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Dirre
e
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o : Manuel
anuel Car
Carvalho
valho Domingo, 6 de Junho de 2021 • Ano XXXII • n.º 11.363 • Edição Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,80€

Futebol sub-21
Quem são os “miúdos”
que podem conquistar o
primeiro título europeu P2
LEON KUEGELER/REUTERS

Candidata
a chanceler
dos Verdes em
2.º lugar nas
sondagens e
perto da CDU
Está a Alemanha
preparada
para Annalena
Baerbock?
P2

Acordo histórico dos países do G7

ameaça lucros Ɗscais das multinacionais
Com as potências do mundo ociden- ma Æscal internacional, a era em que país de forma a pagar o mínimo pos- G7 comprometeram-se e a apoiar a forma de parar a “corrida até ao fun-
tal pela primeira vez do mesmo lado as grandes multinacionais movimen- sível de impostos, está mais perto de introdução de uma taxa de IRC míni- do” entre países para captar empre-
no debate sobre a reforma do siste- tam à vontade os lucros de país para poder chegar ao Æm. Os líderes do ma global de pelo menos 15%, uma sas Destaque, 2/3 e Editorial

Espécies ameaçadas A história do Zmar Congresso em Tomar

Entrevista a Luís Graça
Apanhar coral- O sonho de um André Silva sai
-vermelho pode conde, dinheiro “Morte de vacinados e apela ao PAN
valer coima de 5 alheio, a falência é extremamente rara”
a” para não passar
milhões de euros duvidosa Perito da DGS diz que vacinar adolescentes
é é uma “questão ética” Sociedade, 10/11
es a ser do ‘sistema’
Ciência, 24/25 Sociedade, 12/13 Política, 8/9
ISNN-0872-1548

08c35700-b58d-456e-bddc-8e66b61321cd @jornaisPT
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2 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021

Destaque Líderes do G7 anunciam “acordo histórico”

G7 aceita IRC
mínimo e ameaça
ganhos fiscais das
multinacionais
Acordo relativamente às bases do novo sistema Äscal para as
empresas foi atingido no G7. Falta agora um entendimento no
G20 em Julho e um acordo à escala mundial a seguir ao Verão
dos incentivos que actualmente exis- Para além destas medidas, os países
Sérgio Aníbal
tem para que as empresas multina- do G7 estabeleceram ainda o compro-

C
om as potências do mundo
ocidental pela primeira vez
do mesmo lado no debate
sobre a reforma do sistema
Æscal internacional, a era em
que as grandes multinacio-
nais movimentam à vontade os
lucros de país para país de forma a
pagar o mínimo possível de impostos
está agora mais perto de poder che-
gar ao Æm.
Naquilo que os próprios classiÆca-
ram como um “acordo histórico” que
“pode mudar a economia mundial”,
os ministros das Finanças dos países
do G7 — EUA, Alemanha, Japão, Reino
Unido, França, Itália e Canadá — com-
prometeram-se ontem, no Ænal de
cionais transÆram lucros entre subsi-
diárias localizadas em vários países,
numa tentativa de ter a maior parte
dos lucros tributada em países com
taxas de IRC mais reduzidas (ou mes-
mo nulas).
Este é um dos dois pilares da refor-
ma do sistema Æscal internacional
que tem vindo a ser discutida, sob
coordenação da OCDE, por quase 140
países durante os últimos anos, mas
só agora é que entre as principais
potências — em várias ocasiões em
lados diferentes da barricada — pare-
ce ter sido possível chegar a um
entendimento.
O comunicado Ænal do encontro
dos ministros das Finanças do G7 aÆr-
misso de “encontrar uma solução
equitativa na alocação de direitos de
tributação, atribuindo aos países mer-
cado pelo menos 20% do lucro das
mais rentáveis empresas multinacio-
nais que vá além de uma margem de
10%”. Isso signiÆca que, naquilo que
diz respeito à maiores multinacionais
do planeta, incluindo os gigantes tec-
nológicos como a Google, Facebook,
Microsoft ou Amazon, irá passar a
aplicar-se um princípio de tributação A foto de família dos líderes “Pelo menos 15%”
relacionado com o local onde estas obedece às “distâncias covid”. A diÆculdade de chegar a um consen-
empresas obtêm as receitas. As máscaras não são so em relação a esta questão ao longo
Espera-se agora que este entendi- obrigatórias em Londres dos últimos anos deve-se à variedade
mento entre as grandes potências ao ar livre de interesses envolvidos.
ocidentais possa abrir a porta a que, Os países que predominantemente
em Julho, um acordo possa também vêem as empresas a escaparem ao

um encontro de dois dias em Lon-
dres, a apoiar, nas negociações à esca-
la mundial que se seguem nos próxi-
mos meses, a introdução de uma taxa
de IRC mínima global com um valor
de pelo menos 15%.
Uma medida deste tipo, caso se
venha a concretizar, tem o potencial
para retirar uma parte importante
ma que estes países se comprometem
“com uma taxa mínima global de
imposto sobre as empresas de pelo
menos 15% numa base de país por
país”. O objectivo desta medida é,
dizem, limitar a “corrida até ao fun-
do” a nível Æscal em que os governos
têm entrado na tentativa de atrair
empresas para os seus países.
ser obtido sobre esta matéria no
G20, que inclui as grandes potências
emergentes, como a China e a Índia.
O passo Ænal terá depois de ser dado
com a assinatura de um acordo deÆ#
nitivo e detalhado, no âmbito das
negociações coordenadas pela
OCDE com a maior parte dos países
do globo.
15%
É a taxa global mínima de IRC
que os países do G7 acordaram
na reunião de sexta e sábado
pagamento de impostos nos seus paí-
ses, transferindo os lucros para des-
tinos mais paradisíacos Æscalmente,
anseiam há muito por uma alteração
de regras. Pelo contrário, os Estados
que têm feito da competitividade Æs-
cal uma forma de trazer negócios e
crescimento às suas economias esta-
vam satisfeitos com a situação actual.

Perguntas e respostas O que é o IRC mínimo global e quando pode entrar em vigor?
Qual é o objectivo de uma taxa
mínima global de imposto
sobre as empresas?
O sistema fiscal internacional
mostrou, ao longo das últimas
décadas, uma crescente
incapacidade para se adaptar à
forma como as grandes
multinacionais mundiais operam
em diversos países, minimizando
a sua factura de impostos. Uma
taxa de imposto mínima tem
como principal objectivo retirar
o incentivo para que as
empresas desloquem as suas
actividades e transfiram os seus
lucros para territórios em que as
taxas de impostos são
extremamente baixas. E, ao
mesmo tempo, evitar que os
Estados reajam, como até agora,
com uma “corrida até ao fundo”
na definição dos níveis dos seus
impostos sobre as empresas.
Como é que a taxa mínima
funciona?
Cada país vai poder continuar a
definir, sem qualquer limite, qual
a taxa de IRC que cobra. O que
se assegura, ao estabelecer-se
uma taxa mínima global de 15%
(ou mais) no imposto cobrado
sobre as empresas, é que uma
empresa multinacional não
deixará de pagar, seja qual for a
sua sede e residência fiscal, esse
valor de impostos sobre os seus
lucros totais. Se, por exemplo,
uma empresa portuguesa
declarar uma parte dos seus
lucros através de uma subsidiária
residente num país em que a
taxa efectiva de IRC paga é
menor do que a taxa mínima
global, as autoridades fiscais
portuguesas ficam com o direito
a cobrar a diferença entre a taxa
paga pela empresa e o valor
mínimo mundial. Deste modo, as
empresas ficam com menos

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Público • Domingo, 6 de Junho de 2021 • 3

E havia ainda o caso dos EUA, que,
apesar de ver as suas receitas Æscais
muito penalizadas, mantinha a preo-
cupação de defender os seus gigantes
tecnológicos, que muitas vantagens
têm retirado do sistema em vigor.
Com a pandemia a abalar as Ænan-
ças públicas da generalidade dos paí-
ses e os EUA, primeiro com Donald
Trump e agora com Joe Biden, dispos-
tos a unilateralmente cobrar impostos
às suas multinacionais pelos lucros
que geram no exterior, as condições
para que os países mais reticentes
tivessem de ceder foram criadas.
O ponto mais complicado na obten-
ção do acordo passou a ser, a uma
dada altura, a deÆnição do valor a
aplicar na taxa mínima global de IRC.
Esta questão parece ter Æcado agora
parcialmente resolvida. Os países do
G7 optaram, nesta fase, por se com-
prometer com um valor de “pelo
menos 15%”, deixando a possibilida-
de de, num quadro mais alargado de
negociação, se ir um pouco mais
além.
De facto, partindo deste valor de
“pelo menos 15%”, a expectativa é a
de que haja discussões ainda acesas
entre alguns países sobre o valor deÆ#
nitivo. Bruno Le Maire, o ministro das
HENRY NICHOLLS/REUTERS
Finanças de França, deixou já claro
que “este é um ponto de partida” e
que, nos próximos meses, o país “irá
lutar para garantir que este imposto
mínimo sobre as empresas seja tão
alto quanto possível”.
Já o ministro das Finanças da Irlan-
da, Paschal Donohoe, que esteve
também presente no encontro do G7
na qualidade de presidente do Euro-
grupo, fez questão de lembrar que
qualquer acordo Ænal “terá de levar
em conta as necessidades de peque-
nos e grandes países, sejam desenvol-
vidos ou em desenvolvimento”.
A Irlanda, que tem uma taxa de IRC
Receita adicional potencial to que cubra a diferença entre o IRC
com um imposto mínimo pago efectivamente na Irlanda e o
global de 15% valor correspondente à taxa mínima
Em % da receita actual de IRC de IRC global que venha a ser adopta-
da.
Luxemburgo 146,5 Quanto maior for esta taxa, menor
Irlanda 86,3 é o incentivo que as empresas têm
Bélgica 63,4 para transferirem operações e lucros
Polónia 41,8 para outras zonas do globo.
Finlândia 31,4 Foi dos Estados Unidos, de onde
vêm muitas das maiores multinacio-
Áustria 31,4
nais do mundo, que surgiu um impul-
Canadá 29,6 so importante para o acordo agora
Chipre 25,8 atingido no G7. A secretária de Estado
Estónia 22,2 do Tesouro, Janet Yellen, defendeu,
Hungria 19,8 no Ænal da reunião, que a taxa míni-
Letónia 19,1 ma global irá “ajudar a economia
Malta 13,6 mundial a desenvolver-se, tornando
o campo de jogo mais equilibrado
EUA 10,8
para as empresas e encorajando os
Suécia 10,3 países a competirem em bases positi-
França 8,4 vas, através da educação e da forma-
Dinamarca 8,2 ção, da força de trabalho e do inves-
Alemanha 8,1 timento em investigação e em infra-
Itália 6,6 estruturas”. Os impostos, desejam
agora os países do G7, deixam de ser
Austrália 3,8
um factor tão relevante de competi-
África do Sul 3,6
tividade de um país.
P. Baixos 3,4 De qualquer modo, é ainda difícil
Japão 3,2 saber quem sai, do ponto de vista da
Espanha 2,5 receita Æscal, a ganhar com esta medi-
Grécia 2,1 da. Um estudo publicado na semana
Chile 1,9 passada pelo Observatório Fiscal da
UE estimava que uma taxa mínima
Brasil 1,5
global de 15% conduziria a receitas
Portugal 1,5 Æscais adicionais de 48,3 mil milhões
México 1,3 de euros na UE e de 40,7 mil milhões
Rep. Checa 1,3 nos EUA. Os países com mais receitas
China 1,0 adicionais serão aqueles que têm
Índia 0,7 mais empresas de grande dimensão
a operar e a pagar impostos em terri-
Noruega 0,7
tórios com taxas efectivas de IRC mui-
Eslovénia 0 to baixas.
Coreia do Sul 0 Portugal, um país de empresas rela-
Fonte: EU Tax Observatory; Cálculos PÚBLICO tivamente pequenas, não está entre
os que podem contar com uma enor-
de 12,5%, tem mostrado sérias reti- me chuva de novas receitas. O Obser-
cências relativamente à aplicação de vatório Fiscal calcula que não será
uma taxa mínima global muito mais muito mais do que 1,5% da actual
alta. A forma como esta taxa de IRC receita de IRC nacional.
mínima à escala mundial funciona Quem muito provavelmente Æcará
tem potencial para retirar à sua eco- a perder são as grandes empresas
nomia parte daquilo com que tem multinacionais. Na única reacção até
conseguido atrair diversas multina- agora, o Facebook fez questão de se
cionais ao seu território. tentar pôr do lado da solução encon-
De facto, uma empresa norte-ame- trada. “Queremos que o processo de
ricana como a Google, que transÆra reforma Æscal internacional tenha
parte dos seus lucros para a Irlanda, sucesso e reconhecemos que isso
onde a taxa de IRC estatutária é de pode signiÆcar que o Facebook irá
12,5%, Æcará, caso as novas regras se pagar mais impostos, e em locais dife-
concretizem, sujeita a que os EUA rentes”, escreveu a empresa em
cobrem um valor adicional de impos- comunicado.

incentivos para pagar impostos
em territórios de taxas baixas.
Quando é que esta medida pode
entrar em vigor?
O acordo obtido no G7 é apenas
um dos passos até à
concretização efectiva de uma
taxa mínima global. Agora, com
esta frente unida das grandes
potências ocidentais, a discussão
irá passar a ser feita dentro do
G20, que inclui mais países
europeus de menor dimensão e
as maiores potências
emergentes, como a China, a
Índia ou o Brasil. O encontro do
G20 em que o tema será
debatido ocorrerá em Itália, em
Julho. Se um acordo for também
aí anunciado, abre-se o caminho
para que as negociações que já
ocorrem há dois anos entre cerca
de 140 países sob coordenação
da OCDE possam chegar ao fim,
estabelecendo-se com um maior
pormenor técnico as novas
regras a entrarem em vigor no
sistema fiscal internacional.
Este é o único tema em
discussão?
As discussões coordenadas pela
OCDE assentam em dois pilares.
O primeiro é o referente à
introdução de uma taxa mínima
global de imposto sobre as
empresas. O segundo está
relacionado com a forma como
se define o imposto a pagar pelas
maiores empresas mundiais, em
especial os gigantes
tecnológicos como o Facebook,
Google, Amazon e Microsoft. Em
vez de o imposto ser pago no
local onde essas empresas têm a
sua sede, a ideia é que essa
receita fiscal seja distribuída
pelos países de acordo com o
local onde as receitas das
empresas são efectivamente
geradas.

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4 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021

Espaço público

Os lucros precisam de fronteiras

U
ma subsidiária da
Editorial Microsoft, cuja morada
se situa nos escritórios
de uma Ærma de
advogados de Dublin, na
Irlanda, pagou zero de IRC no ano
passado, por ter a sua sede Æscal nas
Amilcar Correia Bermudas — um território que não
cobra impostos sobre os lucros das
empresas. A Microsoft Round Island
One registou 260 mil milhões de
euros de lucros, um valor cerca de
30% mais elevado do que o PIB
anual português. A Microsoft não é
caso único. As multinacionais têm
um apreço especial pelos paraísos
O compromisso a que Æscais, pela concorrência desleal (e
chegou o G7 é o não têm uma preocupação ética
evidente quando se trata de pagar
primeiro passo para impostos).
uma reforma do sistema Estas grandes empresas, dada a
Äscal mundial. A sua dimensão e inÇuência,
competição saudável é sobrepõem-se aos governos e aos
países, muitas vezes coniventes com
uma guerra justa que esta gritante fuga ao Æsco, que está
vale a pena travar vedada à mais comum das empresas.
Nada disto é um segredo: há dois
anos que o Departamento de Justiça
dos EUA investiga as chamadas
“GAFAM” (0 acrónimo de Google,
Apple, Facebook, Amazon e
Microsoft) por suspeitas de práticas
anticoncorrenciais.
O compromisso a que chegaram,
neste sábado, os ministros das
Finanças do G7 é o primeiro passo
para uma reforma do sistema Æscal
mundial, ao garantir a cobrança de
uma taxa mínima de IRC de, pelo
menos, 15 %, e a tributação dos
gigantes tecnológicos em função do
local onde as receitas são obtidas e
não em função da isenção
proporcionada pelo local onde têm
residência Æscal.
O facto de estas negociações
estarem a ser coordenadas pela
OCDE alimenta a esperança de que o
compromisso do G7 seja secundado
pelo G20 e transformado num
acordo mais vasto, a ser assinado
por 135 países. A reforma do sistema
Æscal não seria possível sem Biden,
ou melhor, seria impossível com
Trump.
O compromisso é ainda mais
importante neste momento. Os
lucros destas empresas cresceram,
exponencialmente, durante a actual
crise sanitária, uma excepção em
tempos sombrios, e os países da UE
arrecadariam mais 100 mil milhões
de euros das suas
multinacionais, caso fosse aplicada
uma taxa de IRC de 21%.
Em entrevista ao PÚBLICO, Pascal
Saint-Amans, director do Centro para
a Política Fiscal e Administração da
Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico
(OCDE), deixou um recado aos países
que vierem a insistir em políticas
Æscais mais agressivas: “Irão sofrer
medidas de retaliação, uma guerra
comercial.” Esta é uma guerra justa
que vale a pena travar; pela
competição saudável, de modo a que
o lucro também tenha fronteiras.

CARTAS AO DIRECTOR
Rigor e competência
A serenidade, a simplicidade, o
rigor e a competência que o
vice-almirante Gouveia e Melo
transmite é algo que há muito não
se via em quem ocupa lugares de
exigência elevadíssima. O que Æca
provado, se houvesse qualquer
dúvida, é que em Portugal há
pessoas rigorosas, competentes e
isentas e por tudo isso é
lamentável que o nosso Governo
e os ministérios estejam tão
cheios de pessoas incompetentes.
Porque a tarefa da vacinação era e
é difícil de levar a bom porto,
quero manifestar, como tantos
outros, o meu enorme apreço
pelo trabalho do vice-almirante
Gouveia e Melo. Parabéns, senhor
vice-almirante.
Manuel Morato Gomes,
Senhora da Hora
A condecoração
que falta
O vice-almirante Henrique
Gouveia e Melo, que está a
desenvolver na liderança da task
force um bom trabalho, tem sido,
e bem, reconhecido por diversas
entidades. Agora foi
homenageado no Congresso
Nacional da Ordem dos Médicos,
em Coimbra. Neste plano de
vacinação será criada uma “casa
aberta”, para que pessoas com
mais de 70 anos, que ainda não
foram vacinadas, o possam fazer
o mais rapidamente possível. Sua
Excelência o senhor Presidente
da República tem sido fértil em
condecorações, e não só. Não é
uma cunha que estou a meter,
mas o vice-almirante Henrique
Gouveia e Melo merecia ser
condecorado!
Tomaz Albuquerque, Lisboa
Poder e imprensa
A proÆssão de jornalista é
fascinante e, simultaneamente,
muito exigente e rigorosa,
quando o jornalismo é de
primeira água. David Jiménez
Garcia, 50 anos, é um jornalista e
escritor espanhol que foi
repórter de guerra,
correspondente e ex-director do
jornal espanhol El Mundo.
Recentemente, concedeu uma
entrevista em que abordou, sem
tibiezas, a relação poder/
imprensa. Esta relação é sempre
melindrosa, num permanente
jogo do rato e do gato — seja em
Espanha, seja em Portugal ou em
qualquer país do mundo. Não
posso deixar de citar, na
entrevista, três constatações de
Jiménez Garcia que são
transversais a toda a prática de
jornalismo e à própria
sobrevivência na proÆssão. 1) “A
tendência natural do poder é
controlar a imprensa. Quando as
vendas caem, por exemplo, 70%,
e os jornalistas de determinado
jornal vêem o seu emprego (o
seu ganha-pão) ameaçado,
podem, eventualmente, passar a
depender de favores,
precisamente daqueles que
deveriam vigiar. Tornamo-nos
parte do sistema para
sobrevivermos”; 2) “A Espanha é
um país polarizado, onde tudo
está dividido em trincheiras. Os
leitores exigiam que eu
denunciasse a corrupção apenas
dos outros, não a daqueles em
quem votavam”; 3) “Isto
arruinou-se quando os gestores
começaram a fazer de jornalistas
e os jornalistas de
administradores. Eu
encontrei-me com donos e com
administradores para quem é
igual estar no negócio da
imprensa ou a vender máquinas
de lavar.” Estas aÆrmações de
Jiménez Garcia repercutir-se-ão,
igualmente, no modus operandi
da relação de certa imprensa
com o poder no nosso país?
António Cândido Miguéis,
Vila Real
Falta de orientação
Tem-se veriÆcado uma certa
confusão nas declarações sobre o
terrível mal que nos continua a
assolar por parte de entidades
oÆciais com vários níveis de
responsabilidade. Não há uma
orientação certa, o que provoca
uma tremenda confusão no
vulgar cidadão. Há
conÆnamento, depois é
levantado, há bolha (que não
existiu) para os adeptos ingleses
assistirem à Ænal entre eles,
estando por explicar qual a razão
desse jogo não ter sido em
Inglaterra, de onde são oriundos
os dois clubes. Toda a gente
opina sobre tudo o que sabe e o
que não sabe. Realço a
esplêndida entrevista orientada
por Victor Gonçalves na RTP, na
passada quarta-feira, ao
vice-almirante Henrique Gouveia
e Melo, nomeado pelo Governo
para coordenar o plano de
vacinação. Na entrevista
orientada por um bom jornalista,
elucidou com calma o plano para
a vacinação total de todos nós.
Claro que só pode trabalhar com
os meios que lhe são fornecidos,
mas, sendo um organizador e
disciplinador por excelência,
talvez fruto da sua alta patente
militar, levará de certeza a árdua
tarefa a bom termo. A entrevista
foi longa e, possivelmente para
amenizar um pouco o ambiente,
sendo oÆcial de submarinos,
teceu com graça considerações
sobre a vida a bordo.
Carlos Leal, Lisboa

