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ESTUDANTES

MATERIAL DE REPERTÓRIO
TEMA:
Do tráfico escravo ao
trabalho análogo à
escravidão: os desafios de
acabar com a mentalidade
escravista no Brasil
Os ideais liberais e a economia escravista
brasileira .…………………………………………………………………………………. p. 4
Teorizando ……………….……………………………………………………………... p. 6
De olho nos dados ………..……………………………………………………. p. 7
Saiba Mais ……………..………………………………………………………………… p. 8
Universo artístico ………………………………………….………………… p. 9
Selecionar, relacionar e organizar……………………… p. 10
Referências bibliográficas…………………………………..….… p. 11
Os ideais liberais e a
economia escravista
brasileira

Por que a escravidão durou tanto tempo no Brasil?


Sabemos que a abolição da escravatura ocorreu em 1888, mas
essa ação tardia não estava de acordo com o pensamento da época,
apoiado em ideias de liberdade. A partir do século XVIII, surgem, na
Europa, os ideais que defendem a liberdade política e econômica e a
liberdade do homem, e o Brasil é influenciado por esse movimento.
Embora esses ideais fossem praticados no Brasil, quando se tratava da
libertação dos escravos, não houve mudanças, porque o comércio de
escravizados era a base da economia brasileira, além de estar atrelado
à status e poder.
Mesmo com revoltas populares, que eram em sua maioria
aristocráticas, e com a independência, a escravidão não acabou. Pelo
contrário, a partir da independência, o tráfico escravo cresce cada vez
mais e torna-se um tema distante de ser discutido porque os lucros da
elite agrária se dava a partir do trabalho dos escravizados. Assim, os
princípios de liberdade e mesmo a constituição baseada nos direitos do
homem eram contraditórios, frente ao aumento da chegada de
escravizados no país.
O crítico literário e ex-professor de Teoria da Literatura da USP,
Roberto Schwartz, afirma que “a escravidão indicava a impropriedade
das ideias liberais [...]. Sendo embora a relação produtiva fundamental, a
escravidão não era o nexo efetivo da vida ideológica” (SCHWARTZ,
2000, p. 16). É nesse momento que a resistência dos escravizados se
intensifica. Até a segunda metade do século XIX, os escravizados
lutavam sozinhos por sua liberdade, mas a luta ganha mais peso quando
homens brancos livres, da burguesia, também passam a defender a
libertação, que faz com que ela seja promulgada em 1888.

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Mas a libertação não possibilitou uma liberdade plena aos
ex-escravizados, pois sem um planejamento de reinserção na
sociedade, não existiam oportunidades de integração social. Assim,
esses indivíduos continuam vivendo à margem da sociedade e, em sua
maioria, com péssimas condições de trabalho.
Eduardo França Paiva, professor de graduação e pós-graduação e
também diretor do Centro de Estudos sobre a Presença Africana no
Mundo Moderno (Cepamm) da Universidade Federal de Minas Gerais,
afirma que

“Formas de trabalho compulsório e


condições degradantes de vida dos
trabalhadores no Brasil pós-abolição,
muito semelhantes ao que se denomina
“trabalho escravo” hoje, continuaram a
existir e em larga medida pela vasta
extensão territorial do país. Não eram
mais escravos, é verdade. Talvez a
proximidade temporal e espacial, bem
como a do cotidiano da escravidão tenha
impedido, naquele tempo, de se nomear as
práticas remanescentes como
escravistas. Aliás, práticas que muitos
viam e praticavam normalmente, sem que
as autoridades se levantassem para
denunciar a continuidade ilegal da
escravidão ou da permanência de alguns
tipos de trabalho análogos ao trabalho
escravo.” (PAIVA, 2005, s/p)

Dica de referência
Lado a Lado é uma novela, produzida pela Rede Globo, que foi ao ar entre 2012 e
2013. Protagonizada por Camila Pitanga e Marjorie Estiano, a novela se passa no
início do século XX. Um tema que tem destaque na trama é a vida dos escravizados e de
seus descendentes após a abolição da escravatura. A trama retrata como a sociedade excluía
os negros, tiravam sua moradia, fazendo com que vivessem nos morros, afastados do centro,
além de terem péssimas condições de trabalho.

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Teorizando

O que é o trabalho escravo contemporâneo ou trabalho análogo


à escravidão?

