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Apelação Cível. Ação de indenização por danos morais . Abandono Afetivo. Enviar por Email Salvar em PDF Imprimir
Tema(s):
Apelação Cível (http://www.ibdfam.org.br/jurisprudencia/tema/ Apelação Cível) Ação de indenização por danos morais (http://www.ibdfam.org.br/jurisprudencia/tema/ Ação de indenização por danos morais ) Abando
Tribunal TJ-MS
Data: 27/04/2018
http://www.ibdfam.org.br/jurisprudencia/8296/%20Apela%C3%A7%C3%A3o%20C%C3%ADvel.%20A%C3%A7%C3%A3o%20de%20indeniza%C3%A7%C3%A
29/04/2018 IBDFAM : Instituto Brasileiro de Direito de Família
Daniel Ribas interpõe apelação contra a sentença do juízo da 1ª vara da comarca de Jardim que, nos autos da ação de indenização por danos morais por abandono
afetivo ajuizada contra Hortêncio Ribas, reconheceu a incidência da prescrição vintenária e, consequentemente, julgou extinto o processo com resolução de mérito,
nos termos do artigo 487, II, do CPC.
O apelante, em suas razões (f. 272-279), alega que "o pedido tem como preponderante causa de pedir, dentre outros fatos, a iniciativa do apelado, em fevereiro de
2013, de despejar seu lho (leia-se apelante) do imóvel onde este reside há muitos anos conjuntamente com seu núcleo familiar, mesmo conhecedor das severas
di culdades nanceiras destes."
Diante deste fato, defende o recorrente que o termo inicial para a contagem do prazo prescricional não pode ser a data em que o apelante completou 18 anos
(03.01.1984), mas sim a data em que o apelado formulou noti cação extrajudicial para que seu lho, ora apelante, desocupasse o imóvel, qual seja, fevereiro de
2013.
Requer o afastamento da prescrição e que seja determinado o retorno dos autos à origem.
Em caso de manutenção da prescrição, entende o apelante que deve ser reduzido o valor dos honorários sucumbenciais xados em 10% sobre o valor atualizado da
causa.
O apelado não apresentou contrarrazões, conforme certidão de f. 281.
VOTO
O Sr. Des. Luiz Tadeu Barbosa Silva. (Relator)
Daniel Ribas interpõe apelação contra a sentença do juízo da 1ª vara da comarca de Jardim que, nos autos da ação de indenização por danos morais por abandono
afetivo ajuizada contra Hortêncio Ribas, reconheceu a incidência da prescrição vintenária e, consequentemente, julgou extinto o processo com resolução de mérito,
nos termos do artigo 487, II, do CPC.
O apelante, em suas razões (f. 272-279), alega que "o pedido tem como preponderante causa de pedir, dentre outros fatos, a iniciativa do apelado, em fevereiro de
2013, de despejar seu lho (leia-se apelante) do imóvel onde este reside há muitos anos conjuntamente com seu núcleo familiar, mesmo conhecedor das severas
di culdades nanceiras destes."
Defende o recorrente que o termo inicial para a contagem do prazo prescricional não pode ser a data em que o apelante completou 18 anos (03.01.1984), mas sim a
data em que o apelado formulou noti cação extrajudicial para que seu lho, ora apelante, desocupasse o imóvel, qual seja, fevereiro de 2013.
Requer o afastamento da prescrição e o retorno dos autos à origem.
Em caso de manutenção da prescrição, requer a redução do valor dos honorários sucumbenciais, xados em 10% sobre o valor atualizado da causa.
1. Do termo inicial da prescrição
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
O magistrado singular aplicou o prazo prescricional de 20 (vinte) anos previsto no art. 177 do Código Civil, considerando como termo inicial a data de 03.01.1984, ou
seja, data em que o apelante atingiu a maioridade civil, reconhecendo como termo nal a data de 03.01.2004, declarando, com isso, a ocorrência da prescrição da
ação ajuizada em 19.06.2013.
Neste recurso de apelação não há insurgência quanto ao prazo prescricional aplicado, insurgindo o apelante apenas em relação ao termo inicial da prescrição.
É sabido que não corre o prazo prescricional entre ascendentes e descendentes durante o pátrio poder/poder familiar (artigo 168, inciso II, do CC/1916).
Em regra, o termo inicial para a contagem do prazo prescricional é a data que o autor atingiu a maioridade civil, ou seja, a data em que o autor completou 21 anos de
idade e cessou os deveres inerentes ao pátrio poder (maioridade civil no CC/1916, que o novo Código reduziu para 18 anos).
