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Constelação a construção
de gêneros de um conceito
Direção: Andréia Custódio
Capa e diagramação: Telma Custódio
Revisão: Kaya Adu Pereira
Imagem da capa: br.depositphotos.com
A689c
Araújo, Júlio
Constelação de gêneros : a construção de um conceito / Júlio Araújo.
- 1. ed. - São Paulo : Parábola, 2021.
120 p. ; 23 cm. (Lingua[gem] ; 93)
Apêndice
Inclui bibliografia e índice
ISBN 978-85-7934-181-6
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PARÁBOLA EDITORIAL
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ISBN: 978-85-7934-181-6
© do texto: Júlio Araújo, 2021.
© da edição: Parábola Editorial, São Paulo, 2021.
Para Bernardete Biasi-Rodrigues
e Luiz Antônio Marcuschi
in memoriam
Agradeço
Ao querido amigo e colega Prof. Benedito Bezerra (UPE-Unicap)
pela leitura dos originais e pela gentileza de escrever o prefácio;
À querida amiga e colega Profª Mônica Cavalcante (UFC)
pela leitura dos originais e pela gentileza de escrever
o texto de apresentação para orelha;
Ao querido amigo e colega Prof. Dieb (UFC) pelas leituras de meus
textos e pelas interlocuções sempre exigentes e amistosas;
Ao querido amigo e colega Prof. Ebson Gomes (UFERSA)
pela atualização do design das figuras.
As estrelas que formam uma constelação são individuais, mas
sofrem influências uma das outras, assim como influências
externas. Consequentemente elas se movem juntas e persistem
em uma relação similar, apesar de suas posições variarem.
(Campbell; Jamieson, 1978, p. 19)
Sumário
Lista de figuras................................................................................................................................ 11
Prefácio............................................................................................................................................... 13
Referências............................................................................................................................................................................................... 16
Apresentação...................................................................................................................................17
Capítulo um
Colônia discursiva........................................................................................................................ 21
1.1. O significado independe da sequência............................................................................................................... 22
1.2. As unidades adjacentes não formam prosa contínua....................................................................... 22
1.3. Um contexto estruturado..................................................................................................................................................23
1.4. Uma autoria coletiva..............................................................................................................................................................23
1.5. Um componente que possa ser usado sem referência a outros............................................23
1.6. Componentes que possam ser reimpressos ou usados novamente................................ 24
1.7. Componentes que possam ser acrescentados, removidos ou alterados..................... 24
1.8. Componentes que servem para mesma função.................................................................................... 24
1.9 Apresentam algum tipo de sequência................................................................................................................. 24
Capítulo dois
Constelação de gêneros em Bhatia..................................................................................27
Capítulo três
Constelação de gêneros em Marcuschi........................................................................ 35
Capítulo quatro
Constelação de gêneros em Swales................................................................................. 41
4.1. Hierarquias de gêneros......................................................................................................................................................42
4.2. Cadeias de gêneros..............................................................................................................................................................44
9
4.3. Grupos de gêneros.................................................................................................................................................................47
4.4. Redes de gêneros...................................................................................................................................................................48
Capítulo cinco
Constelação de gêneros em Bakhtin................................................................................ 51
Capítulo seis
Constelando argumentos....................................................................................................... 59
Capítulo sete
Propondo trilhas............................................................................................................................ 65
Capítulo oito
A hipertextualidade da ambiência digital..................................................................... 71
Capítulo nove
A transmutação ........................................................................................................................... 79
9.1. Uma possível origem para “transmutação”....................................................................................................79
9.2. A transmutação de gêneros discursivos........................................................................................................83
Capítulo dez
O propósito comunicativo....................................................................................................... 95
Conclusões.................................................................................................................................... 105
O que é uma constelação de gêneros?....................................................................................................................105
Como estudar uma constelação de gêneros?.................................................................................................. 107
Como os chats atendem aos postulados do construto teórico-metodológico
de constelação de gêneros?................................................................................................................................................109
Referências..................................................................................................................................... 115
11
Prefácio
Benedito Gomes Bezerra (UPE/Unicap)
D
e saída, gostaria de registrar o prazer de prefaciar um livro de meu
colega e amigo Júlio Araújo, e não qualquer livro, mas este sobre a
teoria de gêneros. Entre outras razões, que certamente há, destaco
aquela que considero ser a principal: Júlio e eu estudamos no mesmo
programa de pós-graduação na Universidade Federal do Ceará (UFC) e ali
tivemos o privilégio de sermos orientados pela saudosa Bernardete Biasi-
-Rodrigues, a grande responsável pela introdução dos estudos de gênero
na UFC no início dos anos 2000. Eu e Júlio tivemos a honra de sermos os
“primeiros” de Bernardete: eu, o primeiro orientando de mestrado; Jú-
lio, o primeiro de doutorado. Esse vínculo entre nós deixou de ser apenas
acadêmico para se configurar como um poderoso vínculo afetivo, “conste-
lado” inicialmente em torno da personalidade fascinante de Bernardete e
consolidado nos caminhos posteriores da Academia e da vida.
