Abrir portas onde se erguem muros Director: Manuel Carvalho Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • Ano XXXII • n.º 11.
no XXXII • n.º 11.372 • Edição Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,30€
Há mais de oito mil alunos em casa
de quarentena por causa da covid-19
Região de Lisboa concentra grande maioria dos surtos em escolas do país. DGS esconde dados nacionais
A poucas semanas do Ænal do ano
lectivo, há pelo menos 8700 alunos
em isolamento em casa devido a casos
de covid-19 nas suas escolas, segundo
Emissão de 10 mil milhões de euros lança
financiamento do fundo de recuperação
A União Europeia deu ontem o pri-
meiro passo para ir buscar aos mer-
cados os 800 mil milhões de euros
que irá entregar, a partir de Agosto,
uma ronda feita pelo PÚBLICO junto
dos coordenadores regionais para a
pandemia no território continental.
Lisboa é de longe a região que con-
aos países para Ænanciarem os seus
planos de recuperação e resiliência
até 2026, ao lançar uma primeira
emissão de dívida pela qual deverá
Acompanhe em publico.pt/euro2020
Euro 2020
Chegou a Hora H para
Portugal em Budapeste
Destaque, 2 a 7
centra o maior número de alunos que maior incidência de covid-19 a norte, do país a nível de quarentenas da
se viram obrigados a regressar a um há mil estudantes a ter aulas em casa. população escolar. A última vez que
modelo de ensino à distância, mas só É a primeira vez que se consegue a DGS deu dados sobre esta realidade
em Braga, um dos concelhos com fazer um retrato mais pormenorizado foi a 8 de Abril Sociedade, 14/15
REUTERS
Políticos
Na estreia de Biden Propostas para
NATO aponta baterias punir ocultação
de riqueza não
à China, uma ameaça convencem MP
à segurança global Conselho Superior do Ministério
Público diz que propostas entregues
Mundo, 24
no Parlamento têm efeito prático
“reduzido” Política, 12
Televisão
Daniela
Ruah nos
trilhos de
ki
Ondjaki
Actriz está
em Torres
Vedras a
realizar um
teleÆlme
para a RTP
Cultura, 32/33
Cimeira
UE e EUA põem a
conversa em dia
depois de sete
anos sem falar
pagar uma taxa de juro próxima de peus, no caso de Portugal e Espanha, Das vacinas à relação com China e
zero. Este passo histórico é dado na países que a presidente da Comissão Rússia, Bruxelas e Washington inau-
mesma semana em que Bruxelas Europeia, Ursula von der Leyen, visi- guram hoje um novo ciclo da relação
aprovará os primeiros PRR euro- tará amanhã Economia, 26 transatlântica Mundo, 22/23
ISNN-0872-1548
2 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021

Destaque Euro 2020

Selecção pronta
para contornar
as “dificuldades”
que a aguardam
no Europeu
O primeiro obstáculo será a Hungria e os mais de 60 mil
adeptos nas bancadas do Puskas Arena. Fernando Santos
desvaloriza anteriores embates e deixa elogios ao adversário.
Cristiano Ronaldo aponta para um recorde... colectivo
2014, como substituto de Paulo Bento resultou no primeiro grande título O treino de ontem da selecção antigo treinador do Honvéd assumiu
David Andrade, em Budapeste
no comando da selecção, contam-se internacional de Portugal. portuguesa, em Budapeste o comando da Hungria em Junho de

P
ara Cristiano Ronaldo, será
“perfeito”; para Nuno Men-
des, uma novidade absolu-
ta como sénior. Um ano,
três meses e quatro dias
depois de a covid-19 deixar
de ser considerada uma epidemia e
ser, pela primeira vez, declarada
pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) como pandemia, Portugal vai
fazer na estreia no Euro 2020 uma
viagem ao passado e defrontar a
Hungria num estádio com lotação
esgotada — serão mais de 60 mil os
espectadores que vão encher, nesta
tarde (17h, SIC), o Puskás Arena.
Num ambiente previsivelmente hos-
til, a selecção portuguesa terá pela
frente uma equipa mais rude do que
artística e a “necessidade” de ven-
cer: se perder pontos contra os
magiares, Portugal ficará sob pres-
são para as partidas contra a Alema-
nha e a França.
Desde que Fernando Santos foi
apresentado, a 24 de Setembro de
pelos dedos de uma mão os jogos que
foram difíceis de digerir pelo treina-
dor português, pela forma como per-
deu o controlo táctico da partida. Um
desses encontros é, seguramente, o
Hungria-Portugal, respeitante à fase
de grupos do Europeu de 2016.
Após dois jogos (Islândia e Áustria)
que não ganhou, mas em que a
supremacia portuguesa foi avassa-
ladora — nas duas partidas, Portugal
rematou 50 vezes, contra sete dos
adversários —, o duelo com a Hun-
gria, em Lyon, era decisivo. Uma
derrota deixava a selecção portu-
guesa fora da prova. Um empate não
garantia o apuramento.
Na verdade, por três vezes, Santos
esteve virtualmente eliminado do
torneio, mas, apesar de o jogo se ter
tornado um duelo tacticamente
anárquico, a equipa nacional sobre-
viveu, muito por culpa da inspiração
de Cristiano Ronaldo na finalização
— com o empate a três golos, garan-
tiu mesmo uma qualificação que
“Meio-campo interessante”
Ontem, no Puskás Arena, o técnico
português evitou, como já tinha fei-
to no passado, alongar-se muito
sobre essa partida. Fernando Santos
preferiu desviar a análise ao primei-
ro rival no Euro 2020 para os últi-
mos jogos que os magiares fizeram
(diante da Islândia, da Polónia e da
Rep. Irlanda), para concluir que vai
“ter muitas dificuldades”. “Espero
uma equipa da Hungria que vai
entrar muito forte. Que vai jogar
olhos nos olhos. Não espero uma
equipa a jogar atrás, a defender, a
jogar só no contra-ataque. Procura
sempre sair a jogar. Não é de subi-
rem todos e o guarda-redes bater a
bola na frente. Tem um meio-campo
muito interessante, com o Nagy, o
Kleinheisler e o Schäfer, e dois avan-
çados muito fortes.”
Embora Santos assinale que o
adversário está diferente sob o
comando do italiano Marco Rossi — o
2018 —, o seleccionador português
terá, certamente, bem fresco na
Puskas Arena 17h
Budapeste SIC memória o último encontro que fez
em Budapeste.
Hungria 3-4-1-2 Nessa partida, a 3 de Setembro de
2017, no apuramento para o Mundial
Gulácsi 2018, a arma magiar foi o músculo.
Fiola Orbán Attila Szalai Num jogo completamente domina-
do por Portugal, os húngaros usa-
Lovrencsics Nágy Schäfer Holender ram e abusaram da agressividade —
Priskin foi expulso aos 30’, após
Kleinheisler agredir Pepe —, e, num duelo que
teve como titulares uma mão-cheia
R. Sallai Ádam Szalai
de jogadores que não estão no Euro
2020 (Cédric, Bruno Alves, Fábio
Ronaldo Coentrão, João Mário e Gelson Mar-
Diogo Jota B. Fernandes B. Silva tins), foi André Silva, assistido por
Ronaldo, que marcou o golo que
Danilo William garantiu o triunfo português.
Quase quatro anos depois, é pou-
R. Guerreiro Pepe R. Dias N. Semedo co provável que o avançado do Ein-
Rui Patrício tracht Frankfurt volte a ser titular
em Budapeste. Pelo que foi possível
Portugal 4-2-3-1 assistir, nos 15 minutos iniciais dos
treinos de Portugal na capital hún-
Árbitro: Cuneyt Çakir Turquia gara a que a imprensa teve acesso,

Santos deve apresentar um “onze”
muito próximo daquele que iniciou,
há menos de uma semana, o último
jogo de preparação, contra Israel,
com três alterações: Rui Patrício
ocupará o lugar de Rui Silva, Nelson
Semedo substituirá Cancelo e
Raphael Guerreiro deverá relegar
Nuno Mendes para o banco — o joga-
dor do Sporting, de apenas 18 anos,
nunca fez um jogo numa equipa
sénior com adeptos nas bancadas.
Se, para Nuno Mendes, o ambien-
te certamente “quente” e entusiasta
que se vai viver no Puskás Arena
pode ser estranho, para Cristiano
Ronaldo, será “perfeito”: “É bonito
para o futebol. Oxalá os estádios
estivessem sempre cheios.”
Contrariamente ao que aconte-
ceu no Euro 2016 e no Mundial 2018,
provas em que o capitão português
nunca fez a antevisão de qualquer
jogo, desta vez Ronaldo foi o joga-
dor escolhido para falar antes da
estreia de Portugal no Euro 2020.
Ao lado de Fernando Santos, mas
numa conversa com os jornalistas
HUGO DELGADO/EPA
por via remota (exigências da
UEFA), Ronaldo, que durante a con-
ferência de imprensa confidenciou
que “falar assim, sem ninguém, é
estranho”, manteve um discurso
fluido, mas pouco efusivo, e, depois
A equipa tem estado de garantir que não está preocupa-
bem, está do com a posição em que vai jogar
— “sinto-me confortável a jogar na
preparada. Desejo frente, seja na direita, no centro ou
na esquerda” —, falou de recordes.
que entre com o Com quatro Campeonatos da
Europa no currículo de presenças
pé direito, que é (2004, 2008, 2012 e 2016), o capitão
português, se jogar hoje no Puskás
muito importante Arena, vai tornar-se o primeiro atle-
neste tipo de ta a participar em cinco Europeus
consecutivos.
competições Para o madeirense, no entanto,
este não é um recorde que o deixe
Cristiano Ronaldo propriamente “efusivo”. “É um bom
Portugal recorde, mas o mais bonito era
ganhar o Europeu duas vezes”, assi-
nalou.
“A equipa tem estado bem, está
preparada. Desejo que entre com o
pé direito, que é muito importante
neste tipo de competições.”
Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 3
Guarda-redes da Hungria
“Pete, o Muro” será
o último obstáculo
no caminho de Portugal
David Andrade, em Budapeste
A
12 de Novembro de 2020,
quando a Hungria deu a
volta à Islândia no Puskás
Arena com dois golos mar-
cados depois do minuto 88,
o fato de herói da qualifica-
ção magiar para o Euro 2020 foi ves-
tido pelo mais talentoso jogador hún-
garo da actualidade: com um remate
do jovem Dominik Szoboszlai, a Hun-
gria garantiu a vitória no play-off,
frente aos islandeses (2-1), e um lugar
no temível Grupo F, ao lado de Portu-
gal, Alemanha e França. A recuperar
de uma lesão sofrida nos adutores há
seis meses, o avançado do RB Leipzig
não será esta tarde uma preocupação
para Pepe e Rúben Dias, mas outra
das figuras do vice-campeão alemão
promete dar dores de cabeça aos
avançados portugueses: o guarda-re-
des Péter Gulácsi.
Na história do futebol húngaro, há
um capítulo escrito a letras de ouro
por uma selecção que ganhou o rótu-
lo de “avassaladora” e que, na déca-
da de 50, revolucionou os manuais
tácticos com o inovador “WM”,
esquema que serviu de inspiração
para o 4-2-4 utilizado, em 1958, pelo
Brasil de Pelé, no Mundial da Suécia.
Os “mágicos magiares”, uma máqui-
na de fazer golos, contavam com
nomes lendários, como Ferenc
Puskás, Sándor Kocsis, Zoltán Czibor
ou Nándor Hidegkuti, mas, mesmo
nessa altura, a vocação ofensiva da
equipa não retirou brilhantismo e
protagonismo a Gyula Grosics, um
dos melhores guarda-redes da histó-
ria do futebol europeu.
Com o declínio do futebol húngaro,
nas décadas que se seguiram, foram
poucos os nomes que se destacaram
nas balizas das selecções magiares. As
excepções foram Ferenc
Mészáros, que nos anos
80 jogou em Portugal
(Sporting, Farense e V.
Setúbal) ou, mais recente-
mente, Gábor Király, que
fez carreira na Alemanha
e em Inglaterra, e que,
com as suas famosas calças
de fato de treino cinzentas,
defrontou Portugal no Euro
2016 — Király tinha, nesse
jogo, 40 anos.
O Euro 2016,
que acabou em
festa para a selec-
ção portuguesa, foi a
última grande competição inter-
nacional disputada por Király
PATROCÍNIO
— cinco meses mais tarde, com 108
internacionalizações, despediu-se da
selecção num jogo frente à Suécia. A
saída do veterano guarda-redes per-
mitiu a ascensão de Péter Gulácsi, que
tinha um percurso consistente pelas
selecções jovens húngaras — em 2009,
no Mundial sub-20, foi decisivo para
a conquista do terceiro lugar da Hun-
gria, ao defender, no desempate por
grandes penalidades, três remates.
Embora se tenha afirmado na prin-
cipal selecção do país apenas aos 26
anos, Gulácsi é um jogador “com
escola” — foi contratado pelo Liver-
pool aos 17 anos —, mas o grande salto
na carreira do guarda-redes nascido
em Budapeste deu-se em 2013, quan-
do terminou o contrato que o ligava
aos “reds”.
Após vários anos a jogar nas divi-
sões secundárias inglesas por emprés-
timo do Liverpool, o húngaro mudou-
se para Salzburgo, onde assinou a
“custo zero” com o Red Bull. Duas
épocas e 65 jogos pelo campeão aus-
tríaco valeram a Gulácsi o “salto”, a
troco de três milhões de euros, para
o “irmão” mais poderoso do clube
austríaco: o RB Leipzig.
O principal concorrente passava a
ser o internacional suíço Fabio Col-
torti, mas Gulácsi não demorou a
impor-se. Hoje, quase seis anos
depois de ter chegado a Leipzig, onde
já soma mais de 200 jogos, o húngaro
é admirado pelos adeptos do actual
vice-campeão germânico, que o tra-
tam de forma elogiosa como “Pete, o
Muro”.
Sem qualquer golo sofrido em 15
dos 33 jogos que fez esta época, na
Bundesliga, Gulácsi foi recentemente
elogiado por Oliver Kahn, um dos
nomes grandes da história das balizas
germânicas. O antigo internacional
alemão comparou o húngaro com
Manuel Neuer e, embora refira que
no “trabalho de pés, Gulácsi não está
ao nível do Neuer”, Kahn considera
que o magiar “está sempre pronto a
intervir nas costas da sua defe-
sa, interceptando bolas
em profundidade”.
“É muito bom
entre os postes,
conse guindo - se
posicionar na baliza
de forma perfeita e
tendo uma óptima velo-
cidade de reacção, sen-
do um dos seus pontos
fortes as situações de
um contra um”, con-
clui o antigo guarda-redes
do Bayern Munique.
4 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021
Destaque Euro 2020
Comité Olímpico já vacinou 98% dos atletas
Autoridades guardam
informações sobre vacinação
da selecção de futebol
Miguel Dantas
Não se sabe ao certo quantos jogado-
res, onde ou com que vacina: o pro-
cesso de vacinação da selecção nacio-
nal de futebol para o Euro 2020 foi, a
todos os níveis, envolto em secretis-
mo. Algo que contrasta, por exemplo,
com a vacinação na selecção espa-
nhola ou com a dos atletas que vão
representar Portugal nos Jogos Olím-
picos de Tóquio.
Apesar de o processo de vacinação
ter ocorrido em Maio, apenas foi
publicamente conhecido em Junho,
após um comunicado em que a Fede-
ração Portuguesa de Futebol (FPF)
adiantou que “a quase totalidade do
grupo” foi vacinado em tempo útil.
De fora Æcaram os jogadores que
tinham contraído o vírus há menos
de seis meses e, eventualmente,
algum membro que possa ter recusa-
do a inoculação.
Questionada pelo PÚBLICO sobre
os detalhes de vacinação da turma
das “quinas”, na sequência do teste
positivo à covid-19 de João Cancelo, a
task force da Direcção-Geral da Saúde
conÆrma apenas que a vacinação dos
jogadores se insere “na lógica de
excepção”, adiantando que o proces-
so de vacinação do grupo já está con-
cluído. Não se sabe, contudo, qual a
marca de vacina usada, com este pro-
cesso a poder ter uma ou duas fases,
consoante a vacina utilizada.
Também a FPF não adianta mais
informações, mas o PÚBLICO apurou
junto de fonte federativa que os joga-
dores das “quinas” estão sujeitos a
protocolos sanitários rígidos para
evitar infecções. Os futebolistas ape-
nas não estão obrigados a usar más-
cara e a manter o distanciamento
físico durante os treinos, sendo que
também no centro de estágio as
regras sanitárias se aplicam à equipa
e funcionários. Sem o consentimento
dos jogadores, as informações relati-
vas à vacinação individual não podem
ser partilhadas publicamente. Cada
jogador é livre de escolher ser (ou
não) vacinado, uma das razões que
justiÆca também a ausência de deta-
lhes desta operação.
Já a UEFA remete o PÚBLICO para
os regulamentos da retoma das com-
petições, bem como para as regras
especiais do Euro 2020. Neste docu-
mento, a UEFA explicita que as equi-
pas têm de ter no mínimo 13 jogado-
res aptos a disputar uma partida. Em
caso de surto que afecte a maioria da
equipa — e se se veriÆcar uma impos-
sibilidade em reagendar o jogo —, a
selecção afectada é punida com uma
João Cancelo foi forçado a abandonar o estágio, vítima de covid-19
derrota por 3-0, como acontece nos
casos de falta de comparência.
COP detalha informação
Contrastando com a escassa informa-
ção existente sobre a vacinação da
selecção das “quinas”, olhemos agora
para a comitiva que representará Por-
tugal nos Jogos Olímpicos.
Em conversa com o PÚBLICO, o
presidente do Comité Olímpico de
Portugal (COP), José Manuel Constan-
tino, adianta que 70% dos atletas na
missão portuguesa, neste momento
a rondar as 80 pessoas, já receberam
duas doses da vacina da BioNTech/
PÆzer. Com uma dose tomada estão
28% dos atletas da missão olímpica,
enquanto 2% estão a aguardar a ino-
Não se sabe, sequer,
qual a marca de
vacina usada,
quantos jogadores
foram vacinados
e em que local
culação. Apenas um atleta deste gru-
po se recusou a receber a vacina.
“Na primeira fase, atendendo ao
tempo das tomas, incluímos [no pla-
no de vacinação] os que já estavam
apurados e os que estavam em vias
de apuramento. Há alguns atletas que
estão vacinados e vão Æcar cá. A par-
tir do momento em que um atleta
garante o apuramento, é chamado
para tomar a vacina”, explica o res-
ponsável. A cerca de dois meses do
início dos Jogos Olímpicos de Tóquio,
marcado para 23 de Julho, a PÆzer
anunciou uma parceria com o Comi-
BERNADETT SZABO/REUTERS
té Olímpico Internacional: todos os
atletas das Olimpíadas receberiam
doses desta vacina, com a farmacêu-
tica a coordenar as inoculações com
os comités dos vários países. Constan-
tino explica que, ainda antes deste
acordo, o Governo já tinha garantido
ao COP que os atletas seriam vacina-
dos antes da viagem para Tóquio.
“Antes da PÆzer, o Governo já tinha
assumido essa responsabilidade. As
vacinas da PÆzer vieram, de algum
modo, ressarcir as vacinas que esta-
vam a ser utilizadas do contingente
geral para a população portuguesa.
Portugal está no bom caminho para
ter todos os atletas vacinados. Inicial-
mente, tivemos alguma demora na
resposta do Governo para esta possi-
bilidade, mas, a partir desse momen-
to, tem tudo corrido bem”, Ænaliza.
Apesar da “bolha” sanitária a que
as selecções estão sujeitas, os casos
de covid-19 não são impossíveis.
Exemplo disso é o surgimento de um
caso de infecção em João Cancelo,
jogador substituído à última hora por
Diogo Dalot. Também o processo de
vacinação da selecção espanhola foi
acelerado pelo surgimento de casos
no plantel: o capitão Sergio Busquets
teve um teste positivo após o amigável
frente à selecção portuguesa, com o
Ministério da Saúde a aprovar a che-
gada de vacinas aos jogadores, a
escassos três dias da estreia espanho-
la na prova, ocorrida ontem.
Neste caso, foram usadas vacinas
da PÆzer e da Janssen. As imagens da
vacinação de jogadores foram capta-
das e difundidas pelos media, com 43
jogadores e membros do staè a rece-
berem a injecção. As vacinas foram
administradas sexta-feira por elemen-
tos do Exército em Las Rozas, centro
de treinos da selecção espanhola.
Grupo F
Alemanha e França ensaiam
dança de campeões em duelo
inédito na fase de grupos
Augusto Bernardino
D
escontando os dois confron-
tos da primeira edição da
Liga das Nações — a que con-
sagrou Portugal — e um
encontro de carácter parti-
cular, em 2017, França e
Alemanha defrontam-se esta noite
pela primeira vez desde as meias-fi-
nais do último Campeonato da
Europa. Então, os franceses defron-
tavam os campeões do mundo (título
conquistado pelos germânicos no
Brasil 2014) e favoritos a garantirem
a sétima presença na final da prova.
Desta feita invertem-se os papéis,
pelo menos no que diz respeito ao
estatuto de campeão mundial, direito
conquistado pelos “bleus” na Rússia.
Curiosamente, ainda que a balança
penda para o lado alemão em matéria
de vitórias, essa diferença começa a
esbater-se e o último triunfo da Ale-
manha sobre a França data precisa-
mente do Mundial do Brasil: um
magro 1-0, suficiente para fazer ruir
o sonho dos gauleses nos quartos-de-
final do torneio.
Desde então, tem sido o azul a bri-
lhar mais, ainda que em palcos alter-
nativos, se excluirmos a tal meia-final
de 2016, única vez em que as duas
selecções se defrontaram em Cam-
peonatos da Europa.
Mais uma vez, Portugal surge nesta
história, agora como rival directo no
Grupo F, o que estreita a margem de
manobra de dois dos principais can-
didatos à conquista do Euro 2020,
mesmo que a Alemanha surja com a
sua face mais humilde. Em França,
em 2016, os alemães pagaram um
preço muito alto por dois erros, bem
aproveitados pela equipa de
Deschamps. Agora, Joachim Löw não
quererá hipotecar as possibilidades
de se despedir em beleza do coman-
do da “Mannschaft”.
Benzema está recuperado de lesão e deverá ser utilizado
PATROCÍNIO
O jogo é de verdadeiros titãs, que
no momento em que subirem ao rel-
vado, em Munique, já conhecerão o
resultado do Hungria-Portugal...
Dado sempre relevante para o caso
de ser preciso gerir este duelo-estreia
em fases de grupos.
Goretzka em dúvida
E, nesta teia de coincidências e curio-
sidades, é obrigatório abrir um parên-
tesis para falar de Benzema, cuja
última participação antes do “esque-
cimento” a que esteve votado acon-
teceu no Mundial do Brasil, frente à
Alemanha. O avançado do Real
Madrid esteve, de resto, em risco de
falhar o primeiro
encontro do Euro
2020, recuperando
Alemanha da lesão do jogo de
preparação com a
Bulgária.
França Caso esteja apto,
Benzema formará
20h00 SPTV1
um ataque temível
com Mbappé e Griezmann, o melhor
marcador do último Europeu. Giroud,
segundo melhor marcador da selec-
ção francesa, será reserva de luxo
se... o ego o deixar, depois das críticas
a Mbappé, que criaram mal-estar.
“É um grande jogo para começar.
Tanto para nós como para a Alema-
nha”, explica Didier Deschamps,
cujo objectivo “é ser eficaz em ambas
as áreas”. Por seu lado, Joachim Löw
não esconde a antecipação. “Sente-
se a expectativa e uma tensão posi-
tiva no ar. Contra um adversário de
primeira classe como é a França,
será importante confirmar o que a
equipa demonstrou nas últimas
semanas”, sublinhou o alemão, que
joga em casa, em Munique, ainda
com o médio Goretzka a recuperar
de lesão. Uma baixa a confirmar,
numa espécie de final que não podia
ser mais antecipada.
KAI PFAFFENBACH/REUTERS
6 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021
Destaque Euro 2020
Avançado do Bayer marcou golo monumental
Super-Schick obrigou
a Escócia a tirar-lhe o chapéu
Augusto Bernardino
A
República Checa entrou a
vencer no Campeonato da
Europa, alcançando impor-
tante triunfo sobre a Escócia
(0-2) no estádio mais antigo
de ste Euro 2020: o
Hampden Park, em Glasgow, casa dos
britânicos. Dois golos de Patrik Schick
puseram os checos no comando do
Grupo D, a par de Inglaterra — próxi-
mo adversário da Escócia —, o que
abre à República Checa boas perspec-
tivas de alcançar um lugar de apura-
mento para os oitavos-de-Ænal.
Naquele que foi o primeiro encon-
tro entre escoceses e checos em con-
texto de fases finais de campeonatos
da Europa, a selecção “visitada” — de
regresso à competição, após hiato de
25 anos — acabou por não saber tirar
partido do factor casa, fracassando
perante os 12 mil espectadores que
tão cedo não esquecerão o especta-
cular chapéu de Schick, autor dos
dois golos checos, o último a valer
bem o bilhete. Um remate de 45
metros que deixou o guarda-redes
David Marshall (o escocês mais velho
de sempre, com 36 anos, a actuar em
Europeus) manietado e enredado nas
malhas de um sério candidato a
melhor golo do torneio.
Eslováquia surpreende no arranque do Grupo E
Tudo correu mal a Paulo Sousa na estreia da Polónia
Diogo Cardoso Oliveira
Ontem, tudo correu mal à Polónia,
orientada pelo português Paulo Sou-
sa. Na estreia no Euro 2020, houve
derrota (1-2) frente à Eslováquia e con-
sequente tropeção num grupo em
que Suécia e Espanha não permitirão,
em tese, deslizes frente aos mais frá-
geis eslovacos. Houve ainda a expul-
são do experiente médio Krychowiak,
que Æca fora do próximo jogo, e hou-
ve, em geral, a sensação de que a
equipa está pouco competente nesta
fase, depois de cinco meses sob orien-
tação de Paulo Sousa. Tudo junto deu
uma desilusão tremenda e perspecti-
vas pouco animadoras antes dos due-
los frente a Espanha e Suécia.
Do lado da Eslováquia, este desfe-
cho é tudo o que a equipa precisava
num grupo em que era, teoricamen-
te, o elo mais fraco. Até porque mes-
mo duas derrotas nos restantes jogos
poderão chegar para o apuramento.
Escócia
República Checa
Patrik Schick 42’ e 52’
Hampden Park, em Glasgow, Escócia
Escócia Marshall, Hendry (McGregor,
67’), Cooper, Hanley, Robertson,
McTominay, McGinn, Armstrong
(Fraser, 67’), O’Donnell (Forrest, 79’),
Christie (Adams, 46’), Dykes (Nisbet,
79’). Treinador Steve Clarke
República Checa Vaclik, Coufal,
Celutska, Kalas, Boril, Kral (Holes, 67’),
Soucek, Masopust (Vydra, 72’), Darida
(Sevcik, 87’), Jankto (Hlozek, 72’),
Schick (Krmencik, 87’).
Treinador Jaroslav Silhavy
Árbitro Daniel Siebert (Alemanha)
VAR Marco Fritz (Alemanha)
O avançado de 25 anos, do Bayer
Leverkusen, igualou ainda a proeza
do belga Romelu Lukaku, ao “bisar”
no primeiro jogo da República Checa
neste Euro 2020, justiÆcando os
milhões pagos pela Roma, em 2018.
Depois das três últimas derrotas fren-
te à Escócia, duas na Liga das Nações,
Krychowiak deixou a Polónia em
inferioridade aos 62 minutos
os checos impuseram-se através de
0 um jogo mais apoiado e elaborado,
qualidade que a equipa da casa ten-
tou contrariar com o seu futebol mais
directo e físico.
2 Escócia-Rep. Checa
Sem argumentos suÆcientes para
contornar o estilo escocês, os checos
procuravam conquistar livres e can-
tos na esperança de poderem explo-
rar um lance de bola parada de forma
a fazerem um golo que os pusesse na
frente do marcador (algo que nunca
conseguiram no seu último Euro, em
França) e evitarem perder pela quin-
ta vez em sete presenças logo no pri-
meiro encontro.
Na primeira parte, apesar de uma
oportunidade Çagrante de Robertson,
que Vaclik defendeu com a ponta da
luva, e de mais um par de situações
de relativo perigo repartidas pelas
duas equipas, o jogo prometia mui-
to pouco. Schick, que já tinha a
ameaçado fazer estragos,
aproveitaria os instantes
Ænais, em lance nascido de
uma sequência de três cantos,
para marcar um excelente golo
de cabeça, impondo-se entre dois
adversários.
Patrik Schick dava a tão desejada
Patrik Schick fez os dois
golos checos em Glasgow
Polónia
Linetty 46’
Eslováquia
Szczesny (pb) 18’,
Milan Skriniar 69’
Estádio de São Petersburgo, na Rússia.
Polónia Szczesny, Bereszynski,
Bednarek, Kamil Glik, Rybus (Puchacz,
74’), Jozwiak, Klich (Moder, 85’), Linetty
(Frankowski, 74’), Krychowiak
a22’a62’, Zielinski (Swiderski, 85’),
Lewandowski. Treinador Paulo Sousa
Eslováquia Dubravka, Pekarik
(Koscelnik, 79’), Satka, Skriniar,
Hubocan a20’, Haraslin (Duris, 87’),
Kucka, Hromada (Hrosovsky, 79’),
Robert Mak (Suslov, 87’), Hamsik,
Duda (Gregus, 90+2’).
Treinador Ivan Schranz
Árbitro Ovidiu Hategan (Roménia)
VAR Marco Di Bello (Itália)
Grupo D
Jornada 1
Inglaterra-Croácia
J V E D M-S
Rep. Checa 1 1 0 0 2-0
Inglaterra 1 1 0 0 1-0
Croácia 1 0 0 1 0-1
Escócia 1 0 0 1 0-2
Em São Petersburgo, a primeira
1 parte foi tudo aquilo que não se espe-
rava. Esperava-se uma Polónia forte.
Esperava-se Robert Lewandowski
perto do golo. Esperava-se a Eslová-
2
quia subjugada. Esperava-se futebol
jogado em meio-campo — o eslovaco,
claro. Nada disto aconteceu.
A selecção treinada por Paulo Sou-
sa entrou “mandona” e chegou a
jogar praticamente em 3x3x4, com
os alas totalmente projectados. Mas,
em bom português, era “muita parra
e pouca uva”. A Polónia tinha a bola
e rodava-a, mas sem conseguir rema-
tar — e, numa selecção que é “one-
man show”, esperava-se bastante
mais Lewandowski.
Confortável, a Eslováquia saiu em
transições com frequência. Aos 18’, a
passividade polaca permitiu tudo a
Mak. O ala recebeu no corredor,
rodeado de dois adversários e passou
tranquilamente por um, antes de
fazer um túnel ao segundo. Já na área,
vantagem à República Checa e obri-
gava o adversário a fazer uma altera-
ção logo no reatamento da partida.
Os minutos iniciais da segunda
1-0 metade emprestaram outra cor e
0-2
emoção ao jogo, com a República
P Checa a entrar melhor e a Escócia a
3 responder na exacta medida e a Æcar
3 muito perto de marcar (Hendry acer-
tou mesmo na barra numa reacção
0
0 pronta).
E foi nesse pico de entusiasmo de
de futebol mais rebelde que a Escócia
cometeu um erro fatal, quando Hen-
dry tentou a meia-distância, em vez
de respeitar o tipo de jogo da primei-
ra parte, sempre na busca dos Çancos
para cruzar para a área. Com a linha
defensiva muito alta e exposta a um
contra-ataque, o remate de Hendry
foi interceptado por Soucek, dando a
Schick a oportunidade para vestir a
capa de herói e marcar quase do meio
campo.
Os checos conseguiam o segundo
golo, obtido de forma brilhante, dei-
xando pouca margem para a recupe-
ração da Escócia, que ainda tentou
evitar o pior cenário neste regresso
aos grandes palcos. A diferença man-
teve-se até Ænal, apesar da coragem
escocesa, que merecia algo mais
perante um adversário mais calculis-
ta e eÆcaz.
rematou contra o poste. A bola bateu
no guarda-redes Szczesny e entrou na
baliza. As melhores oportunidades do
jogo foram eslovacas, tal como as
melhores jogadas e, sobretudo, a
maior predisposição para jogar.
No início da segunda parte, a Poló-
nia marcou numa grande jogada
colectiva que terminou com Ænaliza-
ção de Linetty. Não se sabe o que terá
dito Paulo Sousa ao intervalo, mas a
equipa regressou mais intensa e mais
dinâmica. Mas aos 63’, quando o
segundo golo polaco parecia uma
questão de tempo, Krychowiak foi
expulso e a Polónia, a jogar com dez,
assumiu a postura oposta à que tinha
tido: baixou o bloco.
Aproveitou a Eslováquia: após um
canto, aos 69’, o central Skriniar
dominou e Ænalizou no centro da
área. O golo motivou o recuo da equi-
pa, mas a Polónia, mesmo com mais
bola, tinha menos um jogador para
colaborar e pouco perigo criou.
 Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 7
PATROCÍNIO

O Europeu é Domínio não chegou para bater a Suécia

como o cartaz Selecção espanhola
do Sudoeste
sem golos na Andaluzia
Crónica THANASSIS STAVRAKIS/EPA

