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SAI ÀS SEGUNDAS DOSSIERSEFACTOS.COM FACEBOOK: DOSSIERS & FACTOS

50Mt

DIRECTOR: Serôdio Towo | Segunda-Feira,04 de Dezembro de 2023| Edição nº: 540 | Ano: 10 | Distribuição: Online

MAZANGA REAGE À ACUSAÇÃO DE SIMULAR DOENÇA

“Querem
matar-me
politicamente”
- Não fazemos parte do grupo de
Pág 03 e 04 e 05 criminosos da CNE e STAE
LONGE DOS HOLOFOTES NAS GRANDES CIDADES

Falta de sangue
condena pacientes
à morte
REMOVIDO PÉ QUE TRAVAVA “CASO CAIFADINE”
PGR notifica deputados
para audições
 2 EDITORIAL DOSSIERS & FACTOS 04 de Dezembro de 2023 SEGUNDA-FEIRA

Sociedade Civil e mão externa

As Organizações da Sociedade
Civil (OSC) revestem-se de capital
importância e são indispensáveis
em qualquer país que se pretenda
democrático, como é o caso de
Moçambique. Pode se equiparar o
trabalho das OSC ao dos deputados, no
sentido de que são fiscalizadores das
acções do governo e alertam-no para
eventuais erros ou falhas.
Para além disso, algumas ainda têm
a particularidade de ajudar, de forma
directa, a satisfazer necessidades da
população. Tudo isso é importante e
é digno de aplausos da nossa parte.
Há, contudo, certas organizações
cuja actuação é, para nós, motivo de
preocupação, por haver indícios de que
ela não tem em vista a satisfação dos
supremos interesses nacionais, mas sim
de agentes externos.
Nos últimos tempos algumas destas
organizações surgiram a defender,
de forma vigorosa, que Moçambique
deve abandonar imediatamente a
exploração do gás, por ser prejudicial
ao meio ambiente. É, na essência, a
reprodução do discurso das nações
mais ricas do planeta e que tem sido
vincado desde a 26ª Conferência
das Nações Unidas sobre Mudanças
Climáticas (COP26), que teve lugar na
cidade de Glasgow, capital da Escócia,
no Reino Unido.
Conforme já referimos em edições
a n te r i o re s, a n a r ra t i v a s o b re a
conservação do meio ambiente esconde
uma pretensão maligna dos países
mais poderosos, que é, simplesmente,
travar o progresso das nações do
terceiro mundo que descobriram em
seus territórios importantes riquezas.
É preciso lembrar que as mudanças
climáticas não são um assunto de hoje,
elas são notórias já há muitos anos. Só
que, porque nessa altura as grandes
nações estavam preocupadas em
edificar os seus monstruosos impérios,
não havia interesse nenhum de levar o
tema a debate.
Neste momento, e tendo já atingido
um grande nível de desenvolvimento,
os mesmos países defendem que
deve se parar já com o uso dos
combustíveis poluentes, prejudicando
as nações mais pobres, que depositam
grandes esperanças na exploração de
hidrocarbonetos.
Esses países (os r icos) são os
principais culpados pela degradação
do meio ambiente. Convém lembrar
que o grupo dos 20 países mais ricos
do planeta, conhecido como G20, é
responsável pela emissão de 80% de
gases poluentes. Como tal, fica claro
quem deixou o planeta na situação em
que se encontra e, na nossa opinião,
só esse grupo deve pagar por isso.
Passar a factura aos outros é um acto
de pura maldade e é absolutamente
vergonhoso.
Moçambique, segundo nos consta,
está na posição 126 no ranking de
poluição, com apenas 0.02% de
carbono emitido. O nosso país está até
abaixo de Angola, que ocupa a posição
75 (0.09%) e da vizinha África do Sul
(1.09%). Depreende-se, a partir daqui,
que Moçambique está praticamente
isento de culpas, e, como tal, não deve
ver sua agenda de desenvolvimento
comprometida por conta do interesse
dos poderosos.
Assusta-nos, por isso, que alguma
OSC que se apresente como sendo
moçambicana esteja hoje a lutar para
impedir o progresso do seu próprio
país. Advogar o fim da exploração
do gás é claramente lutar contra as
aspirações do povo moçambicano e
quem o faz só pode estar ao serviço de
“outros patrões”.
É triste ver moçambicanos rasgarem
o patriotismo em nome de agendas
externas, mais ainda quando está claro
que os países que hoje nos querem
obrigar a abdicar na nossa riqueza não
estão dispostos a compensar-nos por
isso. Desde a conferência de Paris que
prometem compensar os mais pobres
e mais afectados pelos estragos que
eles provocaram, mas a mobilização de
fundos tem sido uma lástima.
Nessas circunstâncias, é justo referir
que Moçambique não ganha nada
deixando de explorar o gás e o carvão.
Antes pelo contrário, perde uma
soberana oportunidade de crescer e
melhorar a vida dos seus cidadãos.
Consequências? Existem, sim, mas essas
já as sofremos sem culpa nenhuma,
como se viu quando o ciclone Idai
sacudiu a cidade da Beira.
Entendemos que, mais do que nunca,
é o momento de África se unir para fazer
valer os seus interesses na economia
mundial, sob pena de continuarem
a ser os outros a decidirem como
devemos viver. Nesse sentido, as OSC
são convidadas a reflictir sobre suas
acções, por forma a perceberem se
estão mesmo a trabalhar para melhorar
a vida do povo ou para perpetuar a
agenda imperialista entre nós. Neste
momento, parece-nos que muitas
estão do lado errado da história, o que
nos faz também questionar a quem
servem as OSC?
serodiotouo@gmail.com

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 SEGUNDA-FEIRA 04 de Dezembro de 2023 DOSSIERS & FACTOS DESTAQUE 3

FERNANDO MAZANGA DEFENDE-SE DAS “TEORIAS DE CONSPIRAÇÃO”

“Há uma cabala para assassinar-me

politicamente”
- “Não estamos no grupo de criminosos da CNE e do STAE central”
- “Meu coração dói quando ouço as pessoas pegarem na minha saúde
e dizerem que eu fugi, fugir de quê?”

A
ausência no memento da votação
dos resultados das VI Eleições
Autárquicas em sede da plenária
da Comissão Nacional de Eleições
(CNE) colocou Fernando Mazanga no cen-
tro das críticas. Muitos são os que o acusam
de ter recebido dinheiro para trair a Rena-
mo, mas Mazanga contrapõe tudo nesta
grande entrevista e até apresenta provas
de que, efectivamente, estava doente e fi-
sicamente débil, depois de ter estado em
coma por 72 horas. O vice-presidente da
CNE garante igualmente que os vogais
daquele órgão oriundos da oposição sub-
meteram declaração de voto vencido ao
Conselho Constitucional (CC), como forma
de mostrar sua oposição aos resultados
aprovados pela entidade de que faz parte.
O político descreve-se como “osso duro de
roer na CNE”, onde diz haver “criminosos”,
por isso acredita estar a ser alvo de uma ca-
bala para assassiná-lo politicamente. Rela-
tivamente à queixa-crime submetida pela
Renamo contra os vogais da CNE, Mazan-
ga assegura estar de consciência tranquila
porque sempre esteve do lado da verdade.

D&F Texto: Serôdio Towo

Dossiers& Factos (D&F): Fernando Mazanga,

temos uma situação política delicada. Venâncio
Mondlane submeteu queixa-crime junto à Procura-
doria-Geral da República (PGR) contra os 17 vogais
da CNE, assim como contra os juízes conselheiros
do Conselho Constitucional (CC). Mazanga é vice-
-presidente da CNE, indicado pelo partido Renamo
e também está na lista dos que são visados por Ve-
nâncio Mondlane ou pelo Partido Renamo. Como
interpreta isso?
Fernando Mazanga (FM): Eu sempre tenho dito
que tenho compromisso com o povo moçambicano,
que está estabelecido na Constituição da República,
que é de informar a verdade. Por isso, vou continuar a
aceitar e a trabalhar nestes moldes de tudo fazer para
esclarecer aquilo que estiver ao meu alcance. Eu en-
tendo que o partido Renamo é uma estrutura muito
forte e muito coesa e que pode tentar qualquer acção
na salvaguarda daquilo que acha que terá sido des-
viado, e neste caso concreto pode mandatar um dos
seus quadros ou alguns dos seus quadros para leva-
rem a cabo procedimentos jurídico-legais. Mesmo
nós, naturalmente, quando desaparece alguma coisa
em casa, primeiro temos que procurar entre nós para
ver se poderá ter havido alguém que, por uma e outra
razão, terá ficado com o objecto. Na nossa tradição,
dizemos que procuramos o cabrito até em cima da ár-
Fernando Mazanga, vice-presidente da CNE
vore, porque nós queremos ter a verdade. Portanto, eu
acho que o partido mandatou o Venâncio Mondlane.
Venâncio virou o porta-voz daquela acção. Portanto,
um dos problemas na comunicação é que o porta-
-voz leva a essência, o objecto principal daquilo que
se pretende transmitir. As palavras são do porta-voz,
mas o conteúdo do fundo é aquilo que o partido diz.
O Venâncio pode ter usado as suas palavras, mas para
interpretar o conteúdo central do partido é preciso
procurar entender o que é que aconteceu com aque-
les resultados que, passados já para o Conselho Cons-
titucional, deram azo a uma pseudo-recuperação de
quatro municípios. Então, o que é que aconteceu na
CNE que fez com que os resultados fossem para o CC
supostamente com menos estes quatro municípios
(para a Renamo) e outros quatro onde deve haver
repetição? O partido entende que não são só estes
municípios, assim como também os membros da CNE
oriundos do partido Renamo o entenderam. É por isso
que, naquele dia, nós, como membros da Renamo, vo-
tamos contra e fizemos declaração de voto vencido e
depois elencamos as razões de termos votado contra.
Portanto, a deliberação que leva os assuntos para o CC
leva também a declaração dos membros da Renamo,
que não estão conformados com os resultados. Ou
seja, não há diferença entre o que a Renamo fez, e faz
aquilo que os membros da Renamo na CNE fizeram.
D&F: Portanto, estão alinhados dentro do
partido?
FM: Fizemos a mesma coisa, a forma de fazer é que
é diferente. Procuramos nós o nosso sítio imediato
para onde deveríamos ir, que é o CC, por isso subme-
temos lá a nossa declaração do voto vencido, e isso
está provado, até porque consta do Boletim da Repú-
blica. Por seu turno o partido Renamo também. O pri-
meiro sítio para onde deveria ir reclamar é o CC, por
isso, remeteu lá o seu protesto. Não tendo conseguido
o objectivo principal, recorre já a outras instâncias ju-
rídicas, neste caso concreto é a PGR, que pode encon-
trar crime e criminosos, porque existem criminosos, e
dentro da CNE nós também temos dito que existem
criminosos. E quando falamos da CNE estamos a fa-
lar também do STAE, estamos a falar de toda a rede,
porque os resultados que nós tivemos vieram do dis-
trito, do STAE distrital. A Comissão Distrital aprovou-
-os. Mas, mesmo no distrito, os membros da Renamo
e do MDM votaram contra. E passou para a província e
aconteceu a mesma coisa. No distrito, os membros da
• Continua na Pág 04
 4 DESTAQUE DOSSIERS & FACTOS 04 de Dezembro de 2023 SEGUNDA-FEIRA

Renamo e do MDM votaram contra, na CNE aconteceu Devia dizer-se que há pes-
a mesmíssima coisa. Mas nós dissemos a quem de di- soas dentro da CNE que não
reito, que é o CC, “não aprova esses resultados porque votaram a favor. Portanto, eu
temos estes problemas que estão dentro da nossa de- estou tranquilo. Precisamos
claração de voto vencido”. Isso não foi considerado e que a Renamo faça isso mes-
o próprio partido Renamo acabou recorrendo à PGR. mo, que continue com este
Então, eu acho que é normal que o partido tenha feito processo porque, de facto,
assim. Eu, tendo a consciência tranquila e limpa, acho dentro da CNE há crimino-
normal que a Renamo tenha procedido dessa forma. sos. Pretendemos que isso
Eu tenho a minha razão, que vou provar, tal como to- avance e, em sede da PGR,
dos os meus colegas que vieram comigo, com quem nós vamos dizer a nossa ver-
fiz a declaração de voto. Temos um instrumento de dade, vamos indicar aquilo
aclaração, que mostra que não estamos no grupo de que são as nossas suspeições
criminosos da CNE e do STAE central. pela forma como o proces-
so foi dirigido, porque não é
“Temos problemas sérios no STAE que são trans- aceitável que nós tenhamos
portados para a CNE” tido os presidentes das me-
sas a recusarem assinar os
D&F: Está a dizer que esta queixa não tem nada editais. São pessoas que têm
a ver com o facto de os membros da Renamo esta- contrato com o STAE. O STAE
rem a ser desconfiados dentro da própria Renamo? pagou a pessoas que depois
FM: Não, muito longe disso, até porque o que a Re- não trouxeram o produto do
namo está a pretender fazer é limpar a imagem dos seu trabalho, porque o pro-
membros da CNE, oriundos da Renamo. Por mais que duto do presidente da mesa
nós votemos sempre contra, dizem que a CNE apro- é a acta e o edital, mas não
vou, mas nós não aprovamos. Porque é que não se diz trouxeram e o STAE fica ca-
que uma parte dos vogais da CNE votaram a favor e lado e até promove pessoas
outra parte é que votou contra? O mal grande é que assim, como aconteceu na
temos um porta-voz que, às vezes, quando chega lá Zambézia. Há problemas sé-
fala em nome da CNE e evita o facto de que alguns rios dentro do STAE que são
não concordaram. O público acaba por consumir coi- transportados para a CNE e
sas erróneas. Nós representamos mais de um terço uma parte dos membros da
dos membros da CNE, então esta diferenciação deve- CNE dá aval a coisas tão ní-
ria ser vincada em todo momento e a qualquer altura. tidas que são feitas no STAE.