E o que dizer deste Constelação de gêneros: a construção de um conceito?
É consenso nos estudos retóricos de gêneros que eles devem ser conside-
rados em suas inter-relações no “mundo real do discurso” — segundo a
feliz expressão cunhada por Bhatia em seu memorável Worlds of Written
Discourse (2004) —, e não como entidades estanques cujas características
podem ser simplesmente listadas a partir de um dado enquadre teórico.
Essa é a questão central no trabalho de Júlio: a relação entre gêneros, in-
clusive e talvez especialmente entre aqueles que com frequência escondem,
por trás de um nome geral, uma diversidade de práticas sociais que, a um
olhar mais atento, mostrarão peculiaridades, sutilezas e complexidades tí-
picas do fenômeno da linguagem quando visto na integração com a vida.
É o caso da carta, da entrevista, do anúncio e do chat, entre vários outros.
O foco em “constelações” ou agrupamentos de gêneros atende a
uma inegável tendência da pesquisa na área para a “contextualização do
13
discurso”, de que também falou Bhatia (2004). O foco — seja teórico, seja
aplicado — em gêneros individuais, tratados como realidades estanques,
não permite um olhar para eles como práticas situadas. Quando descre-
vemos um gênero descontextualizado de outras práticas linguageiras, o
que temos é apenas a descrição de um simulacro. Infelizmente, parece
ser esse o maior problema de muitos estudos de gênero e, mais drama-
ticamente, de muitas tentativas de aplicação ao ensino, como se pode
inferir de grande parte dos materiais didáticos em circulação na educa-
ção básica. Os poucos materiais didáticos dedicados à educação superior
igualmente tendem a perpetuar o problema, tratando os gêneros como
partículas (gêneros isolados), e não como onda (processos) ou como
campo (consciência crítica), na metáfora de Amy Devitt (2009).
Daí a relevância de olhares para os gêneros como o apresentado
neste livro. Do ponto de vista retórico, social e cognitivo, nenhum gênero
é realmente escrito, falado, lido ou ouvido como uma ilha, e sim como
parte de um arquipélago textual-discursivo. Nos termos de Júlio, uma
das formas como os gêneros se relacionam uns com os outros é por meio
da participação em uma constelação. Os gêneros são estrelas cuja inter-
-relação nós mesmos construímos, atribuindo-lhes características a par-
tir da versão de mundo que idealizamos: aquela parece com um grande
cachorro (Canis Major), esta lembra uma balança (Libra)... pois aprende-
mos com Saussure que o ponto de vista cria o objeto. Mas, como alhures
dizia Oswaldo Montenegro, não era exatamente disso que eu queria falar,
e sim de metáforas.
Se, como nos ensinaram Lakoff e Johnson (1980), nosso sistema
conceitual é necessariamente metafórico, entende-se por que as metáfo-
ras surgem em profusão ao falarmos de gêneros. Estamos aqui diante de
mais uma, bastante poderosa, aliás: constelações de gêneros. Basicamen-
te, entendo que com esse termo estamos afirmando que os gêneros po-
dem ser criteriosamente agrupados para fins de estudo e de compreensão
das ações sociais realizadas através deles. Hoje, a literatura especializada
apresenta uma gama de conceitos que possibilitam esses agrupamentos,
dependendo do olhar ou do propósito do analista.
