Abrir portas onde

de se erguem muros
muro
os Director: Da
David Pontes Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • Ano XXXIV • n.º 12.096 • Diário • Ed. Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,50€

Op
Opinião Professores
Cartazes “racistas” com António
Lí
Lídia Jorge Costa: há uma “degradação
do discurso público”
e o futuro das Sociedade, 16/17
fe
feiras do livro Amazónia
n
num mundo Como é que quatro crianças
sobrevivem mais de um mês
digital com frutas e farinhas?
Cultura, 29 Ciência, 30

Governo propõe
GETTY IMAGES

mais 228 euros

de salário
para atrair
informáticos
para o Estado
Salário à entrada será de 1754€ brutos.
É pouco, dizem sindicatos Economia, 24

Estados Unidos Guerra na Ucrânia

Trump arrisca Kiev reclama
prisão sem avanços
passar de novo no início da
pela Casa Branca contra-ofensiva
Mundo, 20 Mundo, 22/23

Educação Futebol

1936-2023 75% dos alunos Minho em alta,

do secundário Lisboa reforçada
SILVIO com tutores
passaram de ano
e ilhas desertas
na Liga 2023-24
BERLUSCONI Sociedade, 12 Desporto, 36

O vendedor
de sonhos que
encantou Itália
Destaque, 2 a 5 e Editorial

ISNN-0872-1548
2 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023

Destaque Silvio Berlusconi (1936-2023)

ALESSANDRA BENEDETTI/GETTY IMAGES

Obituário

Sofia Lorena

C
apaz de se reinventar
vezes sem conta — “Silvio
Berlusconi demonstra ser
politicamente imortal”,
escreveu em 2017 o
analista Stefano Folli no
jornal La Repubblica —, ocupou o
centro da vida italiana ao longo de
mais de quatro décadas e subiu ao
palco político em 1993 para nunca
mais descer. Morreu ontem, aos
86 anos, no hospital San Raèaele,
em Milão, dois meses depois de
lhe ter sido diagnosticada uma
leucemia crónica.
Fenómeno de vanguarda, o seu
percurso foi deixando pistas para
as tendências que marcaram a
política dos últimos anos em
muitas partes do mundo. A
berlusconização da política
continua. Paradoxalmente, não
teve herdeiros políticos directos e
enterrou ele próprio o
berlusconismo, para lhe sobreviver.
Inventor da coligação de
extrema-direita e direita
actualmente no poder, foi
Berlusconi a tornar mainstream os
neofascistas da Aliança Nacional
(que nasce do Movimento Social
Italiano, criado por ex-membros do
regime fascista), que o seu partido
haveria de engolir, e o populismo
xenófobo da Liga. Não é possível
sabê-lo com certeza, mas sem
Berlusconi talvez não houvesse
Giorgia Meloni nem o seu Irmãos
de Itália, o partido fundado pelos
que não quiseram ver morrer a
Aliança Nacional. Foi ele a ver
potencial na jovem dirigente, que
convidou para ministra da
Juventude, com 32 anos, em 2008.
Líder da direita durante décadas,
foi primeiro ultrapassado por Matteo

O vendedor
Salvini (Liga) e depois por Meloni.
Deixa um partido, Força Itália, sem
liderança óbvia e sem sobrevivência
garantida. Por um lado, facilita a vida
a Meloni, que agora só tem de
controlar Salvini (sem se preocupar

de sonhos que
com o sempre desconcertante
Berlusconi), por outro, as incertezas
sobre o futuro do seu partido fazem
temer alguma instabilidade que a
primeira-ministra gostaria de evitar.
“Criatura (e criador) do mundo

encantou Itália
pós-moderno, onde não importa o
que aconteceu, mas o que toda a
gente pensa que aconteceu”,
Berlusconi é um homem “da
época dos mass media, em que só
contam o imaginário e a
percepção”, sentenciou Alexander
Stille no livro The Sack of Rome
(Citizen Berlusconi, na versão
Silvio Berlusconi 1936-2023 O mais importante
italiana), em 2006. e controverso político italiano das últimas três
Há 15 anos, já o ítalo-americano
que é professor de Jornalismo em décadas foi igual a si mesmo até ao Äm. Três vezes
Nova Iorque dava conta da vitória
“em muitas democracias
primeiro-ministro, enfrentou 36 processos judiciais
avançadas” de uma fórmula

inventada pelo italiano: “dinheiro +
meios de comunicação +
celebridade = poder político”.
Foi “o italiano que inventou o
populismo”, como escreveu ontem
no jornal La Repubblica Enzo
Mauro, e foi “o homem que seduziu
um país inteiro”, na descrição do
Politico; aquele que “introduziu o
sexo e o glamour na televisão
italiana, levando a mesma fórmula
para a política”, nas palavras do
diário norte-americano The New
York Times.
Televisão e máÄa
Nascido a 29 de Setembro de 1936
na pequena burguesia de Milão,
Berlusconi estudou Jurisprudência
e licenciou-se em Direito Comercial
com uma tese sobre publicidade.
Antes de terminar o curso e se
lançar nos negócios, foi animador e
cantor em cruzeiros e chegou a
vender aspiradores porta a porta.
Já trabalhava como agente
imobiliário quando fundou a
primeira empresa do ramo, em
1961. Começou a enriquecer com
projectos de condomínios,
cidades-modelo em subúrbios de
luxo, casas que ofereciam à classe
média um novo estilo de vida.
Em 1975, funda a Fininsvest, que
viria a centralizar o seu império e a
controlar todas as suas
participações em empresas de
construção, televisão, imprensa,
edição, Ænanças, publicidade,
futebol… Da venda de sonhos na
forma de casas partiu para a
constituição de um grupo de canais
de televisão privado. Liberalizou a
publicidade e depois transformou a
televisão. Chegou a ser o homem
mais rico de Itália: era agora o
terceiro e, segundo a revista Forbes,
dono da 352.ª maior fortuna do
mundo, avaliada em mais de seis
mil milhões de euros.
Graças a conceitos como Striscia
la Notizia, uma sátira aos
noticiários que está no ar há mais
de 30 anos, as mulheres seminuas,
conhecidas como veline,
tornaram-se omnipresentes em
todo o tipo de programas e em
todos os canais. Para muitas
jovens, ser veline substituiu a
ambição de ser professora ou
advogada. “Em Itália, todos os
produtos se vendem através do
corpo da mulher, na televisão e na
publicidade. Aqui, os noticiários
apresentam um homem de fato e
gravata e uma mulher seminua. As
multinacionais têm uma
publicidade para o resto do mundo
e outra para Itália...”, dizia-nos em
2013 Laura Boldrini, ex-porta-voz
do Alto Comissariado da ONU para
os Refugiados, eleita nesse ano
para a Câmara de Deputados.
Em 2011, rebenta o escândalo
Rubygate, e as festas “Bunga-Bunga”,
organizadas pelo magnata na sua
casa em Arcore, Milão, entravam no
vocabulário do país. Berlusconi
chegou a ser condenado a sete anos
de prisão, acusado de abuso de
poder, incitamento à prostituição e
sexo com uma menor. Foi ilibado
em recurso. Ler uma lista das
acusações de que já foi alvo
demora: muitas de fraude Æscal,
lavagem de dinheiro, corrupção
activa e passiva, abuso de poder,
perjúrio, difamação, extorsão,
também por lá se encontram
acordos com a máÆa — a ligação foi
longa e frutífera e é nos seus laços à
Cosa Nostra que se encontra a
origem da sua fortuna. À frente da
maioria destas acusações aparece a
palavra “prescreveu”. Ao todo, 36
processos, apenas uma
condenação deÆnitiva e nem um
dia na prisão.
Vinte anos antes, no Æm de 1993,
Berlusconi fundara o Força Itália, o
seu partido-empresa, estruturado
à imagem da Fininvest e com
alguma inspiração nas claques da
selecção e do seu AC Milan, clube
que salvou da bancarrota em 2017
vendendo-o a um consórcio de
investimento chinês.
Um dos seus maiores dons de
sempre foi ver uma oportunidade e
não a deixar escapar. Entre 1992 e
1993, uma revolução contra a
corrupção fez desaparecer o
sistema partidário vigente desde
1948 (a Tangentopoli). Foi o enorme
vazio deixado à direita pela
democracia-cristã estilhaçada que
Com ele lutámos,
ganhámos,
perdemos
muitas batalhas.
E também por
ele vamos cumprir
os objectivos a que
nos propusemos
juntos
Giorgia Meloni
Primeira-ministra de Itália
Berlusconi decidiu ocupar.
“Decidi entrar na vida pública
porque não quero viver num país
não liberal, governado por pessoas
que já falharam política e
economicamente no passado”,
anuncia, no Æm de 1993, numa
comunicação que fez transmitir em
todos os seus canais. A 27 de Março
de 1994, vencia as primeiras
eleições e chegava a
primeiro-ministro.
Mito do empreendedor
Na verdade, como acabaria por
admitir, entrou na política quando
a Justiça o começou a investigar,
por delitos Æscais, corrupção e
suborno de um juiz. Travou uma
luta diária contra os magistrados,
ao mesmo tempo que fazia
aprovar as chamadas leggi ad
personam, para o salvar dos seus
conÇitos de interesses e dos
processos em que era acusado.
A apologia do “país real” foi a
chave do seu êxito. Isso e a sua
capacidade para interpretar o
mito do empreendedor do Norte
que se fez a si mesmo, como
aÆrmou tantas vezes. Quando
votavam nele, os italianos
escolhiam essa promessa de
sucesso que assim se tornava
possível para todos.
Nunca mais esteve afastado da
política. Três vezes
primeiro-ministro, de 1994 a 1995,
entre 2001 e 2006 e de 2008 a
2011, foi membro da Câmara dos
Deputados entre 1994 e 2013, com
excepção de uma pequena
passagem pelo Parlamento
Europeu, de 1999 a 2001. Eleito
para o Senado em 2013, acabaria
por ser expulso meses depois,
quando se tornou claro que seria
condenado por fuga aos impostos
e proibido de concorrer ou ocupar
cargos públicos.
Foi quase tudo e o seu contrário:
afastado do poder por pressão da
União Europeia no Æm de 2011, em
plena crise Ænanceira, sete anos
depois, na campanha para as
legislativas de 2018, já era visto
por Bruxelas como garante de
estabilidade e de respeitabilidade.
Em 2022, quando Meloni se
tornou a primeira mulher a cheÆar
um governo em Itália, o mais à
direita desde a Segunda Guerra, foi
nele e no seu partido que a direita
europeia voltou a conÆar para
impor limites à extrema-direita. Só
que Bersluconi nunca deixou de
ter um dom para declarações
despropositadas, acabando por se
envolver numa polémica por causa
de sucessivos elogios a Vladimir
Putin — e o apoio incondicional à
Ucrânia por parte de Meloni é o
aspecto da sua política que mais
agrada a Bruxelas.
Entretanto, voltara a estar no
seu elemento durante a campanha
de Setembro, mostrando que não
perdera qualidades e que  nistro britânico, também deixou a
Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 3
Reacções
Morte de Berlusconi:
“Fecha-se uma época”
Sofia Neves e Teresa Serafim
V
iktor Orbán lamentou a
morte de um “grande luta-
dor”. Vladimir Putin disse
que “Silvio era uma pessoa
querida, um verdadeiro
amigo”. Ursula von der
Leyen assumiu a sua “tristeza” com
a partida do político que “liderou a
Itália num período de transição polí-
tica”. Tony Blair descreveu-o como
“uma Ægura de grande dimensão”.
Matteo Salvini chamou-lhe “um
grande homem e um grande italia-
no”. Estas são algumas das reacções
à morte de Silvio Berlusconi.
O ministro da Defesa da Itália, Gui-
do Crosetto, foi um dos primeiros a
reagir, escrevendo no Twitter que Putin enalteceu “pessoa
“deixa um vazio enorme porque era querida, um verdadeiro amigo”
um bom homem”. “Uma era acabou,
uma era está a encerrar-se. Eu amava- sua mensagem: “Era uma Ægura de
o muito. Adeus, Silvio”, escreveu grande dimensão. Sei que foi contro-
Crosetto, que pertenceu ao Força Itá- verso durante muitos anos, mas,
lia durante mais de uma década. para mim, era um líder que conside-
O vice-primeiro-ministro, Matteo rava capaz, astuto e, ainda mais
Salvini, lamentou a morte de Berlus- importante, Æel à sua palavra.”
coni, descrevendo-o como “um gran- O AC Milan, clube de futebol que
de homem e um grande italiano”. foi dirigido por Berlusconi, divulgou
“Estou abalado e raramente choro, uma nota de pesar em que agradeceu
hoje é um desses dias”, acrescentou. o papel do político. “Sempre connos-
“Combatente” e “um dos homens co”, termina a mensagem publicada
mais inÇuentes da história de Itália”, nas redes sociais. Também o AC Mon-
foi assim que a primeira-ministra, za, clube presidido por Berlusconi
Giorgia Meloni, o lembrou: “Com ele, desde Setembro de 2018, lamentou a
a Itália aprendeu que nunca se devia
impor limites. Aprendeu que nunca
morte do antigo primeiro-ministro.
“Um vazio que nunca poderá ser
se devia dar por vencida”, aÆrmou.
“Com ele lutámos, ganhámos, perde-
preenchido, para sempre connosco.
Obrigado por tudo, Presidente.”
mos muitas batalhas. E também por Numa mensagem enviada à Ælha
ele vamos cumprir os objectivos a que
nos propusemos juntos.”
mais velha de Berlusconi, Marina, o
Papa Francisco assegurou a sua
Tanto aliados como adversários
políticos referem-se ao homem como
“profunda participação no luto pela
perda de um protagonista da vida
um “protagonista” incontornável.
“Com a morte de Silvio Berlusconi,
política italiana, que assumiu res-
ponsabilidades públicas com um
fecha-se uma época. Tudo nos dividiu temperamento enérgico”.
e nos divide em relação à sua visão
política, mas mantém-se o respeito
O ministro dos Negócios Estrangei-
ros italiano e seu amigo de longa data,
que humanamente se deve àquele
que foi um protagonista na história
Antonio Tajani, partilhou no Twitter
uma fotograÆa dos dois no início da
do nosso país”, lê-se na nota divulga- carreira. “Um sofrimento imenso.
da pela líder do principal partido da Simplesmente, obrigado, Presidente,
oposição, o Partido Democrático obrigado, Silvio”, escreveu.
(centro-esquerda), Elly Schlein. Carlo Nordio, ministro da Justiça de
O primeiro-ministro húngaro, Itália, referiu estar perante “o Æm de
Viktor Orbán, também lamentou a uma era na história italiana”, em que
morte de um “grande lutador”. O Berlusconi era “um protagonista
Presidente russo Vladimir Putin disse incontestado na vida do país”, disse
que “Silvio era uma pessoa querida; num comunicado.
um verdadeiro amigo”. “Irei sempre E o ex-primeiro-ministro de Itália
admirar com sinceridade a sua sabe- Massimo D’Alema disse que Berlusco-
doria, a sua capacidade para estabe- ni teve uma “contribuição indisputá-
lecer equilíbrios e decisões com o vel” ao criar um novo bloco conser-
futuro em vista, mesmo nas situações vador em Itália “ligado ao sistema
mais difíceis”, aÆrmou. europeu democrático”. Ambos foram
Tony Blair, o antigo primeiro-mi- oposição “a um nível político” num
“difícil conÇito”.
4 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023
Destaque Silvio Berlusconi (1936-2023)
continuava a adaptar-se com
facilidade, alcançando um enorme
sucesso com os seus vídeos no
TikTok e garantindo ao Força Itália
um resultado melhor do que as
sondagens tinham antecipado.
Promessas impossíveis
Só não foi eleito quando não pôde
ser, nos cinco anos que durou a
inabilitação, mas nem por isso
deixou de manobrar, de fazer
política a partir de casa, de
arbitrar. Perdeu relevância para os
aliados-rivais, mas nunca passaram
muitos meses sem que a imprensa
italiana lhe anunciasse um novo
regresso à política que conta.
A inabilitação acabou em Maio
de 2018, a tempo de se tornar, no
ano seguinte, o mais velho membro
do Parlamento Europeu. Eleito
senador, depois das eleições de
2022 ainda se esperou que pudesse
vir a presidir ao Senado. Não foi
escolhido, mas divertiu-se a
manobrar para tentar boicotar a
eleição do presidente desejado por
Meloni. Meses antes, desistira de
tentar ser eleito Presidente da
República (escolhido pelos
deputados), cargo que sempre
desejou, evitando, assim, a derrota.
Na despedida, Salvini disse ter
chorado com o desaparecimento
de “um grande homem e um
grande italiano”, Meloni lembrou
um “combatente” e “um dos
homens mais inÇuentes da
história de Itália”: “com ele, a
Itália aprendeu que nunca se
deveria impor limites. Aprendeu
que nunca se devia dar por
vencida”, sublinhou. “Fecha-se
uma época”, escreveu a líder da
oposição italiana e do
centro-esquerda, Elly Schlein.
Foi sempre o candidato das
promessas impossíveis
apresentadas como
absolutamente exequíveis — da
construção de uma ponte a ligar a
Itália continental à Sicília, no
estreito de Messina, na sua
primeira campanha, no Æm de
1993, ao aumento da esperança
média de vida até aos 100 anos,
durante a campanha de 2008.
Com uma vitalidade natural e
uma extraordinária capacidade de
autoconvencimento, encorajava
os funcionários a começar o dia
diante do espelho e “adorar-se,
adorar-se”. Foi o melhor a fazer
funcionar a sua fórmula, a ponto
de tornar qualquer verdade, a sua,
numa verdade absoluta.
Como escreveu Stille, sempre
se apoiou numa qualidade
preciosa, a de parecer
“sinceramente convicto de que
não existe problema que não
possa resolver”. Em Maio,
depois de um longo internamento
com problemas respiratórios,
quando se soube da leucemia,
foi isso que disse aos italianos:
“Voltei a ganhar.”
O político que antecipou o moderno populismo
Análise
Jorge Almeida Fernandes
Silvio Berlusconi dominou a
política italiana nos anos 1990
e na primeira década deste
século e, como talvez nenhum
político, deixou uma marca
indelével na sociedade italiana.
Representou uma era que
agora se encerra. Antecipou
a vaga mundial populista que
hoje varre o mundo.
Mudou a política italiana. Em
que sentido? Resume Enzo Mauro,
director do La Repubblica: “Uma
vocação de direita, paternalista
mas feroz, com um sorriso nos
lábios. Com o objectivo oposto ao
da Democracia Cristã, que
drenava os interesses da direita
devolvendo-os ao centro, o
Cavaliere captava os hábitos
centristas e moderados
da sociedade italiana e
convertia-os à direita,
radicalizando-os.” Fez um pacto
com o povo: “O Estado deixa-vos
livres para regular os vossos
interesses como queiram [em
troca dos vossos votos.]”
Em 1994 criou um partido
baseado na sua holding, a
Fininvest, e ganhou as eleições.
Não era um desconhecido, mas
uma Ægura central da vida pública
italiana desde o Æm dos anos 1970.
Em 1987, a Fininvest já tinha um
pólo televisivo de audiência
nacional que desaÆava a televisão
pública (RAI).
Perdeu o poder em Novembro
de 2011, com a Itália à beira do
colapso Ænanceiro. Depois,
embora condenado por fraude
Æscal e temporariamente expulso
do Senado, não perdeu a
inÇuência. Foi, praticamente até à
morte, uma espécie de kingmaker,
árbitro das coligações
governamentais. Usou sempre a
sua capacidade de “fazer mal”
para garantir a sua segurança e do
seu império.
O termo berlusconismo
antecede a sua “descida à
política”, designando um novo
tipo de empresário
“neomoderno”, que percebe que
os tempos estão a mudar e não
teme desaÆar, ou até devorar, os
velhos magnatas, como Carlo De
Benedetti, a quem consegue
arrancar a parte de leão da
Mondadori, o seu império de
imprensa. Foi simples: subornou
um juiz. Mas quem foi condenado
foi o seu advogado, Cesare Previti.
O mesmo Previti deÆniu assim a
ÆlosoÆa da Fininvest: “Não
fazemos prisioneiros.”
Porquê a entrada na política?
Respondeu ele um dia ao ( já
falecido) jornalista Indro
Montanelli: “Ou eu entrava na
política, ou acabava na cadeia.”
Cedo os juízes, “as togas
vermelhas”, se tornaram o seu
inimigo público.
A sedução dos italianos
Berlusconi foi durante muito
tempo um enigma. A esquerda
começou por atribuir o seu triunfo
à “telecracia”, à manipulação da
opinião pública pelas suas
televisões. Mas, depois da vitória
em 1994 e da sua rápida queda,
Berlusconi regressa e vence
categoricamente em 2001. E, em
2006, dono e senhor das
televisões, volta a perder as
eleições para a coligação de
centro-esquerda de Romano
Prodi. Os intelectuais de esquerda
tiveram de procurar uma
argumentação mais Æna.
“A verdadeira obra de
Berlusconi foi fazer com que a
maioria dos italianos se
identificassem com ele”, escrevia
ontem o jornalista Aldo Cazzulo no
Corriere della Sera. Ele partilhava a
profunda desconÆança pela
política e pelos governos,
conÆrmada pelo desmoronamento
do sistema partidário tradicional
após a Operação Mãos Limpas de
1992 contra a corrupção política. E
partilhava outra coisa mais com
metade dos italianos: o desprezo
pelas regras. E dizia que a
“esquerda só sabe falar em
regras”.
“Outros líderes — obviamente
Mussolini e não só ele — quiseram
mudar os italianos. Berlusconi
gostava dos italianos tal como
são.” De resto, prometia-lhes “o sol
no bolso” e a maioria acreditou
durante alguns anos.
O historiador Giovanni Orsina
tentou explicar o fenómeno no
livro Il Berlusconismo nella Storia
d’Italia, publicado em 2013. Dizia
que seriam necessários muitos
anos “para digerir o
berlusconismo”. Explicou numa
entrevista do mesmo ano: “Durou
muito e mudou no tempo. Usou
vários registos ideológicos e de
comunicação. Era evidente o
carácter populista da liderança
berlusconiana: a ‘santiÆcação’ do
povo italiano, a crítica da política
italiana, o uso da televisão.” E,
como sempre, a bandeira da
“antipolítica”.
O lema da sua campanha em
1994 era “A Itália é o país que
amo”. Devidamente interpretada
quer dizer: “Amo a Itália como ela
é [inclusivamente com os seus
vícios].” Sublinha Orsina: “Desde o
Risorgimento até hoje, nenhum
político de primeiro plano, capaz
de vencer eleições, jamais ousara
dizer de maneira tão aberta e
descarada que os italianos estão
belissimamente tal como são.”
Ninguém como ele
compreendeu a cultura do
clientelismo e da impunidade que
marcam boa parte da Itália. Anotou
há anos o economista Luis
Zingales: “Porque prevalece em
Gostava de estar
sempre no palco, mas
governar aborrecia-o.
A sua herança
governamental
é um imenso vazio
ALESSANDRO BIANCHI/REUTERS
Itália uma cultura de fraude sobre a
cultura de honestidade? Não existe
conÆança sem cultura da
legalidade. E esta falta, sobretudo,
porque em Itália o delito
compensa.”
Note-se que os “bacanais” de
Berlusconi não traumatizaram a
maioria dos italianos. Segundo
uma sondagem de 2010, apenas
22% dos inquiridos se declaravam
“indignados”, a par de 32% que o
criticavam. Mas 16% permaneciam
seus “admiradores” e 25%
mostravam-se “indiferentes”.
Ascensão e queda
O paradoxo de Berlusconi é que
gostava de estar sempre no palco,
era extraordinário nas campanhas,
mas governar aborrecia-o.
A sua herança governamental
é um imenso vazio.
Regressa ao poder em 2008
depois da decomposição e do
suicídio parlamentar do
centro-esquerda. Já não foi um
voto nele mas sobretudo contra a
esquerda. E acabou de forma
dramática com a ameaça do
colapso económico. Perdeu um
voto de conÆança no Parlamento,
enquanto a Bolsa de Milão “ardia”.
Ainda tentou resistir às pressões
do Presidente Giorgio Napolitano
e dos líderes europeus. O seu Ælho
Luigi telefonou-lhe de Londres:
“Papá, se a Itália se desmorona
desmoronam-se também as nossas
empresas.” Não se sabe se foi o
argumento decisivo.
Nas eleições de 2013, perdeu
seis milhões de votos em relação a
2008, mas obteve uma
extraordinária vitória
pós-eleitoral: graças aos erros do
Partido Democrático, tornou-se o
árbitro da estabilidade
governamental. O seu último feito
foi convencer a direita a participar
na maioria de Mario Draghi, para
depois ser ele a provocar a queda
do antigo presidente do Banco
Central Europeu, abrindo o
caminho à actual
primeira-ministra, Giorgia Meloni.
Orsina faz-lhe, no entanto, uma
homenagem. “As suas qualidades
e defeitos são as duas faces da
mesma moeda. A qualidade:
Berlusconi é um fora de série
absoluto, uma personagem
extraordinária e irrepetível. O
defeito: exactamente porque é um
fora de série, os outros só têm
espaço na sua dependência. No
meu livro sustentei que, após
2006, houve um Berlusconi sem
berlusconismo. O que me parece
impossível é que possa haver um
berlusconismo sem Berlusconi.”
Jornalista

Desporto
Berlusconi, sucesso em larga
e pequena escala no futebol
Nuno Sousa
“S
ilvio Berlusconi, para
sempre connosco.”
Foi esta a frase esco-
lhida pelo departa-
mento de comunica-
ção do AC Milan para
assinalar a morte do antigo presiden-
te do clube, aos 86 anos. Um empre-
sário que, entre peripécias e polémi-
cas, resgatou os “rossoneri” da ago-
nia, no Ænal do século passado, para
os elevar ao topo da Europa e que
ostenta o estatuto de dirigente mais
titulado do futebol italiano.
A história começou a ser escrita a
20 de Fevereiro de 1986, quando
Berlusconi, um magnata da comu-
nicação, assumiu um AC Milan per-
to da bancarrota, depois de uma
gestão desastrosa do antecessor,
Giussy Farina. Adepto do clube des-
de criança, por inÇuência do pai,
Luigi, Silvio Berlusconi estava deter-
minado a mudar de paradigma e
fê-lo com pompa e circunstância.
Percebeu-se o que estava em cau-
sa logo no arranque da época 1986-
87, quando cometeu a excentricida-
de de apresentar o plantel… de
helicóptero. No relvado da Arena
Civica (hoje estádio do Brera Calcio,
terceira equipa de Milão), pousaram
vários helicópteros dos quais saíram
os jogadores, para espanto dos cer-
ca de 10 mil adeptos que estavam
nas bancadas e de todo o espectro
do futebol italiano.
A mensagem era clara: “Estamos
aqui para causar impacto.” E causa-
ram. Descontada a ousadia da ope-
ração de marketing, Berlusconi
mostrava ao país (e ao mundo) que,
com ele, o campeonato seria outro.
Ou, como diria, anos mais tarde,
Franco Baresi, um dos esteios do AC
Milan campeão e um dos melhores
centrais da história do “calcio”:
“Percebemos, ali, que a maré tinha
mudado.”
O sucesso não tardou e assentou
em dois alicerces: Adriano Galliani,
director desportivo que sempre
acompanhou Berlusconi e que
dominava o negócio do futebol, e
Arrigo Sacchi, um treinador desco-
nhecido quando o novo presidente
o contratou, que levantou algumas
ondas de resistência, mas que aca-
bou por provar ter sido uma aposta
certeira. Juntos conquistaram nada
menos do que duas Taças dos Cam-
peões Europeus (1988-89 e 1989-90,
numa Ænal diante do BenÆca), uma
Liga italiana, duas Supertaças Euro-
peias, duas Taças Intercontinentais
e uma Supertaça italiana.
Foram tempos de glória, que se
Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 5
Silvio Berlusconi comprou o AC Milan em 1986
estenderam sob a batuta de Fabio
Capello, o treinador que se seguiu.
Capello já tinha passado pelo banco
do AC Milan no Ænal de 1986-87 e
regressava a casa para completar a
missão, em grande estilo. Ganhou
quatro “scudetti” em cinco anos e
chegou por três vezes à Ænal da Taça
dos Campeões Europeus, que con-
quistou novamente em 1994, em
Atenas, com um expressivo 4-0
imposto ao Barcelona.
O sucesso de Ancelotti
Num reinado que durou décadas,
Berlusconi ainda foi a tempo de jun-
tar ao currículo as Ligas dos Cam-
peões de 2003 e 2007, num contex-
to de continuidade que deixou mar-
ca. Ao leme da equipa estava já
Carlo Ancelotti, ele, que havia sido
nuclear, em campo, no AC Milan de
Arrigo Sacchi, ditava agora os cami-
nhos do êxito, batendo a Juventus
(na única Ænal 100% italiana até à
data) e o Liverpool nas Ænais.
Em 2017, quando Ænalmente deci-
diu fechar o ciclo e vender o AC
No arranque
da época 1986-87,
Berlusconi
apresentou
o plantel do AC Milan
de helicóptero.
Dez mil adeptos
assistiram
ORESTIS PANAGIOTOU/EPA
Colecção Pererê: Clássicos do
Milan ao empresário chinês tempo em que éramos moleques
Yonghong Li, Berlusconi tinha um
currículo inigualável em Itália, com
29 troféus, entre os quais se desta-
VOL. 5 - Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato
cam as cinco Taças dos Campeões
Europeus/Ligas dos Campeões e os
A colecção Pererê continua no Sítio do Picapau Amarelo, um lugar
oitos campeonatos ganhos em Itália. imaginado pela Narizinho, a menina travessa que lidera as aventuras
Pela sua carteira de “activos” passa- que aí se passam. Nelas vai encontrando personagens de clássicos
ram também grandes nomes do
futebol mundial, desde Van Basten, infantis que agora ganham uma nova vida. À boleia dos pozinhos
Gullit ou Rijkaard a Ronaldinho, de perlimpimpim, Narizinho salta de brincadeira em brincadeira pelo
passando por Ibrahimovic, Rui Cos-
ta, Baggio, Shevchenko, Papin ou Mundo das Maravilhas. Deixe-se maravilhar com este grande
Boban. Uma verdadeira constelação clássico de Monteiro Lobato.
de talento.
Para traduzir o impacto que o seu
CÇÃO EM CAP
AC Milan causou na Europa, usou,
em 1995, uma frase que fazia jus à
OLE
+17,90 €
forma desconcertante (e controver-
C
AD
sa) como se exprimia. “Esperamos
ter montado uma equipa capaz de
URA
dar espectáculo, porque temos res-
ponsabilidades perante os nossos Sexta - 16 JUN
adeptos e o resto do mundo. Somos COM O PÚBLICO
a coisa mais famosa de Itália, depois
da máÆa e da pizza.”
Após o adeus a San Siro, a verda-
de é que o dirigente não conseguiu
Æcar muito tempo afastado do fute-
bol. Menos de um ano mais tarde,
em Setembro de 2018, comprou o
modesto Monza, então a competir
na Série C, por três milhões de
euros. E sempre na companhia do
inseparável Adriano Galliani, guin-
dou o clube ao primeiro escalão do
futebol italiano, tendo terminado a
COMPRE AQUI
época 2022-23 num interessante 11.º
lugar. O impacto que teve nesta
pequena comuna da Lombardia
retira-se das palavras de homena-
Colecção de 5 livros. PVP unitário vols. 1, 2, 3 e 4: 14 €; PVP vol. 5: 17,90 €. Preço total
colecção: 73,90 €. Periodicidade semanal à sexta-feira, entre 19 de Maio e 16 de
gem agora publicadas pelo clube:
“Um vazio que nunca poderá ser
Junho 2023. Stock limitado.
preenchido.”
6 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023

Espaço público

A herança de Berlusconi

Q
uando, em 1993, Silvio
Editorial Berlusconi irrompeu no
palco político, numa Itália
cujo combate à corrupção
tinha feito implodir o
sistema partidário do pós-guerra,
muitos devem ter achado que ele era
David Pontes um fenómeno irrepetível e
provavelmente de curta duração.
Hoje sabemos bem que não foi nem
uma coisa, nem outra.
Afinal, quantas vidas é preciso
viver para se ser muitíssimo rico,
magnata dos media, protagonista da
paixão que é o futebol, uma
celebridade com grandes facilidades
de comunicação e ainda ter vontade
de fundar um partido, a Força Itália,
Sabemos hoje que ele foi e concorrer ao mais importante lugar
só um precursor de uma político do seu país? Berlusconi teve
fórmula de sucesso que isso tudo numa vida e, alavancado
alia o carisma de um por essa imagem, conseguiu pôr-se
no centro da vida política italiana
populista sem vergonha durante muitos anos.
ao aproveitamento Sabemos hoje que ele foi só um
dos mass media precursor de uma fórmula de sucesso
na política que alia o carisma de um
populista sem vergonha ao
aproveitamento dos mass media —
onde antes se lia televisão,
multiplique-se e leia-se redes sociais
— num tempo em que é possível fazer
passar por realidade o que é só
percepção e em que a verdade é
muito menos importante do que
aquilo que cada um acredita que ela
é. Donald Trump será o epítome
deste modelo, mas outros, com as
suas carreiras na televisão e as suas
ligações ao futebol, servem-se das
mesmas ferramentas para lá tentar
chegar.
Poucos terão é a sua habilidade
para se reinventar, conseguindo
que a mesma Europa respeitável,
que se uniu para lhe exigir a
demissão, anos mais tarde olhasse
para ele como o homem capaz de
moderar o populismo de direita.
Isso não é replicável e está
intrinsecamente ligado ao sistema
político italiano e à Ægura que agora
desapareceu de cena.
Mais inquietante é o que
permanece e que até tem crescido
nos últimos anos e que, conforme
lembrava Jorge Almeida Fernandes
em 2018, aqueles que o combateram
e os seus seguidores têm muita
diÆculdade em entender. É que
Berlusconi não era só um modelo de
sucesso a perseguir, mas alguém que,
com o seu desaforo, a sua capacidade
de se mostrar contra o sistema, de
tanto enaltecer defeitos como
qualidades, dizia aos seus eleitores
que não havia razão para embaraço
num mundo em que se sentem
perdidos. Os seus eleitores podiam
ser porcos, feios e maus, mesmo
deploráveis, que havia alguém que
não tinha vergonha deles. É essa
capacidade de gerar pertença para
largas faixas de um eleitorado que se
sente abandonado que permanece
como um desaÆo para os que
querem democracias menos sujeitas
à turbulência dos populistas.

