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INFILTRAÇÃO
POPULISTA
AGITA
MAÇONARIA
Eram maçons muito antes da ascensão
do Chega, mas a proximidade com André
Ventura é hoje entendida como uma fissura no
edifício maçónico. Paulo Ralha, ex-colega de
Ventura na AT e seu assessor no Parlamento
e o fiscalista Tiago Caiado Guerreiro são dois
dos "indesejados" no seio do Grande Oriente
Lusitano, onde se vivem dias de "rebuliço", mas
há mais membros sob "suspeita". Lideranças
devem avançar com averiguação interna.
Ex-grão-mestre Fernando Lima Valada quer
expulsar ameaça extremista
- POR JOÃO AMARAL SANTOS

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Durante dois séculos, as portas do


Grande Oriente Lusitano (GOL), a
mais antiga obediência da maçonaria
portuguesa, resistiram trancadas à
influência dos movimentos extremis-
tas. Hoje, cumpridos 48 anos do 25
de Abril de 1974, pelos corredores e
salas do Palácio Maçónico discute-se
a meia voz a presença "indesejada" de
"irmãos" (demasiado) próximos da
direita radical populista, que colocam
em risco o funcionamento "normal" e
até a existência da própria organização.
Um desses protagonistas "inde-
sejados" mais notados é Paulo Ralha,
assessor político do Chega, mas perto
de (continuar) a "crescer" dentro da
estrutura partidária, numa altura em
A Fernando Cabacinha O grão-mestre quer esperar pelo "momento próprio"
que o seu nome está a ser cogitado para falar à sociedade sobre este e outros casos
para ocupar a vaga de chefe de ga-
binete do partido na Assembleia da
República, segundo apurou a VISAO,
após o afastamento de Nuno Afonso ativamente na campanha de Marisa beça-de-lista do Chega por Coimbra
do cargo, na semana passada. O ex- Matias para as presidenciais. Ex-co- — falhada a eleição, seria "repescado"
-presidente do Sindicato dos Traba- lega de trabalho de André Ventura na pelo amigo Ventura, ocupando uma
lhadores dos Impostos (STI) entrou Autoridade Tributária (AT) e amigo vaga no gabinete de apoio aos 12 de-
para o GOL em 2017, através da Loja íntimo do presidente do Chega, o putados do partido.
Jerusalém — pela mão de Tiago Caiado agora assessor parlamentar desvin- A abrupta viragem política de Paulo
Guerreiro, outro maçon próximo de culou-se do PS em 2019, alegando Ralha não passou despercebida no
André Ventura —, numa época em que discordâncias relacionadas com a interior da maçonaria. A aproximação
ainda militava no PS. Antes disso, em alegada proteção a pessoas "indicia- cada vez maior a André Ventura e à
2011, Ralha tinha integrado a lista de das em processos de corrupção". O cúpula do Chega passou a ser vista
candidatos a deputado do Bloco de próximo passo deu-se em contramão: por muitos pedreiros-livres como
Esquerda por Braga (como número nas legislativas de 30 de janeiro, foi "surpreendente", "chocante" e, so-
cinco da lista) e, em 2016, participado anunciado com surpresa como ca- bretudo, "inaceitável" para um ma-

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Tensão
no Palácio
Maçónico
-Presença" da direita radical tem
criado desconforto na loja maçónica.
El Convivência tornou-se praticamente
impossível