A título de ilustração, como expõe Júlio no seu capítulo sobre John
Swales, este autor menciona quatro diferentes formas de enquadrar cons-
telações de gêneros: é possível agrupá-los em hierarquias, cadeias, con-
juntos ou redes. Essas categorias funcionam como filtros ou dispositivos
heurísticos que podem servir a diferentes propósitos teóricos, metodoló-
15 Prefácio
humanas (ou de comunicação), ao processo formativo (diacrônico) e à
função social (propósitos comunicativos), emerge uma proposta de aná-
lise ilustrada e respaldada pela pesquisa de doutoramento do autor em
torno dos gêneros de chat.
Diante do resultado, pode-se dizer que o leitor tem em mãos uma
obra instigante e desafiadora, apropriada àqueles que, como eu, nutrem
um apreço pelas questões epistemológicas e conceituais e não apenas
pela mera aplicação de teorias dadas. O livro de Júlio é um convite à
reflexão embasada sobre os gêneros, num contexto em que os estudos
brasileiros da área têm chamado a atenção de pesquisadores do mundo
inteiro e clamam por uma consolidação cada vez mais clara. O campo
dos gêneros talvez seja um dos campos disciplinares em que mais clara-
mente podemos passar de meros consumidores de teorias estrangeiras
para protagonistas de nossa própria reflexão. Creio que um dos méritos
deste trabalho do meu amigo Júlio Araújo é apontar para esse caminho.
Referências
BAZERMAN, Charles. Atos de fala, gêneros textuais e sistemas de atividade: como os textos organizam
atividades e pessoas. In: Gêneros textuais, tipificação e interação. São Paulo: Cortez, 2005. pp. 19-46.
BHATIA, Vijay K. Worlds of Written Discourse: a Genre-based View. Londres: Continuum, 2004.
DEVITT, Amy. Intertextuality in Tax Accounting: Generic, Referential, and Functional. In: BAZERMAN,
Charles; PARADIS, James (eds.). Textual Dynamics of the Professions: Historical and Contemporary
Studies of Writing in Professional Communities. Madison: The University of Wisconsin Press,
1991. pp. 336-357.
LAKOFF, George; JOHNSON, Mark. Metaphors We Live by. Chicago: University of Chicago Press, 1980.
ORLIKOWSKI, Wanda J.; YATES, JoAnne. Genre Repertoire: Norms and Forms for Work and Interac-
tion. MIT Sloan School Working Paper #3671-94, mar. 1994. Disponível em: <http://ccs.mit.edu/pa-
pers/CCSWP166.html#genre5>. Acesso em: 13 jan. 2020.
SPINUZZI, Clay. Describing Assemblages: Genre Sets, Systems, Repertoires, and Ecologies. Computer
Writing and Research Lab, White Paper Series: 1-9, 2004.
A
epígrafe que abre este capítulo inicial dialoga com a minha pro-
posta de, neste livro, retomar algumas das reflexões que desenvolvi
para o fenômeno dos agrupamentos de textos, por mim designado
de constelação de gêneros (Araújo, 2006). Algumas questões ainda mere-
cem ser revisitadas.
Considerando que o ato de escrever é um gesto sempre inacabado,
no presente livro, volto ao mesmo tema trabalhado anteriormente em
minha tese de doutorado, com o objetivo de revisitar a tarefa a que me
propus: esboçar uma definição própria para constelação de gêneros, ex-
plicando como ela se constitui e como pode ser estudada.
Isto se justifica porque, se o crescente interesse pelos gêneros tem
lançado luzes no entendimento das relações humanas, é preciso consi-
derar que um número bastante significativo de termos veio à tona, na
tentativa de designar as categorias de análise. O emaranhado de termos,
como gêneros, sequências e tipos textuais, eventos, pré-gêneros, subgêne-
ros, falsos gêneros, colônia discursiva, constelação de gêneros etc., surge em
meio a um quadro emoldurado pelas mais variadas perspectivas teó-
rico-metodológicas1; inevitavelmente, elas proporcionam essa grande
flutuação terminológica que, em alguns casos, só dificulta os procedi-
mentos de análise.
