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TRABALHO ESCRAVO NO SÉCULO XXI

JACOBINA, 2023.
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ARLEN DELWIN DE OLIVEIRA SOUSA

ARTHUR NEVES ALMEIDA

CLEITON MENDES

FRANCISCO NETO OLIVEIRA

GABRIEL MENDES OLIVEIRA

MATEUS OLIVEIRA DE SANTANA

TRABALHO ESCRAVO NO SÉCULO XXI

JACOBINA, 2023

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RESUMO:
O artigo aborda a persistência do trabalho análogo à escravidão no Brasil, com foco na Bahia,
utilizando uma abordagem bibliográfica e o apoio da inteligência artificial (IA). A escravidão
no Brasil começou com os povos nativos e, posteriormente, africanos foram escravizados,
deixando um legado de injustiça. Mesmo após a abolição formal em 1888, o trabalho análogo
à escravidão persiste, especialmente em setores como agricultura, construção, têxteis e
mineração. A metodologia do estudo é bibliográfica, explorando as causas e manifestações do
trabalho análogo à escravidão. Apresenta uma análise crítica da situação contemporânea,
destacando a exploração em diversas regiões do Brasil. Aponta esforços legais e operacionais,
incluindo leis, fiscalização e ações de resgate, mas ressalta desafios persistentes. Destaca-se um
caso recente na Bahia, onde o Grupo Especial de Fiscalização Móvel resgatou trabalhadores
em condições degradantes na produção de sisal. O artigo aborda a impunidade relacionada ao
trabalho escravo, discutindo a morosidade judicial e a complexidade dos processos legais. Além
disso, destaca a legislação brasileira, a criação do Cadastro de Empregadores que submetem
trabalhadores a condições análogas à escravidão (Lista Suja) e a cooperação internacional como
respostas à persistência do problema. Aborda a vulnerabilidade socioeconômica, a falta de
oportunidades dignas e a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para erradicar o
trabalho análogo à escravidão. No contexto baiano, mesmo com avanços legais e a atuação de
organizações como o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Comissão Pastoral da Terra
(CPT), o trabalho escravo persiste, demandando esforços contínuos na fiscalização, educação e
mudança cultural para assegurar os direitos fundamentais de todos.

Palavras-chave: Escravidão, Trabalho análogo à escravidão;

Abstract

The article addresses the persistence of work analogous to slavery in Brazil, focusing
on Bahia, using a bibliographical approach and the support of artificial intelligence (AI).
Slavery in Brazil began with native peoples and, later, Africans were enslaved, leaving a legacy
of injustice. Even after formal abolition in 1888, work similar to slavery persists, especially in
sectors such as agriculture, construction, textiles and mining. The study methodology is
bibliographic, exploring the causes and manifestations of work analogous to slavery. It presents
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a critical analysis of the contemporary situation, highlighting exploration in different regions
of Brazil. It highlights legal and operational efforts, including laws, inspection and rescue
actions, but highlights persistent challenges. A recent case in Bahia stands out, where the
Special Mobile Inspection Group rescued workers in degrading conditions in sisal production.
The article addresses impunity related to slave labor, discussing judicial delays and the
complexity of legal processes. Furthermore, it highlights Brazilian legislation, the creation of
the Registry of Employers who subject workers to conditions analogous to slavery (Dirty List)
and international cooperation as responses to the persistence of the problem. It addresses
socioeconomic vulnerability, the lack of dignified opportunities and the need for a
multidisciplinary approach to eradicate work analogous to slavery. In the Bahian context, even
with legal advances and the work of organizations such as the Public Ministry of Labor (MPT)
and the Pastoral Land Commission (CPT), slave labor persists, demanding continuous efforts
in inspection, education and change culture to ensure the fundamental rights of all.

Key words: Slavery, Work analogous to slavery;

INTRODUÇÃO:

A escravidão foi uma instituição estabelecida no Brasil por volta da década de 1530,
quando os portugueses implementaram as primeiras medidas coloniais eficazes. Essa
escravização ocorreu primeiro entre os povos nativos e, entre os séculos XVI e XVII, foi
gradativamente substituída pela escravização dos africanos que chegaram ao Brasil através do
comércio de escravos.

