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SAI ÀS SEGUNDAS DOSSIERSEFACTOS.COM FACEBOOK: DOSSIERS & FACTOS

50Mt

DIRECTOR: Serôdio Towo | Segunda-Feira, 26 de Fevereiro de 2024| Edição nº: 549 | Ano: 11 | Distribuição: Online

A SETE MESES DAS ELEIÇÕES GERAIS

Teimam em não apresentar candidatos

Futuro político é
Pág 05 incógnito
IMINENTE FIM DE MONDLANE NA RENAMO

Expulsão é uma
possibilidade Pág 03 e 04

ESCRAVIZADOS NAS MINAS DA RAS

12 MIL mineiros reivindicam

indemnizações
Pág 03 e 04
 2 EDITORIAL DOSSIERS & FACTOS 26 de Fevereiro de 2024 SEGUNDA-FEIRA

Condenados à eterna miséria

Dentre os vários sistemas políticos
alguma vez testados, a democracia
é aquele que mais se aproxima da
perfeição. Uma das suas maiores
qualidades é, sem dúvida, o facto de
oferecer oportunidade de exercício de
alternância no poder, nomeadamente
quando, periodicamente, os eleitores
são chamados às urnas.
Embora a participação política
e o exercício da cidadania sejam
encorajados em todos os momentos,
as eleições acabam por ocupar um
lugar central no campo democrático,
porquanto é nas urnas que os cidadãos
têm uma voz mais decisiva, mais capaz,
por assim dizer, de determinar o rumo
que um país deve seguir, o que pode
significar continuidade ou mudança.
Em democracias mais maduras, a
alternância política é frequente e é
considerada um fenómeno natural.
Vemo-la no Brasil, nos Estados Unidos
da América, na Itália e em outras partes
do mundo. Ela é, por assim dizer, a
celebração da diversidade e a prova
de que os caminhos para se atingir o
almejado desenvolvimento são vários.
São abençoados os cidadãos que
moram em Países onde se pode
exercer o direito de escolher entre
várias propostas. Entre tais países,
certamente não está Moçambique,
onde a alternância é vista como
sacrilégio por aqueles que acreditam
ser merecedores do poder eterno,
independentemente do seu
desempenho à frente dos destinos da
Nação.
Prova disso são as estratégias torpes
postas em marcha em cada pleito
eleitoral com vista a manutenção do
poder. Foi o que se viu em Outubro
último, no contexto das eleições
autárquicas. Fruto disso, várias
autarquias um pouco por todo o País
estão a ser dirigidas por edis sem
qualquer legitimidade, porque não
foram eleitos pelos munícipes.
Isto representa, quanto a nós, a
decretação da nulidade da democracia
e um desrespeito enorme pelo
eleitorado. Sobre isto já se escreveu
fartamente. Também nós o fizemos,
aliás, em tempo útil. Para já, o que
nos propomos a abordar é outra
forma de anular a democracia, que
passa pelo subaproveitamento
das potencialidades que a mesma
apresenta.
Conforme referimos mais acima, a
grande beleza da democracia reside
precisamente na particularidade de se
poder escolher entre várias propostas,
o que não acontece em ditaduras, que
simplesmente impõem um modelo/
projecto a ser seguido. Sendo assim,
o desejável é que todas as nações que
se consideram democráticas tenham
uma ou mais alternativas ao regime,
o que, no caso de Moçambique, não
se vê.
Haverá, naturalmente, a tendência
de contrapor esta constatação com a
alusão às dezenas de partidos políticos
que legalmente actuam no País.
Naturalmente, nossa questão vai para
além disso e destina-se precisamente
a mostrar a irrelevância deste conjunto
de formações políticas, provado que
estas não têm qualquer projecto capaz
de tirar este país da situação em que
se encontra.
A Frelimo ainda clama que socialismo
triunfará, mas o projecto que nos
apresenta está longe do estado social,
movendo-se sempre em direcção a
um capitalismo selvagem que produz
ricos, mas não riqueza passível de ser
redistribuída aos milhões que vivem
na indigência. Esta política já provou
ser falha e é sobretudo por ela que se
explica a pobreza em que o país segue
mergulhado.
Perante este quadro, clama-se por
alternativas, que provavelmente
passariam pela Renamo e pelo
Movimento Democrático de
Moçambique, visto serem os maiores
partidos logo a seguir à Frelimo. No
entanto, uma simples análise aos
discursos de ambos os partidos mostra
de forma nítida o vazio de ideias que
há.
Não é conhecido o programa destes
movimentos para, por exemplo,
resolver o problema da habitação ou
do desemprego. Sem planos, agarram-
se simplesmente ao anti-frelimismo,
procurando explorar a exaustão de
um povo que, a bem da verdade, é
facilmente manipulável. Diante deste
cenário, absolutamente catastrófico,
resulta claro que, ainda que um dia
alcancem o almejado poder, nada
serão capazes de fazer, justamente
porque nunca pararam para pensar em
soluções para o País.
Dito isto, estamos condenados à
eterna miséria, porque, para já, não se
vislumbra uma rápida transformação
do quadro cinzento aqui pintado.
serodiotouo@gmail.com

FICHA TÉCNICA
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Serôdio Towo, Amad Canda, Hélio de Carlos, Milton Zunguze, Anastácio Chirrute | ADMINISTRAÇÃO: José
Serôdio Towo (Director-Geral) Ossmane, Jose.ossmane21@gmail.com e Rofino Fiel, roffini.fiel@gmail.com |GRAFISMO: Herbigno Lote |
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Rassul, Ângelo Edson e Sérgio dos Céus Nelson.
Registo N° 19/GABINFO-DEC/2012
 SEGUNDA-FEIRA 26 de Fevereiro de 2024
IMINENTE FIM DE MONDLANE NA RENAMO
Expulsão é uma possibilidade
A
vida política de Venâncio Mon-
dlane dentro da Renamo parece
estar a caminho do fim, ou, pelo
menos, a mover-se em direcção
à irrelevância da “última fila”. Este cenário,
que se vislumbra já há algum tempo, tor-
nou-se praticamente inevitável a partir da
última sexta-feira, 23 de Fevereiro, depois
de Mondlane ter decidido arrastar proble-
mas internos para o tribunal, causando ir-
ritação nas hostes mais influentes do par-
tido.
D&F Texto: Amad Canda
Depois da “bomba” que foi a conferência de imprensa
de Venâncio Mondlane na sexta-feira, Dossiers & Factos
contactou o porta-voz da Renamo, José Manteigas, a fim
de conhecer a posição oficial do partido. Manteigas não a
revelou, mas prometeu que a “perdiz” há-de se pronunciar
oportunamente.
Sabe-se, no entanto, graças ao contacto com várias
fontes seniores, que o último passo dado por Mondlane,
mormente a submissão de providências cautelares para
que Ossufo Momade seja notificado a convocar o con-
gresso, entre outros objectivos, agudizou a irritação que
o mesmo vinha causando no seio dos sectores mais próxi-
mos à actual liderança e não só.
Segundo apuramos, a tendência a agir fora das re-
gras leva a que o deputado, que já manifestou interesse
em candidatar-se à presidência da Renamo, seja cada vez
mais visto como um “activo tóxico”, o que faz com que sua
queda ou perda de protagonismo no partido sejam consi-
deradas “uma questão de tempo”.
Contra-regra reincidente
O avanço de Venâncio Mondlane para o Tribunal Ju-
dicial da Cidade de Maputo (TJCM) é tido como mais um
exemplo flagrante do seu alegado desrespeito às normas
internas. É que, de acordo com os nossos interlocutores,
Ossufo Momade fala em “cães de caça” da Frelimo
DOSSIERS & FACTOS
Isolado internamente, Mondlane é acompanhado pelo advogado Elvino Dias
as irregularidades denunciadas por Mondlane são maté-
ria da alçada do Conselho Jurisdicional do partido, órgão
que o agora deputado da “última fila” terá ignorado.
“Só na eventualidade de o Conselho Jurisdicional nada
fazer é que se admitiria que partisse para o tribunal, mas
não foi isso que aconteceu”, repreendem as fontes, assina-
lando que a situação daquele que foi cabeça-de-lista da
“perdiz” na cidade de Maputo é grave, porque reincidente.
“Já foi advertido por descumprir normas do partido,
falar em nome do partido sem autorização ou conheci-
mento, fazer política paralela a do partido, eximir-se das
actividades partidárias internas e criar actividades simi-
lares em paralelo com vista a ofuscar ou chamar atenção
para si”, detalham.
DESTAQUE 3
Por via do seu alegado “registo criminal”, dizem nos-
sas fontes, Venâncio Mondlane poderá vir a enfrentar
sanções mais duras por parte do Conselho Jurisdicional,
órgão ao qual compete, por exemplo, verificar a legalidade
e a conformidade dos actos de órgãos do partido com os
estatutos, conforme decorre na alínea a) do artigo 41º dos
estatutos da segunda maior força política nacional.
Nossas fontes acrescentaram ainda que nem a explu-
são está colocada de parte.
Isolamento total
Independentemente do desfecho que venha a ter uma
possível acção do Conselho Jurisdicional, a sensação que
transborda cá para fora é de que Venâncio Mondlane está
completamente isolado no plano interno, pelo que, por
estas alturas, não mais representa ameaça à continuidade
do actual presidente.
As fontes fazem notar que não há, para já, nenhum
membro histórico do partido, quer na ala civil, quer na
ala militar (que continua a ter um peso muito grande),
que se tenha apresentado abertamente como apoiante da
candidatura de Mondlane.
De resto, e à excepção da vez em que anunciou sua
candidatura – tinha ao lado Raúl Novinte, ex-presidente
do Conselho Municipal de Nacala Porto – o deputado
nunca surge flanqueado por membros proeminentes,
reforçando-se a ideia de que não possui, nos corredores
internos, a popularidade de que goza nas redes sociais e
nas ruas da cidade de Maputo.
As reivindicações de Mondlane
As providências cautelares submetidas ao TJCM têm
quatro objectivos centrais, que o próprio VM7 tratou de
sintetizar nas redes sociais. O primeiro é forçar, por via
das autoridades judiciais, Ossufo Momade a marcar a data
do Congresso da perdiz, conforme mandam os estatutos
do partido. Recorde-se que Momade completou cinco
anos à frente da “perdiz” no dia 17 do passado mês de
Janeiro.
Mondlane também quer que sejam declaradas nulas
 4 DESTAQUE DOSSIERS & FACTOS 26 de Fevereiro de 2024 SEGUNDA-FEIRA

e de nenhum efeito todas as decisões estruturantes toma-

das pelo Presidente “num período em que devia apenas
praticar actos de "gestão ordinária". Algumas dessas deci-
sões, e com isso transitamos para o ponto seguinte, são as
exonerações de delegados e outros quadros supostamente
“não-alinhados”. No documento, o deputado pede que o
Tribunal notifique o presidente a parar com as exonera-
ções, que acontecem à beira das eleições internas.
O último objectivo é acabar com a alegada restrição
da liberdade política dos membros, “permitindo que to-
dos membros – incluindo potenciais candidatos – exer-
çam os seus direitos políticos de forma livre”. É que, se-
gundo o denunciante, os adversários internos de Ossufo
Momade estarão a ser impedidos de aceder às instalações
das delegações do partido.

