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QUEBRAMAR.COM QUEBRAMAR.COM

Abrir portas onde se erguem muros Director: David Pontes Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • Ano XXXV • n.º 12.404 • Diário • Ed. Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,50€

I
Influencer Sudão
Uma guerra infernal
Relação admite
R esquecida que já provocou
8,6 milhões de deslocados
q
que Galamba Mundo, 22/23

ttenha agido só Oeiras

preocupado com
p A PIDE não mandava aqui:
Livraria Espaço quer
iinteresse do país ficar na História
Destaque, 2/3 e Editorial
D Local, 16/17

Quase
PETER MACHADO

Rock Rendez Vous

A sala onde se
gritou o despertar metade dos
de uma geração
Cultura, 30/31 portugueses
apoiaria “um
líder forte”
sem eleições
Estudo revela que a democracia continua
a “ser preferível” e que 70% apoiariam
governo de tecnocratas Política, 8/9

Saúde Bancos
ULS vão ser Comissões
avaliadas pela indevidas
qualidade triplicaram
dos cuidados em 2023
Sociedade, 12 Economia, 18/19
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ISNN-0872-1548
2 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
Destaque Operação Influencer
Galamba
pode ser só
um político
preocupado
com o país,
diz Relação
Juízes acusam o Ministério Público de
“inaptidão” e “juízos especulativos” e
dizem que data center tinha direito a um
“tratamento mais favorável” por ser PIN
Mariana Oliveira
“H
á debate de ideias e opi-
niões divergentes, há
empenho e vontade
política de João Galam-
ba [na altura ministro
das Infra-Estruturas]
em impulsionar todo o processo admi-
nistrativo necessário à implementação
do data center e do parque fotovoltai-
co e há sim disponibilidade do arguido
Vítor Escária [então chefe de gabinete
do ex-primeiro-ministro] para ouvir os
argumentos da Start Campus, nas pes-
soas dos seus administradores e do
seu representante, respectivamente,
dos arguidos Afonso Salema e Rui Oli-
veira Neves e Diogo Lacerda Machado
e de promover contactos com mem-
bros do Governo”.
É assim que os três juízes do Tribu-
nal da Relação de Lisboa analisam as
conversas telefónicas entre decisores
públicos e administradores da empre-
sa Start Campus, a promotora de um
gigantesco centro de armazenamento
de dados digitais, em Sines, cujo ale-
gado favorecimento está no centro da
investigação da Operação Influencer.
Apesar de admitirem um “certo ‘ruí-
do’” com a “profusão das conversas
telefónicas envolvendo decisores
públicos e particulares interessados
nessas decisões, conjugados com três
almoços e dois jantares”, os juízes des-
valorizam os elementos que suporta-
ram as imputações de tráÆco de
inÇuência, recebimento indevida de
vantagem, prevaricação e corrupção
feitas pelo Ministério Público a seis
arguidos, não considerando preenchi-
do nenhum dos crimes.
Ao analisar os elementos concretos
apresentados pelos procuradores
antes dos primeiros interrogatórios
judiciais, a Relação de Lisboa conside-
ra que até às detenções dos cinco dos
arguidos (o sexto é a empresa Start
Campus) não havia indícios de qual-
quer favorecimento indevido do
megaprojecto Sines 4.0, que, subli-
nham, tinha direito a um “tratamento
mais favorável” por ser projecto de
Potencial Interesse Nacional (PIN).
Anulam, por isso, as medidas de
coacção dos dois arguidos que tinham
recorrido delas, o antigo chefe de gabi-
nete do ex-primeiro-ministro, Vítor
Escária, na sala de quem foram encon-
Costa demitiu-se na sequência
do caso. Juízes repetem que não
existem indícios contra si
trados 75.800 euros, e o consultor da
Start Campus e amigo de António Cos-
ta, Diogo Lacerda Machado. Os desem-
bargadores revogaram a caução de 150
mil euros que o juiz de instrução tinha
aplicado a Lacerda Machado, assim
como a obrigação de este não se ausen-
tar para o estrangeiro, recuperando o
passaporte. Também Escária Æca
novamente livre para sair do país, sem
nunca se referir o dinheiro apreendi-
do. O Ministério Público viu caírem as
suas pretensões em toda a linha.
Apesar de António Costa não ser
arguido no inquérito analisado pela
Relação, os juízes repetem várias vezes
que não existem elementos contra o
ex-primeiro-ministro A aÆrmação de
que Lacerda Machado terá usado a
amizade que mantinha há muito com
Costa para favorecer interesses dos
privados para os quais trabalhava,
nomeadamente a Start Campus, não
passa, segundo a Relação de Lisboa,
de uma suposição do Ministério Públi-
co sem fundamento.
“O único facto concreto protagoni-
zado pelo primeiro-ministro foi ter
estado presente num evento de apre-
sentação do projecto, no dia 23 de
Abril de 2021, no qual também estive-
ram presentes, o então Secretário de
Estado Adjunto e da Energia, João
Galamba, o então Ministro da Econo-
mia, Pedro Siza Vieira”, descrevem os
juízes, para deixarem uma pergunta,
das muitas que formulam ao longo
deste acórdão: “De uma relação de
amizade com um membro do Gover-
no, aliás claramente assumida de for-
ma pública e reiterada por ambos os
protagonistas, (…) tem de resultar a
conclusão inexorável de que houve
tráÆco de inÇuências, ou corrupção
activa ou passiva, ou prevaricação?”
AÆnal, salientam, não há nas escu-
tas deste processo uma única conver-
sa telefónica mantida directamente
Não há nas escutas
deste processo uma
única conversa
telefónica mantida
directamente com
António Costa
com António Costa, embora os argui-
dos aludam várias vezes ao facto de o
chefe do Governo ser entusiasta do
projecto de Sines e até a reuniões que
tencionavam manter com ele, muito
embora não se saiba se esses encon-
tros chegaram de facto a suceder.
No entender dos desembargadores,
era essencial que o Ministério Público
tivesse conseguido identiÆcar algum
comportamento de António Costa
passível de mostrar receptividade para
acatar sugestões do seu amigo em
matéria de políticas públicas e medi-
das legislativas no ambiente. Mas nada
leva a crer que o governante se socor-
resse de Lacerda Machado quando
queria, por exemplo, escolher ou
demitir membros do executivo.
“Juízos especulativos”
No acórdão, um documento com 366
páginas, são repetidas as críticas ao
Ministério Público que os juízes che-
gam a acusar de “inaptidão”. Por
diversas vezes queixam-se de “juízos
especulativos” e de expressões “vagas”
e “genéricas”.
As escutas são constantemente des-
valorizadas e, diversas vezes, os juízes
NotíciasFlix
fazem advertências como esta: “As
conversas telefónicas nada mais
demonstram do que a sua própria
existência, provam que aquelas frases
foram ditas e foram proferidas por
aquelas pessoas que surgem identiÆ#
cadas nas transcrições, como sendo
os seus interlocutores. Mas não são
factos. São meios de prova. E a suces-
são de conclusões ou ilações que o
Ministério Público delas retira, não são
nem uma coisa nem outra”.
Os juízes não vêem nada de errado
nas reuniões dos administradores da
Start Campus, intermediadas por
Lacerda Machado, que como consul-
tor daquela empresa recebia uma
avença mensal superior a 6500 euros.
“Também as preocupações manifes-
tadas pelo arguido Afonso Salema, na
reunião mantida com Vítor Escária em
22 de Dezembro de 2022 sobre a
demora na aprovação dos actos rele-
vantes para o andamento do processo
concernente ao data center e ao par-
que fotovoltaico, além de legítimas
porque realmente o processo estava
mesmo muito atrasado, não signiÆcam
tentativas de obtenção de favores,
nem o arguido Vítor Escária ao prome-
DANIEL ROCHA
ter falar com o arguido Nuno Masca-
renhas [presidente da Câmara de
Sines] para que não se veriÆcassem
atrasos estava a anunciar que fosse
exercer algum tipo de pressão que não
aquela que em geral todos os cidadãos
têm de exigir da administração central
e local”, lê-se na decisão assinada
pelos juízes Cristina Almeida e Sousa,
Rui Teixeira e Hermengarda Valle-
Frias.
Os magistrados consideram que
“conversar com governantes do poder
central ou do poder local ou com
outros agentes da administração públi-
ca sobre interesses próprios não tem,
só por si, nada de ilícito ou sequer de
irrazoável”, lembrando que o próprio
procedimento administrativo contém
regras que asseguram a participação
activa dos particulares. “Falar não é,
necessariamente, constranger ou for-
çar seja quem for a fazer o que não
quer ou que não tinha previsto fazer
ou decidir”, aÆrmam os juízes que
notam, por outro lado, que “muitas
vezes o tempo da administração públi-
ca e do poder político não é o tempo
do mundo dos negócios e dos investi-
mentos”. com Ana Henriques
O lobbying que falta
regulamentar
O
mandato de Luís
Montenegro como
primeiro-ministro, assim
como o de Rita Júdice na
pasta da Justiça, tem como
prioridade negociar um plano
anticorrupção. As reuniões
com os vários partidos sobre o
assunto começam amanhã e é
no âmbito desse pacote que
será abordada a questão da
regulamentação do lobbying.
Em Janeiro de 2024, PS, PSD,
IL e PAN entregaram projectos
de lei para tentar fechar esta
questão, tendo como base um
texto afinado três anos antes
entre PS, CDS e PAN (para
ultrapassar um veto do
Presidente da República a um
decreto da AR). Apesar do
aparente acordo alargado
quanto à necessidade de
avançar, o PSD acabou por
utilizar o seu direito
potestativo, em sede de
especialidade, para adiar a
votação do texto de
substituição dos diplomas
partidários. A decisão do PSD,
justificada com a proximidade
das eleições, fez com que o
processo caísse, como já tinha
acontecido após a anterior
dissolução do Parlamento.
O texto de Janeiro,
cozinhado pelo PS de um dia
para o outro, como o PÚBLICO
escreveu na altura, é o mais
próximo de um acordo que já
houve em matéria de lobbying.
O que os partidos querem é
determinar na lei o que
constitui o lobbying
(actividades exercidas por
pessoas singulares ou
colectivas junto de entidades
públicas para influenciar os
seus processos de decisão). No
passado, PS, PSD e IL
avançaram também com
propostas para excluir dessa
classificação a prática de actos
próprios dos advogados e
solicitadores previstos na lei.
Os diplomas definem as
entidades públicas que são
abrangidas pela lei, da
Presidência da República ao
Governo, passando pela AR,
órgãos de governo regional e
Banco de Portugal. E assumem
que a grande solução para
regulamentar o lobbying é a
criação de um registo de
transparência de
representação de interesses
em que estejam inscritas
obrigatoriamente essas
entidades públicas abrangidas
pela lei e as entidades privadas
que façam lobbying. S.S.
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 3
Críticas à informalidade
Políticos devem abster-se
de negociar à mesa,
aconselham juízes
Ana Henriques
A
pesar de estarem conven-
cidos de que os arguidos da
Operação InÇuencer não
cometeram quaisquer cri-
mes, os juízes do Tribunal
da Relação de Lisboa (TRL)
deixam críticas ao convívio à mesa
entre políticos e empresários que
existia neste e em tantos outros
casos.
“O recurso a almoços e jantares em
que políticos e promotores de projec-
tos de investimento se juntam à mesa
da refeição para acertar estratégias de
solução de problemas e de condução
de procedimentos de licenciamento
(…) deveria ter sido evitado, porque
não é correcto e gera uma percepção
de opacidade, promiscuidade e ilega-
lidade”, pode ler-se no acórdão.
“Estes assuntos deveriam ter sido
debatidos (…) no ambiente formal
dos gabinetes dos ministérios, das
secretarias de estado ou do município
de Sines. Os almoços, jantares e
outros convívios são adequados é no
desenvolvimento das relações fami-
liares e de amizade”.
Para os três magistrados que assi-
nam a decisão, o que revelam estes
comportamentos é a necessidade
“imperiosa e urgente” de se assumir
em Portugal, de uma vez por todas,
que a actividade de lobby existe e deve
ser “regulada com regras claras”. AÆ#
nal, acrescentam, não vale a pena
negar as evidências: “Os diferentes
grupos de interesse tentarão sempre
inÇuenciar o processo decisório que
afecte os seus interesses”, e quanto
menos regras houver pior é.
O que distingue o lobbying do tráÆ#
co de inÇuência, continuam, é que o
primeiro assenta na persuasão lícita
dos decisores públicos através de
argumentos técnicos, cientíÆcos ou
económicos, e o segundo, ilegal, con-
siste em manipular os decisores ofe-
recendo-lhes contrapartidas. Já no
que diz respeito à captura do poder
legislativo alegada pelo Ministério
Público, o TRL admite que o Governo
de António Costa possa ter produzido
três diplomas legais talhados à medida
dos interesses da Start Campus, o con-
sórcio internacional criado para lan-
çar e gerir o centro de dados em Sines.
Seria o caso do decreto-lei 80/2023,
que instituiu um procedimento excep-
cional para atribuição de capacidade
de ligação à rede de instalações de
consumo de energia eléctrica em
zonas de grande procura, visando
concretização de investimentos indus-
triais, ou do decreto-lei 11/2023, que
procede à reforma e simpliÆcação dos
licenciamentos ambientais. “Poderão,
no limite, conÆgurar crimes de corrup-
ção por terem sido leis à medida das
conveniências da Start Campus, sem as
características de generalidade e abstrac-
ção que todas as normas jurídicas devem
ter como condição da sua existência”.
Sucede que os investigadores não
apresentaram até ao momento indí-
cios fortes dessa sua tese, lamentam.
Era imperioso que tivessem apresen-
tado os rascunhos desses diplomas
legais que os arguidos terão mandado
fazer em grandes escritórios de advo-
gados, como a PLMJ, para que fosse
possível comparar a legislação publi-
cada em Diário da República com os
textos redigidos por encomenda.
O TRL optou nesta decisão por
não se pronunciar sobre o Simplex
dos licenciamentos no âmbito do
urbanismo, ordenamento do terri-
tório e indústria, que pretende aca-
bar com exigências administrativas
desproporcionadas e que diÆculta-
vam o investimento nacional e
estrangeiro, uma vez que, depois de
o fazer aprovar em Conselho de
Ministros, o Governo submeteu ao
Presidente da República uma nova
versão do documento sem a norma
apontada pelos investigadores como
tendo também sido feita à medida
do projecto de Sines. A norma bani-
da dispensava de licenciamento
municipal, em termos equiparáveis
a obras da administração pública,
operações urbanísticas (promovidas
por entidades privadas em parques
industriais ou empresariais) com o
selo de Potencial Interesse Nacional
(PIN), como era Start Campus.
Start Campus está no centro
da Operação Influencer
4 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024

Espaço público

Não é crime, é lobbying!

O
Tribunal da Relação de
Editorial Lisboa inÇigiu ontem uma
derrota ao Ministério
Público (MP) ao negar a
globalidade do recurso
relativo às medidas de coacção
aplicadas a Vítor Escária e Diogo
Sónia Sapage Lacerda Machado no âmbito da
Operação Influencer.
“Nenhum dos factos adiantados se
traduzia na comissão de crimes não
ultrapassando o desenvolvimento das
funções de cada um dos
intervenientes”, escrevem os
desembargadores, dando razão aos
reparos feitos ao MP e que Lucília
Gago, a procuradora-geral da
República, designou em Fevereiro por
Não se pode dizer que “sentimentos adversos, alguns
tenha sido por falta altamente tóxicos e até odiosos”.
de iniciativa política A decisão do tribunal não significa
que o lobbying Äcou que os arguidos tenham agido de
forma irrepreensível. Aliás, os juízes
por regulamentar. chamam a atenção “para a incorrecção
Iniciativas houve. Várias de se tratarem assuntos de Estado à
e de diferentes partidos mesa de restaurantes, olvidando
procedimentos e esquecendo a
necessidade de se documentarem as
relações havidas entre representantes
de interesses particulares e
governantes”.
É no mínimo curioso que a Relação
tenha repetido, oito anos depois, uma
ideia que António Costa estabeleceu
como regra poucos meses depois de
tomar posse. “Já recordei aos membros
do Governo que nem à mesa do café
podem deixar de se lembrar que são
membros do Governo”, disse o
ex-primeiro-ministro quando se deu a
primeira das demissões na sua equipa.
Além do alerta, o tribunal regista
uma fragilidade portuguesa que podia
e devia estar ultrapassada há muito: a
falta de regulamentação do lobbying.
“Não existe legislação em Portugal
sobre a actividade de lobby, legislação
que, a existir, evitaria muitas situações
dúbias como algumas daquelas que
foram apuradas nos autos”, refere um
comunicado da Relação.
Não se pode dizer que tenha sido por
falta de iniciativa política que o
lobbying Æcou por regulamentar.
Iniciativas houve. Várias e de diferentes
partidos. Houve uma comissão
parlamentar, a da Transparência e do
Estatuto dos Deputados, que teve
milhares de dias de trabalho (alguns
nada produtivos) e sinalizou a
necessidade de tomar decisões neste
campo a bem, precisamente, da
transparência.
Houve um texto acordado entre PS,
CDS e PAN em 2021 que foi recuperado
em 2024 por uma maioria muito
consistente formada por deputados do
PS, do PSD, da IL e do PAN. Não foi
suÆciente. Faltou o sentido de
urgência.
Não havendo lei, alguma justiça não
sabe como tratar a questão em
Portugal — será crime, será lobby? Vai
daí, caiu um governo. E agora cairia
uma procuradora-geral da República,
não fosse o caso de o seu prazo de
validade estar autodeÆnido: Outubro
de 2024.

CARTAS AO DIRECTOR
A máxima desonra
“Muito em breve chega Abril e, se o
mês começa bem, logo a
preparar-nos para o que aí vem
com o Dia das Mentiras, o que se
segue é de testar ao limite a nossa
paciência e de praticamente nos
levar no caminho da santidade por
aturar tanto marxista. De repente,
parece estarmos a viver numa
realidade alternativa, de
permanente campanha eleitoral da
CDU ou aÆns. A playlist não vai
variar muito da ‘Grândola Vila
Morena’, e outras do Zeca Afonso,
do ‘Somos Livres’ (uma gaivota
voava, voava), da Ermelinda
Duarte ou do Paulo de Carvalho e
do seu ‘E Depois do Adeus’. De
novo vai-se ouvir, a torto e a direito,
falar da decrépita Associação 25 de
Abril e dos seus capitães, os tais
que se acham heróis. Pois, a
verdade é que já estamos há 50
anos a dar para esse peditório. Já
Chega!” Assim começa, pela voz
dos seus coordenadores Paulo
Jorge Teixeira e Rodrigo Pereira
Coutinho, a apresentação do livro
Abril Pelas Direitas, recém-editado
e, pasme-se, apresentado sem
contraditório como referência
bibliográÆca relevante em recentes
programas de imprensa…
O livro, que reúne cerca de 60
textos sob o prisma de um visceral
ódio anti-Abril, traça o
branqueamento do Estado Novo e
alimenta um feroz combate ao
regime democrático (o “sistema”,
dizem) e um geral tónus
saudosista sobre as pretensas
virtudes do regime de Salazar.
Pode a Liberdade ter preço?
Pensávamos que, 50 anos depois,
o 25 de Abril era, com toda a sua
sã pluralidade, uma data
maioritariamente consensual no
coração dos portugueses. Mas
parece que, à luz deste
inqualiÆcável livro, alguns
grandes interesses querem
esquecer (e fazer esquecer) a
memória da opressão, o papel da
PIDE-DGS, a guerra colonial, as
prisões e torturas, os campos de
extermínio, a fome, a riqueza sem
freios acumulada por umas
quantas famílias, a emigração em
massa, a cobiça a rimar com
desonra: e tudo isso foi o Estado
Novo fascista, que agora de modo
tão descarado um livro como este
quer fazer ressuscitar!
A memória histórica é o esteio de
uma sociedade livre. Precisa de ser
sempre aprofundada como matriz
de uma cidadania adulta, fraterna e
inclusiva. Por isso, a liberdade e o
direito de opinião têm limites. No
mínimo, devia manifestar-se o
direito elementar ao contraditório
que um livro tão baÆento como
este indubitavelmente impõe!
Vítor Serrão, Santarém
Dignificação de um
órgão de soberania
A sugestão do dr. Pedro Aguiar
Branco (P.A.B.), o novo presidente
da Assembleia da República, para
voltar a tocar a campainha antes
dos plenários e o pedido para os
deputados evitarem tratar-se por
“tu” e “você” só podem ser
aplaudidos e são boas medidas
(isto para não referir o mau gosto e
a deselegância do “gajo” e o “pá”
que, por vezes, ressoam no
Parlamento). A sugestão de P.A.B.
releva respeito e educação e, sem
dúvida, digniÆca o debate
parlamentar. Outra medida
correcta de P.A.B. foi a retirada das
grades de segurança em frente ao
Parlamento. O povo é sereno e não
faz sentido a existência dessas
grades nos 50 anos do 25 de Abril.
Já relativamente ao desligar do
microfone quando os deputados
excedem essa curta tolerância,
“regra dos 15 segundos”,
parece-me uma medida demasiado
rígida, constrangedora e que
“limita a liberdade de expressão”.
Em vez da “regra dos 15 segundos”,
não seria mais sensato e tolerante
estabelecer, mas com rigor, “a
regra dos dois ou três minutos”?
Haja tolerância e lucidez - limite-se
draconianamente demasiada
verborreia - mas não se imponham
os voláteis “15 segundos” que não
dão para nada.
António Cândido Miguéis, Vila Real
Com a verdade
me enganas
Perante a enorme diferença entre
as descidas do IRC e IRS,
Ænalmente Æcam esclarecidas
quaisquer dúvidas sobre a razão
pela qual a AD andou toda a
campanha a falar no maior
choque Æscal do IRS e IRC, a favor
da classe média, contrapondo-a à
política do PS, não esclarecendo
que o que dizia respeito ao IRS era
apenas cerca de 11% mais
favorável do que aquilo que já
estava em vigor para este ano; e
manteve a ilusão mesmo no
debate na AR.
Na verdade, o que estava escrito
era a comparação com o ano
passado, mas Montenegro teve a
habilidade de criar a ideia de que
a proposta era uma grande
novidade. Conseguiu assim,
tangencialmente, ter os votos
necessários para cumprir a sua
missão: favorecer as grandes
empresas, responsáveis por 80%
da receita total de IRC. Bastava
que 4% dos eleitores enganados
não tivessem votado AD para hoje
termos outro governo. Este
truque e os casos que já se
acumulam são um desastre para a
democracia; a política bateu no
fundo.
José Cavalheiro, Matosinhos

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt

ESCRITO NA PEDRA Uma ideia peregrina
A injustiça num
lugar qualquer Ainda ontem
é uma ameaça
à justiça em
todo o lugar
Martin Luther
O
King, Nobel Miguel Esteves Cardoso
da Paz s escritores dão pouca
despesa. Não precisam de
equipas. Cada um é capaz de
escrever um livro sozinho. E
escrever não é caro: basta
estar vivo. E, uma vez escrito,
O NÚMERO pode ser lido até ao Æm do tempo. Quando
8,3
Æca pronto, Æca pronto para sempre.
Para mais, os escritores fazem o que faz
toda a gente: escrevem. E usam a coisa que
todos usamos: a língua portuguesa. Tenho,
por isso, uma sugestão para Dalila
Rodrigues, a nossa nova ministra da
Cultura.
O problema é este: por causa da facilidade
da Internet, ninguém tem paciência para ir
Os bancos devolveram aos ver os dicionários nas estantes. Tornou-se
clientes 8,3 milhões de euros uma interrupção insuportável. E quantas
por juros e comissões cobrados pessoas têm hoje mais de um dicionário à
indevidamente em 2023, quase mão? Sendo assim, recorremos aos
o triplo do valor de 2022 dicionários online, dos quais só um tem um
ZOOM ÍNDIA
Cornelius Mawa, 28 anos, carregador, atravessa uma ponte suspensa para chegar a uma assembleia de voto remota
em Shillong, no Nordeste da Índia, e transporta o material necessário para as eleições
mínimo de qualidade (a Infopédia), apesar
de ser muito conciso.
Só muito poucas pessoas têm a sorte de
ter em casa o Moraes, o Caldas Aulete e o
Artur Bivar, só para falar dos três que são
mais úteis para quem escreve. São também
cada vez mais difíceis de encontrar.
Seria uma bela ideia montar um site onde
qualquer pessoa pudesse consultar estes e
outros dicionários, como os dois de José
Pedro Machado (o Grande e o Etimológico),
o Cândido Figueiredo e outros dicionários
mais ou menos excêntricos, mas fecundos,
que só se encontram em alfarrabistas.
Idealmente, também constariam os
melhores dicionários actuais — o da Porto
Editora, o da Texto Editora, e o da Academia
das Ciências — e os melhores brasileiros,
como o Aurélio, o Houaiss e o Michaelis.
Mas estes devem — e merecem — cobrar
direitos muito caros, porque é um prazer
imenso comprá-los inteiros e tê-los em casa
para o que der e vier.
Mas mesmo sem estes dicionários actuais,
qualquer pessoa teria acesso imediato a
uma imensa riqueza lexicográÆca que, se
formos honestos, já se perdeu para sempre,
já que quase ninguém os procura. Ajudaria
toda a gente e quebraria o triste isolamento
— quase monopolista — em que vivem os
dicionários online gratuitos.
ADNAN ABIDI/REUTERS
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 5
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6 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
Espaço público
Memória breve das muitas memórias de Eugénio Lisboa
Em Público
o Julho de 2019), a segunda ao Expresso (por
E
Nuno Pacheco
ntre os amigos, davam-no por
eterno. E nada nele o desmentia:
o labor constante, o porte (nunca
o vimos curvado), a voz
jovialíssima, a memória sem
desgastes visíveis. Até que,
repartido entre o mundo dos vivos e o
mundo dos livros, uns parcos quinze dias
bastaram para o tirar do primeiro,
deixando-nos como legado, no segundo, os
passos da sua vida, memórias e sentimentos.
Ensaísta, crítico literário, cronista, poeta,
memorialista, diarista (assim o designou
Teresa Martins Marques), Eugénio Lisboa
morreu na madrugada de 9 de Abril, a 46
dias de completar 94 anos (nasceu em 25 de
Maio de 1930 na antiga Lourenço Marques,
hoje Maputo, em Moçambique).
Nos obituários já dele se recordou a obra:
os ensaios sobre Jorge de Sena e José Régio,
do qual se tornou o maior especialista; os
muito lembrados dois volumes da Crónica
dos Anos da Peste (1973 e 1975); as primeiras
incursões na poesia (A Matéria Intensa, 1985),
só retomadas mais tarde, nos anos 2000; e as
últimas grandes entrevistas, a primeira ao JL
Queridas pessoas heterossexuais...
“Q
Luísa Semedo
ueridas pessoas
heterossexuais/ Quem
pensam que são?/ Precisam
de mostrar de forma tão
óbvia que vos faço sentir
desconfortáveis?/ Porque
é que vos faço sentir desconfortáveis?/
Sabem que isso me faz sentir a mim
desconfortável?/ E, agora, estamos todas
desconfortáveis.” Este é o início de um
poema de spoken word de Denice Froham no
qual a artista queer ilustra com um humor
amargo este simples facto: a única razão
pela qual ser pessoa LGBTIQ+ é um
problema é por causa de pessoas
heterossexuais.
São elas a razão de haver armários de
onde pessoas queer têm medo de sair,
sentindo-se “hóspedes na sua própria casa”,
porque o salão, o espaço comum, tornou-se
(por Luís Ricardo Duarte, publicada em 31 de
Pedro Mexia, publicada em 26 de Fevereiro
de 2021). Pelo meio, meteu-se a pandemia, e
mais tarde a invasão da Ucrânia, que ele
tomou como alvos em Poemas em Tempo de
Peste e Poemas em Tempo de Guerra Suja
(Guerra & Paz, 2020 e 2022).
Mas foi nos sete volumes de memórias
(Acta Est Fabula) que percorreu com paixão
e pormenor quase 90 anos da sua vida, de
1930 a 2017. Por razões que, logo na abertura
do primeiro volume, explicou: “Chegado ao
ocaso da vida, vem-me o desejo irresistível
de voltar atrás, recordando os momentos
que mais me tocaram e, também, as
oportunidades que perdi: as atenções, mas
também as desatenções, as devoções, mas
também os desapegos, as exaltações, mas
também os fastios. O meu passado é só meu
e só eu sou capaz de o sondar em toda a sua
profundidade.”
A este longo e demorado exercício de
memória, seguindo a cronologia geográÆca
dos seus passos e ocupações (Lourenço
Marques, Lisboa, Joanesburgo, Paris,
Estocolmo, Londres, fechando com o
regresso a Portugal), seguiu-se o doloroso
Epílogo: um sexto volume exclusivamente
dedicado à súbita doença que viria a levar à
morte, após longo sofrimento, que começara
já no Natal de 2014, da sua “companheira de
57 anos”, como Eugénio Lisboa com amor a
descreve: Maria Antonieta.
É, aliás, à memória de Maria Antonieta que
viria a dedicar os dois volumes que ainda viu
num “espaço não partilhado”, ou porque
têm medo de ser expulsas de casa. São elas
que discriminam, assediam, violentam,
matam, levam ao suicídio. São elas que não
nos deixam passear em paz de mão dada ou
beijar sem olhares insistentes como se “vos
estivéssemos a assaltar”, sem comentários,
sem insultos, sem sermos Ælmadas nos
transportes públicos por um grupo eufórico
como se fôssemos uma atração de circo
(sim, isto aconteceu-me), sem sermos
violentadas, sem termos “o luxo de não
avaliar quem está à nossa volta”.
São elas que nos obrigam a ter de provar
vezes sem conta que o nosso amor é
autêntico. “Porque tenho de provar que o
meu amor é autêntico? Porque tenho de
provar que o meu amor é autêntico? Porque
tenho de provar que o meu amor é
autêntico?”, insiste na pergunta Denice
Froham e insistimos todes.
E já agora pergunto, porque choca mais a
palavra todes do que os insultos, do que a
incitação ao ódio, do que a violência? De que
têm medo, queridas pessoas heterossexuais?
Das palavras inclusivas? De saber de cor o
que quer dizer cada letra do LGBTIQ+? De
mais direitos para mais pessoas sem que
nenhum dos vossos esteja em causa? De se
editados de Aperto Libro (Páginas de Diário I
– 1977-1990 e Páginas de Diário II – 1991-1994).
Não planeava lançá-los em vida (“por certas
coisas atrevidas que por lá digo”, como
aÆrmou ao JL), mas acabou por avançar,
porque queria mesmo ver publicado esse
exercício diarístico que só tardiamente
iniciou (aos 47 anos). Foram editados pela
Opera Omnia em anos consecutivos, 2018 e
2019, coincidindo com a terceira edição de
José Régio, a Obra e o Homem (1976, 1986,
2019) e com o lançamento do volumoso Uma
Conversa Silenciosa (2019), onde 78 ensaios
seus foram vertidos pela Imprensa Nacional,
como já sucedia no JL, para a graÆa do
Acordo OrtográÆco de 1990, que Eugénio
Lisboa abominava, como várias vezes
escreveu e declarou.
Nem de propósito, o primeiro volume dos
diários começa sob o signo da morte. 6 de
Abril de 1977, Estocolmo: “Morrer de velho —
Foi nos sete volumes
de memórias e nos
diários que Eugénio
Lisboa (1930-2024)
percorreu com paixão
e pormenor a sua vida
“tornarem gays” ou trans só porque “agora é
moda” e fala-se disso nas escolas e têm
medo de sofrer aquilo que nos inÇigem?
Tenho uma má notícia, somos muitas a ter
tido uma educação tradicional e até muito
religiosa, no meu caso a minha professora
primária era uma freira, e isso não nos
impediu de sermos quem somos, porque
simplesmente a orientação sexual ou a
identidade de género não funcionam assim.
A única coisa que obtêm com esse tipo de
educação é mais silêncio, mais sofrimento e
discriminação para as pessoas LGBTIQ+.
Quem pensam que são? A maioria,
respondem alguns. Ora, a democracia não é
a ditadura da maioria. A democracia existe
precisamente para não deixar ninguém de
fora, para que não vingue a lei do mais forte.
Ao ouvir de novo discursos LGBT-fóbicos e
machistas nos media, como se se tratasse
unicamente de simples opiniões para
“lançar o debate”, para “conversar”, penso
nas palavras iniciais do poema: mas quem
pensam que são? De onde tiram a
legitimidade para debater sobre as nossas
vidas, como devemos amar, como devemos
gerir os nossos corpos, as nossas escolhas de
vida familiar ou proÆssional? Não têm
autoridade nem credibilidade cientíÆca,
na Suécia. […] Duas cenas, inesquecíveis, de
uma grande capacidade de autocrítica […]
Numa, um velho (velhíssimo: morre-se
tarde, neste país), sentado num quarto
materialmente bom, só, só, só, Ætando o
ontem, falando com fantasmas, num
monólogo solitário, gélido e despido.”
Nestes diários, e nas suas múltiplas
andanças, Eugénio Lisboa não resiste à
crítica feroz. Portugal visto de Londres,
1986: “O governo governa mais ou menos e a
oposição opõe-se mais ou menos. Os críticos
literários em Portugal dão vontade de
vomitar e os críticos de arte são piores do
que os críticos literários” (pág. 103).
Vantagem deste desassombro? Dizer o que
se pensa, sem Çoreados, mesmo que se
esteja em minoria. E esse foi um dos seus
pontos de honra.
No segundo volume, ainda em Londres, 25
de Maio de 1992, dia do seu 62.º aniversário:
“[…] Não gosto de fazer anos, mas do que
não gosto é de envelhecer. Bem certo que,
tirando o colesterol, a máquina não acusa
desgastes por aí além. Nunca estou doente.
Mas penso que, por isso mesmo, quando
acontecer – é de vez. O que talvez não seja
mau.” E a fechar o livro, ao receber “cartões
de Natal aos baldes” sem conseguir
identiÆcar muitos dos remetentes: “Ah,
memória. Tudo se esvai e, um dia, esvair-se-á
depressa a memória que alguém teve de nós.
E mesmo o que deixámos escrito deixará de
contar.” Vamos contradizê-lo, sim?
Jornalista. Escreve à quinta-feira
nem histórica, visto todos os vossos
argumentos serem falsos: não, a “família”
não foi sempre assim, nem
tradicionalmente, nem naturalmente.
Religião não é ciência.
Queridas pessoas heterossexuais de
esquerda, queridas pessoas heterossexuais
aliadas, as nossas vidas e a luta pelos nossos
direitos não são distração. Não larguem a
nossa mão quando deixa de ser confortável,
quando tem, por exemplo, custos políticos.
Quem nos persegue tem uma agenda
política, tem um “propósito de intervenção
social” e anda, por exemplo, a produzir
“conteúdo programático para as aulas de
Cidadania”, segundo as palavras dos
próprios. Todos os retrocessos nos nossos
direitos são possíveis.
Queridas pessoas heterossexuais, esta
“conversa” Æca por aqui, tenham lá
paciência, mas agora tenho de ir ali fazer
como a Denice: agarrar na mão da minha
namorada e dizer-lhe nos olhos “nada nos
pode parar esta noite, porque esta noite este
mundo está quebrado e nós somos a única
coisa que o vai manter unido”.
Professora de Filosofia
do ensino secundário

