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EGRÉGIA COMISSÃO DE JULGAMENTO DE AUTOS DE INFRAÇÃO DA SECRETARIA

MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO DE SALVADOR - BAHIA

AUTO DE INFRAÇÃO Nº 1.301.727

DEFESA: EUROPOSTO COMÉRCIO DE COMBUSTÍVEIS E DERIVADOS DE PETRÓLEO


LTDA.

EUROPOSTO COMÉRCIO DE COMBUSTÍVEIS E DERIVADOS DE PETRÓLEO LTDA,


pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 05.689.667/0001-67, com sede na Avenida Reitor
Calmon, n° 455, Canela, Salvador - Bahia, CEP: 40110-100, por meio de seu representante legal, Erico
Gouveia de Oliveira, portador do documento de identidade nº 5352591, expedida pela SSP-PE, conforme
consta do contrato social e alterações, vem, perante Vossas Senhorias, na forma do artigo 174, inciso I, da
Lei Municipal nº 8.915/2015 apresentar a presente DEFESA, referente ao AUTO DE INFRAÇÃO em
epígrafe, com base nos fatos e fundamentos a seguir alinhados:

I.
TEMPESTIVIDADE DA DEFESA

Inicialmente, há que se registrar que o Auto de Infração nº 1.301.730 foi lavrado no dia 26 de abril de
2022, tendo a Autuada sido no mesmo dia

Portanto, nos termos do art. 174, da Lei Municipal nº 8.915/2015 e art. 171, I, do Decreto Municipal nº
29.921/2018, o prazo para a apresentação de Defesa escrita é de 20 (vinte) dias, contados do recebimento
do Auto de Infração. Indiscutível a tempestividade da presente defesa.

II.
BREVE SÍNTESE DO AUTO DE INFRAÇÃO

Em 26 de abril de 2022, compareceu ao Posto revendedor de Combustível a Fiscal representante desta


douta Superintendência, a Sra. Jaqueline Souza Gonçalves (Matrícula 3158472), oportunidade em que

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lavrou o Auto de Infração em tela “por implantar e operar abastecimento de GNV sem Licença de
Alteração.

Aponta como infração formal gravíssima, sujeita à multa.

III.
Preliminar. Litispendência

Preliminarmente, mister se faz o reconhecimento da litispendência e, por conseguinte, a nulidade do


presente Auto de Infração, pois a eventual infração está abrangida pelo auto de infração nº 1.301.730.

O artigo 15, do Código de Processo Civil, prevê a aplicação supletiva e subsidiária das normas deste
Código, em face da ausência de normas que regulem o processo administrativo. Nesta toada, conforme a
inteligência do artigo 337, parágrafos 1º e 2º, do mesmo Código,

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:

...omissis...

§ 1º Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação


anteriormente ajuizada.

§ 2º Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma


causa de pedir e o mesmo pedido.

§ 3º Há litispendência quando se repete ação que está em curso.

A comparação dos Autos de Infração legitima a conclusão de que, em ambos, ocorrem hipótese de
identidade do sujeito passivo, das ocorrências apontadas e do período alcançado pela fiscalização.

O princípio do ne bis in idem prega que ninguém pode ser julgado duas vezes pelo mesmo fato delituoso,
aproveitando-se do conceito aplicável ao direito penal. ANDRÉ ESTEFAM trata o princípio do ne bis in
idem como uma vedação da dupla incriminação do réu, de modo que ninguém pode ser processado ou
condenado mais de uma vez pelo mesmo fato.

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O referido autor refere que, na instauração de um processo por um delito idêntico a um fato anterior, há a
caracterização do instituto da litispendência. [ESTEFAM, André. Direito Penal, volume 1. São Paulo:
Editora Saraiva, 2010.].

Trazendo o conceito para o campo específico, direito administrativo, assim como no Penal, o non bis in
idem se refere à proibição de que um órgão administrativo faça a aplicação de mais de uma penalidade
(sanção) por um mesmo ato praticado. É dizer: um determinado órgão pertencente à Administração
Pública não pode aplicar mais de uma sanção dentro do mesmo processo administrativo, referente a um
mesmo fato.

Saboya complementa que o princípio do ne bis in idem, sobretudo, a partir do século XX, sob uma
dúplice vertente: de um lado, um princípio de natureza processual, proibitivo de renovação de processos
ou julgamentos pelos mesmos fatos; por outro lado, um princípio de direito material, segundo o qual
ninguém deve ser apenado mais de uma vez pelos mesmos fatos. [SABOYA, Keity Mara Ferreira de
Souza e. Ne bis in idem, história, teorias e perspectivas. Natal: Lumen Iuris, 2015. Sítios da internet:
http://www.stf.jus.br/portal/principal/principal.asp].

