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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Lei Maria da Penha (LEI Nº 11.340/06)

RAIO-X DO CONTEÚDO
INCIDÊNCIA FONTE DAS PROBABILIDADE
EM PROVAS QUESTÕES DE EXIGÊNCIA
LEI SECA, DOUTRINA
ALTA 86%
E JURISPRUDÊNCIA

O QUE PRIORIZAR NA RETA FINAL


LEI MARIA DA PENHA (LEI Nº 11.340/06):
✓ Neste material, versão resumo, selecionei algumas apostas para a sua prova.
Vale ressaltar que é indispensável o estudo da LEI Nº 11.340/06;
✓ Conheça os principais julgados.
✓ Segundo o STJ, a Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) é aplicável às mulheres
trans em situação de violência doméstica.
✓ Conheça quais são as formas de violência doméstica e familiar contra a mulher
(Art. 7º)

TEORIA (VERSÃO RESUMO)

1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS:

A Lei nº 11.340/2006 (Lei de Violência Doméstica) é conhecida como “Lei Maria da


Penha”, em uma homenagem à Sra Maria da Penha Maia Fernandes que, durante
anos, foi vítima de violência doméstica e lutou bastante para a aprovação deste di-
ploma. A Lei nº 11.340/2006 prevê regras processuais instituídas para proteger a
mulher vítima de violência doméstica.

Sendo assim, se uma mulher for vítima de violência doméstica e familiar, a apuração
deste delito (crime ou contravenção penal) deverá obedecer ao rito da Lei Maria da
Penha e, de forma subsidiária, ao CPP e às demais leis processuais penais, naquilo
que não for incompatível (art. 13).

Em 1983, a farmacêutica Maria da Penha sofria constantes


agressões por parte de seu marido que, em uma ocasião, efetuou
disparos de espingarda que a deixou paraplégica. Posteriormente
tentou eletrocutá-la, o agressor conseguia prorrogar a sua con-
denação, em razão da lentidão da justiça brasileira. O caso da
Maria da Penha só foi solucionado em 2002 quando o Estado
brasileiro foi condenado por OMISSÃO E NEGLIGÊNCIA pela
Corte Interamericana de Direitos Humanos. Desta forma, o Brasil
teve que se comprometer em reformular suas leis e políticas em
relação à violência doméstica, ocasião que alguns anos depois
foi editada a lei 11.340/2006 que ficou conhecida como Maria da
Penha. Vale destacar que se trata de uma ação afirmativa para
corrigir distorções, valendo-se de mecanismos compensatórios.

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2. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER (ART. 5º):

Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda,


cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes
à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver
sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral,
intelectual e social (Art. 2º). Nesse sentido, o art. 5º apresenta âmbito de abrangên-
cia da lei, a saber:

Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra


a mulher QUALQUER AÇÃO OU OMISSÃO baseada no GÊNERO que lhe
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral
ou patrimonial:
ÂMBITO DA UNIDADE QUALQUER RELAÇÃO
ÂMBITO DA FAMÍLIA
DOMÉSTICA ÍNTIMA DE AFETO
Espaço de convívio per- Comunidade formada por Na qual o agressor con-
manente de pessoas, indivíduos que são ou se viva ou tenha convivido
com ou sem vínculo fa- consideram aparentados, com a ofendida, indepen-
miliar, inclusive as unidos por laços naturais, dentemente de
esporadicamente agrega- por afinidade ou por von- coabitação.
das; tade expressa;

Art. 40-A. Esta Lei será aplicada a todas as situações previstas no seu art. 5º,
independentemente da causa ou da motivação dos atos de violência e da condição
do ofensor ou da ofendida. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)

OBS: As relações pessoais enunciadas neste artigo INDEPENDEM DE ORIENTA-


ÇÃO SEXUAL.

VIOLÊNCIA PRATI- É POSSÍVEL?


