FUNDADO EM 1875
JULIO MESQUITA (1862—1927)
IVAN ALVARADO/REUTERS
Contagem regressiva ao som de ‘Evidências’ na Av. Paulista
Em palco que faz referência a alguns dos prédios mais icônicos da cidade, como a Estação da Luz e a Catedral da Sé, Chitão-
zinho e Xororó vão comandar o Réveillon. A via estará interditada entre as Ruas Teixeira da Silva e da Consolação __ A13
Poderes __ A6
Em primeiro ano, Lula tem
mais MPs invalidadas que
aprovadas pelo Congresso
Em seu terceiro mandato, presidente passa por resistência
que nos últimos 20 anos só Bolsonaro enfrentou, em 2019 e 2020
o final do primeiro
A ano de seu terceiro
mandato, o presiden-
te Luiz Inácio Lula
da Silva teve mais medidas provi-
sórias que perderam validade do
que aprovadas no Congresso.
Desde 2003, quando o petista to-
mou posse pela primeira vez,
apenas em 2019 e 2020, com Jair
Edição de hoje Caderno A. Opinião, Política, Internacional, Metrópole, Saúde, Esportes, Para fechar...
3 CADERNOS – 40 páginas E&N. Destacar Economia & Negócios
Domingo 31 de DEZEMBRO de 2023 l R$ 9,00 l Ano 144 l Nº 47556
estadão.com.br
Fim de semana
Paris 2024 __ A15 E&N __ B5 C2 __ C4 e C5
Ação antiterror O melhor e o pior
Confiança nelas mais inteligente do cinema em 2023
Rayssa Leal e outras atletas são aposta do Vigilância por ‘Oppenheimer’ e
COB para recorde de medalhas câmeras usa IA ‘The Flash’ na lista
WERTHER SANTANA/ESTADÃO
Artigo exclusivo __ C8 a C11
Quantos
desastres mais
caberão em
duas décadas?
O cientista político Bolívar La-
mounier mostra que rupturas
políticas são mais comuns no
Brasil do que se supõe. E mais
ocorrerão até dobrarmos nos-
sa renda per capita anual.
Leandro Karnal __ C12
Como será
o amanhã?
Eliane Cantanhêde __ A8
Não a golpes, guerras,
violência e desigualdade
J. R. Guzzo __ A9
O surto do
ministro Toffoli
Lourival Sant’Anna __ A11
A Argentina
longe do Brics
Celso Ming __ B2
2023: o ano em que o
mercado errou
Gustavo H. B. Franco __ B4
E a pressão sobre o BC
terminou em churrasco
Notas e Informações __ A3
A porta estreita para
um mundo melhor
Custo da urgente transição
energética recairá 3 vezes
mais sobre países pobres.
O custo da
credibilidade
Soluções ambientais __ A12
aprovadas pelos parlamentares. Moradores e prefeitura do
Lei de Acesso à Informação __ A8
Índice de transparência na
Justiça cai em gestão Dino
Bolsonaro, e em 2023, o presiden-
O baixo número de MPs que tive- MPs caducadas
ram o aval se explica em parte
por uma disputa entre Câmara e
Senado. Historicamente, o Legis-
lativo considera excessivo o nú-
MPS CADUCADAS
51,1% 50,5%
MPS APROVADAS
74,1%
Recife agem contra enchentes
E&N Efeitos do calor __ B1 e B2
Brasil terá mais duas fábricas
de ar-condicionado em Manaus
te fechou o ano com menos MPs mero de proposições do Executi- 48,9% 49,5%
aprovadas do que caducadas. vo. Em 2024, a MP que prevê au- 25,9% E&N Ganho de tempo __ B8
Até 20 de dezembro, 20 MPs per- mento de arrecadação deverá en- BOLSONARO
2019
BOLSONARO
2020
LULA
2023
Empresas diminuem
derem validade e apenas 7 foram frentar resistência. FONTE: CONGRESSO NACIONAL / INFOGRÁFICO: ESTADÃO quantidade de reuniões
C2. Cultura & Comportamento, Tempo em SP
A fundo 18° Mín. 21° Máx.
 DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
A2 O ESTADO DE S. PAULO

ROSEANN KENNEDY
COM EDUARDO GAYER, AUGUSTO TENÓRIO E VERA ROSA Coluna do
Estadão
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
COLUNADOESTADAO@ESTADAO.COM
ESTADAO.COM.BR/POLITICA/COLUNA-DO-ESTADAO

Lula tentará se aproximar de SINAIS

PARTICULARES
Boric em 2024 e aprofundar
integração sul-americana por Kleber Sales

pós dedicar o início do novo mandato à tarefa de

A “reinserir o Brasil no cenário internacional”, o pre-

sidente Lula definiu prioridades para a política ex-
terna em 2024. No gabinete de Celso Amorim, as-
sessor especial da Presidência, a ordem é aprofundar a inte-
gração sul-americana, especialmente a relação com o pre-
sidente do Chile, Gabriel Boric. A aproximação com o Chi-
le se destaca em meio às dificuldades com a Argentina, de-
pois da vitória de Javier Milei, e na sequência de ruídos en-
tre Lula e Boric, dois líderes de esquerda que já trocaram
farpas. Em julho, o chileno criticou a resistência da Comu-
nidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Ce-
lac) em condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia. Lula
respondeu e disse que Boric era “um jovem apressado”.

l TUDO EM PAZ. De acordo com
um auxiliar do presidente, as
rusgas estão superadas e a rela-
ção bilateral se encontra “em
outro momento”, com vonta-
de política de ambos em inves-
tir nessa parceria. A ideia para
2024 é promover encontros e
pautas que possam melhorar a
integração entre Brasil e Chile.
l EM FOCO. A presidência do Bra-
sil no G-20, ao longo de 2024,
também vai ocupar espaço pri-
vilegiado na agenda internacio-
nal do governo, xodó de Lula.
l EXPEDIENTE. A ministra da Saú-
de, Nísia Trindade, decidiu man-
ter as férias de 2 a 11 de janeiro,
embora Lula tenha convocado
todos os auxiliares para uma ceri-
mônia no Senado, no dia 8, com
o objetivo de marcar o primeiro
ano dos ataques golpistas e cele-
brar a vitória da democracia. De
acordo com a Saúde, Nísia parti-
cipará da solenidade, que conta-
rá com autoridades dos três Po-
deres, mesmo estando em férias.
l SERÁ? Lula pode ter duas bai-
xas na equipe por causa das elei-
ções municipais de 2024. Os mi-
nistros da Secretaria-Geral, Már-
cio Macêdo (PT), e da Ciência e
Tecnologia, Luciana Santos (PC-
doB) são citados para disputar
as prefeituras de Aracaju (SE)
e Olinda (PE), respectivamen-
te. Se isso ocorrer, terão de dei-
xar os cargos até abril, prazo
para a desincompatibilização.
l EU NÃO. A aliados, Macêdo ga-
rante que não será candidato e
ficará no governo. A ideia de seu
grupo político é lançar Eliane
Aquino (PT), ex-vice-governado-
ra de Sergipe, para a prefeitura
de Aracaju. Mas a situação está
indefinida no PT. A tendência é
que o próprio Lula decida, em
fevereiro, quem irá concorrer.
l DEPENDE. No caso de Luciana
ex-prefeita de Olinda, há dúvidas
se a federação PT-PCdoB-PV de-
ve lançar candidatura ou apoiar
Marília Arraes (Solidariedade),
que já foi do partido de Lula.
Luiz Inácio Lula da Silva,
presidente da República
l É ISSO AÍ. O diretor-geral da Po- PRONTO, FALEI! CLICK
lícia Federal, Andrei Rodrigues, CRÉDITO: SECRETARIA DE RELAÇÕES INSTUCIONAIS
considerou o acordo de reajuste
da categoria como prova da valo-
rização dos profissionais, o que,
nas suas palavras, não houve nos
quatro anos do governo Bolsona-
ro. “Mostra o compromisso e o
respeito do governo com a PF,
que retomou neste ano sua insti-
tucionalidade e seu regular fun-
cionamento”, disse ele à Coluna. Paulo Serra Randolfe Rodrigues
Presidente do PSDB-SP Líder do governo no Congresso
l PACIÊNCIA. Os servidores admi-
nistrativos da Polícia Federal fi- “Em 2024, nós vamos nos prepa- O senador presenteou o ministro
caram de fora do acordo firma- rar para o PSDB ter protagonis- de Relações Institucionais, Ale-
do com o governo, mas Andrei mo político e mostrar que ainda xandre Padilha, com o livro Co-
garantiu que haverá novas nego- há vida inteligente longe da pola- mo salvar a democracia, de Da-
ciações voltadas para o grupo. rização entre Lula e Bolsonaro”. niel Ziblatt e Steven Levitsky.
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Publicado desde 1875
AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)
NOTAS E INFORMAÇÕES
A porta estreita para
um mundo melhor
OCDE mostra que os custos da urgente transição energética
recairão três vezes mais sobre países pobres do que sobre ricos;
só reformas e novas tecnologias podem mudar essa equação
m quatro anos o mundo
E foi surpreendido por uma
pandemia, por duas guer-
ras de impacto global e
por uma irrupção disrupti-
va da Inteligência Artificial. Se é di-
fícil prever como será o mundo em
quatro anos, imagine em 40 anos? No
entanto, há duas megatendências ine-
xoráveis: o planeta está esquentando
e os humanos vivem mais e têm me-
nos filhos. A consequência é uma hu-
manidade envelhecida, que luta para
substituir sua energia fóssil por ener-
gias verdes.
O custo da
credibilidade
A Inteligência Artificial só será confiável se se basear em dados
confiáveis. Mas a apuração desses dados custa muito suor e
dinheiro a humanos que não estão sendo recompensados por isso
e tudo o que amamos na civi-
S lização é um produto da inte-
ligência, a criação de uma in-
teligência artificial (IA) ca-
paz de realizar as operações
mais complexas da inteligência huma-
na em milésimos de segundo pode ser a
maior invenção da história mundial. A
euforia com as novas tecnologias de IA
generativa são justificadas. Mas tam-
bém o pavor: os humanos poderiam se
tornar simplesmente obsoletos. Mas
poderiam realmente?
A capacidade das novas máquinas
de computar dados e sintetizá-los já su-
pera em muito as capacidades huma-
nas. Ainda assim, resta a questão: quem
gera esses dados?
Um modo mais humilhante, mas rea-
lista, de descrever máquinas de IA é, na
expressão da linguista Emily M. Ben-
LUIZ CARLOS MESQUITA(1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)
O impacto destas transformações
foi sopesado na mais recente proje-
ção de cenários de longo prazo da Or-
ganização para Cooperação e Desen-
volvimento Econômico (OCDE), um
fórum das democracias ricas.
O cenário-base projeta a continua-
ção da rota atual, sem maiores mudan-
ças políticas e institucionais: mais do
mesmo. Neste caso, para as nações da
OCDE e do Grupo dos 20 (G-20) com-
binadas (ou 83% do PIB global), o de-
clínio no crescimento da força de tra-
balho e da produtividade desacelera-
rá o crescimento econômico, dos
der, “papagaios estocásticos”. “Os am-
plos modelos de linguagem são impres-
sionantes em sua habilidade de gerar
uma linguagem realista, mas no fim das
contas eles não entendem verdadeira-
mente o sentido da linguagem que es-
tão processando”, diz Bender. Assim,
as previsões realizadas por uma máqui-
na que aprende sozinha estão essencial-
mente repetindo conteúdos dos dados.
Em outras palavras, se uma máquina
eficiente é alimentada com dados con-
fiáveis, os resultados serão provavel-
mente confiáveis, mas, se os dados não
são confiáveis, os resultados serão o in-
verso.
Os próprios programadores reco-
nhecem isso. Uma pesquisa da News
Media Alliance, que representa mais de
2 mil publicações, averiguou que as em-
presas de tecnologia utilizam “despro-
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE
DIRETOR PRESIDENTE
FRANCISCO MESQUITA NETO
ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA DIRETOR DE JORNALISMO
MEMBROS EURÍPEDES ALCÂNTARA
FRANCISCO MESQUITA NETO DIRETOR DE OPINIÃO
JÚLIO CÉSAR MESQUITA MARCOS GUTERMAN
LUIZ CARLOS ALENCAR
RODRIGO LARA MESQUITA
atuais 3% ao ano para 1,7% em 2060.
Na maior parte das economias emer-
gentes do G-20, o crescimento do PIB
per capita será mais lento. Há exce-
ções, como Brasil, Argentina e África
do Sul, só porque seu desempenho
atual é tão medíocre que é difícil pio-
rar. Mas os padrões de vida destes paí-
ses se aproximarão pouco do padrão
de vida dos países desenvolvidos, me-
nos que os da China, da Índia ou da
Indonésia.
Até 2060, a pressão fiscal deve cres-
cer no mundo cerca de 6 pontos por-
centuais do PIB. Essa seria a quantia
que um país médio precisaria aumen-
tar em impostos para conter a escala-
da do endividamento público.
Se o envelhecimento populacional
já é deprimente, as más notícias não
param aí. O cenário-base não contabi-
liza a transição energética. Pela pri-
meira vez, a OCDE estimou os custos
dessa transição. Nesse cenário, todos
os países acelerariam a descarboniza-
ção, eliminando o carvão e reduzindo
o petróleo e o gás a 15% da matriz ener-
gética em 2050. A boa notícia é que
isso alcançaria a meta do Acordo de
Paris de limitar o aquecimento global
a 1,5°C. A má notícia são os estragos
sociais: mais fome, mortes e, conse-
quentemente, violência.
De acordo com a OCDE, os custos
cumulativos da mitigação consumi-
riam 8% do PIB global até 2050. Po-
rém as perdas são desiguais. Os países
ricos ficarão 3,7% menos ricos e os
países pobres ficarão 11% mais po-
bres. O mundo já será mais velho; a
transição energética o tornará mais
pobre e desigual.
porcionalmente” as notícias online e
conteúdos de revistas e jornais digitais
para treinar seus softwares de IA. Uma
análise do Washington Post revelou que
as 10 principais fontes utilizadas para
treinar os “modelos de linguagem gran-
de” são veículos de mídia profissional.
“Nossa própria presença (online) está
dando credibilidade para essas platafor-
mas que de outra forma seriam preen-
chidas por nonsense caça-cliques e in-
formação desregulada”, resumiu Katie
French, editora da Newsquest.
As empresas de tecnologia têm resis-
tido a remunerar as fontes dessas infor-
mações com base na jurisprudência
americana do “uso justo” (fair use), se-
gundo a qual “o uso por inovadores de
modos transformadores de materiais
protegidos por direitos autorais não in-
fringe esses direitos”. Pode-se questio-
nar até que ponto isso se aplica à apren-
dizagem da máquina. Humanos utili-
zam obras protegidas por direitos auto-
rais para aprender. Mas quando os ro-
bôs utilizam esses materiais para gerar
conteúdo disponibilizado ao público e
explorado comercialmente, parece ine-
quívoco o dever de remuneração.
A prova de que as empresas de IA
reconhecem isso é o acordo fechado
com o grupo alemão Axel Springer pela
OpenAI, que remunerará pelo uso de
mídias como Bild, Politico e Business
Insider.
Após meses de negociações frustra-
A3
DIRETORA JURÍDICA
MARIANA UEMURA SAMPAIO
DIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE
PAULO BOTELHO PESSOA
DIRETOR FINANCEIRO
SERGIO MALGUEIRO MOREIRA
Não são tendências imutáveis. Pro-
jeções não são futurologia nem preci-
sam ser um destino, se tomadas como
uma advertência e um convite à ação
política e à criatividade.
Inovações tecnológicas, seja na
biotecnologia, seja na Inteligência
Artificial ou na automação indus-
trial, podem impulsionar a produtivi-
dade. Reformas que melhorem a efi-
ciência dos sistemas de saúde e de
previdência podem aliviar pressões
fiscais. Para as economias emergen-
tes do Brics, a OCDE projeta que me-
lhorias na governança, no desempe-
nho educacional e na abertura comer-
cial têm o potencial de elevar seu pa-
drão de vida de 30% a 50% em relação
ao cenário-base.
A taxação do carbono pode gerar
receitas adicionais, que podem ser em-
pregadas para aliviar a carga tributá-
ria sobre o trabalho. Parte dessas re-
ceitas deveria ser investida em pesqui-
sa e desenvolvimento de energias tão
baratas e eficientes quanto as fósseis.
Por ora, é preciso lidar com a reali-
dade como ela é. Com as tecnologias
atuais, a aceleração da descarboniza-
ção impõe um peso ao bem-estar so-
cial e, inversamente, a elevação do
bem-estar social impõe um freio à des-
carbonização.
O mundo precisa se empenhar em
cálculos de custo-benefício para fazer
escolhas racionais entre a preserva-
ção ambiental e o progresso social. E
os países pobres precisam negociar
com os países ricos transferências de
recursos e/ou prazos dilatados para
uma transição energética socialmen-
te sustentável. l
das para se fechar um acordo similar, o
New York Times (NYT) se tornou a pri-
meira grande empresa de mídia norte-
americana a processar a OpenAI e a Mi-
crosoft sobre seus robôs, “por lucrar
com a infração massiva de direitos auto-
rais, a exploração comercial e a apro-
priação indevida da propriedade inte-
lectual do Times”. O jornal alega que as
empresas têm buscado “surfar livre-
mente sobre o investimento massivo
do Times em seu jornalismo, utilizan-
do-o para construir produtos substitu-
tivos sem permissão ou remuneração”.
Até há pouco tempo, um internauta
que quisesse, por exemplo, reproduzir
a receita de macarrão com queijo do
NYT teria de bancar o pagamento de
uma assinatura. Hoje ele pode simples-
mente pedi-la a um chatbot.
Uma opção para as mídias jornalísti-
cas seria bloquear o acesso dos robôs
aos seus websites. Isso evitará as per-
das, mas não trará ganhos a ninguém.
Máquinas treinadas com informação
ruim, gerando conteúdos com informa-
ção ruim, só produzirão resultados ru-
ins: mais desinformação e ameaças ao
debate democrático.
Se os robôs das empresas de tecnolo-
gia geram conteúdos utilizando dados
apurados por jornalistas profissionais
e lucram com isso, nada mais razoável
que parte desses lucros seja repassada a
quem gerou esses dados. Isso, sim, será
um uso justo e benéfico a todos. l
 O ESTADO DE S. PAULO
A4
ESPAÇO ABERTO
Ano novo
mais que novo
Horacio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski
amais o ditado “em ca-
J sa onde falta pão, to-
dos gritam e ninguém
tem razão” fez tanto
sentido. Ao acompa-
nhar as notícias, daqui ou alhu-
res, nos espantamos com o ex-
cesso de opiniões por vezes his-
téricas, outras eivadas de cons-
pirações – quase todas sempre
longe da busca de consenso.
Neste tenso final de ano, insti-
tutos medem o grau de rejei-
ção das lideranças, a confian-
ça dos empresários, as expec-
tativas dos consumidores. Há
resultados para todos os gos-
tos, mas a soma é extremamen-
te negativa.
Vivemos um conflito no
Oriente Médio em que há – vie-
ses e covardias à parte – a con-
cordância quanto à sua brutali-
dade, a ojeriza ao execrável Ha-
mas, as incertezas quanto ao
seu fim e a extensão da cauda
longa com que os povos envol-
vidos terão de lidar. Obscure-
cida por essa barbárie, outra,
na Ucrânia, sem perspectivas
de um fim negociado, conso-
me recursos de todas as natu-
rezas que muito afetam o mun-
do. A Venezuela, sequestrada
por suas lideranças anarco-
ideológicas, mostra os dentes,
ameaçando a pequena e poten-
FÓRUM DOS LEITORES
MP da desoneração
Impasse à vista
A medida provisória (MP) anun-
ciada pelo ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, que revoga a
desoneração da folha de paga-
mento dos 17 setores que mais
empregam no País pode levar a
um impasse entre governo, Con-
gresso e empresariado. A desone-
ração, que troca o recolhimento
da contribuição previdenciária
patronal de 20% sobre a folha de
salários por 1% a 4,5% da receita
bruta, vigora desde 2011 e os de-
putados e senadores aprovaram
sua extensão até o fim de 2027.
Lula vetou, mas o veto foi rejeita-
do. O anúncio da MP que estabe-
lece sua revogação agita os parla-
mentares, que se movimentam
para rejeitar qualquer alteração,
e inquieta o empresariado, que já
fala em grande número de demis-
sões. Com a atitude, o governo
problematiza a frágil base parla-
mentar construída desde o iní-
cio do mandato à custa de emen-
das parlamentares e benesses (e
cialmente rica Guiana. E Azer-
baijão, Sudão e outros despe-
jam seus cidadãos em desuma-
nos campos de refugiados já
saturados.
Em 2022 tivemos 55 confli-
tos, envolvendo 38 países, sen-
do oito considerados guerras.
É muita incompetência, da Or-
ganização das Nações Unidas
(ONU) como gestora da rela-
ção entre as nações, mas em es-
pecial do ser humano, como al-
goz e vítima ao mesmo tempo.
Agregue-se a isso inflação e
eleições americanas, impac-
tos da China, protecionismo
da Europa e, aqui, a expectati-
va quanto aos rumos da Argen-
tina, e a receita está dada. Vola-
tilidade e foco em palanques,
populismo, interesses concen-
trados na busca de poder e ri-
queza seguem firmes na agen-
da de muitos países.
Abraçando tudo, o clima,
mostrando consistentemen-
te que nossa provedora defini-
tiva, a natureza, já deu o que
podia e, agora, reage violenta-
mente. Temos uma atmosfe-
ra mais quente em cerca de
1,2 grau, emissões de carbono
em alta, carvão mantendo
seu espaço, e, ainda assim, re-
sultados da Conferência das
Partes (COP) bastante
O Estado reserva-se o direito de selecionar e resumir as cartas.
Correspondência sem identificação (nome, RG, endereço e telefone) será desconsiderada l E-mail: forum@estadao.com
cargos) distribuídas a congressis-
tas cooptados. A se confirmar a
revogação do que o Legislativo
produziu, o governo perde mais
um significativo número de vo-
tos e terá de reiniciar os esforços
de atração, se quiser continuar
aprovando seus projetos. É preo-
cupante o andamento das finan-
ças do governo: deve fechar 2023
com déficit de cerca de R$ 120 bi-
lhões e promete, sem muita con-
vicção, déficit zero em 2024. Pa-
ra isso, é preciso economizar, coi-
sa que não faz parte do jeito PT e
Lula de governar. As reformas
em andamento caminham deva-
gar e aumento de carga tributá-
ria é o mais horrendo dos pala-
vrões. Deus salve o Brasil.
Dirceu Cardoso Gonçalves
aspomilpm@terra.com.br
São Paulo
Serventia da medida
Esta medida provisória anuncia-
da por Haddad no fim do ano não
serviria mais como justificativa,
caso não atinja o déficit zero em
2024, do que para aumentar a ar-
recadação, já que a possibilidade
Todos temos um papel.
O Brasil ajudando no
esforço de racionalidade
e nós, sociedade,
ajudando o Brasil a
deixar de lado tanta
perda de tempo e mau
uso dos recursos
aquém das recomendações
técnicas. Embora com certo
ceticismo, a expectativa de
uma reunião multilateral
mais consequente embalava
nossas esperanças, mas é as-
sombrosa a capacidade do
mundo de se render a interes-
ses mesquinhos e deixar de
tratar da emergência climáti-
de ser rejeitada no Congresso ou
via judicial é altíssima?
Vital Romaneli Penha
vitalromaneli@gmail.com
Jacareí
Ano novo
‘Alea jacta est’
Os barulhentos e coloridos fo-
gos de artifícios anunciam a che-
gada de um novo ano. As pessoas
vibram e se abraçam, comemo-
rando a chegada, com vivas à es-
perança. Fim da queima de di-
nheiro, os próximos passos para
um ano venturoso são as simpa-
tias, e a maioria absoluta é em
busca do dinheiro. As mais conhe-
cidas são: comer lentilhas, uvas,
romã, usar roupas brancas, pular
sete ondas e atirar flores a Ieman-
já – pronto, a sorte está lançada.
Grande negócio para os comer-
ciantes, e quem sabe a milionária
loteria da virada contemple seus
sonhos e esforços. Se nada disso
acontecer, ainda temos as previ-
sões dos babalorixás, cartoman-
tes, bolas de cristal, tarôs, que in-
variavelmente trazem mensa-
ca – este, sim, o conflito final.
Já por terras tropicais, bas-
ta ler as notícias e comprovar
a polarização ainda tão presen-
te, riscos não eliminados à de-
mocracia, fragilidades na har-
monia e independência entre
os Poderes, argumentos que
repetem os erros que nos trou-
xeram até aqui por via da visão
curtoprazista e provinciana,
tanto regional quanto seto-
rial. Temas como desonera-
ção da folha de pagamentos,
precatórios, politização da
Justiça, Congresso faminto,
Executivo refém e hesitante
entre o interesse na adesão e o
desejo de enfrentamento, a
fundamental educação, que
avança aquém do necessário,
envergonhando-nos com os
recentes resultados do Pisa,
são as pautas diárias da vida
do País.
Neste momento, avança-se
cada vez mais nas verbas parla-
mentares e em tertúlias va-
zias. Disputas vãs de comando
de ação em portos, segurança
pública voltando a ser o princi-
pal problema da Nação, cor-
rupção saindo das sombras.
Um enorme desperdício de
oportunidades para um país
que poderia ser o líder nos te-
mas da economia verde e da
descarbonização. Um país
que administra a escassez, ao
mesmo tempo que se prova ri-
co e, quando bem administra-
do, eficaz. Saldo comercial im-
portante, uma indústria seden-
ta por investir e empregar,
agricultura mais consciente,
conflitos de terras e desmata-
mentos melhorando pela ação
do Ministério do Meio Am-
biente, reforma tributária
avançando pelo empenho da-
gens otimistas, nem sempre cer-
teiras, mas servem de muleta pa-
ra a travessia de mais um ano, afi-
nal, “a esperança é a última que
morre”. Passadas as festas efê-
meras de sonhos e promessas, a
realidade para 2024 (ano bissex-
to), pelo que se vislumbra, será
dura. Portanto, vamos ao traba-
lho. Janeiro nos aguarda, com
nossos velhos e conhecidos com-
promissos: o IPTU e o IPVA, os
abre-alas do festival de impostos
anuais. E oremos para que a refor-
ma tributária, aprovada às pres-
sas, com início em 2026, não nos
pregue surpresas desagradáveis
ainda neste próximo ano.
Sergio Dafré
sergio_dafre@hotmail.com
Jundiaí
Novo tempo
Depois de um ano de muitas tur-
bulências não só na política, mas
nas intempéries do tempo, che-
gamos ao fim de 2023. Rogo que
o novo ano que se inicia amanhã
traga a todos os brasileiros saú-
de, paz e prosperidade, e que em
nenhum lar falte o pão nosso de
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
queles que enfrentam a pres-
são dos sempre mesmos gru-
pos de interesse, ciência e tec-
nologia com mais recursos,
educação com um plano entre-
gue pelo empenho de especia-
listas. Aliás, se andamos neces-
sitados de lideranças em to-
dos os campos, temos, por ou-
tro lado, uma sociedade civil
mais disposta a embarcar sua
inteligência no governo. No
que não se misturavam como
água e óleo, ora assistimos a
parcerias notáveis.
O Brasil precisa acertar
sua questão fiscal, seu equilí-
brio entre deveres e responsa-
bilidades, incluído aí o peso
do setor público e das benes-
ses amorais, abrir-se para o
mundo, levando a melhorias
em taxas de juros, crédito, em-
pregos e oportunidades. Por
aí, reduziria a pobreza, viabili-
zaria seu PIB potencial, au-
mentando a base de consumi-
dores e poupadores, e retoma-
ria o grau de crescimento que
já conheceu. É bastante lógi-
co, mas certamente não tri-
vial. Ainda assim, é o que deve-
mos perseguir, abandonando
preconceitos e pessimismos
paralisantes.
Num mundo em busca de
solução, todos temos um pa-
pel. O Brasil ajudando no es-
forço de racionalidade e nós,
sociedade, ajudando o Brasil a
deixar de lado tanta perda de
tempo e mau uso dos recur-
sos, enfrentando as recorren-
tes malandragens, consertan-
do o que sabemos que pode
ser consertado.
Ano novo mais que novo é
do que precisamos. l
SÃO EMPRESÁRIOS
cada dia. Um feliz ano novo!
Virgílio Melhado Passoni
mmpassoni@gmail.com
Jandaia do Sul (PR)
Esperança
Que 2024 traga boas notícias e
que sonhos e projetos se tornem
realidade. É apenas uma mudan-
ça no calendário, mas é também
oportunidade para uma pausa
na caminhada, de olhar para trás
para retomar o caminho com
mais alegria e esperança. O que
vem por aí? O ano de 2024 será
de desafios para nossas cidades,
o Brasil e o mundo, mas ser oti-
mista é o começo para fazer des-
te próximo ano um ano de paz. É
o que desejo a todos, além de
muita alegria e um Brasil mais to-
lerante. Nenhum ano será real-
mente novo se continuarmos a
cometer os mesmos erros dos
anos velhos. Sejamos melhores
do que somos agora. Por dias me-
lhores. Deus abençoe o Brasil. Fe-
liz todos os dias de 2024!
José Ribamar Pinheiro Filho
pinheirinhoma@hotmail.com
Brasília

DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
ESPAÇO ABERTO
Nuvens políticas carregadas em 2024 (e depois)
Sergio Fausto
esde a eleição de
D Donald Trump
em novembro de
2016, as democra-
cias têm sido sub-
metidas a constantes testes de
estresse. Não será diferente
em 2024, quando o ex-presi-
dente, muito provavelmente,
voltará a disputar com chances
de vitória a Casa Branca. Se ven-
cer, o risco para a democracia
será maior do que da primeira
vez. Embora seja a mais impor-
tante, a eleição presidencial
nos Estados Unidos não é a úni-
ca frente na batalha em defesa
da democracia.
Os sinais de ascensão da ex-
trema direita estão quase por
toda parte. A vitória do partido
nacionalista xenófobo nas elei-
ções parlamentares na Holan-
da, em novembro, é presságio
de avanços de partidos do mes-
mo naipe nas eleições para o
Parlamento Europeu em junho
de 2024. Na Espanha, os socia-
listas se viram na contingência
de fazer um grande acordo po-
lítico, que pode lhes custar ca-
ro no futuro, para evitar um go-
verno com a presença da extre-
ma direita. O que foi possível
evitar na Espanha ao final des-
te ano é provável que ocorra
em Portugal, onde eleições an-
tecipadas para o início de 2024
podem levar ao governo uma
coalizão integrada pelo Chega,
irmão siamês do Vox. Em ne-
TEMA DO DIA
Respeito e segurança
Lei ‘Não é Não’ para proteger mulheres em
bares e shows é sancionada por Lula
Estabelecimentos de todo o País tem até
junho de 2024 para seguir o protocolo; casas no-
turnas, locais de shows, bares e restaurantes se-
rão obrigados a proteger mulheres em situa-
ções de violência e constrangimento. l
Av. Eng. Caetano Álvares, 55 – CEP: 02598-900 – São Paulo - SP l (11) 3856-2122 l Fax: (11) 3856-2940 l E-Mail: forum@estadao.com l Central do assinante: Capital e regiões metropolitanas: 4003-5323 l Demais Localidades: 0800-014-77-20 l
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nhum desses casos, a extrema
direita alcança votos e cadeiras
suficientes para liderar a maio-
ria no Parlamento, mas se afir-
ma como força incontornável
para a direita chegar ao poder.
Os cordões sanitários que per-
mitiram isolar o extremismo
de direita por 70 anos estão se
esgarçando ou já se romperam.
Na Itália, onde o governo é
liderado pelo partido de extre-
ma direita Fratelli d’Italia, a pri-
meira-ministra Giorgia Meloni
adota uma política mais mode-
rada do que faziam crer o seu
programa e sua retórica de cam-
panha. Recuo tático, provavel-
mente. A verdade é que as for-
ças democráticas, da centro-di-
reita a centro-esquerda, estão
na defensiva em quase toda a
Europa. A centro-esquerda eu-
ropeia encontra dificuldade pa-
ra responder às “promessas
não cumpridas da democra-
cia” em meio a tendências es-
truturais de concentração do
capital, da renda e do poder e a
tensões crescentes sobre a dis-
tribuição dos custos da transi-
ção para uma economia de bai-
xo carbono. À insegurança eco-
nômica se somam e se asso-
ciam temores em relação à imi-
gração. Nesse contexto, o po-
pulismo nacionalista xenófo-
bo e negacionista tem produzi-
do respostas equivocadas, mas
com crescente apelo eleitoral.
Também na América Latina,
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 2/4/2022
21.073
interações
Os cordões sanitários
que permitiram isolar
o extremismo de direita
por 70 anos estão se
esgarçando ou já se
romperam. No Brasil,
os ‘companheiros’ não
parecem saber em que
mundo estão vivendo
as forças democráticas de cen-
tro e centro-esquerda estão na
defensiva. É o que se vê no Chi-
le, por exemplo, onde o gover-
no de Gabriel Boric, que se
abriu à social-democracia de-
pois de muitos tropeços ini-
ciais, se encontra com populari-
dade em baixa, enquanto a di-
reita pura e dura ganha terreno
na sociedade e na política. Na
região, a insegurança econômi-
ca também está presente, em-
bora não exatamente nos mes-
mos termos. À diferença da Eu-
ropa, porém, a insegurança em
relação à vida e à propriedade,
Comentários de leitores no
portal e nas redes sociais
l “Uma lei importante, mas deveria incluir
cultos e eventos religiosos. Lamentavel-
mente é muito recorrente nesses espaços.”
ANDRÉ SANTOS
l “Tira todas as ministras e aprova lei pra
algo que já existe. Gênio.”
CARLOS TECLES
l “(Essa lei) poderá intimidar um pouco os
infelizes.”
SILVIA GLORIA
l “Aquelas leis bem inúteis que na prática
não mudam nada.”
LUCAS LIONE BORGES
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O ESTADO DE S. PAULO
provocada pela criminalidade
endêmica e organizada, tem pe-
so muito maior.
No Brasil, o governo Lula
busca se equilibrar entre for-
ças contraditórias. De um lado,
vê-se obrigado a construir
maioria parlamentar num Con-
gresso conservador no qual o
espaço da política local basea-
do em emendas parlamentares
ocupa a maior parte da barga-
nha política e do já exíguo espa-
ço orçamentário não carimba-
do por despesas obrigatórias.
De outro, tem de lidar com o
próprio partido do presidente,
em que predominam uma vi-
são míope de curto prazo e
ideias gastas sobre as virtudes
intrínsecas – não importando
onde, como e quando – de
maior gasto público e interven-
ção estatal. Consideradas es-
sas dificuldades, que estreitam
o raio de manobra para progra-
mas e reformas de maior fôle-
go e abrangência, penso que o
governo Lula não vai mal.
Ainda assim, os riscos de in-
sucesso e suas graves conse-
quências políticas não devem
ser minimizados. A alternativa
provável a um governo hetero-
gêneo e contraditório como o
atual não é o dos sonhos dos
liberais progressistas e social-
democratas tupiniquins, entre
os quais me incluo. Como mos-
tram Felipe Nunes e Thomas
Traumann no recém-lançado
PRODUTOS DIGITAIS
Podcast
Machado fala sobre o rei l
https://bit.ly/3S0rbvQ
Saúde
do pode causar conjuntivite. l
https://bit.ly/41HJYiO
Newsletter
cias do dia no seu e-mail. l
https://bit.ly/3qymJWT
A5
Biografia do Abismo: como a pola-
rização divide famílias, desafia
empresas e compromete o futuro
do Brasil, livro publicado pela
Harper Collins, a polarização
entre o “lulismo” e o “bolsona-
rismo”, mesmo sem Bolsona-
ro, dá sinais de se ossificar.
Essa ossificação impõe dois
desafios. De um lado, trabalhar
politicamente para construir
uma alternativa à polarização
mesmo que seja, no nível nacio-
nal, para depois de 2026. De ou-
tro, aprofundar o aprendizado
de fazer política no interior de
frentes amplas, sob pena de ver
avançar uma direita sem escrú-
pulos democráticos e civilizató-
rios. Não é fácil fazer as duas
coisas, mas é necessário.
A presença no governo Lula
de políticos não petistas de ex-
pressão nacional, como o vice-
presidente Geraldo Alckmin e
as ministras Simone Tebet e
Marina Silva, indica que o
aprendizado está sendo feito
do lado de fora do partido.
Mas e dentro do PT? Voltados
para o seu próprio umbigo, ve-
lhas crenças e interesses de
curto prazo, os “companhei-
ros” não parecem saber em
que mundo estão vivendo, a
julgar pela esdrúxula manifes-
tação de sua mais recente “con-
ferência eleitoral”. l
DIRETOR-GERAL DA FUNDAÇÃO FHC,
É MEMBRO DO GACINT-USP
DOMICIO PINHEIRO/ESTADÃO - 11/7/1971
Um ano sem Pelé: Cléber
Protetor solar mal aplica-
Receba as principais notí-
A6
POLÍTICA
Poderes
Mais de 70% das medidas provisórias de
Lula ‘caducam’ no Congresso em 2023
No 1.º ano do seu terceiro mandato, 20 de 27 normas com força de lei editadas pelo petista
perderam validade no Legislativo; desempenho negativo que só Bolsonaro também registrou
GABRIEL HIRABAHASI
BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva encerra seu primeiro
ano de mandato com mais me-
didas provisórias que perde-
ram validade do que aprova-
das no Congresso. Desde
2003, quando o petista tomou
posse para seu primeiro man-
dato, apenas em 2019 e 2020,
com Jair Bolsonaro (PL), e em
2023, o presidente da Repúbli-
ca fechou o ano com menos
MPs aprovadas do que caduca-
das. Neste último caso, porém,
a proporção é bem maior.
Levantamento feito pelo Es-
tadão/Broadcast mostra que,
até o dia 20 de dezembro, Lula
viu 20 medidas provisórias per-
derem a validade e apenas sete
serem aprovadas pelos parla-
mentares federais.
Em 2020, 54 MPs assinadas
por Bolsonaro perderam vali-
dade antes que fossem analisa-
das pelo Congresso. Outras 53
foram aprovadas pelos parla-
mentares e sancionadas pelo
então chefe do Executivo. Em
2019, a proporção foi seme-
lhante: 23 medidas provisórias
caducaram antes de serem vo-
tadas e 22 foram aprovadas.
Em todos os outros anos (de
2003 a 2018 e de 2021 a 2022),
os presidentes da República
conseguiram aprovar mais
MPs no Congresso, mesmo
com bases parlamentares frá-
geis em alguns momentos.
Normas editadas com força
de lei pelo presidente da Repú-
blica, as medidas provisórias
são previstas em situações de
relevância e urgência. Não é in-
comum o Executivo ser alvo
de críticas pelo excesso de uso
do instrumento. No apagar do
primeiro ano do terceiro man-
dato de Lula, a publicação da
MP que reonera a folha de pa-
gamento para 17 setores que
mais empregam no País provo-
cou críticas e protestos do se-
tor produtivo e da classe políti-
ca. O Congresso havia prorro-
gado a desoneração até 2027.
A medida provisória foi
anunciada na quinta-feira pelo
ministro da Fazenda, Fernan-
do Haddad, e publicada na sex-
ta, último dia útil do ano, no
Diário Oficial da União. Ela de-
ve projetar embate entre Exe-
cutivo e Legislativo no início
de 2024. O presidente do Sena-
SEM EFEITO
Anos em que presidentes tiveram mais MPs caducadas do que aprovadas pelo Congresso
MPS CADUCADAS MPS APROVADAS
Bolsonaro 2019
48,9% 51,1%
do e do Congresso, Rodrigo Pa-
checo (PSD-MG), afirmou que
a medida provisória causou
“estranheza” e que o seu teor
legal será analisado.
RITO. O baixo número de medi-
das provisórias que tiveram o
aval dos parlamentares neste
primeiro ano do terceiro man-
dato de Lula se explica, em
grande parte, pela disputa no
Legislativo em torno do rito de
tramitação das MPs.
Pela Constituição, as medi-
das provisórias precisam ser
analisadas por comissões mis-
tas, para somente então serem
encaminhadas primeiro à Câ-
mara dos Deputados e depois
ao Senado. As relatorias nos co-
legiados mistos são alternadas
Câmara x Senado
Lira e Pacheco travaram
neste ano uma disputa
sobre a tramitação de
MPs no Congresso
– uma MP é relatada por um
deputado e a seguinte, por um
senador, visando dar equilí-
brio de protagonismo às duas
Casas. A escolha do relator na
comissão mista é importante
porque empodera o parlamen-
tar definido para negociar com
o governo e com seus pares.
LIRA. O presidente da Câmara,
Arthur Lira (PP-AL), e líderes
da Casa próximos a ele se recu-
saram a indicar integrantes de
diversas comissões mistas. Li-
ra também avisou ao governo
Bolsonaro 2020
49,5% 50,5%
que não pautaria algumas MPs
para votação no plenário da Câ-
mara, orientando que as pro-
postas fossem reencaminha-
das como projetos de lei.
Diversas proposições pas-
saram por esse entrave no
Congresso. A MP que tratava
da tributação de offshores,
por exemplo, teve de ser en-
viada novamente ao Congres-
so no formato de projeto de
lei. O mesmo ocorreu com a
proposta que retomava o vo-
to de qualidade no Conselho
Administrativo de Recursos
Fiscais (Carf).
O efeito prático foi que o go-
verno perdeu tempo de debate
dos assuntos e teve de lidar
com negociações pontuais
com líderes da Câmara e do Se-
nado em relação aos temas. Pa-
ra evitar desgastes, principal-
mente com Lira, em quase to-
das as oportunidades o Palácio
do Planalto preferiu atender
aos pedidos e enviar os proje-
tos de lei ao Legislativo.
Uma das únicas vezes em
que o governo bateu o pé e in-
sistiu na tramitação de uma
medida provisória foi com a
mudança nas subvenções do
ICMS, aprovada no Senado em
dezembro e enviada à sanção
presidencial. O motivo: como
a regra de tributação foi insti-
tuída por meio de medida pro-
visória, não teria de passar por
um período de “quarentena”
antes de entrar em vigência. Se
fosse aprovada por meio de
um projeto de lei, só valeria a
partir de abril – e o governo
perderia a nova arrecadação
nos primeiros meses de 2024.
Lula 2023
25,9%
74,1%
FONTE: CONGRESSO NACIONAL / INFOGRÁFICO: ESTADÃO
Para lembrar
MP dos Ministérios deixou
governo petista sob ameaça
l Em cima da hora
O Congresso aprovou no dia
1.º junho a Medida Provisó-
ria 1.154/23, que garantiu a
estrutura de 37 ministérios
do atual governo do presi-
dente Luiz Inácio Lula da
Silva. A MP dos Ministérios
ficou 111 dias sem ser votada
no Legislativo
l Risco
Faltando nove dias para o
prazo da MP caducar, a co-
missão que reúne deputados
e senadores aprovou mudan-
ças no texto. Quando passou
no Senado, faltavam 10 ho-
ras e 40 minutos para a MP
vencer e a gestão petista ser
obrigada a desativar 17 pas-
tas, retomando a estrutura
do governo Jair Bolsonaro
REJEITADAS. Em seu primeiro
mandato, Lula teve de enfren-
tar outro tipo de resistência do
Congresso. De 2004 a 2006, 20
medidas provisórias assinadas
pelo petista foram rejeitadas
pelos presidentes do Congres-
so à época. Estiveram à frente
do Legislativo, naquele perío-
do, os senadores José Sarney
(MDB-AP) e Renan Calheiros
(MDB-AL), que tinham uma
postura de independência em
relação ao PT.
Mesmo assim, na grande
maioria das vezes, não havia re-
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
sistências por parte dos parla-
mentares com o instrumento
legislativo da medida provisó-
ria – Lula teve 160 MPs aprova-
das nesse período.
Nos últimos anos, porém,
tornou-se mais frequente o
Congresso deixar de analisar
medidas provisórias assinadas
pelo presidente da República.
Em 2014, a então presidente
Dilma Rousseff (PT) viu 14
MPs suas perderem validade
antes de serem votadas. Em
2017, com Michel Temer
(MDB), esse número aumen-
tou ainda mais: foram 23.
Além do fortalecimento do
Congresso nos últimos anos,
com cada vez mais espaço no
Orçamento da União por meio
de emendas parlamentares, ou-
tro motivo para esses altos nú-
meros de MPs que perdem vali-
dade antes de serem votadas
está nas aberturas de créditos
extraordinários. De 2017 até
hoje, por exemplo, 62 das 175
medidas provisórias que per-
deram validade diziam respei-
to a esses créditos. Na prática,
uma vez que os recursos são
destinados, as medidas provi-
sórias ficam sem função e não
precisam virar lei.
Nas duas últimas décadas,
foram constantes as queixas
e os embates envolvendo o
número de medidas provisó-
rias enviadas pelo Executivo
ao Legislativo. O uso abusi-
vo do instrumento já foi de-
nunciado por autoridades
dos outros Poderes ao longo
dos últimos anos, em diferen-
tes governos.
‘ROLETA-RUSSA’. Em 2017, na
gestão Temer, o então presi-
dente da Câmara dos Deputa-
dos, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
chegou a anunciar que não vo-
taria mais este instrumento no
plenário da Casa. Já em 2008,
durante o segundo mandato
de Lula, o ministro Gilmar
Mendes, então presidente do
Supremo Tribunal Federal
(STF), criticou o que chamou
de excesso de medidas provisó-
rias e trancamento de pautas
no Congresso.
À época, o então presidente
do STF defendeu a fixação de
um número que limitasse a edi-
ção de MPs pelo Executivo. “É
como se estivéssemos numa
roleta-russa com todas as ba-
las no revólver”, comparou Gil-
mar na ocasião. l
O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
Divulgação/ Vibra
Combustíveis ainda
mais eficientes nos
Postos Petrobras
Nova geração da linha Petrobras Grid contribui para aumentar
a eficiência do motor e reduzir custos com manutenção
Os novos combustíveis adi-
tivados dos Postos Petrobras
carregam nova tecnologia que
assegura mais limpeza e prote-
ção. Esses atributos do Etanol
Petrobras Grid e da Gasolina
Petrobras Grid contribuem di-
retamente para a economia, já
que aumentam a eficiência do
motor e reduzem os gastos com
manutenção. Um motor mais
limpo, que trabalha de forma
mais eficiente no dia a dia, leva
à redução do desgaste das peças
e exige menos idas ao mecânico.
Maior distribuidora de
combustíveis e uma das
maiores empresas de energia
do Brasil, a Vibra – licencia-
da da marca Petrobras – de-
senvolveu as inovações como
parte do compromisso de in-
vestir constantemente na en-
trega de melhores produtos
e de soluções que atendam
às expectativas e às necessi-
dades dos clientes da rede de
Postos Petrobras.
A nova tecnologia de aditi-
vação, batizada de Tecno 3, foi
desenvolvida em parceria com
a empresa alemã Basf e passou
por mais de 700 horas de testes
em laboratórios e motores na
Alemanha, nos Estados Unidos
e no Brasil. Envolve uma sele-
ção de aditivos que agregam
propriedades como avança-
Este material é produzido pelo Estadão Blue Studio com patrocínio da Vibra
APRESENTADO POR
A marca Petrobras é
licenciada à Vibra
dos modificadores de fricção,
detergentes e anticorrosivos.
Concebido especificamente
para a realidade do mercado
brasileiro, o blend proporcio-
na as melhores condições de
funcionamento para os moto-
res, respeitando as especifica-
ções técnicas estabelecidas pela
Agência Nacional do Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP) e as recomendações de
montadoras de automóveis.
100% contra ferrugem
Os testes demonstraram que
a nova fórmula reduz a forma-
ção de depósitos de resíduos
em diferentes partes do motor,
POLÍTICA A7
principalmente as válvulas, e
contribui para a remoção dos
resíduos já existentes. Outro
atributo relevante é a alta pro-
teção contra corrosão.
Nos testes do Etanol Grid,
por exemplo, o novo produto
promoveu proteção de 100%
contra ferrugem, enquanto o
etanol comum evitou de 25%
a 50% de ferrugem no corpo
de prova. Já nos testes de des-
gaste, o novo combustível di-
minuiu em até 36% o desgaste
entre peças metálicas quan-
do comparado com o etanol
comum. A redução de atrito
também é considerável: 40%
menos fricção, demonstrando
uma expressiva melhora na lu-
bricidade do etanol.
Combustível genuinamen-
te brasileiro, o etanol ganha
importância crescente dian-
te das demandas de sustenta-
bilidade. Hoje, mais de 70%
da frota brasileira já é flex –
utilizando etanol e gasolina
–, e a perspectiva é de que o
etanol continue sendo am-
plamente utilizado em veícu-
los elétricos híbridos.
Maurício Fontenelle, di-
retor de Estratégia, Planeja-
mento e Produtos da Vibra,
ressalta que o lançamento do
Etanol Grid e da Gasolina Grid
faz parte de um projeto maior
de revisão de toda a linha de
combustíveis da companhia.
“O mercado de etanol ainda
vai crescer e, à medida que fi-
car mais competitivo, irá ocu-
par um espaço ainda maior. A
nossa expectativa é de que o
etanol aumente a sua partici-
pação de mercado em cerca de
10% até 2030”, afirma.
Evolução constante
A Vibra possui uma rede de
postos composta por 8,3 mil uni-
dades espalhadas pelo País, com
mais de 30 milhões de clientes
pessoas físicas e 20 mil corpora-
tivos, integrantes dos mais diver-
sos setores da economia. Quase
40% do combustível rodoviário
utilizado por organizações em-
presariais no Brasil é fornecido
pelos Postos Petrobras.
A companhia também par-
ticipa de vários outros merca-
dos de combustíveis, como o
marítimo e o ferroviário. Na
aviação, atua com a marca BR
Aviation, que é licenciada da
Petrobras, em mais de 90 ae-
roportos e é responsável pelo
abastecimento de seis em cada
dez voos comerciais realiza-
dos no País. “Esses produtos
integram as iniciativas da Vi-
bra em inovação, resultado de
investimentos constantes em
tecnologia para sempre en-
tregar os melhores produtos
e soluções que atendam às ex-
pectativas e necessidades dos
clientes dos Postos Petrobras”,
conclui Fontenelle.
 POLÍTICA
A8
ano de 2023 acabou me-
O lhor do que começou,
mas os desafios de 2024
não serão fáceis para o
mundo, a América Latina e o
Brasil, que resistiu bem às amea-
ças de golpe de Estado, sur-
preendeu positivamente na eco-
nomia, recuperou parceiros fun-
damentais na política externa e,
agora, precisa jogar toda sua
energia para enfrentar proble-
mas estruturais e algo que só
vem piorando: as tensões na
América do Sul e o desequilí-
brio entre Executivo, Legislati-
vo e Judiciário.
Ucrânia e Faixa de Gaza vi-
ram escombros e a ONU confir-
ma sua irrelevância, num am-
SEG. Carlos Pereira e Diogo Schelp (quinzenalmente) l TER. Eliane Cantanhêde l QUA. Vera Rosa e Marcelo Godoy (quinzenalmente) l QUI. William Waack l SEX. Eliane Cantanhêde l DOM. Eliane Cantanhêde e J.R. Guzzo
Lei de Acesso à Informação
Sob Dino, Justiça tem pior índice de
transparência desde criação da LAI
ACESSO
Flávio Dino deixa o Ministério da Justiça com índice de transparência pior do que o das gestões de Sérgio Moro, André
Mendonça e Anderson Torres
Solicitações via Lei de Acesso à Informação
negadas nos últimos governos
EM PORCENTAGEM
16,6
12,2
FLÁVIO DINO ANDRÉ ANDERSON
(GOVERNO MENDONÇA
LULA) (GOVERNO (GOVERNO
BOLSONARO) BOLSONARO)
Atual gestão da pasta
é a que mais negou
pedidos de acesso a
dados; ministério diz
que sigilo é garantido
por legislação
GABRIEL DE SOUSA
BRASÍLIA
O ministro da Justiça e Segu-
rança Pública, Flávio Dino, dei-
xará a pasta com um recorde
em negativas de pedidos de
acesso a informações públicas
e sob a alegação de sigilo de
dados. Segundo o Painel da
Controladoria-Geral da União
(CGU), o Ministério da Justi-
Eliane Cantanhêde
Não a golpes, guerras, violência e desigualdade!
biente que frustrou as expectati-
vas do presidente Lula para sua
atuação internacional. Em
2023, ele passou 62 dias fora,
em 24 países de todos os conti-
nentes, e teve sucesso ao norma-
lizar as relações com o resto do
mundo, mas derrapou em ges-
tos e declarações de cunho ideo-
lógico – portanto, pouco diplo-
máticas – e acabou muito distan-
te do protagonismo sonhado.
Em 2024, o Brasil tem a presi-
dência do G-20, grupo das maio-
res economias mundiais, e do
banco dos Brics, agora amplia-
dos, além de se preparar para
sediar a COP-30, em 2025. Mas,
se Ucrânia e Gaza estão muito
longe, Guiana e Argentina são
7,7 6,7 3,7 3,5
SÉRGIO GOVERNO GOVERNO
TORRES MORO DILMA TEMER
(GOVERNO
BOLSONARO)
ça, sob Dino, negou mais pedi-
dos feitos via Lei de Acesso à
Informação (LAI) desde que a
legislação passou a vigorar, em
2012, superando as gestões
dos ex-ministros Sérgio Moro,
André Mendonça e Anderson
Torres, todos do governo de
Jair Bolsonaro (PL).
Indicado pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e apro-
vado pelo Senado para ocupar
uma cadeira no Supremo Tri-
bunal Federal (STF), Dino de-
ve tomar posse na Corte no dia
22 de fevereiro.
A LAI estabelece que cida-
dãos tenham a garantia do
acesso a dados públicos das es-
feras federal, estadual e muni-
cipal. Sancionada em 2011 pela
aqui e estão em perigo. Uma,
ameaçada pelo já autocrata Ma-
duro e outra, pelo potencial au-
tocrata Milei. O Brasil é periféri-
co na geopolítica internacional,
mas é líder na América do Sul.
Desafio do governo
em 2024 é repetir
2023 e superar as
previsões negativas
Na economia, o desafio é su-
perar as previsões negativas, co-
mo em 2023. Não será fácil e já
começa com o déficit zero no
centro da disputa virtualmente
perdida pela reoneração da fo-
Justificativa por necessidade de manter informações
em sigilo
EM PORCENTAGEM
45,3
41,5
FLÁVIO DINO SÉRGIO
(GOVERNO MORO MENDONÇA
LULA) (GOVERNO (GOVERNO
BOLSONARO) BOLSONARO) BOLSONARO)
então presidente Dilma Rous-
seff (PT), a lei considera infor-
mação sigilosa aquela que é im-
prescindível “para a segurança
da sociedade e do Estado”.
HISTÓRICO. Em 2023, o Ministé-
rio da Justiça negou 16,6% dos
pedidos feitos por meio da
LAI. Quando a pasta era co-
mandada por Torres, entre
março de 2021 e dezembro de
2022, 7,7% das demandas fo-
ram negadas por parte do mi-
nistério. Com Mendonça, que
antecedeu Torres e agora será
colega de Dino no Supremo,
12,2% dos pedidos não foram
concedidos. Sob Moro, minis-
tro de Bolsonaro até abril de
2020, foram negadas 6,7% das
E-mail: eliane.cantanhede@estadao.com; Twitter: @ecantanhede
lha de pagamento, entre o gover-
no, com Fernando Haddad na
linha de frente, e o Congresso,
com Rodrigo Pacheco na defe-
sa. A aposta é que ele devolva
para o Executivo a MP sobre a
folha, sem votação e com apoio
político, jurídico e empresarial.
Em 2015, o Senado devolveu pa-
ra o governo Dilma Rousseff
uma MP sobre o mesmo tema.
Os ânimos entre Congresso,
governo e Supremo já estão acir-
rados por outras questões, co-
mo marco temporal das terras
indígenas, intervenção do Legis-
lativo no funcionamento do Su-
premo, e vice-versa, além das
medidas econômicas de Had-
dad, como a própria aritmética
38,5 36,7
28
ANDRÉ ANDERSON GOVERNO
TORRES DILMA
(GOVERNO
FONTE: CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO (CGU) / INFOGRÁFICO: ESTADÃO
solicitações. Ao longo de toda
a gestão do ex-presidente Mi-
chel Temer (MDB), a pasta
não concedeu 3,5% das deman-
das. Durante o governo Dilma,
houve negativas para 3,7% dos
pedidos registrados.
Prêmio
Pasta ganhou o ‘Cadeado
de Chumbo 2023’ por
descumprir princípios
de transparência
Dos 16,6% dos pedidos fei-
tos via LAI negados pelo minis-
tério de Dino, 45,3% foram clas-
sificados pela pasta como in-
formações sigilosas, de acordo
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
fiscal e a segunda fase da refor-
ma tributária. O bolsonarismo
sobrevive e o Centrão tem a fa-
ca, o queijo e os votos nas mãos.
Quanto aos problemas estru-
turais, os três Poderes têm de
agir, mas a sociedade não pode
lavar as mãos: a cruel desigual-
dade social; índices inadmissí-
veis de criminalidade; avanço
de milícias e crime organizado
sobre as instituições; deteriora-
ção do clima e do ambiente que
compromete o futuro da huma-
nidade e do Brasil.
Feliz 2024! l
COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO,
DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL
GLOBONEWS EM PAUTA
com “legislação específica”.
Outras 9,72% das demandas ti-
veram acesso rejeitado por se
tratar de dados pessoais e
5,67% não foram contempla-
das por serem “desproporcio-
nais ou desarrazoados”.
Durante a gestão de Torres,
36,7% dos pedidos foram nega-
dos sob a alegação de sigilo. Já
sob Mendonça, o motivo foi
usado em 38,5% das recusas. A
gestão de Moro usou a alega-
ção em 41,5% das solicitações
não concedidas. O governo Te-
mer foi o que menos negou
sob a justificativa de sigilo
(22,4%). Na gestão Dilma, o
porcentual foi de 28%.
De acordo com Júlia Rocha,
coordenadora de Acesso à In-
formação e Transparência da
Artigo 19, ONG que atua na am-
pliação do acesso à informa-
ção no mundo, o número eleva-
22,4 do de recusas por parte da Jus-
tiça em 2023 contraria a trans-
parência que a LAI exige dos
gestores públicos.
“Quando vemos um órgão
GOVERNO que deveria garantir o correto
TEMER
andar da Justiça e da Seguran-
ça Pública negando tantas in-
formações, podemos pensar
sobre qual é o comprometi-
mento desse ministério com a
causa e a pauta da transparên-
cia”, afirmou Júlia.
SIGILO. Em nota ao Estadão, o
Ministério da Justiça afirmou
que o alto número de recusas a
pedidos via LAI neste ano se
deve a solicitações ligadas ao 8
de Janeiro. “Tais atos geraram
a abertura de investigações po-
liciais e outros procedimen-
tos, razão de muitos pedidos
que foram indeferidos.”
Ainda segundo a pasta, a LAI
foi “bem aplicada” em 2023 e
dados que não foram publiciza-
dos cumpriram legislações es-
pecíficas. “As informações que
não foram repassadas via Lei
de Acesso à Informação estão
cobertas pelo sigilo.” l
 POLÍTICA A9
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023

O ESTADO DE S. PAULO

J. R. Guzzo
O surto do ministro Toffoli
unca se viu na história abraço. Se você é uma emprei- tram sob a proteção do STF. Os da cinco anos – um benefício natural para a sua decisão: ale-

N do Supremo Tribunal
Federal alguém com a
capacidade de produ-
ção que o ministro Dias Toffoli
vem demonstrando nestas últi-
mas semanas. O problema é
que ele só tem produzido, em
seu atual surto de operosidade,
o mesmo tipo de artigo – e esse
artigo é um atraso de vida dire-
to na veia. Trata-se dos direitos
especiais de saque contra o erá-
rio que o ministro está conce-
dendo, de forma automática,
para quem recebe o selo de “mi-
noria protegida” pelo STF – é ir
para lá, levado por alguns mi-
lhões de reais em honorários
de advogado, e correr para o
teira de obras ou um grande fri-
gorífico acusados de corrup-
ção, por exemplo, ou um sindi-
cato de juízes atrás de dinheiro
do Estado, vai ganhar o selo de
Toffoli. Daí, como os arcanjos,
não precisa mais obedecer à lei.
A doutrina do ministro está
custando bilhões de reais para
o pagador de impostos – esses
mesmos que o governo está de-
sesperado para aumentar, di-
zendo que precisa fazer “inves-
timentos sociais”. O último sa-
que determinado por Toffoli
custou por volta de R$ 1 bilhão,
e foi tão assombroso quanto os
que ele já tinha dado para as
outras minorias que se encon-
beneficiários são os juízes fede-
rais: pediram a ressurreição de
um privilégio extinto desde
2006, o “quinquênio”, e o mi-
A doutrina do
ministro está
custando bilhões
de reais para o
pagador de impostos
nistro mandou pagar, com ar-
gumentos que, em termos de
lógica, ficariam mal num jar-
dim de infância. O “quinquê-
nio” fornece um aumento auto-
mático de 5% nos salários a ca-
tão incompreensível que foi eli-
minado por lei. Mas os juízes,
segundo Toffoli, não estão su-
jeitos à lei. Resultado: vai ter
juiz recebendo R$ 2 milhões
em “atrasados”.
São as “políticas de transfe-
rência de renda” que estão va-
lendo no Brasil de hoje. Os juí-
zes, na verdade, podem dizer
que levaram pouco. Logo antes
de lhes dar seu presente, Toffo-
li dispensou a J&F de pagar
mais de R$ 10 bilhões que devia
ao Tesouro Nacional – por for-
ça do acordo com o MP que a
livrou, em 2017, de cinco ações
penais por corrupção. O minis-
tro deu uma justificativa sobre-
gou que não havia “certeza” de
que a J&F queria mesmo assi-
nar o acordo. Queria a cadeia,
então, e foi forçada a aceitar a
multa? Na dúvida, não há ne-
nhuma das duas coisas – nem a
multa nem a cadeia.
Antes disso Toffoli declarou
nulas as provas materiais con-
tra a Odebrecht, incluindo con-
fissões de culpa e devolução de
dinheiro roubado – o que vai ren-
der para a empreiteira as mes-
mas bênçãos dadas à J&F. Há,
em algum país do mundo, algo
assim – um Toffoli e um STF?
Não há. Isso é puro Brasil.l
JORNALISTA

SEG. Carlos Pereira e Diogo Schelp (quinzenalmente) l TER. Eliane Cantanhêde l QUA. Vera Rosa e Marcelo Godoy (quinzenalmente) l QUI. William Waack l SEX. Eliane Cantanhêde l DOM. Eliane Cantanhêde e J.R. Guzzo

Ceará

Rompido com irmão, Cid deve trocar PDT por PSB

Partido do vice-presidente Ge-
raldo Alckmin, o PSB deve ser
a nova sigla do senador Cid Go-
mes (CE) a partir de janeiro.
Atualmente no PDT, Cid bus-
ca um outro partido após bri-
gar com o irmão Ciro Gomes –
ex-candidato pedetista à Presi-
dência. De acordo com um in-
tegrante da cúpula do PSB, a
filiação de Cid à legenda está
“praticamente acertada”, de-
vendo ser oficializada ainda
no primeiro mês de 2024.
O grupo de Cid deve anun-
ciar até o início de janeiro a mi-
gração em massa para o PSB. A
informação foi inicialmente
noticiada pelo jornal O Globo e
confirmada pelo Estadão.
Procurada pela reporta-
gem, a assessoria do senador
disse que a filiação ao novo par-
tido ainda não está definida e
que ele discute com a sigla
questões que envolvem as elei-
ções municipais de 2024. A re-
portagem apurou tratar-se jus-
tamente de negociações com
relação à migração de aliados
de Cid para o partido.
Em outubro deste ano, o se-
nador ameaçou deixar o PDT
após uma reunião marcada
por bate-boca e troca de ofen-
sas entre ele e o irmão Ciro.
Depois do encontro, a executi-
va nacional do partido interfe-
riu no diretório estadual no (MA). Já a sigla de Alckmin au-
Ceará, tirando o senador do co- mentará a sua bancada de qua-
Ciro Gomes afirma que
mando. Em novembro, a Justi- tro para cinco senadores.
ça suspendeu a ação.
‘dificilmente’ voltará Atualmente, os integrantes da
Após a briga com ex-presi- a disputar eleições legenda no Senado são Ana
denciável, Cid deixou clara a Paula Lobato (MA), Chico Ro-
sua intenção de sair do PDT, O ex-ministro Ciro Gomes drigues (RR), Flávio Arns (PR)
mas sem anunciar qual seria a (PDT) afirmou em entrevis- e Jorge Kajuru (GO).
sua próxima legenda. Foi venti- ta à GloboNews que “dificil- Cid Gomes já foi filiado ao
lada a possibilidade de o sena- mente” voltará a disputar PSB por oito anos. Foi pela le-
dor ir para o PT, mas a cúpula eleições. Em 2022, o pedetis- genda que ele foi eleito gover-
petista resistiu à ideia. ta amargou seu pior desem- nador do Ceará em 2006 e ree-
penho em uma campanha à leito em 2010, em ambos os ca-
BANCADAS. Caso Cid realmen- Presidência, quando obteve sos, com o apoio do PT. Em
te deixe o PDT para ir para o apenas 3% dos votos e ficou 2013, deixou o partido junto
PSB, o partido de Ciro, que em quarto lugar na disputa. com o irmão para ingressar no
tem atualmente três senado- “Eu fui desistido. Não é PROS e em 2015, novamente
res, passará a ter apenas dois: bem que eu desisti, não”, ao lado de Ciro, foi para o PDT.
Leila Barros (DF) e Weverton afirmou. l ALESSANDRA MONNERAT l GABRIEL DE SOUSA E ZECA FERREIRA

NOTAS E INFORMAÇÕES rio pela Linguagem Simples. Seu desafio, porém, será
converter uma boa ideia (adotar linguagem compreen-
sível a qualquer pessoa) e um ato simbólico (construir
um “pacto nacional”) em prática efetiva. A tradição do
A língua Judiciário desabona prognósticos muito otimistas, o
que exigirá mais do que um protocolo de intenções.
da Justiça O pacto proposto aponta bons caminhos práticos.
Primeiro, reforça a recente recomendação do CNJ para
a implementação de linguagem simples, clara e acessí-
vel, incluindo o uso, “sempre que possível”, de elemen-
tos visuais que facilitem a compreensão de suas deci-
sões. Segundo, defende a criação de manuais para orien-
tar a população sobre expressões técnicas dos textos
jurídicos, o investimento na formação de magistrados e
servidores para elaboração de textos mais concisos e
claros e a criação do “Selo Linguagem Simples”, destina-
do a reconhecer e estimular boas iniciativas.
É bem-vindo o pacto do Judiciário O problema vai além do incentivo a aproximar a Justi-
ça da população ou da previsão de Libras e audiodescri-
para simplificar sua linguagem, hoje ção para ampliar sua acessibilidade. É uma questão de
tradição e cultura que contaminam as esferas de poder
francamente excludente desde que o Brasil é Brasil – essa tradição informa que
linguagem hermética e inacessível é sinônimo de gente
culta e bem formada, enquanto mensagens simples e
erece aplausos o ministro Luis Rober- breves nada mais são do que efeito da superficialidade e
qualquer cidadão ser atendido em linguagem simples e
compreensível, e não consta que tivemos grandes avan-
ços desde então.
O cultismo é a norma. A coloquialidade, a exceção.
Seja pela tradição ou pelo elitismo puro e simples, o
fato é que vigora a obsessão pelo rebuscamento da for-
ma e pela linguagem erudita. Em bom português: o gos-
to pelas palavras difíceis. Como afirmou o ministro Bar-
roso, trata-se de um eficiente instrumento de poder e
exclusão. Decisões excessivamente formais e extensas,
cacoetes linguísticos e estrangeirismos desnecessários
acabam separando o mundo em dois níveis – aqueles
que compreendem e aqueles que não compreendem.
A história ensina a eficácia dessa lógica. No passado,
líderes religiosos tradicionais impuseram controle do
acesso a determinadas obras, confundindo o sagrado
com o secreto para que suas determinações se mostras-
sem incontestáveis. Regimes autoritários se prolon-
gam, entre outras coisas, pela restrição ao saber e à
democratização do conhecimento. Ainda hoje intelec-
tuais modulam sua reputação com base na capacidade
de falar para poucos, deslegitimando acadêmicos com
grande poder de comunicação.
Como lembrou Barroso, quase tudo o que o Judi-
ciário decide pode ser explicado de forma acessível.