A dolorosa mensagem política
de uma decisão judicial
Memória
futura
Manuel Carvalho
Como se lê na decisão da
Relação, o que está em causa
é o que sempre se suspeitou
que estivesse em causa:
um abuso do poder judicial
N
ão é apropriado dizer que o
Ministério Público sofreu uma
nova derrota com a leitura que
o Tribunal da Relação de Lisboa
fez do seu recurso sobre as
medidas de coacção a Diogo
Lacerda Machado e Vítor Escária — e que o
juiz de instrução já havia recusado. Bastam as
angústias sobre o actual estado da Justiça, e
em especial do Ministério Público, para
impedir que espantos deste quilate se
transformem em confrontos a preto e branco.
Mas, com as conclusões da Relação, tem agora
menos sentido persistir na tese de que tudo é
normal, que é a justiça a funcionar, que os
procuradores de processos sensíveis como o é
a Operação InÇuencer devem ser isentos de
perguntas, de dúvidas ou ainda mais de
críticas contundentes. Porque, como se lê na
decisão da Relação, o que está em causa é o
que sempre se suspeitou que estivesse em
causa: um abuso do poder judicial ou, por
outras palavras, uma leviana ingerência do
poder judicial no poder político.
Os desembargadores que recusaram o
recurso do Ministério Público são claros como
água a notar este abuso quando escrevem que
“desta análise resultou que nenhum dos
factos adiantados se traduziam na comissão
de crimes, não ultrapassando o
desenvolvimento das funções de cada um dos
intervenientes, tendo todos eles actuado no
âmbito das mesmas”. De uma forma mais
simples, os juízes consideraram que a
participação dos lobistas em defesa dos seus
clientes, a intervenção dos gestores da
empresa interessada no avanço das obras ou
os membros do Governo que se empenharam
em facilitar os processos agiram no âmbito
das suas competências. Que se saiba,
defender um interesse privado não basta para
se arriscar prisão preventiva ou depositar
cauções milionárias. Que se conheça, intervir
no processo legislativo ou pressionar o
pessoal da administração pública para
acelerar investimentos de assumido interesse
nacional não é pecado.
Desde o início, o cerne da Operação
Influencer estava inspirado na ideia pura, logo
irrealista, de que o mundo da economia e dos
negócios se desenrola na placidez de uma
moral celestial. Onde não há interesses, nem
lóbis, nem pressões, nem poderosos
escritórios de advogados, nem gente que
ganha muito dinheiro por olear e pôr a
máquina dos projectos em acção. Uma ideia
segundo a qual um secretário de Estado ou
um ministro se podem dar ao luxo de abdicar
das suas funções para decidir retocar leis ou
corrigir áreas onde existem charcas
eventuais. Os lobistas ou os promotores de
grandes investimentos podem ser pouco
simpáticos por defenderem causas egoístas.
Os governantes têm o dever de analisar as
suas propostas, medi-las em termos de
impacte na criação de riqueza ou de postos de
trabalho e decidir em conformidade.
Como se sabe, a luta pelo investimento
externo é feroz. Não se ganha sem negociação
e cedências. Um projecto da dimensão do
Smart Campus é bom para Portugal. Por isso,
o pior que podia acontecer era esperar que
quem governa não lutasse por ele. Nessa luta,
não pode haver favor, tráÆco de inÇuências,
prevaricação ou qualquer perfume, mesmo
leve, de corrupção. O que a Relação de Lisboa
nos diz é que nenhum facto indicia esses
crimes. Que as escutas apresentadas apenas
provam que lobistas e agentes do Governo
falaram ao telefone. Ou à mesa de
restaurantes.
Não havendo indícios fortes de crimes, os
governantes devem ser julgados pela ética ou
pela eÆcácia das suas decisões. Ou seja, cabe
aos cidadãos produzir esse juízo e agir em
conformidade nos momentos dedicados pela
democracia a esse efeito. Ninguém outorgou
ao MP poderes de vigiar a ética republicana.
Os desembargadores são claros: “Não se pode
confundir um facto, enquanto acontecimento
histórico, com o teor de escutas ou mesmo
com notícias de jornais”.
Compreende-se que haja um pano de fundo
nesta trama do Smart Campus de Sines que
Ninguém outorgou
ao Ministério Público
poderes de vigiar
a ética republicana
convida a todo o tipo de suspeitas e consolida
a ideia de um pântano moral onde coexistem
os amigos com direito a tudo e os outros com
o direito à lei. O vaivém de Diogo Lacerda
Machado entre as operações especiais em
nome do ex-primeiro-ministro António Costa
ou o currículo gelatinoso de Vítor Escária
aguçam o apetite pela conjectura e pelo
julgamento sumário. Os juízes de Lisboa
condenam, de resto, a informalidade com que
exerciam pressões. Escrevem: “O tribunal
chama a atenção para a incorrecção de se
tratarem assuntos de Estado à mesa de
restaurantes, olvidando procedimentos e
esquecendo a necessidade de se
documentarem as relações havidas entre
representantes de interesses particulares e os
governantes no âmbito das suas funções”.
Uma lei que regule o lobbying e obrigue ao
registo de todas as diligências poderá reduzir
esta actividade — será ingénuo acreditar que a
extingue —, notam também os magistrados.
Apesar do contexto, um Estado de direito
democrático não age ou reage em função de
instintos, de feelings pessoais ou de indícios
soprados para os jornais. E ainda menos,
sublinha a Relação, alegar factos no recurso
que o Ministério Público não referiu no
documento de apresentação dos arguidos a
interrogatório viola os deveres de “probidade
e boa-fé”. A mundivisão de um país afundado
na corrupção que exige uma luta sem quartel
em nome da salvação por parte do MP é um
pesadelo. Que exige respostas urgentes. Uma
parte do próprio MP já seguiu esse caminho
indispensável. Mas há quem resista em nome
da independência. O processo contra a
procuradora adjunta Maria José Fernandes é
disso uma prova.
Errar acontece e, felizmente, estamos ainda
muito longe de ter condições para cair em
teorias da conspiração ou em acusações
levianas. No geral, o MP é um esteio do Estado
de direito. O problema torna-se mais
complexo quando se sabe que processos
desta natureza, que chegam a suspeitar de
autarcas que nomeiam sem concurso chefes
de gabinete, como aconteceu em Matosinhos,
se multiplicam. É a soma de todos estes
incidentes que merecem ser discutidos.
Parece haver uma franja do MP que não
entende os perigos do justicialismo para a
democracia. Alguém lhes deve dizer que os
políticos não são todos corruptos e culpados
até prova em contrário. Que esse é o
programa da extrema-direita.
Haja, por isso, alguém lá dentro que
explique aos mais jovens, aos mais
impulsivos, aos mais justiceiros ou,
possivelmente, aos que mais subscrevem a
cartilha da extrema-direita que o império da
lei se faz com factos, não com percepções.
Nem com a jactância própria dos que se
decidem a salvar o país da ruína moral. O MP
faz falta para garantir a justiça, não para nos
salvar dos videirinhos ou de quem decide mal
no Governo. Para estes, os cidadãos têm um
trunfo: o da democracia.
Jornalista
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 7
A existência
implausível
Fábrica
de criadas
N
Afonso Cruz
ão a consigo perceber, a si e a
todos os crentes, que estando
cercados de iniquidade, de
miséria, de guerras, acreditam
num Deus absolutamente bom.
Eu, disse o Calvo, sentir-me-ia
muito mais inclinado a acreditar, se é para
acreditar em alguma coisa, num Deus
absolutamente mau. Está assim, pensou a
Alexandra, áspero e azedo, por causa da Ana,
porque a ansiedade o consome, porque teme
o pior. Perante a vida, continuou o Calvo,
perante este lugarejo fétido a que chamam
Criação, porque não colocar a hipótese mais
adequada, a de um Deus vil e tresloucado? É
pertinente, disse a Alexandra, a sua questão,
mas essa existência seria bem mais
implausível do que a existência de um Deus
bom. Um Deus mau permitiria a possibilidade
de as suas criaturas escolherem o bem? Sendo
mau, absolutamente mau, não creio, seria
antes uma espécie de ditador, aquele que
impediria a liberdade de escolher,
constrangendo absolutamente. Mas o Deus
bom, se Æzesse o mesmo, isto é, se só
autorizasse a bondade, não permitiria
criaturas livres, mas objectos mecânicos e,
nesse caso, não seria muito diferente do Deus
mau. As suas criaturas não poderiam jamais
ser boas, porque não poderiam escolher o
bem. Repare na assimetria: o Deus mau obriga
a que todos se portem mal, é um tirano, mas o
Deus bom não obriga ninguém a ser bom, pois
a compulsão faria dele um ditador celestial.
Aliás, é como a política, o governo autoritário
só permite a sua ideia, a sua verdade, pelo
contrário, o governo democrático deixa a
decisão nas mãos das pessoas. Mas, contestou
o Calvo, e os desastres naturais, toda a tragédia
que acontece e não tem que ver com a decisão
humana? Está assim, pensou a Alexandra,
áspero e azedo, por causa da Ana, porque a
ansiedade o consome, porque teme o pior. É
precisamente aí que tudo se torna mais
complexo, disse ela. E como resolver isso?,
perguntou ele. Isso daria um outro folhetim,
disse ela, enÆm, sou de aparições, sou de
acreditar. Está nesse estado, senhor Calvo,
disse a Alexandra, áspero e azedo, por causa
da Ana, porque a ansiedade o consome,
porque teme o pior. A polícia está à procura: a
si resta-lhe esperar, a mim, acreditar.
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Fábrica
de criadas os textos lidos pelo autor.
AFONSO
CRUZ
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8 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
Política Inquérito nacional sobre 50 anos de democracia
Maioria diz que
democracia é
“preferível” mas
47% apoiariam
“um líder forte”
sem eleições
Estudo realizado pelo ISCSP/CAPP
mostra como portugueses admitem
aceitar outras formas de governo para
além da democracia
Ana Isabel Ribeiro
Tiveram 50 anos para pensar e a res-
posta é clara: a esmagadora maioria
dos portugueses (87%) continua a
defender a democracia como uma
forma governativa “preferível a qual-
quer outro regime político”. No
entanto, esta certeza profunda con-
vive com uma inclinação para formas
de governação não democráticas e
autocráticas, revela o estudo 50 anos
de Democracia em Portugal: Aspira-
ções e Práticas Democráticas — Conti-
nuidades de Mudanças Geracionais
(ISCSP/CAPP). Esta é a segunda parte
do trabalho, de que o PÚBLICO é
parceiro.
“Podemos dizer que hoje coexiste
a preferência pela democracia com
as preferências por formas autocráti-
cas de governo”, resume Conceição
Pequito, uma das coordenadoras da
“radiograÆa” à democracia realizada
a partir de inquéritos presenciais a
1327 pessoas a nível nacional, incluin-
do a jovens e jovens adultos que
representam praticamente um quar-
to dos entrevistados.
A alternativa de sistema que reúne
mais apoio é um “Governo de espe-
cialistas”, uma opção “muito boa”
ou “boa” para Portugal, segundo
responderam 70% dos inquiridos.
SigniÆca isto que ter peritos em áreas
técnicas ou “tecnocratas” a tomar
decisões, e não um parlamento elei-
to que a eles recorresse para um
parecer antes de votar diferentes
propostas, é uma ideia aliciante em
parte porque, sugerem os investiga-
dores, estas pessoas são percepcio-
nadas como sendo imparciais, inde-
pendentes de interesses e mais eÆ#
cientes do que os políticos, além de
dominarem assuntos que se revela-
ram problemas complexos para Por-
tugal.
Embora não de forma tão evidente
como ter um “líder forte que não
tenha de se preocupar nem com o
parlamento, nem com as eleições”, a
outra opção dada pelos investigado-
res, e que 47% dos inquiridos disse-
ram apoiar em teoria, um governo de
especialistas “nem por isso deixa de
ser uma opção de governo antitética
à democracia, uma vez que não tem
em conta os valores democráticos da
participação, transparência e respon-
sabilidade pública”, sublinham os
autores do estudo.
As duas “têm vindo a ganhar terre-
no em Portugal desde o resgate Ænan-
ceiro de 2011”, apontou Conceição
Pequito, numa entrevista ao PÚBLICO
em Março, aquando do lançamento
da primeira parte do estudo, que
demonstrou que é entre os jovens que
o legado do 25 de Abril é mais valori-
zado.
Inquiridos sobre a hipótese de um
governo formado por Forças Arma-
das, 37,3% consideraram-na um hipó-
tese “boa” ou “muito boa”.
A aceitação e lealdade à democra-
cia representativa instalada depois da
revolução é maior na população mais
velha, dos 35 aos 64 anos (56%) e dos
65 ou mais anos (32%), e nos “que
vivem em grandes vilas ou cidades
(67%) ou nos subúrbios (21%), mos-
tram as novas conclusões partilhadas
com o PÚBLICO. Mas são também os
portugueses nesta mesma faixa etá-
ria, com este mesmo nível de ensino
básico e que também vivem em gran-
des vilas ou cidades os que se mos-
tram mais predispostos a aceitar uma
não-democracia.
Mais do que as variáveis demográ-
Æcas, são os recursos e as atitudes
políticas que inÇuenciam o apoio ao
sistema de governo actual, justiÆcam
os investigadores. Sem surpresas,
são os portugueses que se sentem
mais representados pelos políticos e
pelos partidos que estão mais ao
“centro” do espectro político que se
acham mais capazes de discutir e
compreender questões políticas e
que têm mais acesso a informação
noticiosa Ædedigna divulgada pelos
jornais ou partilhada na Internet e
RUI GAUDÊNCIO
redes sociais, os que escolhem a
democracia “apesar de todos os
defeitos”. Uma escolha partilhada
com os que avaliam positivamente a
situação económica actual do país
(77%) e o funcionamento da demo-
cracia (72%) e que conÆam nas prin-
cipais instituições democráticas.
Por outro lado, são “sobretudo os
portugueses com idades compreendi-
das entre os 35 e 64 anos (58%), com
o ensino básico (58%), desempregados
(60%), com um situação económica
considerada razoável (43%) ou difícil
(35%) e que vivem em grandes vilas
ou cidades (69%), aqueles que consi-
deram um ‘governo de especialistas’
uma boa opção”, lê-se, não sendo
estas diferenças percentuais “apenas
assinaláveis como estatisticamente
signiÆcativas”.
E outro ponto para uma democra-
cia mais participativa: são os mesmos
que consideram os assuntos políticos
complexos e de difícil compreensão
e que acham que não podem inÇuen-
ciar as decisões políticas mais impor-
tantes através da sua participação
activa.
Este perÆl é semelhante ao dos
inquiridos que preferem um governo
“com um líder forte”, em que 27% se
posicionam na extrema-direita e 67%
no centro da decisão política. Esta
forma de governo claramente mais
autocrática “pressupõe o enfraque-
cimento do poder legislativo e judi-
cial, mas também o controlo gover-
namental de outras entidades de
Æscalização independentes, que são
essenciais para a manutenção de um
sistema de freios e contrapesos e
para a protecção de direitos políticos

Não há muitas diferenças de
percepção da democracia entre
os mais jovens e os mais velhos.
Ao lado, Conceição Pequito
Em 2024 assinalam-se os 50 anos
da Revolução do Cravos. Uma
série especial recorda o caminho
que levou ao fim da ditadura
Veja mais em publico.pt
DANIEL ROCHA
e liberdades civis inerentes a um
Estado liberal democrático”, expli-
cam os investigadores.
É escolhida por quem nada se inte-
ressa por política (55%) e por quem
não simpatiza com um partido em
particular.
Actualmente, a notoriedade e pre-
sença mediática e online de de certos
líderes é tanta que, aos olhos dos elei-
tores, “tendem a ser considerados
mais importantes do que os partidos
enquanto organizações”, uma situa-
ção que não acontece apenas em Por-
tugal, e que é exacerbada na comuni-
cação política feita nas redes sociais.
A maioria da amostra do estudo
(96%) que tem entre 16 e 34 anos tam-
bém acredita que a democracia é a
melhor solução governativa para o
país, mas a preferência por um gover-
no de “tecnocratas” revelou-se “mui-
to signiÆcativa” (67,6%).
“Mesmo a preferência por um
governo de um líder forte não deixa
de ser expressiva (46,1%)”, comen-
tam os investigadores, sublinhando
que é “um dado de grande relevo”,
já que a pergunta indica “claramen-
te a possibilidade de um governo
autocrático”.
Atitudes dos portugueses em relação à democracia
A democracia pode ter muitos defeitos, mas é, ainda assim,
preferível a qualquer outro regime político
Discorda Discorda
totalmente
1,9% 2,4%
Quais as melhores formas de governo para o nosso país?
Muito má Má
Ter um sistema de
governo democrático
2% 3,1%
51% 44%
Apoio difuso à democracia em Portugal
e variáveis sociodemográficos
Por grupo etário
16-24 anos
5%
25-34 anos
7%
35-64 anos
65 ou mais anos
32%
Fonte: Atitudes face ao 25 de Abril - população e jovens
Segundo o relatório, entre os
motivos da preferência por um
governo de especialistas pode estar
a desconÆança ou descrença que os
jovens têm nos governantes em rela-
ção à capacidade dos mesmos para
tomarem as melhores decisões para
o país.
“Um antes e depois”
Os investigadores do Instituto Supe-
rior de Ciências Sociais e Políticas
relembram que, em 2002, 94% dos
portugueses acreditavam que a
democracia era o melhor regime. Em
2022, ou seja, 20 anos depois, essa
percentagem teria baixado para
88%.
Mas o apoio à autocracia é uma ten-
dência que já se veriÆcava nos inqué-
ritos nacionais de 2012, 2014, 2016 e
2021 e que acompanha um cresci-
mento dos populismos de direita
radical na Europa, especialmente
depois das medidas de austeridade
da troika que levaram a um sentimen-
to de falta de representação democrá-
tica, do ‘Brexit’ e da actual inÇação
provocada pela guerra na Ucrânia, a
crise de migrantes e a pandemia de
covid-19, que veio “acentuar ainda
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 9
mais as tendências autocráticas e ili-
berais em curso em muitas democra-
cias consolidadas”, levantando a
mesma questão que levantam os crí-
ticos dos governos tecnocratas: “Até
Não concorda que ponto os governos podem limitar
nem discorda Concorda liberdades individuais em nome do
Concorda
totalmente bem comum”?
8,1% 43,4% 44,2% As eleições legislativas de 10 de
Março, realizadas antecipadamente
depois de o ex-primeiro-ministro ter
apresentado o seu pedido demissão
no âmbito da Operação Influencer,
marcam “um antes e depois” da
democracia no país, asseguram. Mas
os investigadores da Universidade de
Boa Muito boa
Lisboa afastam a tese do recuo ou
Ter um governo Ter um governo desconsolidação democrática e do
de um líder forte de especialistas saudosismo de soluções autocráticas
de governo, concluindo: “Em termos
essencialmente abstractos e ideais,
13% 11% tal não se veriÆca em Portugal, con-
31% 21% tinuando o ‘apoio difuso’ à democra-
19% cia a ser largamente maioritário entre
a população”. O que não signiÆca
35% que a crescente polarização e o des-
22% dém por partidos tradicionais não
49%
seja “hoje terreno bastante fértil para
a ascensão dos partidos populistas
radicais” que ameaçam o sistema
democrático por dentro — “e sem a
necessidade de qualquer tipo de gol-
pe de estado”.
Por local de residência
Zona rural ou aldeia Nota: O PÚBLICO é parceiro do
4% ISCSP-Ulisboa no projecto 50 Anos
de Democracia em Portugal: Aspira-
Vila pequena ou média
ções e Práticas Democráticas – Conti-
8% nuidades de Mudanças Geracionais
Subúrbios de grande vila ou cidade (2024-2028) (ISCSP/CAPP, coordena-
56% 21% ção de Manuel Meirinho, Conceição
Pequito e Pedro Fonseca) e publica-
Grande vila ou cidade rá ao longo de 2024 vários artigos
67% sobre os resultados do inquérito
nacional realizado no âmbito do pro-
PÚBLICO
jecto.
Ficha técnica
O projecto de investigação 50 anos
de Democracia em Portugal: Continui-
dades e Mudanças Geracionais (2024-
2028) é coordenado por Manuel
Se a democracia Meirinho Martins, Conceição Pequi-
to Teixeira e Pedro Fonseca, do Ins-
enquanto forma tituto Superior de Ciências Sociais e
de governo goza Políticas. O estudo tem por base um
inquérito por questionário à popu-
de um apoio lação portuguesa sobre o estado
largamente actual da democracia em Portugal.
O inquérito foi realizado pela Inter-
maioritário entre campus, entre Abril e Maio de 2023.
os portugueses, Foram considerados os indivíduos
de ambos os géneros com 16 e mais
ela não é, contudo, anos de idade, residentes em Portu-
‘the only game gal (continente e ilhas), e realizadas
in town’ realizadas 1327 entrevistas presen-
ciais: 1020 entrevistas numa amostra
Autores do estudo 50 anos de base e 307 entrevistas numa amostra
Democracia em Portugal extra ao grupo etário dos 16 aos 34
(ISCSP/CAPP) anos, atribuindo-se, assim, uma
especial ênfase aos jovens e jovens
adultos. Na selecção dos entrevista-
dos foram aplicadas quotas de géne-
ro e idade por região, tanto na amos-
tra base como na amostra extra. A
margem de erro da amostra total é
de +/- 2,69 p.p. para um intervalo de
conÆança de 95%.
10 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
Política
“Será difícil legislatura chegar ao Ɗm, [ainda]
mais se política de não-abertura continuar”
Hora da Verdade
Maria Lopes e Susana Madureira
Martins (Renascença)
Alexandra Leitão Líder
parlamentar do PS admite
que há uma “tempestade
perfeita” que pode
precipitar fim da legislatura
Ocupa o núcleo duro da direcção de
Pedro Nuno Santos, de quem diz
não se poder exigir uma vitória nas
europeias, e deixa um aviso ao
Governo: não vale a pena
chantagear o PS no Orçamento do
Estado para 2025 (OE2025). O
partido “não é pressionável”,
garante a deputada e membro do
secretariado nacional socialista em
entrevista ao PÚBLICO e Rádio
Renascença.
Foi secretária de Estado,
ministra da Administração
Pública. Traz daí uma certa fama
de ser negociadora e de ser dura.
Vai ser uma força de bloqueio
nas negociações com a AD no
Parlamento?
Tinha fama de ser dura, mas Æquei
sempre com óptimas recordações
dos sindicatos com quem trabalhei.
Não serei força de bloqueio porque
nós não seremos força de bloqueio.
Rejeito essa dicotomia que o
primeiro-ministro nos tentou colar
no discurso de posse, entre fazer
oposição responsável ou ser força
de bloqueio.
Vamos fazer oposição forte,
assertiva, também colaborante
quando tiver de ser, como já se
veriÆcou no episódio do presidente
da Assembleia da República, mas a
fazer o nosso papel e a defender o
nosso programa. E isso não pode
ser considerado força de bloqueio.
Dois ex-ministros das Finanças
do PS com peso político vieram
dizer que é possível valorizar as
carreiras, como as dos polícias,
por exemplo, sem um
rectificativo. Isso não fragiliza a
posição do líder do PS ao insistir
neste orçamento rectificativo?
O orçamento rectiÆcativo é ir ao
encontro das promessas quer do PS,
quer da AD — estamos cá para fazer
essa convergência. Comparando o
Programa do Governo com o
programa eleitoral da AD, há já
algum recuo. Na verdade, o meu
ponto com o orçamento é mais: não
sei se há folga suÆciente ou não para
fazer isto. Se no OE2025 estiverem
lá várias medidas com as quais
concordamos misturadas com
várias medidas das quais
discordamos, não vale a pena estar
a meter tudo no mesmo pacote para
depois criar uma situação de
chantagem que o PS, para aprovar
umas, tem que aprovar todas. Isso é
um sinal de que, de facto, [o
Governo] não pretende a abertura e
o diálogo que tanto reitera.
A polémica do IRS mostrou que
o primeiro-ministro e a AD não
são confiáveis para negociar?
Não sei. É um episódio bastante
mau, abala a credibilidade de um
Governo de uma maioria
ultra-relativa, com um empate
técnico de número de mandatos,
que ainda está a começar. É um
Governo que só vai governar se
puder negociar e se quiser negociar.
E para negociar é preciso haver
conÆança. Portanto, sim, acho que
isto é um problema.
E isto inquina essa abertura do
PS para o diálogo?
Não inquina a abertura do PS. É um
episódio que põe em causa a
credibilidade.
Há uma semana, o líder
parlamentar do PSD, Hugo
Soares, dizia-se convicto de que
o PS acabará mesmo por
viabilizar a proposta de OE2025.
O que é que tem para lhe dizer?
Eu gostava de lhe perguntar onde é
que ele Ærma tal convicção.
Ele diz que o PS vai ser
convencido [a viabilizar].
É sempre bom que alguém ache que
nos consegue convencer. O
Orçamento do Estado não é um
projecto de lei sobre uma medida
concreta, é a expressão Ænanceira
anual de um programa. É uma
deÆnição de políticas públicas que
está na génese de visões estratégicas
diferentes para o país e, portanto, é
nessa medida que o PS tem sempre
dito que é praticamente impossível,
porque estaríamos a viabilizar uma
visão estratégica diferente da nossa.
Nas relações institucionais com o
Presidente da República, e
sabendo-se da dificuldade que
será aprovar o OE2025, antevê
pressões de Belém para que o PS
viabilize o orçamento em nome
da estabilidade governativa?
Não vou fazer nem essa previsão,
nem essa antevisão. Percebo que o
senhor Presidente da República se
preocupe com a governabilidade e
com a estabilidade, mas sei que o
fará no quadro dos limites das suas
competências constitucionais. E o
PS também não é pressionável.
Passadas duas semanas da posse
do Governo, tivemos estas
buscas à Câmara de Cascais.
Como dirigente do PS, como é
que interpreta esta ligação que
foi feita ao ministro Miguel Pinto
Luz e à construção da fábrica de
máscaras. Ainda não ouvimos no
PS uma posição sobre esta
questão. Há alguma cautela?
Não sei exactamente em que
sentido coloca a questão da cautela:
do ponto de vista de comentar em
DANIEL ROCHA
[Este] é um
Governo que
só vai governar
se puder negociar
e se quiser
negociar. E para
negociar é preciso
haver conÄança
tempo real uma questão de um
processo judicial? Nem sabemos
bem em que fase, e por isso, sim, há
essa cautela e tem que haver.
Tivemos, nos últimos anos, um
conjunto de episódios relacionados
com a justiça, o que faz com que
sejamos muito cautelosos.
Em abstracto, se Pinto Luz, ou
outro governante, for
constituído arguido, qual é a
possibilidade de se manter em
funções?
Em termos constitucionais, a
manutenção em funções não é
prejudicada pela constituição como
arguido.
Temos também o caso do
primeiro-ministro, sobre a
construção da sua casa em
Espinho. Se for constituído
arguido, isso pode fragilizar a
acção do Governo?
A constituição como arguida de
qualquer pessoa, político ou Ægura
pública, infelizmente tem sempre
algum efeito de fragilização pela
percepção pública que cria. Se essa
fragilização só por si deve
determinar a saída do cargo, acho
que não. Isto vale como princípio
geral e não para A, B ou C. Pode
haver casos em que as
características concretas que
rodeiam a situação fragilizem a tal
ponto a pessoa que a questão se
possa colocar.
Se a AD não ganhar as eleições
europeias, isto poderá acelerar o
calendário eleitoral?
Montenegro fica muito
fragilizado politicamente?
Tenho ouvido e lido muita coisa
nesse sentido: que viabilizar ou não
esta ou aquela medida, ou o
orçamento, terá muito a ver com o
estado em que cada partido chega a
essa altura, medindo o pulso pelas
sondagens. Seria [estranho] da
minha parte dizer que qualquer
partido não olha, não pensa.
E se o PS não vencer as eleições,
em que estado político fica
Pedro Nuno Santos no partido?
A acontecer uma derrota — que eu
não antevejo e que não espero, mas
que temos sempre que equacionar
como possível —, isto faz parte de
um ciclo que era muito difícil, para
o qual o actual secretário-geral e
toda a sua equipa entram muito em
cima, e portanto não se pode tirar
outras ilações disso.
Até que ponto acredita que esta
legislatura vai até ao fim, como
acredita a AD?
Não sei se eles acreditam mesmo.
Vão repetindo, repetindo, como se
acreditassem. Tenho algumas
dúvidas de que acreditem mesmo.
Obviamente que uma legislatura em
que a coligação que governa tem
mais dois deputados do que o maior
partido da oposição, em que o
maior partido da coligação tem o
mesmo número de deputados que o
maior partido da oposição, que um
partido — estou a falar do Chega —
que tem um comportamento muito
imprevisível, e nem sempre pelos
melhores motivos, tem 50
deputados… é um bocadinho uma
tempestade perfeita.
Eu diria que será difícil esta
legislatura chegar ao Æm. Uma coisa
também digo com verdade: será
mais difícil chegar ao Æm se esta
política de não-abertura continuar,
mas, enÆm, veremos.