Eis as assinaturas dos membros da CNE que não concordam com os resultados
Portanto, deve avançar forçaram. Tivemos um embate muito complicado e eu
a Renamo, sim, porque ainda estava em convalescença, ainda tinha uma auto-
nós temos a consciência rização médica para descansar.
tranquila e nós vamos D&F: Há vozes que acusam Mazanga de ter si-
colaborar com a justi- mulado doença para fugir na hora da votação.
ça moçambicana para FM: O meu coração dói quando ouço as pessoas
trazer à tona a verdade pegarem na minha saúde e dizerem que eu fugi, fu-
sobre o que é que acon- gir de quê? Eu fui porta-voz da Renamo por 12 anos e
teceu nos dias 25 e 26 de nunca fugi. Estou na CNE há nove anos e nunca fugi,
Outubro. Por exemplo, por que razão ia fugir hoje? Há má-fé nas pessoas. Há
a sessão que apurou os pessoas que querem se aproveitar daquele estado la-
resultados não era com- mentável em que eu estava, mas entendo o porquê.
petente para apurar os Ficaram nervosos porque fiz um esforço no dia 26,
resultados. Foram mar- combinado com o presidente do partido. Ele disse,
cadas no dia 25 duas ses- vá à leitura dos resultados de modo que possa dar a
sões, uma às 10h, para sua versão à comunicação social, para os moçambica-
aprovar os instrumentos nos entenderem, porque se for só o presidente Mat-
que fariam parte da As- sinhe a ler e você não apresentar a sua contraposição
sembleia Geral de apu- as pessoas vão consumir aquilo que tiver sido feito e
ramento, que é a junção dito pelo Matsinhe. Veja que, apesar de dizerem que
de toda matéria que vai Mazanga fugiu, oito dos membros da CNE que lá es-
justificar que o fulano tiveram votaram a favor destes resultados. Do nosso
de tal é que teve esses lado foram cinco que votaram contra. Naquele lapso
votos, e na presença dos de tempo – cerca de 6h em que fiquei em estado gra-
mandatários. Mas não ve – transformaram a sessão que era só para aprovar
foi isso que aconteceu. os documentos em sessão para aprovar os resultados.
Nesta sessão que come- Por que é que se votou na sessão das 18h na ausência
çamos às 10h, eu bati- dos mandatários e aproveitando-se do momento em
-me com muita força até que eu estava em crise? Todos lá na CNE vivenciaram
cerca das 15h, a recusar este aspecto e viram mesmo que eu não estava bem.
que aquela sessão fosse Mas, mesmo assim, às 4h eu voltei e quando cheguei lá
competente para poder ainda fui a tempo de assinar acta e a nossa declaração
indicar os vencedores de voto. Agora onde é que eu fugi?
Declaração de voto vencido ou perdedores, mas eles D&F: Clarifica, Mazanga, houve mesmo declara-
 SEGUNDA-FEIRA 04 de Dezembro de 2023
ção de voto de vencido do vosso lado?
FM: Sim, houve, e existem provas disso!
“Sou osso duro de roer na CNE”
D&F: As interpretações que são feitas são de
que não houve voto vencido…
FM: As pessoas não lêem, as pessoas só julgam.
Está aqui em cima (apontando para o documento) a
declaração do voto vencido. Estão aqui as assinaturas
de Fernando António Mazanga, Abílio Fonseca Baece,
Alberto João Sabe, Bernabé Nkomo – este é do MDM e
assinou connosco – Rui Manuel Cherene e Apolinário
João. E se for a pegar na própria acta, também está lá
a minha assinatura. Há uma cabala que quer acabar
com Mazanga politicamente, porque eu sou um osso
duro de roer na CNE e digo isto com todo o orgulho,
e eles sabem. Mazanga não se importa de aguentar
cinco horas a enfrentar todos aqueles da Frelimo e
eles sabem que não têm capacidade suficiente para
contrariar, porque quem fala a verdade, mesmo que
esteja sozinho, vai falar a verdade. Mas eu tenho uma
equipe – os meus colegas – que percebem. Outros
são novos e nunca tinham participado deste proces-
so, mas eles conhecem as matérias, porque nós antes
Documento do ICOR confirma que Mazanga teve “coma diabético”, pneumonia aspirativa e lesão renal aguda
DOSSIERS & FACTOS
temos que ter concertação. Então, como pode ver, nós
fizemos, sim, a assinatura da declaração de voto.
“Frelimo agita pessoas da Renamo”
D&F: Venâncio Mondlane disse no dia da lei-
tura do acórdão do CC que se sentia abandona-
do e que haveria pessoas que estariam a festejar
do outro lado. A quem se referia? Não terá a ver
com os membros da CNE?
FM: Não, nunca houve contradição com Venân-
cio, com nenhum dos candidatos. Eu tenho articu-
lado com todos eles. Eles me dão os seus dados e
eu lhes forneço os meus dados, desde o Manuel de
Araújo a Venâncio. Nós precisamos de estar unidos.
Agora, há situações. A Frelimo usa uma estratégia
que é mais ou menos a seguinte: se você pegar em
100 formigas vermelhas e meter numa jarra de vi-
dro, e pegar 100 formigas pretas meter na mesma
jarra, não vai acontecer nada. Mas dentro dessas
100 vermelhas e pretas, se pegar na jarra agitá-la,
depois as formigas vermelhas vão querer atacar e
as pretas também. Portanto, no fim do dia o que
acontece é que há pessoas de fora, neste caso con-
creto, o adversário da Renamo, que agita as pes-
soas. E a fala é dinâmica. Portanto, a adrenalina que
DESTAQUE 5
ocorre quando estamos a falar pode fazer aparece-
rem algumas ideias que eventualmente não falaria
numa situação normal.
D&F: Está a sublinhar que na Renamo não há
problemas, há coesão?
FM: Não há nenhum sítio onde não haja proble-
mas. Seria só nas sociedades meritocráticas e nós
não estamos nesse tipo de sociedade. Nós somos
um partido, uma sociedade que persegue um fim.
Por isso, até a existência de pensamentos diferen-
tes é muito positiva. Então, essas ideias diferentes
que existem dentro da Renamo são muito benéfi-
cas para o seu crescimento. Agora, que não exis-
tam contradições antagónicas, que possam levar
a que a presença de um exija a eliminação do ou-
tro. Não podemos entender isso como uma crise.
Apesar de as crises serem oportunidades para um
crescimento.
D&F: Olhando para os diferentes pronuncia-
mentos, há diferença de pensamento agora en-
tre os cabeças-de-lista, a direcção da Renamo e
os membros da Renamo na CNE?
FM: Eu não encontro nenhuma diferenciação,
não encontro. O que vejo é que cada sítio é uma
unidade geográfica eleitoral. Cada candidato ou
candidatura tem a sua ambição, o seu desejo. Mas
quando se traz a figura de Ossufo Momade, já não
estamos a ser coerentes. Ossufo Momade é o líder
que coordena as acções, mas há aquilo que chama-
mos de particularidade de cada candidatura. Dois,
há coisas que os candidatos querem ver esclare-
cidas e quando não têm esclarecimento podem
virar-se mesmo contra os próprios organizadores.
Aqueles candidatos dos municípios não estão fora
daquilo que é o xadrez colocado pela própria Rena-
mo de levar a CNE para a PGR. Portanto, não é que
particularmente os candidatos da Renamo estejam
contra os membros da Renamo que estão na CNE.
Estão contra as fraudes perpetrados naquele apura-
mento, das quais também estamos contra.
D&F: Recuando um bocado, disse que há má-fé
na interpretação das pessoas…
FM: Eu não posso dizer que é má-fé a interpreta-
ção das pessoas. Há falta de comunicação, há falta
de esclarecimento. As pessoas precisam ouvir, mas
quando elas são obstruídas de ouvir, julgam. Portan-
to, as pessoas têm a sua legitimidade porque não es-
tão a ser esclarecidas. As pessoas não são culpadas
das interpretações. Há pessoas que usam a comuni-
cação social para deturpar sem conhecer a verdade.
Há pessoas que até são esclarecidas e conhecem essa
dinâmica de que na comunicação e no jornalismo o
que tem que privilegiar é o contraditório, mas não o
fazem. É por isso que eu chamo de jornalismo ama-
relo. A maior parte de jornalistas praticam o jornalis-
mo amarelo, seco, que não tem vida. E a forma de dar
vida ao jornalismo é ouvir as várias versões, ouvir o
contraditório. Então, as pessoas têm a sua razão se
acharem que nós, como a Renamo, somos culpados,
por falta de explicação. Mas eu acredito que, a par-
tir do momento que forem a ler essa entrevista, vão
saber qual é a verdade sobre os factos que são nar-
rados relativos ao apuramento feito nos dias 25 e 26
de Outubro.
D&F: Fernando Mazanga, tem mais alguma coi-
sa a dizer?
FM: Bom, o que eu tenho a dizer, em particular,
é que a grandeza dos homens não se mede aos pal-
mos. Há muita gente que não fica satisfeita com a
ascensão de outras pessoas, mas Deus fez cada um
com orelhas e nariz com tamanhos diferentes, não
fez pessoas iguais. Eu gostaria de fazer um apelo para
que os invejosos diminuam e façam mais no sentido
de se auto-superarem, porque aí vamos fazer com
que o País cresça, vamos fazer com que as nossas or-
ganizações cresçam, sobretudo quando se trata de
organizações políticas. Precisa-se de muita coesão e,
sobretudo, coesão à volta da liderança, porque todo
líder tem que emanar em si o apoio de todos.
 6 DESTAQUE
CASO CAIFADINE MANASSE
Deputados notificados para
audições na PGR
A
penas alguns dias depois de o
advogado de Caifadine Manas-
se, Custódio Duma, queixar-se
da pretensa existência de um
“pé pesado” a travar o processo que o seu
constituinte move contra 23 deputados, os
visados são notificados para audições na
Procuradoria-Geral da República (PGR). As
audições decorrerão de 11 a 15 de Dezem-
bro em curso.
D&F Texto: Dossiers & Factos
Parece estar removido o “pé pesado” que, segundo
Custódio Duma, em entrevista publicada na edição 537
do Dossiers & Factos, estaria a impedir o andamento
normal do processo que Caifadine Manasse está a mo-
ver contra 23 parlamentares, por sinal, seus colegas de
bancada e do círculo eleitoral, no caso o da Zambézia.
Dossiers & Factos interceptou uma notificação dirigi-
da a um dos 23 deputados visados pelo antigo secretá-
rio para Mobilização e Propaganda da Frelimo, que se
sente difamado e injuriado pelos seus pares do Comité
Provincial da Zambézia, que o acusou de ter associado
o nome de Hérder Injojo, vice-presidente da Assembleia
da República, ao tráfico de drogas.
As notificações entregues aos visados baseiam-se
num despacho emitido pela PGR com indicação de data
e hora de audição de cada um. De acordo com o docu-
mento na posse do Dossiers & Factos, a primeira a ser
Caifadine Manasse, deputado da AR
DOSSIERS & FACTOS
Entre os 23 deputados arrolados
nesta contenda jurídica, está Damião
José, membro da Comissão Política do par-
tido Frelimo que, recentemente, e aparente-
mente em resposta às declarações de Graça
Machel, que apontavam para a existência
de problemas na Frelimo, disse em entrevis-
ta não haver qualquer crise interna.
ouvida será a deputada Aida Morais Soares, cuja au-
dição está marcada para às 8:30h do próximo dia 11
de Dezembro.
A maratona deve ser encerrada a 15 de Dezembro,
com a audição de Zuria Tuauibo Assumane.
Um dado interessante é que, ao contrário do que
indicava o ofício nº 409/GAB-PGR/052.343/2023, já
não será o magistrado titular dos autos de instrução
nº 04/PGR/2023 a deslocar-se à Assembleia da Repú-
blica para ouvir os deputados. A nova indicação é que
estes terão de se deslocar à Procuradoria, natural-
04 de Dezembro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
mente na companhia dos seus respectivos advogados.
Damião José desmentido
Entre os 23 deputados arrolados nesta contenda
jurídica, está Damião José, membro da Comissão Po-
lítica do partido Frelimo que, recentemente, e aparen-
temente em resposta às declarações de Graça Machel,
que apontavam para a existência de problemas na
Frelimo, disse em entrevista não haver qualquer crise
interna.
A leitura parece não estar alinhada com os factos,
atendendo e considerando o facto de ele próprio estar
a ser alvo de um processo movido por um correligio-
nário seu, com quem comunga não só a ideologia polí-
tica, como também a Bancada Parlamentar e o Círculo
Eleitoral.
Neste momento, a pergunta que não se quer calar é
se Damião José continua a acreditar estar tudo bem na
Frelimo ou se estes novos desenvolvimentos, que são
inéditos, farão com que mude de ideia.
Eis os 23 visados
A 31 de Maio, a equipa jurídica que representa
Caifadine Manasse, e que é liderada pelo advoga-
do Custódio Duma submeteu junto à Procurado-
ria-Geral da República uma participação criminal
contra 23 deputados da Assembleia da República,
nomeadamente Aida Maria Soares Gouveia, Alice
Ana Francisco Kufa, Arlinda Cipriano de Sousa,
Ássia Paulo Abudo Ali, Crimo Fretas de Oliveira,
Clarice da Esperança Milato, Cláudio Fernandes
da Meta Fone Wah, Damião José, Deolinda Cata-
rina Chochoma, Eusébio Nanguia Mulange, Iná-
cia Henriques Carneiro Ngonde, Jacinto Gabriel
Lourenço Capito, João Catemba Chacuamba, Jo-
sefa Jacinto Música, Lúcia José Madeira, Momade
Arnaldo Juízo, Sábado Chombe, Sabir José Vasco
Maquege, Safi Mahomed Remam Gulamo, Sara