Um percurso marcado por quezílias

O eloquente Venâncio Mondlane, engenheiro flores-

tal e bancário de profissão, chegou ao mundo da política
em 2013, depois de longos anos de activismo social du-
rante os quais também se notabilizou como comenta-
dor em espaços televisivos e radiofónicos. Sua porta de
entrada foi o Movimento Democrático de Moçambique
(MDM), pelo qual concorreu à presidência do Município
da Cidade de Maputo, obtendo um resultado encorajador
– segundo lugar, com 119.880 votos.
O apoio que Mondlane tem nas ruas parece não ter no partido
No ano seguinte, 2014, seria eleito deputado da As-
sembleia da República, tendo na Casa do Povo exercido ntão líder do MDM, Daviz Simango, que, em entre- mentira”.
as funções de relator da Bancada Parlamentar do MDM. vista concedida à STV, em 2018, chegou a apontar-lhe A recente rixa com Ossufo Momade, que já mandou
A relação entre o “galo” e a nova estrela da companhia incoerência, que consistia na denúncia de falta de demo- recados aos “cães de caça da Frelimo que querem fazer
parecia ir de vento em popa, mas foi só até a “perdiz” se cracia interna quando o próprio Mondlane, segundo Si- a Renamo recuar”, é só mais uma desinteligência de Ve-
intrometer, em 2017. mango, havia chegado a posições de destaque por via de nâncio Mondlane com um líder partidário. De resto, na
Convencido por Afonso Dhlakama, Venâncio Mon- nomeação directa e, por conseguinte, em processos an- política activa, o ex-aspirante à autarca da capital mo-
dlane renunciou ao seu mandato na AR e baldeou-se para tidemocráticos. Na mesma ocasião, Simango, entretanto çambicana só teve relação imaculada, porém curta, com
a Renamo em meio a um clima de crispação com o e falecido, acusou Mondlane de gostar de viver “na base da Afonso Dhlakama.

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Autoridade Reguladora das Comunicações

EXTENSÃO DO PRAZO
Entre os dias 16 e 17 de Maio de 2024 a Autoridade Reguladora
das Comunicações vai realizar a Conferência Nacional das
Comunicações, um evento que congregará entidades singulares,
colectivas nacionais e internacionais para discutir a actualidade
e o futuro do sector das Comunicações, com vista a maximizar os
benefícios da convergência tecnológica e transformação digital.
Neste contexto e numa perspectiva de conjugação de esforços para
o fortalecimento do evento, o INCM extende o prazo de submissão
das propostas de candidaturas das Sartups Moçambicanas até 26
de Fevereiro do corrente ano.
A participação vai permitir, dentre outros, a conexão entre os
principais players da indústria Tecnológica de Telecomunicações
e Postal, assim como exibir e partilhar experiência e soluções
inovadoras das startups.
Requisitos de candidatura
• Produtos relacionados com a área tecnológica e/ou outras
áreas (inclusão financeira, desenvolvimento espacial,
endereçamento postal, Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio).
As Startups devem submeter, em carta fechada, a descrição do
seu produto, em formato físico para o seguinte endereço:
I
NCM - Autoridade Reguladora das Comunicações de
Moçambique, Praça 16 de Junho Nº 340 - Bairro da Malanga, 848
Maputo, Moçambique
Ou através do e-mail: startups@incm.gov.mz
Apenas serão contactadas as Startups seleccionadas para a fase
seguinte.

• Produto desenvolvido numa base tecnológica e que seja Maputo, 5 de Fevereiro de 2024
escalável;
 SEGUNDA-FEIRA 26 de Fevereiro de 2024 DOSSIERS & FACTOS DESTAQUE 5

REALIDADE SUIS GENERIS

Em ano eleitoral, moçambicanos

desconhecem opções disponíveis
E
m Outubro deste ano, Moçambi-
que vai acolher as sextas eleições
gerais da sua história democrática,
que incluem a eleição presidencial,
legislativa e das Assembleias Provinciais.
Entretanto, a sensivelmente sete meses do
escrutínio, os potenciais eleitores estão na
mais densa escuridão, sem ideia nem dos
candidatos à Presidência da República,
nem dos programas que cada partido pro-
põe. O futuro político, por estas alturas, é
uma grande incerteza.