Ex-adjunto de
Aguiar-Branco
contratou a sua
firma, diz PS
A oposição na Câmara de Lisboa rejei-
tou ontem a proposta da liderança
PSD/CDS-PP de designar um novo
vogal do conselho de administração
da empresa municipal Gebalis, com
PS e BE a pedirem dados sobre a con-
tratação do escritório de Aguiar-Bran-
co. Em causa está um contrato cele-
brado pela empresa Gebalis — Gestão
do Arrendamento da Habitação Muni-
cipal de Lisboa com a sociedade de
advogados José Pedro Aguiar-Branco
& Associados, para a prestação de
serviços jurídicos no âmbito da
cobrança de rendas em atraso, assi-
nado em 28 de Março, um dia depois
de o social-democrata ter sido eleito
como presidente do Parlamento.
Em comunicado, a vereação do PS
disse que “a contratação do escritório
de Aguiar-Branco foi assumida por
um administrador que, em 2011, foi
adjunto de Aguiar-Branco no Minis-
tério da Defesa”, referindo-se a Gon-
çalo Saluce de Sampaio, que tomou
posse como vogal do conselho de
administração da Gebalis em Dezem-
bro de 2021. “O referido administra-
dor abandonou a Gebalis cinco dias
depois desta contratação, assumindo
posição como chefe de gabinete do
ministro da Economia”, indicou o PS,
pedindo dados sobre a contratação
do escritório de Aguiar-Branco pela
empresa de gestão de habitação
municipal de Lisboa.
O social-
democrata José
-Pedro Aguiar-
-Branco foi eleito
presidente
da Assembleia
da República
Apontando os mesmos factos, a
vereação do BE considerou que “a
confusão se adensa e é total”, aÆr-
mando que “nada foi analisado e
todo o processo ocorreu sem trans-
parência”.
Em reunião privada do executivo
municipal liderado pelo PSD e CDS-
PP, foi proposta a designação de
Miguel Fernando Costa da Silva Perei-
ra como vogal do conselho de admi-
nistração da Gebalis, na sequência da
renúncia ao cargo por parte de Gon-
çalo Saluce de Sampaio. A proposta
foi votada por voto secreto e foi rejei-
tada, com nove votos contra, uma
abstenção e sete votos a favor.
Antes da votação, o PS anunciou
que votaria contra qualquer nome
indicado pela câmara até a Gebalis
divulgar “todos os dados sobre o pro-
cesso de contratação da José Pedro
Aguiar-Branco & Associados”. Lusa
Governo revê em baixa corte
de IRS de Costa e aumenta alívio
previsto pela Aliança Democrática
Liliana Borges
Previsão do executivo
foi sinalizada ontem pelo
ministro dos Assuntos
Parlamentares. Detalhes
das contas só amanhã
O Governo reviu em baixa a estimati-
va de 1327 milhões de euros de redu-
ção do IRS prevista no Orçamento do
Estado para 2024 pelo executivo de
António Costa face a 2023. Numa
intervenção que deixou sem resposta
as perguntas de várias bancadas, o
ministro dos Assuntos Parlamentares,
Pedro Duarte, aÆrmou que o Governo
“sabe hoje” o “valor exacto” da redu-
ção Æscal inscrita no orçamento do
Governo socialista: “1191 milhões de
euros” (menos 136 milhões de euros
do que os 1327 milhões). Mantendo o
compromisso de um “desagravamen-
to Æscal” global de 1500 milhões de
euros em 2024 (em relação ao ano
passado), o Governo estima assim
aumentar o alívio adicional de 173
milhões inicialmente previsto pela
Aliança Democrática (AD) para 309
milhões de euros.
No Parlamento, durante o debate
de urgência pedido pelo PS para tra-
tar a polémica em torno do alívio de
IRS, o ministro dos Assuntos Parla-
mentares não explicou se os 1191
milhões de euros correspondem
apenas à redução das taxas ou se
incluem as outras duas medidas que
já estão assumidas no bolo dos 1327
milhões indicados no Orçamento do
Estado para este ano, uma vez que
este valor inclui a redução das taxas,
a actualização em 3% dos valores que
deÆnem os escalões em relação a
2023 e o aumento do patamar do
mínimo de existência, regra que
garante uma isenção parcial ou total
dos rendimentos para quem ganha
menos.
No entanto, fonte do Governo aÆr-
mou ao PÚBLICO que se trata de um
montante global, cujos detalhes serão
conhecidos amanhã.
Aos deputados, Pedro Duarte não
deu qualquer explicação para a revi-
são em baixa do impacto Æscal (por
exemplo, se resulta da evolução do
mercado de trabalho ou de outra
razão). O governante, que esteve em
representação do Governo ( Joaquim
Miranda Sarmento está fora do país
numa reunião do Fundo Monetário
Internacional, ausência criticada pela
oposição), deixou também sem res-
posta as seis perguntas colocadas pela
bancada do PS em relação ao valor do
impacto médio do alívio Æscal para as
Pedro Duarte esteve no Parlamento na vez de Miranda Sarmento
famílias ou ao cálculo da redução do
IRS Jovem.
Num debate que repetiu críticas e
argumentos, quer da oposição, quer
do Governo e dos partidos que o
apoiam, o ministro dos Assuntos Par-
lamentares recusou a ideia de
“embuste” e acusou o PS de “tacticis-
mo”. Vincando que durante a campa-
nha a Aliança Democrática nunca
falou em “choque Æscal”, porque
“respeita o equilíbrio orçamental”,
Pedro Duarte acusou a oposição de
transformar “uma notícia boa numa
notícia má”. E, insistindo que os por-
tugueses “terão a segunda descida
[de impostos] no mesmo ano”, desa-
Æou todos os partidos que acham que
o corte Æscal é “pouco” a votarem
favoravelmente “esta, mas também
todas as outras descidas de impostos”
que o Governo quer implementar.
As palavras não convenceram nem
a esquerda nem a direita. A líder par-
lamentar do PS, Alexandra Leitão,
lamentou a ausência “de quem tem
explicações a dar sobre o tema”, isto
é, Miranda Sarmento, e considerou
que o executivo liderado por Luís
Montenegro “já perdeu a credibilida-
de e minou a sua relação de conÆança
com os portugueses”. O PCP acusou
o Governo de guardar o choque Æscal
para as grandes empresas e o Bloco
de Esquerda falou em “manipulação
e um insulto” ao querer “tomar o país
309
milhões de euros é o valor
do corte adicional de IRS
que o Governo da AD deverá
aprovar no Conselho
de Ministros de amanhã
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 11
MIGUEL A. LOPES/LUSA
por parvo”. O Livre também notou
que o executivo teve “muitas oportu-
nidades” para esclarecer a confusão
gerada e quis saber se haverá ou não
rectiÆcativo (mas não teve resposta).
Também a deputada única do PAN
lamentou o “ilusionismo Æscal” e
desaÆou o ministro a actualizar esca-
lões de IRS em linha com o aumento
de inÇação.
À direita, a Iniciativa Liberal aÆr-
mou que “o cenário económico anun-
ciado no programa eleitoral [da AD]
não vai acontecer” e o Chega dividiu
críticas entre o Governo actual e o
anterior.
Na última semana, o ministro das
Finanças já tinha aÆrmado que o
montante exacto de redução Æscal
não estava fechado porque o executi-
vo estava a “calibrar” a proposta de
lei que aprovará no Conselho de
Ministros de amanhã, tendo admitido
que o valor ultrapassasse a estimativa
inicial de 200 milhões de euros. E na
segunda-feira o líder parlamentar do
PSD, Hugo Soares, antecipava na RTP1
que a descida feita pela mão do actual
executivo poderia ser de 200 milhões
“ou até o dobro”.
Hugo Soares explicava ainda que o
Governo pretende que a redução do
IRS ascenda a um total de três mil
milhões: 1300 milhões de euros
decorrentes da descida inscrita pelo
Governo do PS no orçamento deste
ano mais o corte que o actual execu-
tivo decidirá amanhã; um alívio de
cerca de 1500 milhões de euros no
IRS Jovem; e ainda 500 milhões no
âmbito do chamado 15.º mês isento
de contribuições e impostos.
Ontem, o ministro dos Assuntos
Parlamentares repetiu estes núme-
ros, mas não explicou se estas medi-
das avançam já para 2024 ou mais
tarde.
Política
Para evitar
confusão com
ADN, AD muda
registo no TC
Leonete Botelho
No Conselho Nacional da
próxima segunda-feira, PSD
vai aprovar a mudança de
nome oficial da coligação
com o CDS e o PPM
Com duas letrinhas apenas, a Alian-
ça Democrática (AD) vai tentar evitar
confusões nos boletins de voto das
eleições europeias de 9 de Junho,
para que não se repita qualquer des-
vio de intenções de voto na coliga-
ção PSD/CDS/PPM para o partido
ADN. Nas eleições legislativas, a AD
chegou a apresentar queixa à Comis-
são Nacional de Eleições (CNE) por
ter registo de “inúmeros relatos” de
eleitores que pediram a repetição de
voto após reconhecerem ter confun-
dido as duas forças políticas.
Na reunião do Conselho Nacional
marcada para a próxima segunda-
feira, em que será votada a lista de
candidatos às europeias, será tam-
bém proposta a alteração de registo
da Aliança Democrática no Tribunal
Constitucional: em vez de estar ape-
nas ALIANÇA DEMOCRÁTICA (sim,
em maiúsculas), passará a estar AD
— ALIANÇA DEMOCRÁTICA. Uma
proposta que deverá ser aprovada,
tendo em conta o descontentamen-
to nos partidos da coligação com a
situação ocorrida nas legislativas.
No dia 10 de Março, durante o
período de votação, a AD apresen-
tou uma queixa à CNE — que foi recu-
sada. “A Aliança Democrática, face
aos inúmeros relatos que têm che-
gado a Direcção de Campanha
Nacional de pedidos de repetição do
voto e aos cartazes que estão a cir-
cular nas redes sociais, apela à CNE
que dirija uma mensagem ao país
não de apelo ao voto, em nenhuma
força partidária (claro está), mas de
apelo ao voto esclarecido devido à
semelhança de nomes parecidos nos
boletins de voto”, dizia o comunica-
do enviado durante o dia das legis-
lativas.
Também a Alternativa Democrá-
tica Nacional (ADN) se queixou à
CNE, mas contra a AD, criticando a
publicidade através dos meios de
comunicação “com a desculpa” de
enganos entre as duas forças políti-
cas. “A campanha eleitoral serviu
para clariÆcar essas situações, pelo
que usar este subterfúgio ridículo
apenas para tentar cativar eleitores
a irem votar na AD e denegrir o ADN
é inaceitável”, aÆrmava por seu lado,
em comunicado, acusando a AD de
interferência eleitoral.
12 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024

Sociedade Serviço Nacional de Saúde

ULS vão ser avaliadas pela qualidade

dos cuidados e experiência dos utentes
Estas são algumas das áreas que vão ser integradas no modelo de acompanhamento e monitorização
das Unidades Locais de Saúde. Entidade Reguladora da Saúde junta-se ao projecto
PAULO PIMENTA

Ana Maia
A eÆciência, utilização dos cuidados,
a qualidade dos cuidados e os resul-
tados Ænanceiros são algumas das
áreas de avaliação que vão ser inte-
gradas no modelo de acompanha-
mento das Unidades Locais de Saúde
(ULS), que está a ser criado pela Direc-
ção Executiva (DE) do SNS, em cola-
boração com a Escola Nacional de
Saúde Pública (ENSP), pelas quais as
unidades vão ser avaliadas. Ao pro-
jecto, que decorre até Novembro de
2025, vai juntar-se também a Entida-
de Reguladora da Saúde (ERS).
Foi com base no estudo elaborado
pela ENSP, a que o PÚBLICO teve
acesso, que se encontraram os “sete
grandes grupos” de indicadores para
monitorizar os resultados das ULS.
Além dos já referidos, a monitoriza-
ção integrará também indicadores
das áreas da “experiência do utente,
comportamento organizacional e
coordenação dos cuidados”, adiantou
ao PÚBLICO Fátima Fonseca, da DE-
SNS. Os indicadores especíÆcos de
cada uma das áreas ainda estão a ser
trabalhados pela equipa.
A responsável destaca a importân-
cia de existir um modelo de acompa-
nhamento que permita “dar uma
orientação estratégica do caminho
que as ULS estão a seguir” e que sirva
de apoio aos vários intervenientes.
“Não houve um modelo de acompa- Novo Governo assumiu compromisso de avaliar desempenho das Unidades Locais de Saúde
nhamento para as oito ULS anterio-
res”, diz, referindo que a ERS “vai é a existência de lideranças fortes e o tes que promovam a inovação, envol- universitários que a levou a deixar o
entrar como parceira” no projecto.
“Agora teremos de avaliar, em deta-
Negociações com envolvimento das equipas. “Desde
logo, tem de existir um compromisso
vendo os proÆssionais de saúde. E de
existir adaptabilidade e Çexibilidade,
cargo de administradora do Hospital
de Santa Maria, como explicou numa
lhe, todos os eixos do projecto para sindicatos têm data do poder político para que as mudan- “dando espaço aos serviços para entrevista ao PÚBLICO. Para Ana Pau-

que sejam introduzidos mais alguns”,
explica Fátima Fonseca, que reforça
que um dos objectivos do acompa-
nhamento é permitir que os resulta-
dos positivos possam “ser replicados”
e que desvios ao que era expectável
que possam vir a existir “sejam ajus-
tados por intervenções estratégicas
atempadas”.
O estudo da ENSP, que já foi entre-
gue ao Ministério da Saúde, analisou
as experiências de integração de cui-
dados do Reino Unido, Quebeque
(Canadá), País Basco (Espanha), Esta-
do Unidos da América e Nova Gales
do Sul (Austrália). Do trabalho foi pos-
sível “tirar algumas conclusões” sobre
acções que podem ser “essenciais
para o sucesso de um processo de
implementação de um novo modelo
organizacional mais integrado”.
A primeira das “principais ideias”
A
ministra da Saúde, Ana
Paula Martins, anunciou
ontem que os sindicatos
médicos e dos enfermeiros
já foram contactados para
iniciarem negociações dentro
de duas semanas.
“Vamos iniciar as
negociações sindicais com os
enfermeiros e com os médicos,
e será muito em breve. O que
quer dizer muito em breve? Nas
próximas duas semanas,
porque, naturalmente, temos
uma agenda em que vários
ministérios têm que estar
envolvidos nesta mesa
negocial”, disse a nova
governante numa sessão
pública em Lisboa. Lusa
ças possam ter uma continuidade e
não se cinjam àquilo que são os ciclos
políticos e possam ter a continuidade
essencial para a obtenção de resulta-
dos”, aponta o documento, salientan-
do que este alinhamento “tem de se
estender” também às lideranças das
organizações e aos proÆssionais.
Outra ideia é que esta mudança
precisa de investimentos a curto pra-
zo, mas que os resultados só serão
visíveis a médio e longo prazo. Ou
seja, “apesar de não serem uma con-
sequência imediata do investimento,
os processos de integração de cuida-
dos originam bons resultados, permi-
tindo uma melhor organização dos
serviços, assim como uma melhoria
da experiência dos utentes e da qua-
lidade dos serviços prestados”.
Nesta lista inclui-se também a
necessidade de estes serem ambien-
adoptarem a metodologia às necessi-
dades especíÆcas dos seus utentes”.
Por último, o “desenvolvimento de
instrumentos de planeamento e de
gestão do próprio processo”. “Os ins-
trumentos que temos à disposição
têm também de acompanhar o cami-
nho da reforma”, lê-se no documen-
to, que acrescenta que “tem de ser
garantida a homogeneidade entre os
objectivos dos vários intervenientes
e dos vários níveis do sistema: Ænan-
ceiro, organizacional e clínico”.
Compromisso do Governo
Um dos compromissos assumidos
pelo novo Governo é o de avaliar o
desempenho das ULS e rever a sua
planiÆcação, com particular destaque
para as que integram hospitais uni-
versitários. Foi a aplicação deste
modelo organizativo aos hospitais
la Martins, uma unidade tão diferen-
ciada e com doentes muito comple-
xos não deve ser Ænanciada por capi-
tação (valor de referência por cada
utente).
Fátima Fonseca refere que o alar-
gamento das ULS, desde o início do
ano, a todo o país “foi o início da reor-
ganização e reformulação do SNS”. E
que este “não é um processo que está
fechado”, o modelo de Ænanciamen-
to “está a ser estudado” e “continua-
mente ajustado”. “É importante ago-
ra, detalhadamente, ir estudando
determinados pormenores e áreas. E
o Ænanciamento é uma área muito
pesada na estrutura das ULS, como
demonstrou este estudo”, refere,
salientando que “uma das linhas
comuns de sucesso” das diversas
experiências internacionais “foi a
adaptabilidade e Çexibilidade”.

Falta de recursos humanos nos tribunais:
“Não temos juízes nem funcionários”
Ana Henriques
Vice-presidente do
Conselho Superior
da Magistratura diz
que situação está muito
complicada de gerir
O vice-presidente do Conselho
Superior da Magistratura (CSM),
Azevedo Mendes, diz que a carência
de recursos humanos nos tribunais
está a tornar-se difícil de gerir. “Nes-
te momento o problema é que não
temos juízes nem funcionários”,
resumiu, apontando o elevado
número de diligências adiadas em
2023, como julgamentos.
O dirigente do CSM, que falava
num encontro dedicado ao tema
que está a decorrer no Hotel Roma,
em Lisboa, organizado pelo Sindi-
cato dos Funcionários Judiciais,
aproveitou a ocasião para criticar a
forma como o anterior Governo pre-
parou a revisão da carreira dos oÆ#
ciais de justiça, trabalho que acabou
por não ter sequência por causa da
demissão do primeiro-ministro
António Costa. “Foi preparado de
forma secreta, sem discussão”,
lamentou Azevedo Mendes, recor-
dando como o CSM elaborou um
parecer demolidor sobre o docu-
mento.
Presente no mesmo encontro, a
bastonária dos advogados, Fernan-
da Almeida Pinheiro, qualiÆcou
como risível o salário de entrada na
carreira de oÆcial de justiça: 843
euros mensais. “Nem os estagiários
de advocacia” ganham tão mal,
observou, apelando aos parceiros
do sector da justiça para que entre-
guem ao novo executivo um cader-
no de encargos consoante as reivin-
dicações de cada classe proÆssional
– sejam funcionários, advogados,
juízes ou procuradores.
Falhas de pessoal têm levado
ao adiamento de julgamentos
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 13
AÆnal, referiu, os problemas
estão diagnosticados, e alguns deles
são fáceis de resolver. “Neste
momento só tem realmente acesso
aos tribunais quem tem grande
capacidade Ænanceira e quem não
tem nenhuma”, observou a basto-
nária, numa referência às escassas
situações em que o Estado confere
ao cidadão direito a isenção de cus-
tas e a advogado oÆcioso. Como
resultado, há toda uma classe média
que acaba por ser afastada dos tri-
bunais por não conseguir suportar
os encargos de um litígio judicial.
“É gritante a falta de oÆciais de
justiça”, corroborou o presidente
do Sindicato de Magistrados do
Ministério Público, Paulo Lona.
“Nalgumas comarcas está a parali-
sar os serviços do Ministério Públi-
co”, contribuindo também para os
atrasos na investigação criminal.
Segundo o procurador, metade dos
novos funcionários que entraram ao
Sociedade
serviço em Setembro passado já
terão desistido de continuarem a
trabalhar nos tribunais.
Num tom ainda mais desespera-
do, o juiz que dirige a comarca judi-
cial de Lisboa, Artur Cordeiro, fez
uma conÆssão: “Tenho algumas
situações de tal precariedade que a
vontade que dá é dizer: ‘Hoje não
há julgamentos porque não há nin-
guém para os fazer’, como de resto
já sucedeu na comarca de Cas-
cais.”
Se a carreira de oÆcial de justiça
ainda consegue atrair alguns nova-
tos, explicou o magistrado, é porque
serve de porta de entrada na função
pública: “Depois de ganharem o
vínculo, as pessoas pedem para ir
para outro lado.” A seguir, Artur
Cordeiro fez uma segunda conÆs-
são: “Sinto-me profundamente can-
sado de pedir às pessoas para traba-
lharem mais por termos cada vez
menos recursos humanos.”
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14 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
Sociedade
Tribunal de Contas vai analisar a forma como
o património da Santa Casa foi subavaliado
Sónia Trigueirão
Método usado pelo auditor
para avaliar propriedades
arrendadas, retirando 57,9
milhões às contas de 2021
e 2022, criou divergências
Mesmo depois de uma segunda audi-
toria, as contas da Santa Casa da Mise-
ricórdia de Lisboa (SCML) de 2021 e
2022 continuam a suscitar dúvidas e
a criar divergências dentro da insti-
tuição. A situação levou a Santa Casa
a pedir uma prorrogação do prazo
para entregar as contas relativas a
2023, enquanto aguarda a decisão do
Tribunal de Contas (TdC), cuja inter-
venção solicitou.
As dúvidas residem, sobretudo, na
interpretação que um auditor externo
faz dos critérios para efeitos de regis-
to contabilístico das propriedades
arrendadas, que acabou por retirar
57,9 milhões de euros ao valor do
património. Tal fez com que as contas
entrassem no negativo nos dois anos
em que Edmundo Martinho esteve à
frente da SCML.
No Ænal do ano passado, quando
estavam a ser Ænalizadas as audito-
rias, os avaliadores que trabalham
para a SCML desde 2020 chamaram
a atenção para o facto de terem sem-
pre feito uma abordagem conserva-
dora dos valores das propriedades e
que estas terão sempre uma tendên-
cia crescente de valorização e não o
contrário. Logo, seria estranho reti-
rar-lhes valor, como sugeria o auditor
externo.
Como salientou uma fonte ligada ao
processo, a “SCML tem um dos patri-
mónios mais cobiçados em Lisboa,
localizado em zonas de elevada valo-
rização”. Para se ter uma ideia, este
ano, e só em imóveis de investimento,
o património da Santa Casa foi avalia-
do em mais de 500 milhões de euros.
Todos os anos, o património é avalia-
do para efeitos contabilísticos.
Face às divergências entre os ava-
liadores e o auditor externo, no dia 13
de Novembro, a ex-vice-provedora da
SCML Ana Vitória Azevedo (que,
entretanto, se demitiu do cargo)
entendeu que se justiÆcava uma con-
Ærmação adicional, nomeadamente
porque, desde 2014 até aquela data,
nenhum revisor oÆcial de contas
tinha posto em causa os critérios apli-
cados no registo contabilístico das
propriedades. A reunião não foi pro-
priamente pacíÆca, uma vez que o
auditor não gostou de ser posto em
causa. A vogal da mesa com o pelouro
Ænanceiro, Teresa do Passo, manifes-
tou conÆança neste último.
Mesa da Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa, liderada
pela antiga ministra Ana Jorge,
pediu adiamento do prazo para
entregar as contas relativas a
2023
Inteirada da situação por Ana Aze-
vedo, a provedora Ana Jorge solicitou
ao TdC, a 21 de Fevereiro, que escla-
recesse qual o método adequado de
avaliação para reÇectir o valor das
propriedades de investimento nas
contas.
O TdC também vai analisar se as
propriedades devolutas foram igual-
mente sobreavaliadas, como alegou
o auditor externo. Este auditor tinha
DANIEL ROCHA
pedido à SCML para reavaliar, segun-
do os seus métodos, as propriedades
devolutas que, no seu entender, tam-
bém estariam sobrevalorizadas. A
direcção do património procedeu à
avaliação através de um avaliador
externo, que apresentou valores
superiores aos seus, mesmo com o
método proposto pelo auditor. Numa
reunião, Ana Vitória Azevedo pediu,
então, que os novos valores fossem
reÇectidos nos relatórios de contas de
2021 e 2022, mas o auditor recusou e,
mais uma vez, terá tido a concordân-
cia da responsável pela área Ænancei-
ra.
Na discussão sobre as contas de
2023, numa reunião a 15 de Março, o
método de registo das propriedades
de investimento voltou a levantar
dúvidas, tendo a SCML pedido a pror-
rogação do prazo para entregar o
Relatório de Contas de 2023. Com
dúvidas e ainda sem uma conclusão
do TdC, no dia 21 de Março a mesa da
SCML publicou, ainda assim, as con-
tas de 2021 e 2022.
Auditoria ainda a decorrer
A auditoria externa às contas da San-
ta Casa indica que a SCML registou
12,4 milhões de euros negativos, em
vez de 10,9 milhões positivos. E, em
2021, em vez de ter registado um
resultado líquido de 20,1 milhões
negativos, teve aÆnal 39,8 milhões
negativos.
A explicação dada pelo auditor,
para quem os critérios adoptados na
valorização de propriedades de inves-
timento não respeitaram as normas
contabilísticas, é simples: “A valori-
zação dada aos imóveis da Santa Casa
foi apurada no pressuposto de que os
respectivos contratos de arrendamen-
to seriam denunciados, sendo de
imediato efectuadas obras de beneÆ#
ciação, seguidas da negociação de
novas rendas a valores de mercado,
tendo em consideração as beneÆcia-
ções efectuadas.”
Caso o TdC venha dizer que a fór-
mula apresentada pelo auditor não
está correcta e os 57,9 milhões de
euros voltem a ser considerados, em
2022, por exemplo, as contas passam
a positivas em um milhão. Contacta-
da, a ex-vice-provedora Ana Azevedo
recusou-se a fazer comentários.
Questionada sobre o motivo pelo
qual publicou os relatórios de 2021 e
2022 sem respostas do TdC, a SCML
respondeu: “Como tem sido prática,
os seus relatórios e contas são publi-
cados após homologação da tutela, e
uma vez que a instituição está sujeita
à prestação de contas junto do TdC,
remeteu para este órgão, a 8 de Abril,
as novas contas de 2021 e 2022 em
substituição das anteriores. Quanto
ao atraso nas contas de 2023, referiu
que, para a elaboração do mesmo, foi
indispensável aguardar a aprovação
e homologação das anteriores, o que
ocorreu a 21 de Março.”
Questionado pelo PÚBLICO se já
tinha respostas aos ofícios da Santa
Casa, o TdC disse que “a auditoria às
contas de 2021 e 2022 da SCML ainda
está a decorrer”.
 Vê aqui o programa

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16 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
Local É a livraria mais antiga do concelho de Oeiras ainda em funcionamento
A PIDE não
mandava aqui:
Livraria Espaço
quer Ɗcar
na História
Em reunião do executivo camarário,
aprovou-se que a proposta do seu
reconhecimento histórico fosse
submetida a consulta pública
Teresa Serafim Texto
Nuno Ferreira Santos Fotografia
Tudo aconteceu na cave da Livraria
Espaço há uns bons anos, ainda nos
tempos da ditadura — no mesmo
espaço em que Elsa Cordeiro, agora
com 60 anos, nos conta a história.
Estava com a sua mãe, a dona do
estabelecimento na altura, atrás do
balcão e reparou num homem de
fato e chapéu a levar uma pilha enor-
me de livros sem pagar. “Agarrou
neles e foi-se embora. Então pergun-
tei à minha mãe: ‘Leva os livros e não
paga?!’”, recorda. A mãe nem lhe
terá dito nada e estava com as mãos
num pesado desenrolador de Æta-
cola, a tremer — não que estivesse
com medo, mas estava com vontade
de atirar o objecto àquele agente da
PIDE/DGS. “Era uma mulher brava”,
lembra. Teve de ser o pai, mais cal-
mo, a encaminhar o censor para fora
do estabelecimento, dizendo: “Meu
amigo, vamos, vamos.”
Esta é uma das muitas histórias da
Livraria e Papelaria Espaço, situada
na Avenida dos Combatentes da
Grande Guerra, número 51B, em
Algés. Hoje, com quase 60 anos, é
gerida por três das Ælhas dos donos
originais — Marisa, Elsa e Liliana Cor-
deiro. Por proposta das próprias, o
executivo municipal da Câmara de
Oeiras votou, de forma unânime, a
submissão para consulta pública de
uma proposta de reconhecimento de
estabelecimento de interesse histó-
rico e cultural local desta que é a
livraria mais antiga em funcionamen-
to e com uma actividade regular do
concelho de Oeiras.
A história deste espaço começou
a 6 de Junho de 1964. A livraria foi
fundada por Armando Rodrigues e
Maria Cordeiro Rodrigues. Também
o actor e encenador Armando Caldas
fez parte da fundação, mas acabou
por sair pouco depois para criar o
Primeiro Acto — Clube de Teatro de
Algés. “A nossa família Æcou à frente.
Aliás, durante muitos anos, até o
meu pai ir trabalhar para a biblioteca
de bordo de um navio, era a minha
mãe que estava à frente”, conta Lilia-
na Cordeiro, de 52 anos.
Inicialmente, era também uma
galeria. Só mais tarde, nos anos 70,
passa a ser papelaria e ainda teve
uma discoteca em parceria com o
grupo Valentim de Carvalho. “Na
altura dos nossos pais, era um pólo São as irmãs Elsa, Liliana e
cultural muito importante para Maria que gerem a Livraria
Algés”, adianta Elsa Cordeiro. Os Espaço, em Algés
seus pais viviam na mesma zona da
livraria e eram conhecidos por ali.
Como o próprio nome indica, este
era um espaço de ideias, de criativi-
dade e onde as pessoas se podiam
expressar à vontade.
Nos tempos da ditadura, teve um
importante papel. O facto de ser
uma cave também ajudava, assinala
Elsa: “As pessoas que estavam con-
tra o regime vinham aqui, encontra-
vam-se, conspiravam e conversa-
vam.” E era possível obter aqui
obras que não estavam em qualquer
lado. “De forma escondida, [os
meus pais] diziam: ‘Temos aqui uma
coisa que é capaz de lhe interes-
sar...’ Então as pessoas vinham e
levavam os livros proibidos.”
Pouco antes da revolução de Abril
de 1974, em Fevereiro, publica-se o
livro Portugal e o Futuro, do general
António de Spínola, e, na altura, ven-
deram-se na livraria centenas de
exemplares dessa obra. “Como eram
tantos, montámos uma banquinha
no andar de cima, onde embrulhá-
vamos o livro, porque as pessoas não
o queriam levar às claras”, relata
Elsa. Este ano, em memória desse
acontecimento, perguntaram no

grupo de Facebook Algés Acontece
se havia clientes antigos que tivessem
comprado o livro em 1974. Uma
cliente de longa data, Beatriz Baptis-
ta, respondeu ao apelo e agora o livro
está na montra da livraria.
Desde cedo que a livraria se tor-
nou uma segunda casa para Marisa,
Elsa e Liliana. A certa altura, as irmãs
assumiram mesmo o negócio — Mari-
sa foi a primeira, seguiram-se Elsa e
Liliana. Apenas Susana, a outra irmã,
não está a trabalhar no espaço.
“Fomos entrando aos poucos, à
medida que acabávamos os cursos”,
diz Liliana, que estudou Gestão de
Empresas.
Actividades e novidades
Nem sempre tudo foi fácil. A mãe,
que tomava conta da loja, morreu
cedo, aos 44 anos. A certa altura, tive-
ram muitas dívidas bancárias, come-
çaram a surgir as livrarias dos centros
comerciais e a conjuntura económica
dos anos 80 no país não ajudava.
Tiveram de arregaçar as mangas e
fazer projectos com Ænanciamento
europeu. “Vinha com sangue novo!
Fiz um estágio e um projecto de
investimento”, lembra Liliana. Con-
seguiram fazer obras e ir renovando
a livraria. Também um projecto nas
escolas com a professora Conceição
Rolo foi um “balão de oxigénio” com
encomendas para o Agrupamento de
Escolas do Restelo. Também faziam
feiras do livro nas escolas mais próxi-
mas e davam descontos aos alunos
se fossem à Espaço.
Actualmente, na parte de cima do
estabelecimento, é possível adquirir
material de papelaria, jogos didácti-
cos ou brindes. Na cave, está a livra-
ria, que tem um espaço só dedicado
a livros infantis e juvenis, assim como
secções com os prémios Nobel, auto-
“Sempre
quisemos mostrar
que os livros
transformam
e nos levam para
outros sítios”
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 17
Local
res portugueses, ensaios, culinária,
saúde ou novidades.
Numa das prateleiras, está a agen-
Dois feridos e 50
da com os vários eventos que a livra-
ria vai tendo, como um clube de lei-
desalojados em fogo em
tura, um clube de croché, aulas de
desenho e pintura, a hora do conto
ou um workshop de fotograÆa. Os
loja convertida em casa
eventos podem ser acompanhados
na página de Facebook Livraria e
Papelaria Espaço. Num canto da Bangladesh”, indicou a directora do
Teresa Serafim
livraria, também é possível trocar Serviço Municipal de Protecção
um livro que já se tenha lido por Comando Metropolitano da Civil. Na origem do pequeno foco de
algum que esteja nesse espaço. As incêndio esteve um curto-circuito,
três irmãs querem que estejam dis-
PSP diz que ficaram não se tendo as chamas propagado
poníveis actividades para todas as desalojadas 50 pessoas, às outras habitações.
gerações e carteiras. mas a Câmara de Lisboa diz Os dois feridos, do sexo masculi-
Foram as próprias proprietárias não ter informações no de 24 e 34 anos, sofreram quei-
a contactar o município para que maduras nos membros inferiores e
fosse analisado e equacionado o Duas pessoas Æcaram ontem feridas vias aéreas e foram transportados
pedido de reconhecimento da livra- em Lisboa na sequência de um foco ao Hospital de São José. Ainda
ria como de interesse histórico e de incêndio numa loja transformada segundo Margarida Castro Martins,
cultural local. “Estamos aqui há 60 em habitação num edifício de três um dos feridos já teve alta, pelas
anos e temos continuado um lega- pisos na Rua de Santo António dos 7h20, e foi assistido apenas por ina-
do”, assinala Elsa. Capuchos, disse à agência Lusa fon- lação de fumos. O outro ferido está
Esse reconhecimento é baseado na te da autarquia. Já fonte do Coman- internado no hospital, com queima-
Lei n.º 42/2017, que prevê que os do Metropolitano de Lisboa da PSP duras no pé esquerdo e antebraço
estabelecimentos com essa classiÆca- adiantou ao PÚBLICO que Æcaram direito.
ção beneÆciem de medidas de pro- desalojadas 50 pessoas devido a Questionada pelo PÚBLICO sobre
tecção, como as relativas ao arrenda- este incêndio, mas a Câmara Muni- o número de pessoas que Æcaram
mento e o acesso a programas muni- cipal de Lisboa diz que o Serviço desalojadas, a Câmara Municipal de
cipais ou nacionais de apoio. Neste Municipal de Protecção Civil não Lisboa não adianta praticamente
momento, a proposta está em con- tem informações sobre o número de nada e insiste que “a informação de
sulta pública até ao Ænal do mês, pessoas que possam ter Æcado sem que o Serviço Municipal de Protec-
podendo ser feitas perguntas e apre- casa. ção Civil dispõe é que o local estaria
sentadas observações no atendimen- Segundo adiantou à Lusa a direc- ocupado por nove camas e seis resi-
to público dos Paços do Concelho de tora do Serviço Municipal de Protec- dentes”. Na resposta enviada, indi-
Oeiras, para o endereço Largo do ção Civil, Margarida Castro Martins, ca-se que “este serviço não dispõe
Marquês do Pombal 2784-501 Oeiras, o incêndio causou dois feridos, não de informações adicionais sobre o
ou para o e-mail geral@oeiras.pt se sabendo ao certo quantas pessoas número de pessoas que poderão ter
O município de Oeiras indicou ao estavam no interior da loja, uma vez Æcado desalojadas na sequência
PÚBLICO que esta “é a primeira pro- que abandonaram o local na altura deste incêndio” e que, exceptuando
posta deste tipo de reconhecimento da ocorrência. O incêndio ocorreu os residentes levados para o hospi-
a uma livraria de Oeiras”. Após a pelas 2h num edifício de habitação tal, os restantes abandonaram o
consulta pública, o processo será de de três andares e águas-furtadas, local, não tendo sido possível esta-
novo submetido a aprovação do sendo que no piso térreo existem belecer comunicação com eles”.
executivo. duas lojas. O PÚBLICO questionou a Câmara
A livraria está aberta das 10h às 13h “O incêndio ocorreu numa loja Municipal de Lisboa para saber se
e das 15h às 19h, de segunda a sexta- ocupada por nove camas e seis resi- está a apurar quantas pessoas Æca-
feira. Nos sábados, funciona das 10h dentes, que, de acordo com infor- ram desalojadas devido a este incên-
às 13h. As três irmãs esperam que mação da Polícia de Segurança dio, mas não obteve resposta até ao
assim continue. “Vamos sempre Pública, são todos residentes do fecho da edição. com Lusa
adaptá-la às situações e ao que o RUI GAUDÊNCIO
público necessita”, garante Liliana.
“O objectivo é criar o prazer da leitu-
ra, novos leitores e abrir janelas para
o mundo.”
Essa também sempre foi a missão
de Marisa: “O objectivo é pôr as pes-
soas a ler. Sempre quisemos mostrar
que os livros transformam e nos
levam para outros sítios.” Liliana
quer ainda que seja sempre um espa-
ço acolhedor e que as pessoas se
sintam bem recebidas — uma livraria
de bairro que conhece os seus clien-
tes e que transmita “a magia de um
espaço em que tudo é possível”.
Elsa faz até questão de ler um
comentário que ouviu de uma cliente
e que apontou num papel: “Este foi
um espaço icónico da minha juventu-
de onde as pessoas se encontravam.
Vinha ver as novidades de livros, dis-
cos e dos pósteres que decoravam o
meu quarto.” É essa ligação que as
três irmãs querem que a livraria con-
tinue a ter com as pessoas. O incêndio ocorreu pelas 2h num edifício de três andares
18 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024