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt

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BARTOON LUÍS AFONSO
ESCRITO NA PEDRA
“A palavra, por mais contraditória que seja,
preserva o contacto: o silêncio isola-o”
Thomas Mann (1875-1955), escritor alemão
“Ajudar a economia mundial a desenvolver-se
[...], encorajando os países a competirem em
bases positivas” Janet Yellen, secretária do
Tesouro dos EUA [acerca da taxa mínima global]
O NÚMERO
681
novos recuperados de covid-19
sexta-feira em Portugal (já são
811.640); 3 mortes; e há menos 111
casos activos (são agora 23.362)
NESTE DIA 6 DE JUNHO
1759 Sebastião José de Carvalho e Melo recebe
o título de conde de Oeiras 1875 Nasce o escritor
alemão Thomas Mann1926 Proclamação de
vitória do golpe militar de 28 de Maio que
institui a ditadura nacional 1944 II Guerra
Mundial, Dia D. As forças aliadas desembarcam
nas praias da Normandia, França 1966 Assassínio
do activista negro norte-americano James
Meredith, no Mississípi 1968 Morre, com 42 anos,
o senador norte-americano Robert Kennedy,
um dia depois de alvejado 2005 Escândalo do
“mensalão”, no Brasil 2009 Telma Monteiro e
Joana Ramos vencem Taça do Mundo de Judo
2020 Morre José Barrias, artista plástico, 75 anos
O inter-
-idades
Ainda ontem
tem
Q
Miguel Esteves Cardoso
uanto mais velho Æco,
menos paciência tenho
para quem se queixa
da idade. Começam
por volta dos 30 anos e
olham para mim à
espera que eu, do alto dos meus 65
anos, os console.
O que querem ouvir sei eu: é que
ainda são novos e que é
encantador ouvi-los queixar-se
que estão velhos. Mas a verdade é
que têm razão: já não são novos. A
única coisa a dizer-lhes é:
“Bem-vindo ao clube e cala-te.”
É o que dá quando a distância
entre a minha idade e a deles — 35
anos — é 5 anos mais do que a
idade deles. O equivalente seria eu
ir queixar-me de ter 65 anos a
alguém que tivesse 135 anos.
E isto sem obedecer às
proporções, já que 5 anos é 1/6 da
idade deles e 1/6 de 65 é 11 anos,
pelo que a idade do ancião que eu
iria chatear teria de ser 141 anos.
A idade é como uma paragem de
comboio. Imagine-se que uma vida
são 100 anos. Por exemplo, os
10.000 quilómetros entre Pequim
e Lisboa. Nascemos em Pequim
com 0 anos e morremos em Lisboa
com 100.
Até aos 5 anos (500 quilómetros)
não vemos nada por causa da
ansiedade louca de termos uma
idade mais decente, como 12 anos.
Passamos o tempo a perguntar
quando é que saímos da infância
(da China). O resultado: não vemos
nada da China.
Quando chegamos à Europa,
voltamos a não ver nada. Estamos
obcecados pela nossa juventude (a
Mongólia, o Cazaquistão) e não
conseguimos falar de outra coisa.
Temos saudades daquelas
paragens e ocupamos o tempo que
temos em lamentos e memórias.
Se olhamos pela janela é só para
dizer mal, para reparar que as
paisagens mudaram.
E assim se passam as idades
mais avançadas, sem tirar partido
delas, sem ver o que se vê só
naquelas paragens, desperdiçando
aquela parte tão interessante da
viagem.
Em vez de pensar: “Já que aqui
estás, aproveita, porra!”
Público • Domingo, 6 de Junho de 2021 • 5
A opinião publicada no jornal respeita
a norma ortográfica escolhida pelos autores
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Moutinho (vídeo); Ricardo Sampaio (responsável técnico); Pedro Guerreiro
(editor de redes sociais), Patrícia Campos, Lucas Freitas; Rui Barros
(jornalista de dados) Política Sónia Sapage, Álvaro Vieira (editores), São
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6 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021
Espaço público
Como se Deus não existisse
Frei Bento Domingues O.P.
A oração, como diz o Papa
Francisco, não é para
converter a Deus, mas para
nos convertermos ao Seu
amor que excede tudo o que
poderíamos desejar e pedir
1.
O autor do título desta crónica é
um mártir cristão, o pastor
luterano Dietrich Bonhoeèer
(1904-1945). Deixo, aqui, um breve
apontamento para situar essa
expressão paradoxal que nada
tem que ver com agnosticismo ou ateísmo.
No início de 1933, a ascensão de Hitler ao
poder provocou uma disputa no seio da
Igreja Evangélica Alemã, à qual Bonhoeèer
pertencia. Muitos luteranos acolheram
favoravelmente o advento do nazismo e, no
Verão de 1933, alguns até propuseram uma
resolução que impedia os “não arianos” de
se tornarem ministros de culto ou
professores de religião. Bonhoeèer opôs-se a
essa tese, aÆrmando que a sua ratiÆcação
submeteria os ensinamentos cristãos à
ideologia política: se os “não arianos” fossem
impedidos de aceder ao ministério, então, os
pastores teriam de renunciar, em sinal de
solidariedade, e de fundar uma nova Igreja
livre da inÇuência do regime.
Em Maio de 1934, nasceu a Igreja
Confessante, liderada pelo próprio
Bonhoeèer em oposição aberta ao nazismo e
ao silêncio da Igreja oÆcial. Em Agosto de
1937, foi publicada uma ordem de Himmler
que declarava ilegal a actividade da formação
de candidatos a pastores para a Igreja
Confessante e, em Setembro, o Seminário de
Finkenwalde foi fechado pela Gestapo.
Bonhoeèer não estava parado nas suas
actividades e continuava professor na
clandestinidade. Em Janeiro de 1938, a
Gestapo expulsou-o de Berlim e, em Agosto
de 1940, foi proibido de falar em público. Em
Março de 1941 foi proibida a publicação dos
seus escritos.
Entretanto, estava ligado a um grupo de
resistência e conspiração contra Hitler. Foi
preso no dia 5 de Abril de 1943, acusado de
conspirar contra Hitler. Condenado por um
tribunal, juntamente com o almirante
Canaris, cinco militares de alta patente e um
juiz, foi enforcado no dia 9 de Abril de 1945,
dez dias antes da libertação do campo. No
dia anterior à execução, despediu-se de um
prisioneiro inglês, dizendo: “Este é o fim —
para mim, o começo da vida.”
Em 1955, o médico do campo de
concentração Hermann Fischer-Hüllstrung,
dá o seguinte testemunho: “Eu vi o pastor
Os meios de
comunicação correntes
fazem de conta que
Deus ou a religião não
existem: não são notícia,
a não ser quando
há escândalos
Bonhoeèer ajoelhado, rezando
ferverosamente a Deus. Fiquei
profundamente comovido com a maneira
como esse homem, extraordinariamente
simpático, rezava tão devoto e certo de que
Deus ouvia a sua oração, antes de se despir
(os executados deviam despir-se
completamente e ir nus para a forca). No
lugar da execução, rezou novamente uma
breve oração e, depois, subiu os poucos
degraus da forca, corajoso e calmo. A sua
morte ocorreu após alguns segundos. Nos
meus quase 50 anos de actividade médica,
diÆcilmente vi um homem morrer tão
inteiramente entregue nas mãos de Deus.”
O que se passou sob o ponto de vista
religioso, na experiência da cadeia, foi o
convívio com pessoas sem referência a Deus:
“Não podemos ser honestos sem reconhecer
FILIPPO MONTEFORTE/AFP
que temos de viver no mundo etsi Deus non
daretur (como se Deus não existisse). E isso é
precisamente o que reconhecemos… perante
Deus! É o próprio Deus quem nos obriga a
esse reconhecimento. Assim, o nosso acesso
à maioridade leva-nos a um verdadeiro
reconhecimento da nossa situação perante
Deus. Deus faz-nos saber que temos de viver
como seres humanos que conseguem viver
sem Deus. O Deus que está connosco é o
Deus que nos abandona (Mc 15, 34: Meu Deus,
meu Deus porque me abandonaste?). O Deus
que nos faz viver no mundo sem a hipótese
de trabalho ‘Deus’ é o Deus, perante o qual,
nos encontramos constantemente. Perante
Deus e com Deus, vivemos sem Deus. Deus,
cravado na cruz, permite que o expulsem do
mundo. Deus é impotente e débil no mundo
e, precisamente, só assim está connosco e
nos ajuda. Mt 8, 17 indica-nos claramente que
Cristo nos ajuda não pela sua omnipotência,
mas pela sua debilidade e pelos seus
sofrimentos.”
A sua experiência está marcada pelo que
viu em Cristo, completamente Æel a Deus,
sem que Deus se tenha mostrado na sua
paixão e na sua morte. Acabou, no entanto,
dizendo: nas Tuas mãos entrego o meu
espírito [1].
2. Etty Hillesum, uma judia holandesa,
morta em Auschwitz, aos 28 anos,
deixou-nos um testemunho não só de um
Deus impotente e débil no mundo, mas
também de um Deus que precisa de ajuda:
“(...) Cada dia já tem a sua conta. Vou
ajudar-te, Deus, a não me abandonares,
apesar de eu não poder garantir nada com
antecedência. Mas torna-se-me cada vez
mais claro o seguinte: que tu não nos podes
ajudar, que nós é que temos de te ajudar e,
ajudando-te, ajudamos a nós próprios. E esta
é a única coisa que podemos preservar
nestes tempos e também a única que
importa: uma parte de ti em nós, Deus. E
talvez possamos ajudar a pôr-te a descoberto
nos corações atormentados de outros. (...)
Como vês trato bem de ti. (...) E se Deus não
me ajudar mais, nesse caso hei-de eu ajudar
a Deus.” [2]
Quer o testemunho de Bonhoeèer, quer o
de Etty Hillesum levantam a questão da
oração. Mostram que a oração, como diz o
Papa Francisco, não é para converter a Deus,
mas para nos convertermos ao Seu amor que
excede tudo o que poderíamos desejar e
pedir. Não é um acto de magia ou um
negócio, mas uma abertura, cada vez mais
radical, ao Seu insondável mistério.
O Evangelho já tinha atribuído a Jesus o
conselho de não multiplicarmos as nossas
palavras, como se Deus não soubesse o que
se passa connosco e com o mundo. Como diz
S. Paulo, nós não sabemos rezar. É o Espírito
que vem em auxílio da nossa fraqueza, pois
não sabemos o que havemos de pedir, para
rezarmos como deve ser; mas o próprio
Espírito intercede por nós com gemidos
inefáveis. E aquele que perscruta os corações
conhece os desejos do Espírito, pois é
segundo Deus que o Espírito intercede pelos
santos [3].
É evidente que nós não podemos abdicar
de exprimir o que sentimos, o que
desejamos, para nós e para os outros. George
Bernanos, um grande romancista católico,
insistia na necessidade da oração pessoal e
acrescentava: “Nunca obtive o que pedi, mas
saí sempre da oração transformado, mais
convertido.”
3. A expressão como se Deus não existisse
pode ter muitas interpretações e não apenas
as que referimos nesta crónica. Pode
também ser a expressão da indiferença
perante o fenómeno religioso. Os meios de
comunicação correntes fazem de conta que
Deus ou a religião não existem: não são
notícia, a não ser quando há escândalos.
É importante que a laicidade seja a regra
dos regimes políticos e que garanta a
liberdade religiosa. A religião não é um
fenómeno privado, é também um fenómeno
social de muitas faces. Daí, a importância de
meios de comunicação, como o 7Margens, a
Pastoral da Cultura, a Ecclesia, etc., que
sejam abertos ao pluralismo religioso e ao
diálogo inter-religioso.
[1] Cf. Dietrich Bonhoeèer, Resitência e
submissão. Cartas e anotações escritas na
prisão, Sinodal, 2003; cf. também Como se
Deus não existisse, Eduardo Lourenço e Luís
de França, ReÇexão Cristã, n.º 42, pp. 29-58
[2] Etty Hillesum, Diário 1941-1943, Assírio
& Alvim, 2009, pp. 251-252 e 245
[3] Rm 8, 26-27
Escreve ao domingo
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Como lidar com ditadores?
Sem fronteiras
Teresa de Sousa
O Ocidente enfrenta hoje um
desafio que, não sendo
comparável ao da Guerra
Fria, é igualmente
gigantesco
1.
No dia 23 de Maio, o mais antigo
ditador da Europa, acossado
desde Agosto de 2020 por um
movimento inédito de
contestação ao regime que lidera
há 27 anos, decidiu desviar pela
força um avião da Ryanair que descolara de
Atenas rumo a Vilnius, a capital lituana, pela
simples razão de levar a bordo um dos mais
incómodos jornalistas bielorrussos. O avião
aterrou em Minsk, o jornalista e a sua
companheira foram presos. Tudo isto em
território europeu, junto às fronteiras
exteriores da União Europeia, num voo
comercial que ligava duas das suas capitais,
num acto de pirataria aérea que violou as
invioláveis normas da aviação internacional.
O Presidente da Bielorrússia, Alexander
Lukachenko, venceu apenas umas eleições
consideradas livres, em 1994. Desde então,
este antigo chefe de uma quinta colectiva do
tempo da União Soviética perpetuou-se no
poder à custa do controlo cerrado dos
pequenos partidos da oposição, que deixou
existir, da repressão mais ou menos brutal
sobre quem ousasse fazer-lhe frente e da
manipulação descarada das seis eleições
presidenciais seguintes. Houve protestos na
sequência das eleições de 2006 e de 2010.
Nas últimas, em Agosto de 2020, a revolta da
oposição contra o que considerou uma
gigantesca fraude eleitoral arrastou consigo
uma onda de protestos inédita, mobilizando
centenas de milhares de pessoas, na sua
maioria representando uma classe média
cansada de restrições e de diÆculdades e
revoltada contra a gestão desastrosa da
pandemia — “apenas uma psicose”, nas
palavras do ditador, facilmente “tratada com
vodka”. Bolsonaro ou Trump não diriam
melhor.
A líder da oposição e candidata
presidencial, Sviatlana Tsikhanouskaya, foi
obrigada ao exílio, como tantos outros
opositores ao regime, incluindo muitos
jornalistas. O balanço da repressão nos
últimos nove meses soma-se na detenção de
cerca de 35 mil pessoas, muitas das quais
alegam ter sido torturadas. Lukachenko vedou
o acesso a mais de 70 sites informativos na
Internet, que serviram para mobilizar as
manifestações do ano passado. Não conseguiu
silenciar o blogue de notícias Nexta, difundido
através da Telegram, cujo editor era
precisamente Roman Protasevich, acusado
pelo regime de Minsk de “incitamento à
desordem pública”, que se tinha exilado na
Lituânia. Desviou o avião que o transportava.
A mensagem não podia ser mais clara, como o
próprio ditador fez questão de dizer poucos
dias depois: “Sabemos onde estão e iremos
atrás de vocês.”
Na semana passada, o jornalista apareceu
num vídeo divulgado pelo regime,
confessando todos os seus “crimes” e
dizendo-se arrependido. É arrepiante a
semelhança com os velhos procedimentos
do regime soviético, com os seus
julgamentos sumários e as conÆssões
públicas de quem se atrevia a desaÆar
Estaline, normalmente antes de ser acusado
de traição e condenado à morte.
2. A Europa e os Estados Unidos reagiram
como deviam ou como podiam. Recorreram
à única arma que tinham imediatamente ao
seu alcance: a aplicação de sanções
económicas, para além da proibição da
companhia aérea bielorrussa de cruzar o
espaço aéreo europeu. A Rússia foi, até
agora, o primeiro e único país a protestar
contra a reacção dos EUA e União Europeia.
Putin recebeu Lukachenko em Sochi, no mar
Negro, para lhe manifestar o seu apoio e lhe
emprestar (mais) 500 milhões de dólares. O
ditador bielorrusso não ousaria desaÆar a
um tal extremo as normas internacionais
sem o apoio do Presidente russo — mesmo
pagando por isso um preço. Durante muitos
anos, tentou manter alguma autonomia em
relação a Moscovo, dando sinais
intermitentes de abertura em relação à
União Europeia — em 2015, chegou a libertar
alguns presos políticos e criticou a anexação
da Crimeia. Será muito difícil, senão
impossível, fazê-lo a partir de agora. Putin
moveu mais um dos seus peões na fronteira
com a União Europeia. É ele o verdadeiro
problema da Europa e dos Estados Unidos.
Até agora, da Ucrânia à Síria, passando pela
Geórgia, Moldova ou Azerbaijão, as suas
manobras militares sucedem-se sem que
tenha sido possível uma resposta
suÆcientemente dissuasora para o travar.
REUTERS
O desvio do voo da
Ryanair com o simples
propósito de silenciar um
opositor a Lukachenko
“não é uma história que
diga apenas respeito
à Bielorrússia”
3. A Europa fez o que podia. Na verdade,
não pode muito mais. Para lidar com
Moscovo, precisa de um entendimento com
os Estados Unidos, como aconteceu em 2014,
quando Putin anexou a Crimeia e ocupou a
região ucraniana do Dombas. O conÇito
mantém-se congelado, como se mantêm as
sanções aplicadas à Rússia por Washington e
Bruxelas. De vez em quando, Putin aumenta
a pressão militar sobre a Ucrânia. Fê-lo
recentemente, com o intuito óbvio de testar
o novo Presidente americano. Na véspera do
desvio do avião da Ryanair, Moscovo
anunciou informalmente um encontro entre
Putin e o seu homólogo americano, em
Genebra, no próximo dia 16. Dois dias
depois, Washington conÆrmou oÆcialmente
a cimeira. O encontro mantém-se. Será,
certamente, um dos temas mais
intensamente discutidos, quer na cimeira do
G7 na Cornualha, a 12 e 13 de Junho, quer na
cimeira da NATO em Bruxelas, no dia 14,
destinada a assinalar a reconciliação entre os
aliados dos dois lados do Atlântico depois
dos anos turbulentos de Trump.
São enormes as expectativas para o
encontro Biden-Putin, com que termina o
primeiro périplo internacional do Presidente
americano. Biden enfrenta terreno minado.
Não pode dar o mínimo sinal de cedência às
provocações de Putin. Quer estabelecer uma
relação “estável e previsível” que lhe permita
lidar com vários dossiers fundamentais para a
Público • Domingo, 6 de Junho de 2021 • 7
segurança internacional — desde o controlo
do armamento nuclear às negociações com o
Irão, passando pela retirada do Afeganistão
ou pela Coreia do Norte. A porta-voz da Casa
Branca conÆrmou igualmente que a Ucrânia e
a Bielorrússia estão na agenda. A
Administração americana quer estabelecer
um “canal de comunicação seguro” que
permita evitar surpresas. Biden conta a seu
favor com a imensa experiência que levou
para a Casa Branca em matéria de relações
internacionais. A Putin, sobretudo para
efeitos internos, basta-lhe a realização da
própria cimeira. A sua obsessão é ser
reconhecido pelos EUA como um “igual”. A
sua “arma” é ameaçar o Ocidente com uma
aproximação cada vez maior à China.
A questão central é o que pode fazer o
Ocidente perante regimes autoritários e
ditatoriais mais ou menos poderosos, que
desaÆam abertamente a ordem internacional
sem medo de represálias.
4. O maior desaÆo estratégico que os EUA
enfrentam chama-se China. Percebe-se
porquê. A China é um gigante económico —
coisa que a Rússia actual e a União Soviética
nunca foram, pelo menos em termos relativos
— e é, cada vez mais, uma grande potência
militar e tecnológica. A sua ambição, que
deixou de esconder, é substituir os Estados
Unidos como a potência hegemónica à escala
mundial. A ascensão chinesa não é,
naturalmente, um processo linear e
irreversível. Mas é a maior ameaça, no longo
prazo, às democracias ocidentais. O regime
chinês é olhado por muitos outros regimes
autoritários como o modelo de
desenvolvimento com que sonham — o
“capitalismo leninista”, que pode permitir o
desenvolvimento sem ter de abdicar da
autocracia. A chamada “Belt and Road
Iniciative” (BRI), lançada por Xi em 2013, visa
precisamente incentivar estes (e outros)
regimes nos quatro cantos do mundo,
permitindo-lhes escapar, pelo menos em
parte, às consequências da pressão económica
do mundo desenvolvido. Lukachenko foi um
dos primeiros subscritores da BRI e a
Bielorrússia é o terceiro maior receptor do
investimento chinês.
5. O desvio do voo da Ryanair com o
simples propósito de silenciar um opositor a
Lukachenko “não é uma história que diga
apenas respeito à Bielorrússia”, escrevia
recentemente Brian Klaas, da John Hopkins,
no Washington Post. “É um teste no confronto
global entre as democracias e os regimes
autoritários e ditatoriais.” O Ocidente
enfrenta hoje um desaÆo que, não sendo
comparável ao da Guerra Fria, é igualmente
gigantesco. Os EUA dispõem ainda de
vantagens signiÆcativas, entre as quais está a
vasta rede de alianças permanentes que
construíram e que Biden está a renovar
depois dos danos provocados por Trump. É
talvez esta a sua arma mais dissuasora. Como
a NATO foi nos anos da Guerra Fria. Desde
que os seus aliados estejam dispostos a fazer a
sua parte. Em particular, os europeus.
Jornalista. Escreve ao domingo
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8 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021
Política Líder cessante defende que PAN continue a ser “partido de charneira”
André Silva sai
e deixa caderno
de encargos
Congresso elege hoje Inês de Sousa Real
como nova porta-voz, que promete um
partido mais plural
Maria Lopes, São José Almeida
Foi um adeus com uma ovação de
dois minutos aquele que André Silva
recebeu do congresso no Ænal de um
discurso de meia hora em que per-
correu a história do PAN e as con-
quistas nestes seis anos de presença
na Assembleia da República, e ao
longo do qual deixou indicações
sobre as rotas e bandeiras que o par-
tido deve continuar a seguir.
“É importante que o PAN mante-
nha uma atitude que, sendo constru-
tiva, não se deixa acantonar à esquer-
da ou à direita e não renuncia à sua
autonomia para agradar a pretensos
patrões políticos”, apontou o porta-
voz do partido que deixa hoje o car-
go. Mais: deve continuar a ser um
“partido de charneira”, capaz de
“construir pontes” e não se transfor-
mar em mais um do “sistema”, nem
normalizar o discurso ou deixar cor-
romper as suas linhas programáticas,
que são “maiores do que qualquer
gaveta ideológica”.
A par dos avisos, André Silva con-
Æa que o partido manterá todas as
condições para continuar a ser “dife-
renciador, autónomo e progressis-
ta”. Para isso, depois das diversas
batalhas ganhas nestes seis anos (e
vitórias devidamente assinaladas
pelo líder), o partido tem de conti-
nuar a agitar bandeiras como a da
transparência nos cargos e vida
pública (como contraponto a um
“PSD apático e uma esquerda cola-
boracionista”), o combate à corrup-
Este tema em números
1294
Filiados De acordo com
informação disponibilizada pelo
partido à agência Lusa, o Pessoas-
Animais-Natureza conta
actualmente com 1294 militantes.
A “maioria” dos filiados é “do
género feminino e tem entre 30 e
50 anos”.
ção, a luta contra os subsídios de 500
milhões de euros anuais ao sector
energético, contra a legislação que
permite as estufas na costa vicentina
e a cultura superintensiva no Alen-
tejo e Algarve, contra o aeroporto no
Montijo e ainda contra o “baronato
da caça”. A estas somou ainda a des-
cida do IVA para 13% para os actos
médico-veterinários e a redução de
impostos para a classe média.
Estava marcado o território em
que o PAN se deve continuar a con-
centrar, depois de André Silva ter
passeado pelos largos caminhos que
o partido abriu nestes anos, desde o
combate às touradas — “a tauroma-
quia faz tanta falta à cultura portu-
guesa como um acordeão a um fune-
ral”, ironizou — aos novos direitos
para os animais (no estatuto jurídico,
no acesso a espaços públicos, no Æm
dos abates ou da sua utilização em
circos).
Mas o líder, que ontem se despe-
diu do partido admitindo que tam-
bém aprendeu com os erros que
cometeu, procurou mostrar que o André Silva apenas se dirigiu ao congresso na manhã de ontem (e nem sequer foi eleito delegado)
PAN é mais do que a causa animal,
enumerando outras políticas que de alteração aos estatutos —, a tarde sectoriais, como a acção política da uma ida do PAN para o governo teria
viram a luz do dia também pela sua foi o passo em frente: Inês de Sousa área dos animais (por exemplo, com de ser avaliada “consoante a matemá-
mão, da adopção plena à procriação Real, que há dias teve um acidente a consagração constitucional do bem- tica parlamentar e a conjuntura”.
medicamente assistida, à taxa do numa acção do partido, na serra de estar animal), a educação, o sistema Coube a Bebiana Cunha, líder da
carbono na aviação, passando pela Carnaxide, subiu ao palco para vincar político, o combate à corrupção ou o distrital do Porto, que passa a ser a
proibição do glifosato, a opção vege- que os dez anos do PAN provam que partido nas regiões autónomas. número dois do partido e será a natu-
tariana nas cantinas e a proibição da este, aÆnal, “não era um epifenóme- Questionada depois pelos jornalis- ral sucessora de Sousa Real na lide-
passagem directa da banca para o no” e para apresentar aos 134 delega- tas, a futura líder do PAN garantiu que rança da bancada parlamentar, fazer
Banco de Portugal. dos os traços gerais da sua moção não irá candidatar-se a nenhuma uma intervenção em que apostou na
Se a manhã foi de André Silva — e estratégica, deixando para os restan- câmara nas autárquicas e sobre um ideia de que este é o congresso da
de discussão sobre as três propostas tes elementos da lista as questões cenário de legislativas admitiu que renovação e da união (ela que até foi
2011
Fundação Legalizado pelo
3,32%
Legislativas Oito anos depois da
3
Limitação de mandatos André
Tribunal Constitucional a 13 de fundação, e já com André Silva na Silva esteve sete anos na
Janeiro de 2011, o PAN concorreu liderança, o PAN conseguiu eleger liderança do PAN, mas a partir
pela primeira vez a eleições um grupo parlamentar com deste congresso, os mandatos
legislativas nesse mesmo ano, quatro deputados (uma deputada dos futuros líderes ficarão
tendo conseguido 1,04% (57.849 haveria de sair meses depois da limitados a três eleições ou seis
votos). O primeiro líder foi Paulo eleição). Nesse ano, 2019, obteve anos, no total (há eleições de dois
Borges. 3,32% dos votos (174.511). em dois anos).
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dada como possível concorrente à
liderança), de onde sairá um partido
em que o “debate será mais plural”.
Mas também lhe coube a função de
criticar o Governo pelas políticas na
agricultura e no ambiente.
Nem tudo foram louvores à direc-
ção do partido. Ouviram-se críticas
ao apoio do PAN à candidatura pre-
sidencial de Ana Gomes e à falta de
auscultação das estruturas regionais
25
Moções Os delegados levaram ao
congresso 25 moções sectoriais e
alguns são primeiros subscritores
de mais do que uma. Inês Sousa
Real, por exemplo, apresentou
uma moção sectorial sobre o rio
Tejo e uma estratégica com as
prioridades da sua liderança.
RUI GAUDÊNCIO
Liderança do PAN
com limitação de
mandatos
O
PAN vai passar a ter uma
juventude partidária e o
líder poderá cumprir
apenas três mandatos
consecutivos. Estas são
algumas das alterações aos
estatutos aprovadas ontem
com 103 votos e propostas
pela futura líder, Inês de Sousa
Real. Já a proposta B, de
Carolina Almeida, obteve
apenas dois votos. E a A, de
Luís Teixeira, teve 12 votos.
Esta última proposta tinha,
entre outras alterações, a
proibição de que existam
familiares nos órgãos de
direcção. Este tema originou
os momentos mais quentes da
manhã (a regra impediria, por
exemplo, que a deputada
Bebiana Cunha e o seu marido,
Albano Pires, integrassem a
comissão política, como
acontece actualmente), mas
depois de algum debate, a
regra foi chumbada.
Nas alterações aprovadas
fica determinado que
comissão política passará a
integrar, por inerência, um
representante de todas as
distritais, outro da juventude e
um por cada região autónoma,
que agora também ganharam
estatuto autónomo.
São também criados um
conselho nacional consultivo,
uma secretaria nacional
permanente e um conselho
disciplinar. Fica ainda limitada
a 25% a percentagem de
na questão. E, apesar de Inês de Sou- funcionários que podem fazer
sa Real querer criar a Juventude PAN parte da comissão política
(com nome a deÆnir) ainda este ano, nacional. As distritais passam a
houve uma delegada de Viseu que ser órgãos com funções
apontou a incoerência de a nova organizativas e têm o dever de
direcção não ter pessoas com menos apoiar as concelhias, às quais
de 30 anos e recusou a colocação dos fica reservado o trabalho
jovens em “gavetinhas políticas político. As concelhias passam
como a Jota”, vincando que esta também a eleger os delegados
organização tem de ter peso dentro ao congresso. S.J.A.
do partido.
0
Eurodeputados Nas eleições
europeias de 2019, o partido
elegeu um deputado para o
Parlamento Europeu: Francisco
Guerreiro. Meses depois, o
deputado desfiliou-se do PAN,
mas manteve o mandato, ficando
o partido sem eleitos em Bruxelas.
Público • Domingo, 6 de Junho de 2021 • 9
O que quer o PAN
Fim dos exames e da NATO,
rações animais 100% vegetais
Sónia Sapage
Os temas das 25 moções sectoriais —
sem contar com a moção estratégica
de Inês de Sousa Real — levadas ao
congresso do PAN mostram que o
partido está longe de se limitar ao
lado animalista por que Æcou conhe-
cido em 2015. Mas os animais ainda
estão no centro nas preocupações.
A Europa é um tema referido ape-
nas numa moção: a A (por Nuno Car-
doso Silva), que propõe uma nova
organização europeia; o “desmante-
lamento da NATO”; e a “não partici-
pação da Europa em alianças milita-
res de qualquer espécie”.
Embora contenha em si a preocu-
pação com o combate à abstenção, a
moção B ( José Pedro Sousa) defende
que ainda não há segurança para se
avançar com o voto electrónico.
A moção C (Mónica Silva) propõe a
criação de um grupo de trabalho no
PAN para estudar os rios, fazer dia-
gnósticos e propostas. Um rio em
concreto também é o tema da moção
sectorial M (Inês de Sousa Real), que
defende a candidatura do Tejo a Patri-
mónio Mundial da UNESCO.
Na D (Paulo Vieira de Castro), pro-
põem-se mudanças legislativas que
permitam a abertura “ao real exercí-
cio” em Portugal da banca ética e das
Ænanças solidárias.
Contra “a dicotomia já gasta entre
esquerda e direita”, a moção E (André
Neves) quer que o PAN reaÆrme “o
seu estatuto de partido progressista”.
E a F (Durval Salema) acrescenta que
o partido deve “assumir a sua matriz
ecocentrista”.
O foco da moção H (André Vidal),
é o bem-estar de animais em situação
de sem-abrigo. Quanto à moção X
(Vasco Reis), ela aborda a alimentação
dos animais de companhia e nela se
propõe que as rações passem a ser
100% de origem vegetal. Já a T
(Andrea Domingues) e a U (Bianca
Santos) voltam ao tema dos animais
para proporem, respectivamente, a
189
Lotação A sala do Hotel dos
Templários, em Tomar, onde
decorre o congresso do PAN, tem
capacidade para 600 pessoas.
Contudo, de acordo com o
partido, a sua lotação foi fixada
em 189, de modo a cumprir as
regras de segurança sanitária.
Inês de Sousa Real também
entregou uma moção sectorial
regulamentação das actividades assis-
tidas por animais (terapias, por exem-
plo) e o lançamento de um programa
abrangente de esterilização. Bianca
Santos também subscreve a moção Y,
dedicada à simpliÆcação da adopção
de animais de pecuária.
As moções I, J, K e L (Rafael Pinto)
dedicam-se a vários temas, da refor-
ma do sistema de ensino ao Æm dos
estágios remunerados de longa dura-
ção. E as N, O, P, Q e R (Vítor Lima)
tratam da obrigatoriedade de prestar
auxílio animal em caso de atropela-
mento e a promoção de fraldas reuti-
lizáveis, entre outros assuntos.
A “criação de uma estrutura que se
responsabilize pelas questões
LGBTI+” é a proposta da moção sec-
torial S (António Soares). A V (Rodrigo
Reis) defende a “abolição dos exames
de 9.º e 12.º anos e pretende dar auto-
nomia às universidades para recruta-
rem os seus futuros alunos.
Na W (Saul Rosa) é defendido que
o ácido perÇuorooctanóico seja bani-
do da indústria alimentar. E na moção
Z (Albano Lemos Pires) abordam-se
os custos da corrupção ilegal, mas
também da legal.
134
Delegados Foram eleitos 134
delegados para participarem no
VIII Congresso do
Pessoas-Animais-Natureza e
André Silva não é um deles. Dos
134, 123 votaram a favor da
proposta de alteração aos
estatutos da futura direcção.
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10 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021
Sociedade Covid-19
“Morte e hospitalização
de casos graves de
pessoas vacinadas é
extremamente rara”
Luís Graça A vacinação dos adolescentes é um assunto “que
deve ser ponderado por especialistas em ética”, defende o
imunologista membro da comissão de peritos da DGS
Entrevista
Alexandra Campos Texto
Daniel Rocha Fotografia
Mais de cinco meses após o
arranque da campanha de
vacinação contra a covid-19, o
professor de Imunologia da
Faculdade de Medicina da
Universidade de Lisboa Luís Graça
explica por que razão é que o plano
inicial foi sofrendo alterações e por
que motivo é que a Comissão
Técnica de Vacinação da
Direcção-Geral de Saúde, que
integra, não deÆniu logo no início
que o critério principal devia ser o
da idade. À crítica do coordenador
da task force para o plano de
vacinação, que alertou para um
eventual “desperdício” de mais de
3 milhões de doses da vacina da
Janssen devido à restrição etária,
Luís Graça retorque que “vão
sempre sobrar vacinas”.
Que balanço faz da campanha
de vacinação?
Já estamos a sentir o impacto da
vacinação na protecção da saúde
das pessoas. Temos dados cada vez
mais robustos que indicam que a
morte e a hospitalização de casos
graves de pessoas vacinadas é
extremamente rara. Antes da
vacinação, os surtos em lares
provocavam internamentos e
mortalidade elevada. Agora,
quando há surtos em lares, a maior
parte são casos assintomáticos e os
sintomáticos têm doença ligeira
que nem motiva, habitualmente,
internamento hospitalar. Isto é
uma demonstração clara de que no
grupo de pessoas mais vulneráveis
as vacinas são extremamente
eÆcazes a evitar doença grave e
morte. Em termos da transmissão,
os dados são cada vez mais sólidos
e indicam que as vacinas a
reduzem muito signiÆcativamente,
mas não a evitam totalmente.
Por que razão a comissão
técnica da DGS não decidiu,
logo no início, que o critério
principal devia ser o da idade?
Há três factores que são muito
importantes na deÆnição da
estratégia de vacinação. Um deles
é a quantidade de vacinas.
Havendo uma quantidade limitada
de vacinas disponíveis, mesmo
dentro de alguns grupos etários
temos de ir à procura de
subgrupos em que o risco é muito
mais signiÆcativo. Em Portugal, os
que corriam risco mais
signiÆcativo, independentemente
da idade, eram os residentes em
lares, que representavam uma
percentagem muito pequena da
população — 1% ou 2% —, mas
correspondiam a 30% da
mortalidade global por covid. Este
era um subgrupo dentro das
pessoas mais idosas que precisava
de ser vacinado antes. Outros
factores importantes são o risco
de complicações graves da doença
e também o estado epidémico do
país. Numa altura em que o
número de vacinas é muito
limitado, importa perceber quais
são os diferentes grupos que vão
contribuir para a mortalidade e
para a utilização dos cuidados de
saúde. Nessa perspectiva, foi
fundamental vacinar também
pessoas com um grupo reduzido
de doenças que, no seu conjunto,
tinham uma mortalidade
equivalente à das mais idosas e
contribuíam signiÆcativamente
para a pressão nos cuidados de
saúde, nomeadamente nos
cuidados intensivos.
A comissão técnica tem feito
recomendações que por vezes
são mal recebidas pelo
coordenador da task force. O
vice-almirante Henrique
Gouveia e Melo questionou, por
exemplo, aquilo que designou
como a estratégia de vacinar
por “grupinhos”. Há um
conflito entre os peritos e o
coordenador?
Não me parece que haja. Todas as
pessoas envolvidas neste processo
querem, genuinamente, a melhor
solução possível.
O coordenador disse que
vacinar por “grupinhos”
afectava a velocidade da
campanha.
Estamos absolutamente de acordo
em que tem de haver um
ajustamento da estratégia, tendo
em conta o volume de vacinas
disponíveis. A partir do momento
em que número de vacinas
aumentou muito, a estratégia
também teve de mudar. Não há
aqui um desacordo.
Houve muitas mudanças no
plano de vacinação — por
exemplo, a hipertensão foi
retirada da lista de doenças
prioritárias, enquanto a
diabetes se manteve. Porquê?
A hipertensão está habitualmente baixo e, se fosse a única vacina
relacionada com a idade. Havendo disponível, até poderia fazer
um processo rápido de vacinação, sentido pesar o risco-benefício e
é mais eÆcaz vacinar por idade do continuar a utilizá-la. Agora, numa
que tentar identiÆcar as pessoas situação em que há alternativas,
com hipertensão. apesar de o risco ser baixo, é
Para muitas pessoas é difícil Numa situação em aceitável sujeitar as pessoas a esse
compreender a razão de tantas
alterações. Veja-se o caso da
que há [vacinas] risco quando há alternativas?
Tendo em conta que os
AstraZeneca. Começou por ser alternativas, problemas identificados são
recomendada apenas abaixo de
65 anos, depois só acima dos 60
apesar de o risco semelhantes, por que motivo é
que a vacina da Janssen deve ser
anos. Mas a Agência Europeia ser baixo, é administrada apenas aos
de Medicamentos (EMA)
continua a dizer que os
aceitável sujeitar maiores de 50 anos?
As decisões sobre as restrições
benefícios superam os riscos. as pessoas a esse etárias são baseadas em dados dos