A escravidão no Brasil satisfez a necessidade portuguesa de trabalhadores manuais


trabalho em que os portugueses desprezavam, que nos séculos XVI e XVII estava
principalmente associado ao trabalho no campo. Inicialmente, a relação de trabalho adotada
pelos portugueses foi de escambo com os povos indígenas, mas logo optaram pela prática da
escravidão. Essa exploração brutal e desumana dos africanos escravizados tornou-se a base da
economia colonial brasileira, deixando um legado de sofrimento e injustiça que influenciou
profundamente a sociedade brasileira até os dias de hoje, cujo tema de extrema importância,
considerando as ramificações e consequências que a prática do trabalho escravo teve na
sociedade como um todo e na própria história.

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Este é um problema mundial, com inúmeros exemplos de práticas de trabalho em
condições análogas à escravatura encontradas todos os dias, e muitas vezes muito mais
próximos do que as pessoas pensam. O trabalho escravo está presente em todas as regiões do
mundo e em todos os tipos de economia, até mesmo nas de países desenvolvidos e em cadeias
produtivas de grandes e modernas empresas atuantes no mercado internacional. Acabar com o
problema exige não só o comprometimento das autoridades dos governos, como também um
engajamento multifacetado de trabalhadores, empregadores, organismos internacionais e
sociedade civil.

O trabalho análogo ao escravo é uma realidade lamentável e ilegal que persiste em


algumas partes do Brasil. Refere-se a condições de trabalho análogas à escravidão que violam
os direitos humanos e trabalhistas dos trabalhadores. Embora o país tenha abolido oficialmente
a escravatura em 1888, os empregos análogos à escravatura ainda atormentam muitas pessoas,
especialmente nas zonas rurais e em setores como a agricultura, a construção, os têxteis e a
mineração.

A prática de submeter pessoas a condições de exploração semelhantes à escravidão,


violando seus direitos fundamentais. No contexto brasileiro, apesar da abolição formal da
escravidão em 1888, a prática persiste de maneira clandestina e ilegal em diferentes regiões
menos desenvolvidas do país, geralmente, trabalhadores são atraídos por falsas promessas de
emprego e acabam em situações de exploração.

No Brasil, há esforços legais e operacionais para combater essa prática, incluindo leis
que definem o trabalho análogo à escravidão, fiscalização por parte de órgãos como o
Ministério Público do Trabalho e ações de resgate de trabalhadores em situações degradantes.

No mundo contemporâneo, enquanto avançamos no século XXI, um fenômeno


persistente e alarmante continua a desafiar a noção de progresso social: o trabalho análogo à
escravidão. Em pleno 2023, embora tenhamos testemunhado avanços significativos em várias
esferas da sociedade, a exploração humana semelhante à escravidão continua a ser uma
realidade dura e inquietante em muitas partes do mundo.

Este trabalho propõe uma análise crítica e reflexiva sobre a persistência do trabalho
análogo à escravidão nos dias atuais. Ao explorar esse fenômeno complexo e multifacetado,
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pretende-se compreender as diferentes manifestações, causas subjacentes e consequências
devastadoras que afetam milhões de indivíduos em várias regiões do globo.

Ao longo das próximas páginas, examinaremos não apenas a definição e as


características desse tipo de trabalho desumano, mas também as formas modernas e sutis pelas
quais ele se manifesta, desafiando as fronteiras legais e éticas estabelecidas. Além disso,
investigaremos os contextos socioeconômicos, culturais e políticos que perpetuam essa prática,
questionando as estruturas de poder que a sustentam.

Por meio de uma abordagem analítica e crítica, este trabalho busca não apenas
conscientizar sobre a persistência desse flagelo, mas também levantar questões cruciais sobre a
responsabilidade coletiva na luta contra o trabalho análogo à escravidão. A análise proposta
visa não somente identificar os problemas, mas também apontar para possíveis soluções e
estratégias eficazes para combater e erradicar essa forma contemporânea de escravidão.