D&F Texto: Dossiers & Factos

Em Abril de 2023, o presidente dos Estados Uni-

dos da América, Joe Biden, confirmava sua pretensão
de se recandidatar à Presidência da República. Bem
antes, também Donald Trump deixara claro o seu de-
sejo de voltar a ser o inquilino da Casa Branca. Ou
seja, os americanos e o mundo sabem que, caso o re-
publicano não seja barrado pela Justiça, haverá nas
eleições de Novembro deste ano a reedição do con-
fronto de 2020.
Enquanto isso, em Moçambique, onde o sufrágio
está aprazado para 09 de Outubro deste ano, ainda
ninguém se chegou à frente. Os três principais parti-
dos, dos quais costumam emergir os contendores com
mais hipóteses de triunfar, ainda não se definiram e,
aparentemente, não têm pressa nenhuma.
A nível do partido no poder, sabe-se apenas de
informações dos bastidores graças ao trabalho da
imprensa. Oficialmente, e conforme avançou a porta-
-voz do partido, Ludmila Maguni, sabe-se que as in-
ternas decorrerão no mês de Março, mas, ainda assim,
os potenciais candidatos a candidato não se assumem,
numa altura em que se esperava que estivessem a fa-
zer a campanha interna – campanha no verdadeiro
sentido do termo, e não lobbies.
A situação não é diferente nos principais partidos
da oposição, designadamente a Renamo e Movimento
Democrático de Moçambique (MDM). É certo que,
no ninho da perdiz, são já conhecidos os putativos
A nível do secretismo, os três principais partidos estão unidos
Sitação de Cabo Delgado é outro factor que causa incerteza em relação ao futuro
candidatos - Venâncio Mondlane, Elias Dhlakama,
Juliano Picardo e o próprio Ossufo Momade – porque
assumiram abertamente, e sem tabus, suas intenções.
Contudo, e sem explicação clara, o segundo maior
partido do País ainda nem tem data para a realização
do congresso electivo, numa altura em que Ossufo
Momade já extrapolou, no dia 17 de Janeiro, os cinco
anos de mandato para os quais foi eleito em 2018, no
congresso de Gorongosa.
Note que a questão do congresso é relevante por-
que, em regra, é neste conclave que é escolhido o
presidente do partido, figura que, tradicionalmente,
assume a condição de postulante ao mais alto cargo
da nação.
Acto contínuo, na “capoeira” do “galo” também
impera o secretismo. Olhando para a tradição dos
partidos moçambicanos, é expectável que o candida-
to venha a ser o próprio Lutero Simango – ao contrá-
rio de Momade, este está dentro do seu mandato, de-
pois de eleito em 2021 -, mas o porta-voz do partido,
Ismael Nhacúcuè, já fez saber que o candidato será
escolhido em Março, à semelhança do que acontece
na Frelimo.
Um rumo incerto
A pouca flexibilidade dos partidos políticos faz
com que, a sete meses das eleições presidenciais, os
moçambicanos estejam completamente às cegas em
relação aos nomes, mas, sobretudo, aos projectos que
poderão escolher para o País. É caso para dizer que o
futuro político é absolutamente incerto.
Por outro lado, esta situação também prejudica
os futuros candidatos, que assim terão pouco tempo
para apresentarem os planos que têm para Moçambi-
que e tentar convencer o eleitorado, o que, certamen-
te, só não terá consequências mais graves porque as
propostas dos políticos são pouco escrutinadas pelos
cidadãos – talvez por conta da iliteracia.
Entretanto, e alargando o espectro, pode se dizer
que à incerteza política junta-se a incerteza de natu-
reza socioeconómica, numa altura em que o Governo
moçambicano até já pondera a decretação do Estado
de Emergência em Cabo Delgado. Este facto, deriva-
do do recrudescimento do terrorismo, é a prova da
volatilidade a que aquela província está sujeita, até
porque ainda há poucos meses falava-se na eventual
retirada das forças da SAMIM, justamente porque a
situação era já considerada estável.
 6 DESTAQUE
USADOS COMO ESCRAVOS NA ÁFRICA DO SUL
12 Mil ex-mineiros exigem
indemnizações em Inhambane
C
erca de 12 mil antigos trabalhado-
res das minas da vizinha África do
Sul estão há anos à espera de rece-
ber as indeminizações resultantes
do seu trabalho naquele País. Numa carta
enviada ao Dossiers & Factos, a Associação
Para Promoção dos Direitos dos Mineiros
de Moçambique ( APDDMM) acusa a em-
presa TEBA-WENELA e o Governo, através
do Ministério do Trabalho e Segurança
Social (MTESS), de falta de honestidade.
Ademais, as vítimas exigem que as suas in-
demnizações sejam pagas em moeda sul-
-africana, o rand.
D&F Texto:Chirrute, em
Inhambane
É um problema que se alastra há vários anos,
facto que levou os cerca de 12 mil ex-mineiros dos
14 distritos da província de Inhambane a quebra-
rem o silêncio e exigirem o que consideram seus
direitos.
Recordam os queixosos que parte deste grupo
que reclama indemnizações é composto por filhos
e esposas dos primeiros mineiros que, no tempo
colonial, foram vendidos como escravos para irem
cumprir trabalho forçado, vulgo xibalo, na terra
Casos de mineiros que reivindicam pagamentos são imensos no País
DOSSIERS & FACTOS
do rand, em forma de pagamento da dívida que os
portugueses tinham com aquele país vizinho, uma
situação que durou até em 1964, ano em que foi as-
sinado um acordo de contratação da mão-de-obra.
Devido às condições de trabalho, que eram pre-
cárias, há mineiros moçambicanos que contraíram
diversos tipos de deficiência física e outros que
perderam a vida, deixando seus dependentes (fi-
lhos menores hoje já adultos) numa situação de
sofrimento e de extrema pobreza.
Volvidos mais de 130 anos, os familiares dos
ex-mineiros voltam a exigir seu dinheiro, que sus-
peitam que pode estar a ser desviado pelos tra-
balhadores da empresa TEBA-WENELA e alguns
gestores do MTESS, pois, segundo eles, há infor-
mações que dão conta de que algumas companhias
sul-africanas já canalizaram parte do valor desti-
nado ao pagamento da dívida, mas o mesmo ainda
não chegou às suas mãos. Falam em falta de hones-
tidade e tentativa de burla.
"Foram mais de sete anos que estes mineiros
trabalharam sozinhos nas minas, e hoje são mal-
tratados como se não tivessem dado nenhum con-
tributo para o sucesso das empresas mineiras", lê-
-se na carta em nossa posse.
O caso já foi participado em quase todas as en-
tidades competentes, nomeadamente à Direcção
Provincial de Trabalho e Justiça e Secretaria de
Representação de Estado e Governo Provincial de
Inhambane, mas ainda não obtiveram uma respos-
26 de Fevereiro de 2024 SEGUNDA-FEIRA
ta satisfatória, para além de promessas apenas.
Os denunciantes exigem igualmente que o di-
nheiro em causa seja distribuído seguindo o qua-
dro da reforma de idade e velhice, da seguinte for-
ma: homens, 5 mil randes cada, mulheres 3,500
randes cada e filhos 2,500 rands cada.
"Os nossos membros não têm sequer direito à
assistência médica e medicamentosa. Boa parte
destes contraiu deficiência física, e outros perde-
ram vista, braços, pernas, havendo ainda quem te-
nha perdido a vida durante o trabalho nas minas, e
hoje são esquecidos por pessoas que deviam zelar
pelos seus direitos", lê -se na mesma carta.
Os denunciantes defendem que "o Governo
deve sentir pelos seus filhos que trabalharam na
RSA, onde alguns perderam a vista, braços, pernas
etc.. e até hoje não têm nenhuma indemnização,
nem remuneração. Pedimos para que se abram as
portas ao nível interno e internacional".
APDDMM pede a TEBA-WENELA no sentido
de reduzir o tempo de espera nos processos dos ex-
-mineiros, viúvas e órfãos, bem como transparên-
cia na distribuição do valor a que têm direito, in-
formando com exactidão o valor que cada mineiro,
viúva ou filhos têm direito de receber provenientes
das companhias mineiras.
Aliás, vai ainda mais longe e exige o contacto
directo com os responsáveis das empresas minei-
ras, como forma de acabar com os conflitos labo-
rais e a problemática das indemnizações.
 SEGUNDA-FEIRA 26 de Fevereiro de 2024
Um país que não sabe identifi-
car suas prioridades é um país que
será sempre jogado ao despesismo
e à ignorância dos reais problemas
enfrentados por seus cidadãos, por
isso vemos os espectáculos de im-
portações de carros de altos níveis
(de preços exorbitantes) em mo-
mentos em que ainda parece não
se perceber onde injectar os fundos
que aparentemente sobram dos co-
fres do estado.
Vivemos, ainda, numa realidade
em que crianças definham de fome,
mães não conseguem tirar leite de
qualidade por falta de alimentação
adequada que fortalece seu leite
com nutrientes para melhor saúde
do seu bebé. Mas, ao mesmo tem-
po, estamos nesta lengalenga de um
povo que vive em dualidades (um
governo de luxo versus sociedade
analfabeta e pobre).
Quando Beatriz Buchilli (PGR)
apresentava o relatório sobre a cor-
rupção na Assembleia da Repúbli-
ca, disse ser imperioso recuperar
os activos derivados dos actos de
corrupção. Tal discurso que põe
em causa o que realmente aconte-
ce no cenário moçambicano. Ora
vejamos:
Numa altura em que Moçambi-
que ocupava a posição 112ª (2015),
num total de 168 países envolvidos,
em 2016 caiu 32 lugares no Ranking
da Transparência Internacional
(TI), ocupando a posição 142 (sen-
do a Dinarmarca o 1º lugar), num
total de 177 países.
É importante perceber que tais
DOSSIERS & FACTOS
ACTIVISIONISMO
A urgência da luta contra a fome
Sérgio dos Céus Nelson
quedas são, sem dúvidas, resultan-
tes das dívidas ocultas, casos de
suborno da Embraer com envolvi-
mento de altos quadros do país na
compra de aeronaves, sem falar dos
empréstimos da EMATUM, MAM,
PROINDICUS. Todos estes fac-
tores que catapultam os custos da
corrupção em Moçambique fazem
do país ocupar a pior posição desde
que o ranking começou a ser publi-
cado a 22 anos, se formos a anali-
sar os relatórios da Transparência
Internacional.
Em 2015, segundo o Gabinete
Central de Combate à Corrupção
(GCCC), Moçambique perdeu 80
milhões de dólares, dos quais ape-
nas 14 milhões foram recupera-
dos, o que nos desafia a melhorar
os nossos sistemas de fiscalização
(pode ser através de monitorias e
avaliação nos diversos sectores do
estado, penalizando os infractores
(mas como fazê-lo, se os que come-
tem tais atrocidades são os próprios
que ocupam cargos de mais elevada
relevância?) e, sem dúvidas, saber
apostar em políticas de prestação
de contas. Falo claro de prestação
de contas racionais e fiáveis.
Antes de me alongar convido, a
ler o trecho de um dos discursos
de Samora Moisés Machel, proferi-
do numa reunião do Bureau Políti-
co com a população, em Nampula,
1984:
"O IV Congresso, o Comité Cen-
tral, determinaram que é necessário
reduzir o efectivo do Aparelho de
Estado. É preciso fazer dos Ministé-
OPINIÃO 7
rios uma estrutura pequena, forte,
contundente, altamente disciplina-
da e executiva. Esta deve ser a pri-
meira característica dos Ministérios
que queremos, nossos.
A segunda característica é que o
pessoal deve ser qualificado, com-
petente, operativo, eficiente, eficaz
e capaz.
A terceira característica é que
o Ministério deve ser uma estrutura
dinâmica, capaz de operar 24 horas
sobre 24 horas”.
Mas não conseguimos fazer isso
até hoje, ao nível do Aparelho de
Estado. Acomodamos lá preguiço-
sos, ladrões, desviadores dos bens
do Estado. Acomodamos lá pessoal
incompetente, incapaz, que não
sabe o que é cortesia, que não sabe
a quem está a servir. Não sabe ser
servidor do povo, nem sabe mes-
mo o que é o povo. Não tem patrão.
Sente-se, ele próprio, como sendo
a autoridade, como sendo o poder,
como sendo o povo, como sendo
tudo! (Risos). É isto o nosso Apa-
relho de Estado! Isto acontece no
nosso Aparelho de Estado, porque
estes meus colegas Ministros gos-
tam de ter muito pessoal, para fica-
rem muito grandes também! É por
isso que prolifera nos Ministérios
gente incompetente. Quando têm
um dactilógrafo incompetente, eles
admitem mais três, para fazerem o
trabalho de um. Por vezes, no lugar
de um admitem quatro e no lugar
de dois, admitem oito!
Assim, como vai ser dinâmica e
contundente a estrutura?
 8 OPINIÃO
A sucata de país que se exporta de dentro para fora
Quando visitei Luabo, tive um misto
de sentimentos. Além do encanto pela
simples e cativante paisagem da foz
do rio Zambeze e das antigas farmas
de canavial, o dócil cheiro da nature-
za acostava a minha alma a uma sere-
na tranquilidade de estar num mundo
por ser explorado e com muita história
guardada.
A desgraça e abandono das ruas e
edifícios em ruína na pequena Vila de
Luabo expõem a nu a falta de cuidado
às infra-estruturas herdadas do colono,
construídas com sangue e suor dos nos-
sos antepassados. Mas, para além disso,
chama atenção a falta de estâncias turís-
ticas e de serviços de vária ordem, o que
expõe uma realidade dramática da falta
de valorização do património histórico.
Na ocasião, celebrava-se o aniversá-
rio de 100 anos de elevação da região à
categoria de vila. Bom, sendo honesto,
100 anos de celebração de um abando-
no pelos seus filhos, de abandono pelo
Estado, de insulto aos antepassados e
de lástima perante o subaproveitamen-
to dos investimentos que antes abunda-
vam pelo vasto Zambeze, das compa-
nhias inglesas e portuguesas.
Esta realidade transcende o nível de
compreensão normativa de um pes-
quisador, historiador, nativo ou turista
quanto à razão de abandono e pilhagem
de terras produtivas e infra-estruturas
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DOSSIERS & FACTOS
PRIMEIRO PONTO
Nobre Rassul
em parte destruídas pela guerra civil
dos 16 anos, que podiam ser reabili-
tadas ou remodeladas, pelo seu enor-
me potencial. Olho para Moçambique
como uma nação doentia, que neces-
sita de restauro e um equilíbrio na sua
transformação.
A conversão dos valores sociais gera
uma narrativa sócio dependente de no-
vos factores globais, porém, andamos
em contramão da realidade e ociden-
talizamos os ganhos culturais e morais
do passado. Esta inversão de marcha
deve-se à falta de abstinência na pros-
tituição institucional, baseada em actos
corruptivos.
A doença transversal que carrega-
mos como nação é mais profunda que
aquela que carregamos em leito de hos-
pital. A vida social, política, económica
e cultural do país está mesmo má, pois
o sistema corrupto que impera aliena os
fundamentos da construção contínua
dos pilares desta nação jovem.
Por isso mesmo, há que fazer refle-
xão guiada por estes questionamentos:
Qual a natureza da nossa responsabi-
lidade perante a pátria?
Qual o carácter colectivo das nossas
acções para amealhar o respeito das ou-
tras nações?
Qual a distinção que temos face aos
outros povos mais evoluídos ou menos
em relação a nossa natureza humana
26 de Fevereiro de 2024 SEGUNDA-FEIRA
como moçambicanos?
Ora vejamos, será que acorrentamos
de forma grave a nossa humanidade, li-
berdade, coerência e o alcance de uma
soberania real?
É muito importante uma introspec-
ção do nosso carácter e o reavivar do
diálogo que devemos ter com a nossa
casa, para depois fazer avaliação da casa
do nosso vizinho. Assim, exigir coerên-
cia, firmeza e um ego que nos desperta
para uma realidade crua das nossas ac-
ções é fundamental. Partindo da ideia
segundo a qual a constituição da perso-
nalidade moral reside, originalmente,
numa relação intersubjectiva.
Bom, precisamos exportar o país?
Talvez sim, talvez não, mas é funda-
mental criar bases para que possamos
criar um espírito de cidadania em meio
a razoabilidade da aceitação do ser eu,
do ser moçambicano de Moçambique.
Na construção identitária do conheci-
mento, da cultura dos valores morais e
da negação do mal interior, com a aco-
plação dos valores tribais, linguísticos e
culturais.
No entanto, precisamos exportar o
país? Para criar uma sociedade con-
temporânea, menos esclavagista de si
mesma, menos automática na dimen-
são das novas tecnologias e não na ne-
gação do seu ser existencial, precisamos
exportar o país? Fica a pergunta.
 SEGUNDA-FEIRA 26 de Fevereiro de 2024 DOSSIERS & FACTOS OPINIÃO 9

MAYITABASSA!

