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I) DOS FATOS
A empresa, ora ré, foi autuada, no dia 08 de fevereiro de 2015, pelo despejo irregular de
efluentes líquidos tratados no corpo receptor hídrico do Córrego do Maçarico, decorrente do
processo industrial de abate de bovinos, dando ensejo a abertura de inquérito civil para
apuração dos fatos.
Durante a investigação, foi confirmado que o despejo estava sendo feito de forma irregular
pela ré e, portanto, fora dos padrões estabelecidos por órgão ambiental. Além disso,
constatou-se que a empresa não obteve a devida licença de operação para a atividade
frigorífica e de abate de bovinos, embora possua licença de instalação.
Diante disso, foi emitido o Auto de Infração Ambiental nº… em razão do “lançamento de
efluentes líquidos tratados fora dos parâmetros estabelecidos na legislação ambiental
competente.”.
III) DO DIREITO
I – a prevenção e a precaução;
Conforme comprovado pelos laudos anexos, a ação da empresa-ré está causando profundo
impacto ambiental ao município, resultando em danos a fauna e a flora da região, sendo de
suma importância a presente ação civil pública, no sentido de prevenir e reprimir os danos
causados, decorrente da poluição que está sendo promovida, indubitável no artigo 3º, inciso
III, alínea e e inciso IV da Lei 6938/81:
Art. 47. São proibidas as seguintes formas de destinação ou disposição final de resíduos
sólidos ou rejeitos:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 2º. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma
da lei.
Lei 6938/81
Art. 14 (…)
§ 1º. Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao
meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e
dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por
danos causados ao meio ambiente.
Constituição Federal
Lei 7347/85
Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o
juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da
atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se
esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor.
A inversão do ônus da prova justifica-se ao interpretar o art. 6º, VIII, da Lei n. 8.078/1990 c/c
o art. 21 da Lei n. 7.347/1985, conjugado com o princípio da precaução prevista no artigo
6º, I, da Lei 12305/2010 (já citada anteriormente):
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a
seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que
for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do
Consumidor.
I – a prevenção e a precaução;
Tal instituto, legalmente previsto nos termos supracitados pelo Código de Defesa do
Consumidor, aplicada no âmbito do direito ambiental, apresenta-se como instrumento de
extrema importância e que vem ao encontro de todos os preceitos constitucionais que visam
proteger o meio ambiente.
De acordo com o art. 18 da Lei da Ação Civil Pública (Lei 7347/85) a Associação, autora da
ação, não está obrigada a arcar com os honorários periciais, salvo em caso de comprovada
má-fé:
Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora,
salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.
b) A inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII, da Lei n. 8.078/1990 c/c o art. 21
da Lei n. 7.347/1985;
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial a
juntada de novos documentos, perícias, depoimento pessoal do réu e testemunhas.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Nome do Advogado
OAB nº
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em face de MUNICÍPIO XXXX, inscrito no CNPJ/MF sob o nº XXXXX, com sede na Praça
XXXXXX, nº XX, Bairro XXXX, São Paulo, CEP: XXXXX, COMPANHIA DE TECNOLOGIA
DE SANEAMENTO AMBIENTAL - CETESB, com sede na Rua Tiradentes nº 628, São
Paulo, CEP: 01102-000, DEPARTAMENTO DE ÁGUA E ENERGIA ELÉTRICA – DAEE,
com sede na Rua Bela Vista, nº 178, Centro São Paulo, CEP: 01014-000 e N.B.Z SPE
EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES S.A, inscrita no CNPJ/MF sob o nº
24.XXXXX/0001-45, com sede na Rua Pamplona, nº 818, 9º andar, conjunto 92, São Paulo,
CEP: 01405-001, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas.
I – DA LEGITIMIDADE PASSIVA
II – DO CABIMENTO
Nos termos do artigo 5º, inciso LXXIII da Carta Magna, a Ação Popular é o remédio
constitucional, dentro da visão democrática participativa para fiscalizar e atacar os atos
lesivos ao Patrimônio Público.
Importante destacar, ainda, que o local do loteamento possui confluência do Rio Juqueri e
Ribeirão dos Cristais.
Ocorre que, compulsando os autos do processo administrativo, verifica-se que o projeto não
possui demonstração do destino do esgoto e muito menos rede de tratamento do esgoto.
Observa-se, ainda, que o Inquérito Civil nº XXXXX (GAEMA) não foi concluído, tanto que
não houve a juntada de parecer do Ministério Público.
O fato é que em razão de obras da empresa XXXXX, que faz parte do mesmo grupo da
empresa XXXX, na região já ocorre constantes alagamentos, mesmo com antes de existir o
aterramento do Rio Juquery, conforme comprovam as imagens abaixo:
Imagine Excelência, como ficará a região com o aterramento da única área de várzea com
mata nativa que armazena toda a água da região?