Espanha 0

Rita Ferreira
Suécia 0

T
ive o meu momento
“festival do Sudoeste” com
este Europeu. Sabem
quando chega aquele dia
em que se olha para o
cartaz e não há uma única
banda da qual tenhamos sequer
ouvido falar?
É o que me está a acontecer com
o Euro 2020, salvaguardadas
algumas distâncias, que o
Ronaldo ainda joga e o Neuer
ainda vai defender tudo o que lhe
aparecer pela frente. Mas a
verdade é que dei por mim, no
meio do Turquia-Itália, a falar do
Nesta e do Totti, que apareceram
na cerimónia de abertura, e do De
Rossi ao lado do Mancini no
banco. Dentro do campo uma
cara mais familiar: Chielini, vi-o
no Europeu de sub-21 de 2007
quando os Países Baixos ainda
eram a Holanda e o Chielini não
era o jogador mais velho do
plantel (como agora). PaciÆca-me
a ideia de que em Groningen o sol
ainda se põe às 22h em Junho.
No Holanda-Ucrânia, a
conÆrmação de que algo estava
mesmo a acontecer. Primeiro com
o comentário “Olha, este parece
Ælho do Gullit”, quando surgiu o
Nathan Aké. E depois com o
seguinte: “O Schevchenko
continua igual ao meu amigo
Miguel.” O Frank de Boer estava
no banco — algo só possível por
ser agora o seleccionador.
Será por isto que este Europeu
ainda não me “agarrou”? Portugal
só entra hoje em campo e alguma
normalidade regressará à minha
vida de adepta. Já organizei tudo
para o mais novo sair cedo da
escola, a apresentação do livro de
um amigo foi adiada e estarei,
suspeito, bastante nervosa
quando o jogo começar.
Porque na realidade o meu
coração ainda sofre como se 2016
nunca tivesse existido — de cada
vez que revejo aquela Ænal tremo
de medo que a bola do Gignac não
bata no poste. Claro que já estou
ai, ai, ai, que vamos apanhar a
França de novo. Como diz o meu
Ælho mais velho, que acredita que
podemos ser campeões outra vez
— e que acreditou quando fomos:
“Eu não tenho culpa que vocês
tenham passado a vida a perder.”
Estádio de La Cartuja, em Sevilha
Espectadores 10.559
Espanha Unai Simon, Llorente,
Laporte, Pau Torres, Jordi Alba,
Rodri (Thiago Alcântara, 66’),
Pedri, Koke (Fabián, 87’), Ferran Torres
(Oyarzabal, 74’), Dani Olmo
(Moreno, 74’), Morata (Sarabia, 66’).
Treinador Luis Enrique
Suécia Olsen, Lustig a55’ (Krafth, 75’),
Lindelof, Danielson, Augustinsson,
Olsson (Cajuste, 84’), Ekdal, Larsson,
Forsberg (Bengtsson, 84’), Isak
(Claesson, 69’), Berg (Quaison, 69’).
Treinador Janne Andersson
Árbitro Slavko Vincic (Eslovénia)
VAR Bastian Dankert (Alemanha)
Positivo/Negativo
Olsen
Mesmo sem grande
competição durante a
época, por ter sido
suplente no Everton, a
Suécia confia nele e, frente
à Espanha, justificou em
pleno essa confiança com
uma mão-cheia de
enormes defesas.
Isak
Deu para ver que é um
craque em apenas duas
jogadas, naquela em que
quase marcou e numa
outra, em que deu todas as
condições a Berg, o
companheiro no ataque,
para marcar.
Olmo
O criativo do RB Leipzig foi
o mais influente no ataque
espanhol. Só não marcou
porque Olsen não deixou.
Morata
A sua titularidade parece
ter sido um equívoco.
Falhou na única grande
oportunidade que teve, na
cara do guarda-redes.
Moreno criou mais perigo
em menos tempo.
Claesson ganha um lance de cabeça a Pau Torres, no Espanha-Suécia, em Sevilha
Crónica de jogo
Marco Vaza
A “Roja” entrou no Europeu
com um empate frente à
Suécia. Morata esteve
desinspirado na finalização
e Olsen em grande plano
A Espanha teve uma entrada em falso
no Euro 2020, ao não conseguir
melhor do que um empate sem golos,
em Sevilha, frente à Suécia. Esta par-
tilha de pontos entre ibéricos e suecos
deixa a Eslováquia como líder isolado
do Grupo E, depois de ter triunfado
sobre a Polónia de Paulo Sousa. Sob
o calor escaldante da Andaluzia, mes-
mo à noite, o domínio espanhol foi
constante, sem ser avassalador, mas
faltou à selecção de Luis Enrique
alguém que conseguisse bater o ins-
piradíssimo Robin Olsen.
Como honrar a história rica da
selecção espanhola e, ao mesmo tem-
po, criar uma identidade própria? É
nesta duplicidade que navega Luis
Enrique com esta versão da “roja” no
Euro 2020. Não seria justo comparar
uma equipa que tinha Xavi, Iniesta e
outros, com esta, que tem gente que
sabe, indiscutivelmente, jogar futebol
e com um estilo aproximado do que
dominou o futebol mundial entre
2008 e 2012. Olha-se para a estatística
Ænal do jogo e percebe-se que é assim:
75% de posse de bola e 840 passes
completos, enquanto os suecos Æze-
ram apenas 106 passes.
E seria injusto dizer que a Espanha
não fez o suÆciente para ter uma
entrada vitoriosa no Euro. Acumulou
oportunidades de golo, mas falhou-as
todas, umas por demérito próprio,
outras por mérito do gigante que ocu-
pava a baliza da Suécia, Robin Olsen,
que teve uma mão-cheia de enormes
intervenções. O guardião que nem é
titular do seu clube (é suplente de
Pickford, no Everton) foi a face mais
visível de uma selecção nórdica que
foi solidária até ao último segundo.
A jogar em casa, como irá aconte-
cer em todos os jogos da fase de gru-
pos, a Espanha entrou convicta do
seu favoritismo e fez o cerco aos sue-
cos. Todos, menos o guarda-redes
Unai Simón, jogavam no meio-campo
contrário, e a bola circulava com
grande Çuidez. Dani Olmo testou os
reÇexos de Olsen aos 15’, Koke atirou
por cima aos 29’. A maior perdida de
todas, no entanto, pertenceu a Mora-
Grupo E
Jornada 1
Polónia-Eslováquia 1-2
Espanha-Suécia 0-0
J V E D M-S P
Eslováquia 1 1 0 0 2-1 3 jogar pelas alas e, num dos momentos
Espanha 1 0 1 0 0-0 1 Ænais, Alba colocou a bola na cabeça
Suécia 1 0 1 0 0-0 1 de Moreno. Olsen, claro, não deixou
Polónia 1 0 0 1 1-2 0 que a bola entrasse.
ta: aos 38’, Æcou com a baliza à mercê,
mas o avançado atirou ao lado.
A Suécia, por seu lado, era orgulho-
samente defensiva, mas isso não que-
ria dizer que não tivesse as suas
armas. Sem Ibrahimovic, que se lesio-
nou pouco antes do torneio, Fors-
berg, Berg e Isak eram o suÆciente
para não deixar a defesa espanhola
descansar, sobretudo o jovem avan-
çado da Real Sociedad, que é, de fac-
to, um craque capaz de resolver as
coisas sozinho. Quase o fez na primei-
ra jogada de perigo criada pela Sué-
cia, aos 41’, com um remate que Mar-
cos Llorente desviou em cima da linha
de golo e para o poste.
Enrique esperou até à hora de jogo
para mudar alguma coisa, lançando
Thiago e Sarabia, e sacriÆcando o seu
único ponta-de-lança, o desinspira-
díssimo Morata. E a Suécia conseguiu
respirar um bocadinho, mantendo as
Æleiras cerradas, mas a espreitar algu-
ma brecha do adversário. Aos 61’,
descobriu uma e quase marcou: Isak
recebeu a bola na área, manobrou
entre três defesas e deixou-a fácil para
Berg encostar, mas o remate do vete-
rano sueco foi fora do alvo.
A 15’ do Æm, Enrique apostou em
Gerard Moreno, o ponta-de-lança do
Villarreal, e a Espanha voltou a ganhar
peso na frente. Como passou a haver
uma referência, voltou a fazer sentido
8 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021

Espaço público

O Fundo Azul e os fantasmas da “bazuca”

É
fácil perceber as razões
Editorial pelas quais o Presidente da
República repete tantas
vezes os alertas para a
necessidade de Portugal não
desperdiçar as oportunidades do
Programa de Recuperação e
Manuel Carvalho Resiliência (PRR, a famosa “bazuca”
europeia) e do próximo quadro
Ænanceiro plurianual com os fundos
estruturais da União. Nas entrelinhas
dessa preocupação reiterada de
Marcelo Rebelo de Sousa há uma
expectativa positiva e uma
experiência traumática: a expectativa
de aproveitar os fundos para
O fracasso da aposta no “reconstruir” e não apenas
“remendar” os problemas estruturais
mar, tantas vezes do país e o trauma do passado
apontado como a baseado na tradição de desbaratar ou
próxima nova fronteira subaproveitar as oportunidades,
do país, é um sinal de sejam elas a do ouro do Brasil ou dos
fundos da União Europeia. Depois de
alerta para as os riscos sabermos o que acontece com o
de desperdício das Fundo Azul, há razões de sobra para
verbas europeias preocupações.
Por muito que o mar e o potencial
da economia azul se tenham instalado
nas prioridades políticas de diferentes
governos ou do anterior Presidente,
ainda que o Estado tenha concebido
um instrumento Ænanceiro para a
estimular, o resultado concreto dessa
ambição é decepcionante. Em cada
ano há 13 milhões de euros para
investir, mas os agentes privados só
aproveitam menos de um quarto
dessas verbas. Como acontece tantas
vezes num Estado hipercentralizado e
desconÆado dos propósitos dos seus
cidadãos, a malha burocrática criada
em torno do acesso a esses fundos é
de tal forma intrincada que os
empresários desistem. E se esta
realidade acontece com um pequeno
fundo, imaginem-se os riscos que se
correm com os milhares de milhões
de euros que o país vai ter de gerir
nos próximos anos.
A lição do Fundo Azul, ou de muitos
outros programas fracassados, é
crucial para garantir o sucesso da
ambição do Governo, do Presidente e
dos cidadãos. O critério de escolha, a
celeridade e a Çuidez dos processos
de aprovação e de Æscalização exigem
uma administração pública mais
aberta e Çexível. Como a maior parte
dos eixos do PRR vai ser deÆnida pelo
Estado, em áreas novas como a
transição digital ou a
descarbonização, a sua competência
técnica para fazer ou orientar bons
projectos tem de ser garantida. Um
governo com evidentes sinais de
fadiga após um ano terrível não
ajuda. Depois, para agravar a
situação, teme-se igualmente pelo
grau de conÆança do sector privado.
O fracasso da aposta no mar, tantas
vezes apontado como a próxima nova
fronteira do país, é por isso um sinal
de alerta. Um sinal que legitima as
preocupações do Presidente e requer
especial atenção do país. Um aviso
que deve ser levado a sério para se
evitar a maldição das oportunidades
perdidas.

CARTAS AO DIRECTOR
Arraial da Iniciativa
Liberal
Só uma profunda ignorância nos
leva a comparar um arraial de
um partido recente com um
evento como a Festa do Avante!,
e nem vou tocar no 1.° de Maio.
Para além da notória falta de
cumprimento das regras da DGS,
e ainda o facto de esta ter dado
parecer negativo, aquilo que a
Iniciativa Liberal fez foi
inqualiÆcável. A vários níveis.
Fazer um arraial daquela
dimensão em Lisboa, por esta
altura, é muito mais do que
celebrar os santos populares. É
pôr o Estado e as forças de
segurança à prova —
aparentemente falharam, diga-se.
Enquanto o Avante! tem 80% de
actividade e conteúdo político e
20% de apenas lazer, o arraial era,
aparentemente, o contrário. E os
20% de política era tiro ao alvo a
políticos num Estado
democrático.
A IL resumir a sua actividade a
um arraial, desta maneira, diz
muito da sua dimensão e
pertinência para o quadro
político actual.
Pedro Perdigão, Lousada
Confiança nas
instituições
Perante a polémica relacionada
com a comunicação de dados
pessoais por parte da câmara
lisboeta sobre cidadãos de uma
nação que não respeita os
direitos humanos, e que segundo
consta já terão ocorrido
situações idênticas com cidadãos
de outros países, somos levados
a acreditar que não podemos
conÆar nas instituições, nem
naqueles que dirigem as
mesmas.
Quando determinado senhor
utiliza os meios de comunicação
para pedir desculpa por um erro,
ele está a admitir o mesmo e a
falha dos serviços quanto ao caso
em apreço, mas não admite os
casos que antecederam,
ignorando os mesmos. (...) Um
país acolhedor não pode
denunciar cidadãos acolhidos,
pondo em causa os direitos dos
mesmos, ou violando as regras do
próprio país acolhimento.
No pedido de desculpa nos
órgãos televisivos, é visível o
embaraço do autarca, que referiu
que só teve conhecimento do caso
pela comunicação social, quando
ao que parece até determinados
gabinetes governamentais
tiveram conhecimento da
situação, o que nos faz pensar que
existem mais cúmplices neste
processo. Que credibilidade nos
merecem as desculpas do autarca,
e qual a conÆança que podemos
ter nas instituições?
Américo Lourenço, Sines
Costa: outro Barroso?
A enorme queda de António
Costa nas sondagens é um sinal
claro de que os ventos da
mudança já se fazem sentir. Nas
próximas autárquicas, essa
mudança será bem vincada, pois
as trapalhadas que o PS tem feito
com a pandemia irão penalizar,
julgo eu, os seus candidatos.
Carlos Moedas tem feito
campanha incisiva e clara em
Lisboa, criticando fortemente
Fernando Medina, que nunca
responde, o que poderá ser sinal
de que não tem argumentos para
refutar as críticas do seu
opositor.
Se Carlos Moedas ganhar em
Lisboa, ou tiver bom resultado,
ganhará também o PSD, pois Rui
Rio é cada vez menos consensual.
A mudança terá, então, duas
vertentes — uma no país, com o
Æm do ciclo dos socialistas, e
outra na liderança do PSD. Rio
deveria estar para Costa, como
Moedas está para Medina,
certeiro e contundente, mas isso,
infelizmente, está longe de
acontecer.
O Æm do ciclo dos socialistas
parece cada vez mais certo,
quando se lê também que Costa
poderá ir para um cargo europeu,
à semelhança do que fez Durão
Barroso. Sentindo que os ventos
não lhe sopram de feição no seu
país, procuram outros horizontes,
mormente na Europa. São os tais
ventos da mudança, de que falei
logo de início.
Simões Ilharco, Lisboa
O trágico isolamento
de vilas e cidades
A crónica de ontem de Miguel
Esteves Cardoso impeliu-me a vir
testemunhar que acabei na
segunda-feira da semana passada
(7 de Junho) de fazer um périplo
ferroviário pelo país durante sete
dias. Usei o Intra-Rail da CP, que
inclui dormidas gratuitas em
pousadas de juventude, mas
também comboios confortáveis,
simpatia, pontualidade,
frequência e aplicação
supercompleta na Internet.
Quando precisei de autocarros
para fazer ligações, foi um vazio.
Não consegui chegar num feriado
da Guarda a Miranda do Douro e
perdi bilhetes para um cruzeiro
ambiental. Não consegui chegar,
num sábado, de Valença a
Melgaço. Mesmo que existam
ligações rodoviárias, a informação
nas centrais de camionagem ou
nos sites municipais é confusa,
não existe ou está desactualizada.
É trágico o isolamento das vilas e
cidades sem comboio.
Jorge Gonçalves, Lisboa

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt

BARTOON LUÍS AFONSO
ESCRITO NA PEDRA
“A única coisa pior que um mentiroso é um
mentiroso que também é um hipócrita!”
Tennessee Williams (1911-1983), dramaturgo
Eu não desisto do Porto. É tempo de avançar e
dizer sim, de mobilizar o PS e de galvanizar a
cidade Tiago Barbosa Ribeiro (deputado anunciou
ontem a candidatura à Câmara do Porto )
O NÚMERO NESTE DIA 15 DE JUNHO
31,6
1215 O rei João-Sem-Terra, de Inglaterra, assina a
Magna Carta, documento na base do moderno
parlamentarismo 1844 Charles Goodyear (EUA)
regista a patente do processo de vulcanização
da borracha 1923 Primeira reunião do Tribunal
Internacional da Haia 1970 Morre, aos 77 anos,
José de Almada Negreiros, artista plástico, es-
critor, fundador da revista Orpheu 1978 Sai o
primeiro número do semanário Se7e 1990
Ramalho Eanes abandona o Partido Renovador
Em 2020, a média de idades das Democrático 1996 Morre, aos 79 anos, a cantora
mulheres ao nascimento do de jazz Ella Fitzgerald. 2011 Presidente da Repú-
primeiro filho foi de 31,6 anos, blica, Cavaco Silva, indigita Passos Coelho, lí-
mais 1,8 anos que em 2010 der do PSD para o cargo de primeiro-ministro
A noiva
despeitada
Ainda ontem
tem
A
Miguel Esteves Cardoso
GB News estreou-se
no domingo às oito
da noite, mas já dá
para formar uma
opinião. As opiniões,
aliás, estão muito à
frente das notícias.
Trata-se de um canal de televisão
reaccionária — isto é, o canal até
pode não ser reaccionário, mas o
tipo de televisão é.
É uma reacção, sobretudo, à BBC
News. O director da estação,
Andrew Neil, é um dos melhores e
mais inteligentes jornalistas
britânicos — foi um empolgante
director do Sunday Times —, mas foi
na televisão da BBC que mostrou
ser um entrevistador exímio,
rápido e calmo, bem preparado e
impiedoso — ao ponto de haver um
número diminuto de políticos com
coragem de o enfrentar numa
entrevista.
Mas a BBC foi-lhe trocando as
voltas e os horários até ele se sentir
profundamente indesejado. A GB
News é a vingança dele. Mas, como
todas as vinganças, traz escrito o
nome do traidor em tudo o que faz.
A GB News é antipoliticamente
correcto, fazendo questão de se
mostrar desobediente aos ditames
da moda. Mas, em vez de
incorporar esta recusa da
ortodoxia reinante nas escolhas
editoriais, tornou-a central nas
próprias apresentações e
discussões.
Enquanto a BBC — paga pelos
contribuintes e logo obrigada a
tentar manter uma aparência de
neutralidade, por muito rebuscada
e vulnerável que seja — promove os
lugares-comuns vigentes, a GB
News limita-se a contrariá-los.
Apresenta-se como uma
fotograÆa da realidade britânica,
mas, tal como as antigas provas
fotográÆcas, o negativo é que é o
original.
A bem ver, o GB News, como é da
deÆnição do que é reaccionário, vai
a reboque da BBC.
Falta-lhe originalidade. Falta-lhe
um ponto de vista que não seja
apenas a negação da agenda do
Guardian, da BBC e de outros
inimigos imaginários ditos woke
que aÆnal até dão bastante jeito.
Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 9
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10 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021
Espaço público
Medinas de servilismo
O
André Lamas Leite
direito de manifestação é, nos
termos do art. 45.º da CRP, livre
e a regulamentação existente
apenas visa concatená-lo com
outros direitos fundamentais,
desde logo o de deslocação e
circulação, e garantir a segurança de quem o
exerce e de todos os demais intervenientes.
Assim, o vetusto DL n.º 406/1974, de 29/8, em
lado algum obriga a qualquer comunicação,
por parte das câmaras municipais, a quem
quer que seja. A regulamentação em nada
viola a Constituição e não pode nunca ser
usada como lei habilitante para a comunicação
de dados sensíveis. O RGPD (Regime Geral de
Protecção de Dados) e a Lei n.º 58/2019, de
8/8 (art. 48.º, n.º 2) impedem a sua
transmissão, punindo os autores com pena de
prisão até dois anos e, neste caso, o município
de Lisboa a elevada contra-ordenação. Assim,
e bem, a Comissão Nacional de Protecção de
Dados e o MP já abriram inquéritos. Seguro é,
Em favor de um Código Eleitoral
1.
Jorge Miranda
A Constituição de 1822, a nossa
primeira Constituição moderna,
dedicava às eleições um largo e
exaustivo capítulo (arts. 32.º a 78.º),
e seria seguida, embora em menor
medida, pela Constituição de 1838
(arts. 71.º a 78.º). Seria preciso esperar mais
de cem anos até que o Direito eleitoral
voltasse a obter plena consagração
constitucional. Sê-lo-ia com a Constituição de
1976 que, além de proclamar o sufrágio
universal, igual, direto, secreto e periódico
(arts. 11.º, n.º 1 e 113.º, n.º 1) e de estabelecer o
direito e o dever cívico de sufrágio no quadro
dos direitos, liberdades e garantias (art. 49.º),
Ærmaria princípios gerais respeitantes ao
recenseamento, às campanhas eleitorais, à
Administração eleitoral, à representação
proporcional, à realização das eleições e à
tutela jurisdicional (art. 113.º, n.ºs 2 a 7).
2. As matérias eleitorais, assim como as
referendárias, inserem-se no âmbito da
reserva absoluta de competência legislativa
portanto, aÆrmar que a comunicação às forças
ou serviços de segurança é uma interpretação
do DL conforme à CRP, pois é condição do
exercício do direito fundamental; tudo o mais
reÇecte um servilismo secular que faz das
entidades públicas receptáculos de
informação iguais a passadores: é melhor
comunicar a toda a gente para evitar
problemas; espera, se calhar não é mau dizer
aos que vão aturar os manifestantes; mal não
faz. É esta cultura de servilismo, de mais vale
comunicar a todos para não levar na cabeça,
de não usar esta última para distinguir o que se
deve e não fazer que está na base do que
aconteceu com os manifestantes russos. Ora,
tratando-se de um “mecanismo burocrático”
há muito instalado e que se repetiu nestas
máquinas carregadas de inércia e em que se
faz tudo na base do copy-paste, é evidente que
o mesmo aconteceu com as demais
manifestações, independentemente da
natureza democrática dos regimes contra os
quais o direito foi exercido. A ignorância, a
lassidão e o servilismo são democráticos,
porque respondem àquela que sempre digo
ser a lei mais observada no mundo: a do
menor esforço. A entrevista de Fernando
Medina à RTP, a esta luz, é um grave exercício
de desonestidade intelectual. Comparar o que
aconteceu agora com o que o presidente da
CML fez na sua juventude e dizer que até era
útil para que o ministério soubesse com quem
da Assembleia da República. A esta cabe, e só
a ela, legislar sobre as eleições dos titulares
dos órgãos de soberania, dos deputados às
Assembleias Legislativas Regionais dos
Açores e da Madeira e dos titulares dos órgãos
do poder local, bem como sobre outras
eleições a realizar por sufrágio directo e
universal [art. 164.º, alíneas a), j) e l), da
Constituição].
Todas estas leis são qualiÆcadas de leis
orgânicas (art. 166.º, n.º 2), com o que isto
implica — não em termos de leis de valor
reforçado (apesar do embastecido art. 112.º,
n.º 3) — mas em termos procedimentais: 1.º)
aprovação em votação Ænal global, por
maioria absoluta dos deputados em
efetividade de funções (art. 168.º, n.º 5); 2.º)
veto político do Presidente da República
apenas superável por maioria de dois terços
dos deputados presentes, desde que superior
à maioria absoluta dos deputados em
efetividade de funções (art. 136.º, n.º 3); 3.º)
iniciativa de Æscalização preventiva de
constitucionalidade não somente do
Presidente da República mas também do
primeiro-ministro e de um quinto dos
deputados em efetividade de funções (art.
278.º, n.º 4). As leis relativas às eleições dos
titulares dos órgãos de soberania são votadas
na especialidade pelo plenário (art. 168.º, n.º
4). E carecem de aprovação por maioria de
dois terços dos deputados presentes, desde
que superior à maioria absoluta dos
falar é atirar areia para os olhos, é fazer das
pessoas estúpidas. Do mesmo modo, como
pode um presidente de câmara só saber que
este é o procedimento anquilosado através da
comunicação social? Pode o presidente da
CML conhecer todos os papéis que por lá
passam? É evidente que não, mas há matérias
que, por contenderem com aspectos tão
sensíveis da vida jurídica e das competências
deste órgão, não lhe podiam passar ao lado. Se
passaram, como parece, então há omissão
grave do dever de diligência que sobre ele
impende. Se se deve ou não demitir, cada um
tirará as suas conclusões, mas está à vista que
as cabeças que rolarão não chegam para
aplacar o grau de violação de um direito
fundamental que, por acaso, tendo em conta o
Estado destinatário da comunicação, põe em
causa a segurança de cidadãos que recebemos
e a quem concedemos — ao menos a um — asilo
É esta cultura de
servilismo que está na
base do que aconteceu
com os activistas russos
deputados em efetividade de funções, a lei
sobre exercício do direito de voto, na eleição
do Presidente da República, dos cidadãos
residentes no estrangeiro, as disposições
relativas aos círculos eleitorais para a eleição
da AR e as respeitantes ao sistema e ao
método de eleição dos titulares dos órgãos
executivos do poder local (art. 168.º, n.º 6).
Pretende-se, assim, que regras de imediata
execução da Constituição — regras
materialmente constitucionais, ainda que não
formalmente — e que são decisivas para o jogo
político democrático obtenham o máximo
consenso, superior ao das maiorias
governamentais de conjuntura.
3. A dispersão legislativa e a necessidade
de, ao mesmo tempo, vencer contradições,
lacunas e desatualizações seriam só por si
razões bastantes para justiÆcarem uma
postura favorável a um código eleitoral.
Vários países, como a França, o Brasil e Cabo
Verde, possuem-no e também nós já o
tivemos em 1913 (a Lei n.º 3, de 3 de julho). E
em 1987 foi elaborado um projeto de Código
por uma comissão de juristas nomeada pelo
Governo, publicado no Boletim do Ministério
da Justiça n.º 364. Não chegaria, contudo, a
ser convertido em proposta de lei.
4. Além das vantagens em geral da
codiÆcação, importa atender aqui a outras
razões. É que os preceitos eleitorais não
interessam apenas aos práticos do Direito. E,
tanto quanto possível, bem aperfeiçoados,
político, outra que até já é cidadã nacional,
bem como as suas famílias. Se Moscovo ou
qualquer outra capital pode saber estes dados
sozinha? Claro, mas isso não seria
responsabilidade nossa. Se Medina é um
perigoso espião e come à mesa de Putin?
Nunca tal me passou pelo espírito e só o clima
de campanha eleitoral pode explicar que
alguém o tenha sugerido. Diga-se, neste ponto,
que também interessa a Medina caricaturar as
críticas, para enjeitar responsabilidades.
As medinas são as partes mais antigas de
uma cidade, em geral em local mais alto e
fortificado. É quase providencial que isto
tenha acontecido com este Fernando, pois, ao
invés de outro — Lopes-Graça —, não ouviu o
repto do Mestre — Acordai! — e, qual
amanuense mangas-de-alpaca, logo atirou
tudo aos “procedimentos”, sempre de costas
largas. Se daqui retirarmos a lição de que os
movimentos repetidos quotidianos devem ser
pensados e não apenas executados e que o
único servilismo que devemos é ao Estado de
direito, pois é o único saudável, já algo se terá
aprendido com este ataque ao lugar fortiÆcado
que deve ser a medina de um Estado. Tenho
muitas dúvidas, mas pode ser que os santos
populares ajudem…
Professor da Faculdade de Direito
da Universidade do Porto.
Escreve à terça-feira
eles têm de ser conhecidos e aplicados pelos
milhares e milhares de cidadãos que integram
as comissões recenseadoras e as mesas das
assembleias. A compreensão das normas de
Direito eleitoral, desde as normas de capaci-
dade até às atinentes ao apuramento e ao
contencioso, tornam-se incindíveis da
participação política. O seu conhecimento é
já, de per si, uma forma de participação polí-
tica. Ora, não sofre dúvida de que existe toda
a conveniência em que elas se vertam num
texto único, claro, sintético, bem organizado,
bem sistemático, em vez de estarem retalha-
das por diversos diplomas, com múltiplas
emendas avulsas. Por conseguinte, é também
um imperativo de cidadania em democracia
representativa que impele para a codiÆcação
eleitoral.
5. Por enquanto, a dispersão legislativa
continua, como conÆrma a recentíssima Lei
Orgânica n.º 1/2021, de 4 de junho. Não se
contesta as vantagens das benfeitorias que
traz. Mas imprescindível, no atual contexto
de pandemia de covid-19 e quase na véspera
de eleições para os titulares de órgãos das
autarquias locais, seria apenas a previsão de
voto antecipado pelos cidadãos eleitores
sujeitos a conÆnamento obrigatório e pelos
cidadãos eleitores internados em estruturas
residenciais.
Professor catedrático da Universidade de
Lisboa e da UCP, constitucionalista

Costa e a democracia de “balcão”
Palavra
e poder
Paulo Rangel
Visita de Joe Biden
A visita de Biden à Europa,
relançando a NATO, dando
prioridade à relação com a
UE e o RU, é uma boa notícia
para o mundo e o Ocidente.
O encontro com Putin será
também esclarecedor
Arraial da Iniciativa
Liberal Haverá sempre
espaços para a ironia e a
provocação política, mas
travestir de evento político
uma desobediência à
interdição sanitariamente
justificada dos festejos de
Santo António é lamentável
1.
A liberdade de manifestação não é
uma questão de protecção de
dados. A liberdade de
manifestação nada tem de ver
com as relações entre Portugal e a
Rússia. A liberdade de
manifestação é um direito fundamental, um
direito pré-constitucional, uma liberdade
pré-constituinte. Vale a pena lembrar: na sua
essência, a saída à rua do povo de Lisboa no
dia 25 de Abril de 1974 foi o exercício puro da
liberdade de manifestação. Foi o exercício
mais puro, mais inteiro e mais limpo. Foi,
aliás, este exercício da liberdade de
manifestação que, da manhã para a tarde,
permitiu transformar um golpe militar numa
verdadeira revolução. Permitiu converter
um golpe militar libertador numa revolução
livre. Sim, foi a liberdade de manifestação.
2. É importante insistir: o exercício do
direito à manifestação não pode ser
circunscrito a uma questão de protecção de
dados. Essa tentação de tudo subsumir e
consumir na protecção de dados e na sua
legislação é a tentativa de reduzir uma
questão política e constitucional fundamental
a um transe administrativo e a um trâmite
burocrático. É a vergonhosa tese de Costa em
que as liberdades deÆnham ao balcão.
Importa, pois, nunca esquecer: a garantia da
liberdade pessoal e da identidade, bem como
da privacidade e da intimidade, é muito
anterior a qualquer legislação sobre a
protecção de dados. A ideia de protecção de
dados é apenas uma dimensão moderna (ou
até moderníssima) de um acervo de direitos
fundamentais antigos e bem anteriores. Na
verdade, a digitalização e a era digital vieram
exponenciar enormemente a possibilidade de
violação daqueles direitos e garantias de
liberdade, de identidade, de privacidade e de
intimidade. E, por isso, houve a necessidade
de criar um quadro legislativo complexo e
vasto, com implicações em inúmeros aspectos
da vida quotidiana, para proteger aqueles
direitos constitucionais. Mas quando falamos
em liberdade de manifestação e no seu
exercício pleno, sem limitações nem
constrições, não estamos no domínio técnico
ou tecnológico da protecção de dados,
estamos no campo constitucional dos direitos
humanos.
3. Pondo as coisas em termos práticos. O
gravíssimo problema revelado pela prática da
Câmara de Lisboa, inaugurada pela
presidência de António Costa e secundada
pela presidência de Fernando Medina, nunca
se pôs antes ou noutro lado porque
simplesmente não tinha de se pôr. Durante 47
anos, aplicámos uma lei que nos facultou uma
liberdade plena. Da lei se tira que o direito à
manifestação não carece de qualquer
autorização. Congraça, isso sim, um dever de
comunicação para permitir a
compatibilização com eventuais direitos ou
interesses públicos conÇituantes. Na lei, como
na cabeça de qualquer pessoa de bom senso,
não se permite — muito menos, se impõe — a
comunicação do nome dos organizadores às
entidades visadas pela manifestação. À
entidade pública cabe simplesmente aferir
das condições para o decurso de uma
manifestação, estabelecendo eventualmente
Por mais que nos deixem
ao balcão, alguém tem
de explicar a situação
absurda, surreal
e antidemocrática
revelada pela prática
da Câmara de Lisboa
alguns condicionamentos fácticos, desde que
justiÆcados. Mas a Câmara de Lisboa instituiu
um procedimento de revelação sistemática da
identidade dos organizadores às entidades
visadas pela respectiva manifestação. Note-se
que aqui de nada interessa se era uma
embaixada, russa ou outra. De nada adianta a
Costa e a Medina fazerem juras de
“russofobia” primária, porque aÆnal não é a
Rússia que está em causa. Pode tratar-se
tão-só de um ministério, de uma empresa
privada ou de um tribunal. A que título e com
que razão se faz chegar a essa entidade visada
por uma manifestação a identidade (e até
outros dados) dos organizadores? Para quê e
com que Æto? Isso é uma restrição totalmente
inconstitucional — e também ilegal, a vários
propósitos — de um direito fundamental,
consagrado desde 1976, no art. 45.º da
Constituição.
4. A situação é de tal maneira absurda,
surreal e antidemocrática que tem de
perguntar-se: porque foi iniciada? Porquê na
câmara da capital? Como pôde isto escapar ao
crivo crítico de recursos humanos altamente
qualiÆcados, com experiência
político-administrativa, como são os da
autarquia de Lisboa? O que leva a esta
reverência e deferência para com
Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 11
RUI GAUDÊNCIO
embaixadas? Como podemos condescender
com a tristíssima tese da democracia de
“balcão” que ontem esgrimiu Costa, que
simplesmente nos toma por néscios?
5. Para quem conheça a cultura de
ocupação e controlo orgânico, relacional e
social da máquina de poder do PS, em
especial depois dos anos Sócrates, a adopção
desta praxe talvez não seja surpreendente.
Vem até de trás, do tempo do “no jobs for the
boys” e do “quem se mete com o PS, leva”. A
criação sistemática e sistémica de
proximidade, de cercania, de dependência,
de cumplicidade faz parte do “encanto
dominador”. Nem sempre é explícito, nem
sempre é expresso, estimula a autocontenção
e fomenta a autocensura. E claro, a diligência,
a suma diligência dos serviços. Já quase todos
se esqueceram do caso Charrua, o professor
perseguido porque ousara gracejar com
Sócrates.
6. Os presidentes da Câmara de Lisboa
estão numa posição ímpar em face do corpo
diplomático, já que no seu concelho estão
sediadas todas as embaixadas. As relações são
naturais e são frequentes. As regras da boa
hospitalidade talvez tenham degenerado em
deferência e reverência. AÆnal, tudo não
passaria de um reencaminhamento, feito
pelas melhores razões. Em nome da
segurança, da ordem, quiçá do asseio e
limpeza matinal e, claro, da melhor cortesia
internacional.
7. Por mais que nos deixem ao balcão,
alguém tem de explicar. Depois das queixas
formais dos organizadores, é crível que um
assunto desta sensibilidade não chegasse ao
presidente? E que dizer do comunicado do
seu gabinete de 2019? E das proclamações do
site? E das evasivas dos ministérios de
Assuntos Internos e Externos? Num ápice,
topámos com uma “democracia de balcão”,
ou na linguagem envolvente da novilíngua
digital, de uma “democracia de balcão único”.
Eurodeputado (PSD).
Escreve à terça-feira
12 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021