M to Barroso, presidente do Supremo Tri-

bunal Federal e do Conselho Nacional
de Justiça (CNJ), ao lançar no início
deste mês o Pacto Nacional do Judiciá-
baixo nível de conhecimento. Desse mal não padecem
apenas juízes: é marca universal entre operadores do
direito, assim como na academia e na burocracia. Tan-
to que uma legislação de 2017 define que é direito de
No que convém acrescentar: que o pacto pela lingua-
gem simples seja também compromisso com a lei,
sem criatividades tortuosas que tanto dificultam
sua compreensão.l
A10
INTERNACIONAL
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023

O ESTADO DE S. PAULO

Guerra de Gaza

EUA tentam ressuscitar papel da

Autoridade Palestina no pós-guerra
Diplomatas americanos, no entanto, esbarram na resistência de Israel em permitir
que a organização liderada por Mahmoud Abbas volte ao poder na Faixa de Gaza

AFP

WASHINGTON

Em seu plano para o dia seguin-

te da campanha de Israel para
erradicar o Hamas de Gaza, os
EUA esperam abrir caminho pa-
ra que a Autoridade Palestina
(AP) assuma o controle do en-
clave, incentivando a formação
de um novo governo e promo-
vendo treinamento para suas
forças de segurança.
Até agora, porém, Washing-
ton está tropeçando em um
dos primeiros obstáculos: con-
vencer Israel a desbloquear os
salários necessários para evitar
o colapso total da AP. Nas últi-
mas semanas, autoridades ame-
ricanas entraram e saíram de
Mukataa, complexo fortificado
do presidente palestino, Mah-
moud Abbas, de 88 anos, em Ra-
mallah, capital da Cisjordânia
ocupada.
As autoridades pressiona-
ram por mudanças e por novos
rostos em posições-chave, para
melhorar a péssima imagem da Ataque israelense em Zawayda: EUA, Israel e palestinos não chegaram a acordo sobre quem governará Faixa de Gaza após a guerra
AP – impopular entre os palesti-
nos – com o objetivo de ampliar
seu papel na Faixa de Gaza ataque do Hamas, em 7 de outu- nos receberem suas receitas co- Cerca de 88% dos palestinos em exílio autoimposto depois
após a guerra. bro, não aumentou a confian- lapsaram”, disse Sabri Saidam, querem a renúncia de Abbas, in- de criticá-lo publicamente. “Os
Autoridades palestinas, no ça. “Os americanos falam sobre conselheiro de Abbas e mem- dicou uma pesquisa, um au- atores internacionais enten-
início, recusaram a ideia de vol- o dia seguinte”, disse o vice-pri- bro do comitê central do Fatah, mento de 10 pontos em relação dem que esses caras não ser-
tar ao poder em Gaza, que o Ha- meiro-ministro da AP, Nabil partido que lidera a AP. “O pon- a três meses atrás. A popularida- vem para o trabalho – simples
mas controla desde 2007. Mas Abu Rudeineh. “Mas, mesmo to de partida deveria ser um ces- de do Hamas na Cisjordânia, assim.”
foram ficando mais receptivas se concordássemos, como po- sar-fogo”, disse Saidam, que por outro lado, disparou de Não está claro se novos ros-
à ideia de aproveitar uma rara deríamos implementá-lo? A po- perdeu mais de 44 parentes nos 12% para 44%, aumentando li- tos conseguiriam trazer mu-
oportunidade para estabelecer lítica de Israel é enfraquecer a ataques israelenses a Gaza. “O geiramente também em Gaza. danças à legitimidade esfarra-
a unidade entre Cisjordânia e AP, e não fortalecê-la.” adiamento está dando a Israel Os pedidos dos EUA irrita- pada da AP. Criada em 1994,
Faixa de Gaza. Do lado de fora de Mukataa, mais espaço para destruir o ter- ram a AP. “É sempre essa men- após os Acordos de Oslo, entre
O governo de Joe Biden está os guardas presidenciais com ritório.” talidade colonizadora, que diz: Israel e a Organização para a Li-
conversando com palestinos e boinas vermelhas não vêm rece- ‘Somos nós que decidimos sua bertação da Palestina (OLP), a
membros da comunidade inter- bendo salários. Nem as outras liderança, somos nós que basi- AP foi originalmente concebi-
nacional sobre um “novo gover- forças palestinas que os EUA es- “O povo vê a Autoridade camente desenhamos sua estra- da como um órgão provisório
no e um pouco de sangue novo peram que constituam a espi- Palestina como tégia para o dia seguinte, que no caminho para a criação de
nas fileiras da AP, de acordo nha dorsal de uma futura força uma guardiã dos lhe dizemos como viver, como um Estado palestino.
com um funcionário da Casa de segurança em Gaza, nem os ocupantes. Jovens respirar, o que fazer com sua Mas a AP opera sob ocupação
Branca, que falou sob condição funcionários da AP no enclave frustrados estão terra’”, disse Saidam. israelense. E, por causa de sua
de anonimato para discutir um sitiado. “Não podemos pagar retomando a cooperação em segurança com
assunto delicado. os salários dos nossos solda- resistência armada. EM BAIXA. Com a popularidade Israel, muitos acreditam que
dos, dos funcionários”, disse Ainda assim, qualquer do Hamas em ascensão, há pou- ela ajude a impor a vontade do
BLOQUEIOS. Mas as autorida- Rudeineh. líder imposto de fora é co interesse internacional em colonizador. “O povo vê a AP
des palestinas afirmaram que Quando Jake Sullivan, conse- inaceitável.” eleições, mesmo se elas pudes- como uma guardiã dos ocupan-
querem que esses esforços este- lheiro de Segurança Nacional Saif Aqel sem ser viabilizadas. “Não po- tes”, disse Saif Aqel, jovem lide-
jam ligados a um “horizonte po- dos EUA, se encontrou com Ab- Jovem líder do Fatah, partido demos simplesmente apontar rança do Fatah. “Jovens frustra-
lítico” claro para a criação de bas, no início de dezembro, ele que domina a Autoridade qualquer líder”, disse Rudei- dos estão retomando a resistên-
um Estado palestino. Elas são parecia otimista a respeito da Palestina na Cisjordânia neh. “Ninguém consegue dizer cia armada, rejeitada pela AP.
céticas quanto à capacidade liberação dos salários. quem será o novo premiê.” Ainda assim, qualquer líder im-
americana de realizar qualquer Os EUA planejavam que Is- Os rivais de Abbas veem o posto de fora é inaceitável.”
coisa enquanto o atual governo rael reavaliasse cada indivíduo, Havia muitas especulações momento como uma oportuni- Os EUA esperam treinar as
de extrema direita estiver no para garantir que não tivesse li- sobre quem poderia suceder a dade para mudança. “Precisa- forças da AP para responsabili-
poder em Israel. gações com o Hamas, mas o mi- Abbas antes de 7 de outubro. mos encontrar uma solução dades de segurança em Gaza,
A paralisação dos esforços nistro das Finanças de extrema Impopular, ele viu seus índices que envolva a saída dele”, disse mas ainda não se chegou a um
dos EUA para desbloquear US$ direita de Israel prometeu que caírem ainda mais desde os ata- Nasser al-Qudwa, sobrinho do acordo. “Mas, se a guerra não ter-
140 milhões em dinheiro fiscal “nem um centavo” dos salários ques do Hamas, de acordo com antigo líder palestino Yasser minar logo, não haverá nada pa-
palestino destinados a Gaza, da AP seria transferido para Ga- sondagens do Centro Palestino Arafat. Há muito apontado co- ra se governar”, disse Aqel. “Is-
bloqueados por Israel desde o za. “Os planos para os palesti- para Pesquisas Políticas. mo sucessor de Abbas, ele vive rael está destruindo tudo.” l WP
 INTERNACIONAL A11
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023

O ESTADO DE S. PAULO

Lourival Sant’Anna carta@lourivalsantanna.com

Argentina longe do Brics

avier Milei enviou cartas (TEC) do Mercosul para possi- variadas. Milei vê os EUA como lismo econômico e ao conserva- passou a estudar a Torá e a os-

J aos governantes dos cin-

co países do Brics infor-
mando que a Argentina
não vai mais ingressar no blo-
co, como havia sido decidido
bilitar novos acordos comer-
ciais. A TEC atual, de 13% em
média, está muito acima da mé-
dia de 4% praticada na OCDE,
que reúne as democracias mais
modelo de sistema econômico.
Um componente da disputa en-
tre EUA e China é a afirmação
da superioridade da democra-
dorismo moral.

JUDAÍSMO. Durante sua campa-

na sua última cúpula, em agos-
to. Não foi uma surpresa. Em
agosto, quando o então presi-
dente Alberto Fernández anun-
ciou o ingresso da Argentina,
Milei adiantou que não seguiria
esse caminho: “Nosso alinha-
mento será com EUA e Israel.”
Na carta, Milei expressa o
desejo de se reunir com os go-
vernantes dos países do Brics.
Ele tem afirmado que, como li-
beral, acredita no livre-comér-
cio. Nesse sentido, seria coe-
rente Milei buscar uma redu-
ção da Tarifa Externa Comum
prósperas do mundo, uma dife-
rença que dificulta negociar
acordos de livre-comércio.
Em 2023, Lula e a presidente
do Novo Banco de Desenvolvi-
mento, Dilma Rousseff, busca-
ram em vão formas de ajudar a
economia argentina e a eleição
de Sergio Massa, candidato de
Fernández. Portanto, Milei viu
a adesão da Argentina como
aquilo que ela realmente era:
um movimento geopolítico.
A palavra-chave para sua de-
cisão é “alinhamento”. A esco-
lha de EUA e Israel tem razões
Milei viu a adesão da
Argentina ao Brics
como aquilo que ela
realmente era: um
movimento geopolítico
cia sobre as autocracias. Mas
não se vê em Milei um apego
pela democracia. Daí sua prefe-
rência por Donald Trump, que
representa melhor as razões de
sua rejeição à China: um senti-
mento difuso de superioridade
de valores associados ao libera-
nha a deputado, em 2021, Milei
foi acusado de antissemitis-
mo, por se referir assim aos
oponentes: “Nós não apenas
os derrotamos em produtivida-
de, somos moral e esteticamen-
te superiores, os melhores em
tudo, e isso os machuca”.
Recentemente, ele procu-
rou Julio Goldestein, aliado
com influência sobre a comuni-
dade judaica. Goldestein o le-
vou ao rabino Shimon Axel
Wahnish, que emocionou Mi-
lei ao profetizar que ele “lidera-
ria um movimento libertador
da Argentina”.
Milei, de formação católica,
tentar símbolos do judaísmo.
A principal alvo das críticas de
Milei, a ex-presidente Cristina
Kirchner, é acusada de acober-
tar o envolvimento do Irã nos
atentados em Buenos Aires à
embaixada de Israel, em 1992,
e à Associação Mutual Israelita
Argentina, em 1994, que totali-
zaram 116 mortos.
Sob liderança da China, o
Brics abriga o Brasil de Lula, a
Rússia e, a partir de amanhã, o
Irã. Como se vê, são múltiplas
as razões para Milei se disso-
ciar desse clube, no qual Lula
trabalhou tanto para incluir a
Argentina. l
É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA
DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

AP
A guerra de Putin Bolívia
Ucrânia ataca cidade russa e mata 18 pessoas Tribunal veta candidatura de Evo em 2025
Um ataque da Ucrânia à cidade russa de Belgorod ma- O Tribunal Constitucional da Bolívia decidiu que o pre-
tou ontem 18 pessoas. A Rússia chamou a ação de “terroris- sidente e o vice-presidente não podem se candidatar à reelei-
mo” e convocou uma reunião do Conselho de Segurança da ção de forma indefinida, fixando em dois mandatos – contí-
ONU. O governo ucraniano disse que o ataque foi uma res- nuos ou não – o tempo máximo no cargo. A decisão, que anula
posta aos bombardeios russos contra cidades do país no fim uma outra sentença de 2017, elimina a possibilidade de uma
de semana. l nova candidatura do ex-presidente Evo Morales, em 2025. l
A12
METRÓPOLE
Exemplo de soluções ambientais
No Recife, ação premiada na ONU une
prefeitura e cidadãos contra enchentes
‘Não dormia se chovia’, diz beneficiária da ação implementada em Pernambuco, que
já inclui 6,6 mil famílias; no Rio, projeto Casa Carioca busca reduzir risco em favelas
MARCIO DOLZAN
As inundações e deslizamen-
tos que castigam o Brasil, espe-
cialmente no verão, deixaram
de ser apenas uma preocupa-
ção no Recife. Motivaram uma
ação concreta. Uma parceria
entre a prefeitura e a popula-
ção tem ajudado a reduzir ris-
cos em áreas sujeitas a desas-
tres desencadeados pela chu-
va. Com orientação técnica da
Defesa Civil e material forneci-
do pela gestão municipal, os
moradores realizam obras e pe-
quenas intervenções nesses lo-
cais. Para especialistas, iniciati-
vas desse tipo são positivas pa-
ra adotar medidas com mais ra-
pidez e de modo focado, mas
não isentam o poder público de
planos estruturais em maior es-
cala, com efeitos de médio e
longo prazo, além de progra-
mas habitacionais para remo-
ver os moradores das regiões
de risco.
Batizada de Parceria, a inicia-
tiva incluiu mais de 6,6 mil famí-
lias nos últimos anos e foi pre-
miada pela ONU-Habitat, agên-
cia da Organização das Nações
Unidas com foco na urbaniza-
ção sustentável. As obras e in-
tervenções são as de pequena e
média complexidade, o que per-
mite que se multipliquem pela
capital pernambucana.
“É possível recuperar casas e
o entorno, fazendo proteção
de encostas, permitindo às fa-
mílias em condições de risco
continuar a morar na sua área.
Às vezes, elas têm uma vida in-
teira naquele lugar, e isso é im-
portante para elas”, afirma Ma-
rília Dantas, secretária de In-
fraestrutura do Recife.
A secretária explica que a ini-
ciativa existe há alguns anos,
mas foi a partir de 2021 que o
projeto decolou. Entre as inter-
venções estão tratamento de
encostas, melhoria nas instala-
ções de alvenaria armada e in-
fraestrutura de taludes, micro-
drenagem, recuperação ou ins-
talação de corrimões públicos
e reforma de paredes em casas
danificadas pelas intempéries.
A dona de casa Ana Raquel
Martins disse que sentiu “um
alívio” depois que uma dessas
obras foi feita ao lado de sua
casa, no Brejo da Guabiraba, na
zona norte da cidade. “A gente
não dormia antigamente quan-
do estava chovendo. A gente ti-
nha medo que a barreira caísse,
então eu nunca dormia no meu
quarto, sempre no quarto das
crianças. Com a barreira feita, a
gente pode dormir tranquila a
noite toda”, diz Raquel.
Sentimento parecido teve Ri-
socleide Tenório, que mora há
quase três décadas em outra
área de encosta do Recife, na
Cohab, zona sul da capital. “An-
tes era terrível, com qualquer
barulho, pensávamos em desli-
zamentos. Agora isso acabou”,
HELIA SCHEPPA/PCR - 9/9/2023
afirma Risocleide.
Dados da prefeitura do Reci-
fe mostram que, desde 2021,
cerca de 2,7 mil obras foram
concluídas pelo programa Par-
ceria. Não há um prazo específi-
co para que elas ocorram, mas
em geral as intervenções não
duram mais do que três meses.
“Depende muito da disponibili-
dade de horário dos morado-
res. Às vezes, eles só podem aos
finais de semana, então o prazo
pode se alongar”, afirma Marí-
lia Dantas, da Secretaria de In-
fraestrutura. Segundo ela,
além da questão mais urgente –
a melhoria das situações de mo-
radia –, o programa Parceria
também traz outro benefício: a
criação de um “vínculo mais
forte” dos moradores com o
“É possível recuperar
casas e o entorno,
fazendo proteção de
encostas, permitindo às
famílias em condições
de risco continuarem a
morar na sua área. Às
vezes, elas têm uma vida
inteira naquele lugar, é
importante para elas”
Marília Dantas
Secretária de Infraestrutura
MARLON DIEGO/PCR - 21/10/2023
ambiente urbano onde estão.
“Avalio como muito positiva
essa iniciativa de envolver e in-
tegrar os moradores das áreas
de risco em ações para a realiza-
ção de pequenas obras de con-
tenção e assim diminuir o ris-
co de tragédias. É certo que
isso requer orientação e
acompanhamento técnico,
mas é uma iniciativa que aju-
da a desenvolver uma percep-
ção sobre os riscos existen-
tes e permite que as pessoas
percebam com antecedência
os sinais de instabilidade em
taludes, por exemplo”, diz Pe-
dro Luiz Côrtes, professor da
Escola de Comunicações e Ar-
tes da Universidade de São
Paulo (USP) e do Instituto de
Energia e Ambiente da USP.
NO RIO, RESPOSTA A UM PRO-
BLEMA CRÔNICO. Uma capital
brasileira onde o déficit habita-
cional é um desafio há décadas
tem um plano com foco em mo-
radias de áreas vulneráveis. O
projeto Casa Carioca, da prefei-
tura do Rio, foi lançado em ju-
lho de 2022 e prevê requalificar
mais de 6 mil imóveis até o fim
de 2024.
A iniciativa do Rio foca direta-
mente nas casas, e as obras são
feitas por empresas licitadas
pela prefeitura. “É uma luta pa-
ra oferecer dignidade aos mora-
dores de áreas vulneráveis.
Muitas unidades nem banheiro
têm. A gente faz um estudo, vai
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
DIVULGAÇÃO/SEAC
Moradores do
Recife
trabalham
nas áreas de
risco e são
eles quem
definem as
prioridades
para cada
local; cerca
de 2,7 mil
obras foram
concluídas
um engenheiro e uma assisten-
te social do município. A partir
daí, realizamos as obras”, diz o
secretário de Ação Comunitá-
ria, Chiquinho Brazão.
Diferentemente do projeto
do Recife, no Casa Carioca o
morador não coloca a mão na
massa, mas participa direta-
mente na hora de definir as in-
tervenções. Isso porque as
obras são orçadas até o limite
de R$ 22 mil por moradia e é ele
quem decide onde esse recurso
será aplicado.
O Casa Carioca começou pe-
lo Morro da Providência, mas
já se espalhou para outros cin-
co complexos de favelas do
Rio: Penha, Alemão, Maré, Jaca-
rezinho e Vila Kennedy. Entre
os critérios para se ter acesso a
ele estão renda máxima fami-
liar de até três salários e ser mo-
rador do Rio há pelo menos
três anos. O projeto também
prioriza moradias com mais de
três pessoas, chefiadas por mu-
lheres.
“As duas ações (envolvimento
dos moradores e intervenções
maiores da Prefeitura) podem
ser desenvolvidas em conjun-
to, pois o envolvimento da po-
pulação permite que as pes-
soas desenvolvam uma melhor
noção dos riscos existentes e
faz com que elas possam me-
lhor identificar os sinais de ins-
tabilidade ou riscos imedia-
tos”, afirma Pedro Luiz Côrtes,
da USP. l

DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Réveillon
Avenida Paulista
terá contagem
final para 2024
ao som de
‘Evidências’
Chitãozinho e Xororó
vão comandar virada e
festa deve ter revista
rigorosa nos acessos;
ônibus têm catraca
livre hoje e amanhã
O réveillon da Avenida Paulis-
ta, tradicional festa na cidade
de São Paulo, vai ser marcado
neste ano por uma contagem
regressiva para 2024 ao som
de Evidências, hit eternizado
nas vozes de Chitãozinho e
Xororó. Além da dupla, a festa
terá também atrações como
Zezé Di Camargo (em show
solo) e Claudia Leitte. A pro-
gramação musical começa às
17h deste domingo e se esten-
de até o meio da madrugada
de amanhã – o último show
está marcado para 1h50. A Pre-
feitura e a Polícia Militar pla-
nejam um esquema especial
de segurança, com revista pa-
ra acessar a Avenida Paulista.
Haverá ainda oferta de ôni-
bus municipais gratuitos pela
cidade, em continuidade à tari-
fa zero anunciada pela Prefei-
tura neste mês, e regime espe-
cial do Metrô. Algumas das li-
nhas que atendem a região, co-
mo a 1-Azul e 2-Verde, terão
funcionamento ininterrupto
para atender o público da fes-
ta. “A gente tem uma expecta-
tiva de 2 milhões de pessoas”,
disse a secretária municipal
de Cultura, Aline Torres, em
entrevista à Rádio Eldorado. Se-
Previsão é de tempo
fechado, mas sem
chuva na virada
A passagem para 2024 deve
ter tempo instável na maior
parte do País. Segundo os
modelos de previsão meteo-
rológica, a instabilidade é
ocasionada por uma frente
fria que chega pelo Sul, tra-
zendo umidade também
para o Sudeste. Na capital
paulista, a máxima não de-
verá passar dos 24ºC. Já no
litoral paulista a expectati-
va é de céu fechado e pouco
sol, com chuva fraca a mo-
derada. Apesar do céu mais
carregado, não há previsão
de chuva para a virada. l
gundo ela, um dos diferen-
ciais deste ano é a “diversida-
de musical” na programação.
“A gente tem desde o gospel
ao sertanejo, ao axé, ao R&B.”
O palco da virada foi monta-
do entre as Ruas Bela Cintra e
Haddock Lobo, quase no cruza-
mento da Avenida Paulista
com a Rua da Consolação. A de-
coração faz referência a alguns
dos prédios mais icônicos da
cidade, como Farol Santander,
Catedral da Sé e Estação da
Luz. “Nosso ponto principal:
fazer a contagem regressiva pa-
ra a meia-noite com Chitãozi-
nho e Xororó”, disse Aline.
Interdição
Prefeitura interditou a
Paulista entre as ruas
Teixeira da Silva e
da Consolação
REVISTA E FECHAMENTO. No
quesito segurança, a secretá-
ria disse que haverá pontos de
revista e reforço no policia-
mento em todos os acessos da
Paulista. Serão aproximada-
mente 350 guardas-civis me-
tropolitanos atuando, além
de 700 seguranças privados. A
Polícia Militar também vai re-
forçar o policiamento. Serão
cerca de 1,6 mil agentes nas
ruas durante a festa, infor-
mou o governo do Estado.
Conforme o Estado, a opera-
ção focará “pontos estratégi-
Decoração do palco, ao lado da Bela Cintra, faz referência a alguns dos prédios mais icônicos da capital
cos” de observação, com uso
de helicóptero e até de drones
para identificar possíveis si-
tuações de perigo. “É o mes-
mo modelo que a gente fez na
última Virada Cultural e no
aniversário de São Paulo (25
de janeiro), com revistas”, dis-
se a secretária Aline Torres.
A Prefeitura interditou a
avenida entre as ruas Teixei-
ra da Silva e da Consolação. A
liberação só acontecerá às 6h
de segunda-feira. Ao todo, 48
linhas de ônibus terão altera-
ções de itinerário. Hoje e
amanhã, os passageiros de
ônibus municipais viajam
sem pagar nos ônibus na capi-
tal, conforme medida lança-
da neste mês. Além dessas da-
tas, a gratuidade também se-
rá estendida para o aniversá-
rio de São Paulo.
No caso do Metrô, a opera-
ção das Linhas 1-Azul, 2-Ver-
de, 3-Vermelha e 15-Prata será
ininterrupta no réveillon. As
Estações Paraíso, Brigadeiro
e Trianon-Masp, todas na Li-
nha 2-Verde, ficarão abertas
para embarque e desembar-
que durante toda a madruga-
da, atendendo assim ao públi-
co que for para a Avenida Pau-
lugar de gente muito, muito feliz!
Krona-Registro Esfera Sold
25mm 541 Cód.5364400
De: 7,90
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DESCONTO
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2,00
METRÓPOLE A13
ALEX SILVA/ESTADÃO - 28/12/2023
lista. Já todas as demais esta-
ções do metrô permanecerão O menu paulistano
abertas para embarque e de-
sembarque até as 2h do dia 1.°
– depois desse horário, conti- l 16 horas
nuarão funcionando apenas Abertura para o público
para desembarque dos passa-
geiros. l 17 horas
DJ Cranmarry
CONSOLAÇÃO FECHADA. Por
questões de segurança, a Esta- l 18 horas
ção Consolação, na Linha 2- Zezé Di Camargo
Verde, bem próxima de onde
ocorrerá a festa, será fechada l 19 horas
para embarque às 16h deste Tom Carfi e Paloma Possi
domingo. Ela reabre às 4h40
de amanhã. Os passageiros l 20 e 22 horas
que necessitarem desembar- DJ Cranmarry
car por esta estação serão dire-
cionados para a área de trans- l 21 horas
ferência da Linha 4-Amarela, Claudia Leitte
onde poderão desembarcar
pela Estação Paulista. l 23 horas
Conforme o governo de São Chitãozinho e Xororó,
Paulo, a circulação de trens comandando a virada
das linhas da CPTM será equi-
valente à de um domingo. l 0h30
Após a operação comercial de Baile do Simonal convida
domingo, todas as estações es- Léo Maia, Ellen Oléria e Ivo
tarão abertas somente para de- Meirelles
sembarque e transferência. Já
a operação das linhas de ôni- l 1h50
bus gerenciadas pela EMTU Grêmio Recreativo
será equivalente à programa- Cultural Escola de Samba
ção dos domingos. l Mocidade Alegre
Amplo estacionamento:
200 vagas
*Não acompanha a pia
R. Ática, 47
Brooklin
São Paulo/SP
HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO:
De Segunda a Sexta-feira, das 6h30 às 21h30;
Sábado, das 7h às 21h;
Domingo e Feriado, das 8h às 20h.
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 METRÓPOLE
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
A14 O ESTADO DE S. PAULO

PREVISÃO DO TEMPO Apoio:

Última Atualização: 29/12

Temperaturas devem seguir mais amenas em São Paulo na primeira semana de 2024
PARA SÃO PAULO - CAPITAL
Chance de Chuva e Precipitação Temperatura e Umidade Relativa do Ar
QUANDO HOJE AMANHÃ TERÇA QUARTA QUANDO HOJE AMANHÃ TERÇA QUARTA
Previsão Para MANHÃ TARDE NOITE 01/01 02/01 03/01 Previsão Para MANHÃ TARDE NOITE 01/01 02/01 03/01

PREVISÃO TEMPERATURA
21° 21° 19° 21° 24° 24°
Resumida Máxima (ºC)

CHOVE? 12% 44% 29% 39% 37% 39% TEMPERATURA

20° 19° 19° 18° 17° 18°
Probabilidade Mínima (ºC)

QUANTO? 0 0,7 0,4 0,2

3 25
0 0 UMIDADE
Precipitação mm mm mm mm mm mm Relativa do Ar
73% 79% 86% 81% 77% 80%
*Baseada na geocoordenada da Praça da Bandeira

PARA AS REGIÕES DO ESTADO DE SP

CHOVE HOJE? - Chance e Volume de Chuva Temperaturas Máximas
Precipitação Temperatura Tábuas das marés:
ARARAQUARA
Média 30° Máxima Porto de Santos
81% 11.3mm (mín.18°)
RIBEIRÃO PRETO
+ 31° + HOJE
95% 24.6mm CAMPINAS 5H04 1,5
(mín.19°) 29°
98% 8.6mm 100mm 36°C 11H00 0,4
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (mín.17°)
31°
92% 17.2mm SÃO JOSÉ DOS CAMPOS 16H29 1,6
50mm (mín.21°) 25°
91% 6.9mm (mín.14°) 32°C 22H48 0,1
ARAÇATUBA
31°
85% 9.8mm LITORAL NORTE 25mm 26°
(mín.21°) previsao-do-tempo.estadao.com.br
73% 4.8mm (mín.21°)
PRESIDENTE PRUDENTE 28°C
10mm 33°
66% 7.9mm (mín.19°)
MARÍLIA Ondas: 5mm 24°C
32°
51% 2.8mm SOROCABA 31/12
2mm (mín.17°) 29°
BAURU 57% 1.9mm + (mín.15°) 19°C
2,5m 32°
62% 2.4mm SÃO PAULO 1mm (mín.16°) 25°
72% 3.9mm 1,5m - (mín.17°) 15°C Consulte a Previsão do Tempo
Chance de Chuva LITORAL SUL 1m 0mm 25° Detalhada para até 10 dias
Volume de Chuva 55% 1.6mm - (não chove) -
(mín.20°) NA SUA CIDADE!

Capitais - BR Capitais - Mundo

Capitais CHOVE? VOL.MÉDIO MÍN./MÁX. Capitais CHOVE? VOL.MÉDIO MÍN./MÁX. Capitais CHOVE? VOL.MÉDIO MÍN./MÁX. Capitais CHOVE? VOL.MÉDIO MÍN./MÁX. Capitais FUSO MÍN./MÁX. Capitais FUSO MÍN./MÁX. Capitais FUSO MÍN./MÁX. Capitais FUSO MÍN./MÁX.
ARACAJÚ 15% 0mm 24°C/32°C CURITIBA 40% 2mm 17°C/22°C MACEIÓ 10% 0mm 24°C/32°C RIO BRANCO 75% 7mm 24°C/31°C ASSUNÇÃO 0h 22°C/26°C CIDADE DO MÉXICO -3h 8°C/20°C LOS ANGELES -5h 10°C/13°C ROMA +4h 8°C/14°C
BELÉM 70% 6mm 25°C/30°C FLORIANÓPOLIS 40% 0mm 19°C/23°C MANAUS 80% 14mm 24°C/29°C RIO DE JANEIRO 45% 2mm 21°C/23°C ATENAS +5h 10°C/14°C ESTOCOLMO +4h -5°C/-2°C MADRID +4h 5°C/10°C SANTIAGO 0h 11°C/28°C
BELO HORIZONTE 85% 20mm 20°C/27°C NATAL 30% 0mm 26°C/28°C BARCELONA +4h 8°C/16°C GENEBRA +4h 1°C/8°C MIAMI -2h 14°C/21°C SYDNEY +14h 19°C/21°C
FORTALEZA 60% 3mm 26°C/32°C SALVADOR 0% 0mm 24°C/31°C
BOA VISTA 20% 0mm 25°C/35°C PALMAS 75% 12mm 24°C/29°C BERLIM +4h 3°C/7°C JOANESBURGO +5h 14°C/28°C MONTEVIDÉU 0h 14°C/23°C TEL-AVIV +5h 12°C/21°C
GOIÂNIA 80% 20mm 21°C/30°C SÃO LUÍS 75% 4mm 26°C/32°C
BRASÍLIA 100% 23mm 19°C/26°C PORTO ALEGRE 0% 0mm 16°C/25°C BRUXELAS +4h 8°C/9°C LIMA -2h 21°C/25°C MOSCOU +6h -6°C/3°C TÓQUIO +12h 6°C/12°C
CAMPO GRANDE 85% 25mm 22°C/29°C JOÃO PESSOA 30% 0mm 26°C/32°C PORTO VELHO 70% 13mm 24°C/30°C TERESINA 60% 15mm 25°C/31°C BUENOS AIRES 0h 20°C/26°C LISBOA +3h 9°C/15°C NOVA YORK -2h 2°C/7°C TORONTO -2h -2°C/2°C
CUIABÁ 75% 11mm 26°C/32°C MACAPÁ 65% 8mm 25°C/34°C RECIFE 20% 0mm 27°C/31°C VITÓRIA 80% 7mm 23°C/28°C CARACAS -1h 20°C/26°C LONDRES +3h 8°C/11°C PARIS +4h 8°C/10°C WASHINGTON -2h 3°C/9°C

Litoral SÃO PAULO RECLAMA HÁ UM SÉCULO

SP apresenta 22 praias Queixa com relação a

um pacote de telefonia
sagem do senhor Walter, a
Claro informa que, em con-
A guerra contra o vinho

tato com o cliente, as ques- O sr. Marcel Prévees, illustre

impróprias para banho Reclamação de Walter Mou-
ra: “Gostaria de ajuda referen-
tões citadas foram esclareci-
das. Permanecemos à dispo-
escriptor francez e director da
Revue de France, publica no
te a um pacote de telefonia. A sição para mais esclareci- numeto de 15 de Novembro,
Quem planeja se refrescar praias impróprias. Ubatuba Claro, a fim de aumentar o seu mentos. Se você entrou em dessa revista, um interessante
com uma visita ao litoral deve tem seis locais impróprios faturamento, vem incluindo contato com a Central de artigo sobre “ a guerra do vi-
ter atenção: São Paulo tem para banho, enquanto o se- valores mensalmente na mi- Atendimento da Claro e seu nho”, a proposito da prohibi-
atualmente 141 praias próprias gundo município tem qua- nha fatura, de forma desones- pedido não foi solucionado ção do consumo de vinhos nos
para banho e 22 impróprias ao tro locais desfavoráveis e o ta. A assinatura de um serviço ou respondido dentro do Estados Unidos. A prohibição
longo dos seus mais de 400 qui- terceiro, três. Historica- intitulado TELECINE OLD no prazo, você pode acionar o do vinho , diz elle, provem da
lômetros de costa, segundo a mente, é o litoral norte que valor de R$ 40, o qual desco- canal da Ouvidoria: 0800 confusão que se faz entre o vi-
medição mais recente da Com- guarda as melhores condi- nheço totalmente, consideran- 701 0180, de segunda a sex- nho e o alcool. Nada mais justo
panhia Ambiental do Estado ções de balneabilidade no do que nunca contratei tal ser- ta-feira das 8h às 18h (exce- do que uma campanha contra
de São Paulo (Cetesb). Estado – quanto menor a viço. Ao questionar tal cobran- to feriados nacionais).” l o alcool. “O meu liberalismo
Segundo a Cetesb, a classifi- ocupação urbana no local, ça, recebi uma explicação sem incuravel”, diz, não torna sym-
cação de qualidade das praias melhor é a praia. sentido. É importante esclare- pathica a prohibição de uma
utiliza os resultados coletados Hoje, o Guarujá, apesar cer que firmei, conforme con- Teve algum direito como cidadão coisa cujo consumo moderado
ou consumidor desrespeitado? O
nas cinco semanas anteriores de ser um dos destinos mais trato em meu poder, um paco- blog Seus Direitos pode ajudar. não é nocivo (…) l
Envie suas reclamações, com os
à divulgação. Se mais de 80% procurados na Baixada San- te de serviços com a Claro em devidos documentos, dados pes-
deles estiverem abaixo do limi- tista, tem apenas um ponto fevereiro de 2012 e nunca soli- soais e contatos, além do nome
dos envolvidos na questão, para o
te estabelecido como aceitável de medição declarado im- citei ao longo desses 11 anos spreclama@estadao.com
para a densidade de bactérias próprio, na Praia do Pere- nenhum serviço adicional. As- CORREÇÕES
fecais presentes na água, a quê. No litoral sul, os qua- sim sendo e tendo em vista
praia é considerada adequada tro pontos de medição em que só agora me atentei para LOTERIA
para o banho de mar. Ilha Comprida apontam tal cobrança exijo a devolução Este espaço se destina à correção de erros
publicados na edição impressa do ESTADÃO.
Os municípios de Ubatuba, que as águas têm qualidade das cobranças.” Para ver os resultados, aponte a Você pode colaborar enviando e-mail para
Praia Grande e São Vicente são “sistematicamente boa” pa- câmara do seu celular para o QR
Code ou acesse: https://loterias.
correcoes@estadao.com. As correções abran-
gem erros como: de informação, nome, cargo,
os que têm o maior número de ra banhos de mar. l Resposta: “Em atenção à men- estadao.com.br/mega-sena. dados numéricos, entre outros.

Para publicar anúncio fúnebre: Balcão Limão l (11) 3856-2139 / (11) 3815-3523 / WHATSAPP (11)99123-8351. l Atendimento de 2ª a 6ª das 8h30 às 21h horas, Sábado das 10h às 20h, Domingo das 14h às 20h l Só serão publicadas notícias de falecimen-
FALECIMENTOS to/missa encaminhadas pelo e-mail falecimentos@estadao.com, com nome do remetente, endereço, rg e telefone.

Maria Alves Dirscherl – Aos 87 anos. zado no Cemitério e Crematório Prima- José Batista de Oliveira – Aos 88 anos. Era casado com Odete Barbosa lange Cristina da Silva. Deixa parentes
Era viúva. Deixa filhos, parentes e ami- veras. anos. Era casado com Maria Apareci- Braz. Deixa as filhas Dulcineia, Debo- e amigos. O enterro foi realizado no Ce-
gos. O enterro foi realizado no Cemité- Ivani Evangelista Loureiro – Aos 78 da de Oliveira. Deixa os filhos Danilo, ra, parentes e amigos. O enterro foi mitério e Crematório Primaveras.
rio e Crematório Primaveras. anos. Era viúva de Valter Bergson. Dei- Sueli, Daniel, parentes e amigos. O en- realizado no Cemitério e Crematório IN MEMORIAM
Sonia Regina Ferrari – Aos 64 anos. xa o filho Amauri, parentes e amigos. terro foi realizado no Cemitério e Cre- Primaveras. Nazira Simão Alexandre – Dia 4, às
Era solteira. Deixa o filho Mark, O enterro foi realizado no Cemitério e matório Primaveras. Antônio Eduardo Clemêncio da Sil- 18h30, na Paróquia São Gabriel Arcan-
parentes e amigos. O enterro foi reali- Crematório Primaveras. Florisvaldo de Moraes Braz – Aos 74 va – Aos 69 anos. Era casado com So- jo, na Av. São Gabriel, 108.

DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Paris-2024
COB confia
nas mulheres
para superar
performance
de Tóquio
Entidade projeta conquistar mais
do que as 21 medalhas ganhas no Japão
e acredita na força e qualidade das
brasileiras para atingir o objetivo
RICARDO MAGATTI
Fundamentais para o Time
Brasil alcançar na última Olim-
píada, em Tóquio, o seu me-
lhor resultado, as mulheres de-
vem ser igualmente ou até
mais importantes para o País
nos Jogos de Paris-2024. A pro-
jeção é do Comitê Olímpico do
Brasil (COB), que traçou co-
mo meta superar os resultados
obtidos no Japão.
Em Tóquio, a delegação bra-
sileira conquistou 21 meda-
lhas, registrando a melhor par-
ticipação da sua história. Fo-
ram sete medalhas de ouro,
seis de prata e oito de bronze.
Em 2021, foram 9 medalhas
Das 21 medalhas ganhas
pelo Time Brasil nos Jogos
de Tóquio, 9 pódios tiveram
a presença feminina
As mulheres foram responsá-
veis por nove desses pódios. O
Brasil ficou com a 12.ª posição
entre 206 países. Os Jogos de
2020 de Tóquio foram disputa-
dos em 2021 por causa da pan-
demia de covid-19.
O COB trabalha para que o
desempenho seja ainda me-
lhor na França e confia em
suas estrelas, muitas delas mu-
lheres. “A maior parte das me-
dalhas deve vir do segmento fe-
O MELHOR DA TV
ATLETISMO
l Corrida Internacional de
São Silvestre
7h30 / TV Globo
FUTEBOL
l Campeonato Inglês
minino”, diz ao Estadão o vi-
ce-presidente do COB, Marco
Antonio La Porta. “A gente en-
tende que há um potencial mui-
to grande em desenvolvimen-
to ainda em várias modalida-
des. Há poucos países que dão
prioridade ao segmento femi-
nino, e o Brasil tem feito isso.
Podemos, realmente, subir es-
se resultado”, reforça.
As principais estrelas com
chance de brilhar na capital pa-
risiense, repetindo o que fize-
ram em Tóquio, são a jovem
skatista Rayssa Leal, a ginasta
Rebeca Andrade e a nadadora
Ana Marcela Cunha.
“Podem esperar da Rebeca
que ela vai dar 110% em Paris.
Vou fazer o máximo e dar o
meu melhor naquele momen-
to, com a certeza de que vou
ter feito tudo que podia”, disse
a estrela da ginástica em entre-
vista recente ao Estadão. Em
Tóquio, ela se tornou a primei-
ra atleta brasileira a faturar
duas medalhas em uma mes-
ma Olimpíada ao levar a prata
no individual geral e o ouro no
salto na ginástica.
“A participação feminina só
tende a crescer”, acredita Ana
Marcela. A nadadora sete ve-
zes eleita melhor do mundo ga-
nhou o ouro na maratona
aquática em Tóquio. Para sair
da zona de conforto, como ela
define, a baiana de Salvador
mudou de cidade, de país e de
treinador. Passou a morar em
Tottenham x Bournemouth
11h / ESPN
FUTEBOL AMERICANO
l National Football League
(NHL)
Miami Dolphins x Baltimore
Rebeca Andrade se tornou em Tóquio a 1ª brasileira a ganhar duas medalhas numa mesma Olimpíada
Maria Lenk, em 1932, foi
precursora; Atlanta viu
as primeiras medalhas
A história das mulheres brasi-
leiras nos Jogos Olímpicos
teve início em 1932, 12 anos
depois de o Brasil estrear no
megaevento. Em Los Ange-
les, apenas uma mulher inte-
grou a delegação nacional: a
nadadora paulista Maria
Lenk, que fez história aos 17
anos ao ser a primeira atleta
sul-americana a participar
de uma edição olímpica.
A primeira medalha femini-
na do Brasil veio apenas em
Atlanta (em 1996), quando
66 atletas participaram da
competição, representando
29% do total e conquistando
quatro pódios, todos em mo-
Roma, na Itália, e trocou a par-
ceria com Fernando Possenti
para ser treinada pelo italiano
Fabrizio Antonelli.
“Viramos a página, passei a
treinar lado a lado com várias
atletas olímpicas. Cada sessão
de treino é um novo desafio,
uma competição. Subimos o ní-
vel da disputa rumo a Paris”,
resume a nadadora brasileira.
A experiente judoca Mayra
Aguiar, a boxeadora Beatriz
Ferreira e Ana Patrícia/Duda,
dupla do vôlei de praia, são ou-
Rivers
15h / ESPN 2
N. E. Patriots x Buffalo Bills
15h / ESPN 3
Pittsburgh Steelers x Seattle
ESPORTES
dalidades coletivas, com des-
taque para o ouro festejado
por Jacqueline Silva e San-
dra Pires no vôlei de praia.
Foi no Rio, em 2016, a edi-
ção em que o Brasil registrou
o maior número de atletas
nos Jogos e a maior quantida-
de de mulheres em ação em
diversas modalidades. Fo-
ram 209 competidoras, ou
45% do total de 465 atletas.
Faturaram cinco das 19 me-
dalhas brasileiras, ou 26%.
“É possível ocupar os espa-
ços. A mulher dá conta de ser
mãe, treinadora, esposa e o
que mais ela quiser ser”, diz
Camila Ferezin, eleita a me-
lhor treinadora individual no
Prêmio Brasil Olímpico. Ela
é a grande responsável pelo
salto da ginástica rítmica
nos últimos anos.l R.M.
tras atletas com possibilidade
de protagonismo na França.
“Acho que a representativi-
dade feminina é ainda mais im-
portante na base, em oportuni-
dades para mais meninas en-
trarem no esporte, seja ele
qual for, para que possam prati-
car a modalidade que escolhe-
rem sem nenhum tipo de pre-
conceito e em igualdade de
condições”, aponta Ana Patrí-
cia. Ela e sua parceira, Duda,
lideram o ranking mundial do
vôlei de praia feminino. No
Seahawks
18h05 / ESPN 4
Cincinnati Bengals x Kansas
City Chiefs
18h25 / ESPN 2
Green Bay Packers x Minneso-
A15
CBG
ano passado, foram campeãs
mundiais. Neste ano, ficaram
com o vice.
A Olimpíada terá como mar-
ca a equidade de gênero. Pela
primeira vez, os Jogos terão pa-
ridade no número de competi-
dores: serão 5.250 homens e
5.250 mulheres. O COB crê
que a composição da delega-
ção brasileira pode ser inédita.
“Há uma grande possibilidade
de a gente ter mais mulheres
até do que homens na nossa
delegação”, projeta La Porta.
PRÊMIOS IGUAIS. O COB não fa-
rá distinção de valor entre ho-
mens e mulheres na destina-
ção da premiação a ser paga
aos atletas que ganharem me-
dalha em Paris. Vai destinar R$
350 mil pela medalha de ouro,
R$ 210 mil pela de prata e R$
140 mil pela de bronze, no caso
de atletas individuais.
Os esportistas de modalida-
des disputadas em grupo (até
seis atletas) vão faturar R$ 700
mil pelo ouro, R$ 420 mil pela
prata e R$ 280 mil pelo bronze,
valor que será dividido pelos
membros do time.
A última categoria, a de joga-
dores de modalidades coleti-
vas (a partir de sete esportis-
tas), como vôlei e futebol, vai
pagar R$ 1,05 milhão aos cam-
peões, R$ 630 mil para os se-
gundos colocados e R$ 420 mil
aos que subirem no terceiro lu-
gar mais alto do pódio. l
ta Vikings
21h15 / ESPN 2
HÓQUEI
l National Hockey League
Boston B. x Detroit Red Wings
19h / ESPN 3
A16
PARA FECHAR...
Tecnologia
Missão comercial
secreta ao espaço
vira tendência. E
alerta cientistas
AstroForge, empresa
de mineração, é o caso
mais recente; ela pode
chegar a um asteroide
do tipo M, vital para a
ciência, antes da Nasa
JONATHAN O'CALLAGHAN
THE NEW YORK TIMES
Em algum momento de 2024,
uma nave espacial da Astro-
Forge, uma empresa america-
na de mineração de asteroi-
des, pode ser lançada em
uma missão para um objeto
rochoso próximo à órbita da
Terra. Se bem-sucedida, será
a primeira missão espacial
profunda totalmente comer-
cial além da Lua. É o mais re-
cente caso de um tendência
emergente que astrônomos e
outros especialistas não
veem com bons olhos: mis-
sões espaciais comerciais
conduzidas secretamente.
“Eu não sou a favor de ter coi-
sas vagando pelo sistema so-
lar interno sem que ninguém
saiba onde estão”, disse Jona-
than McDowell, um astrôno-
mo do Centro Harvard-Smi-
thsonian de Astrofísica em
Massachusetts. “Parece ser
um precedente ruim a estabe-
lecer.”
“Eu não sou a favor de
ter coisas vagando pelo
sistema solar interno
sem que ninguém saiba
onde estão”
Jonathan McDowell
Astrônomo do Centro
Harvard-Smithsonian de
Astrofísica (Massachusetts)
Mas, para a AstroForge, o
cálculo é simples: se revelar o
destino, um concorrente po-
de capturar os metais valio-
sos do asteroide primeiro.
“Anunciar qual asteroide es-
tamos mirando abre o risco
de que outra entidade possa
apoderar-se desse asteroi-
de”, disse Matt Gialich, o dire-
tor executivo da AstroForge.
A mineração de asteroides en-
trou em declínio nos últimos
anos, depois que duas star-
tups que propunham pros-
pectar o Sistema Solar encer-
raram as atividades no fim da
década de 2010. O renasci-
mento é impulsionado por
uma nova onda de explora-
ção espacial comercial, lidera-
da principalmente pela Spa-
ceX, a empresa fundada por
Elon Musk, que utiliza propul-
sores de foguetes reutilizáveis
e reduziu o custo de alcançar o
espaço. Com o aumento dessa
atividade, também aumenta o
nível de sigilo.
Recentemente, a empresa
de voos suborbitais Virgin Ga-
lactic tem retido as identida-
des das pessoas a bordo de sua
nave espacial até depois que as
missões são concluídas, uma
prática nunca vista antes. E al-
guns satélites que viajam com
outros equipamentos orbitais
em missões de compartilha-
mento também foram manti-
dos em segredo. “Estamos ven-
do lançamentos frequentes
nos quais não sabemos quais
são os satélites implantados
até algum tempo depois”, dis-
se McDowell, que mantém um
banco de dados público de es-
paçonaves em órbita.
SEM RESTRIÇÕES LEGAIS. Para
missões além da Terra, não
existem restrições legais con-
tra manter em segredo o desti-
no no espaço profundo, como
a AstroForge pretende fazer,
afirmou Michelle Hanlon, pro-
fessora de Direito especializa-
da em assuntos espaciais na
Universidade do Mississippi.
“Não temos um processo real
para missões no espaço pro-
fundo como essa”, disse ela,
porque “não há um processo
de licenciamento” nos Esta-
dos Unidos.
No entanto, questões com-
plexas podem surgir se, por
exemplo, vários mineradores
de asteroides chegarem ao
mesmo asteroide. “Deve haver
algum tipo de transparência
aqui”, disse McDowell. Ele ob-
servou que, embora haja uma
exigência das Nações Unidas
para que agências espaciais e
empresas revelem suas órbitas
e trajetórias no espaço, “isso
geralmente é ignorado para ob-
jetos em órbita solar”. A falta
de penalidades, acrescentou,
“deveria suscitar discussões
entre os reguladores”.
A missão da AstroForge, cha-
mada Odin, seria a segunda es-
paçonave que a empresa en-
viou ao espaço. Sua primeira
missão, em abril, chamada
Brokkr-1, era uma máquina do
tamanho de um forno de mi-
cro-ondas, pesando cerca de 11
kg. O objetivo dessa missão
era praticar a refinação de me-
UMA BOA HISTÓRIA
Odin será carregado como carga secundária em uma missão robótica da empresa Intuitive Machines
EUA lançaram avião
militar secreto com a
ajuda da SpaceX
E há os segredos governa-
mentais. O avião espacial X-
37B do Exército dos Estados
Unidos decolou na noite de
anteontem em outra missão
secreta que deve durar pelo
menos dois anos. Ele saiu a
bordo do foguete Falcon
Heavy da SpaceX do Centro
Espacial Kennedy da Agên-
cia Aeroespacial dos Estados
Unidos (Nasa), após mais de
duas semanas de atraso por
problemas técnicos.
Como nas missões ante-
riores, o avião reutilizável,
semelhante a um miniônibus
tais no ambiente do espaço.
No entanto, a empresa anun-
ciou em 11 de dezembro que a
espaçonave encontrou proble-
mas. Há uma “corrida contra o
tempo” para fazer com que o
Brokkr-1 funcione.
Por outro lado, Odin é muito
mais pesado, com cerca de 100
kg. A AstroForge planeja que
ele seja carregado como carga
secundária em uma missão ro-
bótica à Lua em 2024 pela em-
presa Intuitive Machines, pa-
trocinada pela agência espa-
cial americana, a Nasa, e lança-
da em um foguete SpaceX Fal-
con 9. A data de lançamento
ainda não foi definida.
BRANDON THIBODEAUX/THE NEW YORK TIMES – 1/2/2023
espacial, transportou experi-
mentos confidenciais. Não
há ninguém a bordo, confor-
me a Nasa.
Esse foi o sétimo voo de
um X-37B, que já registrou
mais de 10 anos em órbita
desde sua estreia em 2010. O
último voo, o mais longo até
então, durou dois anos e
meio antes de terminar em
uma pista de pouso em Ken-
nedy, há um ano. Os oficiais
da Força Espacial não infor-
maram por quanto tempo
esse veículo de teste orbital
permanecerá no ar ou o que
há a bordo. Construído pela
Boeing, o X-37B se assemelha
aos ônibus espaciais aposen-
tados da Nasa, mas com um
quarto do tamanho. l AP
Durante a jornada até a Lua,
o plano é que Odin seja libera-
da e se aventure no espaço pro-
fundo. Dentro de um ano, se-
gundo a AstroForge, a espaço-
nave passará pelo asteroide
misterioso, tirando fotos e pro-
curando evidências de metais.
A AstroForge está mirando em
um asteroide suspeito de ser
do tipo M. Acredita-se que es-
ses asteroides sejam fragmen-
tos de núcleos planetários que
falharam e podem ser ricos em
metais valiosos do grupo da
platina, que têm uma ampla ga-
ma de usos, incluindo a área da
saúde e em joias.
Nenhuma espaçonave ja-
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
mais visitou um asteroide
desse tipo antes, embora a
missão Psyche da Nasa, lança-
da em outubro, esteja em
uma missão para um poten-
cial asteroide do tipo M, tam-
bém chamado Psyche, entre
Marte e Júpiter. No entanto,
ela só chegará em agosto de
2029, proporcionando à As-
troForge a oportunidade de
ser a primeira a visitar um ob-
jeto desse tipo.
Até agora, a AstroForge ar-
recadou US$ 13 milhões de in-
vestidores. Uma missão com-
pleta de mineração exigiria
um investimento muito
maior. No entanto, há rique-
zas a serem conquistadas se a
empresa for bem-sucedida.
Na Terra, os metais que po-
dem estar nos asteroides do
tipo M podem ser difíceis e
caros de minerar.
Alguns cientistas acham
que os mineradores de aste-
roides deveriam ser mais
transparentes sobre o que es-
tão procurando. Asteroides
do tipo M oferecem à humani-
dade uma janela para o caóti-
co início do Sistema Solar, há
4,5 bilhões de anos. Isso signi-
fica que qualquer coisa que a
AstroForge descobrir pode
ter valor científico, disse
Stephanie Jarmak, cientista
do Centro de Astrofísica Har-
vard-Smithsonian. “Sou bas-
tante a favor da ciência aber-
ta. Não visitamos um asteroi-
de do tipo M antes, então há
muito o que aprender.” l

Soluções para:
• Industrias
• Bancos
• Seguradoras
39 ANOS
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Indústria Setor aquecido
Com ondas de calor, Zona Franca vai
ter mais fábricas de ar-condicionado
Mineiras Bel Micro e Friovix tiveram projetos aprovados e unidades devem
começar a produzir em 2024; Brasil é o segundo maior fabricante do mundo
MÁRCIA DE CHIARA
Segundo maior produtor de
ar-condicionado no mundo, o
Brasil terá mais duas fábricas
na Zona Franca de Manaus, a
partir do ano que vem. As no-
vas unidades serão construí-
das pelas empresas mineiras
Bel Micro e Friovix, que já
atuam no setor como distribui-
doras de várias marcas do equi-
pamento.
O potencial de consumo de
aparelhos de ar condicionado
no País, que já era grande, foi
turbinado pelas previsões me-
teorológicas que apontam au-
ECONOMIA
&NEGÓCIOS
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
mento das temperaturas em ra-
zão do fenômeno climático do
El Niño. Nas últimas semanas,
por exemplo, a demanda pelos
equipamentos disparou por
causa das temperaturas acima
de 35ºC. Em alguns marketpla-
ces, a procura subiu 45% nos
dias de maior calor.
De janeiro a novembro, as
vendas de aparelhos de ar con-
dicionado split (o mais popu-
lar, com uma unidade externa
e outra interna) da indústria
para o varejo cresceram 44%
em relação a igual período do
ano passado, segundo a Asso-
ciação Brasileira de Refrigera-
ção, Ar Condicionado, Ventila-
O ESTADO DE S. PAULO E&N
ção e Aquecimento (Abrava).
Atualmente, a Zona Franca
de Manaus é o segundo maior
polo de produção de aparelhos
de ar condicionado do mundo.
A região concentra a indústria
do setor no País, porque ofere-
ce benefícios fiscais. Ou seja,
reduz a tributação sobre o pro-
duto acabado em troca do com-
promisso de uso de uma parce-
la de insumos nacionais para
impulsionar a região.
Segundo a Abrava, a capacida-
de de produção da região é de
cerca de 5 milhões de aparelhos
por ano, atrás apenas da Ásia,
que chegou a fabricar mais de
130 milhões de unidades.
Segundo o superintendente
de Projetos da Superintendên-
cia da Zona Franca de Manaus
(Suframa), Leopoldo Monte-
negro, há também outras em-
presas interessadas em se ins-
talar no polo industrial para
produzir aparelho de ar condi-
cionado. Ele não revela os no-
mes das companhias porque
os processos de autorização
são sigilosos. E, no momento,
as propostas estão em análise.
MINEIRAS. A Friovix teve o pro-
jeto de produção aprovado em
maio deste ano, conforme
aponta a ata da 309.ª Reunião
do Conselho de Administra-
INCLUI CLASSIFICADOS
B1
DESTAQUE O
CADERNO E&N
(B1 A B12)
ção da Suframa. A companhia
vai investir R$ 73 milhões para
produzir os modelos split e de
parede, com geração de 67 pos-
tos de trabalho.
O Estadão apurou que a em-
presa comprou a fábrica da Ko-
meco, que também produzia
aparelhos de ar condicionado e
deixou de operar. Procurada, a
direção da Friovix informou
que somente dará mais deta-
lhes após a inauguração da fábri-
ca, prevista para março de 2024.
Já a aprovação do projeto da
Bel Micro é mais recente, de
outubro de 2023. “Nosso obje-
tivo estratégico é ter uma fábri-
ca própria em Manaus no
próximo ano”, afirma o diretor
de operações da empresa, Her-
mínio Costa.
A empresa vai investir R$ 70
milhões nos próximos cinco
anos em uma planta em Ma-
naus. Além de aparelhos de ar
condicionado, a fábrica vai pro-
duzir televisores e fornos de
micro-ondas, todos com a mar-
ca HQ. Hoje as TVs são fabrica-
das em Minas Gerais. l
APENAS 20% DAS RESIDÊNCIAS NO PAÍS TÊM
AR-CONDICIONADO INSTALADO. PÁG. B2
 ECONOMIA&NEGÓCIOS
B2
a área econômica, sob
N muitos aspectos, este
2023 se saiu melhor do
que esteve nas proje-
ções. É o que dá para concluir
da comparação das previsões
registradas no Relatório Focus,
do Banco Central (BC), com os
resultados finais do ano. O Fo-
cus é uma pesquisa que o BC
faz semanalmente com insti-
tuições, com o objetivo de afe-
rir as expectativas do mercado.
No último relatório de 2022, a
variação do PIB para 2023 estava
avaliada em 0,80% positivo. Pois
vai dar algo em torno dos 3,0%.
As apostas na inflação do ano es-
tavam em 5,31%, mas os núme-
ros finais ficarão quase um pon-
to porcentual mais baixos. A mé-
dia para a previsão daSelic foi de
Indústria Setor aquecido
No Brasil, 20%
das residências
têm aparelho de
ar condicionado
Nos Estados Unidos,
fatia é de 70% e na
Europa, de 60%;
item pode ganhar
mesma importância da
geladeira há 100 anos
MÁRCIA DE CHIARA
A perspectiva das mudanças
climáticas e, sobretudo, a rela-
tivamente baixa presença do
ar-condicionado nos domicí-
lios brasileiros têm atraído no-
vas fabricantes. Segundo a As-
sociação Brasileira de Refrige-
ração, Ar Condicionado, Venti-
lação e Aquecimento (Abra-
va), hoje 20% das residências
no Brasil têm pelo menos um
aparelho em operação, ante
60% na Europa e 70% nos Esta-
dos Unidos.
“O ar-condicionado vai cair
no gosto popular, com certe-
za”, prevê Arnaldo Basile, pre-
sidente da Abrava. Ele compa-
ra a importância do produto
hoje com a da geladeira 100
anos atrás. Nessa época, o ele-
trodoméstico não estava pre-
sente nas casas dos brasileiros.
Atualmente, mais de 90% dos
domicílios têm refrigerador.
“Daqui a 10, 20 anos, mais pes-
soas vão colocar aparelhos de
ar condicionado nas residên-
cias. Por isso, esse é um merca-
Celso Ming
2023: o ano em que o mercado errou
12,25%, magnitude que mais se
aproximou dos 11,75% fixados na
última reunião do Copom.
A expectativa do saldo da ba-
lança comercial saiu dos US$ 58
bilhões, mas deve ficar em torno
de US$ 97 bilhões. O saldo para
os Investimentos Diretos no
País estava previsto em US$ 80
bi, mas recuou e deve fechar o
ano próximo aos R$ 55 bilhões.
A cotação de venda do dólar
foi de R$ 5,27. Deve terminar o
ano em torno dos R$ 4,90.
Ninguém esperava o salto de
vara da produção agropecuária
no PIB do primeiro trimestre,
nem o forte avanço das exporta-
ções de petróleo e derivados;
nem a disparada da Bolsa; nem a
queda acentuada do desempre-
go, estimado entre 8% e 10%,
do em expansão.”
Foi de olho nesse cenário de
crescimento que a Bel Micro
alugou um galpão no comple-
xo industrial da Hines, na Zo-
na Franca. A expectativa é ini-
ciar a produção na fábrica pró-
pria em meados do ano que
vem. O primeiro lote de apare-
lhos de ar condicionado, com
30 mil unidades, foi produzido
nos dois últimos meses, por
uma empresa terceirizada de
Manaus.
Quando estiver à plena car-
ga, a expectativa é de que a no-
va fábrica produza 300 mil apa-
relhos de ar condicionado por
ano. Serão fabricados apare-
lhos split entre 9 mil e 36 mil
BTUs (unidade que indica a ca-
pacidade de refrigeração do
equipamento), voltados para a
população de menor renda.
Há dez anos fabricando
itens de informática, como
computadores, notebooks, ta-
blets, entre outros produtos, e
há quatro anos produzindo
TVs, com fábrica em Minas Ge-
rais, a empresa deve faturar es-
te ano R$ 1,5 bilhão.
O diretor de operações da
Bel Micro, Hermínio Costa,
diz que a companhia decidiu
ingressar na fabricação de ar-
condicionado para aproveitar
a experiência que tem com os
canais de venda, uma vez que a
empresa atua na distribuição
celso.ming@estadao.com
MELHOR QUE O ESPERADO
PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA
BRASILEIRA EM 2023
FIM DE FIM DE
2022
INFLAÇÃO (%) 5,31
PIB (VARIAÇÃO % SOBRE 0,80
ANO ANTERIOR)
SELIC (% AO ANO) 12,25
CÂMBIO (R$/US$) 5,27
BALANÇA COMERCIAL 58,00
(US$ BILHÕES)
INVESTIMENTO DIRETO 80,00
NO PAÍS (US$ BILHÕES)
FONTE: RELATÓRIO FOCUS/BANCO CENTRAL /
INFOGRÁFICO: ESTADÃO
mas que vai ficar mais perto dos
7,5%. A percepção de risco País,
que começou o ano nos 223 pon-
tos, deverá fechar o ano próxi-
A Daikin, no País desde 2010, tem 5% do mercado e prevê expansão
RETOMADA
Evolução da produção de aparelhos de ar condicionado
split
EM MILHÕES DE APARELHOS
5,0
4,307
4,0
3,0
2,0
0,663
1,0
0
2008 2013
*ATÉ SETEMBRO
de outras marcas.
Mas a disputa no mercado
não será fácil. A Bel Micro e a
Frioviz vão concorrer com 13
companhias que produzem
aparelhos de ar condicionado
na Zona Franca. As gigantes
mundiais do setor, como Gree,
Midea Carrier, LG, Samsung e
Daikin, já têm fábrica no Bra-
sil. Elas foram atraídas pelo
grande potencial de crescimen-
to de venda do produto num
país tropical, com o clima mar-
cado por grandes oscilações
de temperatura.
Um dos traços desse seg-
mento no País é a pulverização
mo dos 135 pontos.
2023
Essas diferenças entre expec-
tativas e resultados finais levan-
tam dúvidas sobre a capacidade
dos analistas de prever o futuro
num intervalo de apenas 12 me-
4,46 ses. E estes não são meros palpi-
2,92 tes descompromissados. A gran-
de maioria das projeções serve
11,75 de base para tomada de decisões
4,90 que envolvem muito dinheiro,
81,40 por empresas e investidores.
Seja como tiver sido ou como
60,00 for, o chamado mercado parece
não se ter dado conta das trans-
formações em curso na econo-
mia. As reformas, embora imper-
feitas, começam a produzir efei-
tos. O agronegócio reflete mu-
dança de mentalidade inovado-
ra. O impacto da tecnologia so-
bre a produtividade parece suba-
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 12/12/2023
4,449
2,858
2,185
2016 2021 2023*
FONTE: ELETROS / INFOGRÁFICO: ESTADÃO
da produção. José Jorge do
Nascimento, presidente da
Eletros, que reúne a indústria
de eletroeletrônicos de consu-
mo, observa que, enquanto no
mercado de TVs a produção
anual de 10 milhões de apare-
lhos está com cinco indústrias,
no ar-condicionado são 13 fa-
bricantes para 3,6 milhões de
aparelhos (total produzido no
ano passado).
Neste ano, as fábricas de-
vem produzir um pouco mais
de 3 milhões de aparelhos e o
mercado vai vender 4,5 mi-
lhões provavelmente, diz Basi-
le. A diferença vem dos esto-
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
valiado. Nem levou em conta
que o grande despejo de moeda
ao redor do mundo aumentou a
demanda por alimentos e ener-
gia, o que beneficiou o Brasil.
Nem tudo foi sucesso. Hou-
ve desempenhos fortemente
negativos na área fiscal. So-
bram dúvidas sobre a aprova-
ção do chamado arcabouço. A
indústria de transformação
continua desmilinguindo. A
dívida pública segue crescen-
do. E, mais que tudo, os índices
de poupança e de investimento
tiveram comportamento de-
cepcionante e, nessas condi-
ções, comprometem o avanço
futuro da economia.
Mas 2023 saiu melhor na foto.
COMENTARISTA DE ECONOMIA
ques que os distribuidores ti-
nham. Por causa da seca, agora
a produção de Manaus está
muito afetada pela falta de
componentes e peças para
montar os equipamentos.
Passado esse momento de
restrição, a perspectiva, se-
gundo o presidente da Abra-
va, é que, com a chegada de
novas empresas e a reação
das fábricas existentes, os vo-
lumes produzidos cresçam
num ritmo de 10% ao ano. De
janeiro a setembro, foram fa-
bricados 2,858 milhões de
aparelhos, 17% a mais ante o
mesmo período de 2022, se-
gundo a Eletros.
Concorrência
Além das novas
fabricantes, 13 empresas
produzem ar-condicionado
na Zona Franca
LANÇAMENTO. A japonesa
Daikin, por exemplo, empresa
que fatura no mundo US$ 22
bilhões, está no País desde
2010 e com fábrica desde 2014.
Como atua no segmento pre-
mium, tem apenas 5% de mer-
cado residencial brasileiro.
Mas a intenção é ampliar essa
fatia, conta o diretor comer-
cial, Júlio Passos.
“O plano até 2030 é estar
com a fábrica completamente
ocupada”, prevê o executivo. A
unidade de Manaus tem capaci-
dade para produzir 500 mil
aparelhos por ano e hoje usa
40% do potencial. A compa-
nhia pretende lançar produtos
com preço médio menor e am-
pliar a linha, a fim de aumentar
a sua fatia de mercado.
A Philco é outra que planeja
elevar a produção de apare-
lhos. A empresa prevê a contra-
tação de mais de 200 trabalha-
dores em Manaus, a partir do
mês de janeiro de 2024, infor-
ma a companhia. l

DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Folha de pagamentos Reivindicação empresarial
Pacheco recebe parecer contra
MP que revoga desoneração
MARIANA CARNEIRO
BRASÍLIA
Representantes dos setores afe-
tados pela revogação da políti-
ca de desoneração da folha de
pagamentos enviaram ao presi-
dente do Senado Federal, Ro-
drigo Pacheco (PSD-MG), um
ofício no qual apontam incons-
titucionalidade da medida pro-
visória publicada pelo governo
na sexta-feira. Eles pedem que
Pacheco devolva a MP ao Exe-
cutivo.
A MP revoga a desoneração
da folha de pagamentos para
Presidente do Senado irá deliberar com líderes
Em nota divulgada em suas re-
des sociais na sexta-feira, o pre-
sidente do Senado, Rodrigo Pa-
checo (PSD-MG), disse que irá
deliberar com os líderes do
Congresso se devolverá ou
não a MP da desoneração ao
17 setores da economia aprova-
da pelo Congresso e promulga-
da no dia 28 de dezembro. No
lugar, a MP estabelece a volta
da contribuição patronal de
forma escalonada até 2027.
A política de desoneração da
folha foi adotada em 2011 e subs-
titui a contribuição previdenciá-
ria patronal de 20%, incidente
sobre os salários, por alíquotas
de 1% a 4,5% sobre a receita bru-
ta. O benefício perderia a valida-
de no fim deste ano e, por inicia-
tiva do Congresso, havia sido
prorrogado até 2027.
O tema teve a tramitação na
Câmara e no Senado concluí-
Executivo. Ele pretende reuni-
los no início de janeiro.
Pacheco está sendo pressio-
nado também por outros parla-
mentares, que veem excesso
do Executivo na edição de uma
MP para tratar de assunto já
da no fim de outubro. Em no-
vembro, o presidente Luiz Iná-
cio Lula da Silva vetou a pro-
posta, mas em 14 de dezembro
o veto foi levado à votação e
derrubado pelo Congresso.
As associações empresariais
alegam que a MP está sendo
usada como “uma forma de se-
gundo veto não previsto na
Constituição Federal”. “A me-
dida provisória tem como fina-
lidade promover ato do Poder
Executivo com efeitos de lei
por conta da natural demora
do processo legislativo, em si-
tuação de relevância e urgên-
cia, e não para revisar uma lei
deliberado pelo Congresso.
A medida provisória começa
a valer em 1º de abril e a expec-
tativa dos setores empresa-
riais é de que ela seja devolvida
antes disso, no início dos traba-
lhos legislativos, em fevereiro.
ECONOMIA&NEGÓCIOS
que acaba de ser construída
dentro do rito correto e ampla
discussão”, afirma o texto, ao
qual o Estadão teve acesso.
“Caso o Congresso Nacional
acate tal situação, isso poderia
resultar em ampla insegurança
jurídica, pelo uso de MPs em
diversas outras situações nos
mais diversos temas, esvazian-
do a competência do Poder Le-
gislativo”, acrescenta o texto.
Para embasar o pedido a Pa-
checo, os setores encaminha-
ram ao presidente do Senado
um parecer jurídico em que
afirmam que o STF já julgou
uma tentativa semelhante co-
mo inconstitucional. O docu-
mento, elaborado pelo escritó-
rio Sacha Calmon Misabel Der-
zi Advogados, afirma que a me-
dida fere o princípio da separa-
ção de Poderes, a partir do en-
tendimento de que a legisla-
ção veta o envio de MP ou no-
vo projeto de lei no mesmo
Eles confiam que, mesmo que
Pacheco decida não devolver a
MP, os líderes da Câmara e do
Senado não aceitarão voltar a
colocar o tema em votação.
O argumento é que o presi-
dente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), já alegou ser contra a
edição de MPs que não te-
nham urgência comprovada,
B3
ano em que um tema já tenha
sido objeto de votação e apro-
vação no Congresso.
O caso lembrado pelo pare-
cer ocorreu sob Jair Bolsonaro
(PL), em 2022, quando o então
presidente tentou sustar por
meio de MP as leis Aldir Blanc
e Paulo Gustavo. Na ocasião, a
Lula vetou
A MP que desonera 17
setores foi aprovada pelo
Congresso e promulgada
no dia 28 de dezembro
Corte alegou que “medida pro-
visória não é desvio para se con-
tornar a competência do Con-
gresso Nacional”, sendo “in-
constitucional a utilização des-
te instrumento excepcional pa-
ra sobrepor-se o voluntarismo
presidencial à vontade legíti-
ma das Casas Legislativas”. l
preferindo o caminho pela tra-
mitação via projeto de lei.
O Estadão apurou que o mi-
nistro Fernando Haddad dis-
se a Pacheco e também a Lira
que o início da vigência da MP
em abril foi uma opção feita
pelo governo para dialogar
com o Congresso durante este
período. l M.C.
 ECONOMIA&NEGÓCIOS
B4
ano começou com presi-
O dente da República ra-
lhando publicamente
com o presidente do Ban-
co Central. Roberto Campos Ne-
to, “aquele cidadão”, era o pri-
meiro com mandato entrando
por dentro de um governo de
presidente adversário daquele
que o nomeou.
É feio quando o presidente as-
sume posturas tolas, parecendo
apenas agradar o seu cercadi-
nho. Pior ainda quando é since-
ro e ecoado pelos áulicos.
No passado, quando podia
demitir o presidente do BC o Pa-
lácio se queixava dos juros em
“off”. Fazê-lo abertamente con-
vidava a pergunta sobre por que
SEG. Luiz Carlos Trabuco Cappi e Henrique Meirelles (revezam quinzenalmente) l TER. Demi Getschko (quinzenalmente) l QUA. Fábio Alves l QUI. Adriana Fernandes l SEX. Elena Landau e Laura Karpuska (revezam quinzenalmente) e Pedro Doria l SAB. Adriana Fernandes
l DOM. José Roberto Mendonça de Barros (quinzenalmente) e Affonso Celso Pastore (quinzenalmente); Paulo Leme (1º domingo do mês), Roberto Rodrigues (2º domingo do mês), Albert Fishlow (3º domingo do mês) e Gustavo Franco (último domingo do mês)
Rafaela Vitoria
‘Controle de gastos
precisa voltar para
a pauta do governo’
Para economista do banco Inter,
problema é o crescimento acelerado
das despesas e não das receitas
ENTREVISTA
É economista-chefe do
banco Inter; foi
diretora da S&P e tem
MBA pela Wharton
School na Universidade
da Pensilvânia
JOSÉ FUCS
economista Rafaela
A Vitoria, que comanda
a área de economia e
de pesquisa do banco Inter,
não poupa críticas à política fis-
cal do governo Lula. Segundo
ela, mais do que a frustração
com as receitas, que ficaram
bem abaixo do que esperava o
governo em 2023, o que preo-
cupa é o crescimento acelera-
do dos gastos.
Em entrevista ao Estadão,
Rafaela diz que “ter gasto na
frente para buscar a receita de-
pois é um erro de política fis-
cal” que o País está voltando a
Gustavo H. B. Franco
Terminou em churrasco
não demitir. Quando perdeu es-
se poder, o presidente ganhou o
privilégio de reclamar publica-
mente, ainda que sem conse-
quência. Parece que Lula se sen-
te melhor nessa nova situação.
Em seguida a tentativa foi de
pazuelizar a instituição nomean-
do como diretores os seus “ho-
mens de confiança”, uma solução
comum para outros colegiados.
Lula já indicou quatro no-
vos dirigentes do BC, dois ser-
vidores da casa, e dois econo-
mistas “de fora”, Gabriel Galí-
polo e Paulo Picchetti. Todos
submergiram, absorvidos pela
instituição e suas práticas.
No final de 2024 terminam
os mandatos de Campos Neto
cometer. “O grande problema
das contas públicas no Brasil,
hoje, é controlar gastos e não
receita, mas o governo não
vem fazendo qualquer esforço
para manter os gastos sob con-
trole”, diz. “Hoje, no debate,
não há preocupação com o
crescimento dos gastos, mas is-
so precisa voltar para a pauta.”
Confira a seguir a entrevista.
Como a sra. vê o quadro fis-
cal do País?
Vejo uma deterioração gran-
de, até maior do que a gente
esperava. A gente já começou
2023 com uma expectativa ne-
gativa, por conta da PEC (Pro-
posta de Emenda à Constitui-
ção) da Transição e da previ-
são de desaceleração de PIB
(Produto Interno Bruto). E,
com os dados de outubro di-
vulgados pelo Tesouro, o que
a gente vê é um quadro até um
pouco pior do que a gente ima-
ginava em termos de arrecada-
ção e de atividade econômica.
As duas pontas estão decepcio-
nando, tanto o lado da receita,
no qual há uma frustração
e de dois outros diretores. Lula
terá o “controle” da instituição
ao escolher seus substitutos,
sobretudo o presidente, so-
mando sete nomeados seus de
um colegiado de nove. Terá?
Em Brasília, às vezes, é
preciso percorrer um
caminho muito sinuoso
para tudo ficar no
mesmo lugar
A escolha do novo presiden-
te do BC não será simples, uma
vez que vai ocorrer, provavel-
mente, no mesmo momento
em que o Copom vai se decidir
DIVULGAÇÃO/INTER
maior, quanto o lado do PIB. A
queda da inflação é boa, claro,
mas tem um impacto na arre-
cadação. Ainda mais se a gente
levar em conta que, pelo
IGPM (Índice Geral de Preços –
Mercado), a inflação de custo
de produção da indústria, a in-
flação de bens, foi negativa.
Agora, mais do que isso, o que
preocupa é o lado dos gastos.
O governo apresenta um volu-
me de gastos acima do espera-
do. As despesas obrigatórias
estão crescendo bem acima
do Orçamento. Existe, então,
uma preocupação com certo
descontrole das despesas – e o
governo não vem fazendo
qualquer esforço para manter
os gastos sob controle. Além
disso, hoje, no debate, não
existe essa preocupação com
o crescimento dos gastos nem
com a necessidade de se con-
trolar esse crescimento de gas-
tos. Acredito que isso precisa
voltar para a pauta.
Qual a sua avaliação sobre
o novo arcabouço fiscal?
Qual o impacto pode ter no
sobre a taxa neutra, ou sobre
até que nível vai cair a Selic.
Com todos esses pratos no
ar, por ora, felizmente, tudo per-
maneceu como estava.
Em Brasília, às vezes, é preci-
so percorrer um caminho mui-
to sinuoso para tudo ficar no
mesmo lugar.
A meta de inflação para 2023
era de 3,25% com 1,5% de mar-
gem de tolerância, portanto
com um “teto” de 4,75%. As ex-
pectativas para o IPCA em 2023
aferidas pelo Focus (de 22/12, úl-
timo do ano) estavam em 4,46%.
Campos Neto cumprirá sua
meta no dificílimo primeiro ano
de presidente da República inimi-
go daquele que o nomeou. Um
quadro que a sra. traçou?
O desenho do arcabouço é até
positivo. A ideia de você cres-
cer despesas abaixo do cresci-
mento de receita é boa. Você
vai buscar um ajuste fiscal, um
equilíbrio, ao longo do tempo.
A questão é que a gente já está
chegando a esse limite. Em
2023, a gente não teve o arca-
bouço valendo ainda – ele só
vale a partir de 2024 –, mas es-
tá vendo que o governo está au-
mentando as despesas bem aci-
ma das receitas e não está se-
guindo o arcabouço. A gente já
vê grande dificuldade de o go-
verno cumprir o arcabouço. A
contratação de gastos para
2024 é bem maior do que o limi-
te do arcabouço, que estabele-
ce um teto de crescimento real
para as despesas de 2,5% no
ano, enquanto as receitas de-
vem frustrar as expectativas.
Como a sra. analisa as me-
didas de aumento de recei-
ta propostas pelo ministro
Fernando Haddad?
Elas não tiveram sucesso. Algu-
mas foram aprovadas pelo
Congresso, mas ainda não sur-
tiram o efeito que o ministro
desejava. Então, a gente come-
ça 2024 com preocupação gran-
de de que o arcabouço não vai
ser cumprido. Apesar de o arca-
bouço ter um desenho prova-
velmente positivo, o não cum-
primento dele traz certa inse-
gurança para o rumo da políti-
ca fiscal nos próximos anos.
O ministro tinha prometi-
do déficit em 2023 de, no
máximo, 1% do PIB. Mas de-
ve ser quase o dobro. Como
a sra. avalia esse resultado?
A estimativa do Tesouro era de
um déficit de pelo menos
1,40% do PIB em 2023, já consi-
derando o “empoçamento” de
despesas (gastos previstos, mas
não realizados). Com o paga-
mento das parcelas pendentes
dos precatórios de 2022, o défi-
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
feito tão “histórico” quanto a pas-
sagem da reforma tributária. Im-
possível dizer o que é mais difícil:
domar o IPCA ou engolir em seco
diante de provocações públicas.
Pois Campos Neto terminou
o ano de 2023 participando ale-
gremente de churrasco na Gran-
ja do Torto em harmonia com o
presidente e seu entorno. Hou-
ve um “ganho institucional”, tal-
vez com implicações para a defini-
ção do perfil do próximo presi-
dente do BC. Mas convém não
exagerar na transcendência do
gesto. Um churrasco pode ser
mais que uma refeição, ou não. l
EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL E SÓCIO
DA RIO BRAVO INVESTIMENTOS
cit pode ultrapassar os 2% do
PIB. Então, de fato, a gente vai
terminar o ano com uma ex-
pansão de gastos bem significa-
tiva. Há também uma preocu-
pação com a qualidade dos gas-
tos, porque os aumentos vie-
ram principalmente de transfe-
rências de renda, para a Previ-
dência e os programas sociais,
como o BPC (Benefício de Pres-
tação Continuada) e o Bolsa Fa-
mília. E, quando a gente olha o
estado da economia, o merca-
do de trabalho hoje, que está
muito robusto, com taxa de de-
semprego chegando perto de
7%, isso não é muito condizen-
te com o cenário atual. Não faz
muito sentido haver expansão
de gasto social no momento
em que o mercado de trabalho
melhora. O governo poderia
ter feito um trabalho de revi-
“O governo poderia ter
feito um trabalho de
revisão do Cadastro
Único mais eficiente.
Temos de fazer um
controle efetivo para
que o programa seja
eficiente”
são do Cadastro Único mais
eficiente. Sabemos que ainda
há irregularidades, que vieram
do fim de 2022, e se multiplica-
ram ao longo do ano. Temos
de fazer um controle efetivo
do cadastro para que os progra-
mas sejam eficientes.
Qual sua estimativa de défi-
cit primário para 2024?
Estamos trabalhando com um
déficit de 1% do PIB, o que já é
uma boa notícia. Consideran-
do que, no fim, o déficit de
2023 deve ficar acima de 2% do
PIB, teoricamente a gente está
melhorando. O sinal é positi-
vo. Mas há o risco de o déficit
crescer e de o governo não fa-
lar do descontrole de gastos. l
 LINK B5
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023