Sra. Ministra, aceitamos suas desculpas, mas…

Por: NkassanaWaka-Tembe–nkassana@gmail.com.org

Uma atitude corajosa e duma ministra que (não) pen- acesso. São estas mulheres que fazem das tripas o co- seus quintais.
sa nas dificuldades dos moçambicanos foi o que vimos ração, realizando variadas tentativas de sobrevivência, Queria o Sr. presidente que as famílias contribuíssem
vindo da ministra da justiça, Helena Kida. Não se sabe o que inclui o engajamento no negócio informal. Você, para o engrandecimento dos cofres municipais com um
com que motivação, mas, de repente, eis que o Minis- ministra, compreendeu que o utente dos serviços que imposto que não fazia sentido nenhum e, graças a força
tério tutelado por esta mulher decide agravar os preços estavam a ser agravados é o jovem desempregado. Ele do Quarto Poder, esta decisão também não teve per-
de quase todos os serviços prestados ao cidadão. é que precisa de ter acesso aos vossos serviços, como nas para andar. Hoje, e comparando estas duas figuras,
Num abrir e fechar de olhos, e sem nenhuma prepa- forma de encontrar também resposta satisfatória nas a diferença reside apenas na arrogância do tomador de
ração necessária, o povo foi surpreendido com a nova fontes de sobrevivência a que está sujeito. decisão sobre o pagamento das festas nos quintais.
tabela para ter acesso a alguns documentos de interes- Foi uma decisão sábia e é isto que o povo quer de Parabéns, senhora ministra, pela coragem de dizer
se público. Foi uma decisão mal tirada e que, no míni- vocês governantes. O vosso papel não é só demandar desculpa aos moçambicanos, e mantenha esse espí-
mo, devia ter salvaguardado o pouco de respeito para leis e regulamentos, mas é também descer do lugar no- rito de mãe conhecedora da realidade moçambicana.
com o cidadão, o que fez com este e, de forma veemen- bre onde vocês se encontram e vir à base para avaliar Suas desculpas nós as aceitamos, sim, e alertamos para
te, recorresse aos órgãos de comunicação social para e compreender dificuldades vivenciadas por este povo o facto de não ser este um bom momento para andar
mostrar sua indignação com a medida. pacato. Vocês, governantes, são instados a criar aquilo a promover o descontentamento popular, até porque
O Ministério da Justiça queria, com aquela decisão, que denominamos de EMPATIA. Apesar das vossas be- estamos num ano atípico, em que todo o cuidado
contribuir para o castigo máximo sujeito a este povo. nesses, em algum momento devem encaixar o sentido recomenda-se.
Como é que um documento pelo qual antes pagava- real das dificuldades e pobreza passados pelo povo. Já ____
-se 130 meticais de repente passa a custar mais de 500 tivemos situações iguais em que um edil simplesmen- Lágrimas em Cabo-Delgado: Quando tudo indicava
meticais? Esta decisão só pode ter sido tomada mes- te decidiu aprovar um instrumento que condicionava a termos a situação controlada, notícias vindas daquela
mo na má-fé e, talvez, com intenção de medir o pulsar realização das festas dentro das famílias, por conta da região do País partem nossos corações e, numa situa-
do povo. Queria o Ministério servir de anzol de pesca, tal postura municipal. Ou seja, os munícipes deviam pa- ção trágica como esta, precisamos de manter a união
colocando uma série de inovações no acesso aos do- gar uma certa taxa para realizar festas e convívio nos e vigilância.
cumentos do interesse do cidadão, e caso se
tivesse verificado apatia, aí estavam criadas as Anúncio publicitário
condições para que mais entidades, pensassem
na sonolência do povo e mais castigos fossem
aprovados. É completamente repudiável o que
se assistiu, mas valorizamos o papel assumi-
do pela ministra da Justiça, ao vir a terreiro dar
conta de algum tipo de equívoco na divulgação
daquela lei cujo propósito era mesmo lesar os
interesse dos já oprimidos. Foi corajosa a minis-
tra e talvez seja um caso para felicita-la, pois na
história dos servidores públicos deve-se contar
a dedos figuras com uma postura igual. Ao falar
à imprensa da imprecisão da lei e dos desafios
que o sector tem, de aprofundar e melhorar as
receitas do sector, foi ela bastante inteligente
para abaixar os ânimos de quem via aquela lei
um verdadeiro atentado a vida dos moçambi-
canos e, em particular, dos jovens dependentes
destes serviços para uma série de tarefas.
Não faz sentido que um processo de incre-
mento de receitas internas tenha metas que
ultrapassam 500%. Onde estavam os assessores
para chamar atenção no sentido de haver caute-
la em qualquer tipo de pretensão de aumento
dos preços dos serviços prestados por aquele
Ministério? Onde é que estavam os conselheiros
responsáveis pela qualidade de decisões toma-
das antes de torná-las públicas, pois não cabe a
ninguém dos que estão fora do vosso quadrante
que um documento que outrora custava três mil
e quinhentos meticais, hoje passe a custar seis
mil e quinhentos (casos concretos dos actos de
recuperação do livrete, documento de identifi-
cação das particularidades da viatura, incluindo
o título de propriedade).
Queremos, satisfatoriamente, dizer obrigado
a Sra. Ministra, pois você colocou-se no lugar
do povo e tornou esta bombástica medida im-
procedente, mas compreendeu que quem trata
documentos demandados na sua instituição
são filhos de mulheres pobres que, para obtê-
-los, precisam de uma grandiosa luta de aquisi-
ção de recursos financeiros e só assim podem ter
10 ANÚNCIO PUBLICITÁRIO DOSSIERS & FACTOS 26 de Fevereiro de 2024 SEGUNDA-FEIRA
 SEGUNDA-FEIRA 26 de Fevereiro de 2024
OLHAR INTERNACIONAL
O retorno da guerra de alta intensidade na Europa
Por:Ângelo Edson André Fremo
724 Dias marcam a resistência ucraniana, des-
de a invasão russa em Fevereiro de 2022, mo-
mento oportuno para uma breve análise acerca
de alguns, dentre vários, desdobramentos que
o conflito trouxe aos campos da geopolítica, da
economia, das relações internacionais e da de-
fesa. Isso sem falar nas terríveis consequências
humanitárias para as pessoas, contadas aos mi-
lhões, directamente afectadas pela tragédia da
guerra.
As repercussões geopolíticas são evidentes.
A guerra é a manifestação mais violenta do
momento de contestação da ordem interna-
cional liderada pelos Estados Unidos, erigida
no pós-Guerra Fria. Trata-se principalmente da
ascensão chinesa e do desafio que passou a
ser oferecido à liderança norte-americana por
actores estatais que buscam o protagonismo
no sistema internacional. Isso ficou muito bem
caracterizado na conversa entre Putin e Xi Jin-
ping, em frente aos repórteres, em Moscovo,
em Março do ano passado, quando Xi disse a
Putin que o mundo estava a viver um momen-
to de mudanças, como não era visto há cem
anos, e que eram eles próprios, os dois líderes,
que as estavam promovendo. Putin respondeu
concordando.
A Rússia, tendo conquistado quase 20% do
território ucraniano, renovou a preocupação
de segurança entre os europeus, que até 24 de
Fevereiro de 2022 pareciam acreditar que os
conflitos de grande escala estavam superados
no continente. Esta mudança de percepção foi
acompanhada por um notável redirecciona-
mento nos investimentos em defesa por parte
dos países europeus. De acordo com um levan-
tamento realizado pelo Instituto de Relações In-
ternacionais e Estratégia, entre 2022 e meados
de 2023, as aquisições de sistemas e materiais
militares pelos países europeus totalizaram qua-
se 100 bilhões de euros, representando um au-
mento de cerca de 33% em relação ao ano ante-
rior. A Alemanha e a Polónia foram responsáveis
por aproximadamente um terço desse aumen-
to substancial, com encomendas avaliadas em
cerca de 28 e 16 bilhões de euros, respectiva-
mente. Dos 27 países europeus pesquisados,
25 aumentaram seus orçamentos de defesa de
2022 para 2023, evidenciando uma mudança
de tendência. Apenas Hungria e Grécia foram
excepções, registando uma diminuição em seus
orçamentos de defesa neste período.
No campo dos estudos estratégicos, a guer-
ra na Ucrânia veio para derrubar mitos, reforçar
fundamentos e apresentar novidades. A prin-
DOSSIERS & FACTOS
cipal característica do conflito – sua alta inten-
sidade, caracterizada pelo atrito e pelo maciço
emprego da artilharia pelos dois lados – der-
rubou uma crença recente de que os conflitos
modernos poderiam ser resolvidos apenas por
pequenos exércitos, altamente móveis, dotados
de ferramentas tecnológicas no estado da arte.
É claro que mobilidade e tecnologia são impor-
tantes, mas, para se conquistar um território
invadido, defendido em linhas de trincheiras
apoiadas por extensos campos de minas e por
poderosa artilharia, o que ainda importa são
as massas dos exércitos, constituídos por uma
reserva mobilizável contada em centenas de
milhares de soldados. Essa é a razão pela qual
o serviço militar obrigatório volta a ser adop-
tado e discutido por diversos países europeus.
Também se deve a isso o esforço acelerado de
abertura de fábricas de munições, para superar
a enorme deficiência europeia nessa produção,
especialmente quanto a granadas de artilharia.
Ao mesmo tempo em que se assiste ao em-
prego de técnicas, tácticas e procedimentos
utilizados desde a Primeira Guerra Mundial, o
Teatro de Operações da Ucrânia serve de palco
para inovações. Os sistemas aéreos remotamen-
te pilotados, ou drones aéreos, que já tinham
surgido como armas importantes na guerra de
2020 entre Arménia e Azerbaijão, se apresen-
tam como sistemas fundamentais nos conflitos
actuais. Seus congéneres navais, entretanto, fa-
zem sua estreia, com resultados surpreenden-
tes, sendo os responsáveis pelo afundamento
de diversos navios da frota russa no Mar Negro.
O emprego dos mísseis hipersónicos russos
também é uma inovação digna de nota.
No campo económico, um primeiro aspecto
a se destacar é a constatação de que a coerção
económica que os EUA e seus aliados preten-
diam infligir à Rússia por intermédio das deze-
nas de sanções e não legais não atingiram os re-
sultados esperados. Os russos conseguiram, em
grande medida, substituir as trocas comerciais
embargadas por novas relações com países do
chamado “Sul Global ou cooperação sul ”, que
não aderiram às sanções. Nesse sentido, o caso
da Índia é exemplar. O país aumentou em mais
de 13 vezes o valor das importações de petróleo
da Rússia, totalizando, em 2023, cerca de 37 bi-
lhões de dólares.
Essa não é uma boa notícia para a manuten-
ção da paz no mundo. A constatação, por parte
das grandes potências, de que a ferramenta da
coerção económica não é mais tão eficaz como
foi no passado, pode vir a significar uma opção
OPINIÃO 11
directa pela solução militar, sem a “escala” pela
pressão económica. Ou seja, pode vir a significar
o aumento do risco da eclosão de novos confli-
tos armados.
Finalmente, há que se destacar a questão hu-
manitária. A guerra sempre impõe enorme sofri-
mento às populações atingidas, e não seria dife-
rente no caso da guerra na Ucrânia. Cerca de 14
milhões de pessoas foram forçadas a abando-
nar as suas casas desde o início da invasão russa,
há dois anos, e quase 6,5 milhões vivem fora do
país como refugiados. O número de baixas fa-
tais de combatentes de ambos os lados é trata-
do com sigilo, e os números não são confiáveis.
Entretanto, é um consenso entre os analistas
que, somadas, ultrapassam facilmente a cifra
de meio milhão de soldados. Há também os de-
ploráveis episódios de maus tratos e violações
graves e generalizadas dos direitos humanos,
com centenas de casos relatados de violações
do Direito Internacional dos Conflitos Armados,
sem falar na enorme destruição de infra-estru-
tura, inclusive de cidades, quase por completo,
como os casos de Bakhmut e Avdiivka.
Assim, constata-se que a guerra na Ucrânia
pode ser caracterizada como um divisor de
águas, evidenciando a fragilidade da ordem in-
ternacional pós-Guerra Fria e o recrudescimen-
to das tensões geopolíticas.
O conflito na Ucrânia também terá impactos
importantes e duradouros no campo dos estu-
dos estratégicos. O retorno da guerra de alta
intensidade, de atrito e da artilharia, conviven-
do com novas armas e tecnologia no estado da
arte, obrigará os governos de todo o mundo a
aumentarem seus investimentos em defesa,
a repensarem suas estratégias, suas formas de
mobilização e o preparo de suas forças armadas.
Por fim, embora no momento não se vislum-
bre a possibilidade de um desfecho a curto pra-
zo, destaca-se a urgência de uma solução para
o conflito. A guerra na Ucrânia causou um enor-
me sofrimento humano, com milhões de pes-
soas deslocadas, cidades devastadas e enormes
perdas de vidas. A reconstrução da Ucrânia será
um desafio monumental, que exigirá um esfor-
ço global para garantir a recuperação do país e
o bem-estar de sua população.
As ilações tiradas pelos europeus são iguais
as que devem ser tiradas a nível doméstico,
uma vez que a guerra em Cabo Delgado pegou
o País desprevenido sob ponto de vista de lo-
gística de guerra. A experiência dos europeus
no combate a grupos irregulares poderá ser útil
também para Moçambique.
 12 PLANO DE FUNDO DOSSIERS & FACTOS 26 de Fevereiro de 2024 SEGUNDA-FEIRA

