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6/22/2014 Fernando Meirelles: 'Nossos sonhos não cabem no capitalismo' - Pragmatismo Político

Inicial Porões da ditadura Educação Cultura Eleições 2014 Saúde Mídia

Luis Soares 9.0 mil


Colunista

GERA L 02/SEP/2012 ÀS 18:43 23 COMENTÁRIOS

Fernando Meirelles:
'Nossos sonhos não
cabem no
capitalismo'
Para Fernando Meirelles, a reconstrução da
política exige superar lógicas que associam
felicidade e sucesso a consumo e
acumulação sem fim. Confira abaixo a
entrevista completa com o renomado
cineasta

Avançou
de modo
notável,
nos
últimos
anos, a

Curtir 345 mil e construindo ideias

Fernando Meirelles. Foto: divulgação 345.480 já curtiram


sensação de que o peso do poder econômico
está desfigurando a democracia, a ponto de
levá­la ao colapso. Um número crescente de
pensadores, ativistas, cidadãos comuns dá­se Não ao preconceito
conta de fenômenos como a mercantilização
das eleições e a institucionalização do tráfico Racismo: homem é proibido de
trabalhar por ser negro
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de influência. Envolvidos em disputas eleitorais


cada vez mais caras, partidos e governantes
comprometem­se profundamente com os
interesses de grupos empresariais que nutrem
suas campanhas políticas.
Receba artigos via e­mail
O dinheiro oferecido pelos financiadores é visto
Digite seu e­mail
como um investimento e cobrado ao longo de
cada dia de mandato. Com tal intensidade que
muitos já não creem que seja possível adotar
políticas contrárias aos interesses do poder
econômico associado à política; e que mesmo
decisões simples e de bom senso elementar –
como a reconstrução de uma malha ferroviária
no Brasil, ou a instalação de redes de ciclovias
eficazes nas cidades – não saem do papel.
Mas, se o diagnóstico é conhecido, as
alternativas rareiam. Como excluir da política o
Poder Corruptor?

O cineasta Fernando Meirelles formulou


uma hipótese provocadora, em entrevista
que concedeu à jornalista Inês Castilho,
condutora da série de diálogos sobre Política
Cidadã, produzida pelo Instituto de Pesquisas
Ideafix, por solicitação do Instituto Democracia
e Sustentabilidade (IDS). Suas respostas
sugerem que uma nova política e um novo
sistema econômico virão juntos. Ou seja, o que
vivemos é o desgaste geral de nossas formas
de socialização – um conjunto de relações que
envolve produção de bens e serviços, formas
de decisão coletiva, hierarquias concretas e
simbólicas. Para superá­las será necessário
levar muito adiante certas transformações
culturais que já estão se dando.

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perfeito

Meirelles destaca a tensão entre política


institucional (restrita aos “gabinetes e
restaurantes”) e o intenso desejo de
participação da sociedade (“sou muito mais
convocado, como cidadão, que cinco anos
atrás”). Ele lembra que não se trata apenas de
discurso: atitudes transformadoras estão se
multiplicando em todo o mundo. No entanto,
esbarram em obstáculos estruturais: “a lógica
do dinheiro é produzir sempre mais” e a dos
políticos “esgota­se em mandatos de quatro
anos”. Nenhum poder importa­se com as
“perspectivas de longo prazo”, necessárias
para preservar a vida.

Caberá à própria sociedade, conclui Meirelles,


estabelecer uma ruptura. Não se trata da velha
fórmula de tomada do poder de Estado – mas
da “dificílima e demorada transformação das
nossas vidas”. Só a empreenderemos, no
entanto, se soubermos que se trata de construir
um novo sistema: “a lógica do capitalismo (…)
poderia fazer algum sentido (…) num mundo
que não é mais o nosso”. A superação desta
lógica implicará, entre outros passos, “valorizar
bens não­materiais: educação, esporte, cultura,
ciência – atividades humanas que não
consomem o planeta e preenchem mais a alma
que a busca desesperada pela reposição de
bens”.