A EMA avalia os medicamentos de
uma maneira isolada. Avalia cada
risco? efeitos adversos observados em
diferentes idades. O risco das
um como se só existisse aquele pessoas sujeitas à vacina da
medicamento para tratar aquela
doença e calcula o risco-benefício
Portugal AstraZeneca foi observado
sobretudo abaixo dos 50 anos e um
para esse medicamento. As encomendou 33 pouco mais entre os 50 e os 60
autoridades de Saúde de
diferentes países têm de avaliar,
milhões de doses anos. Acima dos 60 anos, não era
signiÆcativo. Isso é que fez com que
no seu contexto especíÆco, o de vacinas, o que alguns países colocassem a
risco-benefício daquele
medicamento, que pode depender
signiÄca que fronteira dos limites de idade nos
60, 55 anos, alguns até abaixo dos
de vários factores. Um deles é a vamos sempre ter 50 anos e há aqui uma variação
existência de medicamentos
alternativos. Um país que só tenha
vacinas que não com base na avaliação do
risco-benefício. No caso especíÆco
a vacina da AstraZeneca vão ser utilizadas da Janssen, como o risco
provavelmente vai ter de tomar observado entre os 50 e os 60 anos
decisões diferentes das de outros era consideravelmente mais baixo
países. Claro que o risco é muito do que o observado na da
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AstraZeneca, por uma questão de
coerência [considerou-se] que faria
sentido colocar esse limite aí.
O coordenador da task force
disse que se corre o risco de
desperdiçar 3,6 milhões de
doses da vacina da Janssen por
causa desta restrição etária.
Portugal encomendou 33 milhões
de doses de vacinas, o que signiÆca
que vamos sempre ter vacinas que
não vão ser utilizadas.
Independentemente da estratégia,
vão sempre sobrar vacinas. A
grande maioria da população mais
vulnerável já está coberta pela
vacinação. Se forem utilizadas as
vacinas da Janssen, vão sobrar
vacinas de outra marca que serão
utilizadas mais tarde, se for
necessário revacinar pessoas.
Estas vacinas protegem contra
as novas variantes?
A melhor maneira de vermos a
eÆcácia é com a observação do
número de casos que surgem
quando as pessoas são vacinadas.
Há dados da variante Delta, a
indiana, sabemos que outras
também são problemáticas,
nomeadamente a da África do Sul.
As vacinas têm uma menor
capacidade de protecção, mas
continuam a conferir protecção
Público • Domingo, 6 de Junho de 2021 • 11
signiÆcativa para todas as
variantes. Saiu um artigo esta
semana que demonstra algo que já
suspeitávamos, e que prova que as
variantes conseguem invadir a
protecção conferida pelos
anticorpos, mas têm muita
diÆculdade em fugir à protecção
que é conferida pela imunidade
celular e esta é a mais importante
para nos proteger contra a doença
grave e morte. Os anticorpos não
podem ser vistos como o
resultado, são a ponta do
icebergue que é mais fácil de
medir.
Concorda com a vacinação dos
adolescentes?
O ECDC acaba de publicar um
documento em que diz que
primeiro justiÆca-se que sejam
vacinados os adolescentes que têm
condições médicas que fazem com
que tenham um risco de doença
elevado. Um adolescente com
trissomia 21, por exemplo, deve ser
vacinado. Quanto àqueles que não
têm razões médicas que tornem o
risco elevado, o que o ECDC
sugere é que não é claro o
risco-benefício da vacinação para o
próprio. Pode é haver um benefício
para evitar a disseminação na
comunidade. A outra coisa que o
publico.pt/aovivo
Três mortos e mais
casos em Lisboa
P
ortugal registou na
sexta-feira três mortes por
covid-19 e 573 casos de
infecção. Os dados
divulgados ontem pela
Direcção-Geral da Saúde (DGS)
mostram que há 265 pessoas
internadas nos hospitais
portugueses (menos duas) das
quais 52 nos cuidados intensivos
(menos duas). Há a reportar mais
681 casos de recuperados da
infecção, num total de 811.640
pessoas recuperadas da doença
desde o início da pandemia.
Feitas as contas, há menos 111
casos activos, o que significa
que 23.362 portugueses ainda
lidam com a doença. Das três
O clube de leitura dos jornais
vítimas mortais uma tinha mais PÚBLICO e Folha de São Paulo.
de 80 anos e duas entre 70 e 79
anos. A maior parte dos novos
casos foi registada na região de
Lisboa e Vale do Tejo (334, ou
seja, 58,2%) e no Norte (120, ou
seja, 20,9%). O centro
contabilizou mais 65 infecções,
o Alentejo cinco e o Algarve 16.
A Madeira registou 11 novos
casos e os Açores 22. O
indicador R(t) — índice de
transmissibilidade — situa-se em
1,08 em termos nacionais e em
1,10 no continente. A taxa de
incidência a 14 dias está agora
nos 69,8 casos por 100 mil
habitantes. Sofia Neves
TERÇA-FEIRA, 8 DE JUNHO,
ECDC salienta é que, antes de se 22H (18H NO BRASIL)
passar para a vacinação de grupos Isabel Coutinho
em que o benefício para o próprio
é muito baixo, se deve considerar a e Úrsula Passos
questão da equidade das vacinas. E conduzem um
questiona se é aceitável estar a
vacinar pessoas em que o risco é encontro entre
muito baixo, quando isso pode pôr Afonso Reis Cabral
em causa o acesso a vacinas de
pessoas em que o risco é muito
e os seus leitores.
alto. É um assunto muito Em destaque,
importante e que deve ser a obra
ponderado por especialistas em
ética. Deixa de ser uma questão Pão de Açúcar
técnica para passar a ser uma
questão ética. Participe por Zoom
Uma pessoa vacinada deve usar na reunião com
máscara e ficar em isolamento, a ID 912 9667 0245.
se tiver um contacto de risco? A senha de acesso
Isso é algo que está a ser é 547272.
continuamente avaliado e revisto
de acordo com a evidência que vai
surgindo. Sabe-se que a vacinação
reduz a probabilidade de estar
infectado e de transmitir a
infecção, mas não elimina esse
risco; por isso, numa situação em
que há muito poucas pessoas
vacinadas e muita população
susceptível, é prudente que as
pessoas vacinadas usem máscara.
A partir do momento em que esta
situação se inverta há necessidade
de aferir estas estratégias.
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12 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021
Sociedade A história do eco resort da Zambujeira
O sonho de um
conde, dinheiro
alheio e uma
falência duvidosa
Zmar
O eco resort de
Odemira que
entrou nas bocas
do país por causa
da requisição civil
a que foi sujeito
H
Mariana Oliveira
avia ingredientes suÆcientes
para tornar esta história um
conto de fadas do século
XXI: um conde com um
sonho e um apelido sonan-
te; muitos amigos podero-
sos a ajudar; um banco de portas
abertas e uma herdade com poten-
cial turístico, junto ao Parque Natural
em Änais de Abril do Sudoeste Alentejano e Costa
Vicentina.
tem uma história A história podia ter tido um Ænal
tortuosa, que feliz, mas a realidade teimou em
estragar a Æcção e a 10 de Março des-
esbarra muitas te ano uma sentença do tribunal de
Odemira veio determinar a insol-
vezes no apelido vência da Multiparques a Céu Aber-
Espírito Santo. O to, a empresa que gere o ZMar. O
desenlace aconteceu a pedido do
PÚBLICO principal credor da sociedade, a
Ares Lusitani, uma Ærma controlada
desvenda os pelo fundo norte-americano
Kohlberg Kravis Roberts (KKR), o
empréstimos, as “papão” desta história.
dívidas e as Não foi, contudo, esse facto que
veio pôr o eco resort nas bocas do
licenças que o mundo. Essa proeza é atribuída ao
Governo, que a 29 de Abril decretou
complexo tem e uma requisição civil sobre as cerca
as que nunca teve de 260 casas de madeira do empreen-
dimento. A justiÆcação, explicava o
despacho assinado pelo primeiro-
ministro, António Costa, e pelo
ministro da Administração Interna,
Eduardo Cabrita, era proteger “a
saúde pública na contenção e miti-
gação da pandemia no município de
Odemira e nos municípios limítrofes,
mediante a alocação do espaço à
realização do conÆnamento obriga-
tório e do isolamento proÆláctico”.
Na realidade não foi isso que acon-
teceu. No empreendimento foram
realojados migrantes que não esta-
vam infectados, nem tinham tido
contacto com o vírus, mas viviam em
locais sem condições de salubridade
que foram identiÆcados nas múlti-
plas acções de Æscalização que as
autoridades levaram a cabo face ao
agravamento da pandemia no maior
concelho do país. E, apesar dos pro-
testos de alguns dos donos das casas
que integram o ZMar (160 das cerca
260 habitações de madeira são de
privados, que possuem apenas o
bungalow, um bem móvel não sujei-
to a registo), que até interpuseram
um procedimento cautelar, a situa-
ção manteve-se até Ænal de Maio.
Nessa altura havia 43 migrantes a
residir no local, pessoas que ali deve-
rão Æcar pelo menos até Ænal de
Junho — já não devido à requisição
civil, mas com base num acordo assi-
nado esta semana entre a Multipar-
ques e o Turismo de Portugal, que
vai render mais de 200 mil euros à
empresa.
A terra de Joaquim Montes
Mas recuemos a Maio de 2006, altu-
ra em que foi constituída a Multipar-
ques, nessa altura uma sociedade
anónima com esse nome e um capi-
tal social de 100.001 euros que tinha
como objecto “instalação, explora-
ção, gestão, administração e consul-
tadoria de parques de campismo,
caravanismo, autocaravanismo e
outros locais de alojamento de curta
duração”. A empresa estava igual-
mente habilitada a fazer loteamento
e urbanização de terrenos, bem
como promoção imobiliária.
O primeiro administrador foi Joa-
quim Maria Montes, um sargento-
mor cujo pai fora rendeiro da Herda-
de A-de-Mateus, onde Æca o ZMar.
Quando saiu do Exército, Joaquim
Montes seguiu as pisadas do pai,
como o próprio, hoje com 89 anos,
conta ao PÚBLICO.
Mais tarde, acabou por comprar a
herdade, onde ainda detém cinco
hectares e meio com uma plantação
de medronheiros e a casa principal
do monte encravada dentro dos 81
hectares do ZMar, uma área equiva-
lente a mais de 75 campos de futebol.
A propriedade é um terreno misto,
a maior parte rústico e a outra urba-
na, mas que atravessa zonas ecologi-
camente sensíveis, onde a constru-
ção é muito limitada.
Joaquim Montes já não se recorda
se constituiu a empresa a pedido do
“sr. Melo Breyner e da dra. Ana Bru-
no” com quem negociou a venda. A
referência leva-nos ao protagonista
desta história. Trata-se de Francisco
Manuel Espírito Santo Silva de Melo
Breyner, hoje com 69 anos, sétimo
conde de Mafra, o homem que idea-
lizou e deu corpo ao eco resort.
“É o fruto de um sonho do Fran-
cisco Melo Breyner, em cujo altar
sacriÆcou os seus últimos 15 anos, a
sua saúde, e até a casa que herdou
dos seus antepassados”, escreveu o
seu advogado, da sociedade de Ana
Bruno, na infrutífera oposição ao
pedido de insolvência.
Bisneto do patriarca da única
dinastia de banqueiros portugueses,
José Maria do Espírito Santo e Silva
— o empreendedor que esteve na
origem do que viria a ser o grupo e
Banco Espírito Santo (BES) —, Fran-
cisco Melo Breyner estava numa
situação privilegiada para concreti-
zar o sonho. Tinha acesso ao banco
da família, então liderado pelo seu
segundo primo Ricardo Salgado. O
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BES e um grupo de sócios, “amigos”,
contou o próprio ao PÚBLICO, em
Maio de 2009, umas semanas antes
de o complexo se inaugurar, Ænan-
ciaram um investimento que então
contabilizava em mais de 25 milhões
de euros. Mas as informações reco-
lhidas pelo PÚBLICO no âmbito dos
processos de insolvência da Multi-
parques e também da Cravex, uma
sociedade anónima detida por Melo
Breyner e a principal accionista da
Multiparques, apontam para pelo
menos 40 milhões investidos ao lon-
go dos anos.
Só em empréstimos ao BES foram
pelo menos 32 milhões de euros, um
de 22 milhões em Agosto de 2008,
outro de 2,8 em Julho de 2009 e
outro feito à mesma instituição, mas
através da Cravex. Quando esta últi-
ma sociedade foi declarada insolven-
te, em Novembro de 2017, tinha em
dívida, já ao Novo Banco, 7,4 milhões.
Além disso, houve um empréstimo
de três milhões ao Turismo de Por-
tugal e perto de seis milhões pagos
pelos fundos do Quadro de Referên-
cia Estratégico Nacional (QREN).
A venda
Mas regressemos ao negócio de Joa-
quim Montes. O octogenário conta
que vendeu os 81 hectares por um
DANIEL ROCHA
valor exacto de que não se recorda,
mas que situa “entre dois e três
milhões de euros”. Em Junho de
2007, dois anos antes da abertura do
ZMar, a Multiparques passou a ter
como administradora única a advo-
gada Ana Bruno. Joaquim Monte,
que também lidou com ela durante
as negociações da venda, não sabe a
que título intervinha. “Não sei se era
só advogada [de Francisco Melo
Breyner], se era intermediária ou se
era dona”, admite Joaquim Monte.
A questão torna-se mais pertinen-
te vista a partir do que se sabe hoje
sobre esta advogada que em 2004
fundara uma sociedade com o seu
nome, que hoje apresenta como uma
“boutique jurídica” com “departa-
mentos de acompanhamento” para
jurisdições como Angola, Moçambi-
que, Emirados Árabes Unidos e
[O ZMar] é o fruto de Macau.
O nome de Ana Bruno aparece
um sonho do associado a vários investimentos
Francisco Melo angolanos em Portugal e de forma
particular ao empresário Álvaro
Breyner, em cujo Sobrinho, que liderou o BES Angola.
A advogada seria sócia de Sobrinho
altar sacrificou os e do empresário luso-angolano Hél-
der Bataglia, ambos envolvidos em
seus últimos 15 vários processos-crime, na Akoya,
anos, a sua saúde, e uma gestora de fortunas suíça, que
surge no meio de um alegado esque-
até a casa que ma de fraude ao Æsco e da qual Ricar-
do Salgado seria cliente.
herdou dos seus Só em Março de 2009, com a fusão
da Multiparques e da A Céu Aberto,
antepassados Campismo e Caravanismo em Par-
ques, Lda, é que surge pela primeira
Oposição ao pedido de vez o nome de Francisco Melo
insolvência entregue pelos Breyner na administração da nova
advogados de Francisco Melo Multiparques a Céu Aberto, mostram
Breyner os registos públicos.
Ana Bruno mantém-se na adminis-
tração e na teia surge um outro nome
com um apelido sonante, Rita Bata-
glia, Ælha de Hélder Bataglia, o fun-
dador da Escom que foi acusado de
Público • Domingo, 6 de Junho de 2021 • 13
dez crimes na Operação Marquês. O
empresário viu o juiz Ivo Rosa arqui-
var-lhe o caso, uma decisão que ain-
da poderá ser revista, se o Tribunal
da Relação de Lisboa vier dar razão
ao recurso do Ministério Público.
O PÚBLICO tentou perceber, sem
sucesso, junto de Ana Bruno que
interesses representava Rita Bataglia
na administração, na qual permane-
ceu até Março de 2012. Antes já con-
tactara Francisco Melo Breyner, que
optou por não prestar declarações,
justiÆcando a opção com a visibilida-
de a que tem estado sujeito o eco
resort que fundou e do qual perdeu
o controlo em Março passado. Não
foi a única perda que o conde conta-
biliza.
O princípio do pesadelo
O fundo norte-americano KKR e a LX
Investment Partners compraram em
Ænais de 2018 ao Novo Banco uma
carteira de créditos que este consi-
derava de cobrança difícil. A cartei-
ra, que Æcou conhecida como Project
Nata, envolvia 102 mil contratos [de
crédito] com um valor total de 2150
milhões de euros. Entre eles estavam
os empréstimos feitos pela Multipar-
ques e pela Cravex, este último com
uma hipoteca sobre a Casa dos Bons
Ares, um palacete na Quinta do Peru,
em Azeitão, onde Francisco Melo
Breyner vivia.
Com a insolvência da Cravex a casa
passou para as mãos da Ares Lusita-
ni, a mesma empresa que pediu
recentemente que o ideólogo do
ZMar fosse condenado por insolvên-
cia culposa da Multiparques. A tal
não serão alheias várias “surpresas’’
que têm sido desvendadas pelo pro-
cesso de insolvência. O licenciamen-
to do eco resort é uma delas.
Além de a licença como parque
de campismo, a única que possui,
ter caducado em Dezembro de 2019,
JOSÉ FERNANDES
a maior parte das 260 casas de
madeira que integram o empreen-
dimento turístico nunca foram
legalizadas. Isso mesmo revelou
ao PÚBLICO a autarquia, após a
insistência do jornal no esclareci-
mento desta questão.
“O Recape [Relatório de Confor-
midade do Projecto de Execução
com a Declaração de Impacte
Ambiental] aprovou a instalação
de 98 unidades complementares
de alojamento”, refere uma res-
posta escrita enviada ao PÚBLICO,
que cita o presidente da Câmara
Municipal de Odemira, José Alber-
to Guerreiro.
No pedido de declaração de
insolvência da Multiparques, a Ares
Lusitani alegava que Francisco
Melo Breyner utilizava fundos da
empresa para suportar despesas da
sua esfera pessoal. A juíza que
decretou a insolvência não deu isso
como provado. Contudo, o mesmo
não aconteceu com o rendimento
mensal do conde, que apesar de
ocupar um cargo de oÆcialmente
não remunerado, “encontra-se a
ser remunerado, no valor mensal
bruto de €10.947,00 ( já com IVA)
através de uma sociedade detida
pelos Ælhos, a Fredipai”, lê-se na
decisão.
O sonho de Francisco Melo
Breyner parece querer agora trans-
formar-se num pesadelo. Nada que
surpreenda, visto que a Cravex,
cujo principal activo era deter 57%
da Multiparques, somou um total
de 11 milhões de euros em dívidas
e a própria empresa que gere o
ZMar pelo menos outros 58
milhões. O sétimo conde de Mafra
só pode ter estranhado a demora.
É que o próprio reconheceu no tri-
bunal de Odemira que não pagava
há sete ou oito anos os emprésti-
mos ao Novo Banco.
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14 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021
Mundo Conƍito israelo-palestiniano
Apoio dos palestinianos ao Hamas
cresce depois da ofensiva israelita
A convicção de que a Autoridade Palestiniana esteve ausente da resposta aos ataques de Israel contra
a Faixa de Gaza afundou ainda mais a popularidade de Mahmoud Abbas na Cisjordânia
Griff Witte, Sufian Taha
As paredes degradadas do campo
refugiados de Al-Amari na Cisjordâ-
nia contam a história das lealdades
políticas dos palestinianos que aqui
vivem. O rosto sorridente de Yasser
Arafat com um keffiyeh na cabeça. As
bandeiras amarelas, com espingardas
desenhadas, do seu movimento. Os
nomes, a negro, dos que morreram
ao seu serviço.
Durante décadas, Al-Amari foi um
bastião da Fatah, o partido secular e
nacionalista que promoveu a diplo-
macia como resposta ao conÇito
israelo-palestiniano. Porém, recente-
mente, o quadro do campo mudou:
bandeiras verdes estão à entrada e
graffiti decoram as paredes com uma
única palavra — Hamas.
“Eles deram força a toda a causa
palestiniana”, diz Mohammed Kha-
dier, de 16 anos, enquanto os amigos
concordam de forma entusiástica.
“Consideramos o Hamas o nosso
líder agora.”
Durante 11 dias no mês passado,
Israel lançou uma ofensiva punitiva
contra alvos do Hamas na Faixa de
Gaza, destruindo túneis, fazendo
explodir arsenais e matando comba-
tentes. Mas, no meio de tudo isso, o
Hamas continuou a disparar mais de
quatro mil rockets contra Israel, ater-
rorizando os habitantes de Telavive
e de outras cidades. Morreram 232
palestinianos, incluindo 65 crianças,
e uma dezena de israelitas, entre os
quais duas crianças.
Esse episódio granjeou ao Hamas
uma nova admiração entre os pales-
tinianos, não apenas em Gaza, onde
está no poder, mas também, de for-
ma crucial, na Cisjordânia, onde
Israel, os EUA e os seus arqui-inimi-
gos da Fatah tentam há muito tempo
proibir o grupo islamista de operar.
Apesar da proibição, os palestinianos
desÆlaram com bandeiras do Hamas
e entoaram cânticos durante mani-
festações em todos os territórios ocu-
pados no mês passado — cenas inédi-
tas nos últimos anos.
Abbas em queda
O crescimento da popularidade do
Hamas foi acompanhado pelo des-
crédito da Autoridade Palestiniana,
cujo presidente, Mahmoud Abbas, foi
amplamente criticado, mesmo entre
companheiros da Fatah, pela sua res-
posta tímida aos ataques israelitas.
Politicamente, “o grande perdedor
O Hamas saiu reforçado do
conflito com os israelitas e não
foi só na Faixa de Gaza, onde éa
força dominante, mas também
na Cisjordânia. Em baixo,
protesto em Jerusalém
O crescimento
da popularidade
do Hamas foi
acompanhdo pelo
descrédito da AP
liderada por Abbas
MOHAMAD TOROKMAN/REUTERS
é a Autoridade Palestiniana, sem
dúvida”, diz o director do think-tank
Mundo Árabe para a Investigação e
Desenvolvimento, Nader Said-Foqa-
haa, que faz estudos de opinião entre
os palestinianos. As forças israelitas
podem ter-se concentrado em Gaza,
mas “todos estes ataques são, na ver-
dade, contra Abbas”.
Essa dinâmica ameaça complicar
ainda mais as tentativas da Adminis-
tração Biden para voltar a ter contac-
tos com a Autoridade Palestiniana,
depois de quatro anos em que foi
ignorada pela Administração Trump.
O secretário de Estado, Antony
Blinken, visitou as instalações da
MOHAMMED SALEM/REUTERS
Autoridade Palestiniana em Ramallah
no mês passado e disse estar compro-
metido em fortalecer o Governo de
Abbas, através de ajuda humanitária
e da reabertura do consulado em
Jerusalém que trata de assuntos
palestinianos. Os EUA também aÆr-
maram que procuram contornar o
Hamas no apoio à reconstrução de
Gaza.
A luta entre a Autoridade Palesti-
niana liderada pela Fatah, que gover-
na parte da Cisjordânia, e o Hamas
tem sido uma barreira duradoura à
resolução do conÇito israelo-pales-
tiniano. Embora Israel o negue, os
analistas dizem que o Governo de
direita do país aprecia esta situação
e reconhece que o conÇito com o
Hamas pode prejudicar a posição da
Autoridade Palestiniana nas negocia-
ções. Isso é conveniente para os líde-
res israelitas que há muito tempo se
mostram hostis aos esforços diplo-
máticos que poderiam vir a confron-
tar o país com escolhas difíceis e, no
futuro, dar origem a um Estado
palestiniano.
O primeiro-ministro israelita, Ben-
jamin Netanyahu, acredita que “se o
Hamas representasse os palestinia-
nos, seria muito mais fácil para Israel
dizer ‘Não vamos negociar com o
terrorismo’”, diz o director do Insti-
tuto para Estudos de Segurança
Nacional da Universidade de Telavi-
ve, Amos Yadlin.
Mesmo antes dos confrontos
recentes, Abbas já se mostrava enfra-
quecido. O herdeiro de Arafat, de 85
anos, prometeu marcar eleições pre-
sidenciais e legislativas este ano, as
primeiras desde 2006, mas em Abril
acabou por as adiar indeÆnidamente.
Apesar de ter justiÆcado o adiamento
com a incerteza sobre se Israel iria
permitir que o votação decorresse
em Jerusalém Oriental, poucos acre-
ditaram nisso.
“Muito simplesmente, as eleições
iriam signiÆcar uma derrota”, diz
Nasser al-Kidwa, um dirigente da
Fatah que se afastou de Abbas no iní-
cio do ano e é seu adversário político.
Kidwa, que é sobrinho de Arafat, diz
ter dedicado a sua vida proÆssional
à Fatah e à causa de um Estado pales-
tiniano democrático. Todavia, des-
creve a Cisjordânia sob o governo da
Autoridade Palestiniana como uma
autocracia em que há pouco escrutí-
nio interno ao poder de Abbas, mes-
mo que, em última instância, o pre-
sidente esteja dependente de Israel
para exercer autoridade.
No seu escritório em Ramallah, o
dirigente diz que, sobretudo depois
do conÇito do mês passado, conse-
gue perceber por que os palestinia-
nos começaram a procurar outras
soluções, especialmente junto do
Hamas. “Foi um confronto entre
Israel e o povo palestiniano do qual
a Autoridade Palestiniana e a Fatah
estiveram ausentes”, disse.
Osama Qawasma, porta-voz da
Fatah e conselheiro de Abbas, reco-
nheceu que os palestinianos deseja-
vam uma resposta mais forte do que
aquela que o presidente sentia poder
dar. “As pessoas estão muito zanga-
das com Israel, querem mais resis-
tência”, aÆrmou.
Mas Abbas está vinculado a acor-
dos internacionais, ao contrário do
Hamas, que o obrigam a não optar
pela violência e a administrar parte
da Cisjordânia sob seu controlo, mes-
mo perante uma ocupação israelita
que dura há mais de meio século.
Poucas vezes como agora este equi-
líbrio foi tão difícil de alcançar. “Uma
intifada pode acontecer a qualquer
momento. A Cisjordânia está numa
situação muito perigosa”, alerta
Qawasma.
Exclusivo PÚBLICO/
The Washington Post
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Impunidade de Pazuello gera preocupação
com a estabilidade democrática no Brasil
João Ruela Ribeiro
O general e ex-ministro
participou num acto de
apoio a Bolsonaro, mas
chefia do Exército não viu
qualquer irregularidade
Há mais uma crise entre o Governo
de Jair Bolsonaro e as Forças Arma-
das, desta vez por causa do ex-minis-
tro da Saúde Eduardo Pazuello,
general do Exército no activo. Na
semana passada, o Alto Comando
decidiu ignorar a presença de Pazuel-
lo numa manifestação de apoio a
Bolsonaro, apesar de constituir uma
aparente violação do estatuto da cor-
poração que proíbe a participação
de militares no activo em acções
públicas de cariz político.
Em causa está a participação de
Pazuello numa concentração de
motards no Rio de Janeiro a 23 de
Maio, que, na prática, funcionou
com uma enorme manifestação de
apoio a Bolsonaro. O Presidente dis-
cursou num palanque perante os
seus apoiantes e chamou Pazuello
para o seu lado, onde este dedicou
algumas palavras à multidão. “Eu
não ia perder esse passeio de moto
de jeito nenhum, estamos juntos”,
aÆrmou o ex-ministro junto ao chefe
de Estado.
Ao contrário de muitos militares
com assento em cargos governamen-
tais, Pazuello não estava na reserva e
quando saiu do Governo voltou a ser
um general no activo. Foi nessa qua-
lidade que participou no encontro
com os motards e, por isso, foi aberto
um processo para averiguar se houve
uma violação das regras das Forças
Armadas que proíbem “quaisquer
manifestações colectivas, tanto sobre
actos superiores quanto as de carác-
ter reivindicatório ou político”.
No entanto, de forma surpreen-
dente, o Exército decidiu não apli-
car qualquer tipo de punição a
Pazuello que podia ir de uma sim-
ples advertência até a uma suspen-
são. De acordo com o comunicado
do Alto Comando, “não restou
caracterizada a prática de transgres-
são disciplinar por parte do general
Pazuello esteve
cerca de dez
meses à frente do
Ministério da
Saúde e depois
voltou a ser
general no activo
Pazuello”, pelo que foi decidido
arquivar o processo.
A tese do ex-ministro foi a de apre-
sentar a concentração de motards
como um acto sem cariz político,
tanto por Bolsonaro não estar Æliado
em nenhum partido, como por não
ter ocorrido durante o período oÆ#
Público • Domingo, 6 de Junho de 2021 • 15
cial de campanha eleitoral, segundo
a Folha de S. Paulo.
A ausência de punição para Pazuel-
lo foi recebida com muita preocupa-
ção por vários sectores, que a enca-
raram como uma submissão do
Exército a Bolsonaro. O próprio vice-
presidente, Hamilton Mourão, gene-
ral na reserva, disse antes da decisão
que a possibilidade de se disciplinar
o ex-ministro seria importante para
“evitar que a anarquia se instale den-
tro das Forças Armadas”. Já depois
do arquivamento, Mourão rejeitou
comentar a decisão do comandante
do Exército, Paulo Sérgio Oliveira.
O ex-ministro da Defesa Celso
Amorim considerou “muito grave”
a decisão do Alto Comando do Exér-
cito que qualiÆcou como “a mais
grave ameaça directa à democracia
desde o Governo militar”, em entre-
vista ao El País Brasil. Em causa,
segundo vários observadores, está
também o exemplo dado às restantes
Mundo
corporações militarizadas brasilei-
ras, como a Polícia Militar, tradicio-
nalmente menos disciplinada em
termos institucionais do que as For-
ças Armadas.
São comuns, por exemplo, as gre-
ves promovidas por agentes da PM
— que legalmente não o podem fazer
— por melhorias salariais. No ano
passado, o Ceará viveu dias de gran-
de tensão e caos por causa de um
episódio desse género.
O receio de muitos sectores políti-
cos e sociais é a possível radicaliza-
ção de parte considerável das polí-
cias num quadro de ruptura institu-
cional promovida por Bolsonaro no
futuro. “Tradicionalmente são muito
violentas e muito despreparadas, e
estão a tornar-se a guarda pessoal do
bolsonarismo, dando demonstra-
ções de violência e brutalidade con-
tra opositores de Bolsonaro”, obser-
va, citado pelo El País Brasil, o histo-
riador Carlos Fico.
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16 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021
Mundo
Peru joga a sua governabilidade
em presidenciais imprevisíveis
João Ruela Ribeiro
A segunda volta das
presidenciais é disputada
por Keiko Fujimori, filha do
antigo ditador, e pelo
sindicalista Pedro Castillo
Profundamente divididos, os perua-
nos escolhem hoje o próximo Presi-
dente da República, que terá como
principal missão superar a enorme
polarização que tem imperado na
sociedade. Se a campanha que ante-
cedeu esta segunda volta serve de
termómetro, o mais provável é que o
ambiente de crise se mantenha inde-
pendentemente de quem venha a
ocupar a Casa de Pizarro.
Em disputa estão dois candidatos
que representam visões amplamente
opostas quanto ao modelo económi-
co que melhor serve o Peru. Nas vés-
peras das eleições, o escritor Mario
Vargas Llosa, vestindo a pele de orá-
culo da política nacional que tanto lhe
apraz, foi taxativo: “Não vamos esco-
lher pessoas, vamos optar por um
sistema.”
Aos peruanos a escolha que se lhes
apresenta é entre Keiko Fujimori,
expoente da direita e Ælha do antigo
ditador Alberto Fujimori, e o sindica-
lista de esquerda e professor do ensi-
no primário Pedro Castillo, inespera-
do vencedor da primeira volta reali-
zada em Abril. A passagem dos dois
candidatos à segunda volta surpreen-
deu a generalidade dos analistas, mas
o elevado número de candidaturas e
um sentimento amplo de rejeição de
nomes da classe política tradicional
ajudam a explicar o sucedido.
“Era claro desde o início que havia
uma polarização entre a mudança e
o imobilismo”, diz ao PÚBLICO o ana-
lista Juan de la Puente, que chama a
atenção para a “sub-representação”
presente nas duas escolhas para Pre-
sidente — em conjunto, os dois reco-
lheram apenas 26% dos votos na pri-
meira volta. À direita e à esquerda,
ninguém parece completamente
satisfeito com o candidato que repre-
senta o seu campo político respectivo
e, por isso, as campanhas foram mar-
cadas por um forte tom negativo.
Para a elite política e económica
peruana, sobretudo radicada em
Lima, apoiar uma candidata como
Fujimori, envolvida em inúmeros
casos de corrupção e para quem o
Ministério Público pediu uma pena
de 30 anos de prisão, tem sido um
sapo difícil de engolir. No entanto, o
receio de eleger alguém com um per-
Æl tão radical como Castillo parece ser
a grande força eleitoral de Fujimori,
que se candidata pela terceira vez à
presidência.
Castillo, por seu turno, está longe
de representar uma esquerda moder-
na e progressista, mas o seu carisma
e discurso simples e directo têm sido
muito bem recebidos nas províncias,
fora da capital. “Ideologicamente é
conservador pela sua origem, mas,
não obstante, resume uma exigência
de mudança substantiva de modelo
económico, responsável por grandes
problemas históricos no Peru”, resu-
me De la Puente.
O sindicalista tem sido alvo frequen-
te de uma tradição com lastro na polí-
tica peruana conhecida como “terru-
queo”, que consiste em amalgamar
qualquer candidato de esquerda com
movimentos terroristas de inspiração
marxista. Esta táctica foi especialmen-
te aproveitada por Alberto Fujimori,
que soube usar a ameaça do Sendero
Luminoso, o grupo terrorista comu-
nista que assombrou o Peru entre os
anos 1960 e 1990, para impor um regi-
me autoritário responsável por inú-
meras violações de direitos humanos.
Há duas semanas, um atentado em
que 16 pessoas foram executadas
numa zona remota do país atribuído
a um grupo dissidente do Sendero
Luminoso foi rapidamente associado
a Castillo, por exemplo.
A campanha tem sido muito dura,
especialmente do lado dos apoiantes
de Fujimori que, mais do que defen-
der os méritos da sua candidata, têm
agitado todos os fantasmas que
assombram a direita, desde o “terro-
rismo comunista” ao perigo da reac-
ção dos mercados até à tradicional
previsão de que, com Castillo, o Peru
será uma nova Venezuela. Por estes
dias, em Lima, há cartazes com men-
sagens como “O comunismo gera
miséria e pobreza” ou “Protege o teu
trabalho e liberdade, diz não ao
comunismo”, descreve o El País.
Muitos destes slogans estão alicer-
çados na convicção de que Castillo é
um radical de esquerda que quer
eternizar-se no poder, à semelhança
do chavismo na Venezuela ou de
Rafael Correa no vizinho Equador. A
fonte dos receios é o neurocirurgião
que estudou e viveu em Cuba, Vladi-
mir Cerrón, líder do Peru Livre, o
partido que apoia Castillo, e que
é assumidamente marxista e
tem um discurso mais radical
do que o candidato presiden-
cial. De la Puente não acredita
que Cerrón seja inÇuente
num futuro executivo
liderado por Castillo,
lembrando que no
Peru os presidentes
eleitos não costu-
Comício final de Keko Fujimori na capital peruana
Forças Armadas garantem não-intervenção
T
alvez por ser uma das
eleições mais polarizadas da
História recente, a
campanha eleitoral para a
segunda volta das presidenciais
peruanas ficou marcada por
uma circulação de notícias falsas
sem precedentes. A situação
tornou-se tão grave que o
Ministério da Defesa se viu
obrigado a demarcar-se de
mensagens com teor golpista
que foram difundidas nos
últimos dias. Nelas, havia a
sugestão de que as Forças
Armadas deveriam intervir na
sequência dos resultados
eleitorais. Segundo o
ministério, as
mensagens “fazem
referência a supostas
SEBASTIAN CASTANEDA/REUTERS
medidas que seriam tomadas
pelas Forças Armadas depois
das eleições ou em que são
convocados os seus membros a
assumir determinadas posições
políticas”. Durante a campanha
também foram divulgadas
inúmeras suspeitas de que as
eleições poderiam ser
fraudulentas. O chefe da missão
de observadores da Organização
de Estados Americanos, Rubén
Ramírez, manifestou o seu apoio
às autoridades eleitorais
“perante os recentes ataques
que procuram minar a confiança
no processo em curso”. O
Presidente interino, Francisco
Sagasti (na fotografia), pediu o
respeito “escrupuloso” pelos
resultados eleitorais.
mam governar com as equipas que os
acompanham enquanto candida-
tos.
A evolução das sondagens apresen-
ta um quadro de grande indeÆnição.
A vantagem inicial de Castillo foi-se
reduzindo ao longo das semanas, e
hoje a margem que o separa de Fuji-
mori é ínÆma.
Uma eleição, dois países
Apesar da agressividade da campa-
nha, o analista faz notar que os dois
candidatos se moderaram — Fujimo-
ri reconheceu ter existido corrupção
durante o governo do pai, por exem-
plo —, mas isso não indica que a pola-
rização possa vir a ser ultrapassada.
“A única maneira de superar esta
polarização é aceitar que o Peru deve
promover um processo de mudança,
talvez ordeiro, negociado, mas inevi-
tável”, diz De la Puente.
A necessidade de mudança surge
num país destroçado a vários níveis.
A pandemia deixou mais de 185 mil
mortos no Peru, o país com maior
número de vítimas mortais decorren-
tes da covid-19 no planeta em termos
proporcionais. No ano passado, a
economia contraiu-se mais de 11%,
uma das quedas mais acentuadas no
mundo, agravando ainda mais as
desigualdades que já eram problemá-
ticas. Na zona metropolitana da capi-
tal, Lima, perdeu-se um terço dos
empregos e a fome voltou a ser uma
ameaça para milhões de famílias.
Pelo meio, às crises sanitária e eco-
nómica juntou-se a prolongada crise
política que culminou com um perío-
do alucinante no Ænal de 2020, em
que três presidentes se sucederam
em menos de uma semana. Tudo isto
está a tornar o Peru num país ingover-
nável e cada vez mais dividido.
Na primeira volta, a convivência de
dois países dentro das mesmas fron-
teiras Æcou patente. Fujimori venceu
confortavelmente em Lima e entre as
classes mais altas, e Castillo Æcou com
os votos dos mais pobres e das pro-
víncias. De la Puente fala de Lima
como uma cidade “cercada por votos
contrários e contestatários”.
É possível que hoje em jogo esteja
muito mais que a simples eleição de
um chefe de Estado no Peru. Depois
de anos de pressão sobre o sistema
político, e com a camada adicional do
desastre humano e económico deixa-
da pela pandemia, o próximo Presi-
dente terá muito provavelmente um
dos trabalhos menos desejados no
planeta. “A ideia de que o Peru deve
organizar uma governabilidade que
inclua a mudança está presente,
ganhe quem se lhe opõe ou quem o
deseja”, assinala De la Puente.
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18 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021