Economia Relatório de supervisão comportamental do Banco de Portugal

Comissões
cobradas
indevidamente
pelos bancos
triplicam
em 2023
Os bancos devolveram aos clientes mais
de oito milhões de euros por comissões e
juros cobrados indevidamente, a maioria
na renegociação de créditos ao consumo
foram obrigados a devolver aos
Rafaela Burd Relvas
clientes) dizem respeito à cobrança
O valor cobrado indevidamente de comissões pela renegociação de
pelos bancos a título de comissões contratos de crédito ao consumo.
bancárias e juros aumentou expo- “Relativamente às comissões pela
nencialmente no ano passado. renegociação de crédito, salienta-se
Em 2023, as instituições supervi- a cobrança de comissões pela alte-
sionadas pelo Banco de Portugal ração da opção de pagamento do
(BdP) foram obrigadas a devolver cartão de crédito ou da modalidade
aos clientes perto de 8,3 milhões de de pagamentos fraccionados para o
euros em montantes cobrados inde- montante mínimo obrigatório, por
vidamente, valor que representa falta de saldo na conta para a Em 2023, o Banco de Portugal, entidade que regula o sector financeiro, recebeu 26.976 reclamações por part
quase o triplo daquilo que se veriÆ# cobrança da opção inicialmente
cou em 2022. deÆnida. Foram ainda devolvidos
Isto, num ano em que as reclama-
ções recebidas pelo regulador ban-
montantes signiÆcativos pela
cobrança de comissões pela altera-
Menos de 3% dos clientes elegíveis pediram fixação da prestação da casa
cário e os processos de contra-orde- ção do prazo do contrato”, detalha
nação instaurados contra instituições o Banco de Portugal, que indica ain- Os bancos receberam cerca de 25 mil pedidos no ano passado

de crédito também aumentaram de
forma signiÆcativa.
Os números constam do mais
recente relatório de supervisão
comportamental, documento
ontem publicado pelo Banco de Por-
tugal, que dá conta de que, em 2023,
111 instituições bancárias foram
obrigadas pelo regulador a devolver
mais de 8,25 milhões de euros aos
clientes, relativos a comissões e
juros indevidamente cobrados.
Em 2022, este montante tinha
sido de 2,8 milhões de euros.
Na base destas devoluções está,
sobretudo, a cobrança de comissões
pela renegociação de contratos de
crédito ao consumo, uma prática
que terá sido mantida pelos bancos
mesmo após a publicação da Lei n.º
57/2020, que está em vigor desde
Janeiro de 2021 e que proibiu a
cobrança de comissões na renego-
ciação destes contratos.
Ao todo, mais de 5,36 milhões de
euros (o equivalente a cerca de 65%
do montante total que os bancos
da que 20 instituições Ænanceiras
foram obrigadas a devolver comis-
sões por violarem estas regras.
Outra das situações apontadas
pelo regulador diz respeito à viola-
ção, por parte dos bancos, dos limi-
tes máximos de comissões e despe-
sas pela prestação de serviços míni-
mos bancários.
Há duas instituições bancárias,
que não são identiÆcadas, que
cção, num
cometeram essa infracção,
total de 6753 casos queue acaba-
dos.
ram por ser regularizados.
27 mil reclamaçõess
Este aumento do montante
ante
que os bancos foram obri-
bri-
gados a devolver aos os
clientes acontece num m
ano em que o número de
reclamações, assim m O dados constam
como o de processos de
au-
contra-ordenação instau-
rados, também cresceramram
signiÆcativamente.
Em 2023, o BdP recebeu
beu
A
possibilidade de fixar a
prestação do crédito à
habitação num valor mais
baixo do que aquele que
resultaria da aplicação normal
das taxas Euribor foi uma das
principais medidas apresentadas
pelo anterior Governo para
atenuar o impacto da subida dos
juros sobre os rendimentos das
famílias, mas foram muito
poucas aquelas que quiseram
aderir a este apoio. Terminado
o prazo de adesão, foram feitos
cerca ded 25 mil pedidos de
fixa
fixação da prestação, o
qu equivale a menos de
que
3% do total de contratos
q eram elegíveis para
que
b
beneficiar desta medida.
Os
ta
também do relatório de
su
supervisão do BdP,
lid
liderado por Mário
Cen
Centeno. Em causa estava a
possibilidade, introduzida no
final do ano passado, de fixar por
dois anos a prestação do crédito
à habitação, em contratos com
taxa de juro variável. A medida
podia ser aplicada aos contratos
de crédito à habitação própria
permanente que tenham sido
celebrados até 15 de Março de
2023, que não estejam em
incumprimento, com taxa de juro
variável e com um prazo
remanescente superior a cinco
anos. Cerca de um milhão de
contratos de crédito cumpriam
estes requisitos e, portanto,
eram elegíveis para ser
abrangidos por esta medida,
cujo prazo de adesão decorreu
entre Novembro de 2023 e
Março deste ano.
A medida acabou, contudo,
por ter uma procura reduzida. De
acordo cdm os dados agora
divulgados pelo BdP, entre
Novembro de 2023 e Fevereiro
de 2024, as instituições de
crédito receberam 25.879
pedidos de fixação da prestação,
o equivalente a pouco mais de
2,5% do total de contratos que
eram elegíveis. E o universo de
clientes que acabou mesmo por
beneficiar deste apoio é ainda
mais reduzido: do total de
pedidos que foram feitos, os
bancos acabaram por aprovar
apenas 8636, o que corresponde
a cerca de 33% do total. Os
restantes foram rejeitados,
sobretudo não por vontade do
banco, mas porque os próprios
clientes optaram por não
avançar com os processos, uma
vez conhecidas as condições a
que ficariam sujeitos se
aderissem à fixação da prestação
(que, na prática, implicaria
acabarem por pagar mais pelo
crédito contratado). R.B.R.

PAULO PIMENTA
te de clientes
26.976 reclamações por parte de
clientes, um aumento de 23,9% em
relação a 2022, que representa a
maior subida anual de que há regis-
to nos dados do regulador.
Este aumento do número de recla-
mações, detalha o relatório do BdP,
resultou, sobretudo, de assuntos
relacionados com “a qualidade da
informação reportada pelas institui-
ções sobre responsabilidades de
crédito; o exercício do direito ao
reembolso antecipado no crédito à
habitação; alegadas situações de
fraude em operações nos canais
digitais; e a aplicação das medidas
de apoio aos mutuários de crédito
à habitação”.
O regulador concluiu os proces-
sos de 24.707 das reclamações rece-
bidas, tendo identiÆcado indícios de
infracção em 3,6% das reclamações
23,9%
foi o aumento de reclamações
recebidas pelo Banco de
Portugal em 2023. É a maior
subida anual de que há registo
nos dados do regulador
Oferta de depósitos
estruturados dispara
E impedir corte nos juros
m ano de subida gradual
dos depósitos tradicionais,
disparou a oferta de
depósitos estruturados, um
tipo de produtos
tradicionalmente com
rentabilidades próximas de
zero. Assim, o número de
depósitos que estão
associados à evolução de
outros activos, sobretudo ao
mercado accionista, subiu
140,5%, e os montantes
aplicados cresceram 430,3%,
atingindo os três mil milhões
de euros. Este tipo de
depósitos, que cresceram pelo
segundo ano consecutivo, são
uma espécie de “lotaria” e os
resultados têm sido bastante
desfavoráveis para os clientes.
Dos 55 depósitos estruturados
vencidos em 2023, “a maioria
(89,1%) pagou uma taxa anual
nominal bruta (TANB) igual ou
inferior a 0,1%, e os restantes
entre 0,25% e 3%”, refere o
relatório do BdP. A
remuneração dos depósitos
estruturados depende, total ou
parcialmente, da evolução de
instrumentos financeiros ou de
variáveis económicas
relevantes, como acções,
índices accionistas ou preços
de matérias-primas. No caso
português, a grande maioria
está associada a acções ou
índices bolsistas. Rosa Soares
encerradas (um aumento em rela-
ção a 2022, quando foram detecta-
dos indícios de infracção em 2,2%
das reclamações encerradas).
As instituições visadas resolveram
as situações em causa, mesmo
incluindo casos em que não havia
indícios de irregularidade, em
42,2% dos casos (o que também
representa um aumento em relação
à proporção de 37,4% veriÆcada em
2022).
No âmbito desta actuação de
supervisão, o BdP emitiu 5814 deter-
minações especíÆcas, recomenda-
ções e advertências, e acabou por
instaurar 102 processos de contra-
ordenação a 41 instituições, quando,
em 2022, tinham sido instaurados
apenas 21. A maioria destes proces-
sos de contra-ordenação foi instau-
rada em assuntos relacionados com
serviços de pagamento (57), depó-
sitos bancários (26) e crédito aos
consumidores (16).
Ainda no decorrer de 2023, foram
concluídos outros 113 processos de
contra-ordenação relativos a infrac-
ções de natureza comportamental,
tendo sido aplicadas coimas num
valor total superior a 1,75 milhões
de euros.
Inflação recua e só euro
e Médio Oriente podem
Sérgio Aníbal
Eurostat confirma que
inflação na zona euro
caiu para 2,4% em Março,
aproximando-se da meta
de 2% do BCE
Com os dados da inÇação a conÆrma-
rem uma descida em Março, os prin-
cipais riscos para a evolução dos
preços na zona euro parecem cada
vez mais estar concentrados na pos-
sibilidade de um prolongamento da
queda do euro face ao dólar e, prin-
cipalmente, num cenário de escalada
do conÇito no Médio Oriente que
faça disparar os preços da energia.
Ontem, o Eurostat conÆrmou os
dados que tinha apresentado há
duas semanas na estimativa rápida
da inÇação, tornando oÆcial a des-
cida da taxa de inÇação homóloga
na zona euro de 2,6% para 2,4% em
Março.
A inÇação subjacente – que retira
da análise os bens com uma maior
volatilidade de preços – baixou tam-
bém 0,2 pontos percentuais, para
3,1%, revelando que o abrandamen-
to dos preços é, neste momento,
generalizado a todo o tipo de bens,
o que dá mais força à expectativa de
uma continuação da tendência de
descida da inÇação que a coloque
cada vez mais perto da meta de 2%
deÆnida pelo Banco Central Euro-
peu (BCE).
Sendo assim, os números agora
conÆrmados da inÇação reforçam a
probabilidade de a instituição lidera-
da por Christine Lagarde começar,
na reunião agendada para o próximo
dia 6 de Junho, a descer taxas, com
um corte de 0,25 pontos percentuais
na taxa de juro de depósito, que se
encontra desde Setembro passado
num máximo de 4%.
Persistem, no entanto, duas amea-
ças a este cenário. Numa análise
ontem publicada, o departamento
de análise económica do banco ING
destaca a existência de duas poten-
ciais razões para o BCE acabar por
adiar para mais tarde o começo da
descida dos juros. “Um euro em pari-
dade [com o dólar] e o preço do bar-
ril de petróleo a cem dólares pode-
riam de repente transformar um
cenário relativamente benigno para
a inÇação num cenário muito mais
alarmante, em que a inÇação atingi-
ria a meta do BCE apenas no Ænal do
horizonte das previsões [do banco
central]”, aÆrma o banco na nota de
análise publicada.
Os responsáveis do ING dizem ser
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 19
mais preocupante o risco de subida
dos preços da energia, tendo em con-
ta a possibilidade de uma escalada
do conÇito do Médio Oriente, e mini-
mizam a ameaça que constitui uma
continuação da depreciação do euro
face ao dólar, tendo em conta que,
em relação a outras divisas interna-
cionais, o euro não está a perder
terreno. Mas temem que em conjun-
to estes dois factores possam forçar
o BCE a refazer planos.
“Ainda antecipamos um corte das
taxas de juro do BCE na reunião de
Junho. No entanto, a combinação de
um ainda maior enfraquecimento da
taxa de câmbio do euro, tensões geo-
políticas e preços da energia a subi-
rem pode trazer de volta dores de
cabeça relacionadas com a inÇação
e limitar o espaço de manobra do
BCE”, aÆrma ainda a nota.
As declarações mais recentes dos
responsáveis pela condução da polí-
tica monetária dos dois lados do
oceano Atlântico apontam, para já,
para a possibilidade de o BCE se
adiantar mesmo à Reserva Federal
dos EUA (Fed) no arranque da desci-
da de taxas de juro.
De um lado, Christine Lagarde, a
presidente do BCE, reiterou numa
entrevista à CNBC a disponibilidade
do banco central para começar a
inverter em Junho o rumo da sua
política monetária se os dados que
vierem a ser conhecidos nas próxi-
mas semanas reforçarem a conÆança
de que a inÇação está controlada.
Do outro, Jerome Powell, o presi-
dente da Fed, sublinhou que os
dados da inÇação nos EUA relativos
a Março mostraram que “pode demo-
rar mais do que o esperado até que
exista a conÆança” suÆciente para
começar a baixar as taxas de juro.
Christine Lagarde, presidente
do Banco Central Europeu
Economia
Portugal
passa Espanha
na produção
de calçado
Victor Ferreira
Sector nacional fez 85
milhões de pares em 2022
e passou a ser o segundo
maior produtor de calçado
da Europa, a seguir à Itália
Com 85 milhões de pares de sapatos
produzidos em 2022, a indústria por-
tuguesa de calçado ultrapassou a sua
congénere espanhola e tornou-se o
segundo maior produtor da Europa,
apenas atrás da Itália. Os dados são
do Eurostat, mostrando que Portugal
produziu mais dois milhões de pares
do que a concorrência espanhola.
Estes três países – Itália, Portugal e
Espanha – representam 70% da pro-
dução europeia.
Fazer mais sapatos não é um objec-
tivo que vingue de forma isolada na
mente dos industriais portugueses.
Há precisamente dois meses, Luís
Onofre, presidente da Associação
Portuguesa dos Industriais de Calça-
do, Couro, Artigos de Pele e Sucedâ-
neos (APICCAPS), dizia, em entrevis-
ta ao PÚBLICO: “Muita gente tem de
se mentalizar disto: a Europa vai-se
vocacionar para fazer menos quan-
tidade, mas mais qualidade. É o úni-
co caminho possível. (…) Implica,
sobretudo, subir o valor do produto,
fazer coisas incríveis que mais nin-
guém faz.”
Mas ultrapassar um concorrente
directo não deixa de ser um marco –
com signiÆcado acrescido, porque o
preço médio do calçado português já
estava acima do da indústria espa-
nhola, e assim continua.
O ano de 2022 foi o melhor de sem-
pre para os sectores representados
pela APICCAPS. As exportações cres-
ceram 22,2%, para 2347 milhões de
euros. Isolando apenas o calçado, foi
batida pela primeira vez a barreira
dos 2000 milhões de euros de expor-
tação. Em volume, dos 85 milhões de
pares produzidos em solo nacional,
76 milhões de pares foram vendidos
para fora.
Foi este desempenho que levou o
país a subir ao segundo lugar na lista
dos produtores europeus, deixando
para trás a Espanha, cujo preço médio
está quase 28% abaixo do português.
Dados referentes a 2022 indicam que
o preço médio italiano era de 57,84
euros; o português situava-se nos
26,31 euros; e o espanhol estava,
então, nos 19,05 euros.
“Este é o resultado do investimento
continuado do sector de calçado em
Portugal”, comentou o presidente da
APICCAPS, em comunicado.

o da inclusao
CAFÉ COM UM PROPÓSITO:
I
ncluir é um dos verbos do presente. Por-
Foi no passado que cada vez mais a diferença é trazida
para o centro de vários debates, mos-
dia 28 de Março tra-se mais importante do que nunca
percepcionar a inclusão social e de que
que teve lugar, maneira nos posicionamos face a ela, mas
também de que forma organismos como
no Café Joyeux, as empresas têm contribuído para que esta
possa ser, de facto, uma realidade.
em Cascais, Dia 21 de Março celebrou-se o Dia Inter-
a talk que nacional da Síndrome de Down e dia 2 de
Abril o Dia Mundial do Autismo. Durante
essa semana, apelidada de “Yellow Week”
trouxe consigo pela Nespresso Portugal, que criou este
movimento pela primeira vez, a marca
um propósito: juntou-se ao Café Joyeux, para discutir o
papel das empresas naquilo que é a inclu-
falar sobre Ĥ    ť ŧ  ʠŧE ť  ŧ-
inclusão social tuais e de desenvolvimento, assim como
     ? ťʠ 
e perceber que que enfrentam no acesso ao mercado de
trabalho. No dia 28 de Março, o debate
lugar ocupam as abriu portas ao público e a conversa teve
lugar no Café Joyeux, em Cascais, onde
empresas neste Carolina van Zeller, Gestora de Projectos
da Associação Salvador, Filipa Pinto Coe-
paradigma. lho, Presidente da Associação VilacomVida
- IPSS que gere os cafés Joyeux em Portu-
gal, Madalena Ribeiro, Recruiter na IKEA
Portugal, e Teresa Martins, responsável de
Recursos Humanos da Nespresso Portugal,
se juntaram numa talk moderada por Fer-
nanda Freitas, para perceber o verdadeiro
papel das empresas na inclusão.
Nespresso e Café Joyeux
Um encontro com propósito
“A Yellow Week surge como uma forma
de podermos trazer para a esfera pública
este tema da diversidade, equidade e in-
clusão, e também a forma como conse-
E  ŧ E  ť ŧ  ʠŧE ť
intelectuais e de desenvolvimento dentro
das empresas, criando não só oportunida-
des de emprego, como também de cresci-
mento”, começa por dizer Teresa Martins,
acrescentando: “Nós acreditamos que o
nosso café pode ter um impacto positivo
na sociedade. A força que a nossa marca
tem associada ao Café Joyeux, e a forma
como consegue comunicar os temas que
estão em torno da Yellow Week tem um
impacto muito positivo na sociedade”. Já
© Bruno Barata
para Filipa Pinto Coelho, esta não pode-
ria ser uma parceria de maior sucesso: “A
associação VilacomVida, quando nasceu,
tinha como objectivo criar uma aproxi-
mação da sociedade à diferença. O facto
de termos esta oportunidade com a Nes-
presso, uma marca que é tão próxima das
pessoas pela qualidade, pelos valores que
comunica, é um privilégio enorme. O café
Joyeux responde a uma necessidade que
todos nós, enquanto cidadãos, temos, que
é fazer parte. Todos nós estamos ao serviço
EťťĤ ? EMʠ-
car preconceitos e aproximar”.
As empresas e a inclusão
Enquadrar as empresas naquilo que é a
inclusão da diferença, mostrou-se, ao
longo de toda a manhã, não só coerente
como necessário. “As pessoas com neces-
ť ŧĩʠŧťŧ ťťī?Eť
vezes, muito inseguras desta sua inserção
no mercado de trabalho. Queremos criar
Eť ťť ť  ť ŧ  ʠ-
ciência e facilitar a sua entrada no mer-

cado de trabalho, através da sua capacita-
ção”. Palavras de Carolina van Zeller, que
rapidamente se esforça por explicar que
grande parte desta reticência que tanto
empregadores como empregados sentem,
vem de um lugar-comum: o desconheci-
mento. “Os receios vêm do desconheci-
mento e das barreiras que tanto as em-
presas como as pessoas com algum tipo de
ŧť  ŧĩʠŧť > !ī ťEť-
mos a quebrar essas barreiras, esses me-
dos, porque não há que ter medo. A única
coisa que realmente nos une é a diferen-
ça”, remata.
Falando também da perspectiva de alguém
que faz parte do recrutamento de uma
grande empresa, Madalena Ribeiro aprovei-
tou a oportunidade para falar sobre aquela
que é a realidade do trabalho desenvolvido
 ť -(@ w(  ť ŧ  ʠŧUŧť ť-
zem parte de um dos grandes quatro pila-
res da inclusão na IKEA. Temos uma pessoa
dedicada a esta área, temos parcerias com
associações, tanto a nível nacional como a
nível local. Temos um grande interesse em
ŧEť  ťŧ ʠŧUŧť?ťī
não recrutamos só porque sim. As pessoas
são recrutadas porque têm, realmente, ca-
pacidades. Olhamos primeiro para as capa-
cidades e só depois para a incapacidade que
ela possa ter”.
E se é verdade que cada vez mais são as
empresas que se juntam a esta causa e
fazem a sua parte para que, aos poucos,
a inclusão se torne na norma, também
ʠŧ E ŧ ť  E ťť Ÿ E  ťŦť  
pela frente. “Em Portugal, nós ainda esta-
mos um bocadinho longe daquilo que é a
realidade de outros países. Foi necessário
implementar uma lei que impõe uma quo-
ta para conseguirmos, no fundo, começar
a mexer-nos. Eu acho que isto também é
revelador do esforço que nós, enquanto
empresas, temos de fazer para assegurar
que temos práticas que trabalham a diver-
sidade, a equidade e a inclusão”, reforça
Teresa, não deixando a oportunidade para
sublinhar o papel das lideranças neste
sentido: é delas que tem de partir o exem-
plo e é com elas que tem de ser fomentada
a mudança. No caso da Nespresso, o “ob-
jectivo é abrir as mentes e os corações de
todas as pessoas para que sejam mais re-
ceptivas e percebam que ter algum tipo de
incapacidade não tem necessariamente de
ser limitador”.
Dar e ser o exemplo
Rumo a um futuro que não exclui
(      ť ť ŧ ť? ʠŧ E ŧ ť-
ro que também é através do exemplo
que determinados comportamentos po-
dem ser alterados. Se cada um de nós,
enquanto parte de uma empresa e/ou
de uma sociedade, se comprometer a
criar as condições necessárias para que
todos sintam que têm acesso de forma
equitativa e universal a determinadas
oportunidades, o sentimento de pertença
de que tanto se falou vai tornar-se, gra-
dualmente, numa realidade. E aqui, as
empresas assumiram-se sempre como
uma parte fundamental no percurso. A
parceira Nespresso x Café Joyeux é um
exemplo catalisador de mudança e quem
o diz é a Responsável de Recursos Hu-
manos: “Esta parceria deixa-nos mesmo
muito orgulhosos. E acreditamos que é
este o caminho, unirmo-nos a associa-
ções que acreditamos que também nos
podem ajudar a trazer este tema para as
organizações e, adicionalmente, conse-
guirmos também ter um impacto positi-
vo na sociedade”.
CONTEÚDO
COMERCIAL
Quanto ao futuro, e porque o caminho
é longo e recheado com vários desafios,
sobrou ainda tempo para deixar no ar
alguns desejos. “Desejo que mudemos a
nossa forma de falar deste tema. Dei-
xar de dizer - eu incluo -, para passar
a dizer - eu não excluo. Incluir é assu-
mir que há duas coisas diferentes. Não
excluir, é assumir que somos um só”.
Desejo de Filipa, que em muito se as-
semelhou ao de Teresa: “Cada um de
nós deve fazer a reflexão sobre o que
nos impede de incluir. Desejo que as
organizações se inspirem neste nosso
exemplo. Há muitas coisas que pode-
mos aprender também com outras em-
presas. É um propósito, enquanto mar-
ca, que possamos criar uma sociedade
mais inclusiva”.
Foi com estas mensagens em mente
que a talk chegou ao fim, com a cer-
teza de que todos nós podemos ser os
agentes da mudança. E que tudo pode
começar com um “simples” café!
22 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
Mundo Guerra civil provocou 8,6 milhões de deslocados e refugiados
O inferno do
Sudão ameaça
tornar-se pior
e nem El-Fasher
vai escapar
Milícias rompem neutralidade e combates
chegam à única cidade do Darfur que
escapou aos horrores de um ano de
guerra devastadora que fez 15.550 mortos
António Rodrigues
A última cidade do Darfur que se
tinha mantido à margem da violência
da guerra civil do Sudão está agora à
beira de sofrer a mesma sorte. Deste
último conÇito entre o Exército suda-
nês e as Forças de Apoio Rápido
(RSF), que na segunda-feira comple-
tou um ano, El-Fasher, a capital do
Darfur do Norte, não sentira o impac-
to senão com algum Çuxo de desloca-
dos para juntar aos que se foram
refugiando na cidade desde os tem-
pos do genocídio de 2003 e que Æze-
ram subir a população para mais de
meio milhão de habitantes, segundo
a ONU. Da violência directa, porém,
tinha conseguido escapar.
A cidade onde, em 1937, a pioneira
norte-americana da aviação Amelia
Erhart aterrou para abastecer o seu
avião na tentativa de dar a volta ao
mundo que acabou tragicamente
com o seu desaparecimento no Pací-
Æco, beneÆciara do acordo de neutra-
lidade (Acordo de Juba) assinado
pelos grupos armados do Darfur. Até
agora vinha funcionando como base
de apoio humanitário das Nações
Unidas para a região, uma vasta área
com mais de cinco vezes o tamanho
de Portugal que ocupa quase todo o
oeste do Sudão. Já não é assim.
Há uma semana, as duas principais
milícias darfurenses, a do governador
do Darfur, Minni Minawi (facção mais
importante dentro do Movimento de
Libertação do Sudão, SLM, e que assi-
nou o acordo de paz de 2006), e a do
ministro das Finanças sudanês, Gibril
Ibrahim, decidiram romper a neutra-
lidade e juntar-se às forças do Exérci-
to para combater as RSF.
Em resultado disso, os rebeldes
liderados pelo general Mohamed
Hamdan Dagalo, mais conhecido por
“Hemedti”, que dominam as outras
capitais do Darfur começaram a avan-
çar em direcção à capital do Darfur
do Norte. No Æm-de-semana, nove
aldeias em torno de El-Fasher foram
incendiadas, como conÆrmou, na
terça-feira, o Yale School of Public
Health’s Humanitarian Research Lab
num relatório com base em dados de
código aberto e imagens de satélite.
As notícias estão a preocupar o
secretário-geral da ONU. No Æm-de-
semana, António Guterres emitiu um
comunicado falando em relatos do
terreno que davam conta de que “um
ataque a El-Fasher pode estar iminen-
te”. Isso “será devastador para os civis
na cidade”
Na segunda-feira, a coordenadora
humanitária residente da ONU no
Sudão, Clementine Nkweta-Salami,
no seu balanço de um ano de conÇito,
traçava um retrato sombrio do que se
passa no terreno: “Apesar dos horro-
res que já vimos, temo que o pior
esteja ainda para vir: o deslizar inexo-
rável para mais e mais privações e
mais mortes, à medida que a fome
bate à porta do Sudão.”
Um ano de guerra civil no Sudão
já matou mais de 15.550 pessoas e
provocou uma das maiores catástro-
fes humanitárias que o mundo
conheceu desde a II Guerra Mundial.
Neste país africano de 48 milhões de
habitantes, há 24,8 milhões de pes-
soas a precisar de ajuda humanitária,
mais de 8,6 milhões tiveram de aban-
donar as suas casas (1,8 milhões de
refugiados nos países vizinhos) e as
perspectivas não auguram nada de
bom. Segundo o Gabinete da ONU
para a Coordenação dos Assuntos
Humanitários (OCHA), só nas duas
primeiras semanas deste mês, o
número de deslocados foi engrossa-
do com mais 107.800 pessoas bus-
cando refúgio longe de suas casas,
por causa dos combates.
“Tudo o que vi e ouvi são provas de
uma guerra travada com pouca con-
Um membro do Exército sudanês caminha entre edifícios danificados em Omdurman, a segunda cidade mais
sideração pelos civis, incluindo ata-
ques indiscriminados e terrível vio-
lência sexual”, acrescentou Clemen-
tine Nkweta-Salami.
Ajuda internacional
Apesar de quase 25 milhões de pes-
soas desesperadas por alimento, o
mundo, preso nos conÇitos da Ucrâ-
nia e do Médio Oriente, constrangido
por diÆculdades económicas, tolhido
por um regresso ao soberanismo e
marcado pela inÇuência do populis-
mo que faz da ajuda internacional
alvo de ataques políticos, vai-se man-
tendo indiferente à catástrofe huma-
nitária sudanesa. Do objectivo esta-
belecido pela ONU de 2,7 mil milhões
de dólares de ajuda ao Sudão para
2024, diz a OCHA que até 15 de Abril
se haviam conseguido angariar 166,1
milhões, ou 6% do total.
A conferência humanitária de
Paris, convocada para segunda-feira
por marcar o dia exacto do primeiro
Falta de atenção
“tem resultado
num agravamento
da situação
humanitária
no Sudão”
aniversário, “foi mais simbólica do
que outra coisa”, diz ao PÚBLICO
Daniela Nascimento, professora de
Relações Internacionais da Faculda-
de de Economia da Universidade de
Coimbra. Uma circunstância aprovei-
tada “para tentar apelar à mobiliza-
ção de fundos” que possam ser usa-
dos “também para a resposta huma-
nitária, que é urgente e necessária”.
Ainda assim, a conferência termi-
nou com uma série de promessas de
auxílio de dois mil milhões de euros
e uma declaração Ænal que pede aos
beligerantes que cessem as hostilida-
des, respeitem o direito internacional
e facilitem a chegada do auxílio huma-
nitário às populações.
Daniela Nascimento, que se dou-
torou com uma tese sobre estratégias
de resolução de conÇitos e de conso-
lidação da paz no Sudão, não Æcou
muito impressionada com aquilo que
saiu da capital francesa. “Os apelos
têm sido poucos, a mobilização tem
sido pouca, tem-se ouvido falar pou-
co do conÇito no Sudão, em virtude,
obviamente, de um foco mediático
muito mais direccionado para outras
guerras, outras crises, nomeadamen-
te a de Gaza, desde Outubro do ano
passado”. Uma falta de atenção que
“tem resultado num agravamento
signiÆcativo da situação humanitária
no Sudão”
Clementine Nkweta-Salami fala em
4,9 milhões de pessoas em risco de
fome e 730 mil crianças a sofrer de
subnutrição aguda, enquanto a orga-
nização não-governamental Save The
Children alerta para o risco de vida
que correm 230 mil menores, grávi-
das e mães de recém-nascidos se a
ajuda Ænanceira não chegar a tempo
para as socorrer.
Em El-Fasher os sinais preocu-
pam. No antigo posto caravaneiro
onde, no Ænal do século XVIII, Abd
al-Rahman al-Rashid resolveu esta-
belecer a capital até aí itinerante do
sultanato do Darfur, e que nos últi-
mos anos tem servido de porto de
abrigo a muitos sudaneses que bus-
caram a cidade para fugir à violên-
cia destes últimos 20 anos, o baru-
lho dos tiros e dos bombardeamen-
tos não deixa ninguém dormir
descansado.
No entanto, depois de nove mortos
e dezenas de feridos nos combates da
semana passada na própria cidade e
em Mellit, o distrito próximo que pas-
sou a estar sob controlo das RSF, na
terça-feira reinava uma calma pru-
dente em El-Fasher. Grande parte da
população abandonou o Norte da
cidade, dizia à Radio Dabanga, suda-
nesa, o activista local Karar Abdelka-
rim, mas o grande mercado e o mer-
cado de gado voltaram a abrir e os

