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CÂMARA MUNICIPAL DE CONTENDA

ESTADO DO PARANÁ

DIVISÃO JURÍDICA

PARECER 024/2019

EMENTA: trata-se da análise jurídico/legal, a pedido


da Presidência da Câmara Municipal relativa a
aquisição de refil para purificador de água.

I – DA LEGITIMIDADE PARA ELABORAÇÃO DE PARECER

A fundamentação para a elaboração do presente parecer jurídico consta na Lei


1731/2018.

II – DO RELATÓRIO

O presente processo administrativo se originou a pedido do Chefe da Divisão


Administrativa que, mediante comunicação interna, requisita a aquisição de refil para
purificador de água. Tendo em vista que a recomendação o fabricante é de troca do refil
em 6 (seis) meses ou purificação de 3 (três) mil litros de água.

Chega e essa Divisão contendo 23 folhas, dentre elas pedido de Cotação de Preços
e respectivo Anexo, envio do pedido de Cotação de Preços para diversas empresas, envio
de diversas cotações. Há diversos comprovantes de cadastro nacional de CNPJ das
empresas que realizaram a cotação e, o preço mais baixo foi proposto pela empresa LS
Vendas e Assistência Técnica LTDA. (CNPJ nº 10.799.622/0001-85), cujo valor é de R$
250,00 (duzentos e cinquenta reais).

Antes da análise dos aspectos jurídicos, é necessário reforçar que não cabe a essa
Divisão realizar qualquer juízo de valor referente ao estoque da Câmara Municipal, bem
como a necessidade de compra de determinados gêneros. A análise se limita aos contornos
jurídicos do caso.

Atenta-se ainda que a Contabilidade dessa Casa se manifestou a respeito da


existência de dotação orçamentária para a compra de determinados gêneros, atentando que
a dispensa de valor ocorre até o valor de R$ 17.600,00 (dezessete mil e seiscentos reais).

Por fim, cabe a Presidência dessa Casa de Leis a realização de juízo a respeito dos
critérios e da análise de mérito.

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Estão presentes no processo diversas certidões das empresas, todas dentro do


prazo de validade, devendo ser observada a regularidade das empresas no ato da
contratação e do pagamento.

III – DA FUNDAMENTAÇÃO

A República Federativa do Brasil, cujos princípios e regras fundantes se


encontram na Constituição Federal, expressa no art. 37, que:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte: [grifo nosso]

Dessa forma, a administração pública fica adstrita a observância da lei, como


forma evitar abusos, excessos e arbitrariedades, bem como zelar pela segurança jurídica
mediante regras anteriormente expressas e claras.

Preza ainda pela impessoalidade, como forma de garantir isonomia e neutralidade,


evitando preterições infundadas e mantendo a igualdade.

Outro ponto de relevância é que, por operar o erário e bens que estão à disposição
dos serviços públicos (serviços estes que visam trazer conforto, segurança, bem-estar e
presteza para a comunidade e para os órgãos públicos em si), os processos e demais ações
realizadas pela administração devem seguir, como regra geral, a publicidade. Nada pode
ser injustificadamente obscurecido na atuação da máquina pública.

Quanto as contratações, não poderia ser diferente, sendo que o texto magno
disciplina:

Art. 37 (…)

(…)

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,


compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação
pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com
cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências
de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento
das obrigações.

Fica assegurado, portanto, que o legislador infraconstitucional estabeleça casos


em que a licitação seja dispensável, conforme dispõe a Lei 8666/93, art. 24, II:

Art. 24. É dispensável a licitação:

(…)

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II - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do
limite previsto na alínea "a", do inciso II do artigo anterior e para
alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de
um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada
de uma só vez;

Tendo em vista o disposto supra, deve-se ter em mente que o art. 23, II, alínea “a”
dispõe:

Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do artigo


anterior serão determinadas em função dos seguintes limites, tendo em vista o
valor estimado da contratação:

(…)

II - para compras e serviços não referidos no inciso anterior

a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);

Tal conjugação de dispositivos disciplina, por interpretação, que é possível


dispensar licitação em caso de compras cujo o valor seja de até R$8.000,00 (oito mil
reais).

Com e edição do Decreto nº 9.412/2018, os valores das licitações foram alterados!


