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Políticas Públicas no Brasil

UEL – Curso de Psicologia 3 ano


Prof. Dr. Roberth Tavanti
Objetivo

Abordar o tema das Políticas Públicas no Brasil,


levando em conta as seguintes tópicos:

O conceito de Políticas Públicas


O histórico das Políticas Públicas no Brasil
Tendências na economia mundial e as repercussões nas
Políticas Públicas brasileiras
Desafios e oportunidades para os mov. populares
Para início de conversa:

O QUE SÃO POLÍTICAS


PÚBLICAS?
Definições Peters, Dye e O’Donnel

PETERS - “é a soma das atividades dos governos,


que agem diretamente ou através de delegação, e
que influenciam a vida dos cidadãos”.

DYE - “o que o governo escolhe fazer ou


não fazer”

O’Donnel - “ O Estado em ação”


Questionamento da definição finalística
Celina Souza (UFBA, 2006)

Critica o peso excessivo dado a aspectos


racionais e procedimentais das políticas
públicas
→ (Concepção despolitizada)
Questionamento da definição finalística
Francisco Fonseca (FGV-SP, 2013)

Critica um tipo de percepção atribuída pelo poder


público e pela sociedade em geral de que as
políticas públicas são “naturais” e, assim sendo,
destituídas de conflitos de interesses e/ou vetos.
→ (perspectiva a-histórica e sem conflitos).
Para uma análise crítica devemos considerar:

1. os perigos (armadilhas) de não se ressaltar os conflitos,


quando se analisam programas governamentais;
2. os alcances e limites das P.P. perante o modelo de
acumulação;
3. os constrangimentos advindos do sistema político à
formulação e implementação de Políticas Públicas;
4. o papel da mídia como ator político e ideológico (vetos e os
interesses das classes médias e abastadas); e,
5. questões conjunturais relativas ao debate político em que as
Políticas Públicas aparecem como protagonistas.

Fonseca (FGV-SP, 2013)


Conceito de políticas públicas
Um curso de ação, escolhido pelo Estado, com o
objetivo de resolver um problema público. É
integrada por ações do Estado (entre outros atores
não-governamentais) derivadas da autoridade legítima
do Estado, com poder de se impor à sociedade. O
curso de ação escolhido é influenciado por ideias e
valores e pela disputa entre diferentes atores e
grupos e se baseia em conhecimento técnico e em
outras formas de saber (Farah, 2018).

Trata-se, portanto, de um processo complexo,


multicausal e multidirecional (Fonseca, 2013).
De quais Políticas Públicas estamos falando?
P. Constitutivas e Regulatórias (leis e normas)
P. Econômicas (fiscal, monetária, câmbio: interno/ externo)
Políticas Sociais (serviços, infra... e acesso aos direitos)

Níveis / Esferas: Federal, Estadual e Municipal

As políticas sociais são àquelas que mais se aproximam da vida


cotidiana das pessoas.
Ex.: saúde, saneamento básico, segurança alimentar, educação, habitação,
assistência social, segurança, etc.
Exemplo

Políticas de transferência de renda


Link: https://www.youtube.com/watch?v=zYZrUnAHBxc&t=194s
Bora falar do texto:

Quais heranças? As tendências na


Economia mundial e as repercussões
nas políticas brasileiras? E, por fim,
quais os desafios e oportunidades
dos movimentos populares?
Políticas Públicas no Brasil: heranças
Nos anos 1920, um país rural e agrícola.
(Censo de 1920: 30% cidades e 70%, no campo).
Nos anos 1970, um país urbano e industrializado
(Censo 70% nas cidades e 30% no campo).

O Brasil nos anos 1980 alcançou o 8º PIB industrial do mundo.


Ou seja, o país transformou-se numa potência industrial média,
com a maior parcela da sua gente morando nas cidades.

Este é o perfil atual do Brasil. No entanto, para compreender a realidade


dos dias de hoje, é necessário saber que Estado tínhamos anteriormente e que
heranças e traços foram se fixando nesse percurso.
Políticas Públicas no Brasil: heranças

Essencialmente, o que caracterizava o Estado brasileiro nesse


período (1920-1980) era seu caráter desenvolvimentista,
conservador, centralizador e autoritário.

“O Estado era o promotor do desenvolvimento e não o


transformador das relações da sociedade. Não houve uma
preocupação com a construção do Estado de bem-estar social”.

“Desde o começo do século, optou-se pela industrialização.


Assim, o grande objetivo era de ordem econômica. Com isso o
Estado adquiriu uma postura de fazedor e não de regulador”.
Políticas Públicas no Brasil: heranças

Em muitos momentos no séc. XX, para além de centralizador, o


Estado brasileiro caracterizou-se como autoritário. São
exemplos as duas longas ditaduras – primeiro com Vargas e
depois com os Governos Militares pós-64.

o viés autoritário é muito forte nas políticas públicas

Apesar de configurar-se como Estado realizador, quando


necessário assumia a função de regulador. Ex.: na era Vargas, o
Estado brasileiro foi responsável por negociar e regular a
relação capital x trabalho consolidando o salário mínimo e o
essencial da legislação trabalhista que ainda se mantém.
Políticas Públicas no Brasil: heranças
Esse perfil autoritário e conservador também se traduz na
maneira como tradicionalmente são pensadas as políticas sociais.
Quem está lá em Brasília tende a pensar que o Brasil é uma
média. E a média não diz quase nada do Brasil, que é um país
muito heterogêneo. [...]. Junta-se a isso a consequente dificuldade
de promover a participação da sociedade.