O professor da Universidade Federal da Bahia Jairo Lins de


Albuquerque Sento-Sé (2001) acredita que o trabalho escravo
contemporâneo é uma variação do trabalho forçado e diz, ainda, que é
trabalho escravo
“Aquele em que o empregador sujeita o empregado a condições de
trabalho degradantes, inclusive quanto ao meio ambiente em que irá
realizar a sua atividade laboral, submetendo-o, em geral, a
constrangimento físico e moral, que vai desde a deformação do seu
consentimento ao celebrar o vínculo empregatício, passando pela
proibição imposta ao obreiro de resilir o vínculo quando bem entender,
tudo motivado pelo interesse mesquinho de ampliar os lucros às custas da
exploração do trabalhador.” (SENTO-SÉ, 2001, p. 27)

Para o autor Luciano Martinez a conceituação de trabalho escravo:


“[...] engloba as distintas figuras do trabalho ‘forçado’, ‘indecente’ e
‘degradante’ e que, em rigor, ‘escravo’ é um qualificativo dado ao trabalho,
e não ao trabalhador. Afirma-se isso porque qualquer trabalhador, na
condição de pessoa humana, tem a possibilidade jurídica de invocar
direitos, o que, obviamente, não ocorreria se ele fosse um escravo.”
(MARTINEZ, 2016, p. 105).

O Supremo Tribunal Federal entende que o trabalhador não precisa


estar cerceado de liberdade para que seu vínculo empregatício seja
considerado trabalho escravo. A escravidão, na atualidade, pode
acontecer no meio urbano ou rural e se caracteriza pelo não
cumprimento dos direitos básicos do trabalhor, como condições de
moradia e alojamento degradantes, falta de acesso à agua potável, falta
de equipamentps de proteção ou mesmo equipamentos de proteção não
efetivos, falta de registro profissional e jornadas exaustivas de
trabalho.

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De olho nos dados

A Organização Internacional do Trabalho é atuante na luta contra o


trabalho escravo e tem uma série de iniciativas que visam o fim dessa
prática. Uma dessas ações é fornecer material e informações sobre o
tema para que a sociedade se mobilize em prol dessa questão social.
Veremos a seguir alguns dados divulgados pela Organização Internacional
do Trabalho:

● Segundo dados apresentados pelo Radar da Subsecretaria de


Inspenção do Trabalho (SIT), vinculada à Secretaria Especial de
Previdência e Trabalho (SEPRT) do Ministério da Economia, mais de 55
mil pessoas foram libertadas de trabalhos análogos à escravidão no
Brasil, de 1995 até 2020;
● A maior parte dos trabalhadores libertos são migrantes, que
deixaram seu local de origem em busca de trabalho na agropecuária
ou em centros urbanos;
● Os homens, de 18 a 44 anos, estão em maioria quando se trata dos
trabalhadores libertados, sendo 33% deles analfabetos;
● Oito dos dez municípios com o maior número de casos de trabalho
escravo no Brasil estão no Pará;
● A agropecuária, sobretudo dedicada ao gado bovino, concentra o
maior número de casos de trabalho escravo no Brasil;
● Em meios urbanos, o trabalho escravo se concentra em setores
como a construção civil, em confecções e indústria têxtil.

Dica de planejamento para redação


Que tal apresentar alguns exemplos que justificam seus
dados? Aqui e aqui você pode encontrar algumas dessas
informações.

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I BA IS
A
S M A
Políticas públicas e o trabalho escravo no Brasil

Em 2022, houve uma diminuição nas verbas destinadas às


estruturas governamentais que investigam e combatem o trabalho
escravo no Brasil. No último ano, o orçamento para tal foi
completado por emendas parlamentares.
O combate ao trabalho escravo deve acontecer de forma
interinstitucional, mobilizando órgãos como a Polícia Federal, a
Auditoria Fiscal do Trabalho, o Ministério Público Federal e o
Ministério Público do Trabalho. Porém há um déficit de quase 4 mil
auditores fiscais, o que inviabiliza esse trabalho. Tudo isso se soma a
grandes problemas do Brasil da atualidade, como a diminuição dos
direitos trabalhistas e a alta taxa de desemprego, que fazem com
que o trabalho escravo seja a realidade de mais e mais pessoas no
país.
Para o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores
e Trabalhadoras Assalariados e Assalariadas Rurais (Contar), Gabriel
Bezerra Santos, é urgente a edição de um decreto estendendo à
polícia rodoviária a competência de fiscalizar. Lucas Reis da Silva,
membro do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho
(Sinait), afirma: “a reforma trabalhista, aprovada em 2017, empurrou
ainda mais o trabalhador para miséria e para a pobreza, intensificou
mais a precarização das relações de trabalho e vulnerabilizou ainda
mais os trabalhadores”.

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Universo artístico

Besouro

O filme, baseado em fatos reais, ficcionaliza a


história de Manuel Henrique Pereira, o Besouro,
um homem escravizado que foi um dos maiores
mestres de capoeira. Com a capoeira, vivia a sua
cultura e defendia a si e ao seu povo.