O que têm em comum um advogado,
um técnico tributário, um informático,
um publicitário e um jornalista? Este
poderia ser o trivial arranque de uma
anedota (tipicamente) portuguesa,
e mas, na verdade, todas estas pessoas
(bem reais) sentam-se (ou melhor,
sentavam-se) à mesma mesa, nas
1 noites de reunião quinzenais, que
4
1 decorrem no Palácio Maçónico, no
Bairro Alto, realizadas pela Loja Je-
rusalém, do Grande Oriente Lusitano
(GOL). Paulo Ralha é um dos (even-
tuais) presentes, mas, quando assim
é, outros "irmãos" preferem faltar à
chamada ou, em alternativa, abando-
nar o local - as ligações ao Chega e
çon. Muitos "irmãos" falam de "uma da direita radical, como um candidato a André Ventura não lhe granjeiam
evidente colisão com os princípios e autárquico do Chega. popularidade.
É fácil perceber porquê. O GOL, cria-
valores da organização maçónica", o "Como em todas as organizações,
do em 1802, é a mais antiga obediên-
que tem motivado "tensões" dentro também na maçonaria existem bons
cia portuguesa, ligado, desde o início,
de quatro paredes, e até o "distan- e maus elementos. Na qualidade de à corrente liberal da maçonaria, que
ciamento" das reuniões quinzenais da maçon, não posso negar que estou se assume como ateia e agnóstica
Loja Jerusalém (ver caixa), de quem apreensivo com a presença no GOL de (com ligações ao Grande Oriente de
se recusa a sentar-se na mesma mesa algumas ideologias com as quais não França). Historicamente, o GOL esteve
com Paulo Ralha. Outros ainda dra- me identifico, mas como nas nossas sempre muito ligado ao PS, com os
matizam a questão, e temem o pior: reuniões não temos por princípio maçons deste partido a marcarem
que esteja em curso uma estratégia discutir política ou religião, as lojas presença assídua nos vários gover-
de "infiltração" da extrema-direita na têm, de uma forma geral, dificuldade nos socialistas - como António de
maçonaria portuguesa. AVISÃO sabe em lidar com esta realidade", admite Almeida Santos, Alberto Martins,
que o caso de Paulo Ralha não é único. um "companheiro" da Loja Jerusalém, Jorge Coelho, António Vitorino ou Rui
As "suspeitas" recaem, pelo menos, que prefere não se identificar. Pereira, entre outros.
sob mais dois ou três elementos deste À. VISÃO, este maçon admite o O "caso" da Loja Jerusalém confir-
grupo. E, fora do GOL, nalgumas das "mau ambiente" que se faz sentir no ma que, hoje em dia, entre os cerca
dezenas de obediências maçónicas, há Palácio Maçónico: "A maçonaria é de três mil "irmãos" do GOL estão
outros casos identificados de figuras composta por várias lojas, e as lojas representadas diversas sensibilidades
são ecossistemas. Nestes ecossiste- políticas, até porque, segundo as re-
mas, existe, de facto, ao dia de hoje, gras da própria "casa", a vida profana
um 'rebuliço'. E o que é um 'rebuliço? (como é designada a existência fora
da maçonaria) fica à porta, deven-
"Não posso É um confronto de ideias, de visões e
de mundivisões, que, naturalmente, do-se evitar falar sobre política ou
religião. Com a aproximação (cres-
negar que estou acabam por ter efeito naquilo que é a cente) de maçons à direita radical,
permanência das pessoas nessas lojas,
apreensivo com tanto para os visados como para os
há quem considere que as "linhas
vermelhas" foram ultrapassadas.
outros membros", explica.
a presença no Evitando entrar em pormeno-
Vários "irmãos" não têm, aliás, dúvidas
em apontar para um choque com os
GOL de algumas res, o mesmo maçon descreve-nos
o "ambiente em `família"'. "Imagine
princípios e valores da organização. A
situação tem, para já, contribuído para
ideologias", que estou num jantar com amigos e, o escalar das tensões no seio da "fa-
nesse momento, aparece no local um
confessa maçon amigo de um amigo, com quem não
mília" maçónica - na Loja Jerusalém a
plena convivência fraterna tornou-se
da Loja Jerusalém posso estar sentado à mesa. A op- impossível.

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v Maçons A proximidade de Tiago


Caiado Guerreiro e Paulo Ralha com
André Ventura está a provocar divisões
na "família" maçónica