In casu, o autor apelante nasceu em 03.01.1963 (f. 144), tendo completado a maioridade civil (21 anos de idade) em 03.01.1984, momento em que se habilitou para
todos os atos da vida civil (artigo 9º, caput, CC/1916) e cessou o poder familiar nos termos do artigo 392, inciso III, do CC/1916, iniciando a partir desta data a
contagem do prazo prescricional para que o lho ajuizasse contra o pai ação de indenização por danos morais, por abandono efetivo.
Considerando o termo inicial a data de 03.01.1984, conforme fundamentação anterior, e levando em consideração o prazo prescricional de 20 (vinte) anos, o autor
apelante poderia ter ajuizado a presente ação até a data de 03.01.2004. No entanto, como o ajuizamento da ação ocorreu em 19.06.2013, patente o reconhecimento
da prescrição no caso em destaque.
A propósito os seguintes os seguintes julgados:
APELAÇÃO CÍVEL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CONDENATÓRIA. DANOS MORAIS. ABANDONO AFETIVO. PRESCRIÇÃO. EXTINÇÃO NA ORIGEM. PRETENSÃO
INDENIZATÓRIA. ABANDONO AFETIVO. REGRAMENTO. PRAZO E TERMO INICIAL. CONSUMAÇÃO. EXTINÇÃO COM MÉRITO. ACERTO. O prazo prescricional aplicável
à pretensão condenatória decorrente de alegado abandono afetivo é, se consumado seu termo inicial na vigência do Código Civil de 1916, de 20 (vinte) anos, e, se
em vigor o Código Civil de 2002, de 3 (três) anos, respeitadas as regras de direito intertemporal, tendo por termo inicial, em regra, a data em que o lho atinge a
maioridade/emancipação, pois não corre a prescrição entre ascendentes e descendentes durante o poder familiar. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (
TJSC ; AC 0301001-12.2015.8.24.0087; Lauro Muller; 5ª Câmara de Direito Civil; Rel. Des. Henry Petry Junior; DJSC 12/05/2017; p. 124).
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qual prescreve em três anos a pretensão de reparação civil. 2. Se ao tempo em que alcança a maioridade o demandante tem ciência da paternidade, em regra, a
partir daí tem início o prazo de três anos para o exercício de qualquer pretensão de cunho indenizatório ou compensatório lastreada no descumprimento das
obrigações inerentes ao poder familiar, independentemente do momento em que o pai venha a reconhecer a liação ou ainda que o reconhecimento da paternidade
ocorra em data posterior. 3. Considerando que a autora a rmou saber que, desde tenra idade, o réu seria o seu pai biológico e que, assim, o aduzido desamparo
emocional se iniciara durante a sua infância, demonstrado que a propositura da presente ação de ressarcimento ocorreu após o transcurso do prazo trienal
correspondente, contado a partir da data em que ela atingiu a maioridade civil, sobressai evidente a ocorrência da prescrição da pretensão indenizatória ampara em
abandono afetivo de genitor, motivo pelo qual está correta a sentença que a pronunciou. 4. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. ( TJDF ;
APC 2015.07.1.022976-0; Ac. 102.9347; 6ª Turma Cível; Rel. Des. Alfeu Machado; Julg. 05/07/2017).
Não deve prevalecer a tese de que o termo inicial para a contagem do prazo prescricional da ação de indenização por abandono afetivo no caso dos autos se dê da
data da noti cação extrajudicial, onde o pai pretendia que o lho desocupasse o imóvel. Explico.
Como esclareceu o autor na inicial, apesar de ser lho biológico do apelado, foi criado desde a infância por sua avó paterna e que, por inúmeras vezes tentou se
aproximar do pai e apenas recebeu respostas de rejeição e desprezo. Informou, ainda, que apesar de ser praticamente vizinho de seu pai, este nunca dirigiu uma só
palavra ao autor apelante.
Diante desses fatos, narrados pelo autor, percebe-se que o abandono afetivo ocorreu desde a sua infância, sendo que a noti cação extrajudicial para a desocupação
do imóvel se reveste de prejuízo material e não afetivo como quer fazer prevalecer.
Sendo assim, deixando o autor apelante de exercer seu direito de ação no prazo de 20 (vinte) anos, contados a partir da data em que atingiu a maioridade civil,
evidente a ocorrência da prescrição.
2. Do valor dos honorários sucumbenciais
O magistrado singular, após julgar extinto o processo com resolução de mérito, em razão do reconhecimento da prescrição, condenou o autor ao pagamento das
custas processuais e honorários advocatícios, estes xados em 10% sobre o valor atualizado da causa que, sem a devida atualização, corresponde a R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais).
Pois bem. Dispõem os incisos dos § 2º do artigo 85 do Código de Processo Civil, respectivamente, que:
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II - o lugar de prestação do serviço ;
III - a natureza e a importância da causa ;
IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço .
No caso dos autos não houve condenação dos réus em valores e que não é possível mensurar o proveito econômico obtido , o que, em tese, levaria à conclusão de
que o parâmetro para a quanti cação da verba honorária sucumbencial, obrigatoriamente, deveria ser o valor atualizado da causa.
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Não obstante, tenho que a observação do referido parâmetro, in casu, extrapola os limites da proporcionalidade e razoabilidade, princípios constitucionais
expressamente consagrados no diploma processual civil 1 , sobretudo se considerado o trabalho realizado e o tempo exigido para o serviço do patrono do autor.
Adilson Josemar Puhl 2 , sobre o tema, leciona:
"Como consequência dos avanços doutrinários, hodiernamente, o princípio da proporcionalidade ou da razoabilidade é dividido em três subprincípios ou elementos,
a saber: a adequação, a necessidade e a proporcionalidade em sentido estrito.
O primeiro traduz uma exigência de compatibilidade entre o m pretendido pela norma e os meios por ela enunciados para sua consecução. Trata-se do exame de
uma relação de causalidade, onde uma lei somente deve ser afastada por inidônea quando absolutamente incapaz de produzir o resultado perseguido.
A necessidade diz respeito ao fato de ser a medida restritiva de direitos indispensáveis à preservação do próprio direito por ela restringido ou a outro, em igual ou
superior patamar de importância. Em outras palavras, a necessidade atua na procura do meio menos nocivo capaz de produzir o m propugnado pela norma em
questão. Traduz-se esse subprincípio em quatro vertentes: exigibilidade material (a restrição é indispensável), espacial (o âmbito de atuação deve ser limitado),
temporal (a medida coativa do poder público não deve ser perpétua) e pessoal (restringir o conjunto de pessoas que deverão ter seus interesses sacri cados).
Por último, o subprincípio da proporcionalidade em sentido estrito diz respeito a um sistema de valoração, na medida em que se garante um direito muitas vezes é
preciso restringir outro, situação juridicamente aceitável somente após um estudo teleológico, no qual se conclua que o direito juridicamente protegido por
determinada norma apresenta conteúdo valorativamente superior ao restringido. O juízo de proporcionalidade permite um perfeito equilíbrio entre o m almejado e o
meio empregado, ou seja, o resultado obtido com a intervenção na esfera de direitos do particular deve ser proporcional à carga coativa da mesma. (...)".
O m almejado pelo artigo 85 do CPC é remunerar o trabalho
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desenvolvido pelo patrono da parte que precisou ingressar em juízo para a defesa de um direito supostamente violado.
A matéria tratada no caso dos autos é destituída de complexidade e o trabalho desenvolvido pelo titular do direito postulatório do autor-apelado foi breve, vez que a
ação foi ajuizada em junho de 2013 e o processo sentenciado em abril de 2017, o que impõe a redução da verba honorária xada, em atenção aos princípios da
proporcionalidade e razoabilidade.
Não se pode olvidar que o entendimento estanque no sentido de que não havendo condenação em valores ou não se podendo precisar o valor do proveito
econômico obtido os honorários sucumbenciais deverão ser arbitrados de acordo com o valor da causa poderia ensejar o ajuizamento de ações com a atribuição de
valores exorbitantes visando, tão somente, a xação de vultosa verba honorária sucumbencial, em evidente prejuízo da parte adversa.
Logo, hei por bem reduzir o valor dos honorários advocatícios xados em 10% sobre o valor atualizado da causa para o importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais), com
correção monetária e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir da data da publicação do acórdão, valor este que atende satisfatoriamente os princípios
da razoabilidade e proporcionalidade previstos implicitamente na Constituição Federal.
Posto isso, conheço do recurso e dou-lhe parcial provimento, para reduzir o valor arbitrado a título de honorários sucumbenciais para R $ 10.000,00 (dez mil reais),
com correção monetária e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir da data da publicação do acórdão.
Em razão do parcial provimento do apelo e em atenção ao trabalho adicional realizado em grau de recurso, condeno o réu ao pagamento de honorários advocatícios
ao patrono do autor, que os xo em R$ 1.000,00 (mil reais), em atenção aos parâmetros previstos no art. 85, § 2º, do CPC.
DECISÃO
Como consta na ata, a decisão foi a seguinte:
POR UNANIMIDADE, DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR.
Presidência do Exmo. Sr. Des. Luiz Tadeu Barbosa Silva
Relator, o Exmo. Sr. Des. Luiz Tadeu Barbosa Silva.
Tomaram parte no julgamento os Exmos. Srs. Des. Luiz Tadeu Barbosa Silva, Des. Júlio Roberto Siqueira Cardoso e Des. Sideni Soncini Pimentel.
Campo Grande, 29 de agosto de 2017.
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