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CÂMARA MUNICIPAL DE CONTENDA

ESTADO DO PARANÁ

DIVISÃO JURÍDICA

PARECER 026/2019

EMENTA: trata-se da análise jurídico/legal a pedido da


presidência dessa Casa de Leis a respeito da
possibilidade de contratação de empresa para realização
de serviços de informática.

I – DO CARÁTER OPINATIVO

Tendo em vista o disposto no art. 133 da Constituição Federal, in verbis:

Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por


seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

Considerando, ainda, o disposto na Lei nº 8.906, de 1994 (Estatuto da Advocacia


e da Ordem dos Advogados do Brasil):

Art. 7º São direitos do advogado:


I - exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional;
[...]
§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria,
difamação puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua
atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante
a OAB, pelos excessos que cometer.

Ressaltando, por fim, a decisão e fundamentação proferida pelo Supremo Tribunal


Federal nos autos do Mandado de Segurança nº 24631/DF:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CONTROLE


EXTERNO. AUDITORIA PELO TCU. RESPONSABILIDADE DE
PROCURADOR DE AUTARQUIA POR EMISSÃO DE PARECER
TÉCNICO-JURÍDICO DE NATUREZA OPINATIVA. SEGURANÇA
DEFERIDA. I. Repercussões da natureza jurídico-administrativa do parecer
jurídico: (i) quando a consulta é facultativa, a autoridade não se vincula ao
parecer proferido, sendo que seu poder de decisão não se altera pela
manifestação do órgão consultivo; (ii) quando a consulta é obrigatória, a
autoridade administrativa se vincula a emitir o ato tal como submetido à
consultoria, com parecer favorável ou contrário, e se pretender praticar ato de
forma diversa da apresentada à consultoria, deverá submetê-lo a novo parecer;
(iii) quando a lei estabelece a obrigação de decidir à luz de parecer vinculante,
essa manifestação de teor jurídica deixo de ser meramente opinativa e o
administrador não poderá decidir senão nos termos da conclusão do parecer ou,
então, não decidir. II. No caso de que cuidam os autos, o parecer emitido pelo
impetrante não tinha caráter vinculante. Sua aprovação pelo superior
hierárquico não desvirtua sua natureza opinativa, nem o torna parte de ato
administrativo posterior do qual possa eventualmente decorrer dano ao erário,
mas apenas incorpora sua fundamentação ao ato. III. Controle externo: É lícito
concluir que é abusiva a responsabilização do parecerista à luz de uma alargada
relação de causalidade entre seu parecer e o ato administrativo do qual tenha
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resultado dano ao erário. Salvo demonstração de culpa ou erro grosseiro,


submetida às instâncias administrativo-disciplinares ou jurisdicionais próprias,
não cabe a responsabilização do advogado público pelo conteúdo de seu parecer
de natureza meramente opinativa. Mandado de segurança deferido. (grifo nosso)

II – DA LEGITIMIDADE PARA ELABORAÇÃO DE PARECER

A fundamentação para a elaboração do presente parecer jurídico consta no anexo


I, da Lei Municipal nº 1731/18.

III – DA FUNDAMENTAÇÃO

O presente processo administrativo se originou a pedido da Divisão


Administrativa que, mediante comunicação interna expedida em 15 de abril de 2019,
solicita a contratação de serviços de informática.

Chega e essa Divisão contendo pedido de Cotação de Preços e respectivo Anexo,


envio do pedido de Cotação de Preços para diversas empresas, envio de diversas cotações,
com preços totais que variam entre R$21.648,00 (vinte e um mil e seiscentos e quarenta e
oito reais) a R$ 38.400,00 (trinta e oito mil e quatrocentos reais).

Antes da análise dos aspectos jurídicos, é necessário reforçar que não cabe a essa
Divisão realizar qualquer juízo de valor referente aos serviços a serem desenvolvidos nessa
Câmara Municipal.

Atenta-se ainda que a Contabilidade dessa Casa se manifestou a respeito da


existência de dotação orçamentária para a aquisição do serviço. Por fim, cabe a Presidência
dessa Casa de Leis a realização de juízo a respeito dos critérios e da análise de mérito.

III – DA FUNDAMENTAÇÃO

A República Federativa do Brasil, cujos princípios e regras fundantes se


encontram na Constituição Federal, expressa no art. 37, que:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte: [grifo nosso]

Dessa forma, a administração pública fica adstrita a observância da lei, como


forma evitar abusos, excessos e arbitrariedades, bem como zelar pela segurança jurídica
mediante regras anteriormente expressas e claras.

Preza ainda pela impessoalidade, como forma de garantir isonomia e neutralidade,


evitando preterições infundadas e mantendo a igualdade.