1
Escola de Genebra (Schneuwly, 1994; Adam, 1992), Escola norte-americana (Swales, 1990; Bhatia,
1993; Miller, 1994); a Escola de Sidney (Kress, 1987; 1993; Martin, 1984; 1992) e a chamada “síntese bra-
sileira” de gêneros (Bawarshi; Reiff, [2010] 2013; Swales, 2012; Bezerra, 2016). Cada uma dessas escolas
avança em perspectivas teóricas que, embora tenham pontos de encontro, mantêm-se distintas.
17
Isso tudo aconteceu também devido ao espraiamento das dis-
cussões acerca do termo “gênero”. Como muito bem observa Swales
(1993, p. 687), “o que era um termo restrito aos setores mais especiali-
zados da crítica e da erudição humanística, e às conversas de pessoas
letradas, estendeu-se até a mídia e deixou de ser um termo marcado
nas discussões comuns”. Se o termo estava em um ostracismo acadê-
mico, Freedman e Medway (1994, p. 1) afirmam que recentemente “a
palavra gênero está na boca de todos, de pesquisadores e estudiosos a
pedagogos e professores”.
Também Bhatia ([1997] 2001, p. 102), ao se referir à discussão aca-
dêmica a respeito dos gêneros do discurso, afirma que “o interesse pela
teoria dos gêneros e suas aplicações não se restringe mais a um grupo
específico de pesquisadores de uma área em particular ou de um setor
qualquer do globo terrestre, mas cresceu a ponto do que jamais foi ima-
ginado”. Portanto, com este livro, retomo a temática dos agrupamentos
dos gêneros, a fim de trazer mais uma contribuição ao debate acerca das
categorias de análise dessa área dos estudos linguísticos.
Autores como Hoey (1986; 2001), Bhatia (1993; 1997; 1999; 2001;
2004), Marcuschi (2000) e Swales (2004), no desejo de nomearem os
agrupamentos de textos, designam-no por colônia discursiva, colônia
de gêneros ou constelação de gêneros. Partindo desse pressuposto, as
perguntas que inicialmente apresentaram-se para nortear a reflexão
proposta neste livro e a minha incursão pela literatura foram: o que os
linguistas chamam de constelação de gêneros? Como esses especialistas
explicam o surgimento de uma constelação de textos? Que proprieda-
des essas constelações possuem para serem caracterizadas como tais?
Qual(is) percurso(s) existe(m) para sistematizar os estudos de uma
constelação de gêneros discursivos?
Nesse sentido, além dos capítulos de apresentação e de conclusões,
as discussões que se seguirão aqui estão organizadas em dez capítulos.
Assim, nos capítulos 1 a 5, apresento uma revisão da literatura para co-
nhecer como os autores tratavam os agrupamentos de textos, pois, além
de o tema ainda estar envolvido por certo ar de novidade, percebe-se que,
correlatas à noção de constelação de gêneros, existem outras com o mes-
mo nome, mas com sentidos diferentes.
A falta de uma definição clara e de um método que permitisse o
estudo de tal categoria levou-me a esboçar a elaboração de um percurso
2
O referido percurso foi aplicado ao agrupamento constelar dos gêneros chats (Araújo, 2006) e depois
foi adaptado e aplicado à constelação dos gêneros anúncios por Lopes (2008), à constelação dos gêneros
cartas também por Lopes (2013) e Silva (2012) e à constelação dos gêneros blogs por Lima (2012).
19 Apresentação
Você tem em mãos uma obra instigante e desafiado-
ra, apropriada àqueles que nutrem apreço pelas
questões epistemológicas e conceituais e não apenas pela mera
aplicação de teorias dadas. Este livro é um convite à reflexão so-
bre os gêneros, num contexto em que os estudos brasileiros da
área têm chamado a atenção de pesquisadores do mundo inteiro
e clamam por uma consolidação cada vez mais clara. O campo
dos gêneros talvez seja um dos campos disciplinares em que mais
claramente podemos passar de meros consumidores de teorias
estrangeiras para protagonistas de nossa própria reflexão. Um dos
méritos deste trabalho de Júlio Araújo é apontar esse caminho.