Leia a íntegra da entrevista com Fernando


Meirelles abaixo.

Qual sua percepção sobre a participação


política do brasileiro?

A política no Brasil ainda é feita muito nos


gabinetes e restaurantes, tem um quê de
futebol, o interesse pelo jogo de poder entre os
partidos vem antes do debate das ideias. Isso é
muito frustrante para quem tenta acompanhar
nossos homens públicos. A boa notícia é que,
com o crescimento das redes sociais, a
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participação popular também tende a crescer e


o processo político, a ficar mais transparente. A
mobilização popular pela Ficha Limpa e contra
o Código Florestal demonstraram que a
população começa a ter mais peso nas
decisões do país.

Que temas você acha que mobilizam a


sociedade brasileira, hoje?

A falta de transparência dos partidos e do


governo vem mobilizando a sociedade, já não
é tão fácil ser corrupto, hoje. A preocupação
com questões ambientais também mostra ser
um forte tema para a moblização social. Isso já
havia sido sentido com a expressiva votação
que teve a Marina Silva na última eleição à
presidência e foi reforçado agora, no processo
de votação e veto parcial do Código Florestal,
que contou com abaixo­assinado de 2 milhões
de pessoas. Isso entre outras manifestações,
incluindo a criação de sites especializados,
transmissão ao vivo do congresso etc.

Que formas o cidadão comum tem de atuar


politicamente?

Passei anos sem receber nenhum abaixo­


assinado, agora semanalmente sou chamado a
me posicionar sobre os mais diferentes temas,
internos e externos. Sinto­me hoje muito mais
convocado, como cidadão, do que cinco anos
atrás, e estimula saber que muitos desses
movimentos populares estão dando resultado.
Está aí a primevera no norte da África que não
nos deixa mentir.

Você vê alguma particularidade quanto ao


jovem?

Os jovens talvez tenham menos interesse em


política do que quem lê jornal e tem o hábito de
se manter informado, mas estão cada vez mais
plugados, graças às redes sociais. A era dos
Sarneys, dos coronéis que trabalham em
segredo, está acabando.
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Você acha que a política institucional dá


conta da democracia?

Sinto que os partidos não representam a


vontade da população, não trabalham para o
Estado nem para o bem do país – trabalham
prioritariamente para se manter no poder. Não
saberia inventar outro sistema, mas percebo
que este não dá conta da complexidade do
mundo de hoje. O ex­presidente Lula declarou
recentemente em um programa de TV que
aceitaria se candidatar novamente à
presidência, para que o PSDB não ocupasse o
lugar. Essa declaração infeliz resume a
questão: o poder político é um jogo que se
vence ou se perde, e é isso que mobiliza seus
participantes – o país vem depois, quando vem.
Outro aspecto que tem me chamado a atenção
é que, por estarmos todos muito mais ligados,
praticamente não há mais poder local. Um
prefeito que não trabalhe com os outros
prefeitos da região não consegue fazer seu
trabalho direito. Países que não integrem
órgãos internacionais nos quais se debatam os
interesses comuns ficam de mãos atadas.

Os anos 60 marcaram época, politicamente.


O que mudou de lá pra cá?

Nos anos 60 o mundo estava dividido entre


esquerda e direita, estava­se do lado de cá ou
do lado de lá. Quando você polariza, o jogo fica
mais acessível e mais apaixonante, vira um
Fla­Flu. Depois tivemos o período em que a
nossa sociedade foi convidada a se calar, e
então o mundo ficou muito mais complexo.
Hoje a esquerda é apoiada, por exemplo, pelo
José Sarney e pelo Aldo Rebelo – este, um
comunista que vota com os ruralistas. Tudo é
mais confuso, mais impenetrável. O
pensamento e as fórmulas de governança dos
anos 60 não cabem mais no mundo de hoje.

Você percebe uma mudança de valores, dos


anos 60 pra cá?