ESTÁGIO DA EDUCAÇÃO NO PAÍS

Sistema de ensino e aprendizagem

sem rumo
- Sector privado tem assumido o papel do Governo

O
sector da Educação no País tem
vindo, nos últimos anos, a mos-
trar-se cada vez mais problemá-
tico em diversas componentes
que dizem respeito ao processo de ensino
e aprendizagem. O cenário tem gerado crí-
ticas e queixas constantes contra o Minis-
tério da Educação e Desenvolvimento Hu-
mano (MINEDH). Entre outros problemas,
o pelouro tem sido alvo de duras críticas
devido à falta de pagamento de horas-
-extras aos professores, más condições
de trabalho, com destaque para a falta de
material didáctico, sobrelotação das salas
de aula e ainda aulas a céu aberto, inquie-
tações que já levaram a marchas dos pro-
fessores um pouco por todo País. Entre-
tanto, e não menos importante, assiste-se
também à deficiente gestão logística do
livro escolar de distribuição gratuita, que
todos os anos lectivos chega tardiamente
às mãos dos alunos do ensino primário, e
Colocada em causa a gestão do actual Ministério da educação
repleto de erros.
Nos últimos anos, o Ministério da Educação têm problemas relacionados à gestão do sector. Por
sido constantemente colocado entre a espada e exemplo, a escassos dias de fechar um mês desde
D&F Texto: Hélio de Carlos
a parede, situação esta que resulta dos diversos o arranque do ano lectivo 2024, o MINEDH ainda
não tem data prevista para a entrega dos livros que
serão utilizados no processo de ensino e aprendi-
zagem no ensino primário, situação que está a in-
quietar os encarregados de Educação, assim como
os próprios professores, que têm nos manuais um
instrumento auxiliar para melhor desempenharem
o seu papel.
Esta morosidade na disponibilização dos ma-
nuais prejudica em grande medida as crianças das
classes iniciais, ou seja, da primeira à terceira, pois
estão na fase de descoberta da leitura e escrita.
Para além disso, este cenário coloca à prova a capa-
cidade dos professores que lidam com este grupo
de alunos, pois o sucesso do seu trabalho depende
fundamentalmente dos manuais.

Fracasso do Governo beneficia mercado

informal

Há bastante tempo que o mercado informal tem

vindo a destacar-se cada vez mais como o princi-
pal fornecedor de livros de diferentes classes, com
maior destaque para as do ensino primário e se-
cundário. Sucede, no entanto, que estão estampa-
das nas capas dos livros as frases “venda proibida” e
“Distribuição Gratuita”, o que significa que, por lei,
é proibida a venda destes manuais.
Entretanto, à medida que os anos vão passando,
o mercado informal tem-se tornado o principal for-
necedor dos livros do ensino primário e, em vários
casos, alguns encarregados com condições de os
adquirir não esperam pela distribuição gratuita do
governo. Assim sendo, enquanto o processo demo-
Mercado informal, principal fornecedor de livros no País
 SEGUNDA-FEIRA 26 de Fevereiro de 2024
ra, ficam sacrificadas as crianças que aguardam pela
distribuição dos manuais nas respectivas escolas.
Outro aspecto a destacar é que, à medida que o
tempo vai passando, os alunos têm recebido cada
vez menos os livros, ou seja, houve épocas em que
boa parte dessas crianças conseguia ter todos li-
vros, fenómeno este que, nos últimos tempos, não
tem acontecido, visto que alguns deles chegam a
ter apenas dois, num universo de cerca de sete li-
vros que se pressupõe que deveriam receber.
Venda ilegal do livro escolar preocupa
sociedade
A falta dos manuais de distribuição gratuita nas
escolas e a sua venda no mercado informal é mo-
tivo de indignação por parte dos encarregados de
educação.
´´Se de facto não existem livros para a distribui-
ção, de onde surgem os livros vendidos em massa
no mercado informal?”, questiona um encarregado
de educação, anotando que a fonte desses livros é
o Governo.
Na província e cidade de Maputo, por exemplo,
o fenómeno de venda e compra do livro escolar de
distribuição gratuita é recorrente a cada ano lecti-
vo, sendo a Baixa da capital o centro dos informais
que comercializam este tipo de material.
Governo tem “passado” poderes ao sector
privado
Diante de várias inquietações que têm surgido e
que mancham a imagem do MINEDH, nos últimos
Enquanto o Governo falha, sector privado ganha "asas"
DOSSIERS & FACTOS
O processo de ensino e aprendizagem no ensino primário não tem sido ideal
dez anos nota-se um aproveitamento da situação
por parte do sector privado. Em resultado do des-
calabro do sector da Educação, as escolas privadas
PLANO DE FUNDO 13
têm vindo a ganhar mais utentes.
Em busca da qualidade que o ensino públi-
co já não oferece, muitos pais e encarregados de
educação têm optado por matri-
cular seus educandos nas escolas
privadas.
Como consequência, o nú-
mero de estabelecimentos de
ensino deste tipo, desde o nível
primário até secundário, tem vin-
do a aumentar para responder à
demanda.
Os pais e/ou encarregados de
educação entendem que, nos úl-
timos tempos, o sector privado
é o ideal para o melhor aprovei-
tamento pedagógico dos seus
educandos, isto porque o acom-
panhamento, assim como o apro-
veitamento dos mesmos em es-
colas públicas tem sido descrito
como insatisfatório.
Diante destes factores e vá-
rios outros, fica cada vez mais a
sensação de que o sector privado
pretende tornar-se o principal for-
mador no país e o Governo tem
permitido que isso aconteça, mui-
to por conta dos inúmeros passos
em falso que tem vindo a dar.
Erros nos livros deterioram a
confiança
Por outro lado, os livros são
igualmente eivados de erros in-
compreensíveis. Ainda bem fres-
cos, podemos aqui destacar os
erros graves detectados nos livros
escolares, situação que indignou
a sociedade e inclusive levou à
queda da porta-voz do MINE-
DH e alguns gestores a serem
processados.
 14 INSS DOSSIERS & FACTOS 26 de Fevereiro de 2024 SEGUNDA-FEIRA

Trabalhadores da Sasol inteiram-se

sobre legislação da SSO
O
s trabalhadores da empresa SA-
SOL, que explora gás na provín-
cia de Inhambane, foram alvo, A palestra abordou diversas maté-
há dias, de uma palestra levada a
cabo pelo Instituto Nacional de Segurança rias que versam sobre segurança so-
Social (INSS), no distrito de Inhassoro, que
tinha como objectivo a divulgação do Re-
cial, com destaque para os regimes dos tra-
gulamento da Segurança Social Obrigatória
(RSSO), aprovado pelo Decreto nº 51/2017,
balhadores por conta de outrem (TCO), ou
de 9 de Outubro. seja, os assalariados, e os por conta pró-
D&F Texto: Dossier Económico pria, vulgos TCP, o acesso à plataforma M-
A palestra, que abrangeu 358 participantes, foi -Contribuição, a inscrição de trabalhadores
estrangeiros e o que lhes reserva, em ter-
dirigida por uma equipa técnica da delegação pro-
vincial do INSS de Inhambane, encabeçada pela
chefe do Departamento de Seguro Social, Clara
Arnaldo Zunguza Pale, que, na ocasião, destacou a mos de direito, em caso de regresso ao seu
importância da divulgação da protecção social no
seio dos trabalhadores.
A palestra abordou diversas matérias que ver-
país de origem
sam sobre segurança social, com destaque para os buição, a inscrição de trabalhadores estrangeiros e pagamento das contribuições, mais concretamente
regimes dos trabalhadores por conta de outrem o que lhes reserva, em termos de direito, em caso através das várias plataformas disponíveis, casos da
(TCO), ou seja, os assalariados, e os por conta pró- de regresso ao seu país de origem, bem como es- internet banking, a plataforma M-pesa, entre outras
pria, vulgos TCP, o acesso à plataforma M-Contri- clarecimentos sobre as formas disponíveis para o formas.