CARTAS AO DIRECTOR
Partidarização de lutas?
Os cartazes com caricaturas de
suíno contra o primeiro-ministro
usados em manifestações de
professores no Peso da Régua, em
pleno 10 de Junho, revelam bem
até que ponto se pode chegar na
partidarização de formas de
protesto. Ninguém põe em causa as
lutas dos professores e os
problemas que os preocupam, que
aliás não são de agora. Contudo,
misturar o que deveriam ser justas
lutas com exageros de mau gosto e
de falta de educação, digamos que
não é uma solução que se possa
aceitar. Os sindicatos alegam que
foi tudo feito à sua revelia, mas,
partindo do princípio de que as
manifestações obedecem a uma
organização, estranha-se porque
nada foi feito para pôr cobro a
essas referências desprimorosas
em cartazes, que os deveriam
envergonhar, por assim serem
manchados os propósitos de lutas
que advogam. Claro que os
sindicatos tinham de vir a público,
nem que seja para sacudirem a
água do capote, mas as
justiÆcações não colhem, nem
retiram a convicção de que, por
detrás das situações e das palavras
de ordem invocadas, pode haver
outros interesses de agenda
política de partidos a agirem pela
calada. Resta saber se metidos, ou
somente tolerados, no interior
desses mesmos sindicatos...
Eduardo Fidalgo,
Linda-a-Velha
Haja decência...
Com a entrada do Stop no clube
dos sindicatos dos professores, as
greves tornaram-se permanentes e
transformaram-se em festas
populares, exalando um agressivo
perfume de radicalismo
marxista-leninista autista,
indignas da classe que pretendem
representar. O último atropelo à
decência humana ocorreu no dia
10 de Junho com professores
perseguindo o primeiro-ministro,
a esposa, o ministro da Educação
e o Presidente da República,
vestindo T-shirts e exibindo
cartazes que denotavam
conteúdos agressivos, sinistros,
grotescos, despudorados,
desrespeitosos e, eventualmente,
racistas (numa caricatura usam-se
os traços diferenciadores da
pessoa sem que isso deva ter uma
conotação racista, no meu
entender). Esses cartazes nunca
poderiam ser empunhados por
quem ensina os nossos Ælhos. O
exemplo parte sempre de cima.
Que triste e vergonhoso exemplo!
(…)
Jorge Loureiro,
Anadia
As caricaturas são
falta de respeito?
Desde quando as caricaturas são
faltas de respeito? O que sucedeu
em França, com algo semelhante,
os cartoons, foi conotado como
falta de respeito ou liberdade de
expressão? Alguém procurou ser
esclarecido sobre o sentido das
caricaturas? Nem se percebe a
associação ao racismo, ninguém
explicou a razão desta conotação.
Se fosse no Carnaval, ninguém
levava a mal; aÆnal, só há Carnaval
se for consentido; a liberdade de
expressão, parece que só o
Ricardo Araújo Pereira (que tantas
caricaturas ousadíssimas
apresentou no seu programa) a
poderá ter.
Mas não concordo com essas
abordagens e não acho que sejam
modos de reclamar e criticar; são
atitudes brejeiras e primárias. O
que não percebo é porquê este
alarido agora e não nos exemplos
que mencionei. Não sou adepto do
vale tudo; até no boxe há golpes
baixos não autorizados. Por
exemplo, “o vale tudo” é uma aura
negra que envolve o caso do SIS,
que sugere ser um golpe baixo
para a nossa democracia. Situação
só aceitável enquanto caricatura,
pois só assim a podemos encarar
sem nos sentirmos desrespeitados
e insultados.
Luís Filipe Rodrigues,
Santo Tirso
As comemorações e
os (alguns) professores
As comemorações do 10 de Junho
decorreram com a dignidade que a
data e o pretexto justiÆcam:
celebrar a pátria e os portugueses.
A única indignidade foi a
manifestação dos (alguns)
professores e seus dirigentes
sindicais. Desrespeitaram a
cerimónia, desrespeitaram as
autoridades eleitas, ao ponto de
exibirem caricaturas insultuosas.
António Costa pode ter defeitos,
mas nunca será antidemocrata.
Enfrentou os manifestantes e
discutiu com eles frontalmente, é o
termo. Os manifestantes
recorreram ao insulto.
Com as greves, um direito seu,
vêm prejudicar o direito
constitucional ao ensino da nossa
juventude. Prejudicam a juventude
do país levando o seu direito à
greve a limites inadmissíveis, como
é o caso das avaliações Ænais. É um
triste exemplo, para os alunos e
para o país.
Quando, nas manifestações, os
(alguns) professores exibem
cartazes a pedir respeito, não os
podemos levar a sério: são
desrespeitosos e virão a ser
desrespeitados.
Celso Pontes,
Vila do Conde

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt

ESCRITO NA PEDRA O melhor não tem fim
A sátira é uma
espécie de Ainda ontem
espelho, onde
aqueles que o
fitam descobrem
a cara de toda
“A
Miguel Esteves Cardoso
a gente menos s pessoas pensam que é só
a sua Jonathan entrar na loja e comprar um
Rolex”, disse o fanfarrão,
Swift (1667-1745), enquanto mostrava o Rolex
aos outros pescadores
escritor irlandês dominicais. Aquela
conversa era uma canção de embalar e,
depois de um dia nas rochas a levar com o
sol e água salgada, já estavam todos a
dormitar.
O NÚMERO Eu estava com um amigo meu que é
149.686
maluquinho por relógios. Quando me viu a
virar os olhos para o céu, ralhou logo
comigo: “A Rolex faz relógios muito bons,
estúpido!”
Achei graça ao contraste entre a
generosidade do entendido e a estreiteza de
vistas do exibicionista. Quando o entendido
elogia a Rolex, sabe do que está a falar,
alunos inscritos para a 1.ª fase porque pode compará-la com todos os
dos exames do secundário, outros fabricantes de relógios.
que arranca no próximo dia 19 Mas o exibicionista só sabe que Rolex é
ZOOM LAS PALMAS, ESPANHA
Quando Sarah Almagro tinha 18 anos, uma meningite meningocócica obrigou à amputação das suas mãos e pés. Hoje, aos 23
anos, é campeã espanhola de surf adaptado — esta imagem mostra-a a treinar durante o Open LPA Surf City, em Las Palmas
bom. É a estupidez dos ricos: como não têm
problemas de dinheiro, só querem saber
“qual é o melhor”. Querem saber qual é o
melhor para poder comprá-lo e não pensar
mais nisso — quando é precisamente pensar
mais nisso que tem graça.
Os relógios são fascinantes e estudá-los é
ter o prazer de poder apreciá-los
inteligentemente. Há muitos relógios
“melhores”, que sabem que são melhores e
que custam os olhos da cara, mas que vivem
das diferenças, da originalidade — e da
arbitrariedade da estética. De qualquer
forma, são interessantes, porque são, mais
do que mecanismos, esforços humanos.
A pessoa que diz que “A resposta é Rolex”
é uma pessoa que se esfalfou para
empobrecer a pergunta: “Qual é o relógio
que me vai dar mais prazer?” Em vez de se
demorar na escolha, na delícia das angústias
e das hesitações, deixou-se conduzir por um
nome curto e fácil de lembrar.
Também conheci pessoas que julgavam
que Moët & Chandon (que pronunciavam
mal) era o melhor champagne. E o resultado
dessa certeza e dessa rapidez é que não
conheciam outros champagnes.
(As pessoas que se riem e que dizem que
Moët é uma merda padecem exactamente da
mesma febre.)
As pessoas que se querem despachar não
sabem o que perdem. E não querem saber.
BORJA SUAREZ/REUTERS
Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 7
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8 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023
Espaço público
SNS: Junho de (alguma) boa esperança?
Bernardo Mateiro Gomes, Miguel Cabral,
C
Nuno Rodrigues
om o Ænal de Junho, chega ao
Ænal o calendário negocial
estabelecido pelos sindicatos
médicos para, entre outros
assuntos, renegociar as
carreiras médicas e a respectiva
grelha salarial. Durante este mesmo mês, é
expectável que se comece a saber mais sobre
prazos de implementação efectiva das
primeiras Unidades Locais de Saúde (ULS)
numa reforma que, foi anunciado, deverá
cobrir 80% da população do país.
A expectativa dos proÆssionais é de
bastante incerteza e, naturalmente,
desmotivação, face à sangria de quadros do
Serviço Nacional de Saúde (SNS) e à perda
conÆrmada de rendimento em funções
qualiÆcadas no Estado. Aliás, ainda está por
resolver também o desalinhamento de
incentivos no que toca ao desempenho de
inúmeras funções de coordenação de
serviços, direcções clínicas e participação
em comissões várias. Todas Æcam ainda
menos atractivas, face à acumulação de
problemas para resolver, sem retorno
Ænanceiro para o proÆssional, e que muitas
vezes signiÆcam horas extraordinárias não
remuneradas.
Mencionámos previamente a tendência de
erosão do SNS, em que a inexistência de
instrumentos adequados de gestão também
prejudica a função dos gestores e quadros
intermédios. Esta situação é naturalmente
diÆcultada num momento em que o SNS está
em transição para uma aÆrmação
maioritária das ULS como modelo
organizativo. É compreensível a diÆculdade
de implementação de um novo Estatuto do
SNS que pretende ser reformista. Contudo, a
aparente indeÆnição do que se pretendia em
concreto obrigou a um estatuto provisório
das Administrações Regionais de Saúde.
Aliás, a ideia das ULS não é vista por todos
com o mesmo optimismo. Há, nessas
posições, a preocupação legítima com o
hospitalocentrismo das ULS, para além de
uma preferência pelos chamados Sistemas
Locais de Saúde, também presentes na Lei
de Bases, mas de difícil implementação,
apesar de não serem uma ideia nova.
Ao mesmo tempo que tenta implementar
o modelo de ULS com maior autonomia de
gestão, o Estado transfere competências no
âmbito da saúde para os municípios. Há aqui
um aparente desaÆo na descentralização
versus concentração de vários Agrupamentos
de Centros de Saúde (Aces) e hospitais em
entidades autónomas.
A mensagem positiva que a direcção
executiva do SNS tem transmitido, com a
possibilidade de mudança, tem de ser
resguardada e apoiada por meios e
Junho fará coincidir
calendários muito
relevantes na Saúde.
Novas ULS, Äm do
calendário negocial
com os sindicatos
médicos, concurso para
director-geral da Saúde...
capacidade de Æxação de proÆssionais que
dependem do Ministério da Saúde e,
diga-se, de forma muito clara, do Ministério
das Finanças. Os próprios municípios,
agastados com este garrote e incapacidade
de resposta, multiplicam-se em propostas
concorrenciais de incentivos à Æxação de
médicos e de oferta de planos de saúde
RUI GAUDÊNCIO
alternativos ao SNS. Tal pode,
paradoxalmente, traduzir-se numa ainda
maior iniquidade na prestação de cuidados
de saúde e, provavelmente, numa menor
eÆciência de recursos públicos.
Sem resguardo Ænanceiro e político, a boa
intenção de “arrumação” do SNS arrisca-se a
não ir muito além de uma reformulação
estética, sem reforço de meios. E como
consequência, a perder o benefício da
dúvida dos proÆssionais de saúde. Neste
ponto, assinale-se que a direcção executiva
mostra ter noção desse problema e tenta
também potenciar soluções para alguns
problemas crónicos de organização do
sistema. Fá-lo com uma ideia também do
valor acrescido que os proÆssionais de saúde
pública podem ter na ligação entre cuidados
hospitalares, cuidados de saúde primários e
comunidade, com um potencial papel
fundamental na concretização do conceito
de “Unidade” das ULS.
É evidente que, se às palavras não
corresponderem actos e mudanças
concretas, o clima de falta de conÆança
institucional agravar-se-á. Na questão
especíÆca dos serviços de saúde pública, os
últimos meses foram pautados pelo anúncio
de intenção da criação de uma Agência de
Promoção de Saúde, algo que se aÆgura
como peculiar num ecossistema que já conta
com duas divisões dedicadas à área no nível
nacional, na Direcção-Geral da Saúde (DGS)
e no Instituto Nacional de Saúde Doutor
Ricardo Jorge (INSA). A nível local, a
harmonização, e validação cientíÆca, de
iniciativas é ainda mais desaÆante,
sobretudo se ainda se desenhar mais um
sistema paralelo de promoção de saúde aos
já existentes.
Parece assim que a simpliÆcação da
organização pretendida com as ULS é
contrariada pela criação de mais uma
agência. Uma verdadeira reforma deveria
simpliÆcar processos, e não alimentar o já
pernicioso ciclo de feudalismo institucional.
Uma verdadeira ambição procuraria
rentabilizar recursos das áreas da
Veterinária e Ambiente. Uma forma de
capacitar o Estado em funções como a
vigilância epidemiológica e resposta a
emergências é reverter a tendência da
multiplicação de observatórios, comissões e
grupos de trabalho e reforçar
instituições-chave como a DGS, o INSA e o
próprio Instituto Nacional de Estatística.
Tem sentido económico e organizacional.
Apesar da recente publicação do
concurso para novo director-geral da
Saúde, e seja quem for o novo responsável
máximo da instituição, as diÆculdades e
incertezas na DGS irão manter-se: falta de
condições que se alarga aos quadros
qualiÆcados da Administração Pública, mas
também por sinais de inexistência de um
projecto mobilizador para a reforma dos
serviços de saúde pública.
Ao longo dos últimos meses, temos
ouvido de colegas e outros proÆssionais
receios sobre este clima de instabilidade,
paralisia e degradação de recursos, projectos
e competências da DGS e o que isso signiÆca
para o futuro. Os recém-especialistas
de Saúde Pública não têm sido excepção na
fuga ao SNS, dado também terem
competências cada vez mais procuradas no
sector privado e em organizações
internacionais, mas aparentemente
negligenciadas pela própria tutela.
Antecipa-se que Junho faça coincidir
calendários muito relevantes na Saúde.
Novas ULS, Æm do calendário negocial com
os sindicatos médicos, concurso para
director-geral de Saúde. Esperamos
destacar o ponto temporal crítico, por
mares previamente não navegados, dado
que a falta de horizontes claros irá agravar a
conÇituosidade e a erosão do SNS, que já
conta com outra greve de médicos marcada
para 5 e 6 de Julho. Em Julho e Agosto os
desaÆos continuarão a ser muito sérios,
com maternidades e urgências encerradas e
com um grande desaÆo na preparação e
resposta à Jornada Mundial da Juventude.
Ainda existe alguma expectativa de que
sejamos capazes de dobrar o “cabo das
tormentas” do SNS mas os dias de “boa
esperança” já escasseiam.
Médicos especialistas em Saúde Pública

O país que não quer saber
Pedro Norton
Não custa acreditar que exista
algum cansaço com a novela
degradante. Se querem que
vos diga, também eu estou
razoavelmente enfastiado
E
eis que, do alto do seu pedestal,
Carlos César põe um ponto Ænal
na novela da TAP: “Nós temos
tido bons resultados,
orgulhamo-nos muito disso e
não nos vão distrair disso com a
história do SIS, com a história de quem
telefonou e de quem não telefonou.” Os
portugueses estão fartos e “já não querem
saber disso”.
Não tenho, devo confessar, a capacidade
omnisciente de César para adivinhar, em
tom tão deÆnitivo, o que pensam ou não
pensam os portugueses. Mas não me custa
acreditar que exista, de facto, algum cansaço
com uma novela degradante, que já vai longa
e em que é fácil perder-se na confusão de
detalhes, contradições, mentirolas,
meias-verdades e desmentidos. Se querem
que vos diga, estou, também eu,
razoavelmente enfastiado. Nem a trágica
transitoriedade dos personagens, nem a
contabilidade instantânea dos ganhos e
perdas político-partidários me interessam
particularmente.
Acontece que uma coisa é admitir que já
ninguém “quer saber disto” e outra, bem
diferente, é concluir que a novela não tem
consequências profundas ou que os
portugueses não tiram de tudo isto, mais ou
menos conscientemente, quaisquer ilações.
É preciso ser muito otimista para achar,
por exemplo, que a ideia da
responsabilidade política (que é um conceito
absolutamente fundamental para sustentar
uma relação de respeito mínimo entre
eleitores e eleitos) não sai de todo este
espetáculo seriamente fragilizada e que isso
não tem consequências. Ou alguém acredita
que a ligeireza com que se vai fazendo, na
praxis política, a substituição dessa ideia de
responsabilidade pela ideia de impunidade
não acarreta custos sérios para a conÆança
que os portugueses têm nas nossas
instituições de representação democrática?
O mesmo se dirá de uma certa
normalização daquilo a que os franceses
chamam a “langue de bois”. Porque aquilo a
que temos assistido, nomeadamente na CPI,
mas não só, mais não é, de facto, do que o
triunfo de um discurso cínico,
assumidamente ambíguo, feito de palavras
meticulosamente escolhidas que, evitando a
mentira formal, dispensa ostensivamente a
verdade substantiva no discurso público. Mais
uma vez: alguém acredita que os portugueses
não intuem o que se passa sob os seus olhos
ou que este Çagrante desrespeito pelo
contrato social que deveria existir entre
eleitores e eleitos se fará sem consequências?
E o que dizer da exposição deprimente da
soberba e da informalidade com que se gere
o Estado, as principais empresas públicas ou
as forças de informação e de segurança?
Pode sair de tudo isto alguma coisa que
contribua para a consolidação de uma
democracia funcional e madura, em que a
conÆança dos cidadãos nos governantes
pressupõe que estes respeitem regras e
processos minimamente formais e
absolutamente transparentes? Pode daqui
sair alguma coisa que reforce a nossa cultura
cívica através da liderança pelo exemplo? Ou
será que é a pueril guerra de egos em que
tragicamente mergulharam Presidente e
primeiro-ministro na sequência do último
Uma coisa é admitir que
já ninguém ‘quer saber
disto’ e outra, diferente,
é concluir que os
portugueses não tiram
disto quaisquer ilações
RUI GAUDÊNCIO
episódio deste psicodrama que ajudará a
consolidar o respeito dos cidadãos por duas
das principais instituições da república?
Vale a pena, aliás, olhar para o murro no
estômago que é a sondagem publicada pelo
jornal Expresso no último Æm de semana,
também sob este prisma. Está lá tudo. Está lá
o desencanto com as principais políticas
públicas (da habitação à saúde, passando
pela educação), está lá a desesperança
(plasmada na insatisfação com os impostos,
com os rendimentos, com as oportunidades
de progressão ou com a falta de “qualidade
de vida”), mas está lá também — e é isso que
é relevante para o que aqui discuto — a
descrença profunda nos partidos políticos,
no Governo, no Parlamento e (talvez por
culpa própria, talvez por arrasto) na Igreja,
na comunicação social, nos tribunais. Está lá
o retrato de um país que deixou de acreditar
em si mesmo e que deixou de acreditar nas
instituições que o estruturam e representam.
Está lá, em suma, o retrato de um país que,
aos poucos, se deslassa.
Nem tudo isto se explica, como é evidente,
pelos “casos e casinhos” da legislatura, pela
novela da TAP ou pelo desnorte da maioria
absoluta. Seria uma desonestidade
intelectual defendê-lo. Mas pretender que
este longo, triste e gratuito espetáculo de
desresponsabilização e dissimulação
políticas que se arrasta há mais de seis meses
não tem consequências a prazo ou que estas
se afastam e eliminam por simples decreto é
do domínio do delírio.
Gestor
Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 9
Aquilo não era
uma avó
Fábrica
de criadas
A
Afonso Cruz
quilo não era uma avó. A
Sãozinha já tinha visto avós,
que são seres pequenos,
encurvados, enrugados,
baixos, cabelos brancos,
óculos, permanente no cabelo,
que têm frascos com bolachas — moles, dos
meses em que Æcaram guardadas à espera de
uma visita que as coma —, cozem bolos,
choram, choram muito quando os Ælhos e os
netos as visitam e partem da visita, usam
pó-de-arroz, são seres lentos que se baixam e
se levantam com diÆculdade, têm corpo de
azinheira e preparam diligentemente e com
a devida antecedência doces de Natal; são
entidades que choram e adormecem a ouvir
folhetins e canções de amor na rádio, são
seres que, se lêem livros, lêem aqueles em
que um xeque seduz uma mulher americana
mal casada e a leva para uma tenda no
deserto e lhe oferece jóias e cavalgam em
pêlo ao pôr-do-sol e se amam eternamente
como nos contos de fadas que contam aos
netos, são seres que produzem cachecóis e
camisolas com imagens de veados ou
pinheiros que jamais serão usadas. Bebem
chá. Sabem cozinhar como mais ninguém
em todo o universo, mas alimentam-se de
torradas e bolos secos.
A Sãozinha e a Glória observavam, da
janela do lazareto, a Maria do Rosário a
correr para a avó.
Não. Aquilo não era uma avó, visto que
usava cabelos compridos e soltos, era
elegante, não usava bata. O que era aquilo?
Ali estavam as duas, a Sãozinha em bicos
de pés, com o queixo apoiado no parapeito
de pedra da janela, e a Glória de lado, com o
ombro direito encostado à parede e a cabeça
voltada para fora, ambas a contemplar o
estranho encontro da Maria do Rosário com
a felicidade. Aquela sensação de júbilo
estava contudo maculada pela inveja, a
inveja que poluía os seus rostos sempre que
uma menina voltava a casa ou descobria um
novo lar.
— Aquilo é uma avó? — perguntou a
Sãozinha.
— Há de muitos tipos — disse a Glória.
— Mas uma avó pode ser assim?
— Não sei, mas a Rosarinho nem sequer
tem uma avó como deve ser, com bengala e
óculos.
Não perca o podcast com
Fábrica
de criadas os textos lidos pelo autor.
AFONSO
CRUZ
Ao fim-de-semana,
um exclusivo para
assinantes
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10 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023
Política Pinto Moreira tem participado nas reuniões da Comissão de Defesa
PSD deixa CPI ao SIS em banho-maria,
mas não reprova propostas do Chega e IL
Luís Montenegro retirou a conÄança política à cúpula do SIRP, o que é visto como uma tentativa de
recuperação da iniciativa política. Lei não deÄne limite para a duração do mandato de Graça Mira Gomes
Sofia Rodrigues
Com a carta em que assumiu retirar
a conÆança à cúpula do Sistema de
Informações da República (SIRP), o
dirigente do PSD, Luís Montenegro,
voltou a pôr a intervenção do SIS (Ser-
viço de Informações de Segurança)
na agenda. Porém, continua sem
avançar com um pedido potestativo
para uma comissão parlamentar de
inquérito (CPI) à actuação das “secre-
tas” na recuperação do computador
do ex-adjunto do ministro das Infra-
Estruturas, apesar de ter admitido
essa possibilidade. Chega e IL apre-
sentaram duas propostas nesse sen-
tido no Parlamento que serão votadas
na próxima sexta-feira e o PSD não
deverá opor-se.
Na carta que enviou ao primeiro-
ministro — e à qual este já respondeu
—, o líder do PSD reiterava a necessi-
dade de demitir a secretária-geral do
SIRP, Graça Mira Gomes, na sequên-
cia da actuação do SIS na noite de 26
de Abril, uma acção que Montenegro,
ao contrário dos Æscais das “secre-
tas”, considerou “não ter base
legal”.
Antecipando que António Costa
não iria ceder na exigência, tal como
se veio a conÆrmar, Montenegro assu-
miu que a dirigente do SIRP, que é
equiparada a secretária de Estado, já
não tem a conÆança do PSD, quebran-
do assim a “regra política” de assegu-
rar o respaldo do principal partido da
oposição, tal como o do Governo, ao
detentor daquela função.
Tal posição não terá qualquer efei-
to prático — a não ser o rompimento
de um acordo entre os dois partidos
—, até porque o mandato de secretá-
rio-geral do SIRP não tem prazo de
duração deÆnido por lei, conÆrmou
o PÚBLICO junto do gabinete do pri-
meiro-ministro. Graça Mira Gomes
tomou posse em Novembro de 2017
e só poderá sair por decisão própria
ou por exoneração primeiro-minis-
tro. O seu antecessor no cargo, Júlio
Pereira, esteve em funções 12 anos,
entre 2005 e 2017.
A carta de Luís Montenegro surgiu
na semana anterior à da discussão no
Parlamento de duas propostas para
a criação de uma comissão de inqué-
rito à actuação do SIS na noite de 26
de Abril e depois de o PSD ter deixado
em banho-maria a possibilidade
admitida pelo próprio líder social-de-
mocrata de avançar com uma pro-
posta de inquérito parlamentar.
Luís Montenegro retirou a
confiança política à cúpula do
SIRP e ao deputado Pinto Moreira
As propostas terão como destino o
chumbo do PS, mas o PSD será con-
frontado com a decisão de como as
votar. Ao que o PÚBLICO apurou, a
bancada não deverá opor-se às inicia-
tivas, até porque admitiu fazer pro-
posta idêntica. O conselho nacional
do partido, marcado para esta quinta-
feira, pode ser mais um momento
político para o PSD tentar capitalizar
as dúvidas que persistem sobre o caso
e a TAP, já que no mesmo dia é ouvido
MANUEL DE ALMEIDA/LUSA
o ex-ministro Pedro Nuno Santos.
“Recuperar iniciativa”
Ao anunciar que já não tem conÆança
política na direcção do SIRP, o líder
do PSD mostra estar a “recuperar a
iniciativa perante os parceiros à direi-
ta, aumentando a radicalização da
sua posição”, diz António Costa Pinto,
investigador coordenador no Institu-
to de Ciências Sociais. Dentro do PSD
há receios sobre as consequências da
exposição do SIS, até a nível interna-
cional, mas Costa Pinto admite que
“permanece na sociedade e entre os
especialistas a dúvida sobre a inter-
RODRIGO ANTUNES/LUSA
venção dos serviços”.
Na mesma carta, Montenegro deixa
ainda uma crítica implícita ao Conse-
lho de Fiscalização do SIRP (CFSIRP),
ao defender que o PSD vai propor
mudanças no regime de escrutínio
dos serviços para que se torne “mais
transparente e eÆcaz”. O CFSIRP é
constituído por três membros, eleitos
por maioria de dois terços no Parla-
mento, tendo um dos quais ( Joaquim
Ponte) sido indicado pelo PSD.
O primeiro-ministro tem sustenta-
do a legalidade da actuação do SIS na
noite de 26 de Abril com o parecer
unânime do CFSIRP nesse sentido,
referindo até que um dos seus ele-
mentos foi indicado pelo PSD. Mas
Luís Montenegro, apesar de ter feito
um reparo à falta de contraditório na
investigação do CFSIRP, não quis ir
mais longe num castigo político ao
elemento indicado pelos sociais-de-
mocratas como sugeriu a socialista
Ana Gomes no comentário de domin-
go à noite na SIC Notícias.
António Rodrigues, ex-membro do
CFSIRP e ex-deputado social-demo-
crata, considera que o PSD não pode
interferir com os elementos eleitos
pelo Parlamento. “A partir do
momento em que é eleito, representa
o Parlamento e não o partido”, diz ao
PÚBLICO. O mandato dos três mem-
bros do CFSIRP é de quatro anos.
A retirada da conÆança política foi
igualmente a arma política usada por
Luís Montenegro em reacção ao
regresso antecipado de Joaquim Pin-
to Moreira, arguido no processo Vór-
tex, ao lugar de deputado.
Desde o Ænal de Maio, o deputado
Pinto Moreira tem estado presente
nas sessões plenárias, nas reuniões
da Comissão de Defesa — a que per-
tence como efectivo — e tem votado
alinhado com a sua bancada.
Depois de ter sido constituído
arguido por suspeita de crimes liga-
dos a corrupção enquanto autarca,
Pinto Moreira suspendeu, em Março,
o seu mandato por seis meses, mas
decidiu retomar o lugar no Ænal de
Maio. Luís Montenegro aÆrmou que
essa decisão não foi articulada com a
direcção do partido e, como tal, seria
retirada a conÆança política a Pinto
Moreira, de quem é muito próximo
pessoalmente.
Essa retirada da conÆança política
costuma ser o passo para que o depu-
tado visado passe a não inscrito como
aconteceu, por exemplo, com Joacine
Katar Moreira, em Janeiro de 2020,
depois de ter sido eleita pelo Livre em
2019. Mas o ex-presidente da Câmara
de Espinho assegurou ao PÚBLICO no
Ænal de Maio que não pretende des-
vincular-se da bancada do PSD e que
fará parte de comissões parlamenta-
res, o que não seria esperado de acor-
do com a informação disponibilizada
na altura pela direcção do PSD.
O caso gera uma situação insólita,
já que o deputado tem estado presen-
te nas sessões plenárias, sentado na
bancada do PSD (na última Æla) e nas
duas últimas semanas tem realizado
as votações de acordo com a orienta-
ção do seu grupo parlamentar.
O exercício do voto constitui o prin-
cipal elo de ligação entre o deputado
e a respectiva direcção partidária, até
porque uma quebra de disciplina de
voto pode desencadear um processo
disciplinar interno. Só quando um
deputado passa a independente é que
tem total autonomia sobre a sua
orientação de voto.
Não tendo a conÆança política do
PSD, Pinto Moreira não pode assinar
iniciativas legislativas (embora nem
todos os deputados da bancada subs-
crevam todas as iniciativas), nem
intervir em nome do partido. Desde
o início da sessão legislativa em Abril
de 2022, o deputado só faltou duas
vezes (8 e 24 de Março), faltas justiÆ#
cadas por motivos de “força maior”.