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Um grande valor hoje, praticamente inexistente


40 anos atrás, é em relação às questões
ambientais. Há 40 anos o planeta era
inesgotável, ainda estava sendo conquistado.
Hoje temos a percepção de que vivemos num
planeta onde os recursos são finitos e, pior,
estão se esgotando rapidamente. A grande
descoberta em termos de valor é entendermos
a necessidade de pararmos de pensar como
nações e passarmos a pensar como planeta. A
ideia de soberania nacional vai aos poucos
sendo revista, ou relativizada. A
interdependência global é um dado
inquestionável. Se queimarmos a Amazônia,
não choverá no Sul e vai haver seca no centro
do Brasil, o carbono liberado vai acelerar o
aquecimento do planeta, geleiras irão derreter,
rios que dependem delas deixarão de ser
formados, populações ficarão sem suas fontes
de alimentos. Tudo está ligado. Não tínhamos
essa noção 40 anos atrás. Hoje sabemos que o
degelo da Groenlândia vai afetar imensamente
a vida de enorme população na Ásia que vive à
beira­mar. Essas questões bateram à nossa
porta e já estão nos atropelando. Apenas
cegos, cínicos ou oportunistas se recusam a
enxergar.

Um parêntese: a despeito disso tudo,


existem 69 povos isolados indígenas no
Brasil.

Sim, pequenas aldeias devidamente


localizadas e demarcadas com GPS. Esses
índios podem não estar nos vendo, mas
sabemos exatamente onde eles estão, quantos
são, e fotos deles estão disponíveis para
qualquer um no Google Earth. Não tenho
dúvidas de que, se um dia suas terras nos
interessarem para a construção de barragens
hidrelétricas, por exemplo, em pouco tempo
estará justificada a invasão. Este roteiro não é
novo, ainda se repete depois de 500 anos de
história.

Quanto ao exercício da cidadania, você


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percebe mudanças?

Está na moda falar em cidadania, ser


responsável pelo coletivo, mas estamos longe
de uma noção verdadeira de que nossos atos
afetam a vida do próximo e precisam ser
repensados. Em alguns lugares onde tenho
trabalhado sinto que a noção de se viver numa
comunidade está bem mais incorporada do que
aqui. Tenho um caso recente. Estava em
Toronto e fui almoçar na casa de um produtor
amigo. Ele serviu salada e depois tinha uma
lentilha, pois sabe que sou vegetariano.
Quando foi trocar meu prato, falei: “Não
precisa, pode deixar”. Ele respondeu de bate­
pronto: “Não tem problema porque eu espero a
máquina encher, não vou gastar mais água
lavando mais este prato”. Eu havia pensado em
ficar com o prato para aproveitar o molhinho de
azeite, mas a noção de que seus atos podem
repercutir na vida dos outros, de que a água é
um bem coletivo, está tão impregnada que ele
nem entendeu minha intenção. No Brasil ainda
estamos longe desta noção de cidadania. Mas
está melhorando.

Alguma articulação ou movimento social, no


Brasil e fora dele, chamou sua atenção nos
últimos tempos?

Sim, os movimentos ambientalistas que


questionam o nosso modelo de
desenvolvimento, o business as usual. O
impressionante é que os jornais comemoram o
crescimento do consumo ou da economia
como se isso ainda fosse saudável. Há
movimentos mostrando que precisamos
urgentemente fazer uma curva na história e
buscar outros modelos de desenvolvimento. Os
movimentos que lidam com estas questões são
os mais importantes, hoje. Infelizmente nossos
homens públicos trabalham com a perspectiva
de futuro de três ou quatro anos, que é o
quanto duram seus mandatos. Difícil construir
um mundo sem perspectiva de longo ou
longuíssimo prazo. Estamos ameaçados
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justamente por essa lógica.

E como fica a questão do consumo diante


disso? O seu, o meu, o nosso?