Passa a valer os seguintes valores:

Art. 1º Os valores estabelecidos nos incisos I e II do caput do art. 23 da Lei nº


8.666, de 21 de junho de 1993, ficam atualizados nos seguintes termos:
I - para obras e serviços de engenharia:
a) na modalidade convite - até R$ 330.000,00 (trezentos e trinta mil reais);
b) na modalidade tomada de preços - até R$ 3.300.000,00 (três milhões e
trezentos mil reais); e
c) na modalidade concorrência - acima de R$ 3.300.000,00 (três milhões e
trezentos mil reais); e
II - para compras e serviços não incluídos no inciso I:
a) na modalidade convite - até R$ 176.000,00 (cento e setenta e seis mil reais);
b) na modalidade tomada de preços - até R$ 1.430.000,00 (um milhão,
quatrocentos e trinta mil reais); e
c) na modalidade concorrência - acima de R$ 1.430.000,00 (um milhão,
quatrocentos e trinta mil reais).

Dessa forma, com os valores atualizados, há possibilidade de dispensar a


licitação nos valores até R$ 17.600,00 (dezessete mil e seiscentos reais).

Inclusive, deve-se apontar, conforme estabelece o Manual de Compras Diretas do


Tribunal de Contas da União1, que as hipóteses de dispensa são taxativas, enumeradas de
forma exaustiva na Lei de Licitações, sendo que qualquer contratação por dispensa, que
esteja fora das hipóteses elencadas, podem sujeitar o gestor a crime previsto na própria Lei
8666/93, art. 89 “dispensar licitação fora das hipóteses previstas em lei”.

1
Disponível no portal do TCU: <http://portal.tcu.gov.br/comunidades/licitacoes-e-contratos-do-tcu/
licitacoes/manuais-e-orientacoes/>. Acesso em 1º de fevereiro de 2017.
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Observados tais dispositivos, é necessário salientar que sempre existir a


possibilidade de competição, independentemente de ser possível a existência da dispensa
de licitação, pode o gestor realizar processo licitatório, nos moldes da Lei 8666/93 ou da
Lei 10520/02.

No que toca a possibilidade de licitar, além da legislação supracitada, é possível


acrescentar, novamente, orientação do TCU presente no Manual de Licitações e
Contratos2:

Essa demanda decorre de princípios também insculpidos no caput do art. 37 da


Constituição Federal de 1988, legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência, além de outros elencados pela doutrina para a licitação.
É dizer: a regra estatuída na Constituição Federal é a da obrigatoriedade de
licitar, já as hipóteses de dispensa e de inexigibilidade de certame devem ser
interpretadas como exceções” Acórdão 798/2008 Primeira Câmara (Voto do
Ministro Relator.

Conclui-se, com essa prévia análise, que é possível dispensar a licitação nos casos
previstos em lei, notadamente em caso de compras que não excedam o montante de
R$8.000,00, mas que, fique claro, a realização de tal procedimento deve ser excepcional,
havendo verdadeira necessidade da administração. A regra, portanto, é da realização de
processo licitatório.

Tendo em vista as considerações feitas, analisa-se, a partir de agora, o processo


em tela.

No que toca aos valores, não há qualquer consideração a ser feita, visto que o
valor total cotado, fica muito aquém do limite legal, conforme valores destacados no
“confronto de preços”, tabela que integra o processo.

Sempre que a administração pública verifica a necessidade de compra de bens ou


contratação de serviços, abre processo licitatório, tendo em mente que cabe a própria
administração realizar um planejamento prévio dos gastos, bem como o prazo máximo de
duração do contrato.

Dessa forma, ao conduzir o processo, deve-se observar com cautela a forma de


determinação do objeto bem como o quantitativo necessário para fazer frente às
necessidades da administração, como forma de garantir, durante a licitação, os princípios
da economicidade e da proposta mais vantajosa para a administração.

Entretanto, é possível que gestores mal-intencionados, ao verificar o planejamento


das despesas e perceber a necessidade de licitação, fracionem o objeto, tendo conduta
dolosa de burlar processo licitatório.

2
Disponível em: < http://portal3.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2057620.PDF>, página 25. Acesso em 1º
de fevereiro de 2017.
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Portanto, o prazo de contratação e o planejamento de gastos devem ser avaliados


pela administração como forma de evitar eventuais infrações, ainda que ocorram sem má-
fé do administrador.

A Lei nº 8666/1993 veda no art. 23, § 5º, o fracionamento de despesa. Impede,


para fins exemplificativos, a utilização da modalidade convite para parcelas de uma mesma
obra ou serviço, ou ainda para obras e serviços de idêntica natureza e no mesmo local que
possam ser realizadas conjunta e concomitantemente sempre que a soma dos valores
caracterizar o caso de tomada de preços. De igual forma, fica vedada, e.g., a utilização de
várias tomadas de preços para se abster de realizar concorrência.