PSD aposta no “sangue novo” do TC
para Ɗscalização da eutanásia
Henrique Pinto de Mesquita
Assinaturas dos deputados
ainda não foram recolhidas,
mas estão garantidas, diz
Paula Cardoso. Pedido será
feito nos próximos 15 dias
O PSD apresentará o pedido de Æsca-
lização sucessiva à eutanásia nos pró-
ximos 15 dias e está esperançoso de
que o “sangue novo” do Tribunal
Constitucional (TC) jogue a seu favor.
As assinaturas dos deputados ainda
não foram recolhidas, mas estão
garantidas “muito mais do que as suÆ#
cientes”.
Paula Cardoso, vice-presidente do
grupo parlamentar do PSD incumbi-
da de fundamentar juridicamente o
pedido, explica ao PÚBLICO que se
encontrará “esta semana” com Paulo
Mota Pinto, também deputado do
PSD e antigo juiz do TC, para “dar
início ao processo”. “Só esta semana
é que começaremos a preparar a fun-
damentação jurídica. Vamos sentar-
nos, ver alguns pareceres, pôr no
papel e Ænalizar. Somos os dois encar-
regados. Andamos desencontrados”,
adianta, por telefone, a deputada.
Quanto a prazos para a entrega do
pedido, a deputada diz: “Quero ter-
Procuradoria-Geral da República constituiu
equipa especial para o caso Tutti-Frutti
Inês Pinto Pereira
A Procuradoria-Geral da República
(PGR) anunciou ontem a formação
de uma equipa especial, composta
por cinco magistrados do Ministério
Público (MP) e cinco inspectores
da Polícia Judiciária, todos em regi-
me de exclusividade até ao Æm da
investigação, no âmbito da Opera-
ção Tutti-Frutti.
A equipa receberá o apoio perma-
nente de um “especialista de perícia
cientíÆca adstrito às pesquisas infor-
máticas, encontrando-se ainda
prevista a colaboração de um magis-
trado do MP especializado em
direito administrativo e direito de
contratação pública, na vertente
autárquica”.
A Operação Tutti-Frutti recai sobre
dirigentes políticos e militantes do
Partido Socialista e Partido Social
Democrata. O caso de corrupção e
Ænanciamento partidário está na
Deputada do PSD Paula Cardoso garante pedido em 15 dias
minar o mais rapidamente possível
— 15 dias. Não quero ir de férias sem
isso feito. Duas semanas no máximo”,
acrescentou, explicando que ainda
dispõe de mais 90 dias — “até a lei ser
regulamentada” — para o fazer.
Para Paula Cardoso, utilizar os
argumentos “invocados e rebatidos
até agora é difícil” para convencer o
TC, pelo que tentará beneÆciar das
suas recentes mudanças. “O que é
diferente é que mudou o retrato do
TC — os juízes são outros. Há sangue
novo. Entrando pessoas novas, pode
mira das autoridades desde 2016.
Numa nota enviada aos órgãos de
comunicação social, a PGR refere
que as circunstâncias, “aliadas ao
tempo decorrido, ao volume do
inquérito (pelo menos, 38 volumes
processuais e 72 apensos com cerca
de 560 volumes) e ao acervo docu-
mental objecto de análise”, exigiram
a implementação de outras medidas
para garantir a conclusão rápida da
investigação.
A operação tem um carácter de
“excepcional complexidade”, tendo
em conta os factos envolvidos, bem
como a “evidente repercussão social,
avultando a tecnicidade da matéria,
a natureza e volume das diligências
já realizadas e das que importará
ainda realizar e a qualidade e fun-
ções das pessoas visadas”.
É ainda esperado que até ao Ænal
deste ano se proceda à “reavaliação
da situação, mormente relativa ao
desenvolvimento da investigação, às
TIAGO PETINGA/LUSA
haver pessoas diferentes. Vamos fazer
o melhor para que nos seja dada
razão”, disse ao PÚBLICO.
Questionada sobre se o PSD terá
deputados suÆcientes para apresen-
tar o pedido (23, um décimo dos man-
datos no Parlamento), Paula Cardoso
garantiu que sim — “tem mais do que
suÆcientes” — e explicou que a reco-
lha das assinaturas será a última par-
te a ser feita.
Na passada semana, seguiu o pri-
meiro pedido de Æscalização sucessi-
va da eutanásia. Segundo a Lusa, José
diligências realizadas e às que ainda
importará realizar, ao prazo previsí-
vel para o encerramento do inquéri-
to, bem como sobre a adequação dos
meios, humanos e/ou técnicos, alo-
cados à investigação”.
A Polícia Judiciária (PJ) fez, em
Janeiro, buscas na Câmara Municipal
de Lisboa, no âmbito da Operação-
Tutti Frutti. No centro deste inquéri-
to está um grupo de antigos militan-
tes da Juventude Social Democrata
( JSD) — entre eles o actual deputado
do PSD Carlos Eduardo Reis — que
terá criado uma teia de inÇuências
no mundo autárquico que passava
pela simulação de um conjunto de
A Polícia
Judiciária
fez buscas em
Janeiro deste ano
na Câmara de
Lisboa no âmbito
deste caso
Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 11
Manuel Rodrigues, presidente da
Assembleia Legislativa da Madeira,
requereu ao Tribunal Constitucional
a Æscalização da constitucionalidade
da lei da morte medicamente assisti-
da argumentando, entre outras
razões, que a lei viola “primeiro, o
direito da Região Autónoma da Madei-
ra, constitucionalmente consagrado,
e, segundo, o respectivo estatuto”.
No início de Maio, o PSD informou
que não permitiria que os deputados
do Chega se associassem ao seu pedi-
do. Uma vez que o partido de extre-
ma-direita não tem deputados suÆ#
cientes para iniciar um processo
destes, o seu líder, André Ventura,
prometeu recorrer a todos “instru-
mentos jurídicos” para o Chega se
poder associar ao projecto do PSD.
Joaquim Miranda Sarmento, líder
parlamentar do PSD, disse aos depu-
tados que a direcção da bancada não
tencionava promover, formalmente,
o pedido de Æscalização sucessiva,
mas mostrou-se disponível para o
assinar.
Cerca de dois meses depois de, no
Æm de Março, o Presidente da Repú-
blica, Marcelo Rebelo de Sousa, ter
vetado politicamente o diploma que
visava legalizar a morte assistida, o
Parlamento conÆrmou o diploma,
obrigando à sua promulgação.
avenças nas juntas de freguesias e
câmaras que controlava, com o
objectivo de canalizar esse dinheiro
para um “saco azul”. Contactado
então pelo PÚBLICO, Carlos Eduardo
Reis não quis prestar declarações.
Os serviços contratados não
seriam de facto prestados, mas for-
malmente a saída do dinheiro
encontrava-se justiÆcada. Em Junho
de 2018, a PJ fez uma megaoperação
de buscas, que também visou a
autarquia lisboeta e o gabinete do
então presidente, Fernando Medi-
na, actual ministro das Finanças.
Nessa altura, o PÚBLICO noticiou
que havia indícios de que os fundos
recolhidos nesse “saco azul” seriam
canalizados tanto para pagar quotas
de sócios do PSD cuja participação
se revelava importante em eleições
internas do partido, como para
assegurar despesas em campanhas,
nomeadamente nas autárquicas de
Outubro de 2017.
Política
Acusações aos
marinheiros do
Mondego esta
quinta-feira
Henrique Pinto de Mesquita
Marinheiros terão dez
dias para se defenderem.
Depois, Marinha fará um
relatório que poderá,
ou não, determinar penas
Os marinheiros que se insurgiram no
navio NRP Mondego receberão na pró-
xima quinta-feira de manhã as acusa-
ções dos processos disciplinares
internos da Armada. Terão, depois,
dez dias úteis para se defenderem.
Não há novidades relativamente ao
processo-crime e os militares “estão
bem como sempre estiveram”.
A insubordinação de 13 marinhei-
ros do NRP Mondego em meados de
Março conhecerá assim novos contor-
nos, uma vez que os militares insur-
gentes saberão, pela primeira vez, do
que são acusados pela Marinha. Os
marinheiros devem apresentar-se às
10h nas instalações da Direcção Jurí-
dica da Marinha, adiantou a defesa
dos militares ao PÚBLICO.
O porta-voz da Marinha, coman-
dante José Luís Sousa, conÆrmou que
as acusações já estão formalizadas e
acrescentou que, após as receberem,
os marinheiros terão dez dias úteis
para apresentar a sua defesa.
Só após os marinheiros se defende-
rem — fá-lo-ão, conÆrmou ao PÚBLI-
CO Paulo Graça, um dos seus advoga-
dos — é que a Marinha irá elaborar um
relatório Ænal que pode, ou não, con-
cluir pela aplicação de “penas”, expli-
cou ao PÚBLICO o porta-voz da Arma-
da. Estas penas não serão necessaria-
mente iguais para todos os
marinheiros. Analisar-se-á caso a
caso, explicou José Luís Sousa.
No dia 20 de Março, os militares
deviam ter sido ouvidos pelo Ministé-
rio Público (MP). Todavia, chegado o
dia da audição, o MP cancelou-a por
decisão da procuradora — que queria
analisar o processo com mais porme-
nor, revelou na altura a defesa.
Os 13 militares não foram constituí-
dos arguidos, situação que se mantém
até hoje. “Sobre o processo-crime não
temos conhecimento de nada, zero”,
diz Paulo Graça, acrescentando
depois que os militares estão “muito
bem como sempre estiveram”. Ao que
apurou o PÚBLICO, depois do ocorri-
do no Mondego, alguns marinheiros
foram colocados em diferentes mis-
sões da Armada, todas em terra.
Antes da audição que acabou can-
celada, a defesa dos militares consi-
derou que o processo disciplinar na
Marinha estava “ferido de morte”.
com Nuno Ribeiro
12 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023
Sociedade Dados da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência
75% dos alunos do secundário com
tutorias passaram de ano em 2022
Maioria dos alunos do secundário com tutorias frequentava cursos cientíÄco-humanísticos. Medida visa
“diminuir as retenções e o abandono escolar precoce”. E apoiá-los muito além das aprendizagens
Cristiana Faria Moreira
No ano passado, 74,9% dos 1581 alu-
nos do ensino secundário que esta-
vam integrados no programa de tuto-
rias transitou de ano ou concluiu o
curso em que estava matriculado. No
entanto, há ainda 15,6% de estudantes
com tutoria que não passaram de ano
ou não o concluíram, em que 5,5%
anularam a matrícula ou desistiram
do curso quando fora da escolaridade
obrigatória e 4% reprovaram por fal-
tas, revela um relatório elaborado
pela Direcção-Geral de Estatísticas da
Educação e Ciência (DGEEC).
Este documento faz um balanço do
Apoio Tutorial EspecíÆco dirigido aos
alunos do ensino secundário no ano
lectivo de 2021/2022 — ano em que, à
semelhança do que acontecera nos
dois anos lectivos anteriores por con-
ta da pandemia, os exames nacionais
não foram obrigatórios para a conclu-
são do ensino secundário, não tendo
por isso peso nas notas Ænais dos alu-
nos. Serviram apenas como prova de
ingresso no ensino superior.
Estas tutorias foram criadas em
2016 como uma resposta ao mau
aproveitamento de alunos do 2.º e 3.º
ciclos do ensino básico público,
nomeadamente aos que tivessem dois
ou mais “chumbos” ao longo do seu
percurso escolar. E foram também
pensadas para substituir o ensino
vocacional — que o Governo de então
(liderado pelo PS) decidira terminar
—, que desviava alunos com pior apro-
veitamento escolar para cursos voca-
cionais logo aos 13 anos.
Este sistema de tutorias tem, assim,
como objectivo manter os alunos a
frequentar o ensino regular, passando
a ter um acompanhamento suplemen-
tar, e “diminuir as retenções e o aban-
dono escolar precoce”. E ajudar os
alunos a resolverem problemas que,
por vezes, vão muito além das apren-
dizagens, tendo no professor-tutor
uma Ægura de referência para os acom-
panhar a ultrapassar diÆculdades.
Depois de quatro anos lectivos diri-
gidos exclusivamente aos alunos do
básico, foi alargado em 2020 aos do
secundário e aos alunos com retenção
no ano anterior na sequência do con-
texto de pandemia de covid-19, que
obrigou as escolas a fechar e milhares
de alunos a ter aulas à distância. E
manteve-se no ano lectivo passado.
Em 2021/2022, estas tutorias foram
frequentadas por 1581 alunos do ensi-
no secundário, mais de metade dos
Este sistema tem como
objectivo manter os alunos
no ensino regular, passando
a ter um acompanhamento
suplementar
quais (54,9%) rapazes. No entanto,
estas tutorias foram propostas para
1888 alunos do secundário, mas 240
alunos desistiram de as frequentar
ainda antes de as iniciarem e 67 foram
transferidos para outro agrupamento
de escolas durante o ano.
Cerca de dois terços (1077) fre-
quentavam cursos cientíÆco-huma-
nísticos (Ciências e Tecnologias,
Ciências Socioeconómicas, Línguas
e Humanidades e Artes Visuais) e os
restantes cursos proÆssionais (com
excepção de dois alunos que esta-
vam em cursos artísticos especiali-
Tutorias criadas
em 2016 como
resposta ao mau
aproveitamento no
2.º e 3.º ciclos do
ensino básico
zados). A média de idades dos estu-
dantes que nelas participaram ron-
dou os 17 anos, tendo os mais velhos
21 anos. “A esmagadora maioria tem
nacionalidade portuguesa, seguin-
do-se alunos do Brasil, Angola e
Cabo Verde”, refere o relatório.
Há vários anos que Manuel Pereira,
presidente da Associação Nacional de
Dirigentes Escolares, que é director
do Agrupamento de Escolas General
Serpa Pinto, de Cinfães, promove
tutorias nas suas escolas, indepen-
dentemente do modelo criado pelo
Ministério da Educação. “Há alunos
que precisam de alguém que os acom-
panhe e que seja atento à sua vida na
escola, seja em termos de aprendiza-
gem ou de comportamento”, refere.
Que os ajudem a criar hábitos de estu-
do e rotinas de trabalho ou mesmo na
resolução de problemas familiares ou
dentro da comunidade escolar.
Por isso, olhando para estes resul-
tados (que disse ainda não conhecer
NELSON GARRIDO
em pormenor), reforça a conÆança no
modelo. “Quando falamos do modelo
de apoio tutorial, não estamos a falar
de um modelo único. É adaptado às
circunstâncias e ao tipo de alunos que
temos. Acho que é uma estratégia
que, na maior parte dos casos, dá
bons resultados. É um apoio persona-
lizado, próximo.” Deveria inclusive
ser reforçado. “Obviamente que este
é o país que temos e não há recursos
para encontrar soluções de apoio
tutorial para todas as circunstâncias
e para todos os alunos que porventu-
ra ganhariam com isso”, admite.
Dos 806 agrupamentos de escolas/
escolas não agrupadas que compõem
a rede pública, 516 disseram ter
“modalidades de ensino de nível
secundário orientadas para jovens”
em 2021/2022. Entre estas, 338 lan-
çaram o apoio tutorial. As escolas
que não o Æzeram justiÆcaram com
o facto de não terem alunos suÆcien-
tes para oferecer este apoio ou estar
já a recorrer a outras medidas de
promoção do sucesso educativo e de
redução da retenção e do abandono
escolar precoce.
Feitas as contas, entre básico e
secundário, estas tutorias dirigiram-
-se a cerca de 15.500 alunos por todo
o país. Os alunos do secundário que
têm este apoio tutorial são uma
pequena parte (cerca de 10%) do uni-
verso total de estudantes que o fre-
quentam. Como foi uma medida
pensada para o ensino básico, são
sobretudo os alunos do 3.º ciclo que
participam nas tutorias (10.176), mas
também do 2.º ciclo (3814).
Para Manuel Pereira, nestes níveis
de ensino é mais fácil chegar aos
alunos. “No secundário não é tão
fácil, porque são miúdos já com mais
de 16 anos e que muitas vezes não
estão muito receptivos”, faz notar.
E para as tutorias darem resultados
é, sem dúvida, necessário que “o
tutorando esteja disponível”.
Cada tutor com seis alunos
Chegar a estes alunos foi a missão
dos 2108 professores-tutores em
exercício no ano lectivo de
2021/2022. Destes, 390 davam apoio
a alunos do secundário e são na gran-
de maioria mulheres. Tinham, em
média, 51 anos e mais de dois terços
diziam não ter qualquer tipo de for-
mação especíÆca em tutorias.
Cada professor-tutor tem, em
média, seis alunos, embora haja casos
em que têm apenas um e outros em
que têm dez estudantes para orientar.
Em jeito de avaliação, estes professo-
res consideraram que o apoio tutorial
teve, em termos médios, “um forte
impacto na assiduidade e no compor-
tamento dos alunos” — menos expres-
sivo nos resultados escolares, que
avaliaram como tendo tido um impac-
to “maioritariamente moderado”.
Será mais uma evidência de como
é importante que este apoio vá além
das aprendizagens. “O tutor dá
apoio pedagógico, mas também dá
apoio social, está atento à forma de
estar na escola, aos temas materiais,
à proximidade com a família. Não é
só ajudar alunos a estudar ou tentar
recuperar áreas onde estão atrasa-
dos. A escola está aqui para ensinar,
para ajudar as famílias no processo
de educação dos seus educandos,
mas também somos, em muitos
casos, o grande esteio da educação
deles, na relação com a comunida-
de”, conclui Manuel Pereira.

Há mais estudantes inscritos para
fazer os exames nacionais deste ano
Clara Viana
Com os exames a servirem
apenas como provas de
ingresso no ensino superior,
Biologia e Geologia passou a
ser a prova mais concorrida
O exame de Biologia e Geologia vol-
ta, este ano, a ser o mais concorrido
do ensino secundário. Segundo a
informação enviada pelo Ministério
da Educação ontem, estão inscritos
44.145 alunos para aquela prova,
que se realizará no próximo dia 21.
O pontapé de saída acontecerá já no
dia 19, com o exame de Português e
em plena greve de professores que
afectará todas as provas.
No total inscreveram-se 149.686
estudantes para os 25 exames do ensi-
no secundário, um número um pou-
co superior ao registado no ano pas-
sado (148.844). Para mitigar os efeitos
da pandemia nos resultados dos alu-
nos, os exames passaram a ser, desde
2020, apenas provas de acesso ao
ensino superior, não contando para
a conclusão do secundário.
No último ano em que tal aconte-
ceu, 2019, o número de inscritos nos
exames rondava os 160 mil, e Portu-
guês era a prova mais concorrida, já
que a sua realização era obrigatória
para todos, o que voltará a acontecer
a partir de 2024.
Com a mudança de função dos exa-
mes, Biologia e Geologia passou a
liderar em número de inscritos, cujo
número subiu em Çecha por compa-
ração ao período pré-pandemia. Em
2019, por exemplo, havia 25.871 ins-
critos para este exame. Logo no ano
seguinte, este número disparou para
44.737. Este exame dá acesso, entre
outros, aos cursos de Saúde que Ægu-
ram entre os mais disputados.
A segunda prova com mais inscri-
tos em 2023 volta a ser Português:
Inscreveram-se 149.686 alunos
42.451. O que representa uma descida
por comparação ao ano passado, em
que se inscreveram para esta prova
43.573 estudantes. Seguem-se os exa-
mes de Física e Química (39.703),
Matemática A (39.683), Economia A
(13.409), e Inglês (13.372). O exame de
Italiano destrona o de Latim na sua
Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 13
posição habitual como prova com
menos inscritos. Italiano conta com
quatro inscrições e Latim com sete.
Dos 149.686 inscritos, 59% preten-
dem candidatar-se ao ensino supe-
rior. Apesar de servirem apenas como
provas de acesso, os exames do
secundário podem também ser rea-
lizados para melhoria de nota ou para
aprovação a disciplinas que Æcaram
para trás em anos passados. Para
estas duas opções existe um total de
41.226 inscritos, número que não
esgota o contingente dos que aÆrmam
não se querer candidatar ao superior
(61.250), embora se tenham inscrito
para exames que têm esse Æm.
As raparigas voltam a estar em
maioria, representando 56% dos ins-
critos, e também os alunos oriundos
dos cursos cientíÆco-humanísticos
(86%). Já os estudantes que frequen-
taram o ensino secundário proÆssio-
nal têm um peso de apenas 8% entre
os inscritos para os exames.
Sociedade
Sindicatos
lançam apelo
à retoma das
negociações
A plataforma sindical que integra
nove estruturas sindicais, entre as
quais a Federação Nacional dos Pro-
fessores (Fenprof ) e a Federação
Nacional da Educação (FNE), lançou
um apelo urgente ao ministro da
Educação para o regresso às nego-
ciações. Numa carta aberta enviada
ontem a João Costa, as estruturas
sindicais informam que “pretendem,
o mais urgentemente possível, o
regresso à tranquilidade no funcio-
namento das escolas, o que passa
por ultrapassar as circunstâncias
anormais” que se estão a viver.
As negociações prolongaram-se
por quase todo este ano lectivo,
assim como as greves de docentes
em resultado de não ter havido acor-
do quanto às principais reivindica-
ções destes, em que avulta a recu-
peração do tempo de serviço pres-
tado durante o congelamento das
carreiras.
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14 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023
Sociedade
Futebolistas menores terão acabado
nas malhas do tráƊco de pessoas
Mariana Oliveira
Buscas em academia
de futebol em Riba d’Ave
e em casa do presidente
da Assembleia Geral da Liga
de Futebol Profissional
A forma como cerca de quatro deze-
nas de menores estrangeiros que
estão ilegalmente em Portugal chega-
ram ao país alegadamente para jogar
futebol e o que desde então lhes acon-
teceu estão a ser investigados pelo
Ministério Público, que suspeita da
existência de tráÆco de pessoas.
Pelo menos parte dos menores
estão em Portugal sem a devida auto-
rização dos pais, como é obrigatório
para todos com menos de 18 anos.
O Serviço de Estrangeiros e Fron-
teiras (SEF) realizou diversas buscas
ontem centradas na Bsports Aca-
demy, uma academia de futebol
localizada em Riba d’Ave, em Vila
Nova de Famalicão, gerida por dois
empresários.
Numa apresentação da academia,
disponível num canal da Bsports na
Internet, diz-se que este é o “maior
projecto de formação de futebol do
planeta” e a “porta de entrada para a
elite do futebol europeu”. E associa-
se a marca a grandes nomes portu-
gueses do futebol mundial, como
Cristiano Ronaldo ou José Mourinho,
sem nunca se dizer explicitamente
que estes estão de algum modo liga-
dos à academia. Dizem ter criado o
“primeiro curso certiÆcado para um
jogador de futebol”.
Garantem ter infra-estruturas “do
mais alto nível”, mostrando imagens
de um complexo desportivo moder-
no com vários edifícios, onde existem
camaratas, salas de aulas, sala de
convívio, cantina, um pavilhão, dois
campos de futebol relvados, ginásio
e até um estúdio de TV. A Bsports
alega ainda ter academias em 34
outros países. No Æm de cada página
da apresentação surge um símbolo
onde se lê “entidade certiÆcada pela
DGERT, a Direcção-Geral do Empre-
go e das Relações de Trabalho”, e
ainda o logótipo do Governo portu-
guês, com a inscrição “Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social”.
O PÚBLICO tentou contactar a
Bsports, através de um número de
telemóvel existente na sua página de
Facebook, mas o telefone estava des-
ligado. Também tentou, sem sucesso,
obter um esclarecimento via email.
Inúmeros menores que terão sido
vítimas deste esquema estiveram
durante o dia a ser ouvidos.
Na operação de ontem também foi
O SEF realizou buscas ontem na Bsports Academy, uma academia localizada em Riba d’Ave, Famalicão
alvo de buscas a casa do presidente
da Assembleia Geral da Liga Portu-
guesa de Futebol ProÆssional, Mário
Costa, como noticiou o Expresso em
primeira mão. Este seria um dos pro-
motores do projecto, usando os
conhecimentos obtidos como diri-
gente desportivo para garantir um
maior sucesso à academia.
Surpreendida pelas notícias, a Liga
Portugal informou que, embora os
factos relatados em nada estejam rela-
cionados com o cargo exercido por
Mário Costa na Liga, está a acompa-
nhar a evolução das diligências,
aguardando por mais dados — respei-
tando sempre o princípio da presun-
ção de inocência e defendendo tam-
bém de forma intransigente os prin-
cípios de ética e transparência da
instituição — para uma avaliação mais
concreta da situação.
A investigação começou em 2020
e foi aberta na sequência de uma
participação feita por uma entidade
consular localizada no Médio Orien-
te. Apesar de haver jovens oriundos
Inúmeros menores
que terão sido
vítimas deste
esquema
estiveram durante
o dia de ontem
a ser ouvidos
dessa região do mundo em Portugal,
a maioria das vítimas serão prove-
nientes da América Latina e algu-
mas de África.
50 elementos nas buscas
Perto das 12h de ontem, o SEF emitiu
um curto comunicado em que só con-
Ærmava estar “a decorrer uma opera-
ção, na zona do Grande Porto, para
cumprimento de vários mandados de
busca”, que contava com a participa-
ção de 50 elementos.
O PÚBLICO sabe que o inquérito é
dirigido pelo Departamento de Inves-
tigação e Acção Penal de PenaÆel.
Contactado pelo PÚBLICO, o pre-
sidente do Sindicato dos Jogadores
ProÆssionais de Futebol (SJPF), Joa-
quim Evangelista, lamentou que
este tipo de situação continue a
ocorrer, apesar de há anos a FIFA,
organismo que superintende o fute-
bol mundial, ter proibido a transfe-
rência internacional (ou primeira
inscrição fora do país de origem) de
jogadores menores de 18 anos.
Recordou que já ajudou dezenas de
jovens jogadores a regressar ao país
de origem depois de terem sido aban-
donados à sua sorte em Portugal e,
por vezes, vítimas de maus tratos.
Aliás, foi o avolumar destas situa-
ções que levou o sindicato a escrever,
em 2021, ao então secretário de Esta-
do da Juventude e do Desporto, João
Paulo Rebelo, pedindo uma interven-
ção do Estado neste problema. Joa-
RUI GAUDÊNCIO
quim Evangelista conta que foi cons-
tituído um grupo de trabalho, que
incluía, entre outras entidades, a
Segurança Social, a Federação Portu-
guesa de Futebol, o SEF e a Polícia
Judiciária, mas acrescenta que este se
reuniu apenas uma vez.
“Entretanto, não aconteceu mais
nada”, lamenta Evangelista, que con-
sidera que este tema devia continuar
a preocupar as autoridades, como
prova mais este caso.
O modus operandi é simples: nor-
malmente os jovens pagam para vir
treinar para Portugal e há clubes
que os aceitam. Treinam durante
algum tempo e, se tiverem talento,
poderão conseguir algum tipo de
contrato. O problema ocorre com
aqueles que não conseguem singrar,
que Æcam muitas vezes abandona-
dos sem meios de subsistência.
Os agentes Æcam muitas vezes
com os passaportes dos jogadores
e, quando há verbas a receber, apo-
deram-se das mesmas.
Para provar o crime de tráÆco de
seres humanos, é necessário provar
que os jogadores foram explorados
por terceiros. Neste tipo de situações
pode ocorrer o crime de auxílio à
imigração ilegal e até burla. Isto por-
que muitos chegam a Portugal e per-
cebem que foram enganados por
intermediários que lhes venderam
um lugar de sonho na Europa mas a
realidade está muito longe disso.
Com Nuno Sousa
Juiz Carlos
Alexandre já é
desembargador
Ana Henriques
O juiz Carlos Alexandre entrou no
Tribunal da Relação de Lisboa, dei-
xando assim a justiça de primeira
instância e tornando-se desembarga-
dor. Também se candidatou a procu-
rador europeu, concorrendo ao cargo
juntamente com outros três magistra-
dos portugueses.
Há muito que o juiz que assina ape-
nas Alexandre reúne condições para
dar este passo na carreira. Mas até há
menos de um ano sempre recusou
fazê-lo, justiÆcando em privado esta
opção com a sua independência pro-
Æssional: “Sou um simples e perene
juiz de província. Não tenho estudos,
não sei comer de faca e garfo, nem
estou habituado a comer certos pra-
tos”, ironizava, autodenominando-se
“o saloio de Mação”.
Em 2010 foi obrigado a renunciar à
promoção, já que a evolução era auto-
mática. Depois de insistir em manter-
se como juiz do Tribunal Central de
Instrução Criminal, em vez de concor-
rer a desembargador, deparou-se com
uma transformação na orgânica deste
tribunal que fez com que os megapro-
cessos que antes eram distribuídos
entre si e outro juiz, habitualmente
Ivo Rosa, passassem a ser sorteados
entre nove magistrados. Com esta
fusão entre o Tribunal Central de Ins-
trução Criminal e o Tribunal de Ins-
trução Criminal de Lisboa, tanto
podiam ir parar-lhe às mãos os gran-
des casos como a pequena delinquên-
cia — à qual não é de todo alheio, uma
vez que durante muito tempo fez tur-
nos extras como forma de aumentar
o salário durante os quais lidava com
este tipo de criminalidade.
Magistrado
recusou-se
durante anos
a ser promovido
ao Tribunal
da Relação
de Lisboa
“A primeira razão é porque, não
tendo eu fortuna pessoal, algumas das
coisas que adquiri e alguns encargos
e compromissos em que me meti só
são sustentáveis se eu trabalhar mais.
Como eu não tenho amigos, amigos
no sentido de pródigos, não tenho
fortuna herdada de meus pais ou de
meus sogros, eu preciso de dinheiro
para pagar os meus encargos. E não
tenho forma de o alcançar que não
seja através do trabalho honrado e
sério”, disse numa entrevista à SIC em
2016, revelando que por cada sábado
ganhava 75 euros. Houve anos em que
só folgou quatro sábados.
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A obra emblemática de Maria Lamas

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em 15 fascículos mensais, com capa
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e o restauro integral das imagens.
Guarde este documento histórico
dedicado «a todas as mulheres
portuguesas (…) que reflecte o grande
sonho de um mundo mais harmonioso e
iluminado de fraternal amor», como era
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16 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023
Sociedade
Protesto com
caricatura
de Costa pôs
em xeque “a
digniƊcação” da
escola pública
Os cartazes foram usados por um
pequeno grupo de professores apenas,
mas não deixaram uma boa imagem.
A relativa representatividade dos
envolvidos não retira peso ao “insulto”
Ana Dias Cordeiro
No 10 de Junho, celebrado este ano
na Régua, uma dezena de professores
empunhou cartazes mostrando uma
imagem caricaturada de António Cos-
ta, com um nariz de porco e lápis
espetados nos olhos, ao lado da pala-
vra de ordem sempre presente nas
manifestações deste último ano e que
os docentes reivindicam: respeito.
Não foram precisas muitas pessoas
para um protesto que chocou mesmo
aqueles que têm sido apoiantes incon-
dicionais da contestação dos profes-
sores. Exigir a valorização da proÆs-
são para manter intacta a própria
dignidade da escola pública foram
algumas das mensagens mais batidas
ao longo deste ano lectivo pontuado
por dezenas de manifestações e pro-
testos de vários tipos.
Mas com o protesto de sábado
passado, e a caricatura que muitos
qualiÆcam de “inaceitável” e “ofen-
siva” da imagem do primeiro-minis-
tro, a própria imagem do movimen-
to de contestação enraizada em
diversas iniciativas de norte a sul do
país Æca beliscada, dizem represen-
tantes do ensino ou dos sindicatos
ouvidos pelo PÚBLICO.
“O mais chocante é a utilização do
momento de celebração do Dia de
Portugal para este protesto”, diz
João Dias da Silva, ex-líder da Fede-
ração Nacional da Educação (FNE).
“É inaceitável a forma que este pro-
testo assumiu.”
“Uma coisa é a pessoa manifestar-
se; outra, totalmente diferente, é a
agressão naquele cartaz e nos insultos
proferidos pelos professores. Não me
revejo de maneira nenhuma naquele
tipo de acção, e acho deplorável que
se tenha ido nesse sentido no Dia de
Portugal”, lamenta.
João Dias da Silva foi secretário-
geral da FNE entre 2004 e Maio de
2023, num percurso que o ajuda a
ver como uma evidência que há um
antes e um depois do 10 de Junho,
quando a questão é saber se o acto
foi prejudicial para a imagem do
movimento da contestação dos pro-
fessores. “É evidente e muito natural
que o comum dos cidadãos tenda a
fazer uma generalização de que os
professores são todos assim, e não
são. Esta manifestação corresponde
a uma acção muito minoritária de
um grupo de pessoas. Mas, para
alguns portugueses, isto signiÆcará
retirar razão aos professores”, diz.
O sociólogo João Sebastião, por sua
vez, põe o eventual impacto negativo
em perspectiva, ao salientar a hetero-
geneidade do grupo proÆssional que
está aqui no centro das atenções.
“Temos professores [que militam ou
apoiam partidos muito diferentes],
desde o Movimento Alternativa Socia-
lista ao Chega”, reitera o professor
associado do Departamento de Ciên-
cia Política do ISCTE–IUL.
“Todos fazem parte do mesmo gru-
po proÆssional, mas estão longe de ser
um grupo homogéneo. Este grupo
restrito que empunhou os cartazes
não representa o conjunto. Só é repre-
sentativo da diversidade que existe.”
Por agora, o impacto (porventura
negativo) é uma incógnita para João
Sebastião. “Se vai prejudicar, não ire-
mos saber no imediato.” E isso vai
depender de muitas outras variáveis,
como a forma como professores e
Governo se posicionarem relativa-
mente a cada uma das reclamações
dos docentes.
“Egoístas” e “justos”
“Uns são muito egocêntricos, egoístas
até, outros são muito justos. As reivin-
dicações contra a precariedade são
justas. Esta exigência dos professores
relativamente à estabilidade proÆs-
sional é mais do que justa e mais do
que razoável”, diz João Sebastião.
Em contraponto, considera que “a
reivindicação da recuperação de todo
o tempo de trabalho não o é”. “Quan-
do falamos do congelamento do tem-
po de serviço, isso não aconteceu só
aos professores, mas também a outros
funcionários públicos em geral”, gru-
po no qual se inclui.
Para este sociólogo de uma univer-
sidade pública, nem tudo se enqua-
dra na liberdade de expressão por-
que, como diz, a lição que se tira
deste caso é que “há grupos que não
respeitam as instituições”.
Há que manifestar o desacordo ou
a oposição a determinadas posições,
“mas o respeito pelas instituições é
uma questão importante e decisiva”,
declara o professor. “Esta iniciativa Uma dezena de professores
[dos cartazes] é claramente ofensiva empunhou cartazes
e insultuosa, e parte de um grupo mostrando uma imagem
muito restrito de professores”, conti- caricaturada de António
nua João Sebastião, antes de acres- Costa, com um nariz de porco
centar que “não digniÆca em nada a e lápis espetados nos olhos
classe proÆssional que reivindica ser
um modelo para os alunos”.
Este é, aliás, um dos aspectos tam-
bém realçados por Manuel Pereira,
presidente da Associação Nacional de
Dirigentes Escolares, no seu comen-
tário ao episódio que levou o primei-
ro-ministro, António Costa, a qualiÆ#
car os cartazes de “racistas” sendo ele
a Ægura neles retratada. “Não vale
tudo”, sentencia Manuel Pereira.
“Em nome da luta responsável e
justa dos professores, não é justo, nem
correcto, nem eticamente responsável
que se insulte e maltrate os titulares
de cargos públicos”, continua.
“Somos educadores, somos profes- Uma coisa é a
sores, temos de dar o exemplo. Eu vi
as imagens e Æquei chocado, como
pessoa
também Æquei noutras ocasiões em manifestar-se;
que vi que em manifestações pareci-
das se ultrapassavam os limites da
outra, totalmente
ética, do bom senso e da boa educa- diferente, é a
ção. Nós não sabemos quem são
aquelas pessoas”, diz sobre o grupo
agressão naquele
de cerca de dez pessoas que surgiu no cartaz e nos
local onde se encontravam represen-
tantes da Fenprof.
insultos proferidos
“Eu admito que haja pessoas inÆl- pelos professores
tradas a tentar criar problemas. E
admito que possam ser professores, João Dias da Silva
mas, se o forem, tiveram uma actua- Ex-líder da Federação Nacional
ção em que os limites foram claramen- da Educação