Temos que mudar nosso padrão de consumo,


rapidamente. Esta mudança precisaria ser
como uma mobilização de guerra, na qual
todos entendessem que precisam abrir mão de
alguma coisa para poder prosseguir. Tenho
feito mudanças nesse sentido na minha vida,
mas talvez só quando os efeitos da carência de
recursos baterem à nossa porta é que
mudaremos de fato nossas vidas. A lógica do
dinheiro como motor da sociedade é tão
perversa quanto difícil de ser alterada.
Sabemos, por exemplo, que há falta de
alimento no mundo, e sabemos também que
40% do alimento produzido é desperdiçado no
processo de produção, transporte,
comercialização e preparação para o consumo.
Contudo, quando olhamos para esta questão, a
maneira de atacá­la é sempre o aumento da
produção, e não o uso racional do que já
existe. Para quem produz, transporta ou
comercializa alimentos, o desperdício é boa
notícia, pois significa maior demanda, mais
renda. A racionalização do uso dos recursos é
a nova economia de que o mundo precisa.

Li recentemente um editorial do Estadão [jornal


O Estado de S.Paulo] no qual o Washington
Novaes [jornalista e ambientalista] comentava
o gosto dos governos pelas grandes obras.
Dava exemplos de como pequenas medidas
poderiam ser mais eficazes, mais racionais,
falava de outra maneira de pensar a
administração pública e a organização da
sociedade. Um dos exemplos era a notícia de
que a Caixa Econômica Federal, a partir de
agora, não vai mais financiar moradias em
lugares onde não houver água e esgoto
disponíveis. É uma loucura pensar que até
ontem o Estado financiava moradias que
usavam os rios como esgoto. O texto falava
sobre desperdício e trazia dados interessantes:
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no Brasil desperdiçamos 40% da água usada,


e o estado de São Paulo vai fazer uma
reformulação para desperdiçarmos 24%. No
Japão desperdiçam­se 3%. Seguindo a mesma
lógica, o pensamento dominante quando se
fala em água é a construção de novas
barragens, novos reservatórios, tratar mais
água. Pensa­se sempre em novas obras, e no
entanto há muita brecha para a racionalização.
Temos que chegar ao ponto em que 100% do
que é produzido possa ser reciclado, mas isso
demanda uma mudança cultural inimaginável.

Essa mudança é compatível com o


capitalismo?

Não, a lógica do capitalismo é expandir,


crescer. Isso poderia fazer algum sentido num
mundo inesgotável e infinito, mas já sabemos
que não é mais o nosso. Um novo modelo de
desenvolvimento implica uma dificílima e
demorada transformação nas nossas vidas. Ela
virá com mais ou menos dor. A questão que os
capitalistas colocam é: se vamos consumir
menos, para onde vai o trabalho e a atividade
humana? Uma resposta é que o trabalho pode
migrar da área de produção de bens de
consumo para áreas como educação, cultura,
serviços. A aspiração das populações, hoje, é
por bens de consumo, roupas, automóveis. A
mudança cultural necessária é passarmos a
valorizar bens não materiais. Educação,
esporte, música, ciência são atividades
humanas que não consomem tanto o planeta e
preenchem mais a alma do que a busca
desesperada pela reposição de bens, que é
uma das principais razões pelas quais se
trabalha e se vive, hoje.

Ao longo da história, vários movimentos


sociais lutaram pela liberdade. Você acha
que a liberdade ainda é uma questão?

Claro que é. A plena liberdade política é


desfrutada por apenas uma parcela da
população mundial. Mas, mais do que a
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liberdade de influir nas decisões que afetam a


própria vida, a pobreza é o maior limitador da
liberdade humana. Sem justiça social não há
liberdade, e a injustiça social ainda é
dominante no planeta. Em todos os países
encontraremos diferenças entre ricos e pobres,
maiores ou menores, mas não há lugar onde a
diferença seja tão grande quanto no planeta
Terra como um todo. A diferença entre países
com altas taxas de consumo e países sem
margem para desfrutar de alguma autonomia é
mais brutal do que qualquer diferença interna
entre os que têm e os que não têm. Um país
que consome sozinho 25% dos recursos do
mundo inexoravelmente estará tolhendo a
liberdade de outros.

