O histórico das Políticas Públicas no Brasil Tendências na economia mundial e as repercussões nas Políticas Públicas brasileiras Desafios e oportunidades para os mov. populares Para início de conversa:
O QUE SÃO POLÍTICAS
PÚBLICAS? Definições Peters, Dye e O’Donnel
PETERS - “é a soma das atividades dos governos,
que agem diretamente ou através de delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos”.
DYE - “o que o governo escolhe fazer ou
não fazer”
O’Donnel - “ O Estado em ação”
Questionamento da definição finalística Celina Souza (UFBA, 2006)
Critica o peso excessivo dado a aspectos
racionais e procedimentais das políticas públicas → (Concepção despolitizada) Questionamento da definição finalística Francisco Fonseca (FGV-SP, 2013)
Critica um tipo de percepção atribuída pelo poder
público e pela sociedade em geral de que as políticas públicas são “naturais” e, assim sendo, destituídas de conflitos de interesses e/ou vetos. → (perspectiva a-histórica e sem conflitos). Para uma análise crítica devemos considerar:
1. os perigos (armadilhas) de não se ressaltar os conflitos,
quando se analisam programas governamentais; 2. os alcances e limites das P.P. perante o modelo de acumulação; 3. os constrangimentos advindos do sistema político à formulação e implementação de Políticas Públicas; 4. o papel da mídia como ator político e ideológico (vetos e os interesses das classes médias e abastadas); e, 5. questões conjunturais relativas ao debate político em que as Políticas Públicas aparecem como protagonistas.
Fonseca (FGV-SP, 2013)
Conceito de políticas públicas Um curso de ação, escolhido pelo Estado, com o objetivo de resolver um problema público. É integrada por ações do Estado (entre outros atores não-governamentais) derivadas da autoridade legítima do Estado, com poder de se impor à sociedade. O curso de ação escolhido é influenciado por ideias e valores e pela disputa entre diferentes atores e grupos e se baseia em conhecimento técnico e em outras formas de saber (Farah, 2018).
Trata-se, portanto, de um processo complexo,
multicausal e multidirecional (Fonseca, 2013). De quais Políticas Públicas estamos falando? P. Constitutivas e Regulatórias (leis e normas) P. Econômicas (fiscal, monetária, câmbio: interno/ externo) Políticas Sociais (serviços, infra... e acesso aos direitos)
Níveis / Esferas: Federal, Estadual e Municipal
As políticas sociais são àquelas que mais se aproximam da vida
cotidiana das pessoas. Ex.: saúde, saneamento básico, segurança alimentar, educação, habitação, assistência social, segurança, etc. Exemplo
Políticas de transferência de renda
Link: https://www.youtube.com/watch?v=zYZrUnAHBxc&t=194s Bora falar do texto:
Quais heranças? As tendências na
Economia mundial e as repercussões nas políticas brasileiras? E, por fim, quais os desafios e oportunidades dos movimentos populares? Políticas Públicas no Brasil: heranças Nos anos 1920, um país rural e agrícola. (Censo de 1920: 30% cidades e 70%, no campo). Nos anos 1970, um país urbano e industrializado (Censo 70% nas cidades e 30% no campo).
O Brasil nos anos 1980 alcançou o 8º PIB industrial do mundo.
Ou seja, o país transformou-se numa potência industrial média, com a maior parcela da sua gente morando nas cidades.
Este é o perfil atual do Brasil. No entanto, para compreender a realidade
dos dias de hoje, é necessário saber que Estado tínhamos anteriormente e que heranças e traços foram se fixando nesse percurso. Políticas Públicas no Brasil: heranças
Essencialmente, o que caracterizava o Estado brasileiro nesse
período (1920-1980) era seu caráter desenvolvimentista, conservador, centralizador e autoritário.
“O Estado era o promotor do desenvolvimento e não o
transformador das relações da sociedade. Não houve uma preocupação com a construção do Estado de bem-estar social”.
“Desde o começo do século, optou-se pela industrialização.
Assim, o grande objetivo era de ordem econômica. Com isso o Estado adquiriu uma postura de fazedor e não de regulador”. Políticas Públicas no Brasil: heranças
Em muitos momentos no séc. XX, para além de centralizador, o
Estado brasileiro caracterizou-se como autoritário. São exemplos as duas longas ditaduras – primeiro com Vargas e depois com os Governos Militares pós-64.
o viés autoritário é muito forte nas políticas públicas
Apesar de configurar-se como Estado realizador, quando
necessário assumia a função de regulador. Ex.: na era Vargas, o Estado brasileiro foi responsável por negociar e regular a relação capital x trabalho consolidando o salário mínimo e o essencial da legislação trabalhista que ainda se mantém. Políticas Públicas no Brasil: heranças Esse perfil autoritário e conservador também se traduz na maneira como tradicionalmente são pensadas as políticas sociais. Quem está lá em Brasília tende a pensar que o Brasil é uma média. E a média não diz quase nada do Brasil, que é um país muito heterogêneo. [...]. Junta-se a isso a consequente dificuldade de promover a participação da sociedade.