JOSÉ COELHO/LUSA
te ultrapassados ainda por cima num
dia que deve ser de união. As pessoas
devem protestar mas com elevação.”
“Temos a obrigação de defender
a escola pública e defender a escola
pública é protegê-la de situações
como estas, proteger a sua digniÆca-
ção”, diz Manuel Pereira, para quem
esta actuação, embora de um peque-
no grupo, “prejudica sempre a ima-
gem do movimento”.
“Agora não há nada a fazer. O mal
está feito. É [preciso] demarcarem-
-se muito claramente desse grupo
reduzido de professores”, diz João
Dias da Silva.
A Fenprof e a FNE demarcaram-se
deste protesto, que recolheu críticas
mas também suscitou discussão de
vários tipos: se os cartazes eram uma
expressão de um comportamento
racista; se a sua utilização, recorrendo
à ironia, entraria naquilo que é a liber-
dade de expressão e por isso não deve-
ria ser necessariamente atacado.
Sobre esta última questão diz Pau-
lo Sucena, que foi secretário-geral da
Fenprof entre 1994 e 2007, que não
se pode esperar que “o comum das
pessoas seja especializado em ques-
tões de estética ou de ironia” dos
cartoonistas, justiÆcando que a pri-
meira leitura aos cartazes, com a
projecção decorrente de terem sido
difundidas várias vezes pelas televi-
sões, é predominantemente ofensi-
va. E para concluir diz estar convicto
de que isto “não reforçou, nem aju-
dou a luta dos professores”.
Desumanizar com um nariz de porco, uma ideia “de mau gosto” e as “linhas vermelhas”
Há uma “degradação do discurso público”
Joana Amaral Cardoso
António, Hugo Van Der
Ding e Luís Afonso
discutem os desenhos que
perseguiram António Costa
no 10 de Junho
A caricatura, multiplicada em vários
cartazes, serviu de pano de fundo à
caminhada do primeiro-ministro
durante as comemorações do Dia de
Portugal, no sábado, no Peso da
Régua. A certa altura, António Costa
diz aos jornalistas que os cartazes em
que aparece com nariz de porco e
lápis espetados nos olhos são “um
pouco racistas”. Nasceu um tema —
ou melhor, renasceu. “Há uma degra-
dação muito grande no discurso
público”, lamenta Hugo Van Der
Ding, autor dos cartoons sobre ques-
tões de classe A Criada Malcriada,
para quem “retratar as pessoas como
animais é a linha [vermelha], é muito
desumanizador”. António Antunes,
cartunista mais conhecido como
António, discorda: “Não vejo na ideia
de animalizar os caricaturados uma
linha vermelha, desde que se justiÆ#
que no discurso pelas ideias que
transmite.” Ainda assim, acha a repre-
sentação de Costa “de muito mau
gosto”. Como se baliza este caso?
O momento, dia 10, era tenso, e a
marcação ao primeiro-ministro inten-
cional. Os professores estão em luta
há meses. António sublinha a ironia
de uma das palavras mais repetidas
nas trocas entre os manifestantes e o
Governo ser “respeito”. “Não deixa
de ser sintomático.” Usa a mesma
palavra para classiÆcar a distância
que “todos os sindicatos envolvidos”
querem manter da polémica imagem.
“Não é por acaso. A ideia é tão má, tão
má que não a podem aceitar.”
No domingo, o Jornal de Notícias
falou com o autor deste e outros dese-
nhos que têm acompanhado os pro-
testos dos professores — é docente há
26 anos, estava na manifestação do
10 de Junho em que a sua caricatura
também Ægurava nas T-shirts de
vários contestatários, chama-se Pedro
Brito (não confundir com o ilustrador
proÆssional homónimo). Rejeita a
leitura do primeiro-ministro e de
comentadores de um espectro tão
alargado quanto o composto por Luís
Marques Mendes, António Lobo
Xavier ou Ana Gomes e Isabel Morei-
ra. “Não tem absolutamente nada de
racista”, disse ao JN o professor, sin-
dicalizado na Federação Nacional dos
Professores (Fenprof ), estrutura que
já se demarcou das imagens. Pedro
Brito assumiu a responsabilidade
individual pela caricatura.
“António Costa, que é racializado,
viu naqueles cartazes racismo. Ele
sabe”, escreveu a deputada socialista
Isabel Moreira nas redes sociais. “Ele
sabe que animalizar daquela forma a
sua cara — o rosto de uma pessoa
racializada — não é a mesma coisa que
animalizar quem nunca sofreu ‘por
causa’ da sua etnia.” O PÚBLICO não
perguntou a qualquer entrevistado
sobre se considerava a imagem racis-
ta. Hugo Van Der Ding falava de como
este caso é um exemplo de como “a
sociedade está tão polarizada” e de
repente postula: “É indiscutível que
aqueles cartazes são racistas e a bito-
la é o visado. O visado sentiu-se alvo
de uma agressão racista.”
Luís Afonso, autor do Bartoon do
PÚBLICO, e António e Rodrigo de
Matos, cartunistas do semanário
Expresso, não vêem o caso com tanta
clareza. “Cada um tem as suas linhas
vermelhas, são à vontade do freguês.
Lembro-me de, quando Passos Coe-
lho era primeiro-ministro, haver cari-
caturas dele como Hitler nas manifes-
tações. Se vamos estabelecer que há
linhas vermelhas, é difícil todos esta-
rem de acordo”, suspira Luís Afonso.
Tal como António, considera que
pode haver um aproveitamento racis-
ta posterior da imagem, algo “intole-
rável, ofensivo”, diz Luís Afonso.
António considera, aliás, que esse não
é o foco do cartaz. “Do ponto de vista
plástico não teria nenhuma reserva à
utilização de animais [para represen-
tar um político], se fosse um elemen-
to para canalizar alguma ideia, mas a
ideia é só insultar. Não vejo ali reÇec-
tidas as causas dos professores”, opi-
na, por seu turno, António.
“Podia ser um cágado”
Este é apenas mais um caso em que,
nos últimos anos, os temas mais frac-
turantes vêm a lume no braseiro do
humor e da liberdade de expressão.
Dos cartoons de Maomé no jornal
dinamarquês Jyllands-Posten em 2005
ao ataque ao jornal satírico francês
Charlie Hebdo dez anos depois e pelo
mesmo motivo, passando pelas críti-
cas ao cartunista português António,
acusado de anti-semitismo por um
desenho com Donald Trump com
Benjamin Netanyahu retratado como
um cão-guia com uma kipá (o chapéu
que cobre a cabeça dos judeus religio-
sos) pela trela, a forma como se repre-
sentam grupos, temas ou personali-
dades é alvo de grande escrutínio.
Tal como o caso citado sobre Pedro
Passos Coelho, o desenho com Antó-
nio Costa é um cartaz usado em pro-
testos, não sendo mediado, como o
dos cartunistas proÆssionais, pelos
órgãos de comunicação social. No
Facebook, o desenhador Nuno Sarai-
va fez uma útil e breve história de
como “a caricatura, na propaganda
Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 17
de certas ideologias dos meados do
século XX, foi uma forma de lingua-
gem bem eÆcaz”, útil hoje para se
perceber características de “uma
inteira sociedade de má memória”. E
considera os cartazes e camisolas
com a efígie de Costa animalizado
como “cartazes com uma caricatura
fraquinha na arte mas bruta no con-
teúdo, procurando humilhar”.
António diz mesmo que “não há
uma atitude caricatural em relação ao
visado” e que em certos trabalhos,
como aquele em que representou
Trump como um Presidente cego guia-
do por um líder israelita na posição de
cão, “as pessoas vêem o que querem
ver”. A ideia não é dizer que ele é um
cão, podia ser um cágado noutro dese-
nho. É um veículo para transmitir uma
ideia”, diz ao PÚBLICO.
Rodrigo de Matos trabalha para o
Expresso e sublinha que a linguagem
do cartoon inclui metáfora e metafísi-
ca e considera que “ler imagens deste
tipo de forma forçadamente literal e
considerá-las ofensivas é, mais do que
abusivo… praticamente iliteracia
visual”. A caricatura é uma arma polí-
tica, os políticos são pessoas habitua-
das a um grau de exposição e crítica
consideráveis e a caricatura é uma
É indiscutível que
aqueles cartazes
são racistas e a
bitola é o visado.
O visado sentiu-se
alvo de uma
agressão racista
Hugo Van Der Ding
Autor do cartoon
A Criada Malcriada
Sociedade
arte em que exagero de traços físicos,
por exemplo, é uma ferramenta
comum. Quando tudo isto se cruza
com pessoas racializadas, em que
lugar Æca a caricatura confrontada
com Æltros ou reÇexões prévias sobre
como será recebida ou quem tocará?
“Neste caso concreto, acho abusi-
vo considerar a imagem em causa
racista”, começa por responder
Rodrigo de Matos, por email. “Penso
que os professores têm razão quan-
do dizem que o primeiro-ministro
parece estar a tentar desviar a aten-
ção do essencial.” Sobre o cartoon
postula que o racismo não faz senti-
do, “quando a única raça que existe
é a humana”, mas evoca os temores
das chamadas “guerras culturais”:
“Nesta era de indignação recreativa
e de silenciamento de ideias não
consensuais, o que observamos é
uma aproximação a uma atitude
censória generalizada em que cada
vez menos é permitido. Isto é con-
traproducente, porque acredito que
uma má ideia não se combate com
o cancelamento dessa ideia, mas
com a sobreposição, no debate
público, de uma ideia melhor.”
Trump e Ventura
Tal como os restantes proÆssionais
auscultados sobre o tema, Matos acre-
dita que os limites só devem existir no
âmago de cada cartunista. Todos são
contra a censura, linhas vermelhas e
limites. Mas Hugo Van Der Ding está
preocupado com a “escalada”, com o
“populismo” e com aquilo que se con-
siderava impensável acontecer diaria-
mente. Tudo começou com a frase de
Donald Trump “grab’em by the pussy”,
nos EUA, e em Portugal “o limite foi
ultrapassado quando André Ventura
disse à [deputada] Joacine Katar
Moreira [uma versão da frase] ‘Volta
para a tua terra’ no Parlamento”.
Nuno Saraiva explica no seu post,
em que não dá a sua opinião sobre
Costa, mas em que refere que acha
que “a maioria absoluta lhe fez mal”,
o seguinte: “Desenho o mesmo
homem quase todas as semanas, e
muitos outros e outras políticas,
alguns amigos outros inimigos. Gosto
de o desenhar, faço-o sempre redon-
dinho, umas vezes simpático outras
vezes rezingão.” Lamenta a deforma-
ção da cor e do rosto do primeiro-
ministro no desenho. António, o
homem que pôs um preservativo no
nariz do Papa João Paulo II, admite
que o cartaz de Pedro Brito tenha
“talvez o objectivo de humilhar o pri-
meiro-ministro”. Com o uso de um
nariz de porco, o que o desumaniza?
“Concordo. Mas se for ao serviço de
uma ideia que justiÆcasse, eu defen-
dê-lo-ia. Como não há, é estúpido. É
uma ideia de mau gosto.”
18 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023

Local Projecto integral ainda não tem data para execução

Antes das obras estruturais, câmara vai

mitigar cheias em Algés com paliativos
Câmara de Oeiras diz que medidas são prelúdio de grande intervenção a fazer pela administração central.
Autarquia garante que pagará metade do custo, “seja qual for o seu valor”
RICARDO LOPES

Samuel Alemão
É um projecto com nove medidas
concretas, mas sem datas deÆnidas.
No fundo, trata-se de um paliativo, até
que as “obras estruturais” sejam rea-
lizadas e, assim, possam resolver, de
vez, o problema das cheias recorren-
tes em Algés. A Câmara Municipal de
Oeiras (CMO) quer começar a aplicar
um plano de “mitigação imediata”
das inundações que periodicamente
assolam a localidade, embora a con-
cretização de diversas medidas pre-
vistas no projecto demore algum
tempo. Ou seja, diÆcilmente podem
ser vistas como imediatas, tal como
são agora promovidas.
O plano foi dado a conhecer pela
autarquia na semana passada e
resulta de um despacho interno
assinado pelo presidente, Isaltino
Morais, tendo como preocupação
central do município “a salvaguarda
da vida humana, dos bens pessoais
e infra-estruturas municipais”,
segundo anuncia em comunicado a
Câmara de Oeiras. Isso é o que vem
antes das grandes obras, que serão
da responsabilidade da administra-
ção central, diz a autarquia.
Um projecto revelado no mesmo
dia em que o PÚBLICO deu conta da
construção de um novo parque de
estacionamento, o qual terá uma
capacidade para 160 viaturas e, ine- Uma das medidas passa pela instalação de um sistema de bombagem das águas na Rua Major Afonso Palla
vitavelmente, contribuirá para o
aumento da impermeabilização dos tos do plano passa pela criação de estátuas”. Por isso, a segunda medida se a criação de um sistema de alerta No comunicado que dá conta deste
solos naquela zona. Isto apesar de a “um declive menos acentuado na do plano contempla a realização de através de difusão electrónica, gerido plano, refere-se que as medidas serão
autarquia oeirense referir que os zona de encanamento da ribeira de um estudo, em articulação com os pela Protecção Civil Municipal, e “desenvolvidas de imediato, enquan-
4350 metros quadrados do novo Algés (Largo Comandante Augusto Serviços Municipalizados de Água e recorrendo aos telemóveis, para aler- to não são realizadas as obras estru-
equipamento dedicado à circulação Madureira), por forma a permitir Saneamento de Oeiras e Amadora, tar os habitantes das zonas de risco turais necessárias, cuja execução é da
automóvel e pedonal, de um total um mais Çuido caudal de água”. É a para que seja desenvolvida uma esta- de cheias de Algés. responsabilidade do Governo.
de 5500, serão pavimentados com partir desse arruamento que, por ção elevatória com sistema automá- Também se antecipa a instalação E acrescenta que “o município já
betão de características drenantes. regra, e em direcção à zona ribeiri- tico de bombagem a instalar nessa de um “sistema de alerta sonoro” na se disponibilizou a Ænanciar metade
Os restantes 1150 metros quadrados nha da freguesia, a água daquele rua, para escoamento das águas plu- zona de risco de inundação daquela do custo da obra, cabendo à adminis-
estarão “afectos a zonas verdes”, ribeiro causa mais estragos em dias viais para a Ribeira de Algés. localidade, utilizando as infra-estru- tração central a responsabilidade de
segundo a câmara. de grandes intempéries. Prevê-se ainda dotar os Bombei- turas municipais e da empresa muni- avançar com o restante investimento
Entre o conjunto de medidas a E essa água em Çuxo torrencial vai ros Voluntários de Algés de sistemas cipal Parques Tejo, já existentes. Ou para o alargamento da ribeira”.
implementar no âmbito deste plano acumular-se na Rua Major Afonso de retenção e encaminhamento de seja, o sistema de som do novo esta- O PÚBLICO solicitou à autarquia
de mitigação contra inundações Palla, conhecida como a “rua das águas para garantir a salvaguarda cionamento poderá vir a servir para informação sobre os custos dessa
encontra-se a instalação de compor- dos edifícios municipais mais afec- difundir alertas aos residentes nas intervenção. “O Município de Oeiras
tas, “em todos os acessos habitacio- tados pelas inundações. Mas tam- imediações sobre o perigo de inun- disponibiliza-se a Ænanciar 50% do
nais e de comércio”, na zona com-
Câmara Municipal bém equipar a Protecção Civil Muni- dações. custo da obra, seja qual for o seu
preendida entre o Largo Comandan- de Oeiras vai cipal com um sistema de bombas de Este plano preventivo aposta ainda valor”, responde a autarquia.
te Augusto Madureira e a Rua Major extracção de água de alto débito no reconhecimento das situações de Questionou-se ainda sobre a exis-
Afonso Palla, de acordo com o
Änanciar metade para utilização partilhada com os risco. Por um lado, propõe-se “fazer tência de um cronograma para a apli-
levantamento efectuado pela Pro- do investimento, Bombeiros Municipais. um levantamento exaustivo de muní- cação das diferentes etapas do plano
tecção Civil Municipal. Esta é, pre- cipes em situação de vulnerabilidade de mitigação e quanto é que custará:
cisamente, a área mais afectada
seja qual for o Sistema de alertas e que habitem nas zonas de Algés “O plano de prevenção para a mitiga-
pelas cheias e corresponde ao troço valor monetário Outro dos vectores do plano agora sujeitas a cheias, mantendo a mesma ção das cheias, cujo investimento não
a partir do qual a ribeira de Algés se publicitado é do aviso atempado da actualizada”. Por outro, vai efectuar- está ainda apurado, é para aplicar no
encontra encanada.
da empreitada população daquela localidade sobre se, anualmente, uma vistoria à ribei- imediato, à medida que for sendo
Não por acaso, um dos nove pon- total situações de perigo iminente. Prevê- ra que passa pela freguesia. possível aplicar as medidas.”

Escolas de Cascais vão ter “mentores”
para apoiar professores e alunos
Luciano Alvarez
O investimento é de 3,7
milhões de euros, entra em
vigor no ano lectivo de
2023/24 e prevê também
aulas de computação
A Câmara Municipal de Cascais (CMC)
vai criar no próximo ano lectivo
(2023/24) a Ægura do “mentor” nas
escolas públicas do concelho. São,
segundo a autarquia, 30 “jovens licen-
ciados com competências de comu-
nicação, liderança e colaboração,
motivados para gerar um impacto
positivo” no apoio a alunos e profes-
sores. A câmara vai também propor-
cionar aulas de computação.
O programa Mentoria e Computa-
ção, que é apresentado nesta quarta-
feira aos professores do concelho,
tem um investimento de 3,7 milhões
e visa “contribuir para o sucesso aca-
démico e o desenvolvimento de com-
petências dos alunos”.
Os responsáveis da autarquia cas-
calense lembram, citando a OCDE,
que “podem ser necessárias cinco
gerações para que os descendentes
de uma família de baixos rendimen-
tos alcancem os rendimentos
médios”. E que “é através da educa-
ção que este paradigma pode mudar”.
Acrescentam ainda que os estabele-
cimentos públicos de ensino surgem
sempre vários locais abaixo dos pri-
vados nos rankings das escolas.
“Em Cascais, acreditamos no
potencial de todos, razão pela qual
implementamos um conjunto de
Açores: acesso à lagoa do Fogo no Verão só por shuttle
O acesso à lagoa do Fogo, na ilha
de São Miguel, vai passar a fazer-se,
a partir de quinta-feira, através de
um serviço de transporte de ida e
volta (shuttle), anunciou ontem a
secretária regional do Turismo,
Mobilidade e Infra-Estruturas. Será
vedada a circulação de viaturas par-
ticulares e só o pequeno autocarro
fará o percurso.
De acordo com Berta Cabral, o
shuttle será gratuito para os residen-
tes e terá um custo de cinco euros
para não residentes. A governante
assinou ontem, em Ponta Delgada, o
contrato de adjudicação do serviço
à empresa Atlanticoenergy.
O transporte para a lagoa do Fogo
irá sair da Caldeira Velha, no conce-
Programa vai custar cerca de 3,7 milhões de euros à autarquia
soluções que vão contribuir para
mudar esta realidade. É aqui que sur-
ge o programa de Mentoria e Com-
putação: alunos e professores do
ensino secundário vão contar com o
apoio de mentores em algumas dis-
ciplinas, enquanto os estudantes de
3.º ciclo iniciam a aprendizagem em
computação. Este acompanhamento
é alargado com a formação de profes-
sores em computação ou pedagogia
e ensino partilhado”, dizem também
os responsáveis pela autarquia.
lho da Ribeira Grande, e termina na
Casa da Água, na Lagoa. Pelo cami-
nho, o autocarro passa por seis pon-
tos de atracção turística.
Segundo a secretária regional, este
transporte vai funcionar com para-
gens em vários sítios, permitindo
que os turistas possam interromper
e seguir viagem e vai cobrir cerca de
14 quilómetros, das 9h às 19h, todos
os dias da semana, incluindo feria-
dos nacionais, regionais ou munici-
pais, até 30 de Setembro.
A medida, proposta pela Iniciativa
Liberal (IL), foi aprovada no parla-
mento regional em Janeiro e pretende
acabar com a concentração de auto-
móveis junto ao miradouro, uma
situação que se veriÆcou durante as
Até ao Æm do ano lectivo 2025/26,
o programa vai abranger “mais de
14.500 alunos do ensino público do
concelho, incluindo 3600 do ensino
da computação”.
“A escola pública é fulcral para
nós. Queremos que Cascais seja um
concelho o mais coeso possível e a
escola é a maior ferramenta para a
mobilidade social que temos,” aÆr-
mou ao PÚBLICO Miguel Pinto Luz,
vice-presidente da CMC (PSD).
“A generalidade dos alunos das
últimas épocas altas. O diploma apro-
vado — teve apenas um voto contra,
do independente Carlos Furtado
(eleito pelo Chega) — pretende criar
seis pontos de paragem turística no
percurso do autocarro. Um trajecto
com cerca de 11 quilómetros.
Berta Cabral anunciou ainda que
os bilhetes serão comprados através
de uma plataforma digital e que os
carros alugados vão deixar de circu-
O serviço vai ter
seis pontos de
paragem turística
ao longo dos 11
quilómetros, até
chegar à lagoa
do Fogo
Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 19
RUI GAUDÊNCIO
escolas públicas de Cascais precisa de
mais acompanhamento e ajuda. É o
que pretendemos com este programa:
acompanhar, incentivar e motivar os
alunos,” acrescenta o autarca.
No que respeita à chamada “men-
toria”, o projecto visa colocar os ditos
mentores nas salas de aula “para cola-
borarem com os professores no
acompanhamento das turmas”. Esta
nova Ægura estará focada na discipli-
na de Português, leccionada a todos
os alunos, “mas também poderá
lar na estrada entre a Caldeira Velha
(Ribeira Grande) e a Casa da Água
(Lagoa).
O objectivo é que esses veículos
alugados estacionem nos parques de
estacionamento existentes na zona
e que os passageiros usem o shuttle
para chegar à lagoa do Fogo.
A governante acrescentou que o
parque de estacionamento da Caldei-
ra Velha (101 lugares) e o parque de
estacionamento junto à Casa da Água
(60 lugares) foram incrementados
em mais 30 lugares cada.
A utilização do parque no mira-
douro da lagoa do Fogo (48 lugares)
manter-se-á gratuita nos primeiros
20 minutos e sujeita a pagamento
nos períodos seguintes, e, no total,
Local
apoiar em outras disciplinas consoan-
te a necessidade da escola”.
Pinto Luz diz que estes proÆssio-
nais podem “aumentar a conÆança,
resiliência e motivação dos alunos
no ensino, promovendo o desenvol-
vimento de competências e habili-
dades académicas que fomentem o
sucesso escolar”.
“Podem ajudar em várias áreas,
nomeadamente na metodologia de
aprendizagem, na mobilidade social
e podem ajudar os alunos a utilizar
melhor o seu tempo”, salienta.
O autarca assegura que “em nenhu-
ma ocasião” estes “mentores” pos-
sam substituir os professores. “Nun-
ca. Os professores são insubstituíveis.
Eles vão lá estar para apoiar os pro-
fessores e os alunos”, garante.
Já no que respeita ao ensino de com-
putação, o programa visa “incentivar
a literacia computacional através de
actividades práticas e dinâmicas, em
que os alunos aprendem como funcio-
na o computador e quais os processos
por detrás do que vemos, seja como
criar um QRcode ou desenvolver men-
sagens encriptadas, entre outros”.
O programa destina-se a todas as
turmas de 3.º ciclo das escolas públi-
cas de Cascais, mas os professores de
2.º, 3.º ciclos, e ensino secundário
também vão poder frequentar forma-
ções em pedagogia e ensino partilha-
do ou em computação.
A autarquia garante ainda que “os
professores serão abrangidos ao abri-
go da estratégia local de habitação
pública do concelho, estando já pre-
vista a disponibilização de 50 fogos
para estes proÆssionais”.
estarão disponíveis cerca de 200
lugares de estacionamento.
Berta Cabral disse que a concessão
foi feita por três anos, tendo o preço-
-base sido de cerca de 453 mil euros,
mas a empresa exploradora apresen-
tou um valor de 409.999 mil euros,
acrescido de IVA.
Questionada sobre o facto de esta
opção não retirar a pressão turística
à cratera da lagoa, para a qual há
vários trilhos de acesso, a secretária
regional do Turismo, Mobilidade e
Infra-Estruturas considerou que este
acesso “tem de ser disciplinado” e
“que terá outra forma de se contro-
lar por parte do secretário regional
do Ambiente e Alterações Climáti-
cas” PÚBLICO/Lusa
20 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023
Mundo Departamento de Justiça dos EUA acusa ex-Presidente
Trump em risco de ir para a prisão
sem passar pela Casa Branca
Ex-Presidente dos EUA vai comparecer hoje num tribunal de Miami, na Florida, para ser notiÄcado
da sua acusação no caso dos documentos da Casa Branca. O que está em causa?
Alexandre Martins
Durante décadas, o nome de Trump
foi sinónimo de arranha-céus em
Manhattan — um dos pedaços do pla-
neta mais apetecíveis para os magna-
tas do imobiliário. Agora, ameaçado
por quatro investigações criminais, o
ex-Presidente dos Estados Unidos
vê-se no meio de uma diferente par-
tida de Monopólio, em que o adver-
sário é a Justiça, e o prémio é mais
importante do que o preço do metro
quadrado na Quinta Avenida: se for
reeleito em 2024, os seus problemas
legais podem desaparecer.
Na sexta-feira, Trump foi acusado
pelo Departamento de Justiça de ter
cometido 37 crimes federais no caso
dos documentos da Casa Branca reti-
dos na sua mansão na Florida. Em
Ænais de Março, foi acusado de 34
crimes Ænanceiros no estado de Nova
Iorque, relacionados com o pagamen-
to pelo silêncio de uma antiga actriz
de Ælmes pornográÆcos na campanha
de 2016. E é possível que venha a ser
acusado em outras duas investigações
criminais: uma sobre o seu papel na
invasão do Capitólio, e outra sobre as
pressões no estado da Georgia para a
anulação da vitória de Joe Biden na
eleição de 2020.
Trump acusa o Departamento de
Justiça de ter dois pesos e duas medi-
das, após a descoberta de documen-
tos da Casa Branca na posse de Joe
Biden, dos tempos em que o Presiden-
te dos EUA era vice-presidente. Em
sentido contrário, o seu ex-procura-
dor-geral e antigo apoiante William
Barr disse no domingo, em entrevista
ao canal Fox News, que a acusação
sobre os documentos da Casa Branca
está bem fundamentada, e vaticinou
que o ex-Presidente “está acabado”.
O que diz a acusação
Segundo o procurador especial que
liderou as investigações, Jack Smith,
Trump violou a Lei de Espionagem 31
vezes, ao reter na sua residência, de
forma intencional e obstinada, 31
documentos com informações vitais
para a segurança do país; e cometeu
seis crimes relacionados com sonega-
ção de informação, incluindo obstru-
ção da Justiça e falsas declarações.
O que diz Trump
O ex-Presidente dos EUA voltou a
dizer que é alvo de uma “caça às
bruxas” e acusou a Administração
Biden de, através do Departamento
de Justiça, querer afastá-lo da corri-
da à Casa Branca em 2024.
Comparência em tribunal
Hoje, a partir das 15h locais (20h
em Portugal continental), Trump
vai ser confrontado com os termos
da acusação num tribunal de Miami,
na Florida.
Ainda não se sabe quem irá presi-
dir à audiência, se será a juíza Aileen
Cannon, a quem o processo foi atri-
buído por sorteio — e que foi acusada,
em 2022, de ter favorecido Trump
num dos passos da investigação —,
ou o juiz Bruce Reinhart, que autori-
zou o mandado de busca na mansão
de Trump em Agosto de 2022.
Casos de Biden e Pence
Em Janeiro, soube-se que Biden e o
ex-vice-presidente Mike Pence tam-
bém tinham na sua posse documentos
da Casa Branca. O facto de nenhum
dos dois ter sido acusado pelo Depar-
tamento de Justiça leva os apoiantes
de Trump a denunciarem uma
suposta perseguição política.
Ao contrário de Trump, tanto
Biden como Pence alertaram o
Departamento de Justiça assim
que os documentos foram des-
cobertos. Como é habitual nos
casos de retenção ilegal de
documentos, o que costuma
ser alvo de uma acusação é a
retenção intencional, e não a
simples posse.
A reforçar esta prática, a
acusação contra Trump não
inclui nenhum dos mais de
100 documentos secretos
que os Arquivos Nacionais
dos EUA descobriram em
15 caixas que o ex-Presiden-
te cedeu à agência em Janei-
ro de 2022; e cita apenas
documentos apreendidos
na sequência de uma inti-
mação e de um mandado
de busca, o que sugere que
Trump não teria sido alvo
de uma acusação se tivesse
devolvido todos os documen-
tos em Janeiro de 2022.
Processo imparcial
No Ænal de uma investigação que
durou mais de um ano, e que passou
Trump diz que é alvo de uma
“caça às bruxas” e acusa o
Presidente Biden de o querer
afastar da corrida à Casa
Branca, em 2024
pelas mãos de vários juízes, o Depar- se certo que a sentença irá Æcar longe
tamento de Justiça convocou um gran- da pena máxima prevista para o mais
de júri para validar a sua acusação. grave dos crimes de que é acusado
Um grupo de 23 cidadãos da Flo- (20 anos de prisão).
rida teve a oportunidade de questio-
nar testemunhas e de ver as provas Lei de Espionagem
recolhidas pelos investigadores. No
Ænal desse processo, a acusa- No domingo, o senador Lindsey
ção foi deduzida porque Graham, um apoiante de Trump,
pelo menos 12 dos inte- criticou os termos da acusação, fei-
grantes do grande júri ta com base na Lei de Espionagem
consideraram altamente de 1917, e aÆrmou que o ex-Presiden-
provável que Trump tenha te dos EUA “não é um espião”.
cometido crimes. A referência a uma suposta acu-
sação de espionagem resulta de uma
Pena de prisão confusão com o título da lei — o que,
para alguns analistas, é feito de pro-
O ex-Presidente dos EUA pósito com o objectivo de marcar
enfrenta uma pena de pri- pontos na opinião pública.
são de 420 anos no soma- O facto de a acusação fazer refe-
tório das acusações; rência à Lei de Espionagem não
se for condena- signiÆca que o acusado seja suspei-
do, é qua- to de passar informação secreta
a um país inimigo. A lei em causa
proíbe a retenção de documentos
com informações vitais para a segu-
rança nacional.
Presidente na prisão
Se for julgado e condenado em
algum dos casos em que
está envolvido, a lei não impe-
dirá Trump de concorrer à
Casa Branca. Em 1920, o candi-
dato do Partido Socialista,
Eugene V. Debs, concorreu a
partir da cadeia. Debs tinha
sido condenado a dez anos de
prisão por se ter oposto ao
alistamento para a Grande
Guerra. Durante a campanha,
disse que iria perdoar-se a si
próprio se vencesse a eleição,
e a sua pena foi comutada
pelo Presidente Wardin G.
Harding em 1921.
Perdão presidencial
Se for eleito, Trump poderá
tentar anular qualquer sen-
tença de que tenha sido alvo
a nível federal, como os casos
dos documentos e a investi-
gação sobre a invasão do
Capitólio. Não terá poder
para anular condenações a
nível estadual, como a acusação
de crimes Ænanceiros em Nova
Iorque; mas, se não for condenado
até lá, poderá nomear um procura-
dor-geral que aceite pôr Æm a inves-
REUTERS/JONATHAN DRAKE
tigações estaduais.

Número de armas nucleares activas
aumentou no último ano
Especialistas acreditam
que, até ao fim da década, a
China poderá ter um
número idêntico de ogivas
ao da Rússia e dos EUA
O número de armas nucleares está a
subir em todo o mundo, de acordo
com um relatório anual que alerta
para o afastamento cada vez maior
das metas de desnuclearização pro-
metidas pelas maiores potências
mundiais.
As estimativas do Instituto Inter-
nacional de Estudos para a Paz de
Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês)
apontam para a existência de 12512
ogivas nucleares em todo o planeta,
das quais 9576 estão em funciona-
mento. No ano passado, havia 9490
ogivas activas. O relatório diz ainda
que cerca de duas mil ogivas, quase
todas da Rússia e dos EUA, encon-
tram-se num estado de prontidão
operacional elevado, o que signiÆca
que podem ser rapidamente alojadas
em mísseis ou em aeronaves para
serem usadas em combate.
O principal incremento aconteceu
na China, que passou de 350 ogivas
em 2022 para 410 este ano, embora
também tenha havido pequenos
aumentos nos inventários da Rússia,
Paquistão, Coreia do Norte e Índia.
Os autores do relatório alertam
para a “expansão signiÆcativa do
arsenal nuclear” da China. “É cada
vez mais difícil enquadrar esta ten-
dência com o objectivo declarado
pela China de ter apenas as forças
nucleares mínimas necessárias para
manter a sua segurança nacional”,
aÆrmou o investigador do SIPRI Hans
Kristensen.
Os especialistas acreditam que, se
a tendência continuar, a China pode-
rá ter um arsenal nuclear tão vasto
quanto os da Rússia e dos EUA, que
Submarinos nucleares chineses
em exercícios militares
Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 21
hoje representam 90% de todas as
armas nucleares no mundo, até ao
Ænal da década. Os dados relativos à
China têm por base as estimativas do
Departamento de Estado dos EUA,
uma vez que o regime de Pequim não
fornece quaisquer informações
sobre a dimensão do seu arsenal
nuclear.
O aumento do número de ogivas
nucleares põe em causa a declaração
subscrita em 2021 pelos cinco mem-
bros permanentes do Conselho de
Segurança da ONU, que são também
as maiores potências nucleares, de
que “uma guerra nuclear é impossível
de ganhar e não deve ser travada”.
Um dos principais efeitos da guer-
ra na Ucrânia, segundo o SIPRI, é a
diminuição da transparência acerca
dos arsenais nucleares da Rússia e
dos EUA. O relatório recorda a sus-
pensão do tratado New START, em
Fevereiro deste ano, o último com-
promisso para um limite às forças
Mundo
nucleares da Rússia e dos EUA ainda
em vigor. Ainda assim, as estimati-
vas apontam para que os dois países
mantenham as suas forças nucleares
estratégicas dentro dos limites do
antigo tratado.
Desde o início da invasão russa da
Ucrânia, as ameaças que sugerem a
possibilidade de ataques nucleares
por parte de Moscovo intensiÆca-
ram-se.
“Neste período de elevada tensão
geopolítica e desconÆança, com os
canais de comunicação entre rivais
com armas nucleares fechados ou
quase sem funcionar, os riscos de
erros de cálculo, incompreensões
ou acidentes são inaceitavelmente
altos”, diz o director do SIPRI, Dan
Smith.
“Há uma necessidade urgente de
se retomar a diplomacia nuclear e
fortalecer os controlos internacio-
nais sobre as armas nucleares”,
acrescenta. PÚBLICO
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22 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023
Guerra na Ucrânia
“As pequenas
João Pedro Pincha
Quando a prioridade é combater um
inimigo que põe em risco a indepen-
empresas dência do Estado com uma invasão
militar, aumenta o risco de os direi-
tos humanos habituais em tempos
de paz serem relegados para segun-
foram as mais do plano. E a lei marcial em vigor na
Ucrânia há ano e meio veio efectiva-
mente impor limitações a certos
resistentes
direitos e liberdades dos cidadãos.
No contexto empresarial, que é o
campo de estudos da investigadora
ucraniana Olena Uvarova, foram
e responsáveis”
aprovadas mudanças à lei laboral que
alargaram o horário de trabalho das
40 para as 60 horas, que autorizaram
as empresas a só pagarem salários se
pudessem desenvolver as suas acti-
vidades plenamente e que responsa-
bilizaram a Rússia pelo pagamento
de ordenados em atraso.
“O que vemos hoje na sociedade
ucraniana é que as pessoas que
Olena Uvarova, especialista em condutas acham que os seus direitos, laborais
empresariais responsáveis, teme que o por exemplo, estão a ser violados
pensam que não devem protestar
factor tempo se sobreponha aos direitos porque o país está em guerra, porque
há pessoas a morrer na frente. É mui-
humanos na reconstrução da Ucrânia to desaÆante manter os direitos
humanos como uma prioridade na
sociedade nestas circunstâncias”, diz
Uvarova, especialista em Empresas e
Direitos Humanos (BHR, na sigla em
inglês), um campo académico e regu-
latório que antes da guerra estava
ainda numa fase incipiente na Ucrâ-
nia. E ao qual o conÇito armado veio
trazer novos e maiores desaÆos.
O que signiÆca ter uma conduta
empresarial responsável em contex-
to de guerra? Foi sobre isso que Ole-
na Uvarova veio falar a Lisboa, no
Æm de Maio, numa palestra da Nova
School of Law.
Antes, conversou com o PÚBLICO,
e explicou qual foi a sua “maior sur-
presa” durante a guerra: “Fiquei
surpreendida ao constatar que logo
no princípio da guerra, naqueles pri-
meiros dois ou três meses, as peque-
nas empresas locais desempenha-
ram um papel fundamental para
ajudar os residentes a sobreviver. Por
exemplo, pequenas mercearias con-
tinuaram a trabalhar enquanto as
grandes empresas simplesmente
pararam as suas operações e levaram
meses para reabrir. Houve empresas
alimentares de escala nacional que
continuaram a funcionar, mas as
DANIEL ROCHA
Académica ucraniana deu uma
palestra na Nova School of Law
(Lisboa) no final de Maio
suas cadeias de abastecimento foram
afectadas. Pelo contrário, as peque-
nas empresas têm cadeias de abaste-
cimento muito curtas e muitas vezes
abastecem-se localmente. As peque-
nas empresas foram as mais resisten-
tes e as mais responsáveis.”
As companhias que já tinham incor-
porado boas práticas de direitos
humanos na sua actividade diária
demonstraram melhor conduta assim
que a guerra estalou, diz a investiga-
dora. “Por exemplo, as empresas de
tecnologias de informação foram
muito responsáveis, retiraram os seus
Uvarova diz que as
empresas têm a
expectativa de que
o Estado as apoie,
porque “reerguer
a economia é
a prioridade”