EL TAYEB SIDDIG/REUTERS
populosa do Sudão
transportes públicos estão a funcio-
nar outra vez.
Os centros de abrigo e os edifícios
das escolas de El-Fasher estão agora
sobrelotados. Os mais afortunados
conseguiram alugar casas ou muda-
ram-se para casa de familiares; os
menos bafejados pela sorte dormem
nas ruas da cidade.
Todos sentem como se desmorona
a Força Conjunta de Protecção do
Darfur, composta por combatentes
do SLM, do Movimento Justiça e
Equidade e de outros pequenos gru-
pos armados que desde o Acordo de
Paz de Juba tinham jurado não deixar
que a cidade fosse tomada pelos
homens das RSF. Os combates no
perímetro da cidade e em Mellit
foram entre os grupos do governador
e do ministro das Finanças e os
outros que pretendiam manter a
neutralidade no conÇito.
Agora, diz Abdelkarim, “as pessoas
comuns pagam o preço pelas suas
disputas” e perguntam-se como é que
estes movimentos armados, “que
eram camaradas e comiam do mesmo
prato”, que eram uma força unida
que os protegia da violência que se foi
estendendo pelo país neste último
ano, “começaram a lutar uns contra
os outros”, a ponto de “muitas famí-
lias se terem desavindo por causa da
escolha dos seus familiares”?
Professora da Universidade de Coimbra
A guerra sudanesa “é, sem dúvida,
um conflito de influência internacional”
Entrevista
António Rodrigues
Daniela Nascimento Está
pessimista em relação a
uma saída para o conflito
e a “um desagravamento
da situação humanitária”
Daniela Nascimento, professora de
Relações Internacionais da
Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra,
doutorada com uma tese sobre
resolução de conÇitos e
consolidação da paz no Sudão, diz
que a conferência de Paris foi “mais
simbólica” que outra coisa, apesar
das promessas de ajuda no valor de
dois mil milhões de euros. “Os
apelos têm sido poucos, a
mobilização tem sido pouca,
tem-se ouvido falar pouco do
conÇito no Sudão, em virtude,
obviamente, de um foco mediático
muito mais direccionado para
outras guerras, outras crises,
nomeadamente a de Gaza.”
O Gabinete da ONU para a
Coordenação Humanitária
(OCHA) diz que dos 2,7 milhões
de dólares pedidos pelas Nações
Unidas para auxílio humanitário
aos 24,8 milhões de sudaneses
que enfrentam a insegurança
alimentar, entre eles os 8,6
milhões de deslocados e
refugiados do conÇito, apenas
tinham conseguido angariar 6%
dessa verba até 15 de Abril, o
que é preocupante.
Sim, é preocupante e, infelizmente,
tem sido uma tendência recorrente
naquilo que é a resposta a crises
humanitárias da actualidade. Os
apelos são muitos, as agências
humanitárias, em particular as das
Nações Unidas, não deixam,
obviamente, de sublinhar a
necessidade de mobilizar esses
recursos, que são fundamentais,
mas depois esses apelos esbatem-se
face a outras prioridades que
limitam a capacidade de actuação
das organizações no terreno. Que é
já difícil, tendo em conta as
circunstâncias de grande
insegurança e de grande
instabilidade. Várias agências
humanitárias, que se viram
obrigadas a sair do território
sudanês, estão agora a tentar dar
algum tipo de resposta humanitária
nas fronteiras vizinhas, para onde
fugiram muitos sudaneses. Os
números apontam para cerca de
dois milhões de refugiados,
maioritariamente concentrados em
países como o Chade e o Sudão do
Sul, que estão, eles próprios, a
braços com diÆculdades, violência
e instabilidade.
Portanto, as circunstâncias não
são nada favoráveis para a
população sudanesa, que se vê,
mais uma vez, numa circunstância
de enorme vulnerabilidade,
enorme pressão e, obviamente, de
perseguição que põe em causa a
sua sobrevivência diária.
Havia milícias do Darfur que se
tinham mantido neutrais desde
o princípio do conÇito. Na
quinta-feira, os dois principais
grupos armados, ligados ao
governador do Darfur e ao
ministro das Finanças,
declararam o Æm dessa
neutralidade e o apoio às forças
do Exército sudanês. Isto irá
contribuir para agravar ainda
mais o conÇito?
Estou muito pouco optimista
relativamente aos
desenvolvimentos no curto e
médio prazo no Sudão, tanto do
ponto de vista do que são as
tentativas, recorrentemente
fracassadas, de cessar-fogo, como
de início de conversações para a
paz. Nenhuma das partes está
disponível para isso, nenhuma
quer ceder, pelo contrário, tem-se
vindo a assistir à radicalização de
posições de parte a parte.
Em relação ao Darfur, na
realidade, desde 2003 e do
genocídio que nunca Æcou
verdadeiramente paciÆcado e
estabilizado. Portanto, todas as
dinâmicas de instabilidade e de
violência foram agora reavivadas
com o início da guerra a 15 de Abril
do ano passado. Há uma ligação
muito forte ao Darfur de um dos
lados da guerra, nomeadamente as
lvidas na
RSF, historicamente envolvidas
desestabilização da região..
A violência que se tem
veriÆcado nos últimos meses eses no
Darfur é preocupante, com m qualquer tipo de mecanismos de
alegações de violações em m massa,
do uso da violação como arma de
guerra contra comunidades des do
Darfur. As notícias de que e estas
eixarão
partes até aqui neutrais deixarão
de o ser e passam a estar
activamente envolvidas
na guerra não trazem
bons indícios do ponto
de vista daquilo que será
o desenvolvimento do
conÇito. Teremos mais
guerra, mais violência,
mais crimes a serem
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 23
cometidos, mais violações a serem
cometidas contra a população
sudanesa, em particular no
Darfur.
Até que ponto este conÇito tem
inÇuência internacional?
É, sem dúvida, um conÇito de
inÇuência internacional. Aquilo
que se vive hoje no Sudão é o
resultado de um processo longo,
moroso, muito conturbado desde o
início, do ponto de vista daquilo
que foram dinâmicas de guerra, de
violência interna, sempre
inÇuenciadas por dinâmicas
regionais e internacionais.
Houve um tempo de algum
investimento internacional na
estabilização e na resolução do
conÇito no Sudão, nomeadamente
do conÇito Norte-Sul, que teve um
Æm formal em 2011 com a
assinatura de um acordo geral de
paz. A partir daí a comunidade
internacional desligou-se, e isso,
em grande medida, contribuiu para
uma degradação das condições
políticas, económicas e sociais.
E desde aí todas as dinâmicas
internas têm sido também
inÇuenciadas a partir de fora. A
guerra que hoje se vive no Sudão,
entre duas forças que disputam o
poder e que estiveram
directamente envolvidas nos
vários momentos de tentativa de
Temos a Arábia
Saudita envolvida,
o Qatar, Emirados
Árabes Unidos.
Do lado das RSF,
o grupo Wagner
transição de poder — desde o
Darfur, do Æm do regime de Omar
al-Bashir, em 2019, na sequência
de manifestações e de uma
revolução civil —, está a ser
apoiada a partir de fora.
Temos a Arábia Saudita
envolvida, temos o Qatar, os
Emirados Árabes Unidos. Temos,
por outro lado, as Forças de Apoio
Rápido a serem apoiadas no
terreno pelo grupo Wagner, tendo
como contrapartida o acesso às
minas de ouro do Sudão.
A coordenadora humanitária
residente da ONU no Sudão,
Clementina Nkweta-Salami,
dizia na declaração que assinala
um ano de conÇito que, “apesar
de todos os horrores a que já
assistimos no Sudão, a verdade
é que o pior poderá estar para
acontecer”. Partilha desse
temor?
Sim. Infelizmente não antevejo
nenhum tipo de desagravamento
da situação humanitária, por causa
da ausência de atenção
internacional, que não se pode
esgotar numa simbólica reunião
em Paris, mobilizando algum apoio
Ænanceiro para a assistência
humanitária, que será sempre
limitada do ponto de vista daquilo
que são as necessidades estruturais
de resposta a este conÇito. A crise
humanitária só termina, só se
combate, com verdadeiros esforços
e compromissos, com a paragem
do conÇito, com a cessação das
hostilidades e com o início de
processos negociais.
Ao mesmo tempo, creio que esse
cenário é difícil e, para mim, muito
pouco concretizável. A acontecer,
vai replicar aquilo que eu considero
pouco sustentável, que é a
tendência da comunidade
internacional de se sentar à mesa
das negociações com os
responsáveis pela guerra, com os
responsáveis pelos crimes
cometidos, pela situação
humanitária desastrosa, sem
responsabilização e que irão
resultar numa paz podre que mais
cedo ou mais tarde poderá resvalar
novamente para o conÇito.
Foi o que aconteceu no Sudão do
Sul, recordemos, onde após a
independência o processo de
transição para a democracia quase
imediatamente resvalou para um
novo conÇito civil, com uma
situação humanitária também
muitíssimo dramática e da qual
também ninguém fala
actualmente.
24 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
Mundo
Portugal apoiará todas as iniciativas
da União Europeia para condenar o Irão
Rita Siza, Bruxelas
Luís Montenegro juntou-se
ao apelo à contenção “para
não haver uma escalada de
violência que não beneficia
ninguém” no Médio Oriente
Não foi com uma cimeira de crise,
mas sim de crises, que o primeiro-
ministro, Luís Montenegro, fez a sua
estreia em reuniões do Conselho
Europeu, ontem, em Bruxelas. “A
União Europeia enfrenta desaÆos
extraordinariamente difíceis na fren-
te internacional”, avisou Charles
Michel, que recebeu o novo chefe do
Governo português umas horas
antes do início da reunião. “Portugal
desempenhará, como sempre, um
papel importante na procura de
compromissos e soluções para os
desaÆos geopolíticos que enfrenta-
mos”, estimou.
No jantar de trabalho, os líderes
concentraram-se sobretudo num:
fazer baixar a tensão no Médio Orien-
te para evitar um conÇito regional,
após o ataque sem precedentes lan-
çado pelo Irão contra Israel. “É fun-
damental que a União Europeia pos-
sa desempenhar um papel mais
Milhares de unidades de habitação
Israel acelerou colonatos em Jerusalém Leste desde 7 de Outubro
Maria João Guimarães
O diário britânico The Guardian reve-
lou ontem que o Governo de Israel
acelerou a construção de colonatos
em Jerusalém Oriental, com mais de
20 projectos aprovados ou avança-
dos nos últimos seis meses, impli-
cando milhares de unidades de habi-
tação, enquanto o ministro da Segu-
rança Nacional, Itamar Ben-Gvir,
estará a fazer uma nova tentativa de
mudar o estatuto do Pátio das Mes-
quitas.
Quanto aos novos colonatos em
Jerusalém Leste, o Guardian diz que
autoridades do Estado estão por trás
dos projectos maiores e mais conten-
ciosos, por vezes em associação com
grupos que tentam expulsar palesti-
nianos das suas casas em partes da
cidade, como em Silwan, onde o
Supremo conÆrmou a expulsão de
uma família palestiniana.
Sari Kronish, da associação israe-
lita Bimkom, disse ao Guardian que
importante para promover a estabi-
lidade no Médio Oriente e para
apoiar a lei internacional”, referiu o
presidente do Conselho Europeu.
Desta vez, Charles Michel não pre-
cisou de vestir o fato de mediador e
gerir diferentes posições e expecta-
tivas entre os 27: todos concordam
que se deve enviar um sinal político
claro ao Irão, através de um reforço
das sanções aplicadas ao país; todos
repetem o mesmo apelo à contenção
de Israel no caso de uma resposta
directa contra Teerão — ou indirecta,
contra algum dos seus proxies.
“Em primeiro lugar, é preciso con-
denar o ataque que o Irão desferiu
contra o Estado de Israel, e ao mes-
mo tempo apelar à contenção por
parte de uma eventual reacção de
Israel, por forma a não haver uma
escalada de violência que não bene-
Æcia ninguém”, declarou Luís Mon-
tenegro, à entrada para a reunião. O
primeiro-ministro Ænlandês, Petteri
Orpo, quis passar uma mensagem
ainda mais incisiva para Israel: “O
mais importante agora é pedir-lhes
que não ataquem, porque temos de
desanuviar a situação”, aÆrmou.
O primeiro-ministro recordou que
Portugal foi dos primeiros países a
repudiarem o ataque iraniano contra
“o acelerar destes planos nos últimos
seis meses não tem paralelo”, já que,
“enquanto muitas organizações
governamentais Æcaram imobiliza-
das ou com operações limitadas após
o 7 de Outubro, as autoridades de
planeamento continuaram em fren-
te, avançando com estes planos a
uma velocidade sem precedentes”.
“Muitos dos planos são desenha-
dos de modo estratégico para zonas
no perímetro sul de Jerusalém Orien-
tal”, declarou Amy Cohen, da orga-
nização Ir Amin, de defesa de direi-
tos humanos, ao jornal. “Se forem
construídos, irão fracturar ainda
mais o espaço palestiniano […] e
criar um efeito de isolamento de
Jerusalém Oriental em relação a
Belém e ao Sul da Cisjordânia”, diÆ#
cultando ainda mais a contiguidade
territorial de um futuro Estado pales-
tiniano.
Nos últimos dias, duas decisões
de tribunal foram desfavoráveis a
famílias de dois locais de Jerusalém
Luís Montenegro estreou-se em reuniões do Conselho Europeu
o Estado hebraico, e aÆrmou que
está preparado para apoiar as inicia-
tivas que a União Europeia conside-
rar adequadas para “sinalizar” a sua
condenação. Para o chanceler aus-
tríaco, Karl Nehammer, “devem ser
examinadas todas as formas possí-
veis de reforçar as sanções” que o
bloco adoptou contra o Irão, no qua-
dro das medidas contra a Rússia após
a invasão em larga escala da Ucrânia,
e no âmbito do regime dos direitos
humanos.
que são o foco de esforços de acti-
vistas judaicos para expulsarem
famílias palestinianas, Silwan e
Sheikh Jarrah.
No primeiro caso, o Supremo rejei-
tou um recurso de uma família de 15
pessoas de Silwan, ordenando-lhe
que deixasse a sua casa, comprada
em 1967. A casa será agora proprie-
Ben-Gvir estará
a tentar mudar
o estatuto do
Pátio das
Mesquitas para
permitir mais
presença judaica
dade de um grupo de direita que
adquiriu, em 2001, os direitos de um
fundo judeu que tinha comprado o
local em 1899.
O segundo veredicto foi de um
tribunal de Jerusalém que ordenou
a expulsão de uma família de Sheikh
Jarrah com base num título de pro-
OLIVIER MATTHYS/EPA
“O nosso dever é alargar estas san-
ções, mas garantir que se centram
no regime de Teerão”, observou o
Presidente de França, Emmanuel
Macron, que é “a favor de sanções
que possam visar todos aqueles que
ajudam a fabricar os mísseis e drones
que foram utilizados no ataque a
Israel, e que também são utilizados
na Ucrânia”. Uma discussão que vai
prosseguir, na próxima semana,
quando os ministros da Defesa e dos
Negócios Estrangeiros da UE se reu-
priedade anterior a 1948. De acordo
com a lei israelita, só judeus podem
reclamar direitos de propriedade
anteriores à criação do Estado de
Israel — o Haaretz diz que se estima
que cerca de um terço do imobiliário
de Jerusalém Ocidental era proprie-
dade de palestinianos, mas depois
de 1948 foram transferidas para o
Governo e entidades privadas no
âmbito da lei de propriedade aban-
donada. Essa lei foi aprovada em
1950 para permitir a nacionalização
da grande quantidade de proprieda-
des deixadas pela população pales-
tiniana que fugiu ou que foi expulsa
durante a Nakba.
Há dois anos, o Supremo reverteu
uma decisão de expulsão de quatro
famílias de Sheikh Jarrah, um local
que foi, até 7 de Outubro, palco de
manifestações semanais pela perma-
nência das famílias contra as tentati-
vas dos movimentos de direita.
Enquanto isso, do Governo, o
ministro da Segurança Interna, Ita-
nirem no Luxemburgo. Até lá, disse
Montenegro, “é prematuro” estar a
anunciar medidas.
Como habitualmente, antes da
ronda pela mesa para as interven-
ções dos lideres, o presidente do
Conselho Europeu deu a palavra ao
Presidente ucraniano, Volodymyr
Zelensky, que entrou logo no espí-
rito do debate, referindo-se aos últi-
mos desenvolvimentos no Médio
Oriente. “Aqui na Ucrânia, na nossa
parte da Europa, infelizmente não
temos o nível de defesa que todos
vimos há alguns dias em Israel, que,
graças ao poder combinado dos alia-
dos, conseguiu abater quase todos
os mísseis e drones iranianos”,
lamentou, sublinhando que “o céu
ucraniano merece a mesma segu-
rança”.
“Estamos convencidos de que é
preciso proteger a Europa dos mís-
seis balísticos e dos shaheds, dos
mísseis de cruzeiro e das bombas,
como aconteceu nos céus de Israel e
de outros países da região. A capaci-
dade de nos defendermos contra o
terror russo não serve só a Ucrânia,
mas todos vós”, assinalou, agrade-
cendo ao chanceler da Alemanha,
Olaf Scholz, o envio de mais um sis-
tema de defesa aérea Patriot.
mar Ben-Gvir, religioso ortodoxo de
extrema-direita, estará a tentar alte-
rar o estatuto actual do Pátio das
Mesquitas para permitir uma maior
presença de judeus, segundo o canal
11 da televisão israelita.
O plano de trabalho anual do seu
ministério já terá prevista esta alte-
ração para permitir mais visitantes
judeus e que estes possam rezar
abertamente no local, o que não é
actualmente permitido.
Ben-Gvir defende há muito que os
judeus possam rezar no Monte do
Templo (para os judeus) ou no Nobre
Santuário (para os muçulmanos) e,
nos últimos anos, a quantidade de
grupos de judeus a visitar o local tem
aumentado, e estes têm por vezes
rezado silenciosamente.
Quando Ben-Gvir decidiu visitar o
Pátio das Mesquitas já enquanto
ministro, em Janeiro de 2023, os
Estados Unidos sublinharam que
qualquer alteração ao estatuto do
local seria inaceitável.
 Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 25

Edif. Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, Tel. 21 011 10 10/20 Fax 21 011 10 30
1350-352 Lisboa
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De seg a sex das 09H às 19H
Sábado 11H às 17H
CLASSIFICADOS

Informação da Mesa da Assembleia-geral

Sobre a
ASSEMBLEIA-GERAL ORDINÁRIA DE 2024
Encontrando-se agendada para o próximo dia 23 de abril
de 2024 a Assembleia-geral de accionistas da Lisgarante – CONVOCATÓRIA
FERNANDO ANTÓNIO DE Sociedade de Garantia Mútua, S.A. informa-se, nos termos
Camarada
OLIVEIRA SANTOS FONTOURA do disposto no artigo 110.º do Regime Geral das Instituições De acordo com os Estatutos e para os efeitos do disposto no
de Crédito e Sociedades Financeiras, que os accionistas Art.º 49 e o Art.º 1 do Regulamento da Assembleia-geral, por
Embaixador detentores de participações sociais superiores a 2% do este meio venho convocar a
capital social da sociedade são os seguintes: ASSEMBLEIA-GERAL ORDINÁRIA
MISSA 7.º DIA do Sindicato para reunir de forma descentralizada, através de
É com profundo pesar que Izabel, Carlos % Sessões Regionais e Locais, às 14.30 horas nas seguintes
Nif Nome Nº Ações
Capital datas e locais:
Eduardo, Ana Luísa e Carolina participam o seu
falecimento e informam que a Missa de 7.º dia 503271055 Banco Português de Fomento, S.A. 6 890 099 11,67% DATA SESSÃO REGIONAL / LOCAL MORADA
terá lugar amanhã, dia 19, pelas 17:30 horas na 508666236 Turismo de Portugal, I.P. 2 376 920 4,03% 20/5/2024 Sessão da Delegação • Delegação Regional de Setúbal
Igreja de São Sebastião da Pedreira. (2ª Feira) Regional de Setúbal Largo da Misericórdia nº46 – 2º - Setúbal
Agradecem desde já a todos os que quiserem IAPMEI – Agência para a 20/5/2024 Sessão da Delegação • Delegação Regional de Coimbra
501373357 1 897 050 3,21%
Competitividade e Inovação, I.P. Avª Fernão Magalhães nº 24 – 2- Coimbra
tomar parte nesta Eucaristia bem como aos que (2ª Feira) Regional de Coimbra
de alguma forma lhes manifestaram o seu pesar. 21/5/2024 Sessão da Delegação • Delegação Regional de Setúbal
Lisgarante – Sociedade Garantia Mútua, S.A. (3ª Feira) Regional do Porto Largo da Ramada Alta nº 140 - Porto
Agência Funerária Magno-Alvalade 22/5/2024 Sessão da Delegação • Sede Nacional do STAD
800 204 222 - servilusa.pt A Administração (4ª Feira) Regional de Lisboa Rua João da Silva nº 20 - Lisboa
24/05/2024 Sessão da Delegação • União Sindicatos Ponta Delgada
(6ª Feira) Local da R. A. dos Açores Rua do Peru, 101 - Ponta Delgada
24/05/2024 Sessão da Delegação • Sindicato dos Cabeleireiros
(6ª Feira) Local da R. A. da Madeira Rua Dr. Fernão d’Ornelas,nº 6, 2º - Funchal

Esta Assembleia-geral Ordinária terá a seguinte:

ORDEM DE TRABALHOS
Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de
1 – Analisar e decidir sobre o “Relatório e Balanço da Actividade
Doentes de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social. É a única Sindical e Contas de 2023” apresentado pela Direcção
organização em Portugal, de âmbito nacional, constituída há mais de 30 anos especificamente para promover a Nacional;
qualidade de vida das pessoas com demência e dos seus familiares e cuidadores. Tem cerca de dez mil associados 2 – Analisar e decidir sobre o “Plano Global de Actividade Sindical
em todo o país. e Orçamento para 2024” apresentado pela Direcção Nacional.
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Apoio CAMARADA
Social e Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade. Uma Informação importante – os documentos que vão ser
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial e apresentados à Assembleia-geral pela Direcção Nacional
europeu sobre as demências, procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a Doença de (Relatório e Balanço da Actividade Sindical e contas 2023 e
Plano Global de Actividades Sindicais e Orçamento 2024),
Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos.
estarão à disposição dos sindicalizados na Sede Nacional e nas
Contactos instalações das Delegações a partir do dia 15.maio 2024.
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa - Tel.: 21 361 04 60/8 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
SAUDAÇÕES SINDICAIS
Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 - Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril - Tel. 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org Presidente da Mesa da Assembleia-geral
Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim” - Rua do Farol Nascente n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Tel. 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org (Vivalda Silva)
Delegação Centro: Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal - Tel. 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org Comunicado Nº 35/2024 - Lisboa, 16.Abril.2024 SAUDAÇÕES SINDICAIS
Delegação da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 FUNCHAL A DIRECÇÃO NACIONAL
Tel. 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org SINDICATO dos TRABALHADORES de Serviços de Portaria, Vigilância, Limpeza, Doméstica e ACTIVIDADES DIVERSAS
Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 Almeirim - Tel. 24 300 00 87 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org (Antigo Sindicato dos Contínuos e Porteiros, fundado em 1/11/41)
SEDE NACIONAL: Rua João da Silva, nº 20 1900-098 LISBOA
Núcleo do Algarve da Alzheimer Portugal: Urbanização do Pimentão, lote 2, Cave, Gabinete 3, Três Bicos, 8500-776 Portimão 213 463 756 | 213 475 596 | 213 475 599 | stad_nacional@stad.pt | www.stad.pt
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26 • Público ClassiÄcados • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024

TRIBUNAL JUDICIAL FULL TIME – PART TIME

Contratação de Doutorado (M/F) DA COMARCA
DE LISBOA NORTE
Juízo Local Cível de Loures - Juiz 2
ENGLISH OR PORTUGUESE SPEAKERS CAN APPLY AVISO
Foi publicado no Diário da República nº 76, 2.ª Série, de 17 de abril de Processo: 10742/23.7T8LRS
PRECISA-SE ASSISTENTE PESSOAL
2024, o Aviso n.º 8141/2024/2 relativo ao concurso Ref.ª CDL-CTTRI-62- ANÚNCIO TRABALHE EM CASA E GANHE UM SALÁRIO POSITIVO Para os devidos efeitos, anuncia-
SGRH/2024 de âmbito internacional, para recrutamento na modalidade Acompanhamento de Maior
CONTATO PARA MAIS DETALHES: contact@travelworship.com
-se que está aberto procedimento
Requerente: Ministério Público
de contrato de trabalho a termo resolutivo incerto celebrado ao abrigo Comarca de Loures concursal para 14 postos de trabalho
do Código de Trabalho, de 1 (um) lugar de Investigador Doutorado de Requerido: Edwaldo Lavres
nas carreiras/categorias de técnico
Ferreira
Nível Inicial para o exercício de atividades de investigação científica Faz-se saber, que nos autos superior de Desporto e Motricidade,
na área científica de Ciência e Engenharia dos Materiais, com vista de Acompanhamento do
Ensino Básico e Arte e Design, e
Maior, acima identificados,
ao desenvolvimento de materiais baseados em celulose e dotados de por sentença já transitada em
julgado, foram decretadas as Português Inglês.
mobilidade, no âmbito do Projeto R&D Cell4Janus – Desenvolvimento
de microrrobôs de celulose do tipo Janus com autopropulsão, PTDC/
medidas de acompanhamento
de Edwaldo Lavres Ferreira,
AVISO Mais se torna público, para efeitos de
BII-BIO/1901/2021, suportado pelos orçamentos da Fundação para a com residência em Rua, Rua Extrato consulta, que foi publicado na BEP
dos Lusíadas 80, Caneças,
Ciência e a Tecnologia, na sua componente de Orçamento de Estado. 1685-035 Caneças, tendo-lhe Nos termos dos artigos 20.º e 21.º da Lei n.º 2/2004, de 15 de janeiro, na sua no dia 17 de abril de 2024 e no site do
2 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos do sido nomeada acompanhante redação atual, adaptada à Administração Local pela Lei n.º 49/2012, de 29 de Município do Peso da Régua, o aviso
Waynete Lavres Ferreira dos agosto, na sua redação atual, aplicáveis por força do artigo 6.º do Regulamento
edital antes referido, publicitado no seguinte endereço eletrónico: https:// Prazeres.
dos Cargos de Direção Intermédia de 3.º grau do Município da Lousã, na sua
de abertura do concurso em epígrafe.
www.ua.pt/pt/sgrh/pessoal-investigador-novos-concursos-e-ofertas. N/ Referência: 160610007
redação atual, torna-se público que, por deliberação da Câmara Municipal, de
Loures, 15-04-2024 Paços do Município do Peso da
3 - O prazo de candidaturas é de 10 dias úteis, contados a partir da data O Juiz de Direito,
20/06/2022, que autorizou a abertura do procedimento, e por deliberação da Régua, 17 de abril de 2024.
da publicação do aviso no Diário da República. Dr. Diogo Alves Assembleia Municipal, de 20/06/2022, que designou o respetivo Júri, encontra-
Aveiro, em 6 de março de 2024 A Oficial de Justiça -se aberto, pelo prazo de 10 (dez) dias úteis a contar do dia seguinte ao da O Presidente da Câmara
Carla Sofia Fonseca M. Silva publicitação na Bolsa de Emprego Público (BEP), procedimento concursal José Manuel Gonçalves
O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira Público, 18/04/2024 para provimento de cargo de direção intermédia de 3.º grau – chefe de unidade
- para a Unidade de Floresta e Desenvolvimento Rural do Município da Lousã.
Mais se informa que o aviso integral da abertura do procedimento foi publicado
Universidade de Aveiro em Diário da República n.º 8055/2024/2, 2.ª Série, n.º 75, de 16 de abril de
2024, e na BEP n.º OE202404/0743, encontrando-se, igualmente, disponível EDITAL
Processo de Seleção e Recrutamento (M/F) para consulta na plataforma de recrutamento do Município da Lousã, acessível ROCHA NEVES, Presidente do Conselho de Deontologia do Porto
Publicita-se a abertura do seguinte processo de seleção e recrutamento no sítio da Área de em http://recrutamento.cm-lousa.pt. da Ordem dos Advogados Portugueses, em cumprimento do
disposto nos artigos nº.s 142.º e 202.º do Estatuto da Ordem dos
Recursos Humanos da Universidade de Aveiro (https://www.ua.pt/pt/sgrh/pessoal-tag-novos- Lousã, 16 de abril de 2024 Advogados, aprovado pela lei 145/2015, de 9 de setembro, com as
concursos-e-ofertas): O Presidente da Câmara Municipal, Luís Miguel Correia Antunes alterações introduzidas pela lei 6/2024, de 19 de Janeiro;
Faz saber publicamente que, por Acórdão do Conselho de
Nos termos da alínea c) do n.º 3 do artigo 23.º dos Estatutos da Universidade de Aveiro, na Deontologia do Porto de 10 de setembro de 2021, ratificado, nos
versão homologada pelo Despacho Normativo n.º 1-C/2017, publicados na 2ª Série do Diário da termos do disposto no artigo 140.º, n.º 2 do Estatuto da Ordem
República, de 24 de abril de 2017, e do Regulamento de Carreiras, Retribuições e Contratação do dos Advogados, por Acórdão do Conselho Superior de 10 de
setembro de 2022 e confirmada por decisão da 2ª Secção do
Pessoal Técnico, Administrativo e de Gestão em regime de contrato de trabalho da Universidade Conselho Superior da Ordem dos Advogados, foi aplicada ao Sr.
de Aveiro, publicado na 2ª Série do Diário da República n.º 173, de 4 de setembro de 2020, alterado Dr. Francisco Pedro Grancho Peixoto Bourbon, que usa o nome
abreviado de Pedro Grancho Bourbon, Advogado inscrito pela
pelo Despacho n.º 8321/2023, publicado na 2.ª Série do Diário da República n.º 158, de 16 de Comarca de Braga, portador da cédula profissional n.º 11140P, a
agosto de 2023, pretende-se contratar em regime de contrato de trabalho sem termo, ao abrigo pena disciplinar de Expulsão, por violação do disposto nos artigos
do Código do Trabalho, aprovado e publicado em anexo pela Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro. 88.º, 89.º, 91º, al. a), 97.º, 99.º, n.º 3, 100.º, n.º 1, al. a) e d) e 101º,
Dá-se conhecimento público de que se encontram abertos n.º 1 e 2 todos do Estatuto da Ordem dos Advogados atualmente em
Ref.ª CND-CTST-340-SGRH/2023 – Um (1) Técnico Superior, na 2ª posição remuneratória, nível vigor (lei 145/2015, de 9 de setembro).
16 (€ 1 439,31), acrescido do direito a subsídios de refeição, de férias e de Natal, para desempenhar processos de recrutamento de pessoal em regime de O cumprimento da presente pena teve o seu início a 29 de fevereiro
de 2024, findo o prazo previsto no artigo 173,º, n.º 1 do Estatuto da
as seguintes funções: comissão de serviço para a Faculdade de Ciências e Ordem dos Advogados atualmente em vigor (lei 145/2015, de 9 de
• Promoção e dinamização dos serviços realizados na rede de bibliotecas (onde se inclui, entre setembro), desde a data em que o aludido Acórdão do Conselho de
outros, os Serviços de Atendimento e Empréstimo, bem como de Referência e Formação),
Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa para: Deontologia do Porto, ratificado nos termos legais pelo Acórdão do
Conselho Superior, formou caso resolvido na ordem jurídica interna
espaços de trabalho colaborativo, formação e de workshop com públicos especializados da Ordem dos Advogados.
(estudantes de todos os graus de ensino, docentes e não docentes), bem como públicos não 1 vaga de Dirigente Intermédio 2.º Grau, referência: Porto, 12 de abril de 2024
especializados; CT-ND-025-2024-DPO; Rocha Neves Margarida Santos
Presidente do Conselho de Deontologia Chefe de Serviços
• Identificação e monitorização de desenvolvimentos e inovações tecnológicas no domínio da
Ciência da Informação que permitam a constante atualização das Bibliotecas enquanto espaços 1 vaga de Dirigente Intermédio 2.º Grau, referência:
de apoio ao ensino/aprendizagem, investigação e descoberta, ao serviço da comunidade;
• Promoção do apoio ao utilizador, em prol do desenvolvimento de conteúdos e serviços para as CT-ND-026-2024-DSEV;
várias áreas de atuação nas Bibliotecas das Instituições de Ensino Superior. EDITAL
REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE: 1 vaga de Dirigente Intermédio 2.º Grau, referência: ROCHA NEVES, Presidente do Conselho de Deontologia do Porto
da Ordem dos Advogados Portugueses, em cumprimento do
HABILITAÇÕES: CT-ND-027-2024-DCI; disposto nos artigos nº.s 142.º e 202.º do Estatuto da Ordem dos
- Licenciatura na área da Ciência da Informação ou afins. Advogados, aprovado pela lei 145/2015, de 9 de setembro, com as
Caso a habilitação académica tenha sido obtida no estrangeiro, exige-se reconhecimento, equivalência ou registo do alterações introduzidas pela lei 6/2024, de 19 de Janeiro;
grau nos termos da legislação aplicável. ao qual podem candidatar-se os indivíduos que reúnam as Faz saber publicamente que, por Acórdão do Conselho de
Deontologia do Porto de 10 de setembro de 2021, ratificado, nos
OUTROS REQUISITOS: condições fixadas no aviso disponível no endereço: termos do disposto no artigo 140.º, n.º 2 do Estatuto da Ordem dos
- Experiência comprovada no desempenho de funções análogas indicadas no ponto I, de pelo Advogados, por Acórdão do Conselho Superior de 10 de setembro de
menos 6 meses; https://www.fct.unl.pt/faculdade/concursos/nao-docentes 2022 e confirmada por decisão da 2ª Secção do Conselho Superior
da Ordem dos Advogados, foi aplicada ao Sr. Dr. Manuel Adolfo
- Bom domínio na área de informática na ótica do utilizador, valorizando-se a experiência em Grancho Peixoto Bourbon, que usa o nome abreviado de Manuel
gestão da informação na área das bibliotecas universitárias; O prazo limite para submissão das candidaturas é de 6 dias Grancho Bourbon, Advogado inscrito pela Comarca de Braga,
- Domínio oral e escrito da língua inglesa; portador da cédula profissional n.º 50424P, a pena disciplinar de
- Experiência e/ou formação, devidamente comprovada, em dinamização de eventos. úteis a contar da data da publicação do presente anúncio. Expulsão, por violação do disposto nos artigos 88.º, 89.º, 90.º, n.º 1
e n.º 2, als. a), d), e) e g) e 91º, al. a) todos do Estatuto da Ordem dos
VALIDADE DO PROCEDIMENTO: Advogados atualmente em vigor (lei 145/2015, de 9 de setembro).
O procedimento concursal é válido para ocupação de idênticos postos de trabalho, a ocorrer no O cumprimento da presente pena teve o seu início a 29 de fevereiro
de 2024, findo o prazo previsto no artigo 173,º, n.º 1 do Estatuto da
prazo máximo de 12 meses contados da data de homologação da lista de ordenação final do Ordem dos Advogados atualmente em vigor (lei 145/2015, de 9 de
presente procedimento. setembro), desde a data em que o aludido Acórdão do Conselho de

O prazo de candidatura é de 10 dias úteis, contados a partir da data da publicitação do anúncio

no jornal.
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Conselho Superior, formou caso resolvido na ordem jurídica interna

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da Ordem dos Advogados.
Porto, 12 de abril de 2024
Universidade de Aveiro, em 08 de março de 2024 Rocha Neves Margarida Santos
O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira MAIS INFO: 210 111 010 Presidente do Conselho de Deontologia Chefe de Serviços