Política Parecer fala em “paliativo” para “grave problema”

Conselho Superior do MP tem reservas

sobre propostas contra ocultar riqueza
Parecer do órgão do Ministério Público defende que projectos do PS, do Bloco de Esquerda e do PAN têm
efeito prático “reduzido”. Mecanismos de conÄsco do património ilícito podem ser solução
NUNO FERREIRA SANTOS

Sofia Rodrigues
O Conselho Superior do Ministério
Público (CSMP) é crítico das propos-
tas apresentadas por PS, BE, PAN,
PCP e Chega sobre a penalização da
ocultação intencional de riqueza dos
altos quadros públicos ou do enrique-
cimento ilícito. Num parecer enviado
à Assembleia da República, o órgão
sugere antes que a solução deveria
basear-se no conÆsco do património
ilícito.
O parecer foi pedido pela Assem-
bleia da República no âmbito do pro-
cesso legislativo dos projectos de lei
do PS, BE e PAN (que reforçam as
obrigações declarativas de altos qua-
dros públicos), bem como dos do PCP
e Chega (que optam pela criminaliza-
ção do enriquecimento ilícito).
Embora com nuances, os projectos
do PS, BE, PAN, PEV, CDS e agora
também do PSD prevêem que os titu-
lares de cargos políticos e altos cargos
públicos tenham de declarar e justiÆ#
car os acréscimos patrimoniais supe-
riores a 50 salários mínimos até três
anos após a cessação de funções.
No caso dos projectos de lei do PS,
BE e PAN (os do PEV, CDS e PSD foram
apresentados posteriormente), o
CSMP considera que a solução jurídi-
ca “não afronta” a Constituição, mas
tem “um impacto prático reduzido,
sendo um paliativo para todo este
grave problema”. As propostas destes
seis partidos resultam das sugestões
da Associação Sindical de Juízes Por- Parlamento debate a 25 de Junho as propostas sobre enriquecimento ilícito, juntamente com o pacote anticorrupção do Governo
tugueses.
No parecer assinado por Maria problema na sua globalidade e que dos magistrados do Ministério Públi-
Raquel Almeida Fernandes, o CSMP
considera que o ponto mais polémi-
PSD em jornadas sobre Justiça pode antes servir para criar a sensa-
ção falsa e perigosa de que o proble-
co sugere que a “chave” para o pro-
blema passa por robustecer a aplica-
co do projecto do BE é a tributação ma está, enÆm, resolvido, quando ção de mecanismos de conÆsco de
líder parlamentar do PSD, deveres de transparência,

O
a 100% em sede de IRS dos acrésci-
mos patrimoniais não justiÆcados, o
que é um “conÆsco via Æscal diÆcil-
mente conciliável com a Constituição
da República Portuguesa”. Tanto o
PS como o PAN propõem uma tribu-
tação a 80%. O CSMP vê também
como vantagem o princípio estabe-
lecido na iniciativa do PS de que a
incriminação depende sempre da
prévia notiÆcação para a apresenta-
ção da declaração de rendimentos.
O parecer, com data de 4 de Junho
e disponível no site da Assembleia da
República, assinala que, “estando
em causa crimes bilaterais ou de
encontro, Æcam de fora os rendimen-
tos de quem enriquece à custa deste
dever especial de declarar”. Trata-se
de um “paliativo” que não resolve o
Adão Silva, abriu ontem as
jornadas do PSD, em
Portalegre, nas quais
sobressaíram as declarações de
Manuel da Costa Andrade e
Paulo Mota Pinto.
O ex-presidente do Tribunal
Constitucional Costa Andrade
alertou para o facto de que criar
leis que punam a falta de
cumprimento dos deveres de
transparência pode ter “efeitos
perversos” no combate à
corrupção, funcionando como
“cartas de alforria” para
corruptos.
“Uma solução legal que puna
a falta de cumprimento dos
contra ela não há obstáculos
constitucionais (...). Só que não
se passará muito daqui, pouco
se adiantará neste ponto em
matéria de luta contra a
corrupção”, alertou o
ex-presidente do Tribunal
Constitucional.
Já o presidente do conselho
nacional do PSD, Paulo Mota
Pinto, acusou o PS e o Governo
de “falta de comparência” na
reforma da Justiça. “É essa a
percepção da generalidade dos
cidadãos”, disse, para defender,
depois, que “a Justiça deve ser
prioridade da actividade
política”.
tudo continuará quase na mesma. O
grosso do enriquecimento ilícito con-
tinuará a passar incólume na malha
da justiça penal”, segundo o texto.
Já sobre as iniciativas do PCP e do
Chega, o CSMP é ainda mais crítico.
O projecto do Chega é o que “levan-
ta maiores problemas jurídico-cons-
titucionais” por reproduzir uma
solução já chumbada pelo Tribunal
Constitucional. Quanto ao projecto
do PCP, a relatora considera que o
dever geral de revelação de prove-
niência dos bens de todos os cida-
dãos “não é compatível com um
Estado que se reclama do princípio
liberal”, além de que era inviável a
veriÆcação das declarações patrimo-
niais de todos os cidadãos.
Este órgão de gestão e disciplina
património ilícito não baseado numa
condenação. “O visado não é conde-
nado numa pena, mas perde tudo o
que o motivou a prática de crimes,
assim se demonstrando que ‘o crime
não compensa’”.
No âmbito do mesmo processo
legislativo, o Conselho de Prevenção
contra a Corrupção deu um parecer
positivo sobre os projectos do PS e BE
(na altura os que tinham sido apre-
sentados), considerando que não
levantavam problemas de inconstitu-
cionalidade.
Os projectos de lei sobre a penali-
zação da ocultação de riqueza vão ser
discutidos em plenário de deputados
no dia 25 de Junho em conjunto com
o pacote do Governo de combate à
corrupção.

Tiago Barbosa Ribeiro avança após
desistência: “Não faltarei ao Porto”
Margarida Gomes
Depois de ter dito “não!”
ao combate contra Rui
Moreira, deputado
anunciou ontem que vai
entrar na corrida eleitoral
É com Tiago Barbosa Ribeiro que o PS
vai disputar as “difíceis” eleições
autárquicas no Porto. O deputado
assumiu ontem a sua candidatura e
justiÆcou que a entrada na corrida
eleitoral do Porto foi decidida “após
uma profunda reÇexão quanto às
condições de unidade e empenho de
todos na construção do projecto”.
Duas semanas depois de se pôr fora
da corrida eleitoral do Porto, Tiago
Barbosa Ribeiro diz: “Eu não desisto
do Porto.” “É tempo de avançar e
dizer sim, de mobilizar o PS e de gal-
vanizar a cidade”, acrescentou o
deputado e presidente de comissão
política concelhia do PS-Porto, em
conferência de imprensa na sede da
federação distrital do Porto.
Com um atraso de 15 minutos, Tia-
go Barbosa Ribeiro entrou na sala do
segundo andar da federação distrital
do PS-Porto debaixo de uma sonora
salva de palmas, mas nunca conse-
guiu libertar-se da tensão que envolve
a sua candidatura, que ocorre num
contexto delicado, depois de o secre-
tário de Estado da Mobilidade, Eduar-
do Pinheiro, ter desistido do convite
que lhe fora feito para se candidatar
ao Porto, e de José Luís Carneiro,
Como as autárquicas já mexeram com a liderança
do Bloco de Esquerda na Madeira
Márcio Berenguer
É a primeira mulher a liderar o Bloco
de Esquerda na Madeira e a única a
cheÆar um partido no arquipélago.
Dina Letra, vereadora na Câmara do
Funchal, foi eleita no início do mês
coordenadora do BE, derrotando o
anterior líder, Paulino Ascenção.
A cisão entre os dois esteve centra-
da no apoio à candidatura do inde-
pendente Miguel Gouveia, da Coliga-
ção ConÆança liderada pelo PS, para
a Câmara do Funchal. Ascenção esta-
va contra um apoio sem contraparti-
das e Dina Letra, que integra o execu-
tivo municipal de Gouveia, não tem
dúvidas de que esse é o caminho. A
assembleia de aderentes do Funchal
Há duas semanas, o deputado pôs-se fora da disputa autárquica
secretário-geral adjunto do partido,
se ter manifestado, no sábado, indis-
ponível para protagonizar uma can-
didatura socialista à presidência do
município do Porto.
“Ao longo dos últimos dias recebi
muitos apelos dentro e fora do PS
para que reponderasse a posição em
relação à Câmara do Porto”, declarou
o deputado. E acrescentou: “Não fal-
tarei ao Porto. A candidatura do PS à
Câmara Municipal do Porto tem sido
alvo de dúvidas e especulação. É tem-
po de virar essa página e oferecer à
cidade um projecto autárquico alter-
nativo que esteja à altura dos perga-
minhos do PS no Porto, que polarize
as questões que têm sido ignoradas
na cidade, como a mobilidade, a des-
carbonização, a falta de habitação
pronunciou-se de forma clara pelo
apoio e Ascenção demitiu-se, para
forçar eleições internas. Perdeu.
“O Bloco tem identidade própria,
não se dissolve quando se une a
outras forças na defesa daquilo que
considera imprescindível para a
melhoria e a manutenção do bem-
estar de todas e todos os cidadãos”,
disse a nova coordenadora no Ænal da
convenção do partido, em que obteve
49 votos contra 39 do anterior líder.
Bastante criticado pelas sensibili-
dades próximas da anterior liderança,
Ascenção fez cair em Abril a comissão
coordenadora, dizendo-se “ultrapas-
sado” e disposto a dar a palavra aos
aderentes. Estes falaram e devolve-
ram-na a Dina Letra.
JOSÉ COELHO/LUSA
para as classes medidas, as persisten-
tes bolsas de pobreza, as fortes cliva-
gens sociais e territoriais ou a falta de
uma visão para a recuperação do Por-
to no pós-pandemia”, defendeu.
Sempre com o rosto fechado, o can-
didato não deixou de aludir às “diÆ#
culdades” da candidatura que vai
liderar — “Não as ignoro” — disse,
numa alusão ao “contexto já de si
Deputado entende
que não “poderia
partir para uma
candidatura
sem o apoio dos
órgãos do PS”
Dina Letra lidera BE-Madeira
Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 13
complexo, com a pandemia e não só”.
“Teremos cerca de três meses para
provar de que Æbra se fazem os socia-
listas do Porto”, aÆrmou em tom
desaÆador. E parafraseou uma frase
de Mário Soares: “Só é derrotado
quem existe de lutar.”
Na conferência de imprensa, os
jornalistas questionaram o candidato
sobre se o secretário-geral do PS,
António Costa, tinha concordado com
a candidatura, tendo Barbosa Ribeiro
respondido que a mesma “mereceu
a conÆança de todos os membros” do
partido. “Não podia partir para uma
candidatura sem o apoio dos órgãos
do PS”, declarou.
O deputado também não quis abor-
dar o convite que o PS Æzera na sema-
na passada a Eduardo Pinheiro para
liderar a lista ao Porto com o argu-
mento de que não interessa estar a
discutir o passado. “Não sinto que o
partido esteja dividido, sinto é que
tem de estar unido”, justiÆcou.
Relativamente à recandidatura de
Rui Moreira a um terceiro mandato,
admitiu que se vai tratar de “um com-
bate eleitoral muito difícil”. E pediu
unidade ao PS.
“Temos de estar unidos para um
combate muito difícil (…). Os proces-
sos autárquicos contra um presiden-
te que se recandidata são mais difíceis
de disputar, mas não temos proble-
mas em identiÆcar os problemas que
temos pela frente”, admitiu o dirigen-
te do PS, que esperava ainda ver a sua
proposta de candidatura aprovada
nessa noite pela concelhia.
“Enganam-se aqueles que pensam
e dizem que o BE da Madeira apenas
serve de amparo para as coligações
que fazem frente à direita. Nada mais
errado”, sublinhou a bloquista. Os
objectivos e princípios, garante, são
os mesmos de sempre. Mas, diz, não
é possível ignorar que, muitas vezes,
a soma das partes é maior do que o
todo. Dina Letra tem 46 anos, é licen-
ciada em Línguas e Literaturas Moder-
nas pela Universidade da Madeira e
exerce funções de secretária de direc-
ção de uma empresa do sector do
vinho Madeira. Assumiu o cargo de
vereadora em Outubro de 2020, em
substituição de João Pedro Vieira, que
integrou o gabinete de António Lacer-
da Sales, na Saúde.
Política
Auditoria em
Lisboa abrange
mandatos de
António Costa
João Pedro Pincha
Averiguação à partilha
de dados pessoais
arranca em 2011, data
em que os governos civis
foram extintos
A auditoria que Fernando Medina
ordenou na sequência do envio de
dados pessoais de manifestantes para
a embaixada da Rússia vai analisar os
procedimentos tomados em protes-
tos “desde que a Câmara de Lisboa
assumiu essas competências, com o
Æm dos governos civis”, disse ao
PÚBLICO fonte oÆcial da autarquia.
A averiguação abrange assim o perío-
do a partir de 2011, quando António
Costa era presidente da câmara.
Com a extinção dos governos civis,
naquele ano, as câmaras passaram a
receber a comunicação prévia sobre
comícios, manifestações e desÆles.
Como a lei é omissa, cada autarquia
faz como entende. Porto e Faro, por
exemplo, dão conhecimento dos pro-
testos à polícia, mas Lisboa informa
também as entidades em cuja porta
as manifestações vão decorrer. Even-
tos que digam directamente respeito
a um país também são comunicados
à respectiva embaixada.
Foi para esclarecer quantas vezes
e por que motivo os dados pessoais
de manifestantes foram entregues a
embaixadas de países estrangeiros
que Medina ordenou a realização des-
ta auditoria. O autarca aÆrmou na
semana passada que avisar as entida-
des à porta das quais se vai realizar o
protesto é um “procedimento geral
adoptado para manifestações” e que
agora vai ser alterado. Esta prática
terá tido início em 2011, no segundo
mandato de Costa, mas está por expli-
car em que moldes. O Regulamento
Geral de Protecção de Dados, ao abri-
go do qual a câmara se arrisca a uma
multa de 80 milhões de euros, vigora
desde 2018.
O primeiro-ministro, que liderou a
autarquia entre 2007 e 2015, referiu-
se ontem pela primeira vez ao caso.
“Ninguém me vai pedir explicações
sobre processos administrativos por-
que ninguém tem dúvidas sobre a
posição de Portugal em relação à Rús-
sia”, disse Costa à entrada para a
cimeira da NATO, em Bruxelas. À tar-
de, reconheceu que foi uma “compe-
tência mal transferida [dos governos
civis] para as câmaras” e acrescentou
que durante a sua passagem pela
autarquia nunca houve qualquer pro-
blema. “Nunca ninguém me pôs esse
problema. Nunca foi tema”, repetiu.
14 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021
Sociedade DGS não revela dados nacionais de surtos em escolas
Há pelo menos
8700 alunos em
isolamento proƊláctico
por causa da covid-19
Só em Lisboa e Vale do Tejo, são 6407 alunos. Novas regras da
DGS fazem com que seja obrigatório que, perante um caso de
covid numa turma, todos os alunos vão para casa de quarentena
Maria João Lopes,
Margarida Gomes, Idálio Revez
e Helena Pereira
Há pelo menos 8700 alunos em casa
de quarentena por causa da covid-19.
Só na região de Lisboa e Vale do Tejo
são 6407. Na região Centro são 1053
os alunos e proÆssionais das escolas
em isolamento e no Algarve 211. Na
região Norte apenas foi possível saber
os dados relativos a Paredes de Coura
e a Braga. Só nestes dois concelhos
estão em casa 1056 alunos e funcio-
nários em isolamento proÆláctico
(não existem nestes casos os dados
desagregados de alunos e proÆssio-
nais). Sobre todos os restantes conce-
lhos, incluindo Porto, Vila Nova de
Gaia, Maia, Guimarães, para citar
alguns dos mais populosos, não foi
possível obter informações, nem da
parte da Direcção-Geral da Saúde
(DGS) nem da Administração Regio-
nal de Saúde (ARS) do Norte.
O secretário de Estado da Mobili-
dade e coordenador regional da Zona
Norte para a covid-19, Eduardo
Pinheiro, justiÆcou com o facto de se
concentrar mais nos casos activos e
não nos isolamentos para apenas ter
estes dados nos dois concelhos que
registam incidência superior a 120
casos por 100 mil habitantes. “O resto
da informação enviamos para a DGS
e Ministério da Educação, para que
eles possam compilar com critérios
uniformes”, esclareceu.
Assim, em Paredes de Coura regis-
tam-se 19 casos conÆrmados que leva-
ram ao isolamento de 197 alunos e
proÆssionais de escolas do concelho.
Em Braga, com quatro surtos activos,
há 50 casos conÆrmados de
covid entre alunos (46) e proÆssio-
nais (4), estando em isolamento 859
pessoas.
Os dados foram recolhidos ao longo
do dia de ontem pelo PÚBLICO, que
apenas não conseguiu saber os valo-
res relativos à região do Alentejo, a
mais idosa do país e com uma maior
taxa de vacinados. É a primeira vez
que se consegue fazer um retrato
mais detalhado do país a nível de qua- çados ao PÚBLICO pelo gabinete do
rentenas da população escolar. A coordenador regional do combate à
última vez que a DGS deu dados sobre pandemia na região e também secre-
esta realidade foi a 8 de Abril e divul- tário de Estado, Duarte Cordeiro,
gou apenas o número de surtos — 47 depois de, pela manhã, este ter assu-
em duas semanas. Ontem, mais uma mido à Rádio Renascença que o
vez questionada sobre o número de número de alunos em quarentena
surtos em contexto escolar e sobre o rondava os seis mil.
número de turmas em isolamento, a “O mais importante é testar, por-
DGS voltou a não enviar quaisquer que estamos com a vacinação a um
dados. “A DGS não tem dados desa- ritmo bom e a vacinação continuará
gregados por turma (essa informação a este ritmo ou superior, mas a testa-
detalhada é do conhecimento dos gem é fundamental”, aÆrmou, aler-
delegados de saúde de nível local na tando que “a pandemia não Æcou
respectiva jurisdição, a quem compe- para trás”, uma vez que há vários con-
te a avaliação de risco, a intervenção celhos muito perto da linha vermelha.
e implementação de medidas de saú- Lisboa, Cascais, Sintra, Sesimbra,
de pública”, respondeu por escrito Odivelas e Oeiras registam mais de
ao PÚBLICO. Apesar de reconhecer 120 casos por 100 mil habitantes.
que “agrega informação no âmbito Já segundo dados da Administração
nacional do total de surtos activos Regional de Saúde do Centro relativos
Situação em Portugal
(por região de saúde) e respectivos a domingo, e a que o PÚBLICO teve
Em 14 de Junho de 2021, às 14h30
casos conÆrmados associados”, não acesso, havia 1053 alunos em casa,
Internados (total) Em UCI Mortes Recuperados Activos
avançou esses dados. em isolamento, por serem considera-
dos contactos de risco, mais 66 pro- 340 77 17.047 815.622 25.403
Situações familiares fessores e 23 auxiliares. Nenhum +15 -5 +0 +280 +345
Na região de Lisboa e Vale do Tejo, estabelecimento escolar Æcou total- NOVOS CASOS DIÁRIOS Total de casos
existem então 172 surtos activos, dos
quais 66 em estabelecimentos de
mente encerrado. Por distrito da
região Centro, veriÆca-se que a maior
17000 858.072 +625
ensino (38,37%); 351 casos em alunos parte dos casos positivos activos 12750
e 20 casos em proÆssionais; e 6407 situam-se em Coimbra (28), seguindo-
8500
alunos e 772 proÆssionais em isola- se Aveiro (12). Ao todo, são 56 (54 em
mento proÆláctico. Nesta região, 68% alunos e dois relativos a professores). 4250
dos casos reportam-se a situações Em termos de grau de ensino, 0
familiares, seguindo-se o contexto a maior parte dos casos aconteceram
M A M J J A S O N D J F M A M J
festas/social (11%) e escolas/universi- no 3º ciclo e no secundário.
dades (9%). Os números foram avan- A 29 de Maio, a ARS Centro tinha Continente Portugal
assumido que havia 29 escolas com Incidência* Dias 09 11 14 R(t):1,1 09 11 14 R(t):1,09
240 Incidência: 83,4 Incidência: 84,5
casos activos, estando 56 alunos e
dois proÆssionais conÆrmados como 220
200
positivos. Encontravam-se 40 turmas
180
em isolamento proÆláctico, num total 160
de 1134 pessoas em isolamento. 140
Neste momento, Na região do Algarve, por seu 120 Linhas de critério
lado, estão de quarentena 211 alunos 100
quando um aluno (entre os quais 19 crianças com menos 80
é positivo, a DGS, de seis anos), 16 professores e oito 60
40
auxiliares. Trata-se de 41 casos activos
no limite, até pode em alunos, entre os quais uma crian- 20
0
fechar a escola ça com menos de seis anos. Estes
0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
casos atingem 16 das 250 escolas exis-
inteira tentes no Algarve.
Transmissibilidade R(t)
Filinto Lima O presidente da Associação Nacio- * Novos casos de infecção por SARS-CoV-2/COVID-19 nos últimos 14 dias por 100 mil habitantes
Pres. Ass. Nac. Directores nal de Directores de Agrupamentos e Fontes: DGS PÚBLICO
 Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 15

DANIEL ROCHA

Espectadores fizeram teste

Madeira permite testes rápidos nos voos
partir de 1 de Julho passa a
O número será maior, uma
vez que faltam dados do
Norte e de todo o Alentejo
Escolas Públicas, Filinto Lima, consi-
dera haver neste momento “um exa-
gero na actuação da DGS em relação
às escolas: “Porque, neste momento,
fins-de-semana.
Teste em eventos-piloto:
“problema informático”
impede saber resultados
Nuno Rafael Gomes
Ainda nada se concluiu dos
quatro eventos-piloto de
Abril e Maio, organizados
pelo Governo em
articulação com a DGS
Os quatro eventos-piloto realizados
em Abril e Maio nas cidades de Braga,
Coimbra e Lisboa serviram ao Gover-
no de estudo para se deÆnirem “novas
orientações técnicas e a realização de
testes de diagnóstico” para eventos
futuros, como os festivais de Verão.
Assim, quem quis assistir ao regresso
dos grandes espectáculos só o pôde
fazer apresentando um teste antigé-
nio negativo. Mais de um mês depois,
desconhecem-se que conclusões
terão tirado o Governo e a Direcção-
Geral da Saúde (DGS) das experiên-
cias. Para além disso, não há ainda
informações sobre possíveis casos de
infecção entre as pessoas presentes.
O teste no local dos eventos foi asse-
gurado pela Cruz Vermelha; a moni-
torização posterior, pela DGS.
Na sexta-feira, numa reunião com
a DGS e o Governo, as associações do
sector dos espectáculos foram infor-
madas de que terá havido “um pro-
blema informático” com estes dados,
disse Álvaro Covões à Lusa. Ao PÚBLI-
CO, o promotor, que também faz par-
te da direcção da Associação de Pro-
teste terá de ser suportado pela pes-
soa que participa nos eventos.
“Nos casos do cinema e do teatro,
um teste seria mais caro do que o
bilhete”, critica Álvaro Covões. O pro-
motor espera que a obrigatoriedade
dos testes seja apenas aplicável “a
partir de determinada dimensão”,
especialmente “para os eventos que
não estão autorizados”.
Bilheteiras paradas
Mesmo com a incerteza que rodeia
esta questão, Álvaro Covões diz que
já se sente “hesitação na cultura” só
com o anúncio de quarta-feira. Por
isso defende a criação de postos de
testagem gratuitos nas imediações dos
locais que receberiam os eventos.
O mesmo defende a Associação
Espectáculo, que também pede,
como contrapartida à obrigatorieda-
de, o aumento da lotação das salas. À
Lusa Rafaela Ribas, da direcção da
associação, aÆrmou que a decisão
que saiu do Conselho de Ministros
provocou “uma paragem quase total
na venda de bilhetes”.
“Os espectadores vêem que vai ser
preciso testar em eventos, há muita
incerteza e isso leva a uma retracção
da compra e, neste momento, as
bilheteiras estão paradas a aguardar
uma deÆnição melhor.”
4