Maria Ussumane, Sebastião Inácio Saide, Zainane
Memane Ossumane e Zuria Tauibo Assumane, to-
dos do Círculo Eleitoral da Zambézia.
 SEGUNDA-FEIRA 04 de Dezembro de 2023
Falar da sexualidade humana é abor-
dar de forma particular a vida da socie-
dade que absolutamente não escapa às
dimensões metafísicas e teleológicas do
Homem. A muito que temos contem-
plado o sadismo emergente nas nossas
sociedades devido a esta esporádica
expressão carnal que, por vezes, limita
a capacidade de pensar e agir, indubi-
tavelmente acabando por induzir-nos a
uma atitude errónea da prática sexual.
Para mim, é na verdade difícil pensar
num mundo “dissexualizado”, onde a se-
xualidade não seja vista como um vídeo
game que compramos e adquirimos em
cada esquina. Mesmo sabendo que a se-
xualidade humana é a expressão carnal
do amor pessoal, existe sempre a neces-
sidade de preservar a tal sexualidade,
do que usufruirmos dela como se esti-
vesse para entrar em extinção.
Certamente que a partir das convic-
ções que um ser toma perante uma
atitude sexual, isso passará a qualificá-
-lo dentro dos parâmetros sociais onde
estiver inserido, porquanto é a partir daí
que se torna imperioso definir o Homem
pelo que tem de animal para averiguar
as graves proporções no que concerne à
sexualidade.
Para a juventude de hoje em dia, a se-
xualidade ou praticamente o sexo pas-
sa de certa forma a ser o B.I (bilhete de
identidade) na medida em que vê o sexo
como força motriz duma prova de amor.
Mas será necessário ou correcto? E é
esta atitude que remete-me a Jean Paul
Sartre, quando dizia: “ (...) mas como é
sujo o amor (...) ”
Falo do amor de hoje em dia que é pra-
ticamente um hobby e nada mais que
um sexo comprado e armazenado em
cada compartimento do quarto de cada
Homem devido ao abusivo enlace e a
prática do sexo massivo que emana na
sociedade espíritos pornográficos, cora-
ções putrefactos que morrem de prazer,
não o prazer de querer viver e praticar a
castidade, mas o prazer de devorar o úl-
DOSSIERS & FACTOS
ACTIVISIONISMO
Para quando a dissexualização
da sociedade
Sérgio dos Céus Nelson
timo suspiro daquele “parceiro-cobaia”.
É como dizia Freud, “o ponto fraco (de
nossa civilização) reside precisamente
na sexualidade”, coisa que não é preciso
ser um Deus ou um saudoso sábio para
reconhecer o tal enigma que emerge
nos nossos ditames devido à hipertro-
fia das nossas gulas sarcásticas. Somos
vulneráveis por natureza e feridos por
condição, sorte que estamos povoados
de cumplicidades interiores de uma so-
ciedade hipersexuada.
Para cada jovem, hoje em dia, há sem-
pre necessidade de preservar uma ga-
rantia sexual como se de licenças ven-
didas se tratasse. Não é de se espantar
que compremos o sexo como compra-
mos um simples cachorro porque a luz
reluzente do outrora que nos ensinava a
sermos “castos” já foi há milénios extinta.
Estas fogosas atitudes podem vir a
ser a maior dificuldade daqui a alguns
tempos, John Rock que o diga: “a maior
ameaça à paz mundial (...) não é a ener-
gia atómica, mas a energia sexual”.
Pode parecer uma visão hiperboliza-
da, mas no que nos aflige como seres,
há sempre lá uma mão do sexo. Não
que esteja a dizer que tudo que faze-
mos, fazemos pensando no sexo. Não
é isso que pretendo abordar. Mas pre-
tendo sim ilustrar até quando e onde o
sexo pode chegar com a nossa evolução
sexual.
Não é de se admirar por causa da na-
tureza das coisas que se tem plasmado
no nosso sertão, porque ainda na fase
da adolescência, mesmo que a biolo-
gia explique isso, há sempre um acrés-
cimo do vício sexual. Particularmente
nos dias que vivemos. Muitos dos ca-
sos são os que afugentam nos jovens
o desejo abusivo da masturbação (ex-
cessiva), atitude que acaba tornando a
masturbação algo “natural” e sabemos
que apesar de ela ser um “aprendizado”,
pode ser também uma limitação na ex-
pressão amorosa de um parceiro para
com o outro.
OPINIÃO 7
Procuro trazer esta patologia da dis-
sexualização, visto que caminhamos a
passos largos para uma sociedade em
que será fácil praticar o acto sexual em
cada esquina. Talvez já estamos na tal
sociedade, onde se fala dos corifeus das
licenças sexuais por de tanto contem-
plarmos a razão atrofiada numa tristo-
nha desonra dos laços morais e éticos
por causa desta sexualidade exagerada
que usufruímos a cada dia.
Com a desmitificação dos tabus se-
xuais, acabou-se em uma libertação eró-
tica sem precedente. Uma sexualidade
obcecante, cansativa que atrofia as nor-
mas de convivência moral e humana.
Na nossa sociedade nota-se que há
um rompimento com o antigo pensa-
mento de Paul Charbonneau, que dizia:
“não há sexo verdadeiramente humano
a não ser quando em seu exercício é si-
nal de amor”. Claramente que hoje em
dia pratica-se o contrário.
A impotência, o esgotamento das
forças vitais são resultados da prática
excessiva e de certa forma abusiva do
sexo. Mas muito por parte da juventu-
de onde o pan-sexualismo – força mo-
triz da impotência sexual e psicológica
torna-se um costume adquirido.
Antigamente a virgindade era exalta-
da como a expressão da mais alta qua-
lidade espiritual ou moral, mas hoje é
simplesmente uma cegueira, é estar fora
da moda. Que loucura! O sexo dominou
a terra!
Não conseguimos nos conter quan-
do vemos uma sainha curta, pensamos
logo em devorar aquela mulher, não é
que tenhamos que ser de ferros e acei-
tarmos todas exibições, mas há uma ne-
cessidade de saber definir-se como um
ser que pode fazer mais por si ao invés
de acreditar que o sexo (Hobby) é o que
merece mais atenção.
Será possível a dissexualização da hu-
manidade. Acredito que não, já estamos
muito avançados e parece não ter como
recuar.
 8 OPINIÃO
Possível solução para o crime em Moçambique
Os programas de interferência na
Polícia e criação de células políticas
são uma das principais razões do pés-
simo crescimento normativo e dis-
ciplinar da Polícia em vários países,
sendo que Moçambique não é uma
excepção. Notabiliza-se a falta de li-
mites claros entre os políticos na go-
vernação e as instituições estatais que
zelam pelo bem-estar do povo.
Neste contexto, assiste-se a um cer-
to investimento em aspectos de segu-
rança, ordem e disciplina na Polícia,
relegando a um segundo plano os as-
pectos de educação, formação profis-
sional, actividades recreativas, saúde,
pesquisa, perícia criminalística, entre
outras áreas. Entende-se que aumen-
tar a musculatura policial para repri-
mir o povo é prioritário na defesa de
interesses políticos.
As dificuldades do Estado no que
diz respeito aos fundos para a melho-
ria dos diversos ramos da Polícia é
um problema, pois se existissem essas
condições seria minimizada a activi-
dade criminal no solo pátrio.
Embora o desemprego, consumo
de bebidas alcoólicas e drogas sejam
a razão do crescimento dos índices
de criminalidade, a Polícia também
joga um papel de conivente no cresci-
mento do índice de criminalidade em
Moçambique, ao permitir-se convi-
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DOSSIERS & FACTOS
PRIMEIRO PONTO
Nobre Rassul
ver com criminosos de forma a obter
ganhos do crime e agir como man-
dante do próprio acto criminal.
A necessidade de satisfação dos
problemas basilares do policial, par-
ticularmente os da cesta básica, que
está acima do seu salário, rondando
os 30 mil meticais (contra os qua-
se 8000 actualmente recebidos) são
as justificações que se encontram no
seio de alguns policiais auscultados
para migrarem para o caminho do
crime.
O modelo de actuação dos crimi-
nosos às vezes é copiado pela própria
Polícia para assaltar, extorquir e ma-
tar, entre outras práticas criminais,
colocando-se depois a culpa no crimi-
noso já conhecido na praça. Assim, a
eficiência e a eficácia dos polícias que
se dedicam à actividade criminosa
já não têm por base no seu trabalho
quotidiano o respeito ao princípio da
legalidade, ética e implementação dos
procedimentos próprios de custódia
da prova. Ainda por cima contam
com a protecção de certa elite política.
A instabilidade do sistema prisio-
nal e as dificuldades de reinserção do
criminoso na sociedade criam condi-
ções para o uso exclusivo do crimi-
noso para o cometimento de crimes
telecomandados a partir de dentro da
corporação policial.
04 de Dezembro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
Estatísticas sobre a criminalidade
indicam que mais de 60% dos reclu-
sos pertencem à faixa dos 16-25 anos,
de acordo com o Serviço Nacional
Penitenciário – SERNAP.
O nível das relações com o ambien-
te penitenciário tem sido a causa do
regresso dos reclusos ao crime. Há
instabilidades frequentes, interrup-
ções sistemáticas nos processos, im-
previsibilidade nas actividades diá-
rias e ambientes turbulentos - “caos”.
A dimensão deste problema é ampla.
Inclui as respostas do sistema de jus-
tiça, normas sociais e culturais, tole-
rância da sociedade à violência, meios
de comunicação social e contexto po-
lítico, segundo a Bronfenbrenner &
Evans, 2000.
Compreende-se que a governação
política em Moçambique procura
capturar as fileiras da corporação po-
licial, incluindo os serviços secretos,
onde as actividades de contra-inteli-
gência são guiadas para satisfação de
assuntos meramente políticos e sem
benesses para a nação.
O jogo político que ocasiona esta
dura realidade é da ambição, de con-
trolo sistemático das pessoas e mar-
ginalização de classes, embora em al-
guns casos se deva ao receio de golpes
de Estado, um assunto que reservo
para uma outra ocasião.
 SEGUNDA-FEIRA 04 de Dezembro de 2023
MAYITABASSA!
O premiado pela mediocridade
Por: NkassanaWaka-Tembe–nkassana@gmail.com.org
Todo o profissional se esmera quando
suas obras são verdadeiramente reco-
nhecidas. Ser premiado significa que os
princípios básicos de qualidade no que
fazemos foram claramente observados.
A integridade e a transparência são parte
destes princípios. Um bom colaborador
pauta por seguir estes princípios e sem,
muitas das vezes, preocupar-se com o
ganho momentâneo que isto pode trazer.
Infelizmente, esta tese, mais uma vez,
foi pontapeada pela CNE – Comissão Na-
cional de Eleições, a nível da província da
Zambézia. Se até à data continuamos in-
cógnitos em relação aos resultados das
sextas eleições autárquicas e ainda com
a ferida fresca, eis que somos brindados
com uma daquelas atitudes de ranger os
dentes.
De variados capítulos que compõem a
novela sobre eleições em Moçambique,
um destes está relacionado com o famo-
so presidente de mesa que, em pleno
processo de contagem dos votos, sim-
plesmente recusara-se a proceder com
a assinatura das actas, instrumento este
que confirma o facto de o apuramento
parcial ter sido conduzido dentro das nor-
mas e princípios que a lei eleitoral orienta.
Graças às tecnologias de comunicação,
assim como à astúcia dos presentes, foi
possível ver este mesmo presidente a ser
pressionado de variadas formas para que
assumisse a sua responsabilidade como
órgão máximo naquela mesa de vota-
ção. Pequenas e curtas-metragens dos
telemóveis doutros membros da mesa
da assembleia claramente mostram o
presidente a ser perseguido e capturado
como forma de devolvê-lo ao seu espaço
de trabalho e obrigá-lo a concluir o pro-
cesso dentro das normas definidas.
Infelizmente, ficamos sem saber o des-
fecho deste caso, mas claramente ficou
divulgada e a olho nu uma das artima-
nhas que só veio manchar o processo no
seu todo. O presidente recebeu a tal or-
DOSSIERS & FACTOS
dem superior para não assinar a acta final
como forma de evitar qualquer tipo de
descalabro, confirmando o seu acto do-
loso para com as irregularidades, denun-
ciadas quase por todos.
As recentes eleições em Moçambique
foram tão injustas de tal forma que, vol-
vidos cerca de 60 dias após a sua reali-
zação, ainda não se tem resultados pro-
mulgados pelas instâncias competentes.
Aliás, até porque num processo bastante
contestado pela oposição, o CC – Conse-
lho Constitucional – também se tornou
um actor “inglório” por não ter mostrado
a tal transparência e justiça que todos
esperam deste órgão. A opinião pública
rebate e afirma que, em processos cuja
dimensão da discórdia é tamanha, o ló-
gico seria invalidar todo o processo. Para
fazerem tal afirmação, socorrerem-se ao
ditado que diz ”um peixe podre contami-
na todo o cardume”.
Há irregularidades reconhecidas em
quase todo o processo das eleições au-
tárquicas e, como se pôde concluir, não
existem pequenas e grandes irregulari-
dades. Houve fraude, sim. Há votos mal
contados, votos invalidados, votos atri-
buídos a quem não merece. Então, estes
atropelos são o exemplo necessário para
que o CC tomasse a verdadeira coragem