Mais de três centenas de trabalhadores participaram do encontro

 SEGUNDA-FEIRA 26 de Fevereiro de 2024
CONFLITO RÚSSIA VS. UCRÂNIA CHEGA AO 24º MÊS
Dois anos de uma guerra que
ridiculariza o ocidente
A
guerra entre a Rússia e a Ucrânia
completou no sábado, 24 de Fe-
vereiro, o seu segundo aniversá-
rio, e, ao que parece, o cenário da
paz ainda não está no horizonte. 24 Meses
e muitas mortes depois, a superioridade
da Rússia no campo de batalha é inegável,
não obstante esteja a enfrentar uma Ucrâ-
nia apoiada pela Organização do Tratado
Atlântico Norte (NATO). Por estas alturas,
torna-se inevitável concluir que a fami-
gerada Operação Militar Especial de Pu-
tin expôs a nu as fragilidades do ocidente
alargado.
D&F Texto: Amad Canda
Com a mesma contundência com que os soldados
russos invadiram a Ucrânia na madrugada daquele 24 de
Fevereiro de 2022, irromperam, nas horas seguintes, vozes
de destacados líderes ocidentais anunciando as maiores
sanções da história contra a Rússia. As sanções levavam no
anexo promessas de colocar a economia russa “de joelhos”.
“Falência da economia russa é uma questão de tempo”,
chegou a afirmar, dois meses depois, a presidente da Co-
missão Europeia, Ursula Von der Leyen, mostrando-se con-
victa de que as sanções estavam a corroer a economia da
Federação, o que levaria ao desinvestimento na guerra e à
consequente derrota.
A verdade, porém, vai mostrando que as profecias dos
líderes ocidentais foram tiros ao lado. A Rússia está a infligir
pesadas derrotas à Ucrânia e seus apoiantes da NATO, con-
substanciando-se na conquista de cada vez mais território.
A última grande conquista aconteceu, aliás, há algumas
semanas, com a captura da cidade fortaleza de Avdiivka,
reforçando o controlo sobre Donetsk, uma das quatro re-
Apoios para Zelensky escasseiam a cada dia
DOSSIERS & FACTOS
Até ao momento, Rússia de Putin só perde na propaganda
giões anexadas em Setembro de 2022. As outras são Lu-
gansk, Kherson e Zaporizhzhia.
Ocidente humilhado em toda a linha
Militarmente, a Rússia está muito à frente dos seus ad-
versários da NATO, que, segundo especialistas em segu-
rança, como o Major General português Agostinho Costa,
precisariam de, no mínimo, cinco anos para atingir o está-
gio em que os russos se encontram actualmente. A avaliar
pela facilidade com que os seus artefactos mais bem repu-
tados – à exemplo dos tanques Leopards e Abrams – são
destruídos em campo de batalha, fica difícil contestar a tese
da supremacia russa.
DESTAQUE 15
Ademais, o ocidente, que sempre alegou que apoiaria
a Ucrânia até ao fim, mostra-se exaurida e sem mais capa-
cidade de manter a ajuda. Até mesmo os Estados Unidos
da América enfrentam dificuldades a nível do Congresso
para aprovar mais apoios. Do Reino Unido, então, já nem
se fala, o que decerto deve levar a que Volodymir Zelensky
se arrependa de ter abandonado a mesa das negociações
sob orientação de Boris Johnson, então primeiro-ministro
britânico, em 2022.
Mas a retumbante derrota do ocidente está longe de
cingir-se à esfera militar, estendendo-se igualmente à área
económica, com as sanções, entretanto, reforçadas por Joe
Biden na semana finda a serem facilmente contornadas por
Moscovo.
O petróleo e gás que os países da União Europeia rejei-
tam encontraram na China e Índia, novos destinos. O lugar
deixado vago pelas empresas ocidentais que abandona-
ram a Rússia vem sendo, paulatinamente, preenchido por
investimentos nacionais, enquanto o SWIFT (Sociedade
para as Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mun-
diais), que a Rússia é proibida de usar, foi substituída por
uma similar local. A tudo isso, junta-se o crescimento dos
Brics, bloco que já conta com 13 países, e à crescente onda
de desdolarização da economia.
Esta combinação de factores, associada ao auto-sofri-
mento que os europeus se impõem por mera russofobia,
catapultaram, de forma surpreendente, a Rússia para a po-
sição de economia número um da Europa em paridade de
poder de compra, destronando a Alemanha de Olaf Scholz,
um chanceler cuja subserviência aos americanos não per-
mite que lidere a Europa com o vigor de Angela Merkel.
A nível político, as coisas estão igualmente longe de
correr de feição ao ocidente. Contrariando os vaticínios
que apontavam para o colapso do regime russo devido à
pretensa insatisfação popular, Vladimir Putin vai, muito pro-
vavelmente, eleger-se para mais um mandato já em Março.
Doutro lado da barricada, poucos estarão à vontade
para afirmar que Biden derrotará Trump – caso não seja
barrado pela justiça nas eleições de Novembro.
É caso para dizer que, na guerra de procuração em cur-
so no leste europeu, os tiros do ocidente têm estado a sair
pela culatra.
16 NACIONAL DOSSIERS & FACTOS 26 de Fevereiro de 2024 SEGUNDA-FEIRA

COMUNICANDO NA DEMOCRACIA
Questionamos aos nossos leitores
se o Governo deve ou não decretar o
estado de emergência em Cabo Delgado,
como resposta ao recrudescimento do
terrorismo. Abaixo seguem as respostas:

G Gildo Ramos Chichongue

E Edson Bolada

Estado de Emergência, não. Estado de Sítio, sim. E como ficam as eleições? Penso que se se decretar estado de guer-
ra, a situação ficaraá mais difícil. "A soberania reside no povo", nos
termos da lei.

I Ibin Maulana Mádura

Literalmente não foi decretado nenhum estado de sítio, mas

há regiões dentro da província a conviverem com as medidas
de estado de sítio há bastante tempo. Uso de guias de Marcha
para sair de um ponto para outro, proibição de circular até
determinadas horas, etc

J Jornal Zechau Zechau

Aquela guerra pode acabar se os altos dirigentes da FRELIMO

decidirem, ah vai acabar. Será que é verdade que o governo da
FRELIMO não conhece cabecilha daqueles terroristas? Qual o
papel da SISE, guarda fronteira e outras forças que estão lá. Por
isso eu disse que se o governo da FRELIMO quiser acabar com a
guerra, pode. A guerra está localizada, não está em todos distritos,
só que a verdade é que Nyusi deve acabar com aquela guerra que
ele e conterrâneos dele criaram, deixar a província da maneira
como a encontrou.

H Hélder Joaquim

Deve sim

E Ercilio Paulino

Estado de Sítio
 SEGUNDA-FEIRA 26 de Fevereiro de 2024 DOSSIERS & FACTOS POLÍTICA 17

SAÚDE DOS PARTIDOS POLÍTICOS RUMO ÀS PRESIDENCIAIS

Frelimo desgastada, Renamo

desinteressada e MDM sem pujança
M
oçambique acolhe este ano,
concretamente no dia 9 de
Outubro, as sétimas eleições
gerais, que englobam as Pre-
sidenciais, Legislativas e das Assembleias
Provinciais. Como tem acontecido nos úl-
timos processos eleitorais, o partido no
poder, a Frelimo, os dois da oposição com
bancadas parlamentares, nomeadamen-
te a Renamo e o Movimento Democrático
de Moçambique (MDM), apesar de ainda
não terem apresentado os seus candidatos
presidenciais, continuam a ser os mais bem
colocados. Entretanto, analisando os últi-
mos acontecimentos políticos, precipita-
dos pelas polémicas eleições autárquicas,
analistas políticos entendem que, apesar Frelimo promete eleger candidato em Março
do desgaste da imagem da Frelimo, a Re-
namo não está interessada em governar e
o MDM também não está a saber aprovei-
tar a oportunidade que tem pela frente.

D&F Texto: Benety Matongue

A conjuntura económico-social e política desgas-
tou a imagem da Frelimo, levando a sociedade a olhar
para o principal partido da oposição – a Renamo
– como única alternativa. Prova disso foi a penaliza-
ção que o partido no poder sofreu nas urnas duran-
te as eleições autárquicas de 11 de Outubro do ano
passado.
Analistas políticos olham para o desgaste da ima-
gem da Frelimo como uma oportunidade para os dois
partidos da oposição, nomeadamente a Renamo e o
MDM, mas entendem que, lamentavelmente, estas
formações políticas não estão a saber aproveitar esta
chance para chegarem ao poder.
O politólogo Ernesto Júnior diz que os últimos Renamo já tem quatro pré-candidatos
acontecimentos políticos na Renamo, nomeadamente
a desinteligência entre os cabeças-de-lista nas últimas autárquicas, mormente Venâncio Mondlane, na cidade desorganização e dão vantagem à Frelimo", entende
de Maputo, e Raúl No- o politólogo. Mais adiante, observa que o desgaste da
vinte, em Nacala-Por- Frelimo e o mal-estar na Renamo abrem uma oportu-
to, com a liderança nidade para o MDM, mas a terceira maior força política
de Ossufo Momade, não tem demonstrado pujança.
bem como as críticas "Desde a divulgação dos resultados das eleições au-
internas de Manuel de tárquicas, o MDM tem-se mantido em silêncio. Parece
Araújo, prejudicam o que está conformado com o facto de ter renovado o
partido e dão vanta- poder na cidade da Beira e ter alguns assentos nas As-
gem à Frelimo. sembleias Municipais", observa Ernesto Júnior.
Segundo o cien- Por sua vez, o analista político Santismo Januário
tista político, a crise afirma que, na verdade, a Renamo está conformada
da Frelimo devia ser com o facto de ser oposição e que mesmo o ex-líder
oportunidade ímpar do partido, o falecido Afonso Dhlakama, nunca mani-
para a Renamo, mas festou interesse em governar o País.
o principal partido "Lembro-me que há alguns anos, em entrevista, o
da oposição não está falecido líder da Renamo foi questionado sobre a ra-
a saber usar desta zão de ter recusado o cargo de vice-presidente pro-
oportunidade, para a posto pelo então Presidente da República, Joaquim
frustração de quem Chissano, e, em jeito de resposta, afirmou que “nós
olhava para a Rena- não lutamos pelo poder, mas sim pela democracia",
mo como alternativa lembrou a fonte.
à Frelimo. Para Santismo Januário, este posicionamento resu-
"As convulsões na me o que move a Renamo, ou seja, está conformada
MDM quase nem fala das eleições Renamo demonstram em ser oposição.
 18 PROVINCIA DOSSIERS & FACTOS 26 de Fevereiro de 2024 SEGUNDA-FEIRA