Projeto Querino

Os oito episódios do projeto explicam o Brasil de


hoje a partir de estudos científicos e de uma
perspectiva afrocentrada. O projeto, sobretudo,
mostra como o Brasil se desenvolveu a partir da
escravidão

7 prisioneiros

Mateus e um grupo de outros jovens saem de sua


cidade em busca de melhores condições de
trabalho em São Paulo. Porém, o ferro velho, no
qual teriam um emprego garantido, é na verdade
um espaço de exploração de trabalho escravo.

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Selecionar, relacionar
e organizar Criamos o fluxograma abaixo para auxiliar o
planejamento do seu texto. Lembre-se que a tese
é o seu ponto de vista sobre o tema e que ela e
seus argumentos devem trazer repertórios
socioculturais. Este é apenas o começo de um
dos caminhos que você pode seguir!

Do tráfico escravo ao trabalho análogo à


escravidão: os desafios de acabar com a
mentalidade escravista no Brasil
TESE
Apesar da abolição da escravidão no Brasil, a
mentalidade escravista persiste na sociedade
e é evidenciada pelo alto número de casos de
trabalho análogoescravidão.

ARGUMENTO 1
A falta de uma fiscalização ARGUMENTO 2
efetiva e punições adequadas :A exploração de trabalhadores
aos responsáveis por em condições análogas à
manterem trabalhadores escravidão é uma forma de
nessa situação acarreta o violência estrutural que se
sofrimento de muitas pessoas relaciona com desigualdades
e perpetua a mentalidade históricas.
escravista.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

AGENTE: Ministério do
Trabalho

AÇÃO: Aumentar a fiscalização de


empresas para que não utilizem
trabalho análogo à escravidão e
promoção de campanhas de
conscientização sobre a importância
da erradicação dessa prática.

Não se esqueça:
A ideia de concretude que se espera da proposta de intervenção está ancorada em cinco elementos
explicitados textualmente, sendo eles: ação, agente, meio/modo, efeito e detalhamento.

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Referências
bibliográficas

COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. São Paulo: Fundação Editora
UNESP, 2007.

GOMES, A. de C. Trabalho análogo a de escravo: construindo um problema. História Oral, [S. l.], v. 11, n.
1-2, 2011. DOI: 10.51880/ho.v11i1-2.148. Disponível em:
https://www.revista.historiaoral.org.br/index.php/rho/article/view/148. Acesso em: 9 set. 2022.

LEITE, M. J. dos S. TRÁFICO ATL NTICO, ESCRAVIDÃO E RESISTÊNCIA NO BRASIL. Sankofa (São Paulo), [S. l.],
v. 10, n. 19, p. 64-82, 2017. DOI: 10.11606/issn.1983-6023.sank.2017.137196. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/sankofa/article/view/137196. Acesso em: 2 set. 2022.

PAIVA, Eduardo França. Trabalho compulsório e escravidão: usos e definições nas diferentes
épocas. Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil, 2005. Disponível em: . Acesso em: 28 jan. 2014.

SCHWARTZ, Roberto. As ideias fora do lugar. Ao Vencedor as batatas, São Paulo: Duas cidades, 2000.

SENTO-SÉ, Jairo Lins de Albuquerque. Trabalho escravo no Brasil da atualidade. São Paulo: LTr, 2001.

SIANI, , A. C., & Borges, R. F. de C. (2018). A novela “Lado a Lado” e as narrativas negras sobre o
passado, o presente e o futuro do Brasil. Rizoma, 6(1), 113-125.

Links utilizados

https://escravonempensar.org.br/livro/capitulo-1/

https://theintercept.com/2022/09/05/yuri-morreu-fazendo-entrega-para-o-ifood-11-dias-depois-s
ua-conta-foi-desativada-por-ma-conduta/

https://www.camara.leg.br/noticias/888596-so-neste-ano-500-pessoas-ja-foram-resgatadas-do-t
rabalho-analogo-a-escravidao-no-brasil/
Referências
bibliográficas

Imagens utilizadas

Página 9
Just Watch. Besouro. Disponível em: <https://www.justwatch.com/br/filme/besouro>. Acesso em: 20
abr. 2023.

Apple Podcasts. Projeto Querino. Disponível em:


<https://podcasts.apple.com/br/podcast/o-colono-preto/id1632062052?i=1000575192665>. Acesso em:
20 abr. 2023.

Wikipedia. 7 prisioneiros. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/7_Prisioneiros>. Acesso em: 20


abr. 2023.

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