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Fóssil do maior réptil marinho de
sempre descoberto na praia por criança
Réptil marinho do período do Triásico teria até 25 metros de comprimento e uma das mandíbulas foi
encontrada numa praia britânica. Os fósseis serão expostos em museu de Bristol e vão ter réplicas 3D
Carolina Bastos Pereira
Imagine que passeia pela praia numas
férias, em busca de pequenos fósseis,
e acaba por descobrir a mandíbula do
maior réptil marinho de sempre. Foi
o que aconteceu a Justin e Ruby
Reynolds. O pai levou a Ælha de 11
anos a caminhar pela praia em Blue
Anchor, Somerset, em Inglaterra, em
Maio de 2020, e acabou por lhe pro-
porcionar uma descoberta inesque-
cível: “Fiquei emocionado”, contou
aos cientistas que tomaram conta do
estudo. Tratava-se do fragmento, com
mais de dois metros de comprimento,
da mandíbula de um ictiossauro, um
réptil marinho já extinto.
Mas foi só quando a família contac-
tou o paleontólogo Dean Lomax que
conÆrmou as suas suspeitas: tinham
desbloqueado a segunda parte de
uma investigação em curso desde
2016. Ontem a revista Plos One publi-
cou a história e todo o processo de
descoberta de um ictiossauro que é
novo para a ciência.
Foi há oito anos, em 2016, que o
coleccionador de fósseis Paul de la
Salle encontrou, também numa praia,
em Lilstock (a 20 quilómetros de Blue
Anchor), fragmentos da primeira
mandíbula do que viria a tornar-se
um novo ictiossauro descoberto para
a ciência, que viveu no Ænal do perío-
do do Triásico. Ou seja, há aproxima-
damente 202 milhões de anos.
O resultado do estudo desses pri-
meiros restos ósseos foi apresentado
dois anos mais tarde, em 2018, com
ajuda do paleontólogo Dean Lomax,
das universidades de Manchester e de
Bristol, no Reino Unido. Foi por isso
que este investigador, ao ser contac-
tado em 2020 por Justin Reynolds,
Æcou “maravilhado” com a descober-
ta, uma vez que estava à espera de
que um dia uma outra mandíbula
aparecesse para conÆrmar a existên-
cia de um novo ictiossauro.
Os novos ossos estão mais bem pre-
servados e mais completos do que os
primeiros e ambas as mandíbulas
“possuem formato e estrutura úni-
cos”, o que permitiu identiÆcar com
mais clareza o tipo de réptil de que se
trata, refere um comunicado da Uni-
versidade de Manchester. A partir de
então, os cientistas passaram a ter
dois ossos suprangulares, que têm
uma forma e estrutura únicas, na par-
te posterior da mandíbula inferior,
mesmo atrás dos dentes. Quase todos
os vertebrados actuais e extintos — à
Paleontologia Ciência e Ambiente
Ilustração do ictiossauro, que excepção dos mamíferos — possuem
viveu há 202 milhões de anos; um osso suprangular.
em baixo, parte da equipa: Dean Não se trata só de uma nova espé-
Lomax, Ruby Reynolds, Justin cie, como também de um novo géne-
Reynolds e Paul de la Salle ro de ictiossauro. Ainda que muitas
vezes sejam confundidos com dinos-
sauros, os ictiossauros não são dinos-
sauros. Enquanto os ictiossauros
eram répteis que viviam na água, os
dinossauros eram animais de terra
Ærme. Os ictiossauros evoluíram a
partir de um antepassado terrestre
Foi tão Äxe que voltou para a água (tal como as
descobrir parte baleias). Até hoje, descobriram-se
mais de 100 espécies de ictiossauros
deste ictiossauro em todo o mundo. Os primeiros ossos
gigante de ictiossauro que viriam a despertar
interesse dos cientistas foram desco-
Ruby Reynolds bertos em 1811 e 1812 por Mary Anning
Descobridora
do fóssil
DEAN LOMAX
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 27
SERGEY KRASOVSKIY
(que tinha então 12 anos) e pelo seu
irmão Joseph Anning, em Dorset, na
costa jurássica de Inglaterra.
Artigo cientíÄco aos 15 anos
Dean Lomax Æcou “muito impressio-
nado com o facto de Ruby e Justin
terem identiÆcado correctamente a
descoberta como sendo uma mandí-
bula de um ictiossauro”. E, portanto,
perguntou-lhes “se gostariam de se
juntar à equipa para estudar e descre-
ver este fóssil, incluindo a sua desi-
gnação”. Por isso, Ruby e Justin
Reynolds encontram-se entre os auto-
res do artigo cientíÆco que descreve
o novo ictiossauro, ao lado de paleon-
tólogos e especialistas da área.
Procuraram, até Outubro de 2022,
mais fragmentos de mandíbula, até
completarem o puzzle, explica Justin
Reynolds: “Quando eu e a Ruby
encontrámos as duas primeiras
peças, Æcámos muito entusiasmados,
pois percebemos que se tratava de
algo importante e invulgar”, diz, cita-
do nos comunicados das duas univer-
sidades britânicas. “Quando encon-
trei a parte de trás da mandíbula,
Æquei entusiasmado, porque essa é
uma das características distintivas da
descoberta anterior de Paul.”
E foi assim que uma criança com
interesse por paleontologia partici-
pou, não apenas na descoberta, como
na escolha do nome do novo ictios-
sauro: o Ichthyotitan severnensis, que
signiÆca “peixe-lagarto gigante do
Severn”, rio que desagua no canal de
Bristol. “Foi tão Æxe descobrir parte
deste ictiossauro gigante. Estou mui-
to orgulhosa de ter participado numa
descoberta cientíÆca como esta”, diz
Ruby Reynolds, agora com 15 anos.
Foi possivelmente a maior espécie
de um réptil marinho, de tamanho
semelhante ao de uma baleia-azul,
tendo atingido 25 metros de compri-
mento. Ou, como realça o artigo na
Plos One, “representa provavelmente
o maior réptil marinho formalmente
descrito”. Até agora, o maior ictios-
sauro era o Shonisaurus sikanniensis,
com 21 metros, descoberto na Colúm-
bia Britânica, no Canadá.
Quanto a tamanho recorde de ani-
mais, a baleia-azul, que hoje habita
nos nossos oceanos, continua a estar
em lugar de destaque, com a particu-
laridade, no entanto, de ser um
mamífero, e não um réptil como o
ictiossauro Ichthyotitan severnensis.
Este ictiossauro desapareceu há
cerca 200 milhões de anos, durante
a extinção em massa entre o Triásico
e o Jurássico. À altura da morte, o ani-
mal estava ainda a crescer, o que pode
sugerir “estratégias de desenvolvi-
mento ósseo” que “provavelmente
permitiram que os ictiossauros do
Triásico Superior atingissem os limi-
tes biológicos conhecidos dos verte-
brados em termos de tamanho”,
explica outro dos cientistas que ana-
lisaram os fósseis das mandíbulas,
Marcello Perillo, da Universidade de
Bona, na Alemanha. “Muito sobre
estes gigantes está ainda envolto em
mistério, mas um fóssil de cada vez
será capaz de desvendar os seus
segredos”, realça.
“Estas mandíbulas fornecem pro-
vas de que talvez um dia possa ser
encontrado um crânio ou esqueleto
completo de um destes gigantes. Nun-
ca se sabe”, espera Dean Lomax.
Já estão a ser criadas réplicas 3D
dos ossos deste ictiossauro, à sua
escala gigante, por outro dos autores
do artigo, Jimmy Waldron, fundador
do museu DWABA (Os Dinossauros
Serão Sempre Fantásticos) na Florida,
EUA. As réplicas destinam-se a expo-
sições em todo o mundo, porque,
considera Jimmy Waldron em comu-
nicado, “é nossa responsabilidade
partilhar estas maravilhas com o
público”. Já os ossos verdadeiros da
nova estrela entre os répteis marinhos
vão estar expostos no Museu e Galeria
de Arte de Bristol. Texto editado por
Teresa Firmino
28 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
Cultura A partir de hoje no Museu de Arte Antiga, em Lisboa
Domingos Sequeira, o “desenhador
extraordinário”, está à vista
Com Descida da Cruz prestes a chegar ao Soares dos Reis, o artista instala-se no MNAA, que já tem uma
pintura sua nas galerias, de outra maneira. Com quatro desenhos “maravilhosos”. Até 26 de Maio
Lucinda Canelas
Entre Janeiro e Março, o nome
Domingos Sequeira voltou a estar em
foco devido à polémica saída de Por-
tugal de Descida da Cruz, uma das
obras mais importantes da última
fase da sua carreira, entretanto
regressada. Antes que esta pintura de
1828 esteja exposta no Museu Nacio-
nal de Soares dos Reis, no Porto — é
lá que a Fundação Lello, que a terá
adquirido por 1,1 milhões de euros a
um dos descendentes do homem que
a comprou, deverá deixá-la em depó-
sito na segunda quinzena de Maio — é
possível ver a partir de hoje o mais
completo dos seus estudos prepara-
tórios no Museu Nacional de Arte
Antiga (MNAA), em Lisboa.
A seu lado, na pequena Sala do
Tecto Pintado, estão os três desenhos
preparatórios a carvão e giz (“car-
tões”) que antecipam as outras três
pinturas da série de que a Descida faz
parte, um conjunto entendido como
o testamento artístico de Domingos
António de Sequeira (1768-1837), um
artista de fortes convicções religiosas
e nacionalistas, homem pragmático
que foi monge na Cartuxa de Lavei-
ras e pintor régio, prisioneiro no
Limoeiro devido à sua ligação a um
general de Napoleão e exilado desde
1823 em virtude do seu envolvimen-
to no movimento vintista.
Descida da Cruz (1827), Adoração
dos Magos (1828), Ascensão (1828-
1830) e Juízo Final (1828-1830) são as
pinturas que compõem a chamada
“série Palmela”, que deve o seu
nome ao facto de ter pertencido ao
primeiro duque de Palmela, Pedro
de Sousa Holstein, que em 1845 a
comprou à Ælha de Sequeira, artista
que viria a morrer em Roma em 1837,
cidade que, 30 anos antes, fora deci-
siva na sua formação.
Para esta série o artista fez dezenas
e dezenas, se não mesmo centenas,
de estudos. Ninguém sabe ao certo
quantos, garante a conservadora de
desenho de Arte Antiga, Alexandra
Markl, que se doutorou precisamente
com uma tese sobre o pintor.
“Ele não deixa nada escrito quanto
a estas quatro pinturas e a sua obra,
porque morreu em Roma e a família
por lá Æcou, dispersou-se muito. O
que sabemos é que estes quatro dese-
nhos são peças fundamentais no seu
processo criativo, um processo que é
ainda muito formal, clássico, se qui-
sermos, mas que produz estes dese-
nhos em que se nota o seu arrojo, a
sua vontade de experimentar outras
coisas”, diz Markl, apontando para os
quatro cartões, que não eram apre-
sentados em conjunto há 27 anos,
desde a exposição que o MNAA dedi-
cou a Sequeira e em que reuniu as
quatro pinturas da série, à data ainda
nas mãos dos descendentes do duque
de Palmela (duas delas assim conti-
nuam, mantendo-se na família há
quase 180 anos).
Só o da Adoração foi brevemente
exposto no âmbito de uma campa-
nha pública de angariação de fun-
dos a que o PÚBLICO se associou e
que permitiu ao museu comprar a
pintura correspondente para a sua
colecção, em 2016.
Saídos das reservas — “os dese-
nhos, pela sua natureza material, são
obras frágeis, não podem estar expos-
tos em permanência” — os quatro
cartões da série Palmela, quase do
mesmo tamanho das pinturas a que
dão origem (100X140cm), chegaram
ao MNAA com a fundação do museu
via Academia de Belas-Artes, que os
comprou aos Sousa Holstein, em
1878, e mostram agora por que razões
podemos falar de Sequeira como um
“desenhador extraordinário”.
FOTOS: DANIEL ROCHA
Na exposição estão os quatro
estudos finais da série: Adoração
dos Magos, Descida da Cruz e
Ascensão (da esq. para a dta.).
Em baixo, pormenor de Juízo Final
Quem conhece os óleos percebe de
imediato, ao olhar para estes estudos
completos, que as Æguras principais
estão já todas na cabeça do pintor,
explica a conservadora do MNAA,
apontando para a zona mais ilumina-
da da Descida, com o corpo de Cristo
morto sobre o lençol. Os homens e
mulheres que rodeiam Jesus, o grupo
de soldados a jogarem aos dados ou
as Æguras junto à cruz já lá estão, sem
que lhes faltem as expressões que o
artista quis dar-lhes provavelmente
desde a primeira hora. “Com dois ou
três golpes de carvão ou giz, Sequeira
modela as Æguras de forma brilhante.
Anatomicamente, está lá tudo o que
é preciso, mas não é só isso, está lá
também toda a emoção.”
Expostos lado a lado, os cartões
da Adoração dos Magos e da Descida
da Cruz, ambos representando
cenas nocturnas, são reveladores da
forma como Sequeira se serve da luz
também no desenho, do papel cen-
tral que lhe atribui. No primeiro,
que aponta para o nascimento de
Jesus, “a luz serve para abrir o espa-
ço, para celebrar, é o princípio de
tudo”, no segundo “é mais contida,
cai como um pano, pesada”.
Apesar de a Ascensão e de o Juízo
Final serem pinturas que Sequeira
não chegou a terminar, o grau de aca-
bamento dos cartões que as prece-
dem é o mesmo do da Adoração e da
Descida da Cruz. “A série é feita entre
1827 e 1833. Ele vive ainda mais quatro
anos, mas sem condições para traba-
lhar. Fica doente, provavelmente por
causa de AVC. Só que desde 31 ele
diminui o ritmo de trabalho, deixa
muita coisa por acabar, incluindo este
conjunto”, lembra.
“Toda a emoção”
A conservadora acredita, graças a um
artigo de um jornalista britânico que
visita o atelier de Sequeira ainda em
Lisboa, em 1814, que o artista terá tra-
balhado nas quatro pinturas 15 ou 20
anos. “Esta é uma série a que se dedi-
ca durante muito tempo. São quatro
temas importantes para um crente
como ele, sendo o juízo Ænal e a
ascensão mais místicos, o que se
reÇecte nas pinturas.”
Sequeira conhece bem a Bíblia e
opta por uma “composição muito
original” no seu Juízo Final, dividin-
do-a horizontalmente em dois pla-
nos: o inferior é ocupado pelos mor-
tos que se erguem dos túmulos, acor-
dados pelo som das trompetas dos
anjos que saem das nuvens; o supe-
rior tem Cristo ao centro, ladeado
pela Virgem Maria e por São João
Baptista, sob o olhar de uma corte de
santos. “Toda a emoção está lá, todo
o movimento, o turbilhão das
nuvens”, dois dos anjos num voo
rasante sobre os mortos, os outros
dois quase invisíveis. “Nestas duas
obras Sequeira reÇecte sobre a huma-
nidade, sobre a mensagem do cristia-
nismo, e dá-nos a sua visão.”
Dá-nos essa visão sem esquecer a
sua formação mais clássica e, ao
mesmo tempo, sem renunciar ao
lado mais emotivo da pintura, acres-
centa Alexandra Mark. “Sem saber
que era um pré-romântico, ele vai
usar vários recursos do romantismo:
o exótico nos magos e soldados do
Oriente; a luz e a ausência de luz para
sublinhar a comoção; os grandes
espaços cenográÆcos, abertos, à
maneira de [William] Turner, seu
contemporâneo, espaços que, ape-
sar do tamanho e de terem muita
gente, são íntimos… Tudo isto se vê
muito bem nestes cartões maravilho-
sos que são tesouros nacionais.”

Andreas Scholl e Tom Koopman
no novo ciclo Lisboa Música Antiga
Mário Lopes
Promovido pelo Divino
Sospiro, o Lisboa Música
Antiga propõe, entre hoje e
28 de Abril, um itinerário
pela música sacra
Teremos a oportunidade de, 30 anos
depois, ver o maestro Tom Koopman.
Não a dirigir uma orquestra, enten-
da-se, mas a sentar-se em banco de
organista. Receberemos Andreas
Scholl para um concerto que o con-
tratenor partilhará com o tocador de
alaúde Edin Karamazov. São dois dos
seis concertos que compõem o novo
ciclo Lisboa Música Antiga, promo-
vido pelo Divino Sospiro e que decor-
re entre hoje e 28 de Abril em igrejas
da capital portuguesa associadas ao
século XVIII de que é feito o repertó-
rio da música sacra portuguesa e
europeia que compõe o programa da
quase totalidade dos concertos.
Em 1994, o maestro neerlandês
Tom Koopman, que tem no órgão a
sua primeira vocação, estava em Lis-
boa para uma ocasião especial.
Caber-lhe-ia a honra de estrear em
concerto o restaurado órgão da Basí-
lica dos Mártires, no Chiado, obra do
mestre organeiro português do bar-
roco António Machado Xavier e Cer-
deira (1756-1828). Trinta anos depois,
o maestro volta a ser organista, no
mesmo local, com o mesmo instru-
mento. O reencontro dá-se dia 27 de
Abril, na véspera da despedida do
ciclo Lisboa Música Antiga, que
encerrará com o Requiem de Mozart
da Sé de Évora pelo Americantiga
Ensemble e solistas da Orquestra
Barroca de Mateus.
Andreas Scholl estará com o tocador de alaúde Edin Karamazov; Tom Koopman regressa ao órgão
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 29
O encerramento, na Igreja do
Sacramento, irá fazer-se, então, com
uma versão portuguesa da obra de
Mozart (para quatro cantores, vio-
loncelo, órgão e dois fagotes) alojada
na Sé de Évora em manuscritos data-
dos da alvorada do século XIX. Será
uma despedida a fazer justiça ao pro-
pósito do ciclo, que passa por propor
um “itinerário pelos patrimónios
musicais europeu e português de
música sacra do séc. XVIII”, como
lemos no texto de apresentação de
Lisboa Música Antiga, e, numa pers-
pectiva mais alargada, à missão que
vem animando o percurso do Divino
Sospiro, que desde 2004 trabalha na
investigação, recuperação, valoriza-
ção e divulgação, quer em palco,
quer na Æxação de obra fonográÆca,
do património musical português do
barroco.
O ciclo inaugura-se hoje na Capela
da Bemposta, às 20h30 (horário de
todos os concertos) com o celebrado
contratenor alemão Andreas Scholl,
colaborador regular do Divino Sos-
piro, e o tocador de alaúde Edin
Karamazov a interpretarem um pro-
grama composto por canções do
barroco inglês (com Händel como
limite temporal) e peças da autoria
do instrumentista bósnio.
Trinta anos depois,
o maestro Tom
Koopman volta a
ser organista
tocando o órgão
da Basílica dos
Mártires
MARCO BORGGREVE
Cultura
27.ª EDIÇÃO MODALIDADE
2024 JORNALISMO
Amanhã, ainda na Capela da Bem-
posta, onde terão lugar os três pri-
meiros concertos do ciclo, a Arte
Mínima, ensemble criado em 2011 por
Pedro Sousa Silva para a interpreta-
ção de música dos séculos XV, XVI e
XVII, porá em diálogo a polifonia
instrumental de Leonora Duarte
(1610-1678), compositora Çamenga
descendente de portugueses, descri-
ta como tendo uma “natureza
doméstica, feminina, instrumental e
protestante”, e a “austeridade dos
sons catedralícios das matinas para
a Semana Santa” compostos no iní-
cio do século XVII e cujos manuscri-
tos se encontram preservados na
Biblioteca Geral da Universidade de
Coimbra.
A passagem do Lisboa Música Anti-
ga pela Capela da Bemposta termina,
depois de amanhã, com a primeira
apresentação no ciclo do Requiem de
Mozart da Sé de Évora pelo Ameri-
cantiga Ensemble e os solistas da
Orquestra Barroca de Mateus. A
direcção artística é de Ricardo Ber-
nardes, também responsável pela
transcrição dos manuscritos arqui-
vados na Sé de Évora.
A completar a programação temos
o Divino Sospiro. No início da segun-
da semana do ciclo, dia 26 de Abril,
apresentarão um programa dedica-
do ao compositor Benedetto Marcel-
lo, nome de destaque na Veneza do
século XVIII, que será apresentado
no Convento dos Cardaes. A direcção
artística é, claro, de Massimo
Mazzeo, que assume essa função no
Divino Sospiro desde a sua criação,
CALENDÁRIO:
14 JUNHO Data-limite de entrega dos trabalhos.
e a interpretação de Teodoro Baú
20 JUNHO Primeira reunião do júri, para entrega
(viola de gamba), Francesco Tomasi
(teorba), Lucia Di Nicola (cravo) e da dos trabalhos a concurso aos elementos do júri.
soprano Mariana Castello Branco. 26 JULHO Segunda reunião do júri e apreciação final.
FOPPE SCHUT
14 SETEMBRO Sessão pública de entrega da 27.ª Edição
do Prémio Literário Orlando Gonçalves.
SUBMISSÃO DE CANDIDATURAS:
Departamento de Educação e Desenvolvimento Sociocultural
Divisão de Intervenção Cultural da Câmara Municipal
da Amadora
Recreios da Amadora, Avenida Santos Matos, 2,
2700-748 Amadora
MAIS INFORMAÇÕES EM
WWW.CM-AMADORA.PT
30 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024

Cultura Livro é hoje lançado

Os dias
Rock Rendez
Vous — Uma
História em
Imagens
transporta-nos
para o iniciais
clube que
transformou
a música de um despertar
portuguesa
nos anos 1980.
Os concertos, geracional,
o público,
os bastidores,
um novo as imagens
mundo a
despontar
de um clube
que gritou

Rock
Mário Lopes

E
ntrávamos no interior do que
fora o Cine Bélgica, inaugura-
do em 1928, e, a partir de
1973, o Cine Universal da pro-
gramação alinhada com a
revolução. Entrávamos e lá
estava o foyer transformado em bar,
o ecrã sobre o palco, a plateia des-
pida de cadeiras, o balcão feito
mezzanine, a sala de projecção
transformada em cabina de som. Ali
estávamos, entre as paredes pinta-
das de negro, no número 175 da Rua
da BeneÆcência. Era Lisboa, Portu-
gal, mas era, naqueles anos 1980,
um outro mundo que Çorescia. Cha-
maram-lhe Rock Rendez Vous,
nome de ressonância mítica na his-
tória da música portuguesa, espaço
de aÆrmação geracional, oásis de
modernidade nascido seis anos
após a revolução.
Acompanhamos tudo isto em
Rock Rendez Vous — Uma História em
Imagens. Com coordenação de Luís
Carlos Amaro, conta a história do clu-
be, mostra-nos os músicos em palco
e o público que lhe dava vida (sendo
que, muitas vezes, os músicos eram
também o público) em fotos assina-
das por Rui Vasco, Fred Somsen, Céu
Guarda, Álvaro Rosendo e os já fale-
cidos Peter Machado, Pedro Lopes e
José Faísca, contextualizadas em
belíssimos textos de Ana Cristina Fer-
rão e Pedro Félix. Editado pela Tinta-
-da-China, chega hoje às livrarias.
Paralelamente, está patente desde
11 de Abril no Espaço Avenidas – Um
Teatro em Cada Bairro, a exposição
Rua da Beneficência 175.
O Rock Rendez Vous foi criado por
alguém que vinha de trás, Mário Guia,
Ægura yé-yé enquanto baterista dos
Ekos, nos anos 1960, e então um
“veterano” de 36 anos de olhos pos-
tos no presente, entusiasmado com
o punk e a new wave que via no Mar-
quee, em Londres. Agora revisitado
em livro, é nome mitiÆcado pelos que
viveram entre as suas paredes e pelo
simples enumerar daqueles que cons-
truíram ou começaram a construir ali
a sua história: Xutos & Pontapés, Mão
Morta, GNR, Heróis do Mar, Mler Ife
Dada, Peste & Sida, Pop Dell’Arte,
Rádio Macau, entre outros que com-
puseram uma história de mais de
1500 concertos (entre eles, os que
chegavam de fora, quando poucos o
faziam para tocar numa sala assim:
Teardrop Explodes, Lords Of The
New Church, The Sound, Wilko
Johnson ou Killing Joke).
“Chegámos ao início dos anos 1980
e, passados anos e anos de obscuran-
tismo, conseguíamos crescer em
liberdade e tínhamos uma febre imen-
sa de conhecer, de experimentar”,
contextualiza Luís Carlos Amaro,
designer gráÆco que esteve lá, no
público e em palco, enquanto mem-
bro de uma das bandas fugazes

PETER MACHADO
Plateia repleta
para um
concerto dos
Xutos &
Pontapés (à
esq.) e
distância
entre palco e
plateia
esbatida
numa
actuação dos
Crise Total, na
foto que faz
capa do livro
(à dir.).
Anabela
Duarte, dos
Mler Ife Dada,
nos bastidores
(abaixo) e a
presença em
palco de
Emílio e a
Tribo do Rum
(abaixo, à
esq.)
ÁLVARO ROSENDO
daquele boom, os Jovem Guarda. A
sua estreia no Rock Rendez Vous não
foi com um concerto: foi até lá para
ver o Ælme de um concerto dos U2 —
as projecções de vídeos e Ælmes de
concertos de bandas então inacessí-
veis em Portugal eram outra forma de
esbater distâncias.
“Ouvíamos sempre falar do Mar-
quee, do CBGB, dos Clash no Mar-
quee, da Patti Smith no CBGB. De
repente, o Rock Rendez Vous somos
nós a poder fazer o que os outros
faziam”, recorda Rui Vasco, que teve
a honra de ser o primeiro fotógrafo
oÆcial da sala. A sua história no Rock
Rendez Vous é boa ilustração do
espírito que o animava, retrato feliz
desse sobressalto que permitiu erigir
qualquer coisa onde quase nada
existia — a ideia de um clube rock era
então tão inaudita em Portugal que
não havia sequer forma de o enqua-
RUI VASCO
drar em termos legais: foi registado
como espaço para “fados e guitarra-
das até às 3h”.
Rui Vasco entra no clube pela pri-
meira vez em Maio de 1981, seis meses
depois da noite de inauguração, dia
18 de Dezembro do ano anterior, com
um concerto de Rui Veloso, então a
viver o sucesso retumbante do single
Chico Fininho e do álbum Ar de Rock.
Adolescente, vem de Almada para
acompanhar e fotografar duas bandas
da sua cidade, os 26 TMG e os Iodo.
Mário Guia vê-o de máquina em
De olhos fechados, surfámos punho e não perde tempo, Rui Vasco
torna-se fotógrafo oÆcial.
a crista da onda: Londres? Seria substituído a meio desta his-
Nova Iorque? Amesterdão? tória por Peter Machado, quando
decide tentar a sorte em Paris. Rui
Berlim? Lisboa? Sim, Vasco não foi apenas fotógrafo no
Rock Rendez Vous: durante o dia tra-
estávamos em Lisboa balhava na Dansa do Som, editora
criada por Guia para, em paralelo aos
a dançar no Rock Rendez Vous Concursos de Música Moderna que
revelaram nomes como os Mler Ife
Ana Cristina Ferrão Radialista e autora do prefácio Dada, Mão Morta, Sitiados, Essa
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 31
PETER MACHADO
Entente ou Radar KadaÆ, dinamizar
e dar visibilidade ao novo talento
musical que pretendia ver no palco.
“De olhos fechados, surfámos a
crista da onda: Londres? Nova Ior-
que? Amesterdão? Berlim? Lisboa?
Sim, estávamos em Lisboa a dançar
no Rock Rendez Vous”. Quem se ima-
gina de olhos fechados, na noite em
que chegara de Amesterdão com o
marido, o histórico radialista António
Sérgio, é Ana Cristina Ferrão, radia-
lista, produtora, autora dedicada a
preservar a memória da nossa histó-
ria do rock. Aterraram, deixaram as
malas em casa e correram com dois
álbuns trazidos dos Países Baixos,
Boy, dos U2, e Sandinista, dos Clash .
De olhos fechados na pista, dançou
os discos acabados de sair, mas ainda
inéditos em Portugal, que Sérgio leva-
ra à cabina de som. Era Lisboa, Por-
tugal, 1980.
Uma comunidade
Entramos no livro e vemos: é o Rock
Rendez Vous a apresentar-se nova-
mente perante nós, 34 anos depois
do encerramento, assinalado com
dois dias de leilão de material em
Julho de 1990. Durante uma década
foi o clube em que todas as bandas,
de todo o país, ambicionavam tocar.
Era o espaço que acolhia e conferia
um sentido de comunidade a todas as
imensas minorias que compunham
o mosaico musical exterior ao mains-
tream — góticos, rockabillies, metalei-
ros, punks, os Crise Total, Emílio e a
Tribo do Rum, M’as Foice, Cães
Vadios, Ocaso Épico, Street Kids. Ali,
ganhavam palco e credibilidade, por-
que a imprensa estava lá e divulgava
nas suas páginas, porque os agentes
das editoras assistiam, tiravam notas
e assinavam contratos.
“No Rock Rendez Vous havia lugar
para as mais diferentes expressões
musicais, porque partilhávamos um
sentimento de pertença. Indepen-
dentemente das diferentes roupa-
gens, havia uma identiÆcação
mútua”, diz Luís Carlos Amaro. Para
tal, não seria alheio o facto de o
Rock Rendez Vous se assumir como
espaço verdadeiramente democrá-
tico. Ao contrário do que era norma,
não havia selecção à entrada. Todos
podiam entrar, independentemen-
te do vestuário, e, como assinala
Ana Cristina Ferrão no prefácio, era
ignorada a regra patriarcal, clássica
da época, “só casais” / “as mulheres
não pagam”. Estas, de resto, apesar
de o Rock Rendez Vous ser um espa-
ço maioritariamente masculino,
consequência da moralidade retró-
grada ainda vigente (sair à noite
para dançar o rock não era para
raparigas de bem), começavam a
juntar-se à movida, livres em palco
e na plateia, agentes da mudança.
“Somos a primeira geração que
se pode divertir à vontade sem o
espectro da guerra, e isso muda
tudo”, assinala Rui Vasco. “Somos a
primeira geração em que os Ælhos
das classes mais baixas podem con-
tinuar a estudar e não têm de ir tra-
balhar aos 14 anos, como foram os
meus tios. A própria classe operária
começa a ganhar mais dinheiro e os
Ælhos podem comprar instrumen-
tos. Isso muda tudo”.
O Rock Rendez Vous foi a semen-
te que ajudou a que Çorescesse uma
cena independente, o chão sobre o
qual caminharam futuros nomes
históricos da nossa música. Quando
encerrou portas, fruto de constran-
gimentos Ænanceiros e, de certa
forma, vítima do seu próprio suces-
so, como explica Pedro Félix —
novos espaços Çoresciam noutras
zonas, com foco no efervescente
Bairro Alto, e novas empresas sur-
giram a organizar concertos de nor-
te a sul do país —, já deixara a sua
marca. Hoje temos salas espalhadas
por todo o país, diversas estruturas
independentes, álbuns a sair com
regularidade. “Mas nunca tivemos
uma sala que criou músicos de pro-
pósito para lá irem tocar, que criou
uma editora para tentar sustentar a
música que lá passava”, nota Rui
Vasco.
Em Rock Rendez Vous — Uma his-
tória em Imagens, preto e branco a
conferir aura intemporal às bandas,
ao público, aos bastidores, ao mosh,
como era desejo de Luís Carlos
Amaro, ou privilegiando as imagens
menos óbvias, como no caso de Rui
Vasco (os GNR nos bastidores e Vítor
Rua, que estava de saída, com o ros-
to escondido por um lenço; os Xutos
prévios à formação clássica, em trio
ou com Francis na guitarra; João
Peste num ringue em inusitada ses-
são de rock e boxe), temos perante
nós um riquíssimo pedaço da histó-
ria musical portuguesa, testemu-
nhamos um despertar geracional.
Aqui, a vivacidade, o entusiasmo
febril, o desejo de vida de um dia
inicial. Irrepetível.
32 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024

Poesia Pública Por Francisca Camelo

sonhar: verbo intransitivo 1. Ter um sonho ou sonhos.

2. Fantasiar; devanear.
3. Ter ideia Æxa.
4. Cuidar em.
5. Pensar com insistência em.

“sonhar”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

1. por pô-los no mundo

o ruy belo tinha aqueles versos e anos mais tarde muito enraivecida
pedem-me que escreva poemas em que acredito tanto, por Ænalmente ter tempo para isso
sobre revolução “não achas que a esplanada
mas hoje acordei triste e é uma pequena pátria e deste modo,
não se fazem revoluções a que somos Æéis?” engelhada, quase ausente,
sem alegria. sairei um dia à rua de chinelos
quanto a isso: já mudei de país, sim, só comprar Çores
há quanto tempo não festejamos? voltei, sim, decidi Æcar, sim (mesmo que fora da época,
a verdade é que as esplanadas mesmo que ainda faça frio em abril,
há quanto tempo não há são tão belas aqui como em qualquer isto, se ainda houver abril),
dinheiro para comprar Çores? outro lugar
há quanto tempo não há mas sim, sairei,
tempo para plantar uma casa? e se Æquei foi mais por teimosia com algumas lágrimas
que patriotismo, é que há qualquer muitas memórias e um cravo antigo
(uma casa para uma família coisa nesta língua pregado por dentro do corpo
demora que me prende à terra
200 a 500 mil euros e isso é uma espécie de maldição. e voltando a casa
a plantar) prometo sentar-me à janela,
2. para com todo o vagar
eu não quero sair daqui. assistir ao incêndio.
não quero, não quero, ontem fomos passear de mãos dadas:
conheço estas pessoas apontamos, sonhando, não, daqui eu não saio:
o cheiro destas ruas a padaria para cada uma das casas estas são as ruas que plantei
que tem o melhor pão o restaurante que não poderemos comprar na minha memória futura.
que já esteve
tantas vezes nessa mesma noite 3.
com o sinal de sonhei que escolhia a cor
trespasse das cortinas da nossa futura janela as cortinas com que sonhei
volta e meia retiram-no são leves, diáfanas,
e nós pensamos, felizes, (falo de uma janela rachada, dançantes:
é desta que o senhor arnaldo se safou, matematicamente apontada são tão vermelhas
mas umas semanas depois para um mar que não se alcança que ardem vivas,
lá volta o raio da placa à primeira vista)
ou então observamos como labaredas inaudíveis
o homem do café da frente assim de repente, já que há sobre o mar.
que com os seus setenta anos utopia e verbo intransitivo, peço também
ainda vende tabaco avulso, um alpendre, uma varanda,
abre estaminé sete dias por semana: a felicidade serem dois metros quadrados
ele e a mulher, sete dias por semana ali, suspensos pelo sonho de qualquer coisa
das nove da manhã às nove da noite, ainda por cumprir
nunca os vi de férias
nunca os vi felizes sou francamente ignorante em quase tudo
imagino se terão os seus corpos uma forma própria e não tenho muitas certezas
do lado de trás daquele balcão mas quero uma casa
onde possa parir
e é triste mas eu preÆro um ou dois Ælhos
esta coisa triste que são as ruas que conheço vê-los crescer
a qualquer outra coisa triste também, Æcar muito feliz

Francisca Camelo nasceu no Porto em 1990: é poetisa e diseuse. Tem poemas em diversas antologias e revistas, tendo sido traduzida em espanhol, grego, francês e
alemão. Autora dos livros Cassiopeia; Photoautomat; O Quarto Rosa, A Importância do Pequeno-almoço e Quem me comeu a carne. Organiza encontros de poesia e
conversas com outros poetas, no seu projecto Sin.cera.