O ESTADO DE S. PAULO

ANTHONY FAIOLA/WASHINGTON POST

‘Big Brother’ Monitoramento

Vigilância por câmeras

que utilizam IA avança
e testa privacidade
Riviera Francesa instala equipamentos de ponta
que conseguem diferenciar até gêmeos idênticos Algoritmo é capaz de sinalizar movimentos irregulares de veículos

PARIS
Se você visitar uma das portas
de entrada para a glamourosa
Riviera Francesa, saiba de uma
coisa: você estará sendo obser-
vado. Esse resort mediterrâ-
neo ensolarado, palco de um
terrível ataque terrorista em
2016, tornou-se o que seu pre-
feito chama de “a cidade mais
monitorada da França” – e um
laboratório para uma revolu-
ção global na aplicação da lei,
impulsionada pela inteligên-
cia artificial (IA).
guerra contra nós e não pode-
mos vencer a guerra usando as
armas da paz”, disse o prefeito
de Nice, Christian Estrosi. “A
inteligência artificial é a arma
mais protetora que temos.”
A França, de forma mais am-
pla, está se movendo para im-
plantar uma vigilância por ví-
deo algorítmica abrangente en-
quanto se prepara para sediar
os Jogos Olímpicos de 2024, in-
cluindo tecnologia que pode
detectar movimentos repenti-
nos de multidões, objetos
abandonados e alguém deita-
do no chão. Essa tecnologia, se-
ciais e prisões falsas.
No Reino Unido – um dos pri-
meiros a adotar a vigilância por
CCTV – o governo incentivou
os chefes de polícia a dobrar o
número de buscas retrospecti-
vas de reconhecimento facial
que realizam e a considerar o re-
conhecimento facial ao vivo pa-
ra encontrar pessoas em listas
de vigilância da polícia em lo-
cais como estádios de futebol.
E, na Europa continental, a
França está longe de ser a única
a adotar a IA para a segurança.
Ao longo das vias navegáveis de
Veneza, por exemplo, uma rede
de câmeras pré-existente ali-
menta um centro de controle
que agora é baseado por IA, com
a capacidade de reconhecer for-
mas e tamanhos de barcos.
JOGOS OLÍMPICOS. A França es-
tá apostando alto na segurança
assistida por IA para os Jogos
Olímpicos. Centenas de câme-
ras inteligentes em Paris e em
outros lugares monitorarão as
multidões. Uma nova lei conti-
nua a proibir o reconhecimento
facial na maioria dos casos, mas
expandiu as aplicações legais
da vigilância algorítmica por ví-
deo antes, durante e pelo me-
nos seis meses após os Jogos.
Muitos observadores veem
isso como um teste que pode
ser estendido indefinidamen-
te. Uma pesquisa realizada na
época da adoção da lei mos-
trou um apoio esmagador,
com 89% dos entrevistados
aprovando as câmeras inteli-
gentes nos estádios, 81% no
transporte público e 74% nas
vias públicas. l WP
ESTE CONTEÚDO FOI TRADUZIDO COM O
AUXÍLIO DE FERRAMENTAS DE INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL E REVISADO POR NOSSA EQUIPE
EDITORIAL.

Um total de 4,2 mil câmeras gundo as autoridades, pode

estão instaladas em espaços
públicos, ou seja, uma para ca-
da 81 habitantes. Essas não são
as câmeras de CCTV de antiga-
mente. Algumas são equipa-
das com imagens térmicas e
outros sensores. E estão conec-
tadas a um centro de comando
e à tecnologia de IA que pode
sinalizar infrações menores –
quando alguém estaciona ile-
galmente ou entra em um par-
que público após o expediente
– bem como atividades poten-
cialmente suspeitas, como al-
guém tentando acessar um pré-
dio escolar.
“Há pessoas que
declararam guerra
ser fundamental para impedir
um ataque como o atentado a
bomba nos Jogos Olímpicos HOTEL RESORT E GOLFE CLUBE DOS 500
de Verão de 1996 em Atlanta.
Mas essa adoção de um poli-
ciamento futurista – alguns di-
zem que é orwelliano – está en-
frentando desafios em uma re-
gião do mundo que está bus-
cando assumir a liderança na
regulamentação de IA e que
abriga algumas das mais fortes
proteções de privacidade digi-
tal. “Eles estão colocando to-
dos nós sob o olhar que tudo
vê da IA”, disse Félix Tréguer,
cofundador da La Quadrature
du Net, um grupo francês de
direitos civis digitais.
REVOLUÇÃO. As pessoas que

1,5 MILHÃO
contra nós e não viajam para a França não estão
podemos vencer a prestes a ver câmeras de reco-
guerra usando as nhecimento facial em seus
armas da paz” quartos de hotel, como as que

Christian Estrosi
Prefeito de Nice
A cidade testou um software
de reconhecimento facial tão
preciso que consegue distin-
guir gêmeos idênticos.
Outro sistema testado este
ano na icônica Promenade des
Anglais de Nice usou algorit-
mos capazes de sinalizar movi-
mentos irregulares de veículos
e pedestres em tempo real – al-
go que, segundo as autorida-
des, poderia ter alertado rapida-
mente a polícia sobre o agres-
sor que dirigiu um caminhão
de 19 toneladas contra uma
multidão no calçadão à beira-
mar em 2016, matando 86 pes-
soas e ferindo outras centenas.
“Há pessoas que declararam
DE MOMENTOS
as autoridades chinesas insta-
laram antes dos Jogos Asiáti-
cos em setembro para confir-
mar a identidade dos hóspe-
des. Mas os governos ociden-
tais estão usando cada vez
mais a IA como uma ferramen- Cada visita é mais do que uma estadia, é um momento e história que
ta de combate ao crime. se entrelaça com a nossa, marcando com alegria, descobertas e conexões.
Nos Estados Unidos, a polí-
cia tem feito parcerias com em- Em toda nossa história esse é o número de hóspedes que passou por aqui!
presas como a Clearview AI, se- Venha você também aproveitar dias inesquecíveis no
diada em Nova York, que de- Hotel Resort e Golfe Clube dos 500 e descobrir a excelência e a hospitalidade
que nos tornaram o desno preferido de tantas histórias únicas.
senvolveu um algoritmo de re-
conhecimento facial e acumu-
lou um banco de dados de mais
de 20 bilhões de fotos retira- Localizado a apenas duas horas de São Paulo, o Hotel Resort e Golfe Clube dos 500
das da internet. O sistema aju- combina arte, bom gosto e hospedagem.
dou a identificar os manifes-
tantes no ataque ao Capitólio
dos EUA em 6 de janeiro de
2021. Ele também enfrentou
ações judiciais de privacidade
e preocupações sobre perfis ra-
 ECONOMIA&NEGÓCIOS
B6
Relançamento Obra icônica
Projeto de Niemeyer ficará pronto após 55 anos
Arranha-céu de
150 metros projetado
em 1969, na Barra
da Tijuca, no Rio, foi
retomado e deve ser
concluído em 2025
BRUNA KLINGSPIEGEL
O icônico projeto arquitetôni-
co Niemeyer 360º, conhecido
no passado como Torre H, fi-
nalmente deve sair do papel. O
projeto é de 1969 e a constru-
ção começou em 1970, mas
uma série de problemas atra-
sou sua conclusão. O arranha-
céu de 150 metros, idealizado
por Oscar Niemeyer e Lúcio
Costa, está previsto para ser
concluído somente 55 anos de-
pois, em 2025, e terá 37 anda-
res na Barra da Tijuca, no Rio,
com vista panorâmica (360º)
de todo o bairro.
Criado no início da década
de 70, o empreendimento foi
paralisado em 1984 por causa
de uma crise financeira e a fa-
lência da empresa Desenvolvi-
mento Engenharia, do empre-
Torre circular com 448 apartamentos proporciona visão de 360 graus
sário e político Múcio Athay-
de, morto em 2010. Original-
mente destinado ao desenvol-
vimento urbano da Barra da Ti-
juca, o projeto previa a constru-
ção de 76 torres cilíndricas. No
entanto, dos prédios planeja-
dos, somente quatro torres fo-
ram erguidas.
A primeira delas foi entre-
gue pela construtora em 1990,
enquanto a segunda, sob a res-
ponsabilidade da Encol, che-
gou às mãos dos compradores
em 1994. Já a terceira torre te-
DIVULGAÇÃO
ve sua construção interrompi-
da no quinto pavimento e foi
posteriormente demolida pa-
ra dar espaço a um novo em-
preendimento. Enquanto isso,
a Torre H permaneceu abando-
nada e em ruínas.
As obras foram retomadas
pela incorporadora brasilien-
se Capital 1 há três anos, que
assumiu a construção e anun-
ciou oficialmente o relança-
mento do projeto em 17 de no-
vembro, trazendo alívio aos
proprietários que aguardavam
uma resolução. Parte dos com-
pradores da época participa-
rão financeiramente da conclu-
são das obras. Alguns têm pa-
go mensalidades de R$ 1 mil
por apartamento até o final
deste ano; em 2024, serão R$
7,7 mil por mês.
A empresa incorporou o pro-
jeto há cinco anos, adquirindo
participação majoritária de
85% dos apartamentos. Os
15% restantes permanecem
com compradores originais.
ESTRUTURA. “O prédio estava
preservado, mas tinha muitos
sinais de depredação, vandali-
zação. Os elevadores estavam
enferrujados e acabados, mui-
tas janelas quebradas. Então
realmente dava uma impres-
são muito ruim, mas a estrutu-
ra estava bem conservada”,
conta o sócio fundador da Ca-
pital 1, Antonio Carlos Osorio.
A incorporadora vai investir
cerca de R$ 150 milhões no em-
preendimento, cujo valor glo-
bal de vendas (VGV) é de R$
280 milhões. No total, são 448
apartamentos, com preços en-
tre R$ 570 mil e R$ 750 mil. O
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
empreendimento tem a assina-
tura de Paulo Niemeyer, bisne-
to de Oscar Niemeyer e único
membro da família que perma-
neceu envolvido no ofício. Pro-
curado, ele não respondeu ao
pedido de entrevista.
O prédio terá estúdios de 40
m² e coberturas duplex de 80
m². Além disso, os futuros mo-
radores terão área de lazer
com 5 mil m² e uma das maio-
res piscinas do Rio de Janeiro,
com quase 1 mil m². O terraço
abriga um jardim com telhado
verde, com visão panorâmica
de todo o bairro.
Áreas de lazer
Condomínio terá sauna
integrada à piscina, praças
internas, academia, espaço
gourmet e churrasqueiras
A conclusão do prédio, que
permaneceu abandonado por
décadas, tem um significado
histórico para a Barra da Tiju-
ca. Ela foi uma das primeiras
torres construídas em um, en-
tão, areal desértico. l

DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Recuperação Novas ações
Starbucks do Brasil
encerra programa de
fidelidade e aplicativo
Gestora anunciou
ainda que deixará de
receber pagamentos
do cartão exclusivo;
medidas valem a
partir de 31 de janeiro
A SouthRock Capital, gestora
de redes de alimentação no
Brasil, anunciou que a Star-
bucks descontinuará o aplicati-
vo no Brasil, o programa de fi-
delidade e deixará de receber
pagamentos do cartão exclusi-
vo. As medidas valem a partir
Ranking Bilionários no mundo
Fortuna dos 500 mais ricos sobe para US$ 1,5 tri
A fortuna das 500 pessoas
mais ricas do mundo subiu de
US$ 1,4 trilhão para US$ 1,5 tri-
lhão (cerca de R$ 7,3 trilhões)
de 31 de janeiro de 2024.
Nas redes sociais da marca
de bebidas, a empresa divul-
gou canais de contatos para ti-
rar as dúvidas dos clientes e
agradeceu “a confiança e a fide-
lidade durante todos esses
anos”. Os consumidores te-
rão, então, até o fim de janeiro
para trocar pontos por produ-
tos e gastar o saldo do Star-
bucks Card.
A SouthRock administra no
País também o Eataly, e as re-
des TGI Friday’s e Subway,
além da Brazil Airports. A em-
entre 2022 e 2023, de acordo
com um levantamento realiza-
do pela Bloomberg.
Segundo o Bloomberg Billio-
presa pediu recuperação judi-
cial, em 31 de outubro, com dívi-
das estimadas em R$ 1,8 bilhão.
No dia 12 de dezembro, o
juiz Leonardo Fernandes dos
Santos, da 1.ª Vara de Falên-
cias e Recuperações Judiciais
da Justiça de São Paulo, acei-
tou o pedido de recuperação
judicial da SouthRock.
Santos admitiu o processa-
mento mais de um mês após a
solicitação da empresa. Ele
cumpriu a determinação da se-
mana passada do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo
(TJ-SP) de manter o Eataly e a
Subway fora do processo.
Com o deferimento da recu-
peração judicial, o juiz suspen-
deu todas as ações e execuções
contra a SouthRock por 180
dias. Ela tem 60 dias para apre-
sentar o plano de recuperação
judicial, que será submetido à
aprovação em assembleia de
credores.
O administrador nomeado
naires Index, o homem mais
rico do mundo é Elon Musk,
dono da Tesla, da SpaceX e do
X (antigo Twitter). Sua rique-
ECONOMIA&NEGÓCIOS
foi a Laspro Consultores, que
deve enviar relatório sobre a
situação da empresa em dez
dias. O laudo de constatação
prévia opinou pelo deferimen-
to da ação, não só no sentido
da viabilidade operacional e
possibilidade efetiva de recu-
peração, mas também quanto
à regularidade e preenchi-
mento dos requisitos docu-
mentais.
Processo
Juiz aceitou pedido de
recuperação judicial da
empresa e deixou de fora o
Eataly e a rede Subway
A perícia também constatou
dependência financeira entre
todas as empresas do grupo
econômico, inclusive o Eataly
e a Subway.
PERDA DE LICENÇA. Além do en-
za é avaliada em US$ 229 bi-
lhões – em um ano, subiu US$
92 bilhões.
A segunda posição ficou
com o francês Bernard Ar-
nault, CEO da grife de luxo
Louis Vuitton, com US$ 179
bilhões.
B7
dividamento elevado e da per-
da de receitas desde a pande-
mia, um ponto central para o
pedido de recuperação judi-
cial da SouthRock Capital foi a
notificação enviada pela Star-
bucks Coffee International
Inc à empresa brasileira, em 13
de outubro. No documento, a
companhia americana declara
a “imediata rescisão dos acor-
dos de licença da Starbucks ce-
lebrados entre as partes”. Ou
seja, encerra o acordo com a
SouthRock, fundada em 2015.
Em 2020, o grupo Sou-
thRock teve uma queda de
aproximadamente 95% nas
vendas, além de ter suporta-
do grande inadimplência por
parte dos parceiros comer-
ciais. Em 2021, a queda foi de
aproximadamente 70% e, em
2022, 30%. Segundo a empre-
sa, esse desempenho afetou o
fluxo de caixa do grupo, o que
levou ao pedido de recupera-
ção judicial. l
O terceiro lugar é de Jeff Be-
zos (US$ 177 bilhões), funda-
dor da Amazon. Ele foi seguido
por Bill Gates (US$ 141 bi-
lhões), da Microsoft, e Steve
Ballmer (US$ 131 bilhões), que
comandou a companhia entre
1998 e 2014. l
B8
CARREIRAS&EMPREGOS
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023

Para anunciar: O ESTADO DE S. PAULO

(11) 3855-2001

Sem tempo perdido Nova demanda

Empresas diminuem quantidade de reuniões

Estudo feito pela Microsoft aponta que 68% dos trabalhadores dizem que não
têm tempo suficiente de concentração ininterrupta durante o dia de trabalho
WASHINGTON
Reuniões de trabalho são uma
dor de cabeça para funcioná-
rios de escritórios em todos os
lugares. E, recentemente,
Joshua Zerkel atingiu seu limi-
te. “Eu estava olhando para mi-
nha própria agenda, com von-
tade de chorar”, diz.
Então, Zerkel, que é chefe
de marketing de engajamento
na Asana, uma plataforma de
gerenciamento de tarefas, le-
vou suas preocupações sobre
o excesso de reuniões a um se-
tor de pesquisa que oferece es-
tratégias para tornar o traba-
lho mais eficiente.
As preocupações motiva-
ram o laboratório a passar por
um experimento que cancela
temporariamente reuniões re-
correntes e pede às pessoas
que reconstruam suas agen-
das do zero. O projeto foi no-
meado de “reuniões do juízo
final”. “Está definitivamente
melhor agora”, disse Zerkel so-
bre o experimento.
O excesso de reuniões conti-
nua sendo um grande proble-
ma para muitas pessoas que
trabalham em escritórios. Em
geral, 68% das pessoas dizem
que não têm tempo suficiente
de concentração ininterrupta
durante o dia de trabalho, de
acordo com um estudo que a
Microsoft divulgou este ano.
Desde fevereiro de 2020, os
usuários do Microsoft Teams
têm três vezes mais reuniões e
ligações por semana, infor-
mou a empresa. Os trabalhado-
res relataram que a grande
quantidade de reuniões e reu-
niões ineficientes eram dois
dos três principais obstáculos
para a produtividade.
As empresas intensificaram
as reuniões durante o auge da
pandemia para se manterem
conectadas aos trabalhadores,
muitos dos quais estavam con-
finados em suas casas. Mas,
anos depois, mesmo que mui-
tas pessoas trabalhem no escri-
tório pelo menos meio perío-
do, o número esmagador de vi-
deoconferências permanece.
ESTRATÉGIAS. Para remediar is-
so, a Asana estreou seu experi-
“A maior mudança que
eu notei é uma maior
consideração sobre
agendamento e
estruturação de
reuniões”
Rebecca Hinds
Work Innovation Lab
mento apocalíptico de reu-
niões. A equipe de nove pes-
soas de Zerkel foi solicitada a
excluir todas as reuniões de seu
calendário, esperar dois dias e
então considerar quais delas
precisavam ser restauradas.
Cada participante economi-
zou 11 horas por mês, disse Re-
becca Hinds, chefe do chama-
do Work Innovation Lab. O pe-
queno experimento levou a
um teste maior, desta vez com
60 pessoas, o que levou o labo-
ratório a lançar um manual do
Juízo Final das reuniões que
diz às equipes como fazer isso
por si mesmas.
“A maior mudança que eu
notei é uma maior considera-
ção sobre agendamento e es-
truturação de reuniões”, disse
Hinds, acrescentando que os
líderes incentivam as pessoas
a recusarem reuniões que não
considerem essenciais.
O Shopify, uma plataforma
de e-commerce, foi mais lon-
ge. Em janeiro, a empresa pe-
diu aos funcionários que cance-
lassem todas as reuniões, espe-
rassem duas semanas antes de
acrescentar algo e deixassem
as quartas-feiras livres.
Outras empresas dizem
que ainda estão ajustando sua
estratégia. Zapier, uma plata-
forma de automação de fluxo
de trabalho, optou no ano pas-
sado por implementar uma se-
mana de foco. Cada funcioná-
rio definiu uma meta e priori-
zou esse trabalho durante to-
da a semana. As reuniões não
foram proibidas, mas as reu-
niões gerais e recorrentes fo-
ram desestimuladas.
Oitenta por cento dos fun-
cionários disseram que alcan-
çaram seu objetivo, disse Bran-
don Sammut, diretor de pes-
soal. l WP

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Õ×ÃÒÎÃÖÃÈÑÔÏÃÒÇÕÕÑÃÎ
ÆÇËÐÈÑÔÏÃňƭÑ
 OPORTUNIDADES&LEILÕES B9
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO Para anunciar:
(11) 3855-2001

Fique de olho Expansão geográfica para o exterior.

“Depois que você dominou

Abrir unidade de uma franquia fora a operação do negócio em dife-

rentes lugares, indo para as vá-
rias regiões que a gente tem no
Brasil, com diferenças geo-

do Brasil exige cuidado redobrado gráficas e de estrutura econô-

mica, aí dá para pensar um pou-
co mais em internacionaliza-
ção, que, com certeza, será
Especialista afirma que é preciso conhecer as regras do negócio muito mais complexa”, diz.
E, a partir disso, comple-
no exterior e ter experiência aqui antes de se aventurar para fora menta Newton, o ideal é procu-
rar países em que a barreira de
entrada seja menor: ter uma
língua em comum, como é o
mam fazer este processo por uma complexidade maior”, co- preferências dos consumido- caso de Portugal, ou ficar mais
FELIPE SIQUEIRA oportunidade, mas não é exata- menta o especialista. Em resu- res de cada região vão mudar, próximo do Brasil, como a
mente o melhor caminho.” Se- mo, são questões práticas que, principalmente quando o cli- América Latina. “Paraguai po-
Quando alguém tem um negó- gundo ele, quando isso aconte- naturalmente, vão impactar a ma é muito diferente, o que im- de ser, por exemplo, um bom
cio, a ideia, na maioria das ve- ce, existe um risco de não ha- operação do estabelecimento. pacta diretamente até mesmo país para começar, já que é per-
zes, é expandi-lo. Isso tende a ver preparação nem da marca na logística. Um produto que to, o território não é grande e
garantir mais acesso a diferen- nem do franqueado para ope- precisa ser resfriado por mais não existe uma barreira de lín-
tes mercados e, consequente- rar fora do Brasil. Peculiaridades tempo vai ter mais facilidade gua tão relevante.”
mente, maior receita e mais Essa capacidade de saber li- Características locais e de conservação em regiões Uma outra recomendação,
longevidade. Especialistas ad- dar com os diferentes desafios preferências de consumo mais frias do País. Agora, um lembra Newton, é fazer o cha-
vertem, porém, que é preciso que vão ser apresentados ao ne- mudam principalmente produto que precisa ser consu- mado cliente oculto, tática uti-
muito planejamento. “O ti- gócio é que vai efetivamente quando o clima é diferente mido gelado provavelmente te- lizada no mercado para que
ming é sempre muito impor- fazer diferença no dia a dia. rá mais aderência em locais empresas possam medir a qua-
tante”, diz o vice-presidente Por exemplo: é preciso con- quentes. lidade do atendimento. Quan-
de consultoria do Grupo 300 ferir se há alguma lei que dê Em razão disso, ele diz que do feito em marcas concorren-
Ecossistema de Alto Impacto, diretrizes ao setor, como exis- a grande dica inicial para quem ADAPTAÇÃO. Existe uma ade- tes, é possível também coletar
Lucien Newton. te no Brasil – a 13.966/2019. pensa em internacionalizar o quação em relação a cada re- informações sobre a dinâmica
Ele diz que é comum haver “Estados Unidos, Portugal negócio é: “Aproveite o tama- gião que, de acordo com o espe- do negócio em relação a produ-
uma decisão de levar a marca e Argentina têm práticas mais nho do Brasil e tenha opera- cialista, vai fazer com que o ne- tos, preços, comunicação, vo-
para outro país sem prepara- rígidas, o que traz segurança ções em diferentes Estados”. gócio consiga adquirir expe- lume de compras, entre outros
ção. “Os empresários costu- para os negócios, mas também As características locais e as riência para, eventualmente, ir pontos. l

/(,/¸(6
$7(1ª¦23$5$$&2035$(0/(,/¸(626,17(5(66$'26'(9(5¦22%5,*$725,$0(17((67$5(05(*8/$5,'$'(),6&$/3(5$17($5(&(,7$)('(5$/

LEILÕES DE VEÍCULOS LEILÕES DE IMÓVEIS

SOMENTE ONLINE - 02 A 05/01 E 08 A 12/01 - 09h30
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/XL])HUQDQGRGH$EUHX6RGUÌ6DQWRUR/HLORHLUR2ILFLDO-8&(63Q/XL]$OH[DQGUH0DLHOODULSUHSRVWRHPH[HUFÐFLR
LEILÕES EXCLUSIVOS SOMENTE ONLINE - 03/01 - 14h, 06/01- 09h30, 10/01 - 14h E 13/01 - 09h30
LEILÃO SOMENTE ONLINE - 10/01/24 - 15h30
IMÓVEL RURAL (DESOCUPADO) - VILA GERMANA - CAÇAPAVA - SP
&DÊDSDYD639LOD*HUPDQD,0¶9(/585$/*OHED%GHVWDFDGRGD)$=(1'$%(/$9,67$ORFDOL]DGRHP&DÊDSDYD63QD5RGRYLD&DUYDOKR3LQWRDOWXUD
GR.0QR%DLUUR9LOD*HUPDQD2WHUUHQRFRQWDFRPXPDÄUHDGHP•RXKHFWDUHVFRPIÄFLODFHVVRÃ5RGRYLD3UHVLGHQWH'XWUD
HD(VWUDGD)ÌUUHD056D.PGRDHURSRUWRGH*XDUXOKRV63HGR3RUWRGH6ÆR6HEDVWLÆR3RVVXLPGHWHVWDGDSDUDD5RGRYLD&DUYDOKR3LQWR
JOHEDGHVWLWXÐGDGHFRQVWUXÊØHVHEHQIHLWRULDVFRPDFHVVRWDPEÌPSHOD(VWUDGD0XQLFLSDO*HUPDQDSRVVXLQGRWRSRJUDILDHPGHFOLYHOHYHDPRGHUDGR
FRPVXSHUIÐFLHVHFDHFRPPHOKRUDPHQWRVGHHOHWULILFDÊÆRUXUDOHDUUXDPHQWR0DWUÐFXODGR5HJLVWRGH,PÖYHLVGD&RPDUFDGH&DÊDSDYD63LANCE

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/XL])HUQDQGRGH$EUHX6RGUÌ6DQWRUR/HLORHLUR2ILFLDO-8&(63Q/XL]$OH[DQGUH0DLHOODULSUHSRVWRHPH[HUFÐFLR
LEILÕES DE SUCATAS DE VEÍCULOS
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LEILÃO SOMENTE ONLINE - 1A PRAÇA: 22/11/23 - COM INÍCIO ÀS 15H
2a PRAÇA: 06/12/23 - 15H / 3a PRAÇA: 30/01/24 - 15H
IMÓVEIS COMERCIAIS (3 UNIDADES - DESOCUPADAS) - CONSOLAÇÃO - SÃO PAULO - SP
Lote 1: 6ÆR 3DXOR63 %DLUUR &RQVRODÊÆR  VREUHORMD RX  SDYLPHQWR GR (',)°&,2 % RX  VLWXDGR QD UXD 9LQWH H 4XDWUR GH 0DLR Q  QR
 6XEGLVWULWR  &RQVRODÊÆR WHP D TXRWD SDUWH LGHDO  QR WHUUHQR H Ì FRPSRVWD GH GRLV VDOØHV VHQGR TXH R VDOÆR GD IUHQWH H[FOXÐGR P• H
P• GDV LQVWDODÊØHV VDQLWÄULDV WHP D ÄUHD GH P• H R VDOÆR GRV IXQGRV H[FOXÐGR P• GDV LQVWDODÊØHV VDQLWÄULDV WHP D ÄUHD GH
P• 0DWUÐFXOD  1a PRAÇA-LANCE INICIAL: R$ 2.300.000,00 / 2 a PRAÇA-LANCE INICIAL: R$ 2.100.000,00 / 3 a PRAÇA-LANCE
INICIAL: R$ 1.840.000,00 Lote 2: 6ÆR 3DXOR63 %DLUUR &RQVRODÊÆR  VREUHORMD RX  SDYLPHQWR GR (',)°&,2 % RX '2,6 VLWXDGR QD UXD 9LQWH
H 4XDWUR GH 0DLR Q  QR  6XEGLVWULWR  &RQVRODÊÆR FRUUHVSRQGHQGROKH QR WHUUHQR D TXRWD SDUWHLGHDO  H FRPSRVWD GH GRLV VDOØHV
VHQGR TXH R VDOÆR GD IUHQWH H[FOXÐGR P• H P• GDV LQVWDODÊØHV VDQLWÄULDV WHP ÄUHD GH P• H R VDOÆR GRV IXQGRV H[FOXÐGR P• GDV
LQVWDODÊØHV VDQLWÄULDV WHP D ÄUHD GH P• 0DWUÐFXOD  &RQWULEXLQWH  1a PRAÇA-LANCE INICIAL: R$ 2.300.000,00 /
2 a PRAÇA-LANCE INICIAL: R$ 2.100.000,00 / 3 a PRAÇA-LANCE INICIAL: R$ 1.840.000,00  Lote 3: 6ÆR 3DXOR63 %DLUUR &RQVRODÊÆR 
VREUHORMD RX  SDYLPHQWR GR (',)°&,2 % RX '2,6 VLWXDGR QD UXD 9LQWH H 4XDWUR GH 0DLR Q  QR  6XEGLVWULWR  &RQVRODÊÆR FRPSRVWR GH GRLV
VDOØHV VHQGR R VDOÆR GD IUHQWH H[FOXLQGRVH R WHUUDÊR GH P• H DV LQVWDODÊØHV VDQLWÄULDV GH P• FRQVWUXÐGDV HP  JUXSRV GH GRLV VHUYLÊRV
VDQLWÄULRV GH FDGD XP WHP D ÄUHD GH P• PDLV RX PHQRV R VDOÆR GRV IXQGRV H[FOXÐGDV DV GXDV LQVWDODÊØHV VDQLWÄULDV FRQWÐJXDV GH P• WHP
D ÄUHD GH P• PDLV RX PHQRV SHUID]HQGR RV GRLV VDOØHV D IUDÊÆR LGHDO GH  QR WHUUHQR 0DWUÐFXOD  &RQWULEXLQWH 
1a PRAÇA-LANCE INICIAL: R$ 2.300.000,00 / 2 a PRAÇA-LANCE INICIAL: R$ 2.100.000,00 / 3 a PRAÇA-LANCE INICIAL: R$ 1.840.000,00
9LVLWDÊÆR GHYHUÄ VHU DJHQGDGD SUHYLDPHQWH FRP D 6UD 0DULDQD *DUFLD 9LFHQWH QR HPDLO PDULDQDJYLFHQWH#VSVHQDFEU H WHOHIRQH   
2YHQGHGRUUHFHEHUÄDVRIHUWDVGHIRUPDFRQGLFLRQDO&RQVXOWHHGLWDOFRPSOHWRQRVLWHZZZVRGUHVDQWRURFRPEU,QI  
)OÄYLR&XQKD6RGUÌ6DQWRUR/HLORHLUR2ILFLDO-8&(63Q