A
ser obrigatório a
apresentação de teste
rápido antigénio negativo à
covid-19 para entrar na Madeira,
realizado até 48 horas antes da
viagem, em substituição do
PCR, anunciou ontem o Governo
Regional. O horário de
encerramento dos bares e
restaurantes vai ser alargado
para as 00h, já a partir de hoje, e
o recolher obrigatório passará a
vigorar entre as 1h e as 5h. A
lotação dos estabelecimentos
pode ir até dois terços da
capacidade, podendo funcionar
com mesas de seis pessoas no
interior e de 10 no exterior.
Na Região Autónoma da
Madeira, os restaurantes e bares
podem agora estar abertos até
às 23h com uma lotação até
50%, com cinco pessoas por
mesa, e nos bares não é
permitido “beber ao balcão ou
de pé”. O recolher obrigatório
vigora, actualmente, entre as
00h e as 5h, incluindo aos
O executivo regional, liderado
por Miguel Albuquerque,
anunciou também que a partir
de 21 de Junho será exigido
apenas um teste rápido
antigénio negativo para as
deslocações entre as ilhas da
Madeira e do Porto Santo,
realizado até 48 horas antes da
viagem. O presidente do
Governo madeirense salientou,
em conferência de imprensa,
que “não serão aceites
autotestes”, quer para as
entradas na região, quer para as
deslocações entre ilhas.
Na semana passada, Portugal
continental passou a aceitar a
apresentação de testes rápidos
nos voos com destino ou escala
em Portugal continental. O teste
PCR deve ter sido feito pelo
passageiro nas 72 horas antes
do embarque e o teste rápido
de antigénio nas 24 horas antes
do embarque. O resultado terá
de ser, claro, negativo.
PÚBLICO/Lusa
quando um aluno é positivo, a DGS,
no limite, até pode fechar a escola
inteira ou, então, manda para casa
toda a turma, e os professores dessa
turma, mesmo vacinados”, diz, acres-
centando que lhe “custa a enten-
der” o protocolo, “quando há situa-
ções desportivas e políticas onde é
tudo ao molho e fé em deus”.
Já o presidente da Associação
Nacional de Dirigentes Escolares,
Manuel Pereira, não se pronuncia
sobre se o protocolo é “excessivo ou
não”. “Não sou técnico, temos de
conÆar nas indicações da DGS.”
Manuel Pereira nota, na realidade
que conhece, que o que está em vigor
é que, quando um aluno tem um tes-
te rápido positivo, a turma, bem como
contactos de alto risco, é isolada até
o aluno conÆrmar o resultado através
de um PCR. Se o PCR for positivo,
há, explica, algumas diferenças entre
ciclos: no pré-escolar e 1.º ciclo, bem
como nas academias de música, por
exemplo, os professores têm de ser
testados e cumprir isolamento. A par-
tir do 2.º ciclo, tendo em conta o uso
da máscara, o isolamento ou não dos
professores é avaliado caso a caso.
motores de Espectáculos, Festivais e
Eventos, esclarece: “Quem tinha os
dados era a Cruz Vermelha. Não esta- Em Abril e Maio, nas cidades de
vam a conseguir tratá-los informati- Braga, Coimbra e Lisboa, foram
camente, tem que ver com a forma realizados quatro espectáculos
como os dados seguiram.” Agora, as onde todos os espectadores
associações organizadoras vão enviar foram testados
“o número de utente” de cada espec-
tador para “tentar complementar” as
informações. “Não temos dúvidas de
que não há casos positivos. Todas as
pessoas que participaram nos quatro
eventos testaram negativo”, aÆrma.
O PÚBLICO tentou obter informa-
ções junto da DGS e da Cruz Verme-
lha, mas, até ao fecho desta edição,
não obteve respostas. Do Conselho
de Ministros da última quarta-feira
saiu a novidade de que o acesso a
eventos culturais, mas também des-
portivos e familiares, estará depen-
dente da realização de um teste à
covid-19 — mas só “a partir de um
número de convidados que será
determinado pela DGS”, aÆrmou a
ministra de Estado e da Presidência,
Mariana Vieira da Silva.
O PÚBLICO esclareceu depois, jun-
to do gabinete de imprensa da minis- O humorista Nilton foi visto por
tra da Presidência, que o custo do mil pessoas no Campo Pequeno
16 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021
Sociedade
Salgado garante que dinheiro que recebeu
do “saco azul do BES” era empréstimo pessoal
Sónia Trigueirão
Contestação do
ex-banqueiro levou o
Ministério Público a pedir o
adiamento do julgamento
marcado para ontem
Ricardo Salgado não era o único
responsável da Espírito Santo Enter-
prises (ESE), tida como o “saco azul
do BES”, e o dinheiro que recebeu
foi mesmo um empréstimo pessoal,
com juros, que apenas deixou de
pagar quando o BES entrou em
colapso e as suas contas foram blo-
queadas — estas são as ideias-chave
que a defesa do ex-banqueiro apre-
sentou na contestação, de 191 pági-
nas e 173 documentos de prova, que
foi entregue no tribunal no dia 9 de
Junho e que ontem levou o Ministé-
rio Público (MP) a pedir o adiamen-
to do julgamento.
O juiz de instrução Ivo Rosa deci-
diu pronunciar Ricardo Salgado por
alegadamente se ter apropriado de
10,6 milhões de euros, com origem
na ESE. Segundo a pronúncia, foram
feitas três transferências da ESE, em
2011, para outras sociedades offsho-
re controladas por Ricardo Salgado.
Por isso, o ex-banqueiro responde
por três crimes de abuso de conÆan-
ça. O julgamento foi adiado, pela
segunda vez, para dia 6 de Julho.
Na contestação a que o PÚBLICO
teve acesso, Francisco Proença de
Carvalho e Adriano Squilacce, advo-
gados de defesa de Ricardo Salgado,
alegam que a ESE não era um quin-
tal do ex-banqueiro e que havia
várias pessoas na sociedade offsho-
re que movimentavam a conta, que
davam instruções e que também
receberam empréstimos e outros
valores. Segundo o mesmo docu-
mento, a ESE também fez emprés-
timos aos membros do conselho
superior do GES e a Francisco
Machado da Cruz.
Sobre o dinheiro que foi transfe-
rido para as contas do arguido, a
defesa garante que era um emprés-
timo e que Salgado até já tinha
devolvido uma parte. Este não seria,
aliás, o primeiro empréstimo que
tinha recebido da ESE: já tinha havi-
do outros há muitos anos, cujos
valores devolveu com juros, garan-
tem os advogados do ex-homem
forte do BES.
“Tal como a Enterprises fez um
empréstimo ao ora Arguido em
Outubro de 2011, também lhe fez
três empréstimos em 2002 e 2003
(450 mil francos suíços + 45 mil dóla-
res + 2,17 milhões de dólares), que
DANIEL ROCHA
Salgado quer o fim dos arrestos este reembolsou à Enterprises em
para poder devolver dinheiro 21 de Maio de 2007, incluindo juros,
porquanto, em Maio de 2007, o ora
Arguido pagou a esta os valores de
2.460.711,84 dólares e 481.899,04
francos suíços”, lê-se na contestação
que sublinha ainda o facto do ex-
banqueiro ter depositado cinco
Este reembolso milhões de euros na ES Control.
“No Ænal de 2013, no âmbito da
demonstra que reestruturação perspectivada para
não há intenção o GES, estava inicialmente um
aumento de capital na ES Control,
de apropriação que tanto quanto se sabe não che-
[do dinheiro] gou a ser concluído mas o arguido
depositou cinco milhões na conta da
Contestação da defesa ES Control, com vista a serem trans-
de Ricardo Salgado feridos para a ESI Overseas”, lê-se.
RUI GAUDÊNCIO
A defesa conclui que, “a intenção
de apropriação indevida que é exi-
gida pelo crime de abuso de con-
Æança não é compatível com a inten-
ção e efectivo reembolso de parte
deste empréstimo pelo ora Arguido,
na medida em que este reembolso
demonstra, através de um acto
objectivo inequívoco, que não há
intenção de apropriação, sendo cer-
to que o incumprimento — muito
menos, o incumprimento parcial
— de dívidas não constitui crime”.
Dinheiro devolvido?
No entanto, a defesa de Ricardo Sal-
gado, apesar de considerar que a
prova que apresenta demonstra que
a pronúncia é infundada e que o
arguido está inocente, diz que o ex-
banqueiro está disposto “a lançar
mão do mecanismo previsto no arti-
go 206.º, n.º 1, do Código Penal”.
Ou seja, o arguido está disponível
para devolver o dinheiro em causa.
O artigo que a defesa cita, diz o
seguinte: “Extingue-se a responsa-
bilidade criminal, mediante a con-
cordância do ofendido e do arguido,
sem dano ilegítimo de terceiro, até
à publicação da sentença da 1.ª ins-
tância, desde que tenha havido res-
tituição da coisa ou do animal fur-
tados ou ilegitimamente apropria-
dos ou reparação integral dos
prejuízos causados.”
A defesa alega ainda que, apesar de
o arguido estar disposto a devolver o
dinheiro, há um problema: o seu
património está arrestado ao abrigo
de dois processos e é preciso que o
tribunal peça às autoridades judiciá-
rias que libertem esses valores.
“Mas sucede que o património de
que dispõe, para este efeito, está, por
um lado, arrestado à ordem do pro-
cesso n.º 324/14.0TELSB (conta jun-
to da UBS, na Suíça) e, por outro lado,
o ora arguido tem cauções no valor
total de três milhões de euros pres-
tadas no processo n.º 324/14.0TELSB
e no processo n.º 207/11.5TELSB
(também conhecido como “Monte
Branco” ou, nalguns outros meios,
como o “processo saco azul”, este
último “em eterna fase de inquérito”,
lê-se na contestação.
E acrescentam: “Ora, apenas estan-
do dependente da concordância das
autoridades judiciárias competentes
no processo n.º 324/14.0TELSB e no
processo n.º 207/11.5TELSB, que se
requer que este Tribunal oÆcie e pro-
mova, desde já, a utilização dos valo-
res aí arrestados quanto ao patrimó-
nio do ora Arguido (em particular,
bens móveis, pensão e contas bancá-
rias) e às cauções aí prestadas — até
ao valor necessário para o efeito —,
(...) com vista à restituição dos valores
em causa nos alegados crimes de abu-
so de conÆança que lhe são imputa-
dos nos presentes autos.”
Segundo a defesa, o valor arresta-
do nas contas de Ricardo Salgado, na
Suíça, no processo-crime
324/14.0TELSB, supera os 8,5 milhões
de euros. A este valor juntam-se ain-
da, no âmbito do mesmo processo,
mais de 1,4 milhões de euros referen-
tes ao arresto da pensão do arguido.
Tudo somado, referem os advogados,
só neste processo, estão arrestados
mais de 9,9 milhões de euros em
dinheiro, porque em bens móveis há
mais de 726 mil euros.
Ora, alegam os advogados do ex-
banqueiro que, para além dos refe-
ridos bens arrestados, há que acres-
centar ainda o montante total das
cauções de três milhões de euros
prestados por Ricardo Salgado nos
dois processos já referidos, o que
supera os 10,6 milhões de euros
pelos quais está acusado de três cri-
mes de abuso de conÆança.
De acordo com a contestação,
Ricardo Salgado já terá devolvido
sete milhões de euros, pelo que o
valor que teria sido indevidamente
apropriado seria de, no limite, de
3,7 milhões de euros. Por isso, os
bens arrestados dariam para cobrir
o valor em falta, extinguindo-se o
procedimento criminal neste pro-
cesso.
18 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021
Sociedade
Branquinho nega intervenção na
construção de três pisos sem licença
Mariana Oliveira
Agostinho Branquinho,
ex-deputado do PSD,
começou a ser julgado no
polémico caso do hospital
privado de Valongo
O antigo deputado do PSD Agostinho
Branquinho negou ontem em tribunal
qualquer intervenção junto da Câma-
ra de Valongo ou de qualquer dos
seus responsáveis no processo de
licenciamento e construção do hos-
pital privado de São Martinho, em
que três dos sete pisos foram erguidos
sem qualquer licença. Branquinho,
acusado de tráÆco de inÇuências e
prevaricação, foi um dos sete argui-
dos que prestou declarações na pri-
meira sessão do julgamento, que,
devido à pandemia, está a decorrer
numa sala dos Bombeiros Voluntários
de Valadares.
E, a avaliar pelo que foi dito pelos
acusados, tudo se deveu a um “lapso”
do arquitecto responsável pela obra,
Mário Sousa, que assumiu que se
“esqueceu” de apresentar um adita-
mento ao projecto com a cave e os
dois pisos superiores do edifício. “Ain-
da hoje não consigo explicar como
isso aconteceu”, aÆrmou o arquitecto
aos juízes, o último arguido a falar na
sessão de ontem.
Mário Sousa disse ter-se apercebido
da situação através de um telefonema
de um arquitecto da autarquia, que
foi seu colega de faculdade, a alertá-lo
para o “problema”. E garantiu que foi
com a ajuda dos “colegas da câmara”
que conseguiu legalizar a obra, Æccio-
nando a construção dos três pisos
quando os mesmos já tinham sido
erguidos. O arquitecto garantiu que
não recebeu ordens ou indicações de
Agostinho Branquinho, que, na tese
do Ministério Público, terá recebido
pelo menos 225 mil euros para
inÇuenciar o então presidente da
Câmara de Valongo, Fernando Melo,
e dois vereadores, Carlos Teixeira e
Maria Morgado do Vale, todos acusa-
dos neste caso. Reconheceu ter tido
uma única reunião com Branquinho,
que, segundo percebeu, prestaria
apoio ao promotor da obra.
O antigo deputado do PSD, por seu
turno, já admitira antes ter recebido
não apenas 225 mil euros, mas 235 mil
euros do empresário Joaquim Teixei-
ra, administrador da sociedade pro-
motora da obra, a PMV — Policlínica,
SA. Garantiu que se tratou de um
empréstimo motivado por problemas
pessoais. Branquinho contou que
Joaquim Teixeira, com quem mantém
“uma relação pessoal há mais de 45
anos, prontiÆcou-se” a emprestar-lhe
o dinheiro para liquidar um emprés-
timo de um apartamento que tinha
em Lisboa. E alega que, entre 2009 e
2010, depois de vender o apartamen-
to, devolveu o dinheiro ao “amigo”,
pessoa que trata por “mano” e que
optou por não prestar declarações no
início do julgamento.
“Não tenho nada a ver com o pro-
cesso que diz respeito ao licenciamen-
to camarário. Nunca, mas mesmo
nunca, falei com alguém da Câmara
de Valongo, não estive em nenhuma
reunião e nunca fui à câmara tratar
deste assunto. (…) Não participei em
nenhuma vistoria camarária, nem me
relacionei com a Câmara de Valongo,
quer a nível técnico, quer a nível polí-
tico”, declarou Branquinho. O antigo
parlamentar, que entre 2011 e 2015 foi
secretário de Estado da Solidariedade
e da Segurança Social, admitiu ter
prestado serviços de consultoria ao
amigo no processo relacionado com
o Hospital de São Martinho. Branqui-
nho aÆrmou que, em Agosto de 2006,
recebeu um telefonema de Joaquim
Teixeira, a pedir-lhe que se encontras-
sem para falar sobre a obra. Relatou
que, a partir daí, seguiram-se outras
conversas, visitas às obras, reuniões,
e Æcou acertada a sua participação no
projecto. A mesma, garantiu, limitou-
se a consultoria, a troco de 750 euros
por mês, valor que recebeu entre
2006 e 2007.
Quem teve muitas diÆculdades em
se explicar ao colectivo de juízes foi o
engenheiro José Rocha, que interveio
Agostinho Branquinho está acusado de tráfico de influências e prevaricação
em várias fases do processo e assinou
duas vistorias a garantir que o edifício
cumpria as condições do licencia-
mento, apesar de o edifício que Æsca-
lizou apresentar mais três pisos do
que o que estava autorizado. O pro-
jecto aprovado previa apenas quatro
pisos, mas na realidade foi construída
uma cave e seis andares.
O engenheiro insistiu que nunca se
apercebeu de qualquer problema
com a obra, já que se limitou a con-
frontar as telas Ænais — um resumo do
projecto com as alterações introduzi-
das ao longo da obra — com o que
existia no local. O problema é que o
resumo que lá constava já tinha a cave
e os outros seis pisos, o que terá acon-
tecido, segundo o arquitecto Mário
Sousa, porque, apesar de não ter
apresentado o aditamento ao projec-
to, o mesmo foi distribuído a outros
responsáveis da obra, nomeadamen-
Nunca, mas mesmo
nunca, falei com
alguém da Câmara
de Valongo
e não estive em
nenhuma reunião
Agostinho Branquinho
Antigo deputado do PSD
te ao empreiteiro, o que explicará
como chegou à câmara.
Tudo isto terá passado ao lado de
José Rocha que, um ano mais tarde,
quando voltou a ter contacto com o
novo licenciamento do hospital pri-
vado que pretendia legalizar os três
pisos já construídos, propôs o deferi-
mento do processo. O engenheiro
também sugeriu a redução das taxas
camarárias, o que permitiu à PMV
poupar perto de 37 mil euros, valor
esse que o município está agora a
reclamar a vários arguidos. O enge-
nheiro também não se apercebeu
que, de acordo com o segundo livro
de obra, documento que admitiu não
ter lido, os três pisos extras foram
construídos em nove dias, entre 10 e
19 de Dezembro de 2007. Na segunda
vistoria que realizou, a 21 de Dezem-
bro, volta a dar parecer positivo ao
alvará de utilização, que é passado
com data desse mesmo dia. Apesar
da insistência de dois juízes do colec-
tivo, José Rocha não desarmou e nun-
ca admitiu qualquer erro ou negligên-
cia. Garantiu que todos os processos
ocorriam assim e descartou respon-
sabilidades pelo facto de a tal tela Ænal
não estar de acordo com o licencia-
do.
O único arguido ausente foi o antigo
presidente da Câmara de Valongo,
Fernando Melo, hoje com 85 anos,
que apresentou um atestado médico.
Outros dois arguidos, o empresário
Joaquim Teixeira e o engenheiro que
era o director técnico da obra, opta-
ram pelo silêncio.
RAQUEL ESPERANCA /ARQUIVO
Sobrinho
de Manuel
Godinho
entregou-se
Hugo Godinho foi
condenado a uma pena
única de quatro anos e
cinco meses no âmbito do
Processo Face Oculta
O sobrinho do sucateiro Manuel Godi-
nho deu entrada no Estabelecimento
Prisional do Porto para cumprir a
pena de quatro anos e cinco meses de
prisão a que foi condenado no âmbi-
to do Processo Face Oculta, informou
ontem fonte judicial. Segundo a mes-
ma fonte, o arguido Hugo Godinho
apresentou-se voluntariamente no
Estabelecimento Prisional do Porto
no dia 8 de Junho, na sequência de
um mandado de detenção emitido
pela juíza do Face Oculta.
Hugo Godinho foi condenado a
uma pena única de quatro anos e cin-
co meses, em cúmulo jurídico, por
um crime de furto qualiÆcado, dois
crimes de burla qualiÆcada e um cri-
me de corrupção activa para acto ilí-
cito, tendo a decisão transitado em
julgado em 21 de Abril.
O sobrinho de Manuel Godinho foi
um dos arguidos do Processo Face
Oculta que beneÆciaram da prescri-
ção de alguns crimes, tendo visto o
tribunal retirar-lhe um mês de prisão
à pena que tinha sido anteriormente
aplicada. Durante a audiência para a
reformulação do cúmulo jurídico, no
Tribunal de Aveiro, o arguido disse
estar arrependido do que fez quando
trabalhava para o tio, nos negócios da
gestão de resíduos. “Não me orgulho
nada daquilo que Æz. Eu nunca mais
vou querer fazer aquilo”, disse.
Além de Hugo Godinho, há mais
seis arguidos que estão detidos a cum-
prir pena de prisão, incluindo o ex-
ministro socialista Armando Vara
(cinco anos), o ex-presidente da REN
José Penedos (três anos e três meses)
e o Ælho Paulo Penedos (quatro anos).
Manuel Godinho, principal arguido
do caso, que foi condenado a 12 anos
de prisão, continua a aguardar, em
liberdade, a decisão do recurso para
o Tribunal Constitucional.
O Processo Face Oculta, que come-
çou a ser julgado em 2011, está rela-
cionado com uma alegada rede de
corrupção que teria como objectivo
o favorecimento do grupo empresa-
rial do sucateiro Manuel Godinho nos
negócios com empresas do sector do
Estado e privadas. O julgamento na
primeira instância terminou com a
condenação de 11 arguidos a penas
efectivas entre os quatro anos e os 17
anos e meio, mas três deles acabaram
por ver a execução da pena suspensa,
após recurso para o Tribunal da Rela-
ção do Porto. Lusa

População envelheceu em 2020
mas não chegou a encolher
Natália Faria
Apesar das mortes
provocadas pela covid-19 e
da queda dos nascimentos,
o saldo migratório ajudou
a fazer crescer a população
Portugal está mais envelhecido, mas,
apesar do agravamento da mortalida-
de provocado pela covid-19, viu no
ano passado a população crescer
ligeiramente para um total de
10.298.252 residentes. São mais 2243
pessoas, segundo as estimativas da
população residente em Portugal,
divulgadas ontem pelo Instituto
Nacional de Estatística (INE).
Em números redondos, a popula-
ção residente divide-se em 4,8
milhões de homens e 5,4 milhões de
mulheres. E o ligeiro acréscimo popu-
lacional decorreu essencialmente do
facto de termos mantido um saldo
migratório de 41.274 pessoas: abaixo
dos 44.506 registados em 2019, mas,
ainda assim, suÆciente para compen-
sar o saldo natural negativo.
Sublinhando que é o quarto ano
consecutivo que o saldo migratório
apresenta valores positivos, o INE
enfatiza ainda que, apesar das limita-
ções de circulação impostas pela
covid-19 durante o ano passado, os
movimentos migratórios internacio-
nais registaram alguma dinâmica,
com a entrada de 67.160 imigrantes
permanentes (isto é, que entraram no
Petição por manuais gratuitos para alunos
do público e do privado entregue no Parlamento
Uma petição pública com 11.473
assinaturas que defende o alarga-
mento da gratuitidade dos manuais
escolares a todos os alunos do ensi-
no obrigatório, passando a incluir
o sector privado, foi entregue ontem
no Parlamento para ser discutida
em plenário.
Dezenas de associações de pais e
encarregados de educação do
país pedem a alteração
do diploma que veio estabelecer
a gratuitidade dos manuais no ensi-
no obrigatório por considerarem que
“ n ã o re s p e i t a o p r i n c í p i o
da equidade, ao excluir os estudan-
tes das instituições privadas ou coo-
perativas”.
“Queremos que, em Portugal,
existam em todos os ciclos do ensino
país com a expectativa de cá perma-
necerem por mais de um ano), contra
25.886 saídas de portugueses para o
estrangeiro. Recorde-se, a propósito,
que o número estimado de emigran-
tes temporários, ou seja, residentes
que saíram do país com a expectativa
de regressarem em menos de um ano
foi de 42.323, mantendo-se acima dos
emigrantes permanentes, apesar da
diminuição deste Çuxo em 13,3% rela-
tivamente a 2019.
Quanto ao saldo natural, no ano
passado, a diferença entre nascimen-
tos e mortes agravou-se para os
-38.931. Por detrás deste número
esconde-se, além do acréscimo de
mortes, uma marcada queda nos
Os portugueses continuam a ter menos filhos e cada vez mais tarde
obrigatório da escola pública, priva-
da e cooperativa, manuais escolares
gratuitos. Acreditamos que só assim
será respeitada a lei fundamental do
país”, refere o texto.
O Ministério da Educação iniciou,
no anterior mandato, um programa
gradual de distribuição gratuita dos
manuais, que começou pelos alunos
mais novos e agora abrange todos
os ciclos de ensino das escolas públi-
cas.
A petição critica o “tratamento
diferenciado de agregados familia-
res apenas pela escolha do estabele-
cimento de ensino para os seus edu-
candos”. Em declarações à Lusa,
uma representante do movimento
nacional de associações de pais lem-
brou que quase 20% do total de alu-
nascimentos, que, de resto, se agra-
vou ao longo do primeiro trimestre
de 2021.
Sem surpresas, o número médio de
Ælhos por mulher em idade fértil des-
ceu para os 1,40 (era 1,42 em 2019),
muito longe dos 2,1 Ælhos por mulher
em idade fértil necessários para asse-
gurar a renovação das gerações. Ape-
sar disso, continua longe do recorde
negativo de 1,21 Ælhos por mulher em
idade fértil registados em 2013, ano
fortemente marcado pela crise social
e económica que levou à intervenção
da troika em Portugal.
Em 2020, a média de idades das
mulheres ao nascimento de um Ælho
foi 31,6 anos — mais 1,8 anos que em
ENRIC VIVES-RUBIO/ARQUIVO
nos em Portugal frequenta o ensino
particular e cooperativo.
Estes alunos estudavam com
manuais pagos pelos encarregados
de educação, enquanto no ensino
público, desde 2018, os manuais são
pagos pelo Estado: “A petição quer
saber porquê e exigir igualdade de
tratamento dos cidadãos. Se a medi-
da fosse anexada ao rendimento das
famílias, tudo bem. Agora, diferen-
ciar porque frequentam o ensino
A petição
conta com
11.473 assinaturas
e poderá
agora vir a ser
discutida em
plenário
Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 19
2010. Nesta década, a média das ida-
des das mulheres ao nascimento do
primeiro Ælho subiu 2,1 anos, Æxando-
se no ano passado em 30,2 anos.
O envelhecimento demográÆco
continuou assim a agravar-se. Portu-
gal tem, segundo as estimativas divul-
gadas ontem, 167 idosos acima dos 65
anos por cada 100 crianças e jovens
até aos 14 anos de idade (eram 163,2
em 2019). Se recuarmos até 2010, o
índice de envelhecimento era de 123,9
idosos por cada 100 jovens.
E, da mesma forma, o índice de
dependência total, que corresponde
ao número de jovens e de idosos por
cada 100 pessoas dos 15 aos 64 anos,
continua a aumentar, acentuando a
pressão demográÆca sobre a popula-
ção em idade activa. Em 2010, por
cada 100 pessoas em idade activa,
residiam em Portugal 51,0 jovens e
idosos. Este número aumentou para
55,9 em 2020.
Portugal tem hoje a terceira idade
mediana mais elevada da União Euro-
peia (UE), isto é, se dividirmos a popu-
lação em dois grupos de igual dimen-
são, a idade que “parte” estes dois
grupos passou de 45,5 anos em 2019
para os 45,8 anos em 2020. Dez anos
antes, a idade mediana era de 41,7
anos.
Em 2019, ano mais recente com
dados comparáveis, a média da UE
era de 43,9 anos. Mais velhos do que
Portugal apresentavam-se apenas a
Itália, com uma idade mediana de
47,2 anos, e a Alemanha (45,9 anos).
público ou o privado, não nos pare-
ce correcto.”
Em 2018, o Parlamento discutiu no
âmbito do Orçamento do Estado para
2019 uma proposta do CDS-PP que
estendia a medida a todos os alunos
que frequentem a escolaridade obri-
gatória, incluindo os dos colégios
particulares. Na altura, a iniciativa foi
chumbada pela maioria de esquerda,
tendo apenas conseguido os votos
favoráveis do PSD e do CDS-PP.
Uma outra proposta, do PSD, uti-
lizava o rendimento das famílias
como critério, prevendo que os
manuais fossem gratuitos para
todos os alunos de agregados fami-
liares brutos anuais inferiores a 40
mil euros, mas também foi chumba-
da. Lusa
Sociedade
Portugal perdeu 40 mil dadores
Dadores
de sangue
querem dia
de dispensa
A Federação de Dadores
quer que os trabalhadores
possam tirar o dia quando
vão fazer a doação de sangue
Os dadores de sangue devem voltar
a ter direito à dispensa laboral no dia
da dádiva, reivindicou ontem a fede-
ração portuguesa que os representa,
alertando que o país perdeu 40 mil
dadores regulares entre 2011 e 2021.
“A autorização para os dadores se
ausentarem das suas responsabilida-
des laborais a Æm de darem sangue,
sem que tal circunstância determine
a perda de quaisquer direitos ou
regalias, é uma situação que urge
recuperar”, salientou o presidente
da Federação Portuguesa de Dadores
Benévolos de Sangue (Fepodabes),
Alberto Mota.
No Dia Mundial do Dador, a fede-
ração defendeu que esta dispensa de
serviço, que foi retirada em 2011,
deve ser reposta através de uma alte-
ração do estatuto do dador. Segundo
a organização, que representa 82
associações de dadores no país e está
presente em todo o território nacio-
nal, a Assembleia da República apro-
vou, em 2012, o Estatuto do Dador
de Sangue, mas “manteve essa lacu-
na” na legislação.
“Entre 2011 e 2021, perderam-se
cerca de 40 mil dadores regulares,
número que é verdadeiramente preo-
cupante e que tem um forte impacto
na disponibilidade de sangue nos ser-
viços de saúde”, alertou Alberto
Mota, citado no comunicado. Além
desta redução do número de dadores,
são também “relativamente frequen-
tes as quebras dos stocks de sangue a
nível nacional”, adiantou ainda a
Fepodabes, para quem a actual situa-
ção deve “levar os decisores políticos
a reÇectir”.
A Fepodabes recordou ainda que
são necessárias cerca de mil unidades
de sangue todos os dias, razão pela
qual é “necessária a mobilização da
sociedade” para esta causa. Lusa
20 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021
Local
As ciclovias, a avançarem, vão unir os concelhos vizinhos
Cidadãos propõem ciclovia
entre a Parede e Paço de Arcos
nos orçamentos participativos
João Pedro Pincha
Propostas passam à fase
seguinte e promotores
dizem que não há
obstáculos técnicos à sua
implementação
A primeira fase dos orçamentos par-
ticipativos (OP) de Oeiras e Cascais
terminou com duas propostas no
pódio que poderão resultar na cria-
ção de uma ciclovia entre a Parede e
Paço de Arcos, atravessando os cen-
tros de Carcavelos e Oeiras.
Uma proposta levada a votos no
OP de Oeiras (ciclovia Lombos Nor-
te — Paço de Arcos) interliga-se com
outra que foi a sufrágio no OP de
Cascais (ciclovia Parede — Carcave-
los) e os seus promotores estão
empenhados em fazê-las chegar às
fases Ænais de votação, que se reali-
zam no Outono.
“Mais ou menos 20% das pessoas
que votaram optaram por dar um
dos seus votos a esta proposta”, con-
gratula-se João Pedro Fernandes,
proponente do lado de Cascais. A
ideia não foi propriamente sua, por-
que desde 2016 que a câmara tem
um anteprojecto para a criação de
uma ciclovia urbana entre São João
do Estoril e Carcavelos.
A sua proposta é que se façam
dois troços que já estavam previstos
nesse documento, unindo os cen-
tros de Parede e Carcavelos, que são
vilas vizinhas, pelas ruas José Relvas
e Machado dos Santos, pela Av. da
República e pela Rua Dr. Manuel de
Arriaga, o que permitiria ligar à
estação de comboios. Em alternati-
va, a pista para bicicletas poderia
acompanhar mais o traçado da via-
férrea, seguindo a proposta de troço
complementar que também consta
do anteprojecto da Câmara de Cas-
cais. “É só implementar”, resume o
proponente.
Depois da primeira fase de votação
em que arrecadou 635 votos positi-
vos e 14 negativos, tendo sido a ter-
ceira mais apoiada, a proposta de
João Pedro Fernandes vai agora
seguir o mesmo caminho de todas as
outras 25 — será sujeita a discussão
em sessões presenciais que se vão
realizar a partir desta semana até ao
início de Julho. Haverá depois um
período de análise técnica, que pro-
cede a votação Ænal.
Do lado oeirense o processo é
semelhante, com a excepção de que
nesta edição do OP só foram aceites
propostas online. A ideia desta ciclo-
via obteve 1050 votos, posicionando-
se em terceiro lugar atrás de duas
propostas para a criação de espaços
verdes em Queijas. Neste momento
decorre a análise de viabilidade téc-
nico-Ænanceira e a votação Ænal deve
começar a partir de Setembro.
NUNO FERREIRA SANTOS
“O obstáculo aqui não é técnico”,
aÆrma Ricardo Ferreira, que propôs
esta ligação ciclável. “Espaço não
falta, é preciso é vontade de o redis-
tribuir.”
A sua proposta inicia-se na Rua
Santo António, mesmo na fronteira
concelhia, daí seguindo junto à linha
de comboio até à estação de Oeiras.
Nesse local desce até ao Palácio Mar-
quês de Pombal e à câmara, conti-
nuando pela Rua Cândido dos Reis e
Rua Oeiras do Piauí até ao mercado
de Paço de Arcos. Esta ideia implica
a criação de ciclovia num viaduto
que atravessa a linha ferroviária em
frente ao Parque dos Poetas.
A criação desta pista poderia estar
associada ao encerramento do cen-
tro de Oeiras ao trânsito automóvel,
excepto a autocarros. “Actualmente
o centro está a maior parte dos dias
deserto, mas tem bairros de alta den-
sidade em volta”, explica Ricardo
Ferreira, referindo-se à Quinta do
Marquês, ao Espargal e à Figueiri-
nha. “Estamos a falar de umas deze-
nas de milhares de habitantes para
as quais esta seria uma excelente
forma de aproximar o centro da vila
a todos estes bairros.”
Tanto Ricardo Ferreira como João
Pedro Fernandes aÆrmam que estas
são ideias que não exigem obras de
grande complexidade e que vêm res-
ponder a uma necessidade que se
sente em ambos os concelhos.
“Muita gente pode não
nascer” sem políticas
públicas adequadas
Mário Barros
Ciclo de Conversas Urbanas
questionou especialistas
acerca do tipo de cidade que
vai ser deixada àqueles que
ainda não nasceram
Pensar as cidades para as novas gera-
ções é um dos grandes desaÆos dos
actuais obreiros (políticos, arquitec-
tos, paisagistas, cidadãos) do tecido
urbano do futuro, mas o amanhã é já
hoje. Por isso, urge decidir agora
como vão ser os espaços que os des-
cendentes dos nossos descendentes
vão herdar, tendo em vista cidades
inclusivas e integradoras das várias
gerações que nelas se cruzam. Res-
postas há muitas, mas decisões pre-
cisam-se e foi esse o repto lançado aos
convidados da terceira das dez ses-
sões (disponíveis em podcast) que o
PÚBLICO Ao Vivo dedica às cidades e
o seu futuro. O tema desta conversa
cruzada foi “Como se desenham cida-
des para quem ainda não nasceu?”
Eduardo Vítor Rodrigues, presi-
dente da Câmara Municipal de Vila
Nova de Gaia, saiu em defesa de um
conceito de cidade que atenda à
actual realidade. “Se as cidades e as
políticas públicas não forem devida-
mente desenhadas, há muita gente
que poderá não nascer”, disse, lem-
brando os níveis “absurdos” de baixa
natalidade vividos em Portugal. E
alertou: “A geração dos que nascerão
vai depender muito daquilo que as
famílias tiverem hoje como suporte
de políticas públicas.”
Instrumentos como o plano direc-
tor municipal (PDM) são elementos-
chave de construção do território. A
arquitecta Adriana Floret dá o exem-
Como se pensa a cidade pode
contribuir para a natalidade
plo do Porto, onde o PDM “tem uma
grande preocupação com a mobilida-
de”. E se o pensamento está numa
nova abordagem do conceito de cida-
de, do planeamento dos espaços, o
novo uso de edifícios e espaços públi-
cos, então o caminho é pensar “na
Geração Y, que não dá tanta impor-
tância ao carro e ao sítio onde moram,
preferindo pensar em questões como
a mobilidade e a tal cidade dos 15
minutos, em que os bens e serviços
essenciais estão próximos”.
Menos optimista está Luís Pinto de
Faria, arquitecto e director do curso
de Arquitectura e Urbanismo da Uni-
versidade Fernando Pessoa. “Os PDM
deveriam responder à pergunta des-
te debate: onde estamos e para onde
queremos ir. As pessoas são o princi-
pal recurso das cidades, mas as cida-
des têm diÆculdade em acolher as
pessoas”, disse.
Sendo o PDM uma carta reescrita
a cada dez anos, Eduardo Vítor Rodri-
gues defende que o diálogo com os
cidadãos deve ser uma constante.
Para isso, foram criadas diversas pla-
taformas de informação, como é o
caso do projecto “Meu bairro, minha
rua”. O autarca acredita que “a demo-
cracia também se exercita”. “Dialo-
gamos com as pessoas e devolvemos
o que Æzemos, ou não, e as pessoas
dispõem-se mais a participar na dis-
cussão pública dos espaços que as
rodeiam”, acrescentou. Pensar o
espaço público é uma missão de
todos, mas há entraves: “Temos um
processo pedagógico a fazer porque,
por vezes, as pessoas querem as
esplanadas mas não querem Æcar sem
o lugar de estacionamento. Temos de
explicar os motivos de tomarmos
determinadas medidas”, explicou o
presidente da câmara gaiense.
Os convidados foram desaÆados a
deixar um desejo para o local onde
moram. Se Adriana Floret quer “pas-
seios mais largos e mais árvores nas
ruas do Porto”, Luís Pinto de Faria
apontou para a “necessidade de capa-
citar as pessoas, para que tenham
mais meios para usufruir das cida-
des”. Já Eduardo Vítor Rodrigues
manifestou a vontade de consolidar
uma cidade “inclusiva e coesa”, em
que os vários agentes “trabalhem em
termos transversais em aspectos
como a inclusão, o ambiente e a dimi-
nuição da pendularidade”.
Com o apoio:
B&B
Colecção de 10 volumes. PVP unitário 6,90€. Preço total da colecção 69€. Periodicidade semanal à sexta-feira, entre 30 de Abril e 25 de Junho. Stock limitado.