Que outros direitos e valores há a serem


conquistados, hoje?

Creio que a noção de que somos parte de uma


mesma humanidade e de que dependemos um
do outro, que afetamos a vida do outro, precisa
ser mais bem compreendida. Mais do que
nunca, estamos todos conectados. A dona
Kátia Abreu [senadora pelo PSD­TO, líder da
bancada ruralista do congresso] ainda não
entendeu que a expansão das fronteiras
agrícolas na Amazônia, que ela defende, vai
gerar seca e derrubar a produção de soja de
sua fazenda em Campos Lindos, no Tocantins.

Ao mesmo tempo em que descobrimos


essa interdependência, vivemos um
individualismo exacerbado.

Pode parecer paradoxal, mas não creio que a


busca de uma identidade ou da própria
individualidade seja conflitante com a noção de
pertencer a uma grande comunidade global.
Todos queremos ter uma cara, deixar de ser
invisíveis, mas ao mesmo tempo vejo mais
pessoas engajadas em lutas e num
pensamento de cardume. A compreensão de
que somos uma só espécie passa pelo
autoconhecimento.
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Como você vê as próximas gerações


coexistindo nesse planeta cada vez menor?

Menor e mais rápido, vale lembrar. Meus netos


irão viver num mundo muito diferente do meu.
Passei a infância em um mundo natural ainda
em expansão, onde a manteiga era feita na
fazenda e a fruta, colhida no pé. Onde meu avô
dizia que “desde que o mundo é mundo as
coisas são assim e assim ficarão”. Meus netos
vão viver num mundo onde as transformações
acontecem a cada bimestre, um mundo que é
como uma aldeia, totalmente conectado e sem
muitas fronteiras, onde a busca pelo
crescimento perderá o sentido. Segundo o
último Censo, a população brasileira parou de
crescer e já começa a envelhecer.

Sem população em crescimento, o esforço para


suprir bens e alimento para quem está
chegando deve ser deslocado para o esforço
de distribuir melhor os bens, alimentos e
energia já disponíveis. Nessas condições, me
parece mais fácil organizar a sociedade. Mas a
possibilidade de termos que conviver com
populações refugiadas da fome, da falta de
água, do aumento do nível do mar, assim como
os desafios para mudarmos nossa matriz
energética ou conseguirmos manter a
produção de alimentos com menos água,
coloca no futuro variantes tais que qualquer
tentativa de previsão se torna quase um
exercício de adivinhação.

Ha outro aspecto, a velocidade do novo


mundo. Quando penso em futuro sempre me
sinto enganado. Prometeram que a tecnologia
iria libertar o homem, dar­lhe mais tempo para
cuidar do espírito e para o lazer, mas
aconteceu o contrário. Viramos prisioneiros das
máquinas. Antes eu saía do trabalho às 7 da
noite e só voltava no dia seguinte. Hoje,
conectado, me vejo respondendo emails e
trabalhando em qualquer hora e lugar. Todo
mundo recebe solicitações de trabalho durante

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o almoço, nos finais de semana. A tecnologia


nos transformou em trabalhadores
compulsivos. Nem nas férias nos
desconectamos dessas maravilhas
tecnológicas.

Mas talvez o trabalho fosse mais separado


do lazer.

No meu caso, trabalho e lazer são


praticamente a mesma coisa. Mas sei que sou
um caso raro e, mesmo assim, gostaria de ter
um tempo em que pudesse virar o disco. Para
quem tem funções que exigem mais esforço e
menos criatividade, a tecnologia realmente
veio para diminuir os prazos e roubar o tempo
que se tem para desfrutar da vida e ser feliz.

Você vê a possibilidade de uma governança


global?