CADA POR
SIM. Aplica-se a Lei Maria da Penha. O agressor também
FILHA CONTRA A MÃE pode ser mulher. STJ. 5ª Turma. HC 277561/AL, Rel. Min.
Jorge Mussi, julgado em 06/11/2014.
SIM. Aplica-se a Lei Maria da Penha. STJ. 5ª Turma. RHC
GENRO CONTRA SOGRA 50847/BA, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme (Desem-
bargador Convocado do TJ/SP), julgado em 07/10/2014.
SIM. Aplica-se a Lei Maria da Penha. STJ. 5ª Turma. HC
FILHO CONTRA A MÃE 290650/MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
15/05/2014.
SIM. Aplica-se a Lei Maria da Penha. Obs.: a agressão foi
motivada por discussão envolvendo o relacionamento amo-
COMPANHEIRO DA MÃE roso que o agressor possuía com a mãe da vítima (relação
("PADRASTO") CONTRA A íntima de afeto). STJ. 5ª Turma. RHC 42092/RJ, Rel. Min.
ENTEADA Jorge Mussi, julgado em 25/03/2014.
SIM. Aplica-se a Lei Maria da Penha. A tia possuía, inclusive,
TIA CONTRA SOBRINHA a guarda da criança (do sexo feminino), que tinha 4 anos.
STJ. 5ª Turma. HC 250435/RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado
em 19/09/2013.
SIM. Aplica-se a Lei Maria da Penha. Desde que estejam
presentes os requisitos de relação íntima de afeto, motiva-
NORA CONTRA SOGRA ção de gênero e situação de vulnerabilidade. Ausentes, não
se aplica. STJ. 5ª Turma. HC 175816/RS, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 20/06/2013.
SIM. Aplica-se a Lei Maria da Penha. STJ. 6ª Turma. HC
PAI CONTRA A FILHA 178751/RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado
em 21/05/2013.

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SIM. Aplica-se a Lei Maria da Penha. Vale ressaltar, porém,
que não é qualquer namoro que se enquadra na Lei Maria
EX-NAMORADO CONTRA da Penha. Se o vínculo é eventual, efêmero, não incide a Lei
A EX-NAMORADA 11.340/06 (CC 91.979-MG). STJ. 5ª Turma. HC 182411/RS,
Rel. Min. Adilson Vieira Macabu (Desembargador Convocado
do TJ/RJ), julgado em 14/08/2012.
SIM. Aplica-se a Lei Maria da Penha. Ainda que não morem
IRMÃO CONTRA IRMÃ sob o mesmo teto. STJ. 5ª Turma. REsp 1239850/DF, Rel.
Min. Laurita Vaz, julgado em 16/02/2012.
NÃO. Não se aplica a Lei Maria da Penha. O sujeito passivo
FILHO CONTRA PAI (vítima) não pode ser do sexo masculino. STJ. 5ª Turma.
IDOSO RHC 51481/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
21/10/2014.

3. FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER


(ART. 7º):

FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A


MULHER, ENTRE OUTRAS
FÍSICA Qualquer conduta que ofenda sua INTEGRIDADE OU SAÚDE
CORPORAL;
Qualquer conduta que lhe cause DANO EMOCIONAL e DIMINUI-
ÇÃO DA AUTOESTIMA ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
PSICOLÓ- comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constran-
GICA gimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de
sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de
ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde
PSICOLÓGICA e à AUTODETERMINAÇÃO;
Qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação,
ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou
SEXUAL a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de
usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio,
à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chanta-
gem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício
de seus direitos sexuais e reprodutivos;
Qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição
PATRIMO- parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, docu-
NIAL mentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos,
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
MORAL Qualquer conduta que configure CALÚNIA, DIFAMAÇÃO OU IN-
JÚRIA.

4. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA:

Medidas protetivas de urgência são providências previstas nos arts. 22 a 24 da Lei


nº 11.340/2006 e aplicadas para proteger as mulheres vítimas de violência domés-
tica:

• Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o Agressor

• Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida

Vale ressaltar que o rol das medidas protetivas previsto na lei é meramente exem-
plificativo, podendo ser concedidas outras providências que não estejam ali

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elencadas. Trata-se daquilo que a doutrina denominou de princípio da atipicidade das
medidas protetivas de urgência.

ATENÇÃO: A lei Nº 14.550/2023 realizou alterações na lei Maria da Penha, especi-


almente, nas disposições gerais das medidas protetivas de urgência:

Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a re-
querimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.

§ 4º As medidas protetivas de urgência serão concedidas em juízo de cognição


sumária a partir do depoimento da ofendida perante a autoridade policial ou
da apresentação de suas alegações escritas e poderão ser indeferidas no
caso de avaliação pela autoridade de inexistência de risco à integri-
dade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou
de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)

§ 5º As medidas protetivas de urgência serão concedidas independente-


mente da tipificação penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou
cível, da existência de inquérito policial ou do registro de boletim de ocorrên-
cia. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)

§ 6º As medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto persistir risco


à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou
de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)

4.1. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA QUE OBRIGAM O AGRESSOR:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos
termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:

• I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comu-


nicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22
de dezembro de 2003 ;

• II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a


ofendida;

• III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

o a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas,


fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;

o b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qual-


quer meio de comunicação;

o c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a in-


tegridade física e psicológica da ofendida;

• IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores,


ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

• V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.


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• VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e
reeducação; e (Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020)

• VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de


atendimento individual e/ou em grupo de apoio. (Incluído pela Lei
nº 13.984, de 2020)

o § 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de


outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança
da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência
ser comunicada ao Ministério Público.

4.2. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA À OFENDIDA:

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:

• I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial


ou comunitário de proteção ou de atendimento;

• II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes


ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;

• III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo


dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;

• IV - determinar a separação de corpos.

• V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em insti-


tuição de educação básica mais próxima do seu domicílio, ou a
transferência deles para essa instituição, independentemente da
existência de vaga. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019)

Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de
propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguin-
tes medidas, entre outras:

• I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à


ofendida;

• II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de


compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo ex-
pressa autorização judicial;

• III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao


agressor;

• IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial,


por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência
doméstica e familiar contra a ofendida.

Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos
nos incisos II e III deste artigo.

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NOVIDADE LEGISLATIVA – LEI 13.827/19
QUEM CONCEDE AS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA DA LEI MA-
RIA DA PENHA?
REGRA: Apenas Autoridade JUDICIAL pode conceder medidas protetivas de ur-
gência.
EXCEÇÃO: Medida de afastamento do agressor do lar pode ser determinada pelo
Delegado ou policial se o município não for sede de comarca
Esse afastamento será
determinado:
Verificada a existência de O agressor será IMEDI- 1º OPÇÃO: Pela Autori-
risco atual ou iminente à ATAMENTE afastado do dade JUDICIAL;
vida ou à integridade fí- lar, domicílio ou local 2º OPÇÃO: Pelo Dele-
sica ou psicológica da de convivência com a gado de Polícia, se o
mulher em situação de vi- ofendida Município não for sede de
olência doméstica e comarca;
familiar, ou de seus de- 3º OPÇÃO: pelo policial,
pendentes, quando o Município não
for sede de comarca e não
houver delegado disponí-
vel no momento da
denúncia
OBS: Se a medida for concedida por Delegado ou por policial (opção 2 e 3), o juiz
será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá,
em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo
dar ciência ao Ministério Público concomitantemente.
OBS: As demais medidas protetivas deverão ser sempre concedidas pela autori-
dade judicial;

SÚMULAS

SÚMULA 600 STJ: Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º
da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação entre autor e vítima.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 22/11/2017, DJe 27/11/2017.

SÚMULA 589 STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções


penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas. Aprovada em
13/09/2017, DJe 18/09/2017.

SÚMULA 588 STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência
ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos. Aprovada em 13/09/2017, DJe 18/09/2017.