OBRAS DAS AUTORAS PORTUGUESAS

CENSURADAS PELA PIDE.
Contra a vontade Num total de 21 obras, escritas por
9 mulheres, que foram censuradas pelo
Estado Novo, escolhemos 10 para lançar
do pai esta colecção. São fac-símiles das
primeiras edições e incluem os
relatórios de censura.
Esta obra, de 1950, centra-se na vida
amorosa de Lourdes Bento que, desde
cedo e contra a vontade do pai,
manifesta uma natureza luxuriante e
sexual. Ao descobrir que é traído pela
mulher, João Lúcio adoece e é internado
num manicómio. O realismo e crueza com
que Carmen de Figueiredo descreve as
cenas íntimas e sexuais terá motivado
a censura. “Parece-me condenável este
romance pelos trechos (por vezes
páginas inteiras) de realismo tão cru
e descrições de tal basévia e
lubricidade”, pode ler-se no relatório
da PIDE.
8)“VINTE ANOS DE MANICÓMIO”
CARMEN DE FIGUEIREDO

+6.90€
SEX 18 JUN

1 NOVAS CARTAS
CAR
RTAS P
PORTUGUESAS
ORTUGUUESAS M Maria
i IIsabel
b lBBarreno, Maria Teresa Horta e Maria
M i Velho
V lh da C t 2 O VINHO
d Costa VIN
NHO E A LIRA N
Natália
táli C i 3 CASA SEM PÃO Maria
Correia
Archer 4 DECADÊNCIA Judith Teixeira 5 FALSOS PRECONCEITOS Nita Clímaco 6 O TESTAMENTO Fiama Hasse Brandão 7 A MAGRIZELA Maria da Glória 8
VINTE ANOS DE MANICÓMIO Carmen de Figueiredo 9 MINHA SENHORA DE MIM Maria Teresa Horta 10 IDA E VOLTA DE UMA CAIXA DE CIGARROS Maria Archer
APOIOS: APOIOS INSTITUCIONAIS:
22 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021
Mundo Cimeira entre União Europeia e Estados Unidos
UE e EUA põem
a conversa
em dia depois
de sete anos
sem falar
Sinal dos novos tempos é que não há
praticamente nenhum tema da agenda
internacional que não vá merecer
tratamento bilateral
Rita Siza, Bruxelas
Basta olhar para a lista de novos
conselhos, task forces, grupos de
alto nível, alianças e fóruns bilate-
rais de discussão que vão ser anun-
ciados pelos presidentes da Comis-
são e do Conselho Europeu, Ursula
von der Leyen e Charles Michel, e o
Presidente norte-americano, Joe
Biden, quando hoje retomarem a
tradição das cimeiras entre a União
Europeia e os Estados Unidos, para
perceber o alcance e a abrangência
do novo ciclo da relação transatlân-
tica que Bruxelas e Washington se
prepararam para inaugurar.
Das vacinas para a covid-19 às
relações com a China e a Rússia,
passando pelo combate às altera-
ções climáticas, o apoio ao desen-
volvimento e à economia circular,
às questões de comércio, tecnologia
e Æscalidade justa, não há pratica-
mente nenhum tema da agenda
internacional que não vá merecer
tratamento numa qualquer platafor-
ma de discussão e entendimento
bilateral, para concertar posições e
desenvolver propostas comuns.
“Nos últimos anos, não tivemos
estes rendez-vous regulares como
devíamos. Ultrapassámos agora esse
período mais difícil nas nossas rela-
ções, e por isso temos todo o inte-
resse em aprofundar a nossa ligação
e em Æxar uma agenda positiva,
aproveitando já esta reunião para
apresentar resultados muito concre-
tos”, justiÆcou um alto responsável
europeu envolvido na preparação
do encontro, numa referência ao
facto de se terem passado sete anos
desde a última cimeira UE-EUA.
Em 2014, os líderes europeus,
José Manuel Durão Barroso e Her-
man van Rompuy discutiram com o
Presidente norte-americano, Barack
Obama, as manobras da Rússia na
Ucrânia e as negociações para a assi-
natura de um acordo global para o
clima, de um acordo nuclear com o
Irão e de um acordo de livre comér-
cio que eliminasse as barreiras nas
trocas de bens industriais entre os
dois continentes.
A chamada “Parceria Transatlân-
tica de Comércio e Investimento”
(TTIP, na sigla em inglês) nunca
andou para a frente, e com a agenda
da “America First” do ex-Presidente
Donald Trump, os dois blocos estive-
ram muito mais perto de abrir uma
guerra comercial total do que de
resolver uma velha disputa relativa
aos subsídios concedidos aos gigan-
tes aeronáuticos Airbus e Boeing.
As tensões aumentaram quando
Trump anunciou a introdução de
tarifas sobre as exportações de aço
e alumínio da Europa, alegando
preocupações de segurança nacio-
nal. Bruxelas não demorou a reta-
liar, apresentando uma queixa na
Organização Mundial de Comércio
e carregando nas taxas de vários
produtos made in USA, como moto-
rizadas, jeans ou bourbon.
Desde a tomada de posse de Joe
Biden, o ambiente desanuviou-se
signiÆcativamente, com a nova
Administração a prometer a inver-
são da escalada. A UE correspondeu
com um gesto de incentivo, suspen-
dendo temporariamente as tarifas
aduaneiras aplicadas em resposta às
medidas de Trump.
Numa intervenção perante o Par-
lamento Europeu, há uma semana,
o vice-presidente executivo da
Comissão Europeia, Valdis Dom-
brovskis, deu conta das “vibrações
positivas” que têm chegado a Bruxe-
las e que permitem perspectivar uma
resolução para as disputas comer-
ciais antes do Æm do ano — um objec-
tivo que ambas as partes vão deixar
expresso no comunicado Ænal.
Depois de quatro anos de “Esta cimeira não vai resolver
hostilidade em relação à União todos os problemas entre nós”, reco-
Europeia da Administração nhecia uma fonte europeia. Mas é
Trump, Joe Biden foi muito bem inegável que seja no dossier comer-
recebido pelos europeus cial, seja nas matérias de política
global e regional, “a UE recebeu a
mensagem dos EUA de que a diplo-
macia está de volta”, garantiu. “A
verdade é que uma nova cooperação
entre a UE e os EUA se consolidou
muito rapidamente”, acrescentou.
Cooperação diplomática
Os líderes europeus e o Presidente
dos Estados Unidos estão há quatro
Temos todo o dias a repetir a sua mensagem de
unidade e de entendimento: na
interesse em cimeira do G7, durante o Æm-de-se-
aprofundar a mana, e na reunião dos chefes de
Estado e governo dos países da
nossa ligação NATO, realizada ontem, Æcou paten-
e em Äxar uma te a sintonia — e preocupação — dos
dois aliados relativamente à “amea-
agenda positiva, ça” posta pela crescente inÇuência
aproveitando da China, a acção desestabilizadora
da Rússia ou o recente “episódio”
já esta reunião do sequestro de um avião comercial
para apresentar da Ryanair pela Bielorrússia.
Fontes europeias apontaram, de
resultados muito resto, a concertação entre Bruxelas
concretos e Washington na reacção a esse inci-
dente como “um exemplo acabado
Alto responsável europeu dos benefícios da nova cooperação
envolvido na preparação do diplomática”. Mas há outros. O inte-
encontro resse manifestado por Joe Biden na
resolução da crise no Mediterrâneo
Oriental “desbloqueou” as conver-
sações com a Turquia. E as suas
palavras sobre a preservação do
processo de paz na ilha da Irlanda
deram força aos argumentos de Bru-
xelas contra Londres, na questão do
respeito pelos termos Æxados no
acordo do “Brexit”.
Depois de terem estabelecido um
canal de diálogo sobre a China, os
dois blocos vão lançar, hoje, um diá-
logo de alto nível sobre a Rússia. O
estabelecimento de um fórum para
a discussão regular das matérias que
têm que ver com as manobras rus-
sas é mais um “sinal de unidade” e
do compromisso em apresentar
uma frente forte nos fóruns multila-
terais, argumentou uma fonte euro-
peia. “Quanto maior a unidade tran-
satlântica, maior a pressão sobre a
Rússia”, apontava um diplomata
europeu.
Outros sinais têm que ver com o
apoio que Bruxelas vai manifestar à
realização de cimeira global da
democracia, proposta pelo Presiden-
te Joe Biden para chamar a atenção
para as violações dos direitos huma-
nos pelos regimes autocráticos; ou
ainda ao avanço de uma segunda
investigação da Organização Mun-
dial de Saúde às origens do novo
coronavírus, como tem reclamado a

PHIL NOBLE/EPA
Administração norte-americana.
No capítulo dedicado à pandemia,
a UE e os EUA vão estabelecer uma
task force para promover a troca de
conhecimentos no âmbito do com-
bate à covid-19, para estudar acções
que levem ao aumento da capacida-
de de produção de vacinas a nível
mundial e ainda para apoiar os esfor-
ços da OMS no fortalecimento dos
sistemas de saúde a nível global.
Os dois blocos também vão ali-
nhar o discurso sobre a recuperação
da crise provocada pela covid-19 e a
necessidade de manter os apoios às
economias: segundo assinalou a
presidente da Comissão, Ursula von
der Leyen, entre 2020 e 2022, os
esforços de Bruxelas e Washington
são equivalentes, com as medidas
de apoio da UE a corresponderem
a cerca de 18% do PIB, e as dos EUA
a baterem nos 20% da riqueza pro-
duzida pelos norte-americanos.
Como tem repetido o Presidente
Joe Biden, é preciso “reconstruir
melhor”, e dos dois lados do oceano
há uma intenção de aproveitar a
oportunidade para acelerar a tran-
sição verde e digital das respectivas
economias. Bruxelas e Washington
vão ainda assumir a “responsabili-
dade” de apoiar o crescimento sus-
tentável dos países de médio e baixo
rendimento.
Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 23
Sondagem
Biden só precisou de quatro meses para
começar a mudar a opinião dos europeus
António Rodrigues O sistema político dos EUA está a funcionar bem tornaria a maior potência do mundo
ou está em ruptura? na próxima década e que seria mes-
A mudança de Presidente dos Estados FUNCIONA População que acredita que mo melhor para a UE “manter-se
Unidos, de Donald Trump para Joe Ruptura Não Mais ou O SISTEMA FUNCIONA BEM neutral num conÇito entre EUA, Rús-
Biden, que tomou posse em Janeiro e completa sabe menos sia e China, em vez de alinhar com
com um novo discurso em relação à Muito Em 2020 Em 2021
Washington”.
Ruptura
Europa e ao multilateralismo, veio parcial bem “Em resposta às nossas conclusões,
trazer mudanças substanciais na per- Países Baixos Países Baixos diziam-nos que, assim que Biden
cepção de muitos europeus em rela- 21% assumisse o cargo, a maré rapidamen-
13% 43% 19% 23% 2% 26%
ção ao que se passa com a democracia te mudaria e a conÆança nos EUA
França França
dos Estados Unidos. 19% seria restaurada”, escreve o ECFR e
Os números são do mais recente 15% 35% 19% 28% 3% 32% estes números parecem demonstrar
relatório do think tank do European Suécia Suécia isso mesmo.
22%
Council on Foreign Relations 18% 37% 13% 28% 4% 33% “A nova Administração dos EUA
(ECFR), publicado na semana pas- Alemanha Alemanha trabalhou muito para reparar e revi-
19%
sada, intitulado Crise de confiança: 18% 34% 14% 30% 4% 34% talizar a relação transatlântica dete-
como vêem os europeus o seu lugar no Bulgária Bulgária riorada. O próprio Biden, assim como
mundo?, assente numa sondagem 34% o secretário de Estado, Antony
13% 25% 28% 25% 9% 38%
realizada em 12 países da Europa, Portugal Portugal Blinken, já participaram numa série
incluindo Portugal. 33% de encontros com líderes europeus”
16% 32% 15% 31% 6% 37%
Os saltos são substanciais na per- antes mesmo de o Presidente norte-
Espanha Espanha
cepção da opinião pública de deter- 28% americano chegar à Europa para uma
minados países. Na Itália e Dinamarca 15% 35% 11% 31% 8% 39% série de cimeiras de alto nível que
Áustria Áustria
a mudança é tão abrupta que altera 39% começou com o G7 no Reino Unido e
completamente o panorama de 15% 37% 8% 34% 6% 39% vai terminar amanhã com o encontro
Novembro de 2020, data da sonda- Dinamarca Dinamarca com o Presidente russo, Vladimir
22%
gem anterior, para Abril deste ano, 9% 32% 9% 41% 9% 50% Putin, em Genebra.
quando as perguntas desta sondagem Hungria Hungria A maré parece ser de mudança,
foram feitas aos inquiridos. 56% mas quatro meses não chegam para
9% 16% 16% 44% 15% 59%
A derrota de Trump em Novembro Itália Itália transformar uma visão substancial-
de 2020 e a chegada à Casa Branca de 36% mente negativa do sistema político
9% 21% 10% 49% 11% 60%
Biden, com o seu discurso de apazi- Polónia norte-americano. Mesmo assim, dos
Polónia
guamento, de moderação, com a sua 57% 12 países incluídos nesta sondagem,
mudança em relação à União Euro- 5% 12% 16% 53% 14% 67% em metade deles as opiniões negati-
peia — a quem o anterior Presidente Inquéritos realizados em Novembro de 2020 e Abril de 2021. A questão dizia: "Pensando no caso vas estão abaixo de 50%, embora em
dos EUA chegou a apelidar de inimiga do sistema político dos Estados Unidos, pensa que funciona bem ou está em Ruptura?" apenas quatro deles a percepção posi-
— fez com que a opinião de que a Fontes: Datapraxis e YouGov (Alemanha e França), Dynata (Dinamarca, Espanha, Hungria,
tiva da democracia norte-americana
democracia norte-americana está a Polónia, Portugal, Suécia, Itália, Áustria) e Alpha (Bulgária) - ECFR PÚBLICO supere a visão negativa.
funcionar bem passasse de negativa Dinamarca, Polónia, Itália e Hun-
KEVIN LAMARQUE/REUTERS
a positiva na Dinamarca e Itália. gria são os quatro países onde a opi-
A percentagem dos dinamarqueses nião pública está mais satisfeita com
inquiridos para o relatório do ECFR a o sistema político dos EUA. No entan-
achar que o sistema político dos EUA to, ao contrário da Dinamarca e da
funciona muito bem ou relativamen- Itália, cuja perspectiva positiva deri-
te bem passou de 22% para 50%, mais va da mudança de opinião com a
do que duplicando as opiniões posi- mudança de Trump para Biden na
tivas em apenas cinco meses. Casa Branca, na Hungria e Polónia a
Em Itália, a mudança de percepção maioria dos inquiridos já considerava
também se alterou substancialmente, que a democracia norte-americana
com as opiniões positivas a subirem funcionava muito bem ou relativa-
de 36% para 60% no mesmo período mente bem.
de tempo. Os dois países que mais dores de
Tirando a Bulgária, onde houve um cabeça têm dado dentro da UE em
recuo de 4% naqueles que conside- termos de condicionamento das
ram que a democracia norte-ameri- regras democráticas são aqueles em
cana está a funcionar (passando de que as acções de Trump na Casa
38% para 34%, embora haja 28% de Branca menos beliscaram a imagem
pessoas que não sabem o que respon- Com excepção de Bulgária tagem ainda inferior aos 48% que positiva. Em Novembro de 2020, já
der) e da Áustria, onde a percentagem e Áustria, a imagem do consideram a democracia em total ou 56% de húngaros avaliaram favora-
se manteve igual (39%), em todos os sistema político dos EUA parcial ruptura (os 15% que faltam são velmente o funcionamento do siste-
outros se registou uma melhoria da melhorou aos olhos dos dos que não têm opinião formada). ma político dos EUA, subindo em
imagem dos EUA e do seu sistema europeus com Biden Para o think tank, os números mos- Abril para 59%; e dos 57% de polacos
político entre os cidadãos dos Esta- tram “como Donald Trump prejudi- que julgavam positivamente a demo-
dos-membros da UE onde a sonda- cou o poder americano”, contribuin- cracia norte-americana no ano pas-
gem foi realizada. do para que a maioria das opiniões sado passou-se para 67% este ano.
Em Portugal, a percentagem do dos europeus em relação aos EUA Na Polónia, apenas 17% das pessoas
lado positivo para a América subiu de passasse a ser negativa e levando pensam que há algo errado com a
33% para 37%, mesmo assim percen- mesmo a acreditar que a China se política da América.
24 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021
Mundo
Presidente dos EUA conƊrma compromisso
“sólido e inquebrável” com a NATO
Rita Siza, Bruxelas
Aliados aprovam nova
agenda para 2030, entre
alertas sobre ameaças de
China e Rússia e vontade de
reduzir emissões militares
Tal como aconteceu da última vez
que os chefes de Estado e de governo
da NATO estiveram reunidos em Bru-
xelas, na cimeira anual da aliança
militar de 2018, o Presidente dos
Estados Unidos da América foi o cen-
tro das atenções. Só que ao contrário
do seu antecessor no cargo, Joe Biden
foi recebido como um herói: só não
houve abraços porque as restrições
da covid-19 não permitiam, nem
aplausos e vivas porque os líderes
não esqueceram as regras do proto-
colo e do decoro. Mas quase.
O novo líder norte-americano
mostrou ao que vinha mal entrou no
quartel-general da NATO. “Eu quero
que a Europa inteira saiba que os
Estados Unidos estão aqui”, decla-
rou. Ao lado do secretário-geral,
Jens Stoltenberg, o Presidente dos
EUA salientou a “importância críti-
ca” da aliança militar transatlântica
para “os interesses dos Estados Uni-
dos”, e descreveu o Artigo 5.º, que
estabelece o princípio da defesa
colectiva, ao proclamar que um ata-
que contra um é um ataque contra
todos, como uma “obrigação sagra-
da”. “É um compromisso sólido e
inquebrável”, conÆrmou.
À entrada, o primeiro-ministro do
Reino Unido, Boris Johnson, compa-
rou o sentimento dos aliados com a
chegada de Biden à alegria que sen-
tem as crianças no primeiro dia de
aulas depois das férias, quando vol-
tam a ver os seus amigos depois de
uma longa ausência. Mais formalista,
o primeiro-ministro italiano, Mario
Draghi, enquadrou o encontro no
“processo de reaÆrmação e recons-
trução das alianças fundamentais dos
Estados Unidos, enfraquecidas pela
anterior Administração”.
António Costa resumiu a cimeira
ao “reencontro entre a Europa e os
EUA”, depois de vários anos de ten-
são, “em que muitos duvidaram se a
NATO subsistiria, se estava em morte
física ou cerebral, e se a ligação entre
a Europa e os EUA tinha futuro ou
estava irreversivelmente perdida”.
De acordo com o primeiro-ministro,
“a cimeira serviu para dizer que não”:
a declaração do Presidente Biden, no
Room One da NATO, foi “clara e ine-
quívoca” relativamente ao interesse
e compromisso dos EUA em “reforçar
o futuro desta organização”.
Mas além do “regresso da Améri-
ca ao coração da NATO”, Costa des-
tacou um “duplo sinal importante”:
a “reaÆrmação do Reino Unido
como parte integrante da NATO”
após a consumação do “Brexit” e a
“vontade comum dos membros da
União Europeia de estreitarem as
relações entre a UE e a NATO”. “Nis-
to se resume uma declaração políti-
ca proclamatória que terá conse-
quências e desenvolvimentos no
futuro”, disse.
Dos 79 parágrafos da declaração
Ænal da cimeira, o secretário-geral da
NATO destacou a referência dos líde-
res às “ameaças multifacetadas” com
que a organização se confronta, bem
como à “competição” de “poderes
assertivos e autoritários” como a Chi-
KEVIN LAMARQUE/REUTERS
Joe Biden sorridente durante
a sessão de fotografias com
os outros líderes da NATO
na e a Rússia, que “desaÆam de forma
sistemática a ordem internacional”
e a segurança dos aliados.
Os líderes condenaram as acções
agressivas e manobras desestabiliza-
doras dos regimes de Moscovo e
Pequim, assumindo a profunda preo-
cupação com “a expansão do arsenal
nuclear” e as acções chinesas no cam-
po da desinformação.
Sobre a Rússia, os aliados garantem
que prosseguirão com a sua dupla
estratégia de dissuasão e diálogo. No
Æm dos trabalhos, Joe Biden, que vai
reunir com o Presidente russo, Vladi-
mir Putin, amanhã em Genebra, reve-
lou que todos os líderes presentes na
NATO apoiaram a mensagem que vai
levar para o encontro. “Vou deixar
claro ao Presidente Putin que ele tem
de fazer uma escolha. OS EUA não
querem um conÇito com a Rússia.
Mas não deixaremos de responder se
prosseguirem certas acções. Há linhas
vermelhas que nunca aceitaremos
que sejam ultrapassadas”, aÆrmou,
acrescentando que a sua expectativa
é que “Putin conclua que é do interes-
se dele mudar de comportamento”.
Questionado sobre a prisão do acti-
vista e opositor russo Alexei Navalny,
e a eventualidade de este não resistir
à detenção, Biden não hesitou: “Se
Navalny morrer, será uma tragédia. E
será a prova acabada de que a Rússia
não respeita os direitos humanos.”
Emissões militares
Mas não foi só de ameaças estatais
que se tratou na cimeira. Como su-
blinhou Jens Stoltenberg, a decla-
ração Ænal também aponta para as
alterações climáticas como um desa-
Æo a que a NATO tem de responder,
uma vez que tem impacto sobre
as suas instalações, missões e acti-
vidades.
“Estou muito satisfeito porque
todos os aliados assinaram o compro-
misso de redução signiÆcativa das
emissões militares”, disse Stol-
tenberg, que viu os líderes deÆnirem
metas concretas para essa diminui-
ção, de forma a que a NATO se junte
aos esforços em curso para atingir a
neutralidade climática em 2050.
Finalmente, os líderes conÆrma-
ram o seu apoio à agenda oferecida
pelo secretário-geral da NATO para o
futuro da organização. “Foi uma
cimeira muito bem sucedida”, consi-
derou Biden, que se mostrou “grato
por a aliança ter adoptado um plano
para responder aos desaÆos do futu-
ro: a Iniciativa 2030, com o Ænancia-
mento adequado”.
Segundo Costa, esta nova agenda
abrange “vários domínios de interes-
se comum” e implica a mobilização
de “recursos para defesa militar, mas
também de natureza civil, em parti-
cular na área da cibersegurança”.
“Saímos daqui com um espírito novo,
e concentrados no plano do secretá-
rio-geral para 2030”, que na próxima
cimeira, em Madrid, deverá resultar
numa actualização do Conceito Estra-
tégico da NATO, fechado em Lisboa
em, 2010.

Marcha nacionalista é o primeiro teste
ao novo Governo israelita
António Saraiva Lima
Primeiro-ministro
palestiniano diz que
o evento hoje é uma
“provocação” e teme-se
o regresso da violência
A coligação multipartidária anti-Ne-
tanyahu liderada pelo ultranaciona-
lista Naftali Bennett e pelo centrista
Yair Lapid iniciou ontem funções,
decidida a pôr em prática a “mudan-
ça” prometida. O novo Governo de
Israel terá, no entanto, uma enorme
prova de fogo já hoje.
A realização da marcha anual que
comemora a anexação de Jerusalém
Oriental pelos israelitas, em 1967, será
um teste à capacidade de coordena-
ção das diferentes posições políticas
e ideológicas dos oito partidos que
compõem o 36.º Governo, aprovado,
na véspera, pela margem mínima, no
Knesset (Parlamento), e que inclui a
esquerda paciÆsta anticolonatos, a
extrema-direita, defensores e oposi-
tores da solução de dois Estados,
seculares e religiosos.
O evento estava originalmente
agendado para 10 de Maio, mas aca-
bou adiado por causa dos confrontos
entre as forças israelitas e os manifes-
tantes palestinianos que se juntavam
Impacto da variante Delta leva Governo britânico a recuar
e adiar por um mês o desconfinamento em Inglaterra
Diana Baptista Vicente
Boris Johnson acredita que
dois terços da população
estejam vacinados com as
duas doses a a 19 de Julho,
permitindo “abertura total”
O plano de desconÆnamento para
Inglaterra previa o Æm da maioria
das restrições sanitárias para o dia 21
de Junho, mas o aumento do número
de casos, devido à crescente predo-
minância da variante Delta, obrigou
o Governo a adiar o desconÆnamen-
to para 19 de Julho. O adiamento foi
anunciado ontem pelo primeiro-mi-
nistro britânico, Boris Johnson.
Apesar das críticas e da pressão
económica, Johnson afirmou que “é
tempo de abrandar” para salvar
“milhares de vidas através da vacina-
ção” e para “dar um tempo extra ao
nas imediações da Mesquita Al-Aqsa,
em Jerusalém, para celebrar os últi-
mos dias do Ramadão e para protes-
tar contra o despejo de famílias
muçulmanas no bairro de Sheikh Jar-
rah, em Jerusalém Oriental.
Os confrontos em causa estiveram
na origem dos 11 dias seguidos de
bombardeamentos israelitas à Faixa
de Gaza e de disparos de rockets, do
Hamas, na direcção de Israel, pelo
que se teme que as marchas reacen-
dam as tensões e propiciem o regres-
so da violência, numa altura em que
está em vigor um cessar-fogo.
As autoridades palestinianas criti-
caram a realização das marchas.
Mohammad Shtayyeh, primeiro-mi-
nistro palestiniano, da Fatah, disse
tratar-se de uma “provocação” contra
o povo da Palestina e os “lugares
sagrados” do islão. Abdulatif al-Qa-
nua, porta-voz do Hamas, perspecti-
vou o reacender “de um rastilho para
uma nova explosão” e apelou: “Pedi-
mos aos palestinianos em Jerusalém
e dentro da Linha Verde que travem
a marcha.”
Os organizadores das marchas, por
seu lado, pedem a “todos os cidadãos
de Israel” que se juntem às manifes-
tações e que levem bandeiras do país,
para “louvarem o heroísmo israelita
e dançarem em Jerusalém com ale-
gria”. O Exército israelita está, por
Serviço Nacional de Saúde”. Com
base na informação de que “as vaci-
nas estão a funcionar”, o primeiro-
ministro acredita que o adiamento
até 19 de Julho é necessário para con-
seguir vacinar dois terços da popu-
lação com as duas doses.
“Com base nos dados”, Boris
Johnson mostrou-se conÆante de que
a “abertura total” pode ser feita a 19
de Julho, mas sem pôr de lado novo
recuo no alívio das medidas sanitá-
rias. “Em algum momento vamos ter
de viver com o vírus, mas, se temos
vacinas eÆcazes, e uma variante que
requer duas doses para uma protec-
ção máxima, é acertado dar mais
tempo para salvar vidas”, disse um
porta-voz de Downing Street.
Será então acelerada a administra-
ção da segunda dose nas pessoas
com mais de 40 anos “para terem a
máxima protecção o mais depressa
possível”; e os jovens dos 18 aos 24
Marchas vão juntar milhares de israelitas em Jerusalém
isso, em alerta máximo e, segundo o
Haaretz, já posicionou o sistema de
defesa antimíssil israelita Iron Dome
para responder ao disparo de rockets,
ou de outro tipo de artilharia, vindos
de Gaza.
O jornal israelita informa que os
participantes da marcha irão percor-
rer o trajecto tradicional até à Porta
de Damasco, mas não entrarão na
Cidade Velha por essa via. Por razões
de segurança, as autoridades israeli-
tas conceberam um percurso que
pretende evitar ao máximo os bairros
Boris Johnson diz que “é tempo
de abrandar” para salvar vidas
Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 25
AMIR COHEN/REUTERS
muçulmanos e ajuntamentos exces-
sivos nas zonas com maior potencial
de tensão.
Tal como se previa, a passagem de
testemunho entre Benjamin Netanya-
hu e Naftali Bennett não teve grande
aparato. O homem que governou
Israel durante os últimos 12 anos
abdicou das cerimónias e fotograÆas
típicas de uma transferência formal
de poder em Israel, limitando-se a
receber o seu antigo assessor e minis-
tro numa reunião de 30 minutos.
“Amargo, mal-humorado, nada
anos “serão convidados a agendar a
vacinação” a partir de hoje.
As restrições continuam a afectar
os bares, os festivais e a capacidade
dos restaurantes e pubs. Mas podem
continuar a realizar-se os casamen-
tos com mais de 30 convidados com
distanciamento social e velórios.
Os dados mostram o aumento do
número dos casos e das hospitaliza-
ções em particular no Noroeste de
Inglaterra, com uma maior predomi-
nância da variante Delta. A manter-se
o ritmo actual de contágios, até 21 de
Junho, dia originalmente marcado
para o levantamento das restrições
sanitárias, as infecções por SARS-CoV-
2 podem rondar os 15 mil casos.
A variante Delta (detectada na
Índia pela primeira vez) está a ter
impacto no país, sendo entre 40% a
80% mais transmissível do que a
variante Alpha (detectada no Reino
Unido), segundo os especialistas.
Mundo
estadista. Foi como Trump até ao últi-
mo momento”, escreveu no Haaretz
o jornalista e comentador político
Yossi Verter, comparando a postura
de Netanyahu com a do antigo Presi-
dente dos EUA quando teve de passar
a pasta a Joe Biden.
Para o Likud (conservadores) e
outros partidos de direita, a decisão
de Bennett de abandonar o bloco con-
servador para se unir à “extrema-es-
querda” está a ser encarada como
uma verdadeira “traição”. Agora na
oposição, o ex-primeiro-ministro não
esconde que o seu objectivo é derru-
bar o novo Governo “o mais rapida-
mente possível”. “Vai acontecer mais
cedo do que vocês pensam”, aÆançou
“Bibi”, citado pela Reuters, aos depu-
tados do Likud.
Aprovado por 60 votos contra 59, o
Governo israelita terá Bennett, do
Yamina (ultranacionalista), como pri-
meiro-ministro e Yair Lapid, do Yesh
Atid (centro), como ministro dos
Negócios Estrangeiros. Os dois diri-
gentes políticos — que vão trocar de
pastas em 2023, caso o executivo se
mantenha até lá — e os restantes minis-
tros estiveram ontem com o Presiden-
te, Reuven Rivlin, posando para a
fotograÆa oÆcial e dando o pontapé
de saída num mandato que se prevê
atribulado. Com um primeiro exame
dentro de menos de 24 horas.
A vacinação reduziu as hospitali-
zações, mas os especialistas pedem
mais tempo para monitorizar os
dados. No Reino Unido mais de 78%
da população recebeu a primeira
dose da vacina e quase 60% recebeu
a segunda dose, segundo o Public
Health England. Mas, segundo o
Guardian, dois terços da população
inglesa não estão protegidos contra
a variante Delta. A análise citada pelo
diário sugere que 68 em 100 pessoas
não têm mais protecção contra o
desenvolvimento de sintomas graves
do que aquela que tinham antes da
administração da primeira dose.
Com a segunda dose da vacina, a
protecção aumenta de 33% (por opo-
sição com os 50% de eÆcácia contra
a variante Alpha) para 88% no caso da
vacina da PÆzer, e 60% no caso da
AstraZeneca, o que confere “um ele-
vado grau” de protecção contra a
variante, segundo Downing Street.
26 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021
Economia Emissão histórica da União Europeia terá juro perto de 0%
Fundo de
recuperação
ganha forma
com emissão de
10 mil milhões
A UE avançou já para a primeira emissão
de dívida destinada a ir buscar o dinheiro
para pagar os planos de recuperação
Sérgio Aníbal
Com uma emissão de dívida pela qual
deverá pagar uma taxa de juro apenas
ligeiramente acima de zero, a União
Europeia (UE) deu esta segunda-feira
o primeiro passo para ir buscar aos
mercados os 800 mil milhões de
euros que irá entregar, a partir de
Agosto, aos países para Ænanciarem
os seus planos de recuperação e resi-
liência até 2026.
A UE ganha, desta forma, um papel
de destaque como emissor de dívida
no mercado europeu, mas, ainda
assim, os investidores duvidam da
capacidade de estes títulos se conso-
lidarem como um dos principais acti-
vos seguros à escala mundial.
A emissão de arranque relativa ao
fundo de recuperação europeu —
que se segue aos 90 mil milhões de
euros emitidos para Ænanciar o pro-
grama SURE — tem um valor de 10
mil milhões de euros, colocados por
um prazo de 10 anos, e está a ser
realizada através de um sindicato
bancário. A operação deverá Æcar
concluída hoje, altura em que serão
conhecidos os seus resultados Ænais,
mas os dados apurados até ao
momento apontam, de acordo com
a agência Reuters, para que a taxa
de juro registada se possa cifrar
num valor próximo de 0,1%.
Na prática, aquilo que acontece é
que os investidores aceitam, nesta
operação, emprestar à Comissão
Europeia 10 mil milhões de euros
durante 10 anos, recebendo em con-
trapartida um juro de 0,1% ao ano.
Este dinheiro, depois, irá ser entre-
gue pela Comissão aos Estados-
membros da UE, sob a forma de
subvenções a fundo perdido ou de
empréstimos, para estes colocarem
em prática os seus planos de recu-
peração e resiliência. No Ænal, a
Comissão terá de devolver o dinhei-
ro aos investidores, com os seus
próprios meios, que podem ser as
contribuições dos Estados membros
TONY DA SILVA/LUSA
para o orçamento da UE e eventuais
novos impostos que venham a ser
criados à escala europeia.
Esta é apenas a primeira operação
num plano de emissões de dívida que
se irá desenrolar até 2026. Até ao Ænal
do mês de Julho, a UE irá realizar mais
duas operações de dívida sindicadas
(em que os bancos encontram os
investidores interessados em com-
prar os títulos), seguindo-se depois
uma série de emissões feitas através
de leilões.
Até ao Ænal de 2021, a expectativa
é que a dívida emitida chegue aos 80
mil milhões de euros. Um valor que
corresponde a 10% do montante total
de 800 mil milhões de euros a preços
correntes, que é equivalente aos 750
mil milhões de euros a preços de 2018
que a UE tem no total para o Fundo
de Recuperação, num cenário de total
utilização das subvenções e dos
empréstimos por parte dos Estados-
membros.
Activo refúgio?
Amanhã, a presidente da Comissão
Europeia, Ursula von der Leyen, irá
visitar Lisboa para anunciar a apro-
vação do plano de recuperação e
resiliência português. No entanto, o Ursula von der Leyen aterra a ocupar um lugar de destaque entre têm pouca conÆança que este papel
dinheiro proveniente de Bruxelas amanhã em Lisboa mas dinheiro os emissores de dívida europeus com da UE como emissor de dívida seja
apenas irá começar a chegar ao país só deverá chegar em Agosto rating AAA, aproximando-se dos Esta- para manter.
a partir de Agosto, e não em Julho dos europeus que mais títulos deste Em declarações à Reuters, um ges-
como estava inicialmente previsto, tipo colocam no mercado obrigacio- tor de um grande fundo de investi-
revelou hoje o comissário europeu nista (a Alemanha tem neste momen- mento internacional assinalava que,
para o Orçamento e Administração, to cerca de 1,5 biliões de euros de para os títulos de dívida da UE serem
Johannes Hahn. dívida emitida). vistos como um dos principais activos
As primeiras verbas entregues a Apesar do volume Ainda assim, não é muito forte a seguros do mundo, “isto tem de ser
cada um dos países serão desembol- esperança de que os títulos de dívida algo recorrente, tem de existir uma
sadas a título de pré-Ænanciamento,
elevado de títulos, emitidos pela UE se possam tornar no capacidade orçamental centralizada
o modelo usado para acelerar a injec- não é muito forte activo seguro de referência a nível permanente, se não isto torna-se em
ção dos fundos nas economias. O pré- europeu, ajudando o euro a rivalizar algo temporário sem grande interesse
Ænanciamento corresponde a 13% do
a esperança de com o dólar como moeda de refúgio no longo prazo”.
total do plano, o que no caso de Por- que a dívida da UE internacional. Pode ser aliás esta a razão que
tugal representa cerca de 1800 Os 800 mil milhões de euros que a explica que a taxa de juro prevista
milhões de euros em subvenções e
se possa tornar UE pode vir a emitir até 2026 rivaliza nesta operação Æque ainda bastante
cerca de 350 milhões de euros em no activo seguro com os mais de 20 biliões de dólares acima da taxa de -0,25% que actual-
empréstimos. de títulos de dívida transaccionável mente se regista nos títulos a 10 anos
Com este plano de emissões de
de referência emitidos pelo tesouro norte-america- da dívida alemã, um dos activos de
dívida agora iniciado, a UE irá passar a nível europeu no e os investidores internacionais refúgio mais procurados.