MOVE MAPUTO

Obras atrasadas há mais

de seis meses
O
arranque das obras de estradas zar impactos com o congestionamentos, assim mobilidade sempre dos autocarros nessas faixas, po-
na Matola, no âmbito do projecto como a emissão de gases de carbono que po- dendo eles se cruzarem sem problema nenhum. As pa-
luem o ambiente”. ragens ao longo da faixa segregada estarão também
de mobilidade urbana no Grande E, a partir da avenida guerra popular, vai ser dentro da faixa segregada de forma a garantir segu-
Maputo, estão atrasadas há mais construído o corredor segregado, uma espécie rança aos utentes de transporte publico. Essas faixas
de seis meses. de espinha dorsal do sistema BRT. O engenheiro serão exclusivas para o transporte público”.
responsável pela implementação das infra-estru- O projecto “Move” já está em implementação há
turas explica a essência do BRT. um ano, cingindo-se, para já, nos aspectos regulató-
D&F Texto: Dossiers e Factos
“O Corredor segregado vai ser localizado na- rios para conferir mais competências à Agência Me-
quilo que neste momento são as faixas centrais tropolitana de Transporte de Maputo, que coordena o
O litígio que envolve o empreiteiro que tinha sido existentes, incluindo também a parte do separa- projecto.
seleccionado é uma das razões da demora. Quando o dor central. Se for ver, a Avenida Guerra popular, Para Matola, serão construídas três estradas, nomea-
projecto estiver em funcionamento, até 2027, como se no troço entre a praça dos trabalhadores e a Ave- damente a estrada que parte da primeira rotunda, em
prevê, os transportadores que usam carros a combus- nida Eduardo Mondlane, tem um separador cen- Intaka, até à esquadra de Boquisso, a estrada que parte
tível deverão sair de circulação, para dar espaço aos tral e também a Avenida Acordos de Lusaka e as da terceira rotunda ligando Matlemele -Mwamatibjana
eléctricos. FPL todas elas têm um separador central. Então, e a estrada que parte de Khongolote, na Matola, até à
Muito já se disse, falou-se e já se prometeu o bas- parte deles, os separadores centrais vão ser con- avenida de Moçambique, na Cidade de Maputo.
tante, como parte da solução para o drama de trans- vertidos em faixas de rodagem e que vão ser de- Há já uma placa a anunciar as obras, que deverão
porte de passageiros no Grande Maputo. Depois de dicadas aos autocarros de transporte rápido. Na aliviar o martírio que se vive actualmente devido ao
quase tudo não ter tido pés para andar, há uma nova Avenida Julius Nyerere, no troço que tem sepa- nível de degradação da via, como avançaram alguns
aposta, o projecto de mobilidade urbana conhecido rador central, obviamnete que parte desse sepa- entrevistados pelo jornal O País.
como “Move”. Afonso Ronda, responsável pelas infra- rador central vai ser usado para ser faixa central José Chirindza, Clara Mendes, Avelino Macucule e
-estruturas, explica a essência do projecto. e onde ela termina, vamos proceder ao alarga- Gabriel Cossa disseram que estão na maior expectativa
“O Projecto Move, é um projecto de mobilidade mento das vias de forma que ela possa proceder para verem as obras a serem concretizadas.
para a área metropolitana de Maputo em que se pre- à construção do corredor segragado” E há um empreiteiro que tinha sido selecionado
tende melhorar várias facetas da mobilidade dos cida- para avançar com as obras de construção de estradas
dãos dos vários municípios que se encontram na área E como vai funcionar? na Matola, mas foi suspenso, por supostas irregulari-
metropolitana de Maputo” dades. Este facto está a contribuir para o atraso no iní-
E quando é que, efectivamente, começa a funcio- “O Corredor segregado vai ter duas faixas de cio das obras, segundo Firmino Guambe, membro do
nar? “Em 2027 nós já teremos o serviço a funcionar em rodagem com sentidos contrarios, hade haver Comité de Implementação do Projecto Mmove O País
pleno, contudo, nós estamos a
projectar uma implementação
faseada do projecto por for-
ma que podemos iniciar com a
solução ou responder a aquilo
que é a demanda do transporte
público a partir do final deste
ano”, respondeu o responsável.
O serviço principal acoplado
neste projecto, que é o sistema
de transporte rápido de auto-
carros BRT, vai funcionar com
autocarros eléctricos, como ex-
plica Afonso Ronda. “Nós vamos
implementar dentro do sistema
BRT meios que não contribuem
muito para a poluição, ou seja,
emissão de gases de carbono,
em que temos neste momento
em estudo viaturas eléctricas,
as que pretendemos que sejam
usadas”, esclareceu.
Quando o BRT estiver a fun-
cionar em pleno, as viaturas
que transportam passageiros
actualmente, os chamados mi-
ni-bus, assim como outros que
poluem o ambiente, deverão
sair de circulação, pelo menos
nas rotas onde será instalado o
projecto “Move”. E a nossa fonte
explica as razões. “Obviamente
que, para aquilo que é a solu-
ção de congestionamento do
tráfego rodoviário e a densida-
de populacional, a tendência é
apostar em veículos de maior
capacidade de forma a minimi- Afonso Ronda
 SEGUNDA-FEIRA 26 de Fevereiro de 2024 DOSSIERS & FACTOS POLÍTICA 19

FINANCIAMENTO ÀS ELEIÇÕES GERAIS 2024

CNE com apenas 6 milhões dos MZN

20 mil milhões necessários
A
Comissão Nacional de Eleições
(CNE) tornou público esta quin-
ta-feira, 22 de Fevereiro, que o “Incluindo os que se recensea-
orçamento para a realização das
eleições Gerais – presidenciais, legislativas ram aquando da realização das
e das Assembleias Presidenciais – está ava-
liado em cerca de 20 mil milhões de meti- eleições autárquicas de 11 de Ou-
tubro de 2023, o número previsto é
cais, sendo que, para já, o Governo assegu-
rou apenas o desembolso de 6,6 milhões

de 16.497.501 eleitores, dos quais

de meticais.

16.217.816 cidadãos eleitores previs-

D&F Texto: Milton Zunguze

tos a nível nacional e 279.685 eleitores

A CNE fez saber que para a materialização das elei-
ções gerais – presidenciais, legislativas e dos mem-
bros das Assembleias provinciais e do Governador
da província – está estimada em cerca de 19. 993.
186.146, 00 de meticais. E, até então, o Governo ga-
rantiu 6.589.559, 00 de meticais.
“O orçamento actualizado para suportar as despe-
sas da realização das Sétimas eleições gerais, marca-
das para o dia 09 de Outubro do corrente ano, é de
19. 993. 186.146, 00 MT. Neste momento, o Governo
assegurou o desembolso de 6.589.559, 00 MT”, lê-se
na nota de esclarecimento.
Com datas de realização de recenseamento eleito-
ral e das eleições redefinidas, o órgão eleitoral garan-
te estarem em curso actividades preparatórias para o
recenseamento de toda a população com idade para
votar no território nacional e na diáspora.
previstos no estrangeiro”
De 15 de Março a 28 de Abril do ano em curso, está
agendado o recenseamento eleitoral de raiz em to-
dos os distritos e o mesmo exercício irá decorrer no
estrangeiro, de 30 de Março a 28 de Abril.
“Incluindo os que se recensearam aquando da rea-
lização das eleições autárquicas de 11 de Outubro de
2023, o número previsto é de 16.497.501 eleitores,
dos quais 16.217.816 cidadãos eleitores previstos a
nível nacional e 279.685 eleitores previstos no estran-
geiro”, consta do documento da CNE.
Dos eleitores previstos a nível nacional, 8.723.805
de eleitores foram inscritos no ano de 2023 e 7.773.696
serão inscritos no presente ano, dos quais 7.494.011
no território nacional e 279.685, no estrangeiro.
Quanto aos materiais e equipamentos, particular-
mente os Mobiles ID, o documento refere que já se en-
contram em todas as províncias e está em curso a dis-
tribuição dos painéis solares e materiais consumíveis.
No estrangeiro, a instituição assegura a formação
em educação cívica e brigadistas na África do Sul, eS-
watini, Zimbabwe, Zâmbia, Tanzânia, Quénia, Portu-
gal e Alemanha.

Governo ainda sem dinheiro para a realização das eleições gerais

 20 DESPORTO
DE ROBINHO A DANI ALVES
Escândalos sexuais mancham futebol
brasileiro
O
futebol brasileiro inspirou e
continua a conquistar corações
de vários adeptos pelo mundo,
dada a extraordinária capaci-
dade de produzir craques geracionais, à
exemplo de Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho,
Marcelo ou mesmo o falecido rei Pelé. Só
que, do mesmo jeito que produz estrelas
de forma abundante, aquele país latino
também é pródigo em escândalos que o
mancham, com destaque para os de na-
tureza sexual. A recente condenação de
Daniel Alves por estupro é só mais uma
página da triste história de alguns joga-
dores brasileiros fora das quatro linhas.
D&F Texto: Milton Zunguze
Segundo jogador com mais títulos da história do
futebol – foi ultrapassado por Messi em Agosto de
2023 – Dani Alves vem somando, também, muitos
títulos na imprensa, mas negativos. Em causa está o
Condenado na Itália, Robinho se diverte na praia
DOSSIERS & FACTOS
Daniel Alves jura ser inocente
caso de agressão sexual a uma jovem espanhola que le-
vou a que fosse condenado a quatro anos e seis meses
26 de Fevereiro de 2024 SEGUNDA-FEIRA
de prisão.
A sentença determina ainda cinco anos de liber-
dade vigiada, proibição de contacto com a vítima du-
rante 9 anos e o pagamento de uma indemnização de
150 mil euros à queixosa. Ao mesmo tempo, foi-lhe
recusado, pela quinta vez, um pedido de liberdade
condicional.
Há mais de um ano em prisão preventiva, Daniel
Alves, ex-lateral direito do Barcelona, é acusado de ter
abusado sexualmente de uma mulher na casa de ba-
nho de uma discoteca na cidade condal. Apesar de o
jogador insistir que o acto foi consentido, o Tribunal
deu como provado o crime e ainda recusou conceder-
-lhe, pela quinta vez, a liberdade condicional.
O tribunal refere ainda que vários depoimentos
“atestam o estado da vítima logo após sair da casa de
banho da discoteca. Há também consequências para
a vítima”.
Para o efeito da aplicação da pena, foi tido em con-
ta a nova legislação, conhecida como “sim ou sim”, que
estabelece uma pena mínima de quatro anos e uma
máxima de doze para os delitos de agressão sexual e,
embora se considere o jogador culpado de violação,
também se entende que deve aplicar-se a atenuante
de reparação do dano causado.
O caso de estupro é uma nódoa na vitoriosa carreira
da lenda dos culés, que integrou a melhor equipa do
mundo – o Barcelona de Pep Guardiola. Numa pers-
pectiva mais ampla, o caso mancha também o futebol
brasileiro, que está farto de ter seus craques envolvi-
dos em polémicas, sobretudo na diáspora.
Caso do Robinho na Itália
Antes de Daniel Alves, Robinho tinha sido o último
futebolista do país do Samba a ser condenado por vio-
lência sexual, desta feita na Itália. Robson de Souza,
seu nome de registo, foi condenado a nove anos de
prisão por estupro colectivo de que foi vítima uma jo-
vem de origem albanesa, em 2013, quando este repre-
sentava o AC Milan.
Contrariamente a Alves, o antigo jogador do San-
 SEGUNDA-FEIRA 26 de Fevereiro de 2024 DOSSIERS & FACTOS DESPORTO 21
tos, Real Madrid e Manchester City não está preso. Ele
fugiu para Brasil antes da condenação e beneficia-se do
facto de a Constituição da República Federativa do Bra-
sil não permitir a extradição de brasileiros natos.
Chegou a ser ventilada a hipótese de cumprir a
pena em seu País, mas, até agora, o ex-atacante respira
liberdade.