A foto abaixo demonstra como era a região antes do inicio das obras de terraplanagem em
dia de chuva:
É importante esclarecer que a referida área constitui uma APP, sendo coberta com
vegetação típica de várzea, taboa e com nascente, sendo cortada em parte pelo Rio
Juqueri.
Entretanto, ali, nada disso foi observado. Tudo está sendo devastado ao arrepio da Lei e
com a conivência dos órgãos públicos, que deveriam evitar tamanho desastre ambiental.
As fotos abaixo demonstram claramente que a área faz divisa com o Município de Santana
de Parnaíba e o impacto que a referida obra está causando ao meio ambiente.
Basta ver as fotos acima, para constatar que a ré N.B.Z deixou de tomar as providências
antecipatórias para assegurar o escoamento de água, mas está realizando o aterramento
da várzea em ritmo acelerado.
Observa-se, ainda, que a ré XXXX deixou de apresentar estudos de impactos cumulativos e
sinérgicos contemplando outros empreendimentos localizado no Portal dos Ipês, dentre eles
o empreendimento do mesmo grupo e ao lado do loteamento aprovado, denominado
XXXXX.
Isso porque o referido empreendimento teve o projeto inicial para 18 andares, entretanto, a
estrutura cedeu em razão de construção em área alagadiça, obrigando o empreendimento a
devolver valores e reduzir a obra a dois andares.
Por fim, compulsando o projeto de loteamento, verifica-se que inexistem informações sobre
a autorização de licenciamento ambiental do Município de Santana de Parnaíba, mesmo
diante do fato de que o loteamento na divida do mesmo.
II – DO DIREITO
O nosso ordenamento jurídico legal pátrio preocupa-se e muito com tais áreas suscetíveis a
alagamentos e enchentes, tanto que há uma série de dispositivos que visam a proteger,
restringir ou mesmo proibir qualquer forma de intervenção do homem nos referidos locais.
E os motivos desta preocupação são muito simples, porém significativos: a lei visa a
proteger não só o meio ambiente, os recursos naturais, os recursos hídricos, o solo etc.,
mas também o ser humano, as famílias que naquelas áreas procuram se instalar, o
empreendedor, e o próprio Poder Público.
Ademais, tais projetos devem ser antecipadamente aprovados, por meio de licenciamento,
pelos órgãos públicos competentes, manifestando o empreendedor o compromisso pela
execução das obras básicas e necessárias para que o empreendimento apresente as
condições ambientais e estruturais exigidas por lei, dentro de um determinado prazo.
Esse é o mínimo necessário para que a cidade se expanda sustentavelmente.
Os empreendimentos em geral devem se ater não só às comodidades dos que irão habitar
a nova área, mas principalmente à segurança e bem estar do meio ambiente, de acordo
com específica legislação, e é justamente neste ponto que reside toda a preocupação dos
autores.
O artigo 3º, parágrafo único, da Lei n.º 6.766/79 (Lei do Parcelamento do Solo Urbano)
diante do seu caráter protetor, trata a questão da seguinte forma: "não será permitido o
parcelamento do solo: I - em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas
as providências para assegurar o escoamento das águas".
E o dispositivo legal é muito claro: deve o empreendedor demonstrar de forma cabal que
tomou e irá tomar todas as providências seguramente necessárias para assegurar o
escoamento das águas, respeitando, é claro, todas as áreas consideradas de preservação,
sejam permanente ou não, a flora, a fauna, os recursos ambientais etc., o que até agora
não comprovou a ré XXXX.
Cumpre observar que tal vedação tem por finalidade garantir a satisfação das funções
sociais da cidade, proporcionando aos seus habitantes vida digna e com qualidade, e ao
Poder Público segurança e eficiência no trato da coisa pública.
Impende destacar que tanto o Município de Cajamar, CETESB e o próprio DAEE estão
sujeitos à responsabilidade civil e penal, ainda que a conduta comissiva maior seja
praticada exclusivamente pela empreendedora XXX.
Ora, cabe aos agentes públicos ligados a estes órgãos aprovar e licenciar, e posteriormente
fiscalizar, os empreendimentos considerados potencialmente nocivos e impactantes ao meio
ambiente no trato de questões de interesse local, como é o caso dos autos.
Não custa lembrar que as condutas omissivas do Município podem gerar responsabilidades
de ordem civil e penal, ainda que a conduta comissiva maior seja praticada exclusivamente
pelo empreendedor.
Desta forma, é certo que o empreendimento somente poderia ser licenciado e autorizado
pelos réus caso a ré XXX demonstrasse tecnicamente, de forma cabal, segura e eficiente,
que a região onde pretende implantar seu empreendimento não apresentará riscos ao meio
ambiente nem aos futuros adquirentes dos imóveis do empreendimento.
Por outro lado, deveria comprovar que as obras e soluções técnicas que pretende realizar
ou efetuar corrigirão ou sanarão totalmente a ocorrência de enchentes, alagamentos e
inundações no terreno, tendo em vista que a área escolhida para o empreendimento
situa-se no exato ponto de confluência de canais responsáveis pela drenagem de duas
sub-bacias hidrográficas do Município.