Poesia Pública é uma iniciativa do Museu e Bibliotecas do Porto comissariada por Jorge Sobrado e José A. Bragança de Miranda, com o apoio media do PÚBLICO. Ao longo de 50
dias publicaremos 50 poemas inéditos de 50 autores sobre revolução. Veja mais em publico.pt

No que toca à alimentação saudável, Conceição
Calhau desaÄa-nos a voltar às origens
Dieta mediterrânica, comer a horas e em família, escolher produtos sazonais, cozinhar comida de tacho,
andar ao sol e fazer exercício, propõe académica e especialista em ciências da nutrição
Bárbara Wong
Há dietas com todos os nomes (da
cetogénica à paleolítica), há dietas
para tudo (para perder peso a regu-
lar o intestino), há propostas para
fazer jejum intermitente ou para
comer de três em três horas. Há
modas como as dos detoxes, dos
smoothies, das gorduras saudáveis,
dos superalimentos... Conceição
Calhau, professora de Bioquímica
Nutricional do curso de Medicina,
na Nova Medical School, em Lisboa,
lança amanhã um livro cujo título
diz tudo, Deixemo-nos de Tretas – A
ilusão da comida saudável, em que
procura desmistiÆcar muitas destas
propostas e acredita que comer sau-
dável é regressar à dieta mediterrâ-
nica.
A especialista constata que, numa
era de tanta informação e desinfor-
mação, quanto mais se sabe acerca
de alimentação e nutrição, pior se
come. E isso tem reÇexos, mais cedo
ou mais tarde, na saúde de cada um
de nós. E a questão não é só a obe-
sidade — cuja prevalência em Portu-
gal é de 68% da população adulta
com excesso de peso ou obesidade
e de 29% de obesidade —, mas outras
doenças que vão do coração à dia-
betes, passando pelas auto-imu-
nes.
O que é uma alimentação saudá-
vel? “Eu já tenho alguma resistência
em utilizar o adjectivo saudável por-
que se vulgarizou”, começa por res-
ponder Conceição Calhau ao PÚBLI-
CO. Cada alimento tem uma função
que, em excesso, pode não ser ade-
quado. “A verdade é que os alimen-
tos têm compostos, são muito com-
plexos e não devemos cair em exa-
geros”, resume
A dieta mediterrânica privilegia os
produtos locais e sazonais — Concei-
ção Calhau lembra que alimentos
como a soja ou a quinoa vêm de
outros continentes e que têm uma
forte pegada ambiental; assim como
as frutas e os legumes fora de época
fazem percursos semelhantes, com a
agravante de serem colhidos ainda
verdes —; propõe as leguminosas, os
cereais, os hortícolas e a fruta; reco-
menda carne uma vez por semana e
Beckham vence guerra contra a falsificação
David Beckham venceu a batalha legal contra as
150 empresas que falsificavam produtos com o seu
nome. O antigo futebolista ambicionava uma
indemnização de 281 milhões de euros, no entanto
só conseguiu cerca de 412 mil euros de 15
revendedores.
Deixemo-nos de Tretas – A ilusão da comida saudável é o livro que Conceição Calhau lança amanhã
peixe três vezes; os lacticínios, “sobre-
tudo fermentados”; e “comida de
tacho” — os ensopados, caldeiradas,
jardineiras, as sopas, em nenhuma
destas formas de cozinhar se perdem
nutrientes, como acontece com os
cozidos ou os grelhados.
“É bastante simples. Se eu Æzer
arroz com feijão, peixe e brócolos, eu
tenho lá os quatro elementos neces-
sários. Não preciso de fazer primeiro
o arroz, cozer os brócolos, o peixe...
Comida de tacho e
comer em família,
de preferência
fazendo a última
refeição cedo,
é o ideal
Conceição Calhau
Professora
Isso Æca mais demorado. Agora se
puser tudo para dentro do tacho, é
melhor. É preciso desmistiÆcar”, diz,
criticando os proÆssionais de saúde
que ainda aconselham dietas com
cozidos e grelhados. Comer de tacho
e comer em família, de preferência
fazendo a última refeição cedo, por
volta das sete da tarde, é o ideal. A
professora dá o exemplo de uma ida
ao supermercado, ao Ænal do dia, em
que as compras feitas são as de ali-
mentos processados porque as pes-
soas perderam o hábito de cozinhar
e acreditam ser mais rápido comer
desse modo.
Doenças e alimentação
No livro refere que a maior incidência
de obesidade se veriÆca nos países
que deviam fazer a dieta mediterrâ-
nica, além de Portugal, Espanha,
França, Itália e Grécia. Porquê? “A
globalização também trouxe a globa-
lização alimentar e, portanto, passá-
mos a ter muito mais a comida ame-
ricana e de outros países. Se calhar,
passámos a ter menos apreço por
aquilo que era tipicamente portu-
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 33
ímpar
NUNO FERREIRA SANTOS
guês. Temos cada vez menos a noção
do que é sazonal e local”, diz, fazendo
referência à “adesão maciça” a refri-
gerantes e fast-food porque se acredi-
tou que “as leguminosas eram para
os pobres”.
Além disso, houve a emancipação
da mulher, Conceição Calhau lembra-
se de que em casa dos pais o jantar
era sempre às sete porque a mãe era
doméstica. “Continuamos hipocrita-
mente a falar das refeições à noite
mais cedo, a falar da importância de
preparar as refeições em família, e
depois vemos que o peso cai maiori-
tariamente na Ægura feminina”,
lamenta.
“Portanto, os números falam por
si. Continuamos todos a falar cada
vez mais sobre alimentação, de com-
portamentos muito saudáveis, mas
continuamos a ter muita doença e
muita doença associada a compor-
tamentos alimentares inadequados,
que continua a ser um dos principais
factores de risco”, constata, lamen-
tando que as pessoas só se preocu-
pem com a alimentação quando já
estão doentes. “Sabemos que somos
Guia
publico.pt/impar
dos países da OCDE que têm menos
anos de saúde após os 65 anos. A
média são 12 e em Portugal são sete.
Obviamente que temos a população
com mais tempo de vida, mas doen-
te, e isso é um peso para o Sistema
Nacional de Saúde.”
Conceição Calhau defende que é
preciso educar desde cedo para a
alimentação e dá o exemplo da facul-
dade onde trabalha, onde há uma
actividade de Verão em que as crian-
ças aprendem a fazer uma refeição
adequada, em que se “desmistiÆca a
complexidade de uma alimentação
mediterrânica, até a questão de ser
caro, porque não é”. No Ænal do dia,
“os miúdos são sugados por activida-
des extracurriculares e trabalhos de
casa”, por isso, “já não fazem parte
da dinâmica de preparar a refeição”.
“A maioria não sabe como se prepa-
ra uma sopa.” A investigadora con-
cede que não seja fácil jantar o mais
cedo possível, mas defende que “é
uma questão de disciplina”, por
exemplo preparar as refeições no
Æm-de-semana.
Se há tema da moda que Concei-
ção Calhau concede fazer sentido é
o do jejum intermitente, que, para a
especialista, não é mais do que jantar
cedo e só voltar a comer ao pequeno-
almoço do dia seguinte, uma pausa
que é essencial para o corpo funcio-
nar bem. “É importante fazer pausas
entre as refeições”, sublinha. “Meta-
bolicamente, precisamos da pausa
nocturna”, insiste, fazendo referên-
cia à necessidade do corpo “de fazer
reset”. Por isso, o jejum intermitente
“não é propriamente moda”, mas é
um comportamento que ajuda à
“nossa gestão de saúde ou gestão de
peso”.
Para fechar o ciclo da dieta medi-
terrânica — não esquecer o uso do
azeite e das ervas aromáticas na con-
fecção dos pratos —, Conceição
Calhau refere a importância de uma
vida activa, fazer exercício e andar ao
ar livre. E volta à alimentação para
resumir as duas prioridades: a distri-
buição das refeições ao longo do dia
e a qualidade do que se come. “Se
cumprirmos estas duas premissas,
acho que muitos dos problemas esta-
vam resolvidos.”
34 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
Guia
Cinema
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, 100. T. 214221030
SOS - Salvem a Escola 13h15, 17h15;
A Flor do Buriti M12. 19h20; Retrato de
Família com Teatro de Marionetas M12.
13h15; Evil Does Not Exist - O Mal Não
Está Aqui 19h40; Uma Vida Singular M12.
15h20, 17h30, 21h45; O Hotel Palace M12.
15h15; Back to Black M14. 21h45; Lupin III:
O Castelo de Cagliostro M12.
13h15; Revolução (sem) Sangue M12.
15h05, 21h40; Vincent Tem de
Morrer 17h05; Em Nome da Terra 15h,
17h10, 19h25; O Rapto 19h05, 21h40
Cinema City Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 214221030
O Rapaz e a Garça M12. 19h35; Patos! M6.
13h15 (VP); Dune - Duna: Parte Dois M12.
17h50, 19h40, 21h20; O Panda do Kung
Fu 4 M6. 13h15, 15h20, 17h25, 19h30
(VP); Caça-Fantasmas: O Império do
Gelo M12. 13h, 15h35; Godzilla x Kong: O
Novo Império M12. 13h30, 15h45; Homem
Macaco M12. 22h; Uma Vida Singular M12.
15h15, 17h25; A Minha Fada Traquina M6.
13h40 (VP); O Hotel Palace M12. 13h30,
19h50; Back to Black M14. 15h15, 19h,
21h30; Os Três Mosqueteiros: Milady
M12. 21h35; Lupin III: O Castelo de
Cagliostro M12. 21h50; Revolução (sem)
Sangue M12. 15h35, 17h35; Cabrini 18h30,
21h25; Da Vinci: O Grande Inventor 15h30,
17h40 (VP); Guerra Civil M14. 13h10, 15h20,
17h30, 19h40, 21h50
Cinema Fernando Lopes
Cp. Grande. T. 217515500
Salon Kitty, O Bordel dos
Nazis 21h; Vincent Tem de Morrer 18h45;
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
Retrato de Família com Teatro de
Marionetas M12. 18h15; De Cor
(ações) 14h15, 20h; O Rapto 15h45, 21h30
Cinemas Nos Alvaláxia
R. Francisco Stromp. T. 16996
Dune - Duna 13h35, 17h05, 21h05; O Panda
do Kung Fu 4 M6. 13h25, 16h05, 18h25
(VP); Godzilla x Kong: O Novo Império
M12. 14h10, 17h, 21h; Imaculada M16. 13h55,
16h25, 18h35, 20h55; Homem Macaco M12.
19h20, 22h; O Génio do Mal: O Início M16.
20h55; Uma Vida Singular M12. 13h15,
15h45, 18h05, 20h45; Back to Black M14.
13h20, 16h, 18h40, 21h20; Os Três
Mosqueteiros: Milady M12. 13h50, 16h20,
19h10, 21h50; Revolução (sem)
Sangue M12. 14h05, 16h35, 19h15, 21h45;
Da Vinci: O Grande Inventor 13h50, 16h10
(VP); Em Nome da Terra 18h50,
21h40; Encontro Infernal M16. 13h45, 16h15,
19h05, 21h25; Guerra Civil Atmos - 13h40,
16h30, 19h, 21h30; O Rapto 13h30, 16h20
Cinemas Nos Amoreiras
C.C. Amoreiras. Av. Engº Duarte Pacheco.
Dune - Duna: Parte Dois M12. 13h10,
20h30; O Panda do Kung Fu 4 M6. 13h30,
15h50 (VP); Uma Vida Singular M12.
13h40, 16h20, 19h, 21h40; O Hotel
Palace M12. 21h30; Back to Black M14.
13h20, 16h, 18h40, 21h20; Os Três
Mosqueteiros: Milady M12. 13h20, 16h10,
18h50; Revolução (sem) Sangue M12.
17h; Cabrini 14h, 17h20, 20h50; Em Nome
da Terra 18h20; Guerra Civil M14. 13h10,
15h40, 18h10, 21h; O Rapto 21h10
Cinemas Nos Colombo
Edifício Colombo, loja A203. Av. Lusiada.
Dune - Duna: Parte Dois M12. 20h20,
23h10; Godzilla x Kong: O Novo
Império M12. 24h; Imaculada M16. 13h,
17h30, 19h40, 22h, 00h30; Homem
Macaco M12. 21h20, 00h05; Back to
Black M14. 13h10, 15h50, 18h40, 21h30,
00h10; Revolução (sem) Sangue M12.
13h40, 16h20, 18h50, 21h20,
23h40; Cabrini 13h40, 17h20, 20h30,
23h30; Da Vinci: O Grande Inventor 13h15,
O Rapto
Estreias
O Rapto
De Marco Bellocchio. Com Paolo
Pierobon, Fausto Russo Alesi,
Barbara Ronchi. FRA/ITA/ALE.
2023. 134m. Drama. M12.
O italiano Edgardo Mortara
nasceu em 1851, no seio de uma
família judia. Após ter Æcado
doente, uma empregada
baptizou-o às escondidas.
Segundo a doutrina católica da
época, o baptismo era
considerado um sacramento
irrevogável. Quando a Igreja
tomou conhecimento disso, tinha
ele seis anos, decidiu que tinha de
ser retirado à família.
De Cor (ações)
De Benoît Jacquot. FRA. 2022.
76m. Documentário. M12.
Festival de Avignon, Verão de
2021. Isabelle Huppert prepara-se
para protagonizar “O Cerejal” de
Anton Tchékhov, enquanto
Fabrice Luchini ensaia textos de
Nietzsche. Seguindo o seu
dia-a-dia nas semanas que
antecedem as estreias, o
realizador Benoît Jacquot
mostra-os como nunca os vimos.
Guerra Civil
De Alex Garland. Com Nick
Offerman, Kirsten Dunst,
Wagner Moura, Jefferson White.
EUA/GB. 2024. Acção. M14.
Num futuro não muito distante,
os EUA encontram-se em guerra
civil. Enquanto as forças rebeldes
se direccionam para a cidade de
Washington com intenções de
invadir a Casa Branca, um grupo
de repórteres de guerra tenta
chegar antes deles.
Em Nome da Terra
De DK Welchman, Hugh
Welchman. Com Kamila
Urzedowska (Voz), Robert
Gulaczyk (Voz), Miroslaw Baka
(Voz), Sonia Mietielica (Voz).
Lituânia/POL/Sérvia. 2023.
114m. Drama, Animação.
Jagna Paczesiówna, uma jovem
camponesa, está apaixonada por
Antek, casado e Ælho de Maciej
Boryna, o homem mais rico da
aldeia. Quando Maciej pede a mão
de Jagna em casamento,
oferecendo-lhe um dote que tirará
a família da miséria, toda a
dinâmica se altera.
Da Vinci: O Grande Inventor
De Jim Capobianco, Pierre-Luc
Granjon. Com Daisy Ridley (Voz),
Marion Cotillard (Voz), Matt
Berry (Voz), Stephen Fry (Voz).
EUA/IRL/FRA. 2023. 100m.
Animação. M6.
Co-produção entre os EUA,
França e Irlanda, um Ælme
animado que conta a história de
Leonardo da Vinci (1452-1519)
quando aceita o convite de
Francisco I, rei de França e
patrono das artes, para se juntar à
sua corte.
Cabrini
De Alejandro Monteverde.
Com Cristiana Dell’Anna, John
Lithgow, David Morse, Giancarlo
Giannini. EUA. 2024. 142m.
Drama, Biografia. M12.
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
Francesca Saverio Cabrini, hoje
conhecida por Santa Francisca
Xavier Cabrini, nasceu em Itália,
em 1850. Em 1889, partiu para
Nova Iorque para iniciar um
trabalho social com imigrantes
italianos. Depois de muitas
diÆculdades, foi responsável por
erguer, ao longo de três décadas,
dezenas de instituições de apoio
aos mais desfavorecidos.
Encontro Infernal
De Yuval Adler. Com Nicolas
Cage, Joel Kinnaman, Alexis
Zollicoffer, Cameron Lee Price.
EUA. 2023. 90m. Thriller. M16.
Um homem pára o carro no
parque de estacionamento do
hospital onde a sua mulher se
encontra para dar à luz.
Subitamente, um estranho
senta-se no banco de trás,
pede-lhe para escolher uma carta,
aponta-lhe uma arma e obriga-o a
continuar a marcha.
A E I O U:Um Breve
Alfabeto do Amor
De Nicolette Krebitz. Com
Sophie Rois, Udo Kier, Milan
Herms, Nicolas Bridet. ALE/FRA.
2022. 105m. Drama. M12.
Os destinos de Anna e de Adrian
cruzam-se pela primeira vez
quando ele, um jovem sem
ambições, lhe rouba a carteira no
meio da rua. Mais tarde
reencontram-se quando ela é
contratada para lhe dar
explicações. Contra todas as
probabilidades, tornam-se
amantes.
15h40, 18h (VP); Encontro Infernal M16.
12h40, 15h20, 18h10; Guerra Civil M14.
13h20, 16h, 18h50, 21h40, 00h20; Godzilla x
Kong: O Novo Império M12. 14h, 17h,
20h; Sleeping Dogs - A Teia M12. 20h50,
23h20; Guerra Civil M14. Sala Imax - 12h50,
15h30, 18h20, 21h10, 23h50
Cinemas Nos Vasco da Gama
C.C. Vasco da Gama, Parque das Nações.
Dune - Duna: Parte Dois M12. 19h,
22h35; Godzilla x Kong: O Novo
Império M12. 13h50, 17h, 20h50,
23h30; Back to Black M14. 16h40, 20h30,
23h20; Revolução (sem) Sangue M12.
14h; Cabrini 13h30, 17h30, 21h40; Da
Vinci: O Grande Inventor 13h40, 16h20
(VP); Guerra Civil M14. Sala Atmos
- 13h10, 16h, 18h40, 21h20, 23h50
Cinemateca Portuguesa
R. Barata Salgueiro, 39. T. 213596200
Daisy Miller - Uma Mulher às
Direitas 19h30; Alice nas Cidades M12.
15h30; Deixem-me ao Menos Subir às
Palmeiras... 19h30; 25 M16. 21h30;
Medeia Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213142223
Os Carabineiros 16h; Evil Does Not Exist
- O Mal Não Está Aqui 14h; No Interior do
Casulo Amarelo 18h; O Rapto 21h30;
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
Dias Perfeitos M12. 13h55, 18h55; Vidas
Passadas M12. 14h25; Os Excluídos M12.
13h30, 18h40; Dune - Duna: Parte Dois M12.
14h15, 17h45, 21h10; Ryuichi Sakamoto -
Opus M12. 16h05, 18h35; Evil Does Not
Exist - O Mal Não Está Aqui 14h10,
19h15; Sleeping Dogs - A Teia M12. 14h20,
16h50, 19h25, 22h; Homem Macaco M12.
13h25, 21h50; Uma Vida Singular M12.
13h50, 16h20, 18h50, 21h15; Miller’s Girl
- A Favorita M14. 16h45, 21h35; O Hotel
Palace M12. 17h, 19h20, 21h40; Back to
Black M14. 13h40, 16h25, 19h10, 21h45;
Os Três Mosqueteiros: Milady M12. 16h40,
21h50; Avó M14. 16h25, 21h30; Lupin III:
O Castelo de Cagliostro M12.
13h45; Revolução (sem) Sangue M12.
14h05, 16h35, 19h05, 21h35; Cabrini 13h35,
16h55, 21h50; Em Nome da Terra 16h15,
18h45, 21h25; Guerra Civil 14h, 16h30, 19h,
21h30; O Rapto 13h20, 16h10, 19h05, 21h55
Almada
Cinemas Nos Almada Fórum
R. Sérgio Malpique 2. T. 16996
Dune - Duna: Parte Dois M12. 13h50,
17h10, 20h30; O Panda do Kung Fu 4
M6. 12h50, 15h10, 17h30, 19h45
(VP); Caça-Fantasmas: O Império do
Gelo M12. 13h30, 16h; Godzilla x Kong:
O Novo Império M12. 12h50, 15h40,
18h20, 21h30; Imaculada M16. 12h55,
15h05, 17h25, 19h30, 21h40; Sleeping
Dogs - A Teia M12. 22h; Homem
Macaco M12. 18h35, 21h20; Uma Vida
Singular M12. 13h10, 16h30, 19h10,
21h30; Back to Black M14. 13h, 15h50,
18h30, 21h15; Os Três Mosqueteiros:
Milady M12. 13h05, 15h45, 18h25,
21h05; Revolução (sem) Sangue M12.
12h35, 15h15, 17h40, 20h20; Cabrini 12h30,
15h30, 18h55, 22h30; Em Nome da
Terra 15h20; Encontro Infernal M16. 18h40,
20h50; Guerra Civil M14. Sala Atmos -
13h15, 16h10, 18h50, 21h10; Guerra
Civil M14. Sala 4DX - 14h, 16h40, 19h, 21h50,
00h20
Amadora
Cinema City Alegro Alfragide
C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030
Dune - Duna: Parte Dois M12. 17h55,
19h40, 21h30; O Panda do Kung Fu 4
M6. 15h35, 17h40, 19h45, 21h50
(VP); Caça-Fantasmas: O Império do
Gelo M12. 15h20, 17h35; Godzilla x
Kong: Novo Império M12. 15h40,
19h40; Imaculada M16. 17h50,
19h50; Sleeping Dogs - A Teia M12. 19h35,
22h; Homem Macaco M12. 21h50; Uma
Vida Singular M12. 15h15, 17h25, 21h45;
O Hotel Palace M12. 15h40, 17h40, 21h55
; Back to Black M14. 15h25, 19h, 21h35;
Os Três Mosqueteiros: Milady M12.
15h35, 21h40; Lupin III: O Castelo de
Cagliostro M12. 19h50; Revolução
(sem) Sangue M12. 15h45, 17h50, 19h55;
Da Vinci: O Grande Inventor 15h15,
17h25 (VP); Guerra Civil M14. 15h20,
17h30, 19h40, 21h50
UCI Cinemas - Ubbo
Estrada Nacional 249/1, Venteira.
Dune - Duna: Parte Dois M12. 13h25,
16h50, 21h15; O Panda do Kung
Fu 4 M6. 13h55, 16h15, 18h35
(VP); Caça-Fantasmas: O Império
do Gelo M12. 13h45, 16h25, 19h05,
21h55; Godzilla x Kong: O Novo
Império M12. 13h20, 13h40, 16h05, 18h45,
19h15, 21h20; A Minha Fada Traquina M6.
14h25, 16h40 (VP); Back to Black M14.
13h30, 16h10, 18h50, 21h45; Os Três
Mosqueteiros: Milady M12. 13h35, 16h20,
18h55, 21h35; Encontro Infernal M16.
19h20, 21h40; Guerra Civil M14. 14h,
16h30, 16h45, 19h, 21h30, 21h50;
Bade Miyan Chote Miyan M14. 21h

Lazer
FESTAS
Dia Internacional dos
Monumentos e Sítios
TODO O PAÍS De 17/4 a 21/4.
Hoje celebra-se o Dia
Internacional dos Monumentos e
Sítios e a festa estende-se ao longo
da semana, de norte a sul do país.
Há horários alargados e entradas
livres em mais de uma centena de
monumentos e mais de 200
actividades alinhadas, entre visitas
guiadas e encenadas, concertos,
artesanato, debates, workshops,
dança, teatro, exposições, escape
room, ateliers, caminhadas e
palestras. Tudo inspirado no tema
desta edição, Catástrofes e
ConÇitos à Luz da Carta de Veneza,
documento adoptado em 1964
cujos princípios apontam para a
importância da conservação e do
restauro dos monumentos
históricos, não apenas para
salvaguarda da obra de arte em si,
mas também do testemunho
histórico que ela representa.
O mapa detalhado está disponível
em www.patrimoniocultural.gov.
pt/eventos2/dims/2024#.
TEATRO
A Grande Imprecação Diante
das Muralhas da Cidade
ÉVORA Teatro Garcia
de Resende. Dias 18/4 e 19/4,
às 19h. M/14. 8€
Uma peça sobre o amor, a perda e
uma luta levada ao limite. Fan
Chin-Ting, mulher de um pescador,
vê o seu marido ser recrutado,
contra vontade, para o Exército do
Grande Imperador da China. E é
convidada a participar num jogo de
vida ou de morte. São estas as
premissas da peça levada à cena
pelo Teatro das Beiras, que, no ano
em que comemora os seus 50 anos,
recupera o texto do dramaturgo
alemão Tankred Dorst, com
encenação de Gil Salgueiro Nave.
Sónia Botelho, Paulo Monteiro,
Bernardo Sarmento e Miguel Brás
compõem o elenco.
MÚSICA
Oren Ambarchi
LISBOA Igreja St. George.
Dia 18/4, às 22h. 15€
O multi-instrumentista australiano
regressa a Portugal para mostrar
os tons de Shebang, editado em
Setembro de 2022 e o mais
recente capítulo da sua discograÆa
em nome próprio.
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 35
Guia
Jogos Jogue também online.
Palavras cruzadas, Totoloto 16 24 28 31 33 1
bridge e sudoku em
1.º Prémio 10.300.000€
publico.pt/jogos
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios
Cruzadas 12.404 Paulo Freixinho
palavrascruzadas@publico.pt
HORIZONTAIS: 1. Pedro (...), ministro da Economia. Coberto de mato. 2. Ordenar,
encetar. 3. Indivíduo que vende coisas usadas. Interjeição que exprime, por ono-
matopeia, uma pancada ou choque com ruído seco. 4. Possui. (...) Michel, presi-
dente do Conselho Europeu. 5. Gume. Conversa (pop.). Variante do pronome “o”.
6. Teatro Infantil de Lisboa. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura. 7. “(...) alegre, ganha vontades”. Adorar. 8. O fruto da ateira (Brasil).
Amoroso. 9. Maria do (...) Palma Ramalho, ministra do Trabalho, Solidariedade e
Segurança Social. Redução de Internet. 10. Palavras-chave relevantes (Web 2.0).
Contagiar. 11. Argola. Apronta.
VERTICAIS: 1. Restabelece. Missiva. 2. Ovo que se coloca no sítio em que se quer
que as galinhas ponham os ovos. Rebocar. 3. Parcela. Aparição sobrenatural.
4. Graça (fig.). Vaso de pedra para líquidos. Pessoa notável na sua especialidade.
5. Abertura de um vaso. Seguir até. 6. Continente perdido. Símbolo de hectolitro.
Procrastinar. 7. Mesa sagrada. Que ou pessoa que vê mal ao longe. 8. Campo de
concentração, criado pelo Estado Novo, na ilha de Santiago (Cabo Verde). Empresa
Pública. 9. Verbal. Campo fortificado, entre os indígenas da África Ocidental.
10. Por o. Comer a ceia. 11. Muito gordo. Égua nova.
Solução do problema anterior
HORIZONTAIS: 1. Martins. Bem. 2. Raio. Ar. 3. Tutear. 4. Tóquio. Luz. 5. Usual. AE. OT. 6. Te. Hastear.
7. Rumba. Ainda. 8. Um. STOP. 9. Fanatismo. 10. Adicional. 11. Aguaram. Oca.
VERTICAIS: 1. Mó. Tu. Rufia. 2. Póstuma. 3. Rr. Quem. Nau. 4. Tatua. Brada. 5. II. Ilha. TIR. 6. Noto.
Dica. 7. Asa. Sim. 8. Atletismo. 9. Breu. Entono. 10. Azoado. AC. 11. Mor. Trapola.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge fanhabridge.pt Sudoku www.indigopuzzles.com
Dador: Sul sequência imperfeita. Assim, Problema 12.574 (Fácil)
podemos assumir que Este deve- Solução 12.572
Vul: NS
rá ter pelo menos uma das três
cartas importantes daquele trio, e
NORTE
Ƅ AKJ4 para bloquear as comunicações
ƆAJ entre os defensores temos que
Ƈ972 fazer desde logo o Ás de copas!
ƅQJ73 Jogamos um pau para o Rei e
outro caso a defesa recue o seu
OESTE ESTE
Ás, mas a defesa não conseguirá
Ƅ 83 Ƅ 97652
Ɔ Q10852 ƆK7 encaixar mais do que duas vazas
ƇQ65 Ƈ 103 a copas e o contrato está assegu-
ƅA98 ƅ10542 rado. Mesmo em torneio de
SUL pares, esta é a boa linha de jogo.
Ƅ Q10 Solução 12.573
Ɔ9643 Considere o seguinte leilão:
Ƈ AKJ84
ƅ K6 Oeste Norte Este Sul
1Ƅ 3ƅ ?
Oeste Norte Este Sul
1Ƈ O que abre em Sul com a seguin-
passo 1Ƅ passo 1ST te mão?
passo 3ST Todos passam Ƅ87 ƆAK65 ƇAQJ95 ƅ64
Leilão: Qualquer forma de Bridge. Resposta: Marque 3Ƈ. Com esta
Problema 12.575 (Difícil)
força de jogo é recomendado
Carteio: Saída: 5Ɔ. Qual a melhor mostrar as cinco cartas de ouros
maneira de cartear este contrato? em vez do dobre, pois o parceiro
está forçado a falar novamente e
Meteorologia
estamos em posição de descobrir
Solução: Temos sete vazas à
se será possível jogar em copas, A página de
cabeça e o naipe de paus garan-
te-nos as duas vazas que faltam. espadas, sem trunfo ou mesmo meteorologia não
O que pode correr mal? em ouros, partida pelo menos. se publicará até
Esta é a pergunta que muitos ao dia 28 de Maio
jogadores se esquecem de fazer e é substituída pela
na altura certa. Nesta mão, iniciativa Poesia
somente uma distribuição 5-2 nos Pública, com
pode incomodar, pois com quatro a publicação de
copas e o Ás de paus terá a defe- 50 poemas inéditos
sa as vazas suficientes para nos nos 50 anos do
derrotar. Como o impedir? 25 de Abril.
Bom, com KQ10xx Oeste não
teria saído à sua quarta carta mas
sim ao Rei, a cabeça de uma
36 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
Guia
CINEMA
Kill Bill - A Vingança: Vol. 1
Cinemundo, 22h30
Uma Thurman veste a pele (e o
macacão amarelo) da mulher
sedenta de fazer justiça e servir
vingança sangrenta, como
protagonista do épico em dois
volumes de Quentin Tarantino. O
segundo é emitido daqui a uma
semana, à mesma hora.
Shot Caller - Sobreviver
a Todo o Custo
AMC, 00h23
Jacob tinha tudo: uma família
adorável, uma boa casa e uma
carreira de sucesso como corretor
na bolsa. Mas tudo muda quando
se envolve num acidente de viação
fatal, é acusado de homicídio
involuntário e vai parar a uma
prisão de segurança máxima. É o
início de uma metamorfose
violenta que o vai converter num
recluso agressivo e temido. E nem
a saída do cárcere vai pôr Æm ao
pesadelo. Protagonizado por
Nikolaj Coster-Waldau, o Ælme é
escrito e dirigido por Ric Roman
Waugh.
SÉRIES
A Gentleman in Moscow
SkyShowtime, streaming
Ewan McGregor dá vida e bigode
ao conde Alexander Rostov, um
aristocrata apanhado na
Revolução de Outubro de 1917,
mas poupado pelos bolcheviques.
Só não pode sair do quarto no
sótão de um luxuoso hotel. Nesse
caso, será executado. No elenco
entram também as actrizes Mary
Elizabeth Winstead, que é casada
com McGregor, e a portuguesa
Inês Pires Tavares. Criada por Ben
Vanstone, a minissérie é uma
adaptação do romance de Amor
Towles. Desenrola-se em oito
episódios: três a estrearem-se hoje
e os restantes semanalmente.
A Lição
RTP2, 2h03
Oportunidade para (re)ver a série
israelita, premiada no festival
Canneseries 2022, cujo enredo vai
da ideologia na sala de aula até ao
cancelamento via redes sociais,
passando pelo racismo, pelo
choque de gerações e pelo poder
(inspirador ou destrutivo) da
eloquência. Baseia-se na história
real de uma discórdia que
deÇagrou numa escola, entre um
professor de Educação Cívica e
uma estudante, e rapidamente se
propagou à comunidade, aos
meios de comunicação e à arena
política do país, para além de ter
mudado para sempre as vidas dos
protagonistas. A Lição é dada em
seis episódios, de segunda a sexta.
Televisão
RTP1
6.00 Bom Dia Portugal 10.00 Praça
da Alegria 12.59 Jornal da Tarde 14.15
Hora da Sorte - Lotaria Popular 14.23
Escrava Mãe 15.06 A Nossa Tarde
17.30 Portugal em Directo 19.06
O Preço Certo 19.59 Telejornal
21.01 António Ramlho
Eanes - Palavra
Que Conta
21.50 Joker
22.51 5 para a Meia-Noite
0.01 E Depois da Revolução?
0.47 Grande Entrevista: Daniela
Melchior 1.46 S.W.A.T.: Força de
Intervenção 2.27 Terra 4.0 2.42 Do
Algarve à Lapónia 3.00 Escrava Mãe
SIC
6.00 Edição da Manhã 8.10 Alô
Portugal 9.45 Casa Feliz 12.59
Primeiro Jornal 14.45 Linha Aberta
16.25 Júlia 18.20 Morde & Assopra
19.00 Jornal da Noite
19.50
50 Futebol:
Marselha
rselha x Benfica
(Liga
ga Europa)
22.10 Senhora do Mar
23.30 Papel Principal - A Vingança
0.00 Papel Principal
0.25 Travessia
1.00 Passadeira Vermelha 1.55
Resumo Liga Europa/Liga Conferência
2.10 Todas as Artes 2.55 Volante 3.10
Terra Brava
Os mais vistos da TV
Quarta-feira, 16
Jornal da Noite
% Aud. Share
SIC 9,4
Cacau TVI 8,9
Big Brother-Especial TVI 8,2
Jornal Nacional TVI 7,6
O Preço Certo RTP1 6,9
FONTE: CAEM
RTP2
6.00 A Fé dos Homens 6.32 Repórter
África 7.00 Espaço Zig Zag 10.40
Folha de Sala 10.44 Inspirando o
Futuro - SingularityU Portugal 11.13
No Dia em Que... 12.12 A Rainha e a
Bastarda 12.55 Biosfera 13.24
Estrangeiros na Madeira 13.52
Folha de Sala 14.00 Sociedade Civil
15.02 A Fé dos Homens 15.36 Raízes
Sonoras 16.06 Segredos das Rochas
17.01 Espaço Zig Zag 20.38 Folha de
Sala 20.42 Castle Howard ao Longo
das Épocas 21.30 Jornal 2
22.01 Prisão e Redenção 22.53
Folha de Sala 23.04 Justiça Artificial:
Justiça na Era do Colonialismo Digital
23.58 Cinemax 1.01 Sociedade Civil
2.03 A Lição 2.39 Raízes Sonoras
3.10 Folha de Sala 3.16 Músicas de
África 4.15 Nha Terra Nha Cretcheu
5.15 Volta ao Mundo 5.27 Solares e
Palácios dos Açores 5.58 A Fé dos
Homens
TVI
6.15 Diário da Manhã 9.55 Dois às
10 12.58 TVI Jornal 14.00 TVI - Em
Cima da Hora 14.50 A Sentença
15.45A Herdeira 16.30 Goucha
17.45 Big Brother
19.57
19 Jornal Nacional
acional
21.45 Big Brother
22.10 Cacau
23.00 Festa É Festa
23.55 Big Brother
2.15 O Beijo do Escorpião
RTP1 9,9%
% INFORMAÇÃO
19,1
RTP2 0,6
19,4 SIC 15,3
TVI
15,7
16,2 16,1
Cabo
18,4
41,6
TVCINE TOP
17.15 Help 19.00 Os Fabelmans 21.30
Curral de Moinas - Os Banqueiros do
Povo 23.15 Are You There, God? It’s Me,
Margaret. 1.00 The Vigil - O Despertar
do Mal
STAR MOVIES
17.49 Lara Croft: Tomb Raider 19.25 Lara
Croft: Tomb Raider — O Berço da Vida
21.15 The Grey — A Presa 23.14
Vingança Perfeita 1.10 Sem Saída
HOLLYWOOD
18.00 Liga da Justiça 19.55 Comando
21.30 Mr. e Mrs. Smith 23.30 Lost Girls
and Love Hotels 1.10 Homem em Fúria
AXN
17.53 The Rookie 19.29 Mentes
Criminosas 21.05 Hudson & Rex 22.00
Investigação Criminal 22.55 Meg:
Tubarão Gigante 0.47 Investigação
Criminal
STAR CHANNEL
17.13 Investigação Criminal: Los Angeles
18.47 Magnum P.I. 20.26 Hawai Força
Especial 22.15 The Equalizer 23.04
Chicago P.D. 0.47 Magnum P.I.
DISNEY CHANNEL
17.40 A Maldição de Molly McGee 18.30
Vamos Lá, Hailey! 18.55 Monstros: Ao
Trabalho! 19.15 Hamster & Gretel 19.40
Os Green na Cidade Grande
DISCOVERY
17.12 Mestres do Restauro 18.09
Criaturas Misteriosas com Forrest
Galante 19.06 Aventura à Flor da Pele
21.00 Custom Carolina 22.54 Irmãos
Diesel 23.51 O Segredo das Coisas:
Carros de Sonho 0.47 Custom Carolina
HISTÓRIA
17.06 Histórias Amaldiçoadas 18.00
Mistérios no Gelo 20.08 Os Maiores
Mistérios da História 22.15 A História do
Universo em Duas Horas 23.47
Os Maiores Mistérios da História
ODISSEIA
17.45A China Selvagem 18.30 Mundo à
Vista 18.48 Mascotes com as Patas
Partidas 19.15 Escola de Cachorros
20.51 O Primeiro Amigo do Homem
22.31 Cães Muito Mal-Educados
António Ramalho Eanes -
Palavra Que Conta
RTP1, 21h01
Fátima Campos Ferreira entrevista
o antigo Presidente da República
António Ramalho Eanes. Do alto
da experiência e do espírito
observador dos seus 89 anos, e ao
embalo do cinquentenário da
Revolução dos Cravos, partilha a
sua opinião sobre temas como o
cenário político em Portugal, o
estado das Forças Armadas ou a
guerra que assombra a Europa,
sem deixar de sublinhar a
importância do 25 de Novembro
de 1975 para a democracia
portuguesa. A este propósito, vale
a pena assistir ao episódio
Ramalho Eanes Saiu à Rua, da
série documental No Dia Em Que…
(às 11h13, na RTP2).
DOCUMENTÁRIOS
Justiça Artificial: Justiça na Era
do Colonialismo Digital
RTP2, 23h04
Simón Casal realiza este ensaio
sobre a integração da inteligência
artiÆcial no sistema judicial.
Nalguns países, o uso de
algoritmos nesta área já é uma
realidade. É uma revolução digital
em curso. Por um lado, ambiciona
livrar a justiça do viés humano e
de inÇuências externas, para
garantir a independência e a
imparcialidade. Por outro, terá a
capacidade de escapar aos
preconceitos e ideologias da
massa de informação que a
sustenta? E, no limite, será ético e
desejável entregar a aplicação do
espírito da lei a juízes artiÆciais?
Conan O’Brien Must Go
HBO Max, streaming
Estreia. Do podcast Conan O’Brien
Needs a Fan, o humorista
norte-americano salta para esta
versão televisiva em que vai ao
encontro de fãs de todo o mundo,
para os surpreender e também
para conhecer os sítios onde
vivem. É um misto de comédia,
conversa e documentário de
viagens, com passagem por países
como Noruega, Tailândia,
Argentina ou Irlanda.
DESPORTO
Futebol: Marselha x Benfica
SIC, 19h50
Directo. Depois de terem
triunfado sobre o Marselha por 2-1
na Luz, na primeira mão dos
quartos-de-Ænal da Liga Europa,
os “encarnados” deslocam-se à
casa do clube francês para a
segunda ronda. O árbitro grego
Felix Zwayer dirige a partida.