SOMENTE ONLINE - 02/01 - 08h30 E 13h, 04/01 - 08h30, 08/01 - 08h30 E 13h E 11/01 - 08h30
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/XL])HUQDQGRGH$EUHX6RGUÌ6DQWRUR/HLORHLUR2ILFLDO-8&(63Q/XL]$OH[DQGUH0DLHOODULSUHSRVWRHPH[HUFÐFLR
LEILÕES DE MATERIAIS E EQUIPAMENTOS
LEILÃO SOMENTE ONLINE - 18/01/24 - 15h30
APARTAMENTO (DESOCUPADO) - JARDIM BRASIL - BAURU - SP
%DXUX63 $SDUWDPHQWR ORFDOL]DGR QR  DQGDU GR (GLIÐFLR 5HVLGHQFLDO -XWDÐ6ROLPØHV 5XD $OPHLGD %UDQGÆR Q  DSWR  -DUGLP %UDVLO ¤UHD
SULYDWLYD GH  P• VHQGR  UHIHUHQWH DR DSDUWDPHQWR H  à YDJD GH JDUDJHP LQGLYLGXDO Q  0DWUÐFXOD Q  GR  2ILFLDO GH
5HJLVWRGH,PÖYHLVH$QH[RVGH%DXUX632&RQGRPÐQLRSRVVXLSRUWDULDKRUDVSLVFLQDV DGXOWRHLQIDQWLO SOD\JURXQGVDOÆRGHIHVWDVHÄUHDJRXUPHW
H[WHUQDFRPFKXUUDVTXHLUD'(62&83$'2LANCE INICIAL: R$ 375.000.9LVLWDVGHYHUÆRVHUSUHYLDPHQWHDJHQGDGDVFRP(PHUVRQ VHWRUGHLPÖYHLV QR
WHOHIRQH  5DPDORXDWUDYÌVGRHPDLODI#VRGUHVDQWRURFRPEU,QI  0RDFLU'H6DQWL/HLORHLUR2ILFLDO-8&(63Q

SOMENTE ONLINE - 02/01 - 15h LEILÃO SOMENTE ONLINE - 24/01/24 - 15h

MATERIAIS E EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS, MÁQUINAS AGRÍCOLAS E DE TERRAPLANAGEM,
INFORMÁTICA, ELETROELETRÔNICOS, ELETRODOMÉSTICOS, TELEFONIA, SUCATAS DIVERSAS E OUTROS
(GLWDOFRPSOHWRQRVLWHZZZVRGUHVDQWRURFRPEU,QI)OÄYLR&XQKD6RGUÌ6DQWRUR/HLORHLUR2ILFLDO-8&(63Q
SOMENTE ONLINE - 03, 04 E 05/01 - 15h
MÓVEIS P/ ESCRITÓRIO, ELETRODOMÉSTICOS,
INFORMÁTICA E MUITO MAIS
(GLWDOFRPSOHWRQRVLWHZZZVRGUHVDQWRURFRPEU,QI)OÄYLR&XQKD6RGUÌ6DQWRUR/HLORHLUR2ILFLDO-8&(63Q
SOMENTE ONLINE - 11/01 - 14h30
LEILÃO EXCLUSIVO DE MATERIAIS DO GRUPO BRADESCO
MÁQUINA AUTOMÁTICA MECÂNICA PNEUMÁTICA MAUTIN
(GLWDOFRPSOHWRQRVLWHZZZVRGUHVDQWRURFRPEU,QI
/XL])HUQDQGRGH$EUHX6RGUÌ6DQWRUR/HLORHLUR2ILFLDO-8&(63Q/XL]$OH[DQGUH0DLHOODULSUHSRVWRHPH[HUFÐFLR
SOMENTE ONLINE - 08 A 12/01 - 15h
MATERIAIS E EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS, MÁQUINAS AGRÍCOLAS E DE TERRAPLANAGEM,
INFORMÁTICA, ELETROELETRÔNICOS, ELETRODOMÉSTICOS, TELEFONIA, SUCATAS DIVERSAS E OUTROS
(GLWDOFRPSOHWRQRVLWHZZZVRGUHVDQWRURFRPEU,QI2WDYLR/DXUR6RGUÌ6DQWRUR/HLORHLUR2ILFLDO-8&(63Q
CASA (DESOCUPADA) - MOOCA - SÃO PAULO - SP
6ÆR3DXOR630RÖFD5XD-DYDUL,PÖYHO8PD&DVDHVHXUHVSHFWLYRWHUUHQRPHGLQGRPHWURVGHIUHQWHSRUPHWURVGHIXQGRV0DWUÐFXODQ
 GR  &DUWÖULR GH 5HJLVWR GH ,PÖYHLV GD &RPDUFD GH 6ÆR 3DXOR63 ,QVFULÊÆR PXQLFLSDO  LANCE INICIAL: R$ 1.250.000,00.
'(62&83$'$9LVLWDVGHYHUÆRVHUSUHYLDPHQWHDJHQGDGDVFRP(PHUVRQ VHWRUGHLPÖYHLV QRWHOHIRQH  5DPDORXDWUDYÌVGRHPDLO
DI#VRGUHVDQWRURFRPEU,QI  0RDFLU'H6DQWL/HLORHLUR2ILFLDO-8&(63Q
LEILÃO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE IMÓVEL - ONLINE
1o LEILÃO: 16/01/24 - 13H - LANCE MÍNIMO: R$ 3.326.085,60
2o LEILÃO: 30/01/24 - 13H - LANCE MÍNIMO: R$ 3.189.625,64
TERRENO - JARDIM DO GOLFE - SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP
)OÄYLR&XQKD6RGUÌ6DQWRUR/HLORHLUR2ILFLDOLQVFULWRQD-8&(63VREQID]VDEHUDWUDYÌVGRSUHVHQWH(GLWDOTXHGHYLGDPHQWHDXWRUL]DGRSHOR/HRQDUGR
3RUILULRGD&RQFHLÊÆRLQVFULWDQR&3)QUHVLGHQWHHGRPLFLOLDGRQD5XD3HGUR3LQWRGD&XQKD0RQWH&DVWHOR6ÆR-RVÌGRV&DPSRV
63 &HS  SURPRYHUÄ D YHQGD HP /HLOÆR  RX   GR LPÖYHO DEDL[R GHVFULWRV QDV GDWDV KRUD H ORFDO LQIUD FLWDGRV QD IRUPD GD /HL 
6ÆR-RVÌGRV&DPSRV63%DLUUR-DUGLPGR*ROIH5XD$XJXVWR-RVÌGH0HGHLURV)LOKR /RWHGD4XDGUD 7HUUHQR/RWHDPHQWRGHQRPLQDGR
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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023 CLASSIFICADOS B11
 ECONOMIA&NEGÓCIOS
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
B12 O ESTADO DE S. PAULO

CIRCE BONATELLI E ALEXANDRE ROCHA/

GABRIEL BALDOCCHI (edição) Coluna do
Broadcast
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
COLUNADOESTADAO@ESTADAO.COM

Oi avalia venda ou ajuste VAI VENDER? SOBE

em TV por assinatura após NACHO DOCE/REUTERS
Chinesa Huawei espera
avanço de 9% nas receitas
Sky desistir da compra ALY SONG/REUTERS

Oi está analisando opções sobre o que fazer

A com a sua TV por assinatura com transmissão

por satélite (tecnologia chamada de DTH) após
a Sky ter desistido da compra dessa operação. A
Coluna apurou que a empresa está tentando otimizar o
negócio de televisão enquanto estuda alternativas para
compor o seu plano de recuperação judicial. Um cami-
nho é buscar novos compradores para a operação. Ou- A Huawei Technolo-
tra via seria a manutenção da operação remodelada, gies estima que sua
segundo fontes. Paralelamente, a Oi decidiu encerrar a receita cresceu em
torno de 9% em 2023, marcan-
plataforma que reunia serviços de streaming e TV por do a volta da empresa para
internet, a Oi Play, em meio a uma competição acirra- seu curso normal após en-
da na área. Os assinantes foram informados recente- Alternativas para o serviço de TV por assinatura via satélite da frentar sanções dos EUA por
mente que a Oi Play funcionará só até 31 de dezembro. Oi incluem desde uma reformulação até uma possível venda anos. A gigante de hardware
chinesa disse que espera ter
atingido receita anual de 700
duzido pelos bancos Citi e bilhões de yuans (cerca de
Negócio deveria render R$ 790 milhões l RECEITA. A TV por assinatura BTG Pactual. Segundo fon- US$ 98 bilhões), ante 642 bi-
O acordo firmado em abril de 2022 previa a transfe- satelital aparece no balanço da tes, o negócio atraiu interesse lhões de yuans em 2022.
Oi como “operação desconti- das outras grandes teles na-
rência da base de clientes DTH da Oi para a Sky, nuada e/ou classificada para cionais, bem como dos prove-
além da prestação de serviços relacionados à infraes- venda”. Esse braço gerou uma dores regionais de internet. DESCE
trutura da operação para a Sky. Pelo acordo, a Oi de- receita de R$ 801 milhões en-
veria receber em torno de R$ 790 milhões. tre janeiro e setembro de 2023, Preços do diesel mostram
o que representou recuo de l ESTÁGIO... A gestora de ventu- tendência de queda no País
15,4% na comparação com os re capital Domo.VC pretende ERIC GAILLARD/REUTERS
mesmos meses de 2022. realizar em 2024 captação pa-
Quebra de contrato será questionada ra seu quinto fundo. Segundo
O negócio, porém, não prosperou. A Oi comunicou Rodrigo Borges, sócio funda-
l STREAMING. A redução foi re- dor da empresa e egresso do
em outubro de 2023 a rescisão unilateral por parte da
flexo direto da perda de clien- Buscapé, a ideia é levantar cer-
Sky, e a tele vem buscando desde então a cobrança de tes e da migração dos consu- ca de R$ 250 milhões para in-
um pênalti pelo distrato. “As empresas seguem a dis- midores para os serviços de vestir em até 30 startups em
cussão da quebra de contrato”, afirmou uma fonte. vídeo por streaming. A Oi tem estágio inicial, conhecido co-
Procurada, a Sky declinou de comentar. ainda 1,8 milhão de clientes mo “seed” no jargão do merca-
de TV paga, atrás da Sky, com do de investimentos.
3,5 milhões, e a Claro, com 5,5 Os preços do litro
milhões, de acordo com do diesel, tanto o co-
l EFICIÊNCIA. A Oi diz que, como l OFF. Nesse sentido, diz a em- ranking da Agência Nacional l ...INICIAL. Haverá
um esforço mum como o menos
parte do seu plano de transfor- presa, deu início a um proces- de Telecomunicações (Ana- para captar recursos no exte- poluente, S-10, caíram em
mação, vem tomando medidas so de desativação de produtos, tel) atualizado até outubro. rior. A gestora está sondando todo País na segunda quin-
para intensificar a eficiência como o Oi Play, conforme ten- interesse nos Estados Unidos, zena de dezembro, com ten-
operacional, melhorar a estru- dência de mercado de distri- na Europa e no Oriente Mé- dência de continuar em que-
tura de custos e refletir o novo buição de conteúdo. A compa- l AJUSTES. Vale lembrar que o dio. A expectativa é trazer cer- da no início de 2024, segun-
perfil da companhia, mais leve nhia também acrescentou que plano de recuperação judicial ca de 30% dos recursos de fora do o Índice de Preços Eden-
e digital, e voltada para a expan- mantém a estratégia de parce- da Oi inclui também a venda do País. Ao todo, a Domo tem red Ticket Log (IPTL), da
são da fibra ótica e o desenvol- ria com marcas fortes de con- da base de clientes de banda participações em 107 startups Ticket Log. O preço médio
vimento de serviços aderentes teúdo, entre elas GloboPlay, larga. O processo já está em e cerca de R$ 550 milhões sob do litro segue trajetória de
às necessidades dos clientes. HBO Max e Paramount+. andamento e vem sendo con- gestão. queda em todo o País.

ALTO ESCALÃO Por Luana Pavani (luana.pavani@estadao.com)

GETNET. Trouxe Fabio Coelho
como vice-presidente de Fi-
nanças e Administrativo.
LIGHT ENERGIA. O novo presi-
dente é Carlos Vinicius de Sá
Roriz. Alexandre Ferreira No-
gueira passa a presidente do
conselho de administração.
BB SEGURIDADE. Ullisses Assis
renunciou à presidência, agora
nas mãos de André Haui.
LM MOBILIDADE. Contratou
Anaia Bandeira (ex-Riachue-
lo) como COO e Michelle
Kakoi (ex-K21/Nower) como
diretora de TI.
MOSAIC FERTILIZANTES. Luís
Roberto Arruda retorna, agora
como diretor sênior de distri-
buição.
GALDERMA. Leonardo Vicente
(ex-Baush+Lomb) chega co-
mo diretor de TI para América
Latina e Juliana Borges (ex-
AbbVie) como diretora Medi-
cal de Skincare e Terapêutica
Brasil.
GRUPO ELFA. Fábio Zanini (ex-
LivaNova) entra como diretor
de vendas corporativas.
LAVORO. Promoveu Roberto
Rosa a VP de Supply Chain.
SM. Thamiris Abdala assume a
posição de CEO da holding.
JHSF PARTICIPAÇÕES. Augus-
to Martins, atual CEO da JHSF
Capital, será presidente e dire-
tor financeiro a partir de feve-
reiro, sucedendo Thiago Alon-
so de Oliveira, que passará a
CEO da JHSF UK.
WARREN INVESTIMENTOS. Ro-
binson Marchini está como
Chief Technology Officer (C-
TO).
MITSUI SUMITOMO. Anuncia
contratação de Luis Nagamine
LEO MARTINS como novo diretor-geral.
SANKHYA. Carlos Ferraiuolo
chega para Chief Product Offi-
cer (CPO).
OMG BRASIL. Daniel Ribeiro foi
contratado como Chief Data
and Media Officer (CDMO).
BEFLY. Renata Maluf é a nova
CMO.
Inês Rossi IBRI. Foi eleita Renata Oliva
Grupo Enxuto Battiferro como presidente do
colegiado e Alessandra Gade-
A matemática Inês Rossi assu- lha e André Vasconcellos co-
me como CFO na supermercadis- mo vices para o biênio 2024-
ta a partir de janeiro. 2025. l

C8 A C11 A fundo
Quantos
desastres
cabem em
duas décadas?,
por Bolívar Lamounier
Streaming Séries
Retrato da Coreia durante a
2.ª Guerra une história e fantasia
‘A Criatura de Gyeongseong’, da Netflix, mistura atenção a fatos
com o par romântico clássico dos k-dramas e a presença de monstros
Produção investiu na reconstituição de época como forma de voltar no tempo e mostrar período de enorme turbulência social e política
MARIANE MORISAWA
ESPECIAL PARA O ESTADÃO
Os dramas e as comédias do
tipo Uma Advogada Extraordi-
nária e Pousando no Amor po-
dem ser o feijão com arroz do
sucesso sul-coreano na televi-
são mundial, mas o estouro de
séries como Round 6 e All of Us
Are Dead já provou que premis-
sas mais ousadas também têm
espaço com o público.
A Disney+ pagou US$ 45 mi-
lhões na série de super-heróis
Em Movimento. A Netflix, que
anunciou em abril um investi-
mento recorde de US$ 2,5 bi-
lhões em produções da Coreia
do Sul nos próximos quatro
anos, estreou mais de 30 pro-
duções do país em 2023. A
mais recente é A Criatura de
Gyeongseong, cujos sete primei-
ros episódios já estão no ar na
As estreias da semana
l De Volta às Raízes
Série sul-coreana com tons de
romance, De Volta às Raízes
narra a história de uma conhe-
cida e bem-sucedida fotógrafa
acostumada à correria de
Seul. Após um escândalo vir à
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
Netflix – os três últimos da pri-
meira temporada estreiam no
dia 5 de janeiro.
A série mistura drama históri-
co, um certo vai-não-vai român-
tico clássico dos chamados k-
dramas e, como o nome indica,
monstros. O Estadão esteve
no set que reproduz algumas
ruas de Gyeongseong, como
Seul era conhecida durante a
ocupação imperial japonesa na
Coreia do Sul, entre 1910 e 1945.
Foi um período de mudan-
ças forçadas: a industrializa-
ção construída à base de traba-
lho em condições no mínimo
precárias; o êxodo rural provo-
cado pelos altos impostos e pe-
la perda das terras para os japo-
neses; os massacres de movi-
mentos dissidentes; e o alista-
mento compulsório para lutar
pelo Japão na 2.ª Guerra.
A Criatura de Gyeongseong, es-
crita por Kang Eun-kyung, se
tona e atrapalhar sua carreira,
ela decide voltar para a peque-
na cidade onde nasceu, na ilha
de Jeju, para tentar um recome-
ço. Com Hye-Sun Shin (foto) e
Ji Chang-Wook. Netflix.
l A Concierge Pokémon
A série de animação em clima
‘good vibes’ traz a personagem
CULTURA&
COMPORTAMENTO
O ESTADO DE S. PAULO
passa nos últimos meses da
guerra e da colonização japone-
sa – a rendição do Japão foi
anunciada em 15 de agosto de
1945, poucos dias após os ata-
ques a Hiroshima e Nagasaki.
PONTO DE VISTA. A guerra é
uma fonte aparentemente infi-
nita de histórias. A maior par-
te, sob o ponto de vista dos nor-
te-americanos e europeus.
Mesmo que a série não seja so-
bre o conflito, oferece uma ra-
ra oportunidade de enxergar
aquele momento sob outra
perspectiva. “Nós escolhemos
esse período por serem tem-
pos turbulentos”, explica o di-
retor Chung Dong-yoon.
Os protagonistas são Jang
Tae-sang, jovem proprietário
de uma casa de penhores, que se
fez sozinho na vida, e Yoon
Chae-ok, misteriosa detetive
particular. Rico, Jang circula em
LAM YI/REUTERS
C2
LIM HYO SUN/NETFLIX
“Nossas criaturas são
cruéis e brutais, mas
também ressoam
emocionalmente. Não se
trata de uma série
sobre caçar e matar
monstros”
Chung Dong-yoon
Diretor
todos os ambientes e sabe tudo
o que acontece na cidade, sem
nunca se comprometer politica-
mente. “Eu nasci quando a Co-
reia já estava ocupada. Como
querem que eu lute pelo país?”,
pergunta em certo momento.
Ele não tem problema em fa-
zer negócio com os japoneses.
Mas, certo dia, o chefe de polí-
cia, que é japonês, ameaça tirar
tudo de Jang a não ser que ele
encontre sua amante, a sul-co-
reana Myeong-ja, desapareci-
Haru, que trabalha como con-
cierge em um resort para poké-
mons e seus treinadores. Dife-
rentemente de outras produ-
ções, a série põe foco em histó-
rias mais simpáticas, fugindo
de batalhas, trazendo poké-
mons das novas gerações e tam-
bém das mais clássicas, como
Psyduck e Pikachu. Netflix.
C1
da. Sem conseguir resultados,
ele se alia a Yoon Chae-ok e ao
pai dela, que vêm da Manchú-
ria. Os dois são detetives.
No começo, Jang e Yoon,
que está à procura da mãe, tam-
bém desaparecida, batem cabe-
ças. Os dois são muito diferen-
tes no modo como encaram o
que está acontecendo no país,
e pertencem a classes sociais
distintas. As diferenças são
marcadas nos figurinos de
Chae-ok, vivida por Hong Soo
Hee. “Era uma época glamou-
rosa, com um grande influxo
de culturas novas e estrangei-
ras. Há muita influência das
roupas ocidentais, mas com
reinterpretação local”, diz ela.
UNIVERSAL. Quando os dois co-
meçam a investigar as pistas
dos desaparecimentos, chegam
ao Hospital Ongseong, onde es-
tá a criatura do título. “Nós que-
ríamos que a série fosse mais
universal, que não fosse só so-
bre a história da Coreia do Sul,
daí o conceito do monstro”, ex-
plica Chung Dong-yoon.
A criatura, porém, é uma fan-
tasia inspirada nos reais experi-
mentos científicos feitos pelos
japoneses em territórios ocu-
pados – a Unidade 731, na Man-
chúria, fez experiências com
seres humanos inclusive para
desenvolvimento de armas.
“Nossas criaturas são aterrori-
zantes, cruéis e brutais, mas
também ressoam emocional-
mente. Não se trata de uma
série sobre caçar e matar mons-
tros”, afirma o diretor.
Um dos sets mais impres-
sionantes é justamente o cala-
bouço do hospital, com uma
cela gigantesca de 9 metros
de altura e uma abertura circu-
lar no teto. “Queríamos que
houvesse um contraste evi-
dente com a cidade eferves-
cente e que aqui maximizásse-
mos o medo e o desespero”,
afirma o designer de produ-
ção Choi Ki Ho. Já o Distrito
de Bonjeong é cheio de vida,
mesmo sob a realidade dura
da guerra e da ocupação.
O cuidado na reconstitui-
ção da época era fundamen-
tal para contar bem a histó-
ria, mas o diretor não acha
que há grandes diferenças en-
tre os seres humanos de en-
tão e os de agora. “A experiên-
cia humana não muda tanto
assim. Foi isso o que sempre
mantive em mente.” l
l Berlim
A série é um spin-off que se
passa antes dos eventos de La
Casa de Papel, com foco no
personagem Berlim (Pedro
Alonso). Em oito episódios, a
trama mostra o planejamen-
to, a execução e os desdobra-
mentos de um grande crime
em Paris. Netflix.

C2 CULTURA&COMPORTAMENTO
Fala que eu te escuto!
As frases que marcaram o
2023 do Direto da Fonte
lá, amigos da coluna Di-
O reto da Fonte! Todos
bem? Neste último dia
de 2023, resolvemos re-
Retrospectiva
O que eles contaram para
a coluna? Leia aqui:
RAFA CUSATO E ALI KARAKAS
“Acho muito ingênuo
os jovens acharem,
como talvez um dia eu
achei, que quando você
envelhece acaba tudo.
Que triste, que chato”
Reynaldo Gianecchini
Ator
Direto da Fonte
Gilberto Amendola
visitar nossas entrevistas se-
manais. Muita gente bacana e
importante passou por aqui.
Foram entrevistas francas, re-
“O carnaval é a grande
festa da inclusão no
Brasil, como se a
desigualdade social
fosse suprimida,
suspensa, durante
alguns dias.
Profundamente
democrático, no
carnaval as pessoas se
esquecem de uma
realidade muito dura e
podem realizar no
imaginário os seus
sonhos”
Betty Milan
Psicanalista
“A arte está entrando
em um lugar muito
grande de
moralidade. A arte
não é moral. A arte é
amoral, ela é
anarquista e
subversiva. E dentro
desse processo de
criação, a gente
precisa se
desconstruir”
Allan Souza Lima
Ator
“Eu super sou uma nepo
baby mesmo, eu sou
filha da realeza do show
business brasileiro e
nem quero negar isso.
Sou nepo baby”
Cléo
Cantora, atriz e empresária
gilberto.amendola@estadao.com
veladoras, sérias e divertidas.
Em 2023, tivemos a oportu-
nidade de conversar, por exem-
plo, com o ator Reynaldo Gia-
necchini – que falou sobre ju-
ventude e envelhecimento.
Outros atores estiveram
com a gente. Marcos Palmeira
falou de um dos temas que ele
mais tem se aprofundado: a
saúde do planeta. Já Edson Ce-
lulari fez um desabafo impor-
CACA BERNARDES
“Acho que a gente tá
vivendo um
empobrecimento
intelectual, subjetivo e
poético”
Denise Fraga
Atriz
IQUE ESTEVES
“Não tenho o
compromisso de ter
uma família perfeita.
Cada pessoa tem sua
forma de vivenciar”
Edson Celulari
Ator
“Saber rir de si
mesmo é uma questão
de sobrevivência.
Já escapei de
apanhar por conta
do humor”
Fernando Caruso
Ator e humorista
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
MARCELA PAES | MARCELA.PAES@ESTADAO.COM
PAULA BONELLI | PAULA.BONELLI@ESTADAO.COM
tante sobre a expectativa que nando Caruso contou, em
os fãs têm sobre ele: “Não te- uma entrevista que quase vi-
nho o compromisso de ter rou uma sessão de análise, que
uma família perfeita”, disse.
Por falar em família, a canto-
já escapou de apanhar por con-
ta do humor.
ra, atriz e empresária Cléo as-
sumiu em entrevista ser uma
A apresentadora Fátima
Bernardes, antes da estreia do
legítima nepo baby: “Eu super The Voice, abriu o coração e
sou uma nepo baby mesmo, eu falou sobre como o seu relacio-
sou filha da realeza do show
business brasileiro”, revelou.
O ator e comediante Fer-
namento com o deputado fede-
ral Túlio Gadêlha tem inspira-
do muitas pessoas. l
“Tenho mais medo das
pessoas que se
consideram
encarnações do bem do
que aquelas que se veem
MANOELLA MELLO
como encarnações do
mal. Quando entrevisto
um serial killer, ele sabe
quem é, tá tudo bem.
Agora, uma pessoa que
se acha um ser
completamente bom e
livre de qualquer
maldade, essa me dá
mais medo porque ela
vive em negação”
Ilana Casoy
Criminóloga
“Estamos chegando em
um ponto de não
retorno em termos de
questões ambientais. Se
não investirmos em um
desmatamento zero no
cerrado, na Amazônia,
na Mata Atlântica e no
Pantanal, a tendência é
que o calor aumente”
Marcos Palmeira
Ator
“No início, muita gente
“Quantos pretos não dizia que meu
tiveram que desistir da relacionamento (com o
carreira porque deputado federal Túlio
casaram, tiveram filhos Gadêlha) não ia durar
e tinham que colocar seis meses”
dinheiro em casa...” Fátima Bernardes
Diogo Almeida Apresentadora
Ator
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
erto dia, cheguei a Can-
C galha, sul de Minas Ge-
rais, com a biografia de
Fernanda Montenegro
nas mãos. Renatinha e Rose, da
comunidade, ficaram curio-
síssimas. “Fernanda? A gran-
de?”, exclamaram com os olhos
iluminados. Eu: “Gostariam de
ler? Deixo o livro aqui, quando
voltar, apanho”. Fernanda fi-
cou semanas. Voltei para lá, vol-
to com frequência. Gosto. Na
verdade, necessito me distan-
ciar por algum tempo desta
amada e maltratada São Paulo,
que um prefeito que a despreza
transformou em uma Babel de
arranha-céus, ruas esburacadas
e imundas, fiações apodrecen-
SEG Simião Castro (quinzenal) l TER. Patrícia Ferraz l QUA. Leandro Karnal e Roberto DaMatta l QUI. Luciana Garbin (quinzenal), Patricia Ferraz l SEX. Marcelo Rubens Paiva (quinzenal) e
Maria Fernanda Rodrigues l SAB. Alice Ferraz, Suzana Barelli e Daniel Martins de Barros (quinzenal) l DOM. Leandro Karnal, Sérgio Augusto e Ignácio de Loyola Brandão (quinzenal)
Artes Cênicas
Em ano de volta
do público, cena
teatral apostou
em diversidade
Vera Holtz e Marco
Nanini foram algumas
das estrelas de peças
surpreendentes, que
foram do monólogo à
comédia de costumes
DIRCEU ALVES JR.
ESPECIAL PARA O ESTADÃO
O ano de 2023 foi aquele em
que o público voltou de vez aos
teatros depois da lenta retoma-
da pós-pandêmica. Com casas
cheias, a temporada foi marca-
da por uma considerável diver-
sidade de estilos e propostas.
Grandes estrelas, como a
atriz Vera Holtz (Ficções) e o
ator Marco Nanini (Traidor),
marcaram presença nos palcos
ao lado de produções surpreen-
dentes, a exemplo da comédia
Veraneio e dos monólogos A
Aforista e Ensaio Sobre o Terror,
protagonizados por Rosana
Stavis e Rodrigo Scarpelli.
Também houve a redesco-
berta da dramaturgia de Mau-
ro Rasi em A Cerimônia do
Adeus e a revelação de um dire-
tor promissor, Murillo Basso,
responsável pela encenação
de Agnes de Deus.
Em Ficções, sob a direção de
Rodrigo Portella, Vera Holtz
teve atuação magnética ao se
desdobrar em personagens ou
Ignácio de Loyola Brandão
A biblioteca de Cangalha
do, semáforos pifando, água
correndo pelo meio-fio, trânsi-
to congestionado, cracolândia,
obras, obras, obras, assaltos.
São Paulo que, em recente even-
to, quando foi assinada a con-
corrência para tornar o topo do
Edifício Martinelli um mirante
de prazer, o prefeito declarou
que São Paulo é tão bela quanto
Paris. “Basta olharmos nossas
represas...”, afirmou.
Neste final de ano, quando
está sendo aberta pela comuni-
dade a Casa Cangalha, lugar pa-
ra encontros, debates, música,
reuniões, loja de artesanatos,
tomei a decisão. Ali haverá uma
biblioteca. Entreguei a vida de
Fernanda como o primeiro li-
pensamentos inspirados no li-
vro Sapiens – Uma Breve Histó-
ria da Humanidade, de Yuval
Noah Harari, para falar da ne-
cessidade de subverter narrati-
vas impostas pela sociedade.
Maior desafio teatral do ano
– quase oito horas de espetácu-
lo divididas em duas partes –,
A Herança teve resultado de im-
pacto e deslumbramento na
mesma proporção. Sob a dire-
ção de Zé Henrique de Paula, o
épico do dramaturgo america-
no Mathew Lopez retrata dife-
rentes gerações da comunida-
de LGBTQIA+ nos Estados
Unidos, passando pelo massa-
cre da Aids na década de 1980 e
chegando aos dias atuais. Bru-
no Fagundes, Marco Antônio
Pâmio, Reynaldo Gianecchini,
Rafael Primot e André Torqua-
to brilharam no elenco.
Ambientada na Londres do
começo do século passado, O
Dilema do Médico, de Bernard
Shaw, se mantém atual ao pro-
mover uma discussão entre o
poder masculino e a força das
mulheres na trama sobre um
médico que precisa priorizar o
tratamento de um entre dois
pacientes. Dirigidos por Clara
Carvalho, os atores Sergio Mas-
tropasqua e Iuri Saraiva e atriz
Bruna Guerin apresentaram
trabalhos soberbos.
Depois de Pousada Refúgio
(2018), o dramaturgo Leonar-
vro. E já tem fila para ler. Ana
Maria Machado, colega da Aca-
demia Brasileira doou boa par-
te de suas obras. Em seguida,
enviei 400 livros de minha bi-
Biografia de
Fernanda
Montenegro é o
primeiro livro do
novo espaço cultural
blioteca. Tenho 8 mil, que li,
consultei, guardei. Livro fecha-
do? Inútil. Lembrei de uma en-
trevista de Maria Fernanda pa-
ra o Caderno 2 com Leandro
Karnal. Ela chegou à casa do his-
Em ‘Ficções’, Vera Holtz abordou busca por subverter narrativas
do Cortez e o diretor Pedro
Granato reeditaram a parceria
em Veraneio, uma comédia de
costumes que ressignifica os
papéis familiares e a terceira
idade no pós-pandemia. No
elenco, destaque para a atriz
Clarisse Abujamra.
FLUXO. A atriz Rosana Stavis
hipnotiza o público no espetá-
culo A Aforista, criado e dirigido
por Marcos Damaceno e inspi-
rado na obra do escritor austría-
co Thomas Bernhard, para iro-
nizar o excesso de vaidade que
ronda o mundo dos artistas. A
protagonista, acompanhada de
CULTURA&COMPORTAMENTO
toriador e filósofo e encontrou
estantes vazias. Ele já “despa-
chou” tudo. Também me vie-
ram os tempos finais de Anto-
nio Candido, que foi distribuin-
do sua biblioteca. Quem faz o
livro viver é a leitura. A minha
está indo para Cangalha, bairro
de Aiuruoca, sul de Minas, 6 mil
habitantes, aos pés da Pedra do
Papagaio. Terra da atriz Isis Val-
verde. Acrescento que, no mu-
nicípio de Carvalhos, vizinho à
cidade, nasceu Dantas Motta,
advogado e poeta, 1913-1974. Vi-
veu bom tempo em Aiuruoca.
Vejam o que disse Carlos Drum-
mond de Andrade sobre ele:
“Se tivéssemos de escolher um
poeta para representar cada Es-
ALEX SILVA/ESTADÃO – 6/1/2023
dois pianistas, representa uma
mulher em um fluxo incessante
de pensamentos enquanto se
dirige ao enterro de um amigo.
Dezoito anos após Um Circo
de Rins e Fígados, o encontro ex-
plosivo entre o dramaturgo e di-
retor Gerald Thomas e o ator
Marco Nanini rendeu Traidor,
um instigante espetáculo em ho-
menagens à arte da interpreta-
ção e aos grandes atores, espe-
cialmente o próprio protagonis-
ta. Nanini superou limitações
físicas em um jogo que mistura
reflexões filosóficas, políticas e
sobre o seu ofício.
O diretor Ulysses Cruz vol-
C3
tado, o de Minas seria Dantas
Motta”. Região abençoada.
Sem esquecer a cachaça premia-
díssima Tiê, que o Antonio Car-
los produz em Guapiara e o
músico e compositor Hélio
Ziskind adora de morrer.
A Biblioteca de Cangalha é
a mais nova do Brasil e do
mundo. E a mais antiga? Fui
ao livro do Mattoso, de histó-
ria da humanidade do cole-
gial. Raramente vou ao Goo-
gle, prefiro me exercitar. A
mais antiga é a de Nínive, na
Mesopotâmia, hoje Iraque,
criada há 6 mil anos. l
É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE
'ZERO' E 'NÃO VERÁS PAÍS NENHUM'
tou a encenar Cerimônia do
Adeus, de Mauro Rasi, em uma
moderna desconstrução de si
mesmo, sem trair a sólida dra-
maturgia. Lucas Lentini inter-
pretou o jovem obcecado pelo
casal Jean-Paul Sartre e Simo-
ne de Beauvoir.
Com dramaturgia e direção
de José Fernando Peixoto de
Azevedo, o solo Ensaio Sobre o
Terror, protagonizado por Ro-
drigo Scarpelli, parte do con-
to Pai contra Mãe, escrito por
Machado de Assis em 1906, pa-
ra estabelecer conexões com
o bolsonarismo e a mentalida-
de conservadora que se man-
tém até os dias atuais.
Gerações
Ulysses Cruz recuperou
dramaturgia de Mauro
Rasi e ‘Agnes de Deus’
revelou Murilo Basso
Agnes de Deus, do americano
John Pielmeier, sob a direção
de Murillo Basso, cruza três
perfis diferentes de mulheres,
relacionados à maternidade, a
partir da investigação em tor-
no da morte de um recém-nas-
cido em um convento. As atri-
zes Clara Carvalho, Mariana
Muniz e Gabriela Westphal do-
minam uma encenação moder-
na e surpreendente.
A Última Cena, dirigido por
Flávia Melman e codirigido
por Aline Filócomo e Paula Pi-
carelli, discutiu a morte colo-
cando em cena o diretor de tea-
tro Antonio Janô, de 82 anos, o
ator Thiago Amaral, recém-viú-
vo de Tiago Braga (que partici-
pa em vídeo), o palhaço Nando
Bolognesi, que convive com a
esclerose múltipla há 30 anos,
e o coveiro e filósofo Osmair
Cândido, cuja vida consistiu
em empilhar cadáveres. Depoi-
mentos emocionantes e histó-
rias fortes que não deixaram a
plateia indiferente.l
 DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
C4 CULTURA&COMPORTAMENTO O ESTADO DE S. PAULO