Apoios a estágios e à contratação
prolongados até ao Ɗm do ano
Pedro Crisóstomo
Apoios à contratação
de desempregados
e pela celebração
de estágios mantêm-se
nos próximos meses
O programa Estágios Activar.pt, que
veio substituir o programa de está-
gios proÆssionais no sector privado,
vai vigorar até ao Ænal deste ano. A
portaria do Governo que estende e
ajusta as regras de acesso foi publi-
cada na edição do Diário da Repúbli-
ca de ontem.
O programa tem dois pilares. A
medida Estágios Activar.pt passa pelo
apoio à entrada de jovens no mercado
de trabalho e pela reconversão pro-
Æssional de desempregados; o incen-
tivo Activar.pt é um apoio às empre-
sas, para que as entidades emprega-
doras contratem desempregados
inscritos nos centros de emprego e
os estagiários.
Para as duas medidas, o Governo
criou, até ao Ænal do primeiro semes-
tre de 2021, “um conjunto de meca-
nismos transitórios de resposta aos
novos desempregados e de adequa-
ção ao contexto excepcional que o
país atravessa”, mas agora decidiu
prolongar essas condições até ao
Ænal do ano, tendo em conta as
medidas extraordinárias que conti-
nuam a ser tomadas por causa do
“contexto pandémico”.
As regras que já existiam conti-
Comboios Intercidades e Alfa deixam
de ter lugares bloqueados pela pandemia
Quem comprar bilhetes para viajar
nos comboios Intercidades e Alfa Pen-
dular já não poderá escolher um lugar
com distância de segurança.
Desde ontem, a CP deixou de ter
lugares sentados bloqueados, por-
que o Governo decidiu na semana
passada que os transportes colecti-
vos que apenas tenham lugares sen-
tados deixam de ter restrições de
lotação.
Além do serviço Intercidades e Alfa
Pendular, também nos comboios his-
tóricos das linhas do Douro e Vouga
e o serviço Internacional passa “a ter
disponível para venda a capacidade
total de lugares sentados, Æcando sem
efeito qualquer limitação imposta no
âmbito da pandemia covid-19”, refere
nuam a aplicar-se às candidaturas
apresentadas até ao Ænal de 2021,
embora o Governo tenha feito “algu-
mas rectiÆcações” aos diplomas que
criaram os planos de incentivo.
No caso dos Estágios Activar.pt, os
estagiários recebem uma bolsa que
varia em função do nível de qualiÆca-
ção dos trabalhadores. A partir do
Quadro Nacional de QualiÆcações
(QNQ), o Governo estabeleceu sete
patamares salariais, entre os 438,81
euros (o equivalente a um Indexante
dos Apoios Sociais, IAS) e os 1053, 14
euros (2,4 IAS).
O valor mais baixo aplica-se a
quem terminou o segundo ciclo do
ensino básico, o terceiro ciclo ou o
secundário.
Para quem obteve o secundário por
percursos de dupla certiÆcação ou
a CP num comunicado divulgado
ontem, referindo que a empresa
pública está a dar “cumprimento às
medidas previstas na Resolução do
C onselho de Mini stros n.º
70-B/2021”.
Até agora, os comboios tinham
alguns lugares bloqueados, para se
assegurar que os passageiros seguiam
em lugares mantendo alguma distân-
cia em relação a viajantes.
Quem comprar um bilhete online,
no site da CP, já não poderá encon-
trar a indicação de que há lugares
restringidos.
A medida aplica-se apenas às
composições que tenham exclusiva-
mente lugares sentados. Nos com-
boios urbanos e regionais, lugares
BÁRBARA RAQUEL MOREIRA
O IEFP comparticipa 75%
do valor da bolsa paga nos
estágios, que duram nove meses
Números
1053€
A bolsa dos Estágios Activar.pt
varia em função do nível de
qualificação dos trabalhadores
e pode ir dos 438,81 euros
(um Indexante dos Apoios
Sociais, IAS) aos 1053,14 euros.
Alfa sem limites nos lugares
Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 27
concluiu esse grau de ensino e reali-
zou um estágio proÆssional, a bolsa é
de 614,33 euros (1,4 IAS).
Para quem tem uma qualiÆcação
de nível pós-secundário não superior
(quem não concluiu a licenciatura), o
valor é de 658,22 euros (1,5 IAS).
Para concluiu a licenciatura, o valor
é de 789,86 euros (1,8 IAS).
Para quem tem o mestrado, a bolsa
é de 921,5 euros (2,1 IAS). E para esta-
giários que já realizaram o doutora-
mento, a bolsa de estágio correspon-
de ao valor máximo, 1053,14 euros.
No caso dos incentivos às empre-
sas, o Activar.pt prevê que o Estado
dê um apoio Ænanceiro se os empre-
gadores contratarem desempregados
inscritos no IEFP, tanto através de
contratos de trabalho sem termo
como a termo certo.
Se o Æzerem sem termo, recebem
um apoio de 5265,72 euros (12 vezes
o valor do IAS); se celebrarem um
contrato a termo certo, o apoio é de
1755,24 euros (quatro IAS). Se os con-
tratados forem trabalhadores desem-
pregados enquadrados numa das
situações particulares previstas na lei
(como por exemplo, ser uma pessoa
com deÆciência) ou se estiverem des-
empregadas há mais de um ano
(desemprego de longa duração), o
apoio à empresa é majorado em 10%.
“Se uma empresa contratar, sem ter-
mo, o trabalhador que realizou o está-
gio nos 20 dias úteis a seguir à conclu-
são do estágio, recebe um prémio de
valor equivalente a duas vezes a retri-
buição base mensal nele prevista.”
sentados e em pé, continuam a apli-
car-se restrições (a empresa pública
tem de garantir que as composições
têm uma ocupação máxima de dois
terços).
A incidência SARS-CoV-2/covid-19
voltou a subir ontem. De acordo com
os dados mais recentes da Direcção-
Geral da Saúde (DGS), o indicador
R(t), o índice de transmissibilidade da
doença de covid-19, situa-se em 1,09
a nível nacional e em 1,1 se se conside-
rar apenas o continente.
A incidência a nível nacional está
em 84,5 casos de infecção por SARS-
CoV-2/ covid-19 por 100 mil habitan-
tes (83,4 casos por 100 mil, olhando
apenas para o território do continen-
te). PÚBLICO
Economia
Preço da luz
sobe em Julho
no mercado
regulado
Aumento traduz-se numa
subida de 1,05 euros na
factura de um casal sem
filhos e de 2,86 euros na
de um casal com dois filhos
As tarifas da electricidade vão subir a
partir de 1 de Julho para os clientes
domésticos em mercado regulado,
reÇectindo a subida dos preços da
energia nos mercados grossistas,
anunciou ontem o regulador.
De acordo com a Entidade Regula-
dora dos Serviços Energéticos (ERSE),
“o impacte estimado da actualização
da tarifa de energia para os consumi-
dores do mercado regulado é de 3%,
em relação aos preços em vigor, no
total da factura de electricidade (com
IVA)”, o que se traduz num aumento
de cerca de 1,05 euros na factura
média de um casal sem Ælhos (com
potência contratada de 3,45 kVA) e de
2,86 euros para um casal com dois
Ælhos (potência de 6,9 kVA).
Em comunicado, a ERSE adianta
que, “atendendo à redução de -0,6%
ocorrida em Janeiro, com esta actua-
lização, a variação tarifária média
anual entre 2021 e 2020 será cerca de
0,9%”. Esta revisão das tarifas tem
como objectivo adequar a tarifa de
energia aplicada aos clientes do mer-
cado regulado à evolução dos preços
dos mercados grossistas, que tem
vindo a subir, evitando “desvio a recu-
perar em anos subsequentes”. Este
mecanismo foi aplicado pela primei-
ra vez em 2020, no sentido oposto,
de descida. Neste contexto, o regula-
dor actualizou a tarifa de energia —
uma das componentes da factura
eléctrica — com um aumento de cinco
euros/MWh. A nova tarifa produz
efeitos a partir de 1 de Julho de 2021 e
abrange os consumidores no merca-
do regulado, que correspondem a
cerca de 5% do total, e de 954 mil
clientes, em Fevereiro de 2021, uma
vez que a maioria já tem um comer-
cializador de mercado livre.
A ERSE explica que “esta alteração
não condiciona o mercado livre a
repercutir a mesma actualização de
preços, já que cada comercializador
segue a sua estratégia de aprovisiona-
mento de electricidade e procura
oferecer as melhores condições
comerciais”.
Por outro lado, “mesmo após a
revisão em alta das condições de pre-
ço para novos contratos de forneci-
mento de electricidade, já ocorridas
em muitos comercializadores desde
o início do ano devido à subida dos
preços no MIBEL, subsistem várias
ofertas mais bem posicionadas que o
mercado regulado”. PÚBLICO
28 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021

Economia

HOLLIE ADAMS/EPA

Aposta da EDP
em energias e empregos “verdes”. O Presidente norte-americano
Ana Brito
Para a EDP Renováveis, a nova era reafirmou no G7 desde
Há quatro anos, o mundo assistiu Biden “é uma oportunidade”, assu- fim-de-semana o seu
com assombro ao cumprimento me o presidente da empresa, ainda compromisso com políticas

nos EUA de uma das várias ameaças de

Donald Trump na sua chegada à
Casa Branca: os Estados Unidos
abandonavam o Acordo de Paris,
que nem mesmo os anos Trump
tenham travado os planos da empre-
sa de energias limpas naquele que é,
há muito, o seu principal mercado
ambientais que procurem
cumprir o Acordo de Paris

ganha fôlego
negociado pelo antecessor Barack
Obama, espoletando uma chuva de
críticas de vários líderes políticos e
38
( já representa mais de metade dos
resultados).
Sendo a descarbonização um com-

com políticas
instituições.
Naquele mês de Junho de 2017, a
maior potência mundial lançava uma
nuvem de pessimismo sobre o com-
promisso à escala global, nos Estados
Unidos “muitas empresas — em par-
ticular as multinacionais — mantive- A EDP Renováveis está nos EUA
ram os seus planos de transição desde 2007 com projectos

de Biden
bate às alterações climáticas e, para
dentro, dava um “sinal às empresas
americanas de que a Administração
não iria impor novas restrições às
energética”, explica Stilwell. “operacionais e/ou em
Uma vez que a política energética desenvolvimento em
norte-americana “é deÆnida tanto 38 estados americanos”
a nível federal como estadual”, nos

Há quatro anos, os Estados Unidos
deixaram o acordo de Paris. Joe Biden
reverteu a decisão de Donald Trump
e a EDP espera mais estímulos ao
investimento no seu principal mercado
emissões de carbono”, recordou o
presidente do grupo EDP, Miguel
Stilwell de Andrade, ao PÚBLICO.
O novo Presidente dos Estados
Unidos, Joe Biden, trouxe consigo
um corte com as políticas de Trump
e a promessa de colocar os Estados
Unidos na linha da frente do com-
bate ao aquecimento global e do
crescimento económico sustentado
6,5
últimos anos houve casos em que os
estados recorreram aos tribunais
para poderem manter políticas con-
trárias às de Washington. Por outro
lado, uma vez que o mercado de
energia se baseia nos chamados A empresa tem instalados
contratos de longo prazo (os PPA ou e em operação 6,5 gigawatts
Power Purchase Agreements, que são
sinónimo de receitas garantidas)
em energia renovável nos EUA,
mais de 50% da capacidade
entre privados, houve condições instalada da empresa

para que o mercado crescesse, mes-
mo quando se poderia esperar o
pior.
“As energias limpas em terra tive-
ram um crescimento expressivo nos
Estados Unidos durante esse perío-
do, e o offshore e o armazenamento
de energia arrancaram de forma
expressiva, beneÆciando de condi-
ções de mercado favoráveis, em par-
ticular a redução de custos”, referiu
Miguel Stilwell de Andrade.
Foi assim que, mesmo durante o
mandato de Donald Trump, em que
houve um apoio declarado aos com-
bustíveis tradicionais, a EDP Reno-
váveis assinou “diversos contratos a
longo prazo com empresas com con-
sumos energéticos signiÆcativos, o
que permitiu acelerar a produção
renovável no país”, acrescentou o
gestor, que acumula a presidência
das duas empresas mais valiosas da
bolsa portuguesa.
A EDP vale cerca de 17,9 mil
milhões de euros e a EDP Renováveis
(detida em 74,98% pela primeira)
tem uma capitalização de 17,8 mil
milhões. As acções desta última valo-
rizaram, na sessão de ontem, mais
de 3% para 19,40 euros, a subida
mais expressiva da empresa desde
meados de Maio à saída de um G7 em
que o Presidente norte-americano
voltou a sublinhar a prioridade dada
pelos EUA ao cumprimento de metas
ambientais.
Presença em 38 estados
A empresa de renováveis com sede
em Madrid, que tem negócios nos
Estados Unidos desde 2007 (com a
compra da texana Horizon, justiÆ#
cada à época por ser “o país do
mundo com o maior potencial de
crescimento nas renováveis”), con-
tinuou a crescer, contando já com
projectos “operacionais e/ou em
desenvolvimento em 38 [dos 50]
estados americanos”.
Uma expansão que tem sido ali-
mentada com aquilo a que a empre-
sa chama rotação de activos, que
consiste na prática em vender posi-
ções em centrais eólicas e solares,
como forma de obter fundos para
Ænanciar novos empreendimentos.
A EDP Renováveis tem instalados
e em operação 6,5 gigawatts (GW)
em energia renovável nos Estados
Unidos, o que representa mais de
50% da capacidade instalada da
empresa. Até 2025, quer desenvolver
mais 8,8 GW na América do Norte, o
que equivale a cerca de 45% do inves-
timento previsto para o período (a
EDP espera investir cerca de 20 mil
milhões de euros em projectos de
renováveis até 2025).
Destes, 2,6 GW já estão contrata-
dos para instalação em 2021-23.
“Parte do plano ambicioso que
tínhamos até 2022 passava por um
signiÆcativo crescimento nos Esta-
dos Unidos e conseguimos cumpri-lo
antes do prazo”, refere o gestor. Os
projectos foram desenvolvidos
“como esperado e dentro dos pra-
zos”, e em diferentes tecnologias
(solar, eólico e armazenamento), em
vários estados norte-americanos,
como a Califórnia, Massachusetts,
Texas, Indiana, Illinois, Ohio e Ore-
gon, entre outros.
Por exemplo, em 2019, a empresa
estabeleceu um PPA para venda (a
uma comercializadora de electrici-
dade) da produção de uma central
fotovoltaica na Califórnia (estado
que quer ter 100% de energia limpa
até 2045), estreando-se no armaze-
namento de energia com esse par-
que solar.
A empresa também está a desen-
volver, em parceria com a Engie,
através da Ocean Winds, parques
eólicos no mar (offshore), um em
cada uma das costas dos Estados
Unidos.
O parque eólico MayÇower, de 1,3
GW, ao largo de Massachusetts, está
em fase de desenvolvimento (com
entrada prevista em operação em
2025) e já tem um PPA de 804 mega-
watts. A este junta-se o projecto do
Parque Eólico Humboldt, que se
espera que seja o primeiro parque
eólico offshore Çutuante na costa da
Califórnia.
A EDP Renováveis está a contar
que os investimentos no sector ace-
lerem com os compromissos anun-
ciados pela nova Administração
Biden. Nomeadamente, “o apoio à
expansão e extensão dos créditos
Æscais para energia eólica e solar; o
anúncio de novos créditos Æscais
para armazenamento e transporte
de energia; incentivos ao hidrogénio;
uma meta de 30 GW para offshore e
o encorajamento à adopção de veí-
culos eléctricos”, explica Miguel
Stilwell de Andrade. Tudo isto, “com
o tempo, irá impulsionar a procura
de energia limpa adicional”, acredi-
ta o gestor.
Além de vários estados norte-
americanos já se terem comprome-
tido a serem neutros em carbono (e
alguns deles dos mais populosos do
país, como a Califórnia e Nova Ior-
que), 40 dos 50 estados do país, que
INOVAÇÃO E
SUSTENTABILIDADE
NO VALE DE OEIRAS
REVISTA 64 PÁGINAS
Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 29
Economia
SARA JESUS PALMA
representam cerca de 75% do con-
sumo de electricidade, têm metas
de renováveis em vigor, os chama-
dos RPS (Renewable Portfolio Stan-
dards), em muitos casos com metas
de inclusão de renováveis superio-
res a 50%, salienta.
Desde 2018, pese o discurso pró-
combustíveis fósseis de Trump,
“mais de dez estados aumentaram
as suas metas de renováveis, o que
é ilustrativo do compromisso trans-
versal em todo o mercado norte-
americano”, destaca Miguel Stilwell
de Andrade, em respostas enviadas
ao PÚBLICO.
A somar a isto, na próxima década
há planos para desligar mais de 50
GW de capacidade de produção com
carvão ou energia nuclear, existindo
“estimativas de que este número
possa aumentar para 100 GW a 200
GW”, refere o gestor.
“É provável” que, para desenvol-
ver as renováveis, o hidrogénio, o
armazenamento ou novas redes de
energia mais resilientes e inteligen-
tes, a Administração Biden continue
a promover “a investigação” e os
Miguel Stilwell valoriza a “créditos Æscais federais alargados,
“oportunidade” que a eleição que provaram a sua eÆcácia no estí-
de Biden representa para a EDP mulo ao investimento privado em
tecnologias energéticas estratégi-
cas”, vaticina o presidente da EDP.
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COM O PÚBLICO
Um projecto promovido
pelo Município de Oeiras
e produzido, editado e
distribuído pelo PÚBLICO
30 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021
CLASSIFICADOS
Dá-se conhecimento público de que se encontra aberto
processo de recrutamento de pessoal, em regime de
comissão de serviço, para a NOVA FCSH para:
• 1 vaga de Dirigente Intermédio 4.º grau (m/f),
referência CT-DI-015/2021-NL-DA, ao qual podem
candidatar-se indivíduos que reúnam as condições
fixadas no aviso disponível no endereço
https://fcsh.unl.pt/faculdade/concursos_para_
nao_docentes/
O prazo-limite para a submissão das candidaturas é 10
dias úteis a contar da data da publicação do presente
anúncio.
EDITAL
HASTA PÚBLICA
“ALIENAÇÃO DE 33 VEÍCULOS
EM FIM DE VIDA (VFV)”
Filipe Mesquita Vital, Vice-Presidente da Câmara Municipal de
Portimão, torna público que, em conformidade com a deliberação
de Câmara n.º 412 de 02 de Junho de 2021, foram aprovadas as
condições da hasta pública, que se realizará no dia 6 de Julho
de 2021, pelas 10h00, no Edifício Paços do Concelho, sito na
Praça 1º de Maio em Portimão, na Sala de Reuniões (2.º Piso),
perante a Comissão, que para esse fim foi designada.
A Hasta Pública tem como objeto a alienação de Veículos em Fim
de Vida (VFV), propriedade da Câmara Municipal de Portimão
e que constituem um resíduo, na aceção do disposto na alínea
ee) do Artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro,
com as alterações introduzidas pela Lei n.º 20/2021, de 16 de
Abril.
À Hasta Pública é aplicável o disposto no programa e no caderno
de encargos do procedimento aprovados, que se encontram
patentes, para efeitos de consulta dos interessados, no site da
Câmara em www.cm-portimao.pt, e ainda, em todos os dias
úteis das 9:00h às 13:00h e das 14h00 às 17h00, na Divisão
Financeira, no edifício dos Paços do Concelho, sito na Praça 1.º
de Maio, em Portimão.
As propostas deverão ser remetidas por correio em envelope
opaco e fechado, para o Município de Portimão sito na Praça 1.º
de Maio, 8500-543 Portimão, contendo no exterior explicitamente,
que se destina à Hasta Pública para “Alienação de 33 Veículos
em Fim de Vida”, sob registo e com aviso de receção ou entregues
pessoalmente, pelo(s) proponente(s) ou seu(s) representante(s),
contra recibo, no Edifício do Balcão Único, sito na Rua do
Comércio número 29/31, em Portimão, devendo as mesmas em
qualquer dos casos, dar entrada nos Serviços Municipais, da
Divisão Administrativa, do Departamento de Serviços de Suporte,
até às 13:00h do dia 05 de Julho de 2021.
Serão excluídas as propostas rececionadas fora do prazo fixado,
as entregues em envelope que não esteja fechado e as que
não tenham algum elemento considerado essencial para a sua
análise.
Os esclarecimentos sobre o procedimento da Hasta Pública
deverão ser requeridos, por escrito, dirigidos ao Presidente da
Comissão da Hasta Pública, sita na Praça 1º de Maio, 8500-543,
em Portimão, ou para o e-mail: patrimonio.dss@cm-portimao.pt.
E para conhecimento de todos os interessados, e devidos efeitos,
se publica o presente Edital e outros de igual teor que vão ser
afixados nos locais públicos do costume do Município, no jornal
Público e disponibilizado on-line no site desta Câmara Municipal.
Portimão, 11 de Junho de 2021
O Vice-Presidente da Câmara,
Filipe Mesquita Vital
Edif. Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, Tel. 21 011 10 10/20 Fax 21 011 10 30
1350-352 Lisboa
pequenosa@publico.pt
De seg a sex das 09H às 19H
Sábado 11H às 17H
Luta contra a Fome
Através do canal de doações online do Banco
Alimentar, www.alimentestaideia.pt, 2.670 doadores
contribuíram com 84.735 quilos de produtos CÂMARA DE COMÉRCIO AMERICANA EM PORTUGAL
básicos (azeite, óleo, leite, arroz atum e salsichas) Assembleia Geral
num valor total doado de 93.336,03€, entre 27 de Nos termos do número 2 do artigo 12.º dos Estatutos, é con-
Maio e 9 de Junho de 2021. vocada a Assembleia Geral da Câmara de Comércio Ameri-
Obrigado a todos quantos ajudam os Bancos cana em Portugal, a qual reunirá no dia 30 de Junho de 2021,
Alimentares a levar comida à mesa de quem precisa. 4.ª feira, pelas 18h00 na sede da EDP, Av. 24 de Julho 12,
1249-300 Lisboa, com a seguinte Ordem de Trabalhos:
1 – Discutir e votar o Relatório e Contas referente ao exercício
Contratação de Pessoal Docente
de 2020;
(M/F)
2 – Discutir e votar a proposta de aplicação dos resultados;
Refª CD-CTTI-101-ARH/2021 - Doutor Paulo Jorge dos Santos
Gonçalves Ferreira, Professor Catedrático e Reitor da Universidade de 3 – Discutir e deliberar sobre qualquer assunto de interesse
Aveiro, faz saber que, pelo prazo de trinta dias úteis contados do dia útil para esta Câmara de Comércio.
imediato àquele em que o presente anúncio for publicitado, se encontra A Assembleia reunirá em primeira convocatória com 50% dos
aberto concurso documental, de âmbito internacional, para recrutamento
de 1 (um) posto de trabalho de Professor Auxiliar, para a área disciplinar Sócios e mais um na plenitude dos seus direitos sociais e, em
de Ciências da Linguagem, subárea Estudos Portugueses, para o segunda convocação, meia hora mais tarde, com qualquer
Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, em regime
de contrato de trabalho por tempo indeterminado, ao abrigo do Código
número.
Os documentos a que se refere o primeiro ponto da presente
do Trabalho e do Regulamento sobre Regime das carreiras próprias do
Ordem de Trabalhos, designadamente a proposta de Rela-
pessoal docente em regime de direito privado da Universidade de Aveiro
e respetiva contratação (Regulamento n.º 384/2014, de 26 de agosto). tório e Contas, o Parecer da Comissão Revisora de Contas,
2 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos acham-se ao dispor dos Associados para consulta na sede
do edital antes referido, publicitado no seguinte endereço eletrónico: da Câmara às horas normais de expediente.
https://www.ua.pt/pt/sgrh/pessoal-docente-novos-concursos-e-ofertas.
3 - O prazo de candidaturas é de 30 dias úteis, contados a partir da data Lisboa, 15 de Junho de 2021
da publicação do presente anúncio.
Aveiro, em 03 de abril de 2021 O Vice-Presidente da Assembleia-Geral
O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira João Macedo Vitorino
<THE EASTERN CARIBBEAN SUPREME COURT>
[O SUPREMO TRIBUNAL DAS CARAÍBAS ORIENTAIS]
NO <HIGH COURT OF JUSTICE> OFEREÇA MÚSICA
OFEREÇA MÚSICA
ILHAS VIRGENS BRITÂNICAS
DIVISÃO COMERCIAL
N.º DO PROCESSO: BVIHCM (COM) 2021/0039
NA QUESTÃO DE VIDATEL LIMITED
E NA QUESTÃO DA INSOLVENCY ACT [LEI DE INSOLVÊNCIA], 2003
ENTRE:
PT VENTURES, SGPS, S.A.
Requerente
-e-
MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010
VIDATEL LIMITED
Requerido
Sobre: VIDATEL LIMITED
ANUNCIA-SE pelo presente instrumento que um pedido para nomear Matthew Richardson,
de Grant Thornton (British Virgin Islands) Limited, 171 Main Street, the Barracks, 2nd Floor,
Road Town, Tortola, VG1110, British Virgin Islands e Nicholas Stuart Wood, de Grant Thornton CONVOCATÓRIA
UK LLP, 30 Finsbury Square, London EC2P 2YU como Administradores Judiciais Conjuntos
da VIDATEL LIMITED, uma empresa com sede social em Morgan & Morgan Trust Corp. Ltd,
ASSEMBLEIA GERAL
P.O Box 958, Pasea Estate, Road Town, Tortola, British Virgin Islands foi apresentado à Divisão ORDINÁRIA
Comercial da <High Court of Justice> em 5 de março de 2021 em nome do Requerente, ao Convocam-se os Senhores Associados da
cuidado de Maples and Calder, Kingston Chambers, 5th Floor, Ritter House, PO Box 173, Road ALZHEIMER PORTUGAL – ASSOCIAÇÃO
Town, Tortola, British Virgin Islands. O pedido será ouvido no Eastern Caribbean Supreme PORTUGUESA DE FAMILIARES E AMIGOS DE
Court, Commercial Division, Sakal Place, Road Town, Tortola, British Virgin Islands na quarta
DOENTES DE ALZHEIMER para a Assembleia
feira 16 de junho de 2021 às 10 horas ou logo a seguir, quando o pedido puder ser ouvido. Geral Ordinária que terá lugar no dia 29 de
Qualquer pessoa que pretenda comparecer à audiência do pedido (seja para o apoiar junho de 2021, via Zoom.
ou se opor) deve notificar a sua intenção ao Requerente ou aos advogados do mesmo em A Assembleia reunirá em primeira convocatória
conformidade com os n.ºs 1 e 2 da Regra 162 das <Insolvency Rules> [Regras de Insolvência] pelas 17 horas e 30 minutos e, em segunda
de 2005 até às 16 horas de terça feira, 15 de junho 2021. convocatória, às 18 horas, com qualquer
Os advogados do Requerente são <Maples and Calder, Kingston Chambers, 5th Floor, Ritter número de Associados, tendo a seguinte
House, PO Box 173, Road Town, Tortola, British Virgin Islands, Ref: AQF/KCA/703405> A Ordem de Trabalhos:
correspondência deve ser marcada para a atenção de Adrian Francis ou Akesha Adonis. 1. Apresentação, discussão e votação do
Data: 04 de junho de 2021 Relatório de Atividades e Contas do
Maples and Calder exercício de 2020.*
Advogados do Requerente 2. Informações gerais.
Lisboa, 14 de junho de 2021
O Presidente da Mesa da Assembleia Geral
CONHEÇA AS NOSSAS COLECÇÕES
Celso Maria C. Ribeiro Pontes
* O Relatório de Atividades de 2020 estará disponível na nossa página
DE BANDA DESENHADA EM LOJA.PUBLICO.PT
da Internet (www.alzheimerportugal.org), na Sede, nas instalações das
Delegações Norte, Centro e Madeira, e dos Núcleos do Ribatejo e do
Algarve, dentro do prazo estipulado por lei (15 dias antes da data de
realização da Assembleia Geral).
MAIS INFO: 210 111 010

