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Disciplina: Legislação Penal Especial

Professor: Paulo Henrique Fuller


Aula: 08 | Data: 06/06/2019

ANOTAÇÃO DE AULA

SUMÁRIO

II. LEI MARIA DA PENA – nº 11.340/2006


6. Condições de incidência da Lei
7. Consequências de aplicação da Lei Maria da Penha

II. LEI MARIA DA PENA – nº 11.340/2006

6. Condições de incidência da Lei

b) Situações de vulnerabilidade definidas no art. 5º da Lei1 (continuação)

 Inciso III – relação íntima de afeto

A relação íntima de afeto é aquela na qual o agressor e a vítima convivam (relação atual) ou tenham convivido
(relação pretérita – o “ex”). A lei expressamente prevê a dispensa de coabitação (relação sexual ou convivência sob
o mesmo teto) para a existência de relação íntima de afeto como, por exemplo, o namoro.

A respeito desse tema, o STJ estendeu a dispensa de coabitação para quaisquer dos incisos do art. 5º, da Lei:

“Súmula 600-STJ: Para configuração da violência doméstica e familiar


prevista no artigo 5º da Lei 11.340/2006, Lei Maria da Penha, não se
exige a coabitação entre autor e vítima”.

ATENÇÃO: o STJ entende que, em caso de relação rompida basta a relação de causalidade entre a violência
praticada e a relação rompida para a aplicação da Lei Maria da Penha, pouco importando quanto tempo se passou
desde a cessação da relação (ou seja, não há limite de tempo entre o término da relação e a conduta do agente).

Obs.: o art. 5º, parágrafo único, da Lei prevê que “as relações pessoais enunciadas neste artigo independem de
orientação sexual”.

c) Prática contra o sujeito passivo mulher

Prevalece que a lei protege qualquer pessoa do gênero feminino e não apenas quem é biologicamente vista como
mulher, segundo o art. 5º, caput da Lei 11.340/06:

“Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e


familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero
1 “Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por
afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual”.

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que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e
dano moral ou patrimonial: (...)”.

Obs.: prevalece a tendência de que a Lei Maria da Penha tutela qualquer pessoa que pertença ao gênero feminino:
o critério fundamental seria a identificação da psique feminina, independentemente da condição biológica ou
morfológica da pessoa, de modo que prevalece que a tutela penal da Lei Maria da Penha deve ser estendida ao
transexual e ao transgênero. No caso do travesti, que é aquele que troca a veste, não é possível afirmar que possua
identidade feminina.

7. Consequências de aplicação da Lei Maria da Penha

(i) Competência de juízo (de vara)

A Lei Maria da Penha retira de qualquer infração penal o seu menor potencial ofensivo, deslocando a competência
do JECRIM para uma vara especializada e, na sua falta, para a vara criminal.

O art. 14 da Lei Maria da Penha dispõe que:

“Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a


Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal,
poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e
pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher”.

O termo “juizado” significa vara (especializada ou, na falta, comum) – não há relação com o juizado especial.

Enquanto não criadas varas especializadas no país, aplica-se o disposto no art. 33 da Lei Maria da Penha, ou seja, o
eventual processo tramitará em vara criminal:

“Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência


Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão
as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela
legislação processual pertinente.
Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas
criminais, para o processo e o julgamento das causas referidas no
caput”.

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