E o que herdamos dessa história brasileira, com o apoio do
Estado brasileiro? Na minha opinião herdamos um país que consegue ser a oitava economia do mundo, em poucos anos, e que tem, ao mesmo tempo, a maior fratura social dentre os países de perfil semelhante. Ex.: renda per capita ocupa a 111º posição (ano 2016). O Brasil é o 9º país mais desigual do mundo. Novas tendências na economia mundial e as suas repercussões nas Políticas Públicas brasileiras
Globalização (internacionalização do capital)
Ex.: Um grande conglomerado multinacional, atualmente, pode
ter centenas de fábricas espalhadas em dezenas de países, pode controlar tudo em tempo real, porque a revolução das telecomunicações assim o permite. Esses agentes econômicos impõem certas homogeneizações: as regras do jogo, o padrão de competitividade e o tipo de organização econômica. Novas tendências na economia mundial e as suas repercussões nas Políticas Públicas brasileiras
Reestruturação produtiva é, na verdade, o modo como o
capitalismo rearruma-se para tentar sair da crise.
Há novos setores dinâmicos no cenário mundial, como, por
exemplo, o complexo eletro-eletrônico!
Há no mundo, atualmente, uma enorme possibilidade de geração
de riqueza na esfera financeira, o que aliás sempre existiu no capitalismo, mas jamais com tamanha magnitude. Paralelamente a essas tendências, e associado a elas, algo muito forte ocorre hoje no mundo, que não é da ordem do mundo real, mas é de natureza político-ideológica. É a hegemonia da visão neoliberal. Novas tendências na economia mundial e as suas repercussões nas Políticas Públicas brasileiras “quanto menos Estado e quanto mais mercado, melhor; quanto mais individualidade e quanto menos coletividade, melhor”.
Essa é a visão ideológica-política (neoliberalismo) e é ela a
perspectiva dos dirigentes mundiais. Trata-se de uma abordagem que favorece as mudanças que estão acontecendo no mundo real, para que o capital globalizado circule no mundo inteiro.
Há menos Estado na produção, menos Estado na regulação e,
portanto, mais mercado, para viabilizar o projeto neoliberal. Há menos políticas públicas e mais mercadorias e serviços.
Ex.: Educação como mercadoria x Educação / bem público e dever do Estado.
Desafios e Oportunidades para os Mov. Populares
Mas o Brasil não é somente o seu governo. Há outros Brasis, que
somos nós – a sociedade. Quando observamos esses outros Brasis, vislumbramos outras trajetórias, muito diferente da traçada pelos poderosos. Existe (ainda) uma proposta de reforma do Estado na sociedade brasileira?!
Reformar o Estado desenvolvimentista/centralizador/autoritário , que
só patrocina(va) o crescimento da economia, e abrir espaço para um Estado que patrocine saúde, educação, cultura, segurança.
Um Estado com prioridades nas políticas sociais?
Oportunidades para os Movimentos Populares
Políticas Públicas formuladas e implementadas a partir dos
territórios (de baixo para cima); trabalhando no nível local, articulando múltiplos atores (estado, sociedade civil e movimentos sociais); reconhecendo as regionalidades e heterogeneidades.
Romper com a idéia de que público é sinônimo de
governamental, apesar da tradição brasileira.
Avançar em termos da democratização do Estado e da sociedade.
Ou seja, ampliar a participação e o controle social.
Ex.: Conselhos, Conferências, Fóruns e Redes.
Conclusão: idéias-chave em torno da discussão das políticas públicas
1. A economia é resultado das decisões políticas e não de decisões
técnicas como o discurso tecnocrático quer fazer crer.
2. A crise do Estado é a crise de um modelo específico de Estado que
vigorou no Brasil durante a maior parte do século XX, um Estado desenvolvimentista e conservador;
3. O modelo de Estado desenvolvimentista foi promotor de
desenvolvimento, no entanto ampliou as desigualdades; (esp. regime militar - internacionalização da economia e aumento explosivo das dívidas internas e externas).
4. As desigualdades sociais geradas por esse modelo são um enorme
obstáculo para a superação dessa crise Conclusão: idéias-chave em torno da discussão das políticas públicas
5. Os Conselhos Municipais podem ser um importante instrumento no
enfrentamento dessas desigualdades;
6. O município sozinho não tem condições de responder às imensas
demandas sociais herdadas. Daí a necessidade de pensar políticas públicas de forma integrada, nos âmbitos federal, estadual e municipal.
7. As conferências nas diversas escalas (federal, estadual e municipal)
são importantes porque promovem uma visão de Estado ou de país, em torno de determinada política.
8. Os atores sociais e os Conselhos setoriais devem articular-se e
integrar-se com a política econômica geral. É nosso direito debater e conhecer a política econômica geral. Referências Bibliográficas
BACELAR, Tânia. As Políticas Públicas no Brasil: heranças,
tendências e desafios. In. SANTOS, J.; ALVES, O. [et al.]. (Org.). Políticas Públicas e Gestão Local: programa interdisciplinar de capacitação de conselheiros municipais. Rio de Janeiro: FASE, 2003.
FARAH, Marta. Abordagens teóricas no campo de política pública no
Brasil e no exterior: do fato à complexidade. Revista do Serviço Público, 69, p. 53 – 84, 2018.
FONSECA, Francisco. Dimensões críticas das políticas públicas.
Cadernos EBAPE.BR, 11(3), p. 402–418, 2013.
SOUZA, Celina. Políticas públicas: uma revisão da literatura.