O pesadelo de Neymar e Cuca

O maior craque brasileiro da actual geração, Neymar,

também já enfrentou acusações de violação sexual. Foi
em 2019, quando a jovem Najila denunciou o atacan-
te quando estava ao serviço do Paris Saint German às
autoridades.
"Fiquei muito triste com tudo isto porque quem me
conhece sabe como é o meu carácter e que jamais faria
uma coisa deste tipo", explicou o jogador na altura. Ver-
dade ou não, facto é que o processo acabou arquivado
por falta de provas e Najila indiciada por denúncia calu-
niosa, fraude processual e extorsão.
Enquanto isso, o técnico de futebol Alexi Stival, po-
pularmente conhecido por Cuca, foi detido em Berna,
na Suíça, em 1987, junto dos seus três colegas Eduardo
Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi, acusa-
dos de estupro a uma menor de idade durante uma
excursão do Grémio ao país europeu em 1987. Foram
detidos com a alegação de terem tido relações sexuais
com uma menor, de 13 anos, sem consentimento, se-
gundo a G1.
Após cerca de 30 dias presos em Berna, os jogado-
res acabariam por ser libertados e retornaram ao Brasil. Por falta de provas, processo de Neymar foi arquivado
Mesmo assim, Cuca e seus colegas seriam depois con-
denados pelo crime. com uma menor de idade durante uma excursão assunto antes. Estou aliviado com o resultado e con-
No entanto, recentemente, o Tribunal de Berna sur- do Grémio, para o alívio do treinador, que chegou a victo de que os últimos oito meses, mesmo tendo sido
preendeu o mundo ao anular a sentença que havia con- ser destituído do Corinthians por conta desse caso. emocionalmente difíceis, aconteceram no tempo cer-
denado o técnico Cuca por ter mantido relações sexuais “Hoje eu entendo que deveria ter tratado desse to e de Deus”, desabafou.

SEGUNDO IMPRENSA ITALIANA

Reinildo pode estar no radar da juve

O
prestigiado jornal desporti- 378 minutos em sete jogos. Mandava foi anunciado como jogador do Atlético
vo italiano “La Gazzetta dello Mandava foi convocado por Chiquinho Conde para Madrid precisamente no último dia do mercado de
sport” avança, na sua edição o CAN-2023, assinando exibições notáveis e, desde en- transferências de 2022, a 31 de Janeiro.
tão, contabiliza mais minutos pelo Atlético Madrid. O negócio, segundo avançou a imprensa espanhola
de 21 de Fevereiro, que o inter- na altura, rondou os três milhões de euros, cerca de 213
De resto, Reinildo Mandava marcou no duelo entre o
nacional moçambicano Reinildo Manda- Atlético e o Rayo Vallecano. milhões de meticais. O País
va é um dos alvos para a próxima época
2024-2025.

D&F Texto: Dossiers e Factos

O periódico escreve que Mandava “é mais que uma

ideia e os motivos são outros”. Adianta, por outro lado,
que o moçambicano, de 30 anos, é canhoto e pode de-
sempenhar diferentes funções e adaptar-se a diferen-
tes sistemas, tal como Alex Sandro, que está de saída
(sem contrato).
“La Gazzetta dello sport” refere, também, que ex-jo-
gador do Lille é lateral, mas pode, e muito bem, fazer o
papel de central assim como jogar no meio-campo em
um sistema de 3-5-2.
Somando-se à flexibilidade, está a situação contra-
tual: o contrato com o Atlético expira em 2025. E, em
caso de não renovação, provavelmente será adeus em
Julho.
Enquanto isso, o “Quotidiano Sportivo”, “Juvefc.
com” e “Futebol Espanha” indicam que o Atlético Ma-
drid prepara uma proposta para renovar contrato com
Mandava.
Depois de ter recuperado de uma lesão e regressado
aos relvados, Reinildo Mandava contabiliza, esta época, Reinildo é titularíssimo no Atlético
 22 GARGANTA DOSSIERS & FACTOS 26 de Fevereiro de 2024 SEGUNDA-FEIRA

1 Justiça social o encarecimento do custo de vida do cidadão. Aliás, o cidadão é o maior

bem que um País tem, é para ele que as instituições trabalham, afinal este
é o patrão.

Antes de mais, Garganta quer, em ao longo da cidade de Maputo. En-

jeito do politicamente falando, saudar
a Ministra da Justiça, Assuntos Cons-
titucionais e Religiosos, Helena Kida,
pelo "bom senso" que teve em mandar
congelar ou passear aquele diploma
ministerial que orientava para a subi-
da dos preços nos notários em mais de
150%, medida esta que vinha num mo-
mento em que o povo está a passar por
diversas dificuldades, nomeadamente
a incerteza em relação a existência ou
não de dinheiro no mercado; e se exis-
te, o pouco está em mãos muito restri-
tas e as instituições públicas tratam de
agudizar, dia após dia, o custo de vida
dos cidadãos moçambicanos. Se não
é o custo da carta de condução a su-
bir, é o Ministério da Cultura e Turismo
que lança uma taxa de rodagem para
que os músicos paguem para as suas
músicas toquem, quando deveria ser
ao contrário. É o Ministério da Educa-
ção que obriga os alunos a pagarem o
guarda, é o registo criminal, a energia,
a água, as multas de estacionamento
fim, é muita coisa que perpetua a
pobreza do povo moçambicano. É
por isso que Garganta faz de con-
tas que ficou solidário com a atitu-
de da Ministra, que deu a entender
ter sido traída internamente nessa
decisão. O título do artigo é "Justi-
ça Social", pois Garganta acha que
os governantes hoje esqueceram o
papel social do Estado. O cidadão,
como tal, tem direitos e deveres e
um dos deveres é pagar os seus im-
postos, e a partir daí firma-se um
contrato social entre este e o Esta-
do. É aí onde entram os direitos do
cidadão, pelo que o Estado tem que
providenciar segurança, transporte,
saúde, educação e alguns serviços
bonificados para o cidadão. Por isso,
o comprimido está ou devia custar 5
meticais nas farmácias públicas, é o
lado social do Estado e todo dirigen-
te deve ter esse "Bê A Bá" como sua
doutrina. Não pode nem deve ver
como solução dos seus problemas

2 O Desabafo do senhor governador

O líder máximo da província que ac- do que a informação acaba sendo um isto é real, está a acontecer e aqui já não é problema da Frelimo, Rena-
tualmente é fustigada pelos insurgentes dos principais veículos. No contexto, a mo ou Pamomo; machanganas, macuas, nhyanjas, ajaus ou macondes. É
surgiu na semana finda agastado com informação acaba sendo um dos alicer- um problema de todos e só venceremos se estivermos unidos. Garganta
a imprensa. Segundo Valige Tauabo, ces dos terroristas, e aquele passa e re- escreverá isto todos dias se assim for necessário. Hoje, cada cidadão tem
actualmente, os jornalistas destacam passa sem confirmação de dados acaba o poder nas mãos, através dos telefones cada um pode fazer o que bem
muito mais as realizações dos terroristas, sendo um agente oculto do terrorismo. entender. Com as novas tecnologias e redes sociais, todo cidadão é um
como se tivessem celebrado um memo- Não se trata de um filme ou um jogui- potencial disseminador de informação e cabe a cada um de nós fazê-lo
rando de entendimento com aqueles, nho de quem escreve ou posta primeiro, com responsabilidade.
deixando de lado informações que po-
dem tranquilizar a população. O boss
afirmou que, mesmo com informações
oficiais sobre a situação da segurança
em Cabo Delgado, os repórteres inver-
tem as abordagens, escrevendo de for-
ma contrária, o que deixa as populações
locais em alerta. Na verdade, Garganta
percebe o desabafo do governador, é o
desabafo de quem vive no terreno a si-
tuação real. O jornalista faz a sua parte,
que é informar, mas é percepção do diri-
gente que por vezes os jornalistas infor-
mam o que não é a realidade no terreno.
Será estranho Garganta dizer isto, mas
digo isto despido da capa de jornalista
ou membro de um órgão da impren-
sa, que é o D&F. Há infiltrados na nossa
classe, pessoas provenientes da socieda-
de civil ou com interesses partidários e
que se fazem passar por jornalistas. São
estes que passam e repassam desalma-
damente qualquer informação que têm
em mão sem medir as consequências
que os seus actos podem trazer - conse-
quências porque o alicerce principal do
terrorismo é instalação do medo, e esse
medo é instalado de várias formas, sen-
SEGUNDA-FEIRA 26 de Fevereiro de 2024 DOSSIERS & FACTOS ANÚNCIO PUBLICITÁRIO 23

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COM EFEITOS IMEDIATOS
CEDEAO levanta sanções
contra Níger
A
Comunidade Econó-
mica dos Estados da
África Ocidental (CE-
DEAO) anunciou sá-
bado ter levantado a maior
parte das sanções impostas ao
Níger na sequência do golpe de
Estado de Julho último, alegan-
do razões humanitárias.
Durante as discussões que decorre-
ram a porta fechada, a CEDEAO decidiu
levantar, com efeito imediato, a maior
parte das sanções, nomeadamente o
encerramento das fronteiras, o congela-
mento dos bens do banco central e do
Estado, bem como a suspensão das tran-
sacções comerciais.
Tal decisão terá sido tomada por ra-
Cabo Verde
reabre representação na UA
O
diplomata Domingos
Mascarenhas tomou pos-
se nesta sexta-feira como
embaixador do arquipéla-
go junto da União Africana.
Ao dar posse a este antigo embai-
xador em Angola e no Brasil, além de
também ter sido secretário de Estado
dos negócios estrangeiros, o Ministro
dos Negócios Estrangeiros de Cabo
Verde, Rui Figueiredo Soares, explica
que a reabertura da representação per-
manente em Addis Abeba corresponde
a uma necessidade da agenda da polí-
tica externa do seu país:
"A posse do embaixador Domingos
Mascarenhas, vem pois, na sequência
da decisão do governo em Setembro
de 2023, de reactivar a missão diplo-
mática em Adis Abeba, que havia sido
desactivada anos antes. No diploma
governamental que consagra a reaber-
tura, são avançadas duas razões princi-
Anúncio publicitário
50Mt
zões humanitárias, de acordo com a CE-
DEAO, e deverá ser interpretada como
um gesto de pacificação, numa altura em
que aquela organização tenta persuadir
o Burkina Faso, o Mali e a Guiné, todos di-
rigidos por juntas militares, a manterem-
-se no grupo.
A CEDEAO exortou aos três países
que reflictam sobre a sua decisão, tendo
em conta as vantagens de que benefi-
ciam os Estados-Membros.
A organização levantou igualmen-
te algumas das sanções contra a Guiné
que, mesmo não querendo abandonar
a CEDEAO, não se quis comprometer em
respeitar um calendário de retorno a um
regime democrático.
Entretanto Omar Touray, presidente
da Comissão da CEDEAO, declarou que
certas sanções específicas e políticas
contra o Níger foram mantidas, sem no
entanto dar quaisquer detalhes. RFI Decisão justificada por “razões humanitárias”
pais para essa reactivação:
O facto de a Africa, o nosso
continente, através da União
Africana, estar a ganhar cada
vez mais espaço e destaque na
geopolítica mundial, na promo-
ção das relações globais com
as restantes regiões do mundo
e, principalmente, no reforço
da consolidação da integração
africana, a partir da sua agenda
2063, incluindo a implementa-
ção em curso do acórdão que
cria a área de livre comércio con-
tinental africana.
Em segundo lugar, porque
os desafios e oportunidades re-
feridos, interpelam a diplomacia
cabo-verdiana, no sentido de
ser mais interventiva no proces-
so de formação de decisões da
União Africana, o que exige uma
presença efectiva da nossa polí-
tica externa junto dessa organi-
zação". RFI Sede da UA