Em sede ambiental, vários são os princípios que regem o ordenamento jurídico. Entre eles,
podemos citar os princípios do desenvolvimento sustentável, do poluidor-pagador, da
cooperação e da participação dos cidadãos, da função sócio-ambiental da propriedade, da
máxima proteção e, por fim os da prevenção e precaução, objeto da nossa análise
momentânea.
Tais princípios são tidos pela doutrina e pela jurisprudência como princípios fundamentais
do Direito Ambiental, já que são muito freqüentes danos ao meio ambiente, atingindo a
coletividade como um todo, com caráter irreversível e de difícil ou incerta reparação.
Nesse ponto, importante lembrar os ensimentos de Paulo Afonso Leme Machado sobre o
tema:
"[...] não é preciso que se tenha prova científica absoluta de que ocorrerá dano ambiental,
bastando o risco de que o dano seja irreversível para que não se deixem para depois as
medidas efetivas de proteção ao ambiente". (MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito
ambiental brasileiro.9. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2001, p. 574)
Até mesmo porque se o empreendimento irá trazer prejuízos aos recursos ambientais ou a
terceiros, ou ainda, se os prejuízos ambientais decorrentes do empreendimento são
passíveis de recomposição ou não.
Para Romeu Thomé, "o princípio da prevenção é o maior alicerce, por exemplo, do Estudo
de Impacto Ambiental – EIA" , mencionando o art. 225, § 1º, IV, CF, que trouxe
expressamente o estudo de impacto ambiental como um dos principais instrumentos de
proteção do meio ambiente. (Manual de Direito Ambiental. 2ª Ed. Editora Juspodivm, 2013.)
Mais que isto, a Carta Magna o trata como verdadeira condicionante para a instalação de
obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente.
Segundo Celso Antônio Pacheco Fiorillo, “o EIA/RIMA constitui um dos mais importantes
instrumentos de proteção do meio ambiente. A sua essência é preventiva e pode compor
uma das etapas do licenciamento ambiental.” (Curso de Direito Ambiental Brasileiro, 6ª ed.,
São Paulo: Saraiva, 2005, p. 85.)
De fato, a antecipação da tutela vem de encontro com esse novo olhar processualista e é
aplaudida por doutrinadores do calibre de Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart:
“Em última análise é correto dizer que a técnica antecipatória visa apenas a distribuir o ônus
do tempo no processo. É preciso que os operadores do direito compreendam a importância
do novo instituto e o usem de forma adequada. Não há motivos para timidez em seu uso,
pois o remédio surgiu para eliminar um mal que já está instalado, uma vez que o tempo do
processo sempre prejudicou o autor que tem razão. É necessário que o juiz compreenda
que não pode haver efetividade sem riscos. A tutela antecipatória permite perceber que não
é só a ação (o agir, a antecipação) que pode causar prejuízo, mas também a omissão. O
juiz que se omite é tão nocivo quanto o juiz que julga mal. Prudência e equilíbrio não se
confundem com medo, e a lentidão da justiça exige que o juiz deixe de lado o comodismo
do antigo procedimento ordinário (...) para assumir as responsabilidades de um novo juiz,
de um juiz que trata dos “novos direitos” (…).” (ARENHART, Sérgio Cruz & MARINONI, Luiz
Guilherme. Curso de processo civil. V. 2, ps. 199-200) Grifo não original.
Segundo essa lógica jurídica, a relevância do fundamento invocado reside nos argumentos
fáticos e jurídicos acima expostos, mormente nos documentos colacionados à presente, os
quais dão conta de que existe o bom direito ora vindicado, notadamente em face das
violações às normas e aos princípios supramencionados.
O “risco de dano”, por sua vez, afigura-se patente uma vez que a natura demora do
processo causará lesão à municipalidade, ante aos visíveis danos ao meio ambiente.
Portanto, atento à finalidade preventiva no processo, a lei instrumental civil, por seu art. 804
permite através de cognição sumária e dos seus pressupostos à luz de elementos a própria
Petição Inicial, o deferimento initio lide de medida cautelar inaudita altera pars, exercitada
quando inegável urgência de medida e as circunstâncias de fato evidenciarem que a citação
dos réus e a instrução do processo poderá tornar ineficaz a pretensão judicial, como ensina
o Ilustríssimo Professor Dr. Humberto Theodoro Junior em Curso de Direito Processual
Civil, ed. Forense, vol. II, 1ª edição, pág. 1160.
IV – DOS PEDIDOS
a) EIA/RIMA;
b) a comprovação do cumprimento do artigo 3º, parágrafo único, da Lei n.º 6.766/79 com a
comprovação de que foram tomadas as medidas para assegurar o escoamento das águas;
c) a condenação dos réus o pagamento das custas e demais despesas judiciais, bem como
o ônus da sucumbência.
Nestes Termos,
P. Deferimento.
OAB/SP 234.266
OAB/SP 232.405