Mundo

Força de López Obrador no México medida

nas urnas no meio da violência
CARLOS LOPEZ/EPA

João Ruela Ribeiro

Os mexicanos escolhem
nova Câmara dos
Deputados, governos locais
e autarcas, mas as atenções
estão no Presidente
As eleições de hoje no México apre-
sentam uma dimensão inédita, com
escolhas para a Câmara de Deputados
e para mais de 20 mil cargos nos
governos locais e municipais. Mas
este exercício democrático está a ser
ofuscado pela onda de violência con-
tra políticos e candidatos, que se salda
em dezenas de mortos, perante a pas-
sividade das autoridades.
A utilização de coletes à prova de
bala passou a ser obrigatória para
vários candidatos, sobretudo a nível
local, sobre os quais pendem vários
tipos de ameaças. Um simples cum-
primento na rua, bem-vindo para
qualquer candidato em campanha
em circunstâncias normais, é algo
que assusta Guillermo Valencia, can-
didato do Partido Revolucionário
Institucional (PRI, conservador) ao
município de Morelia, no estado de
Michoacán, um dos mais violentos do
país. Na noite de 8 de Maio, um grupo
de homens armados disparou contra
o seu autocarro de campanha, mas
Valencia não se encontrava no inte-
rior. Dois assessores Æcaram feridos. Edifício da comissão eleitoral mexicana no estado de Chiapas que foi atacada e incendiada na sexta-feira
A violência nas vésperas de actos
eleitorais no México não é algo de com a hegemonia dos partidos con- habitual para um chefe de Estado a A favor de Obrador está também a partes não parece ser superior à sua
novo: em 2018, foram assassinados servadores tradicionais que governa- meio do mandato, e as sondagens incapacidade da oposição conserva- força isolada. As sondagens indicam
46 candidatos. Este ano, foi registado ram o México até ali: o PRI e o Partido indicam que o seu Movimento Rege- dora em reagir ao desaire de 2018, em que os três partidos não devem con-
o homicídio de 91 políticos, entre os de Acção Nacional (PAN). neração Nacional (Morena) será o que se viu arredada do poder pela seguir ir além de 160 deputados na
quais 36 candidatos, de acordo com Os indicadores não ajudam a defen- partido mais votado e, em conjunto primeira vez em décadas. A vitória de câmara baixa do Congresso.
a consultora Etellekt. Foram também der a governação de “AMLO”, que viu com os seus aliados, deverá manter “AMLO” foi motivada por um enorme Apesar de não estar nos boletins de
contabilizadas 782 agressões, incluin- a insegurança urbana subir e, mais uma confortável maioria de esquerda descrédito em que os partidos tradi- voto, “AMLO” é um dos focos princi-
do ameaças de morte, o que levou recentemente, encabeçou uma res- na Câmara dos Deputados. cionais como o PRI e o PAN haviam pais de interesse do eleitorado. Os
mais de uma dezena de candidatos a posta desastrada à pandemia. Com Para “AMLO”, manter a maioria é caído, mergulhados em escândalos analistas vêem o Presidente como um
abandonarem a corrida eleitoral por mais de 228 mil mortos, o México é o uma questão fundamental para levar de corrupção e incapazes de fazer fenómeno mediático e político que já
temerem pela sua vida, segundo o El quarto país do mundo com maior a cabo os seus ambiciosos planos que frente ao problema da insegurança. atingiu uma dimensão superior à do
País. número de óbitos, embora muitos pretendem operar uma “transforma- “Desde 2018 que podemos dizer seu partido. O discurso que lhe per-
O ambiente de violência tem sido estudos apontem para uma grande ção” histórica no México, comparável que a oposição no México está desa- mitiu arrebatar a presidência em
desvalorizado pelo Presidente, subnotiÆcação. apenas à Revolução Mexicana. parecida ou quase invisível, muito 2018, muito baseado num messianis-
Andrés Manuel López Obrador Apesar de tudo, Obrador chega ao As sondagens também indicam que débil, muito fragmentada ou perdida. mo e num constante ataque às elites
(conhecido como “AMLO”), que pre- primeiro grande teste eleitoral à sua o Morena poderá aumentar signiÆca- Adjectivos não faltam”, diz à BBC o políticas, mantém-se mesmo no
fere acusar os meios de comunicação “revolução” com razões para estar tivamente o seu poder ao nível local, consultor de comunicação Luis Anto- poder.
de “ampliÆcarem” o assunto e de conÆante. A sua taxa de aprovação com previsões que apontam para nio Espino. As “mañaneras” que instituiu — lon-
serem “sensacionalistas”. está nuns invejáveis 59%, algo pouco vitórias em sete estados entre os 15 Para tentar combater a consolida- gas conferências de imprensa mati-
A violência tem tocado todos os que vão a eleições e que se juntam aos ção da hegemonia do Morena, os nais — tornaram-se um veículo pode-
partidos, mas dois quartos dos assas- seis onde já está no governo. partidos tradicionais decidiram pôr roso para marcar a actualidade, mas
sinados pertencem à oposição dos
Para Obrador, Este provável sucesso do Morena e de parte as suas diferenças e as déca- é o carisma e o pouco cuidado em
governos estaduais e municipais. manter a maioria de “AMLO” tem deixado os analistas das de rivalidade e montaram uma temperar as suas posições públicas
estupefactos. Uma razão apontada é coligação unida apenas pelo desejo que parecem melhor explicar a atrac-
Referendo a “AMLO” parlamentar é a aceleração da vacinação contra a de se opor a “AMLO” que conta ainda ção que “AMLO” causa. “É um pouco
As eleições intercalares para a Câma- fundamental para covid-19 no México, onde um quarto com o Partido da Revolução Demo- como a eleição de [Donald] Trump”,
ra dos Deputados estão a ser encara- da população já recebeu pelo menos crática (PRD), de centro-esquerda. disse ao Financial Times o professor
das como um referendo à primeira
levar a cabo os uma dose. O progresso contrasta com No entanto, para além de ser criti- de Ciência Política Joy Langston. “Não
metade do mandato de Obrador, elei- seus ambiciosos a resposta inicial das autoridades à cada por se tratar de uma coligação interessa se o Presidente é mau, há
to em 2018 para revolucionar a polí- crise sanitária, tendo siso lentas a negativa e com profundas divergên- sempre gente que literalmente o vai
tica mexicana, desde logo rompendo
planos reformistas impor medidas de conÆnamento. cias ideológicas entre si, a soma das adorar, faça ele o que Æzer.”