É crucial enfatizar que a busca pela justiça social e pelos direitos humanos fundamentais
deve permanecer como um compromisso global, independentemente das fronteiras geográficas
ou dos interesses econômicos. Este estudo não só ilumina a realidade sombria do trabalho
análogo à escravidão em 2023, mas também visa inspirar ações e transformações significativas
em direção a um mundo mais justo e igualitário para todos.

INSPEÇÃO DO TRABALHO

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Grupo Móvel resgata 11 trabalhadores em Jacobina e Várzea Nova, no interior da Bahia

O grupo cortava folhas do sisal, extraindo a fibra com o auxílio de motores rudimentares,
sendo submetidos a condições degradantes de trabalho, vida e moradia

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Publicado em 03/11/2023 17h01

Uma ação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM), coordenado pela


Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), resgatou 11 trabalhadores submetidos a condições
degradantes de trabalho em frentes de trabalho do Sisal nos municípios de Jacobina e Várzea
Nova, no interior da Bahia. A operação ocorreu no período de 22 de outubro a 02 de novembro.

Numa propriedade rural no Povoado de Ouro Verde, em Várzea Grande, a equipe de


fiscalização se deparou com 6 trabalhadores e em outra, no município de Jacobina, foram
encontrados 5 trabalhadores. O grupo cortava folhas do sisal, extraindo a fibra com o auxílio
de motores rudimentares, popularmente conhecidos por “motores paraibanos", sendo
submetidos a condições degradantes de trabalho, vida e moradia. As condições de trabalho
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encontradas eram caracterizadas pela informalidade e irregularidade das relações trabalhistas,
pois, nenhum trabalhador era registrado, apesar da situação de trabalho cumprir todos os
requisitos para uma relação de emprego. Direitos trabalhistas também não eram respeitados,
com pagamento de baixíssima remuneração, numa média de R$ 100,00 a R$ 400,00,
exclusivamente por produção, para uma média de 44 horas de trabalho semanal. Além disso,
as medidas básicas de segurança e saúde no trabalho eram completamente negligenciadas. Não
havia proteção adequada contra os riscos ocupacionais, falta de EPIs, controle de saúde dos
trabalhadores e gestão de segurança. Nas frentes de trabalho não existia nenhuma instalação
sanitária disponível, tampouco um espaço onde pudessem se abrigar das intempéries ou se
sentar para realizar as refeições.

Os alojamentos fornecidos aos trabalhadores apresentavam um estado deplorável e não


possuíam condição mínima de habitabilidade, pois se tratavam de casas em ruínas e deterioradas
pelo tempo, com paredes e pisos comprometidos e que não dispunham de nenhum móvel. Os
trabalhadores dormiam em pedaços de espumas jogadas no chão, deixavam seus pertences
espalhados pelos cômodos da casa. Não dispunham de local para armazenamento, preparo e
tomada das refeições. A água não era potável sendo armazenada de maneira inadequada, em
embalagens de reutilização proibida. A única instalação sanitária e chuveiro existente em uma
das casas era insuficiente e os trabalhadores enfrentavam dificuldades, sendo obrigados a
utilizar balde para o banho e o mato para as necessidades fisiológicas.

Interdição - Devido às condições extremamente precárias, as máquinas de


desfibramento de sisal foram interditadas, por representar risco grave e iminente à saúde e à
segurança dos trabalhadores. A coordenadora do GEFM, a auditora-fiscal do Trabalho, Gislene
Stacholski, destaca que as indústrias estão no topo da cadeia produtiva do sisal, pois são as
destinatárias e beneficiárias final das fibras do sisal produzido em campo. Concentram nas mãos
a maior fatia dos lucros auferidos e são as detentoras incontestáveis do poder econômico.
Também é quem dita o baixo preço do sisal pago, retroalimentando o ciclo vicioso de condições
precárias e miseráveis que os trabalhadores vivem e laboram. “Agem sob o véu da “cegueira
deliberada”, fechando os olhos a tudo que acontece no seu processo produtivo, deixando todo
o ônus ao elo mais frágil da cadeia produtiva. Adquirem matéria prima oriunda de trabalho
análogo a escravo, sem a menor preocupação com o processo produtivo e, embora conhecedores
da situação de informalidade, não interferem, pois priorizavam o “baixo custo” que estas
informalidades geram e a exploração das vulnerabilidades dos trabalhadores envolvidos,

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pessoas de origem humilde, com baixa escolaridade e recursos limitados, perpetuando o ciclo
de pobreza e exclusão social”, avaliou.