Cinema Balanço

Os melhores – e os piores – filmes de

2023 segundo a avaliação dos críticos
Jornalistas especializados escolheram seus três longas-metragens preferidos entre os
lançamentos do ano que se encerra e indicaram aqueles que não vão deixar lembranças

Os escolhidos

BRUNO CARMELO DANIEL OLIVEIRA JOÃO ABEL LUIZ CARLOS MERTEN LUIZ ZANIN ORICCHIO

Melhores filmes
1. Pacifiction (Albert Serra)
Um drama político filmado
com as ferramentas do thriller
erótico. Enquanto se investiga
a possível retomada de testes
nucleares no Taiti, os habitan-
tes suspeitam uns dos outros.
Cada conversa amigável escon-
de uma ameaça velada. O dire-
tor espanhol oferece as cenas
mais hipnóticas do cinema es-
te ano. Uma obra-prima.
Disponível no Mubi
ARUAC FILMES
2. Luz nos Trópicos
(Paula Gaitán)
Brasil, séculos atrás. Os por-
tugueses percorrem os rios
da Amazônia. Cruzam com
uma pessoa do século 21. O
filme (foto) combina a me-
lhor ousadia do cinema expe-
rimental com a linearidade
do cinema narrativo. Gaitán
filma espaços e personagens
como ninguém.
3. Saint Omer (Alice Diop)
O melhor filme de tribunal dos
últimos anos. Em vez de colo-
car bandidos perigosos contra
advogados implacáveis, prefe-
re situar mulheres comuns fa-
ce a outras mulheres comuns,
enfrentando um dilema: como
uma mãe seria capaz de matar
a própria filha? Diop evita julga-
mentos, registrando as atrizes
e os embates verbais com
interesse cúmplice.
Disponível no Amazon Prime
Pior filme
O Portal Secreto
(Jeffrey Walker)
Esta fantasia gostaria de se
tornar o novo Harry Potter.
Infelizmente, nada funciona: o
roteiro não sabe construir con-
flitos nem personagens, os ato-
res hesitam entre o humor pas-
telão e a seriedade e as ima-
Melhores filmes
1. Saint Omer (Alice Diop)
O filme obriga o espectador a se
colocar no lugar de duas mulhe-
res negras, com o mesmo domí-
nio técnico e narrativo com que
o cinema sempre nos botou na
posição (falsamente universal)
do homem branco. Grande par-
te das duas horas de Saint Omer
se resume a confrontar-nos
com o olhar e as performances
das atrizes Kayije Kagame e Gus-
lagie Malanda. O filme é ao mes-
mo tempo um soco no estôma-
go e um fôlego de ar novo.
Disponível no Amazon Prime
2. Decisão de Partir
(Park Chan-wook)
O filme une o apuro técnico e a
obsessão do cineasta sul-corea-
no Chan-wook Park com revira-
voltas mirabolantes a uma histó-
ria de amor disfuncional. É um
longa sobre as histórias que cons-
truímos e contamos sobre nós e
os outros, numa trama em que
não existe verdade ou mentira.
Disponível no Amazon Prime
Video e na AppleTV+
MUBI
3. Close (Lukas Dhont)
É um longa (foto) sobre aquele
momento em que meninos são
obrigados a tornarem-se essa
besta mitológica, esse monstro
chamado “homem”. É um con-
vite a pensar sobre uma socie-
dade e uma cultura que ensi-
nam a garotos que lutar e ma-
chucar um ao outro é normal,
mas amar um ao outro é erra-
do e inadequado.
Disponível no Mubi, no Amazon
Prime Video e na AppleTV+
Pior filme
I Wanna Dance With
Somebody (Kasi Lemmons)
Dada a riqueza da vida e do ca-
tálogo de Whitney Houston,
esta cinebiografia é uma opor-
Melhores filmes
UNIVERSAL PICTURES
1. Oppenheimer
(Christopher Nolan)
Nolan imprimiu um ritmo eletri-
zante num espetacular desfile de
mais de 100 personagens com
fala em três horas. Destaque pa-
ra as atuações de Cillian Murphy
(foto) e Robert Downey Jr., que
merecem reconhecimento como
ator principal e coadjuvante.
Disponível no Amazon Prime
Video e na AppleTV+
2. Retratos Fantasmas
(Kleber Mendonça Filho)
Uma mescla de nostalgia com
amor pelo cinema, e pela cidade
do Recife, no olhar pessoal e
informal de Kleber Mendonça
Filho. O diretor usa de forma
brilhante seu arquivo de filma-
gens para fazer crítica à mudan-
ça da disposição urbana e social
da capital pernambucana.
Disponível na Netflix, Amazon
Prime Video e AppleTV+
3. Barbie (Greta Gerwig)
Greta Gerwig correspondeu
muito bem à enorme expectati-
va gerada pelo filme mais aguar-
dado do ano. O longa encon-
trou o tom cômico exato para
construir sua sátira sobre a desi-
gualdade de gênero. Margot
Robbie encarnou perfeitamente
a boneca e é preciso tirar o cha-
péu para Ryan Gosling.
Disponível na HBO Max
Pior filme
Estranha Forma de Vida
(Pedro Almodóvar)
O pior do ano? Difícil cravar.
Um dos mais decepcionantes?
Com certeza. Ver um faroeste
gay dirigido por Almodóvar e
estrelado por Pedro Pascal e
Ethan Hawke parecia uma óti-
ma premissa. Mas o curta, com
um roteiro que vai do nada a
Melhores filmes
1. Oppenheimer
(Christopher Nolan)
O diretor mostra como o cientis-
ta criou a bomba e, segundo a
própria definição, virou o des-
truidor de mundos. Um filme
complexo e fascinante como
seu personagem. De todas as
camadas – política, humana – a
cinematográfica impõe-se.
Disponível no Amazon Prime
Video e na AppleTV+
VITRINE FILMES
2. Retratos Fantasmas
(Kleber Mendonça Filho)
Por meio da história dos cine-
mas de rua do Recife, o diretor
conta não apenas a própria histó-
ria, mas reflete sobre seus filmes
e o Brasil (foto). A vida familiar, a
mãe, o cachorro do vizinho, aque-
le apartamento nutriram sua cria-
tividade. E, sim, ele também teve
o seu Alfredo, como o projecio-
nista de Cinema Paradiso.
Disponível na Netflix, no Amazon
Prime Video e na AppleTV+
3. Assassinos da Lua das Flores
(Martin Scorsese)
A tentativa de genocídio da
Nação Osage nos anos 1920
reata Martin Scorsese com
seu melhor cinema. Leonardo
DiCaprio cria um grande per-
sonagem. É fraco, manipulá-
vel e pode ser perigoso. Mas
ama, e isso faz dele um huma-
no. Uma aposta – Lily Gladsto-
ne terá de ser indicada para o
Oscar. A primeira mulher pe-
le-vermelha indicada para o
prêmio da Academia.
Disponível no Amazon Prime Vi-
deo e na AppleTV+
Pior filme
Os Mercenários 4 (Scott Waugh)
Houve muitos candidatos à Fram-
boesa de Ouro, mas Stallone leva
o troféu. Rocky e Rambo viraram
propaganda de banco no Brasil,
Melhores filmes
1. Assassinos da Lua das Flores
(Martin Scorsese)
Um mergulho nos fundamentos
da nação americana por meio da
análise dos crimes cometidos
contra os indígenas Osage, no
início do século 20. Mestre Scor-
sese em plena forma. Brilhante.
Disponível no Amazon Prime
Video e na AppleTV+
2. Folhas de Outono
(Aki Kaurismäki)
Na luz de inverno de Helsinque,
o encontro melancólico – mas
também esperançoso – de dois
outsiders. Kaurismaki propõe
uma depuração de sentimentos
para torná-los mais verdadei-
ros. Emoção sem chantagem.
Em cartaz nos cinemas
3. Pacifiction (Albert Serra)
Benoît Magimel interpreta um
ambíguo funcionário francês
na Polinésia. O filme adota o
ritmo de torpor da decadente
presença colonial francesa no
Pacífico. Adequação perfeita
de forma e conteúdo.
Disponível no Mubi
Pior filme
Barbie (Greta
Gerwig)
Com Margot Rob-
bie (foto), 115 in-
termináveis minu-
tos de lingua-
gem publicitá-
ria para ven-
der a marca
de bonecas.
Massacre.
Disponível
na HBO
Max
MIKE BLAKE/REUTERS

gens parecem construídas a
esmo. É dificílimo construir
uma catástrofe deste nível.
Disponível no Amazon Prime
Video e na AppleTV+
tunidade completamente des-
perdiçada, com um roteiro sem
o mínimo de coesão narrativa
ou coerência temática.
Disponível na HBO Max
lugar nenhum, talvez só conse-
guisse desenvolver uma história
interessante se fosse um longa.
Disponível no Amazon Prime
Video e na AppleTV+
mas ele está tão botocado que vai
precisar de legenda para ser iden-
tificado. É o já-visto do já-visto.
Disponível no Amazon Prime
Video e na AppleTV+
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Definir os melhores e piores fil-
mes lançados em 2023 é uma
missão ingrata, até porque é
muito difícil dar conta de to-
dos os títulos que estreiam ao
longo de todo um ano.
Para tornar a tarefa mais de-
mocrática, o Estadão pediu pa-
ra críticos e cinéfilos da reda-
ção listarem as produções que
julgam merecer um lugar nes-
te ranking. Cada um teve de es-
colher três melhores filmes e
um pior, em ordem de prefe-
MARIANE MORISAWA
Melhores filmes
DIAMOND FILMS
1. Decisão de Partir
(Park Chan-wook)
Decisão de Partir (foto), que es-
treou bem no comecinho de
2023, permaneceu – com seu
romance proibido, soluções vi-
suais criativas e elegantes e algo
que nem sempre se vê mais nos
filmes: mistério. Não o enigma
da trama. Mas, sim, o inexplicá-
vel das pessoas e da vida.
Disponível no Amazon Prime
Video e na AppleTV+
2. Priscilla (Sofia Coppola)
Silencioso, intimista, claustro-
fóbico, opressivo, retrata a vida
interior de uma adolescente co-
mo só Sofia Coppola sabe fazer.
Uma chance de ver o lado B de
um ídolo e dar visibilidade à mu-
lher que sempre foi tratada co-
mo um mero apêndice.
Em cartaz nos cinemas
3. Assassinos da Lua das Flores
(Martin Scorsese)
Durante sua carreira, o cineasta
apontou para a feiura de uma
sociedade construída pela ganân-
cia e a violência dos homens. É
algo que continua atual. O pró-
prio diretor admite que o cine-
ma americano construiu uma
imagem mítica da conquista do
Oeste, apagando os povos origi-
nários. Scorsese lhes dá voz.
Disponível no Amazon Prime
Video e na HBO Max
Pior filme
The Flash (Andy Muschietti) e
Homem-Formiga e a Vespa:
Quantumania (Peyton Reed)
Os filmes mostram que o mode-
lo repetitivo das produções des-
se tipo está fadado ao fracasso.
Não bastam centenas de milhões
de orçamento, personagens co-
nhecidos, atores famosos, uma
profusão de efeitos visuais. Fór-
mulas tendem a cansar.
Disponível na HBO Max, no
Amazon Prime Video e na
AppleTV+ (The Flash) e no
Disney + (Homem-Formiga)
rência e indicando o motivo.
Para além do esperado, as
listas foram bastante diver-
sas e as coincidências ocorre-
ram em oito dos 16 títulos
mencionados. E teve até fil-
me separado como um dos
melhores em uma lista que
acabou como pior em outra.
Conforme a quantidade de
votos e os critérios de desem-
pate – 1.º lugar tem peso 3, 2.º
lugar, peso 2 e 3.º lugar, peso 1
–, o melhor filme do ano, con-
MATHEUS MANS
Melhores filmes
1. Tia Virgínia (Fábio Meira)
Filme brasileiro traz uma histó-
ria potente sobre tempo, soli-
dão e família. A cereja do bolo é
Vera Holtz, a protagonista. E o
que dizer da cena final? Do hu-
mor que surge das situações fa-
miliares que tantos de nós vive-
mos? Quando menos espera-
mos, estamos rindo e chorando.
Disponível na AppleTV+
2. Oppenheimer
(Christopher Nolan)
É o melhor filme de Christop-
her Nolan, que conta uma histó-
ria profunda e também assume
que o longa-metragem precisa
ser uma reflexão sobre o que a
criação da bomba atômica cau-
sou na mente e na saúde desse
físico que entrou para a história.
Disponível no Amazon Prime
Video e na AppleTV+
3. Babilônia (Damien Chazelle)
Com atuação forte de Margot
Robbie, o longa sabe passear
entre a tragédia e o drama com
tranquilidade, brincando com
os gêneros do cinema para, jus-
tamente, falar sobre a maravilha
que é a sétima arte e como ela
pode transformar a nossa vida.
Disponível no Amazon Prime
Video, na AppleTV+ e na
Paramount+
Pior filme
A2 FILMES
Muti – Crime e Poder
(George Gallo)
Ainda que tenha ficado bastante
em dúvida entre After: Para Sem-
pre e Desejo Proibido, não conse-
gui tirar da cabeça a sensação
ruim que tive com Muti. O filme
não só é um suspense meia bo-
ca, como também chega carrega-
do de preconceito, associando
religiões “perigosas” com o
continente africano. Tem coisa
mais tosca e ultrapassada?
Como Morgan Freeman (foto)
aceitou participar disso?
Disponível no Amazon Prime
Video e na AppleTV+
forme a opinião dos críticos
do Estadão, é Oppenheimer,
de Christopher Nolan. Ele é se-
guido por Close, de Lukas
Dhont, e por Assassinos da Lua
das Flores, de Martin Scorsese.
Entre os piores filmes do
ano, os votos foram mais pul-
verizados. O único com duas
citações foi The Flash – que,
na época do lançamento, já
rendeu o aviso irônico do Es-
tadão: é um filme lento...
Algumas das escolhas recaí-
RODRIGO ORTEGA
Melhores filmes
1. Close (Lukas Dhont)
O diretor Lukas Dhont parece
entrar dentro da cabeça de dois
adolescentes para filmar a dor e
a confusão da passagem da in-
fância à adolescência. A amiza-
de entre Léo e Rémi muda de
repente. Quem já foi adolescen-
te vai entender – e sentir toda a
angústia de novo, como se o
tempo tivesse voltado.
Disponível no Mubi, no Amazon
Prime Video e na AppleTV+
MUBI
2. Folhas de Outono
(Aki Kaurismäki)
A rádio anuncia a guerra na
Ucrânia, não muito longe de
onde se passa o filme, em uma
cinzenta e enferrujada Helsin-
que, na Finlândia. Nada disso
importa para os protagonistas,
com problemas mais urgentes
para resolver, como achar o
próximo subemprego. Na ver-
dade, nem para dinheiro eles
ligam mais. Ansa e Holappa
(foto) estão deprimidos. Mas o
encontro deles consegue dar
alguma cor e sentido àquela
terra arrasada.
Em cartaz nos cinemas
3. Pedágio (Carolina
Markowicz)
O enrosco do Brasil não é sim-
plificado em Pedágio. O filme
sobre uma mãe evangélica que
busca um tratamento de ‘cura
gay’ para seu filho não tem mani-
queísmo. A diretora espia todas
as nuances nos cantos da casa
simples que os dois dividem.
Em uma situação difícil, ela con-
segue encontrar graça e afeto.
Em cartaz nos cinemas
Pior filme
Ferrari (Michael Mann)
Talvez eu esteja roubando nas
regras, já que o filme foi exibido
em São Paulo, na Mostra, sem
ainda entrar em cartaz. Ferrari é
um desastre bem filmado. São
duas horas de um homem sendo
estúpido e carros sendo carros.
Estreia nos cinemas em 2024
CULTURA&COMPORTAMENTO
ram sobre filmes que foram
muito falados ao longo de
2023, caso de Oppenheimer e
também de Barbie, de Greta
Gerwig, que devem chegar ao
topo da lista de indicações ao
Oscar, que serão conhecidas
no final de janeiro.
Da Europa, vieram filmes co-
mo Folhas de Outono, de Aki
Kaurismäki, Pacifiction, de Al-
bert Serra, Saint Omer, de Alice
Diop, ou o novo Pedro Almodó-
var, Estranha Forma de Vida. O
SIMIÃO CASTRO
Melhores filmes
1. Monster
(Hirokazu Koreeda)
Quando seu filho chega aflito
da escola e muda do comporta-
mento sempre doce habitual
você começa a se preocupar.
Mas aí ele corta os cabelos, per-
de um tênis e chega machuca-
do. E você descobre que quem
está por trás disso é um profes-
sor. Assim é a primeira parte
de Monster. Só que aí o filme
volta mais três vezes ao ponto
inicial e todas as suas certezas
são despedaçadas, uma atrás
da outra, numa série angustian-
te de reviravoltas.
Em cartaz nos cinemas
2. Close (Lukas Dhont)
Close dói na alma. Desperta pa-
ra as mais aflitivas lembranças
da infância, com a denúncia
dos riscos do bullying na esco-
la e da homofobia. Mas não é
um filme militante. Explora os
dilemas do amadurecimento
de quem tenta se entender no
mundo, com consequências
devastadoras. Obra-prima.
Disponível no Mubi, no Amazon
Prime Video e na AppleTV+
NETFLIX
3. O Mundo Depois de Nós
(Sam Esmail)
O filme tem o fundamental:
uma boa história para contar. O
longa (foto) provocou reações
polarizadas, mas essa impres-
são equivocada foi desbancada
pela ousadia de jogar persona-
gens e espectadores de paraque-
das no absoluto caos e de, mes-
mo oferecendo um desfecho
claro, não entregar todas as res-
postas de bandeja. Instigante.
Disponível na Netflix
Pior filme
The Flash (Andy Muschietti)
Multiverso fraco, viagem no
tempo frouxa, humor frágil,
ritmo falho. O filme engrena
só com o Batman de Michael
Keaton.
Disponível na HBO Max, no
Amazon Prime Video e na
AppleTV+
C5
cinema asiático está representa-
do por produções como Mons-
ter, de Hirokazu Koreeda, e Deci-
são de Partir, de Park Chan-
wook. O cinema brasileiro tam-
bém foi lembrado, com a esco-
lha de Pedágio, de Carolina
Markowicz, Tia Virgínia, de Fá-
bio Meira, e Retratos Fantasmas,
de Kleber Mendonça Filho.
Dos 16 filmes lembrados, 14
podem ser vistos nas platafor-
mas de streaming ou seguem
em cartaz nos cinemas. l
‘Barbie’ sai
na frente na
temporada
de prêmios
Barbie, de Greta Gerwig, saiu
na frente na temporada de
premiações do cinema – ao
menos em número de indica-
ções. O filme concorre em
nove categorias do Globo de
Ouro e foi o mais lembrado
até agora nos anúncios dos
pré-candidatos ao Oscar.
No Globo de Ouro, Barbie
é seguido por Oppenheimer,
de Christopher Nolan, com
oito indicações. Assassinos
da Lua das Flores, de Martin
Scorsese, e Pobres Criaturas,
de Yorgos Lanthimos, empa-
taram em sete indicações.
Com exceção de Pobres
Criaturas, as outras três pro-
duções concorrem na cate-
goria de melhor filme. A lista
se completa com Anatomia
de Uma Queda, de Justine
Triet; Maestro, de Bradley
Cooper; Vidas Passadas, de
Celine Song; e Zona de Inte-
resse, de Jonathan Glazer.
O filme de Glazer passou
a ser observado de perto
nas apostas das premiações
ao vencer como melhor fil-
me no Los Angeles Film Cri-
tics Awards (Lafca), pro-
movido pela Associação de
Críticos de Cinema de Los
Angeles. O longa, baseado
no romance de Martin
Amis e que estreia nos cine-
mas brasileiros no dia 15 de
fevereiro, levou também
os prêmios de melhor dire-
ção e melhor música.
A cerimônia de entrega
do Globo de Ouro acontece
no dia 7 de janeiro; uma se-
mana mais tarde, será a vez
do Critic’s Choice Awards.
Os indicados ao Oscar se-
rão conhecidos no dia 23 de
janeiro – a premiação acon-
tece no dia 10 de março.
BRASIL. O cinema brasileiro
já ficou de fora do Oscar. O
indicado do País à categoria
de melhor filme estrangeiro,
Retratos Fantasmas, de Kle-
ber Mendonça Filho, não en-
trou na lista de 15 pré-sele-
cionados, anunciada no dia
21 de dezembro. l
 DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
C6 CULTURA&COMPORTAMENTO O ESTADO DE S. PAULO

Horóscopo Literatura Premiação mandar, no mesmo documen-

Quiroga Ria Livraria cria prêmio

to, sua biografia, a sinopse da
obra, a cidade e o estado em
que reside, sua idade e o moti-
oscar@quiroga.net
vo de querer publicar o livro.

Renovação
Data estelar: Vênus e
Saturno em quadratura
proveita o feriado, des-
apesar de ter uma métrica per-
feita pela contagem do ano
solar, determina o início do
ano de forma arbitrária, pode-
ria ser qualquer outro dia.
para obras inéditas em AVALIAÇÃO. A equipe editorial
do Selo EditoRia, coordenada
diversos gêneros pelo escritor Jorge Ialanji Fi-
lholini, será responsável pela
seleção dos 20 finalistas.

A fruta da celebração,
mas não te confundas
criando novas ansieda-
des ao te obrigar a fazer reso-
luções hoje e determinar que
Sendo assim, incorpora a
sabedoria de aproveitar o es-
pírito da celebração e desfru-
tar do feriado, sem te obrigar
a que agora seja tua única
MARIA FERNANDA RODRIGUES

A Ria Livraria, de Marcos Be-

nuthe (ex-Mercearia São Pe-
R$ 4 mil para o terceiro.

COMO SE INSCREVER. As inscri-

a partir de amanhã seja um
ano completamente novo,
porque, de fato, este ano no-
vo é apenas fiscal, não há ne-
nhuma referência estelar que
indique a mudança de ano;
nosso calendário gregoriano,
ÁRIES 21-3 a 20-4
Ainda parece distante o
cenário ideal que sua
alma busca, porém, a
distância não há de desanimar,
ao contrário, é o desafio que vo-
cê deve abraçar, sem se impor-
tar quanto tempo e recursos pre-
cisar investir para conquistar.
oportunidade de te renovar,
porque nem sequer seria hoje
uma data astrológica propícia
para isso, haverá outras mui-
to melhores pela frente e tua
alma, sintonizada com o Uni-
verso, será informada disso. l
TOURO 21-4 a 20-5
Há economias que aca-
bam saindo mais caro
do que o normal, é me-
lhor buscar experiências de qua-
lidade do que se ocupar em eco-
nomizar alguns trocados. Faça a
diferença, não se importe com
questiúnculas sem importância.
dro), terá seu próprio prê-
mio literário em 2024 – para
obras inéditas e finalizadas
nos gêneros poesia, contos,
romance, biografia e infantil.
Os três vencedores vão ter
seus livros publicados pelo
Selo EditoRia, que estreou
em 2023, e vão ganhar uma
quantia em dinheiro – R$ 10
mil para o primeiro coloca-
do, R$ 6 mil para o segundo e
QUADRINHOS
Minduim Charles M. Schulz
ções vão de 15 a 30 de janeiro,
exclusivamente pelo e-mail
concursoliterariarialivra-
ria@gmail.com.
Não é necessário enviar o li-
vro todo, mas, sim, trechos a
depender do gênero escolhido
(cinco poemas, cinco contos,
10 laudas de romance e 10 lau-
das de biografia). No caso de
livro infantil, o regulamento
também pede 10 laudas, além
de cinco ilustrações.
Os participantes devem
Esses projetos serão, então,
avaliados por uma comissão for-
mada por três experientes escri-
tores, ainda a ser anunciada.
A ideia é lançar os livros ven-
cedores do Concurso Literário
Ria Livraria em meados de
2024, na própria livraria que vi-
rou reduto de escritores em
São Paulo – ela fica na rua Mari-
nho Falcão, 58 (Sumarezinho).
O selo, que lançou, este ano,
Muqueta, de Filholini, já tem
outras duas obras previstas pa-
ra o ano que se inicia: Desloca-
do, de Pedro Pellegrino, e Sem
Gelo, de Fernanda D’Umbra. l

GÊMEOS 21-5 a 20-6 CÂNCER 21-6 a 21-7

A insistência das pes-
soas faz sua alma abrir
mão da própria vonta-
de, e essa é uma situação arrisca-
da, porque não há como saber
de antemão se os planos alheios
dariam mais certo do que os
seus. Só experimentando.
Organizar tudo em seus
mínimos detalhes não é
garantia de que o resulta-
do seja de acordo ao esperado.
Considere que neste momento
há um cenário maior em anda-
mento, tão grande que eclipsa o
que individualmente desejamos. Recruta Zero Mort Walker

LEÃO 22-7 a 22-8 VIRGEM 23-8 a 22-9

As escolhas podem ter
sido muito acertadas,
mas nada garante que
as circunstâncias mudem e o
cenário se torne diferente do
esperado. É bom você manter
certa flexibilidade para mudar
de planos a qualquer momento.
A proximidade de cer-
tas pessoas provoca sen-
timentos ambíguos, e
será melhor lidar com isso com
a maior naturalidade possível,
para não sofrer de um ataque de
timidez e introversão justo no
Turma da Mônica Maurício de Sousa
momento de fazer contato.

LIBRA 23-9 a 22-10 ESCORPIÃO 23-10 a 21-11

É nos detalhes que se
nota a diferença entre
as pessoas que só an-
dam por aí se aproveitando de
tudo e de todos, e aquelas que
se dedicam a servir e facilitar a
própria vida, assim como tam-
bém a de todas as pessoas.
É tudo uma questão de
atitude, porque se pode
mudar tudo sem pesta-
nejar, mesmo que se tenha inves-
tido muita energia para que as
coisas sigam os planos acorda-
dos. Mudar tudo seria uma mani- O melhor de Calvin Bill Watterson
festação de boa vontade.

SAGITÁRIO 22-11 a 21-12 CAPRICÓRNIO 22-12 a 20-1

A ansiedade de fazer
deste momento algo
inesquecível precisa ser
temperada com o bom senso
que resulta de perceber que não
há como agradar a todas as pes-
soas envolvidas, já que há muita
diversidade entre elas.
Haverá tempo para
tudo, não se preocupe
e nem caia na teia da
ansiedade, que sopra aos seus
ouvidos a música de sempre,
a de que tudo dará errado. Ha-
Frank & Ernest Bob Thaves
verá tempo para tudo e para
todos, leve tudo na esportiva.