Devido à pressão humana, os elefantes
africanos só ocupam 17% do seu habitat
O crescimento da população humana e a caça para marÄm são os principais factores que limitam a
distribuição geográÄca dos elefantes. Para que sobrevivam, temos de coexistir de forma pacíÄca com eles
Elefantes no Parque Nacional
de Etosha, no Quénia
Ana Francisca Gomes
Face ao aumento da pressão exercida
pelo crescimento da população
humana, a distribuição geográÆca dos
elefantes africanos tem vindo a dimi-
nuir ao longo dos anos. Apesar de
continuarem a existir em África cerca
de 18 milhões de quilómetros quadra-
dos que constituem um habitat ade-
quado para elefantes, devido à pres-
são humana essa distribuição geográ-
Æca é apenas 17% daquilo que poderia
ser, concluiu um estudo na revista
Current Biology.
O ponto de partida deste estudo
era precisamente entender melhor
como é que os elefantes estão a usar
o espaço adequado para a sua espé-
cie e o que está na origem da sua
actual distribuição geográÆca pelo
continente africano. Foi com dados
obtidos através de receptores de
GPS, entre 1998 e 2013, em 229 ele-
fantes-da-savana (Loxodonta africa-
na) e elefantes-da-Çoresta (Loxodon-
ta cyclotis) — as duas espécies de
elefantes africanos — que a equipa de
investigadores conseguiu estudar
estes factores. Através de imagens de
satélite, os cientistas perceberam
ainda as características dos terrenos
que os elefantes atravessavam e que
factores ambientais podiam ter
inÇuência — como a vegetação,
cobertura de árvores, declives, a
temperatura da superfície, presença
Investigadores seguiram os animais em África Ciência
de água, agregados humanos e áreas
protegidas. “Observámos cada qui-
lómetro quadrado do continente”,
assinalou em comunicado o princi-
pal autor desta investigação, Jake
Wall, do Projecto Mara para os Ele-
fantes, no Quénia.
Estas ferramentas permitiram con-
cluir que, de uma área total de 29,2
milhões de quilómetros quadrados
do continente africano, cerca de 18
milhões (62%) correspondem a habi-
tat adequado para os elefantes — o
que equivale a uma área maior do que
a Rússia. Porém, devido à pressão
humana, os elefantes africanos só
ocupam 17% dessa área. “Os elefantes
africanos têm sofrido grande diminui-
ção na distribuição geográÆca e
número na maior parte do continen-
te devido à contínua matança por
causa do marÆm, à perda de habitat,
ao crescimento das populações
humanas e à pressão que lhe está
associada”, pode ler-se no artigo.
Embora na República Centro-Afri-
cana e na República Democrática do
Congo se tenham identiÆcado vastas
áreas potencialmente adequadas
para o habitat de elefantes, eles não
estão lá. “Os investigadores observam
que as Çorestas nessas áreas abriga-
ram recentemente centenas de milha-
res de elefantes, mas hoje mantêm
apenas cerca de cinco mil a dez mil
destes mamíferos”, lê-se ainda no
comunicado.
“As áreas de localização dos elefan-
tes — representadas pela área de dis-
tribuição anual — são estruturadas
sobretudo pela presença humana e
actividade na paisagem”, assinala
ainda o artigo. Acrescenta-se que só
depois é que outras condições
ambientais começam a inÇuenciar os
padrões espaciais dos elefantes. Os
dados realçam assim o impacto nega-
tivo das acções dos seres humanos na
sobrevivência e distribuição geográ-
Æca destes animais.
Os dados de rastreamento permi-
tiram também perceber que os ele-
fantes que vivem em zonas protegi-
das tendem a ter menores áreas para
as suas actividades diárias, possivel-
mente por terem receio de explorar
territórios desconhecidos e despro-
tegidos. Actualmente, 57% do terri-
tório ocupado por elefantes está fora
das áreas protegidas. “O nosso tra-
balho destaca o grau em que a pega-
da humana e as áreas protegidas
existentes limitam agora a distribui-
ção do maior mamífero terrestre do
mundo.”
Novas pistas sensoriais
Os dados permitiram ainda perceber
quais são as condições extremas que
os elefantes não toleraram. “As prin-
cipais áreas para onde não vão
incluem os desertos do Sara, de
Danakil e do Calaári, assim como cen-
tros urbanos e picos de montanhas”,
Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 31
explica no comunicado Iain Douglas-
Hamilton, fundador da organização
Save the Elephants.
Num outro estudo no Botswana, o
conÇito com os seres humanos é tam-
bém identiÆcado como a principal
ameaça aos elefantes. Neste trabalho
monitorizaram-se rotas muito usadas
por elefantes-da-savana e descobriu-
se uma possível solução para conse-
guir eliminar este entrave.
Pelos vistos, os elefantes viajantes
prestam muita atenção aos restos de
excrementos e urina deixados por
outros elefantes no caminho e vão
farejando e seguindo com as suas
trombas o rasto de cheiro. “Quando
os animais se movem ao longo de
caminhos bem estabelecidos, pistas
sensoriais nesse caminho podem dar
informações valiosas sobre outros
indivíduos que usaram a mesma
rota”, dizem os investigadores deste
estudo publicado na revista Animal
Como os elefantes
seguem rastos de
cheiro de outros
elefantes, põe-se
a hipótese de criar
rotas olfactivas
para os desviar
de zonas perigosas
ROY TERLIEN
Behaviour. Ao supervisionarem o
comportamento dos elefantes que
atravessavam esses caminhos, a equi-
pa descobriu que eles “são altamente
reactivos do ponto de vista olfactivo
ao substrato das rotas”.
No comunicado, os cientistas
dizem ser agora necessária mais
investigação para descobrir se os
humanos podem criar trilhos artiÆ#
ciais para conseguirem desviar os
elefantes das quintas e aldeias onde
a sua convivência com humanos não
é pacíÆca. “Vemos um grande poten-
cial para aplicar estas descobertas à
gestão e conservação dos elefantes
— principalmente como um método
para manipular os movimentos dos
elefantes.”
Compreender de que forma é que
os elefantes africanos utilizam o espa-
ço que têm disponível e que factores
inÇuenciam essa utilização pode reve-
lar-se muito útil nos esforços de con-
servação. No estudo na revista Cur-
rent Biology sugere-se que, se liberta-
dos destas pressões, os elefantes
ainda conseguirão recuperar a sua
distribuição geográÆca em áreas onde
a pegada humana é pequena. Contu-
do, refere o estudo, as tendências têm
ido na direcção errada. “A pegada
humana está a aumentar a uma taxa
acelerada e deve duplicar até 2050,
com 50% a 70% do planeta já a ter
perturbação antropogénica.” Texto
editado por Teresa Firmino
32 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021
Cultura Nas Ɗlmagens de um dos teleƊlmes Contado por Mulheres
Daniela Ruah em Torres
Vedras entre os vivos,
o morto e Ondjaki
A actriz estreia-se na realização de médias-metragens com um
teleÄlme da série Contado por Mulheres, da RTP, adaptação de
Os Vivos, o Morto e o Peixe Frito, do escritor angolano Ondjaki
Reportagem
Rodrigo Nogueira Texto
Nuno Ferreira Santos Fotografia
Torres Vedras não é uma cidade
que apareça muito na Æcção e
ainda menos a fazer
assumidamente dela própria. Na
base de dados IMDb aparece como
local de Ælmagens em apenas 15
produções (duas delas são a
mesma: Linhas de Wellington e As
Linhas de Torres, a versão
minissérie do Ælme). A ideia de
Contado por Mulheres, a série de
dez teleÆlmes da Ukbar Filmes
para a RTP, todos realizados por
mulheres adaptando autores
portugueses recentes e à volta do
centro do país, é a de trazer sítios
como esses para os ecrãs.
É o caso de Os Vivos, o Morto e o
Peixe Frito, que começou como
uma peça do escritor angolano
Ondjaki adaptado por um guião de
José Pinto Carneiro, que
condensou a história para caber
naqueles 60 minutos. Na
quinta-feira da semana passada,
penúltimo dia de Ælmagens, a
rodagem em Torres Vedras com a
actriz e realizadora Daniela Ruah
recebeu a visita de jornalistas. A
actriz tem no currículo a
realização, já este ano, de um
episódio da série Investigação
Criminal: Los Angeles, de cujo
elenco faz parte desde 2009.
A produtora Pandora da Cunha
Telles, ao lado de José Fragoso,
director de programas da RTP1, e
a autarca Laura Rodrigues,
explicou aos jornalistas que a ideia
de Contado por Mulheres, feita em
co-produção com a polaca Krakow
Film Klaster, é descentralizar.
“Precisamos muito de encontrar
outras malhas urbanas ou rurais
onde se possam contar histórias
em português”, continuou. Torres
Vedras “tem uma malha antiga,
que parece muito tradicional, mas
com um lado muito
contemporâneo”, aÆrmou.
Os Paços do Concelho, que já
albergaram a câmara municipal,
fazem as vezes da divisão
torriense do SIP, Serviço de
Integração Permanente, numa
clara alusão ao Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras — no
texto era “Migração com
Fronteiras”. Lá dentro, Daniela
Ruah dirige, sentada, Cheila Lima,
que está na sala ao lado a fazer de
Mana São numa cena em que a
burocracia da imigração, na
pessoa de Rosa Villa, a impede de
registar o bebé da sua
personagem. Cruza-se com Mauro
Hermínio, que faz de Manguimbo,
um angolano que com o seu
bigode de pontas arredondadas
poderá ter diamantes na barriga.
A comédia desenrola-se em 2006,
durante o jogo de futebol
Portugal-Angola do Mundial, e
envolve várias personagens
originárias de países PALOP à
espera naquele serviço, no bar em
frente — o café Kenia
transformado em café Schengen —
e num prédio onde moram
algumas delas.
O texto nasceu em 2006, numa
oÆcina de escrita onde Ondjaki se
cruzou com actores, alguns
relacionados com o Teatro Griot,
enquanto preparava o Festival
África. Já foi adaptada para a RDP
África em formato rádio-novela e
muitas das personagens foram
pensadas para esses actores e até
mantêm os seus nomes — há
membros do elenco que já
participaram noutras adaptações.
A edição em livro do texto é
dedicada, entre outros, a Daniel
Martinho e Mina Andala, que
fazem de Mário Rombo e Nadine,
um casal cuja Ælha Mina,
interpretada por Soraia Tavares,
apresenta aos pais o noivo, JJ
Mouraria, a quem Igor Regalla dá
vida. Matamba Joaquim faz de
Quim, irmão de Mário Rombo,
que se inspirou “naqueles cotas
cabo-verdianos que penteavam o
cabelo muito bonitinho”, com
risco ao lado, além de “um Æo de
ouro, relogiozinho, anel, sapatos
brancos e um lenço, que no Ælme
passa a ser uma arma”, conta.
Soraia Tavares é uma das actrizes
que não fazem parte de nenhuma
versão da história, mas diz que se
“identiÆca com a personagem”:
“Os meus pais vieram para
Portugal, estudei mais do que eles,
digo que sou a preta europeia”,
conta ao PÚBLICO. Dinarte de
Freitas é Concertino, ou
Concertas, um segurança do SIP e
consertador de televisores que
acaba por se ver envolvido com as
outras personagens.
Já Daniel Martinho diz que o
processo de escrita passou por
alguns actores como ele contarem
“histórias que resultaram neste
texto” e que “casou bem” terem
sido “chamados” para fazer a
adaptação da obra com
“linguagem popular e leve”. Gaba
a “riqueza de textos” e o caminho
que há a percorrer para “os
adaptar e iluminar as nossas
vidas”.
Aprender atrás das câmaras
A falar com os jornalistas já no
Ænal do dia de Ælmagens, Daniela
Ruah menciona o quanto é difícil
para “nomes não estabelecidos”
começarem a realizar televisão
nos Estados Unidos. “Na série
Investigação Criminal: Los Angeles,
se não começasse agora não seria
fácil”, assegura. Ainda assim, diz,
“há espaço”, sobretudo no lastro
do movimento de
“empoderamento feminino” — e
esta iniciativa da Ukbar “dá
oportunidade às mulheres”.
Para se preparar para a tarefa,
foi prestando atenção às equipas
técnicas da sua série, a quem Daniela Ruah com Cheila estabelecidos há mais de uma
sempre tinha “dado valor”, mas Lima na rodagem de década e sem grande margem
com as quais nunca se tinha Os Vivos, o Morto e o Peixe para mudanças, é diferente de
sentado para aprender o que Frito. Telefilme para a RTP fazer o seu próprio Ælme. Vê a
faziam. Falou também “com poderá ser visto em 2022 realização como “uma caixa de
muitas pessoas” e leu “inúmeras areia onde os miúdos brincam”,
entrevistas com realizadores” que responde ao PÚBLICO. “Na série, a
aprecia — na sessão de perguntas caixa já está construída há 12 anos,
& respostas foram mencionados tenho de pôr lá os meus actores e
Quentin Tarantino, Ron Howard e dizer que vamos fazer este castelo,
Wes Anderson. Percebeu que é
preciso trabalhar em equipa e
Daniela Ruah mas o tom, a estética e o estilo já
estão deÆnidos. Aqui [Os Vivos, o
estar aberto às sugestões de todos vê a realização Morto e o Peixe Frito] tive a
os departamentos da produção e
do que for acontecendo ao longo
como “uma oportunidade de criar as coisas do
nada, pude construir este castelo
da rodagem. caixa de areia com eles, o elenco e os chefes de
Realizar um episódio de
Investigação Criminal: Los Angeles,
onde os miúdos equipa, que apoiaram muito,
porque sabem que as realizadoras
uma série com parâmetros brincam” são principiantes”. Antes, Soraia

Tavares comentava que a
actriz-tornada-realizadora “tem
uma sensibilidade muito boa para
fazer isto” e “é muito cómica”.
Sobre ajudar a contar uma história
focada em pessoas negras de
origem africana em Portugal Ruah
diz aos jornalistas que teve essa
conversa com Igor Regalla. Com o
cuidado de não dizer que são
experiências semelhantes, a
actriz, que nasceu nos Estados
Unidos e veio para Portugal ainda
pequena, tendo passado por
Londres e voltado para a América
já na casa dos 20, aÆrma que pode
“não saber o que é ser uma
africana em Portugal”, mas sabe o
que é ser o Outro, seja por ser
judia, mulher ou estrangeira, em
Portugal, Londres e nos Estados
Unidos. Além disso, aÆrma, o
elenco está recheado de pessoas
que são “enciclopédias” de
vivências relacionadas com estes
temas, umas nascidas em África e
vindas para cá, outras nascidas cá.
Muitas vezes, explica, pergunta
aos actores como foi a experiência
deles e se há expressões que não
estão no guião mas poderiam ser
usadas na vida real.
O resultado do trabalho da
realizadora principiante e da sua
equipa só se conhecerá no ano
que vem e será mostrado também
em Torres Vedras, aquela cidade
que raramente aparece na Æcção.
Ned Beatty, o actor secundário
“mais solicitado em Hollywood”
Obituário
Sérgio C. Andrade
1937-2021 Estreou-se em
Fim-de-Semana Alucinante,
de John Boorman, e entrou
em mais de centena e meia
de filmes
Foi a revista Variety que, uma vez,
classiÆcou Ned Beatty como “o
actor secundário mais solicitado
de Hollywood”. E os números
conÆrmam-no: numa carreira
iniciada tardiamente, já avançado
na casa dos 30, o actor
norte-americano deu corpo a
mais de centena e meia de Ælmes
e produções televisivas, não
falando do seu trabalho no teatro.
Retirado dos ecrãs desde 2013,
Ned Beatty morreu anteontem de
manhã na sua casa em Los
Angeles, aos 83 anos, “de causas
naturais e rodeado pela família e
pelos amigos mais próximos”,
disse a sua agente, Deborah
Miller, citada pela imprensa
americana.
Mesmo se tardia, a carreira de
Ned Beatty no cinema deixou
marcas memoráveis: em
Fim-de-Semana Alucinante
(Deliverance, 1972), realizado por
John Boorman, é Bobby Trippe,
um dos quatro amigos que se
aventuram em descer um rio
numa canoa para um
Æm-de-semana de natureza e
descontracção, mas que acaba em
violência e morte. Ao lado de Burt
Reynolds e John Voight, a
personagem de Ned é vítima de
sodomização por dois
montanheses, numa cena que
haverá de o acompanhar toda a
vida. “Eu conheço-o! Eu
conheço-o! Onde é que já o vi?”,
disse o actor em 1992, ao evocar o
modo como muitas vezes era
interpelado na rua por referência
a essa sequência...
A sua primeira década de
trabalho no cinema e na televisão
rendeu-lhe logo meia centena de
títulos, praticamente um terço do
que viria a fazer numa carreira
maioritariamente marcada por
personagens secundárias, mas que
deixariam rasto. Logo nessa
década de 70, Ned Beatty haveria
de estar nos elencos de quatro
títulos nomeados para os Óscares
de Melhor Filme: além de
Deliverance, Nashville (Robert
Altman, 1975), Os Homens do
Presidente (Alan J. Pakula, 1976) e
Network — Escândalo na TV (Sidney
Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 33
Lumet, 1976). Com a
particularidade de, neste último,
ter-se visto também nomeado na
categoria de Melhor Actor
Secundário, pelo papel de Arthur
Jensen, um patrão da televisão —
uma espécie de “messias
folclórico”, como lhe chamou o
New York Times — que, num
monólogo de três minutos, faz o
retrato da América dominada pelas
grandes empresas e corporações:
“A América não existe; a
democracia não existe”, diz
Jensen, acrescentando que o que
há é a IBM e a ITT, a Union Carbide
e a Exxon. “Essas é que são as
‘nações’ do mundo de hoje.”
Apanhar o comboio
Foi também ao diário
nova-iorquino que, em 1977, Ned
Beatty explicou por que sempre
preferiu fazer personagens
secundárias. Numa associação
com o imaginário do basebol, o
actor lembrou que “as stars nunca
querem lançar bolas curvas” ao
público, antes preferem conÆrmar
aquilo que os espectadores
esperam delas. “Mas eu, a minha
grande alegria é lançar uma bola
curva; é fazer o inesperado,
surpreender o público”,
justiÆcou.
E foi isso que fez em tantos e
tantos papéis e personagens: o
advogado em Nashville, o repórter
em Os Homens do Presidente, o
polícia em Nas Teias da Mafia (The
Big Easy, de Jim McBride, 1987), o
detective na série Homicide: Life
on the Street (1993-95), o capanga
do vilão Lex Luthor nos dois
Super-Homem protagonizados por
Christopher Reeve (realizados por
Richard Donner e por Richard
Lester, 2008 e 2010), ou, já
também na fase Ænal da sua
Actor nasceu na Louisville rural e começou tardiamente a carreira
Cultura
carreira, a voz dada ao
maquiavélico urso Lotso em Toy
Story 3 (Lee Unkrich, 2010). Um
trabalho que justiÆcou que,
conhecida a sua morte, o
realizador desta animação tivesse
escrito no Twitter: “Foi uma
alegria, e uma honra incrível, ter
trabalhado contigo. Obrigado,
Ned, por teres dado vida ao
Lotso, nas suas facetas boas e
más. Vais fazer-nos falta.”
Ned Thomas Beatty nasceu no
dia 6 de Julho de 1937 num
ambiente rural de Louisville, no
Kentucky. Começou a
interessar-se pelo mundo da
música e do teatro — pelos palcos,
aÆnal — na igreja protestante dos
Discípulos de Cristo, em
Lexington. A aprendizagem do
teatro, fê-la passando por grupos
de Abingdon, na Virgínia, e
depois também de Houston e de
Washington, como a D.C,’ Arena
Stage Company, onde fez um Tio
Vânia, de Tchekov, e Morte de Um
Caixeiro Viajante, de Artur
Miller… Até que o conhecimento
de que John Boorman estava em
Nova Iorque a fazer audições para
o elenco de Deliverance o fez
apanhar um comboio que haveria
de mudar o rumo da sua carreira.
Um dia, perguntaram-lhe como
é que tinha ido parar ao show
business, tendo ele nascido e
crescido num lugar tão distante
desse mundo. “Por conviver com
as ‘pessoas erradas’”, respondeu
Ned Beatty com ironia. Entre
essas “pessoas erradas”, além das
atrás já citadas, estiveram
também John Huston, Steven
Spielberg, Paul Newman, Robert
Redford, Richard Burton, Marlon
Brando, Gene Hackman…
Ned Beatty casou-se quatro
vezes e teve oito Ælhos.
PETER POWER/TORONTO STAR/ GETTY IMAGES
34 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021

Guia

leituras
Tatiana Faia conversa com Teresa Coutinho
O Clube dos Poetas Vivos, em que a poeta e tradutora
Tatiana Faia, que se doutorou com uma tese sobre a IIíada
de Homero, é a convidada de Teresa Coutinho, realiza-se
hoje, às 19h, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. A
entrada é livre e sujeita à lotação, com levantamento de
publico.pt/leituras bilhetes às 18h. Os actores lerão poemas da autora de Um
Quarto em Atenas (ed. Tinta da China).

Sugestões
Sem Rei Nem Roque — As origens
das expressões populares (… tão
bem explicadas que até lhe
fazemos um desenho…), que hoje
chega às livrarias numa edição da
Oficina do Livro, reúne textos
“despretensiosos”, como lhes
chama o autor, João Palma, que
entre 1990 e 2006 foi copydesk e
jornalista do PÚBLICO, na
Sem Rei Nem introdução deste livro cuja autoria
Roque divide com o ilustrador e
Autoria: João cartoonista Rodrigo de Matos.
Palma (texto) São “textos, que explicam a
e Rodrigo de origem, muitas vezes
Matos (ilust.) surpreendente, de ditados e
Oficina do frases populares que todos
Livro; 152 usamos, mas que muitos
págs., 14,90€ desconhecem”, escreve.
Hoje nas Entre elas: trazer água no bico;
livrarias) custar os olhos da cara; ficar a ver
navios; rir a bandeiras
Pequenos textos ilustrados despregadas; dourar a pílula; tirar
nabos da púcara; não entender
sobre as origens das patavina; é pior a emenda que o
soneto; para inglês ver; encanar a
expressões populares perna à rã; eles que são brancos,
que se entendam; sem rei nem
roque, abrir a caixa de Pandora;
amigos de Peniche, rés-vés
Campo de Ourique, de borla, etc.
Tudo isto começou em 2007,
quando o jornalista e escritor Luís
Francisco teve a ideia que se
escrevesse para o semanário
gratuito Sexta, que na época era
um projecto de A Bola e do
PÚBLICO, umas pequenas peças,
a que chamaram Subsídios de
informação, sobre estes temas,
siglas e outras curiosidades.
Mais tarde, também Luís
Francisco teve a ideia de que se
reunissem em livro os textos
ilustrados por Rodrigo de Matos,
que vive em Macau. E assim
aconteceu. “Os desenhos do
Rodrigo são a mais-valia de um
livro que, finalmente, viu a luz do
dia”, escreve na nota introdutória
João Palma, que antes do 25 de
Abril de 1974 residia na
Dinamarca, de onde escrevia para
várias publicações clandestinas.
Ao ler estes textos ficámos, por
exemplo, a saber que a expressão
que dá nome ao livro, “Sem rei
nem roque”, é uma “locução
portuguesa, fundada no jogo do
xadrez”. Ou que a expressão, “A
dar com um pau” [que deu
origem ao desenho ao lado], tem
origem no Nordeste do Brasil e
significa abundância. A expressão
nasceu porque os camponeses
nordestinos para impedir que as
aves desbastassem as plantações
muniam-se de paus para as
chacinar. Impediam o ataque e
ficavam com animais mortos para
comer em abundância.
Uma das surpresas foi
percebermos a quantidade de
expressões que usamos com
origem no Brasil. Também o autor
achava que iria encontrar mais
expressões vindas de Espanha,
que “está muito mais aqui ao
lado”, confessa. Mas não é só a
expressão “a dar com um pau”
que veio de lá, também “eles que
são brancos, que se entendam”,
“para inglês ver” ou “dar com os
burros na água”. Isabel Coutinho

Integrado A Colina Que Detesto os Como Ler A Outra Metade

Marginal —
Biografia de José
Cardoso Pires
Autoria: Bruno
Vieira Amaral
(Contraponto;
600 págs.,
20,90€. Nas livrarias a 17 de
Junho)
Francisco José Viegas, que já leu a
biografia de José Cardoso Pires
que Bruno Vieira do Amaral
escreveu e que agora chega às
livrarias, chamou-lhe
“monumental” e “obra-prima”. Na
sua coluna no Correio da Manhã,
o escritor e editor garantiu que a
partir de Integrado Marginal “as
biografias [em Portugal] terão um
novo padrão”. Este é o terceiro
volume da colecção de Biografias
de Grandes Figuras da Cultura
Portuguesa Contemporânea da
editora Contraponto, na qual já se
publicaram as biografias de
Agustina Bessa-Luís e de Manoel
de Oliveira. No primeiro capítulo,
sabemos parte da história de vida
do pai daquele “que ficaria para a
História como ‘o escritor de
Lisboa’”, mas que nasceu em 1925
“numa aldeia remota da Beira
Baixa”. Uma biografia que “dá a
conhecer o processo de
construção de um escritor”,
resume a editora.
Subimos — Um
Poema
Inaugural
Autoria: Amanda
Gorman
Tradução de
Carla Fernandes
(Editorial Presença; 64 págs.,
10,90€. Amanhã nas livrarias)
A Colina Que Subimos, de
Amanda Gorman, que aos 22 anos
se tornou a sexta e mais jovem
poeta a ler um poema na tomada
de posse presidencial nos EUA,
chega amanhã a Portugal, numa
edição bilingue e de capa dura da
Editorial Presença. A sua tradução
(operação que nos Países Baixos
ou na Catalunha, por exemplo, se
revelou problemática), é de Carla
Fernandes, jornalista e
programadora que é também
fundadora da Afrolis Associação
Cultural. O livro tem um prefácio
de Oprah Winfrey em que esta
escreve: “Não surgem
frequentemente estes momentos
de incandescência, em que o
turbilhão da dor e do sofrimento
dá espaço à esperança.” Um
excerto do poema: “Desafiámos a
barriga da besta./ Aprendemos
que tranquilidade nem sempre é
paz,/ E que as normas e noções
do que é ‘justo’/ Nem sempre são
justiça.”
Homens
Autoria: Pauline
Harmange
Tradução de Inês
Fraga
(Ed. Pergaminho;
104 págs.; 12,20€.
Nas livrarias a 17 de Junho)
Detesto os Homens, da escritora e
activista Pauline Harmange, que
faz voluntariado na L’Échappée,
uma associação de combate à
violência sexual, é um ensaio que
começa por definir misandria
como “um sentimento negativo
em relação a todo o sexo
masculino no seu conjunto” e que
a vê como “um princípio de
precaução”, que pode servir
como crítica construtiva da
masculinidade tóxica e convidar à
reflexão. Quando foi publicado
em França, chamou a atenção
porque um assessor do Ministério
para a Igualdade de Género,
tendo visto o livro e não o tendo
lido, escreveu à editora ameaçan-
do tirar o livro de circulação
porque o considerava incitamen-
to ao ódio. Não foi em frente. “Não
podemos mais permitir-nos
lisonjear os homens por coisas
tão tristemente banais como sair
mais cedo do trabalho para ir
buscar um filho à escola”, lê-se
nas primeiras páginas deste livro.
Literatura
Autoria: Terry
Eagleton
(Edições 70
286 págs., 17,90€.
Nas livrarias a 17
de Junho)
O filósofo, professor e crítico
literário inglês Terry Eagleton
escreve no prefácio deste Como
Ler Literatura, que chega às
livrarias portuguesas pela mão
das Edições 70 (a mesma que
recentemente lhe publicou
Porque É Que Marx Tinha Razão):
“Tal como o sapateado, a arte de
analisar obras literárias já deu
praticamente o que tinha a dar.
(…) Ao prestar especial atenção à
forma e à técnica literárias, este
livro tenta desempenhar um
modesto papel na tentativa de
salvá-las. Fundamentalmente,
pretende ser um guia para
principiantes, mas espero que
também se revele útil para quem
já esteja envolvido nos estudos
literários ou para quem goste de
ler poemas, peças e romances
nos seus tempos livres. Tento
esclarecer questões como a
narrativa, a trama, a personagem,
a linguagem literária, a natureza
da ficção, os problemas da
interpretação crítica, o papel do
leitor e o valor das avaliações.”
Autoria: Brit
Bennett
Tradução de Tânia
Ganho
(Alfaguara
Portugal; 384
págs.; 20,90€.
Hoje nas livrarias)
Brit Bennett é uma jovem autora
norte-americana, da Califórnia, e
A Outra Metade (The Vanishing
Half) é o seu segundo romance
mas o primeiro, The Mothers, foi
um sucesso imediato, tendo sido
finalista dos prémios Goncourt e
Médicis, em França. A Outra
Metade é uma saga de uma
família que atravessa quatro
décadas e vários Estados e
foca-se na história das irmãs
Stella e Desiree Vignes, gémeas
de ascendência negra, que
vivem no Sul. “Não se detendo
no inevitável tema central da
raça e da identidade, A Outra
Metade reflecte sobre o peso do
passado no presente, pondera as
consequências e os limites da
reinvenção pessoal e oferece
uma meditação poderosa sobre
a família e a liberdade
individual”, resume a editora. Um
romance que põe a questão:
“Será preciso apagar a cor da
pele para se ter uma vida digna
nos EUA?”

Cinema
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, nº 100. T. 218413040
Prazer, Camaradas! M12. 17h40, 19h45; As
Andorinhas de Cabul 17h50; Nomadland -
Sobreviver na América 17h55,
20h; Minari M12. 17h45; O Pai M12.
15h50; Cruella M12. 15h20; Raya e o Último
Dragão M6. 11h15 (V.Port./2D); Quo Vadis,
Aida? M14. 15h30; Entre a Morte M14.
19h30; O Espião Inglês M12. 15h35, 20h
Cinema City Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 217981420
Um Lugar Silencioso 2 M14. 20h40; Peter
Rabbit: Coelho à Solta M6. 11h30, 15h40 (V.
P.); Mais Uma Rodada 20h20; Cruella M12.
13h20, 15h20, 17h40, 20h; Tom e Jerry M6.
11h40 (V.P.); Raya e o Último Dragão M6.
15h35, 17h50 (V.Port./2D); Um Homem
Furioso M16. 17h55; Spirit Invencível M6.
13h40, 15h50, 17h55 (V.Port./2D); The
Conjuring 3 M16. 15h45, 20h25; Chaos
Walking - O Ruído M12. 13h, 15h20, 17h30,
20h15; O Espião Inglês M12. 13h10, 15h25,
17h35, 20h10; Demon Slayer - Kimetsu No
Yaiba M14. 11h20, 17h45, 20h20
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
As Andorinhas de Cabul 16h45; Miss
Marx M12. 14h30, 18h30, 20h30
Cinemas Nos Alvaláxia
Estádio José Alvalade. T. 16996
Um Lugar Silencioso 2 M14. 13h30, 16h40,
19h30, 22h20; Peter Rabbit: Coelho à
Solta M6. 13h10, 15h25 (V.Port./2D); O
Pai M12. 18h55, 21h40; Missão
Inesperada M14. 13h50, 16h25, 19h05,
21h40; Godzilla vs. Kong M12. 13h50,
16h20, 19h; Raparigas M12.
13h35; Cruella M12. 13h15, 16h, 18h50,
21h50 (V.Orig./2D); Tom e Jerry M6. 13h05,
15h30, 18h30; Tesla M12. 21h45; Um
Homem Furioso M16. 21h35; The Conjuring
3 - A Obra do Diabo M16. 13h25, 16h15,
19h10, 22h; Ao Ritmo de Washington
Heights M12. 14h10, 17h50, 21h30; Chaos
Walking - O Ruído M12. 13h40, 16h30,
19h25, 22h10; O Espião Inglês M12. 14h,
16h45, 19h20, 21h55; Lassie de Volta a
Casa M6. 13h35; Vingança Letal M14.
16h10, 18h40, 21h20; Demon Slayer -
Kimetsu No Yaiba - O Filme: Comboio
Infinito M14. 13h45, 16h35, 19h15, 22h05
Cinemas Nos Amoreiras
Av. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996
Nomadland - Sobreviver na
América 13h20; O Pai M12. 13h30, 16h,
18h40, 21h40; Raparigas M12. 13h,
15h20; Cruella M12. 14h, 17h, 21h; Quo
Vadis, Aida? M14. 18h, 20h50; Um Homem
Furioso M16. 18h30, 21h10; Ao Ritmo de
Washington Heights M12. 15h50, 18h50,
21h50; O Espião Inglês M12. 13h10, 15h40,
18h20, 21h20
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusíada. T. 16996
Um Lugar Silencioso 2 M14. 12h50, 15h10,
17h30, 19h50, 22h20; Peter Rabbit: Coelho
à Solta M6. 13h05, 15h25 (V.
Port./2D); Cruella M12. 12h40, 15h50, 18h50,
22h (V.Orig./2D); Um Homem Furioso M16.
19h, 21h40; The Conjuring 3 - A Obra do
Diabo M16. 13h30, 16h, 18h30, 21h30; Ao
Ritmo de Washington Heights M12. 16h15,
19h10, 22h10; Chaos Walking - O Ruído M12.
13h10, 15h40, 18h10, 21h; O Espião
Inglês M12. 12h55, 18h20, 21h20; Demon
Slayer - Kimetsu No Yaiba - O Filme:
Comboio Infinito M14. 13h20, 16h30, 19h20,
22h05; Chaos Walking - O Ruído M12. Sala
IMAX - 13h40, 16h10, 18h40, 21h50
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
Um Lugar Silencioso 2 M14. 13h30, 16h20,
19h10, 21h40; Peter Rabbit: Coelho à
Solta M6. 13h10, 15h30 (V.P.); Cruella M12.
13h40, 17h, 21h30; Um Homem
Estreias
Ao Ritmo
de Washington Heights
De Jon M. Chu. EUA. 2021.
120m. Drama. M12.
A adaptação cinematográÆca do
multipremiado musical da
Broadway, da autoria de
Lin-Manuel Miranda.
O Espião Inglês
De Dominic Cooke. EUA/GB.
2020. 112m. Thriller. M12.
A história de um empresário
britânico que, durante a Guerra
Fria, foi recrutado como espião.
As Andorinhas de Cabul
De Zabou Breitman, Eléa
Gobbé-Mévellec. FRA. 2019.
81m. Drama, Animação, Guerra.
Um Ælme de animação para um
público adulto que adapta a
novela do escritor argelino
Yasmina Khadra.
Chaos Walking - O Ruído
De Doug Liman. CAN/EUA/
Hong-Kong. 2021. 109m.
Acção, Aventura. M12.
Num futuro distante, quando a
Humanidade se viu forçada a
abandonar a Terra e colonizar
um novo planeta, deparou-se
com um vírus devastador.
Demon Slayer - Kimetsu
No Yaiba - O Filme:
Comboio Infinito
De Haruo Sotozaki. JAP.
2020. 117m. Animação,
Aventura. M14.
Um Ælme de animação para
maiores de 14 anos que se inspira
na manga “Demon Slayer:
Kimetsu no Yaiba”.
Entre a Morte
De Hilal Baydarov.
MEX/EUA/Azerbaijão. 2020.
88m. Drama. M14.
O jovem Davud deixa a sua casa,
em busca de uma esposa que dê
sentido à sua vida.
Miss Marx
De Susanna Nicchiarelli.
ITA/BEL. 2020. 107m.
Biografia. M12.
Um Ælme biográÆco sobre Jenny
Julia Eleanor, a Ælha mais nova
do Ælósofo e sociólogo Karl Marx.
Missão Inesperada
De Robert Lorenz. EUA. 2021.
108m. Thriller, Acção. M14.
Jim Hanson vive no Arizona,
junto à fronteira com o México.
Um dia, encontra uma mulher e
um rapaz a tentar passar
ilegalmente. Depois de ligar para
o serviço de fronteiras, Jim
percebe que foi cercado por três
homens armados.
Nocturno
De Gianfranco Rosi. ITA.
2020. 100m.
Documentário. M14.
Rodado na Síria, Iraque,
Curdistão e Líbano, um Ælme
que tenta mostrar o que é viver
em contexto de guerra.
Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 35
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
Furioso M16. 18h, 21h10; The Conjuring 3 - A
Obra do Diabo M16. 14h, 16h50, 19h30,
22h10; Ao Ritmo de Washington
Heights M12. 14h20, 17h40, 21h; O Espião
Inglês M12. 13h20, 16h, 18h50, 21h50
Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213574362
O Criado M12. 11h; Prazer, Camaradas! M12.
20h; As Andorinhas de Cabul 13h30; Entre
a Morte M14. 17h30; Nocturno M14. 15h30
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
Velocidade Furiosa 7 M12.
13h30; Marighella M14. 13h55; Um Lugar
Silencioso 2 M14. 16h25,
19h45; Ninguém M16. 14h05; Minari M12.
16h20, 19h15; O Pai M12. 13h50, 17h55,
20h20; Estados Unidos Vs Billie
Holliday M14. 13h45, 19h35; Mais Uma
Rodada 17h10; Raparigas M12. 14h30,
19h25; Cruella M12. 13h30, 16h40,
19h40; Sincrónico 17h05; Quo Vadis,
Aida? M14. 16h55; Um Homem Furioso M16.
14h25; Spirit Invencível M6. 14h (V.
Port./2D); The Conjuring 3 - A Obra do
Diabo M16. 14h15, 16h55, 20h05; Ao Ritmo
de Washington Heights M12. 13h40, 16h45,
19h50; Chaos Walking - O Ruído M12.
14h20, 17h, 20h15; O Mauritano M14. 13h35,
20h05; O Espião Inglês M12. 14h10, 16h50,
20h10; Demon Slayer - Kimetsu No Yaiba -
O Filme: Comboio Infinito M14. 17h15, 20h
Almada
Cinemas Nos Almada Fórum
Vale de Mourelos. T. 16996
Um Lugar Silencioso 2 M14. 12h50, 15h10,
17h30, 19h40, 22h; Peter Rabbit M6. 13h,
15h20 (V.Port./2D); Spiral - O Novo Capítulo
de Saw M18. 18h55, 21h50; O Pai M12. 19h10,
21h20; Missão Inesperada M14. 13h45,
16h15, 18h45, 21h45; Godzilla vs. Kong M12.
15h50, 18h30, 21h40; Cruella M12. 12h40,
15h30, 18h20, 21h15 (V.Orig./2D); Tom e
Jerry M6. 13h30, 15h50 (V.Port./2D); Raya e
o Último Dragão M6. 14h, 16h30 (V.
Port./2D); Quo Vadis, Aida? M14. 14h20; Um
Homem Furioso M16. 16h50, 19h30,
22h10; The Conjuring 3 - A Obra do
Diabo M16. 13h30, 16h, 18h40, 21h30; Ao
Ritmo de Washington Heights M12. 13h50,
17h, 21h; Chaos Walking - O Ruído M12.
13h10, 15h40, 18h10, 21h20; O Espião
Inglês M12. 13h15, 15h45, 18h15,
21h10; Lassie de Volta a Casa M6.
13h40; Vingança Letal M14. 17h40, 20h,
22h20; Demon Slayer M14. 13h20, 16h10,
18h50, 21h25 ; Chaos Walking - O
Ruído M12. Sala 4DX - 14h30, 16h40, 19h,
21h40
Amadora
Cinema City Alegro Alfragide
C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030
Um Lugar Silencioso 2 M14. 20h15; Peter
Rabbit: Coelho à Solta M6. 18h20 (V.
Port./2D); Nomadland - Sobreviver na
América 20h25; Missão Inesperada M14.
15h30, 18h10, 20h35; Cruella M12. 15h35 (V.
Port./2D), 15h25, 17h30, 20h20 (V.
Orig./2D); Tom e Jerry M6. 15h45, 17h45 (V.
Port./2D); Raya e o Último Dragão M6.
15h20, 17h35 (V.Port./2D); Um Homem
Furioso M16. 20h30; Spirit
Invencível M6. 15h50 (V.
Port./2D); The Conjuring 3 - A
Obra do Diabo M16. 17h35,
20h10; Ao Ritmo de
Washington Heights M12.
15h20, 17h50,
20h05; Chaos Walking -
O Ruído M12. 15h25,
18h, 20h05; O Espião
Inglês M12. 15h35,
17h45,
20h30; Demon
Guia
Slayer - Kimetsu No Yaiba - O Filme:
Comboio Infinito M14. 15h40, 17h55, 20h25
UCI Ubbo
Venteira.
Velocidade Furiosa 7 M12. 18h30; Um Lugar
Silencioso 2 M14. 13h20, 16h; Peter Rabbit:
Coelho à Solta M6. 13h55, 16h15 (V.
Port./2D); Missão Inesperada M14. 16h20,
19h05, 21h30; Godzilla vs. Kong M12.
13h40; Cruella M12. 15h30, 21h45; Tom e
Jerry M6. 13h35 (V.Port./2D); Um Homem
Furioso M16. 18h35, 21h40; Spirit
Invencível M6. 14h10, 16h25 (V.
Port./2D); The Conjuring 3 - A Obra do
Diabo M16. 13h50, 16h30, 19h10, 21h50; Ao
Ritmo de Washington Heights M12. 15h15,
18h25, 21h35; Chaos Walking - O Ruído M12.
16h05, 18h45, 21h25; O Espião Inglês M12.
18h40, 212h0; Demon Slayer - Kimetsu No
Yaiba - O Filme: Comboio Infinito M14.
18h30
Barreiro
Castello Lopes - Fórum Barreiro
Campo das Cordoarias. T. 212069440
Um Lugar Silencioso 2 M14. 14h45, 17h,
19h15, 21h50; Peter Rabbit: Coelho à
Solta M6. 14h40, 17h05 (V.
Port./2D); Cruella M12. 15h30, 18h20,
21h10; The Conjuring 3 - A Obra do
Diabo M16. 16h35, 19h05, 21h35; Chaos
Walking - O Ruído M12. 14h40,
21h30; Demon Slayer - Kimetsu No Yaiba -
O Filme: Comboio Infinito M14. 19h15
Cascais
Cinemas Nos CascaiShopping
Alcabideche. T. 16996
Um Lugar Silencioso 2 M14. 13h15, 15h40,
18h10, 20h30; Peter Rabbit: Coelho à
Solta M6. 12h55, 15h (V.
Port./2D); Cruella M12. 13h30, 16h20, 19h10,
22h (V.Orig./2D); Um Homem Furioso M16.
17h15, 19h45, 22h15; The Conjuring 3 - A
Obra do Diabo M16. 12h45, 15h20, 18h30,
21h20; Ao Ritmo de Washington
Heights M12. 13h, 16h, 19h, 21h50; Chaos
Walking - O Ruído M12. 12h40, 15h10, 18h20,
21h30; O Espião Inglês M12. 12h50, 15h30,
18h, 21h; Chaos Walking - O Ruído M12. Sala
IMAX - 13h10, 15h30, 18h45, 21h15
O Cinema da Villa - Cascais
Avenida Dom Pedro I. T. 215887311
Blackbird - A Despedida M12. 15h35, 17h35,
19h35, 21h35; As Andorinhas de
Cabul 14h40, 15h40; Raparigas M12.
20h20; Cruella M12. 16h20, 18h55,
21h30; Quo Vadis, Aida? M14. 15h20, 17h20,
19h20; Miss Marx M12. 17h20, 19h25,
21h30; O Espião Inglês M12. 14h40, 16h55,
19h10, 21h25
Sintra
Castello Lopes - Alegro Sintra
Loja 2.21 - Alto do Forte. T. 219184352
Um Lugar Silencioso 2 M14. 17h15, 19h30,
21h45; Cruella M12. 15h30, 18h20,
21h10; Tom e Jerry M6. 14h55 (V.
Port./2D); Um Homem Furioso M16. 16h15,
18h50, 21h25; Spirit Invencível M6. 14h40
(V.Port./2D); The Conjuring 3 - A Obra do
Diabo M16. 16h30, 19h, 21h30; Chaos
Walking - O Ruído M12. 14h35, 16h45, 19h10,
21h45; O Espião
Inglês M12. 16h35,
19h05, 21h35; Demon
Slayer - Kimetsu No
Yaiba - O Filme:
Comboio Infinito M14.
16h15, 18h50, 21h25
Chaos Walking -
- O Ruído
36 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021

Guia

Lazer Jogos Jogue também online.