Será inevitável. O rio Ganges ou o Amarelo, e a


população que eles alimentam, não dependem
de decisões da Índia ou da China para
continuarem a correr. Eles dependem do corte
e emissão de carbono no mundo todo, da
preservação das florestas que ainda existem,
de modo que o planeta não se aqueça mais e
as geleiras do Himalaia, que os alimentam,
continuem a se formar anualmente. Como
esses, há muitos outros exemplos de
problemas cujas decisões nacionais, nos
países onde podem ser tomadas, não
conseguem mais dar conta. Creio que
tentativas de governança global como a do
Mercosul ou da Zona do Euro são ensaios para
um mundo em que as decisões precisam ser
compartilhadas. A ONU não funciona muito
bem porque os Estados Unidos, apesar de
serem seu maior financiador, não respeitam
muito suas decisões. Mas a tendência é cada
vez mais organizações globais passarem a ter
mais influência no mundo. Precisamos
urgentemente de organizações que regulem as
questões ambientais no planeta. Nada mais
razoável, dada a nossa interdependência.
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Comentários

PIERRY
POSTADO EM 04/SEP/2012 ÀS 13:47

Taí seu ídolo fazendo bonito>>>

Responder

BrunoDeMoura
POSTADO EM 19/SEP/2012 ÀS 12:35

Genial!! Concordo totalmente com os


comentários e opiniões do Fernando
Meirelles, temos que parar de agir como
se nossas ações não afetassem ninguém
além de nós mesmos, mas infelizmente
ainda está longe a hora em que as
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pessoas deixarão de comprar uma bolsa


para ler um livro que preste!!!

Responder

Fabio
POSTADO EM 20/SEP/2012 ÀS 23:19

Sustentabilidade é só socialismo
disfarçado. Além disso o Meireller não
sabe o que é "capitalismo". "Não, a lógica
do capitalismo é expandir, crescer. Isso
poderia fazer algum sentido num mundo
inesgotável e infinito" Pra começo de
conversa no capitalismo a escassez é o
fator primordial. PRIMORDIAL. Os
recursos não irão se esgotar e todos
morreremos num apocalipse zumbi, na
medida que os recursos vão se esgotando
eles tornam­se mais caros e novas
alternativas aparecem. Por exemplo, pra
substituir o papel engenheiros criaram o
pendrive. A economia é dinâmica! Os
ambientalistas gastam tempo demais
querendo proibir o uso dos recursos e
nenhum tempo desenvolvendo
alternativas economicamente viáveis.

Responder

Bruno
POSTADO EM 21/SEP/2012 ÀS 16:47

"Os recursos não irão se esgotar" Esse


vive no mundo dos sonhos....

Responder

Dalva Rachel
POSTADO EM 22/SEP/2012 ÀS 00:07

Meirelles está interpretando o q está se


passando em movimentosw soc.,
principalmente em países tidos como os
mais ricos d cultos. É verdd sim, q a
juventude já percebeu q as formas e
fórmulas propostas pelas instituições
financeiras e governamentais não mais
dão conta de sequer ofertar trabalho para
tds. Tb as propostas políticas e
sociaiscomo formas de governo para
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gerirem os povos não mais dão conta das


sdds, cada vez mais complexas e
multifacetadas da realidd de hj. Contudo
concordo q a solução tb não está
simplesmente no modelo ambientalista,
equivocado em certos aspectos de suas
propostas. Talvez uma nova realidd esteja
sendo gestada, como marco desse novo
século q se prenuncia como um outro
olhar, sb as velhas questões ainda não
resolvidas.

Responder

Liliana Peixinho
POSTADO EM 22/SEP/2012 ÀS 17:54

Quando o discurso político engrossa a


lógica empresarial de fortalecer o
consumo para surgimento de uma classe
C, que se endivida e faz de conta que vive
para pagar contas de sapatos, roupas,
jóias, carros, eletroeletronicos, como
instrumentos de status e não de
necessidade e proteção da Vida, surge a
urgencia da intolerancia desse modelo e a
luta para se conseguir, como disse
Meireles, “valorizar bens não­materiais:
educação, esporte, cultura, ciência –
atividades humanas que não consomem o
planeta e preenchem mais a alma que a
busca desesperada pela reposição de
bens”. Construir Cadeias Produtivas
Harmoniosas de Ponta à Ponta não
combina com desperdícios e caprichos
egoistas. E, por mais respeito que se deva
ter às escolhas pessoais, não podemos
fazer de conta que não faz diferença jogas
comida fora quando sabemos da fome !as
vezes a nosso lado,. E devemos linkar os
efeitos negativos dos nossos atos para
separar sustentabilidade de
greenwashing, faz de conta que faz, com
o fazer real. O palco, da vida cotidiana.
Gostei da posição do Meirelles.