FC Porto bate V. Guimarães
e está na final da Taça
“Dragões” sobreviveram a nova entrada em falso para garantirem lugar no Jamor,
a sua quarta Änal em cinco anos, onde irão defender o título frente ao Sporting
Crónica de jogo
Augusto Bernardino
O FC Porto conÆrmou ontem, no
Dragão, com triunfo (3-1) — 4-1 na
eliminatória — sobre o V. Guimarães,
a 34.ª presença em Ænais da Taça de
Portugal, onde no dia 26 de Maio
poderá chegar ao 20.º título, frente
ao Sporting.
Os detentores do troféu entraram
em falso, sofrendo um golo no pri-
meiro ataque dos vitorianos, mas
tiveram capacidade para inverter o
resultado e garantir o apuramento
numa meia-Ænal em que nunca esti-
veram virtualmente eliminados.
O Vitória não podia ambicionar
um melhor início de jogo, com um
golo de Afonso Freitas no primeiro
minuto. De resto, um retrato Æel do
momento do FC Porto, mergulhado
Segunda mão da meia-Ɗnal da Taça de Portugal Desporto
numa crise existencial bem plasma-
da nos resultados que o deixam já
matematicamente arredado da dis-
cussão do título. A vantagem con-
quistada em Guimarães esfumava-se
num lançamento lateral, com dois
ressaltos perdidos pela defesa “azul
e branca” e o lateral-esquerdo dos
minhotos a conÆrmar o golo junto ao
poste, em cima da linha.
Com seis alterações em relação à
equipa que “penou” ante o Famali-
cão no Dragão — motivadas pela
lesão de Diogo Costa, pela expulsão
de Evanilson e por questões internas
de âmbito disciplinar de Jorge Sán-
chez e Ivan Jaime —, o FC Porto rea-
bilitou Taremi, que não era titular
desde 29 de Dezembro, com o irania-
no a retribuir com um golo.
O Vitória — que saiu vitorioso do
Dragão para a Liga — fez, igualmente,
ajustes, com a troca na baliza de Bru-
no Varela por Charles a ser a mais
relevante. E seria precisamente
Charles o segundo protagonista da
noite, ao varrer Francisco Concei-
ção, com o VAR a alertar Artur Soa-
res Dias para a infracção que Taremi
transformou em igualdade no jogo e
vantagem na eliminatória.
Com três jogadores em risco — Tia-
go Silva, Borevkovic e Manu —, o
Vitória estava obrigado a um jogo
mais cerebral, para evitar cometer
um erro que lhe roubasse o sonho de
voltar ao Jamor sete anos depois da
última presença numa final da Taça.
E, com o FC Porto numa busca
desenfreada pelo segundo golo,
valeu Charles a negar por duas vezes
a festa “azul e branca”.
Os vimaranenses só voltaram a
soltar-se no período de compensa-
ção, de novo com um lançamento
lateral de Jota, ousadia com preço
elevado, a possibilitar uma transição
fatal, com Francisco Conceição a
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 37
ESTELA SILVA/LUSA
FC Porto 3
Taremi 26’ gp, Francisco
Conceição 45+5’, Pepê 75’
V. Guimarães 1
Afonso Freitas 1’
Estádio do Dragão, no Porto.
Espectadores 30.609
FC Porto Cláudio Ramos; João Mário,
Pepe, Otávio Ataíde, Wendell; Alan
Varela, Nico González (Eustáquio, 86’);
Francisco Conceição (Wendel Silva,
85’), Pepê (Gonçalo Borges, 78’),
Galeno (Romário Baró, 68’); Taremi
a56’ (Danny Namaso, 85’).
Treinador Sérgio Conceição.
V. Guimarães Charles; Bruno Gaspar
a72’, Jorge Fernandes (Mikel
Villanueva, 69’), Borevkovic a26’,
Manu a35’, Afonso Freitas (Miguel
Maga, 46’); Tiago Silva a15’, Tomás
Händel, Nuno Santos (André André,
69’), Jota Silva a43’ (Butzke, 86’);
Nélson Oliveira (Kaio César, 46’).
Treinador Álvaro Pacheco.
Árbitro Artur Soares Dias (AF Porto)
VAR Fábio Melo (AF Porto)
Positivo/Negativo
Francisco Conceição
Indomável, agitou o jogo,
dilacerando a defesa
minhota. Provocou o
penálti e assinou o segundo
golo dos portistas, entre
inúmeras iniciativas que
apaixonam os amantes do
futebol.
Pepe
Regresso imperial após
castigo pela expulsão
frente ao Vitória na recente
derrota para a Liga. O
central do FC Porto
comandou a defesa, e a
equipa, e esteve perto de
marcar um golo em altura
decisiva.
sublimar o papel de agente provoca-
dor e a marcar o segundo da noite Afonso Freitas
antes do descanso. Nélson Oliveira Marcou e deu esperança ao
desperdiçava a última ocasião da Vitória. Saiu ao intervalo,
primeira parte e o FC Porto estava condicionado fisicamente.
cada vez mais perto de fechar a eli-
minatória e de se juntar ao Sporting Galeno
na Ænal, a quarta dos “dragões” nas Noite de desacerto na
última cinco edições. finalização, com lances de
Cenário conÆrmado na segunda golo desperdiçados de
parte, de domínio quase absoluto forma incrível. Acabou a
dos portistas, mas que só à entrada soluçar no banco, depois
do último quarto de hora, depois de de substituído... consolado
Galeno ter esgotado todas as vidas por Conceição.
com uma ineÆcácia absurda, Æcou
decidido com um golo de Pepê, prin- Charles
cipescamente servido por Romário Fatal o penálti cometido
Baró, numa das primeiras interven- sobre Francisco Conceição,
ções do médio no jogo. a precipitar a recuperação
O Vitória estava praticamente eli- do FC Porto. As defesas
minado, mas não resignado, lutando subsequentes acabaram
até Ænal, mas com a certeza de que por servir apenas para
o Jamor terá de Æcar para outra opor- limitar o estrago.
tunidade.
38 • Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
Desporto
Bernardo Silva foi o primeiro jogador do City a falhar no desempate por grandes penalidades
Na Champions, o Real voltou
a encontrar o caminho
Marco Vaza
“Merengues” triunfam
em Manchester sobre
o City nos penáltis e seguem
para as meias-finais, onde
vão encontrar o Bayern
Não ganhar a Liga dos Campeões é
um desaforo que o Real Madrid não
aguenta. Nem sequer ir à Ænal, é um
desaforo ainda maior. Na época pas-
sada, os “merengues” foram barrados
à entrada do jogo do título pelo Man-
chester City com uma derrota por 4-0
que fez mossa e que embalou a equi-
pa de Guardiola para a sua primeira
Champions. Menos de um ano depois,
o Real recompôs-se e teve a sua vin-
gança, seguindo para as meias-Ænais
da Champions pela 33.ª vez na sua
história, graças a um triunfo nos
penáltis (3-4) depois de um empate
(1-1) no Ænal de 120 minutos — há uma
semana, também houve empate (3-3)
no Bernabéu.
O Real Madrid e respectivos adep-
tos olham para a Champions como a
“sua” competição — já a ganharam
por 14 vezes. Por comparação, o City
é um novato que acabou de chegar,
mas tem os fundos para que Guardio-
la possa construir equipas vencedoras
para toda a eternidade. E seria o favo-
rito teórico nesta espécie de Ænal
antecipada entre os “velhos” cam-
peões e os “novos”.
Depois do incrível jogo da primeira
mão, as expectativas estavam altas
para este reencontro em Inglaterra.
O jogo foi lançado nas mesmas bases.
Logo aos 12’, a equipa de Ancelotti
colocou-se em vantagem numa pura
jogada de contra-ataque a colocar em
uso pleno as capacidades dos seus
artistas da frente. Bola longa para
Bellingham, que começou a correr
antes do meio-campo e a entregou
nos pés de Vinicius. O brasileiro fez o
que quis de Rúben Dias e cruzou para
Rodrygo, que, à segunda tentativa,
fez golo — Éderson ainda defendeu o
primeiro remate.
Os “blancos” entravam melhor,
mas o City tentou a resposta rápida.
Pouco depois, aos 19’, Haaland acer-
tou na trave com um cabeceamento
e, na recarga, a bola bateu no joelho
de Bernardo Silva e foi para fora. Foi
o início da carga inglesa e da resistên-
cia espanhola, os “citizens” a carrega-
rem, os “merengues” quase todos a
rondar a baliza superiormente defen-
dida por Lunin — várias defesas
importantes do guarda-redes ucra-
niano foram mantendo o Real na
frente durante mais de uma hora.
Resultados
QUARTOS-DE-FINAL 1.ªM 2.ª M
Arsenal-B. Munique 2-2 0-1
R. Madrid-M. City 3-3 1-1 (4-3 gp)
PSG-Barcelona 2-3 4-1
A. Madrid-B. Dortmund2-1 2-4
ADAM VAUGHAN/EPA
Mas, aos 76’, a resistência do Real
Ænalmente quebrou. O agitador Doku
fez o cruzamento pela esquerda,
Rudiger não foi eÆciente no corte e
De Bruyne, que andava por perto, fez
o empate. Ainda havia tempo para
resolver as coisas nos 90 minutos,
mas tudo se manteve empatado, tal
como nos 30 minutos de tempo
extra.
No desempate por penáltis, Modric
foi o primeiro a falhar, mas Bernardo
Silva, numa oferta a Lunin, deixou as
coisas empatadas (atirou ao centro da
baliza). Lunin voltou a defender o tiro
de Kovacic e tudo Æcou a cargo do pé
direito de Rudiger, que não falhou.
No Allianz Arena, foi o Bayern
Munique que Æcou com um lugar nas
meias-Ænais, ao bater o Arsenal por
1-0, depois do empate (2-2) na primei-
ra mão em Londres. Poucos dias
depois de ter perdido oÆcialmente o
título para o Bayer Leverkusen, a for-
mação bávara, liderada por um trei-
nador a prazo (Thomas Tuchel sai no
Ænal da época), não deu a temporada
por perdida e aproveitou o factor casa
para abater os londrinos, que tinham
eliminado o FC Porto da prova.
Depois de um 0-0 ao intervalo, o
Bayern assumiu o controlo da elimi-
natória com um golo de Kimmich
após assistência do internacional por-
tuguês Raphael Guerreiro. É a 22.ª
vez que o Bayern chega às meias-Æ#
nais da Champions, tendo já vencido
a competição em seis ocasiões, a últi-
ma das quais em 2020.
André Villas-Boas promete investigar
relação entre o FC Porto e as claques
Miguel Dantas
Candidato apresentou
programa eleitoral
de 67 páginas. Villas-Boas
criará a categoria de sócio
“cadeira de sonho”
André Villas-Boas promete analisar à
lupa a relação entre FC Porto e as cla-
ques nos últimos anos no que respei-
ta à bilhética, uma de centenas de
medidas avançadas ontem pelo can-
didato. O ex-treinador publicou no
site da candidatura o programa elei-
toral na íntegra, documento com 67
páginas em que sistematiza o que
defende para o futuro do clube. Asse-
gurando o respeito pela importância
dos grupos organizados e seus mem-
bros, Villas-Boas diz querer perceber,
através de uma “análise forense”,
“quebras e rupturas de facturação”
em alguns sectores do Dragão e inter-
vir sobre os mesmos.
O processo de venda de bilhetes
da claque Super Dragões está actual-
mente na mira do Ministério Público,
no âmbito da Operação Pretoriano.
As autoridades suspeitam de que os
lucros da venda dos ingressos ser-
viam para Ænanciar o estilo de vida
dos líderes das claques, implicando
ainda funcionários do clube neste
alegado esquema.
Caso seja eleito presidente a 27 de
Abril, André Villas-Boas defende que
a relação entre clube e grupos tem de
ser repensada, referindo que não
poder existir favoritismo de privilé-
gios face aos sócios e simpatizantes
portistas, medida que facilitaria tam-
bém o acesso das casas do FC Porto
aos bilhetes para os jogos.
O documento espelha os temas
abordados na campanha eleitoral,
com muitos assuntos a terem já sido
amplamente discutidos publicamen-
te. A necessidade de equilibrar as
contas portistas, aumentar a transpa-
rência e diversiÆcar as fontes de Ænan-
ciamento são algumas das bandeiras
André Villas-Boas promete mudanças no FC Porto
agitadas pela candidatura de André
Villas-Boas, com o candidato a defen-
der uma tentativa da redução do cus-
to médio da dívida.
Outro dos temas já amplamente
abordados prende-se com o plano
para a construção de um Centro de
Alto Rendimento (CAR) no Olival, Vila
Nova de Gaia. Apesar de o FC Porto
ter já assegurado os terrenos na Maia
colocados em hasta pública e ter con-
tratos assinados com a construtora
ABB para a compra dos restantes hec-
tares necessários, o candidato não
atira a toalha ao chão. Villas-Boas
comprou um terreno em Gaia à famí-
lia Amorim e colocará o mesmo à
disposição do FC Porto, vença ou não
as eleições.
“Cadeira de sonho”
Ainda sobre a melhoria na relação
entre clube e sócios, Villas-Boas pro-
põe a criação da modalidade de sócio
“cadeira de sonho” — expressão
cunhada pelo ex-treinador em 2010/11
para se referir ao cargo que ocupou
no FC Porto. Na prática, o candidato
quer aumentar o número de associa-
dos com lugar simultâneo no Estádio
do Dragão e no Dragão Arena, pavi-
lhão em que os portistas jogam as
modalidades.
Nesse sentido, propõe-se a criação
desta modalidade especíÆca, com
“benefícios únicos” a quem a ela ade-
rir, pretendendo-se combater “a fraca
assistência” no Dragão Arena. Outra
das promessas deixadas aos sócios é
a do investimento nas várias modali-
dades do clube, procurando conse-
guir-se um modelo auto-sustentável
para estes desportos. É ainda intro-
duzida uma equipa de futebol femi-
nino no clube, num processo em que
se pretende obter a igualdade de
género nas várias modalidades.
O programa eleitoral encerra com
uma “visão a dez anos”: para o perío-
do 2032-2034, a lista de Villas-Boas
projecta o FC Porto “como clube com
um lugar no top 10 do ranking da
UEFA”.
ADRIANO MIRANDA

Roger Schmidt quer “uma
equipa brava” em Marselha
David Andrade
O Benfica defende hoje,
no Stade Vélodrome, uma
vantagem de um golo
na segunda mão dos
“quartos” da Liga Europa
Do lado do Marselha, Jean-Louis
Gasset promete que hoje à noite
(20h, SIC) o Stade Vélodrome estará
“a pegar fogo” na recepção ao Ben-
Æca, mas, no duelo que vai decidir
quem Æcará a apenas um passo da
Ænal da Liga Europa, o passado e o
presente parecem jogar contra o
treinador dos franceses. A atraves-
sar um momento de forma melhor
do que o rival gaulês, que acumula
cinco derrotas consecutivas, o Ben-
Æca conta no currículo com um sal-
do 100% positivo sempre que se
cruzou em provas europeias com os
marselheses, mas, para Roger
Schmidt , na segunda mão dos
quartos-de-Ænal da Liga Europa será
preciso que os benÆquistas sejam
“uma equipa brava”.
Nenhum dos treinadores o assu-
miu frontalmente na antevisão do
duelo, mas, hoje à noite, no Vélodro-
me, Marselha e BenÆca vão lutar
pela única bóia que pode salvar os
dois clubes de um naufrágio na tem-
porada 2023/24. Se os marselheses
estão num pouco recomendado 9.º
lugar na Ligue 1, a 24 pontos do rival
Paris Saint-Germain e a 13 pontos do
terceiro lugar, a posição em que con-
cluíram a última época, o BenÆca
parece ter Æcado com as contas no
campeonato português deÆnidas
Ex-“all black” assume o comando da selecção de râguebi
David Andrade
Conta no currículo com um jogo com
a camisola dos míticos “all blacks” —
em 1994 contra a França — e passa-
gens por clubes de renome mundial,
como os Hurricanes, na Nova Zelân-
dia, ou os Sale Sharks, em Inglaterra.
Depois do falhanço na contratação do
francês Sébastien Bertrank, que este-
ve menos de um mês no comando da
selecção portuguesa de râguebi após
o Mundial 2023, a Federação Portu-
guesa de Rugby apresentou ontem
Simon Mannix. O treinador neozelan-
Roger Schmidt diz que o Benfica está habituado a ambientes difíceis
nos últimos dias à custa do Famali-
cão: o empate do FC Porto e a vitória
do Sporting contra os minhotos dei-
xaram o estatuto de vice-campeões
das “águias” preso por meros forma-
lismos.
Assim, estando já arredado da
Ænal da Taça de Portugal e após
um desempenho na Liga dos Cam-
peões que Æcou muito aquém do
que tinha sido conseguido na tem-
porada passada, o BenÆca de Roger
Calendário
QUARTOS-DE-FINAL 1.ªM 2.ª M
Benfica-Marselha 2-1 20h, SIC
AC Milan-Roma 0-1 20h
B. Leverkusen-West Ham2-0 20h
Liverpool-Atalanta 0-3 20h
dês, de 52 anos, assumiu um compro-
misso para os próximos quatro anos
com os “lobos” e vai “dividir o tempo
entre Portugal e França”.
Com um currículo como técnico
construído na Europa, onde treinou
clubes como o Racing Métro e o Muns-
ter (adjunto) e o Section Paloise, onde
trabalhou com o internacional portu-
guês Samuel Marques, Mannix estava
actualmente no comando do Biarritz,
antepenúltimo classiÆcado da Pro D2,
a segunda divisão de França.
Para o novo seleccionador portu-
guês, a oportunidade de assumir a
RUI MINDERICO/EPA
Schmidt coloca todas as Æchas num
sucesso europeu.
O “all in” do técnico alemão na Liga
Europa — a vitória na Ænal de Dublin
garantiria aos “encarnados” a entrada
directa na Liga dos Campeões — Æcou
claro no passado domingo, quando
Schmidt abdicou de uma das suas
regras e mudou praticamente toda a
equipa na recepção ao Moreirense
para o campeonato. Agora, num jogo
em que não terá margem de erro, o
germânico deverá voltar ao conser-
vadorismo nas suas opções.
Para a viagem ao Sul de França, o
BenÆca teve disponíveis pratica-
mente todos os jogadores do seu
plantel — a excepção são os lesiona-
dos Bernat e Tomás Araújo — e, na
comitiva “encarnada” que viajou
ontem para Marselha, as novi-
dades foram os jovens defesas
liderança de Portugal foi recebida
com “entusiasmo”, sendo que esta
será “uma oportunidade incrível”
para “continuar a melhorar” uma
equipa que “entusiasmou toda a gen-
te” no último Mundial 2023.
Dessa forma, Mannix aÆrma que “o
Para Simon
Mannix, o grande
objectivo da
selecção
nacional é
participar no
Mundial 2027
Público • Quinta-feira, 18 de Abril de 2024 • 39
Adrian Bajrami e Diogo Spencer.
No entanto, quando Schmidt anun-
ciar aos seus jogadores o “onze”, o
difícil será que surja alguma surpresa
e que a equipa escolhida não seja
decalcada da que iniciou o jogo de há
uma semana no Estádio Luz, embora
o germânico diga que espera “um
jogo diferente do da primeira mão”:
“Todos os jogos têm a sua própria
história, creio que estivemos bem em
casa, mas infelizmente sofremos um
golo. Creio que precisamos de bravu-
ra, de inteligência táctica e muita
motivação. Já mostrámos que neste
tipo de atmosferas conseguimos mos-
trar um bom futebol e é isso que
vamos tentar mostrar.”
Sobre a estratégia que irá utilizar, o
treinador do BenÆca diz que a sua
equipa não pode “defender apenas”
e terá “de ter momentos em que” pre-
cisa “de ter posse de bola”, uma vez
que os jogadores do Marselha “serão
mais agressivos do que foram na pri-
meira mão. “Estão em casa, por isso
quererão ter mais posse de bola e
exercer mais pressão. Temos de man-
ter a nossa qualidade nas transições,
como já mostrámos esta época. Tere-
mos de ser uma equipa equilibrada,
que quer marcar golos.”
A agressividade anunciada por
Schmidt não deverá ser apenas senti-
da dentro do campo. Jean-Louis Gas-
set, treinador do Marselha, disse que
os seus jogadores estão “conscientes
da partida que devem fazer” e que
haverá “um estádio a pegar fogo”:
“Devemos trazer esse público para
nós, através da nossa atitude, agressi-
vidade e eÆcácia. O público fará o seu
trabalho; cabe-nos estar à altura.”
grande objectivo é participar no Mun-
dial 2027, alcançando “um muito bom
rendimento”, uma vez que, com “o
novo formato do Mundial, Portugal
tem de estar lá não só para participar,
mas também para competir”.
Após elogiar Patrice Lagisquet, que
liderou os “lobos” entre 2019 e 2023,
e “cujos resultados, exibições e estilo
de jogo falam por si”, o neozelandês
aÆrmou que pretende “continuar a
desenvolver um estilo de râguebi que
encaixe nos jogadores portugueses”:
“São capazes de praticar um râguebi
entusiasmante, a jogar a bola e o
Desporto
Portugueses
com os melhores
resultados
da carreira
Pedro Keul
Com 26 vitórias em 31 encontros dis-
putados, Jaime Faria continua a rea-
lizar um início de época fantástico e
mantém vivo o seu objectivo mais
imediato; a entrada no qualifying do
Torneio de Roland-Garros. Para já, o
tenista português que Ægura no 255.º
lugar do ranking qualiÆcou-se para os
quartos-de-Ænal do Oeiras Open 125,
ao vencer Chun-Hsin Tseng (250.º),
por 6-2, 6-3 em 83 minutos.
Tal como na ronda inicial deste tor-
neio do ATP Challenger Tour, Faria
voltou a apoiar-se no serviço (71% de
eÆcácia no primeiro serviço, 65% no
segundo) e anulou os quatro break-
-points que enfrentou. O tenista por-
tuguês de 20 anos está pela primeira
vez nesta fase de um challenger desta
categoria, onde vai encontrar o litua-
no Vilius Gaubas (345.º).
No WTA 125 Oeiras Ladies Open,
que também decorre nos courts do
Jamor, Matilde Jorge (551.ª) derrotou
pela primeira vez uma adversária do
top 100, a britânica Harriet Dart (88.ª)
e, ao qualiÆcar-se para os quartos-de-
-Ænal, garantiu a entrada no top 500
do ranking WTA — um feito só repe-
tido por outras 12 tenistas portugue-
sas. A portuguesa de 20 anos ganhou
com os parciais de 6-3, 6-1, e vai agora
defrontar a dinamarquesa Clara Tau-
son (87.ª) — já foi 33.ª e tem dois títu-
los WTA no currículo.
No ATP 500 de Barcelona, Rafael
Nadal foi eliminado pelo australiano
Alex de Minaur (11.º), por 7-5, 6-1. Em
17 participações no torneio catalão,
Nadal só tinha sido eliminado tão
cedo na sua estreia aqui, em 2003.
espaço. Essa sempre foi a minha Ælo-
soÆa em todas as equipas que treinei.
Não gosto de correr contra uma pare-
de e, por isso, não peço aos meus
jogadores que o façam. Quero a bola
a circular.”
Mannix socorreu-se ainda de
alguns dos conhecidos valores dos
“all blacks” para explicar que “repre-
sentar uma selecção nacional” terá
de ser algo “profundo”. “O que espe-
ro do jogador português é que venha
jogar por algo mais importante. Inde-
pendentemente de ser pago ou não.”
com Lusa
Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
BARTOON LUÍS AFONSO
Operação Influencer: não há crime, é apenas uma forma de ser
O respeitinho
não é bonito
P
João Miguel Tavares
ode um governo de
maioria absoluta ter
caído por causa de um
processo que vai
desembocar em nada?
Não só pode como é
cada vez mais provável. Já várias
vezes critiquei aqui o último
parágrafo da senhora
procuradora-geral da República
que conduziu à demissão de
António Costa. Com boa
probabilidade, Costa não teria
resistido à descoberta de 75.800
euros no gabinete de Vítor Escária
na sequência das buscas à sua
residência oÆcial. Mas teria sido
completamente diferente para a
salubridade do regime se a
demissão tivesse ocorrido por
causa de um conjunto de envelopes
cheios de notas, e não por causa de
uma nota absurda no Ænal de um
comunicado do Ministério Público.
Critiquei também, de forma
bastante solitária, a decisão de
Marcelo Rebelo de Sousa de
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avançar para eleições legislativas,
em vez de dar ao PS a hipótese de
nomear um outro
primeiro-ministro — pelo menos
até a investigação avançar um
pouco mais, ou ser submetida às
primeiras decisões dos tribunais.
Precisamente porque o parágrafo
da PGR era tão vago e
desconcertante, ele não deveria ter
sido usado como único pretexto
para deitar abaixo uma maioria
absoluta, tanto em nome da
protecção do poder executivo,
como em nome da protecção do
poder judicial.
Marcelo não fez nada disso,
porque antes tinha falado demais.
NUNO FERREIRA SANTOS
Quando quis agrilhoar António
Costa à pátria e impedi-lo de
assumir um cargo europeu,
decidira proclamar aos quatro
ventos a sua interpretação muito
particular da Constituição: os
eleitores tinham dado a maioria
absoluta ao Partido Socialista e a
António Costa. Logo, saindo Costa,
o PS Æcava sem a necessária
legitimidade política. Sempre o
eterno problema de Marcelo: como
é extremamente inteligente e se
considera excelentemente
intencionado, está disposto a saltar
por cima de todas as regras para
fazer o que entende ser “o bem”.
Esta quarta-feira voltou a fazer o
mesmo: lançou António Costa para
o Conselho Europeu por causa de
uma decisão do Tribunal da
Relação de Lisboa que nem sequer
tem a ver com o
ex-primeiro-ministro. Se é preciso
A Operação aliviar o peso de uma dissolução
que não deveria ter ocorrido, não
InÅuencer revela será a separação de poderes que irá
atrapalhar Marcelo. Mas o peso
muitas coisas, está lá. Com excepção da esquerda
e graves — só que parlamentar (e de mim), quase
toda a gente achou que não havia
elas caem no mar remédio, que era para dissolver,
de informalidade ainda que o resultado fosse mais do
que previsível: o governo mais
onde o crime se frágil da nossa democracia
afoga consolidada, com o país à espera
de um milagre de governabilidade
publico.pt/assinaturas
que não irá chegar.
Tudo isto é muito mau, ainda por
outra razão: a Operação Influencer
não é uma mão cheia de nada. Ela
revela muitas coisas, e coisas
graves — só que elas caem no mar
de informalidade onde o crime se
afoga. Cito os juízes da Relação de
Lisboa: “Não existe legislação em
Portugal sobre a actividade de
lobby[ing], que evitaria muitas
situações dúbias como algumas
daquelas que foram apuradas.”
Mais: “O tribunal chama a atenção
para a incorrecção de se tratarem
assuntos de Estado à mesa de
restaurantes, esquecendo a
necessidade de se documentarem
as relações entre representantes de
interesses particulares e
governantes.”
TráÆco de inÇuências? Nada
disso. Apenas a banalíssima
informalidade com que se fazem
negócios entre sector privado e
sector público, sob os auspícios de
governantes, advogados do PS e
melhores amigos do
primeiro-ministro. São rosas,
senhor. “Leis malandras”
acompanhadas de arroz
malandrinho. O prato favorito da
política portuguesa.
Colunista
jmtavares@outlook.com
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