Ressalvado o pregão, que pode ser adotado em qualquer caso, não é permitida
utilização de modalidade inferior quando o somatório do valor em licitação apontar outra
superior3.

Inclusive o Tribunal de Contas indica o planejamento como forma previsão de


gastos e verificação da melhor forma de licitação e contratação4:

Realize o planejamento prévio dos gastos anuais, de modo a evitar o


fracionamento de despesas de mesma natureza, observando que o valor limite
para as modalidades licitatórias é cumulativo ao longo do exercício financeiro, a
fim de não extrapolar os limites estabelecidos nos artigos 23, § 2°, e 24, inciso
II, da Lei nº 8.666/1993. Adote a modalidade adequada de acordo com os arts.
23 e 24 da Lei nº 8.666/1993, c/c o art. 57, inciso II, da Lei nº 8.666/1993, de
modo a evitar que a eventual prorrogação do contrato administrativo dela
decorrente resulte em valor total superior ao permitido para a modalidade
utilizada, tendo em vista a jurisprudência do Tribunal (Vide também Acórdãos
842/2002 e 1725/2003, da Primeira Câmara e Acórdãos 260/2002, 1521/2003,
1808/2004 e 1878/2004, do Plenário). Acórdão 1084/2007 Plenário

É claro que nem sempre a Administração pode, de forma clara e objetiva, prever
com antecedência o montante dos gastos e dos quantitativos necessários, por isso,
conforme excerto acima, em caso de dispensa de licitação para o mesmo objeto, realizado
mais de uma vez ao ano, deve sempre estar dentro dos limites estabelecidos pela
Legislação.

Voltando ao caso em questão, é possível que se realize a compra dos materiais


elencados, cuidando sempre para que tais contratações não se configurem fracionamento
de despesa. Leve-se levar em conta ainda, sempre a conveniência e oportunidade da
administração, bem como a premente necessidade de aquisição de tais insumos.

Porém, a presente Divisão, aconselha a administração que adquira o hábito de


realizar planejamentos prévios, dentro dos parâmetros fáticos, a fim de que se realize
procedimento licitatório.

3
Vide “Manual de Licitações e Contratos”, página 104. Disponível em: <
http://portal3.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2057620.PDF>. Acesso em 1º de fevereiro de 2017
4
Disponível em: < http://portal3.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2057620.PDF>, página 102. Acesso em 1º
de fevereiro de 2017
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Uma forma de atender a essa necessidade é adotar o Sistema de Registro de Preço


(SRP), presente no art. 15 da Lei 8666/93.

Para fins de esclarecimentos, Hely Lopes Meirelles entende que o registro de


preços é o sistema de compras pelo qual os interessados em fornecer materiais,
equipamentos ou serviços ao poder público concordam em manter os valores registrados
no órgão competente, corrigidos ou não, por um determinado período e fornecer as
quantidades solicitadas pela Administração no prazo previamente estabelecido. No entanto,
é importante ressaltar que a Administração Pública não é obrigada a contratar quaisquer
dos itens registrados. Essa é uma característica peculiar do SRP5.

Tal sistema é regulamentado pelo Decreto 7892/93, sendo que a Lei do Pregão,
Lei nº 10520/02, no art. 11, possibilita que seja realizado o registro de preços na
modalidade pregão:

Art. 11. As compras e contratações de bens e serviços comuns, no âmbito da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, quando efetuadas
pelo sistema de registro de preços previsto no art. 15 da Lei nº 8.666, de 21 de
junho de 1993, poderão adotar a modalidade de pregão, conforme regulamento
específico.

Além de ser um sistema mais ágil para contratações, a utilização do SRP e do


pregão possibilitam a competição e se adequam aos possíveis planejamentos e
necessidades da administração, evitando ainda qualquer discussão sobre o fracionamento
do objeto.

Necessário ressaltar ainda que essa Casa de Leis conta com alguns servidores que
participaram do curso de formação para pregoeiros, possibilitando, dessa forma, que seja
realizado Pregão para aquisição de bens e serviços comuns.

Por fim, a presente divisão aconselha que sejam colhidas, das empresas
contratadas, declaração de que não empregam menores de 18 anos, conforme 27, V da Lei
8666/93.

É o parecer.

Contenda, 1° de abril de 2019

BRUNA SCHLICHTING
ADVOGADA
OAB/PR 65.180

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MEIRELLES, Hely Lopes. Licitação e Contrato Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2006.
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