Responder

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Bruno
POSTADO EM 29/SEP/2012 ÀS 21:12

Nossa, até parece redação da fuvest.


Reproduzindo o que todo mundo já sabe,
sem conhecimento de causa e com os
argumentos mais frouxos da história.
Incrível.

Responder

Daniel
POSTADO EM 31/OCT/2012 ÀS 12:20

Fabio, os recursos não irão esgotar?.... O


que eles colocarão no lugar da água
quando ela acabar, Coca­Cola?... É cada
uma que a gente lê por aí....

Responder

emanuel
POSTADO EM 11/NOV/2012 ÀS 13:47

No final o Fernando Meirelles diz que é


inevitável o governo mundial pela ONU.
Não vejo isso como um acréscimo das
nossas liberdades mas, ao contrário, de
uma concentração de poder além do que o
mundo já viu. No texto ele critíca muito a
corrupção na política, onde então o
problema não é o Capitalismo liberal, mas
o Governo corrupto que precisa de
riquezas e alianças de poder. Afirma que
"Nossos sonhos não cabem no
capitalismo" mas o Sistema de livre
mercado é o único que pode conferir a
liberdade do indivíduo ir atrás de seus
sonhos. O governo que muitas vezes
dificulta o direito de ir atrás dos seus
sonhos com impostos e controle, licenças,
etc. e quer decidir que sonhos devem ser
realizados de preferência aqueles que vão
ao encontro dos seus interesses pessoais
ou políticos. Ele ta estressado por causa
da tecnologia e do capitalismo que vá para
Ubatuba e fique lá por 3 meses. O sistema
capitalista não impede isso e ainda
proporciona passagems de avião cada
vêz mais baratas. Mas sobre a proteção
ambiental estamos de acordo, se não
preservar não haverá mais Ubatuba com
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/09/fernando-meirelles-nossos-sonhos-nao-cabem-capitalismo.html 16/21
6/22/2014 Fernando Meirelles: 'Nossos sonhos não cabem no capitalismo' - Pragmatismo Político

sua beleza exuberante.

Responder

Ananias Ferreira
POSTADO EM 11/NOV/2012 ÀS 19:29

O que Fernando M. diz, é o que muita


gente já sabe à pelos duas décadas, o
que falta é a participação efetiva da
sociedade como um todo, cada cidadão
fazendo sua parte, ou seja, os políticos
suprindo os anseios desta mesma
sociedade que por sua vez saiba votar em
quem realmente entenda o presente e
suas perspectivas sobre o futuro, em
relação a meio ambiente, educação,
mobilidade, saúde, cultura e tudo que
envolve o bem estar social... Esta
sociedade é possível, desde que todos
participem e deixem as teorias de lado e
comecem a praticar.

Responder

Carlos Roberto Haller


POSTADO EM 13/NOV/2012 ÀS 17:27

Muito boa a análise de Fernado Meirelles


sobre a real situação mundial, a questão é
que nem todas as pessoas tem acesso a
este tipo de informação e os políticos
assim como os empresários querem
exatamente isto: manter o povo na
ignorância, porém as redes sociais estão
aí, para divulgar e esclarecer a quem
queria se esclarecer sobre a real situação
do planeta que vivemos.

Responder

Marlus Romero
POSTADO EM 15/NOV/2012 ÀS 10:18

Excelente entrevista. Fernando Meirelles


sempre sobe no meu conceito. Só não
gostei da parte de que, pra ele, trabalho e
lazer são praticamente a mesma coisa.
Fiquei com inveja. rs... P.S.:
"Sustentabilidade é só socialismo
disfarçado"?? Que porra é essa nos
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6/22/2014 Fernando Meirelles: 'Nossos sonhos não cabem no capitalismo' - Pragmatismo Político

comentários?