e dizer não a este escrutínio, cobrindo-se
da força da Constituição da República de
Moçambique como importante instru-
mento para a reposição da justiça no País.
Voltando ao prémio da mediocridade,
não se sabe com que fórmula o “ilustre”
presidente daquela mesa mereceu esta
promoção. Ao ser promovido a presiden-
te da Comissão Distrital de Eleições, mais
uma dúvida paira. Com que elementos
uma personalidade beliscada pode me-
recer confiança para assumir cargos de
chefia nas instituições públicas? A Comis-
são Provincial de Eleições, ao indicá-lo
para director distrital daquele órgão, veio
ao mundo confirmar que só precisamos
OPINIÃO 9
de ser protectores de uma causa injusta
para sermos gestores ao mais alto nível,
ou seja, bajuladores tem lugar na gestão
da coisa pública.
O presidente da mesa protagonizou
acções criminosas e que, numa situação
clara de justiça, este devia estar, nesta
hora, na barra do tribunal para responder
perante a justiça. Quiçá esteja a correr em
instância de justiça algum tipo de proces-
so contra este cidadão.
Fica por se explicar como é que uma fi-
gura contestada pode, num abrir e fechar
de olhos, ser promovida a um lugar de
chefia de tamanha responsabilidade. Que
tipo de reconhecimento ou pagamento
esta sendo feito a este cidadão? Será que
para se atingir lugares cimeiros de carrei-
ra todo o profissional público precisa de
se submeter a más práticas, ferindo todos
os princípios éticos e deontologismo de
uma instituição pública?
Estas questões precisam de ser escla-
recidas, sob o risco de, de hoje em diante,
todos termos de pautar pela mediocrida-
de, má-fé e sabotagem do bem público
como forma de sermos promovidos.
Este é mais um problema para o já con-
testado Bispo. Ele precisa de encontrar
fórmulas flexíveis de lavagem da sua ima-
gem e mandar anular aquela nomeação.
Deve ser esta uma atitude primordial.
Não se pode banalizar instituições de
Estado.
Ps:
Ao presidente Filipe Jacinto Nyusi, um
abraço. Este abraço é relativo à coragem
e determinação demonstradas no com-
promisso da erradicação das uniões pre-
maturas. Exonerar o Secretário de Estado
da província de Manica foi o exemplo ine-
quívoco de que o Estado não vai permitir
que quadros de gestão do Governo an-
dem em contramão. Seria mesmo bom
que mais exemplos pudessem haver nos
próximos tempos.
Parabéns, Sr. Presidente.
10 OPINIÃO
HISTÓRIAS DE VIDA
Curandeiro manda cliente defecar no murmuche
para abafar problemas
Serôdio Towo-serodiotouo@gmail.com
Então vamos falar, durante esta e
as próximas duas edições, das "pau-
ladas" que os curandeiros e outros
charlatões aprontam a quem neles
confia. Talvez, antes de mais, subli-
nhar que talvez não sejam todos, mas
existem muitos que submetem seus
clientes a experiências horríveis.
Ora vejamos que meu amigo, lá
para no ano de 2007, teve graves pro-
blemas no seu emprego, que envol-
viam outros colegas seus. Estavam
todos preocupados e até com receios
de uma prisão, por isso procuravam
de forma desesperada uma saída do
caso.
Foi assim que um dos colegas, se
não alguns, sugeriram que procuras-
se por um curandeiro capaz de, atra-
vés de magia negra africana, abafar
o ximoco. Houve consenso e todos,
no total nove elementos, que compu-
nham o sector em causa dirigiram-se
algures ao distrito de Boane para tra-
tamento que estaria a cargo de temi-
do nhamussoro - curandeiro.
Feita a consulta, e depois de aus-
cultá-los, o curandeiro - Djonissana,
nome fictício - avançou com a receita
que devia ser seguido por cada ele-
mento. "O assunto é sério. Vejo, tal
como vocês mesmos reconhecem,
que este caso poderá vos levar à pri-
são, pelo que precisamos aqui de um
tratamento antecedido de um pouco
de sacrifício de cada um de vocês".
Porque a aflição era maior e visível
em cada um dos elementos, ansiosos
aguardavam naquele instante para
ouvir qual seria o sacrifício que cada
um devia fazer, e lá vinha Djonissana
com as suas receitas.
"Primeiro, cada um de vocês deve
DOSSIERS & FACTOS
procurar sozinho, à madrugada, atra-
vessar um cemitério fazendo uma
diagonal sem correr. Outro passo é,
assim que amanhecer, depois de atra-
vessarem o cemitério, cada um deve
localizar um "murmuche", o qual, de
noite, cada um deve ir escalar, e lá na
ponta, defecar a falar pedindo o fim
dos problemas sem que sejam levados
à justiça. A seguir a isso, poderão re-
gressar para receberem outros trata-
mentos. Disse Djonissana, sem qual-
quer desconfiança dos interessados.
Aliás, para todos a maior preocupa-
ção era de descobrir onde é que po-
deriam encontrar o murmuche, aten-
dendo que os cemitérios são tantos e
o que era necessário seria apenas a a
coragem. Durante esses dias a vida do
meu amigo atravessava os piores mo-
mentos, apesar de Djonissane ter pro-
metido que algo de provisório havia
feito para que, durante os dias subse-
quentes, as chefias ficassem calmas,
sem mexer no assunto.
Então, porque tanto confiava em
mim, meu amigo, diante da esposa,
filhos e alguns dos seus irmãos, abriu
o jogo para explicar o que estava a
acontecer com ele, ao mesmo tempo
que solicitava de nós ajuda na locali-
zação de um murmuche no qual de-
via defecar, mas a falar pedindo para
o fim dos problemas que existiam.
Vejamos que a mensagem transmiti-
da pelo meu amigo afectou a todos e
ficamos sensibilizados, sobretudo por
recearmos que, de facto, poderia ter-
minar preso.
Os filhos, a esposa e irmãos en-
volveram-se na campanha de bus-
ca e localização de um murmuche e
acabou sendo localizado algures na
04 de Dezembro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
zona da Mozal, no interior de cam-
pos agrícolas. Sucede é que, chegado
ao local, acompanhado pela esposa,
o meu amigo, que é alto, forte e com
um peso acima de 120 quilos, até ten-
tou tirar as calças para ficar apenas de
cuecas, mas não conseguiu trepar o
murmuche.
Sim, não conseguiu cumprir com
o segundo exercício, mesmo com a
ajuda da mulher que procurava em-
purrá-lo. Não foi possível e acabou
desistindo. Na noite anterior conse-
guira atravessar sem problemas por
um pequeno cemitério comunitário.
Ao regressar à casa, reuniu a famí-
lia para informar que fracassou a ten-
tativa de escalar o murmuche, pois
não tinha nem como juntar as mãos
para subir e não encontrava nenhuma
outra alternativa para poder defecar
lá em cima, pelo que aceitava que pu-
desse ser preso caso o destino fosse
esse.
Com estas palavras, ele se desligava
dos esforços dos restantes colegas, se
bem que eles tenham conseguido es-
calar o murmuche para o mesmo fim.
A verdade é que, mesmo sem cumprir
com o tratamento ditado pelo curan-
deiro Djonissana, ninguém foi pre-
so. Resta saber se alguém terá conse-
guido o tratamento e se terá sido com
a força do mesmo que o assunto nun-
ca foi seguido.
É importante a atenção e calma
quando apoquentados por problemas,
sob risco de sermos mandados esca-
lar e defecar no cimo do murmuche.
Na próxima edição falaremos de uma
outra história em que o curandeiro
pediu mão de macaco para curar a in-
fertilidade de uma mulher.
 SEGUNDA-FEIRA 04 de Dezembro de 2023
OLHAR INTERNACIONAL
Criação do fundo de perdas e danos relativos ao
clima
Por:Ângelo Edson André Fremo
A UE vai contribuir com pelo menos 225
milhões de euros para este fundo de “perdas
e danos” resultantes das alterações climáticas.
O mundo começa a ver a questão do clima
como ameaça para todos, ricos e pobres. A
criação deste fundo para ajudar os países mais
vulneráveis às alterações climáticas foi a gran-
de decisão aprovada na sessão de abertura
da cimeira da ONU sobre o clima, no Dubai.
Este valor poderá ainda vir a aumentar com o
anúncio de novas contribuições dos Estados
membros, com os Estados Unidos e o Japão.
A decisão, considerada histórica, foi tomada
poucos minutos depois do início formal do
evento. O financiamento para resolver o aque-
cimento global é um dos principais temas da
COP28. Países do norte e do sul chegaram a
um acordo sobre as regras de funcionamento
deste fundo, que prevê um financiamento de
100 mil milhões de dólares por ano, com iní-
cio oficial previsto para 2024. Em discurso na
COP 28, nesta sexta-feira (1º), o presidente da
República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula
da Silva, exaltou a redução de 8% pelo Brasil
na emissão de gases de efeito estufa. Os paí-
ses que se comprometeram a fazer esforços
para conter o aumento da temperatura a bem
menos de 2ºC, na comparação com os níveis
pré-industriais, não foram capazes de colocar
o planeta no trilho certo para evitar o pior do
aquecimento global. Tendo em conta as cau-
sas do aquecimento, temos a geração de elec-
tricidade e calor pela queima de combustíveis
fósseis como responsável por uma boa parce-
la das emissões globais. A maior parte da elec-
tricidade ainda é gerada pela queima de car-
vão, petróleo ou gás, o que produz dióxido de
carbono e óxido nitroso, poderosos gases de
efeito estufa que recobrem o planeta e retêm
o calor do sol. No mundo todo, apenas cerca
de um quarto da electricidade é gerada por
vento, sol e outros recursos renováveis que,
ao contrário dos combustíveis fósseis, emitem
pouco ou nenhum gás de efeito estufa ou po-
luentes do ar.
A manufactura e a indústria produzem
emissões, principalmente pela queima de
combustíveis fósseis para gerar energia para
fabricar cimento, ferro, aço, electrónicos, plás-
tico, roupas e outros produtos. A mineração e
outros processos industriais também liberam
gases, assim como a indústria da construção
civil. Máquinas usadas no processo de fabri-
cação, muitas vezes funcionam com carvão,
petróleo ou gás, e alguns materiais, como
DOSSIERS & FACTOS
plástico, são fabricados com produtos quí-
micos extraídos dos combustíveis fósseis. A
indústria de manufactura é uma das maiores
contribuintes para as emissões de gases do
efeito estufa no mundo.
O desmatamento de florestas para criar fa-
zendas ou pastos, ou por outros motivos, gera
emissões. Isso acontece porque, ao serem
cortadas, as árvores liberam o carbono que
estavam armazenando. Cerca de 12 milhões
de hectares de florestas são destruídos por
ano. Como as florestas absorvem o dióxido de
carbono, a destruição delas também limita a
capacidade da natureza em manter as emis-
sões fora da atmosfera. O desmatamento, as-
sim como a agricultura e outras mudanças no
uso da terra, é responsável por cerca de um
quarto das emissões globais de gases do efei-
to estufa.
Uso de transporte. A maioria dos carros, ca-
miões, navios e aviões funcionam com com-
bustíveis fósseis. Isso faz com que o transpor-
te seja um dos grandes responsáveis pelos
gases de efeito estufa, especialmente emis-
sões de dióxido de carbono. Tudo isso torna
a produção de alimentos um dos principais
contribuintes para as mudanças climáticas.
E as emissões de gases do efeito estufa tam-
bém ocorrem na embalagem e distribuição
dos alimentos. O aumento das temperaturas
ao longo do tempo está mudando os padrões
climáticos e perturbando o equilíbrio da na-
tureza. Isso representa muitos riscos para os
seres humanos e todas as outras formas de
vida na terra.
Temperaturas mais altas. À medida que a
concentração dos gases de efeito estufa au-
menta, o mesmo acontece com a temperatura
da superfície global. A última década (2011-
2020) é a mais quente já registada. Desde os
anos 1980, cada década tem sido mais quente
do que a anterior. Quase todas as áreas têm
tido mais dias quentes e ondas de calor. Tem-
peraturas mais elevadas aumentam o número
de doenças relacionadas ao calor e dificultam
o trabalho ao ar livre. Incêndios começam
com mais facilidade e se espalham mais ra-
pidamente quando as condições estão mais
quentes. As temperaturas no Ártico aumen-
taram pelo menos duas vezes mais rápido do
que a média global.
Tempestades mais severas. Tempestades
destrutivas têm-se tornado mais intensas e
frequentes em muitas regiões. Conforme as
temperaturas aumentam, mais humidade
OPINIÃO 11
evapora, agravando chuvas e inundações
extremas e causando tempestades mais des-
trutivas. A frequência e a dimensão das tem-
pestades tropicais também são afectadas
pelo aquecimento do oceano. Ciclones, fu-
racões e tufões se alimentam da água quen-
te na superfície do oceano. Com frequência,
essas tempestades destroem casas e comu-
nidades, causando mortes e enormes perdas
económicas.
Aumento da seca. As mudanças climáticas
afectam a disponibilidade de água, tornando-
-a mais escassa em mais regiões. O aqueci-
mento global agrava os períodos de seca em
regiões onde a falta de água já é comum e
leva a um risco maior de secas agrícolas, afec-
tando plantações e secas ecológicas, aumen-
