimento da sistemática (uma
disciplina mais abrangente, onde as classificações são feitas tendo em conta a filogenia-
história das relações evolutivas entre organismos).
Os sistemas de classificações surgidas no período pós-darwinista passaram a organizar
as espécies de forma a refletirem a sua evolução a partir de ancestrais comuns-
s.c.filogenética
Estas classificações são baseadas em homologias moleculares relevantes, que traduzem
por vezes uma afinidade entre diferentes grupos, distinta da que é considerada nas
c.fenéticas.
Neste sistema de classificação, a ilustração das relações evolutivas entre os diferentes
grupos é feita com recurso a cladogramas ou a árvores filogenéticas (se forem
acompanhadas de um marcador cronológico).

Pode representar a história evolutiva de um conjunto de dimensão


muito variável, tanto pode reportar-se às relações evolutivas entre
todas as formas de vida, como representar a história de um grupo
particular (ex plantas) ou de um conjunto de espécies estritamente
relacionadas.

Num cladograma, os taxa são apresentados nas extremidades dos ramos que os
constituem, onde a conexão entre os ramos representa o ancestral comum a partir do
qual esses taxa evoluíram. Assim representam os eventos de divergência evolutiva que
deram origem a esses grupos. Logo, uma vez que o cladograma representa a evolução
de um determinado conjunto de espécies, torna-se necessário alicerçar a sua construção
em dados que sejam indicadores da ancestralidade desses grupos.

As características herdadas do ancestral comum, características ancestrais, podem ser


obtidas a partir da paleontologia, da análise da morfologia e da fisiologia, análise
bioquímica (comparação de sequencias de DNA ou de proteínas).
As características derivadas, são as que surgiram após a separação do ancestral
comum.
NOTA: a partilha de características ancestrais e derivadas é importante para o
estabelecimento das relações evolutivas

Classificações fenéticas Classificações filogenéticas


V →Integração de grande quantidade de dados →Tendem a refletir a evolução dos diferentes
A de muitas fontes; grupos e a sua maior ou menor proximidade
N →Processamento informático das evolutiva;
T
características dos organismos, tornando →O seu carácter vertical permite compreender
A
eficiente o tratamento dos dados; a história evolutiva de diferentes grupos de
G
E →Os dados resultantes podem ser usados seres vivos ao longo do tempo;
N para a criação de chaves dicotómicas ou de →A análise de um reduzido número de
S fenogramas; características ancestrais torna mais clara a
→Identificação de maiores afinidades entre determinação da relação filogenética entre os
os grupos taxonómicos, abrindo caminho grupos.
para a sua interpretação evolutiva.
D →Todas as características consideradas na →As relações de parentesco evolutivo entre os
E classificação possuem o mesmo peso na grupos são, por vezes, difíceis de estabelecer;
S determinação do grau de afinidade, →A inexistência de um registo fóssil
V
independentemente do seu significado suficientemente detalhado não possibilita a
A
evolutivo; comprovação da existência de ancestrais
N
T →Não distinguem características herdadas de comuns a grupos atuais afastados;
A um ancestral de características derivadas que →A utilização de sequências de ácidos
G evoluíram numa ou em várias linhagens; nucleicos e outros dados moleculares, muito
E →Podem ser desvirtuadas por processos de frequentemente em análise filogenética, só
N evolução convergente, que dão origem a muito raramente pode ser feita em espécies
S caracteres que parecem semelhantes. Estas extintas.
características podem fazer com que dois
grupos pareçam apresentar maior afinidade
do que na realidade possuem;
→Não considera as relações evolutivas ao
longo do tempo (classificações horizontais).

 1.2. Sistema de classificação de Whittaker modificado


Desde séc.XIX e ao longo de séc.XX foram propostos sistemas de classificação com um
número crescente de reinos, variando desde 3 (Haeckel) até 8 (Cavalier-Smith).
O sistema apresentado por Robert Whittaker de classificação em 5 reinos, foi um dos
que conheceram melhor senso, constituindo ainda hoje um ponto de partida para o
entendimento dos critérios que norteiam a criação destas categorias taxonómicas.
Este sistema de classificação divide os seres vivos em 5 reinos: Monera, Protista,
Animalia, Fungi e Plantae.

Critérios de classificação de Whittaker


Este sistema de classificação baseia-se nos seguintes critérios:
 Nível de organização
Este refere-se ao tipo de células que constituem os organismos (unicelulares ou
multicelulares--- grau de diferenciação).
 Modo de nutrição
Este refere-se à forma como os organismos obtêm a matéria orgânica de que necessitam
(autotróficos ou heterotróficos (por ingestão/por absorção) ).
 Interações nos ecossistemas
Este refere-se ao papel funcional dos organismos nas cadeias alimentares (produtores,
consumidores-macroconsumidores(ingestão)microconsumidores(absorção)
decompositores).
Critério Nível de Nível de Modo de nutrição Interações nos Exemplos
Reino organização organização ecossistemas
celular estrutural
Monera Autotróficos
fotossintéticos
Ou Produtores
Procariontes Unicelulares Autotróficos Ou Bactérias e cianobactérias
quimiossintéticos Microconsumidores
Ou
Heterotróficos por
absorção
Protista Autotróficos Produtores (algas)
Unicelulares fotossintéticos Ou
Ou (algas) Macroconsumidores
Eucariontes Pluricelulares Ou (protozoários) Protozoários e algas
com baixo grau Heterotróficos por Ou
de diferenciação ingestão Microconsumidores
(protozoários) ou
por absorção
Fungi/Fungos Unicelulares
Ou Heterotróficos por Leveduras, bolores e
Eucariontes Pluricelulares absorção Microconsumidores cogumelos
com baixo grau
de diferenciação
Plantae/Plantas Pluricelulares Autotróficos Musgos, fetos, plantas
Eucariontes com elevado fotossintéticos Produtores com flor
grau de
diferenciação
Animalia/Animais Pluricelulares Heterotróficos por Esponjas, corais, insetos,
Eucariontes com elevado ingestão Macroconsumidores peixes, mamiferos
grau de
diferenciação
 1.3. Novas perspetivas na classificação
Em 1990, uma equipa liderada por Carl Woese, baseando-se na comparação das
sequências nucleotídicas de RNA ribossómico, bem como na natureza química da
membrana celular, concluiu que os procariontes não são um grupo homogéneo.
Estes dados levaram à divisão deste grupo em Eubacteria e em Archaebacteria, um
grupo de procariontes extremófilos que apresentam maiores semelhanças com os
eucariontes do que com o grupo Eubacteria.
Esta diversidade evolutiva, justificou a criação de uma categoria taxonómica superior ao
reino, o domínio, tendo sido proposta a divisão dos seres vivos em 3 domínios:
 Eukarya: todos os eucariontes fazem parte
 Archaebacteria (Archaea): fazem parte os procariontes conhecidos como
arqueas
 Eubacteria (Bacteria): onde se integram as bactérias

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