Outro ponto de relevância é que, por operar o erário e bens que estão à disposição
dos serviços públicos (serviços estes que visam trazer conforto, segurança, bem-estar e
presteza para a comunidade e para os órgãos públicos em si), os processos e demais ações

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realizadas pela administração devem seguir, como regra geral, a publicidade. Nada pode
ser injustificadamente obscurecido na atuação da máquina pública.

Quanto as contratações, não poderia ser diferente, sendo que o texto magno
disciplina:

Art. 37 (…)

(…)

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,


compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação
pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com
cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências
de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento
das obrigações.

Fica assegurado, portanto, que o legislador infraconstitucional estabeleça casos


em que a licitação seja dispensável, conforme dispõe a Lei 8666/93, art. 24, II:

Art. 24. É dispensável a licitação:

(…)

II - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do
limite previsto na alínea "a", do inciso II do artigo anterior e para
alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de
um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada
de uma só vez;

Tendo em vista o disposto supra, deve-se ter em mente que o art. 23, II, alínea “a”
dispõe:

Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do artigo


anterior serão determinadas em função dos seguintes limites, tendo em vista o
valor estimado da contratação:

(…)

II - para compras e serviços não referidos no inciso anterior

a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);

Tal conjugação de dispositivos disciplina, por interpretação, que era possível


dispensar licitação em caso de compras cujo o valor seja de até R$8.000,00 (oito mil
reais).

Com e edição do Decreto nº 9.412/2018, os valores das licitações foram alterados!


Passa a valer os seguintes valores:

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Art. 1º Os valores estabelecidos nos incisos I e II do caput do art. 23 da Lei nº


8.666, de 21 de junho de 1993, ficam atualizados nos seguintes termos:
I - para obras e serviços de engenharia:
a) na modalidade convite - até R$ 330.000,00 (trezentos e trinta mil reais);
b) na modalidade tomada de preços - até R$ 3.300.000,00 (três milhões e
trezentos mil reais); e
c) na modalidade concorrência - acima de R$ 3.300.000,00 (três milhões e
trezentos mil reais); e
II - para compras e serviços não incluídos no inciso I:
a) na modalidade convite - até R$ 176.000,00 (cento e setenta e seis mil reais);
b) na modalidade tomada de preços - até R$ 1.430.000,00 (um milhão,
quatrocentos e trinta mil reais); e
c) na modalidade concorrência - acima de R$ 1.430.000,00 (um milhão,
quatrocentos e trinta mil reais).

Dessa forma, com os valores atualizados, há possibilidade de dispensar a


licitação nos valores até R$ 17.600,00 (dezessete mil e seiscentos reais).

Inclusive, deve-se apontar, conforme estabelece o Manual de Compras Diretas do


Tribunal de Contas da União1, que as hipóteses de dispensa são taxativas, enumeradas de
forma exaustiva na Lei de Licitações, sendo que qualquer contratação por dispensa, que
esteja fora das hipóteses elencadas, podem sujeitar o gestor a crime previsto na própria
Lei 8666/93, art. 89 “dispensar licitação fora das hipóteses previstas em lei”.

Observados tais dispositivos, é necessário salientar que sempre existir a


possibilidade de competição, independentemente de ser possível a existência da dispensa
de licitação, pode o gestor realizar processo licitatório, nos moldes da Lei 8666/93 ou da
Lei 10520/02 ou, no mínimo ampla pesquisa de preços a fim de justificar de forma cabal a
possibilidade de dispensa.

No que toca a possibilidade de licitar, além da legislação supracitada, é possível


acrescentar, novamente, orientação do TCU presente no Manual de Licitações e
Contratos2:

Essa demanda decorre de princípios também insculpidos no caput do art. 37 da


Constituição Federal de 1988, legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência, além de outros elencados pela doutrina para a licitação.
É dizer: a regra estatuída na Constituição Federal é a da obrigatoriedade de
licitar, já as hipóteses de dispensa e de inexigibilidade de certame devem ser
interpretadas como exceções” Acórdão 798/2008 Primeira Câmara (Voto do
Ministro Relator.

Conclui-se, com essa prévia análise, que pelo valores cotados, não é possível
dispensar a licitação nos casos previstos em lei. Devendo ser realizada licitação,
preferencialmente na modalidade pregão a fim de gerar economia para os cofres público e
obedecer aos preceitos constitucionais.

1
Disponível no portal do TCU: <http://portal.tcu.gov.br/comunidades/licitacoes-e-contratos-do-tcu/
licitacoes/manuais-e-orientacoes/>. Acesso em 1º de fevereiro de 2017.
2
Disponível em: < http://portal3.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2057620.PDF>, página 25. Acesso em 1º
de fevereiro de 2017.
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É o parecer.

Contenda, 16 de abril de 2019.

BRUNA SCHLICHTING
ADVOGADA
OAB/PR 65.180

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