1-

Ção só pode ser uma: retirar-me do mente, a mesma fonte recorda ainda político do Chega ser "convidado" a
local. É tão simples como isto", diz, que "a maçonaria e as próprias lojas apresentar um "Atestado de Quite",
admitindo tratar-se de uma situação têm mecanismos próprios, formais como é designado na maçonaria o
"intolerável". "Esta situação é uma e informais, para resolver este tipo processo em quatro passos para o
perversão do objetivo inicial do jantar, de situações". "Quando, por qual- afastamento e a desvinculação defi-
que seria a realização de uma reunião quer motivo, a presença de alguém nitiva da organização.
de 'família'. Na vida profana [como é na maçonaria deixa de fazer sentido, Contactado pela VISÃO, Paulo
designada a vida fora da maçonaria], essa pessoa pode sempre sair... a bem Ralha admite que já pertenceu à ma-
entre 'irmãos', também existem con- ou a mal", conclui, sem mais adiantar. çonaria, mas garante que, atualmen-
flitos, mas fraternidade não significa E assim deverá ser. A VISÃO sabe te, está "desligado" da organização.
desculpar incondicionalmente ou que o mais provável é a Loja Jerusalém Confrontado com as declarações de
aceitar comportamentos desviantes. avançar para uma averiguação interna "irmãos", ou de "ex-irmãos", na sua
Ser fraterno, por vezes, não absolve — conduzida pelo venerável mestre versão, da Loja Jerusalém, Ralha diz
de se ter de dizer 'discordo de ti e, (presidente) da loja — sobre a situação "não compreender", limitando-se a
por isso, neste contexto, parece-me de Paulo Ralha e, eventualmente, de referir que a informação "está fora
mais correto que abandones esta outros elementos. Em cima da mesa de contexto".
casa'", conclui. está a possibilidade de o assessor
UM TRIÂNGULO SÓLIDO (DE AMI-
GRÃO-MESTRE EM SILÊNCIO, ZADE), NA VIDA E NO TRABALHO
MAS AVERIGUAÇÃO DEVE AVANÇAR Paulo Ralha entrou na maçonaria pela
Contactado pela VISÃO, o grão-mes- mão do amigo Tiago Caiado Guerrei-
tre Fernando Cabecinha opta, para já, A presença ro, também visado neste "processo",
por se manter em silêncio. A VISÃO,
fonte próxima da liderança do GOL
dos maçons que, há vários anos, cultiva com Ralha
e Ventura sólidas relações pessoais
recorda que "o grão-mestre foi re- Paulo Ralha e profissionais, já tornadas públicas
cém-empossado" — tomou posse a 11 e notórias — e que até têm vindo a
de dezembro de 2021 — e que "ainda e Tiago Caiado consolidar-se. As provas desfiam-se
decorre uma fase inicial de contacto
com as lojas e com os maçons, de
Guerreiro, amigos em poucos parágrafos.
Em fevereiro de 2018, Ralha, ainda
reorganização de dossiers". "Fernando e ex-colegas presidente do STI, recrutou André
Cabecinha falará à sociedade, não só Ventura para dirigir uma formação
sobre este tema, mas sobre todos os de André Ventura. (de seis horas) de âmbito fiscal aos
que considere relevantes, mas apenas
no momento próprio", acrescenta.
é criticada sócios do sindicato, ação pela qual o
político recebeu 300 euros (com base
Sem abordar este "caso" direta- pelos cantos na tabela do STI para todos os forma-
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História de combate à ditadura


Durante 48 anos, a (maioria da) maçonaria portuguesa converteu-se em oposição
à ditadura. O Estado Novo aprovou leis antimaçónicas e até confiscou a sede
do GOL no Bair►n Alto. A organização soube resistir