tando a vulnerabilidade dos ecossistemas. Os
períodos de seca também podem causar des-
trutivas tempestades de areia e poeira, que
podem mover bilhões de toneladas de areia
entre continentes. Os desertos estão crescen-
do, reduzindo a área cultivável. Muitas pes-
soas agora enfrentam a ameaça de não ter
água suficiente regularmente.
Um oceano cada vez mais quente e maior.
O oceano absorve a maior parte do calor gera-
do pelo aquecimento global. A taxa de aque-
cimento do oceano aumentou muito nas duas
últimas décadas, em todas as profundidades.
À medida que essa temperatura sobe, o volu-
me dele aumenta, já que a água se expande
quando aquecida. O derretimento de placas
de gelo também provoca o aumento do nível
do mar, ameaçando comunidades litorâneas
e insulares. Além disso, o oceano absorve dió-
xido de carbono, evitando que ele se concen-
tre na atmosfera. No entanto, mais dióxido de
carbono deixa a água mais ácida, ameaçando
a vida marinha e recifes de corais.
Perda de espécies. As mudanças climáti-
cas representam riscos para a sobrevivência
de espécies na terra e no oceano. Esses riscos
aumentam com a elevação das temperaturas.
Agravado pelas mudanças climáticas, o mun-
do está perdendo espécies a uma taxa 1.000
vezes maior do que em qualquer outro mo-
mento na história da humanidade. Um milhão
de espécies estão em risco de extinção nas
próximas décadas. Incêndios florestais, clima
extremo, além de doenças e pragas invasoras
estão entre as várias ameaças relacionadas às
mudanças climáticas. Algumas espécies con-
seguirão se deslocar e sobreviver, mas outras
não.
 12 PLANO DE FUNDO
LONGE DOS HOLOFOTES
Falta de bolsas de sangue dita destino
de pacientes
E
m vida vivia no Posto Administra-
tivo de Boila-Namitória, a 40 quiló-
metros do Hospital Rural de Ango-
che, mas não foi isso que a matou.
Anifa Sualeh Ossufo continuava a lutar
pela vida mesmo após perder o bebé antes
de chegar ao hospital. Já no hospital, preci-
sava de muito sangue e o edifício não tinha
sacos para doação de sangue. A equipa de
saúde decidiu que esta devia ir à cidade de
Nampula, onde poderia receber sangue.
Sucede que o hospital não tinha ambulân-
cia e os familiares não tinham condições
para levá-la imediatamente. A ambulância
chegou depois de umas 4 horas de espera.
Já era tarde demais. Anifa não aguentou.
Perdeu a vida a 3 quilómetros do Hospital
Rural de Angoche, em direcção ao hospital
de referência.
D&F Texto: Nelson Marqueza
Na tarde de Domingo, 26 de Novembro, circulava
nos grupos de WhatsApp uma mensagem das mortes
de uma mulher grávida e uma criança causadas por in-
Hospital Rural de Angoche
DOSSIERS & FACTOS
capacidade de transfusão de sangue no Hospital Rural
de Angoche, em Nampula. O director do hospital, pra-
ticamente sem querer, confirmou a morte da mulher
grávida, mas não da criança. Confirmou, igualmente, a
falta de bolsas de sangue no hospital, mas não respon-
deu se a ruptura tem relação com a morte ou com as
"as mortes". O que está a acontecer em Angoche pode
parecer normal, mas se está diante de uma tragédia
humana e há vozes já indignadas com a situação.
Uma fonte que tem um familiar com insuficiência
de sangue e que até 26 de Novembro estava impossi-
bilitada de receber o líquido sublinhou que o director
não pode brincar com a emoção das pessoas. Segundo
a fonte, as duas pessoas que, infelizmente, perderam a
vida naquele Domingo são bem conhecidas e são da
comunidade.
Da mensagem do grupo islâmico local
Segue a transcrição da mensagem que circulou
no referido Domingo. Uma mensagem que realça a
necessidade de uma intervenção urgente das enti-
dades competentes e outros intervenientes para que
não aconteça mais tragédia por falta de sacos de san-
gue no Hospital Rural de Angoche, região norte de
Moçambique.
" Irmãos e prestigiados membros do nosso grupo.
Assalamualaikum warahmatullah wabarakatuh, Bom
dia.
04 de Dezembro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
Um pedido de socorro vindo da nossa terra. Há crise
de sangue no Hospital Rural de Angoche e a situação
já causou dois óbitos até hoje. Trata-se de uma senhora
grávida e criança. Os dois morreram hoje a caminho de
Nampula para transfusão. Um grupo de membros do
grupo islâmico local ( AHAL SUNNAT WAL DJAMAH DE
ANGOCHE ) em número não especificado foi ao hos-
pital para doar o precioso sangue, mas infelizmente o
hospital está sem saco para conservação do sangue!!
Esta ruptura de sacos para conservação verifica-se des-
de a semana passada e a liderança do hospital solicitou
a tempo mas ainda sem resposta.
Pede-se a quem possa ajudar ou influenciar buro-
craticamente ou administrativamente para que a DPS
[Direcção Provincial de Saúde] responda a esta emer-
gência. Uma vez que que o hospital tem muitos pa-
cientes na bicha de transfusão..."
Da versão oficial: mais faíscas de dúvidas que cer-
teza dos factos
O Director do Hospital Rural de Angoche, António
Munissa, em conversa via telemóvel, levou quase uma
hora para confirmar ou negar os factos arrolados na
mensagem que circula na rede social WhatsApp.
Munissa falou da beleza de Angoche, da ética, das
pessoas que só falam "quando as coisas não andam",
da difamação "que não é bom" para a convivência e
um monte de argumentos que não se sabe ao certo
se eram necessários para aquele momento. Do outro
lado da linha era possível adivinhar que o director do
Hospital Rural de Angoche não estava apavorado, mas
havia pedrinhas de receio no tom da voz. Era possível
perceber que aquilo, para Munissa, era um assunto in-
cómodo. Era como se, sem querer, o director quisesse
proteger a pele e o sistema nacional de Saúde. E o ho-
mem insistia que sabia que a conversa estava sendo
gravada. Mas que não se importava com aquilo.
Do lado de cá, o entrevistador, usando o Samsung
Note 10 Plus, se limitava a engolir a saliva, em goles
secos.
Do lado de cá, pacientemente, no timing certo, dis-
pararam as perguntas de insistência. “Senhor director,
houve mortes ou não houve?”. "Houve. Mas não são
duas mortes. Como se está a espalhar. Há registo de
uma morte de uma mulher que estava grávida. Morreu
de hemorragia anteparto”. “Senhor director, há falta de
sacos plásticos ou não?”. "Sim. Neste momento esta-
mos com falta de sacos plásticos."
Mais tarde, uma fonte local viria a sublinhar, indig-
nada, que no Domingo houve registo de dois óbitos, e
não um. Eram pessoas da comunidade. “O director não
pode brincar sobre assuntos sérios”, vincou.
Durante a conversa com o director, este acrescen-
tou que a mulher que perdeu a vida por hemorragia
anteparto vinha de uma zona relativamente distante
do hospital, dando a entender que o facto poderia con-
tribuir para a tragédia, e não deixou claro se a mesma
perdeu a vida a caminho do Hospital Rural de Ango-
che, no hospital ou na ambulância em direcção ao hos-
pital de referência – na Cidade de Nampula.
A fonte não oficial deixou claro que a mulher per-
deu a vida na ambulância, rumo ao hospital de referên-
cia. Detalhe: durante a conversa, quando ficou eufórico,
mas sem perder o controlo, o director terá questiona-
do se as pessoas que falam sobre as mortes sabem em
que ambulância, conhecem o nome do motorista e em
que circunstância clínica a pessoa perdeu a vida.
No referente à falta de bolsas para doação de san-
gue, António Munissa disse que a falta de bolsas para
 SEGUNDA-FEIRA 04 de Dezembro de 2023
colecta de sangue não se verifica apenas em Angoche
e não sabe "porque as pessoas estão a falar apenas de
Angoche", e não respondeu se a morte da mulher grá-
vida está relacionada com a ruptura do material.
No dia do funeral, o esclarecimento: do relato de-
solador do pai da Anifa
Numa segunda-feira, 27 de Novembro, durante o
funeral, Sualeh Ossufo, pai de Anifa, partilhou a fatídi-
ca situação com detalhes curiosos se comparado com
a narrativa do director do hospital. Segundo Ossufo, a
filha estava grávida. Saíram do Posto Administrativo de
Boila-Namitória em direcção ao hospital, numa distân-
cia de 40 quilómetros. Chegou ao hospital já com nado
morto. Mas continuava viva.
Anifa Sualeh Ossufo continuava a lutar pela vida,
mesmo após perder o bebé antes de chegar ao hospi-
tal. Já no hospital, precisava de muito sangue por causa
da hemorragia. Mesmo com a presença de alguns fa-
miliares e conhecidos dispostos a doar sangue, era im-
possível porque o edifício não tinha sacos para doação
de sangue. Tudo isso aconteceu por volta das 09 horas.
Ossufo conta que a equipa de saúde decidiu que
esta devia ir à Cidade de Nampula, onde poderia re-
ceber sangue. Mas para além da falta de bolsas de
sangue, havia um segundo problema. O hospital não
tinha ambulância disponível e os familiares não tinham
condições para levá-la imediatamente. A ambulância
chegou depois de umas 4 horas de espera. Já era tarde
demais. Anifa não aguentou. Perdeu a vida a 3 quiló-
metros do Hospital Rural de Angoche, em direcção ao
hospital de referência.
Ossufo explicou que iam ao hospital de referência
para fazer transfusão de sangue, dado que no Hospital
Rural de Angoche não havia sacos para conservação de
sangue.
Explicação médica : evidências de um crime que
corre o risco óbvio de não ter seguimento
Um médico que aceitou falar sobre o assunto avan-
çou que no Sistema Nacional de Saúde a ruptura desse
material não constitui novidade. O médico explicou
que há registo de ruptura de bolsas de sangue, outras
vezes do sistema para transfusão (o tubo que sai da
bolsa do sangue ao braço) e há vezes em que o hos-
pital não tem os dois materiais. E quando isto aconte-
Sistema Nacional de Saúde com dificuldades a todos os níveis
DOSSIERS & FACTOS
Falta de bolsas de sangue preocupa a comunidade
ce, não existem alternativas, dada a especificidade do
material e a delicadeza do procedimento, visto que
nem se pode usar o sistema de soro para efectuar uma
transfusão sanguínea porque são de aplicações com-
pletamente diferentes.
A fonte médica explicou que a ruptura desse mate-
rial, embora não constitua novidade, não devia se nor-
malizar, porque isso determina o destino das pessoas.
Mas o que é hemorragia anteparto?
Em todos os partos há uma hemorragia e pode
ocorrer em diversas circunstâncias. É classificada em
duas principais categorias: hemorragia antes do nasci-
mento do bebé (anteparto) e hemorragia após o nasci-
PLANO DE FUNDO 13
mento do bebé (pós-parto). Nesta última, hemorragia
pós-parto, alguns cenários comuns incluem: atonia
uterina – Falta de contracção adequada do útero após
o parto, levando ao sangramento excessivo; Lacera-
ções ou hematomas – Rupturas nos tecidos durante
o parto podem resultar em hemorragia; Retenção de
restos placentários – se parte da placenta permanecer
no útero, pode causar hemorragia; Inversão uterina:
quando o útero se vira para fora após o parto, pode ha-
ver hemorragia.
Já a hemorragia anteparto inclui os seguintes ce-
nários comuns: descolamento prematuro da placenta
– quando a placenta se separa da parede uterina antes
do nascimento do bebé, pode ocorrer hemorragia; Pla-
centa prévia – quando a placenta cobre total ou par-
cialmente o colo do útero, pode causar sangramento
durante o trabalho de parto; Ruptura uterina – em ca-
sos raros, a parede uterina pode se romper, levando à
hemorragia interna.
A hemorragia durante o parto é uma emergência
obstétrica e requer atenção médica imediata. Os pro-
fissionais de saúde estão preparados para lidar com
essas situações, utilizando métodos para controlar a
hemorragia, como medicações para contrair o útero,
suturas para lacerações e, em casos graves, procedi-
mentos cirúrgicos.
Questionado se a falta de transfusão de sangue
pode ter consequências trágicas, o médico respondeu
que sim.
Se não houver condições para a transfusão de san-
gue, as consequências podem ser graves. A perda ex-
cessiva de sangue pode levar ao choque hipovolêmico,
onde o corpo não recebe sangue suficiente para fun-
cionar adequadamente. Isso pode resultar em danos a
órgãos vitais e, em casos extremos, ser fatal.
Um estudo coordenado pelo Fundo das Nações
Unidas para a População (UNFPA) e o Instituto Nacional
de Estatística (INE), lançado em Junho desde ano, real-
ça que a mortalidade materna é um problema social,
económico e de saúde pública. A mortalidade mater-
na é a principal causa de morte de jovens dos 15 aos
49 anos em diversos países do mundo, especialmente
nos países menos desenvolvidos. Segundo o docu-
mento, em geral, na maior parte das províncias, o rácio
da mortalidade materna tende a ser mais elevado nas
áreas rurais do que nas urbanas.
 14 INSS DOSSIERS & FACTOS 04 de Dezembro de 2023 SEGUNDA-FEIRA