Tratativas - Os responsáveis foram notificados a regularizar o vínculo dos trabalhos,


quitar as verbas rescisórias dos empregados resgatados, além de recolher o FGTS e as
contribuições sociais previstas em Lei. Os pagamentos foram estimados em R$ 197.000,00,
sendo lavrados ainda todos os autos de infrações das irregularidades encontradas. Os
trabalhadores resgatados, além das verbas rescisórias, terão direito também a três parcelas de
seguro-desemprego especial, sendo encaminhados ao órgão municipal de assistência social de
suas cidades para atendimento prioritário.

A equipe de fiscalização, juntamente com os órgãos responsáveis, está analisando novas


possibilidades de reinserção desses trabalhadores no mercado de trabalho, em atividades e
condições que possam lhe garantir o mínimo de dignidade previsto constitucionalmente.

Coordenada pelo MTE, a ação fiscal contou com a participação do Ministério Público
do Trabalho (MPT), Defensoria Pública da União (DPU) e a Polícia Federal (PF). Os dados
oficiais das ações de combate ao trabalho análogo ao de escravo no Brasil estão disponíveis no
Radar do Trabalho Escravo da SIT, no seguinte endereço: https://sit.trabalho.gov.br/radar/.

Denúncias de trabalho análogo ao de escravo podem ser feitas de forma anônima no


Sistema Ipê: ipe.sit.trabalho.gov.br.

TRABALHO ANÁLOGO A ESCRAVIDÃO NO BRASIL:


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O Trabalho Escravo no Brasil apesar de uma evolução histórica marcada por desafios
persistentes e esforços contínuos afim de superar essa prática nefasta desde a abolição da
escravidão em 1888 que marcou uma transformação no mundo, não conseguiu eliminar
completamente as formas de exploração.

Ao longo dos séculos, mudanças na legislação e a busca por direitos trabalhistas


resultaram em avanços significativos, com grandes apoios e projetos como, convenções
internacionais sobre o combate ao trabalho escravo, ainda se ver casos de exploração, mesmo
com o advento da Constituição Federal de 1988, que estabeleceu princípios fundamentais para
a proteção dos direitos humanos e trabalhistas.

O combate a essas práticas vem evoluindo ao longo do tempo, refletindo um


compromisso crescente em enfrentar a problemática, com várias operações de fiscalização e
resgate, lideradas por órgãos como o Ministério Público do Trabalho e a Polícia Federal,
representam uma resposta direta à persistência do trabalho escravo. Outro fator importante para
o combate a essa pratica foi a criação de Cadastro de Empregadores que tenham submetido
trabalhadores a condições análogas à escravidão e a cooperação internacional são respostas
inovadoras diante dos desafios que surgem.

A situação do Brasil em relação ao trabalho escravo revela avanços significativos na


legislação que desde a Constituição Federal de 1988 tendo como alicerce, princípios como a
proteção dos direitos humanos e os direitos fundamentais dos trabalhadores e nas práticas para
erradicar essa violação dos direitos humanos, embora tenha feito progressos, desafios
persistentes ainda demandam a atenção contínua de autoridades, organizações e da sociedade
como um todo.

No entanto, a legislação por si só não é suficiente para erradicar essa prática, mesmo
adotando uma série de medidas e estratégias para combater o trabalho escravo, baseadas nos
preceitos constitucionais tais como: Fiscalização e Resgate sendo feitas por órgãos como o
Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Polícia Federal, cadastro de Empregadores que
tenham submetido trabalhadores a condições análogas à escravidão, empregadores registrados
nesse cadastro podem sofrer restrições, como a impossibilidade de obter crédito junto a
instituições financeiras, programas educacionais e campanhas de conscientização para informar
trabalhadores e empregadores sobre seus direitos e responsabilidades, cooperação Internacional

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ajudando com apoio técnico para aprimorar suas políticas de combate ao trabalho escravo.
Apesar desses esforços, desafios persistem, como a vastidão do território brasileiro, a falta de
recursos em alguns órgãos fiscalizadores e a necessidade de conscientização contínua.