empregados [do país], ajudaram as
suas famílias, providenciaram ajuda
psicológica”, aÆrma. E ressalva: “Não
tenho a certeza de que o tenham feito
exclusivamente com uma preocupa-
ção prioritária pelos direitos huma-
nos, mas porque precisavam de man-
ter estes empregados.”
Numa avaliação que fez para a ONU
em 2021, que foi publicada no ano
passado, Olena Uvarova concluiu
que, desde a incoerência legislativa à
fraca Æscalização, passando por uma
falta de consciencialização e de meca-
nismos concretos, a Ucrânia “enfren-
ta muitos desaÆos no que toca a
garantir a responsabilidade das
empresas pelos direitos humanos”.
Ainda assim, acrescenta, durante
a guerra “as empresas estão a tentar
ser responsáveis, especialmente
aquelas que prestam serviços e
que dependem da opinião das pes-
soas, como os retalhistas alimentí-
cios, os fornecedores de Internet e
por aí fora”.
Novo quadro mental
Preocupa-a a futura reconstrução do
país. “A Ucrânia precisa de empresas
a trabalhar e está a tentar criar um
ambiente empresarial amigável. As
empresas têm a expectativa de que o
Estado as apoie. Neste momento, não
vejo grande espaço para os direitos
humanos”, admite. “Precisamos de
mudar a nossa forma de pensar: se a
Ucrânia usar este momento para
redeÆnir o seu quadro mental, temos
a hipótese de reconstruir a nossa eco-
nomia neste novo enquadramento de
conduta empresarial responsável.”
Reconhece, no entanto, que “reer-
guer a economia é a prioridade” e que
“será mais fácil fazê-lo sem esse
enquadramento, com o business as
usual”. A palavra do Estado será
determinante, sublinha Uvarova,
explicando que até agora o papel esta-
tal tem sido pouco interventivo. “A
nossa região [do mundo] tem um pas-
sado soviético e esteve tantos anos
numa situação em que só havia Esta-
do, sem qualquer liberdade económi-
ca, que hoje existe uma realidade
muito desequilibrada. Antes da guer-
ra houve campos da actividade eco-
nómica que foram privatizados e nos
quais o Estado tem um papel muito
limitado para regulação.”
Dá o exemplo do mercado alimen-
tar: “É claro que o Estado o regula,
mas só no nível básico da segurança
alimentar — quando tivemos esta
situação de emergência, com uma
enorme procura por alimentos, o
Estado não teve capacidade para res-
ponder. Por isso podemos apenas ter
a expectativa de uma conduta empre-
sarial responsável.”
“Neste momento temos mais acto-
res não estatais a promover a agenda
da conduta empresarial responsável”,
admite, esperando que a pressão
internacional possa levar o Governo
a envolver-se mais a fundo. “A Ucrâ-
nia leva muito a sério todas as mensa-
gens da União Europeia.”
Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 23
Combates no Sudeste
Ucrânia reclama avanços
no início da contra-ofensiva
Maria João Guimarães
A Ucrânia reivindicou ontem um
avanço no Sudeste do país, dizendo
que retomou o controlo de cinco loca-
lidades às forças russas. A Reuters
classiÆca este avanço como o mais
rápido feito pela Ucrânia nos últimos
sete meses, mas diz que está longe de
ser uma mudança de dinâmica. O
diário norte-americano The Washing-
ton Post diz que são avanços “modes-
tos, mas com signiÆcado político”.
“Ver as imagens de soldados içando
de novo a bandeira ucraniana em
localidades libertadas é entusiasman-
te para a Ucrânia e os seus aliados”,
comentou o correspondente da BBC
James Waterhouse. Mas o jornalista
diz que são “ganhos modestos”, e que
“estamos a ouvir falar menos sobre
locais onde os progressos são mais
lentos ou não existem”.
Na zona de Zaporijjia, “Kiev perdeu
muitos homens e equipamento
enquanto tentavam encontrar uma
fraqueza” nas defesas da Rússia,
segundo Waterhouse, o que é espe-
cialmente difícil, dado que as forças
russas tiveram meses para preparar
fortiÆcações e têm ainda a superiori-
dade em termos de poder aéreo.
O principal comandante da Ucrânia
aÆrmou, citado pelo Guardian, que
as suas forças estavam envolvidas em
fortes combates: 25 batalhas ao longo
do Sudeste, perto da cidade de
Bakhmut, palco de um prolongado
confronto entre as duas forças que
terá sido o mais mortífero da guerra,
e outras localidades na região de
Donetsk, e ainda perto de Biloho-
rivka, em Lugansk.
A Reuters sublinhou que não tem
sido dado um nível de pormenor
semelhante sobre os combates na
frente sul, onde se esperaria a maior
parte da contra-ofensiva.
Aviões pedidos por Zelensky
não chegarão nesta fase inicial
O analista Nico Lange, da Conferên-
cia de Segurança de Munique, faz
notar que ainda não é possível perce-
ber onde se concentrará a parte mais
substancial da contra-ofensiva. Para
Lange, um factor decisivo para a
Ucrânia será se terá forças suÆcientes
para retomar mais áreas, caso consiga
um progresso na frente.
“A contra-ofensiva começou, mas
não penso que o ataque principal
tenha começado”, escreveu Ben Hod-
ges, antigo comandante das forças
dos EUA na Europa, num artigo para
o Center for European Policy Analysis.
“Quando começarmos a ver grandes
formações blindadas a juntar-se ao
ataque, penso que aí saberemos que
começou a ofensiva principal.”
O secretário de Estado dos EUA,
Antony Blinken, também disse que
ainda era demasiado cedo para fazer
qualquer avaliação do rumo da con-
tra-ofensiva ucraniana. Blinken repe-
tiu o empenho dos EUA na ajuda à
Ucrânia para que possa ter sucesso
no campo de batalha (analistas mili-
tares sublinham, no entanto, que os
aviões que o Presidente, Volodymyr
Zelensky, tem pedido repetidamente
não estarão no país a tempo pelo
menos da fase inicial da contra-ofen-
siva, em que apoio aéreo faria uma
grande diferença).
O Ministério da Defesa da Rússia
declarou, como fez na semana passa-
da, que tinha repelido tentativas de
ataques nas regiões de Donetsk e
Zaporijjia, segundo a Reuters.
Ainda ontem, um porta-voz da
Defesa da Ucrânia acusou a Rússia de
ter feito explodir uma segunda barra-
gem para diÆcultar o avanço das for-
ças ucranianas precisamente no que
o Guardian classiÆca como “o eixo
com mais sucesso das forças ucrania-
nas na parte ocidental de Donetsk”.
A acusação foi feita depois de o que
tudo indica ter sido uma explosão —
em território controlado pela Rússia
— de uma grande barragem que levou
a enormes inundações numa tragédia
humana e industrial de grandes pro-
porções, na semana passada. A bar-
ragem que terá ruído ontem era de
muito menor dimensão — na zona
inundada decorriam, pelo sétimo dia,
operações de resgate, e temiam-se
consequências muito além do local,
incluindo para a Crimeia, península
ucraniana ocupada pela Rússia desde
2014, e anexada nesse ano.
Na Rússia, celebrou-se o dia do país
(da declaração de soberania a 12 de
Junho de 1990), com o Presidente,
Vladimir Putin, a presidir a uma
entrega de prémios e a apelar ao orgu-
lho patriótico da população russa,
pedindo unidade no que disse ser
“uma altura difícil”.
24 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023

Economia Carreiras na Administração Pública

Governo propõe mais 228 euros

de salário para atrair informáticos
Sindicatos dizem que proposta é insuÄciente para tornar as novas carreiras de especialista e de técnico
de sistemas e tecnologia de informação atractivas e competitivas face ao privado
NUNO FERREIRA SANTOS

Raquel Martins
O Governo vai extinguir as carreiras
de informática existentes na função
pública e, no seu lugar, vão surgir
duas novas carreiras: a de especialis-
ta e a de técnico de sistemas e tecno-
logias de informação. A solução apre-
sentada aos sindicatos prevê uma
reformulação da tabela salarial que,
no caso dos especialistas, signiÆca
mais 228 euros por mês na base da
carreira e mais 340 euros para quem
conseguir chegar ao topo. Já os técni-
cos têm uma perda de cerca de 350
euros nos níveis mais altos.
Neste momento, um especialista de
informática em início de carreira tem
um salário de 1526 euros brutos e, se
conseguir chegar ao topo, este valor
sobe para 3221 euros. Os trabalhado-
res que venham a ser admitidos na
nova carreira começam a ganhar 1754
euros brutos, uma diferença de 228
euros, e o nível mais alto é de 3561
euros, o que corresponde a mais 340
euros do que actualmente.
No caso dos técnicos, a diferença
face ao modelo em vigor é menos
expressiva e no topo da carreira pode-
rá haver uma perda. O salário de
entrada é ajustado em 10,5 euros
(para 1228 euros) e no topo em mais
140 euros (para 2333 euros), embora
o desenvolvimento da carreira actual
permita que, em determinadas cir-
cunstâncias, um técnico chegue aos Fesap e STE esperam que ainda haja abertura da secretária de Estado da Administração Pública, Inês Ramires, para melhorar a proposta
2684 euros, valor que na proposta em
cima da mesa não existe. te da Federação de Sindicatos da opinião da Fesap, as torna menos te, por preencher, ao mesmo tempo ca, Inês Ramires, para melhorar a
Os novos valores, previstos no Administração Pública (Fesap). atractivas do que agora. que se manterá a tendência de aban- proposta.
diploma que está em consulta públi- A proposta do Governo é, na pers- Neste momento, tanto a carreira dono dos actuais trabalhadores”, Nessa reunião será também discu-
ca, apenas se aplicam aos trabalhado- pectiva de Helena Rodrigues, presi- de especialista como de técnico de desaÆa o dirigente da Fesap. tido o mecanismo para acelerar as
res que venham a ser admitidos nes- dente do Sindicato dos Quadros informática são pluricategoriais, progressões dos trabalhadores afec-
tas novas carreiras. Os cerca de 5200 Técnicos do Estado (STE) “um pon- com mais de duas dezenas de níveis Nova reunião a 21 de Junho tados pelos dois últimos congelamen-
trabalhadores que agora estão inte- to de partida” para a discussão. Mas de progressão e de promoção, dan- O diploma cria ainda o cargo de con- tos e que podem progredir com seis
grados nas várias carreiras de infor- da primeira reunião com o Governo do aos trabalhadores alguma dinâ- sultor de sistemas e tecnologias de pontos em vez de dez.
mática transitam para as novas e são Æcou com a ideia de que “não há mica na sua evolução proÆssional. A informação. A dotação máxima des- O mecanismo abrange os funcioná-
colocados numa posição remunera- disponibilidade para acompanhar o proposta do Governo é que as novas tes consultores é deÆnida por por- rios públicos integrados em carreiras
tória criada para o efeito. Só nos casos sector privado”. carreiras tenham uma única catego- taria do Governo e são designados abrangidas pelo Sistema Integrado de
em que a remuneração-base é inferior Outro dos problemas identiÆcados ria, com 11 níveis remuneratórios, e em comissão de serviço de dois Avaliação de Desempenho da Admi-
à primeira posição remuneratória da tem a ver com a forma como as novas que a progressão dependa apenas anos. O salário oscila entre os 2543 nistração Pública (SIADAP) que
nova carreira é que são recolocados carreiras estão desenhadas, o que, na da avaliação de desempenho, dei- euros brutos, para os consultores, tenham 18 ou mais anos de antiguida-
nesse nível e os técnicos têm três xando de existir as promoções. e os 4097 euros, para os consultores de na carreira e que exerceram fun-
níveis complementares no topo. Para José Abraão, se a proposta for seniores. ções correspondentes ao conteúdo
Para os sindicatos, a proposta em Sindicatos por diante, “tornaria o topo das car- Esta solução também levanta dúvi- funcional da carreira entre 30 de
cima da mesa traz vários problemas consideram que reiras inalcançáveis para a vasta maio- das a José Abraão, que preferia que a Agosto de 2005 e 31 de Dezembro de
e Æca aquém das expectativas. Desde ria dos trabalhadores”. carreira fosse “suÆcientemente estru- 2007 e entre 1 de Janeiro de 2011 e 31
logo, o facto de os níveis salariais pro- os níveis salariais “É essencial que a revisão dê lugar turada e contemplasse cargos dirigen- de Dezembro de 2017.
postos para a carreira de especialista propostos para a uma carreira mais atractiva, moti- tes e chefes de equipa”. A secretária de Estado comprome-
não serem competitivos. vadora e que permita recrutar e Tanto a Fesap como o STE estão teu-se a avaliar a possibilidade de
“Os 1700 euros propostos para a a carreira de reter os trabalhadores competentes, a ouvir os trabalhadores e esperam também abranger alguns trabalha-
entrada na carreira não são competi- especialista não e não numa carreira condenada que, na reunião marcada para 21 de dores com contrato individual e fun-
tivos à luz do que é pago no sector para a qual se abrirão concursos Junho, haja abertura da secretária cionários que tenham mudado de
privado”, alerta José Abraão, dirigen- são competitivos cujas vagas Æcarão, inevitavelmen- de Estado da Administração Públi- carreira.
 Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 25

Economia

Banco UBS anuncia conclusão do processo

de compra do rival Credit Suisse
Rafaela Burd Relvas
Novo grupo bancário vai
passar a gerir activos no
valor total de 4,6 biliões de
euros. Conta com 120 mil
trabalhadores a nível global
O UBS concluiu, ontem, a aquisição
do Credit Suisse. A operação, decidi-
da em Março pelos reguladores suíços
para evitar que aquele que era o
segundo maior banco do país entras-
se em falência e contagiasse o sistema
bancário, é a maior fusão no sector
desde a crise Ænanceira de 2008 e
vem criar um gigante da gestão de
fortunas a nível global.
“O UBS completou a aquisição do
Credit Suisse, conquistando um mar-
co importante. O Credit Suisse Group
AG já foi incorporado no UBS Group
AG e a entidade resultante desta fusão
vai operar como um grupo bancário
consolidado”, anunciou o UBS, em
comunicado ontem emitido.
Assim, ontem foi o último dia em
que as acções do Credit Suisse foram
negociadas nas bolsas da Suíça e de
Nova Iorque, marcando a conclusão
de uma operação que vai conceder
aos accionistas do banco comprado
uma acção do UBS por cada 22 acções
que detinham do Credit Suisse.
De resto, o banco intervencionado
continuará a existir, ainda que inte-
grado no novo grupo. “O UBS Group
AG vai gerir dois bancos separada-
mente — o UBS AG e o Credit Suisse
AG. Cada instituição vai continuar a
ter as suas próprias subsidiárias e bal-
cões, a servir os seus clientes e a lidar
com as respectivas contrapartes”,
pode ler-se no comunicado, que res-
salva: “O conselho de administração
e a comissão executiva do UBS Group
AG vão assumir a responsabilidade
pelo grupo consolidado.”
A conclusão da operação é comu-
nicada depois de, em Março, a venda
do Credit Suisse, por três mil milhões
de francos suíços (aproximadamente
o mesmo valor em euros), ter sido
anunciada pelo Finma, o órgão regu-
lador Ænanceiro suíço, após dois dias
de negociações intensas. O objectivo
de implementar uma medida desta
dimensão com esta rapidez era sim-
ples: restaurar a conÆança no sector
bancário e estancar as perdas senti-
das nos mercados accionistas, evitan-
do uma crise Ænanceira.
Grupo global
A fusão agora concluída une “dois
bancos globais de importância sisté-
mica pela primeira vez”, resumiu
Colm Kelleher, presidente do conse-
lho de administração do UBS Group,
numa carta aberta ontem publicada
em vários jornais suíços. “Agora,
somos uma empresa suíça global e,
juntos, somos mais fortes. Num
momento em que começamos a ope-
rar o grupo bancário consolidado,
continuaremos a ser guiados pelos
melhores interesses das nossas partes
relacionadas, incluindo dos nossos
accionistas. A nossa prioridade man-
tém-se: servir os nossos clientes com
De acordo com excelência”, acrescentou.
notícias surgidas Já Sergio Emotti, presidente execu-
tivo do novo grupo, destaca a “oferta
aquando do global melhorada, o maior alcance
anúncio da fusão, geográÆco e o acesso a mais compe-
tências que a fusão permite”.
poderão estar em A instituição agora criada vai pas-
causa mais de sar a ter um balanço total de quase
1,5 biliões de dólares e a gerir um
30 mil postos de portefólio de 4,6 biliões de euros
trabalho, cerca de em activos, de acordo com os cálcu-
los da Reuters.
25% do total Ao mesmo tempo, o novo grupo
passa a contar com 120 mil trabalha-
dores a nível global, um número que
será cortado signiÆcativamente em
O banco intervencionado breve, como a administração da UBS
continuará a existir, ainda que já admitiu, embora não sejam conhe-
integrado no novo grupo UBS cidos, para já, números ou metas
DENIS BALIBOUSE/REUTERS
temporais. De acordo com várias
notícias publicadas aquando do anún-
cio da fusão, em Março, poderão estar
em causa mais de 30 mil despedimen-
tos, o que, a conÆrmar-se, represen-
tará 25% da actual força de trabalho.
Perdas garantidas
O anúncio da conclusão da opera-
ção surge poucos dias depois de o
UBS e o Governo suíço terem chega-
do a acordo para a deÆnição de uma
garantia estatal que irá cobrir as
perdas em que a instituição Ænan-
ceira poderá incorrer com a compra
do concorrente, como anunciou o
UBS a 9 de Junho. “O UBS Group AG
e o Governo suíço assinaram um
Acordo de Protecção de Perdas que
se irá efectivar após a conclusão da
aquisição do Credit Suisse. O acordo
vai manter-se em vigor até à venda
de todos os activos cobertos pela
garantia, ou até ser terminado pelo
UBS”, é explicado.
Fica determinado que o UBS supor-
ta, numa primeira fase, perdas de até
cinco mil milhões de francos suíços
que possam resultar da venda de acti-
vos tóxicos e considerados não estra-
tégicos do Credit Suisse. Ultrapassada
esta fasquia, as perdas adicionais que
possam resultar dessas vendas serão
cobertas por uma garantia pública,
até ao valor de nove mil milhões de
francos. “O UBS vai gerir estes activos
de forma prudente e diligente e ten-
ciona minimizar quaisquer perdas e
maximizar os potenciais ganhos com
a venda”, conclui o banco.

Em Portugal, 47% das empresas fazem

reuniões remotas, abaixo da média europeia
Rafaela Burd Relvas
Cerca de metade das empresas
da União Europeia conduziu, no
ano passado, reuniões remotas por
via online, naquela que é uma das
alterações mais visíveis que a pan-
demia de covid-19 veio introduzir à
forma de trabalho. Portugal está
próximo, mas ainda aquém, da
média europeia, com menos de
metade das empresas portuguesas
a realizarem reuniões virtuais
durante o ano passado.
Os dados foram publicados,
ontem, pelo Eurostat, que conduziu
um inquérito a empresas da União
Europeia (UE) com pelo menos dez
trabalhadores e a trabalhadores
independentes sobre a sua utiliza-
ção de tecnologias de informação.
As conclusões mostram que, em
média, em 2022, 50% destes inqui-
ridos tinham tido reuniões remotas
através da Internet.
Este, conclui ainda o Eurostat, é
um resultado directo da pandemia.
“A covid-19 alterou os modelos de
trabalho e levou muitas empresas a
recorrerem a reuniões virtuais para
fazerem face à distância física e
manterem os seus negócios”, pode
ler-se na nota divulgada ontem.
Ainda assim, a percentagem de
empresas que já aderiram a estes
modelos varia muito entre os dife-
rentes Estados-membros. De um
lado, Suécia, Finlândia e Dinamarca
apresentam os níveis mais elevados
de adesão às reuniões remotas, com
mais de 70% das empresas, em
todos estes países, a aderirem a esta
ferramenta em 2022, seguindo-se
Malta e Irlanda, com mais de 60%
em ambos os casos.
Do outro, estão Roménia, Grécia
e Eslováquia, onde a percentagem
de empresas que recorre a este
tipo de modelo rondou os 30%, e,
A pandemia
levou a um
aumento do
trabalho remoto
nos Estados
pertencentes à
União Europeia
abaixo dessa percentagem estão
a Bulgária e a Hungria.
Portugal está a meio da tabela, mas
mantém-se abaixo da média euro-
peia, com cerca de 47% das empresas
a conduzirem reuniões remotas
em 2022. Fica, ainda assim, acima
de países como Itália ou França.
O inquérito do Eurostat revela, tam-
bém, que a maioria das empresas da
União Europeia já oferece modelos de
teletrabalho, embora, neste caso, não
sejam discriminados dados por país.
A adesão a este modelo de trabalho
é avaliada com base no acesso que as
empresas concedem a três tipos de
recursos: o sistema de email empre-
sarial, os documentos da empresa e
as aplicações e software necessários
para o desempenho do trabalho.
No conjunto da União Europeia,
em 2022, cerca de 57% das empresas
com mais de dez trabalhadores ofe-
reciam acesso remoto a todas estas
ferramentas.
Considerando apenas o acesso ao
email, esta percentagem aumenta
para mais de 77% das empresas
inquiridas, enquanto no que diz res-
peito a documentos da empresa (em
que se incluem Æcheiros, bases de
dados, apresentações, gráÆcos ou
imagens) só 65% das empresas per-
mitiam o acesso remoto. Já o acesso
remoto a aplicações e software da
empresa é aquele que tem menor
adesão, com apenas 61% das empre-
sas inquiridas a permitirem-no.
26 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023
Economia
Contabilistas sugerem que Ɗsco crie
simulador oƊcial para novas tabelas do IRS
Pedro Crisóstomo
A cobrança do imposto nos
salários de Julho já terá de
reflectir o novo modelo da
retenção na fonte, mais
próxima do IRS final
As empresas estão a preparar-se para
a entrada em vigor do novo modelo
de retenção na fonte do IRS. O novo
formato arranca a 1 de Julho e, por
isso, as entidades empregadoras têm
as próximas semanas para acabar de
alterar os sistemas informáticos,
para que os vencimentos a pagar em
Julho já sejam processados de acordo
com as novas regras, em que a
cobrança do IRS será mais próxima
do cálculo Ænal do imposto.
Como a fórmula mensal será mais
complexa do que a actual e identiÆ#
car o valor do salário líquido não
será tão imediato como neste
momento, a bastonária da Ordem
dos Contabilistas (OCC), Paula Fran-
co, sugere que a Autoridade Tribu-
tária e Aduaneira (AT) aproveite a
mudança para criar um simulador
oÆcial no Portal das Finanças, para
que cada contribuinte tenha uma
noção aproximada do vencimento
que chegará à conta bancária.
Na Internet encontram-se várias
calculadoras em sites especializados
de economia e Ænanças pessoais,
mas o Portal das Finanças não tem
nenhum instrumento semelhante.
Face a esse vazio, a própria OCC
decidiu desenvolver um simulador
que disponibilizará ao público em
geral nas próximas semanas, já de
acordo com as novas tabelas, possi-
bilitando que os trabalhadores veri-
Æquem qual será o seu rendimento
líquido a partir de Julho.
A bastonária ressalva, no entanto,
que devia existir um simulador oÆcial
da AT. Seria útil, por exemplo, quan-
do um trabalhador tem uma propos-
ta de trabalho e precisa de fazer as
contas antes de a aceitar, sublinha
Paula Franco. “Quando um trabalha-
dor vai a uma entrevista de emprego
e o empregador diz que a remunera-
ção-base é x, o trabalhador [até ago-
ra] ia para casa, consultava as tabelas
de retenções, aplicava a taxa” e che-
gava ao valor do salário líquido a
partir da tabela, bastando ainda
deduzir a percentagem da contribui-
ção à Segurança Social. Como agora
o cálculo não será “tão directo”, por
haver “uma parcela a abater”, seria
“importante existir um simulador
oÆcial da AT para ajudar principal-
mente” nestas circunstâncias, vinca
a bastonária dos contabilistas.
Os recibos de vencimento dos trabalhadores têm de incluir o valor da taxa efectiva de retenção do IRS
Se, até aqui, bastava multiplicar o
valor do salário bruto pela taxa de
retenção indicada na tabela para o
intervalo de rendimentos do trabalha-
dor, agora, a remuneração mensal é
[Era] importante multiplicada pela taxa marginal indi-
cada na tabela e é preciso subtrair
existir um uma parcela; nalguns casos, esse
simulador oÄcial valor está identiÆcado no despacho,
noutros varia em função de uma fór-
da Autoridade mula de cálculo; se os contribuintes
Tributária para tiverem Ælhos, ainda há uma segunda
parcela a abater, cujo montante varia
ajudar consoante o número de dependentes;
Paula Franco Bastonária só depois desses cálculos é que se
da Ordem dos Contabilistas obtém a taxa efectiva de retenção.
ADRIANO MIRANDA
Veja-se o exemplo de um trabalha-
dor solteiro e sem Ælhos, com um salá-
rio bruto mensal de 900 euros: este
valor é multiplicado por 21% (a taxa
marginal máxima indicada na tabela
de retenção); a este resultado (189
euros) tem de se subtrair o valor da
parcela a abater, que corresponde ao
resultado de uma fórmula [21% x 1,3 x
(1350,22 - 900)], o que signiÆca sub-
trair 122,91 euros aos tais 189 euros.
Conclusão: o IRS a entregar ao Estado
mensalmente a partir de Julho será
de 66,1 euros, o que representa uma
taxa de retenção efectiva de 7,3%.
Se o trabalhador for casado e tiver
dois Ælhos, a taxa de retenção para
este mesmo nível salarial é de 1,5%.
Tal como no cálculo anterior, os 900
euros do vencimento bruto são mul-
tiplicados por 21%; ao resultado sub-
trai-se uma primeira parcela (seme-
lhante à simulada antes) e ainda uma
segunda, de 42,86 euros (porque a
tabela prevê um abatimento adicio-
nal de 21,43 euros por cada Ælho).
Daqui resulta que o valor dos abati-
mentos totaliza 165,8 euros, o que
colocará a retenção mensal do IRS
em 23,2 euros, ou seja, numa taxa
efectiva de 2,6%.
Nalguns casos, a fórmula é menos
complexa do que estes exemplos,
mas haverá sempre uma ou duas
parcelas a abater.
Adaptação sem problemas
O Governo decidiu que o novo
modelo só arrancaria a meio deste
ano para as entidades pagadoras de
salários e pensões — das empresas
às IPSS, passando pela Segurança
Social e Caixa Geral de Aposenta-
ções — terem tempo de adaptar os
sistemas de pagamento.
O novo Ægurino, explica Paula
Franco, aproxima as taxas mensais
às “taxas de IRS Ænais” e, de uma
forma global, a retenção vai baixar
a partir de Julho. A única divergên-
cia detectada até agora, denunciada
pela Deco Proteste, tem que ver com
os contribuintes solteiros com Ælhos
com deÆciência, para quem o ren-
dimento líquido mensal resultante
das novas tabelas será inferior ao
actual nalgumas circunstâncias
(acontece em patamares salariais
iguais ou superiores a 1118 euros
brutos mensais, de acordo com o
jornal Dinheiro Vivo).
O PÚBLICO perguntou ao gabine-
te do secretário de Estado dos Assun-
tos Fiscais, Nuno Santos Félix, se a
AT identiÆcou esta discrepância e se
o Governo irá fazer alguma correc-
ção às novas tabelas, mas não obteve
resposta em tempo útil.
Paula Franco refere que a adapta-
ção dos programas de processamen-
to de salários está a cargo das empre-
sas de software e que a mudança tem
decorrido com normalidade. “Tanto
quanto sei, está a correr bem do pon-
to de vista [da implementação]. Pelo
menos até agora não temos relatos
de problemas”, aÆrma.
Este ano, as entidades pagadoras
têm de incluir na folha de vencimen-
tos mensal a indicação de qual é a
taxa efectiva de retenção, obrigação
que passou a estar prevista no Códi-
go do IRS a 1 de Janeiro, com a entra-
da em vigor do Orçamento do Esta-
do para 2023.