EM MATÉRIA DE SEGURANÇA SOCIAL

INSS distingue melhores trabalhos

jornalísticos
O
Instituto Nacional de Segurança
Social (INSS), em parceria com o
Sindicato Nacional de Jornalistas
(SNJ), e com o apoio da Organi-
zação Internacional do Trabalho realizou
na quinta-feira, 30 de Novembro, na cidade
de Maputo, a gala de premiação dos me-
lhores trabalhos jornalísticos em matérias
de segurança social.

D&F Texto: Dossier Económico

A 3ª edição deste evento tem como objectivo, se-

gundo o INSS, reconhecer e encorajar os profissionais
da informação a desenvolverem matérias sobre se-
gurança social, tendo em conta o papel educativo,
informativo e mobilizador que os jornalistas desem-
penham na sociedade moçambicana.
Na sua intervenção no evento, Kabir Ibrahimo, Pre-
sidente do Conselho de Administração (PCA) do INSS,
disse ser notável que, a cada ano, registe-se o aumen-
to de interesse dos jornalistas em matérias de segu-
rança social obrigatória, fruto da institucionalização
deste prémio, facto que muito encoraja os organiza- Prémio foi instituído há três anos
dores do mesmo. Acrescentou ainda que o prémio jornalistas se encontrem mais com os assuntos de Para Ibrahimo, a institucionalização deste prémio
também serve de uma oportunidade para que os segurança social, incluindo realizações do INSS. mostrou-se oportuna para aquilo que é aposta do
INSS no quadro da sua estra-
tégia de comunicação insti-
tucional, bem como a divul-
gação do sistema que gere as
suas realizações.
O executivo sublinhou que
os valores do prémio não
compensam os esforços dos
jornalistas para manter os
utentes do sistema melhor
informados mas servem de
encorajamento aos jornalistas
para que criem mais interes-
se nessas matérias que são a
base de qualquer bem-estar
de uma sociedade .
Para ele, apesar dos va-
lores do prêmio não terem
registado nenhum aumento,
a qualidade dos conteúdos
tende a crescer, o que me-
receu menção por parte do
júri.
Em jeito de fecho, o PCA
do INSS encorajou os pro-
fissionais da comunicação a
continuarem a buscar factos
sobre o sistema de seguran-
ça social, com o intuito de
informar e educar os traba-
lhadores, pensionistas, assim
como os contribuintes e a
toda sociedade em geral
Felicitou também todo
pessoal envolvido na orga-
nização do concurso, desde
os executivos do INSS, mem-
Kabir Ibrahimo, Presidente do Conselho de Administração (PCA) do INSS bros do SNJ e o júri.
 SEGUNDA-FEIRA 04 de Dezembro de 2023
EDILIDADE QUER PROPRIETÁRIOS E OCUPANTES “RICOS”
Ter casa sem dinheiro passa a ser
problema em Chimoio
U
ma recente “exortação” do Conse-
lho Autárquico de Chimoio, que
impõe aos munícipes a obrigato-
riedade de renovar a pintura das
vivendas e prédios urbanos, está a gerar
muita polémica na sociedade, havendo
quem questione a sua legalidade. Relati-
vamente a este ponto, os juristas Ernesto
Júnior e Sérgio Gimo divergem. O primeiro
acredita ser ilegal e que qualquer visado
que for sancionado tem espaço para accio-
nar a Justiça. Já o segundo percebe o es-
pírito da medida, mas diz que a edilidade
devia olhar para a conjuntura social e eco-
nómica actual, caracterizada pelo atraso e
ou falta de pagamento de salários e horas
extras por parte do Estado.
D&F Textos: Benety Matongue
O Conselho Municipal da Cidade de Chimoio, na pro-
víncia de Manica, emitiu, recentemente uma exortação
através da qual exige que os proprietários ou ocupantes
de vivendas ou prédios urbanos, bem como respectivos
quintais, pátios ou jardins, procedam à limpeza e renova-
ção da pintura dos imóveis até 31 de Dezembro corrente,
sob pena de serem sancionados com multas que variam de
um a três salários mínimos, em caso de incumprimento. A
edilidade não explica as razões, muito menos as bases que
suportam a tomada desta medida, entretanto, sustenta as
sanções em alusão nos termos do número dois do artigo
125 do código de postura.
“Do artigo número 125 do código de postura, os pro-
prietários ou ocupantes serão penalizados com uma multa
que varia entre um a três (3) salários mínimos, nos termos
Cidade de Chimoio
DOSSIERS & FACTOS
João Ferreira, Edil de Chimoio
do número cinco (5) do mesmo artigo e código de postura”,
lê-se na circular emitida pelo Conselho Autárquico de Chi-
moio e partilhada nas redes sociais.
Medida ilegal
Entretanto, reagindo a esta decisão, que está a agitar
não só a cidade de Chimoio, liderada pelo polémico edil
João Ferreira, o jurista Ernesto Júnior começou por explicar
que a mesma é ilegal e extravasa o âmbito da postura mu-
nicipal ou autárquica.
O jurista vai mais longe, ao explicar que os proprietários
dos imóveis em alusão podem não estar em condições de
reabilitar ou pintar os imóveis, assim como o Governo ou a
edilidade têm um contrato social com os cidadãos ou mu-
POLÍTICA 15
nícipes e muitas vezes não consegue cumpri-lo na íntegra.
Ernesto Júnior sustenta que a decisão tomada pela edi-
lidade de Chimoio é da competência da Assembleia da Re-
pública, ou seja, nem é da alçada da Assembleia Municipal.
Questionado pelo Dossiers & Factos sobre que atitude o
proprietário ou ocupante do imóvel pode tomar em caso
de ser sancionado pela edilidade pelo incumprimento da
medida em referência, o jurista avança que há espaço para
recorrer à justiça para repor os seus direitos.
Faca com dois gumes
Por sua vez, o também jurista Sérgio Gimo reagiu a esta
decisão explicando que em todo o mundo existem pos-
turas que exigem que os prédios devem estar pintados a
mesma cor, por questões de estética.
No entanto, entende que a decisão da edilidade de Chi-
moio é uma faca de dois gumes porque surge num con-
texto em que o Estado enfrenta dificuldades para pagar
salários e horas extras, o que significa que muitas famílias
não têm condições para cumprir esta medida.
“Olhando para a conjuntura actual, a edilidade devia
considerar a situação das famílias”, afirma Gimo, defenden-
do que, por isso, “penso que devia haver uma compartici-
pação do Estado”.
“É preciso tolerância e apoio por parte do Governo”
Sérgio Gimo entende que se a edilidade pautou por esta
medida é porque de “certeza consta da postura autárquica”,
entretanto, para fazer uma análise mais aprofundada teria
que se inteirar do conteúdo do documento no que respeita
ao capítulo em causa.
Gimo observa que mesmo nos demais quadrantes do
mundo existe uma postura que determina a pintura dos
edifícios urbanos para manter a estética da urbe. Contudo,
entende que, olhando para a realidade actual do país, ca-
racterizada pelo atraso do pagamento de salários e horas
extras, a edilidade devia ser mais tolerante.
Aliás, a fonte reforça que o Estado devia comparticipar
apoiando as famílias, pois a sua função não passa apenas
por impor e sancionar, mas também por apoiar, mormente
através do Ministério da Acção Social.
16 NACIONAL DOSSIERS & FACTOS 04 de Dezembro de 2023 SEGUNDA-FEIRA

COMUNICANDO NA DEMOCRACIA
Pedimos reacções dos internautas à instrução
emitida pelo Director Geral do STAE no sentido de as
Direcções Provinciais procederem ao levantamento de
ilícitos eleitorais praticados no decurso das VI Eleições
Autárquicas em Moçambique. Perguntámos também
se isso devolveria credibilidade ao STAE. Confira
algumas respostas

J Jacinto Ofice
A Alvaro Jose Mendes

Já sabemos, é uma canção para o boi dormir. Aquele que desviou voto no Coalene em Quelimane foi
promovido

D Desporto & Notícias 24H MOZ ·

A Alberto Lhacule Chunguane

Nunca! A credibilidade já era neste órgão

Depois do CC dar o veredicto final?
Sabe vocês do STAE tiveram quase dois meses para
falarem, agora acho que vocês são como ir a WC com
intenção de fazer número dois e não sair nada.