Poucos meses antes de morrer, ao esventrar do seu interior, de Loja Regular de Portugal sob a mesma bandeira ma-
Fernando Pessoa ergueu-se perdendo a histórica sede no (da qual já foi grão-mestre) çons, republicanos, comunistas
em defesa da maçonaria por- Bairro Alto - entregue pelo -, recorda que, "naquele e anarquistas, entre outros.
tuguesa, num inspirado artigo regime à Legião Portuguesa - período, durante a ditadura, Entre 1926 e 1940, este grupo
de duas páginas, intitulado e, naturalmente, à inevitável e quem optou por se manter na heterogéneo tentou, através
Sociedades Secretas, publica- drástica redução do número organização passou a partici- de mais de uma dezena de
do em fevereiro de 1935, no já de maçons. par de reuniões clandestinas". revoltas malogradas, repor a
extinto Diário de Lisboa, que se O medo que constrangia os "Apesar de alguns maçons normalidade - ou, por esta
propunha denunciar a propos- corações não impediu, porém, terem sido simpatizantes do altura, a exceção - democráti-
ta do deputado José Cabral uma minoria corajosa de Estado Novo - como foi o caso ca, e as liberdades individuais
para limitar ou proibir a exis- resistir, como, aliás, já previra de Bissaya Barreto -, a grande e coletivas suprimidas pelo
tência e o funcionamento das Fernando Pessoa no seu artigo maioria passou a fazer parte golpe militar. O "Reviralho"
sociedades secretas. O poeta, de jornal: "A primeira conse- de movimentos antifascistas, sofreria, no entanto, revés atrás
que não pertenceu formal- quência [da proibição da ma- que lutavam contra o regi- de revés, como naquele dia
mente à organização, terá sido, çonaria portuguesa] seria esta me - isso, hoje, é largamente 26 de agosto de 1931, quando
no entanto, iniciado em graus - coisa nenhuma. Se o Senhor reconhecido. A resistência da o movimento arriscou tudo
maçónicos, anos antes, em José Cabral cuida que ele, ou maçonaria portuguesa contra para derrubar o regime pelas
casa do seu colega de letras a Assembleia Nacional, ou o o Estado Novo foi, sem dúvida, armas. Ao fim de nove horas
Raul Leal, pela mão do excên- Governo, ou quem quer que extremamente significativa e - e um balanço trágico de 40
trico inglês Aleister Crowley, de seja, pode extinguir o Grande muito importante", destaca. mortos -, a tentativa de golpe
visita ao nosso país - versão Oriente Lusitano, fique desde Exemplo disso mesmo é a redundaria num estrondoso
corroborada pela maioria dos já desenganado." E assim foi. presença massiva da maço- fracasso. Os líderes insurretos
especialistas (portugueses À VISÃO, o maçon (e crimi- naria portuguesa na frente seriam desterrados para Timor.
e estrangeiros) em Pessoa. nologista) José Manuel Anes revolucionária de combate à E o Estado Novo ficaria com
"Estreou-se a Assembleia - iniciado no GOL, em 1988, e ditadura, que ficaria conhecida caminho livre para consolidar
Nacional, do ponto de vista atualmente membro da Gran- como "Reviralho", e que uniu o poder.
legislativo, com a apresenta- "A maçonaria portuguesa
ção, por um deputado, de um continuou, então, na sombra
projeto de lei sobre 'associa- silenciosa, até ao 25 de Abril
ções secretas. Apresentou o de 1974", diz José Manuel
projeto o Senhor José Cabral, Anes. A organização tinha, na-
que, se não é dominicano, turalmente, pessoas próximas
deveria sê-lo, de tal modo o das elites, mas nunca deixou
seu trabalho se integra, em de lutar contra o regime, em
natureza, como em conteúdo, nome dos seus princípios e
nas melhores tradições dos valores. Desde a criação da
inquisidores", escreveu o poeta, primeira obediência em Por-
numa composição trágico-có- tugal, em 1802, a maçonaria
mica em que acusava direta- sempre recebeu no seu seio
mente o fascismo e o nazismo progressistas e conservadores,
de contribuírem para manter o que nunca pôde aceitar, isso
a maçonaria "adormecida" na jamais!, foi alguém chegar aos
Europa. Era, então, chegada a limites extremos do fascismo
hora de Portugal. ou do nazismo. Basta recordar
Durante a Primeira República, não só a posição da organiza-
o Grande Oriente Lusitano ção no nosso país, durante o
(GOL) chegou a ter entre três Estado Novo, mas também o
e quatro mil membros, mas exemplo das grandes figuras
tudo se alterou na sequência mundiais que, nesse período,
do golpe militar de 28 de maio combateram e venceram o
de 1926, e ainda mais durante fascismo italiano e o nazismo
o Estado Novo. Entre 1933 e alemão: Franklin D. Roosevelt
1974, o regime nunca abrandou e Winston Churchill. Dois
a vigilância e a repressão sobre grandes homens, dois gran-
a maçonaria, que, perseguida A Parceria O cardeal Gonçalves Cerejeira e Salazar, Igreja des políticos e, também, dois
e limitada na ação, assistiu e Estado Novo, tinham como inimigo comum a maçonaria grandes maçons", conclui.

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dores recrutados). Em 2019, foi a vez