E antes que se venha falar em uma espécie de acumulação material das infrações, “cumpre repisar que,
reforçando a ideia de inaplicabilidade do ne bis in idem, inexiste silêncio legislativo, eis que a Lei previu
expressamente a possibilidade de cumulação de sanções administrativas. Assim sendo, dúvida não nos
ocorre de que as sanções previstas em leis diferentes, com base em uma mesma conduta, podem ser
cumuladas, não se ignorando, claro, no exercício do poder sancionador administrativo, o vetor
constitucional da proporcionalidade.”1

Portanto, que o princípio invocado tem aderência à infração acima apontada, rogando seja acolhida a
presente preliminar para a extinção do auto de infração, sem apreciação do mérito.

IV.
Do mérito da defesa contra o auto de infração

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https://flaviogsena.jusbrasil.com.br/artigos/499230839/o-concurso-formal-de-infracoes-administrativas-e-a-
cumulatividade-sancionatoria-na-lei-anticorrupcao

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Trata-se de auto de infração cujo objeto é a imposição de penalidade à EUROPOSTO COMÉRCIO DE
COMBUSTÍVEIS E DERIVADOS DE PETRÓLEO LTDA, doravante chamada de Autuada ou
Defendente, tela “por implantar e operar abastecimento de GNV sem Licença de Alteração.

O Auto de Infração NÃO constatou e existência de poluição ou degradação ambiental.

a) Da atipicidade da conduta que ensejou o auto de infração.

Pois bem, conforme documentos anexos, a Defendente requereu e lhe foi concedida licença de reforma
e/ou ampliação, por meio do Alvará nº xxxxxxxxxxxx.

Deveras, é de saber meridiano que o Alvará de Licença para ampliação e/ou reforma é um serviço
prestado pela prefeitura, por meio desta mesma douta Secretaria, certificando que uma obra está dentro
das normas e parâmetros do município, ex vi da Lei nº 9.281/2017.

A sua formalística pode ser verificada no site desta Secretaria, onde se verifica, entre outras exigências,
que “Os responsáveis técnicos por projeto, obra ou serviço devem cumprir a legislação federal, estadual
e municipal pertinente às Normas Técnicas Brasileiras, quando da ausência de normas instituídas, bem
como as especificações técnicas das concessionárias de serviços públicos. As peças gráficas devem
atender às Normas Técnicas da ABNT para desenho técnico e devem ser georreferenciadas em SIRGAS
2.000”

Neste diapasão, em simples interpretação gramatical do item 5, do capítulo III, do Anexo I, da Lei nº
8.915/2015, vê-se que a infração se tipifica se houver uma das ações (construir, reformar, ampliar, etc...),
sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes.

É de se pontuar, com efeito, que o controle administrativo das edificações urbanas é um instrumento de
tutela preventiva de direitos difusos, sociais e individuais indisponíveis por meio do qual se verifica se há
observância às regras de ordenação de uso e ocupação do solo, editadas para traduzir o interesse público
quanto à melhor destinação dos espaços, levando em conta as condicionantes físico-ambientais, as
características socioeconômicas locais e as aspirações de desenvolvimento do Município.

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Como se pode ver, com as devidas vênias, a licença ocorreu e oriunda da douta Secretaria competente.

Trata-se, portanto, de obrigação legal efetivamente cumprida

V.
Das penalidades e infrações administrativas – Aplicação de advertência por escrito em substituição
à multa

A legislação municipal, sábia como é, especificamente na LEI Nº 8.915/2015 e DECRETO Nº


29.921/2018, destinados à regulação das ações do Poder Público Municipal e sua relação com os cidadãos
e instituições públicas e privadas na preservação, conservação, defesa, melhoria, recuperação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, de natureza difusa e essencial à sadia qualidade de vida,
regulamenta sobre as penalidade e infrações praticadas pelos empreendedores vejamos:

Art. 145 Sem prejuízo das sanções penais e da responsabilização civil,


aos infratores serão aplicadas as seguintes penalidades,
independentemente de sua ordem de enumeração:
I - advertência;
II - multa de R$ 50,00 (cinquenta reais) a R$ 5.000.000,00 (cinco milhões
de reais);
III - multa diária de R$ 50,00 (cinquenta reais) a R$ 5.000,00 (cinco mil
reais);
(...)