M Mavie Frausio

Que absurdo
D Dallah's Jf

Para nomear às pessoas, nem?? Porque o que sabemos é

S Sulemane Rachide que o outro já é director em Namorroi

Canalhas, acham que somos tão burros, o STAE e a

CNE já perderam credibilidade, para resgatar deve se
expurgar todo o elenco que compõe essas intuições,
assim como despartidarizar esses intuições.

N Nandinho Band Orlando

Chucha pra bebê calar....

S Silvino da Silva

Deviam ter feito isso antes da validação dos resultados

eleitorais
SEGUNDA-FEIRA 04 de Dezembro de 2023 DOSSIERS & FACTOS ANÚNCIO PUBLICITÁRIO 17
 18 PROVÍNCIA DE MAPUTO DOSSIERS & FACTOS 04 de Dezembro de 2023 SEGUNDA-FEIRA

Governo de Marracuene e parceiros

reflectem sobre HIV/SIDA
C
elebrou-se no dia 01 de Dezembro
o Dia Mundial de Luta contra o
SIDA, sob o lema “Comunidades e
Sociedade Civil na Vanguarda da
Resposta ao HIV e SIDA”, visando chamar
a reflexão de todos sobre este mal que as-
sola o país, intensificando as intervenções
e manifestar solidariedade face aos conci-
dadãos infectados pela doença.

No Bairro Mali em Michafutene, a efeméride con-

tou com a presença dos Membros do Governo Distri-
tal, Chefes das Localidades, Líderes Comunitários e a
população, onde destacou-se que, o HIV e SIDA é uma
das grandes preocupações em todo mundo e em par-
ticular em Moçambique, pois afecta maioritariamente
jovens em idade produtiva, comprometendo o desen-
volvimento socioeconómicos do país.
De salientar que, dados do Instituto Nacional da
Saúde indicam que no Distrito de Marracuene tem
uma prevalência de HIV de 8.8%, sendo as mulheres
a camada mais atingida. Nos primeiros nove meses de
2023, foram testados 101.140 dos quais 1995 positivos
representando uma diminuição da positividade em
cerca de 10%. GDM

DEVIDO À GRIPE AVIÁRIA

Incinerados ovos provenientes da

África do Sul
O
Sector da Pecuária na província
de Maputo, incinerou no distrito
da Moamba, mais de 1000 cai-
xas de ovos, frangos e seus deri-
vados, contrabandeados da vizinha África
do Sul, onde eclodiu a gripe Aviária.

D&F Texto: Benety Matongue

Trata-se de ovos que foram retirados em dife-

rentes mercados das cidades de Maputo e Ma-
tola, na sequência do controlo cerrado, visando
evitar o alastramento desta doença.
No entanto, a delegada da Autoridade Tribu-
tária na Província de Maputo, Maria Machicoa,
explica que os produtos foram apreendidos
pela instituição que dirige, após denúncias anó-
nimas dando conta de ter havido um movimen-
to de entrada ilegal de ovos e frangos através
da fronteira de Ressano Garcia.
Maria Machico revela que nesta altura em
que o país não emite certificado de importação
de ovos, frangos e seus derivados, nota-se uma
ligeira renitência de alguns cidadãos, entre na-
cionais e estrangeiros, que teimam em introduzi
estes produtos no território africanos MMO Autoridades continuam a monitorar entrada de produtos sul africanos
 SEGUNDA-FEIRA 04 de Dezembro de 2023
ABANDONADOS PELOS VENDEDORES
Mercados viram esconderijos de ladrões
na Maxixe
O
conselho Autárquico da Maxixe, na pro-
víncia de Inhambane, tem-se empenha-
do, nos últimos dias, na construção de
infra-estruturas económicas, com des-
taque para os mercados, em diferentes bairros da
urbe, cujo objectivo é garantir que os vendedores
possam exercer as suas actividades comerciais em
lugares seguros e limpos. Mas parece que todos os
esforços que são empreendidos têm redundado
no fracasso devido ao comportamento dos pró-
prios vendedores, que ao invés de usarem as infra-
-estruturas de forma consciente, abandonam-nas.
A título de exemplo, são os mercados localizados
nos bairros Batu e Nhambiu (na zona de expan-
são), que foram completamente largados pelos
vendedores.
D&F Texto: Anastácio
Chirrute, em Inhambane
A equipa de reportagem do semanário Dos-
siers & Factos fez uma ronda pelos principais
mercados da cidade da Maxixe para aferir o es-
tado das infra-estruturas meses depois da sua
entrega. O cenário encontrado é extremamente
preocupante.
Alguns mercados, como, por exemplo, os
de Batu e Nhambiu, encontram-se totalmente
abandonados. No local encontramos apenas as
Mercado Nhambiu totalmente às moscas
DOSSIERS & FACTOS
"Estamos mal aqui,
quando anoitece te-
mos que dormir de olhos
abertos. Caso contrário
seremos roubados"
moscas e capim que a cada dia vai consumindo
as infra-estruturas que custaram muito dinhei-
ro aos cofres da edilidade.
“Mercados mal localizados”
Os seus ocupantes preferiram regressar às
ruas para disputar o mesmo espaço com as via-
SOCIEDADE 19
turas, colocando em risco a sua própria vida,
com argumentos de que os mercados estão
mal localizados e há carência de clientes, aliado
ao facto de que as bancas que foram atribuídas
são menos espaçosas e há muitos serviços bá-
sicos ainda em falta.
Maria da Conceição é exemplo de vendedo-
ras que abandonaram os mercados e regressa-
ram à rua. Conta que os motivos que a
levaram a tomar essa decisão têm que
ver com o ambiente de negócio, que
não estava favorável. Os mercados es-
tão deslocados da cidade, o que difi-
cultava a entrada de clientes e conse-
quentemente os produtos apodreciam,
acumulando enormes prejuízos.
"Os mercados são bonitos e gostamos
muito que a edilidade tenha construí-
do, mas o problema é que os clientes
não aparecem para comprar os nossos
produtos. Era normal acabarmos dois
ou três dias sem vendermos nenhuma
quinhenta. Se os tais clientes aparecem,
é sempre em menor número para fazer
compras de 20 meticais e nada mais”.
Carlos Damião é vendedor e também
faz parte dos que abandonaram o mer-
cado. Conta que, no início, as coisas pa-
reciam estar a correr bem, pois algumas
famílias que vivem nas proximidades
compravam os seus produtos, mas algu-
mas semanas depois a situação tornou-
-se mais complicada. A fonte diz que se
viu obrigada a abandonar o mercado
porque já estava a acumular muitas dí-
vidas com os fornecedores.
"Nós levamos produtos junto de for-
necedores e em cada final do mês te-
mos que pagar a mercadoria que leva-
mos, e eles não querem saber se neste
mês nós não conseguimos vender por
20 SOCIEDADE DOSSIERS & FACTOS 04 de Dezembro de 2023 SEGUNDA-FEIRA