Palavras-cruzadas, Lotaria Clássica 2 0 3 0 7
bridge e sudoku em
1.º Prémio 600.000€
publico.pt/jogos
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios

MÚSICA Cruzadas 11.372

Sean Riley & The Slowriders
LISBOA Teatro Maria Matos.
Dia 15/6 às 21h. M/6. 10€
A banda de Coimbra apresenta-se
em palco com Life, o quinto álbum
de originais, editado em Maio
passado. Com menos guitarras e
mais beats, que compõem uma
mudança de direcção sonora, o
disco corresponde também a um
novo capítulo no percurso do
grupo, depois do
desaparecimento do baixista e
fundador Bruno Simões. Every
time, Hide, Never lonely e Love life
são alguns dos temas que marcam
o alinhamento.
HORIZONTAIS: 1. Alvo escolhido pela cimeira do G7. Imperador (fig.). 2. Cápsula quitinosa em
que estão encerrados os ovos de certos ortópteros. Prefixo (dez). 3. Rádon (s. q.). «Do (...), o
menos». Aves pernaltas corredoras. 4. Turno. Naftali (...), é o novo primeiro-ministro de Israel.
5. Sufixo (abundância). Escudeiro. Fecha as asas (a ave) para descer mais rapidamente. 6.
Entoação. Reclamam dívidas de 67 milhões ao Estado. 7. Tambor grande tocado na vertical.
Nome feminino. 8. Autores (abrev.). Espreitara. 9. Mecanismo criado para estimular uma nova
geração de empreendedores do mar, mas... (duas palavras juntas). 10. Junta. Avançavam.
Nome da 21.ª letra do alfabeto grego. 11. Centésima parte do hectare. Cómico.
VERTICAIS: 1. Ilha onde já se avista o fim da pandemia. Ofegar. 2. Honrado. Rio português que
passa por São João da Madeira e desagua na Ria de Aveiro. 3. Código de Internet (Itália). Amor
excessivo pelos animais. 4. Também não. Nomear abade. 5. Concluído. 6. Arruamento de
jardim. Não tem tutela sobre autarquias, nem autoriza manifestações. 7. «Em» + «o». Voltar
num banho de tinta um tecido ou uma meada. 8. Paraíso terreal. As folhas ou agulhas do
pinheiro. 9. As escolas que estão a aplicar este calendário só vêm vantagens. 10. Alindar.
Admirador entusiasta. 11. Madeixa grossa enrolada. Execução de encomendas.
Solução do problema anterior:

Noiserv
LISBOA Teatro da Trindade.
Dia 15/6 às 20h30. M/6.
12€ a 16€
O cantautor solitário David Santos,
mentor do projecto Noiserv,
convida para uma nova viagem ao
seu universo, inspirada n’Uma
Palavra Começada por N. O álbum
foi editado em 2020 e é
totalmente cantado em português.
HORIZONTAIS: 1. Sangue. Neno. 2. Cancelo. Ab. 3. Boi. Ida. 4. Ocos. Ores. 5. Ra. Eriksen. 6. RRR.
Ermo. Te. 7. Aros. Cai. 8. Dar. Vírgula. 9. Os. Fonseca. 10. Cruziscar. 11. Gobi. Oral.
VERTICAIS: 1. Torrado. 2. AC. Carrasco. 3. Nabo. Ror. Rb. 4. Gnose. Fui. 5. UCI. Re. Voz. 6. Ee. Virgínia.
7. Li. Km. Rss. 8. Nodoso. Geco. 9. Are. Cucar. 10. Na. Entalara. 11. Obus. Eia.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge fanhabridge.pt Sudoku www.indigopuzzles.com
assegurando assim o contrato a 100% (se por
Dador: Oeste um improvável azar Este não assistir à segunda Problema 10.518 (Fácil)
Vul: Ninguém volta de ouros, prendemos com a Dama e
voltamos a jogar paus que nessa altura terão de

TEATRO
estar bem divididos — Oeste já não deverá ter o
NORTE Ás de paus à quarta). É um plano mais atraente
Ƅ AK2 que o anterior…
3 — Jogar o 2 de ouros para o Ás. E agora das
Ɔ Q3
Aquilo Que Ouvíamos três uma: — O Rei de ouros está seco em Oeste,
Ƈ J2 tomba como vítima de uma crise cardíaca. O
LISBOA LuxFrágil. De 15/6 a ƅ KQJ432 contrato está resolvido, obrigado. — Aparecem
25/6. Terça a domingo, às 20h. cartas pequenas de ambos defensores. Viramos
OESTE ESTE para paus, em direcção ao Rei. Nesta virada
M/16. Duração: 1h50. 12€
Ƅ QJ9 Ƅ 107654 podemos tirar proveito de um Ás seco em
Uma criação site-speciÆc do Teatro Ɔ KJ1076 Ɔ 842 Oeste. Quando o Rei de paus fizer a vaza, Solução 10.516
do Vestido, que leva os Ƈ 10 Ƈ K876 apresentamos o Valete de ouros: se o 10
aparecer em Este cobrimos com a Dama e
espectadores “numa viagem por ƅ A1097 ƅ5 ficamos com a certeza de poder apurar o naipe
histórias pessoais da relação com SUL de ouros para reclamar o contrato; se aparecer
Ƅ 83 de novo um pequeno ouro de Este, jogamos
a música alternativa dos anos 1980 pequena da nossa mão: se o Rei estiver segundo
Ɔ A95
e 90 e o seu consumo”. Da compra em Oeste — jackpot!; se o Rei não tombar,
Ƈ AQ9543 voltamos a jogar paus esperando que o naipe
de vinis às trocas no pátio da ƅ 86 esteja 3-2. — O 10 aparece em Oeste. O contrato
escola e às cassetes mal gravadas, está sobre a mesa! Tenha Oeste K10 ou apenas o
Oeste Norte Este Sul 10 seco. Jogamos agora pau para o Rei e o
são várias as memórias e etiquetas 1Ɔ 2ƅ passo 2Ƈ Valete de ouros de seguida. O jogador em Este é
identitárias em torno da música passo 2Ɔ passo 3Ɔ agora alvo de uma chantagem, ele não pode
passo 3Ƅ passo 3ST jogar o Rei sem oferecer-nos o restante naipe de
que ouvíamos. A encenação é de Todos passam ouros, por isso é obrigado a jogar pequena.
Joana Craveiro. Cobrimos o Valete com a Dama da nossa mão e
Leilão: Equipas ou partida livre. agora Oeste é atingido com um squeeze
tricolor! Impedido de baldar paus (entregaria de

EXPOSIÇÃO
Construção Naval - Arte como
Ofício de Vida
BARREIRO Arquivo dos Portos
de Lisboa, Sesimbra e Setúbal.
De 9/6 a 29/6. Terça e sexta, das
9h30 às 12h30 e das 14h às 17h.
Grátis
A exposição reúne fotograÆas e
um Ælme sobre o trabalho de
bastidores e o espólio guardado
no Arquivo dos Portos de Lisboa,
Sesimbra e Setúbal (APLSS). As
imagens foram captadas por José
Manuel Arsénio e mostram o
trabalho de construção e
manutenção de embarcações.
Carteio: Saída: JƆ. A Dama do morto faz a
primeira vaza assim que Este assiste com o 2 de
copas. Qual a melhor linha de jogo?
Solução: Se os naipes pobres estiverem ambos
divididos 3-2, de pouco importará a linha de
jogo adoptada, será apenas uma questão de
vazas a mais. O que realmente importa é resistir
a uma distribuição 4-1 a paus ou a ouros. O
melhor mesmo seria engendrar uma forma de
lidar com este problema, havendo uma dupla
repartição desfavorável dos pobres. Quanto ao
Rei de ouros, ele deambulará provavelmente na
mão do abridor mas isso não é uma certeza
absoluta.
Existem três linhas de jogo possíveis:
1 — Jogar pelos paus, logo desde a segunda
vaza, esperando que o naipe esteja 3-2 ou que
exista uma posição favorável dos ouros se isso
não acontecer. É pouco…
2 — Fazer a passagem a ouros partindo de
Valete: se a passagem falhar (o que é provável
atendendo à abertura de Oeste), o naipe deverá
estar dividido 3-2; se a passagem resultar (Este
cobre o Valete com o Rei), jogamos então um
pau para o Rei, que Oeste naturalmente cederá,
e ouro para o 9 assim que Este assistir,
imediato o contrato) terá de se ver livre de uma Problema 10.519 (Difícil)
copa ou de uma espada. Continuamos com um
pau para a Dama e, se Este não assistir neste
momento, insistir em paus se Oeste tiver
baldado uma copa (ele não fará mais do que
dois paus e duas copas), ou, caso Oeste tenha
baldado uma espada em vez da copa,
encaixamos Ás e Rei de espadas (eliminação) e
saímos de mão jogando o Ás e o 9 de copas.
Oeste, obrigatoriamente em mão, encaixa todas
as suas copas (três mais precisamente) mas tem
de se virar em paus, apurando o Valete do
morto, a nona vaza! Ufa… Esta sim é a melhor
linha de jogo!
Solução 10.517
Considere o seguinte leilão:
Oeste Norte Este Sul
1Ɔ passo 1Ƅ
2ƅ passo passo ?
O que marcaria, com a mão seguinte?
ƄAK54 ƆQ102 ƇJ10 ƅQJ96
Resposta: Marque 3ST. Com este teor de paus o
melhor contrato deverá ser 3ST, pois em copa
existe um bom risco de haver um corte a paus
por parte de Este.
 Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021 • 37

Guia

CINEMA Televisão Os mais vistos da TV

Domingo, 13
RTP1 10,7% DESPORTO
A Luz Entre Oceanos % Aud. Share RTP2 1,1 Futebol: Euro 2020
AXN Movies, 19h02 Quem Quer Namorar... SIC 13,7 27,3 SIC, 16h50
Depois da I Guerra Mundial, um Jornal da Noite SIC 12,5 25,1 SIC 20,4 Directo. Portugal entra em campo
TVI
Quem Quer Namorar... SIC 11,6 23,0
soldado traumatizado e aclamado Primeiro Jornal SIC 10,8 28,2 15,3 no Euro 2020, com título de
como herói regressa à sua campeão europeu para defender,
Cabo
Quem Quer Namorar... SIC 10,5 29,6
Austrália natal para trabalhar num 36,7 com um primeiro jogo frente à
FONTE: CAEM

farol. Apaixona-se por uma selecção húngara, no Estádio

mulher, casa-se e tenta ter Ælhos
com ela. Mas nenhuma gravidez
tem sucesso. Um dia, encontram
um barco a remos com o cadáver
de um homem e com uma bebé
recém-nascida, que adoptam
como deles. É aí que os problemas
começam. Michael Fassbender e
Alicia Vikander (que se tornaram
um casal na vida real durante a
rodagem) protagonizam este Ælme
realizado por Derek Cianfrance, a
partir do best-seller de M.L.
Stedman. Rachel Weisz e Bryan
Brown também entram no elenco.
Sherlock Holmes: Jogo de
Sombras
Hollywood, 19h20
Sequela de Sherlock Holmes,
novamente realizada por Guy
Richie e com a dupla Robert
Downey Jr. e Jude Law no centro
RTP1
6.30 Bom Dia Portugal 10.00 Praça da
Alegria 12.59 Jornal da Tarde 14.25 Os
Nossos Dias 15.06 A Nossa Tarde
17.30 Portugal em Directo 19.06 O
Preço Certo 19.54 Direito de Antena
19.59 Telejornal
21.01 Joker
22.09 Euro 2020 - Os Dias do Euro
RTP2
6.32 Repórter África 7.00 Espaço Zig
Zag 9.58 Fora do Baralho 10.44 A Casa
da Mensagem 11.58 Escola Nocturna -
Os Sonhos Nunca Dormem 12.44
Visita Guiada 13.28 Manual de
Instruções 13.53 Folha de Sala 14.00
Sociedade Civil 15.04 A Fé dos
Homens 15.37 Gente da Minha Rua
16.10 Portugal Selvagem 17.01 Espaço
Zig Zag 20.33 Hotéis Extraordinários:
A Vida nos Bastidores
21.25 Folha de Sala
21.30 Jornal 2
22.01 Os Anos dos Milagres
TVCINE TOP
17.50 O Caso DeLorean 19.40 A Mentira
Perfeita 21.30 Bloodshot 23.15 Burden -
A Redenção 1.10 Sibéria
FOX MOVIES
17.45 Rocky II 19.41 The Reunion 21.15 O
Marine 22.42 Bad Ass 0.09 Máquinas de
Guerra 1.48 Fúria no Bairro Japonês
HOLLYWOOD
17.45 Os Últimos na Terra 19.20
Sherlock Holmes: Jogo de Sombras
21.30 Passageiros 23.05 O Homem Que
Brilha 0.40 À Mão Armada 2.10 Crimes
Sombrios
AXN
18.39 DOC 19.41 The Good Doctor
Puskás, em Budapeste.
INFORMAÇÃO
É ou Não É? — O Grande Debate
RTP1, 22h20
Directo. “Como combater a
mentira e a desinformação?” é a
pergunta lançada a debate, a um
mês da entrada em vigor da nova
Carta dos Direitos Humanos para a
Era Digital. Motivado pela
necessidade de regulamentar o
ciberespaço, o documento está
longe de ser consensual: vários
partidos e Æguras públicas têm
contestado a sua natureza, que
acusam de limitadora da liberdade
de expressão, controladora da
informação e até uma via aberta
ao regresso da censura.

da acção. O brilhante investigador
criado por Sir Arthur Conan Doyle
surge numa abordagem diferente,
onde o intelecto e a dedução estão
aliados às artes marciais e ao boxe.
Desta vez, Holmes e o seu Æel
companheiro, Dr. John Watson,
têm de arruinar o terrível plano de
um arqui-inimigo: o professor
Moriarty ( Jared Harris).
Ventos de Agosto
TVCine Edition, 22h
Um pesquisador de som chega a
uma pequena vila piscatória
brasileira. A presença deste
homem vai alterar as vidas dos
habitantes locais, especialmente a
de Shirley, uma jovem que
trabalha numa plantação de
cocos, e de Jeison, o namorado
dela. Um Ælme dramático
realizado por Gabriel Mascaro,
que também o co-escreve (com
Rachel Daisy Ellis) e protagoniza.
O elenco conta também com
Geová Manoel Dos Santos e Maria
Salvino Dos Santos.
Eva
RTP1, 2h01
22.20 É ou Não É? - O Grande Debate
0.00 As Américas Antes de Colombo
0.58 Noites do Euro 2.01 Eva 4.06
Europa Minha
SIC
6.00 Edição da Manhã 8.35 Alô
Portugal 10.10 Casa Feliz 13.00
Primeiro Jornal 15.00 Portugal Joga na
SIC
6.50 Futebol: Euro 2020 - Hungria x
16.50
Portugal
19.05 Especial Euro 2020
22.53 The Blacklist 23.45 The Good
Doctor 2.09 The Blacklist
22.51 Nada Será Como Dante 23.22
Sara Baras - Todas as Vozes 0.56 The
Highschool of the Dead - A Escola dos FOX
Mortos 1.21 Eurodeputados 1.50 E2 - 17.19 Investigação Criminal: Los Angeles
Escola Superior de Comunicação 18.52 Chicago P.D. 20.32 Hawai Força
Social 2.20 Sociedade Civil 3.24 Especial 22.15 Batalha do Pacífico 0.46
Euronews Batalha do Pacífico: A Revolta 2.32
Investigação Criminal: Los Angeles
DISNEY CHANNEL
TVI
17.15 Lab Rats 18.25 Gravity Falls 19.15
6.05 Curious George 6.30 Diário da Os Green na Cidade Grande 20.00 Casa
Manhã 7.00 Esta Manhã 10.00 Dois às da Coruja 20.25 Lab Rats 21.10
10 13.00 Jornal da Uma 14.50A Única Miraculous - As Aventuras de Ladybug
Mulher 16.15 Goucha 18.15 Ver p’ra
Crer
DISCOVERY
17.05 Os Últimos Habitantes do Alasca
19.05
19 Cristina ComVida 19.05 Aventura à Flor da Pele 20.00
Expedition Deep Ocean 21.00 Gigantes
do Oceano 22.55 Aventura à Flor da
19.57
19 Jornal das 8 Pele 0.40 Gigantes do Oceano 2.15 A
História do Universo
21.50
21 Festa É Festa
HISTÓRIA
17.28 O Ouro Perdido da II Guerra
Mundial 18.46 A Maldição de Oak Island
DOCUMENTÁRIOS
Sara Baras — Todas as Vozes
RTP2, 23h22
A digressão de Voces, espectáculo
criado por Sara Baras para
enaltecer o espírito pioneiro e
revolucionário de artistas que
desbravaram novos caminhos
para o Çamenco, oferece o palco à
descoberta das motivações e do
processo criativo da premiada
bailaora e coreógrafa espanhola.
As Américas Antes de Colombo
RTP1, 00h00
Estreia. O ano é 1491. Cristóvão
Colombo ainda não chegou às
Américas. Como é este mundo
que está prestes a ser chamado de
“novo” pelos europeus? Que
civilizações ali vivem? E que
embate se perÆla no horizonte?
São questões que o documentário
de Cristina Trebi levanta e a que
procura responder, numa
combinação de entrevistas a
peritos, reconstituições e
recriações dramatizadas.

Director’s cut de uma obra maior
de Joseph Losey, nomeada para o
Leão de Ouro em Veneza, em
1962. É precisamente esta cidade
italiana (e também Roma) que
serve de cenário ao Ælme, onde é
narrada uma história de
dominação em que um romancista
galês é eroticamente controlado
por uma mulher francesa. Eva
adapta ao cinema o livro escrito,
em 1945, por James Hadley Chase,
e tem Jeanne Moreau e Stanley
Baker nos papéis principais.
19.57 Jornal da Noite
21.55 Amor Amor 22.35 A Serra 23.25
Quem Quer Namorar com a
Agricultora? 23.40 Tempo de Amar
0.20 Quem Quer Namorar com o
Agricultor? - Diário 1.00 Golpe de
Sorte - Edição Especial 2.00
Passadeira Vermelha 2.55 Linha
Aberta com Hernâni Carvalho
20.50 Forjado no Fogo 1.09 Na Linha da
Frente 2.54 À Caça de Hitler
22.25 Bem Me Quer ODISSEIA
17.48 Os Melhores Amigos dos Cães
18.34 Resgate na Praia 19.18 A Batalha
23.10 Amar Demais Pela Lua: Do Sputnik ao Apolo 20.12
Mach 2: a Potência Supersónica do
Concorde 21.03 Power 21.54 Guerreiros
0.00 Mulheres 1.10 Diário do Euro 1.25 do Ar 22.46 O Extraordinário Boeing 787
Chicago Fire 3.05 Doce Tentação 23.40 Power 0.31 Guerreiros do Ar 1.24
3.20 Fascínios O Extraordinário Boeing 787
CULINÁRIA
Simplesmente Caseiro
24Kitchen, 16h
Estreia, com episódio duplo.
Trufas de queijo de cabra, pain
d’epi, um bolo graêti e outras
delícias para fazer e partilhar em
casa — eis a ementa do programa
conduzido por Lorraine Pascale,
ex-modelo inglesa tornada chef
televisiva e autora de best-sellers
sobre culinária.
 38 • Público • Terça-feira, 15 de Junho de 2021
Uma parceria
com André Correia
e Daniel Guedelha PODCASTS Guia

Meteorologia
PORTUGAL PRÓXIMOS DIAS LISBOA
Viana do Castelo Quarta-feira, 16 Quinta-feira, 17 Sexta-feira, 18
Bragança
18 º
24º
32º
17º 22º 14º 21º 13º 20º
Braga 15º
30 º Índice UV Médio Índice UV Médio Índice UV Extremo
18 º Vila Real
16º Porto Vento Fraco Vento Fraco Vento Fraco
1,2m
31º Humidade 78% Humidade 74% Humidade 65%
23 º 16º
17º

Viseu
Guarda
MEDIDOR DE CO2 QUALIDADE DO AR
Um podcast onde Aveiro
15 º
23º 16º
28 º
14º
31º Mauna Loa, Havai
Partes por milhão
Portugal

os temas do digital Coimbra

(ppm) na atmosfera
Valores por semana
Porto Muito
Bom
e da saúde se cruzam 17º
32º
Castelo Branco
Semana de 6 Jun. 419,47
Coimbra Bom

para criar um espaço Leiria 17º

34 º
Semana de 30 Mai.
Há um ano
419,55
416,54
Lisboa Médio

de debate aberto 16º

26º
Há dez anos

Nível de segurança
393,69

350
Évora Fraco

e inovador Santarém
Portalegre
Nível pré-industrial 280
Faro Mau

34 º
16º 33º
15º SOL LUA
Lisboa 18 Jun. 03h54
29 º 24 Jun. 18h40
16º Évora
Setúbal 32º
15º 01 Jul. 21h11
29º Nascente Poente Nascente Poente
16º
06h11 21h03 10 Jul. 01h17 10h35 01h04*
*de amanhã

Sines Beja EUROPA

23º 33º Estocolmo
Helsínquia
17º 15 º Oslo
17º Talín

1,5m Riga
Copenhaga

Vílnius
Dublin Berlim
Amesterdão
Londres Varsóvia
Sagres 23º
18º Bruxelas
22º Faro Praga
18º Paris
Viena Budapeste
19º Genebra
0,5m
Açores Milão

Corvo Roma
Istambul
Madrid
Flores Lisboa
Graciosa 20º
23º Atenas
20º 1,2m
São Jorge 24º
20º 19º
1,0m
Faial
Terceira TEMPERATURAS ºC
Pico
23º São Miguel
Min. Máx. Min. Máx.
20º 18º Amesterdão 14 23 Roma 17 28
1,2m Atenas 17 23 Viena 13 27
Ponta Delgada
Berlim 12 22 Bissau 26 31
Sta Maria Bruxelas 15 25 Buenos Aires 6 13
Madeira Bucareste 15 20 Cairo 21 33
Porto Santo Budapeste 14 25 Caracas 20 26
Copenhaga 10 19 Cid. do Cabo 13 18
Como ouvir e subscrever os podcasts do Público: 21º
Madeira
18º
22º
18º
22º 21º Dublin 12 22 Cid. do México 13 20
1,0m 0,5m Estocolmo 10 21 Díli 22 30
1 | Abra a sua app de podcasts Frankfurt 17 29 Hong Kong 28 34
IOS: App pré-instalada com o nome Podcasts; Funchal Genebra 17 30 Jerusalém 16 24
Android: Descarregue uma app na Playstore;
Istambul 17 21 Los Angeles 22 37
Computador: No site em publico.pt/podcasts
2 | Procure por “Público” ou pelo programa que quer ouvir (ex.: P24)
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev 17 26 Luanda 21 28
Londres 15 25 Nova Deli 25 36
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 20 35 Nova Iorque 17 26
3 | Subscreva para ouvir em primeira mão os novos episódios
06h52 2,8 06h27 2,9 06h29 2,8 Milão 13 23 Pequim 21 32
12h47 1,1 12h20 1,2 12h11 1,1 Moscovo 17 27 Praia 22 29
Disponível no
Oslo 8 19 Rio de Janeiro 16 24
19h07 3,1 18h44 3,1 18h50 3,0 Paris 18 30 Riga 12 22
01h30* 1,0 01h05* 1,2 00h53* 1,1 Praga 15 26 Singapura 26 31
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
 No Público
estamos todos
convocados
Notícias e crónicas, reportagens e resultados, um quizz
que põe à prova a memória dos leitores. Mas também apostas
e lugares reservados em restaurantes de norte a sul do país
publico.pt/euro2020

CRÓNICAS
Todos os dias um olhar diferente. Textos de Teresa de Sousa,
Jorge Almeida Fernandes, João Ruela Ribeiro (Mundo),
Vítor Belanciano (Cultura), Luciano Alvarez (Política),
Rita Ferreira (Sociedade), Cristiana Moreira (Local)
e Sérgio Gomes (P2), entre outros

APOSTAS
Tente acertar no resultado dos jogos de
Portugal e ganhe prémios. Pode receber até
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CLUBE
Assista com os seus amigos aos jogos de Portugal
na BancadaP, um lugar reservado em cada
restaurante parceiro com vista privilegiada
publico.pt/clubep PATROCÍNIO
Terça-feira, 15 de Junho de 2021

A cada nova edição,

O seu jornal
a redacção muda de
não acaba aqui.
Continue para cidade para capturar
publico.pt a essência desse
novo destino

AS CIDADES TAMBÉM TÊM ALMA. E AGORA TÊM UMA REVISTA PARA A MOSTRAR

As manipulações do grande educador Pacheco Pereira

RUI GAUDÊNCIO
e comunismo eram igualmente
O respeitinho criminosos, cf. pp. 130-131);
não é bonito revoltado da troika a partir de 2011
(Crónicas dos Dias do Lixo);
combatente do “neoliberalismo”
desde então.
É pouco prudente Pacheco
aconselhar outros a lerem livros
grandes revistas, as grandes
polémicas, os grandes debates,
“como aconteceu com Sérgio,
Caraça, Salazar e outros”.
Pergunto: será que Pacheco Pereira
estava a branquear o Estado Novo
com o elogio à pujança intelectual
daquela época? Segundo os seus

N
João Miguel Tavares
o último sábado,
Pacheco Pereira
escreveu um texto
muito revelador
chamado “Estudem,
que vos faz falta”,
onde assume o papel de velho
sábio da Marmeleira, enviando-me
a mim e a Nuno Palma de volta
para os bancos da escola.
Infelizmente, para interpretar
convenientemente o papel de
velho sábio que distribui conselhos
aos mais jovens, Pacheco Pereira
precisaria de uma coerência
intelectual que nunca teve. A
ignorância alheia e a falta de
memória, contra a qual tanto
resmunga, só o beneÆciam: se as
pessoas realmente se lembrassem
de tudo aquilo que ele já escreveu e
defendeu ao longo de 50 anos,
seria impossível continuar a
fazer-se passar por grande farol da
lucidez lusitana.
Pacheco foi marxista em 1971
(bibliograÆa recomendada: As
Lutas Operárias contra a Carestia de
Vida em Portugal ou Questões sobre
o Movimento Operário Português e a
Revolução Russa de 1917); maoísta
em 1975 (Sem Independência
Nacional, Um Povo Nada Terá); de
esquerda moderada no início dos
anos 1980 (1984 — A Esquerda Face
ao Totalitarismo); soarista em 1986;
social-democrata em 1987;
cavaquista durante os anos 1990 (O
Nome e a Coisa — Textos dos Anos 80
e 90: “A prazo, o cavaquismo será
uma idade de ouro”, p. 28); de
direita muito liberal no início dos
anos 2000 (Vai Pensamento,
quando ainda achava que fascismo
antes de ele próprio ler o que
andou a escrever ao longo da vida.
Esta polémica começou quando
Nuno Palma aÆrmou que o Estado
Novo foi eÆcaz no combate ao
analfabetismo e fez Portugal
convergir com a Europa em PIB per
capita. Palma disse várias vezes
que o regime salazarista era
indefensável, mas Pacheco
classiÆcou tais “prevenções” como
“mera retórica”. É signiÆcativo que
alguém que anda sempre com
Orwell na boca depois não tenha
qualquer pudor em manipular
palavras, corrompendo a regra
mais elementar de um debate
É pouco prudente honesto: escutar o outro de boa-fé.
Em 2000, Pacheco Pereira
Pacheco publicou neste jornal um artigo
aconselhar outros chamado “Um país sem vida
intelectual”. O texto está também
a lerem livros em Vai Pensamento, livro cheio de
antes de ele pensamentos que foram e não mais
voltaram. Nesse artigo, Pacheco
próprio ler o que elogia a vida intelectual portuguesa
andou a escrever no tempo do Estado Novo e
pergunta, choroso, onde estão
ao longo da vida agora os grandes intelectuais, as
critérios, sim.
Num debate intelectualmente
honesto, o João diz A, o José diz B, e
o João e o José discutem sobre A e
sobre B. Num debate
intelectualmente desonesto, o João
diz A, o José diz que o João disse C,
o João explica que disse A e não C,
o José ignora o João e continua a
discutir C. Este tem sido o padrão
de desonestidade em todas as
discussões sobre o Estado Novo
nos últimos anos. Aconteceu com
Rui Ramos e Manuel Loè. Com
Duncan Simpson e Irene Pimentel.
Com Nuno Palma e Pacheco
Pereira. Não são acasos — são
métodos de silenciamento de
opiniões divergentes e de
protecção de coutada. Pacheco
tem saudades dos tempos em que
se conseguia debater? Tem bom
remédio: abandone de vez o vício
do paternalismo, da empáÆa e das
manipulações. Bem falta lhe fazia.
Jornalista
jmtavares@outlook.com

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