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Eleições na Saxónia-Anhalt
podem trazer dificuldades
à CDU e aos Verdes alemães
Maria João Guimarães
Alternativa para a
Alemanha está em segundo
lugar na maioria das
sondagens no estado
federado do Leste do país
Depois de dois anos em que esteve
claramente em declínio, o partido
nacionalista Alternativa para a Ale-
manha (AfD) prepara-se para se con-
gratular com um bom resultado nas
eleições no estado da Saxónia-Anhalt
(no Leste, capital Magdeburgo), com
as sondagens a projectarem para o
partido um resultado semelhante ao
das eleições de há quatro anos, quan-
do obteve 24,2% dos votos.
Em ano de legislativas, todas as
votações são dissecadas com maior
atenção e a da Saxónia-Anhalt não é
excepção, ainda mais sendo a última
antes das nacionais a 26 de Setem-
bro. A possibilidade de um primeiro
lugar da AfD fez redobrar a atenção,
já que, a acontecer, seria a primeira
vez que o partido era o mais votado
num estado federado.
A hipótese é dada não pelo seu
crescimento, mas por uma descida
do partido mais votado, a CDU (União
Democrata Cristã, o partido da chan-
celer, Angela Merkel) — e não daria lhe
daria qualquer hipótese de governar,
já que não é o partido mais votado
que o faz, mas sim aquele capaz de
conseguir uma coligação maioritária,
e nenhum dos outros partidos pon-
dera uma aliança com a AfD, à volta
do qual há um cordão sanitário.
Mas um resultado melhor da AfD do
que da CDU seria, além de simbólico,
um potencial problema para o minis-
tro-presidente do estado, Reiner Hase-
loè, da CDU, porque dependendo da
votação dos outros partidos, poderia
negar-lhe a possibilidade de manter a
actual coligação, com o Partido Social-
Democrata (SPD) e os Verdes.
Apenas uma sondagem, do Insa
para o diário de grande circulação
Bild, mostrava a AfD em primeiro,
com 26%, e a CDU em segundo, com
25%, mas foi o suÆciente para criar
apreensão, embora muitos comen-
tadores apontassem que todas as
outras sondagens mostravam a CDU
à frente. E na última semana previam
ainda que a coligação poderia conti-
nuar. Isto, porque, não havendo pos-
sibilidades de uma coligação maiori-
tária, a CDU poderia ver-se na neces-
sidade de incluir o partido Die Linke
(A Esquerda) numa coligação, o que
nunca aconteceu até agora.
Todavia, foi precisamente numa
Público • Domingo, 6 de Junho de 2021 • 19
Comício de encerramento da campanha da AfD na Saxónia-Anhalt
eleição regional que a CDU, ao não
querer eleger um ministro-presiden-
te da Esquerda, formação política que
tem antigos responsáveis do antigo
partido único da RDA nos seus qua-
dros, acabou por votar no mesmo
candidato que a AfD. O caso da Turín-
gia foi considerado tão grave que o
candidato eleito com os votos da AfD,
o liberal democrata Thomas Kemme-
rich, se demitiu em 24h e, após as
eleições seguintes, a CDU absteve-se,
permitindo a tomada de posse de
Bodo Ramelow, da Esquerda. A crise
levou à demissão da então líder da
CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer,
pela desobediência da estrutura local
A eleição também
traz problemas
para os Verdes,
deixando clara
a sua fragilidade
no Leste do país
da CDU às suas directivas de não votar
no mesmo sentido que a AfD.
O problema é que muitos elemen-
tos da CDU em alguns destes estados
do Leste gostariam de poder colabo-
rar com a AfD. O professor jubilado
da Universidade de Magdeburgo
Wolfgang Renzsch estima, segundo
a revista britânica The Economist,
que um terço dos deputados da Saxó-
nia-Anhalt preferia ver o cordão sani-
tário rompido: a coligação com SPD
e Verdes é algo estranho para muitos
democratas-cristãos.
Esta eleição não traz problemas
apenas para a CDU, mas também
para os Verdes, deixando mais clara
a sua fragilidade no Leste do país.
Apesar dos enormes problemas
Mundo
ANNEGRET HILSE/REUTERS
Estado
da União
Em tempo de presidência portuguesa,
os desafios presentes e futuros do
projecto europeu.
Quinzenalmente no PÚBLICO
e em publico.pt/estado-da-união
ambientais que levaram muitos ale- publico.pt/estado-da-uniao
mães do Leste ao activismo para
reformas na então RDA (República
Democrática Alemã), o cosmopolitis-
mo dos Verdes e a sua luta pela des-
carbonização assusta muitos e nos
estados da antiga RDA têm muitas
vezes resultados mais baixos do que
na parte ocidental. Na Saxónia-Anhalt
têm entre 9% e 12%, quando nas son-
dagens a nível nacional para as elei-
ções legislativas estão entre 21% e 24%
(nas legislativas, a CDU está à volta
dos 25% e a AfD entre 9% e 11%).
Porém, a emissora alemã Deutsche
Welle refere a hipótese de a divisão
não ser entre Leste e Oeste, mas sim
entre áreas a crescer, ou a reduzir-se:
estudos do instituto de sondagens
Infratest-Dimap mostram que os Ver-
des são mais fortes em zonas da Ale-
manha em que a população está a
aumentar (e os Verdes são o partido
mais votado em cidades do Leste
como Potsdam, Dresden ou Leipzig)
e a AfD tende a ser mais votada em
zonas em declínio demográÆco.
O líder da CDU, e candidato a
chanceler, Armin Laschet, deixou
palavras precisas em declarações à
rádio Deutschlandfunk na semana
passada: “A CDU tem de fazer o seu
papel para deixar claro que não fala-
mos com eles, não cooperamos com ESTA SEMANA
eles, não entramos numa coligação Como tornar o Erasmus
com eles.” “Não vamos cooperar mais inclusivo?"
com eles a nenhum nível”, garan-
tiu.
Este não é o único problema para
a CDU a nível nacional. Na parte oci-
dental do país, o desaÆo é sobretudo
Uma iniciativa
contrariar a subida dos Verdes e no com o apoio:
Leste, a da AfD — ou seja, os dois pólos
opostos da política alemã. Como ter
uma mensagem uniÆcada que resulte
em ambos os casos é agora o desaÆo
dos estrategos eleitorais da CDU.
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20 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021

Economia Assunto chega agora à arena parlamentar e vai sofrer atrasos

Telecomunicações: novidades sobre

Ɗdelizações só chegam depois do Verão
Processo legislativo “muito complexo” obriga a ouvir reguladores e empresas. PSD quer evitar “abusos
e rendas”, Bloco de Esquerda “acompanha muito de perto” as reivindicações da Anacom e Deco
RUI GAUDÊNCIO

Ana Brito
As Ædelizações nos contratos de tele-
comunicações vão voltar ao debate
político com a aprovação da nova Lei
das Comunicações Electrónicas, mas
não são de esperar, no imediato,
novidades num assunto que é dos
mais reclamações suscita por parte
dos consumidores e alvo frequente
de alertas dos reguladores.
Os deputados da Comissão de Eco-
nomia, Inovação, Obras Públicas e
Habitação (CEIOPH) aprovaram a
proposta socialista de criação de um
grupo de trabalho que vai chamar ao
Parlamento “os reguladores, os
representantes das empresas e dos
consumidores e o próprio Governo”
para debater a nova Lei das Comuni-
cações Electrónicas. O coordenador
do grupo, o deputado Hugo Costa,
do PS, quer começar esta leva de
audições parlamentares “assim que
possível”, mas reconhece que “será
difícil” ter o trabalho concluído antes
das férias parlamentares.
À esquerda e à direita reconhece-
se que “é um processo legislativo
complexo”, que “não pode ser apres-
sado”. Exige um estudo “muito atu-
rado”, para “construir soluções dura-
douras na defesa do consumidor e
que permitam ao mercado funcionar,
sem que se criem abusos ou rendas”,
destaca o deputado do PSD Cristóvão
Norte. “É uma tremenda responsabi-
lidade legislativa”, assume. Portugal está em situação de infracção por não ter transposto para a legislação nacional a nova directiva da UE sobre comunicações
Apesar de Portugal já estar em
incumprimento do prazo de transpo- defesa dos consumidores Deco, Isa- riscos em torno da eventual comer- mentos, por exemplo). tecto para as rescisões antecipadas e
sição da directiva europeia para a bel Pires entende que “o Governo cialização dos dados de clientes de No processo de auscultação públi- defende que, se o legislador não
legislação nacional (deveria ter sido poderia ter ido mais longe” na trans- telecomunicações. ca sobre a transposição do CECE, a mexer nos valores, então os períodos
adoptada até ao Ænal de Dezembro), posição do Código Europeu das A CNPD é uma das entidades que direcção-geral liderada por Ana Cris- de Ædelização devem ser só de 12 ou
depois de ouvir todas as entidades Comunicações Electrónicas (CECE), o Bloco quer ouvir, assim como a tina Fonseca, que funciona sob a seis meses.
que esperam ouvir, os deputados mas admite que talvez procurasse Direcção-Geral do Consumidor alçada do Ministério da Economia, já A AdC volta a alertar para a neces-
terão de digerir toda a informação e “o respaldo da Assembleia da Repú- (DGC), que já manifestou concordân- havia defendido que o diploma sidade de impedir que se perpetuem
“não é sensato apressar um trabalho blica” em mudanças para as quais cia com o princípio proposto pela pudesse incorporar, “ainda que com os contratos com as chamadas reÆ#
que é complicado”, diz Isabel Pires, os operadores levantam “muitas Anacom de deÆnir um tecto para as percentagens diferentes, a proposta delizações, recomendando que só
do Bloco de Esquerda. diÆculdades”. compensações por denúncia dos da Anacom” sobre “deÆnição um possam ocorrer se houver “disponi-
“Toda a gente esperava que a pro- Há a possibilidade de se conseguir contratos. limite máximo”. bilização subsidiada” de telemóveis
posta do Governo [que chegou aos um “maior consenso em torno de Além disso, a DGC defendia que se ou instalação de novos serviços”.
deputados em Abril] trouxesse algu- medidas que são pedidas há anos”, Poder rescindir livremente mantivessem também os períodos de Há outro assunto que a Deco con-
mas das alterações que já foram reco- disse a deputada, reconhecendo que O regulador propôs que os encargos Ædelização actualmente previstos na sidera que deve ser visto com aten-
mendadas sobre essas matérias”, a posição do PS será sempre determi- passassem a ser limitados a uma per- lei, de seis, 12 e 24 meses, quando a ção: “a possibilidade de aumentar
comenta a deputada, referindo-se ao nante nesta equação. centagem das mensalidades por proposta do Governo apenas men- preços prevista em alguns contratos”
“tema central” das Ædelizações e Segundo Isabel Pires, o Bloco pagar até ao Æm do contrato: 20% na ciona os 24 meses previstos no durante o período de Ædelização,
compensações por cessação anteci- “acompanha muito de perto” as pro- primeira metade do período de Æde- CECE. sem que o cliente possa rescindir sem
pada do contrato, que deverão moti- postas da Anacom e da Deco sobre lização e 10% na segunda metade. Os operadores defendem que este custos. Basta que o operador inclua
var o “maior número de propostas “Ædelizações e sobre protecção dos Porém, a Proposta de Lei n.º 83/XIV é o prazo habitual na Europa e que alguma cláusula que lhe permita
de alteração” dos partidos. consumidores de uma forma geral”, apenas refere que os encargos as Ædelizações trazem benefícios rever o preço (como uma actualiza-
Referindo-se às recomendações tendo ainda outras preocupações “devem ser proporcionais à vanta- para os clientes e para o investimen- ção anual indexada à inÇação), para
que nos últimos anos têm sido feitas especíÆcas com o diploma, como a gem” que tenha sido conferida ao to no sector. que isso já não constitua uma altera-
pela Anacom, Autoridade da Con- levantada pela Comissão Nacional de cliente (como a oferta da instalação Num parecer enviado à CEIOPH, a ção contratual que dá ao consumidor
corrência (AdC) e associação de Protecção de Dados (CNPD) sobre os do serviço ou do aluguer de equipa- Anacom insiste na introdução de um o direito a rescindir livremente.

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22 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021

CLASSIFICADOS Edif. Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, Tel. 21 011 10 10/20 Fax 21 011 10 30
1350-352 Lisboa
pequenosa@publico.pt
De seg a sex das 09H às 19H
Sábado 11H às 17H

<THE EASTERN CARIBBEAN SUPREME COURT>

[O SUPREMO TRIBUNAL DAS CARAÍBAS ORIENTAIS]
NO <HIGH COURT OF JUSTICE>
ILHAS VIRGENS BRITÂNICAS
DIVISÃO COMERCIAL
N.º DO PROCESSO: BVIHCM (COM) 2021/0039
NA QUESTÃO DE VIDATEL LIMITED
E NA QUESTÃO DA INSOLVENCY ACT [LEI DE INSOLVÊNCIA], 2003
CONHEÇA AS NOSSAS
ENTRE:
PT VENTURES, SGPS, S.A.
Requerente
COLECÇÕES DE FILMES E SÉRIES
-e-
VIDATEL LIMITED
Requerido
Sobre: VIDATEL LIMITED
ANUNCIA-SE pelo presente instrumento que um pedido para nomear Matthew Richardson,
de Grant Thornton (British Virgin Islands) Limited, 171 Main Street, the Barracks, 2nd Floor,
Road Town, Tortola, VG1110, British Virgin Islands e Nicholas Stuart Wood, de Grant Thornton
UK LLP, 30 Finsbury Square, London EC2P 2YU como Administradores Judiciais Conjuntos
da VIDATEL LIMITED, uma empresa com sede social em Morgan & Morgan Trust Corp. Ltd,
P.O Box 958, Pasea Estate, Road Town, Tortola, British Virgin Islands foi apresentado à Divisão
Comercial da <High Court of Justice> em 5 de março de 2021 em nome do Requerente, ao
cuidado de Maples and Calder, Kingston Chambers, 5th Floor, Ritter House, PO Box 173, Road
Town, Tortola, British Virgin Islands. O pedido será ouvido no Eastern Caribbean Supreme
Court, Commercial Division, Sakal Place, Road Town, Tortola, British Virgin Islands na quarta
feira 16 de junho de 2021 às 10 horas ou logo a seguir, quando o pedido puder ser ouvido.
Qualquer pessoa que pretenda comparecer à audiência do pedido (seja para o apoiar CENTRO
ou se opor) deve notificar a sua intenção ao Requerente ou aos advogados do mesmo em COMERCIAL
CENTRO
conformidade com os n.ºs 1 e 2 da Regra 162 das <Insolvency Rules> [Regras de Insolvência]
de 2005 até às 16 horas de terça feira, 15 de junho 2021.
COLOMBO
COMERCIAL
AVENIDA DAS ÍNDIAS
Os advogados do Requerente são <Maples and Calder, Kingston Chambers, 5th Floor, Ritter COLOMBO
(PISO 0, JUNTO
House, PO Box 173, Road Town, Tortola, British Virgin Islands, Ref: AQF/KCA/703405> A ÀAVENIDA
PRAÇA DAS ÍNDIAS
CENTRAL)
correspondência deve ser marcada para a atenção de Adrian Francis ou Akesha Adonis. (PISO 0 JUNTO
HORÁRIO:
2.ª FEIRA – DOMINGO:
Data: 04 de junho de 2021 10H – 24H
Maples and Calder
Advogados do Requerente MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010

Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes
de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social. É a única organização em
Portugal, de âmbito nacional, especificamente constituída para promover a qualidade de vida das pessoas com demência
e dos seus familiares e cuidadores. Tem cerca de dez mil associados em todo o país.
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Apoio Social
e Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade.
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial e europeu
sobre as demências, procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a Doença de Alzheimer,
promovendo o seu estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos.
Contactos:
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3 Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa
Telefones: 213 610 460 - Fax : 21 361 04 69 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Centro de Dia Prof. Doutor Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa
Telefone: 213 609 300 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim», Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia
2765-029 Estoril - Telefone: 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
Horário de Atendimento: Quartas e sextas, entre as 9h e as 13h
Núcleo do Ribatejo da Alzheimer Portugal: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31 «A, 2080-114 Almeirim
- Telefone: 243 000 087 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
Delegação Norte da Alzheimer Portugal: Centro de Dia «Memória de Mim», Rua do Farol Nascente
n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Telefone: 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
Delegação Centro da Alzheimer Portugal: Centro de Dia do Marquês, Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal - Telefone: 236 219 469 - E-mail: geral.
centro@alzheimerportugal.org
Núcleo de Aveiro: Santa Casa da Misericórdia de Aveiro, Complexo Social da Quinta da Moita - Oliveirinha 3810 Aveiro, Telefone: 234 940 480 - E-mail: geral.aveiro@alzheimerportugal.org
Delegação da Madeira da Alzheimer Portugal: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional
da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 Funchal, Telefone: 291 772 021 - Fax: 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org