O mesmo sucede no Batu

Anúncio publicitário
causa disto ou daquilo, como esconderijos dos malfeitores que, duran-
só querem dinheiro deles te a calada da noite, têm escalado algumas re-
completo. E mais: temos sidências e estabelecimentos comerciais para
que pagar licenças ao saquear os bens das vítimas. O capim à volta
Município, entre outras do mercado facilita o trabalho dos criminosos.
despesas. Tudo isso re- Alfredo Januário Vive no bairro de Batu, ar-
quer dinheiro, para além redores da cidade da Maxixe. Perdeu a conta
de que nós somos pais das vezes que sua casa foi visitada pelos la-
de família, precisamos ter drões saídos do mercado de Batu. Entende que
alguma coisa para garan- se a edilidade fizesse a limpeza e colocasse um
tir o sustento das nossas guarda no local os casos de roubos poderiam
famílias". reduzir.
Outro problema que "Estamos mal aqui, quando anoitece temos
preocupa os vendedores que dormir de olhos abertos. Caso contrário,
tem que ver com a falta seremos roubados. Eu mesmo que estou a fa-
de alguns serviços sociais lar já nem sei quantas vezes vieram me roubar
básicos, com destaque aqui em casa. Primeira vez, roubaram-me gali-
para segurança, água e nhas, noutro dia voltaram de novo me roubar
sanitários públicos. Para televisor plasma, aparelhos de som e celulares",
fazer as necessidades lamentou
biológicas, os vendedo- Quem também não escapou das mãos dos
res são obrigados a re- malfeitores é Filomena Ernesto. Foi encontrada
correr às casas-de-banho de noite enquanto regressava da escola e foi in-
circunvizinhas. terpelada por um grupo de desconhecidos. Ten-
"Como é possível um taram arrastá-la para o interior de uma mata, mas
mercado deste não ter sem sucesso, pois conseguiu resistir e gritar por
segurança? Por mais que socorro, o que não agradou os criminosos que,
tenha portão, não é tudo, de imediato, puseram-se em fuga, tendo rouba-
precisa ter um segurança do apenas uma bolsa que a mulher trazia consigo
para proteger os nossos contendo material escolar e valores monetários
produtos e até mesmo não especificados
o próprio mercado para "Naquele dia, foi mesmo sorte, poderiam ter
que não seja vandaliza- me violado ou mesmo me matado, porque não
do. Por exemplo, lá no sei o que eles queriam fazer comigo, apenas ad-
mercado de Batu, até que mirei quando três homens grandes vieram ten-
tem sanitários, mas não tar me arrastar para o mato e eu gritei bem alto
funcionam, encontram- pedindo socorro, enquanto ao mesmo tempo eu
-se ainda encerrados, isso estava a tentar me defender deles. Um deles disse
é muito preocupante", para os amigos para que me deixassem e fossem
lamentou. embora. Um deles me arrancou a minha bolsa e
foram embora", descreve.
Esconderijos de Esta é a realidade em que se encontram al-
criminosos guns mercados da cidade da Maxixe, província de
Inhambane. Enquanto continuarem abandona-
Neste momento, os dos, os malfeitores vão usando os mesmos como
mercados são usados seus esconderijos para caçarem suas vítimas.
 SEGUNDA-FEIRA 04 de Dezembro de 2023
EURO 2024
Portugal com tarefa “simples”. Espanha
e Itália no “grupo da morte”
P
ortugal vai ter dois ‘velhos conhecidos’ na
fase de grupos do Euro2024 de futebol, a
República Checa e a Turquia, e pode en-
contrar um ‘pesadelo’ do passado, a Gré-
cia, ditou hoje o sorteio da prova.
D&F Texto: Dossier Económico
O evento que decorreu na Elbphilharmonie,
em Hamburgo, na Alemanha, colocou Portugal
no Grupo F, com jogos em Leipzig, Dortmund e
Gelsenkirchen, e com rivais de boa memória, em-
bora a República Checa esteja ligado à elimina-
ção no Euro1996, que decorreu em Inglaterra.
O terceiro adversário irá surgir do vencedor do
caminho C dos play-offs, que será disputado por
Geórgia, Luxemburgo, Cazaquistão e Grécia, sen-
do os helénicos de má memoria para o lado luso
por causa do Euro2004, em que vieram a Portugal
conquistar o título perante a selecção local.
Historicamente, a Turquia foi sempre ‘simpáti-
ca’ com a selecção nacional, com Portugal a ven-
cer, primeiro no Euro1996, e depois no Euro2000
e Euro2008.
Em Inglaterra, a equipa das ‘quinas’ bateu os
turcos por 1-0 na fase de grupos e repetiu o triun-
fo nos Países Baixos/Bélgica, mas nos quartos de
final, por 2-0. Em 2008, na Suíça/Áustria, nova vi-
Portugal ainda pode encontrar Grécia
DOSSIERS & FACTOS DESPORTO 21
Os helénicos marcaram o
Euro2004 e ‘estragaram’ um
torneio que tinha tudo para ser his-
tórico para Portugal, primeiro com
um triunfo na estreia sobre Portu-
gal, por 2-1, no Porto, mas, sobretu-
do, pela final no Estádio da Luz, em
que venceram novamente, então
por 1-0, e conquistaram pela pri-
meira vez um Europeu.
tória, outra vez por 2-0, mas na fase de grupos.
No lançamento para o próximo Europeu,
que vai decorrer na Alemanha, a Turquia apa-
rece como um rival ‘agradável’, mas a República
Checa tem apresentado outras ‘provas’ de po-
der complicar as contas nacionais.
Na história da selecção nacional, os checos,
e, sobretudo, Karel Poborsky, com um golo que
ainda hoje é histórico pelo gesto técnico, fica-
rão sempre ligados à eliminação de Portugal no
Euro1996, em solo inglês, nos quartos de final.
Depois disso, a equipa lusa bateu a Repúbli-
ca Checa na fase de grupos do Euro2008, por
2-1, e repetiu o triunfo no Euro2012, por 1-0,
nos ‘quartos’.
No Grupo F fica a faltar o representante do
caminho C dos play-offs, com a Grécia, que apa-
rece como favorito na disputa de março do pró-
ximo ano, a cotar-se como possível adversário
da equipa de Roberto Martínez.
Os helénicos marcaram o Euro2004 e ‘estra-
garam’ um torneio que tinha tudo para ser his-
tórico para Portugal, primeiro com um triunfo
na estreia sobre Portugal, por 2-1, no Porto,
mas, sobretudo, pela final no Estádio da Luz,
em que venceram novamente, então por 1-0,
e conquistaram pela primeira vez um Europeu.
Portugal vai estrear-se na competição dian-
te dos checos, em 18 de junho, em Leipzig, se-
guindo-se o duelo com os turcos, a 22 de junho,
em Dortmund. A fase de grupos fica fechada a
26 de junho, em Gelsenkirchen, diante do ad-
versário que vencer o caminho C dos play-offs.
Sapo
 22 GARGANTA FUNDA
1 Com quantas linhas se
cozem os tribunais
O Conselho Constitucional validou os
resultados das eleições autárquicas. Até aí
tudo bem, estão a fazer o seu papel e isso
dentro das suas atribuições. Esta semana
fomos colhidos de surpresa pela entrevista
do Tribunal Supremo num canal televisivo,
através do seu porta-voz, que, diga-se de
passagem, foi uma pequena aula de Direi-
to. Garganta entendeu que o Supremo não
vinha queixar-se da decisão do CC de va-
lidar os resultados eleitorais, como foi en-
tendido em alguns círculos políticos, mas
sim do facto de o CC querer ditar o que os
tribunais devem ou não devem fazer. Em
linguagem de rua, o CC incapacitou os tri-
bunais e bateu peito/peito com o Supre-
mo, que teve o seu orgulho ferido, pois os
tribunais estão na sua Umbrella. A Cons-
tituição da República de Moçambique
define o Conselho Constitucional como
órgão de soberania ao qual compete es-
pecialmente administrar a justiça em ma-
térias de natureza jurídico-constitucional
e, neste caso, o Supremo sente que o CC
ultrapassou as suas competências ao tra-
tar os tribunais como meros tramitadores
de expedientes. Mas é importante dizer
que este conflito de egos não beneficia
1 Cachês milionários – dois milhões e
quinhentos para Matias Damásio
O meio musical está ao rubro, tudo por
causa do cachê milionário do músico an-
golano Matias Damásio, que foi convidado
para actuar em Tete e ia receber uma soma
astronómica de 2 milhões e quinhentos
mil meticais. Muita chibaba. Mas cada um
vale o que vale e esse é o seu preço, resta
saber se em Angola cobra o mesmo valor.
Mas o espanto de Garganta e de muitos
nem está no preço pago ao músico Ma-
tias Damásio. O espanto está, sim, no valor
pago aos outros artistas. O músico mo-
çambicano Laylizzy recebeu cerca de 100
mil meticais e os músicos locais recebe-
ram 10 mil meticais para actuar. Isto, sim,
é revoltante e responde a muitas pergun-
tas que vão de encontro com o discurso
do apresentador Fred Jossias, que critica
esta postura dos músicos nacionais, que
aceitam ser explorados, e dos promotores
nacionais, que todas semanas enchem os
bolsos dos estrangeiros com muito dinhei-
ro. Moçambique é um terreno muito fértil
para os mercados angolano e sul-africano,
mas falando dos músicos angolanos, em
concreto, é em Moçambique onde eles fa-
zem shows dos quais saem ricos, porque
no país deles são mais um e a concorrên-
cia lá é forte. Eles já se aperceberam que
são os americanos dos moçambicanos,
daí que todas semanas temos um show
em algum canto do país, e vejam que os
promotores nem sequer respeitam datas
sagradas. Um ano atrás, o show do músico
Nelson Freitas esteve às moscas. Aliás, não
tinha 10 pessoas, porque os promotores
decidiram fazer o espectáculo justamente
no dia do natal, que é o dia em que é su-
DOSSIERS & FACTOS 04 de Dezembro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
e, por isso, tem esse director de quem a ilustre tem o desgosto de depender. Ou
queria também fazer o papel do Ministério das Finanças? Não fica bem essa pos-
tura para uma posição tão prestigiante. Urge eliminar egos para uma convivência
saudável entre estas duas instituições, cada uma delas sabe qual é o seu papel.
a ninguém, muito menos o povo que
vê nestas duas instituições o mais alto
ponto do decoro e sensatez. São a re-
serva moral da sociedade, são eles que,
em última instância, regulam e regram
a sociedade. E para tal têm que estar
desprovidos de sentimentos egoístas.
Infelizmente, consegue-se sentir esta
postura no nosso CC. Há pouco tem-
po, a presidente deste órgão deu uma
palestra na qual abordava a questão da
independência do aparelho judicial e
disse ela que não haveria independên-
cia nunca enquanto o poder judiciário
dependesse de um director Nacional
no Ministério das Finanças ou mesmo
do Ministro das Finanças. Esta forma de
reduzir as outras instituições é qual? En-
tão, de onde é que acha a presidente do
CC que os tribunais irão tirar o dinheiro
dos salários, mercedes, casas, condições
condignas, viagens e outras regalias?
Irá tirar do dinheiro que é feito nos no-
tários? Então engana-se ela porque os
tribunais são geridos pelo dinheiro dos
impostos colectados, que são a maior
fonte do OGE, e, por isso, tem o Minis-
tério da Economia e Finanças a frente,
para poder vender o produto. Porque é que as rádios
tocam tanta música estrangeira em prejuízo da nacio-
nal? Qual é o ganho nisso? O Ministério de tutela não
consegue criar um dispositivo a obrigar elas a tocarem
mais música Moçambicana do que estrangeira, para
posto o moçambicano ficar com a sua não falar da auto-estima das rádios que praticamente não existe, é nula. Resu-
família, uma vez que durante todo o mindo, todos estes actores estão a contribuir para que o músico Damásio e outros
ano anda aí para cima e para baixo, e foi venham cá carregar malas de dinheiro, sendo que nem sequer pagam os devidos
o que se viu. Um grande prejuízo para impostos, enquanto os moçambicanos assistem e batem palmas.
a organização e uma enorme vergonha
para o artista. O mesmo aconteceu na
Beira, onde o músico C4 Pedro cantou
para menos de 50 pessoas. É preciso os
promotores mudarem de atitude, valo-
rizarem mais a música e cultura moçam-
bicanas, pois, na verdade, são eles quem
“matam” os músicos moçambicanos.
Eles, os DJs, as rádios as televisões e o
Ministério da Cultura e Turismo, todos
têm um papel no tratamento pejorativo
aos nossos músicos. Vendem a ideia de
que a música moçambicana não é co-
mercializável, dançável. Parece que têm
memória curta. Há cerca de 15, anos
dançámos muito música moçambicana.
Quem não se lembra dos tempos áu-
reos do Pandza, em que Zico e Danny
OG, Lizha James, Marlene, DJ Ardiles, N
Star e a sua Estaka zero, e tantos outros
faziam as honras da casa. É mentira que
nas festas das famílias moçambicanas
as músicas de Mr. Bow são obrigatórias?
E os tempos áureos do K10, Mozpipa e
outras bandas? Portanto, quando eles
quiseram, a música moçambicana foi
dançada e cantada, mas, quando eles
quiseram também, botaram para baixo
para promover o Kuduro, Amapiano e
muito estrangeirismo. Há relatos de que
nas festas juvenis os DJs são quem car-
regam os famosos “tororós” para respec-
tiva venda aos petizes, daí terem que
tocar e promover certo tipo de música
SEGUNDA-FEIRA 04 de Dezembro de 2023 DOSSIERS & FACTOS ANÚNCIO PUBLICITÁRIO 23
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50Mt

APÓS TRÉGUA

Israel intensifica ataques em Gaza

O
Ministério da Saú-
de da Faixa de Gaza,
controlada pelo Ha-
mas, informou que,
"desde o fim da pausa huma-
nitária", foram mortos cerca de
200 palestinos e mais de 650
ficaram feridos, na sua maioria
crianças e mulheres. Israel e o
Hamas terminaram, na manhã
de sexta-feira, uma trégua me-
diada pelo Qatar, pelo Egipto e
pelos Estados Unidos que con-
sistia numa pausa de sete dias
na guerra, que dura desde o dia
7 de Outubro.
'rockets' contra o território israelita,
mas sem registo de vítimas.
Ataques na Síria
O Ministério da Defesa sírio anun-
ciou, entretanto, que o exército israe-
lita realizou, na madrugada do último
sábado, ataques aéreos perto da capi-
tal Damasco, sem referir a existência
de vítimas.
"Pelas 01:35, o inimigo israelita
efectuou um ataque aéreo a partir dos
Montes Golã sírios, ocupados, tendo
como alvos vários locais próximos da
capital, Damasco", indicou o Ministério
da Defesa sírio num comunicado.
Questionado pela agência de notí-
cias francesa AFP – cujo corresponden-
te na Síria afirmou ter ouvido o som de
bombardeamentos nos arredores da
capital – o Exército israelita escusou-
-se a comentar tais informações.
Rami Abdel Rahman, director da
organização não-governamental, Ob-
servatório Sírio dos Direitos Humanos
(OSDH), disse à AFP que a aviação is-
raelita tinha atacado "alvos do [mo-
vimento xiita libanês] Hezbollah" no
bairro de Sayyida Zeinab, situado no
sul de Damasco. E acrescentou que fo-
ram enviadas ambulâncias para o local
após os bombardeamentos.
Israel realizou centenas de ataques
aéreos na vizinha Síria desde o início
da guerra civil no país, em 2011, visan-
do posições do Exército sírio e grupos
ligados ao Irão, como o Hezbollah li-
banês. Esses ataques multiplicaram-se
desde os acontecimentos do dia 07 de
Outubro. DW

Segundo um comunicado do Ha-

mas, as forças israelitas "visaram espe-
cialmente Khan Younis, onde dezenas
de casas foram destruídas com os ha-
bitantes no interior".
Ofensiva continua
Também em declarações, este sá-
bado, o exército israelita confirmou
que a sua ofensiva militar na Faixa de
Gaza continua.
"Durante o último dia, as Forças
de Defesa de Israel atacaram mais de
400 alvos terroristas em toda a Faixa
de Gaza", com artilharia e bombar-
deamentos, afirmou um porta-voz do
exército israelita.
Um dos alvos era "uma célula ter-
rorista que fazia emboscadas às tropas
israelitas", assim como `"uma mesqui-
ta utilizada pela Jihad Islâmica como
centro de comando operacional" e
ainda um complexo de armazenamen-
to de armas, acrescentou.
No sul do país, a marinha israelita
conduziu uma operação direccionada
ao porto de Khan Younis e em Deir Al-
-Balah para atacar alvos militares do
Hamas, indicou o exército.
O exército de Israel ordenou a eva-
cuação das localidades de Jabalia e
dos bairros da cidade de Gaza.
"Para vossa segurança, pedimos-
-vos que evacuem imediatamente das
vossas casas através dos eixos de Haifa
e Jalil al Wazir", declarou o porta-voz
em árabe do exército israelita, Avichay
Adraee, no seu perfil da rede social X
(ex-Twitter).
Desde sexta-feira que as milícias
palestinas têm disparado numerosos Forças israelitas têm sido impiedosas em Gaza