IMPUNIDADE DO TRABALHO ANÁLOGO A ESCRAVIDÃO NO BRASIL:

No cenário contemporâneo brasileiro, o trabalho em condições análogas a de escravo é um dos


atos mais repugnantes da humanidade, é uma triste realidade que submete o trabalhador a
situações da qual não podemos falar em dignidade, tamanha a deploração de vida. Nesse
contexto, a redução do homem à condição análoga à de escravo é totalmente contrária aos
ditames e desafia os princípios fundamentais da dignidade humana, dos direitos trabalhistas e
bem como as normas e tratados celebrados.

Ainda que o Brasil tenha conquistado avanços sociais e legislativos, mediante os


acordos internacionais, como também alguns avanços legais e seja uma referência na
consolidação de políticas públicas sociais e na tipificação penal de trabalho em condições
análogas à escravidão, ainda sim, enfrenta o desafio da impunidade relacionada a essa prática
abominável. Com isso, é importante explorar as razões por trás da persistência desse fenômeno
e as possíveis estratégias para combatê-lo.

A ineficiência do combate ao trabalho análogo à escravidão e a necessidade de haver


políticas públicas mais claras e até mesmo mais agressivas no sentido de serem realmente
cumpridas, policiadas e monitoradas.

Portanto o trabalho forçado ainda é uma problemática nefasta que assola o histórico e a
realidade da sociedade brasileira.

A questão da escravidão tem sido um aspecto lúgubre das práticas empresariais e ainda
é um tema pouco explorado nas pesquisas em Administração.

Dados expressam que quase 2 mil trabalhadores foram resgatados em condições


análogas à escravidão em 2021, segundo a Secretaria de inspeção do Trabalho, houve um
crescimento de 106% em relação a 2020, o número de resgates em 2021 foi o maior desde 2014.

A pena para quem submete alguém à escravidão moderna vai de dois a oito anos de
reclusão e multa. O empregador também é incluído por dois anos em um documento público
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chamado de Cadastro de Empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições
análogas à escravidão, popularmente conhecido como Lista Suja.

Uma emenda constitucional de 2014 também prevê a expropriação de propriedade


urbana e rural em que for constatada a exploração de trabalho em condições análogas à
escravidão e a sua destinação à reforma agrária, no caso das rurais, ou aos programas de
habitação popular, no caso das urbanas. Os trabalhadores resgatados seriam incluídos com
prioridade em assentamentos ou nos programas habitacionais.

A pauta sobre a expropriação de terras como punição a quem pratica trabalho escravo é
anterior à emenda de 2014. Segundo o MPT, a discussão vem desde a década de 1990, com a
Lei da Reforma Agrária (Lei 8.629), mas nunca avançou por causa de pressões da bancada
ruralista.

A legislação brasileira, embora tenha avançado na criminalização do trabalho escravo,


muitas vezes enfrenta desafios no que diz respeito à aplicação efetiva das penas. A morosidade
do sistema judiciário e a complexidade dos processos legais muitas vezes permitem que os
responsáveis escapem da devida punição.

Vale ressaltar que o artigo 149 do Código Penal estabelece que o trabalho análogo ao
de escravo ocorre em quatro modalidades, bastando a ocorrência de uma delas para que seja
configurado o crime.

SÃO ELAS:

- Submeter o trabalhador a trabalhos forçados;

- Submeter o trabalhador a jornadas exaustivas de trabalho;

- Sujeitar o trabalhador a condições degradantes de trabalho (ex: falta de acesso à água


potável ao longo da jornada de trabalho ou nos períodos de descanso; falta de instalações
sanitárias ou a impossibilidade de sua utilização em condições higiênicas ou de preservação da
privacidade, etc.);

- Restringir, por qualquer meio, a locomoção do trabalhador em razão de dívida


contraída com empregador (ex: reter documentos ou objetos pessoais; isolamento geográfico
ou o cerceamento do uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador etc.).