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✝
ÁLVARO ROQUE
DE PINHO
CONDE DE ALTO MEARIM
Missa do Sétimo Dia
A sua Família participa que será rezada missa
por sua alma na Igreja da Boa Nova no Estoril,
na terça-feira, 8 de Junho 2021, às 19.45h.
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SELECÇÃO DE
PRODUTOS GOURMET
EDIFÍCIO
DIOGO CÃO
DOCA DE ALCÂNTARA
NORTE, LISBOA
(JUNTO AO
MUSEU DO ORIENTE)
HORÁRIO:
2.ª – 6.ª FEIRA: 9H – 19H
SÁBADO: 11H – 17H
MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010
CONVOCATÓRIA
ASSEMBLEIA DE PARTICIPANTES DO
EXPLORER III – FUNDO DE CAPITAL DE RISCO
Nos termos do Regulamento de Gestão do EXPLORER
III – Fundo de Capital de Risco (o “Fundo”), convocam-se
os titulares de unidades de participação para se reunirem
em Assembleia de Participantes, a realizar no próximo dia
28 de Junho de 2021, pelas 11:30 horas, através de meios
telemáticos, nos termos do artigo 377.º, n.º 6, alínea b) do
Código das Sociedades Comerciais, com a seguinte ordem
de trabalhos:
Ponto Um: Deliberar sobre o relatório de atividades e as
contas do exercício do Fundo, reportadas a 31 de dezembro
de 2020;
Ponto Dois: Prestação de esclarecimentos aos titulares de
unidades de participação e apreciação geral da situação do
Fundo e da política de investimentos prosseguida durante o
exercício findo em 31 de dezembro de 2020;
Ponto Três: Deliberar sobre a alteração do período de
duração do Fundo, por forma a que o mesmo passe de doze
anos e sete meses para catorze anos e um mês, passando a
sua data de termo de 31 de dezembro de 2021 para 30 de
junho de 2023, e a consequente alteração do n.º 1 do artigo
2.º do Regulamento de Gestão;
Ponto Quatro: Caso seja aprovada a proposta relativa
ao Ponto Três supra, deliberar sobre a não aplicação da
comissão de gestão entre 1 de janeiro de 2022 e 30 de junho
de 2023, com a consequente alteração do n.º 1 do artigo 16.º
do Regulamento de Gestão;
Ponto Cinco: Deliberar sobre a alteração dos homens-chave
e da consequente alteração do n.º 1 do artigo 13.º (Homem-
Chave) e do artigo 35.º (Definições) do Regulamento de
Gestão; e
Ponto Seis: Deliberar sobre a modificação do Regulamento
de Gestão para refletir as alterações de corporate governance
efetuadas ao nível da sociedade gestora para passar a
prever a existência de uma Comissão de Investimentos,
com a consequente alteração do n.º 3 d) do artigo 12.º
(Competências da Sociedade Gestora) e do artigo 35.º
(Definições) do Regulamento de Gestão.
Nos termos do disposto no artigo 20.º do Regulamento
de Gestão do Fundo, têm direito a estar presentes nas
Assembleias de Participantes, e aí discutir e votar, os titulares
de unidades de participação que disponham de, pelo menos,
um voto. A cada unidade de participação corresponde um
voto.
Considerando (i) o contexto do impacto do Covid-19 e os
deveres de proteção da saúde individual e coletiva, segurança
e isolamento daí decorrentes, (ii) as regras excecionais
relativas aos prazos de realização de Assembleias Gerais
estabelecidas no Decreto-Lei n.º 10-A/2020 de 13 de março,
conforme alterado, e (iii) o dever geral de atuar no melhor
interesse do Fundo e dos seus Participantes, promove-
se a realização da Assembleia de Participantes por meios
telemáticos, nos termos do artigo 377.º, n.º 6, alínea b) do
Código das Sociedades Comerciais, aqui aplicável ex vi o
disposto no n.º 1 do artigo 35.º da Lei 18/2015, de 4 de março.
Por forma a cumprir com os requisitos gerais do artigo
377.º, n.º 5 e particulares do artigo 377.º, n.º 6, alínea b) do
Código das Sociedades Comerciais, nomeadamente no que
diz respeito a garantir a autenticidade das declarações dos
participantes e a segurança das comunicações, a realização
da Assembleia de Participantes obedecerá às seguintes
regras:
A. Os participantes que tenham intenção de participar na
Assembleia deverão enviar confirmação de que participarão
na Assembleia de Participantes, por e-mail dirigido ao
Presidente da Mesa até dia 22 de Junho de 2021 para o
endereço explorer3@explorerinvestments.com;
B. Da mensagem deverá constar: (i) o nome do participante;
(ii) o seu endereço de e-mail, que deverá ser adicionado
à plataforma eletrónica que será usada para realização da
Assembleia de Participantes; (iii) um número telefónico, que
poderá ser alternativa ou complementarmente utilizado caso
esteja impossibilitado de utilizar a plataforma eletrónica ou
se verifiquem problemas na sua utilização; e (iv) confirmação
de que poderá aceder à plataforma Microsoft Teams ou, não
sendo possível, justificação da impossibilidade, sendo que
neste caso participará por conferência telefónica;
C. As cartas de representação dos participantes que se
queiram fazer representar na Assembleia terão de ser
recebidas na sede da Sociedade Gestora do Fundo, sita na
Avenida Eng. Duarte Pacheco, n.º 7, 7.º A, 1070-100 Lisboa,
até dia 22 de junho de 2021, solicitando-se que seja enviada
cópia digitalizada das mesmas por e-mail para o Presidente da
Mesa, para o endereço explorer3@explorerinvestments.com;
D. Da carta de representação deverá constar: (i) a indicação
do representante do participante; (ii) o endereço de e-mail
do representante do participante, que deverá ser adicionado
à plataforma eletrónica que será usada para realização da
Assembleia de Participantes; (iii) um número telefónico do
representante do participante, que poderá ser alternativa
ou complementarmente utilizado caso o participante esteja
impossibilitado de utilizar a plataforma eletrónica ou se
verifiquem problemas na sua utilização; e (iv) confirmação
de que poderá aceder à plataforma Microsoft Teams ou, não
sendo possível, justificação da impossibilidade, sendo que
neste caso participará por conferência telefónica;
E. Os membros dos órgãos sociais da Sociedade Gestora
deverão enviar confirmação de que participarão na
Assembleia de Participantes, por e-mail dirigido ao Presidente
da Mesa até dia 22 de junho de 2021 para o endereço
explorer3@explorerinvestments.com;
F. Da mensagem deverá constar: (i) o nome da pessoa e
a entidade que representa; (ii) o seu endereço de e-mail,
que deverá ser adicionado à plataforma eletrónica que será
usada para realização da Assembleia de Participantes;
(iii) um número telefónico, que poderá ser alternativa ou
complementarmente utilizado caso esteja impossibilitado de
utilizar a plataforma eletrónica ou se verifiquem problemas
na sua utilização; e (iv) confirmação de que poderá aceder
à plataforma Microsoft Teams ou, não sendo possível,
justificação da impossibilidade, sendo que neste caso
participará por conferência telefónica;
G. A plataforma eletrónica a ser usada para realização da
Assembleia de Participantes será o Microsoft Teams, estando
também disponível, alternativa ou complementarmente, a
ligação via telefónica caso a plataforma apresente problemas
de funcionamento ou não seja possível ao participante utilizá-la;
H. O acesso à plataforma Microsoft Teams e a indicação do
número telefónico alternativo de acesso, serão precedidos
de convite eletrónico via Outlook, a enviar pelo Presidente
da Mesa para cada um dos representantes dos participantes
e demais participantes na Assembleia, para o endereço
eletrónico mencionado na carta de representação e nas
mensagens dirigidas pelos demais participantes. O referido
convite será enviado até ao final do dia 24 de junho de 2021.
Os participantes que estejam impossibilitados de aceder à
plataforma Microsoft Teams acederão à reunião através do
número telefónico alternativo de acesso disponibilizado no
convite eletrónico enviado via Outlook;
I. A participação na Assembleia de Participantes será validada
também pelo Presidente da Mesa no momento do acesso à
plataforma na data e hora da reunião, i.e., às 11:30 horas do
dia 28 de junho de 2021 ou aquando do estabelecimento da
ligação telefónica (caso esta seja necessária);
J. Será da responsabilidade dos participantes na Assembleia
garantir as condições individuais necessárias ao acesso à
plataforma Microsoft Teams e à participação na Assembleia
de Participantes, nomeadamente o acesso à internet e a
instalação de uma vídeo-câmara que permita a confirmação da
identidade dos participantes na Assembleia de Participantes.
Deverão igualmente assegurar a disponibilidade via telefónica,
caso esta via tenha que ser utilizada;
K. Aos participantes na Assembleia será dada palavra, por
ordem alfabética (ou por outra ordem indicada pelo Presidente
da Mesa), para que se manifestem sobre cada um dos pontos
da Ordem de Trabalhos;
L. Sem prejuízo do exercício do direito de voto por
correspondência, a votação será manifestada oralmente por
cada um dos representantes dos participantes na Assembleia,
sendo o sentido de voto confirmado pelo Presidente da Mesa;
M. Os participantes poderão exercer o seu direito de voto
por correspondência. Os votos devem ser recebidos na
sede da Sociedade Gestora do Fundo, sita na Avenida Eng.
Duarte Pacheco, n.º 7, 7.º A, 1070-100 Lisboa, até dia 22
de junho de 2021 e enviada cópia digitalizada dos mesmos
por e-mail para o Presidente da Mesa para o endereço
explorer3@explorerinvestments.com. Os votos devem ser
assinados pelo representante legal do respetivo participante,
com a assinatura reconhecida na qualidade e confirmação da
suficiência de poderes para o ato. Os votos por correspondência
são contados para efeitos do quórum constitutivo da Assembleia
de Participantes. Os votos por correspondência valem como votos
negativos em relação a propostas de deliberação apresentadas
posteriormente à respetiva emissão. Em caso de presença de
representante do participante na Assembleia de Participantes,
consideram-se revogados os votos por correspondência por este
anteriormente emitidos;
N. A Assembleia de Participantes será gravada por forma a
permitir a elaboração fidedigna da respetiva ata e a respetiva
transcrição para o livro de atas. A ata será posteriormente
assinada pelo Presidente da Mesa e pela Secretária; e
O. A lista de presenças será enviada pelo Presidente da
Mesa por via eletrónica para cada um dos participantes e dos
representantes dos participantes, que devem posteriormente
enviar o original para a sede da Sociedade Gestora do Fundo,
sita na Avenida Eng. Duarte Pacheco, n.º 7, 7.º A, 1070-100
Lisboa, endereçando cópia digitalizada para o Presidente da
Mesa, para o endereço explorer3@explorerinvestments.com.
Atento o contexto atual, que recomenda a realização da
Assembleia de Participantes com recurso a meios telemáticos,
o texto integral das propostas e os demais elementos a que
alude o disposto no n.º 1 do artigo 289.º do Código das
Sociedades Comerciais, serão colocados à disposição dos
senhores participantes, para consulta, na sede da Sociedade
Gestora do Fundo, sita na Avenida Eng. Duarte Pacheco, n.º 7,
7.º A, 1070-100 Lisboa, dentro do respetivo prazo legal e serão
igualmente remetidos por correio eletrónico.
Lisboa, 04 de junho de 2021
O Presidente da Mesa da Assembleia de Participantes
André Luiz Gomes
Público ClassiÄcados • Domingo, 6 de Junho de 2021 • 23
CONVOCATÓRIA
ASSEMBLEIA DE PARTICIPANTES DO
EXPLORER IV – FUNDO DE CAPITAL DE RISCO
Nos termos do Regulamento de Gestão do EXPLORER IV – Fundo
de Capital de Risco (o “Fundo”), convocam-se os titulares de
unidades de participação para se reunirem em Assembleia de
Participantes, a realizar no próximo dia 28 de Junho de 2021, pelas
10:30 horas, através de meios telemáticos, nos termos do artigo
377.º, n.º 6, alínea b) do Código das Sociedades Comerciais, com
a seguinte ordem de trabalhos:
Ponto Um: Deliberar sobre o relatório de atividades e as contas do
exercício do Fundo, reportadas a 31 de dezembro de 2020;
Ponto Dois: Prestação de esclarecimentos aos titulares de
unidades de participação e apreciação geral da situação do Fundo
e da política de investimentos prosseguida durante o exercício
findo em 31 de dezembro de 2020;
Ponto Três: Deliberar sobre as distribuições e a devolução de
capital aos Participantes da Categoria C, de forma a permitir
distribuições a título de dividendos nos primeiros cinco anos após
a respetiva subscrição e a ajustar as restantes distribuições e
devolução de capital no período subsequente, com a consequente
alteração do artigo 29.º (Política de Devolução do Capital e de
Distribuição de Rendimentos do Fundo) do Regulamento de
Gestão;
Ponto Quatro: Deliberar sobre a clarificação dos direitos e deveres
inerentes às unidades de participação da Categoria C, com o
consequente aditamento do n.º 4 ao artigo 5.º-A (Unidades de
Participação da Categoria C) do Regulamento de Gestão;
Ponto Cinco: Deliberar acerca da clarificação a efetuar ao artigo
9.º, n.º 7 do Regulamento de Gestão, ajustando as remissões aí
referidas;
Ponto Seis: Deliberar sobre a modificação do Regulamento
de Gestão para refletir as alterações de corporate governance
efetuadas ao nível da sociedade gestora para passar a prever a
existência de uma Comissão de Investimentos, com a consequente
alteração do n.º 3 d) do artigo 12.º (Competências da Sociedade
Gestora) e do artigo 35.º (Definições) do Regulamento de Gestão;
Ponto Sete: Deliberar sobre a revogação do artigo 17.º (Comité de
Investimentos) do Regulamento de Gestão;
Ponto Oito: Deliberar sobre a alteração dos homem-chave e da
consequente alteração do n.º 1 do artigo 13.º (Homem-Chave) e do
artigo 35.º (Definições) do Regulamento de Gestão; e
Ponto Nove: Deliberar sobre a alteração dos números 3 e 4 do
artigo 27.º (Política de Investimentos do Fundo) do Regulamento
de Gestão, por forma a que passem a ser permitidos investimentos
no montante mínimo de €5.000.000,00 e excecionalmente de
€3.500.000,00.
Nos termos do disposto no artigo 20.º do Regulamento de
Gestão do Fundo, têm direito a estar presentes nas Assembleias
de Participantes, e aí discutir e votar, os titulares de unidades de
participação que disponham de, pelo menos, um voto. A cada
unidade de participação corresponde um voto.
Considerando (i) o contexto do impacto do Covid-19 e os deveres
de proteção da saúde individual e coletiva, segurança e isolamento
daí decorrentes, (ii) as regras excecionais relativas aos prazos de
realização de Assembleias Gerais estabelecidas no Decreto-Lei n.º
10-A/2020 de 13 de Março, conforme alterado, e (iii) o dever geral
de atuar no melhor interesse do Fundo e dos seus Participantes,
promove-se a realização da Assembleia de Participantes por meios
telemáticos, nos termos do artigo 377.º, n.º 6, alínea b) do Código
das Sociedades Comerciais, aqui aplicável ex vi o disposto no n.º 1
do artigo 35.º da Lei 18/2015, de 4 de Março.
Por forma a cumprir com os requisitos gerais do artigo 377.º, n.º
5 e particulares do artigo 377.º, n.º 6, alínea b) do Código das
Sociedades Comerciais, nomeadamente no que diz respeito a
garantir a autenticidade das declarações dos participantes e a
segurança das comunicações, a realização da Assembleia de
Participantes obedecerá às seguintes regras:
A. Os participantes que tenham intenção de participar na
Assembleia deverão enviar confirmação de que participarão na
Assembleia de Participantes, por e-mail dirigido ao Presidente
da Mesa até dia 22 de Junho de 2021 para o endereço
explorer4@explorerinvestments.com;
B. Da mensagem deverá constar: (i) o nome do participante; (ii) o
seu endereço de e-mail, que deverá ser adicionado à plataforma
eletrónica que será usada para realização da Assembleia de
Participantes; (iii) um número telefónico, que poderá ser alternativa ou
complementarmente utilizado caso esteja impossibilitado de utilizar a
plataforma eletrónica ou se verifiquem problemas na sua utilização; e
(iv) confirmação de que poderá aceder à plataforma Microsoft Teams
ou, não sendo possível, justificação da impossibilidade, sendo que
neste caso participará por conferência telefónica;
C. As cartas de representação dos participantes que se queiram
fazer representar na Assembleia terão de ser recebidas na sede
da Sociedade Gestora do Fundo, sita na Avenida Eng. Duarte
Pacheco, n.º 7, 7.º A, 1070-100 Lisboa, até dia 22 de Junho de
2021, solicitando-se que seja enviada cópia digitalizada das
mesmas por e-mail para o Presidente da Mesa, para o endereço
explorer4@explorerinvestments.com;
D. Da carta de representação deverá constar: (i) a indicação
do representante do participante; (ii) o endereço de e-mail do
representante do participante, que deverá ser adicionado à
plataforma eletrónica que será usada para realização da Assembleia
de Participantes; (iii) um número telefónico do representante do
participante, que poderá ser alternativa ou complementarmente
utilizado caso o participante esteja impossibilitado de utilizar a
plataforma eletrónica ou se verifiquem problemas na sua utilização;
e (iv) confirmação de que poderá aceder à plataforma Microsoft
Teams ou, não sendo possível, justificação da impossibilidade,
sendo que neste caso participará por conferência telefónica;
E. Os membros dos órgãos sociais da Sociedade Gestora
deverão enviar confirmação de que participarão na Assembleia de
Participantes, por e-mail dirigido ao Presidente da Mesa até dia 22 de
Junho de 2021 para o endereço explorer4@explorerinvestments.com;
F. Da mensagem deverá constar: (i) o nome da pessoa e a entidade
que representa; (ii) o seu endereço de e-mail, que deverá ser
adicionado à plataforma eletrónica que será usada para realização
da Assembleia de Participantes; (iii) um número telefónico, que
poderá ser alternativa ou complementarmente utilizado caso esteja
impossibilitado de utilizar a plataforma eletrónica ou se verifiquem
problemas na sua utilização; e (iv) confirmação de que poderá
aceder à plataforma Microsoft Teams ou, não sendo possível,
justificação da impossibilidade, sendo que neste caso participará
por conferência telefónica;
G. A plataforma eletrónica a ser usada para realização da
Assembleia de Participantes será o Microsoft Teams, estando
também disponível, alternativa ou complementarmente, a
ligação via telefónica caso a plataforma apresente problemas de
funcionamento ou não seja possível ao participante utilizá-la;
H. O acesso à plataforma Microsoft Teams e a indicação do número
telefónico alternativo de acesso, serão precedidos de convite
eletrónico via Outlook, a enviar pelo Presidente da Mesa para cada
um dos representantes dos participantes e demais participantes
na Assembleia, para o endereço eletrónico mencionado na
carta de representação e nas mensagens dirigidas pelos demais
participantes. O referido convite será enviado até ao final do dia 24
de junho de 2021. Os participantes que estejam impossibilitados de
aceder à plataforma Microsoft Teams acederão à reunião através
do número telefónico alternativo de acesso disponibilizado no
convite eletrónico enviado via Outlook;
I. A participação na Assembleia de Participantes será validada
também pelo Presidente da Mesa no momento do acesso à
plataforma na data e hora da reunião, i.e., às 10:30 horas do dia
28 de junho de 2021 ou aquando do estabelecimento da ligação
telefónica (caso esta seja necessária);
J. Será da responsabilidade dos participantes na Assembleia
garantir as condições individuais necessárias ao acesso à
plataforma Microsoft Teams e à participação na Assembleia de
Participantes, nomeadamente o acesso à internet e a instalação de
uma vídeo-câmara que permita a confirmação da identidade dos
participantes na Assembleia de Participantes. Deverão igualmente
assegurar a disponibilidade via telefónica, caso esta via tenha que
ser utilizada;
K. Aos participantes na Assembleia será dada palavra, por ordem
alfabética (ou por outra ordem indicada pelo Presidente da Mesa),
para que se manifestem sobre cada um dos pontos da Ordem de
Trabalhos;
L. Sem prejuízo do exercício do direito de voto por
correspondência, a votação será manifestada oralmente por cada
um dos representantes dos participantes na Assembleia, sendo o
sentido de voto confirmado pelo Presidente da Mesa;
M. Os participantes poderão exercer o seu direito de voto
por correspondência. Os votos devem ser recebidos na
sede da Sociedade Gestora do Fundo, sita na Avenida Eng.
Duarte Pacheco, n.º 7, 7.º A, 1070-100 Lisboa, até dia 22
de Junho de 2021 e enviada cópia digitalizada dos mesmos
por e-mail para o Presidente da Mesa para o endereço
explorer4@explorerinvestments.com. Os votos devem ser
assinados pelo representante legal do respetivo participante,
com a assinatura reconhecida na qualidade e confirmação da
suficiência de poderes para o ato. Os votos por correspondência
são contados para efeitos do quórum constitutivo da Assembleia
de Participantes. Os votos por correspondência valem como votos
negativos em relação a propostas de deliberação apresentadas
posteriormente à respetiva emissão. Em caso de presença de
representante do participante na Assembleia de Participantes,
consideram-se revogados os votos por correspondência por este
anteriormente emitidos;
N. A Assembleia de Participantes será gravada por forma a permitir
a elaboração fidedigna da respetiva ata e a respetiva transcrição
para o livro de atas. A ata será posteriormente assinada pelo
Presidente da Mesa e pela Secretária; e
O. A lista de presenças será enviada pelo Presidente da Mesa por
via eletrónica para cada um dos participantes e dos representantes
dos participantes, que devem posteriormente enviar o original
para a sede da Sociedade Gestora do Fundo, sita na Avenida
Eng. Duarte Pacheco, n.º 7, 7.º A, 1070-100 Lisboa, endereçando
cópia digitalizada para o Presidente da Mesa, para o endereço
explorer4@explorerinvestments.com.
Atento o contexto atual, que recomenda a realização da Assembleia
de Participantes com recurso a meios telemáticos, o texto integral
das propostas e os demais elementos a que alude o disposto no
n.º 1 do artigo 289.º do Código das Sociedades Comerciais, serão
colocados à disposição dos senhores participantes, para consulta,
na sede da Sociedade Gestora do Fundo, sita na Avenida Eng.
Duarte Pacheco, n.º 7, 7.º A, 1070-100 Lisboa, dentro do respetivo
prazo legal e serão igualmente remetidos por correio eletrónico.
Lisboa, 04 de junho de 2021
O Presidente da Mesa da Assembleia de Participantes
André Luiz Gomes
@jornaisPT
 Os direitos de propriedade intelectual de todos os conteúdos do Público – Comunicação Social S.A. são pertença do Público.
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24 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021
Ciência Entrou em vigor novo decreto-lei sobre protecção de espécies
Apanhar
coral-vermelho
pode valer uma
coima de cinco
milhões de euros
Decreto-lei que entrou em vigor no início
deste mês protege algumas espécies
ameaçadas no país. Veio a tempo do Dia
Mundial do Ambiente, celebrado ontem
Ana Francisca Gomes
e Teresa Firmino
A partir do início deste mês, o coral-
vermelho, os cavalos-marinhos ou os
pepinos-do-mar passam a estar pro-
tegidos em Portugal por uma legisla-
ção que proíbe a sua captura, deten-
ção ou venda, prevendo-se coimas
que podem ir dos dois mil euros aos
cinco milhões de euros. Sim, cinco
milhões de euros. Nestas coimas mais
pesadas incluem-se o coral-vermelho,
os corais-negros e os corais-duros.
O Decreto-Lei n.º 38/2021, que atri-
buiu um regime de protecção a várias
espécies de fauna e Çora, foi aprovado
pelo Conselho de Ministros a 13 de
Maio e publicado em Diário da Repú-
blica a 31 de Maio. Com a sua entrada
em vigor a 1 de Junho, passam a Æcar
protegidas algumas espécies de plan-
tas e animais que não estavam abran-
gidas por dois tratados internacionais
ratiÆcados por Portugal — a Conven-
ção Relativa à Conservação da Vida
Selvagem e dos Habitats Naturais na
Europa (ou Convenção de Berna) e a
Convenção sobre a Conservação das
Espécies Migradoras Pertencentes à
Fauna Selvagem (ou Convenção de
Bona). No preâmbulo do decreto-lei
destaca-se precisamente que agora se
“atribui um regime de protecção a
algumas espécies não abrangidas
pelos anexos das convenções de Ber-
na e de Bona, mas igualmente neces-
sitadas de medidas de protecção,
como o coral-vermelho, o cavalo-ma-
rinho e o pepino-do-mar”.
Num anexo do diploma apresenta-
se a lista das novas espécies selvagens
a proteger em território português,
em que estão ainda as sanguessugas
do género Hirudo, o cardo-dos-brejos
(Cirsium welwitschii), o cardo Cynara
tournefortii e a planta Thymus albi-
cans. Se o cardo-dos-brejos só ocorre
em Portugal continental, as outras
duas espécies de plantas são endémi-
cas da Península Ibérica.
O biólogo João Loureiro, director
do Departamento de Conservação da
Natureza e da Biodiversidade do Ins-
tituto da Conservação da Natureza e
das Florestas (ICNF), não esconde o
agrado em ver este decreto-lei apro-
vado. “Esta proposta partiu mesmo
de mim e estou satisfeito. Estas coisas
são sempre difíceis de alterar.”
Com este diploma, salvo em caso
de atribuição de uma licença, passa a
ser proibida a “colheita, apanha, cor-
te ou arranque dos seus espécimes”.
Fica também proibida a sua detenção,
venda, oferta, compra e proposta de
compra, exposição pública, transpor-
te e deterioração ou destruição dos
habitats das espécies de fauna e Çora
listadas no anexo.
Era “necessário começar a prote-
ger, principalmente a nível da captu-
ra”, estas espécies que não constavam
nas listas de espécies protegidas pelas
duas convenções referidas, frisa João
Loureiro, acrescentando que o novo
diploma lhes dá “o mesmo regime de
protecção que este tipo de conven-
ções”. Sendo sobretudo ameaçadas
pela pesca e apanha ilegais, havia ago-
ra que ter “um mecanismo que regu-
lamentasse a sua captura” mais pro-
priamente do que o comércio.
Algumas destas espécies já eram
protegidas por outros mecanismos
— como a Convenção sobre Comércio
Internacional de Espécies Ameaçadas
(CITES), que visa que o comércio de
animais e plantas não ponha em risco
a sobrevivência no estado selvagem.
É já o caso dos cavalos-marinhos ou
das sanguessugas Hirudo, mas agora
há um regime jurídico mais rígido
para garantir a sua conservação e
proibir a captura. “São protegidas
pela CITES, porque são muito usadas
e comercializadas na Europa do Les-
te e do Sul para Æns medicinais”, mas
nada regulava a captura, diz João Lou-
reiro em relação às sanguessugas.
Contudo, há excepções para as
proibições — por exemplo, para Æns
cientíÆcos, exemplares nascidos em
cativeiro ou que tenham entrado em
Portugal respeitando as normas de
protecção dessas espécies.
O não cumprimento destas proibi-
ções é agora considerado uma infrac-
ção ambiental, punível com coimas
previstas na Lei-Quadro das Contra-
ordenações Ambientais, de 2006. O
grau de gravidade das infracções varia
de espécie para espécie, conforme o
nível de vulnerabilidade.
O valor das coimas
A captura do coral-vermelho
(Corallium rubrum), muito apetecível
na joalharia, bem como dos corais-
negros e dos corais-duros, passa a ser
uma contra-ordenação ambiental
muito grave, cujas coimas podem
chegar aos cinco milhões de euros.
Das espécies no anexo João Loureiro
considera que o coral-vermelho é
RAQUEL COSTA/STILLS
“aquela que mais precisava de pro-
tecção e que é mais penalizável”.
Se a apanha de coral-vermelho for
praticada por pessoa singular, a coi-
ma vai de dez mil até 100 mil euros
em caso de negligência; e de 20 mil
até 200 mil euros em caso de haver
dolo. Se for por pessoas colectivas,
será de 24 mil até 144 mil euros em
caso de negligência; e de 240 mil
euros até cinco milhões de euros em
caso de dolo.
O coral-vermelho, de crescimento
muito lento, é muito vulnerável devi-
do ao elevado valor comercial, espe-
cialmente em joalharia. Em estado
bruto, pode ascender a mil euros por
quilo. Já foi explorado comercialmen-
te em Portugal entre os séculos XIII e
XVIII, uma vez que ocorreria a baixas
profundidades. Até que desapareceu
dessas zonas. Sem registo da espécie
nos últimos 300 anos, voltou a iden-
tiÆcar-se a sua presença nos anos 90
e, a partir de 2011, numa série de mer-
Em cima, coral-vermelho (à
direita) e um cavalo-marinho;
ao lado, um pepino-do-mar em
aquacultura; e cardo-dos-brejos
gulhos de um robô submarino, con-
Ærmou-se a sua existência na costa do
Algarve, entre Sagres e Lagos, a pro-
fundidades de 60 a 100 metros.
Embora o coral-vermelho no Medi-
terrâneo estivesse incluído em várias
convenções de protecção das espé-
cies naquele mar, elas não abrangem
países fora do Mediterrâneo, como
Portugal. Por isso, o coral-vermelho
do Algarve era um alvo de apanha
comercial clandestina. Em 2012, foi
notícia a apreensão pela Polícia Marí-
tima de 32 quilos de coral-vermelho
apanhados em mergulho a 80 metros
de profundidade em frente a Porti-
mão. No mercado da joalharia inter-
nacional, esta captura poderia ascen-
der a um milhão de euros. O processo
em tribunal não teve condenações.
“Os traÆcantes dessa espécie,
depois de fazerem uma grande devas-
tação na bacia do Mediterrâneo,
começaram a vir para outras partes”,
nomeadamente Portugal e Espanha,
@jornaisPT
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Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
ANDREAS HAGBERG GUE/CCMAR
assinala João Loureiro. “De repente,
Æcámos com um problema de tráÆco
importante, em que os traÆcantes
vinham para aqui pescar e a única
infracção que existia era o método de
pesca ilegal”, que se traduzia apenas
em “multas de 100 ou 200 euros”.
Em relação aos corais-negros e
corais-duros, a sua protecção é mais
por uma questão de cautela. “Quando
se vai destruir um banco de coral para
ir buscar o coral-vermelho, está-se a
destruir o resto, porque os corais
estão juntos. Mesmo não havendo
evidência nenhuma de que estes
corais são capturados, aplicamos o
princípio da precaução”, explica o
biólogo, dizendo que a mesma lógica
foi seguida com as sanguessugas. “O
problema das sanguessugas é que não
há conhecimento sobre a sua popu-
lação em Portugal. Não se sabe se há
muitas, ou se há poucas. A ideia é pro-
tegê-las por precaução.”
“Um factor dissuasor”
Já no caso dos cavalos-marinhos e dos
pepinos-do-mar, a sua apanha é agora
uma contra-ordenação ambiental gra-
ve, tal como é a captura das sangues-
sugas Hirudo, do cardo-dos-brejos, do
cardo Cynara tournefortii e da planta
Thymus albicans. Se esta infracção for
praticada por pessoa singular, a coima
é de dois mil até 20 mil euros em caso
de negligência; e quatro mil a 40 mil,
havendo dolo. Já se for por pessoas
colectivas, ascenderá entre 12 mil e 72
mil em caso de negligência; e será de
36 mil a 216 mil em caso de dolo.
Quanto à situação dos cavalos-ma-
rinhos, em 2001 havia mais de 1,3
milhões de espécimes na ria Formo-
sa, mas os dados mais recentes, de
2018, mostraram que tinham dimi-
nuído para 155.100. Esta devastação
não parece estar a abrandar.
Nos poucos dados já recolhidos em
2020 e 2021, “não há indícios de recu-
peração da população”, adianta
Miguel Correia, investigador do Cen-
tro de Ciências do Mar (CCMar) da
Universidade do Algarve. Para este
especialista em cavalos-marinhos,
estes indícios são “um alerta impor-
tante para o perigo que as espécies
correm em desaparecer completa-
mente da ria Formosa”.
Além da ria Formosa, as duas espé-
cies de cavalos-marinhos presentes
em Portugal — o cavalo-marinho-de-
focinho-comprido (Hippocampus
guttulatus) e o cavalo-marinho-
comum (Hippocampus hippocampus)
— vivem na Arrábida, nos estuários
do Mira, do Sado, do Tejo e do Mon-
dego, nas rias de Alvor e de Aveiro, no
rio Arade e na Madeira e Açores.
Vários factores contribuíram para
a actual sua situação, em particular
na ria Formosa, a população mais
estudada. A pesca ilegal é um deles.
São animais bastante valorizados no
mercado asiático, onde são vendidos
para Æns decorativos e sobretudo
medicinais, uma vez que lhes são atri-
buídas propriedades farmacológicas
e afrodisíacas. No caso português, o
investigador lembra uma tradição
muito enraizada nos municípios do
Sul do país, onde os cavalos-marinhos
eram apanhados nas redes dos pes-
cadores “que depois os guardavam,
secavam e ofereciam a amigos ou
familiares para servirem de amuletos
de sorte”. Apesar de encontrar na
pesca ilegal uma das ameaças, Miguel
Correia considera que ela é só um dos
factores de pressão e “uma pequena
fracção de todas as restantes que a
A presença actual
de coral-vermelho
no Algarve, entre
Sagres e Lagos, a
profundidades de
60 a 100 metros,
foi conÄrmada a
partir de 2011
GRUPO DE BIOLOGIA PESQUEIRA E HIDROECOLOGIA /CCMAR
espécie da ria Formosa enfrenta”.
“Muitas embarcações, sobretudo no
Verão, ancoram desordenadamente
em locais de importância para habi-
tats de cavalos-marinhos.” O biólogo
menciona ainda os efeitos das altera-
ções climáticas, que já resultaram no
aumento da temperatura da água e
trouxeram espécies invasoras.
Embora classiÆque o combate às
ameaças a que os cavalos-marinhos
estão sujeitos como um “problema de
difícil resolução”, Miguel Correia não
nega que as coimas previstas no
decreto-lei são “um factor dissuasor”
e um “peso acrescido na consciência
de quem está a cometer estes actos
ilegais”. Não as vê como “a solução”,
mas reconhece que ajudam a “mitigar
esta pressão desenfreada que existe
na procura destas espécies” e que era
importante já terem sido postas em
prática há mais tempo.
Ir aumentando a lista
Tal como os cavalos-marinhos, Miguel
Correia refere os pepinos-do-mar
como sendo das espécies que mais
sofreram com a pesca abusiva, “coin-
cidente” com a procura pelo mercado
asiático. Também muito abundantes
na ria Formosa, em 2016 viam a sua
população decrescer 75% em vários
locais face a 2014. Quase extintos no
Índico e PacíÆco, têm trazido maris-
cadores até ao Mediterrâneo e costa
europeia, que os procuram para a
alimentação e medicina tradicional.
Perante estas ameaças, os pepinos-
do-mar estavam desprotegidos. Não
tinham “nenhum regime de protec-
ção, nem mesmo a CITES”, assinala
João Loureiro. “A sua captura não
estava regulamentada.”
Das espécies sugeridas para incluir
neste decreto-lei, após consulta a ins-
tituições cientíÆcas, muitas acabaram
por não constar do anexo do diploma
português, porque o que as ameaça
não está directamente ligado à captu-
ra ilegal, reconhece João Loureiro.
“Tudo o que necessita de protecção
relacionada com alterações climáticas
e perda de habitats não se rege por
este documento, que está relacionado
com proteger as espécies através da
regulamentação da sua captura e
comercialização”, diz o biólogo. “E a
ideia é, conforme for necessário, este
anexo ir sendo aumentado.”
Público • Domingo, 6 de Junho de 2021 • 25
Sobre leis, castelos e corais
Opinião
Gonçalo Calado
Disse-me um dia o meu querido
amigo Thomas, jurista de formação
e vocação, que as leis eram os
castelos da atualidade. Em estado
de paz, em democracia, uma lei
bem feita protege mais gente, mais
recursos, mais património do que
qualquer muro, vedação, forte ou
castelo.
Os níveis de consenso dos
assuntos a legislar são muito
díspares e alguns deles geram
discussões às quais chamamos
“fraturantes”. Estes emanam de
opiniões diferentes sobre
prioridades e fazem-nos esperar
por melhores ventos políticos para
levarmos a água ao nosso moinho.
Às vezes precisamos apenas de
mais tempo, como sociedade, para
que os assuntos a legislar atinjam
importância suÆciente para que
sejam discutidos até um nível em
que possamos tomar decisões
coletivas.
Temos assistido, por exemplo, a
um aumento rápido de
importância de temas relacionados
com o bem-estar animal, com
algum travão quando estes colidem
com as atividades agro-alimentares
e com a tradição das touradas, ou
do tema das alterações climáticas,
com o travão da produção ou
soberania energética.
Já proteger habitats e espécies
selvagens — matos, fungos,
sanguessugas ou ervas — tem sido
feito mais a reboque da
transposição de diretivas europeias
e convenções internacionais das
quais somos signatários, não
havendo ainda uma consciência
coletiva madura desta necessidade
de proteção, seja esta pela
manutenção dos serviços que esses
ecossistemas e espécies nos
prestam, seja tão-só pela
preservação de um património
natural para o futuro.
Claro que será a educação
ambiental, parte integrante de uma
cidadania ativa, que nos irá ajudar
a fazer subir estas preocupações na
lista de prioridades da sociedade.
Fica por saber para que espécies e
ecossistemas esta subida nas
prioridades se fará a tempo. Pelo
limiar do século XX, o
tigre-da-tasmânia passou de
espécie daninha, com a cabeça
literalmente a prémio, a espécie
legalmente protegida. Mas já não
foi a tempo. Extinguiu-se em 1936.
Escrevo sugestionado pela
recente publicação do Decreto-Lei
38/2021, que “aprova o regime
jurídico aplicável à proteção e à
conservação da Çora e da fauna
selvagens e dos habitats naturais
das espécies enumeradas nas
convenções de Berna e de Bona”.
Mais do que um cumprir de
obrigações legais com as
convenções de que Portugal é
signatário, o documento passa a
dar proteção legal a várias outras
espécies, como os
cavalos-marinhos, os
pepinos-do-mar ou os corais, cujas
populações têm sido devastadas,
também por falta de legislação
robusta que as proteja.
Estabelecer um enquadramento
legal que permite punir, por
exemplo, a apanha furtiva de coral-
-vermelho — que demora dezenas
de anos a crescer — com uma
contraordenação ambiental muito
grave, passível de coima até cinco
milhões de euros (se praticada por
pessoa coletiva com dolo), fará
provavelmente mais pela
preservação da espécie em
Portugal do que vários anos de
O facto de como
sociedade
decidirmos
tamanha proteção
a uma espécie de
coral é para mim
uma enorme
esperança que
vai para além da
letra de lei
educação ambiental sobre os
ecossistemas de recifes de
profundidade de que esta espécie
faz parte.
Há mais de 20 anos que estudo e
ensino ecologia e conservação a
futuros biólogos. O facto de como
sociedade decidirmos tamanha
proteção a uma espécie de coral é
para mim uma enorme esperança
que vai para além da letra de lei.
SigniÆca que como sociedade já
Æzemos com que a conservação de
espécies e habitats subisse uns
degraus na nossa hierarquia de
prioridades. E fará muito mais
pelos corais e pelo pensamento
político ambiental do que todas as
aulas que dei a ajudar a formar
futuros proÆssionais nesta área.
Biólogo
@jornaisPT
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26 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021