de o então sindicalista contratar Tia-
go Caiado Guerreiro para o defender

tir k
em dois processos judiciais, serviços
pelos quais o STI — mesmo dispon-
441 4 do de um gabinete jurídico próprio
—, pagou 32 500 euros. A opção deu
origem a uma denúncia, apresentada
ao conselho disciplinar daquela enti-
dade, que daria como provado que as
despesas judiciais "diziam respeito a
litígios pessoais entre sócios" e que,
consequentemente, não estavam re-
44111' lacionadas com o desempenho das
funções presidenciais de Ralha. Apesar
das conclusões, a "irregularidade" não
O "inimigo" de Mário Machado teve consequências, por prescrição
dos prazos.
O neonazi Mário Machado, velho rosto da extrema-direita, declarou há muito
gue►ra" contra a maçona►ia, que acusa de ter um piano para perseguir o Entre 2018 e meados de 2020,
movimento nacionalista português e de querer envid-lo para a prisão foi a vez de Tiago Caiado Guerreiro
mostrar "generosidade", ao contratar
André Ventura como consultor para
a sociedade de advogados Caiado
O neonazi Mário de imediato às "ruas", censurar duramente os Guerreiro (que detém com o irmão,
Machado dedica à ma- desta vez, à cabeça movimentos radicais, João Caiado Guerreiro) e, mais tarde,
çonaria portuguesa (e do movimento de em ascensão. Em para a consultora Finpartner — outra
aos maçons) generosa extrema-direita Nova entrevista à Lusa, o entidade do universo Caiado Guer-
quota-parte do muito Ordem Social (NOS), convidado Marc Mens- reiro. O então deputado único do
ódio (não raras vezes que criara e desen- chaert, presidente da Chega chegou mesmo a acumular,
contraditório) que, a volvera desde 2014, a AME, estabeleceu di- durante oito meses, o lugar no Par-
ritmo quase diário, partir da prisão e em ferenças: "A maçonaria, lamento com o de prestador de ser-
divulga e partilha nas saídas precárias, como o trabalho maçónico, viços naquela empresa especializada
suas redes sociais. O embrião de um futuro é para unir as pessoas, em planeamento fiscal, vistos gold e
antigo líder da extin- partido político. A a extrema-direita é imobiliário de luxo.
ta Frente Nacional e primeira ação pública mais um movimento Já este ano, e com o Chega a sair
membro dos Portugal do grupo foi escolhida que divide. Para nós, reforçado nas legislativas, foi a vez
Hammerskins acusa a dedo: no dia 18 de a extrema-direita é de André Ventura fazer a sua parte.
recorrentemente a novembro desse ano, claramente um perigo", Paulo Ralha, que saiu do STI no final
maçonaria de "perse- a propósito da cimeira alertou. de 2019, aventurara-se, entretanto,
guição" - tendo-lhe da Aliança Maçónica O partido sonhado no mercado, tendo para tal solicitado
declarado "guerra" Europeia (AME), que por Mário Machado uma licença sem vencimento à AT. A
desde 2007, culpando juntou na capital cerca não chegaria sequer experiência no setor da construção
a organização de estar de três dezenas de a nascer - o neonazi, civil não lhe traria, todavia, resul-
por detrás da opera- organizações maçóni- incapaz de mobilizar tados positivos, pois a colaboração
ção, conduzida pelo cas europeias, Mário apoiantes, anunciou com a Linkglobal, sociedade gestora
Ministério Público e Machado organizou e a suspensão da NOS especializada em aproximar inves-
pela Polícia Judiciária, conduziu uma manifes- dois anos depois, tidores internacionais de projetos
que, nesse mesmo ano, tação em frente ao Pa- declarando não fazer portugueses, chegaria ao fim quando
"decapitou" o movi- lácio Maçónico, sede sentido concorrer com uma empresa chinesa, que pretendia
mento skinhead em do Grande Oriente Ergue-te (ex-PNR) e apostar em Portugal, para se candi-
Portugal, e o devolveu Lusitano (GOL), na Rua Chega "praticamen- datar a obras públicas, "congelou" os
à prisão. do Grémio Lusitano, te na mesma área" investimentos no nosso país devido
Em maio de 2017, volvi- em Lisboa, reunindo política. à pandemia. Estava Ralha ainda a
da quase uma década, pouco mais de duas O fim do projeto, pensar em alternativas quando o
Mário Machado be- dezenas de membros porém, não diminuiu amigo Ventura o recrutou — o resto
neficiaria de liberdade da NOS que passaram o ódio. Pelo contrário, já se sabe.
condicional - a pena o dia a gritar palavras em textos e vídeos pu- As evidências, presentes neste
pelo acumulado dos de ordem contra aque- blicados no Telegram e triângulo, aumentam o "desconfor-
seus crimes só seria le "inimigo". no YouTube, Machado to" e as "dúvidas" dentro da maçonaria
plenamente cumprida O então grão-mestre continua a travar "ba- portuguesa. Tiago Caiado Guerreiro é,
em novembro de 2020 do GOL, Fernando talhas" (imaginárias?) por isso, outro nome que está longe de
-, momento que apro- Lima Vaiada, aprovei- contra a maçonaria e gerar consensos no Palácio Maçónico.
veitou para regressar tou a ocasião para os maçons. Pelos corredores e salas, a pergunta
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v Chega A (esmagadora) maioria