Art. 176 Sem prejuízo das sanções penais e da responsabilização civil,


aos infratores serão aplicadas as
seguintes penalidades, independentemente de sua ordem de enumeração:
I - Advertência;
II - Multa de R$ 50,00 (cinquenta reais) a R$ 5.000.000,00 (cinco
milhões de reais);
III - Multa diária de R$ 50,00 (cinquenta reais) a R$ 5.000,00 (cinco mil
reais);
(...)

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Consoante se verifica no auto de infração, foi discriminado infração formal grave, sujeita à multa, sem
especificação do quantum.

Nesta toada, seja pela ausência de escrutínio probatório, seja pela ausência de dano propriamente dito, é,
no máximo, e ad argumentandum tantum claramente erro de mera conduta.

Não se pode, todavia, negar que infração cometida nessas circunstâncias, não tem a gravidade de outra em
que haja efetivo prejuízo material para o meio ambiente.

Neste passo para aplicação da penalidade, socorre-se a Autuada no artigo 146, inciso VI, para a gradação
e aplicação da penalidade, onde aqui se busca a advertência por escrito.

Neste diapasão, dois pontos são de imediata verificação, o inciso I, que fala de circunstâncias atenuantes,
logo abaixo articuladas, e o inciso VII, justamente que diferencia a gradação quanto à infração formal ou
material.

Art. 146 Para gradação e aplicação das penalidades, serão observados os


seguintes critérios:
I - as circunstâncias atenuantes e agravantes;
II - a gravidade do fato, tendo em vista suas consequências para o
meio ambiente;
III - os antecedentes do infrator;
IV - o porte do empreendimento;
V - o grau de escolaridade do infrator;
VI - tratar-se de infração formal ou material;
VII - condição socioeconômica.

Quanto aos antecedentes, podemos observar, conforme consta no referido auto de infração, que não foi
possível verificar se o Autuado é reincidente ou não, sendo assim, motivo esse que, caso ainda for
aplicada multa, essa deverá ser fixada no valor mínimo da respectiva faixa.

Também já se apela para o inciso II, uma vez que não houve consequencias para o meio ambiente, como
se verifica até mesmo da ausência de indicações nesse sentido no auto de infração.

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Já quanto às circunstâncias atenuantes, vejamos:

Art. 147 São consideradas circunstâncias atenuantes:


I - espontânea contenção, redução ou reparação da degradação ambiental
pelo infrator;
II - decorrer a infração da prática de ato costumeiro de população
tradicional à qual pertença o infrator;
III - não se ter cometido nenhuma infração anteriormente;
IV - baixo grau de escolaridade do infrator;
V - condição socioeconômica;
VI - colaboração com os técnicos encarregados da fiscalização e do
controle ambiental;
VII - comunicação imediata do infrator às autoridades competentes.

Os itens destacados autorizam a aplicação das atenuantes previstas no artigo 147, além da alegada
insignificância tratada ao norte desta defesa.

Quanto ao inciso III, como dito acima, demonstra que a autuada não cometeu infração ambiental anterior.

Vale dizer, esta é a função precípua deste Nobre Órgão, fiscalizar buscando educar e conscientizar.

Desse modo, acredita na aplicação de advertência, uma vez que resta comprovado o cumprimento de
todas as condicionantes exigidas na Licença Ambiental e das obrigações adjacentes ao exercício da
Defendente.
No entanto, se eventualmente lhe for aplicada alguma penalidade, que esta seja avaliada em consonância
com os princípios que regem a Administração Pública, aos critérios de proporcionalidade e razoabilidade,
norteadores do nosso ordenamento e reiteradamente cotejados por nossos Tribunais bem como a
primariedade do autuado e a gravidade do ato.

IV.
Dos pedidos

Por todo o exposto requer:

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A) seja o auto de infração julgado insubsistente;

B) Caso Vossa Senhoria entenda pela subsistência do auto de infração em todo os seus elementos,
seja convertida a multa imposta ao Autuado em advertência por escrito, de acordo com o artigo
149, da Lei Municipal nº 8.915/2015;

C) Caso vossa Senhoria, entenda em não converter a presente multa do auto de infração em
advertência por escrito, requer seja reduzido o valor da multa administrativa ao valor mínimo da
respectiva faixa de acordo com o Anexo IV, capítulo 5, item 8, do Decreto nº 29.921/2018, por
todos os motivos acima alegados.

Sobretudo, contamos com o alto discernimento jurídico e o elevado senso de justiça que certamente
norteiam as decisões de Vossa Senhoria.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Salvador, BA, em 5 de maio de 2022

Erico Gouveia de Oliveira


ECOPOSTOS COMBUSTÍVEIS E SERVIÇOS LTDA.

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