SÚMULA 536 STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam
na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.

SÚMULA 542 STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência
doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

JURISPRUDÊNCIA

A audiência do art. 16 da Lei Maria da Penha não é um ato processual obrigatório


determinado pela lei; a realização dessa audiência configura apenas um direito da
vítima, caso ela manifeste o desejo de se retratar. A audiência prevista no art. 16 da Lei
nº 11.340/2006 tem por objetivo confirmar a retratação, não a representação, e não pode ser
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designada de ofício pelo juiz. Sua realização somente é necessária caso haja manifestação do
desejo da vítima de se retratar trazida aos autos antes do recebimento da denúncia. STJ. 3ª
Seção.REsp 1977547-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 8/3/2023 (Re-
curso Repetitivo – Tema 1167) (Info 766).

O juízo do domicílio da mulher vítima de violência doméstica é competente para de-


ferir as medidas protetivas de urgência, mesmo que a agressão tenha ocorrido em
outra comarca; vale ressaltar, contudo, que a competência para julgar o crime é do
local dos fatos. A interpretação sistemática do art. 13 da Lei nº 11.340/2006, em conjunto
com o art. 147 do ECA e do art. 80 do Estatuto do Idoso, permite a aplicação do princípio do
juízo imediato às ações em que se pleiteiam medidas protetivas de urgência de caráter penal
no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher. Assim, independentemente do
local onde tenham inicialmente ocorrido as supostas condutas criminosas que motivaram o
pedido da vítima, o juízo do domicílio da mulher em situação de violência doméstica e familiar
é competente para processar e julgar o pleito de medidas protetivas de urgência por aplicação
do princípio do juízo imediato. Vale ressaltar, contudo, que a competência para examinar as
medidas protetivas de urgência atribuída ao juízo do domicílio da vítima não altera a compe-
tência do juízo natural para o julgamento de eventual ação penal por crimes praticados no
contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher, que deve ser definida conforme as
regras gerais fixadas pelo Código de Processo Penal. STJ. 3ª Seção. CC 190666-MG, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 8/2/2023 (Info 764).

O requerido (autor da violência) não será citado para contestar o pedido de medidas
cautelares dos incisos I, II e III do art. 22 da Lei Maria da Penha. As medidas protetivas
de urgência previstas nos incisos I, II e III do art. 22 da Lei Maria da Penha têm natureza de
cautelares penais, não cabendo falar em citação do requerido para apresentar contestação,
tampouco a possibilidade de decretação da revelia, nos moldes da lei processual civil. STJ. 5ª
Turma. REsp 2009402-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Rel. Acd. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado
em 08/11/2022 (Info 756).

A Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) é aplicável às mulheres trans em situação


de violência doméstica. Uma mulher trans é uma pessoa que nasceu com o sexo físico
masculino, mas que se identifica como uma pessoa do gênero feminino. O conceito de sexo
está relacionado aos aspectos biológicos que servem como base para a classificação de indiví-
duos entre machos, fêmeas e intersexuais. Utilizamos a palavra gênero quando queremos
tratar do conjunto de características socialmente atribuídas aos diferentes sexos. Muitas vezes,
uma pessoa pode se identificar com um conjunto de características não alinhado ao seu sexo
designado. Ou seja, é possível nascer do sexo masculino, mas se identificar com características
tradicionalmente associadas ao que culturalmente se atribuiu ao sexo feminino e vice-versa,
ou então, não se identificar com gênero algum. STJ. 6ª Turma. REsp 1977124/SP, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 5/4/2022 (Info 732).

É constitucional o art. 12-C da Lei Maria da Penha que autoriza, em algumas hipóte-
ses, a aplicação, pela autoridade policial, de medida protetiva de urgência em favor
da mulher. É válida a atuação supletiva e excepcional de delegados de polícia e de policiais a
fim de afastar o agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida, quando
constatado risco atual ou iminente à vida ou à integridade da mulher em situação de violência
doméstica e familiar, ou de seus dependentes, conforme o art. 12-C inserido na Lei nº
11.340/2006 (Lei Maria da Penha). STF. Plenário. ADI 6138/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 23/3/2022 (Info 1048).