AVISO
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, E.P.E. informa que foi
publicado no site institucional: https://www.chvng.min-saude.pt/index.php/
informacao-institucional/recursos-humanos/concursos-e-recrutamento
– o anúncio de recrutamento com a Refª RH/15/2023 que irá proceder à
abertura de procedimento concursal para constituição da reserva de
recrutamento para 1 técnico superior de diagnóstico e terapêutica de
radiologia, em regime de contrato individual de trabalho. As candidaturas
deverão ser efetuadas nos 10 (dez) dias úteis seguintes à data de publicação
do presente aviso, através do envio de correio eletrónico para o endereço
juri.bolsa.rh152023@chvng.min-saude.pt.
AVISO
Sumário: Lista Provisória dos/as Candidatos/as Admitidos/as e Excluídos/
as ao Procedimento Concursal comum na categoria de Assistente Técnico
para exercício de funções de Apoio Administrativo no Teatro Municipal da
Guarda – Referência AT-I.1
1 – Para efeitos do disposto no n.º 4 do artigo 16.º da Portaria n.º 233/2022, de 09
de setembro, conjugado com o previsto no artigo 112.º do Código do Procedimento
Administrativo, notificam-se os interessados que, após publicação do presente Aviso no
Diário da República, a Lista Provisória dos/as Candidatos/as Admitidos/as e Excluídos/
as ao Procedimento Concursal comum com vista ao preenchimento de dois postos
de trabalho na modalidade de contrato de trabalho em funções públicas por tempo
indeterminado, na categoria de Assistente Técnico para exercício de funções de Apoio
Administrativo no Teatro Municipal da Guarda – Referência AT-I.1 –, publicitado através
do Aviso (extrato) n.º 6791/2023, publicado na 2.ª Série do Diário da República, n.º 65,
de 31 de março de 2023, com publicitação na Bolsa de Emprego Público com o Código
de Oferta n.º OE202303/1186, de 31 de março, se encontra disponível para consulta na
página eletrónica do Município da Guarda em https://www.mun-guarda.pt/municipio/
organizacao/recursos-humanos/recrutamento/, separador “PROCEDIMENTOS
CONCURSAIS COMUNS PARA A CARREIRA E CATEGORIA DE ASSISTENTE TÉCNICO
EM VÁRIAS ÁREAS DE ATIVIDADE”.
2 – Nos termos do artigo 121.º e seguintes do Código do Procedimento Administrativo,
os interessados poderão, no prazo de dez dias úteis, a partir do dia seguinte ao da
publicação do presente Aviso no Diário da República, pronunciar-se, por escrito,
devendo dirigir as suas alegações ao Presidente do Júri do presente procedimento
concursal, utilizando obrigatoriamente o Formulário de Audiência Prévia – disponível na
página eletrónica do Município da Guarda, em www.mun-guarda.pt, o qual depois de
preenchido e assinado poderá ser entregue pessoalmente no Setor de Recrutamento,
Formação Profissional e Avaliação de Desempenho da Divisão Administrativa e de
Recursos Humanos da Câmara Municipal da Guarda, durante o horário de atendimento
(das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 16h30, de segunda a sexta-feira) ou remetido por
correio registado com aviso de receção para a seguinte morada: Município da Guarda,
Praça do Município, 6301-854 Guarda, até ao último dia do prazo acima referido.
3 – Informam-se, ainda, os/as Candidatos/as a Admitir de Forma Condicionada, que
deverão proceder à correção dos lapsos em causa e/ou entrega do(s) documento(s)
solicitado(s), nos termos definidos na Ata n.º 2, a qual se encontra, igualmente,
divulgada na página eletrónica do Município da Guarda.
02 de junho de 2023
O Presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Fernando da Silva Costa
AVISO
Sumário: Lista Provisória dos/as Candidatos/as Admitidos/as e Excluídos/
as ao Procedimento Concursal comum na categoria de Assistente Técnico
para exercício de funções de Apoio Administrativo nos Museus Municipais
da Guarda – Referência AT-I.2
1 – Para efeitos do disposto no n.º 4 do artigo 16.º da Portaria n.º 233/2022, de 09
de setembro, conjugado com o previsto no artigo 112.º do Código do Procedimento
Administrativo, notificam-se os interessados que, após publicação do presente Aviso
no Diário da República, a Lista Provisória dos/as Candidatos/as Admitidos/as e
Excluídos/as ao Procedimento Concursal comum com vista ao preenchimento de dois
postos de trabalho na modalidade de contrato de trabalho em funções públicas por
tempo indeterminado, na categoria de Assistente Técnico para exercício de funções
de Apoio Administrativo nos Museus Municipais da Guarda – Referência AT-I.2 –,
publicitado através do Aviso (extrato) n.º 6791/2023, publicado na 2.ª Série do Diário
da República, n.º 65, de 31 de março de 2023, com publicitação na Bolsa de Emprego
Público com o Código de Oferta n.º OE202303/1187, de 31 de março, se encontra
disponível para consulta na página eletrónica do Município da Guarda em https://www.
mun-guarda.pt/municipio/organizacao/recursos-humanos/recrutamento/, separador
“PROCEDIMENTOS CONCURSAIS COMUNS PARA A CARREIRA E CATEGORIA DE
ASSISTENTE TÉCNICO EM VÁRIAS ÁREAS DE ATIVIDADE”.
2 – Nos termos do artigo 121.º e seguintes do Código do Procedimento Administrativo,
os interessados poderão, no prazo de dez dias úteis, a partir do dia seguinte ao da
publicação do presente Aviso no Diário da República, pronunciar-se, por escrito,
devendo dirigir as suas alegações ao Presidente do Júri do presente procedimento
concursal, utilizando obrigatoriamente o Formulário de Audiência Prévia – disponível na
página eletrónica do Município da Guarda, em www.mun-guarda.pt, o qual depois de
preenchido e assinado poderá ser entregue pessoalmente no Setor de Recrutamento,
Formação Profissional e Avaliação de Desempenho da Divisão Administrativa e de
Recursos Humanos da Câmara Municipal da Guarda, durante o horário de atendimento
(das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 16h30, de segunda a sexta-feira) ou remetido por
correio registado com aviso de receção para a seguinte morada: Município da Guarda,
Praça do Município, 6301-854 Guarda, até ao último dia do prazo acima referido.
3 – Informam-se, ainda, os/as Candidatos/as a Admitir de Forma Condicionada, que
deverão proceder à correção dos lapsos em causa e/ou entrega do(s) documento(s)
solicitado(s), nos termos definidos na Ata n.º 2, a qual se encontra, igualmente,
divulgada na página eletrónica do Município da Guarda.
05 de junho de 2023
O Presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Fernando da Silva Costa
Universidade do Minho
ANÚNCIO M/F
Unidade de Serviços de Recursos Humanos
Torna-se público que se encontra aberto processo de recrutamento para a
contratação de um Assistente Técnico, na modalidade de Contrato de Trabalho
a Termo Resolutivo Incerto, ao abrigo do Código do Trabalho, na Universidade
do Minho, sob Ref.ª “CTTRI-PTAG-30/23-3Bs(1)”.
REQUISITOS DE ADMISSÃO:
Possuir habilitações ao nível do 12º ano, preferencialmente na área química/
biologia e/ou curso técnico-profissional de laboratório.
O prazo para a apresentação das candidaturas decorre no período de 14/06/2023
a 16/06/2023.
O texto integral do processo de recrutamento e seleção encontra-se disponível em
https://intranet.uminho.pt/Pages/Documents.aspx?Area=Procedimentos%20Concursais
A Diretora de Serviços, Sara Patrícia Costa Rodrigues
AVISO
Sumário: Anulação de procedimento concursal na categoria e carreira de
assistente técnico
Procedimento Concursal Comum Para Constituição de Relação Jurídica
de Emprego Público Por Tempo Indeterminado, Tendo Em Vista O
Preenchimento de Um Posto de Trabalho Na Carreira e Categoria de
Assistente Técnico Para exercício de funções nos Serviços de Balcão Único,
GAM e GAE da Secção Administrativa para a Divisão Administrativa e de
Recursos Humanos
Para os devidos efeitos, se torna público que, por meu Despacho n.º 92/
PCM/2023, de 05 de junho de 2023, proferido ao abrigo das competências
próprias conferidas pela alínea a) do n.º 2 do artigo 35.º do Anexo I da Lei
n.º 75/2023, de 12 de setembro, na sua atual redação, conjugada com o n.º 2
do artigo 27.º da Portaria n.º 233/2022, de 09 de setembro, foi determinada a
anulação do procedimento concursal comum para a constituição de vínculo de
emprego público, na modalidade de contrato de trabalho em funções públicas
por tempo indeterminado, para o preenchimento de um posto de trabalho na
categoria e carreira geral de Assistente Técnico para exercício de funções nos
Serviços de Balcão Único, GAM e GAE da Secção Administrativa para a Divisão
Administrativa e de Recursos Humanos, com a Referência AT – B.1, aberto pelo
Aviso n.º (extrato) n.º 6791/2023, publicado no Diário da República, 2.ª Série,
n.º 65, de 31 de março de 2023, e publicitado na Bolsa de Emprego Público, cm
o código de Oferta n.º OE202303/1176, de 31 de março de 2023.
Mais se torna público que os fundamentos da anulação do referido procedimento
concursal constam do respetivo Despacho, o qual poderá ser consultado no
Serviço de Recursos Humanos nas horas normais de expediente.
Para os efeitos do disposto na alínea e) do n.º 1 e n.º 4 do artigo 112.º do
Código do Procedimento Administrativo, por remissão do n.º 2 do artigo 6.º
da Portaria n.º 233/2022, de 09 de setembro, notificam-se por esta via, todos/
as os/as candidatos/as do procedimento concursal em apreço, do teor deste
Aviso, o qual, após a publicação do presente Aviso no Diário da República, será
ainda afixado em local visível e público do Município da Guarda, bem como no
Sítio Oficial do Município da Guarda, em www.mun-guarda.pt.
05 de junho de 2023
O Presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Fernando da Silva Costa
BOLSA DE RECRUTAMENTO
DE DOCENTES 23/24
O Instituto Politécnico de Beja acolhe manifestações de interesse com vista ao
eventual recrutamento de um(a) docente convidado(a) preferencialmente com
o grau de Doutor ou Especialista. Todos os interessados deverão enviar uma
carta de apresentação, CV, cópia do comprovativo do(s) grau(s) académico(s)
relevante para secretariado.presidencia@ipbeja.pt com referência à área de
formação para a qual se candidatam.
A formação académica e experiência profissional deverá enquadrar-se nas
seguintes áreas de educação e formação: 1) Audiovisual e Produção dos
Media (CNAEF 213); 2) Línguas Estrangeiras Inglês (CNAEF 222); 3) Línguas
Estrangeiras (CNAEF 222); 4) Língua e Literatura Maternas (CNAEF 223); 5)
Desporto (CNAEF 813) - nas áreas de especialidade de Educação Física e
Desporto e/ou Exercício e Saúde; 6) Informática ou área afins; 7) Direito; 8)
Engenharia Informática; 9) Segurança e Higiene no Trabalho; 10) Ciências de
Educação/ Formação de professores (CNAEF 144); 11) Trabalho Social; 12)
Sociologia e outros estudos; 13) Psicologia/Psicologia da Educação/ Educação
Especial; 14) Gerontologia Social e Comunitária; 15) Psicogerontologia; 16)
Enfermagem (CNAEF 723); 17) Terapia e Reabilitação (CNAEF 726); 18) Física
(CNAEF 441); 19) Matemática e/ou Estatística (CNAEF 46); 20) Matemática
e/ou Estatística (CNAEF 46); 21) Matemática e/ou Estatística e/ou Ensino da
matemática (CNAEF 46 e/ou 145); 22) Ciências Agrárias (Produção Agrícola
e Animal); 23) Tecnologia de proteção do ambiente (CNAEF 851); Área de
formação: 24) Tecnologia dos processos químicos (CNAEF 524); 25) Indústria
alimentares (CNAEF 541); 26) Tecnologia de proteção do ambiente (CNAEF
851); 27) Indústria Alimentares (CNAEF 541); 28) Direito (CNAEF 380) ; 29)
Gestão e Administração (CNAEF 345); 30) Contabilidade e Fiscalidade (CNAEF
344); 31) Turismo (CNAEF 812).
A bolsa de recrutamento visa exclusivamente a determinação de existência
de potenciais interessados com o perfil académico e profissional pretendido
pelo IPBeja, tendo em vista uma adequada preparação das decisões que neste
âmbito venham eventualmente a ser tomadas.
A presente publicação não consubstancia, por isso, a abertura de um qualquer
concurso, reservando-se a liberdade de decisão sobre a contração ou não
contração.
Mais detalhes em
https://www.ipbeja.pt/servicos/srh/Paginas/BolsadeRecrutamentodeDocentes.aspx
Público ClassiÄcados • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 27
Universidade do Minho
ANÚNCIO M/F
Unidade de Serviços de Recursos Humanos
Torna-se público que se encontra aberto processo de recrutamento para a
contratação de um Assistente Técnico, na modalidade de Contrato de Trabalho
a Termo Resolutivo Incerto, ao abrigo do Código do Trabalho, na Universidade
do Minho, sob Ref.ª “CTTRI-PTAG-31/23-3Bs(1)”.
REQUISITOS DE ADMISSÃO:
Possuir habilitações ao nível do 12º ano.
O prazo para a apresentação das candidaturas decorre no período de 14/06/2023
a 16/06/2023.
O texto integral do processo de recrutamento e seleção encontra-se disponível em
https://intranet.uminho.pt/Pages/Documents.aspx?Area=Procedimentos%20Concursais
A Diretora de Serviços, Sara Patrícia Costa Rodrigues
AVISO
Sumário: Notificação da Inclusão de um Candidato na Lista Provisória
dos/as Candidatos/as Admitidos/as e Excluídos/as ao Procedimento
Concursal comum na categoria de Assistente Técnico para exercício de
funções nos Serviços de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho da
Secção de Recursos Humanos – Referência AT-B.3
1 – Para efeitos do disposto no n.º 2 do artigo 6.º e artigo 16.º da Portaria
n.º 233/2022, de 09 de setembro, conjugados com o previsto no artigo 112.º
do Código do Procedimento Administrativo, notificam-se por esta via todos
os interessados da inclusão de um candidato na Lista Provisória dos/as
Candidatos/as Admitidos/as ao Procedimento Concursal comum com vista
ao preenchimento de um posto de trabalho na modalidade de contrato de
trabalho em funções públicas por tempo indeterminado, na categoria de
Assistente Técnico para exercício de funções nos Serviços de Segurança,
Higiene e Saúde no Trabalho da Secção de Recursos Humanos – Referência
AT-B.3 –, publicitado através do Aviso (extrato) n.º 6791/2023, publicado
na 2.ª Série do Diário da República, n.º 65, de 31 de março de 2023, com
publicitação na Bolsa de Emprego Público com o Código de Oferta n.º
OE202303/1178, de 31 de março, nos termos e com os fundamentos
expostos na Ata n.º 3, mantendo-se, em tudo o resto, o conteúdo da Lista
Provisória dos/as Candidatos/as Admitidos e Excluídos, anexa à Ata n.º 2.
2 – Informam-se, ainda, os/as Candidatos/as que a Ata n.º 3, após a publicação
do presente Aviso no Diário da República, será afixada em local visível e
público no Setor de Recrutamento, Formação Profissional e Avaliação de
Desempenho da Divisão Administrativa e de Recursos Humanos do Município
da Guarda, podendo ainda ser consultada na página eletrónica do Município
da Guarda em https://www.mun-guarda.pt/municipio/organizacao/recursos-
humanos/recrutamento/, separador “PROCEDIMENTOS CONCURSAIS
COMUNS PARA A CARREIRA E CATEGORIA DE ASSISTENTE TÉCNICO EM
VÁRIAS ÁREAS DE ATIVIDADE”.
09 de junho de 2023
O Presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Fernando da Silva Costa
Contratação de Doutorado (M/F)
Foi publicado no Diário da República nº 112, 2.ª Série, de 12 de junho de
2023, o Aviso n.º 11263/2023 relativo ao concurso Ref.ª CDL-CTTRI-127-
SGRH/2023 de âmbito internacional, para recrutamento na modalidade
de contrato de trabalho a termo resolutivo incerto celebrado ao abrigo do
Código de Trabalho, de 1 (um) lugar de Investigador Doutorado de Nível
Inicial para o exercício de atividades de investigação científica nas áreas
científicas de Matemática, área de especialização Matemática-Física,
com vista ao desenvolvimento de atividades científicas no âmbito do
projeto Testando a hipótese de Kerr com ondas e lentes gravitacionais,
PTDC/FIS-AST/3041/2020, com o apoio financeiro da Fundação para a
Ciência e Tecnologia/MCTES, através de fundos nacionais.
2 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos do
edital antes referido, publicitado no seguinte endereço eletrónico: https://
www.ua.pt/pt/sgrh/pessoal-investigador-novos-concursos-e-ofertas.
3 - O prazo de candidaturas é de 15 dias úteis, contados a partir da data
da publicação do aviso no Diário da República.
Aveiro, em 26 de abril de 2023
O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira
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MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010
28 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023
Cultura Novo documentário na HBO Max
Mary Tyler Moore, a “solteirona”
que nunca o foi
Being Mary Tyler Moore conta-nos a história da actriz que Äcou eternamente colada a uma das mais
revolucionárias comédias televisivas norte-americanas
Jorge Mourinha
Repare-se na subtil condescendência
do título: As Solteironas. Com aquela
velha ideia de que uma mulher que
não encontrasse o “seu homem” até
uma certa idade Æcaria “para tia”,
eternamente solteira e solitária. O
contrário do que dizia a série à qual
tal título foi dado: os tempos muda-
ram, uma mulher pode assumir o
papel que bem entender na socieda-
de. Mary Richards era uma mulher
solteira por escolha, uma mulher de
carreira que não era menos feminina
por trabalhar.
E, no entanto, TheMary Tyler Moo-
re Show foi traduzido em português
por As Solteironas, nesses anos Ænais
do Estado Novo. Não se pense, con-
tudo, que a condescendência mascu-
lina era exclusivo nacional. Numa
entrevista televisiva de 1966, David
Susskind fazia perguntas condescen-
dentes a uma Mary Tyler Moore (1936-
2017) que se tornara a “menina boni-
ta” da televisão norte-americana,
erguida a trunfo secreto do Dick van
Dyke Show (1961-1966), uma das pri-
meiras grandes comédias de situação
do panorama televisivo.
Comediante de recursos insuspei-
tos que estudara bailado e encontrara
trabalho regular na televisão, Mary
Tyler Moore interpretava nessa série
uma esposa e mãe moderna, que ia
subvertendo, como quem não quer a
coisa, os papéis tradicionais. Na refe-
rida entrevista, aÆrmava o apoio às
ideias da activista Betty Friedan,
expressas no seu livro de 1963 The
Feminine Mystique: “É possível uma
mulher ser mulher primeiro, traba-
lhar em segundo lugar, e em terceiro
ser esposa e mãe. É isso que estou a
provar.” Bofetada de luva branca a
um entrevistador que defendia que a
verdadeira mulher era a esposa devo-
ta e submissa, que bebia as palavras
do cônjuge como pérolas…
Poucos anos depois, The Mary
Tyler Moore Show viria a constituir-se,
entre 1970 e 1977, um potente mani-
festo, mesmo que a célebre activista
Gloria Steinem o tenha acusado às
tantas de ser um programa antifemi-
nista — desde o princípio, os guiões
eram escritos por mulheres, porque
os showrunners James L. Brooks e
Allan Burns perceberam que os
homens não estavam em posição de
escrever sobre a condição feminina
daqueles tempos de mudança.
Ainda hoje uma das maiores comé-
Mary Tyler Moore numa dias televisivas de que há memória (e
imagem do novo documentário que, por motivos misteriosos, ainda
e, em baixo, numa cena do não apareceu por cá nas plataformas
episódio final de The Mary Tyler de streaming), As Solteironas ajudou
Moore Show, exibido a 19 a escancarar as portas da representa-
de Março de 1977 tividade na televisão norte-america-
na, a par da família negra de classe
média de The Cosby Show. Nas noites
Até aos seus 40 de sábado, a CBS combinava a série
anos, o rosto da de Mary Tyler Moore com a sitcom
Uma Família às Direitas, protagoniza-
mulher moderna da por um Archie Bunker em perma-
americana nunca nente irritação com o mundo moder-
no, o absurdismo contemporâneo do
teve uma vida de Bob Newhart Show e até mesmo a
mulher moderna metáfora do Vietname de M*A*S*H.
É neste momento que se introduz
a ironia, assumida pela própria: o
rosto da mulher moderna americana
nunca tinha tido uma vida de mulher
moderna. Casara-se aos 18 anos, tive-
ra um Ælho aos 19, divorciara-se aos
25, voltara a casar-se aos 26, dividia
o seu tempo entre a família (que
incluía os Ælhos do anterior casamen-
to do segundo marido, Grant Tinker)
e o trabalho. Só depois de se separar
de Tinker, em 1979, e de regressar da
Los Angeles onde vivera desde ado-
lescente à Nova Iorque onde nascera
começou, aos 40 anos, a viver como
a personagem que encarnara duran-
te sete temporadas.
Esta e muitas outras revelações
estão no documentário de James
Adolphus agora disponível na plata-
forma HBO Max, Being Mary Tyler
Moore, que desenha em paralelo o
retrato da actriz e da mulher. Fá-lo
através de um trabalho de pesquisa
de entrevistas televisivas dadas pela
actriz ao longo da carreira, que ser-
vem como Æo condutor; entrevistam-
-se igualmente amigas, colegas e
admiradoras. Mas todas essas entre-
vistas Æcam apenas em voz off. Um
duplo discurso que procura sublinhar
como Mary Tyler Moore, a actriz, e
Mary Tyler Moore, a mulher, eram
entidades diferentes. De um lado,
uma colega proÆssional e talentosa;
do outro, uma mulher insegura e
angustiada que se refugiava no traba-
lho. De um lado, uma persona huma-
na e acessível; do outro, uma mulher
distante e ciente das suas falhas, que
enfrentou problemas de alcoolismo.
A surpresa não é que essas duas
faces coexistissem; era que a actriz as
compartimentasse ao ponto de Treva
Silverman, argumentista de As Soltei-
ronas que com o tempo se tornaria
uma das suas grandes amigas, não ter
consciência da “dupla identidade”
até a conhecer melhor. Como se a
Mary Richards de As Solteironas fosse
o “ideal” ao qual Mary Tyler Moore
aspirava, ela que tanto defendera ser
capaz de articular vida pessoal e vida
proÆssional — ao mesmo tempo que
não queria ser “apenas” uma vedeta
televisiva.
Nos cinco anos entre a saída do
Dick van Dyke Show e o arranque da
sua série em nome próprio, houve
uma tentativa de carreira cinemato-
gráÆca que começou bem (com Millie,
Rapariga Moderna, de George Roy
Hill, contracenando com Julie
Andrews), mas que descarrilou quan-
do aceitou interpretar na Broadway
uma versão musical de Breakfast at
Tiffany’s, de Truman Capote. O musi-
cal morreu na praia, o seu contrato
com os estúdios Universal ressentiu-
-se do desastre, a actriz foi “etiqueta-
da” como “peso-pluma” e deu por si
a fazer uma travessia do deserto.
O êxito de As Solteironas (29 Emmys
ao longo dos anos, incluindo quatro
para Mary Tyler Moore) foi a sua
melhor vingança — coroada em 1980
com uma temporada na Broadway
que lhe valeu um Tony honorário
(interpretava a peça de Brian Clark De
Quem É a Vida, afinal?) e com uma
nomeação para o Óscar de melhor
actriz por Gente Vulgar, de Robert
Redford. Dois raros (e aclamadíssi-
mos) papéis dramáticos que serviram
para provar à saciedade que ela não
era só uma comediante de televisão.
Até à sua morte, em 2017, a actriz
voltaria pontualmente aos palcos e
aos pequenos e grandes ecrãs, mas
era como se tivesse consciência de
que já deixara a sua marca. Mary
Tyler Moore conquistara o teatro, o
cinema e a televisão, e estava Ænal-
mente em paz consigo, com a vida e
com a sua carreira — ainda que para
sempre tenha permanecido insepa-
rável de Mary Richards, a mulher
moderna de Minneapolis que nunca
foi solteirona.

Não perguntem até quando
Opinião
Lídia Jorge
Tudo se dilui na totalidade — disse o
rato, e fez chichi no mar.
Provérbio húngaro
1.
Este ano as feiras do livro de
Madrid e de Lisboa decorrem em
simultâneo. Mas não é só esse o
facto que as aproxima. Ambas são
mais do que octogenárias e
ocorrem ao ar livre, entre
frondosas árvores e alguma relva.
No entanto, em termos de
orograÆa, há uma certa diferença,
já que a feira madrilena se estende
ao longo de um jardim plano a
perder de vista, e a lisboeta sobe
pela colina do Parque Eduardo VII
em duas alas, separadas por um
amplo campo de verdura
desenhando um prodigioso H.
Para além de uma certa
assimetria de escala, também me
parece que a Feira do Livro de
Madrid comporta mais debates,
mais confronto, mais política e mais
fúria civilizacional. E os visitantes
são mais decididos entre escolher e
comprar. Mas em Lisboa, em
compensação, há mais crianças
empurradas em carrinhos e muitos
mais cães pela trela, o que anuncia
um certo incremento no futuro. Sou
de opinião de que se deve olhar com
cuidado para este tipo de detalhes.
Acredito mesmo que as melhores
estatísticas previsionais não se lêem
nos números mas nos pequenos
sintomas. Também a esperança
provém, como se sabe, de sítios
recônditos da alma. Tanto
escaparate, tantos títulos, tanta
gente a olhar para eles. Um namoro
sem pecado. Ao caminhar pelo
Parque de El Retiro afora, em dia de
Primavera, é impossível não se ter a
certeza de que Santa Ana, gordita e
velhota, irá continuar sentada, de
livro aberto, a ler histórias para
adormecer a sua filha Virgem Maria
até ao fim dos tempos. Só depois
vêm as dúvidas.
2.
Por exemplo — o facto de nos
sentirmos bem entre livros e
autores, alimentando a ideia de
que esta é a forma de
actualizarmos a relação do aedo da
Idade de Bronze com o público dos
nossos dias, e pensarmos que esse
é um projecto com futuro não será
por acaso apenas uma questão de
fé? Enquanto a chuva e os trovões
do Æm de Maio desabam sobre a
Feira do Livro de Madrid, e os
transeuntes desaparecem,
escondidos sob as casotas, a
tentação instala-se, e é impossível
não imaginar como a grande
vassoura digital empurrará para os
caixotes de lixo a maior parte dos
livros que ainda agora se oferecem
como objectos intocáveis.
É impossível não pensar que a
imaterialidade se transformou na
nova matéria-prima, tornada
única, leve e limpa como um
sonho, sem cheiro, sem suor, sem
nódoa e sem traças, inviolável e
transparente, faça vento ou faça
sol, e que os milhares de livros que
pendem dos escaparates por onde
a chuva entra oferecem o seu
É possível que
nessas futuras
feiras que até nem
feiras se chamem
os inÅuencers já
tenham tomado
por inteiro o papel
da autoria
contrário. Sob o rigor da bátega, é
impossível não pensar que todas as
Literaturas estão a passar, noite e
dia, para um outro suporte, e, uma
vez aí acomodadas, os originais
não passarão de calhamaços que
ocupam espaços necessários para
outras funções mais louváveis.
Claro que essa limpeza imaterial
poderá precisar de outras feiras,
mas destas, casinhas forradas de
papel com gente lá dentro a
escrever palavras de amor a quem
se aproxima, não precisará de
certeza.
Nenhum de nós pode garantir
como será o novo rosto desses
lugares de encontro dos livros
não-livro, mas todos pressentimos
os passos apressados dessa
transformação. Talvez por
homenagem ao passado as feiras
continuem a chamar-se feiras,
talvez pela sua abrangência elas se
chamem, por exemplo, feiras de
informação universal, e talvez para
simpliÆcar a sua designação possam
naturalmente ser conhecidas por
um acrónimo como seja uma FIU de
Madrid e uma FIU de Lisboa, ou
apenas um número ou um código
de barras.
3.
É possível que nessas futuras feiras
que até nem feiras se chamem os
influencers já tenham tomado por
Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 29
MARIA ABRANCHES
inteiro o papel da autoria. Nesse
caso, as Ælas diante do autor
poderão continuar, mas a liturgia
das assinaturas à mão ter-se-á
tornado obsoleta, haverá antes
marcas digitais e fotograÆas que se
trocam entre inÇuenciador e
inÇuenciado. Em vez de lombadas,
retratos, em vez de mensagens
escritas, tipo “Para dona Mercedes,
com todo o meu carinho”, o que
será uma frase demasiado longa,
emojis instantâneos serão trocados,
uma Çor, uns lábios, um gatinho. E,
assim, a FIU de Madrid, ainda que
ocupando o mesmo Parque de El
Retiro, será outra realidade. Aí,
talvez se dance, se beba, se seduza
com mais intensidade, e, olhando
para estes dias da nossa tão grande
felicidade por estarmos no meio
destes milhões de páginas unidas
por lombadas, objectos tão friáveis
quanto batatas ou vestidos, alguém
se ria de nós. Ou tenha pena de
nós, pelo motivo da nossa alegria,
estas procissões inÆndáveis de
livros, nossos amores pelos quais
damos a melhor parte das nossas
vidas.
4.
E, assim, tudo mudará. Ainda por
exemplo — talvez os editores, esses
cavaleiros solitários que costumam
olhar para a paisagem a partir de
uma sela alta, e com isso modelam
Cultura
a cultura dos seus países, sejam
obrigados a mudar de hábitos.
Talvez tenham de ser realistas
quanto baste e passem, num futuro
próximo, a solicitar de cada
candidato a autor o preenchimento
de um certo formulário até agora
inexistente. Um questionário
abonatório do qual conste se o
escritor canta, dança, toca guitarra
ou piano, se está disposto a
despir-se em público, a fazer
tatuagem, se tem capacidade de
improvisação, se interage com
anfíbios, ou se dispõe de uma outra
qualquer habilidade que o torne
singular, sem a notícia da qual
nunca se fará vingar um livro. Claro
que sempre subsistirão aqueles
que se apaixonam pelas palavras
de um texto, que o fazem seu, e o
defendem contra a sua bolsa, o seu
sono, e até o seu interesse, quer o
autor seja preto, branco, velho,
novo, homem ou mulher, vivo ou
morto. Talvez.
5.
À chuva, arrumada numa casota de
madeira molhada, não nego que
estejamos cada vez mais
esclarecidos. Por isso respeito
quem diz que a cultura do livro não
evitou duas guerras mundiais, que
foi parceira do Holocausto, que
permitiu a bomba de Hiroxima,
nem tem impedido a nuvem escura
que desde então pesa sobre a
Terra. Se assim foi, porque não
experimentar então a cultura
pós-livro, pós-editor, pós-autor,
pós-ciência, pós-verdade,
pós-livraria, pós-feira do livro? Se
sob uma cultura humanística nos
matamos uns aos outros, porque
não abrir a porta à
pós-Humanidade? Estamos em
transição entre dois mundos. Karl
Vossler mencionou que, no mesmo
dia do Verão de 1491 em que
Colombo pedia barcos para fazer a
viagem que atingiria a América, os
monges franciscanos pediam
espadas para irem recuperar o
Santo Sepulcro. Os Reis católicos
decidiram pelos barcos e iniciou-se
a modernidade. A grande diferença
é que hoje em dia a opção está na
mão de cada um de nós. É por isso
que muitos se alegram com o que
até agora nos dá substância e
conforto, como acreditar na
imagem de Santa Ana de livro
aberto sobre os joelhos, e na
parábola de um rato atrevido,
fazendo o que pode diante do vasto
mar. E desejamos que o até quando
seja um sem Æm à vista.
Texto originalmente publicado
no jornal espanhol El País a
11/06/2023
30 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023
Ciência A desnutrição é um dos piores efeitos nestes casos
Como é que quatro crianças sobrevivem
mais de um mês com frutas e farinhas?
As quatro crianças colombianas, que viajavam com a mãe de avião, sobreviveram 40 dias depois da queda
do aparelho numa aldeia da Åoresta amazónica. Acesso a água terá sido fundamental para a sobrevivência
Tiago Ramalho
Já passavam 40 dias, mais de um mês,
quando quatro crianças colombianas
foram resgatadas na província de
Caquetá, na Çoresta amazónica na
Colômbia, na última sexta-feira —
depois de uma queda de um avião a
que estas crianças sobreviveram. As
crianças já estão fora de perigo,
depois de terem passado estas quase
seis semanas maioritariamente sozi-
nhas, já que a mãe morreu ao quarto
destes 40 dias. Também o piloto e o
co-piloto morreram no desastre de
aviação.
Lesly, de 13 anos, Soleiny, de nove,
Tiene Noriel, de quatro, e Cristin Neri-
man, que celebrou o primeiro aniver-
sário na Çoresta, sobreviveram à base
de sementes, farinha e fruta, além da
água disponível — o elemento essen-
cial para a sobrevivência por largos
períodos de tempo. Estas quatro
crianças também utilizaram alguns
dos kits de sobrevivência, com ali-
mentos e água, que os militares
colombianos espalharam pela Çores-
ta para ajudar estes sobreviventes.
Quando foram encontradas, as crian-
ças estavam desnutridas e com várias
picadas de insectos, mas sem feri-
mentos graves — estão agora num
hospital militar em Bogotá (Colôm-
bia) e já fora de perigo.
Farinha, frutas e água
na selva bastam para
sobreviver um mês?
O ingrediente principal é sempre a
água. A comida pode sempre ser dis-
pensada durante alguns dias, mas
sem água o nosso corpo ressente-se
mais — e diÆcilmente conseguimos
sobreviver todo este período. Sem
hidratação, os rins começam a falhar
e, a partir daí, o resto do corpo come-
ça a seguir o mesmo caminho.
“Um aspecto crucial é que na zona
onde se encontravam o acesso a água
não era um problema. A única hipó-
tese de estas crianças terem sobrevi-
vido este tempo todo resultou do
facto de se terem conseguido manter
hidratadas”, explica Alejandro San-
tos, especialista em nutrição humana
e professor na Faculdade de Ciências
da Nutrição e Alimentação da Univer-
sidade do Porto. Mais do que se man-
terem hidratadas, houve ainda o cui-
dado de ajudar a criança mais peque-
na a beber água. “Revela um espírito
de entreajuda e preocupação com o
outro muito interessante. No caso
dessa criança, a preocupação de
garantir que ela se mantém hidratada
e ainda o facto de irem fornecendo
alguma comida que iam recolhendo.
Estes dois aspectos são essenciais”,
salienta.
Além da água, a disponibilidade de
farinhas numa fase inicial, retirada
dos destroços do avião, e a recolha de
sementes e frutas ajudaram a mante-
rem um nível mínimo de alimentação
— também importante em 40 dias de
sobrevivência. Para isso, o “contacto
regular com este ambiente de nature-
za” também terá ajudado na capaci-
REUTERS
dade de recolher fruta, encontrar
água e, inclusive, protegerem-se,
reforça Alejandro Santos. As quatro
crianças pertenciam à comunidade
indígena de Huitoto, em Araracuara,
uma região na Çoresta da Amazónia.
Porquê não dar logo
muita comida?
Depois de resgatadas, as crianças
foram imediatamente levadas para
um hospital militar em Bogotá, para
serem acompanhadas e receberem o
tratamento adequado perante a des-
nutrição resultante de quase seis
EPA
A Força Aérea colombiana
resgatou as quatro crianças na
sexta-feira, mais de um mês
depois da queda de um avião
semanas com uma alimentação
pobre. Carlos Rincon, médico militar
citado pela BBC, adianta que as crian-
ças tinham “deÆciências nutricio-
nais”, mas ainda não podem comer
normalmente. “Iniciaremos o proces-
so de incorporação de alimentos
quando concluirmos os exames clíni-
cos. Se tudo correr bem, acreditamos
que estarão internadas durante duas
a três semanas”, disse o médico
colombiano.
Alejandro Santos refere que o “pro-
cesso de realimentação tem de ser
feito com muito cuidado”, de forma
a evitar aquilo que é a síndrome de
realimentação. “Se alguém se encon-
tra durante um longo período de tem-
po com uma forte restrição nutricio-
nal, vai perder a capacidade de pro-
cessar alguns nutrientes para
obtenção de energia e isso vai provo-
car alterações electrolíticas que
podem causar a morte muito rapida-
mente”, explica o especialista em
nutrição humana.
E exempliÆca. “Se alimentarmos
rapidamente uma pessoa desnutrida,
sem a preocupação de dar vitamina
do complexo B, nomeadamente, que
está directamente envolvida no meta-
bolismo energético da glicose, isso
pode tornar-se um problema”, avisa
Alejandro Santos. Isto porque a glico-
se será fundamental para a criação de
moléculas que são fonte de energia
— como a adenosina trifosfato (ou
ATP) — e importantes para o nosso
corpo responder às necessidades. No
entanto, para a glicose se transformar
nessas moléculas “enérgicas” precisa
de fosfato e vitamina B. Ora, quando
temos um estado avançado de desnu-
trição, o nosso organismo não tem
fosfato disponível para responder a
este aumento das necessidades.
“Há uma série de desequilíbrios
metabólicos agudos muito graves que,
se não houver cuidado no processo
de realimentação, pode matar quem
está a ser alimentado”, diz o professor
da Universidade do Porto. “E há exem-
plos históricos disso, como os solda-
dos aliados no Ænal da II Guerra Mun-
dial [na Europa] quando começaram
a realimentar rapidamente quem esta-
va nos campos de concentração. Infe-
lizmente, muito deles foram vítimas
desta síndrome”, indica.
Que consequências
têm estas deficiências
nutricionais em crianças?
Apesar do “estado de choque”, como
referiu o ministro da Defesa colom-
biano, Iván Velásquez Gómez, à rádio
local Caracol, as deÆciências nutricio-
nais serão recuperáveis. Tendo em
conta que as crianças teriam um bom
estado nutricional anterior — o que
contribuiu para a sua sobrevivência
—, a recuperação física e alimentar
acontecerá.
“O mais difícil é que estes miúdos
tenham conseguido garantir um apor-
te proteico e energético adequado — e
por isso é que terão tido perdas
importantes de peso e de músculo.
Quarenta dias são uma agressão
importante em pessoas em desenvol-
vimento, mas no cômputo de uma
vida humana, uma agressão única
deste tipo ao longo da vida é, normal-
mente, recuperável”, nota Alejandro
Santos.
Por outro lado, a sobrevivência
durante 40 dias, inclusive com a mor-
te da mãe, poderá deixar marcas
emocionais. “Têm de ter acompanha-
mento psicológico, foi uma experiên-
cia muito difícil. Não dizem uma frase
completa”, explicou o ministro da
Defesa colombiano.