Dos 1.937 trabalhadores resgatados em 2021, 89% (1.727) estavam no trabalho rural e
11%, no urbano.
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Entre as cinco atividades econômicas com mais ocorrências de trabalho análogo ao de
escravo, todas estão ligadas à produção agrícola e agropecuária, segundo dados do MPT.

Os projetos de lei que tramitam atualmente no Senado preveem que a expropriação das
propriedades onde houve trabalho escravo será aplicada somente após o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória. Ou seja, esperar a sentença penal condenatória poderá contribuir
para a impunidade nessa situação. Por tamanho retardo em demasia, podendo até prescrever.

Basta analisar os dados da quantidade de pessoas que foram condenadas criminalmente


em última instância por trabalho escravo nos últimos anos: pouco mais de 100. Se depender de
condenação criminal, a expropriação será só mais uma exceção para denunciados. Um estudo
da Clínica de Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas (CTETP), da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) mostrou que dos 2.679 denunciados por trabalho escravo entre 2008 e
2019, apenas 112 (4,2%) foram condenados em última instância. Ou seja, se a emenda
constitucional fosse regulamentada como os projetos de lei preveem, a expropriação seria
possível em apenas 4,2% dos denunciados em 11 anos. A cada 100 réus acusados de trabalho
escravo, cerca de quatro são condenados definitivamente. É mais que impunidade.

Se os autos de infração feitos pelos fiscais fossem considerados válidos e o processo


administrativo considerar o empregador culpado, mesmo após garantir ampla defesa ao
denunciado, isso deveria bastar para dar início a ação de expropriação das terras, como também
entrar para a Lista Suja. E não ter acesso a créditos e financiamentos por dois anos, além de ser
monitorado de perto pelos grupos de fiscalização. Se constatada reincidência de trabalho
escravo, o nome permanece no documento por mais dois anos.

Portanto, é nítido a vulnerabilidade socioeconômica das camadas mais pobres da


população, e isso contribui para a perpetuação do trabalho análogo à escravidão. A falta de
oportunidades dignas de emprego faz com que muitos indivíduos aceitem condições precárias
de trabalho como única alternativa. E a impunidade relacionada ao trabalho análogo à
escravidão é um câncer social que mina os alicerces da justiça e dos direitos humanos. Combater
essa prática exige uma abordagem multidisciplinar que inclua investimentos em fiscalização,
melhoria das condições socioeconômicas e uma revisão efetiva da legislação para garantir que
os infratores sejam responsabilizados. O Brasil, como nação, deve se unir para erradicar essa
mancha em sua história e garantir um futuro mais justo e digno para todos os seus cidadãos.

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TRABALHO ESCRAVO NO ESTADO DA BAHIA

O trabalho escravo, uma prática historicamente associada ao passado do Brasil,


infelizmente, continua a persistir, e o estado da Bahia não é uma exceção a essa realidade.
Apesar dos avanços legais e das ações de diversas organizações, ainda há casos de trabalho
análogo à escravidão que demandam atenção e combate.

No primeiro semestre deste ano foram resgatados mais de 360 trabalhadores em


situação análoga à escravidão no estado da Bahia. Entre 2021 e 2022 houve um aumento de
resgates em 17,14%. Segundo levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o
estado desponta na liderança do ranking de empregadores condenados por trabalho escravo
contemporâneo no Nordeste.

Entre pessoas físicas e empresas, nove condenações são citadas pelo órgão federal. A
“Lista Suja do Trabalho Escravo”, elaborada pelo MTE com o registro de todos os
empregadores que realizaram o trabalho escravo contemporâneo, entre 2011 e 2022, também
mostra a Bahia no sexto lugar da lista nacional.

LEGISLAÇÃO E FISCALIZAÇÃO

O Brasil possui legislação rigorosa contra o trabalho escravo, com a Constituição


Federal de 1988 proibindo qualquer forma de trabalho degradante. A Emenda Constitucional
nº 81/2014 fortaleceu ainda mais essas proibições, definindo o trabalho escravo como crime
imprescritível.

Apesar da legislação robusta, a fiscalização efetiva ainda é um desafio. A extensão


geográfica e a diversidade de setores econômicos na Bahia tornam a tarefa de identificar e
erradicar práticas escravagistas complexa. A falta de recursos e pessoal adequado para as ações
de fiscalização contribui para a persistência do problema.