do GOL quer criar um cordão sanitário
contra a direita radical populista
do Chega e de André Ventura

que o sentimento generalizado, hoje


sentido no Palácio Maçónico - em
particular na Loja Jerusalém -, "justifi-
ca, para começar, a instauração de um
inquérito para averiguar a veracidade
destas informações e inquietações".
"Se se confirmar que existem, de facto,
maçons próximos de partidos e polí-
ticos com estas ideologias, o próximo
4 passo deve ser de condenação e, se-
guidamente, de acordo com os meios
próprios, o encaminhamento [desses
maçons] para a rua", diz.
Para o ex-grão-mestre a questão
até é mais simples do que parece.
"Quem seja racista, xenófobo, quem
tenha princípios autoritários, quem,
no fundo, atue contra os valores da
igualdade e da dignidade humana, da
liberdade absoluta das pessoas, não
cabe dentro da maçonaria, e muito
menos no GOL, que tem princípios e
valores com 220 anos", destaca.
Luís Parreirão, candidato a grão-
-mestre nas últimas eleições ma-
çónicas - numa corrida ganha por
Fernando Cabecinha e que também
contou com Carlos Vasconcelos -,
concorda que "é incompatível ser
maçon e pertencer a movimentos que
defendam soluções políticas radicais,
sejam elas de extrema-direita ou de
extrema-esquerda, e não tenham
como orientação a defesa da liberdade
e da dignidade da pessoa humana". "É
uma questão que não tem nuances,
nem cambiantes, é algo que tem de
ser visto a preto e branco", reforça.
O antigo secretário de Estado da
Administração Interna e das Obras
Públicas, nos governos de António
ressoa: estará, efetivamente, a ser A Fernando Lima Ex-grão-mestre Guterres, e ex-deputado do PS, admi-
plantada a semente da direita radical não poupa nas palavras perante te que a situação "pode ser relevante",
populista no secular solo do GOL? ameaça de "infiltração" extremista mas confia "que a direita radical, ou
no GOL "Rua!", afirma
mesmo a extrema-direita, não tenha
"A LINHA VERMELHA É ABSOLUTA. uma influência com dimensão no
FORAI", DIZ FERNANDO LIMA GOL". E deixa o alerta: "Caso isso
Fernando Lima Valada, ex-grão-mes- aconteça, é a extinção da própria ma-
tre - e o maçon que mais tempo ocu- çonaria. Repito: para mim, é comple-
pou o cargo desde o 25 de Abril - não tamente incompatível defender uma
hesita nem poupa nas palavras. Na
sua opinião, só há uma forma de "li-
"Rebuliço" ideologia de extrema-direita ou de
extrema-esquerda e ser maçon", diz.
dar com este assunto" e "proteger" a deve levar Loja Olhando para uma solução, Luís
maçonaria portuguesa: "Admito que, Parreirão deixa a decisão nas mãos do
por vezes, não é fácil evitar a infil- Jerusalém a atual líder, Fernando Cabecinha. "Se
tração [da direita radical populista],
mas quando esta se deteta, a 'linha
avançar para fosse grão-mestre saberia o que fazer,
mas o povo maçónico entendeu que
vermelha' tem de ser absoluta." "Fora averiguações. não o devesse ser e, portanto, prefiro
[com esses maçons]!", afirma à VISÃO. não expressar a minha opinião. Sou
Embora "não possa confirmar" que Ex-grão-mestre disciplinado e respeitador. Cabe, agora,
as pessoas mencionadas nestas páginas
pertencem ao GOL, e em que condi-
quer expulsar ao atual grão-mestre assumir a posição
e as medidas que entenda sobre este
ções, Fernando Lima Vaiada considera extremistas assunto", conclui. III visao@visao.pt

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“INFILTRAÇÃO”
DA EXTREMA-DIREITA
AGITA MAÇONARIA
Tensão entre “irmãos”, por causa de membros com ligações à direita radical,
abala a unidade da organização. Paulo Ralha, assessor do Chega, é um
dos visados. Ex-grão-mestre quer avançar com expulsões

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