Últimos cartuchos na Feira do Livro de Lisboa
A 93.ª Feira do Livro de Lisboa chega hoje ao fim. Os recolectores de
autógrafos darão o dia por ganho, pois estarão presentes autores
para todos os gostos e feitios: João Tordo, Richard Zimmler, Dulce
Maria Cardoso, José Rodrigues dos Santos, Rita Ferro, Francisco
Moita Flores, Rodrigues Guedes de Carvalho, Jaime Nogueira Pinto,
Rui Zink, Domingos Amaral e Rui Tavares, entre outros.
Sugestões
Duplo auto-retrato em movimento
Quando morreu, em 1995, Patricia
Highsmith deixou na casa em que
passara os últimos anos de vida,
no cantão de Ticino, na Suíça, 18
volumes de “diários” e 38 outros
“cadernos”, totalizando cerca de
oito mil páginas manuscritas. A
árdua e demorada tarefa de
transcrever e editar tão vasto
manancial, levada a cabo por uma
diversificada equipa sob a
regência de Daniel Keel, fundador
da editora Diogenes, de Zurique, e
executor testamentário do
património literário da criadora de
Ripley, revelou os seus frutos
quando, em 2021, foi publicado
em inglês o portentoso volume
que agora chega a Portugal.
São mais de mil páginas
heteróclitas, que tanto poderão
interessar ao leitor curioso por
espreitar pelo buraco da
fechadura a vida privada de
Patricia Highsmith quanto àquele
A Guerra
Prometida
Autoria: Marco
Pacheco
(Gradiva; 296
págs., 18,50€.
Já nas livrarias)
A Guerra
Prometida é o romance de estreia
de um novo escritor, nascido nos
Açores “poucos meses depois do
25 de Abril” e criativo de
publicidade de profissão.
Valeu-lhe a mais recente edição
do Prémio Literário Revelação
Agustina Bessa-Luís, atribuído
desde 2008 pela Estoril Sol em
parceria com a Editorial Gradiva,
que agora o edita. Elogiando o
“novo realismo” de Marco
Pacheco, os jurados do referido
prémio viram em A Guerra
Prometida “um romance que,
partindo da inovadora acção
empresarial e social de Francisco
Grandella, constrói uma história
familiar e pessoal de grande
alcance humano”. Sublinhando a
ancoragem desta obra de ficção
em factos históricos e
biográficos, os jurados adiantam
que “o período de transição do
século XlX para o século XX até à
Primeira Grande Guerra é
sinalizado por situações de
pobreza que vão determinar a
evolução do protagonista”.
desejoso de encontrar as fontes
conceptuais e criativas da
escritora. Em qualquer dos casos
— e sabendo-se, como lembra a
editora Anna von Planta, que a
autora nunca quis ser biografada
e que, nas poucas entrevistas que
concedeu, “as suas respostas
monossilábicas eram temidas” —,
tanto um leitor como o outro não
serão defraudados.
Nascida no Texas em 1921,
criada e educada em Nova Iorque,
Patricia Highsmith passou uma
significativa parte da sua vida na
Europa (principalmente em
Inglaterra, França e Suíça). Como
escritora, ascendeu
instantaneamente à celebridade
quando o seu primeiro romance,
O Desconhecido do Norte
Expresso, foi transposto para o
cinema por Alfred Hitchcock, em
1951, na primeira de muitas
adaptações cinematográficas das
Corpos Que
Contam
Autoria: Judith
Butler
Tradução: Nuno
Quintas
(Orfeu Negro;
392 págs., 22€.
Jáá nas livrarias)
Professora na Universidade da
Califórnia, em Berkeley, Judith
Butler é uma das mais influentes
teóricas contemporâneas do
feminismo e dos estudos de
género. Uma voz activa e activista
no debate actual de questões
filosóficas e políticas, tem-se
centrado no estudo de uma ética
da não-violência no contexto de
colectivos políticos e de
movimentos de transformação
social. Corpos Que Contam:
Limites Discursivos do “Sexo”,
volume agora traduzido em
português, é uma obra fulcral na
renovação dos estudos de género
e, aprofundando a reflexão
iniciada em Problemas de Género:
Feminismo e Subversão da
Identidade (Orfeu Negro, 2017),
propõe uma abrangente
reformulação crítica em torno da
materialidade dos corpos,
demonstrando como operam as
relações de poder na formação
do “sexo” e da sua
“materialidade”.
suas obras. Será, porém, com a
série de romances
protagonizados por Tom Ripley,
um anti-herói amoral e cínico, que
a sua reputação literária há-de
consolidar-se. É também autora
de várias colecções de contos e
de um ensaio sobre a criação do
suspense. Caso raro e
suficientemente ilustrativo da
Género Queer
— Memórias
Autoria: Maia
Kobabe
(Asa BD; 240
págs., 19,90€.
Hoje nas
livrarias)
Depois de, em 2021, ter estado no
centro de polémicas em vários
estados norte-americanos e de
ter sido banido de bibliotecas e
escolas sob acusações de
conteúdo impróprio, chega agora
a Portugal este premiado
romance gráfico de Maia Kobabe
(que assina texto e ilustração).
Trata-se de uma autobiografia
“intensamente catártica” sobre a
sua jornada para se identificar
como pessoa não binária e
assexual, e para se assumir
perante a sua família e a
sociedade. Abordando questões
relacionadas com identidade de
género — o que significa e como
deve ser pensada —, a história
também assume o papel de um
guia, “muito necessário e
comovente”. Maia Kobabe nasceu
nos Estados Unidos em 1989 e
formou-se em Ilustração pelo
California College of the Arts.
Identidade, sexualidade,
antifascismo e contos de fadas,
são temas recorrentes no seu
trabalho.
Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 31
leituras
Diários e
Cadernos
Autoria: Patricia
Highsmith
Tradução: Alda
Rodrigues
(Relógio
D’Água;
1056 págs., 34€. Já
á nas livrarias)
popularidade da escritora,
praticamente todas as suas obras,
que somam mais de uma trintena
de volumes, estão traduzidas e
publicadas em português, e em
Portugal.
Em Diários e Cadernos (uma
selecção, obviamente, do
conteúdo das oito mil páginas
manuscritas), está documentado
mais de meio século da vida
privada (biológica, amorosa,
sexual, etc.) e do pensamento
(estético, literário, político…) da
autora (entre 1938 e 1994). É um
duplo auto-retrato em
movimento, ao correr dos
prazeres e dos dias, das noites e
Em Nome do Pai
Autoria: Sónia
Simões
(Oficina do
Livro; 208
págs., 18€.
Ammanhã nas
livrarias)
“Deixemos de falar de ‘abusos’.
Chamemos as coisas pelo nome:
‘agressão sexual, crime’”, escreve
o padre José Manuel Pereira de
Almeida, vice-reitor da
Universidade Católica
Portuguesa, no prefácio deste
livro que retrata as investigações
e revelações sobre os crimes
sexuais perpetrados ao longo de
décadas pelo clero católico
contra menores. A autora faz suas
as palavras do relatório da
Comissão Independente que em
Portugal investigou o assunto:
“Não foi fácil escutar, registar ou
ler cada um destes textos. As
descrições eram emocionalmente
intensas, transportavam a voz
destes adultos para a sua
experiência infantil de abuso e a
forma como o mesmo os marcou
até aos dias de hoje.” Nascida em
1982, Sónia Simões foi jornalista,
co-autora do premiado trabalho
de investigação Em Silêncio
(2019), sobre abusos sexuais na
Igreja Católica em Portugal, e é
consultora.
Guia
publico.pt/leituras
das mágoas. Em dois registos
complementares que se
interpenetram e, por vezes, se
confundem, embora um, o dos
Diários, tenda a ser mais pessoal,
mundano e íntimo, e o outro, o
dos Cadernos, mais reflexivo,
teórico e instrumental. Assim,
anota num caderno, em 1941:
“Quando se tem ideias, nunca se
está sozinho — mas quer esteja
só, quer não, que sozinha me
sinto sem elas!” E, numa entrada
dos diários, escrita em alemão em
1948, lê-se: “Se ao menos já
soubesse como escrever um livro
antes de começar!” Como nota
Anna von Planta: “Embora estes
dois conjuntos possam ser lidos
independentemente um do outro,
quando lidos lado a lado
asseguram uma compreensão
holística […] de uma autora que
durante toda a vida escondeu as
fontes biográficas da sua obra.” A
própria Patricia Highsmith
desejou, aliás, que assim fossem
lidos. A par. Mário Santos
A Borga
Autoria:
Eduardo Blanco
Amor
Tradução:
Pedro Ventura
(Guerra e Paz;
104 págs., 13€.
Ammanhã nas livrarias)
“Não lhe falta nada para ser
considerada uma pequena
obra-prima”, afirmou o histórico
filólogo e ensaísta Manuel
Rodrigues Lapa sobre esta
novela canónica de Eduardo
Blanco Amor (1897-1979), um
dos grandes escritores galegos
do século XX. É a história de 24
horas infernais (e invernais) na
vida de três pândegos —
Castiço, Mil-homens e Bocas —
na cidade de Auria (uma
figuração da Ourense natal do
autor), jornada que, fatalmente,
não acabará bem para nenhum
deles. Escrito em pouco mais de
um mês, e publicado em 1959 na
Argentina (só bem mais tarde,
em 1970, seria permitida pela
censura franquista a sua edição
em Espanha), é um perfeito
pequeno romance
“tremendista”, onde imperam a
marginalidade e a transgressão,
segundo o relato de perdição
que um dos protagonistas fará
em tribunal.
32 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023
Guia
Cinema
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, 100. T. 214221030
Super Natural M12. 13h20; Mal Viver M14.
15h05; Mal Viver M14. 21h25; Viver Mal M14.
19h20; A Pequena Sereia M6. 15h55 (V.
Port./2D) 13h15, 18h40 (V.Orig./2D); Os
Filhos dos Outros M12. 17h30; The Quiet
Girl - A Menina Silenciosa M12.
19h40; Eneida M12. 13h25; Homem-Aranha:
Através do Aranhaverso M6. 15h (V.
Port./2D); Nas Margens M12. 17h15; Terra de
Deus M12. 21h35; Transformers: O
Despertar das Feras M12. 19h,
21h40; Marlowe: O Caso da Loira
Misteriosa M12. 15h05, 21h45
Cinema City Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 214221030
Velocidade Furiosa X M12. 15h45, 18h45,
21h20; A Pequena Sereia M6. 15h20, 17h50,
18h20, 21h10 (V.Port./2D) 13h10, 16h, 18h40,
21h25 (V.Orig./2D); Boogeyman M14. 11h20,
13h40, 15h50, 21h45; Homem-Aranha:
Através do Aranhaverso M6. 15h40, 18h40
(V.Port./2D) 21h35 (V.
Orig./2D); Transformers: O Despertar das
Feras M12. 15h30, 18h30; Marlowe: O Caso
da Loira Misteriosa M12. 21h50; Marlowe: O
Caso da Loira Misteriosa M12. 21h50; M12.
21h50; Guardiões da Galáxia Vol. 3 M12.
21h40
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
Aos Nossos Filhos M14. 14h45; Viver
Mal M14. 18h45; The Quiet Girl - A Menina
Silenciosa M12. 17h, 21h15
Cinemas Nos Alvaláxia
R. Francisco Stromp. T. 16996
John Wick: Capítulo 4 M16. 13h55, 17h35,
21h15; Guardiões da Galáxia: Volume
3 M12. 13h50, 20h30; Mavka - A Alma da
Floresta M6. 14h05, 16h35 (V.
Port./2D); Velocidade Furiosa X M12. 15h,
18h30, 20h, 21h30; A Pequena Sereia M6.
13h45, 16h50 (V.Port./2D) 13h10, 16h05,
18h55, 21h50 (V.Orig./2D) 14h20 (V.
Orig./3D); Cavaleiros do Zodíaco 19h20,
21h55; Boogeyman M14. 13h35, 16h10,
18h35, 21h05; Homem-Aranha: Através do
Aranhaverso M6. 17h (V.Port./2D) 14h30,
17h40, 21h35 (V.Orig./2D); Terra de
Deus M12. 14h, 17h20, 21h10; Transformers:
O Despertar das Feras M12. 13h15, 16h,
18h45, 21h40 (2D) 18h, 21h (3D);
Cinemas Nos Amoreiras
C.C. Amoreiras. Av. Engº Duarte Pacheco. T.
16996
Guardiões da Galáxia: Volume 3 M12.
20h30; Do Jeito Que Elas Querem - Um
Novo Capítulo M12. 13h20; Velocidade
Furiosa X M12. 14h10, 17h20, 20h40; A
Pequena Sereia M6. 10h40, 14h30 (V.
Port./2D) 20h50 (V.Orig./2D); The Quiet Girl
- A Menina Silenciosa M12. 13h10, 15h30,
17h50; Homem-Aranha: Através do
Aranhaverso M6. 14h20, 17h30 (V.Port./2D)
17h10, 21h10 (V.Orig./2D); Transformers: O
Despertar das Feras M12. 13h50, 17h,
21h; Marlowe: O Caso da Loira
Misteriosa M12. 13h40, 16h20, 18h50,
21h30; O Trovador TRO 22/23 19h15
(directo);
Cinemas Nos Colombo
Edifício Colombo, loja A203. Av. Lusiada. T.
16996
Guardiões da Galáxia: Volume 3 M12.
13h20, 16h, 18h50, 21h50,
00h15; Velocidade Furiosa X M12. 10h40,
14h30, 17h30, 20h40, 21h30, 23h40,
00h35; A Pequena Sereia M6. 12h10, 15h,
18h (V.Port./2D) 12h40, 15h40, 21h, 00h10 (V.
Orig./2D); Boogeyman M14. 12h50, 15h10,
17h20, 19h40, 22h10,
00h25; Homem-Aranha: Através do
Aranhaverso M6. 11h, 12h20, 15h30, 18h30
(V.Port./2D) 18h50, 21h50, 23h50 (V.
Orig./2D); Transformers: O Despertar das
Feras M12. 10h30, 13h, 15h50, 18h40, 21h40,
Estreias
Marlowe: O Caso
da Loira Misteriosa
De Neil Jordan. Com Liam
Neeson, Diane Kruger, Jessica
Lange, Brenda Rawn. FRA/IRL/
ESP. 2022. 109m. Thriller. M12.
Los Angeles, Ænais da década
de 1930. O detective Philip
Marlowe não está no melhor
momento da sua vida. Mas tudo
muda quando é abordado por
Clare Cavendish, Ælha de uma
conhecida estrela de cinema, que
o contrata para descobrir o
paradeiro do seu amante.
Terra de Deus
De Hlynur Pálmason. Com
Elliott Crosset Hove, Ingvar
Sigurdsson, Vic Carmen Sonne,
Jacob Lohmann, Hilmar
Guðjónsson. DIN/Islândia/FRA/
SUE. 2022. 143m. Drama. M12.
Finais do século XIX. Um jovem
sacerdote luterano é enviado
para uma zona remota da
Islândia – na altura, território
dinamarquês – para construir
As estrelas
Chile, 1976)
Homem Aranha)
Os Filhos dos Outros)
Mal Viver/Viver Mal)
Marlowe)
Nas Margens)
O Marinheiro das Montanhas)
A Morte de uma Cidade)
Aos Nossos Filhos)
Petite Fleur)
Super natural)
Têm de Vir Vê-la
Terra de Deus)
The Quiet Girl - A Menina Silenciosa)
Velas Escarlates)
 Mau  Medíocre  Razoável  Bom  Muito Bom  Excelente
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
00h30; Marlowe: O Caso da Loira
Misteriosa M12. 13h20, 16h, 18h50, 21h50,
00h15; Transformers: O Despertar das
Feras M12. 12h30, 15h20, 18h10, 21h10, 24h
uma igreja e criar a sua (IMAX 3D)
congregação. Mas não tardará Medeia Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213142223
muito até que a sua fé, até aí Mal Viver. 12h; Jogo da
inabalável, vacile. Lágrimas 14h30; Entrevista com o
Vampiro. 17h; Nostalgia 19h30; Marlowe: O
The Quiet Girl Caso da Loira Misteriosa 22h;
Sala Fernando Lopes - Universidade
- A Menina Silenciosa
Lusófona
De Colm Bairéad. Cp. Grande. T. 217515500
Com Carrie Crowley, Fato Macaco 14h30; Rodeo 15h45; Farta de
Andrew Bennett, Catherine Mim Mesma 17h45; Terra de Deus M12.
Clinch, Michael Patric. IRL. 19h45
UCI Cinemas - El Corte Inglés
2022. 85m. Drama. M12.
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
Cáit, de nove anos, habituou-se a
Air M12. 19h10, 21h50; Guardiões da
passar despercebida para Galáxia: Volume 3 M12. 18h40, 22h; Mal
sobreviver ao caos da família Viver M14. 16h10, 21h40; Viver Mal M14.
13h30, 18h50; A Sindicalista M12. 13h55,
onde nasceu. Por ser a mais
tranquila dos irmãos, é envia 19h25; Velocidade Furiosa X M12. 15h10,
18h15, 21h15; A Pequena Sereia M6. 13h20,
da para casa de uns primos 16h15 (V.Port./2D) 14h, 16h50, 21h10 (V.
afastados para passar o Verão.
Orig./2D); Velas Escarlates 15h55; Os Filhos
Nesses meses, ela vai descobrir, dos Outros M12. 19h20, 21h25; The Quiet
pela primeira vez, o que é o Girl - A Menina Silenciosa M12. 13h25,
verdadeiro amor. 18h50, 21h45; Aos Nossos Filhos M14.
13h45, 19h15; Boogeyman M14. 16h40,
21h55; Homem-Aranha: Através do
Transformers: Aranhaverso M6. 13h35, 16h25 (V.Port./2D)
O Despertar das Feras 15h, 18h30, 21h30 (V.Orig./2D); Nas
De Steven Caple Jr.. Com Pete Margens M12. 14h05, 16h35, 18h55; Terra
Davidson, Michelle Yeoh, Peter de Deus M12. 16h30, 22h; Transformers: O
Despertar das Feras M12. 13h40, 16h20,
Dinklage, Ron Perlman, Cristo 19h, 21h20, 21h40 (2D) 13h, 16h
Fernández. EUA. 2023. 117m. (3D); Marlowe: O Caso da Loira
Acção, Aventura. M12. Misteriosa M12. 13h50, 16h30, 19h05,
Esta nova aventura, ambientada 21h35; O Trovador TRO 22/23 19h15
em 1994, segue Noah e Elena, (directo);
dois humanos que se juntam a
Optimus Prime, o líder supremo Amadora
dos pacíÆcos autobots, que tantas UCI Cinemas - Ubbo
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vezes lutaram pela salvação do Super Mario Bros. O Filme M6. 14h, 16h10
mundo. Os três vêem-se (V.Port./2D); Velocidade Furiosa X M12.
envolvidos num conÇito 13h50, 16h50, 21h35; A Pequena Sereia M6.
relacionado com outras facções 13h30, 16h30, 21h15 (V.Port./2D) 18h50,
de cybertronianos: Maximals, 21h50 (V.Orig./2D); Homem-Aranha:
Através do Aranhaverso M6 15h15, 18h30
Predacons e Terrorcons. (V.Port./2D) 21h45 (V.Orig./2D);
Transformers: O Despertar das Feras M12.
13h40, 16h20, 19h, 21h40
Jorge Luís M. Vasco
Cascais
Mourinha Oliveira Câmara Cinemas Nos CascaiShopping
Estrada Nacional nº. 7. T. 16996
Super Mario Bros. O Filme M6. 13h45, 17h
(V.Port./2D); Guardiões da Galáxia: Volume
3 M12. 14h; Velocidade Furiosa X M12.
12h40, 16h45, 19h50, 22h; A Pequena
—) nnn) nnn Sereia M6. 13h30, 16h15, 19h05 (V.Port./2D)
) —) — 21h45 (V.Orig./2D); Boogeyman M14. 19h15,
22h10; Homem-Aranha: Através do
—) nn) —
Aranhaverso M6. 12h50, 16h, 18h55 (V.
mmn) mmn) mmm Port./2D) 17h15, 20h15 (V.
Orig./2D); Transformers: O Despertar das
) —) 
Feras M12. 12h40, 16h45, 19h50,
—) ) — 22h; Marlowe: O Caso da Loira
Misteriosa M12. 12h20, 15h, 17h30, 20h; O
mmn) nn) nn
Trovador TRO 22/23 19h15 (directo);
mn) nn) — Port./2D); Velocidade Furiosa X M12. 13h10,
—) ) ) Caldas da Rainha
—) ) — Cineplace La Vie - Caldas da Rainha
C.C. La Vie.
mm) mnn) — Velocidade Furiosa X M12. 13h05, 15h55,
nn mn mmn 18h50, 21h50; A Pequena Sereia M6.
12h55, 15h40, 18h25, 21h10 (V.
—) nn) — Port./2D); Homem-Aranha: Através do
) nn) — Aranhaverso M6. 13h15, 16h05 (V.Port./2D)
18h55, 21h45 (V.Orig./2D); Transformers:
mn) —) n O Despertar das Feras M12. 13h30,
16h10, 21h40 (2D) 19h (3D)
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16h, 18h50, 19h, 21h40, 21h50; A Pequena
Sereia M6. 12h55, 13h20, 16h05, 18h25 (V.
Port./2D) 15h40, 21h10 (V.
Orig./2D); Boogeyman M14.
19h05; Homem-Aranha: Através do
Aranhaverso M6. 13h15, 16h05 (V.Port./2D)
16h15, 18h55, 21h45 (V.Orig./2D); Terra de
Deus M12. 13h25; Transformers: O
Despertar das Feras M12. 13h30, 15h50,
16h10, 18h40, 21h25, 21h35 (2D) 18h55
(3D); Marlowe: O Caso da Loira
Misteriosa M12. 21h55
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X M12. 16h, 19h, 21h50; A Pequena
Sereia M6. 15h45, 18h30 (V.Port./2D) 21h15
(V.Orig./2D); Boogeyman M14.
19h10; Homem-Aranha: Através do
Aranhaverso M6. 16h05 (V.Port./2D) 18h55,
21h45 (V.Orig./2D); Terra de Deus M12.
21h20; Transformers: O Despertar das
Feras M12. 16h10, 21h35 (2D) 18h55
(3D); Marlowe: O Caso da Loira
Misteriosa M12. 21h35
Setúbal
Cinema City Alegro Setúbal
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Super Mario Bros. O Filme M6. 15h35,
19h20 (V.Port./2D); Guardiões da Galáxia:
Volume 3 M12. 21h15; Argonautas: Heróis
do Olimpo M6. 15h45 (V.Port./2D);
Velocidade Furiosa X M12. 13h10, 15h35,
16h, 18h35, 19h10, 21h35; A Pequena
Sereia M6. 13h, 17h50, 18h25, 21h20 (V.
Port./2D) 13h, 15h50, 21h25 (V.Orig./2D);
Cavaleiros do Zodíaco 13h20;
Boogeyman M14. 21h50; Homem-Aranha:
Através do Aranhaverso M6. 15h40, 18h40
(V.Port./2D) 13h20, 16h10, 19h, 21h40 (V.
Orig./2D); Transformers: O Despertar das
Feras M12. 15h30, 17h40, 18h30, 21h30,
21h50
Seixal
Cineplace Rio Sul Shopping - Seixal
C.C. Rio Sul Shopping. T. 0
Super Mario Bros. O Filme M6. 13h50 (V.
Port./2D); Velocidade Furiosa X M12. 15h50,
18h40, 21h30; A Pequena Sereia M6. 12h55,
15h40 (V.Port./2D) 18h25, 21h10 (V.
Orig./2D); Homem-Aranha: Através do
Aranhaverso M6. 13h15, 16h05 (V.Port./2D)
18h55, 21h45 (V.Orig./2D); Transformers: O
Despertar das Feras M12. 13h30, 16h10, 19h,
21h40
Albufeira
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15h50, 16h05, 18h45, 18h55, 21h35, 21h45;
A Pequena Sereia M6. 12h55, 13h05,
15h40, 18h25 (V.Port./2D) 21h10
(V.Orig./2D); Cavaleiros do Zodíaco 13h;
Boogeyman M14. 15h20; Homem-Aranha:
Através do Aranhaverso M6. 13h15,
16h10 (V.Port./2D) 19h05, 21h55 (V.
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21h40; Transformers: O Despertar das
Feras M12. 13h40, 16h, 16h20, 18h40, 19h,
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 Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 33

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Vieira da Silva em Festa
LISBOA Fundação Arpad
Szenes-Vieira da Silva.
Dia 13/6, das 10h às 20h. Grátis
A festa comemora os 115 anos do
nascimento da pintora Maria
Helena Vieira da Silva abraçando
também a história romântica da
artista com o pintor Arpad Szenes.
Nesta edição, que evoca a
“constante estranheza do
mundo”, o convite é para entrar
num Mundo Bicho. No programa
(detalhado em fasvs.pt) estão
leituras, concertos, cinema, visitas
guiadas, oÆcinas, exposições,
mercado e uma feira do livro de
ilustração.
palavrascruzadas@publico.pt
HORIZONTAIS: 1 - Silvio (…), a figura que mais marcou a Itália nos últimos 40 anos
(1936-2023). 2 - Atendido. Cidade da Alemanha situada junto ao rio Reno.
3 - Volta em espiral. Portugal tem milhares deles, mas ninguém sabe quanta água
estamos a tirar do chão. 4 - Trilhava. 5 - Onde há suspeita da existência de tráfico
de pessoas. Elas. 6 - Geme. Aplanar. 7 - Controlar ou forjar. 8 - Cobrir, calçar o solo com
pedra. Terceira nota musical. 9 - Prefixo (Deus). Preposição que designa posse.
10 - Autoridade Tributária e Aduaneira. Novak (...), venceu Roland-Garros e tornou-se
no maior tenista de sempre. 11 - Falta de progresso. Princípio (fig.).
VERTICAIS: 1 - Unidade de pressão. Pequena face. 2 - Passa por uma sucessão
gradual de transformações. Planeia lançar rival do Twitter para mudar padrão
da Internet. 3 - Gracejas. Parte superior e horizontal de uma mesa, cadeira, etc.
4 - Substância resinosa misturada com corante, para fechar garrafas, cartas, etc.
Associação de Estudantes. Doutor (abrev.). 5 - Graúda. Espécie de tabuleiro
para serviço de mesa. 6 - Sala de Observação. Dar lustre a. Artigo dos jornais.
7 - (...) Martins, autora de O Dever de Deslumbrar – Biografia de Natália Correia (Quetzal).
Abreviatura de knock-out. 8 - Peça de artilharia semelhante a um morteiro comprido.
Intransigente (fig.). 9 - Engenho de tirar água. Alojamento Local. Eternidade.
10 - Inventaram. Numeração romana (4). 11 – “A verdade tem (...)”. Perigo.
Solução do problema anterior

FESTIVAL
HORIZONTAIS: 1 - RamosMortos. 2 - Tri. Om. Iara. 3 - Roxa. Emu. 4 - Colômbia. Tu. 5 - Iso. As. Rue.
6 - AT. Sic. Vir. 7 - Alunos. Ufa. 8 - Dr. Lúcia. EB. 9 - Mato. Zuir. 10 - Reuni. Turra. 11 - Arrolo. Lias.
VERTICAIS: 1 - RT. CIA. Dura. 2 - Arrostar. Er. 3 - Miolo. Mur. 4 - Xô. Sulano. 5 - Soam. Inútil.
6 - Mm. Bacoco. 7 - Eis. Si. 8 - Rima. Azul. 9 - Tau. Riu. Uri. 10 - Or. Turfeira. 11 - Saque. Abras.
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do mundo, a autarquia põe ao Dador: Sul NORTE duas cartas do fim terá KJ de ouros e o 10 de Problema 11.964 (Fácil)
lume um caldeirão temperado Vul: EO Ƅ 85 paus e terá de largar uma delas; o 4 de paus
Ɔ 8543 da sua mão ou a Dama de ouros do morto
com música, dança, poesia e Ƈ AQ64 fará a vaza que falta).
oficinas para todas as idades. No ƅ A62 Se tentar a passagem a copas
prematuramente, antes de encaixar uma
lote de convocados para esta 20.ª segunda volta de paus, Oeste terá um pau
OESTE ESTE
edição estão nomes como Rogério Ƅ KQJ96432 Ƅ7 para sair de mão e o melhor que poderá fazer
Charraz, Kumpania Algazarra, Ɔ QJ Ɔ 96 agora é colocar Este em mão na terceira volta
Ƈ2 Ƈ KJ1085 de paus, para o forçar a jogar ouros,
The Gift, Carolina Deslandes,
ƅ Q7 ƅ J10985 poupando assim o segundo cabide.
Tocá Rufar ou Samba Sem Para ficar tudo completo, se a passagem a
Fronteiras, a par do II Encontro SUL copas resultar acabe de destrunfar e saia de Solução 11.962
Ƅ A10 mão com o terceiro pau – Este, ao fazer a
de Poesia Ibérica e de um dia Ɔ AK1072 vaza, terá de jogar ouros ou corte e balda,
dedicado à interculturalidade Ƈ 973 enquanto Oeste, se puder fazer a vaza, por
e partilha. Cartaz completo em ƅ K43 ter uma distribuição inicial 8-1-1-3, terá de
www.cm-serpa.pt. jogar uma das seis espadas que lhe restam
Oeste Norte Este Sul na mão, concedendo um corte e balda.
1Ɔ Oeste Norte Este Sul

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Leilão: Qualquer forma de Bridge.
Carteio: Saída: KƄ. Depois de fazer a primeira
vaza com o Ás de espadas, encaixa o Ás de
trunfo no qual Oeste assiste com o Valete.
Decide agora sair de mão com o 10 de
espadas e Oeste faz a vaza com o Valete,
enquanto Este balda um ouro encorajante.
Oeste joga agora o 2 de ouros; não vendo
razão para entrar já com uma das figuras do
morto, deixa correr, deixando Este fazer a vaza
com o 10. Por fim, Este vira o flanco para paus,
apresentando o Valete. Como continuaria?
Solução: Com tantas cartas a descoberto
por parte de Oeste, será normal que o seu
plano seja o de adoptar o princípio da
escolha restrita no naipe de trunfo, ou seja,
irá fazer a passagem a copas na próxima vez
que jogar trunfo. Mas, só para o caso de a
teoria da escolha restrita - que, afinal de
contas, oferece apenas uma probabilidade
de 2 para 1 nesta situação – não estar a
funcionar hoje, é possível garantir o contrato.
Prenda o Valete de paus com o Rei e jogue
outro pau para o Ás, antes de tentar a
passagem a trunfo. Se perder, Oeste terá de
ter originalmente uma distribuição 8-2-1-2, e
terá de jogar uma espada para corte e balda.
Corta do morto e balda um ouro da mão.
Desfila as restantes copas, apertando Este
nos naipes menores. As boas maneiras dizem
que deve pôr as cartas à vista dos seus
adversários, para não insultar a sua
inteligência (Este não tem defesa possível: a
1Ƈ 2ƅ passo ?
O que marca com a seguinte mão?
ƄAK98 ƆQ1082 ƇK65 ƅ62
Resposta: Analisamos agora o que fazer
após uma intervenção do parceiro ao nível
de 2. Este tipo de intervenção deverá ser
mais rigorosa do que uma intervenção ao
nível de 1, o naipe deverá ser de seis cartas
(ou de cinco excelentes, exemplo: AKJ10x) e
a força da intervenção começa com um Problema 11.965 (Difícil)
mínimo de 10 pontos de honra, em vez de
8 como era exigido para a intervenção em 1.
O limite máximo é sensivelmente o mesmo,
16 pontos de figura, mais coisa menos coisa.
O que muda nas respostas?
Para começar, deixa de haver a resposta de
1ST, que mostrava uma mão de 8 a 12 pontos.
Ficamos apenas com uma voz de sem trunfo
disponível antes do nível de partida: 2ST.
Esta voz passa a prometer entre 10 e 13
pontos de honra, sendo importante a
presença de um complemento de duas Solução 11.963
cartas no naipe do parceiro, por ser a
principal fonte de vazas. A mudança de naipe
promete um mínimo de cinco cartas e é
forcing por uma volta, tal como dantes. O
cue-bid, face a uma intervenção em naipe
menor, pergunta por uma defesa no naipe do
adversário com vista a sem trunfo. Com a
mão de hoje, a resposta mais adequada é
2ST. O parceiro, tendo uma boa intervenção,
deve avançar para 3ST, mas sem esquecer de
mencionar um naipe rico de quatro cartas, se
o tiver, pelo caminho. A boa voz: 2ST.
34 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023

Guia

CINEMA
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44,2
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que, em 2009, aterrou de FONTE: CAEM

emergência no rio Hudson, em

Nova Iorque, e evitou que 155
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homem que se tornou um herói
americano está Tom Hanks, a
contracenar com Anna Gunn,
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entre outros.
WWZ: Guerra Mundial
Fox Movies, 23h56
Thriller de Æcção cientíÆca
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por Matthew Michael Carnahan a
partir do livro de Max Brooks.
Gerry Lane (Brad Pitt),
ex-funcionário da ONU, quase
morre num inexplicável ataque
que mergulha o mundo inteiro no
caos. Mais tarde, descobre que um
vírus, responsável por transformar
pessoas em zombies, desencadeou
um conÇito mundial. É então
convocado pelas autoridades e
enviado com uma equipa de
cientistas para a zona de conÇito.
Objectivo: entrevistar os
sobreviventes, perceber como o
vírus prolifera e encontrar forma
de acabar com a ameaça.
Traições
RTP1, 00h35
Estreado no Festival de Cinema de
Cannes, um drama romântico
realizado por Arnaud Desplechin
que adapta a obra homónima de
Philip Roth. Denis Podalydès,
Léa Seydoux, Emmanuelle Devos,
Anouk Grinberg e Madalina
Constantin compõem o elenco.
Philip é um escritor americano de
meia-idade a viver em Londres,
onde se envolve com uma jovem
inglesa, também casada, com
quem se encontra no apartamento
que lhe serve de refúgio de escrita.
Ao longo das conversas, antes e
depois de fazerem amor, eles vão
revelando as suas vidas,
pensamentos e expectativas.
Philip servir-se-á de tudo isso
como inspiração para os seus
romances.
RTP1
6.09 Manchetes 3 6.30 Bom Dia
Portugal 10.00 Praça da Alegria
12.59 Jornal da Tarde 14.22 Os Nossos
Dias 15.09 A Nossa Tarde 17.30
Portugal em Directo 19.12 O Preço
Certo
19.59 Telejornal
21.01 Porquinho Mealheiro
22.05 É ou Não É? - O Grande Debate
23.39 Churchill na Madeira
0.35 Traições
aições
2.22 Europa Minha 2.45 A Nossa Tarde
SIC
6.00 Manhã SIC Notícias 8.15 Alô
Portugal 10.05 Casa Feliz 12.59
Primeiro Jornal 14.45 Linha Aberta
16.05 Júlia 18.10 Flor do Caribe 19.10
Cheias de Charme
19.57
7 Jornal da Noite
22.10
0 Sangue
Oculto
to
RTP2
6.03 Temos Programa 6.32 Repórter
África 7.00 Espaço Zig Zag 10.50
Saber Sabe Bem 11.21 Comédias do
Minho 12.23 Assuntos Legais 13.09
Visita Guiada 13.53 Folha de Sala
14.00 Sociedade Civil 15.03 A Fé dos
Homens 15.36 Impaciência do
Coração 16.16 Os Alpes 17.09 Espaço
Zig Zag 20.32 Folha de Sala
20.36 Uma Cidade em 2 ou 3 Dias
21.30 Jornal 2
22.01 Alice
22.43 Folha de Sala 22.52 Nada Será
Como Dante 23.20 Vieirarpad 0.51
Eurodeputados 1.19 Folha de Sala 1.26
Sociedade Civil 2.29 E2 - Escola
Superior de Comunicação Social 3.00
Entre Imagens 3.26 Folha de Sala 3.34
Alta Fidelidade 5.05 Animais
Anónimos 5.36 As Divinas Comédias
TVI
6.15 Diário da Manhã 6.59 Esta Manhã
10.05 Dois às Dez 12.58 TVI Jornal
14.50 A Herdeira 16.05 Goucha 18.10
Casamento Marcado 19.05 Vai ou
Racha
19.57 Jornal Nacional
21.55 Festa É Festa
22.30 Queridos Papás
23.25 Para Sempre
TVCINE TOP
17.05 2 Duros de Roer 18.25 À Deriva
19.50 Tempestade Infinita 21.30 Legado
de Mentiras 23.10 O Esquadrão Suicida
1.20 The Birthday Cake
FOX MOVIES
18.52 Transformers - Retaliação 21.15
Transformers: Era da Extinção 23.56
WWZ: Guerra Mundial 1.46 Alien - O
Regresso
HOLLYWOOD
17.40 S.M.A.R.T. Chase: Perseguição
Explosiva 19.15 Imperdoável 21.30
Milagre no Rio Hudson 23.15 A Rapariga
Apanhada na Teia de Aranha 1.10 Hitman
- Agente 47
AXN
17.04 Hudson & Rex 17.51 Vingança
Rápida 19.30 Mentes Criminosas 21.07
Hudson & Rex 22.00 The Rookie 22.53
The Blacklist 0.38 A Lenda de Zorro
FOX
17.07 FBI 18.45 Investigação Criminal:
Los Angeles 20.24 Hawai Força Especial
22.15 East New York 23.53 Atomic
Blonde - Agente Especial 1.52 FBI
DISNEY CHANNEL
17.15 Miraculous - As Aventuras de
Ladybug 18.05 A Maldição de Molly
McGee 18.55 Kiff 19.15 Hamster & Gretel
19.40 Os Green na Cidade Grande
20.25 Miraculous - As Aventuras de
Ladybug
DISCOVERY
17.12 Maine Cabin Masters 19.06
Aventura à Flor da Pele 21.00
Camionistas da Alemanha 22.54 Fast N’
Loud 0.48 Camionistas da Alemanha
HISTÓRIA
Kid 90
TVCine Edition, 20h50
Um Ælme sobre o signiÆcado
de crescer à frente das câmaras
na década de 1990. Reúne
gravações que Soleil Moon Frye,
a realizadora (e ela própria
criança-estrela numa sitcom),
foi fazendo nos bastidores com
outros miúdos-actores e junta-lhes
testemunhos actuais deles.
David Arquette, Brian Austin
Green, Marc-Paul Gosselaar e
Heather McComb fazem parte do
elenco.
Vieirarpad
RTP2, 23h20
A propósito do 115.º aniversário do
nascimento de Maria Helena
Vieira da Silva, a RTP2 emite este
documentário de João Mário Grilo,
lançado em 2021, sobre a pintura
dela e do seu companheiro, Arpad
Szenes. É um Ælme com um tempo
próprio, que parte da obra deste
casal de artistas que durante
décadas de vida em comum criou
uma espécie de terceiro corpo que
nos habituámos a reconhecer nos
seus retratos, nas fotograÆas e nas
cartas, poucas, que trocaram nos
breves períodos em que não
estiveram juntos. Dividido em três
partes, sendo a mais longa
dedicada ao exílio brasileiro
— refugiam-se no Rio de Janeiro
entre 1940 e 1947 para fugir à
guerra na Europa, que era ainda
mais ameaçadora para o pintor,
um judeu húngaro —, Vieirarpad é
responsável por duas
“ressurreições”: a do casal, que
nos chega através da pintura e das
cartas a que os actores Luís Lucas
e Suzana Borges emprestam a voz,
e a do Ælme de José Álvaro de
Morais, Ma Femme Chamada
Bicho, extraordinário objecto de
1978 que é, também ele, um
retrato íntimo desse terceiro
corpo.