Responder

Raphael Vieira
POSTADO EM 07/DEC/2012 ÀS 17:16

Leu...leu e não entendeu. Filtrinho de


Leitura..."ATIVAR"

Responder

Claudemberg
POSTADO EM 04/JUN/2013 ÀS 14:57

Meu Deus! Há mais pressa em postar


comentários do que fazer uma leitura
profunda do que foi dito na entrevista. Por
isso postam tanta m... nos comentários.

Responder

André Pereira da Silva


POSTADO EM 21/JUN/2013 ÀS 12:36

Não cabem no capitalismo todos os


sonhos humanos. Os sonhos de muitos
extrapolam os bens de consumo.
Entretanto, o capitalismo leva ao êxtase
as pessoas de direita que conquistaram
poder econômico e, através dele,
realizaram seus sonhos de consumo, de
poder e autoafirmação. O capitalismo é
uma distorsão mesquinha do viver, que só
favoresce o individualismo e a realização
de 'pequenos' sonhos pessoais, que limita
o homem a viver numa lógica perversa,
sem jamais transcender a instâncias
superiores, de carater humano,
sociológico, planetário, ecológico, cósmico
ou teológico...

Responder

herbo
POSTADO EM 18/JUN/2014 ÀS 19:52

E Fernando Meirelles é o quê ??


ou você acha que ele vive de
maneira simples fazendo
publicidade ?
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/09/fernando-meirelles-nossos-sonhos-nao-cabem-capitalismo.html 18/21
6/22/2014 Fernando Meirelles: 'Nossos sonhos não cabem no capitalismo' - Pragmatismo Político

Responder

"Sou classe média, papagaio de todo


telejornal..." ­ Pragmatismo Político
POSTADO EM 01/AUG/2013 ÀS 15:03

[...] Fernando Meirelles: ‘Nossos sonhos


não cabem no capitalismo’ [...]

Responder

“Sou classe média, papagaio de todo


telejornal…” | Africas
POSTADO EM 01/AUG/2013 ÀS 15:26

[...] Fernando Meirelles: ‘Nossos sonhos


não cabem no capitalismo’ [...]

Responder

Egeson da Silva
POSTADO EM 09/AUG/2013 ÀS 10:37

­ Ha tempos não me identificava em


tamanho, gênero e gral, com uma
exposição realística em todos os sentidos
do Fernando Meirelles. ­ Sem sombras de
dúvidas que o Povo Brasileiro cansou de
ser sacaneado. E por isto, exige
Mudanças no modo de se Governar;
Municípios , Estados e prioritariamente a
Nação. ­ Ou estaremos fadados a uma
precoce "Guerra Civil."

Responder

herbo
POSTADO EM 18/JUN/2014 ÀS 19:52

E a vida simples do Fernando hein!? deve


andar a pé, morar num casebre...
Esquerda Caviar modo ON.

Responder

herbo
POSTADO EM 18/JUN/2014 ÀS 20:10

O cara sugere que um governo global é


inevitável e os alucinados aplaudem,

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/09/fernando-meirelles-nossos-sonhos-nao-cabem-capitalismo.html 19/21
6/22/2014 Fernando Meirelles: 'Nossos sonhos não cabem no capitalismo' - Pragmatismo Político

gostaria de entender onde poder


concentrado nas mãos de uma única
instituição pode ser de qualquer maneira
algo positivo.

Responder

carol
POSTADO EM 21/JUN/2014 ÀS 12:56

eu achei a entrevista boa demais...me


surpreende a qde de corneta q tem aquii...

Responder

JOSÉ JUNOT DUARTE


POSTADO EM 21/JUN/2014 ÀS 19:48

ESTÁ MAIS PARECENDO UM


DISCURSO COMUNISTA.

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