Desde 2005 até 2023 foram resgatadas, segundo Ministério do Trabalho e Emprego
(TEM), 61.711 pessoas em situação análoga à escravidão no estado

Num recorte, o trabalho doméstico tem sido uma das maiores ocorrências.

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SETORES DE RISCO

Diversos setores econômicos na Bahia estão mais propensos a casos de trabalho


análogo à escravidão. Isso inclui a agricultura, o serviço doméstico, a construção civil e a
produção de carvão vegetal, onde condições de trabalho degradantes são frequentemente
denunciadas.

AÇÃO DE ORGANIZAÇÕES E ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS

O Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT)


desempenham papéis fundamentais na identificação e combate ao trabalho escravo na Bahia.
Essas organizações conduzem investigações, promovem a conscientização e buscam
responsabilizar os infratores.

DESAFIOS CULTURAIS E PERSPECTIVAS FUTURAS

A erradicação do trabalho escravo na Bahia requer esforços contínuos na sensibilização


e educação. Desafios culturais, como a aceitação social de práticas degradantes, também
precisam ser abordados para promover uma mudança real na mentalidade.

O combate ao trabalho escravo nesse estado, exige uma abordagem multifacetada,


envolvendo o fortalecimento da fiscalização, investimentos em educação e conscientização, e
a promoção de parcerias entre órgãos governamentais e organizações da sociedade civil.

Em síntese, apesar dos avanços legais e dos esforços de organizações dedicadas, o


trabalho escravo na Bahia persiste como um desafio complexo. É crucial a continuidade dos
esforços conjuntos para erradicar essa prática, assegurando que todos os indivíduos tenham seus
direitos fundamentais respeitados.

CONCLUSÃO

Em conclusão, o artigo destaca a persistência do trabalho análogo à escravidão no Brasil,


especialmente na Bahia, e ressalta a relevância de uma abordagem abrangente para combater
esse fenômeno. A análise bibliográfica e o suporte da inteligência artificial revelam a
complexidade do problema, que persiste mesmo após a abolição formal da escravidão em 1888.

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O estudo enfatiza os esforços legais, operacionais e as ações de resgate realizadas no
Brasil, apontando casos recentes, como o resgate de trabalhadores na produção de sisal na
Bahia. Além disso, são discutidos desafios, incluindo a morosidade judicial e a complexidade
dos processos legais, destacando a impunidade associada ao trabalho escravo.

A legislação brasileira, com ênfase na Lista Suja de empregadores, e a cooperação


internacional são apontadas como instrumentos para enfrentar a persistência do problema.
Contudo, ressalta-se a necessidade de uma abordagem multidisciplinar, considerando a
vulnerabilidade socioeconômica, a falta de oportunidades dignas e a mudança cultural para
erradicar efetivamente o trabalho análogo à escravidão.

Na Bahia, o trabalho escravo ainda apresenta desafios significativos, apesar dos avanços
legais e das ações de organizações como o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Comissão
Pastoral da Terra (CPT). A conclusão reforça a importância da continuidade dos esforços
conjuntos, envolvendo fiscalização, educação e parcerias entre órgãos governamentais e
organizações da sociedade civil, para garantir que todos os indivíduos tenham seus direitos
fundamentais respeitados e erradicar definitivamente o trabalho escravo.

REFERÊNCIAS

https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/noticias-e-conteudo/2023/novembro/grupo-
movel-resgata-11-trabalhadores-em-jacobina-e-varzea-nova-no-interior-da-bahia

https://www.correio24horas.com.br/bahia/resgate-de-pessoas-em-trabalho-analogo-a-
escravidao-cresce-em-290-na-bahia-
0323#:~:text=Traficados%20para%20o%20trabalho%20escravo,registros%20entre%202018
%20e%202021

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. (1988). Brasília, DF. Recuperado de


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm

Ministério do Trabalho e Previdência. (2022). Inspeção do trabalho. Recuperado de


https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/noticias-e-
conteudo/trabalho/2023/janeiro/inspecao-do-trabalhoresgatou-2-575-trabalhadores-de-
trabalho-analogo-ao-de-escravono-ano-passado

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