SÉRIE
East New York
Fox, 22h15
Estreia-se, com episódio duplo,
um procedural em torno de uma
esquadra de Brooklyn que tem
como líder a inspectora Regina
Haywood (Amanda Warren).
Acaba de chegar ao cargo e,
independentemente das
resistências que encontre por
parte de alguns dos seus agentes,
17.30 Mistérios na Selva 18.54 O Preço
23.05 Flor Sem Tempo da História 22.15 História Express 23.52
O Preço da História
0.05 Um Lugar ao Sol
ODISSEIA
17.37 A Grande Barreira de Coral:
0.25 Pantanal Tesouro Vivo 18.23 Baleias-corcundas
em Perigo 19.03 Guia Básico para o
Futuro 19.50 Engenharia do Futuro
1.25 Passadeira Vermelha 3.15 0.00 TVI Extra 1.35 Autores 2.30 20.50 A Ira da Terra 21.39 Nápoles
Investigação Criminal: Los Angeles Defesa à Medida 3.15 Queridas Feras 22.32 À Beira da Catástrofe 23.17 O Fim
do Mundo
INFORMAÇÃO
É ou Não É? — O Grande Debate
RTP1, 22h05
Directo. Carlos Daniel torna a
chamar um painel para debater o
assunto TAP, desta vez
projectando a análise num futuro
que passa por responder a esta
pergunta: “AÆnal, a salvaguarda
do interesse nacional estará mais
garantida com uma TAP pública
ou privada?”
 Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 35

Guia
publico.pt/aovivo

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Meteorologia
PORTUGAL PRÓXIMOS DIAS LISBOA
Viana do Castelo Quarta-feira, 14 Quinta-feira, 15 Sexta-feira, 16
22º Bragança
16 º
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22º 13º 22º Mauna Loa, Havai Portugal
15 º 11º Partes por milhão Porto Coimbra
(ppm) na atmosfera
Coimbra Valores por semana Lisboa Évora
22º
14º Semana de 4 Jun. 424,38
Castelo Branco Faro
Semana de 28 Mai. 424,64
Leiria 24 º Há um ano 421,29
13º Há dez anos 399,37
22º Excelente Razoável O clube de leitura dos jornais
16º
Mau Não é saudável
Nível de segurança 350 PÚBLICO e Folha de S. Paulo.
Nível pré-industrial 280 Nada saudável Perigoso
Santarém
Portalegre
Todas as segundas terças-feiras
26 º
25º
de cada mês
14º
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Lisboa 18 Jun. 05h37
24 º 26 Jun. 8h50
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Setúbal 26º 3 Jul. 12h39
26º 13º Nascente
Nascen Poente Nascente Poente
15º
06h11 21h02 10 Jul. 2h48 03h08 16h29

Sines Beja EUROPA

24º 27º Estocolmo
Helsínquia
16º 13 º Oslo
19º Talín

1,2m Riga
Copenhaga

Vílnius
Dublin Berlim
Amesterdão
Londres
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17º Bruxelas
24º Faro Praga (18H NO BRASIL)
17º Paris
21º Genebra
Viena Budapeste
Isabel Coutinho
1,2m
Açores Milão e Walter Porto
Corvo Roma conduzem um
Flores Lisboa
Madrid
Istambul
encontro entre
22º
Graciosa 20º Atenas Matilde Campilho
18º 1,0m
20º São Jorge 17º
24º e os seus leitores.
1,8m Terceira TEMPERATURAS ºC Em destaque,
Faial
Pico
Min. Máx. Min. Máx.
o livro Flecha.
23º São Miguel
19º 18º Amesterdão 15 28 Roma 17 27
1,8m Atenas 17 27 Viena 11 22 Participe por Zoom
Ponta Delgada
Berlim 12 23 Bissau 26 32 na reunião com
Bruxelas 14 29 Buenos Aires 6 13 a ID 820 7497 2849.
Sta Maria
Madeira Bucareste 16 27 Cairo 23 35 A senha de acesso
Budapeste 11 22 Caracas 20 30 é 538972.
Porto Santo
Copenhaga 10 24 Cid. do Cabo 14 16
Madeira
22º 23º 23º 22º Dublin 13 24 Cid. do México 14 31
17º 18º
0,5m 0,8m Estocolmo 13 26 Díli 22 31
Frankfurt 13 28 Hong Kong 26 33
Funchal Genebra 11 27 Jerusalém 20 27
Istambul 17 24 Los Angeles 15 21
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Londres 14 29 Nova Deli 31 42
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 14 24 Nova Iorque 18 27
06h01 1,0 05h38 1,1 05h31 1,0 Milão 17 25 Pequim 20 33
12h19 2,9 11h55 2,9 11h53 2,9 Moscovo 11 22 Praia 23 30
Oslo 13 27 Rio de Janeiro 21 26
18h25 1,1 18h00 1,2 17h53 1,1 Paris 14 30 Riga 11 24
00h39* 3,1 00h15* 3,1 00h15* 3,0 Praga 9 21 Singapura 26 32
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
36 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023

Desporto As principais mudanças na próxima época de futebol

Mais Lisboa, menos ilhas:

a I Liga vai dispensar os aviões
A distribuição das equipas da I Liga para 2023-24 traz novidades nos arquipélagos, mas pouca coisa
nova no continente: o Norte, em geral, e o Minho, em particular, continuam em maioria no mapa
HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

Diogo Cardoso Oliveira

Se o caos nos aeroportos precisar de
uma ajuda, então a I Liga está a fazer
o que pode, dentro das suas possibi-
lidades. Para a temporada 2023-24
não deverão existir viagens de avião
— pelo menos não obrigatórias. Pela
primeira vez em 38 anos não haverá
nenhuma equipa das ilhas no plantel
do campeonato nacional de futebol,
algo que deixará a “bola de primeira”
reduzida às paredes do continente.
Porquê? Não há uma explicação
clara e única, mas o ocaso dos insula-
res, podendo não ter uma causa
comum, tem, pelo menos, um forte
ponto de contacto: tanto o Santa Cla-
ra (com Jorge Simão, Mário Silva e
Daniel Accioly), como o Marítimo
(com Vasco Seabra, João Henriques e
José Gomes) se afundaram na tempo-
rada em que contaram com três trei-
nadores. No caso dos verde-rubros,
essa dinâmica já vem, de resto, como
legado do período de liderança de
Carlos Pereira, que terminou em
2021, e não se alterou na nova era.
Esta queda para a II Liga, porém,
está a ser digerida com diÆculdade no
Funchal e foi em lágrimas que o actual
presidente do clube, Rui Fontes, abor-
dou o tema numa declaração aos jor- O Marítimo foi derrotado no play-off pelo Estrela da Amadora e perdeu a derradeira hipótese de se manter na Liga
nalistas: “Este é um dos dias mais
triste, da história do Marítimo, o pri- A geografia da no passado domingo, vem anexado de uma temporada para a outra, já
meiro em que muitos maritimistas Liga 2023-24 VILA REAL
ao reforço da Área Metropolitana de que entrou o Moreirense, saiu o Paços
acordaram sem o seu Marítimo na I 1 Lisboa, que há cinco anos que não de Ferreira.
Liga.” Adiantando que o rápido Promovidos à I Liga 6 Desp. Chaves contava com cinco equipas na esfera O que também se mantém no mapa
regresso ao primeiro escalão “é uma BRAGA 3 da capital — terá, a partir de Agosto, a de 2023-24 é o peso do interior. Em
obrigação” e que já solicitou a convo- PORTO presença do Estrela da Amadora, que paragens mais profundas, concreta-
Gil Vicente Rio Ave
cação urgente de uma assembleia se junta a BenÆca, Sporting, Casa Pia mente em Trás-os-Montes, o Desp.
Sp. Braga 1
geral extraordinária “com o objectivo FC Porto e Estoril no principal escalão. Chaves é exemplar único, sendo
V. Guimarães Boavista
de apresentar aos sócios o plano Entre 2013 e 2018, a região de Lis- igualmente o representante isolado
estratégico para o futuro imediato do Famalicão boa apresentou sempre cinco equipas do distrito de Vila Real, algo que acon-
Vizela AVEIRO
clube”. — BenÆca, Sporting, Belenenses, Esto- tece também com o Arouca em rela-
A mudança de treinadores não é Moreirense Arouca ril e V. Setúbal. Só agora as quedas na ção ao distrito de Aveiro.
necessariamente, porém, um sinto- hierarquia das equipas do Sado e do Na região sul, o Algarve volta a ter
ma de desnorte e muito menos um Restelo estão a ser devidamente com- duas equipas entre a elite, depois de
factor de insucesso. E o Farense está pensadas, com a nuance de o actual em 2021-21. Desta feita, a conjugação
aí para o provar. Os algarvios regres- LISBOA quinteto pertencer na totalidade ao é possível graças à subida do Farense,
5
sam à I Liga numa temporada em que Benfica mesmo distrito. que reeditará com o Portimonense
contaram com dois treinadores, Sporting uma rivalidade regional que, no prin-
depois da saída de Vasco Faísca numa Casa Pia A força do Minho cipal escalão, já aconteceu em seis
fase em que a equipa somava duas Estoril Praia Como habitualmente, a região norte épocas (cinco na década de 1980).
derrotas e um empate. Acabou por Estrela da Amadora do país continua em clara maioria, Ainda que a I Liga deixe os aeropor-
ser José Mota a selar a subida, num representando mais de 60% do pelo- tos, a II divisão vai ter de os usar mais
Ænal de temporada tremendo, com FARO tão, com especial predominância do que até aqui. Vai ter três equipas
oito vitórias nos últimos oito jogos. Portimonense para o Minho, que contribui com nas ilhas — Marítimo, Nacional e San-
Feito o retrato geral, vamos ao deta- 2 Farense nada menos do que seis equipas para ta Clara —, algo que não se via há cinco
lhe. O desaparecimento das ilhas, as 11 do bolo do Norte. Na aritmética anos, quando União, Nacional e San-
Fonte: PÚBLICO
espoletado pela queda do Marítimo da região, não há qualquer diferença ta Clara por lá andaram.

Bernardo Silva, um médio que
domina a arte da simplicidade
Nuno Sousa
Criativo foi fundamental
na conquista da Champions
pelo Manchester City.
Em campo e fora dele, tem
o dom de descomplicar
No sábado à noite, em pleno relvado
do Estádio Ataturk, depois da conquis-
ta da primeira Liga dos Campeões da
história do Manchester City, Bernardo
Silva dedicou o triunfo ao avô. “Gos-
tava que ainda estivesse cá para me
ver vencer a Champions. SigniÆcava
tanto para ele que eu jogasse futebol
que gostava de partilhar este troféu
com ele.” Foi um regresso às origens,
à mola impulsionadora de uma car-
reira que atingiu o topo, com uma
época a todos os títulos inesquecível.
Bernardo está sensivelmente a
ebrar os 29 anos e
dois meses de celebrar
já viveu muitos momentos altos no
futebol. Tem sido uma década e tan-
to para o criativo de 1,76m, que tem
motivado elogios atrás de elogios da
parte de Pep Guardiola,
diola, que tem um
cântico próprio criado
iado pelos adeptos
do City, que se temm assumido repe-
tidamente como um dos melhores
jogadores da Premiermier League. Em
2022-23, integrou u um plantel que
reproduziu uma proeza que só uma
vez havia sido atingida
ingida no país,,
com a conquista do o campeonato,
campeono ato,
da Taça de Inglaterra
rra e da Cham-
pions na mesma temporada.
empora rada.
hada que come-
Foi uma caminhada
enas na cabeça
çou por existir apenas
sonhadora de uma ma criança que
alternava entre a casa
asa de Lisboa
e a residência de férias
érias dos
avós, em Sesimbra. a. Como
em tantas outras histórias,
Bernardo tinha a bola
ola como
companheira de jornada e,
aos sete anos, recebeu
beu como pren-
da de aniversário a inscrição nas
escolas do BenÆca, a, na altura nos
ial não passou
Olivais. O potencial
despercebido e o salto
alto para os esca-
lões de competição ão foi tão natural
como o seu talento.o.
Na Luz, o pé esquerdo deste
médio que pode fazer diferentes
berto, a partir das
posições — mais aberto,
laterais, ou no corredor central,
atrás do avançado o — foi construindo
uma reputação de e respeito na for-
mação, mas o salto lto para a equipa
principal tardava e Bernardo decidiu
que, em 2015, tinhaha chegado a hora
de partir. Depois de alguns meses de
empréstimo ao Mónaco, mudou-se
em deÆnitivo para a o principado.
tivo levou a mágoa
Com ele, o criativo
(que nunca escondeu)ndeu) de não ter
Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 37
podido aÆrmar-se na Luz e a desilu-
são por não ter tido oportunidades
que entendia que merecia, ambas
passíveis de serem resumidas no
nome de Jorge Jesus. E, embora enca-
re com naturalidade um eventual
regresso ao BenÆca, o momento de
forma que atravessa, o mercado que
tem e a história que ainda pode cons-
truir fora de portas tratarão de adiar,
forçosamente, esse cenário.
Pouco dado a luxos
No Mónaco, brilhou a grande altura
na Ligue 1, com um título, e deu ain-
da mais nas vistas na Liga dos Cam-
peões, com a conÆança e o espaço
competitivo que o então treinador,
Leonardo Jardim, lhe assegurou. O
Manchester City não teve dúvidas
em desembolsar 50 milhões de
euros pelo passe do internacional
português e, em 2017, começou a
escrever se um novo capítulo.
escrever-se
De repente, o sucesso de Bernar-
Desporto
BIBLIOTECA DA CENSURA
Obras Apreendidas e Proibidas no Estado Novo
PARA QUE NÃO SE REPITA
B&B
25 livros. Colecção mensal, ao dia 25 de cada mês. Entre 25 de Abril de 2022 e 25 de Abril de 2024. PVP unitário 9€. Preço total da colecção 225€. Stock limitado.
do Silva passou a confundir-se com
o sucesso dos “citizens”. São já cinco
títulos da Premier League, quatro
Taças da Liga, duas Taças de Ingla-
PAPINIANO CARLOS
terra e duas Supertaças inglesas.
Para além, claro, do troféu dos tro-
féus, a Liga dos Campeões, que tei-
mava em escapar-lhe.
ESTRADA NOVA 1946 Vol.14
Se, em termos de ambição, o núme-
ro 20 do City está ao nível de tantos
outros jogadores, na forma de abordar
o jogo e a vida tem qualquer coisa de
distinto. Em campo, pensa e executa
em velocidade como poucos, gere o
tempo e o espaço com mestria e deÆ#
ne, no último terço, com a arte dos
predestinados. Fora dele, gosta pouco
de luxos e as “excentricidades” que
comete resumem-se a comer regular-
mente em bons restaurantes e fazer
férias com a namorada e os amigos.
“Depende dos gostos. Já tive um
bom carro no Mónaco, acho que são
fases. Quando era mais novo, gosta-
va de ter um carro bom quando
vel
fosse mais velho, já o tive e hoje é
uma coisa que q já não me diz mui-
to. Já me é indiferente ter um
carro bom ou um carro nor-
mal”, con
confessou numa entre-
vista ao SoSol, em 2019. Uma for-
ma de estar facilmente compro-
vada pela fa facto de se deslocar
est
para vários estágios da selecção de
segun carro do pai.
Smart, o segundo
q.b. é um dos jogadores
Discreto q.b.,
+9€
mais populares no balneário do City
e tem uma relaç
relação estreita com Riyad
Mahrez (com q quem costuma passar
parte do tempo livre). Não tem con-
sola de jogos
j gos em casa, não é supers-
jo EM BANCA
ticioso (embora
(embor tenha uma rotina
pré-jogo, que passap por tomar café
uma hora aa ntte do apito inicial) e
antes
valoriza muito
muito d dois ingredientes que De entre
entr os poetas censurados pela ditadura, Papiniano
considera
consider ra esse
essenciais
senn para o êxito de Carlos (1918-2012) foi especialmente castigado. Foi
futebolista:
um futebol o ista uma alimentação
ol inúmeras vezes pela PIDE pelas actividades políticas
preso in
cuidada e o desdescanso adequado.
b
Essa será a base para um trabalho 25 LIVROS ligadas ao Partido Comunista Português e às viagens
clandestinas que fez em sua representação, como ao
competente
compet ten
e te e p
se atingir o ní
profissional, mas para
nível que o craque por- 25 MESES Congresso Mundial das Forças da Paz, em Moscovo
(1973). Três dos seus livros de poemas e contos foram
tuguês ating
atingiu é preciso algo mais.
proibidos: Estrada Nova: Caderno de Poemas (1946),
Algo que n não está ao alcance de
As Florestas e os Ventos: Contos e Poemas (1952),
quualquer u
qualquer um. E desta vez nem é
preciso recorrer
rec aos elogios de
Caminhemos Serenos: Poemas (1957). Estrada Nova,
G
Gu ardiola para
Guardiola p perceber quão com capa exemplar de Júlio Pomar, foi proibido “pela
diferenciado é o seu futebol. sua índole comunista e pelo seu manifesto derrotismo”.
Bernard é tão inteligente,
“O Bernardo Das obras que a Censura autorizava com cortes ou
não é? O seu entendimento
e do jogo proibia, mostramos uma selecção desses raros
é inacreditável
inacreditável. Ele joga em cerca de artefactos culturais que falam do controlo da vida
19 posições diferentes,
dif embora só cultural desse período, que são reproduções dos
haja 11 disponíveis.
dispon Ele é tão, tão originais censurados guardados na BNP e que incluem
bom.” Palavras de Kevin de Bruyne, os relatórios de censura, carimbos, selos e rasuras.
há dias, ao Manchester
M Evening Uma colecção comissariada por Álvaro Seiça.
News. E se há al alguém que está à altu-
ra de avaliar a verdadeira
v dimensão
do futebol do lisboeta é o interna-
cional belga, ta também ele um criati-
vo de primeira água.
38 • Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023

Desporto

Emails do Benfica: um ano e dez meses

de pena suspensa para Francisco J. Marques
INÊS FERNANDES

Miguel Dantas

Tribunal atribuiu uma

indemnização de dez mil
euros a Luís Filipe Vieira.
“Dragões” vão analisar
acórdão e recorrer
O tribunal concluiu que os responsá-
veis de comunicação do FC Porto
truncaram, usaram inverdades na
construção de narrativas e atingiram
o bom-nome do BenÆca ao associar
o clube a supostas práticas de corrup-
ção. A decisão do processo dos emails
foi conhecida ontem e o acórdão
explicado pelo juiz Nuno Costa, líder
do colectivo neste processo. Francis-
co J. Marques, director de comunica-
ção dos portistas, foi condenado a um
ano e dez meses de prisão com pena
suspensa. Diogo Faria, director de
conteúdos do FC Porto, foi condena-
do a uma pena de nove meses. Júlio
Magalhães, terceiro arguido no pro-
cesso, foi absolvido.
Francisco J. Marques e Diogo Faria
foram ainda condenados a pagar uma
indemnização de dez mil euros a Luís
Filipe Vieira, ex-presidente do BenÆ#
ca. O advogado que representa os
arguidos, Nuno Brandão, adiantou
que irá analisar o acórdão e recorrer
da decisão, sublinhando, contudo,
que a maioria das imputações não se
traduziu em condenações.
“Quanto ao Francisco J. Marques,
devemos notar que a acusação e a Francisco J. Marques foi também condenado a pagar uma indemnização a Luís Filipe Vieira
pronúncia caíram na sua larga maio-
ria, estavam claramente empoladas. ca e comentador afecto às “águias”, “águias” foram atendidas. a alteração de qualiÆcação jurídica de do, processo em que se investigam as
Houve duas ou três imputações que e Adão Mendes, antigo observador da “As condenações não se medem crimes para Francisco J. Marques e suspeitas de corrupção desportiva
subsistiram e merecem a nossa dis- Federação Portuguesa de Futebol e em meses nem em anos. Para nós, o Diogo Faria, e adiou a leitura da sen- levantadas pelo conteúdo da corres-
cordância. Estamos na primeira par- da Liga de clubes, em que se discutia importante era existir uma condena- tença para o dia de ontem. Em causa pondência, está ainda sob investiga-
te, vai haver uma segunda parte que um suposto controlo do clube da Luz ção em que se reconhecesse o que foi estava o agravamento dos crimes de ção. Este terceiro e último caso atinge
será o recurso no Tribunal da Rela- sobre a arbitragem. reconhecido. Em primeiro lugar, que violação de correspondência de tele- especiÆcamente os autores das reve-
ção. Poderá existir um prolongamen- Relativamente a Júlio Magalhães, foi um comportamento criminoso e comunicações, decisão que acarreta lações.
to, uma queixa para o Tribunal Euro- na altura director do Porto Canal, o injustiÆcado. Em segundo lugar, que uma pena mais severa em caso de Uma suposta rede de inÇuência
peu dos Direitos Humanos”, reitera. juiz sustenta que o jornalista nada fez houve manipulação de informação. condenação. montada pelo BenÆca junto dos
Francisco J. Marques foi condena- para impedir a divulgação dos emails. Em terceiro lugar, que houve menti- Os documentos, que Æcaram órgãos judiciais e instituições despor-
do pela prática de dois crimes de Mesmo que o quisesse fazer, prosse- ra”, reiterou. conhecidos como “cartilhas” — usa- tivas foi a temática explorada nestes
ofensa a pessoa colectiva agravados gue o magistrado, não teria grandes das para instruir os comentadores do programas do Porto Canal, através da
e pelo crime de violação de corres- hipóteses de sucesso. Que caso é este? BenÆca nos vários programas de análise dos emails. Francisco J. Mar-
pondência agravada ou telecomuni- À saída do tribunal, Rui Patrício, A disputa entre os dois clubes come- comentário desportivo —, terão che- ques e Diogo Faria chegariam a escre-
cações, com o tribunal a entender advogado que integra a equipa jurí- çou em Abril de 2017, quando Fran- gado à caixa do director de comuni- ver um livro sobre esta alegada teia
que, por ser proprietário dos domí- dica do BenÆca, destacou que as cisco J. Marques divulgou em directo cação do FC Porto no dia 4 de Abril de inÇuências, intitulado O Polvo
nios das caixas de correio electróni- principais reivindicações das correspondência electrónica trocada de 2017, naquele que terá sido o pri- Encarnado. Já o BenÆca acusa os por-
co exÆltradas, o BenÆca é também entre dirigentes benÆquistas. Garan- meiro contacto entre Francisco J. tistas de truncarem emails e descon-
ofendido. tindo desde o primeiro momento que Marques e a Ægura-mistério que textualizarem excertos para conse-
Referindo-se concretamente ao “Estamos na primeira recebeu os emails de forma anónima enviou posteriormente os emails. guirem montar uma narrativa falsa.
programa de dia 6 de Junho de 2017,
o juiz Nuno Costa considera que o
parte, vai haver uma e sem qualquer contrapartida, o
director de comunicação do FC Porto
A divulgação desta correspondên-
cia de Æguras ligadas ao BenÆca pela
Durante todo o processo, a defesa
“azul e branca” sustentou a tese do
director de comunicação dos portis- segunda parte que apontava uma série de ilícitos alega- estrutura de comunicação do FC Por- interesse público das revelações,
tas incorreu em “manipulação de será o recurso no damente cometidos pelo emblema da to originou já três processos distintos. alegando que foi aplicado um trata-
informação”. Neste programa discu- Luz, numa divulgação que ocorreu O primeiro, processo cível julgado no mento jornalístico na triagem feita
tiu-se um email trocado entre Pedro
Tribunal da Relação” em 20 programas semanais. Porto em 2019, culminou numa pelos portistas aos milhares de
Guerra, antigo funcionário do BenÆ# Nuno Brandão Na sessão anterior, o tribunal pediu indemnização às “águias”. O segun- emails analisados.

Federação de Basquetebol repudia
comportamento do Benfica
Campeões nacionais
recusaram receber
as medalhas e a taça, em
protesto contra decisão
do Conselho de Disciplina
A Federação Portuguesa de Basque-
tebol (FPB) repudiou, ontem, o
comportamento do BenÆca no
domingo à noite, depois de o clube
ter recusado participar na entrega
do troféu de campeão no Pavilhão
João Rocha, em Lisboa.
“Relativamente à ausência dos
agentes desportivos do Sport Lisboa
e BenÆca na cerimónia de entrega
dos prémios de campeão nacional,
a Federação Portuguesa de Basque-
tebol repudia e condena veemente-
mente tal comportamento, conside-
rando que atenta contra os princí-
pios da ética desportiva”, refere o
organismo em comunicado.
A tomada de posição do BenÆca
aconteceu depois de a equipa
de basquetebol conquistar o bicam-
peonato em casa do Sporting,
ao vencer o quarto jogo da Ænal
do play-off (85-101), num encontro
antecedido de polémica, em que
os “encarnados” acusaram a FPB
de “dualidade” de critérios.
Mirpuri termina em segundo lugar
na Ocean Race Sprint Cup
David Andrade
O Race for the Planet, veleiro da equi-
pa Mirpuri Foundation Racing Team,
foi segundo classiÆcado na chegada
da segunda etapa da Ocean Race
Sprint Cup, disputada entre Aarhus,
na Dinamarca, e Haia, nos País Bai-
xos. O VO65 de bandeira portuguesa
concluiu a ligação em dois dias, 21
horas, 23 minutos e 39 segundos,
bem próximo dos vencedores Win-
dWhisper Racing Team.
Após ser forçado a retirar-se da
primeira regata, realizada em Janei-
ro, entre Alicante e a cidade cabo-
verdiana do Mindelo, com condições
extremas — ventos a rondar os 50 nós
e ondas de três e quatro metros —, o
projecto inicial da Mirpuri Founda-
tion Racing Team sofreu uma altera-
ção para as etapas Ænais, devido à
indisponibilidade, por motivos fami-
Público • Terça-feira, 13 de Junho de 2023 • 39
Jogadores do Benfica
festejam com os adeptos
Em causa esteve o facto de o joga-
dor do Sporting Travante Williams
ter estado apto para o encontro, que
disputou, depois de na anterior par-
tida ter sido acusado de agredir um
agente da autoridade, sem que a
FPB instaurasse qualquer medida
disciplinar.
“Dois casos, dois jogadores, dois
clubes e duas decisões opostas: Tra-
vante Williams agrediu um agente
liares, de António Fontes continuar
como skipper do VO65.
Assim, com uma aliança com os
dinamarqueses Trifork, o VO65 da
Mirpuri teve ao leme um dos veleja-
dores com mais prestígio a nível
internacional: Chuny Bermudez.
Com 53 anos e meia dúzia de parti-
cipações na competição, o velejador
galego é conhecido pela “forma
obsessiva” como procura retirar o
“máximo da performance” das suas
tripulações e mostrou plena con-
Æança em fazer parte de uma equipa
“formada em tempo recorde”.
O velejador
galego Chuny
Bermudez, de 53
anos, substituiu
António Fontes
ao leme do VO65
da Mirpuri
Desporto
RANKING
DAS ESCOLAS
2022
PELA PRIMEIRA
COMO É QUE
A SUA ESCOLA
SAI NA
VEZ PODE COMPARAÇÃO
da autoridade e foi expulso, mas vai CONSTRUIR COM AS
jogar hoje com o BenÆca; Ivan
O SEU PRÓPRIO OUTRAS?
FAÇA
Almeida foi acusado de tentar agre-
dir um árbitro, tendo-se comprova- RANKING COM
do depois que tal era falso, mas foi O PÚBLICO
suspenso durante um mês! Incom-
preensível e inaceitável”, explicou
o BenÆca, acusando a FPB de duali-
dade de critérios.
O SEU
Já após a conquista do campeona-
to, os “encarnados” comunicaram
que não iriam participar na cerimó-
nia dos prémios, dado o “compor-
tamento discriminatório e inaceitá-
RANKING
vel por parte da Federação Portu-
guesa de Basquetebol e do seu
Conselho de Disciplina, presidido
por Carlos Filipe”.
Assim, no pavilhão João Rocha só
os jogadores e equipa técnica do
Sporting receberam as medalhas
das mãos dos dirigentes da federa-
ção, enquanto a comitiva do BenÆca
abandonou o recinto e acabou por
levar a festa para o pavilhão da Luz, As escolas com melhores
onde centenas de adeptos aguarda- resultados a Matemática.
vam a equipa. A quantidade de actividades
Já de madrugada, a FPB disse extracurriculares disponíveis.
reservar-se o direito de tomar todas As notas que os alunos
as medidas para garantir que “tais têm a Educação Física.
comportamentos” não se repitam,
Escolha os critérios Veja também o ranking
“sem prejuízo das consequências
disciplinares previstas nos regula- que lhe interessam. PÚBLICO-Católica
mentos”. PÚBLICO/Lusa Porto Business School
A partir de 16 de Junho
em publico.pt
Embora com pouco tempo para
preparar regatas Ænais da Ocean Race
Sprint Cup, a equipa, da qual fazem
parte nomes consagrados da vela
internacional como Jens Dolmer ou
Bouwe Bekking, acabou por estar em
muito bom nível, sendo apenas supe-
rada pelo WindWhisper Racing Team,
de Pablo Arrarte, que já tinha vencido
na chegada a Cabo Verde.
Com o segundo lugar em Haia, a
equipa Mirpuri ascendeu ao quarto
lugar da classiÆcação geral da Ocean
Race Spring Cup, ao somar cinco pon-
tos, e está somente a dois pontos do
Austrian Ocean Racing, terceiro clas-
siÆcado, e a quatro do Team JAJO.
Entre os IMOCA, o 11th Hour Racing
Team, de Charlie Enright, terminou
em primeiro, 12 minutos à frente da
Team Holcim. O Biotherm, que tem a
portuguesa Mariana Lobato a bordo,
foi o quarto a cortar a meta.
Terça-feira, 13 de Junho de 2023
BARTOON LUÍS AFONSO
Querem racismo? Procurem na lei da nacionalidade de 1975
O respeitinho
não é bonito
E
João Miguel Tavares
m Janeiro de 2019,
António Costa
perguntou a Assunção
Cristas se era por
causa da sua “cor de
pele” que lhe estava a
pedir para condenar a violência
que ocorrera no bairro da Jamaica.
Recordo que à data Assunção
Cristas era a líder do CDS-PP, o
partido onde militavam Narana
Coissoró e Hélder Amaral, ambos
ilustres deputados numa era em
que só havia branquinhos no
Parlamento, da direita à esquerda
radical.
A pergunta não tinha pés nem
cabeça, até porque a coisa mais
bizarra que me lembro de ter visto
relacionada com a cor da pele de
António Costa foram os cartazes
do próprio PS na campanha de
2015 — “É tempo de confiança”,
diziam eles —, nos quais o seu
retrato parecia ter sido
propositadamente clareado pelos
gurus da comunicação socialista.
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Ainda assim, no último
Æm-de-semana ele decidiu chamar
“racistas” a cartazes de péssimo
gosto onde aparecia retratado com
lápis enÆados nos olhos, nariz de
porco e lábios grossos.
Quantos aos lábios grossos,
aconselho o visionamento de
caricaturas de Mick Jagger,
Angelina Jolie ou Manuela Moura
Guedes. Quanto ao nariz de porco,
não percebo a relação. Quanto à
cor da pele, recordo que em 2014
este jornal questionou o novo líder
do PS sobre o tema. António Costa
respondeu: “A cor da pele nunca
me limitou, nunca.” E quanto a
sentir-se discriminado ou vítima
JOSÉ COELHO/LUSA
de racismo? “Pessoalmente, nunca
senti”, disse na altura. Pelos vistos,
sentiu-se agora.
Não devia ter sentido. A elite
goesa nunca foi discriminada em
Portugal. No meu último artigo,
prometi que iria regressar ao tema
do 25 de Abril e da “libertação
mútua” celebrada por António
Costa em Luanda. Parece que
estou a falar de outra coisa. Não
estou. Acho extraordinário que
tantos encham a boca com o
racismo, e se entretenham a
denunciá-lo em cartazes
grotescos, quando vivemos num
país que em 1975 aprovou uma lei
da nacionalidade (Decreto-Lei n.º
308-A/75) absolutamente racista,
mas que, como é um subproduto
das conquistas de Abril (foi
aprovada por Vasco Gonçalves,
Álvaro Cunhal ou Mário Soares e
assinada pelo general Costa
Como é um Gomes), nunca é contestada com a
veemência que merece.
subproduto Querem racismo? Aí está ele, na
das conquistas deÆnição de quem em 1975 pôde
continuar a ser português: apenas
de Abril, a lei aqueles que, vivendo em território
(Decreto-Lei n.º ultramarino, tivessem nascido em
Portugal, ou descendentes de
308-A/75) nunca portugueses até ao terceiro grau
é contestada (Ælhos, netos e bisnetos). Ou seja,
os brancos. Com uma excepção: os
com a veemência nascidos no antigo Estado da
que merece Índia, tais como seus Ælhos, netos
publico.pt/assinaturas
e bisnetos. O escritor Orlando da
Costa, pai de António Costa,
nascido em Lourenço Marques, só
pôde continuar português após
1975 porque era de origem goesa.
Tivesse ele o azar de ser um
africano do bairro de Mafalala, e
perderia automaticamente a
nacionalidade, mesmo que tivesse
feito o serviço militar ou lutado na
guerra ao lado das tropas
portuguesas. Esta é uma das
maiores vergonhas do Portugal de
Abril.
António Costa, que foi a Luanda
festejar a “libertação mútua” e
convidar João Lourenço para a
festa dos 50 anos de Abril, deveria
ajustar as dioptrias do racismo.
Por um lado, evitava usar o
conceito de forma despropositada
num país que já lhe deu milhões
de votos. Por outro, evitava
esconder que a separação entre
Portugal e as antigas colónias não
foi uma “libertação”. Foi um corte
forçado, apressado e
ensanguentado, cheio de
injustiças e de racismo, que
convém não começar agora a
mitiÆcar, como no tempo do
Estado Novo se mitiÆcava o
Portugal de Minho a Timor.
Jornalista
jmtavares@outlook.com
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