Cultura Um museu recria a árvore genealógica de Keil do Amaral

O alfaiate alemão,
o cenógrafo italiano,
e a família de artistas
que descendeu deles
No Museu Alfredo Keil, inaugurado há duas semanas em Viseu,
recria-se a genealogia artística nascida de dois exilados em
Lisboa. Pitum e Lira Keil do Amaral guiaram a visita do PÚBLICO
Sérgio C. Andrade
Mesmo passadas já mais de duas
semanas sobre a inauguração do
Museu Keil do Amaral, em Viseu — a
18 de Maio, Dia Internacional dos
Museus —, o visitante que aí agora
chegue pode muito bem ver-se brin-
dado com uma visita guiada pelo
casal Pitum e Lira Keil do Amaral.
Ainda que vivam em Canas de Senho-
rim, a cerca de 40 quilómetros de
distância, o arquitecto e a pintora
deslocam-se com frequência a Viseu
para vivenciarem de perto a concre-
tização deste “sonho antigo” da famí-
lia de tornar públicos parte dos espó-
lios e acervos acumulados por seis
gerações de artistas e coleccionado-
res, no cruzamento dos Keil com os
Cinatti e os Amaral.
“Ainda faltam algumas coisas, por
exemplo, um móvel aqui para com-
por o espaço e expor o merchandi-
sing”, comenta para o PÚBLICO,
sentado no hall de entrada, Francis-
co Keil do Amaral, mais conhecido
por “Pitum” — um nome que as gera-
ções mais velhas reterão da passa-
gem pelo concurso da RTP A Visita
da Cornélia (Raul Solnado e Fialho
Gouveia, 1977), ao lado de Æguras
como Fernando Assis Pacheco, Con-
cha ou José Fanha.
O Museu Keil do Amaral — Pessoas.
Arte. Colecções é, na verdade, um
museu com características pouco
usuais. Como o subtítulo indica, reú-
ne as memórias materiais, ligadas ao
mundo das artes, dos diferentes
ramos de uma família ao longo de
dois séculos.
“Começou com dois estrangeiros:
um alemão, Johann Christian Keil
[1820-1890], que veio da cidade-esta-
do de Hanôver, e o italiano Giuseppe
Cinatti [1808-1879], que veio de Siena,
ambos por motivos políticos”, explica
Pitum frente à árvore genealógica que
recebe o visitante à entrada.
Johann Keil fugiu da Alemanha
porque não concordou com a políti-
ca de uniÆcação encetada por Bis-
marck, tenho vindo trabalhar para
Lisboa, para a alfaiataria de um seu
conterrâneo, StellpÇug, vindo
depois a casar-se com a Ælha Maria
Josephina. “O Cinatti era um jovem
revolucionário que integrava um
grupo de extremistas, mas, porque
não quis assassinar um político que
lhe tinha caído em sorte, preferiu
fugir”, explica o cicerone, acrescen-
tando que Giuseppe, cenógrafo e
decorador, haveria também de vir
parar a Lisboa nos anos 1830, onde
pintou cenários para teatros como o
São Carlos e o D. Maria II.
Alfredo Keil (1850-1907), o pintor e
compositor nascido do casamento de
Johann com Maria Josephina, é o pri-
meiro nome marcante da viagem
proporcionada pelo novo museu de
Viseu. Foi o autor da marcha A Portu-
guesa, que a República viria a instau-
rar, em 1911, como hino nacional. “Ele
fez a primeira grande colecção de
instrumentos do país, que está na
base da que deu o Museu Nacional da
Música”, assinala Pitum. “Deixou um
espólio enorme, era um artista mul-
tifacetado. Desde a morte dele que a
família bateu a várias portas a ver se
conseguia que se Æzesse um museu”,
acrescenta o bisneto, enumerando as
tentativas que, ao longo de décadas,
foram sendo feitas junto de institui-
Alfredo Keil
deixou um espólio
enorme. Desde a
morte dele que a
família bateu a
várias portas a ver
se conseguia que se
Äzesse um museu
Pitum
Arquitecto, bisneto
de Alfredo Keil (1850-1907)
ções nacionais ou de autarquias, de
Lisboa a Sintra (onde a empresa Par-
ques de Sintra — Monte da Lua chegou
a ter um projecto especíÆco), de
Tomar a Ferreira do Zêzere… Até que,
em 2013, o então presidente da Câma-
ra de Viseu, Fernando Ruas, decidiu
abraçar a ideia, que avançaria com a
aquisição da Casa da Calçada, um
imóvel setecentista classiÆcado em
pleno centro histórico da cidade.
Depois de demoradas obras de
restauro e adaptação ao uso museo-
lógico, já durante o mandato do
autarca recém-desaparecido António
Almeida Henriques, e que custaram
perto de 480 mil euros, o Museu Keil
do Amaral foi Ænalmente concretiza-
do com um projecto já diferente do
inicial, contemplando agora 13 Ægu-
ras da família com ligações ao mundo
das artes, do ensino e também do
coleccionismo.
Dos retratos à academia
“Antes de entrarmos no percurso
mais puro e duro do museu, as duas
primeiras salas são quase uma insta-
lação: a primeira, mais focada nos
retratos da família; a outra, na recria-
ção do ambiente da Escola de Belas-
-Artes de Lisboa”, explica Sandra
Alves, coordenadora do museu.
Uma autêntica galeria de retratos,
auto-retratos e bustos a representa- dor no atelier dele. ‘Não tenho tintas’, mais realista!”, reclama.
rem os múltiplos membros da família disse-lhe. Como o meu pai lhe com- A coordenadora ri-se e explica que
é, de facto, aquilo com que nos depa- prou tintas novas, ele retratou-o, e a componente pedagógica e interac-
ramos na primeira sala. Aí podemos depois fez-se pintor”, conta Pitum. tiva também pretendida para o museu
ver o próprio Pitum pintado pela sua A sala seguinte, Academias, recons- passa por desaÆar o visitante a fazer
mãe, Maria Keil (1914-2011), mas tam- titui o ambiente da Escola de Belas- ali o seu próprio desenho, deixando-
bém pela sua primeira mulher, Leo- Artes de Lisboa, frequentada pelas -o depois exposto na parede.
nor Bettencourt (1932-1971). “Eu sou duas gerações de arquitectos Keil do
o mais bonito deles todos”, diz, entre Amaral, mas também por Maria Keil, Treze salas temáticas
risos, o arquitecto-cicerone (repre- Leonor Bettencourt (evocada numa Pela outra porta do museu acede-se
sentado num dos quadros enquanto fotograÆa de grande formato a preen- a três pisos que acolhem em 13 salas
criança a sofrer de papeira), num cher toda uma parede) e Lira. Senta- os acervos dos sucessivos artistas e
registo de humor que há-de acompa- do no banco de um cavalete destina- coleccionadores da família — “É o
nhar toda a visita. Além das obras de do ao público, Pitum lamenta que percurso mais museográÆco e que
autoria de diferentes membros da Sandra Alves não o tenha deixado foi desenhado pelo estúdio de Coim-
família, há trabalhos de Canto da incluir na recriação do ambiente da bra FBA, Ferrand, Bicker & Associa-
Maia, Luciano Freire, José Tagarro e velha escola no Chiado as ratazanas dos”, diz Sandra Alves.
Sá Nogueira — “Esta foi a primeira que se alimentavam do miolo de pão A primeira é dedicada aos “funda-
pintura a óleo que ele fez, desaÆado que os alunos usavam para fazer os dores” alemão e italiano, com o casal
pelo meu pai, quando era desenha- sombreados a carvão. “Ficava muito Keil-StellpÇug retratados por Veloso