Constatada situação de vulnerabilidade, aplica-se a Lei Maria da Penha no caso de


violência do neto praticada contra a avó. A Lei Maria da Penha objetiva proteger a mulher
da violência doméstica e familiar que, cometida no âmbito da unidade doméstica, da família
ou em qualquer relação íntima de afeto, cause-lhe morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico, e dano moral ou patrimonial. Estão no âmbito de abrangência do delito de violência
doméstica e podem integrar o polo passivo da ação delituosa as esposas, as companheiras ou
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amantes, bem como a mãe, as filhas, as netas do agressor e também a sogra, a avó ou
qualquer outra parente que mantém vínculo familiar ou afetivo com ele. STJ. 5ª Turma. AgRg
no AREsp 1626825-GO, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

Se a mulher vítima de crime de ação pública condicionada comparece ao cartório da


vara e manifesta interesse em se retratar da representação, ainda assim o juiz de-
verá designar audiência para que ela confirme essa intenção e seja ouvido o MP, nos
termos do art. 16. A Lei Maria da Penha autoriza, em seu art. 16, que, se o crime for de ação
pública condicionada (ex: ameaça), a vítima possa se retratar da representação que havia
oferecido, desde que faça isso em audiência especialmente designada, ouvido o MP. Veja: Art.
16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta
Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente
designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
Não atende ao disposto neste art. 16 a retratação da suposta ofendida ocorrida em cartório de
Vara, sem a designação de audiência específica necessária para a confirmação do ato. Em
outras palavras, se a vítima comparece ao cartório e manifesta interesse em se retratar, ainda
assim o juiz deverá designar a audiência para ouvir a ofendida e o MP, não podendo rejeitar a
denúncia sem cumprir esse procedimento. STJ. 5ª Turma. HC 138143-MG, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, julgado em 03/09/2019 (Info 656).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele
tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha des-
cumprido medida protetiva a ele imposta. A prática de contravenção penal, no âmbito de
violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu. O inciso
III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME
envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo
ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.
Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção
penal). Logo, não há previsão legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma
contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio
da legalidade estrita. STJ. 6ª Turma. HC 437535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ANDRÉ, Márcio. Súmulas do STF e do STJ. Editorajuspodivm. 2023. ANDRÉ, Márcio. Vade
Mecum de Jurisprudência Dizer o Direito. Editora juspodivm. 2023. ARAÚJO, Fábio Roque.
Direito Penal Didático Parte Especial. Editora Editora juspodivm. 2023. CUNHA, Rogério
Sanches. Manual de Direito Penal Parte Especial. Editora Editora juspodivm. 2023. MAS-
SON, Cleber. Direito Penal Parte Especial (Volume II e III). Editora Método. 2023.
Brasileiro. Renato. Legislação Criminal Especial. Editora juspodivm. 2023.

MENSAGEM FINAL
Caro aluno finalizamos juntos mais uma aula! Aguardo você no próximo encon-
tro! Grande abraço.

A dispersão é inimiga do conhecimento. Sendo assim, separe momentos especí-


ficos de seu dia, exclusivamente, para aprender novos conhecimentos que te
ajudarão nas provas. Somente será possível saber se aprende, caso pratique (faça
muitas questões) e nunca se esqueça de revisar (a repetição retroalimenta o conhe-
cimento), isso porque será possível identificar o que lembra com mais facilidade, ou
não. Entenda que os erros fazem parte do processo de aprendizagem, logo, você não

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pode desanimar, inclusive, REPROVAR faz parte do projeto APROVAR! Por fim,
reflita: Você possui comprometimento com seus projetos?!

Goiânia/GO, 27 de abril de 2023

Prof. Jorge Florêncio

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