AQUÁRIO 21-1 a 19-2 PEIXES 20-2 a 20-3

Como os humores das
pessoas andam bastante
imprevisíveis, e explosi-
vos inclusive, procure manter
certa margem de manobra para
sair pela tangente a qualquer mo-
mento, caso as coisas degringo-
lem. Fugir é sensato.
Se as coisas não são co-
mo esperadas, melhor
deixar passar, porque se
você enfrentar as adversidades
de peito aberto, é muito provável
que essas piorem ainda mais.
Deixe passar, tudo pode ser leva-
do na esportiva. Com certeza. BEM PENSADO “O perdão não muda o passado, mas faz ampliar o futuro” Paul Boese
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
oje à noite, em tempos
H idos, bem idos, meu des-
tino seria o Silvestre,
no extremo alto de San-
ta Teresa, a Montmartre cario-
ca. Era lá que rolava a melhor
virada do ano no Rio, organiza-
da pela dupla Jaguar-Albino Pi-
nheiro. Imperdível e rigorosa-
mente democrática, à parte ani-
madíssima e apinhada de gente
bonita e inteligente, era uma
festa aditivada por álcool de
graus variados e velhos suces-
sos carnavalescos.
O inverso das ceias natali-
nas, usualmente familiares,
tendendo ao morigerado e ao
enfadonho, o réveillon leva a
vantagem de ser uma celebra-
SEG Simião Castro (quinzenal) l TER. Patrícia Ferraz l QUA. Leandro Karnal e Roberto DaMatta l QUI. Luciana Garbin (quinzenal), Patricia Ferraz l SEX. Marcelo Rubens Paiva (quinzenal) e
Maria Fernanda Rodrigues l SAB. Alice Ferraz, Suzana Barelli e Daniel Martins de Barros (quinzenal) l DOM. Leandro Karnal, Sérgio Augusto e Ignácio de Loyola Brandão (quinzenal)
CRUZADAS
SUDOKU
Sérgio Augusto
Duas festas
ção pagã em que a gente se di-
verte como o diabo gosta.
O cinema mitificou ambas
as festas, com bons (e geral-
mente maus) melodramas. Te-
nho pra mim que os filmes na-
talinos, sobretudo aqueles
com tentativas de suicídio (A
Felicidade Não se Compra, Ado-
rável Vagabundo), seriam ain-
da mais tristes se embalados
pela valsa Auld Lang Syne (Can-
ção de Despedida, na versão bra-
sileira), como acontece nos ré-
veillons hollywoodianos. Ela
faz toda a diferença.
A despeito da melancólica e
indefectível valsa, os filmes de
ano-novo costumam ser mais
“pra cima” que os de Natal, in-
NA WEB
NA WEB Jogue o sudoku
https://bit.ly/3tBe0s0
clusive porque com frequência
pontuados por venturosos en-
contros, reencontros e ajustes
de contas amorosos, alguns
clássicos, como os de Se Meu
Apartamento Falasse e Harry e
Sally – Feitos um para o Outro.
Por mais que romances água
com açúcar predominem sobre
os retratos literários menos ro-
mânticos e fantasistas da últi-
ma noite de dezembro, o que há
de ficar não serão os diários de
Bridget Jones, mas o réveillon
pessoal, a renascença, de Nora
ao fechar pela última vez a por-
ta da sua “casa de boneca”.
E não só o teatro de Ibsen
nos virá à memória, mas tam-
bém a ficção de Chekhov (O Es-
Jogue as cruzadas
https://bit.ly/3H10IrC
SOLUÇÕES
CULTURA&COMPORTAMENTO
pelho), George Eliot (Middle-
march), Nick Hornby (Uma
Longa Queda) e Zadie Smith
(Dentes Brancos), que, por si-
nal, começa com uma tentativa
de suicídio bem distinta das fra-
quejadas de Gary Cooper e Ja-
mes Stewart naqueles dois fil-
mes de Frank Capra, acima
mencionado.
A noite de 31 de dezembro
me evoca, especialmente, um
conto de Rubem Fonseca, que
nem é dos melhores dele, mas
sem dúvida o que mais fama e
dissabores lhe deu.
Se Machado captou a essên-
cia da noite natalina no conto
Missa do Galo, Fonseca fez de Fe-
liz Ano Novo, título e primeira
CRIPTOGRAMA E CAÇA-PALAVRAS Nesta seção, todos os dias, um jogo diferente para você
C7
das 15 histórias de sua quarta co-
letânea de narrativas curtas, pu-
blicada em 1975, a mais crua pro-
sa sobre a violência urbana ten-
do como pano de fundo uma fes-
ta de réveillon, no caso, de um
lar grã-fino da zona sul carioca.
A ditadura do general Geisel
não gostou da pauleira taranti-
nesca descrita no livro, confis-
cou todos os exemplares, e Fe-
liz Ano Novo teve de esperar 13
anos para ser liberado e voltar a
ser o que era antes da proibi-
ção: um best-seller. Creio que
não preciso acrescentar que o
conto continua atualíssimo. l
É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE
‘ESSE MUNDO É UM PANDEIRO’, ENTRE OUTROS
C8
A FUNDO
Em artigo exclusivo, cientista político aponta
momentos de ruptura na República brasileira
Quantos desastres
cabem em duas décadas?
BOLÍVAR LAMOUNIER
que este texto ofere-
O ce não é uma premo-
nição, muito menos
uma previsão. Não afirmo que
estamos condenados a gran-
des desastres. Quero apenas
lembrar que desastres políti-
cos, em qualquer de suas for-
mas, afetam de maneira negati-
va o desempenho da econo-
mia, envenenam a arena do de-
bate público e, no limite, po-
dem levar a conflitos sociais
devastadores.
Penso que esse tipo de refle-
xão ganhou relevância no pas-
sado recente não só em função
de embates políticos, mas tam-
PENSAMENTO BRASILEIRO
bém em razão de dificuldades
econômicas de certos tipos a
que o Brasil e diversos outros
países estão expostos. Refiro-
me aqui ao que os economis-
tas denominam “armadilha do
crescimento médio”. Suponha-
mos que a renda anual por habi-
tante brasileira esteja atual-
mente na casa dos R$ 7,5 mil.
Crescendo a uma taxa anual
média de 3%, levaremos 23
anos – uma geração inteira! –
para dobrá-la e nos alçarmos
ao patamar ainda medíocre de
R$ 15 mil. Não se requer muita
argúcia para perceber que,
com tal nível de renda e sem
reformas estruturais de fôle-
go, permaneceremos na rabei-
ra do planeta no que diz respei-
ARQUIVO/ESTADÃO-5/12/1956
JK
Não havia hipótese de a
UDN digerir a eleição
de Juscelino para a
Presidência, menos
ainda com João Goulart
como candidato a vice
to à má qualidade de nosso sis-
tema educacional, à escassez
de oportunidades, à desigual-
dade social e muito possivel-
mente a um aumento também
acelerado da criminalidade ge-
ral, ao crime organizado, ao
tráfico de drogas e à devasta-
ção ambiental.
Daí a pergunta: quantos de-
sastres cabem em 23 anos,
duas décadas? Em busca de
uma resposta, o que ofereço
neste texto é uma recapitula-
ção esquemática do período re-
publicano, com o objetivo de
ressaltar que nossa história po-
lítica tem sido muito mais ins-
tável e tumultuária do que em
geral se supõe.
Mas entendamo-nos, antes,
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
ARQUIVO/ESTADÃO-8/3/1957
quanto à noção de “desastre”
empregada neste texto. Num
país democrático, a ruptura
(breakdown) das engrenagens
constitucionais é, em si, um de-
sastre. Sempre deixa sequelas
malignas, que dificilmente se-
rão sanadas num breve prazo.
Mas a ruptura “da noite para o
dia” é uma ilusão. O breakdown
constitucional é sempre um gol-
pe de Estado, cujas causas com
certeza começam a fermentar
muito antes. Entre elas em ge-
ral se incluem radicalismos par-
tidários desarrazoados, fanatis-
mos ideológicos, a recusa de
um líder ou partido em reconhe-
cer a legitimidade de resulta-
dos eleitorais e, principalmen-
te, o populismo, fenômeno
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
TEREZA SOBREIRA /MINISTÉRIO DA DEFESA-16/9/1944
frequente na América Lati-
na, que se configura quando
um político resolve ignorar os
mecanismos constitucionais e
governar “por cima deles”, ma-
nipulando massas carentes.
A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-
1930). O amanhecer da Repúbli-
ca caracterizou-se pelo recur-
so à força em dois importantes
episódios. No Rio de Janeiro, a
revolta da Armada (Marinha
de Guerra). No Rio Grande do
Sul, de 1893 a 1895, a sangren-
tíssima guerra civil entre os
maragatos, liderados por Gas-
par da Silveira Martins, saudo-
sistas do parlamentarismo mo-
nárquico, e os gaviões, seguido-
res do caudilho Júlio de Casti-
lhos, que controlavam o gover-
no estadual. Os gaviões eram
fiéis adeptos do positivismo au-
toritário de Augusto Comte,
portanto hostis à Constituição
liberal e federalista de 1891 e
ferrenhamente partidários de
uma “ditadura republicana”.
Transcorrido o ordeiro qua-
triênio de Prudente de Moraes
(1894-1898), coube a Campos
Salles (1898-1902) transfor-
mar a Primeira República nu-
ma triste caricatura. Decidido
a concentrar no governo fede-
ral todo o poder que considera-
va necessário para renegociar a
dívida brasileira com a Inglater-
ra, Campos Salles entendeu
que a condição sine qua non era
impedir toda e qualquer inge-
rência dos governadores na po-
lítica econômica. Para tanto,
concebeu o alvitre conhecido
ARQUIVO/ESTADÃO
na eleição de 1930.
2 Dada essa estrutura, a suces-
são presidencial evoluiu den-
tro do figurino “café com lei-
te”, com São Paulo e Minas Ge-
rais revezando-se no Catete.
Fácil, pois, compreender que
variadas oposições armadas
começassem a se formar; opo-
sições genericamente designa-
das como “tenentistas”, que
combatiam o vigente arranjo
oligárquico desfraldando a
bandeira do “saneamento do
processo eleitoral”. Teve tam-
bém aí início a Coluna Prestes,
tentativa de sublevar o inte-
rior do País, sob a liderança do
capitão Luís Carlos Prestes.
1 - Jânio Não por acaso, o mineiro Ar-
3 Quadros, thur Bernardes (1922-1926) fi-
autogolpe cou sem alternativa a não ser
frustrado manter o estado de sítio duran-
te quase todo o seu mandato.
2 - Getúlio
Vargas: fama O CICLO GETULISTA (1930-
de pacificador 1964). A não observância do
deu lugar ao acordo “café com leite” pelo
ditador do presidente Washington Luís
Estado Novo (1926-1930) foi o pretexto para
a chamada Revolução de Trin-
3-A ta, um movimento político or-
participação ganizado para impedir a posse
dos pracinhas do paulista Júlio Prestes, elei-
na Segunda to para o período 1931-1934.
Guerra Mundial No Rio Grande do Sul, Getú-
teve impacto lio granjeara certa reputação
sobre a de moderado e pacificador, no-
democracia tadamente entre 1923-1925,
do País quando ajudou a evitar um se-
gundo confronto armado en-
tre gaviões e maragatos. Cou-
como “política dos governado- be-lhe comandar o movimen-
res”, que, mais apropriadamen- to por sua condição de gover-
te, se deveria designar como nador do Rio Grande do Sul.
“ditadura dos governadores”. No Catete, não tardou a deixar
Controlando com mão de ferro de lado a moderação e pôs em
a Comissão de Verificação de prática certas diretrizes autori-
Poderes do Congresso Nacio- tárias que certamente vinham
nal, Campos Salles instruiu-a a germinando em sua mente. Os
não reconhecer a eleição de primeiros conceitos que emi-
candidatos que fizessem oposi- tiu continham inequívocas
ção aos governadores em seus simpatias pelo fascismo italia-
respectivos Estados. Instituiu- no, dando a entender que o fu-
se assim em todo o País, sem turo modelo político brasilei-
disparar um único tiro, um regi- ro haveria de ser de índole cor-
me de partido único – os “parti- porativista. Enganou-se quem
dos republicanos”. esperava um breve abandono
O retrocesso político foi co- do arbítrio e a convocação de
lossal, inclusive no tocante ao uma assembleia constituinte.
número de cidadãos que compa- Neste aspecto, o que se viu foi
reciam às urnas nas eleições pre- o oposto: a postergação por
sidenciais, que caiu a níveis irri- dois anos de tal medida, que só
sórios, só voltando a atingir a seria admitida graças à pressão
cifra de 5% da população total da Revolução Constituciona-
lista de São Paulo.
Os anos seguintes seriam de
“Crescendo a uma taxa desordem e crescente rejeição
anual média de 3%, a Getúlio, não fosse a emergên-
levaremos 23 anos – cia de dois movimentos arma-
uma geração inteira! – dos, ambos orientados por
para dobrar a renda ideologias manifestamente to-
média do brasileiro talitárias. De um lado, a ANL
(...) Daí a pergunta: (Aliança Nacional Libertado-
quantos desastres ra), dirigida por Luís Carlos
cabem em 23 anos?” Prestes, a essa altura já conver-
tido ao comunismo (o PCB fo-
ra fundado em 1922), que foi
“A ruptura ‘da noite rapidamente esmagada. Do ou-
para o dia’ é uma tro lado, a AIB (Aliança Integra-
ilusão. O breakdown lista Brasileira, versão brasilei-
constitucional é sempre ra do fascismo italiano, ideali-
um golpe de Estado, zada por Plínio Salgado). O In-
cujas causas com certeza tegralismo tinha bases popula-
começaram a fermentar res muito mais amplas que o
muito tempo antes” comunismo, e por isso só veio
a ser derrotado no campo das
armas em 1938, quando Plínio,
cansado das tergiversações de
Getúlio, empreendeu um ata-
que direto ao palácio presiden-
cial. Essas duas aventuras fo-
ram as bandejas de que Getú-
lio, turbinado por uma imensa
popularidade, necessitava pa-
ra sair em busca de seu real ob-
jetivo, a implantação de uma
ditadura, que viria a ser o Esta-
do Novo, instituído a 10 de no-
vembro de 1937.
Iniciada na Europa a Segun-
da Guerra Mundial, o controle
da discórdia latente entre ger-
manófilos e americanófilos
que prosperava no seio do Esta-
do Novo e a opção por entrar
na guerra junto com os Aliados
deveram-se basicamente a
três fatores. Primeiro, a sedu-
ção financeira norte-america-
na, consubstanciada em três
importantes projetos: a CSN
(Companhia Siderúrgica Na-
cional, em Volta Redonda), a
CVRD (Companhia do Vale do
Rio Doce) e a Base Aérea de
Natal. Segundo, a insanidade
de alemães e italianos, que ou-
saram afundar embarcações
brasileiras em nosso litoral
nordeste; terceiro, o surgimen-
to de uma forte oposição inter-
na, iniciado em 1943 com o Ma-
nifesto dos Mineiros, que que-
brou de vez a censura. Esta era
até então exercida com zelo pe-
lo DIP (Departamento de Im-
prensa e Propaganda), réplica
fiel de seu congênere nazista.
República Velha
A revolta da Armada
e a guerra entre
maragatos e gaviões
demandaram o uso
da força pelo Estado
A participação militar do Bra-
sil na guerra através da FEB
(Força Expedicionária Brasilei-
ra), em campos de batalha da
Itália, embora modesta, tam-
bém teve um efeito doméstico
importante, uma vez que o re-
torno dos “pracinhas” incli-
nou de vez os pratos da balan-
ça para o lado democrático, ca-
bendo aos generais Eurico Gas-
par Dutra e Góis Monteiro co-
municar a Getúlio que seu go-
verno acabara. Daquele mo-
mento em diante, as rédeas do
governo passariam às mãos de
José Linhares, presidente do
Supremo Tribunal Federal,
que se incumbiria de organizar
com presteza a eleição do
próximo presidente e a convo-
cação de uma assembleia cons-
tituinte, que se dedicaria de
imediato à feitura de uma
Constituição democrática. As-
sim se fez, Dutra foi eleito pre-
sidente e, já em fevereiro, o Bra-
sil passava a ser regido pela
Constituição liberal de 1946.
Contudo, o desfecho benfa-
zejo relatado no parágrafo an-
terior trazia embutidos alguns
fatores de desastre. Repensan-
do-os na perspectiva atual, o
mais importante foi, sem dúvi-
A FUNDO C9
da, a opção pelo modelo de
crescimento conhecido como
nacional-desenvolvimentis-
mo. O ditador deposto e todo
o seu séquito dito “progressis-
ta” ou “nacionalista” abraça-
ram de corpo e alma tal proje-
to, vale dizer, a ideia de fazer a
industrialização avançar a
qualquer preço, por meio de
investimentos públicos e da
ISIS (Industrialização Substi-
tutiva de Importações).
O POPULISMO. Eurico Gaspar
Dutra, candidato “pesado”, de-
veu a maior parte de sua vota-
ção a Getúlio, que tratara de en-
quadrar seu capital eleitoral
em dois partidos que ele mes-
mo fundara, simultaneamen-
te: o PSD (Partido Social Demo-
crático), para ser seu interlocu-
tor junto aos fazendeiros, e o
PTB, Partido Trabalhista Brasi-
leiro, para cumprir o mesmo
papel junto aos sindicatos e ao
operariado urbano. Aqui,
impõe-se um parênteses, a fim
de frisar que a República recor-
reu em diversas ocasiões a in-
críveis disparates de constru-
ção institucional. O mais corro-
sivo foi admitir candidaturas à
Vice-Presidência desvincula-
das do partido do cabeça de
chapa, tontice que levaria a si-
tuações graves nos anos seguin-
tes. Em 1949, ele recebeu em
sua fazenda de São Borja seu
amigo Samuel Wainer, funda-
dor do jornal Última Hora e seu
principal interlocutor na im-
prensa. A certa altura Wainer
lhe perguntou: “E agora, presi-
dente, o sr. pretende voltar à
política?, ao que Getúlio res-
pondeu: “Sim, vou voltar, mas
não como político, como líder
de massas”. Poucos formula-
riam com tal concisão uma se-
nha para futuras incursões na
seara populista. Do lado con-
trário, o jornalista Carlos La-
cerda, um ex-comunista que
chamou a si a liderança da ultra-
direita udenista, replicou em
seu jornal Tribuna da Impren-
sa: “O Sr. Getúlio Vargas não
deve se candidatar. Candidato,
não deve ser eleito. Eleito, tu-
do faremos para derrubá-lo”.
Ao retornar ao proscênio po-
lítico no marco da Constitui-
ção de 1946, Getúlio era ainda o
líder mais importante do País.
O problema é que, àquela altu-
ra, o cenário doméstico já co-
meçara a metabolizar o onipre-
sente veneno da guerra fria, for-
mando-se dessa forma em to-
das as grandes cidades uma
mentalidade política na qual se
amalgamavam a contraposição
entre getulistas e antigetulis-
tas, antagonismos ideológicos
e malquerenças pessoais de to-
da ordem. Nos dois primeiros
anos de seu segundo governo,
Getúlio agiu com moderação,
abstendo-se de levar à prática a
ameaça contida em sua entre-
vista a Samuel Wainer.
Deu-se, entretanto, que, no
terceiro ano, a questão salarial
o empurraria de vez para o po-
pulismo. No Ministério do
 DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
C10 A FUNDO PENSAMENTO BRASILEIRO
O ESTADO DE S. PAULO

PROTÁSIO NENE/ESTADÃO - 18/2/1992

Trabalho, seu afilhado e
amigo João Goulart (Jango) en-
campou a reivindicação sindi-
cal de um aumento de 100% pa-
ra o salário mínimo. A base acei-
tável pelo empresariado girava
em torno de 40%. Não é difícil
imaginar o aquecimento dos
ânimos que essa diferença por
si só seria capaz de engendrar.
Deu-se, entretanto, que, em
agosto de 1954, sem o conheci-
mento ou qualquer tipo de au-
torização da parte de Getúlio,
um de seus guarda-costas, Gre-
gório Fortunato, trazido do
Rio Grande do Sul, resolveu
por iniciativa própria atentar
contra a vida de Carlos Lacer-
da. Por volta da meia-noite,
em frente ao prédio da rua To-
neleros onde Lacerda residia,
um de seus asseclas tentou pôr
em prática o alucinado plano
de Fortunato. Lacerda foi atin-
gido sem gravidade, mas outro
disparo matou o Major Vaz,
um oficial da Aeronáutica que
fazia a guarda de Carlos Lacer-
da em sua campanha para de-
putado federal. A oficialidade
da Aeronáutica, sempre mais
simpática à UDN e a Lacerda
Marechal
Com o rechaço de
Café Filho e Carlos Luz
a suas exigências,
pinadamente tomou a palavra
e exclamou que a eleição de JK 1
fora uma “farsa eleitoral”. Tes-
temunha do fato, o marechal
Henrique Duffles Teixeira
Lott, ministro da Guerra, ofi-
cial extremamente cioso da
hierarquia militar, exigiu do
presidente Café Filho (um obs-
curo deputado do Rio Grande
do Norte que assumira a Presi-
dência no lugar de Getúlio) e
do renomado deputado minei-
ro Carlos Luz, então presiden-
te da Câmara dos Deputados,
uma punição severa para o co-
ronel Mamede.
Surpreendido pelo rechaço
de ambos a suas exigências,
Lott não vacilou em pôr tan-
ques na rua, depondo os dois.
Esse episódio, pitorescamente
conhecido como “golpe da le-
galidade”, exprimiu com abso-
luta clareza a disposição de DOMICIO PINHEIRO/ESTADÃO ANTONIO LÚCIO/ESTADÃO
Lott a assumir o papel de fia-
dor da posse de Juscelino. 2 3
Homem de perfil moderado
e apoiado pelos dois maiores
partidos, Juscelino trafegou
entre os arrecifes de seu quin-
quênio sem maiores solavan-
cos, sem, contudo, conseguir
emplacar o Marechal Lott co-
mo seu sucessor. E o destino,
sempre à espreita, quis fazer
mais uma das suas. Em outu-
bro de 1960, favoreceu a elei-
ção para a Presidência, baten- ESTADÃO CONTEÚDO - 20/12/1981

Lott não vacilou em do o Marechal Lott, um popu-

pôr tanques na rua
que ao PSD e ao PTB de Getú-
lio, tomou as rédeas da Justiça
em suas mãos, reunindo-se na
chamada República do Galeão,
de onde convocava, interroga-
va e chegava mesmo a prender
suspeitos do crime. Desse pon-
to em diante, é fácil compreen-
der como se chegaria ao 24 de
agosto: o suicídio de Getúlio e
a Carta Testamento desenca-
dearam uma contundente rea-
ção popular contra a UDN, pro-
pelindo o getulismo rumo ao
futuro por muitos anos mais.
O ‘GOLPE DA LEGALIDADE’.
Mais uma vez derrotada pela
coalizão PSD-PTB, não havia
hipótese de a UDN digerir a
eleição de Juscelino para a Pre-
sidência, menos ainda com
João Goulart como candidato
à Vice-Presidência. O partido
partiu rapidamente para “con-
versações”, visando, evidente-
mente, impedir a posse de Jus-
celino Kubitschek, eleito em
outubro de 1955, esgrimindo o
argumento, não previsto na
Constituição, de que ele não
atingira a maioria absoluta.
Como se não bastassem as
espessas nuvens que enco-
briam o céu naqueles dias, no
dia 31 de outubro veio a falecer
o general Canrobert Pereira da
Costa, oficial de grande prestí-
gio, chefe do EMFA (Estado-
Maior das Forças Armadas).
No sepultamento, presentes
nomes de grande peso entre os
comandos militares, o coronel
Jurandir Bizarria Mamede ino-
lista caricato, Jânio Quadros,
lançado pelo pequeno PTN
(Partido Trabalhista Nacio-
nal) e, envergonhadamente,
pela UDN de Afonso Arinos e
Carlos Lacerda.
Não podia dar certo, como
de fato não deu. A invocação
de “forças ocultas” que o esta-
riam impedindo de governar e
a subsequente renúncia nada
mais eram que uma tentativa
de autogolpe. Longe de encher
as ruas com supostos seguido-
res que o carregariam nos om-
bros de volta ao Palácio do Pla-
nalto, seu atabalhoado gesto
deixou-o a ver navios. Abria-
se, assim, a mais espinhosa das
questões embutidas em nosso
marco constitucional: a posse
de João Goulart, legitimamen-
te eleito para a Vice, que naque-
le momento se encontrava em
viagem oficial à China. Uma
Junta Militar posicionou-se de
imediato contra a posse, fazen-
do saber a Jango que ele seria
preso no preciso momento em
que pisasse o solo brasileiro.
A CONTRAFAÇÃO PARLAMEN-
TARISTA DE 1961. Enquanto o
céu da política voltava a escure-
cer, os meios político e militar
agiam rapidamente em busca
de uma fórmula que permitis-
se a posse de Jango sem impor
aos integrantes da Junta Mili-
tar a vergonha da derrota. A fór-
mula encontrada foi um impro-
viso, uma contrafação de parla-
mentarismo costurada a toque
de caixa. O risco de uma guerra
civil era sério, tendo em vista a
ascendência de Leonel Brizo-
la, cunhado de Jango e governa-
4
CÉLIO MESSIAS / ESTADÃO - 1/1/2011
1 - Collor foi
incapaz de 5
vencer a inflação
e as acusações
de corrupção
2 e 3 - Jango
e o comício da
Central
4 - Tancredo e
Ulysses
Guimarães
5 - Dilma e
Lula, os
presidentes
petistas
dor do Rio Grande, sobre a Bri- antecipar o plebiscito que o esvaiu-se num abrir e fechar de
gada Militar do Estado. Brizola Ato Adicional estipulara para olhos. Chefe de um governo
não aceitava o improviso tanto 1965, com o objetivo de manter inepto, foi facilmente empurra-
por razões doutrinárias (era, ou revogar tal fórmula. Realiza- do para um populismo de es-
afinal, um fiel discípulo de Jú- do a 6 de janeiro de 1963, Jango querda, cujo momento canôni-
lio de Castilhos) como tam- retomou a plenitude dos pode- co foi o discurso que proferiu
bém, e quiçá mais importante, res presidenciais, o que, na no Rio de Janeiro na noite de 13
por entender que Jango se tor- prática, resultou num governo de março de 1964, dirigido a
naria um mero figurante no desastroso. Com os militares uma multidão reunida em fren-
parlamentarismo instituído emparedando-o por um lado e te ao prédio da Central do Bra-
pelo Ato Adicional de 1961. a dupla esquerdista Brizola- sil. Discursando ao lado de sua
Jango também não o aceita- Darci Ribeiro (este, à época, mulher, Maria Thereza, con-
va, mas dispunha-se a encenar chefiando a Casa Civil) pelo ou- cluiu assinando e exibindo pa-
o papel de figurante para, ma- tro, sua ínfima chance de se ra os presentes um desengonça-
nobrando as forças políticas, equilibrar num papel de centro do decreto de reforma agrária.
DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
O ESTADO DE S. PAULO
Mas Jango foi muito além do
que a prudência aconselharia.
Nos dias seguintes, passou a
dar ostensivo apoio a marinhei-
ros em greve, numa evidente
quebra da hierarquia militar.
Daí ao golpe de 31 de março,
seria só um passo.
O CICLO MILITAR (1964-1985).
Contando, no início, com uma
ampla mobilização de apoio en-
tre as camadas médias urba-
nas, ao fim e ao cabo o ciclo
militar não desmentiu a tese
geral deste estudo, a saber, a
de que a República tem conti-
nuamente se caracterizado
por intensa instabilidade. Isso
não se deveu apenas ao fato de
organizações de esquerda te-
rem encetado uma luta arma-
da contra o regime, que envol-
veu atos terroristas, assaltos a
bancos, sequestro de aerona-
ves comerciais, ataques a quar-
téis e até sequestros de diplo-
matas. Entre estes, o mais au-
dacioso foi, sem dúvida, o do
embaixador dos Estados Uni-
dos, Charles Burke Elbrick, cu-
ja libertação só foi conseguida
pela aquiescência do governo
em divulgar um manifesto dos
revoltosos no horário nobre
da TV e pela troca do embaixa-
dor por um numeroso grupo
de presos ligados aos movi-
mentos revolucionários.
A resposta militar destacou-
se por extenso recurso a opera-
ções de tortura, pela dizima-
ção de grupos de guerrilhei-
ros, atos terroristas, como o
praticado contra a sede da
OAB no Rio de Janeiro e, tam-
bém no Rio, a fracassada tenta-
tiva de detonar bombas duran-
te um show artístico em anda-
mento no Riocentro. Por últi-
mo, mas não menos importan-
te, o assassinato de prisionei-
ros, como foi o caso do operá-
rio Manuel Fiel Filho e do jor-
nalista Vlado Herzog, este en-
contrado enforcado em sua ce-
la. Por este último fato, o presi-
dente Ernesto Geisel foi leva-
do a exonerar o general Ednar-
do D’Ávila Melo, comandante
do Segundo Exército, sediado
em São Paulo.
Em relação aos fatores de ins-
tabilidade que lavraram duran-
te o período militar, não foi me-
nos importante a série de em-
bates que se manifestou entre
os próprios oficiais-generais.
A série a que me refiro come-
çou, a rigor, com a atitude do
próprio Marechal Costa e Sil-
va, que se acomodou no Minis-
tério da Guerra 13 dias antes de
o Alto-Comando tomar a deci-
são final de indicar o Marechal
Castelo Branco para a Presi-
dência da República. Assumin-
do, sponte sua, o cargo que lhe
interessava, Costa e Silva já
praticamente se impunha co-
mo o sucessor presuntivo de
Castelo e se posicionava para
eventualmente contrariar me-
didas de estabilização e refor-
mas que os ministros Otávio
Bulhões e Roberto Campos
viessem a tomar. Em 1968, aco-
Castelo Branco, Geisel e Costa e Silva: intensa instabilidade
metido por um distúrbio cere-
bral que o levaria à morte, pre-
sumivelmente por ter se recu-
sado a assinar o ultrarrepressi-
vo Ato Institucional número 5,
o Alto-Comando indicou para
suceder-lhe o general Garrasta-
zu Médici, impedindo a posse
do vice legitimamente eleito
(segundo as regras de jogo en-
tão vigentes), o deputado mi-
neiro Pedro Aleixo, configuran-
do-se aí, sem meias-palavras,
um golpe dentro do golpe.
Em outubro de 1977, na Pre-
sidência, o general Ernesto
Geisel exonerou com inusita-
da rispidez (“O cargo é meu!”)
seu ministro da Guerra, o gene-
ral Sylvio Frota, ao qual era ge-
ralmente atribuída uma trama
para o derrubar. Mas a derroca-
da do ciclo militar acabou por
se dar muito mais pela via eco-
nômica que pela política.
Vendo-se como o protago-
nista heroico que iria imple-
mentar sua visão de um “Brasil
Grande”, e tendo em vista a far-
ta liquidez disponível no mer-
cado financeiro internacional,
o governo Geisel contraiu no
exterior empréstimos de gran-
de vulto, indexados à taxa de
juros vigente na praça de Lon-
dres. Os choques de preços do
petróleo ocorridos em 1973 e
novamente em 1979, devidos à
contínua beligerância prevale-
cente no Oriente Médio, tripli-
caram a taxa de juros, com o
que o projeto brasileiro de cres-
cimento acalentado por Geisel
estancou e o País mergulhou
numa prolongada estagflação,
que se tornou conhecida como
“década perdida”. Desse pon-
to em diante, como veremos a
seguir, os impasses subjacen-
tes passaram à área política, re-
sultando na eleição do sena-
dor Tancredo Neves pelo Colé-
gio Eleitoral.
SARNEY E A CONSTITUINTE.
Com a morte de Tancredo Ne-
ves no dia 21 de abril de 1985, o
cetro presidencial passou às
mãos de José Sarney, cuja lon-
ga experiência no círculo do
poder nem de longe lhe confe-
ESTADÃO - 7/3/1966
rira a estatura política e a legiti-
midade democrática oposicio-
nista acumuladas ao longo de
décadas por Tancredo Neves.
A complexidade da situação au-
mentara muito por estar já as-
sentado que o Congresso elei-
to em 1966 assumiria poderes
constituintes a partir de 1967.
Era dado como certo que Sar-
ney fincaria pé na defesa de um
mandato de pelo menos cinco
anos. Em teoria, o Congresso
Constituinte poderia atender
a tal pleito, ou reduzir o manda-
to em curso para quatro anos e
até mesmo interrompê-lo de
imediato. Delineava-se, assim,
um jogo de perdedores: na
prática, nem conseguiria Sar-
ney recuperar a autoridade per-
dida em razão do colapso de
seu equivocado plano hetero-
doxo de estabilização (o Plano
Cruzado), nem disporia o Con-
gresso (no caso, a oposição) de
lideranças dispostas a afastá-
lo do cargo. Ao fim e ao cabo,
Sarney logrou seu objetivo de
ficar cinco anos acionando a ar-
ma do clientelismo, ou seja,
“comprando” os votos de que
necessitava.
Jango
Chefe de um governo
inepto, foi facilmente
empurrado para
um populismo de
esquerda
Com a economia estagnada
e no clima de desmoralização
política então prevalecente, a
opinião pública brasileira en-
trou num transe messiânico,
considerando que só a “primei-
ra eleição direta após 29 anos”
tiraria o País do buraco em que
se metera. Nesse quadro, o go-
vernador de Alagoas, Fernan-
do Collor de Mello, esgrimin-
do o slogan demagógico do
combate aos “marajás” (servi-
dores públicos privilegiados),
sobrepujou até com certa facili-
dade a inexperiência e os arrou-
bos radicais de seu principal ad-
versário, Luiz Inácio Lula da Sil-
va. Incapaz, porém, de liquidar
a inflação “com um só tiro”, co-
mo prometera, e atingido em
cheio por acusações de corrup-
ção, Collor foi afastado do car-
go, em 1992, por meio de um
processo de impeachment. As-
sim, as circunstâncias alçaram
à Presidência o vice Itamar
Franco, homem reconhecido
por sua integridade, mas não
por sua habilidade política e
menos ainda por seus conheci-
mentos de economia. Em seu
primeiro ano de governo, Ita-
mar “queimou” três ministros
da Fazenda (Gustavo Krause,
Paulo Haddad e Eliseu Resen-
de), até que um autêntico “esta-
lo de Vieira” levou-o a convo-
car para o cargo seu ministro
do Exterior, Fernando Henri-
que Cardoso, que se encontra-
va em Nova York, fazendo o
percurso de volta do Japão.
Embora sua formação acadê-
mica fosse em Sociologia, não
em Economia, Fernando Hen-
rique foi efusivamente recebi-
do pelo empresariado e levou
para Brasília um seleto grupo
de economistas, com os quais
iria elaborar um plano de com-
bate à inflação – o Plano Real,
como ficou conhecido. O fio
condutor adotado pelo grupo
foi afastar de vez todo indício
de heterodoxia. A pedra angu-
lar do plano seria a URV (Uni-
dade Referencial de Valor), na
qual se corporificava uma dire-
triz ortodoxa, gradualista. No
primeiro semestre de 1994, o
acerto da opção gradualista já
não comportava dúvidas, supo-
sição ratificada pelo fato de
Fernando Henrique ter batido
Lula, seu principal adversário
na eleição presidencial de
1994, em primeiro turno e em
todos os Estados do País.
DE LULA A DILMA. Por maiores
que sejam os méritos atribuí-
veis a Lula, notadamente o de
pôr as desigualdades sociais
brasileiras no topo da agenda
pública, não cabe dúvida de
que os historiadores atuais e
os do futuro lhe farão duras in-
dagações em pelo menos três
aspectos. Primeiro, certa pro-
miscuidade nas relações com
os partidos e o Congresso Na-
cional, evidenciada no episó-
dio do “mensalão” (2006), ou
seja, na distribuição de valores
pecuniários a numerosos con-
gressistas. Segundo, a siste-
mática organização da corrup-
ção na Petrobras, em conluio
com os maiores empreiteiros
do País. Terceiro, o desmesura-
do apetite de poder que o leva-
ria a emplacar a sra. Dilma
Rousseff na Presidência da Re-
pública. Não é plausível supor
que Lula ignorasse a extensão
do despreparo de Dilma Rous-
seff para a função presidencial.
O resultado todos conhece-
mos. Na economia, uma con-
tração brutal, que praticamen-
te dobrou o número de desem-
pregados no País. Na área ad-
ministrativa, a inobservância
de normas básicas de gestão
A FUNDO C11
das finanças públicas, que re-
sultou no afastamento dela do
cargo por meio de um proces-
so de impeachment. E, como
os males do mundo costumam
andar juntos, logo em seguida
chegou a pandemia da covid-
19, para liquidar o que, naquela
quadra sombria, ainda pudes-
se aqui haver de esperança.
DESENCANTO OU DESCORTI-
NO? (À guisa de conclusão) Su-
cedendo a Dilma Rousseff na
Presidência, o vice Michel Te-
mer fez das tripas coração a
fim de tocar pelo menos uma
parte das reformas estruturais
sabidamente indispensáveis à
retomada do crescimento. Lo-
grou um razoável êxito, parti-
cularmente na área das rela-
ções de trabalho, cujo arcabou-
ço tem travado o crescimento
desde os tempos do corporati-
vismo getulista. Sem demérito
para Temer, sabemos todos
que o que ele fez é uma minús-
cula parcela do que há por fa-
zer no tocante à reforma do Es-
tado. E, como se não bastasse a
lentidão nessa área, um novo
desastre se configurou nas elei-
ções de 2018 e 2022: a acirrada
História
Não cabe dúvida de
que os historiadores
atuais e os do futuro
farão a Lula duras
indagações
polarização entre bolsonaris-
mo e petismo. A vitória de Lu-
la por apenas 2% não teria o
condão de amenizar os riscos
embutidos em tal cenário;
bem ao contrário, parece tê-
los agudizado, a julgar pela ar-
ruaça golpista do dia 8 de janei-
ro de 2023, semelhante à dos
adeptos de Donald Trump nos
Estados Unidos, não havendo
exagero em considerar que am-
bas se incluem entre as mais
graves na história dos dois paí-
ses. De volta ao Planalto, Lula
tem sabiamente se esforçado
para falar mais baixo e com
mais cautela, passando a im-
pressão de haver compreendi-
do que todo radicalismo políti-
co é perigoso.
É difícil dizer o que é pior:
dois grandes partidos abando-
nando sua tradicional modera-
ção, como se vê atualmente
nos Estados Unidos, ou um
país virtualmente sem parti-
dos, como é o caso do Brasil de
hoje, onde o que vemos é um
conglomerado disforme que
atende pelo nome de Centrão.
Num caso ou noutro, o que pre-
cisamos ter em mente é que,
na hipótese de nossa renda
anual por habitante seguir cres-
cendo a taxas pífias, não está à
vista o dia em que iremos supe-
rar a “armadilha do baixo cres-
cimento”. Outro confronto vi-
triólico como o de 2022 entre
Lula e Bolsonaro sem dúvida
nos manterá por mais alguns
anos no fundo do poço. l
 DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2023
C12 CULTURA&COMPORTAMENTO O ESTADO DE S. PAULO

Leandro
Karnal

Como será amanhã?

A profecia foi atributo exclusivo do Todo-Poderoso. Só Ele podia tratar sobre o futuro

ROBERT PRATTA/REUTERS – 15/1/2010

m novo ano é uma con-

U venção. Amanhã, esta-

remos em 2024. Quer
pensar no artificialis-
mo da data? Jesus não nasceu
no ano 1 da nossa era. Se a nati-
vidade em Belém for nosso
marco real, poderíamos estar
comemorando algo entre 2028
e 2031. É sempre complicado
explicar que houve um erro de
cálculo, pois Jesus nasceu en-
tre 7 e 4 antes de Cristo.
Pretende esvaziar mais o
simbolismo? O Cristianismo
atinge 2 bilhões dos quase 8 bi-
lhões de seres humanos. Para
nossos irmãos islâmicos, ju-
deus, chineses, hindus e ou-
tros, o ano não começa no dia
1.º de janeiro. Nossa bolha oci-
dental cristã faz crer que a data
seja, de fato, universal. Não é.
Para separar real de cultu-
ral, basta observar seu cachor-
ro ou seu gato. Ele está com
ansiedade pelo novo ano? Ma-
nifesta uma alegria especial
ou melancolia marcante pelo
que se foi ou o que o aguarda?
Você sente que o olhar canino
ou felino está alterado? A mu-
dança dos nossos amados pets
estará no horror aos fogos de
artifício do ano-novo. Não é o
ano-novo que estressa os bi-
chos, mas nossa velha obstina-
ção infeliz com pólvora. Edição do século 16 com as previsões de Nostradamus: centúrias inesgotáveis em delírios literários e simbólicos
Princípio estoico tradicio-
nal: excesso de passado produz
remorso; muito futuro gera an- la voz de Deus e de seus profe- falando, sem alvará canônico, do Machado de Assis) sabe
siedade. Devemos viver o pre-
Excesso de passado tas oficiais; foi interditada ao de coisas além do tempo. que o segredo é dizer aquilo
sente. Nosso cérebro entende produz remorso; desejo randômico dos fiéis co- A picaretagem sobre aquilo que a pessoa quer ouvir. A cha-
isso, o coração resiste. Sim, o muito futuro gera muns ou dos reis ungidos. que não existe ainda (o futuro) ve de toda profecia é o cliente,
passado é irrecuperável. Toda- O preconceito contra adivi- corre solta. Milhões leem o jor- mas não o profeta. Cuidado
via, podemos esvaziar a carga
ansiedade. Devemos nhos é forte no Cristianismo. nal, a cada alvorecer, em busca com as perguntas que você fa-
ansiolítica do desconhecido à viver o presente Os judeus tinham vizinhos com de uma disposição zodiacal. rá sobre o tempo à frente: elas
frente por meio de... profecias. muitas práticas de adivinhação; Outros consultam Nostrada- condicionarão toda e qual-
Curiosa contradição aparen- os cristãos enfrentavam o mo- mus e suas centúrias inesgotá- quer resposta. Em resumo: vo-
te. A teologia dos monoteís- delo greco-romano que adora- veis em delírios literários e sim- cê é a chave do futuro!
mos costuma ser reticente va palpites sobre o amanhã. A bólicos. Quer saber, com certe- Em ambiente de explosão
com nossa consulta a astros, pitonisa cheirava coisas estra- za, a linha de desenvolvimento profética, junto-me aos segui-
cartomantes, espíritos mortos nhas e anunciava fatos vindou- do ano de 2024? A partir de feve- dores da necromante de Endor
ou outras formas. Deus conde- ros. Sacerdotes pagãos abriam reiro, começa o ano do Dragão e aos fãs de pitonisas. Se você
nou Saul por buscar uma ne- aves e animais e liam entranhas, no calendário chinês. Será um ler e estudar, 2024 será um ano
cromante em Endor (1 Samuel os famosos arúspices. A manei- período de criatividade e de de aprendizado. Se comer com
28). Para saber o resultado da ra como os gansos sagrados do exuberância. A cor de sorte do consciência e fizer atividade
luta contra os filisteus, o pri- Capitólio, em Roma, comiam novo ano do Dragão é o verde- física supervisionada, será um
meiro rei de Israel (que havia pela manhã determinava muito primavera. Use jade a partir de ano de boa forma. Se você cons-
desterrado adivinhos) consul- sobre o caráter fasto ou nefasto fevereiro para concentrar boas truir algo, o futuro terá mais
tou a vidente para que o espíri- do dia. Tudo isso foi condenado energias. No final do ano, co- chance matemática de chegar
to de Samuel falasse sobre o pela nova religião cristã. A profe- bre dos chineses essa profecia. positivo. Já vi muitos dragões
que viria à frente. Deus desa- cia era um dom de Deus conce- Se quiser uma profecia mes- chegando aos céus do Brasil. O
provou o ato. A profecia foi atri- dido a seus representantes. O tiça, some 2024 e encontrará o segredo é sobreviver com esfor-
buto exclusivo do Todo-Pode- apóstolo Paulo lembra: profeti- número 8, o mais afortunado ço intenso. Esperança? Bem...
roso e seus enviados. A todo zar é algo dado a alguns fiéis. para os orientais. Ano ociden- coma lentilha, ingira algumas
instante, Ele tratou sobre o fu- Elimina-se a adivinhação do fu- tal, em numerologia chinesa, sementes de romã e pule sete
turo, mas não permitiu autono- turo, a granel e no atacado, para parece indicar um recorte de ondinhas. De branco, é claro!
mia na busca dessa luz anteci- se preservar o profeta cadastra- tempo especialmente feliz. O resto pertence ao insondá-
pada sobre fatos ainda não do e reconhecido. Toda institui- Claro, sabemos que merece- vel futuro. Feliz ano-novo! l
ocorridos. O início do Judaís- ção de poder deve zelar pela me- mos uma pausa depois de anos
mo foi uma profecia: “Eu farei mória do passado e pela autori- de pandemia e de instabilida- LEANDRO KARNAL É HISTORIADOR,
de Abraão pai de uma grande zação dos profetas corretos. Na- de político-econômica. Toda ESCRITOR, MEMBRO DA ACADEMIA
PAULISTA DE LETRAS E AUTOR DE
nação”. A profecia ocorreu pe- da mais perigoso do que alguém boa cartomante (e nosso queri- ‘A CORAGEM DA ESPERANÇA’, ENTRE OUTROS