E o que herdamos dessa história brasileira, com o apoio do


Estado brasileiro? Na minha opinião herdamos um país que
consegue ser a oitava economia do mundo, em poucos anos, e
que tem, ao mesmo tempo, a maior fratura social dentre os
países de perfil semelhante. Ex.: renda per capita ocupa a 111º
posição (ano 2016). O Brasil é o 9º país mais desigual do mundo.
Novas tendências na economia mundial e as suas
repercussões nas Políticas Públicas brasileiras

Globalização (internacionalização do capital)

Ex.: Um grande conglomerado multinacional, atualmente, pode


ter centenas de fábricas espalhadas em dezenas de países, pode
controlar tudo em tempo real, porque a revolução das
telecomunicações assim o permite. Esses agentes econômicos
impõem certas homogeneizações: as regras do jogo, o padrão de
competitividade e o tipo de organização econômica.
Novas tendências na economia mundial e as suas
repercussões nas Políticas Públicas brasileiras

Reestruturação produtiva é, na verdade, o modo como o


capitalismo rearruma-se para tentar sair da crise.

Há novos setores dinâmicos no cenário mundial, como, por


exemplo, o complexo eletro-eletrônico!

Há no mundo, atualmente, uma enorme possibilidade de geração


de riqueza na esfera financeira, o que aliás sempre existiu no
capitalismo, mas jamais com tamanha magnitude. Paralelamente
a essas tendências, e associado a elas, algo muito forte ocorre
hoje no mundo, que não é da ordem do mundo real, mas é de
natureza político-ideológica. É a hegemonia da visão neoliberal.
Novas tendências na economia mundial e as suas
repercussões nas Políticas Públicas brasileiras
“quanto menos Estado e quanto mais mercado, melhor; quanto mais
individualidade e quanto menos coletividade, melhor”.

Essa é a visão ideológica-política (neoliberalismo) e é ela a


perspectiva dos dirigentes mundiais. Trata-se de uma abordagem
que favorece as mudanças que estão acontecendo no mundo real,
para que o capital globalizado circule no mundo inteiro.

Há menos Estado na produção, menos Estado na regulação e,


portanto, mais mercado, para viabilizar o projeto neoliberal. Há
menos políticas públicas e mais mercadorias e serviços.

Ex.: Educação como mercadoria x Educação / bem público e dever do Estado.


Desafios e Oportunidades para os Mov. Populares

Mas o Brasil não é somente o seu governo. Há outros Brasis, que


somos nós – a sociedade. Quando observamos esses outros Brasis,
vislumbramos outras trajetórias, muito diferente da traçada pelos
poderosos. Existe (ainda) uma proposta de reforma do Estado na
sociedade brasileira?!

Reformar o Estado desenvolvimentista/centralizador/autoritário , que


só patrocina(va) o crescimento da economia, e abrir espaço para um
Estado que patrocine saúde, educação, cultura, segurança.

Um Estado com prioridades nas políticas sociais?


Oportunidades para os Movimentos Populares

Políticas Públicas formuladas e implementadas a partir dos


territórios (de baixo para cima); trabalhando no nível local, articulando
múltiplos atores (estado, sociedade civil e movimentos sociais);
reconhecendo as regionalidades e heterogeneidades.

Romper com a idéia de que público é sinônimo de


governamental, apesar da tradição brasileira.

Avançar em termos da democratização do Estado e da sociedade.


Ou seja, ampliar a participação e o controle social.

Ex.: Conselhos, Conferências, Fóruns e Redes.


Conclusão:
idéias-chave em torno da discussão das políticas públicas

1. A economia é resultado das decisões políticas e não de decisões


técnicas como o discurso tecnocrático quer fazer crer.

2. A crise do Estado é a crise de um modelo específico de Estado que


vigorou no Brasil durante a maior parte do século XX, um Estado
desenvolvimentista e conservador;

3. O modelo de Estado desenvolvimentista foi promotor de


desenvolvimento, no entanto ampliou as desigualdades; (esp. regime
militar - internacionalização da economia e aumento explosivo das
dívidas internas e externas).

4. As desigualdades sociais geradas por esse modelo são um enorme


obstáculo para a superação dessa crise
Conclusão:
idéias-chave em torno da discussão das políticas públicas

5. Os Conselhos Municipais podem ser um importante instrumento no


enfrentamento dessas desigualdades;

6. O município sozinho não tem condições de responder às imensas


demandas sociais herdadas. Daí a necessidade de pensar políticas
públicas de forma integrada, nos âmbitos federal, estadual e municipal.

7. As conferências nas diversas escalas (federal, estadual e municipal)


são importantes porque promovem uma visão de Estado ou de país, em
torno de determinada política.

8. Os atores sociais e os Conselhos setoriais devem articular-se e


integrar-se com a política econômica geral. É nosso direito debater e
conhecer a política econômica geral.
Referências Bibliográficas

BACELAR, Tânia. As Políticas Públicas no Brasil: heranças,


tendências e desafios. In. SANTOS, J.; ALVES, O. [et al.]. (Org.).
Políticas Públicas e Gestão Local: programa interdisciplinar de
capacitação de conselheiros municipais. Rio de Janeiro: FASE, 2003.

FARAH, Marta. Abordagens teóricas no campo de política pública no


Brasil e no exterior: do fato à complexidade. Revista do Serviço
Público, 69, p. 53 – 84, 2018.

FONSECA, Francisco. Dimensões críticas das políticas públicas.


Cadernos EBAPE.BR, 11(3), p. 402–418, 2013.

SOUZA, Celina. Políticas públicas: uma revisão da literatura.


Sociologias, (16), p. 20–45, 2006.

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