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Espólio de Maria Keil ainda à espera de destino
S
e é verdade que a obra de
Maria Keil (1914-2012) está
representada em várias
salas do novo museu de
Viseu, o estudo e inventariação
do seu espólio é um trabalho
que está ainda em curso, a
partir da casa do seu filho em
Canas de Senhorim, e o futuro
está ainda por decidir.
“Estamos a fazer o inventário,
com uma equipa da
Direcção-Geral do Património
Cultural [DGPC] dirigida pelo
arquitecto Paulo Duarte; este
trabalho terá de ficar pronto até
final deste ano”, disse ao
PÚBLICO Pitum Keil do Amaral
no final da visita ao museu da
sua família.
Este trabalho decorre do
protocolo que o Ministério da
Cultura (MC), no final do ano
passado, assinou com o filho
da artista, com o objectivo de
proporcionar um
conhecimento mais detalhado
da sua obra múltipla. Pintura,
desenho, ilustração, tapeçaria
e mobiliário, mas também o
design gráfico e a cenografia,
são as disciplinas
representadas na colecção,
FOTOGRAFIAS: ADRIANO MIRANDA
cujo destino — acrescentou
Pitum — será depois decidido
com o Museu Nacional de Arte
Contemporânea do Chiado, em
Lisboa. “Temos de estabelecer
um acordo com o Museu do
Chiado para ver se eles querem
fazer uma exposição itinerante
ou um museuzinho”,
acrescentou o arquitecto,
dizendo ainda que a duração
do comodato da colecção “está
também ainda por definir”.
Quando da divulgação do
protocolo, a ministra da
Cultura, Graça Fonseca,
anunciou o comprometimento
do MC com a realização de
programas de investigação e
de exposições itinerantes, com
o objectivo de “dar a conhecer
a vida e obra de Maria Keil, em
articulação com a estratégia
para a exibição das obras de
arte que integram a Colecção
de Arte Contemporânea do
Estado”. Em 2013, um ano após
a sua morte, o Museu da
Presidência da República
promoveu uma exposição
retrospectiva da obra de Maria
Keil, que foi mostrada noutras
localidades do país.
Salgado. Segue-se uma vitrina com
uma velha tesoura e uma faixa a iden-
tiÆcar Johann Keil como “alfaiate de
S. M. El-Rey D. Luiz I e de S.S. Alte-
zas”, a atestar uma posição social
conÆrmada por uma colecção de lou-
ças, porcelanas com monograma de
família. “Há uma passagem de um
livro do Camilo que diz que o Keil
tinha um coche que o próprio rei
cobiçava”, diz Pitum.
As duas salas seguintes são dedi-
cadas à pintura e à música de Alfredo
Keil. Na primeira, representada nas
colecções dos museus de Arte Anti-
ga, em Lisboa, e de Grão Vasco, em
Viseu, o artista cultivou sobretudo a
paisagem. “Ele não se assume como
um naturalista, mais como um pin-
tor romântico, tardo-romântico, o
que justiÆca a opção pela natureza”,
diz a coordenadora.
Na sala da música, o destaque vai,
além de para a partitura d’A Portu-
guesa, para as ilustrações, postais e
cenários feitos para as três óperas
que Keil compôs: Serrana, Irene e
Dona Branca, a primeira das quais
conquistou um grande sucesso públi-
co por ser a primeira cantada em
português. Há também uma pequena
mostra de instrumentos (que será
renovada de seis em seis meses,
numa parceria com o Museu Nacional
da Música), e o visitante pode ainda
ouvir algumas peças do compositor.
A secção seguinte, uma espécie de
gabinete de curiosidades, é dedicada
ao coleccionismo de Francisco Coe-
lho do Amaral (1873-1938), um agró-
nomo e político de Viseu, que se
casou com Guida Keil (1885-1965),
antiquária, e que, além de governa-
dor civil da terra, foi governador geral
de Angola. “Eu fazia questão de mos-
trar que o coleccionismo também fez
parte da família”, justiÆca Pitum.
O arquitecto e a pintora
As cinco salas seguintes são domina-
das pelas marcantes Æguras de Fran-
Público • Domingo, 6 de Junho de 2021 • 27
Pitum e Lira Keil do Amaral no
seu museu familiar em Viseu; em
cima, o casal Johann Christian
Keil-Maria Josephina Stellpflug
retratados por Veloso Salgado;
em baixo, a sala das Academias
cisco Keil do Amaral (1910-1975),
arquitecto, e da sua mulher, Maria
Keil, uma Ægura da segunda geração
do modernismo português. O primei-
ro tem uma obra extensa, também
como o urbanista que desenhou o
jardim do Campo Grande e os par-
ques Eduardo VII e de Monsanto, em
Lisboa. O Pavilhão de Portugal para a
Exposição Universal de Paris em 1937,
onde ambos trabalharam, testemu-
nha aqui as aÆnidades artísticas de
um casal que marcaria, em áreas dife-
rentes, o século XX português. Keil
do Amaral integrou também a equipa
que, nos anos 50, realizou o Inquéri-
to à Arquitectura Popular em Portu-
gal. “O meu pai prezava muito a arqui-
tectura popular, achava que era um
tesouro que estava a perder-se”, diz
Pitum, explicando o seu envolvimen-
to no Inquérito, tendo integrado a
equipa das Beiras com José Huertas
Lobo e João José Malato. FotograÆas
suas feitas em Montemuro e em Cas-
telo Mendo, mas também na Ribeira
do Porto, documentam essa aten-
ção.
De Maria Keil há testemunhos do
carácter ecléctico da sua obra: pintu-
ra, desenho, ilustração, mobiliário,
azulejo, etc. Um estudo para a pintu-
ra Regresso à Terra documenta o epi-
sódio da apreensão pela PIDE de
várias telas que integravam uma
exposição na Sociedade Nacional de
Belas-Artes (SNBA), em Lisboa, em
1947, em que se encontravam tam-
bém obras de Júlio Pomar, por exem-
plo. “Eles acharam que o quadro era
subversivo, porque representava um
enterro sem a Ægura do padre…”, ri-se
Pitum, acrescentando que a mãe,
num gesto de indignação, rasgou a
pintura quando a recuperou, tendo-
se, no entanto, salvado este estudo.
Depois de uma passagem por obras
de Leonor Bettencourt e do seu pai,
Henrique (1905-1939), prematura-
mente vitimado pela tuberculose em
Paris, sobe-se para o último piso, no
antigo sótão da casa. É aqui que o
casal Pitum-Lira mostra algumas das
suas peças: a pintora e escultora, com
uma autobiograÆa inspirada nas car-
tas de Tarot. “Não percebo nada do
Tarot, mas gosto muito das Æguras, e
decidi contar com elas a minha histó-
ria e da minha família”, diz Lira, que
também aí expõe desenhos, escultu-
ras e cerâmica, inÇuenciados pela
estadia de ambos em Moçambique,
na viragem dos anos 70/80.
A faceta humorística e algo surrea-
lista da obra de Pitum está documen-
tada com algumas das peças que
Æzeram a exposição 20 Objectos Meta-
fóricos Contemporâneos na SNBA, em
1973. A grade com brinquedos de
guerra para “protecção da infância”
e Canais de Informação, uma instala-
ção com um ecrã de televisão ligado
a vários tubos de plástico coloridos,
mostram o seu espírito de desaÆo às
regras da arte bem-comportada da
época. “A PIDE ainda achou que o
discurso que saía da televisão poderia
ser uma mensagem em… russo”, gra-
ceja o autor.
A visita termina com referência a
Leonor Keil (n. 1973), a bailarina e
coreógrafa que baseou grande parte
da sua carreira em Viseu, onde criou
a escola Lugar Presente associada à
Companhia de Paulo Ribeiro.
Sentados nos pufes para verem
num ecrã registos de bailados de Leo-
nor, Pitum e Lira descansam da longa
viagem, rendidos aos movimentos da
bailarina que esteve quase para
chumbar no Conservatório, “por ter
as pernas tortas”. “Isto é o cantinho
da nossa Ælha; é uma boa forma de
terminar a visita”, congratulam-se.
@jornaisPT
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28 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021
Desporto Entrevista ao presidente da Federação Portuguesa de Padel
“Não batemos nas
mulheres até à morte.
Não somos o Qatar”
Ricardo Oliveira justiÄca ausência do Mundial com o
desrespeito pelos direitos humanos e diz que os
contratos-programa são constantemente alvo de correcções
Entrevista
David Andrade Texto
Nelson Garrido Fotografia
Depois da decisão de não
participar no Mundial de padel,
dos desencontros de contas nos
contratos-programa com o IPDJ e
do diferendo com a federação
internacional da modalidade (FIP),
o presidente da Federação
Portuguesa de Padel (FPP),
Ricardo Oliveira, fala ao PÚBLICO
sobre estes assuntos.
Em Julho de 2020, disse ao
PÚBLICO que Portugal não se
inscreveu no Mundial do Qatar
por a FIP não cumprir
regulamentos e estatutos. Na
semana passada, à agência Lusa
disse que não se inscreveu por
não querer pôr “as vidas das
jogadoras em perigo”. Qual foi,
aÆnal, o motivo para renunciar à
participação na prova?
Não me lembro do que disse em
determinada altura, mas não o
nego. Há uma série de coisas que
são ditas noutros fóruns, que se
calhar correspondem à verdade, e
que o jornalista não tem
conhecimento. Se calhar, por
causa disso é que às vezes tira
conclusões que não são correctas.
Portugal decidiu não participar no
Campeonato do Mundo em
Fevereiro do ano passado, quando
não tinha acontecido uma coisa: o
grande pico da covid. Em
Fevereiro, quando equacionámos
ir jogar o Mundial ao Qatar, já
havia uma má vontade da minha
parte em relação a tudo o que se
passa no Qatar e a que eu sou
sensível. Estava contra tudo o que
se passou na atribuição do
Campeonato do Mundo ao Qatar.
Nessa altura, julgo que o primeiro
período de inscrições terminou
em Fevereiro.
Terminou a 27 de Março…
Talvez. Nessa altura estávamos a
debater se íamos ou não. Fui da
opinião que não devíamos ir,
porque o campeonato foi atribuído
ilegalmente ao Qatar, que não era
membro da FIP (agora parece que
foi admitido) e, segundo o que
diziam nos comunicados, que não
sei se será verdade, havia
candidatos membros da FIP.
Entretanto, dá-se uma coisa
chamada covid e os senhores
entendem, sem isso estar previsto
nos regulamentos, prorrogar o
prazo das inscrições. Eu, que sou a
pessoa que mais é contra não
cumprir regras e regulamentos,
quando me dão a possibilidade de
me inscrever, mas estão a ir contra
os regulamentos, Æco
desconfortável. Mais ainda Æco
quando nesse momento o Qatar
era o país do mundo que tinha a
maior incidência de covid por
habitante. Em reuniões da
federação, porque temas da
selecção não me competem só a
mim decidir, disse: “O Qatar trata
as mulheres como trata, o senhor
presidente da FIP, mais uma vez,
pontapeia os regulamentos como
quer, e o Qatar é o país mais
perigoso do mundo. Nós não nos
vamos inscrever fora do prazo que
depois alteram ilegalmente. Não
vamos pôr as nossas selecções em
perigo, nem vamos expor as
nossas mulheres ao que pode
acontecer no Qatar.” Expliquei a
todos os meus directores tudo o
que se passava no Qatar com as
mulheres.
O problema, quanto aos
regulamentos, era o Qatar não
ser Æliado da FIP?
Não era só aí. Quando lançou o
concurso, era para um data. Julgo
que Setembro ou Outubro. Eu
podia querer organizar essa prova.
Portugal já organizou um
Campeonato do Mundo da FIP…
Portugal era Æliado na FIP
quando lhe foi atribuída a
organização desse campeonato?
A Æliação de Portugal na FIP foi
votada na assembleia geral que
decorreu durante o Campeonato
do Mundo. Esse foi o acordo que
foi feito com o board da FIP…
Quando a FIP atribuiu a prova à
FPP, Portugal pertencia à FIP?
Atribuiu com a condicionante que
Æcaríamos Æliados na FIP antes do
Mundial.
Uma situação similar à do Qatar.
Entendo onde está a querer chegar,
mas uma coisa não tem nada que
ver com a outra. Com a FIP, houve
uma reunião do board, com o
presidente e um acordo feito.
Havia um processo de Æliação que
durou vários meses. Assinámos
contratos e cadernos de encargos se faz pelo padel, grande
com a condicionante de que, ao desporto… igualdade de género.
organizarmos, Æcaríamos Temos de trabalhar isto, temos de
membros. Foi uma decisão falar dos prize money, temos de
soberana do órgão máximo da FIP, tentar aproximar as senhoras.”
o que não aconteceu neste caso, Entendi o recado. Julgo que este
em que houve candidatos para O Qatar trata as mulheres Governo é democrata e temos a
uma certa data e a seguir somos como trata, o senhor missão de tratar as mulheres de
informados que se dá numa data forma igual à que tratamos os
diferente. Fomos enganados.
presidente da FIP, mais homens. Nós não somos o Qatar.
Quem foi enganado? Portugal ou uma vez, pontapeia os Não batemos nas mulheres até à
todas as federações mundiais?
Eu senti-me enganado. Pelos
regulamentos como quer, morte na rua, se elas nos forem
inÆéis, por exemplo. Não as
outros, não posso falar. e o Qatar é o país mais impedimos de ir à escola.
Na justiÆcação que deu à Lusa,
disse que estava solidário com o
perigoso do mundo [por A federação de padel é a única
federação desportiva
Governo português. causa da covid-19]. Não portuguesa que tomou a decisão
Claro que estou… vamos pôr as nossas de boicotar o Qatar. O Governo
Consultou a Secretaria de Estado está solidário com a FPP?
do Desporto e Juventude ou
selecções em perigo” Não sei, tem de perguntar ao
outra entidade do Governo antes Governo. Mas vou repetir o que lhe
de tomar a decisão?
Não tenho de consultar o Governo
Vou fazer um plano de disse: eu não me pauto pelos maus
exemplos. Pauto-me pelos bons.
para levar uma selecção a um actividades rectificativo e Considera que a Federação
Mundial. É uma decisão só minha.
O Governo mandata-me para
vou enviar para o IPDJ. Portuguesa de Futebol (FPF) está
a dar um mau exemplo ao ir
tomar a decisão. É óbvio que não Depois disso, o que o IPDJ jogar um Mundial no Qatar?
vou dizer aqui que foram outras faz ou não faz já não me Não vou criticar o meu colega da
pessoas que me disseram que era FPF, que faz um excelente
bom não ir. Converso com o
compete a mim trabalho. São opções dele e
Governo e os representantes do conhecerá coisas que eu não
Governo a vários níveis — IPDJ, conheço. Saberá quais são os
Secretaria de Estado, ministro — e interesses do futebol. Mas
posso dizer-lhe que o senhor pauto-me pelos bons exemplos e,
ministro da Educação, há uns se me quer dar maus exemplos, eu
tempos, disse-me: “Ricardo, muito dou-lhe bons: sabe que a campeã
bom, gosto de ver isto tudo o que mundial da Noruega foi jogar um
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Campeonato do Mundo ao Qatar?
Logo a seguir foi convidada a jogar
um Campeonato do Mundo de
xadrez no Dubai. Nessa altura,
disse: “Com o que vi no Qatar,
arrependo-me de ter ido pelo que
fazem às mulheres, pelo que fazem
aos direitos humanos, e por essa
razão não vou ao Dubai, sabendo
que vou perder os títulos.” (...)
Somos poucos ainda, mas pode ser
que Portugal, mais uma vez,
contribua para liderar alguma
coisa que defendemos.
A FPP consultou as jogadoras
antes de tomar essa decisão?
A FPP teve o cuidado de convocar
as selecções masculina e feminina,
informou-os da situação que
estávamos a viver e disse-lhes que
esta era a sua opinião. Na altura,
ainda disse que se as jogadoras
entendessem que deviam
participar, não seria eu que as
impediria. No entanto, teriam de
assinar um documento em que
diriam que estavam cientes de
todos os riscos e tratamento
diferenciado que iriam receber no
Qatar. Nessa altura, se quisessem
participar no Mundial, então, eu,
presidente, diria que sabem ao
que vão. Não vou ser eu que vou
impedir um atleta de participar
num Campeonato do Mundo.
Quando foi essa reunião?
Há uns meses.
O prazo para inscrições já tinha
terminado.
É verdade — o que é estranho.
Como a FIP abre excepções e
prolonga prazos para tudo, podia
ser que…
As inscrições terminaram em
Março e reabriram a 30 de Abril.
Nesse período, orçamentou a
prova num contrato-programa
com o IPDJ…
Está enganado. Vai ter de
comprovar melhor. Sabe que os
orçamentos da federação têm de
ser enviados para o IPDJ até 31 de
Dezembro do ano anterior? Há
contratos-programa de vários
níveis — actividades regulares,
eventos especiais, formação. Até 31
de Dezembro, tive de dizer ao
Governo. Em 2019, estávamos
todos convictos de que íamos jogar
o Mundial, porque não sabíamos
que ia ser no Qatar. Tudo tem de
ser entregue até 31 de Dezembro,
se não, não tenho verbas…
A data do contrato com o IPDJ é
24 de Abril de 2020.
Estou explicar-lhe como funciona.
Se quiser Æcar pela data…
A sua assinatura está lá com data
de 24 de Abril. Foi assinado em
Dezembro com a data de Abril?
Não, não. Vou-lhe explicar como
funcionam as coisas com o IPDJ.
Em tudo aquilo que escreveu —
quero crer que não foi com
Público • Domingo, 6 de Junho de 2021 • 29
intenção —, que para mim não vou enviar para o IPDJ. Depois cancelado.
corresponde à verdade, revela o disso, o que o IPDJ faz já não me Em 2020 já se sabia que ia ser
que também não podia não compete a mim. Eu cumpro e o realizado…
revelar, uma vez que não pode IPDJ tem um presidente muito Não sabia. Foi cancelado e
saber como é que as coisas se competente e sério que tudo o que disseram: “Vamos ver se o
processam. O Governo tem passos fará será cumprindo a lei. realizamos.” Não disseram onde.
que têm de ser cumpridos. Quando foi fechado o orçamento Em qual Mundial a FPP poderia
Quando mando o orçamento e o da FPP para 2021? participar?
contrato-programa de uma prova Provavelmente, na assembleia No Mundial organizado pela FIP —
especial, como um Europeu, tenho geral de Dezembro de 2020. que podia ser um novo, podia ser
de mandar até 31 de Dezembro do Está lá orçamentado o valor de noutro sítio, podiam reabrir as
ano anterior. A partir daí, é 30 mil euros para o Mundial… inscrições, poderia tudo. Nós,
redigido um contrato-programa. Claro que está. depois de o ano começar, é que
Quando são elaborados, é no A FPP já sabia que não ia estar fomos informados que se ia
pressuposto de que presente… manter no Qatar. Aí, voltámos a
posteriormente existem os Não, não sabia. dizer que não íamos. Se for ver o
relatórios Ænais de cada um dos Como é que podia estar orçamento rectiÆcativo que vamos
contratos-programa. Todas as presente? aprovar, já não está lá dinheiro
correcções são feitas nos relatórios Estava presente no orçamento a para isso.
Ænais. A atribuição de verbas para participação num Campeonato do Os contratos-programas, de
essas coisas nunca é dada a 100%. Mundo. Mas o da FIP foi actividades regulares, que
Normalmente são pagas 50% das assinou com o IPDJ, podem ter
verbas para haver correcções. sido alterados?
Os aditamentos a esses Não sei… Quando foi assinado, foi
contratos-programa têm de ser assinado num pressuposto de
publicitados… duodécimos. É tudo um bocado na
Não há aditamentos. Não se trata previsão. Estamos em Junho e
de aditamentos neste caso. recebemos há poucos dias a
A FPP tem aditamentos feitos
em contratos-programas com o
Não tenho de consultar o proposta de contrato-programa de
actividades regulares. Só agora se
IPDJ e estão publicados… Governo para levar uma vai tornar deÆnitivo e por isso
Quais aditamentos? Refresque-me
a memória…
selecção a um Mundial. É podemos fazer um orçamento
rectiÆcativo, sabendo que o IPDJ
No Europeu da FEPA, por uma decisão só minha me vai pagar 117 mil euros.
exemplo, houve um aditamento.
Não sei de que aditamento está a
falar. Não me lembro de
aditamentos, mas é possível. Mas
aditamentos ao contrato em Abril?
É impossível…
Não foi o de Abril. Foi o Europeu
da FEPA.
Esse aditamento mudava o quê?
A percentagem do valor máximo
a pagar por não cumprir os
pressupostos iniciais de ser uma
prova organizada pela FIP,
conforme o contrato original. Os
juristas ouvidos pelo PÚBLICO
dizem que qualquer alteração a
um contrato-programa, que
envolve dinheiros públicos, terá
de ser publicitada…
E está a dizer-me que houve?
Estou a dizer que houve em
relação ao Europeu da FEPA…
Não sou jurista, não sei o que esses
peritos dizem. Não os vou pôr em
causa. A única coisa que lhe vou
dizer são todos os passos relativos
à organização do Europeu. É um
orçamento, lembre-se disto.
É com base nesse orçamento que
o IPDJ, conforme o valor …
Claro que sim. Isso vai acontecer
agora em Junho. Tenho uma
assembleia geral e um dos pontos
é um orçamento rectiÆcativo.
Como eu Æquei a saber qual é a
verba que o IPDJ me atribui, o que
é que a gente vai fazer? Em vez de
recebermos 500 e tal mil euros de
subsídios, vamos receber só 117
mil. Está a ver o que é que isso faz
ao meu orçamento? Agora sei que
não vou ter dinheiro para fazer
uma série de coisas. Vou fazer um
plano de actividades rectiÆcativo e
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30 • Público • Domingo, 6 de Junho de 2021
Desporto
Portugal quer fugir ao hat-trick
indesejado na final do Europeu
Diogo Cardoso Oliveira
Selecção nacional de sub-21
tentará hoje, à terceira
tentativa, impor-se na final
do torneio, o que não
conseguiu em 1994 e 2015
Hoje, por volta das 21h45 (ou um pou-
co mais tarde, se ninguém desempa-
tar o jogo), a selecção portuguesa de
sub-21 pode ser campeã da Europa
pela primeira vez e dar, Ænalmente,
um resultado de relevo a uma gera-
ção recheada de talento. Mas, na
Eslovénia, isto pode não acontecer.
Se perder a Ænal do Euro frente à
Alemanha, em Ljubljana (20h, RTP),
Portugal fará um “hat-trick” indese-
jado: o de três Ænais perdidas neste
escalão, depois de 1994 e 2015 — esta
última já sob a batuta de Rui Jorge,
que “pegou” na equipa em 2010. À
terceira será de vez ou, para desilu-
são dos portugueses, não haverá
duas sem três?
No plano mais “cruel”, que trans-
forma o futebol em números, a Fede-
ração Portuguesa de Futebol e o
treinador Rui Jorge jogam muito nes-
ta partida, já que um novo falhanço
será mais um rombo no capital de
conÆança no trabalho do treinador.
Desde que o técnico orienta esta
equipa, Portugal falhou o Europeu
sub-21 em 2011 e 2013, perdeu a Ænal
em 2015, caiu na frase de grupos em
2017 e voltou a nem estar presente na
competição de 2019.
No prisma mais “romântico”, que
faz das selecções jovens plataformas
para formar atletas e alimentar a
equipa principal — mais do que para
vencer troféus —, então este jogo será
a legitimação suprema de um traba-
lho com alguns anos e que pode colo-
car vários jogadores à porta da selec-
ção principal.
Atletas como Vitinha, Diogo Dalot,
Dany Mota ou Diogo Leite, pelo
desempenho nos sub-21 e/ou pela
concorrência insuÆciente na equipa
principal, poderão, em breve, ter
oportunidades no grupo orientado
por Fernando Santos.
Rui Jorge, seleccionador nacional,
garantiu que a pressão de vencer não
tem de estar presente nos jogadores,
já que considera que uma Ænal, mes-
mo que perdida, trará aspectos posi-
tivos. “O positivo é muito maior do
que o negativo, independentemente
de não vencermos o troféu. É preciso
muito para atingir estes patamares e
é isso que temos conseguido. Olho
para as Ænais que alcançámos e nun-
O triunfo sobre a Espanha, nas ca será nada perdido. Será mais uma
meias-finais, permitiu a Ænal”, apontou.
Portugal chegar pela terceira Menos indiferente a um troféu
vez ao último jogo do torneio mostrou-se o defesa e capitão Diogo
Queirós, que está de olho na taça.
“Claro que é uma motivação para nós
podermos fazer história para o nosso
país [primeiro título sub-21]. Sabemos
das referências que passaram por
Stadion Stozice 20h00
Ljubljana RTP
essas Ænais perdidas e não atingiram
um objectivo que queremos alcançar.
Alemanha 4-3-3 Entraremos em campo para elevar-
mos Portugal ao topo”, assegurou,
Dahmen em conferência de imprensa.
Pieper Schlotterbeck
Vagnoman Raum Portugueses experientes
Dorsch Maier No campo meramente futebolístico
esta Ænal tem, para Portugal, um
Wirtz detalhe interessante: neste Europeu,
Baku Berisha foi quando mais assumiu o controlo
Nmecha
do jogo que a equipa de Rui Jorge se
destacou. Foi assim na primeira fase
D. Mota R. Leão – de exibições muito elogiadas – e foi
F. Vieira assim durante alguns minutos frente
Gedson Vitinha
à Itália, nos quartos-de-Ænal.
D. Bragança Quando se deixou subjugar pelos
Conté D. Dalot italianos, nos “quartos”, e pela
D. Leite D. Queirós Espanha, nas “meias”, Portugal
D. Costa nem sempre esteve defensivamente
consistente e contou com alguma
Portugal 4-4-2 dose de sorte para superar os dois
adversários.
Árbitro: Giorgi Kruashvili Geórgia Quer isto dizer que a postura mais
IGOR KUPLJENIK/EPA
expectante e de transições que Por-
tugal adoptou nesta fase a eliminar
coloca, em tese, a equipa numa
posição mais desconfortável do que
quando procura jogar em ataque
posicional.
Sejam quais forem as abordagens
estratégica (mais “mandão” ou mais
especulativo) e táctica (4x4x2 losan-
go ou 4x3x3), uma coisa é certa:
Portugal tem a seu favor a experiên-
cia em Ænais.
Este grupo de 23 jogadores tem
uma base com passado em Euro-
peus sub-19 e sub-17 e defronta uma
Alemanha que está na terceira Ænal
consecutiva em sub-21 (venceu em
2017 e perdeu em 2019), mas cujos
jogadores, salvo um trio de excep-
ções, não têm uma experiência vas-
ta em Ænais de competições inter-
nacionais.
Rui Jorge desvalorizou esta roda-
gem em jogos decisivos, apontando
que o passado tem pouco ou
nenhum peso no presente. “Eles já
entraram no futebol proÆssional há
algum tempo e nunca me canso de
dizer que se devem sentir orgulho-
sos de todas as Ænais que alcança-
ram. Nos seus respectivos momen-
tos foram importantes, mas agora
nada disso interessa”, frisou.
Sérgio Conceição
renova contrato
com o FC Porto
até 2024
Augusto Bernardino
Pinto da Costa, presidente
do clube, garantiu que o
técnico não receberá
nem mais um euro do
que já estava acordado
O FC Porto oÆcializou ontem a reno-
vação de contrato do treinador Sér-
gio Conceição e da respectiva equipa
técnica até 2024. Depois de um
período de alguma indeÆnição, em
que Conceição foi, inclusive, anun-
ciado pela imprensa italiana como
futuro treinador do Nápoles, FC Por-
to e técnico chegaram a acordo para
a continuidade do “timoneiro” que
em quatro épocas conquistou dois
campeonatos, uma Taça de Portugal
e duas Supertaças.
A cerimónia de anúncio do acor-
do, num cenário em que foram des-
tacadas algumas aÆrmações do “por-
tismo” do treinador, foi aberta por
Pinto da Costa, com o presidente a
manifestar a “alegria enorme” por
selar um contrato que garante ter
sido muito fácil de fechar. Mais até
do que o primeiro, que implicava a
saída do Nantes. Desta vez, segundo
o líder dos “dragões”, bastaram três
minutos. “Há uns meses, no balneá-
rio, disse que o Sérgio Conceição
seria o meu treinador enquanto eu
fosse o presidente”, recordou Pinto
da Costa, que não perdoou as notí-
cias sobre o futuro do técnico.
“Quando ao Æm de quatro anos se
renova por outros três é sinal de con-
Æança mútua, algo que poucos com-
preendem. Se há treinador que não
renova por dinheiro é o Sérgio, que
Conceição:
“Quando o
presidente me
falou, houve
coisas muito mais
importantes do
que o dinheiro”
não recebe mais um euro”.
Sérgio Conceição conÆrmou as
palavras de Pinto da Costa e garantiu
que a decisão de permanecer no clu-
be não esteve dependente de valores
Ænanceiros. “Não exijo nada porque
sou exigente por natureza. Quem é
inteligente percebe o que quero
dizer. Estou num clube com o presi-
dente mais titulado do mundo, num
clube com títulos (...) por isso, quan-
do o presidente me falou, houve
coisas muito mais importantes do
que o dinheiro”, apontou.
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Miguel Oliveira
assina a melhor
qualificação
da temporada
PÚBLICO
Piloto português encabeça
a segunda linha da grelha
para o GP da Catalunha.
Quartararo soma a 5.ª pole
seguida e a 15.ª da carreira
A conÆrmar o momento de forma
actual, que lhe valeu o pódio em
Mugello — prova em que apenas foi
superado pelo líder do Mundial de
MotoGP, Fabio Quartararo —, Miguel
Oliveira (KTM) foi ontem o quarto
piloto mais rápido da sessão de qua-
liÆcação para o Grande Prémio da
Catalunha (12h), sétima corrida do
Campeonato do Mundo, o que passa
a constituir o melhor resultado em
qualiÆcações da temporada para o
português.
Oliveira tinha sido sétimo na grelha
do Grande Prémio de Itália, prova
onde obteve o segundo lugar Ænal.
Ontem, cumpriu a melhor volta ao
circuito de Barcelona em 1m39,099s,
mais 246 milésimos do que o francês
Fabio Quartararo (Yamaha), que
garantiu a quinta pole position conse-
cutiva, batendo o recorde da pista.
Quartararo chega às 15 poles na
carreira, na classe-rainha, igualando
Miguel Oliveira
conseguiu o
quarto melhor
tempo na
qualificação
para o GP da
Catalunha
o californiano Wayne Rainey, tricam-
peão mundial em 500cc entre 1990
e 1992, também pela Yamaha.
Para a Yamaha, esta foi a terceira
pole position consecutiva na Catalu-
nha, onde Quartararo igualou a mar-
ca de 2010 de Jorge Lorenzo, com
cinco poles consecutivas, a duas do
recorde de Marc Márquez (entre
Valência 2013 e Itália 2014).
Na primeira linha da grelha, atrás
de Quartararo, que obteve o registo
de 1m38,853s, partirão o australiano
Jack Miller (Ducati), segundo, ao gas-
tar mais 37 milésimos, e o também
gaulês Johann Zarco (Ducati), tercei-
ro, a 0,196s.
Miguel Oliveira encabeça a segun-
da linha da grelha, que partilha com
o italiano Franco Morbidelli (Yama-
ha) e com o espanhol Maverick Viña-
les (Yamaha).
Fabio Quartararo é o líder do Mun-
dial de pilotos, com 106 pontos, con-
tra 29 de Miguel Oliveira, actual 10.º
classiÆcado.
O futuro do ténis
vem de Itália
Pedro Keul
Jannik Sinner e Lorenzo
Musetti estão na quarta
ronda em Roland Garros.
Iga Swiatek imperturbável
na defesa do título
Já há quem lhes chame o “mini Big 3”.
Não é uma “boy band”, mas um
pequeno grupo composto por Jannik
Sinner, Lorenzo Musetti e Carlos Alca-
raz, os três teenagers que integram o
top 100 do ranking ATP. Só Sinner e
Musetti venceram e fizeram história:
é a primeira vez que dois teenagers
atingem a quarta ronda de Roland
Garros desde 2006 (Novak Djokovic
e Gael Monfils) e é a primeira vez que
chegam a esta fase de um Grand Slam
desde o US Open de 2017 (Andrey
Rublev e Denis Shapovalov). Na quar-
ta ronda, ambos vão ter de defrontar
dois elementos do verdadeiro Big 3,
Rafael Nadal e Novak Djokovic.
“É para isto que tenho trabalhado
desde a minha infância. Todo o sacri-
fício e trabalho duro tornou-se reali-
dade agora”, disse Musetti, o sexto
tenista desde 2000 a ultrapassar três
rondas na primeira presença num
torneio do Grand Slam e próximo
adversário de Djokovic. O italiano de
19 anos e 76.º mundial estreou-se
igualmente num encontro de cinco
sets, durante o qual disparou 50 win-
ners para vencer o mais experiente
compatriota Marco Cecchinato (83.º),
por 3-6, 6-4, 6-3, 3-6 e 6-3.
Charles Leclerc conquista segunda
pole consecutiva no Azerbaijão
Augusto Bernardino
O monegasco Charles Leclerc, da
Ferrari, conquistou a pole posi-
tion para o Grande Prémio do Azer-
baijão em Fórmula 1 (13h), a nona da
carreira depois de, há duas semanas,
ter sido o mais rápido em Monte Car-
lo, prova que acabou por não dispu-
tar na sequência do acidente que pôs
um ponto Ænal à qualiÆcação.
Desta vez, a Ferrari voltou a ser
mais rápida no circuito citadino de
Baku antes de Yuki Tsunoda (Alpha-
Tauri) e Carlos Sainz (Ferrari) prota-
gonizarem mais um dos cinco aci-
dentes e um recorde de quatro ban-
deiras vermelhas, levando à
Sinner (19.º) derrotou Mikael Ymer
(22.º), por 6-1, 7-5 e 6-3, preparando-
se para novo embate com Nadal, oito
meses depois de ter obrigado o espa-
nhol a trabalho árduo nos quartos-de-
final de Roland Garros. Já Nadal ele-
vou para 103 o número de encontros
ganhos em Roland Garros ao bater,
com um triplo 6-3, o britânico Came-
ron Norrie (45.º), que chegou a liderar
o segundo set, por 3-1. Djokovic (1.º)
afastou Ricardas Berankis (93.º), por
6-1, 6-4 e 6-1, e é o primeiro jogador a
atingir a quarta ronda de Roland Gar-
ros em 12 anos consecutivos.
Roger Federer (8.º) estreou-se em
sessões nocturnas em Roland Garros
diante de Dominik Koepfer (59.º),
com o italiano Matteo Berrettini (9.º)
Jannik Sinner venceu Mikael Ymer por 6-1, 7-5, 6-3
interrupção deÆnitiva da qualiÆca-
ção. Desta feita, depois de ter altera-
do a aÆnação do Mercedes, Lewis
Hamilton garantiu o segundo melhor
tempo, à frente de Max Vers-
tappen (Red Bull), frustrado com o
terceiro.
O líder do Mundial de pilotos terá
que lidar com o reverso de uma
medalha que o beneÆciou no Móna-
co, quando Leclerc embateu no
muro, deixando Hamilton a meio da
volta rápida, negando-lhe a possibi-
lidade de melhorar o sétimo tempo,
que acabou por hipotecar a corrida
do piloto inglês. Sem a possibilidade
de poder melhorar e discutir a pole,
Verstappen não poupou críticas aos
Público • Domingo, 6 de Junho de 2021 • 31
à espera do vencedor. E pela primeira
vez na Era Open (desde 1968) estão
três italianos nos oitavos-de-final.
O terceiro elemento do “mini Big
3”, o espanhol Carlos Alcaraz (97.º)
viu o seu percurso iniciado no qua-
lifying travado por Jan-Lennard Struff
(42.º), que será o próximo adversário
de Diego Schwartzman (10.º).
Na competição feminina, Iga Swia-
tek (9.ª) continua imune à pressão de
defender o título e eliminou, por 7-6
(7/4), 6-0, a estoniana Anett Kontaveit
(31.ª). A polaca de 20 anos, que irá
enfrentar Marta Kostyuk (81.ª) nos
oitavos-de-final, ficou ainda mais can-
didata após a eliminação de Elina
Svitolina (6.ª), às mãos da checa Bar-
bora Krejcikova (33.ª): 6-3, 6-2.
BENOIT TESSIER/REUTERS
circuitos citadinos, enquanto o pró-
prio Leclerc (que beneÆciou do cone
de aspiração dado por Hamil-
ton) admitiu que o tempo que lhe
valeu a pole não o satisfaz.
Tsunoda, que passou pela primei-
ra vez à qualiÆcação decisiva, acabou
por ser o grande responsável pela
interrupção da sessão, ao embater
nas barreiras, levando Carlos Sainz
a derrapar para a escapatória para
evitar um acidente mais grave.
Valtteri Bottas (Mercedes) sentiu
diÆculdades e acabou por não ir
além do 10.º tempo, partindo ao lado
de Lando Norris (McLaren), penali-
zado em três posições por ter desres-
peitado uma bandeira vermelha.
Desporto
Fernando Pimenta
Mais uma
medalha para
Pimenta.
Esta é de prata
Diogo Cardoso Oliveira
Há notícias que quase podem ser
escritas antes do final das provas.
As que falam de medalhas de Fer-
nando Pimenta encaixam nesse
perfil. Ontem, na Polónia, o canoís-
ta minhoto sagrou-se vice-campeão
da Europa em K1 1000 metros, man-
tendo um registo tremendo desde
que iniciou a caminhada para os
Jogos Olímpicos de Tóquio: entre
Mundiais, Europeus e Taças do
Mundo, de 1000 ou 5000 metros,
Pimenta nunca falhou uma medalha
em K1 — são já 21, desde 2017.
Este gosto especial por estar no
pódio só não teve um significado
ainda maior porque há um jovem
atleta húngaro, de 23 anos, chamado
Balint Kopasz. Em Poznan, Pimenta
remou na pista quatro, concluindo
a regata a 1,435s do magiar e supe-
rando o belga Artuur Peters, que
completou o pódio.
Fernando Pimenta, que já várias
vezes falou do talento de Kopasz,
elogiando aquele que é um dos prin-
cipais rivais na luta pelo ouro olím-
pico nas águas japonesas, falou de
um “mano a mano bem renhido”.
“Foi uma luta interessante, princi-
palmente entre mim e o húngaro.
Demos um bom espectáculo, um
mano a mano bem renhido. Agora
faltam dois meses para a grande
competição da época [ Jogos Olímpi-
cos]. É continuar a trabalhar e acre-
ditar que tudo é possível em Tóquio",
vincou, à agência Lusa.
Pimenta volta hoje às águas pola-
cas e pode continuar o registo 100%
medalhado. Terá às 14h08 a final do
K1 5000 metros, duelo em que quer
“fazer uma grande regata” e “fugir
das confusões”, numa prova sempre
conflituosa entre as embarcações.
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Domingo, 6 de Junho de 2021

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Ramalho Eanes aceita presidir à comissão nacional

das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril
Conselho de Ministros
aprovou a criação de uma
estrutura de missão para
organizar os 50 anos do 25
de Abril, em 2024
O antigo chefe de Estado Ramalho
Eanes vai presidir à comissão nacio-
nal das comemorações do 50.º ani-
versário do 25 de Abril, aceitando
assim o convite do Presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa.
De acordo com a página oÆcial da
Presidência da República, foi publi-
cada na sexta-feira, em Diário da
República, a resolução do Conselho
de Ministros relativa às “Comemora-
ções do 50.º aniversário da Revolu-
ção de 25 de Abril de 1974”.
“O Presidente da República convi-
dou para presidir à respectiva comis-
são nacional o general António
Ramalho Eanes que aceitou”, lê-se.
A 27 de Maio, o Conselho de Minis-
tros aprovou a criação de uma estru-
tura de missão para organizar as
comemorações dos 50 anos do 25 de
Abril, que se assinala em 2024,
nomeando Pedro Adão e Silva como
comissário executivo.
A par da estrutura de missão vai
funcionar, junto da Presidência da
República, esta comissão nacional,
presidida por Ramalho Eanes, que
terá a responsabilidade de “aprovar
Antigo chefe de Estado Ramalho
Eanes vai presidir à comissão
nacional do cinquentenário
do 25 de Abril, em 2024
o programa oÆcial das comemora-
ções e os relatórios de actividades”.
Na comemoração da revolução
deste ano, foi anunciado pelo primei-
ro-ministro, António Costa, que o
Presidente da República, Marcelo
DANIEL ROCHA
Rebelo de Sousa, e ele próprio
tinham acertado que as comemora-
ções dos 50 anos do 25 de Abril
começam a 24 de Março de 2022,
quando a democracia ultrapassa em
um dia a duração da ditadura.
“Foi aprovada a resolução que
determina a realização das Comemo-
rações do 50.º Aniversário da Revo-
lução de 25 de Abril de 1974 e cria a
estrutura de missão que as promove-
rá e organizará”, referia, então, a
resolução do Conselho de Ministros.
Celebrar o arco democrático
De acordo com o executivo, esta
estrutura de missão será composta
por um conselho geral, nomeado
pelo primeiro-ministro, e que conta-
rá “com a presença de individualida-
des de reconhecido mérito e activis-
mo em dimensões fulcrais na cons-
trução da democracia, para além de
uma comissão executiva que “é res-
ponsável pela elaboração do progra-
ma oÆcial das comemorações, bem
como pela sua concretização”.
“Foi nomeado comissário execu-
tivo Pedro Adão e Silva Cardoso
Pereira”, referia ainda o Governo.
O objectivo destas comemora-
ções, de acordo com o Governo, “é
perpetuar, regenerar e alargar o
vínculo com o regime democrático,
celebrando o arco democrático que
se iniciou no 25 de Abril de 1974 e
que se desenvolveu ao longo de 1976
com a aprovação da Constituição,
as primeiras eleições legislativas
presidenciais e regionais e que cul-
minou com as autárquicas no Ænal
desse mesmo ano”. Lusa

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